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1 Educação Patrimonial, História Local e Usos da Antiguidade Prof.ª Rosana da Costa Maia Mestranda do PROFHISTÓRIA/UFF Bolsista da CAPES Introdução Apresentamos aqui uma proposta de atividade de Educação Patrimonial para a disciplina Educação Patrimonial e Ensino de História (UFRJ) que deverá ser desenvolvida, aplicada e avaliada para o Trabalho de Conclusão de Curso do Mestrado Profissional em Ensino de História, turma 2.2014, desenvolvido sob a orientação do Professor Dr. Paulo Knauss (UFF), com bolsa CAPES. Nossa proposta, ainda em fase de elaboração de projeto, bastante incipiente, portanto, envolve a história do município de Niterói, a ser explorada a partir do Patrimônio Cultural e sua análise na atualidade, em articulação com os conteúdos curriculares prescritos pela Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro Currículo Mínimo História 2012, mantido para os anos seguintes, em especial aqueles do primeiro bimestre para a primeira série do Ensino Médio. Considerando os debates mais recentes da historiografia decorrentes da crise dos paradigmas, entendemos que a metodologia da educação patrimonial no ensino de história apresenta-se como estratégia capaz de dar conta de importantes questões como memória e identidade, cultura e afeto, pertencimento e narrativas, conhecimento e informação, sendo que a dimensão local possibilita “transformação da fronteira da história vivida e da história ensinada em um lugar de diálogos e reflexões” diante de “suas interfaces com as diversas dimensões das sociedades (compreendidas em suas temporalidades)” (LEITE, 2005, pp.18- 20). Linha de Pesquisa Saberes históricos em diferentes espaços de memória.

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Educação Patrimonial, História Local e Usos da Antiguidade

Prof.ª Rosana da Costa Maia

Mestranda do PROFHISTÓRIA/UFF

Bolsista da CAPES

Introdução

Apresentamos aqui uma proposta de atividade de Educação Patrimonial para a

disciplina Educação Patrimonial e Ensino de História (UFRJ) que deverá ser desenvolvida,

aplicada e avaliada para o Trabalho de Conclusão de Curso do Mestrado Profissional em

Ensino de História, turma 2.2014, desenvolvido sob a orientação do Professor Dr. Paulo

Knauss (UFF), com bolsa CAPES.

Nossa proposta, ainda em fase de elaboração de projeto, bastante incipiente,

portanto, envolve a história do município de Niterói, a ser explorada a partir do Patrimônio

Cultural e sua análise na atualidade, em articulação com os conteúdos curriculares prescritos

pela Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro – Currículo Mínimo História 2012,

mantido para os anos seguintes, em especial aqueles do primeiro bimestre para a primeira

série do Ensino Médio.

Considerando os debates mais recentes da historiografia decorrentes da crise dos

paradigmas, entendemos que a metodologia da educação patrimonial no ensino de história

apresenta-se como estratégia capaz de dar conta de importantes questões como memória e

identidade, cultura e afeto, pertencimento e narrativas, conhecimento e informação, sendo que

a dimensão local possibilita “transformação da fronteira da história vivida e da história

ensinada em um lugar de diálogos e reflexões” diante de “suas interfaces com as diversas

dimensões das sociedades (compreendidas em suas temporalidades)” (LEITE, 2005, pp.18-

20).

Linha de Pesquisa

Saberes históricos em diferentes espaços de memória.

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Tema

Um percurso pela história de Niterói, como aproximação ao currículo mínimo de

História da Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro (SEEDUC-RJ) para o Ensino

Médio, a partir de visitas ao patrimônio cultural da cidade.

Problemática

De que modo podemos aproximar nossos jovens estudantes dos conteúdos

curriculares prescritos para História e fazê-los perceberem-se enquanto sujeitos históricos?

Será possível estabelecer uma abordagem curricular que permita pensar o currículo em seu

contexto sociocultural? Como fazer para entrelaçar durações e desenvolver uma consciência

dos ritmos de mudança social? De que forma ensinar os jovens a relacionar as dimensões das

realidades históricas local, regional e global?

Uma preocupação no ensino de história na atualidade é a de integrar o

conhecimento histórico à realidade dos alunos de maneira que estes reconheçam que fazem

parte desta história como atores e não como meros espectadores, além de propiciar uma visão

crítica da construção do conhecimento histórico. Entendo que o trabalho com a história local

pode ser um espaço de construção da reflexão crítica da realidade social, considerando o lugar

de inserção e o tempo presente como importantes aspectos no processo de construção da

identidade. No entanto, a história local na escola é abordada tão somente nos anos iniciais do

Ensino Fundamental e, depois, fica esquecida diante dos conteúdos curriculares. A história

local, no entanto, pode e deve ser utilizada como uma estratégia para vencer o obstáculo do

distanciamento entre os estudantes e a história chamada “geral”.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino de História (PCN+ 2002)

enfatizam a importância do desenvolvimento das competências de leitura e interpretação de

fontes e textos com foco nas noções de identidade, cidadania, memória e tempo histórico. O

ensino de história deve, então, contribuir para uma visão humanista e cidadã, permitindo

compreender a realidade à sua volta. Uma possibilidade de articulação entre saberes,

competências e habilidades está na Educação Patrimonial partindo do Patrimônio Cultural

como “fonte primária de conhecimento e aprendizado”, “instrumento de motivação” uma vez

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que seu princípio básico é a “experiência direta” com exploração investigativa: observação,

análise, comparação, formulação de hipóteses e solução de problemas (HORTA, s/d.).

O desafio que proponho é o de articular conteúdos de história geral e local, a

metodologia de estudo do meio da educação patrimonial com trabalho investigativo, a fim de

construir com os jovens os conceitos e práticas de uma cidadania crítica e participativa,

através de uma proposta que repense a forma de abordar os conteúdos curriculares tornando o

ensino de história ainda mais significativo. Como aponta QUEIROZ (2006, p.3): “a Educação

Patrimonial torna-se um veículo de aproximação, conhecimento, integração e aprendizagem”

propiciando que “(re)conheçam, (re)valorizem e se (re)apropriem” de sua herança cultural de

uma forma “mais crítica e atuante na (re)construção de sua identidade e cidadania”.

História local e antiguidade

O estudo da antiguidade na Escola Básica costuma ser alvo de questionamentos e

críticas e a abordagem do tema, muitas vezes, deixa de contemplar devidamente seu potencial,

que reside num encontro contundente com a diferença. A importância do estudo das culturas

da antiguidade, diante do grau de diferença cultural entre presente e passado, permite a

desnaturalização dos conceitos por meio da confrontação com diferentes critérios de

construção de categorias.

Conforme nos aponta José Otávio Guimarães na apresentação do livro A Tradição

Clássica e o Brasil:

Já que os velhos gregos e romanos não são tão naturais e evidentes para nossa

memória histórica e para nossa identidade cultural, como são (ou foram) para os

europeus, fica mais fácil interrogarmo-nos sobre as relações de pertinência que

podemos construir, hoje e aqui, entre eles e nós. (CHEVITARESE, 2008: 13).

Com o objetivo de possibilitar uma aproximação dos jovens com esse passado tão

rico em referências das mais diversas, tomaremos como objeto para elaboração do material o

conjunto arquitetônico da Praça da República, em Niterói/RJ, a fim de sugerir uma atividade

de educação patrimonial, com uso da metodologia de estudo do meio, através da qual seja

possível ao estudante: compreender-se enquanto agente da história, identificar a não

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neutralidade da transmissão do conhecimento, compreender os conceitos de democracia,

república e cidadania, e analisar “as contribuições do pensamento greco-romano na

construção da Ocidentalidade”, como propõe o Currículo Mínimo de História para o 1º ano do

Ensino Médio da SEEDUC-RJ.

Praça da República e seu entorno – Niterói – RJ (CEZAR, s/d.)

Ao centro o monumento Triunfo da República e em sentido horário temos: acima

a Câmara Municipal, o Colégio Liceu Nilo Peçanha, o antigo Teatro Leopoldo Fróes hoje

Arquidiocese ladeado pelo prédio denominado Parthenon, a Biblioteca Pública, o Palácio da

Justiça e a Chefatura de Polícia.

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Metodologia

Com o objetivo de atrair a atenção e o interesse dos jovens para os temas que

serão trabalhados nas aulas seguintes, realizaremos uma atividade inicial com a exibição de

um vídeo bastante rápido que traz uma fala de José Saramago sobre a “Falsa democracia”,

disponível em www.youtube.com/watch?v=m1nePkQAM4w . A partir do vídeo, abrir um

debate com a turma em roda de conversa, colocando a questão: o que é democracia para você?

E política? As respostas deverão ser anotadas no quadro e servirão de encaminhamento para a

aula.

Da mesma forma, buscaremos trabalhar os conhecimentos prévios a respeito de

patrimônio cultural e história local.

Em seguida proporemos a atividade de estudo do meio a partir das questões

básicas de abordagem (conforme HORTA, s/d, pp.4-5):

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Ainda de acordo com HORTA, na exploração do sítio é essencial fazer perguntas

adequadas, levantar problemas, discutir os resultados e verificar as conclusões mais

apropriadas, atendendo aos aspectos propostos no esquema: localização, aspecto, função e

história do sítio. Propomos aqui algumas questões a serem feitas a partir da observação do

lugar:

O que vocês estão vendo?

Como é este lugar hoje?

Como era no passado?

Onde está situado?

Como ele se insere na paisagem natural?

Quantas estruturas existem ali?

De que materiais são feitas?

Quem construiu? Quando? Como? Por quê?

O que funciona neste local hoje?

O que aconteceu neste lugar?

Como foi usado ao longo do tempo?

Sítio localização

Idade

Aspecto

Função

História

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Outro aspecto fundamental é o registro das observações dos próprios estudantes a

partir da visita ao local utilizando as mais diversificadas formas possíveis desde fotografias,

desenhos, produção textual, músicas, entrevistas. O material produzido subsidiará a atividade

em sala de aula e o trabalho a ser apresentado ao final da atividade.

A utilização e compreensão de mapas, plantas, projetos, fotografias aéreas, fotos

recentes e antigas, documentos originais, arquivos e bibliografia também devem ser

explorados em um segundo momento a fim de responder às questões propostas e outras que

podem surgir durante a visita ao sítio.

Durante a visita, buscaremos situar as diferentes temporalidades presentes neste

espaço público, verdadeiro “lugar de memória” (NORA, 1993) da história fluminense.

Para o conjunto arquitetônico proposto, buscaremos analisar também os elementos

arquitetônicos neoclássicos presentes nos prédios e no monumento central da praça,

predominantes na arquitetura eclética do conjunto, comparando com os elementos da

arquitetura clássica greco-romana. Um exemplo é o edifício da Câmara Municipal (CEZAR,

s/d.) e as ordens da arquitetura clássica, identificadas por Vitrúvio:

(SUMMERSON, 2009, p.2)

Explorados tais aspectos, avançaremos para os conceitos relacionados ao local na

atualidade levantados a partir das respostas dos estudantes. Aqui o ponto de partida para

nosso olhar sobre a antiguidade clássica. Tomando distância de um olhar que observa com

estranheza as diferenças, nossa intenção e nos aproximarmos da compreensão de conceitos

cunhados na antiguidade clássica e que estão presentes em nossa cultura.

Especialmente serão trabalhados conceitos a partir dos próprios elementos

existentes na Praça da República, construída para ser o novo Centro Cívico da antiga capital

do Estado do Rio de Janeiro, a começar pelo nome da mesma, prosseguindo com o

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monumento central denominado Triunfo da República e sua intenção cívica; o Palácio da

Justiça, hoje centro de memória onde funcionava o Fórum; a Câmara Municipal, antiga

Assembleia Legislativa da capital do Estado, casa da democracia; a Biblioteca Pública; o

prédio que abrigou o Teatro Leopoldo Fróes, hoje Arquidiocese; o prédio conhecido como

Parthenon, particular, originalmente sediava a Associação Médica Fluminense, mais tarde um

Centro de Artes e atualmente clínica infantil. Enfim, são incontáveis aspectos que nos

permitem pensarmos o tempo presente e a antiguidade clássica a partir das características

materiais e dos conceitos, possibilitando pensar as mudanças e permanências ao longo do

tempo.

Será que utilizamos os conceitos de Democracia, República ou Cidadania da

mesma maneira que os antigos utilizavam os termos Res Publica ou Civitas? Pierre Cabanes

(2009, pp.7-16), aponta para a importância de enxergarmos o mundo clássico greco-romano

como algo a ser ainda descoberto, questionado e problematizado, a fim de que acabemos com

a errônea noção, que pode vir a existir para o alunado, de que somos herdeiros diretos dos

clássicos no que concerne à filosofia, à política e à religião.

Passamos, assim, à análise dos conceitos relacionados ao local a partir de textos,

considerando que o mesmo foi planejado para ser o novo “Centro Cívico” da capital do

Estado do Rio de Janeiro da Primeira República: Cívico, República, Cidadania, Democracia.

Novas questões serão, então, propostas aos estudantes: será que a democracia

ateniense tinha o mesmo significado que a democracia tem para nós hoje? Será que o conceito

de república manteve-se o mesmo ao longo dos anos?

Aqui a análise de documentos históricos da antiguidade e sua comparação com as

definições atuais dos conceitos selecionados serão fundamentais. Considerando a ideia de

participação enquanto ato ou efeito de participar, fazer parte de algo, devemos entender a

participação política enquanto “presença ativa dos cidadãos nos processos decisórios das

sociedades” (OLIVEIRA, 2013, p.32).

A fim de conduzir os jovens a compreender os conceitos de democracia, cidadania

e participação política na polis ateniense durante a antiguidade clássica e na atualidade,

buscaremos analisar tais conceitos a partir de fontes históricas antigas e textos

contemporâneos (cf. Anexo). A turma deverá ser dividida em cinco grupos com quatro a seis

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jovens. Cada grupo receberá cópia de um dos textos e respectivas perguntas para análise e

posterior apresentação para a turma e um dicionário para cada grupo.

Três dos textos são de autores gregos que tratam sobre diferentes formas de

governo de seu tempo: Aristóteles (384-322 a. C.), filósofo macedônio que viveu em Atenas e

foi tutor de Alexandre, o Grande; Tucídides (460-400 a. C.), general e historiador ateniense, e

Pseudo-Xenofonte (séc. V a. C.) de autor não identificado que mostra o pensamento político

de Atenas no século V a. C. Dois outros textos são contemporâneos e tratam respectivamente

do conceito de cidadania enquanto necessariamente ligado à democracia, apresentado por

Herbert de Souza (sociólogo e ativista dos direitos humanos brasileiros, final do século XX) e

da crise de representação democrática recente demonstrada pelos jovens nas ruas do mundo e

especialmente do Brasil em 2013, escrito pela arquiteta e urbanista Raquel Rolnik.

Projeto da atividade

Roteiro de oficina pedagógica para o primeiro bimestre direcionado a turmas de

primeiro ano do Ensino Médio:

1º) Preparação em aula para a visita explorando o conhecimento dos estudantes

sobre a cidade e sua história, sobre o local a ser visitado e o significado de educação

patrimonial. Divisão dos grupos de trabalho. (duas aulas de 50 minutos)

2º) Visita ao sítio, iniciando com observação e levantamento de hipóteses

orientada a partir das questões elaboradas e outras que possam surgir. (uma manhã ou tarde)

3º) Registros do local por parte dos estudantes por meio de fotografias, desenhos,

produção textual, outros. (atividade no local com conclusão em casa)

4º) Compartilhar a produção dos estudantes e debater. (uma aula de 50 minutos)

5º) Pesquisa em outros diferentes documentos. (início em aula 50 minutos e

continuação para casa)

6º) Análise dos conceitos. (duas aulas de 50 minutos)

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7º) Conclusão com apresentação de trabalhos em grupos.

Bibliografia

ALVES, Gracilda (Coord.). Currículo Mínimo 2012: História. – 2ª ed. – Rio de Janeiro: Nova

Imprensa Oficial; Fundação CECIERJ; Secretaria de Estado de Educação do Rio de

Janeiro, 2012.

CEZAR, Almir. “100 anos da Praça da República de Niterói, a primeira revitalização elitista

da cidade”. Para as imagens da Praça e seu entorno. Disponível em:

http://limiaretransformacao.blogspot.com.br/2013/01/100-anos-da-praca-da-republica-

de.html . Acesso em 17/11/2014.

CABANNES, P. Introdução à história da Antiguidade. Petrópolis, RJ. Vozes, 2009.

CERQUEIRA, Fábio Vergara. Alguns pressupostos para o estudo da releitura do legado

clássico na iconografia urbana de cidades brasileiras. Anais do XXVI Simpósio

Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011.

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____________. Patrimônio cultural, escola, cidadania e desenvolvimento sustentável. In:

Diálogos, DHI/PPH/UEM, v. 9, n. 1, p. 91-109, 2005.

CHEVITARESE, André Leonardo; CORNELLI, Gabriele; Silva, Maria Aparecida de

Oliveira (Orgs.). A Tradição Clássica e o Brasil. Brasília: Fortium, 2008, p. 192; 15,5 x

22. Disponível em: file:///C:/Users/Rosana/Downloads/Tradicao_Classica_21-5_(1)-

libre.pdf . Acesso em: 02/11/2014.

CORTE, Andrea Telo da. Praça da República: poder, identidade e história urbana em

Niterói. Niterói: Niterói Livros, 2011.

HORTA, Maria de Lourdes P. “O que é Educação Patrimonial?” Boletim do Programa Salto

para o Futuro, TVE Brasil, s/d.

KNAUSS, Paulo (Coord.). Sorriso da cidade: imagens urbanas e história política de Niterói.

Niterói: Fundação de Arte de Niterói, 2003.

LEITE, Juçara Luzia; CONTI, Raquel Félix. O currículo de história e a dimensão local:

formando sujeitos, redescobrindo objetos, repensando a sociedade, Ensino de História –

Revista do Laboratório de Ensino de História da UFF. Niterói: Faculdade de Educação,

UFF, volume 5, n.5, Abr. 2005, pp.17-26.

MARSHALL, F. Arqueologia clássica e patrimônio nacional, Cadernos do LEPAARQ.

Textos sobre Antropologia, Arqueologia e Patrimônio. Pelotas: Editora da Universidade

Federal de Pelotas, vol. 2, n. 4, p. 19-26, 2005.

NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. In: Projeto História 10;

07-28, dez. 1993.

OLIVEIRA, Igor Thiago Moreira. “Participação Juvenil como experiência educativa”. In:

Presença Pedagógica. v.19 nº 114. Belo Horizonte: Editora do Professor, nov./dez. de

2013.

ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO. Volume 3: Ciências

Humanas e suas Tecnologias. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação

Básica, 2008.

PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: 3º E 4º CICLOS. História. Brasília, DF:

Ministério da Educação, Secretaria de Ensino Fundamental, 1998, p. 93-96.

QUEIROZ, Moema Nascimento. A Educação Patrimonial como instrumento de cidadania.

Revista Museu. Rio de Janeiro, outubro 2006.

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ROLNIK, Raquel. “As vozes das ruas: as revoltas de junho e suas interpretações”. In:

MARICATO, Ermínia [et al.]. Cidades rebeldes: Passe Livre e as manifestações que

tomaram conta das ruas do Brasil. São Paulo: Boitempo/Carta Maior, 2013, pp. 10-12.

SANTOS, Carlos Alberto Ávila. O ecletismo historicista em Pelotas: 1870-1931. Disponível

em: http://ecletismoempelotas.files.wordpress.com/2011/05/o-ecletismo-historicista-

em-pelotas-1870-1931.pdf Acesso em: 02/11/2014.

SOUZA, Herbert de. “Democracia e cidadania”. In: RODRIGUES, Carla (Org.) VIEIRA,

Cathérine (Col.). Democracia: cinco princípios e um fim. São Paulo: Moderna, 1996,

p.67. – (Coleção Polêmica).

SUMMERSON, Sir John. A linguagem clássica da Arquitetura. – 5ª ed. – São Paulo: Editora

WMF Martins Fontes, 2009. – (Coleção Mundo da Arte)

VERNANT, Jean-Pierre (Dir.). O Homem Grego. Lisboa: Editorial Presença, s.d.

Anexo - TEXTOS

Texto 1: Aristóteles – Política (1279a – 1280) (VERNANT, s.d., p.127)

Entre os Estados, dá-se comumente o nome de realeza àquele que tem por

objetivo o interesse geral; e o governo de um reduzido número de homens, ou de

vários, contanto que não seja de um só, chama-se aristocracia, seja porque a

autoridade esteja nas mãos de diversas pessoas de bem, seja porque tais pessoas

dela fazem uso para o maior bem do Estado. Finalmente, quando a multidão

governa no sentido do interesse geral, dá-se a esse governo o nome de república,

que é comum a todos os governos. (...) É por isso que, em tal governo, a

autoridade está nas mãos dos que combatem para proteger o Estado, e todos os

que têm armas participam da administração dos negócios.

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Os governos viciados são: a tirania para a realeza; a oligarquia para a

aristocracia; a democracia para a república. A tirania é uma monarquia que não

tem outro objetivo além do interesse do monarca; a oligarquia só enxerga o

interesse dos ricos; a democracia só visa ao dos pobres. Nenhum desses governos

se ocupa do interesse geral.

Questões: Que formas de governo o autor apresenta? Como ele as caracteriza? Que governo

atende ao “interesse geral”? Qual o significado atual de república?

Texto 2: Tucídides – História da Guerra do Peloponeso (II, 37ss.) (VERNANT, s.d., p.128)

Nossa constituição política nada tem a invejar às leis que regem nossos vizinhos.

Longe de imitar os outros, damos um exemplo a seguir. Pelo fato de que o estado,

entre nós é administrado pelo povo e não por uma minoria, nosso regime tomou o

nome de democracia. No que diz respeito às divergências particulares, a

igualdade é assegurada a todos pelas leis, mas no que se refere à vida pública,

cada um obtém consideração em virtude de seu mérito e a classe a que pertence

importa menos que seu valor pessoal. Enfim, ninguém se constrange pela pobreza

ou pela obscuridade de sua condição social, se puder prestar serviços à cidade. A

liberdade é nossa regra no governo da república e nas nossas relações cotidianas

a suspeita não tem guarida. (...) obedecemos aos magistrados e às leis e, entre

elas, sobretudo as que asseguram a defesa dos oprimidos e que, embora não

codificadas, acarretam para quem as viola um desprezo universal. (...) Os

mesmos homens podem dedicar-se a seus assuntos particulares e aos do estado.

Os simples artesãos podem entender suficientemente das questões políticas.

Somente nós é que consideramos quem delas não participa como um inútil e não

como um desocupado.

Questões: Que governo o autor descreve? O que assegura a igualdade? Quem participa da

política? Como é considerado quem se recusa a participar da política? Qual o significado atual

de democracia?

Texto 3: Pseudo-Xenofonte – A Constituição de Atenas (1ss.) (VERNANT, s.d., p. 126)

Não louvo os atenienses pela escolha do modo de governo representado por sua

constituição, na medida em que essa escolha envolve o bem estar das classes

baixas, opostas ao da melhor classe. (...) De início, mantenho que é aceitável que

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os pobres e o povo comum devam prevalecer sobre os ricos e os homens de berço,

pois é o povo que maneja a frota e cinge a cidade com sua força. Pilotos,

contramestres, timoneiros, artesãos de estaleiros; eis os homens que dão mais

força à cidade do que a infantaria pesada e os homens de nascimento e

qualidade. Sendo assim, é justo que eles devam participar das magistraturas

eletivas, assim como na escolha por sorteio e que todo cidadão que assim desejar,

tenha o direito de ser ouvido. (...) o fato de que a maior consideração é reservada

à gente baixa, pobre e comum do que às pessoas de qualidade – não deve ser

objeto de surpresa, pois, ao contrário, é a chave da preservação da democracia.

Pois se o povo ordinário prospera isto reforçará a democracia. (...) [Sobre o]

direito universal da palavra no Conselho (...) agora que qualquer um fala quando

quiser, independentemente de sua origem, procurará o que beneficiar aos demais

como ele.

Questões do texto 3: Por que o autor reprova o modo de governo ateniense? O que, segundo

o autor, justifica a participação do povo nas decisões políticas? Como se da a participação

política de acordo com o texto? Como é a participação política no Brasil? É igual à descrita

no texto?

Texto 4: Herbert de Souza – “Democracia e cidadania” (RODRIGUES, 1996, p.67)

A maioria das pessoas acredita que a solução dos problemas vem de fora, de algo

externo, de alguém ou alguma coisa que fará por nós e por todos aquilo que deve

ser feito. Uns não sabem viver sem o poder, sem o Estado. Outros não sabem

viver sem alguém que manda, o senhor, o padre e o pastor, o empresário, o líder,

o patrão. A maioria não sabe viver sem o Estado e o mercado, não sabe viver por

si. E esse engano é grande, profundo e perigoso.

Mas esta ordem é toda inversa. É o Estado que não sabe viver sem o cidadão, sem

cada um e todos. O presidente não existe sem o cidadão. O mercado não existe

sem a participação de cada um. O espelho não existe sem aquele que o vê. Mas

muita gente pensa invertido: onde há efeito, veem a causa.

Quando o cidadão descobre que ele é o princípio do que existe e pode existir com

sua participação, começa a surgir a democracia. Cidadania e democracia andam

de mãos dadas e não existem separadas. Cidadania não é individualismo, mas

afirmação de cada um em sua relação de solidariedade com os outros. Cidadania

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e democracia estão baseadas em princípios éticos e tem o infinito como limite.

Não existe limite para a solidariedade, a liberdade e a igualdade, participação e

diversidade. A democracia é uma obra inesgotável.

Questões para o texto 4: Quais são as críticas feitas no primeiro parágrafo? Quando, segundo

o autor, nasce a democracia? Expliquem a relação entre democracia e cidadania. O que é

cidadania? Que princípios éticos estão relacionados à cidadania e democracia?

Texto 5: Raquel Rolnik – “As vozes das ruas: as revoltas de junho e suas interpretações”

(MARICATO, 2013, pp. 10-12)

... a participação, através de sua expressão mais radical, a autogestão, e as novas

maneiras e métodos de fazer política tomaram as ruas como forma de expressar

revolta, indignação e protesto. Isso não é novo na política. Mas hoje o tema da

ocupação – no sentido do controle do espaço, mesmo que por um certo período,

e, a partir daí, a ação direta na gestão de seus fluxos – tem forte ressonância no

sentimento, que parece generalizado, do alheamento em relação aos processos

decisórios na política e da falta de expressão pública de parte significativa da

população. Ocupando as ruas, reorganizando os espaços e reapropriando suas

formas (...) aqueles que são alijados do poder de decisão sobre seu destino tomam

esse destino com seu próprio corpo, por meio da ação direta.

Desilusão/denúncia em relação à democracia e às formas de expressão pública?

(...)

A questão da representação não envolve apenas a crise dos partidos e da política

e, portanto, a necessidade de uma reforma política, uma das principais agendas

das ruas. Segundo Venício, ‘os jovens manifestantes se consideram sem voz

pública, isto é, sem canais para se expressar’. (...) O velho modelo de república

representativa, formulado no século XVIII e finalmente implementado como

modelo único em praticamente todo o planeta, dá sinais claros de esgotamento.

Contra esses modelos baseados em estruturas verticais e centralizados,

movimentos (...) propõem formas horizontais de decisão, sem personificação de

lideranças nem comando de partidos e comitês centrais. Esta foi também parte da

‘surpresa’ das ruas: onde estão as bandeiras, os carros, os megafones? Quem são

os líderes? Quem manda?

Page 16: Educação Patrimonial, História Local e Usos da Antiguidade ... · conjunto arquitetônico da Praça da República, em Niterói/RJ, a fim de sugerir uma atividade de educação

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Questões para o texto 5: O que é autogestão? Por que, segundo a autora, as pessoas optaram

pela ação direta através da ocupação dos espaços públicos para se manifestarem? O que se

relaciona à questão da representação política hoje? Qual foi a surpresa das ruas?