educação pública de qualidade se escreve assim

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Semana Nacional em Defesa e Promoção da Educação Pública 22 a 29 de abril de 2008 Educação Pública de Qualidade se escreve assim.

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9ª Semana Nacional em Defesa e Promoção da Educação Pública 22 a 29 de abril de 2008

Educação Pública de Qualidade se escreve assim.

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A 9ª Semana Nacional em Defesa e Promoção da Educação Pública, promovida pela CNTE e seus Sindicatos Filiados, em âmbito da Semana de Ação Global, tem por objetivo, a exemplo do que ocorreu na Greve Nacional de 14 de março, organizar a categoria e promover o debate em torno do Piso Salarial Profissional Nacional, a fim de vê-lo concretizado o mais rápido possível.

O projeto de lei que visa regulamentar o piso para o magistério, de acordo com a lei 11.494/2007 (Fundeb), encontra-se tramitando no Congresso Nacional e requer a máxima mobilização dos edu-cadores, e de todos que lutam por uma educação pública de qualidade, para que também atenda aos pressupostos da valorização profissional e da qualidade social da educação.

Embora o referido projeto não seja ainda o ideal, ele contém, em razão da mobilização dos traba-lhadores em educação, avanços consideráveis em relação à versão original. Contudo, a batalha não acabou. É preciso garantir os progressos já alcançados e lutar por novas conquistas.

Vale destacar que o Piso, mesmo com uma legis-lação avançada, não garante, por si só, a valori-zação profissional, e ainda não contempla todos os trabalhadores em educação. Isto faz com que ampliemos nossas lutas para a regulamentação das diretrizes nacionais de carreira (PL 1.592/03) e para o reconhecimento dos Funcionários de Escola na Lei de Diretrizes e Bases da Educa-ção (PL 6.206/05). Estas ações possibilitarão, além de maior isonomia e solidez na carreira, a inclusão de parcela da categoria nas políticas de valorização e do próprio Piso, com base no ar-tigo 206, inciso VIII da Constituição Federal, que prevê piso salarial para todos os profissionais da educação.

Neste momento, os/as educadores/as brasilei-

ros/as têm o compromisso de apresentar essas importantes demandas da categoria à sociedade e de pressionar o parlamento federal para aprovar os projetos que, sem dúvida, são de interesse de toda a nação. E a Semana de Educação é mais um espaço privilegiado para que isso ocorra, de sorte que apresentamos, a seguir, cada uma das pautas a serem discutidas e sobre as quais deve-mos organizar nossa mobilização.

Sugestões de Atividades

Dia 22 de abril: coletiva à imprensa

Dia 23 de abril: ocupação do legislativo (Con-gresso Nacional, Assembléias Legislativas e Câ-maras de Vereadores) para entrega de documen-to aos parlamentares contendo as reivindicações da categoria.

Dia 24 de abril: debate sobre o PSPN e outros temas nos locais de trabalho com a comunidade escolar.

25 de abril: a escola pública vai às praças – expo-sição das produções educacionais e culturais.

• Durante toda a Semana os educadores deverão coletar assinaturas em apoio à proposta da CUT pela redução da jornada de trabalho sem redução de salários.

Diretoria Executiva da CNTE

9ª Semana Nacional em Defesa e Promoção da Educação Pública

Educação Pública de Qualidade se escreve assim.

De 22 a 29 de Abril de 2008

APRESENTAÇÃO

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Rumo à aprovação do Piso Salarial Profissional NacionalComo sabemos, é histórica a luta pelo Piso Salarial Nacional para os profissionais da educação básica. Ela data de 1824, à época do Império. Contudo, so-mente em 2007, após a tentativa frustrada de 1995, quando Fernando Henrique Cardoso renegou o Pacto pela Valorização do Magistério, e com a retomada do conceito sistêmico de educação, que visa, correta-mente, unir diversas políticas públicas em prol da qualidade do ensino e da valorização profissional dos educadores, é que conseguimos emplacar a discus-são sobre o Piso no cenário político nacional.

Neste momento, o projeto de lei do Piso (PL 7.431/06, apenso o PL 619/07), encontra-se tramitando na Co-missão de Constituição, Justiça e de Cidadania da Câ-mara dos Deputados, de onde seguirá para o Senado Federal, em caráter conclusivo. Contudo, caso haja requerimento e/ou procedimento extraordinário, na CCJ da Câmara, o projeto ainda passará pelo plenário da Casa, antes de ir ao Senado. A última etapa refere-se à sanção presidencial, a qual conta com poder de veto integral ou parcial sobre o projeto de lei.

Em razão de o Senado ser a Casa conclusiva da maté-ria, é essencial garantirmos uma boa base ao projeto nesta etapa da Câmara dos Deputados, antecipando, ainda, as articulações em torno do PL junto às lide-ranças no Senado. E é exatamente isso que a CNTE tem feito.

Contudo, vale destacar que o Piso tem enfrentado muitas pressões de setores organizados, sobretudo de parcela dos gestores municipais e estaduais, o que requer uma massiva intervenção da categoria, no sen-tido de manter a correlação de forças a nosso favor.

Dentre os pontos que correm risco, na CCJ, estão a previsão de complementação da União para os entes federados que não atingirem o valor de piso nacional, e a hora-atividade, prevista na composição da jorna-da de trabalho sobre o percentual de um terço (1/3).

Para ambos os casos, os opositores alegam vício de inconstitucionalidade com base no princípio da au-tonomia federativa. Para eles, os dois temas seriam de competência de estados e municípios, devendo, assim, ficarem fora do projeto de Piso.

A CNTE discorda desta tese, uma vez que o Piso re-quer a incidência sobre uma jornada, que no caso do projeto em tramitação é de no máximo 40 horas (contemplando em sentido lato a hora-atividade), bem como sobre a formação específica (de nível médio). Quanto à complementação da União, ela atende os requisitos da lei do Fundeb e é sustentáculo, inclu-sive, do nosso ponto de vista, para a constituciona-lidade do Piso, uma vez que a União se compromete a suplementar vencimento salarial de outros entes federados, caso necessário, que fora estabelecido por lei federal. Esses conceitos foram introduzidos no decorrer do processo legislativo e não podem ser subtraídos, sob pena de fragilizar as concepções de valorização profissional e de qualidade da educação envoltas no Piso.

Muitas têm sido as dúvidas dos trabalhadores em relação ao atual estágio do projeto de lei do Piso. O quadro anexo tenta elucidar algumas delas. Porém, é importante lembrar que mesmo com a aprovação do PSPN, muitas conquistas dependerão da altivez e do compromisso das lutas sindicais, com vista a evitar manobras dos gestores em relação ao pagamento do vencimento-base e a pressionar pela adequação dos planos de carreira. É fato que o Piso tornar-se-á inó-cuo à medida que seus reflexos não sejam absorvidos pela carreira do magistério – pode, porém, servir de parâmetro para os funcionários de escola, enquanto não é regularizada a situação destes na LDB. A pro-gressão salarial deve tomar por base o vencimento inicial na carreira de cada ente da federação, lembran-do que o Piso é referência apenas para estados e mu-nicípios que encontram-se abaixo do valor estipulado na lei federal.

PISO

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QUADRO COMPARATIVO DA TRAMITAÇÃO DO PSPN

CRITÉRIOPROJETO ORIGINALPL 619/07

PROJETO CNTE SUBSTITUTIVO PROVISÓRIO(CÂMARA)

AbrangênciaProfissionais do magistério

Profissionais da educação

Profissionais do magistério lotados nas unidades escolares

Valor R$ 850,00R$

1.050,00*R$

1.575,00*R$ 950,00*

Formação Não mencionaMédio Normal

Ensino superior

Ensino Médio, modalidade Normal

Jornada40 horas semanais

30 horas semanais com30% de hora-atividade

No máximo 40 horas, sendo 1/3 de hora-atividade

Conceito

Piso em forma de teto (inclui vantagens e

gratificações)

Vencimento inicial de carreira (exclui

vantagens e gratificações)

Vencimento inicial de carreira(exclui vantagens e gratificações), necessariamente, a partir de 2010

Prazo de implantação

2008 / 2009 / 2010

20082008 / 2009 / 2010, podendo ser antecipado conforme a capacidade do ente federado

Correção anualNão menciona Mês de abril

Mês de janeiro, com base no reajuste per capita do Fundeb ou INPC/IBGE

Complementação da União

Não mencionaAtende entes

federativos abaixo do valor nacional

Atende entes federativos abaixo do valor nacional, conforme regra do Fundeb e art. 212 CF (vinculação de recursos à educação)

Aposentados Não menciona Prevê extensão integral Contempla mediante previsão na carreira

Improbidade administrativa

Não mencionaPrevê para

quaisquer casos de descumprimento

Prevê com base na lei 8.429, de 2 de junho de 1992.

* Aplica-se a proporcionalidade para jornadas ampliadas ou reduzidas

Sugestão de atividade:

* Envio de mensagem eletrônica cobrando a imediata aprovação do Piso, a todos os membros do Con-gresso Nacional, em especial aos parlamentares da Comissão de Constituição, Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados, ao relator do projeto na CCJ, deputado Cezar Schirmer (PMDB-RS), aos membros da Comissão de Educação do Senado Federal – próximo destino do projeto de lei – e aos presidentes da Câmara e do Senado. Os endereços eletrônicos encontram-se disponíveis nas páginas:

www.camara.gov.br e www.senado.gov.br

Outras informações sobre o Piso, favor consultar www.cnte.org.br

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FINA

NCIA

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Direito à educação: financiamento para induzir à qualidadeO direito à educação está implícito em todos os fun-damentos da República Federativa do Brasil, preco-nizados no art. 3º da Constituição, quais sejam:

“I - construir uma sociedade livre, justa e solidá-ria; II - garantir o desenvolvimento nacional;

III - erradicar a pobreza e a marginalização e re-duzir as desigualdades sociais e regionais;

IV - promover o bem de todos, sem preconcei-tos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.”

Já o capítulo III, seção I, artigos 205 a 214 da CF aborda o direito à educação de forma explícita, sen-do ele dever do Estado e da família, gratuito nos estabelecimentos públicos oficiais e obrigatório aos estudantes do ensino fundamental, inclusive àque-les que a ele não tiveram acesso na idade própria.

Nos idos anos 90, a “onda neoliberal”, que tomou conta do Brasil e da maioria dos países emergentes, aliada à ameaça de implantação da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas) e da inclusão da Edu-cação no rol de serviços comercializáveis do GATS (Acordo Geral sobre o Comércio e os Serviços, da Organização Mundial do Comércio/OMC), acabou por mitigar o direito à educação pública, gratuita, de qualidade e para todos, conforme estabelece nos-sa Carta Magna e outros acordos internacionais, particularmente as metas de Educação Para Todos (EPT) e os Objetivos de Desenvolvimento do Milê-nio (ODMs), das Nações Unidas.

Todavia, o Brasil conta, na esfera infraconstitucio-nal, com um instrumento norteador e que enseja eqüidade na formulação e aplicação das políticas educacionais, qual seja, o Plano Nacional de Edu-cação (PNE, Lei 10.172/01). Não obstante os vetos presidenciais à lei e a sobreposição desta ao Plano elaborado pela sociedade brasileira, o PNE contém

diretrizes que visam garantir o direito à educação por meio de metas públicas para as matrículas, o fi-nanciamento, a avaliação, a valorização dos profis-sionais e a estrutura e organização dos sistemas e escolas. Contudo, passados seis anos de vigência da lei decenal, constatamos que muitas das inten-ções desse diploma estão aquém do estabelecido, assim como ocorre com os compromissos interna-cionais da ONU.

Há exato um ano, o governo Lula lançou o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) com o objeti-vo de fomentar políticas estratégicas para a melho-ria do padrão educacional, em especial nos municí-pios com menor IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Ocorre que muitas destas po-líticas, à luz da federalização do Estado brasileiro, dependem de implementação por parte de estados e municípios, responsáveis diretos pela educação básica e pelas redes próprias de ensino superior. Diante disso, o PDE constituiu-se numa política com múltiplas estratégias de implantação – situa-ção que um Sistema Nacional de Educação, respal-dado por um Fórum democrático, também de nível nacional, poderia amenizar consideravelmente. Da forma como está, somente o tempo será capaz de responder se a descentralização das ações do PDE promoverá a qualidade que ele e o PNE almejam.

Para além das necessidades de regulamentação do(s) sistema(s) público(s) de educação e de re-gulação das redes particulares de ensino, um ponto sobre as formas de se garantir o direito à educação pública merece destaque. Trata-se do financiamen-to da educação.

A Constituição Federal de 1988 previu vinculações de impostos na ordem de 25% aos estados, aos municípios e ao DF e de 18% à União, todas in-cidentes sobre a resultante dos impostos e trans-ferências de competência de cada ente federado

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(art. 212 CF). Ocorre que as disparidades regionais e a incapacidade arrecadadora de certos estados e municípios geram uma assimetria substancial na oferta dos serviços públicos no território nacional, em especial nas áreas de saúde e de educação.

O Fundeb tem a prerrogativa de amenizar essas dis-torções locais e regionais, atendendo ao comando do artigo 3º da CF. Porém, ele é insuficiente. Também por este motivo, o projeto de reforma tributária, em trâmite, no Congresso Nacional, deve atentar para a questão da eqüidade social e não somente para a produção econômica, que nem sempre é repartida adequadamente entre os cidadãos, sobretudo no Brasil, que possui uma das piores distribuições de renda do planeta.

Porém, na contramão dessa perspectiva, a proposta original de reforma tributária propõe substituir a vin-culação do Salário Educação - contribuição tribu-tária responsável por diversos programas do MEC e dos sistemas estaduais e municipais - por outra espécie de tributo ainda imensurável e que pode re-presentar perda para o financiamento educacional, sobretudo de Estados e Municípios.

Atualmente, o Brasil investe cerca de 3,9% do PIB em educação. Países desenvolvidos e que já atingi-ram um padrão elevado no ensino público investem em torno de 6% e 7% de seus produtos internos – diga-se de passagem superiores tanto no acumu-lado quanto na distribuição per capita em relação ao Brasil. A UNESCO sugere a aplicação do percentual dos países de primeiro mundo e o PNE aprovado pelo Congresso, porém vetado neste ponto, tam-bém estabelece essa referência (7% do PIB).

Não há dúvida de que o direito à educação depen-de, em muito, de mais recursos financeiros e de sua melhor aplicação. Como também exige maior responsabilidade e cooperação entre os entes da federação. Apesar de a União ter aumentado sua participação na educação básica, outros investi-mentos são necessários a fim de contrabalançar os dispêndios educacionais em relação à arrecadação tributária.

Fonte: CFT/Câmara dos Deputados

Sugestão de atividade: * Conhecer a composição do Conselho de Acom-panhamento e Controle Social do Fundeb, dar publi-cidade e cobrar dos órgão de Estado a apuração de possíveis casos de irregularidade na aplicação dos recursos vinculados ao Fundeb (art. 60, ADCT/CF) e à educação como um todo (art. 212 CF).

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EIRA

A carreira profissional dos educadores no contexto do PisoDentre as variáveis que concorrem para a qualidade da educação, é imperioso destacar a valorização dos profissionais da educação, prevista na Cons-tituição Federal, nas seguintes formas: art. 206, V, que prevê, “na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas”; inciso VIII, que garante “piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei federal”. O parágrafo único des-se mesmo dispositivo diz que “a lei disporá sobre as categorias de trabalhadores considerados pro-fissionais da educação básica e sobre a fixação de prazo para a elaboração ou adequação de seus pla-nos de carreira, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios”.

Já o artigo 60 do Ato das Disposições Constitucio-nais Transitórias (ADCT/CF), que instituiu o Fun-deb, num prazo de quatorze anos, determina, em seu inciso III, alínea “e”, “prazo para fixar, em lei específica, piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público da educa-ção básica”, com base no artigo 212 da CF, que trata das vinculações à educação, e do inciso XII do ADCT - como forma de suporte financeiro - o qual estabelece que “proporção não inferior a 60% (ses-senta por cento) de cada Fundo (...) será destinada ao pagamento dos profissionais do magistério da educação básica em efetivo exercício”.

Em relação à regulamentação dos preceitos men-cionados, é importante observar que a Constituição estabelece autonomia federativa aos entes federa-dos para legislarem sobre a gestão funcional de seus servidores (art. 39 CF), o que inclui, necessa-riamente, os planos de carreira dos trabalhadores da educação básica. No entanto, estes devem ob-servar os comandos de leis federais, em especial, o artigo 67 da LDB (lei 9.394/1996), o art. 40 da lei 11.494/07 (Fundeb) e o art. 6º do PL 7.431/06

(apenso o PL 619/07), a ser revertido em lei depois de sancionado.

No que concerne ao Piso, tanto o previsto no artigo 206 quanto o do artigo 60 do ADCT, caberá à lei fe-deral regulamentar cada um deles. Lembrando que o primeiro é extensivo a todos os profissionais da educação e o segundo aos profissionais do magis-tério. Neste momento, o Congresso Nacional trata da regulamentação do Piso para o Magistério, de modo que, em breve, especialmente depois que os funcionários de escola estiverem legitimados na LDB, esperamos concretizar o preceito maior (art. 206, VIII).

À luz do ordenamento jurídico e, sobretudo, do acúmulo social, os trabalhadores em educação, ao longo das últimas décadas, têm apontado alguns requisitos elementares para a composição dos pla-nos de carreira da categoria (professores, especia-listas e funcionários – incluindo aposentados), den-tre os quais destacam-se, em caráter indissociável: a formação, a jornada de trabalho, o salário e as condições de trabalho. Já a paridade e a integrali-dade dos vencimentos em relação ao pessoal em atividade são condições específicas para assegurar a valorização da aposentadoria.

Estes requisitos, embora intrínsecos a qualquer car-reira profissional, nem sempre são considerados, em conjunto ou parcialmente, pelos entes federa-dos, quando se trata dos trabalhadores em educa-ção – categoria mais numerosa do serviço públi-co. E a conseqüência desta omissão tem gerado inúmeras mazelas aos profissionais e à qualidade da educação, quadro este que precisa ser alterado urgentemente.

Outro problema diz respeito às disparidades entre carreiras no país. Cada um dos 26 estados, dos 5.562 municípios e mais o Distrito Federal elabo-

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ra seu próprio plano e define, de acordo com suas capacidades e prioridades, os salários e os critérios de carreira que orientam a vida funcional dos traba-lhadores em educação.

A fim de amenizar essa discrepância e de prover isonomia, identidade e reconhecimento à carreira dos educadores, a CNTE apóia a imediata aprova-ção do PL 1.592/03, de autoria do deputado Carlos Abicalil (PT/MT), que visa fixar diretrizes nacionais de carreira para os profissionais da educação. Este instrumento alia-se a outras medidas em curso, dentre elas, o próprio Piso Salarial.

Não obstante discordarmos de alguns parâmetros do PL do Piso, temos consciência de que sua implan-tação induzirá uma nova concepção de valorização profissional, uma vez que o projeto aborda, como princípio, três componentes essenciais da carreira: o salário, a formação e a jornada, ficando as condi-ções de trabalho, elemento mais subjetivo, a cargo dos sistemas e das orientações dos planos Nacional e de Desenvolvimento da Educação (PNE e PDE).

O artigo 6º do projeto de lei do Piso diz o seguinte: “A União, os Estados, o Distrito Federal e os Muni-cípios deverão elaborar ou adequar seus Planos de Carreira e Remuneração do Magistério até 31 de dezembro de 2009, tendo em vista o cumprimento do Piso Salarial Profissional Nacional para os pro-fissionais do magistério público da educação bási-ca, conforme disposto no parágrafo único do inciso VIII, do art. 206 da Constituição Federal.

Parágrafo único. Os Planos de Carreira e Remune-ração do Magistério da União, dos Estados, do Dis-

trito Federal e dos Municípios deverão contemplar diretrizes que incentivem a qualificação e capaci-tação dos profissionais do magistério público da educação básica”.

A menção ao art. 206, VIII, valoriza a proposta do ponto de vista de preparar os sistemas para o piso amplo, haja vista que as regulamentações salariais extrapolarão as subvinculações do Fundeb e con-siderarão o total das vinculações previstas no art. 212 da CF.

Sobre o parágrafo único, este traz importante re-ferência para os planos de carreira, devendo os mesmos observar princípios que contemplem a permanente formação e os critérios de ascensão na carreira, a fim de promover qualidade à educação e valorização profissional.

Até o momento, a referência normativa para os planos de carreira continua sendo a Resolução nº 03/97, do Conselho Nacional de Educação. A CNTE também tem pressionado no sentido de que a refe-rida Resolução seja revista com urgência pelo CNE, à luz do art. 67 da LDB, do Fundeb e de novos ho-rizontes que visam romper com o viés neoliberal impregnado naquela normativa.

Quanto aos funcionários de escola, que exercem funções educativas ainda desprovidas de reconhe-cimento legal, a CNTE indica a permanente luta por seu reconhecimento nos planos de carreira da cate-goria, com vistas a formar maior base social, políti-ca e jurídica, fato imprescindível para fazer avançar as pautas legislativas e o atual quadro nacional de carreira desse segmento.

QUADRO DE PLANOS DE CARREIRA DOS FUNCIONáRIOS DE ESCOLA

Unificado AC AM MG MS MT PE SP/Capital2. PI3

Próprio AL BA DF ES GO PB/João Pessoa1 PR PR/Curitiba RJ RS SC SE SP TO

Geral AP CE MA PA PB PE/Jaboatão RN RO SE/Aracaju

1 Inclui fonoaudiólogos, psicólogos, assistentes sociais, nutricionistas, bibliotecários2 Exceção dos vigilantes.3 Plano Unificado, porém tabela de salário distinta.

Unificado: professores, especialistas e funcionários no mesmo plano de carreira.Próprio: planos de carreira específicos para os funcionários.Geral: funcionários de escola inseridos nos Estatutos dos servidores públicos.

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A profissionalização dos educadores e a qualidade da educação

Um dos “calcanhares de Aquiles” da educação brasileira consiste na ausência de política pública, ampla e consistente, voltada à formação de seus profissionais.

Estima-se que mais da metade dos professores em exercício na educação básica não possui formação compatível com a função. E menos de 15% são formados em universidades públicas! Esses dados serão mais bem esclarecidos quando da divulgação do Censo do Professor, que o MEC prometeu divul-gar ainda este ano.

Em relação aos funcionários de escola, somente em 2005 o Estado brasileiro os reconheceu em legisla-ção normativa, e por meio de um projeto piloto do governo federal – o Profuncionários, que tem sido absorvido, lentamente, pelos sistemas de ensino. Falta, ainda, massificar a profissionalização e reco-nhecer, infraconstitucionalmente, os funcionários, o que pretendemos que ocorra com a aprovação do PL 6.206/05, de autoria da senadora Fátima Cleide (PT/RO), destinado a incluir esse segmento da ca-tegoria dos trabalhadores em educação na LDB.

Também sobre os professores, em 2007, o Con-gresso Nacional aprovou projeto de lei de autoria do Executivo Federal, que permitiu à CAPES (Coorde-nação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Su-perior) assumir a responsabilidade pela formação dos educadores da escola básica. A CNTE apoiou esta iniciativa que pretende, no curto prazo, consti-tuir a Rede Nacional de Formação dos Profissionais da Educação, de caráter público e universal para os professores brasileiros.

A referida Rede é uma medida extremamente urgen-te e necessária para atender, pelo menos, a dois passivos. O primeiro, da habilitação mínima aos professores em exercício no magistério, e, o se-

gundo, para capacitar um enorme contingente de profissionais desprovidos de formação continuada, desde a formação acadêmica. Registre-se, ainda, as defasagens impostas por cursos aligeirados e de baixa qualidade, responsáveis pela formação da maioria dos profissionais hoje em atividade, que ge-ram demanda de fortalecimento da graduação.

Além dos programas de formação em execução no MEC, a nova CAPES, e, particularmente, a coorde-nação da futura Rede Nacional de Formação, deve-rão absorver demandas estratégicas do ponto de vista da formação docente, tais como: de orientação dos novos currículos acadêmicos para a formação; de avaliação da qualidade dos cursos normais de nível médio, da pedagogia e das licenciaturas ofer-tadas nas redes públicas e privadas; de orientação para o ingresso dos profissionais do magistério nas redes públicas, seja através da revisão dos estágios acadêmicos, seja por meio da reestruturação dos estágios probatórios, de modo a conferir-lhes maior potencial de avaliação do educador e contrapresta-ção dos sistemas e redes de ensino.

Já os funcionários de escola contam com o cenário da profissionalização, sobretudo, através do progra-ma Profuncionários, desenvolvido pelo Ministério da Educação em parceria com os sistemas públi-cos de ensino. Este enfatiza a compreensão de que a escola deve compor-se de agentes educadores em todas as suas atividades. Seu objetivo primor-dial consiste em erradicar a desprofissionalização, a improvisação e a terceirização, três variáveis que comprometem a qualidade da educação.

No tocante à terceirização, são recorrentes as tenta-tivas de governos em implementá-la sob a inescru-pulosa alegação de contenção de gastos. Isso deve servir de motivação à nossa indignação e à nossa capacidade de defender a escola pública como ins-

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tituição de direito dos cidadãos e estratégica para a ascensão da classe trabalhadora e para a consoli-dação de um mundo fraterno e igualitário.

Como contrapartida a estas ofensivas, os traba-lhadores em educação devem pressionar o MEC a expandir, imediatamente, o Profuncionários junto à rede federal de educação técnica e tecnológica – conforme já fora anunciado – a qual passará a ofertar os cursos em cinco áreas profissionalizan-tes – gestão, infra-estrutura, multi-meios didáticos e alimentação escolar e biblioteconomia. Além des-ta formação em serviço, a distância ou presencial, é urgente motivar/convencer os Estados a assumir a oferta de cursos profissionais de nível médio, pre-ferencialmente integrados, para os jovens vocacio-nados para as áreas técnicas da educação.

Porém, é certo que não haverá expectativa prolon-gada para os funcionários de escola se o reconhe-cimento à profissão não se consolidar. Para que isso ocorra, precisamos lutar pela aprovação do PL 6.206/05 em mais dois estágios: na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, da Câmara dos Deputados, a qual já conta com parecer favo-rável do relator, e na seqüência, na Comissão de Educação do Senado.

De forma mais geral, é preciso considerar que a mencionada política nacional de formação e pro-fissionalização dos educadores, por melhor que venha a ser, e assim esperamos que seja, pode-rá não surtir efeito desejado caso os projetos de Piso e de Carreira nacionais não se concretizem em patamares capazes de elevar, substancialmente, as condições de vida e trabalho dos educadores. E se, igualmente, não forem capaz de projetar no ideário social a valorização necessária para atrair novos e bons profissionais. Vale ressaltar que a categoria está envelhecendo e já faltam, no magistério, mi-lhares de professores em diversas áreas do conhe-cimento.

Ainda do ponto de vista sistêmico, faz-se neces-sário integralizar a jornada dos educadores e dos estudantes; proporcionar ao primeiro a experiência de dedicação exclusiva a um ambiente de trabalho; capacitá-lo e fornecer-lhe condições para a imple-

mentação vir tuosa do projeto político pedagógico e da gestão democrática; incentivá-lo à pesquisa pedagógica e acadêmica; prover a escola de condi-ções necessárias às práticas de ensino-aprendiza-gem. Isso, de acordo com experiências internacio-nais, deve gerar imensurável reflexo na qualidade da educação.

Um ponto polêmico, entretanto, que contrapõe tanto a necessidade de formação e de profissionalização quanto à valorização da carreira dos educadores, diz respeito às conseqüências da falta de condições apropriadas de trabalho, que, por sua vez, reflete em alto índice de faltas e licenças médicas dos educadores. Os gestores públicos são ávidos em acusar particularmente os docentes de negligência e omissão. Porém, poucos são capazes de admitir a responsabilidade por uma deficiência do sistema e do aparelho social escolar. Ao motivar a perda de “apetite” para o exercício da profissão, as condi-ções de trabalho e a violência, especialmente essas duas, podem anular todo o investimento profissio-nal.

Portanto, não adianta termos bons profissionais se o espaço escolar não se voltar para o seu fim maior: a educação. E não adianta ficar procurando um único culpado numa situação em que, na maio-ria das vezes, quem está no centro da questão (na escola) é o mais fragilizado. A saúde física e mental dos educadores clama por atenção. A vida dos es-tudantes, e dos próprios educadores, idem. É hora de juntarmos forças para resgatar a dignidade da escola e de quem com ela convive diariamente.

Sugestão de atividade:

Realizar consulta junto aos trabalhadores da sua escola para saber se sofrem de alguma doença re-lacionada ao trabalho, inclusive estresse e depres-são. Envie essas informações ao seu sindicato.

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APOS

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A

Aposentados da educação básica: compromisso e luta!

A CNTE tem por princípio de luta a defesa dos in-teresses de todos os trabalhadores em educação – ativos e aposentados – e a promoção da educação pública, emancipadora, de qualidade, democrática e para todos.

Durante as reformas da Previdência (Emendas Constitucionais nº 20, nº 41 e nº 47), a CNTE foi protagonista e pioneira, junto à CUT, na convoca-ção dos trabalhadores para atuarem na defesa de seus direitos, embora, como sabemos, nem tudo que pretendíamos foi possível alcançar. Dentre as vitórias, destaque para a permanência da aposenta-doria especial para o magistério da educação bási-ca – a qual pretendia-se extinguir.

Na seqüência, a Confederação, através de sua Se-cretaria de Aposentados e Assuntos Previdenciários e dos Coletivos Nacional e Estaduais de Aposenta-dos, estabeleceu, junto com seus Sindicatos Filia-dos, uma importante pauta de trabalho e de reivin-dicação para este segmento da categoria, que vem sendo implementada com afinco.

No tocante à PEC Paralela da Previdência (EC 47), que amenizou os efeitos das reformas anteriores e resgatou o direito à paridade e à integralidade aos trabalhadores estatutários, ingressos no serviço público até dezembro de 1998, resta o passivo da regra de transição a ser concedido aos trabalhado-res em educação – excluídos de última hora na vo-tação da reforma no Senado Federal.

Sobre este ponto, a CNTE articulou a apresentação da PEC 481/06, que visa estender o benefício da transição ao magistério. Porém, a matéria encontra-se parada na Comissão de Constituição, Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados e só deverá tramitar após uma dose extra de pressão sobre os parlamentares.

Em 10 de maio de 2006, o presidente Lula sancio-nou a lei 11.301, que visa estender aos diretores escolares e aos especialistas (pedagogos), o direito à aposentadoria especial do magistério. Contudo, a lei foi questionada na justiça e o Supremo Tribu-nal Federal deverá pronunciar-se em breve sobre a constitucionalidade ou não desse diploma legal. A CNTE articulou com suas afiliadas a apresentação de Amincus Curie ao STF (apoio social à legalidade da lei) e conta com seu escritório jurídico de plantão para atuar nesse caso específico.

Outra frente de luta dos aposentados consiste na garantia de permanência dessa parcela da categoria nos planos de carreira estaduais e municipais. A recorrente e propagada restrição fiscal impõe, sis-tematicamente, ameaças aos aposentados sobre sua permanência nos planos de carreira da educa-ção, com direito à paridade e à integralidade salarial com o pessoal da ativa. Esta demanda é agravada pela falta de regulamentação dos fundos previden-ciários dos entes federados, que preferem manter os aposentados nas receitas vinculadas à educa-ção (25%), limitando a capacidade de investimen-to na manutenção e desenvolvimento do ensino e utilizando-se da prerrogativa de restrição da Lei de Responsabilidade Fiscal para conceder reajuste aos ativos e paridade integral aos aposentados.

Em relação ao Piso Salarial Profissional Nacional, a CNTE tem atuado sob duas estratégias em relação aos aposentados. A primeira, embora redundante, baseia-se em interpretação do próprio Congresso de que seria inconstitucional discriminar os aposenta-dos das políticas remuneratórias. Mesmo assim, a Confederação propôs em seu substitutivo de Piso a inclusão expressa dos aposentados, nos seguintes termos: “Art. 1º- Por Piso Salarial Profissional Na-cional do Magistério Público se entende a quantia mínima, fixada nacionalmente pelo Poder Executivo

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Federal, abaixo da qual os governos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não podem praticar vencimentos, excluídas vantagens e gratificações de quaisquer ordem ou natureza, para professores e demais profissionais do magis-tério da educação básica pública, em caráter per-manente ou temporário, inclusive os aposentados, em regime de trinta horas semanais, observado o percentual máximo de setenta por cento desta car-ga horária para atividades de docência, em intera-ção com os estudantes”.

A segunda estratégia, sobre a qual já alcançamos êxito, diz respeito à supressão da expressão “em efetivo exercício no magistério”, contida, origi-nalmente, tanto na lei do Fundeb quanto na proposta de Piso. De acordo com interpretações do Supremo Tribunal Federal, esta expressão limita qualquer tipo de benefício aos profissionais que não estejam lo-tados em sala de aula, excluindo-se, além dos apo-sentados, os demais profissionais em atividade no magistério (diretores, especialistas, inspetores).

É importante ficar claro que, independente da reda-ção do projeto de lei contemplar ou não a nomen-clatura “Aposentado”, a isonomia do Piso estará garantida aos aposentados estatutários reconheci-dos nos planos de carreira do magistério. Esta tese sustenta-se em razão das diversas ações judiciais concedidas em favor dos aposentados que deixa-ram de receber reajustes conferidos ao pessoal da ativa (exceto quando se tratava de abonos e gra-tificações), em flagrante ação de inconstituciona-lidade.

Quanto aos servidores celetistas, estes não fazem jus à paridade e à integralidade e seus vencimentos obedecem ao limite estabelecido pelo INSS. O Piso, para este caso, não é observado, embora possa coincidir com o teto da aposentadoria. É possível que tal situação desperte novas demandas sindi-cais no sentido de transferência entre regimes, ou de garantir isonomia entre estatutários e celetistas, o que, por outro lado, necessitaria alterar a lei.

O projeto de Piso, ora em debate, garante o con-ceito de “vencimento-base” e, portanto, refere-se ao salário efetivo, àquele que concorre para a apo-

sentadoria do servidor e sobre o qual todos têm o direito a se aposentar. Daí a conseqüência de os planos de carreira terem de tomar por base, para o escalonamento da tabela salarial dos servidores do magistério, os novos vencimentos iniciais a se-rem previstos com a vigência do Piso Nacional. E seria totalmente inimaginável o profissional recém ingresso, sobre o qual incide o Piso, ter vencimento superior ao aposentado da mesma carreira.

Contudo, a inclusão da nomenclatura no projeto de lei continua sendo alvo de reivindicação da catego-ria, de forma que a CNTE mantém o compromis-so em negociá-la junto aos parlamentares da CCJ, lembrando, apenas, que, recentemente, a relatora do PL na Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público, deputada Andréia Zito (PSDB-RJ), contrariando a histórica posição de seu partido, acrescentou, através de emenda de relatoria, o referido vocábulo em seu Substitutivo. A proposta acabou sendo rejeitada pela Comissão de Finanças e Tributação sob três alegações: i) imprevisão das receitas estaduais e municipais para esta finalida-de (impacto nos planos de carreira), ii) impossibi-lidade de conceder isonomia aos aposentados da educação (estatutários e celetistas) e iii) desacordo político em torno dos limites previstos em âmbito da comissão de mérito da matéria (Educação e Cul-tura).

Como dissemos, o importante, independente de constar ou não a nomenclatura “aposentado” no PL, é garantir a presença desse segmento nos planos de carreira estaduais e municipais, e a CNTE não se furtará do compromisso de auxiliar suas afiliadas rumo à valorização dos trabalhadores aposentados, e, por conseqüência, dos que futuramente estarão se aposentando.

Sugestão de atividade:

* Encaminhar mensagens aos deputados e realizar reuniões nos estados com os membros da CCJ da Câmara dos Deputados, a fim de cobrar celeridade à PEC 481/06.

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Gestão Democrática e Projeto Político Pedagógico: bases para a qualidade da educaçãoA história dos movimentos social e sindical, no Brasil, é marcada pela luta por democracia, seja em âmbito político, comunitário, escolar, de chão de fábrica... E o grau de conquistas e de evolução da cidadania tem sido proporcional à conscientização e à participação social nos diversos acontecimentos de diferentes es-calas da vida nacional.

A escola pública, neste sentido, sempre atuou como aliada à luta do povo e dos trabalhadores, tanto na promoção da cidadania, com ênfase na democracia participativa, quanto na perspectiva de consolidar um projeto de desenvolvimento soberano ao país, pautado na valorização do trabalho, na distribuição da renda, na geração de empregos, na formação ci-dadã e profissional dos trabalhadores, enfim, na con-solidação da justiça e da paz social.

Contudo, do ponto de vista interno, a escola e os educadores também buscam desenvolver práticas democráticas similares à organização da sociedade, as quais visam à construção coletiva e cidadã do co-nhecimento, da cultura, da autonomia, das inter-rela-ções pessoais e institucionais entre gestores, traba-lhadores, estudantes, comunidade e entre sistemas e escolas. O objetivo maior deste projeto consiste em proporcionar melhor aproveitamento dos tempos e saberes escolares, em combater a violência, em es-truturar o desenvolvimento do currículo, em estipular avaliações sobre o aproveitamento dos estudantes e sobre o trabalho dos educadores, em envolver a co-munidade no projeto pedagógico da escola e em tudo mais que possa proporcionar qualidade às funções sociais da escola. Esta tarefa é conferida, sobretudo, ao Projeto Político Pedagógico (PPP).

Importante destacar que a prática da gestão demo-crática, todavia, não se confunde com autonomia

indiscriminada e à revelia dos sistemas (soberania escolar). Trata-se da prerrogativa de compartilhar, à luz das diretrizes dos sistemas, responsabilidades e tarefas, dando à escola a possibilidade de criar sua identidade, sem, necessariamente, precisar emol-durar-se ao cartesianismo das políticas de cunho global. Ao propiciar esta forma de organização, o(s) sistema(s) pode(m) e deve(m) cobrar contrapartidas nos resultados, por meio de processos democrati-camente elaborados e executados em âmbito de sua circunscrição ou em cooperação com outros siste-mas (estadual/municipal/federal).

O artigo 206, VI da CF prevê a gestão democrática no ordenamento jurídico. Já a sua regulamentação ocorreu por meio do artigo 14 da LDB, que reconhe-ceu os conselhos escolares, o Projeto Político Peda-gógico (PPP), além de outras formas previstas auto-nomamente pelos sistemas, como partes integrantes da gestão escolar.

Diante desse dispositivo da lei maior, cabe aos siste-mas de ensino optarem pela ampliação do conceito democrático de gestão da escola, a qual, do nosso ponto de vista, deve promover a participação social em todas as fases de elaboração e execução das po-líticas educacionais, compreendendo os conselhos de educação (nacional, estaduais e municipais), as eleições para direções de escola, além daquelas já previstas na LDB. Especificamente sobre a eleição de diretores, a CNTE apóia os projetos em tramitação no Parlamento, em especial o PLS 344/07, da senadora Ideli Salvatti (PT/SC), que visa institui-la nacional-mente. Porém consideramos que a forma definitiva para a questão consiste em alterar o artigo 37, V da CF, por meio de proposta de emenda constitucional.É preciso ter claro, no entanto, que a eleição direta para direção de escola não é o fim maior da gestão

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democrática. O PPP, por exemplo, tem por princípio superar a recorrente divisão social do trabalho e as práticas autoritárias existentes na escola. Neste sentido, cabe às direções potencializar as diversas participações sociais: conselhos escolares, grêmios estudantis, associações de pais, de moradores, den-tre outros grupos constituídos na comunidade e que queiram participar, solidariamente, do projeto esco-lar, como conselhos de idosos, de mulheres, os mo-vimentos negros, de artistas e outros.

A amplitude da participação social é o melhor com-bustível para a transformação da escola, pois abar-ca os anseios da comunidade como um todo. Vale destacar que em muitos estados e municípios com menor financiamento público, as escolas que ado-taram a gestão democrática e mantêm projetos pe-dagógicos bem elaborados, têm se destacado nas avaliações institucionais. Prova de que a participa-ção social constitui um ótimo método de avaliação e de fiscalização do desempenho escolar. E que a eficiência gestora não se limita à racionalidade e à potencialização dos recursos financeiros e adminis-trativos, embora estes sejam primordiais para avan-çar na qualidade da educação.

O processo de democratização da gestão, entretanto, conta com opositores que, ao longo da implantação do projeto neoliberal, em nosso país, trataram de renegar este princípio sucumbindo-o frente a outro restrito à gestão financeira e administrativa – igual-mente previsto na LDB (art. 15) – mas que deve-ria caminhar junto com a autonomia política. Neste momento, é imprescindível que as forças populares se unam para efetivar a equiparação dos princípios autônomos da escola, conferindo a ambos protago-nismo e amplitude de ação.

Assim, as estratégias de mobilização devem atentar para algumas questões que insistem em manter a di-cotomia entre autonomia financeiro-administrativa e a política. Dentre elas, destacam-se:

i) a própria restrição à autonomia escolar: re-centemente ampliou-se o ataque de parcela dos gestores públicos à autonomia escolar. Têm-se proposto medidas retrógradas, como o retorno de inspetores de ensino para controlar os conteúdos

ministrados pelos professores e a organização dos espaços escolares, num flagrante desrespei-to ao Projeto Político Pedagógico, à lei e à organi-zação dos atores escolares.ii) as propostas de currículo mínimo: estas visam concentrar alguns conteúdos – obviamente aque-les observados pelas avaliações institucionais – renegando as diretrizes nacionais, que podem e devem ser revistas, porém na perspectiva de contemplar mais conteúdos com vistas à implan-tação da escola de tempo integral.iii) a certificação de professores: embora a cate-goria não seja contra os procedimentos de avalia-ção, as propostas contidas nos projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional desvirtuam tal conceito, focando a punição dos educadores e não a capacitação para o melhor desempenho profissional. iv) a fragmentação da política educacional: tra-tam-se de medidas inspiradas na gestão neolibe-ral de Fernando Henrique Cardoso e Paulo Renato Souza, ex-presidente e ex-ministro da educação (1998-2002), que vão de encontro ao caráter sis-têmico empreendido na educação nacional nos últimos quatro anos. Essas desprezam as cor-relações entre níveis, etapas e modalidades de ensino, entre as políticas dos sistemas de ensino direcionadas ao aprendizado, à valorização pro-fissional, à organização das escolas; consideram suficientes à qualidade da educação a aplicação de medidas pontuais, a exemplo dos itens acima elencados, da política de premiação aos educa-dores, do sistema apostilado para professores e alunos, de eficiência administrativa empregada à gestão escolar, dentre outras.v) as avaliações desatreladas às políticas públi-cas: os atuais métodos avaliativos não têm re-vertido em melhoria à qualidade da educação. Os educadores lutam por ampliação dos conteúdos e insumos avaliados, bem como pela alteração da concepção e foco das avaliações, devendo as mesmas voltar-se também à responsabilização dos sistemas, às condições estruturais das es-colas, às condições de trabalho e à carreira dos profissionais.

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Educação Pública de Qualidade se escreve assim.

PRESIDENTE – Roberto Franklin de Leão (SP)Vice-Presidente – Milton Canuto de Almeida (AL)Secretário Geral – Denílson Bento da Costa (DF)Secretária de Finanças - Juçara Maria Dutra Vieira (RS)Secretária de Relações Internacionais - Fátima Aparecida da Silva (MS)Secretário de Assuntos Educacionais - Heleno Araújo Filho (PE)Secretário de Formação - Gilmar Soares Ferreira (MT)Secretária de Assuntos Municipais - Marta Vanelli (SC)Secretária de Organização - Maria Inez Camargos (MG)Secretária de Políticas Sociais - Rosana Sousa do Nascimento (AC)Secretária de Imprensa e Divulgação - Antonia Joana da Silva (MS)Secretária de Assuntos Jurídicos e Legislativos - Rejane Silva de Oliveira (RS)Secretária de Relações de Gênero - Raquel Felau Guisoni (SP)Secretário de Política Sindical - Rui Oliveira (BA)Secretário de Saúde - Alex Santos Saratt (RS)Secretária de Direitos Humanos - Marco Antonio Soares (SP)Secretária de Aposentados e Assuntos Previdenciários - Maria Madalena A. Alcântara (ES)

SECRETáRIOS (AS) ADJUNTOS (AS)

Secretário Adjunto de Assuntos Educacionais - Joel de Almeida Santos (SE)Secretária Adjunta de Assuntos Educacionais - Maria Antonieta da Trindade (PE)Secretário Adjunto de Política Sindical - José Carlos Bueno do Prado - Zezinho (SP)Secretário Adjunto de Política Sindical - José Valdivino de Moraes (PR)

SUPLENTES À DIREÇÃO EXECUTIVA DA CNTE

Janeayre Almeida de Souto (RN)Paulina Pereira Silva de Almeida (PI)Odisséia Pinto de Carvalho (RJ)Cleber Ribeiro Soares (DF)Isis Tavares Neves (AM)Silvinia Pereira de Souza Pires (TO)Joaquim Juscelino Linhares Cunha (CE)

MEMBROS DO CONSELHO FISCAL DA CNTE - TITULARES

Odair José Neves Santos (MA)Mario Sergio F. De Souza (PR)Miguel Salustiano de Lima (RN)Guilhermina Luzia da Rocha (RJ)Ana Íris Arrais Rolim (RO)

MEMBROS DO CONSELHO FISCAL DA CNTE - SUPLENTES

Rosália Maria Fernandes da Silva (RN)Selene Barbosa Michelin Rodrigues (RS)Marco Túlio Paolino (RJ)

DIREÇÃO EXECUTIVA DA CNTE Gestão 2008/2011

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