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EFEITO DA COMPLEMENTAÇÃO ALIMENTAR NO PÓS-PARTO SOBRE O PESO,A CONDiÇÃO CORPORAL E O INTERVALO PARTO-PRIMEIRO ESTRO DE

CABRAS SEM RAÇA DEFINIDA (SRD)

Tânia Maria LEAL I', José de Carvalho REIS2, Clóvis GUIMARÃES FILH03

RESUMO: A pesquisa foi desenvolvida numa fazenda particular em Petrolina-PE, no período de maio a novembrode 1995, e objetivou determinar o efeito da complementação alimentar sobre o peso, condição corporal eintervalo parto-primeiro estro de 48 cabras sem raça definida (SRD), criadas na caatinga não cercada, distribuídasem um delineamento experimental inteiramente casualizado com três tratamentos (T1: pastagem nativa (PN); T2:PN + 25% de NDT e T3: PN + 50% de NDT) e 16 repetições cada. A complementação alimentar foi a base de fenode leucena (Leucaena leucocephala (Lam.) de Wit) e raspa de mandioca (Manihot esculenta Cranlz.) fornecidasa partir do primeiro dia pós-parto. Para os três tratamentos, os pesos médios observados até os 168 dias pós-parto foram estatísticamente iguais e os escores corporais médios, dos 56 aos 168 dias pós-parto, das cabrasque receberam complementação alimentar, foram estatisticamente diferentes daquele observado para as cabrassem complementação alimentar. Os valores médios do intervalo parto-primeiro estro foram estatisticamenteiguais e os porcentuais de cabras que mostraram estro, nos tratamentos que receberam complementaçãoalimentar (87,50 e 81,25%), também foram estatisticamente iguais, porém superiores ao das cabras semcomplementação alimentar (35,71 %). Em animais criados em caatinga não cercada, é possível melhorar acondição corporal e aumentar o porcentual de cabras que apresentam estro no pós-parto, através dacomplementação alimentar no pós-parto.

Termos para indexação: Escore corporal, feno de leucena, pastagem nativa, raspa de mandioca, reprodução.

EFFECT OF DIETARY SUPPLEMENTATION IN THE POST-PARTUM ONWEIGHT, BODY CONDITION ANO INTERVAL OF THE FIRST POST-PARTUM

OESTRUS OF SRD (UNDEFINED BREED) DOES

ABSTRACT: The study was carried out in a private farm in the town of Petrolina country, State of Pernambuco,Brazil, from May to November/1995. It aimed to evaluate the effect of post-parturn dietary supplementation onweight, body condition and interval of post-partum oestrus of 48 SRD ( no defíned breed) does raised in afenceless caatinga area. The experiment was designed as a completely randomized trial, with three treatments(T1: native pasture (NP); T2: PN + 25% of TDN; and T3: NP + 50% of TDN) and 16 repititions each. The dietarysupplementation was based on cassava (Manihot esculenta Crantz.) chips and leucena hay (Leucaenaleucocephala (Lam.) de Whit) provided from the first day post-partum. For the three tratments, the averageweights observed until 168 post-partum were statistically equal and the average body scores, from 56 to 168days post-partum, of the does that received a diet upplement, were statistically different from the observed forthe does without a supplementary diet. The average values of the interval of post-partum estrus were statisticallyequal and the percentages of goats that received a supplementary diet (87.5 and 81.25%) were also statisticallyequal, havever, they were superior to the goats without the supplementary diet (35.71 %). In animais raised in anunfenced caatinga region, it i possible to improve body condition and to increase the percentage of goats thatpresented estrus in post-partum by a upplementary diet in post-partum.

Index Terms: Body score, leucena hay, native pasture, cassava chips, reproduction.

INTRODUÇÃO

Em geral, cabras criadas nascondições da caatinga, onde aestacionalidade na oferta de forragem levaa períodos de escassez alimentar,apresentam certa redução de peso e dacondição corporal e uma eliminação deminerais do esqueleto. Assim, com acomplementação alimentar durante operíodo de secas procura-se dar aosanimais a oportunidade de recuperar, em

parte, o peso, a condição corporal e osminerais perdidos (Leal, 1996).

A necessidade de suplementarcabras no pós-parto, criadas sob pastejoem vegetação nativa, no semi-áridonordestino, onde somente as forragensnativas não oferecem os nutrientessuficientes para evitar perdas de peso nesteperíodo, tem sido evidenciada (Silva & Silva,1987).

É precisamente nos animais queperderam peso no pré-parto e que

Méd. Veterinário, MSc., Pesquisadora da Embrapa Meio-Norte,Teresina-PI. E-mail:[email protected] - "Autor para Correspondência.

2 Méd. Veterinário, Or. Prof. Adjunto do Oepto. de Zootecnia da UFRPE, Recife-PE.3 Méd. Veterinário, MSc., Pesquisador da Embrapa Semi-Árido, Petrolina-PE.

Ciênc. vet. tróp. Recife, v.2, n.3, p.180-190, set./dez. 1999

EFEITO DA COMPLEMENTAÇÃO ALIMENTAR NO PÓS-PARTO ...

apresentam condição corporal inferior aoparto que o suprimento energético no pós-parto adquire importância para que ascabras possam lograr um bomdesempenho reprodutivo. Assim, acomplementação alimentar fornecidadurante esta fase, pode contribuir pararecuperação do estado corporal dascabras, levando a uma melhor eficiênciareprodutiva e produtiva.

Llewelyn et aI. (1992) observaramque cabras em lactação, nos primeiros 35dias pós-parto, quando a produção de leiteatingiu seu pico máximo, tiveram perda depeso, independente da ingestão dealimentos, com o reinício da ciclicidadeovariana ocorrendo antes do peso corporalter retomado ao normal. Provavelmente, asmudanças no balanço energético sejamresponsáveis pela perda de peso durante opós-parto. Eloy et al. (1990) tambémobservaram, em cabras da raça Anglo-Nubiana, perda de peso no primeiro mêsde lactação, apesar dos animais receberemsuplementação energética, denotando aocorrência de um balanço energéticonegativo.

A condição corporal é um indicadordas reservas corporais (lipídicas, protéicase minerais) do animal (Morand-Fehr et aI.,1989), sendo importante observar asmudanças das condições corporais dascabras durante a reprodução porque adiminuição no escore pode comprometer odesempenho das mesmas (Gonzalez-Stagnaro,1991;Santuccietal.,1991).

De acordo com Santucci et at.(1991), o método de avaliação do estadocorporal baseia-se em palpações dasregiões do esterno e das vértebraslombares, onde são estabelecidos escoresde O a 5 pontos. Este método é facilmenteaplicado nas fêmeas adultas, porém toma-se mais difícil quando aplicado às jovens,devido à dificuldade em definir a gorduraestemal, e às idosas, devido à presençade calosidades estemais. Ainda, segundoSantucci et aI. (1991), as mudanças nacondição corporal são influenciadas porvariações na oferta de forragens,

181

suplementação de alimentação, estágiofisiológico, e intervalo entre partos.

O tempo transcorrido para oaparecimento do primeiro estro pós-parto(IPP) é um parâmetro importante para aavaliação do desempenho reprodutivo deum rebanho caprino e mostra apotencialidade reprodutiva de uma raçacriada sob determinada condição de climae manejo. A duração do IPP interferediretamente no intervalo entre partos, umavez que este último parâmetro compõe-sedo período de serviço (período entre o partoe a concepção) mais o período degestação.

Trabalhos já realizados mostramque a duração do IPP é bastante variada esofre influência de fatores, tais como: idade,raça, intensidade de amamentação, nívelde nutrição e distocia. Em cabras SRD,Andrioli et aI. (1989) mostram um intervalomédio entre o parto e o primeiro estro pós-parto que varia de 94,3 a 182,2 dias. Foote& Simplício (1989) verificaram um intervalomédio parto-primeiro estro em cabras SRDde 176 dias. Guimarães Filho (1983a),evidenciou um intervalo parto-primeiro estro,para cabras SRD com partos simples emúltiplos de : 93,2 e 104,9 dias,respectivamente.

Investigando a influência dasuplementação alimentar durante agestação e lactação no desempenho decabras SRD, Primo et al. (1983)encontraram um estro pós-parto de 176,2dias, para cabras sem suplementaçãoalimentar, de 164,9 dias, para cabrassuplementadas 45 dias antes do parto, de182,2 dias, para cabras suplementadas 45dias no pós-parto, e de 178,7 dias, paracabras suplementadas nas fases de pré epós-parto. Em região semi-árida daVenezuela, Gonzalez-Stagnaro & Madrid-Bury (1983) encontraram um intervalomédio entre o parto e o primeiro estro pós-parto de 96,6 ± 15,2 dias para as cabrasque receberam suplementação alimentare de 114,1 ± 15,2 dias para aquelas quenão receberam suplementação.

Trabalhos de pesquisa têm sidorealizados visando determinar o reinicio da


182 T. M. LEAL et aI.

atividade ovariana em cabras, através dedosagens de progesterona. Cabras da raçaAnglo-Nubiana nos primeiros 3 meses pós-parto, durante a estação chuvosa,revelaram níveis de progesteronaplasmática insignificantes emconseqüência da lactação, mesmo quandoos animais receberam uma suplementaçãoenergética (Eloy et aI., 1990).

O objetivo dessa pesquisa foiavaliar o efeito da complementaçãoalimentar, fornecida no pós-parto, sobre opeso, condição corporal e o aparecimentodo estro pós-parto de cabras SRD, com criaao pé, criadas em áreas de caatinga nãocercada, até os 168 dias pós-parto.

MATERIAL E MÉTODOSO experimento foi desenvolvido, no

período de maio a novembro de 1995, anível de pequeno produtor, na propriedadedenominada Alto do Angico, situada nomunicípio de Petrolina-PE. A propriedadeestá localizada a uma latidude de 09°09'8,longitude de 40022'W e altitude de 365,5 m.Os solos predominantes são Podzólico. Oclima é do tipo Bsh'w, segundo aclassificação de Kóppen, com precipitaçãode 562,9 mm, distribuída entre os mesesde novembro e abril. A temperatura médiaanual é de 26,3° C e a umidade relativa doarde61%.

A vegetação é do tipo caatingaarbustivo-arbórea, onde predominam, noestrato arbustivo, quebra-faca (Cretomrhamnifolius H.B.K.), mororó (Bauhiniacheilantha (Bong) Steud.), carqueija(Calliandra depauperafa Benth.) e molequeduro (Cordia leucocephala Moric), e noestrato arbóreo, jurema preta (Mimosahosfilis Benth.) e caatingueira rasteira(Caesalpinia micrephy/la Mart.).

A caprinocultura constitui aprincipal atividade da propriedade, comcerca de 150 animais sem raça definida(SRD). Os caprinos são criadosextensivamente em área de caatinga nãocercada. O rebanho é solto pela manhã eretoma ao aprisco no final da tarde. Oscuidados sanitários que os animaisrecebem são muito rudimentares; são

utilizados, basicamente, medicamentoscaseiros para o tratamento das maisdiversas afecções.

Do rebanho existente napropriedade, foram utilizadas 48 cabrasSRD, récem-paridas, com peso médio de27,76 kg, alocadas aleatoriamente em umdelineamento experimental inteiramentecasualizado (DEIC), envolvendo trêstratamentos inicialmente com 16 repetiçõescada. No começo do trabalhodesapareceram duas cabras do tratamento1, ficando apenas 14 animais. Os dadosexperimentais foram analisados peloprograma SAS e as médias de peso vivo(PV), condição corporal (CC) e intervaloparto-primeiro estro (IPP) foramcomparadas pelo teste GT2. O modeloestatístico empregado na análise do dados:Yij = ~ + Ti + eij, em queYij é o valor observado da característicaestudada.~ é a constante geral da carcterísticaetudada.Ti é o efeito da complementação alimentar,i = 1,2,3.eij é o erro aleatório aociado a cadaobervação.

No início do experimento (final demaio/95), época em que as primeirascabras começaram a parir, os animaisforam identificados com brincos, nas corescorrespondentes a cada tratamento,pesados e caracterizados com relação àpelagem. A distribuição dos animais emcada tratamento foi feita através da Tábuade Números Aleatórios, procurando-seotimizar essa distribuição em relação aopeso (menor erro amostral) e número departos.

Os tratamentos empregadosforam os seguintes:Tratamento 1 - pastagem nativa (PN). Osanimais foram mantidos exclusivamenteem pastagem nativa de caatinga, semcomplementação alimentar;Tratamento 2 - pastagem nativa maiscomplementação alimentar que fornecia25% das necessidades de NDT (PN + 25%NDT), à base de 80% de raspa demandioca (Manihotesculenta Crantz.), que

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correspondeu a 300 g/cabeça/dia, e 20%feno de leucena (Leucaena leucocepha/a(Lam.) de Wit), que correspondeu a 75 g/cabeça/dia;Tratamento 3 - pastagem nativa maiscomplementação alimentar que fornecia50% das necessidades de NDT (PN + 50%NDT), também à base de 80% de raspa demandioca, que correspondeu a 600 g/cabeça/dia, e 20% de feno de leucena, quecorrespondeu a 150 g/cabeça/dia. Adigestabilidade in vitro da matéria seca(DIVMS) do femo da leucema e da raspade mandioca foi realizada no Laboratório deNutrição Animal do Centro do Trópico Semi-Árido (CPATSA/EMBRAPA), Petrolina-PE.Os caprinos eram recolhidos ao aprisco nofinal da tarde, onde recebiam acomplementação alimentar à base de fenode leucena e raspa de mandiocafornecidas, apenas às matrizes, a partir doprimeiro dia pós-parto, sendo novamentesoltos na caatinga na manhã seguinte.Todos os animais tiveram livre acesso aosal comum e foram vermifugados em maio,julho e setembro. As crias permaneceramcom as mães durante todo o períodoexperimental, uma vez que, nessapropriedade, o desmame ocorre de formanatural e procurou-se não alterar muito omanejo adotado pelo criador.

Na mesma ocasião das pesagensdas cabras (ao parto e a cada 28 dias)foram feitas as avaliações do estadoTABELA 1: Peso médio das cabras SRO, criadas em caatinga não cercada, em Petrolina-PE, do parto

(PP) aos 168 dias pós-parto (P168), de acordo com os tratamentos

183

corporal. Com base nas palpações feitasnas regiões do esterno e vértebraslombares, foram atribuídos escores (O - 5),segundo metodologia recomendada porMorand-Fehr et aI., (1989).

As cabras eram observadas duasvezes ao dia, pela manhã e no final da tarde,com o objetivo de verificar o aparecimentode estro. Além disso, permaneciam juntascom rufiões que tiveram suas regiõesesternais untadas com tinta em pó tipoxadrez e graxa (1 :4), para auxiliar naidentificação do estro.

RESULTADOS E DISCUSSÃOO peso médio das cabras, do

parto aos 168 dias pós-parto, de acordocom os tratamentos e a média geral sãoapresentados na Tabela 1. Pode-seobservar que os pesos médios no início efinal do experimento foram,respectivamente, 27,00 e 22,85 kg no T1;29,12 e 27,13 kg no T2; e 27,16 e 25,35 kgno T3. Com relação ao parto, o peso médiode 27,76 kg está bem próximo dos relatadospor Nunes & Simplício (1980), Alves (1986),para partos simples, e Silva & Silva (1987),em cabras SRD, sendo, porém inferior aosrelatados por Alves (1986) para matrizesSRD de partos múltiplos e Bajau & Kennedy(1990) em cabras Feral e mestiçassubmetidas a planos altos e baixos denutrição.

Tratamentos Pesos(kg)PP P28 P56 P84 P112 P140 P168

T1 27,00a 25,47a 24,92a 24,26a 24,11a 23,61a 22,85aT2 29,12a 28,31 a 28,14a 28,06a 27,75a 27,45a 27,12aT3 27,16a 26,04a 25,69a 25,76a 25,68a 25,56a 25,35aMédia geral 27,76 26,61 26,25 26,03 25,85 25,54 25,11

'os Valores seguidos de letras iguais, na mesma coluna, não diferem entre si a (P>0,05) pelo teste GT2.T1 - Pastagem nativa (PN)T2 - PN + Complementação alimentar que fornecia 25% das necessidades de NOT, a base de raspa de

mandioca (20%) e feno de leucema (20%).T3 - PN + Complementação alimentar que fornecia 50% das necessidade de NOT, a base de raspa de

mandioca (80%) e feno de leucema (20%).

o consumo da complementaçãoalimentar fornecida aos animais dostratamentos T2 e T3 foi, respectivamente,de 340,60 9 (das 375 g/cabeça/diaoferecidas) e 380,20 9 (das 750 g/cabeça/

dia oferecidas). Esses valorescorrespondem, respectivamente, a 90,82%e 50,69% da complementação alimentarfomecida. Os valores da DIVMS para raspade mandioca e feno de leucema foram,


184 1. M. LEAL et aI.

--+-- T1 (sem complementação)

repectivamente, 68,8 e 42,7%. A utilizaçãode ramos mais grossos no feno da leucenapode ter contribuído para a baixa DIVMSdesse material. Há relatos na literatura deque avaliações feitas em folhas e ramosfinos apresentaram uma DIVMS entre 65 e75% (Salviano, 1984). Portanto, a baixadigestibilidade do material utilizado pode terinfluenciado na redução do consumo dacomplementação alimentar fornecida.

O fato de não ter havido efeitosignificativo (P>O,05) de tratamento para avariável peso das cabras, pode serexplicado, em parte, pelo baixo consumodo alimento fornecido, uma vez que,quando o consumo é satisfatório, já tem sidoencontrado efeito significativo dacomplementação alimentar sobre o pesode cabras no pós-parto (Silva & Silva,1987).

Ainda com relação à Tabela 1,pode-se constatar que as maiores perdasde peso ocorreram no período do parto aos28 dias pós-parto. Os animais dotratamento T1 (sem complementaçãoalimentar) tiveram uma redução de pesomaior que os do T2 e do T3. SegundoLlewelyn etai. (1992), nos primeiros 35 diasapós o parto ocorre o pico da produção deleite e a perda de peso pode ocorrerindependente da ingestão de alimentos.Esses autores, juntamente com Eloy et aI.

30

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24EoVI 2341Q.

22

21

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•••.• ·T2 (complementação de 25 % de NDn

- .• - T3 (complemntação de 50% de NDn

..•.......•.......•.......•....... . -.

(1990), sugerem que esta perda de pesoindica ocorrência de balaço energéticonegativo. Esse fato pode explicar, também,a diminuição de peso observada pelascabras nessa fase da pesquisa.

Embora Silva & Silva (1987), emcabras SRD, e Aregheore et aI. (1992), emcabras da raça Gwembe Valley com idadede 18 a 24 meses, tenham observadoganhos de peso vivo positivos do parto aodesmame, na presente pesquisa as cabrasdos três tratamentos perderam peso doparto ao desmame (112 dias). Silva & Silva(1987), em cabras SRD do desmame àcobrição fértil, e Bajhau & Kennedy (1990),em cabras Feral e mestiças, tambémobservaram perda de peso.

É possível que a complementaçãoalimentar em cabras tanto no pré como nopós-parto proporcionasse mostrasse ummelhor desempenho desses animais, umavez que, Primo et aI. (1983) e Foote &Simplício (1989) utilizando acomplementação alimentar nessas duasfases, alcançaram melhores resultadoscom o fornecimento da complementaçãoalimentar antes do parto.

Pela Figura 1 pode-se observar avariação no peso médio das cabras, doparto aos 168 dias pós-parto, de acordocom os tratamentos. Apesar de ter havidouma redução no peso dos animais dos três

-...-..: ~ ...- ----------- ...•.... --- ...•.... --- ....

28 56 16884

Dias pôs-parto

FIGURA 1: Peso médio das cabras SRD, criadas em área de caatinga nãocercada, em Petrolina-PE, do parto aos 168 dias pós-parto, de acordocom os tratamentos.

112 140


EFEITO OACOMPLEMENTAÇÃOALlMENTAR NO PÓS-PARTO ...

tratamentos, essa redução foi menornaqueles que receberam complementaçãoalimentar (T2 e T3). Merece ressaltar queparte da complementação alimentarfornecida não foi consumida.

Na Tabela 2 são apresentados osescores de estado corporal das cabras doparto até os 168 dias pós-parto, quevariaram de 2,57 (ECP) a 1,86 (EC168) noT1, de 2,81 (ECP) a 2,59 (EC168) no T2 ede 2,69 (ECP) a 2,53 (EC168) no T3,evidenciando que as cabras que receberamcomplementação alimentar apresentarammelhor estado corporal e que em períodos

185

de subnutrição a condição corporal (CC)dos animais decresce. Os valores maisbaixos observados para os escores deestado corporal aos 168 dias pós-parto jáeram esperados, principalmente para ascabras do tratamento T1. Como comentaSantucci et aI. (1991), animais criados emregime de campo, nos períodos de baixadisponibilidade de alimentos, apresentamescore corporal diminuído e em animaisonde a suplementação alimentar é utilizada,a condição corporal apresenta menorvariação.

TABELA 2: Escores corporais médios de cabras SRO, criadas em caatinga não cercada, em Petrolina-PE, do parto aos 168 dias pós-parto, de acordo com os tratamentos

Tratamentos Escores corporais médiosECP EC28 EC56 EC84 EC112 EC140 EC168

T1 2,57a 2,43a 2,11a 2,03a 2,02a 1,91a 1,86aT2 2,81a 2,62a 2,48b 2,59b 2,62b 2,55b 2,59bT3 2,69a 2,44a 2,45b 2,48b 2,62b 2,37b 2,53b

Média geral 2,69 2,50 2,35 2,37 2,42 2,28 2)3a.bValores seguidos de letras iguais, na mesma coluna, não diferem entre si a (P>0,05) pelo teste GT2.T1 - Pastagem nativa (PN)T2 - PN + Complementação alimentar que fornecia 25% das necessidades de NOT, a base de raspa de


mandioca (80%) e feno de leucema (20%) ..

Nesta pesquisa verificou-se queas cabras dos três tratamentosapresentaram escores corporais médiosao parto (ECP) estatisticamente iguais eque só não houve efeito significativo detratamento para os escores corporaismédios aos 28 dias pós-parto (EC28)(Tabela 2).

A partir de 84 dias pós-parto, épocaem que iniciou a redução na disponibilidadede forragem da caatinga, as cabras dostratamentos T2 e T3, que recebiamcomplementação alimentar, apresentaramescores corporais médios estatisticamenteiguais embora diferentes (P<0,05)daqueles observados para as cabras dotratamento T1.

Na Tabela 3 são apresentados ointervalo do parto ao primeiro estro (IPP) eo intervalo do parto ao encerramento doexperimento sem o aparecimento de estro(PPSE), em dias, de acordo com ostratamentos. O intervalo médio entre o partoe o primeiro estro (IPP), independente de

tratamento, foi de 152,73 dias e, de acordocom os tratamentos, os valoresencontrados foram 156,60,149,21 e 152,38dias, respectivamente, para T1, T2 e T3.

Os valores de IPP encontrados napresente pesquisa são superiores aosrelatados por Guimarães Filho (1983a), Silvaet aI. (1983), Andrioli et aI. (1989) em cabrasSRD, Gonzalez-Stagnaro & Madrid-Bury(1983), em cabras Crioulas criadas sobpastejo na região semi-árida da Venezuela,e Fasanya et aI. (1992) em cabrasprimíparas da raça Savana Brown comsuplementação protéica e energética, doparto ao primeiro estro. Valores superioresaos encontrados na presente pesquisaforam relatados por Primo et al. (1983), emcabras SRD com suplementação nas fasesde pré e pós-parto e sem súplementaçãoalimentar, e Foote & Simplício (1989) emcabras SRD criadas em pastagem nativadurante 3 anos. O fato de não ter sidofornecido sal mineral aos caprinos, práticautilizada pelo criador, pode ter contribuído

Ciênc. vet. tróp. Recife, v.2, n.3, p.180-190, set./dez. 1999I


TABELA 3: Número do animal (N), intervalo do parto ao primeiro estro (IPP), em dias, e o intervalo doparto ao término do experimento sem o aparecimento de estro (PPSE), em dias, em cabrasSRO, criadas em caatinga não cercada, em Petrolina-PE, de acordo com os tratamentos

Tratamento 1N IPP PPSE1 1492 1493 1584 1635 1646 1637 1638 1639 16310 16411 16812 16813 16814 168

Tratamento 2 Tratamento 3PPSEN IPP

1 962 973 1484 1495 1556 1567 1568 1579 16110 16111 16112 16213 16514 16515 16416 168

Média(mean) 156,60a 165,33 149,21a 166,00

12345678910111213141516

N IPP PPSE108142149151152154155159161161161164164

152,38a

163163168

164,67a Valores médios seguidos de letras iguais não diferem entre si (P>0,05) pelo teste GT2.T1 - Pastagem nativa (PN)T2 - PN + Complementação alimentar que fornecia 25% das necessidades de NOT, a base de raspa de



para os elevados valores de IPP obtidosnesse experimento, uma vez que o nãofornecimento de nutrientes, como osminerais e elementos traço, podem resultarem variados graus de deficiênciareprodutiva (Wentzel, 1987).

Gonzalez-Staganaro & Madrid-Bury (1983), observaram em cabrasCrioulas suplementadas dois meses antese dois meses após o parto, efeitosignificativo (P<O,05) da complementaçãoalimentar sobre o IPP, Andrioli et aI. (1989)e Silva et aI. (1983), em cabras SRDparidas na estação seca e chuvosa,também evidenciaram efeito significativo(P<0,01) de estação de parição, querepresenta maior (estação chuvosa) emenor (estação seca) disponibilidade dealimentos. Porém, Primo et aI. (1983) emcabras SRD sem suplementação esuplementadas no pré e no pós-parto e Eloyet aI. (1990) em cabras da raça Anglo-Nubiana, mantidas em pastagem nativa decaatinga, recebendo suplementaçãoenergética, não encontraram efeitosignificativo da suplementação alimentarsobre o IPP. Da mesma forma, na presentepesquisa não foi encontrado efeito

significativo da complementação alimentar,contudo se as observações tivessem seestendido até que todas as cabrasapresentassem estro, possivelmente, o IPPmédio dos animais do T1 seria superior aodos tratamentos T2 e T3, indicando efeitoda complementação alimentar. Outro fatoque pode ter contribuído para o nãoaparecimento de efeito significativo paraessa variável, foi o baixo consumo dacomplementação alimentar fornecida. Ascabras do tratamentos T2(complementação alimentar de 25% dasnecessidades de NDT) consumiram90,82% do oferecido e as do T3(complementação alimentar de 50% dasnecessidades de NDT) apenas 50,69%.

A utilização de ramos maisgrossos no feno da leucena pode tercontribuído para a baixa digestibilidade "lnvitro" desse material, que foi de 42%. Hárelatos na literatura de que avaliações feitasem folhas e ramos finos apresentaramdigestibilidade "in vitro" entre 65 e 75%(Salviano, 1984). Portanto, a baixadigestibilidade do material utilizado pode terinfluenciado na redução do consumo dacomplementação alimentar fornecida.


EFEITO DA COMPLEMENTAÇÃO ALIMENTAR NO PÓS-PARTO...

A Figura 2 complementa asinformações sobre o IPP das cabras, noperíodo do parto aos 168 dias pós-parto,de acordo com os tratamentos, e mostraque nos tratamentos onde as cabras

187

receberam complementação alimentar (T2e T3) um maior número de animaisapresentaram estro, quando comparadosao tratamento sem complementaçãoalimentar (T1).

- - •.• 'T2 (complementação de 25 °Al de NDT)

-+-- T1(sem complementação)

170

- .•• - T3(complemntação de 50% de NDT)

,g~ 160o

~ 150o1ij Ci> 140Cl.mo~Q) ~ 130~cx 120

~2 110c

fIIII

III

100 ....•90+--,--,--,--,--,--,--,--,--,--,--,--,--,1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

No.dacabra

FIGURA 2: Intervalo do parto ao primeiro estro pós-parto de cabras SRD,criadas em área de caatinga não cercada, em Petrolina-PE, deacordo com os tratamentos.

Na Tabela 4 são apresentados onúmero e a porcentagem de cabras SRD,com crias ao pé, que entraram em estro noperíodo de 1 a 168 dias pós-parto, de acordocom os tratamentos. Analisando oporcentual de cabras que entraram em estroobserva-se que de 1 a 56 dias não houvepresença de estro nas cabras dos trêstratamentos, de 57 a 112 dias não houve

manifestação de estro nas cabras do T1,embora tenha ocorrido estro em duascabras do T2 (12,50%) e uma do T3(6,25%), de 113 a 168 dias cinco cabras doT1 (35,71%), 12 do T2 (75,00%) e 12 do T3(75,00%) exibiram estro. Durante todo operíodo do experimento (1-168 dias) asmaiores porcentagens de estro foramobservadas para os tratamentos T2 e T3,

TABELA 4: Número (Nº) e porcentagem (%) de cabras SRO, criadas em caatinga não cercada, em Petrolina-PE, que entraram em estro no período de 1 a 168dias pós-parto,de acordo com os tratamentos

Tratamento%

1-56 57-112 113-168Nº % NQ. % Nº %

1-168Nº

T1 O 0,00 O 0,00 5 35,71T2 O 0,00 2 12,50 12 75,00T3 O 0,00 1 6,25 12 75,00

51413

35,71a87,50b81,25b

a, D Valores seguidos de letras iguais. na mesma coluna, não diferem entre si a P>0,05.T1 - Pastagem nativa (PN)T2 - PN + Complementação alimentar que fornecia 25% das necessidades de NOT, a base de raspa de



tratamentos estes onde os animaisreceberam complementação alimentar. Osporcentuais de cabras que entraram emestro no T2 (87,50%) e no T3 (81,25%) são

estatisticamente iguais, porém diferentes(P<0,05) daquela observada para T1(35,71%). Apesar de não ter havidodiferença estatística significativa na duração


188 1. M. LEAL et aI.

do IPP das cabras dos três tratamentos, ofato do porcentual de cabras que entraramem estro até o final do experimento ter sidosignificativamente superior (P<O,05) no T2e T3 quando comparados com o T1, vemreforçar a hipótese de que é possívelmelhorar o desempenho reprodutivo decabras SRD, criadas em caatinga nãocercada, através da complementaçãoalimentar.

Trabalhos já realizados (Bellaver &Nunes, 1982; Guimarães Filho, 1983a;Fasanya et aI., 1992) mostraram que aduração do IPP é bastante variada e sofreinfluência de fatores, tais como: idade, raça,intensidade de amamentação, estação doano, nível de nutrição e distocia. Napresente pesquisa, a influência do fatornutrição sobre a duração do IPP ficouevidenciada na Tabela 4, onde os valoresobservados para as porcentagens decabras que entraram em estro, no períodode 1 a 168 dias pós-parto, nos tratamentosque receberam complementação alimentar(T2 e T3) foram estatisticamente superiores(P<0,05) ao valor observado no tratamentosem complementação alimentar (T1). Essefato reforça, de certa forma, a suposiçãode Guimarães Filho (1983a) que, na regiãoNordeste do Brasil, a nutrição,provavelmente, seja o principal fator queinfluencia o período de anestro pós-parto.

A influência da amamentação naduração do anestro pós-parto foi confirmadapor Bellaver & Nunes (1982), GuimarãesFilho (1983b), Ramel et aI. (1984), Lawsonet aI. (1984) e Maia (1996). Este fato jáconstatado pelos pesquisadores podeexplicar, em parte, os valores médiosrelativamente altos de IPP observados paraas cabras do tratamento T1 (156,60 'dias),T2(149,21 dias), T3(152,38 dias) e no geral(152,73 dias), uma vez que durante toda afase experimental (do parto até 168 diaspós-parto) as cabras permaneceram comas crias ao pé, fazendo com que odesmame dos cabritos ocorresse de formanatural, prática adotada pelo criador.Entretanto, a complementação alimentaratenuou os efeitos da amamentação

aumentando o porcentual de cabras queentraram em estro nos tratamentos T2 eT3.

CONCLUSÕESNas condições em que foi

realizada a presente pesquisa, osresultados permitem concluir que emcabras sem raça definida (SRD), com criasao pé, criadas em caatinga não cercada, épossível melhorar a condição corporal eaumentar o porcentual de animaisapresentando estro até os 168 dias pós-parto, através da complementaçãoalimentar fornecida de 1 a 168 dias pós-parto.

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