educaÇÃo de jovens e adultos: modelo inclusivo e ... · ² prof. esp. psicopedagogia clínica e...
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EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: MODELO INCLUSIVO E COMPENSATÓRIO DE
ENSINO.
BEZERRA, Vanderléia Ferreira ¹ BOGO, Miriele Ferreira Marques ² OLIVEIRA, Rosimeire Ribeiro de ³ PEREIRA, Sybelle de Sousa ⁴ SOUZA, Denise da Silva e ⁵
RESUMO:
O objetivo do presente artigo foi investigar os principais aspectos da educação de jovens e
adultos. Inicialmente, buscamos compreender através de bibliografias a definição do
processo educacional e principalmente a importância em oferecer um ensino inclusivo para
os participantes envolvidos, logo a partir deste estudo, compreendemos a necessidade de
ofertar um ensino que proporcione a participação e a compensação no modelo EJA.
Palavras Chaves: Educação; ensino; inclusivo; compensatório.
RESUMEN:
El objetivo de este trabajo fue investigar los principales aspectos de la educación de adultos.
Inicialmente, hemos tratado de entender a través de bibliografías la definición del proceso
educativo y sobre todo la importancia de proporcionar una educación inclusiva para los
participantes involucrados Por lo tanto, a partir de este estudio, entendemos la necesidad de
ofrecer una educación que ofrece la participación y compensación en el modelo EJA.
Palabras clave: Educación; la educación; inclusive; compensatorio.
_________________________________________________________
¹ Prof. Esp. Educação Especial e Psicomotricidade- São Luís ² Prof. Esp. Psicopedagogia Clínica e Institucional- FASIPE ³ Prof. Licenciada em Pedagogia- Faculdade de Ciência Sociais de Guarantã do Norte ⁴ Prof. Esp.Educação Infanitl-AJES
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⁵ Prof. Esp. Educação Infantil e Alfabetização- FIVE INTRODUÇÃO
Este estudo tem como objetivo descrever as principais formas e métodos de ensino
centrado na Educação de Jovens e Adultos, buscando compreender o processo de
aprendizagem dos envolvidos. De acordo com o artigo 37 da Lei nº 9394/96, “A educação de
jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos
no ensino fundamental e médio na idade própria”.
Deste modo, esse modelo de ensino visa efetivamente proporcionar um ensino
formador de caráter compensatório e inclusivo as pessoas que não participaram do processo
ensino aprendizagem na idade inicial. Ainda de acordo com o artigo 37, § 1º da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames. (LDBEN, 1996,).
Compreende-se a partir deste inciso, que a modalidade deverá possibilitar a reinserção
dos estudantes dentro do âmbito escolar, assim, fortalecendo seus laços com o processo
ensino-aprendizagem, sem descartar a realidade e as condições de vida dos alunos.
Portanto, o fundamental na educação de jovens e adultos se configura como a oportunidade
de se reestabelecer o acesso ao conhecimento desse público, que por inúmeros fatores
tiveram que abandonar a escola, e/ou nem tiveram a possibilidade de frequenta-la.
Outro ponto importante na EJA refere-se à inclusão no meio educacional desse público,
assim, cabe à instituição escolar oferecer meios para facilitar e colaborar com uma educação
inclusiva dos jovens e adultos que estão inseridos na busca pelo saber. Sobre a inclusão,
Rodrigues acrescenta:
[...] o conceito de inclusão no âmbito especifico da educação implica inicialmente em rejeitar a exclusão (presencial ou acadêmica) de qualquer aluno da comunidade escolar. Para isso, a escola que pretende seguir uma política de educação inclusiva deve desenvolver práticas que valorizem a participação de cada aluno. (RODRIGUES, 2006, p. 302).
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Neste sentido, a equipe gestora juntamente com o corpo docente da organização
escolar precisará obrigatoriamente desenvolver metodologias que envolvam e que ofereçam
subsídios motivacionais para os participantes. De acordo com o MEC (2005, p.10) “a
educação inclusiva considera a diversidade como uma oportunidade para enriquecer os
processos de aprendizagem, contribuindo assim para o melhoramento da qualidade da
educação”.
Todavia, compreendemos que há inúmeras dificuldades que poderão emergir neste
processo, como por exemplo, a resistência do aluno em participar e, se incluir como um
componente importante na busca do conhecimento. Desta maneira, a reinserção e/ou
inclusão dos jovens e adultos poderá gerar aspectos preocupantes no momento do
aprender. Na Pedagogia do Oprimido, Freire (1987, p.28) diz que:
[...] de tanto ouvirem de si mesmos que são incapazes, que não sabem nada, que não podem saber que são enfermos, indolentes, que não produzem em virtude de tudo isto, terminam por se convencer de sua “incapacidade”. Falam de si como os que não sabem e do “doutor” como o que sabe e a quem devem escutar.
Diante desse sentimento de incapacidade, por vezes, o aluno do EJA termina por
evadir-se da comunidade escolar, os motivos para tal atitude pode estar refletida em suas
dificuldades no processo do aprender, ou por vezes, pela dificuldade da equipe escolar em
ofertar um ensino motivacional intrínseco, ensino que promova as habilidades necessárias
para os alunos através de métodos participativos e inclusivos. De acordo com a autora
Bianchi (2011, p.19)
A motivação intrínseca se configura como uma tendência natural do aluno para buscar novidades e desafios, é uma orientação motivacional que tem por características a autonomia dos alunos e a auto-regulação de sua aprendizagem.
Ou seja, o papel do profissional educador é fortalecer o interesse do aluno pela
aprendizagem e principalmente torna-lo sujeito autônomo em busca do conhecimento.
Bianchi (2011) ainda afirma que se torna extremamente importante trabalhar com a
realidade na qual o aluno se apresenta deste modo, o profissional que se encontra
responsável pelos alunos, deverá além de preocupar-se com os conteúdos e formação,
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proporcionar uma relação reforçadora, com o propósito de encontrar meios para modificar a
realidade já imposta pelo contexto de cada participante. Neste contexto, a relação aluno-
professor possui caráter de extrema importância na busca pelo conhecimento, na qual
ambos irão obter aproveito nesta relação. De acordo com Libâneo (1994, p. 249).
A interação professor-alunos é um aspecto fundamental da organização da situação didática, tendo em vista alcançar os objetivos do processo de ensino: a transmissão e assimilação dos conhecimentos, hábitos e habilidades. Entretanto, esse não é o único fator determinante da organização do ensino, razão pela qual ele precisa ser estudado em conjunto com outros fatores, principalmente e a forma de aula (atividade individual, atividade coletiva. atividade em pequenos grupos, atividade fora da classe etc.).
Embora sabemos que uma relação reforçadora entre aluno-professor pode ter
consequências gratificantes, é necessário que o profissional tenha consciência dos inúmeros
conflitos que poderão surgir de uma relação aversiva, o convívio entre ambos se torna
ameaçadores quando compartilham de valores sociais, classes, objetivos e saberes
diferentes. Neste sentido, torna-se imprescindível que o profissional compartilhe suas
experiências e que insira a realidade do outro em suas metodologias de ensino, buscando
aprimorar o diálogo, excluindo as dificuldades e subsequente promovendo uma relação que
produza resultados satisfatórios entre os envolvidos.
O professor não apenas transmite uma informação ou faz perguntas, mas também ouve os alunos. Deve dar-lhes atenção e cuidar para que aprendam a expressar-se, a expor opiniões e dar respostas. O trabalho docente nunca é unidirecional. As respostas e opiniões mostram como eles estão reagindo à atuação do professor, às dificuldades que encontram na assimilação dos conhecimentos. Servem, também, para diagnosticar as causas que dão origem a essas dificuldades. (LIBÂNEO, 1994, p. 250).
Diante da realidade do nosso sistema educacional, a educação de jovens e adultos
historicamente sempre perpetuou como uma segunda chance da sociedade para o povo que
não teve a possibilidade de estudar, e por vezes ofertando um ensino sem pretensões de
formar cidadãos críticos e políticos.
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Uma concepção que nasce da relação entre conquistador e conquistado/ índio/escravo, e perdura em muitos documentos oficiais que parecem tratar a EJA como um favor e não como o pagamento de uma dívida social e a institucionalização de um direito (CURY, 2000)
Neste sentido, esse modelo de ensino busca além de ofertar uma possibilidade em
reparar o tempo perdido e, buscar ainda, eliminar qualquer forma de negligência por parte da
unidade escolar. Diante das dificuldades em proporcionar com metodologias inclusivas o
direito ao ensino eficiente e fortalecedor, muito unidades escolares possuem dificuldades em
auxiliar o desbravamento dos paradigmas concretizados pela sociedade e, por vezes,
acabam perdendo sua clientela.
[...] a escola muitas vezes encontra dificuldades para compreender as particularidades desse público, no qual os motivos que os levam à evasão, ainda no início da juventude, e as motivações que envolvem sua volta à sala de aula são informações preciosas para quem lida com a questão. Deixá-los escapar leva à inadequação do serviço oferecido e a um processo de exclusão que, infelizmente, não será o primeiro na vida de muitos desses alunos. (NAIF 2005, P. 402).
Diante deste fato, o trabalho com a Educação de Jovens e Adultos, requer alinhamento
das necessidades específicas e intrínseca deste público, um fortalecimento transferencial da
escola-professor-aluno. Somente a adequação e diferenciação de um ensino mais interativo
responderá pela não evasão deste público do ambiente escolar. Logo, a educação deste
público exige uma flexibilização da equipe escolar, referente às necessidades e
peculiaridades única desse modelo adotado.
Ao focalizar a escolaridade não realizada ou interrompida no passado, o paradigma compensatório acabou por enclausurar a escola para jovens e adultos nas rígidas referências curriculares, metodológicas, de tempo e espaço da escola de crianças e adolescentes, interpondo obstáculos à flexibilização da organização escolar necessária ao atendimento das especificidades desse grupo sociocultural (PIERRO, 2005).
Portanto, cabe à unidade escolar elaborar planos e mecanismos que fomente as
capacidades subjetivas dos alunos, construindo as possibilidades de interação, trabalhando
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ações intelectuais, conteúdos que se adequados com a realidade dos indivíduos, visando
proporcionar uma escola real.
UM POUCO DE HISTÓRIA
Alfabetizar jovens e adultos não é um ato apenas de ensino – aprendizagem é a
construção de uma perspectiva de mudança; no início, época da colonização do Brasil, as
poucas escolas existentes era pra privilégio das classes média e alta, nessas famílias os
filhos possuíam acompanhamento escolar na infância; não havia a necessidade de uma
alfabetização pra jovens e adultos, as classes pobres não tinham acesso a instrução escolar
e quando a recebiam era de forma indireta, de acordo com Ghiraldelli Jr. (2008, p. 24) a
educação brasileira teve seu início com o fim dos regimes das capitanias, ele cita que:
A educação escolar no período colonial, ou seja, a educação regular e mais ou menos institucional de tal época, teve três fases: a de predomínio dos jesuítas; a das reformas do Marquês de Pombal, principalmente a partir da expulsão dos jesuítas do Brasil e de Portugal em 1759; e a do período em que D. João VI, então rei de Portugal, trouxe a corte para o Brasil (1808-1821).
O ensino dos jesuítas tinha como fim não apenas a transmissão de conhecimentos
científicos, escolares, mas a propagação da fé cristã. A história da educação de jovens e
adultos no Brasil no período colonial se deu de forma assistemática, nesta época não se
constatou iniciativas governamentais significativas.
Os métodos jesuíticos permaneceram até o período pombalino com a expulsão dos
jesuítas, neste período, Pombal organizava as escolas de acordo com os interesses do
Estado, com a chegada da família Real ao Brasil a educação perdeu o seu foco que já não
era amplo. Após a proclamação da Independência do Brasil foi outorgada a primeira
constituição brasileira e no artigo 179 dela constava que a “instrução primária era gratuita
para todos os cidadãos”; mesmo a instrução sendo gratuita não favorecia as classes pobres,
pois estes não tinham acesso à escola, ou seja, a escola era para todos, porém, inacessível
a quase todos, no decorrer dos séculos houve várias reformas, Soares (2002, p. 8) cita que:
No Brasil, o discurso em favor da Educação popular é antigo: precedeu mesmo a proclamação da República. Já em 1882, Rui Barbosa, baseado em exaustivo diagnóstico da realidade brasileira da época, denunciava a vergonhosa precariedade do ensino para o povo no Brasil e apresentava
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propostas de multiplicação de escolas e de melhoria qualitativa de Ensino.
A constituição de 1934 não teve êxito, pois Getúlio Vargas o então presidente da
república tornou – se um ditador através do golpe militar e criou um novo regime o qual
chamou de: “Estado Novo”, sendo assim cria – se uma nova constituição escrita por
Francisco Campos. Ghiraldelli Jr.(2008, p.78) cita que:
A constituição de 1937 fez o Estado abrir mão da responsabilidade para com educação pública, uma vez que ela afirmava o Estado como quem desempenharia um papel subsidiário, e não central, em relação ao ensino. O ordenamento democrático alcançado em 1934, quando a letra da lei determinou a educação como direito de todos e obrigação dos poderes públicos, foi substituído por um texto que desobrigou o Estado de manter e expandir o ensino público.
A constituição de 1937 foi criada com o objetivo de favorecer o Estado, pois o mesmo
tira a sua responsabilidade; uma população sem educação (educação para poucos) torna a
sociedade mais suscetível a aceitar tudo que lhe é imposto; logo se entende que esta
constituição não tinha interesse que o conhecimento crítico se propagasse, mas buscava
favorecer o ensino profissionalizante, naquele momento era melhor capacitar os jovens e
adultos para o trabalho nas indústrias.
Um dos precursores em favor da alfabetização de jovens e adultos foi Paulo Freire que
sempre lutou pelo fim da educação elitista, Freire tinha como objetivo uma educação
democrática e libertadora, ele parte da realidade, da vivência dos educandos, segundo
Aranha (1996, p.209):
Ao longo das mais diversas experiências de Paulo Freire pelo mundo, o resultado sempre foi gratificante e muitas vezes comovente´´. O homem iletrado chega humilde e culpado, mas aos poucos descobre com orgulho que também é um “fazedor de cultura” e, mais ainda, que a condição de inferioridade não se deve a uma incompetência sua, mas resulta de lhe ter sido roubada a humanidade. O método Paulo Freire pretende superar a dicotomia entre teoria e prática: no processo, quando o homem descobre que sua prática supõe um saber, conclui que conhecer é interferir na realidade, de certa forma. Percebendo – se como sujeito da história, toma a palavra daqueles que até
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então detêm seu monopólio. Alfabetizar é, em última instância, ensinar o uso da palavra.
Na época do regime militar, surge um movimento de alfabetização de jovens e adultos,
na tentativa de erradicar o analfabetismo, chamado MOBRAL, esse método tinha como foco
o ato de ler e escrever, essa metodologia assemelha – se a de Paulo Freire com
codificações, cartazes com famílias silábicas, quadros, fichas, porém, não utilizava o diálogo
como a de Freire e não se preocupava com a formação crítica dos educandos.
A respeito do MOBRAL; Bello (1993) cita que:
O projeto MOBRAL permite compreender bem esta fase ditatorial por que passou o país. A proposta de educação era toda baseada aos interesses políticos vigentes na época. Por ter de repassar o sentimento de bom comportamento para o povo e justificar os atos da ditadura, esta instituição estendeu seus braços a uma boa parte das populações carentes, através de seus diversos Programas.
A história da Educação de jovens e adultos é muito recente, durante muitos anos as
escolas noturnas eram a única forma de alfabetiza lós após um dia árduo de serviço, e
muitas dessas escolas na verdade eram grupos informais, onde poucos que já dominavam o
ato de ler e escrever o transferia a outros; no começo do século XX com o desenvolvimento
industrial é possível perceber uma lenta valorização da EJA.
O processo de industrialização gerou a necessidade de se ter mão de obra
especializada, nesta época criou – se escolas para capacitar os jovens e adultos, por causa
das indústrias nos centros urbanos a população da zona rural migrou para o centro urbano
na expectativa de melhor qualidade de vida, ao chegarem nos centros urbanos surgia à
necessidade de alfabetizar os trabalhadores e isso contribuiu para a criação destas escolas
para adultos e adolescentes.
A necessidade de aumentar a base eleitoral favoreceu o aumento das escolas de EJA,
pois o voto era apenas para homens alfabetizados. Na década de 40 o governo lançou a
primeira campanha de Educação de adultos, tal campanha propunha alfabetizar os
analfabetos em três meses; dentre educadores, políticos e sociedade em geral, houve
muitas críticas e também elogios a esta campanha, o que é nítido e que com esta campanha
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a EJA passou a ter uma estrutura mínima de atendimento. Com o fim desta primeira
campanha, Freire foi o responsável em organizar e desenvolver um programa nacional de
alfabetização de adultos, porém com o golpe militar o trabalho de Freire foi visto como
ameaça ao regime; assim a EJA volta a ser controlado pelo governo que cria o MOBRAL
conforme foi citado anteriormente.
O ensino supletivo foi implantado com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, LDB
5692/71. Nesta Lei um capitulo foi dedicado especificamente para o EJA. Em 1974 o MEC
propôs a implantação dos CES (Centros de Estudos Supletivos), tais centros tinham
influências tecnicistas devido à situação política do país naquele momento.
Em 1985, o MOBRAL findou – se dando lugar a Fundação EDUCAR que apoiava
tecnicamente e financeiramente as iniciativas de alfabetização existentes, nos anos 80
difundiram – se várias pesquisas sobre a língua escrita que de certa forma refletiam na EJA,
com a promulgação da constituição de 1988 o Estado amplia o seu dever com a Educação
de jovens e adultos.
De acordo com o artigo 208 da Constituição de 1988:
“O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: I – ensino
fundamental obrigatório e gratuito, assegurada inclusive, sua oferta gratuita para todos os
que a ele não tiveram acesso na idade própria;”
Na década de 90 emergiram iniciativas em favor da Educação de jovens e adultos, o
governo incumbiu também os municípios a se engajarem nesta política, ocorrem parcerias
entre ONG’s, municípios, universidades, grupos informais, populares, Fóruns estaduais,
nacionais e através dos Fóruns a partir de 1997 a história da EJA começa a ser registrada
no intitulado “Boletim da Ação Educativa”.
É notório que nesta fase da história da Educação brasileira, a EJA possui um foco
amplo, para haver uma sociedade igualitária e uma Educação eficaz é necessária que todas
as áreas da Educação sejam focadas e valorizadas, não é possível desvencilhar uma da
outra.
PERSPECTIVA DO GOVERNO PARA EDUCAÇÃO JOVENS E ADULTOS
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O Brasil Alfabetizado, programa voltado para a alfabetização de jovens acima de 15
anos, adultos e idosos, será ampliado em 2017, passando de 168 mil para 250 mil
alfabetizandos atendidos. Esse aumento, de acordo com o Ministério da Educação,
representa 50% a mais de vagas no ciclo 2017. O sistema de adesão para o novo ciclo
começa em novembro próximo. “Infelizmente o Brasil ainda tem 13,1 milhões de
analfabetos, com 15 anos de idade ou mais. É um drama que temos de enfrentar com
programas como o Brasil Alfabetizado, que será ampliado, e novas ações, que venham a
somar esforços no sentido de reverter esse quadro”, afirmou o ministro da Educação,
Mendonça Filho.
Segundo o ministro, o MEC considera a alfabetização uma política pública de
educação prioritária e está trabalhando para sanar dívidas deixadas pela gestão anterior, na
ordem de R$ 138 milhões, referentes aos programas Brasil Alfabetizado, Programa Nacional
de Inclusão de Jovens (ProJovem) e Educação de Jovens e Adultos (EJA). Lançado em
2003, o Brasil Alfabetizado é um programa de fluxo contínuo, organizado por ciclos e com
duração de oito meses. No Plano Plurianual 2016/2019, a meta de alfabetizandos por ciclo
era de 1,5 milhão. No entanto, o atendimento no Brasil Alfabetizado vem diminuindo a partir
2013, quando abriu vagas para 1.113.450 alfabetizandos. Em 2014, o número de vagas caiu
para 718.961 e em 2015, com execução em 2016, despencou para 168 mil atendidos.
O ciclo atual em execução foi iniciado no ano passado, e conta com 191 entidades
executoras, 17.445 turmas ativadas 167.971 alfabetizandos, 17.088 alfabetizadores, 2.902
coordenadores e 105 tradutores intérpretes de libras. O Brasil Alfabetizado conta com
assistência técnica e financeira da União, em caráter suplementar. A verba de custeio é
destinada à formação de alfabetizadores e coordenadores de turmas, aquisição de material
escolar, aquisição de material de apoio para os alfabetizadores, alimentação escolar e
transporte do alfabetizando. Além disso, o programa prevê o pagamento de bolsas aos
alfabetizadores e aos alfabetizandos, durante o curso.
A atual gestão identificou falhas no programa, como uma taxa média de alfabetização de
50%, quando somente 7% dos alfabetizandos continuam na EJA. O MEC vem discutindo as
dificuldades do atual modelo com vários segmentos da sociedade – incluindo educadores,
gestores, sociedade civil –, no sentido de corrigir as falhas e aprimorar o programa. Ao
mesmo tempo, tem discutido, de forma mais ampla, políticas de educação voltadas para a
alfabetização, com o objetivo de promover um combate efetivo ao analfabetismo.
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EDUCAÇÃO INCLUSIVA; ESCOLA PARA TODOS
Pensando na realidade atual em que a EJA se torna aos poucos cada vez mais
inclusiva, e recebe cada vez mais alunos com necessidades educacionais especiais, como
seria a escola para todos defendida por Paulo Freire? Segundo Freire (1987) o direito à
educação não se reduz somente a estar na escola, mas sim em aprender. E, aprender para
tomar consciência de seu estado de opressão, para que assim possa se libertar daqueles
que o oprimem. E para que os jovens e adultos possam aprender adequadamente, é preciso
considerar o conhecimento que estes estudantes possuem. Em geral, os estudantes da EJA
possuem uma considerável experiência de vida. E, já aprenderam diferentes coisas em
diferentes contextos pela necessidade que a vida lhes impõe. Estes alunos têm
conhecimento, ainda que inadequados do ponto de vista escolar, daquilo que se discute em
sala de aula. Se para uma criança, que possui uma experiência de vida menor, este
conhecimento é de grande relevância para a aprendizagem e motivação, não seria diferente
para um jovem ou adulto que está na sala de aula como estudante. Franzi (2010, p.2)
explica que “não é tarefa fácil o reconhecimento do sujeito jovens e adultos que tem pouca
ou nenhuma inserção no mundo escolar como um sujeito que possui saberes”. Apesar disto,
desconsiderar esta realidade pode, não somente tornar o processo de aprendizagem menos
efetivo, mas também, desmotivar os alunos.
Para Freire (1987) as escolas devem valorizar o conhecimento dos alunos, e mais do
que isto, respeitar os saberes socialmente construídos na prática comunitária e discutir com
os alunos a razão de ser de alguns desses saberes em relação ao ensino dos conteúdos.
Esta prática favorece o aprendizado e respeita o estudante como um ser capaz e um ser que
sabe. Pode-se inferir, assim, que o sucesso da EJA depende também, da escola respeitar os
conhecimentos que seus alunos adquiriram em suas experiências diárias. Caso esta prática
não ocorra, a escola poderá não contribuir para a tarefa humanizadora que a educação tem.
Freire (1987, p.40), comenta que: A educação como prática da liberdade, ao contrário
naquela que é prática da dominação, implica na negação do homem abstrato, isolado, solto,
desligado do mundo, assim também na negação do mundo como uma realidade ausente
dos homens.
Freire (1987) destaca que para que a função humanizadora da escola se concretize, é
necessário que o diálogo seja uma parte constante dos processos de ensino e
aprendizagem, e este diálogo deve ocorrer de forma democrática, em que todos possam
participar. Para o referido autor “a educação autêntica, não se faz de “A” para “B” ou de “A”
sobre “B”, mas de “A” com “B”, mediatizados pelo mundo” (FREIRE, 1987 p.48). Desta
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forma, a educação autêntica só ocorre quando todos os envolvidos no processo dialogam,
trocando experiências, expondo aquilo que possuem como conhecimento construído ao
longo da vida, relacionando com o conteúdo escolar. E na EJA todos os alunos, podem
participar deste processo de educação autêntica.
CONSIDERAÇÃO FINAL
O retorno para a sala de aula poderá causar inúmeros anseios por parte dos
estudantes, como por exemplo, a falta de tempo para dedicar-se aos estudos devido a
correria do dia a dia do aluno trabalhado onde tem que dividir seu tempo entre trabalho e
escola, ocasionando uma exaustão e cansaço na vida deste aluno, ao tempo perdido longe
da escola onde muitas pessoas têm dificuldades em ter que enfrentar grande parte de seu
tempo nos percursos entre a escola e casa, as dificuldades oriundas de uma má
alfabetização de alunos que não tiveram bons estudos. Vale ressaltar também a falta de
interesse dos jovens por não se familiarizar, excesso de conteúdos e ausência de
contextualização, a falta de participação dos alunos que se limitam em apenas ouvir
palestras dos professores e muitas anotações de lousa.
Esses fatores poderão contribuir diretamente com a evasão desses estudantes do
espaço escolar, deste modo, surgem às incertezas que acometem o profissional envolvido
no ensino-aprendizagem e principalmente ocorre a aceitação do estudante diante das suas
dificuldades.
Neste sentido, ambas as partes poderão vivenciar as frustrações e o sentimento de
incapacidade acarretado pela evasão do sujeito. Outrora, diante do artigo apresentado,
podemos evidenciar a necessidade de se ofertar uma metodologia que possibilite a inclusão
do indivíduo e, a flexibilidade do profissional diante das demandes que possa emergir neste
contexto educacional.
Através do exposto nesse estudo, compreende-se a importância de proporcionar um
ensino adequado independentemente da faixa etária do indivíduo que esteja em busca do
aprender, oferecendo um conhecimento compensatório com a intenção de valorizar o saber
de cada membro e principalmente apropriar-se da realidade de cada um, visando ofertar o
conhecimento que condiz com a realidade dos participantes.
A inserção da tecnologia na educação não se limita a deixar o conteúdo mais atrativo:
Para combater a evasão escolar é essencial que os educadores tenham atenção redobrada
com os estudantes que estão com dificuldade nas disciplinas e aparentam desmotivação –
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um sintoma claro disso é deixar de realizar os deveres de casa ou de estudar para provas.
Por outro lado, há situações em que crianças e adolescentes com bom potencial não se
sentem desafiados e deixam de se interessar pelos estudos. Nos dois casos a tecnologia
pode ajudar!
Antigamente seria impossível exigir isso dos professores, especialmente em classes
grandes, com mais de 40 estudantes. Com a tecnologia, o aprendizado personalizado já é
usado hoje em várias escolas brasileiras. A plataforma da Geekie, por exemplo, permite
acompanhar o progresso dos alunos em tempo real. A plataforma identifica os pontos fracos
de cada estudante, desenvolve planos de estudo e recomenda conteúdo online para que ele
trabalhe em cima de suas deficiências. Da mesma forma, avaliações externas, como um
simulado online do Enem, permitem mapear deficiências e o professor pode sugerir
trabalhos pedagógicos específicos para determinados alunos, como aulas de reforço.
Justamente por ser consequência de vários fatores, a evasão escolar não pode ser
evitada por ações pontuais. Para atenuar esse fenômeno, é preciso colocar o tema na pauta
do planejamento pedagógico no começo do ano e discutir o assunto de forma regular ao
longo do semestre. Só assim é possível identificar logo alunos com propensão a problemas
e trabalhar as causas desse comportamento. Normalmente o abandono dos estudos é
apenas a última etapa de um processo que começa bem antes.
Além de atacar situações emergenciais, no dia a dia, a providência básica é sempre
fazer a chamada na sala de aula. Além de permitir que o acompanhamento das faltas seja
feito de forma constante, a chamada é um momento (às vezes o único) no qual o professor
chama o aluno pelo nome.
Um dos caminhos que também levam à evasão escolar é o das punições por
indisciplina. A direção não pode ser inflexível nem se colocar contra o estudante. A
indisciplina é sintoma de um desajuste que, em boa parte dos casos, está além da esfera
pedagógica. Trabalhar próximo da família do aluno com problemas de adaptação é
fundamental.
Portanto, torna-se de responsabilidade da equipe envolvida, proporcionar aos
estudantes um ensino facilitador e inclusivo, para que a partir das dificuldades emergentes o
estudante consiga alcançar êxito. Compreende-se, também, que a escola necessita alinhar
os objetivos referentes ao público especifico, bem como, as peculiaridades de cada membro.
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