educaÇÃo histÓrica como perspectiva de ensino: … · abrangem da satisfação dos professores e...

13
451 EDUCAÇÃO HISTÓRICA COMO PERSPECTIVA DE ENSINO: UMA REFLEXÃO SOBRE A COPA DO MUNDO FIFA NO BRASIL -2014 Silvana Maura Batista de Carvalho Universidade Estadual de Ponta Grossa UEPG Agência financiadora CAPES Resumo: Tendo em vista que a História assume objetivos pertinentes a cada sociedade, adentrando o século XXI como disciplina escolar visa contribuir no processo de constituição de identidades locais, regionais e nacional, na formação intelectual e política das novas gerações. Assim, a criação de instrumentos cognitivos que possibilitem o desenvolvimento de um pensamento crítico constitui-se um desafio à formação docente. Nesse sentido, atua o projeto de História PIBID/UEPG-2014-2015, oportunizando aos futuros professores maior aproximação do campo de trabalho, no cotidiano do ensino de História e da ação docente, criando espaços de um pensar e agir conjunto, na implantação/implementação de inovações no ensino de História. A linha adotada visa formar professor-pesquisador, tendo como opção metodológica a pesquisa-ação. Assim sendo, destaca-se uma das propostas desenvolvidas pelos pibidianos, por sugestão da CAPES, o trabalho sobre a temática “Copa do Mundo FIFA-2014”. Nesse projeto, opta-se pela alternativa metodológica da Educação Histórica que procura compreender como o aluno apreende, nos avanços conceituais apresentados. Essa abordagem abrange a interpretação de fontes e a problematização de relações entre passado, presente e horizontes de futuro, cujos resultados se apresentam na produção final, decorrente do trabalho de análise de fontes históricas midiáticas, escritas e observação da realidade local, para reconhecer os prós e contras desse evento, diante das condições político-econômicas do país, expressa nas conclusões provisórias divulgadas em frases, cartazes, charges, entre outros. Os resultados alcançados abrangem da satisfação dos professores e acadêmicos e alunos, na efetivação da práxis docente e, na produção do conhecimento histórico em sala de aula. Palavras-chave: formação docente educação histórica copa do mundo.

Upload: hoangkien

Post on 15-Dec-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: EDUCAÇÃO HISTÓRICA COMO PERSPECTIVA DE ENSINO: … · abrangem da satisfação dos professores e acadêmicos e alunos, na efetivação da práxis docente e, na produção do conhecimento

451

EDUCAÇÃO HISTÓRICA COMO PERSPECTIVA DE ENSINO: UMA REFLEXÃO SOBRE A COPA DO MUNDO FIFA NO BRASIL -2014

Silvana Maura Batista de Carvalho Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG

Agência financiadora – CAPES

Resumo: Tendo em vista que a História assume objetivos pertinentes a cada sociedade, adentrando o século XXI como disciplina escolar visa contribuir no processo de constituição de identidades locais, regionais e nacional, na formação intelectual e política das novas gerações. Assim, a criação de instrumentos cognitivos que possibilitem o desenvolvimento de um pensamento crítico constitui-se um desafio à formação docente. Nesse sentido, atua o projeto de História – PIBID/UEPG-2014-2015, oportunizando aos futuros professores maior aproximação do campo de trabalho, no cotidiano do ensino de História e da ação docente, criando espaços de um pensar e agir conjunto, na implantação/implementação de inovações no ensino de História. A linha adotada visa formar professor-pesquisador, tendo como opção metodológica a pesquisa-ação. Assim sendo, destaca-se uma das propostas desenvolvidas pelos pibidianos, por sugestão da CAPES, o trabalho sobre a temática “Copa do Mundo FIFA-2014”. Nesse projeto, opta-se pela alternativa metodológica da Educação Histórica que procura compreender como o aluno apreende, nos avanços conceituais apresentados. Essa abordagem abrange a interpretação de fontes e a problematização de relações entre passado, presente e horizontes de futuro, cujos resultados se apresentam na produção final, decorrente do trabalho de análise de fontes históricas midiáticas, escritas e observação da realidade local, para reconhecer os prós e contras desse evento, diante das condições político-econômicas do país, expressa nas conclusões provisórias divulgadas em frases, cartazes, charges, entre outros. Os resultados alcançados abrangem da satisfação dos professores e acadêmicos e alunos, na efetivação da práxis docente e, na produção do conhecimento histórico em sala de aula.

Palavras-chave: formação docente – educação histórica – copa do mundo.

Page 2: EDUCAÇÃO HISTÓRICA COMO PERSPECTIVA DE ENSINO: … · abrangem da satisfação dos professores e acadêmicos e alunos, na efetivação da práxis docente e, na produção do conhecimento

452

O ensino de História na atualidade tem como um de seus objetivos centrais

contribuir para a formação da identidade do aluno, por meio do estudo da história

local/regional, relacionada à história nacional e mundial, o que ainda constitui-se um

dos desafios enfrentados nos cursos de formação inicial e, na atuação dos

professores na educação básica. A esse objetivo corresponde uma questão inerente

à função atribuída da disciplina escolar de História, desde a sua criação, no século

XIX, até os dias de hoje, investir na formação para a cidadania.

Entretanto, desde as últimas décadas do século XX, esse conceito vem sendo

redimensionado, avançando de uma visão liberal baseada nos deveres e direitos

políticos, para uma perspectiva social, abrangendo os “[...] conceitos de igualdades,

justiça, de diferenças, de lutas e de conquistas, de compromissos e de rupturas [...].”

(BITTENCOURT, 1997, p. 22).

Nessa direção estão as propostas curriculares de História apontando para

uma formação intelectual e política das novas gerações, isto é, para o

desenvolvimento do pensamento crítico do aluno visando à compreensão da

realidade em que vive. As quais, segundo Bittencourt, “[...] devem atender a uma

articulação entre os fundamentos conceituais históricos, provenientes da ciência de

referência e as transformações pelas quais a sociedade tem passado, em especial

as que se referem às novas gerações [...]”.( In: BARRETO, 2000, p. 138).

Em consonância com tais propostas estão as Diretrizes Curriculares

Estaduais do Paraná – História (DCE‟s –PR) (2009), preconizando que,

[...] a aprendizagem histórica configura a capacidade dos jovens se orientarem na vida e constituírem uma identidade a partir da alteridade. A constituição desta identidade se dá na relação com os múltiplos sujeitos e suas respectivas visões de mundo e temporalidades em diversos contextos espaço-temporais por meio da narrativa histórica. Entende-se que esta implica que o passado seja compreendido em relação ao processo de constituição das experiências sociais, culturais e políticas do Outro, no domínio próprio do conhecimento histórico. [...] (PARANÁ, 2009, p. 57).

Assim, nota-se que novas propostas de ensino correspondem aos avanços

das concepções historiográficas e pedagógicas, no reconhecimento do aluno

enquanto sujeito da construção de seu conhecimento, no processo de constituição

de identidade, pelo estudo e construção de narrativas históricas sobre a vida do

homem em sociedade, em diversos contextos espaço-temporais. Pressuposto

Page 3: EDUCAÇÃO HISTÓRICA COMO PERSPECTIVA DE ENSINO: … · abrangem da satisfação dos professores e acadêmicos e alunos, na efetivação da práxis docente e, na produção do conhecimento

453

ratificado por Bittencourt, ao afirmar que,

O ensino de História pode possibilitar ao aluno „ reconhecer a existência da história crítica e interiorizada‟ e „ a viver conscientemente as especificidades de cada uma delas‟. O estudo de sociedades de outros tempos e lugares pode possibilitar a constituição da própria identidade coletiva na qual o cidadão comum está inserido, à medida que introduz o conhecimento sobre a dimensão do „outro‟, de uma „outra sociedade‟, „outros valores e mitos‟, de diferentes momentos históricos . Identidade e diferença se complementam para a compreensão do que é ser cidadão e suas reais possibilidades de ação política e de autonomia intelectual [...], em sua capacidade de manter e gerar diferenças econômicas, sociais e culturais [...]. ( 2004, p. 27)

Mediante tais possibilidades atribuídas ao ensino de História, infere-se que,

no contexto da educação básica ocorre a produção de um conhecimento próprio do

contexto educacional. Pois, esse processo requer pressupostos teórico-

metodológicos que viabilizam a mediação didática feita pelo professor e seus

saberes oriundos de sua formação escolar, familiar, social e acadêmica, na

proposição de ensino baseado na reflexão/problematização do conhecimento

histórico produzido, levando-se em conta o conhecimento prévio dos alunos. Dessa

forma, se dá a construção e produção do “saber histórico escolar”.

Nessa perspectiva, a disciplina de História atende aos objetivos centrais de

seu ensino frente às demandas sociais do século XXI – “ a constituição da

identidade do aluno e a formação para a cidadania social”. Para atingi-los destaca-

se, entre outros fatores, a opção de uma alternativa metodológica, dando-se

destaque neste trabalho à Educação Histórica, cujos encaminhamentos busca

compreender como o aluno apreende e como realiza os avanços conceituais. O que

para Barca constitui-se um ensino investigativo, atendendo aos seguintes passos:

1. Recolha inicial de dados sobre as ideias prévias dos alunos acerca de um conceito substantivo, seleccionado dentro de uma determinada unidade em estudo [...]. 2. Análise das ideias prévias dos alunos segundo um modelo (simplificado) de progressão conceptual: categorização das ideias de alunos desde ideias incoerentes e alternativas até às relativamente válidas. 3. Desenho, planeamento e implementação de uma unidade temática tendo em conta um refinamento progressivo das ideias históricas dos alunos previamente diagnosticadas. 4. Recolha de dados sobre as ideias dos alunos a posteriori, aplicando o mesmo instrumento do momento inicial. 5. Aplicação de um instrumento de metacognição aos alunos para monitorizar o processo de ensino e aprendizagem. [...]. ( 2004, p. 46-47).

Page 4: EDUCAÇÃO HISTÓRICA COMO PERSPECTIVA DE ENSINO: … · abrangem da satisfação dos professores e acadêmicos e alunos, na efetivação da práxis docente e, na produção do conhecimento

454

Assim, partindo-se do conhecimento prévio dos alunos para instrumentalizá-lo

com o conhecimento científico, na condução à construção de uma narrativa

histórica própria sobre determinado tema e/ou conceito, que apresenta as

conclusões pessoais, como resultado provisório do processo de ensino e

aprendizagem.

Mas, o trabalho docente de Educação Histórica requer uma formação inicial e

continuada de consistência histórica, historiográfica e didático-pedagógica que

proporcione aos professores condições de estabelecer relação entre teoria e prática,

pressupostos teórico-metodológicos e a ação cotidiana em sala de aula. Portanto,

como afirma Barca,

[...] proporcionando-lhes âncoras na autoconstrução do perfil de professor-investigador social [...]. Esse perfil de profissionalidade avançada requer um refinamento das competências de análise de dados teoricamente guiada pela reflexão epistemológica sobre a História. As categorias de análise, numa linha de progressão de ideias em História, poderão (deverão) refletir-se depois, de forma aproximada, na avaliação convencional dos resultados de aprendizagem dos alunos – se esta for orientada para a qualidade do pensamento histórico, envolvendo interpretação de fontes e problematização de relações entre passado, presente e horizontes de futuro. (Ibidem, p. 47).

Vislumbrando a construção desse perfil de profissionalidade docente, do

professor pesquisador/investigador está o projeto de História, do Programa

Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência, na Universidade Estadual de Ponta

Grossa - PIBID/UEPG-2014-2015, da Coordenadoria de Aperfeiçoamento de

Pessoal do Ensino Superior (CAPES). Com a finalidade de oportunizar aos futuros

professores maior aproximação do campo de trabalho, no cotidiano do ensino de

História e da ação docente, criando espaços de um pensar e agir conjunto, com

professores atuantes na educação básica, na implantação/implementação de

inovações no ensino de História (CARVALHO, 2013, p. 3).

Como base desse projeto complementar na formação inicial de professores de

História, ressalta-se a importância da área de prática de ensino e estágio

supervisionado como eixo central dos cursos de licenciatura e, fundamentado na

articulação entre ensino-pesquisa-extensão. Assim, busca-se oferecer subsídios

para a construção de uma práxis docente em História, nas experiências pré-

profissionais aos alunos do curso presencial de licenciatura em História/UEPG.

Experiências realizadas pela aproximação do futuro campo de trabalho, na

Page 5: EDUCAÇÃO HISTÓRICA COMO PERSPECTIVA DE ENSINO: … · abrangem da satisfação dos professores e acadêmicos e alunos, na efetivação da práxis docente e, na produção do conhecimento

455

inserção dos acadêmicos no contexto escolar para um reconhecimento das

singularidades da escola, do ensino de História, na concretude do cotidiano escolar

da ação docente, em seus diversos aspectos e envolvimentos. Para que, na relação

prática-teoria-prática, os futuros professores edifiquem um arcabouço teórico-

metodológico de consistência, num trabalho conjunto, pelo acompanhamento do

professor coordenador, e parceria com os professores supervisores, atuantes no

ensino de História, na rede pública estadual de ensino, como co-formadores.

A linha adotada pelo projeto visa à formação do professor-pesquisador,

tendo como opção metodológica a pesquisa-ação, em sua perspectiva crítica, a qual

está

[...] estruturada dentro de seus princípios geradores, é uma pesquisa eminentemente pedagógica, dentro da perspectiva de ser o exercício pedagógico, configurado como uma ação que cientificiza a prática educativa, a partir de princípios éticos que visualizam a contínua formação e emancipação de todos os sujeitos da prática.[...]. (FRANCO, 2009, p. 5-6).

Assim, proporciona-se aos acadêmicos, a participação em experiências

didáticas, no exercício pedagógico caracterizado pela relação prática-teoria-prática,

norteada pela metodologia de ensino da educação histórica, objetivando contribuir

para a emancipação dos sujeitos envolvidos no processo ensino-aprendizagem.

Entre os projetos de ensino desenvolvidos, apresenta-se o intitulado: A COPA DO

MUNDO NO BRASIL: o que ganham os brasileiros?, realizado entre os meses de

abril e agosto/2014.

O ponto de partida dessa experiência segue a sequência lógica da ação

docente, definição da temática, do recorte espaço-temporal, da abordagem a ser

dada, para a elaboração conjunta do projeto e seus desdobramentos. Nesse sentido,

buscou-se “Proporcionar experiências pré-profissionais extra-curriculares aos

alunos-bolsistas do PIBID a cerca de temáticas atuais, numa perspectiva crítica.” E,

consequentemente, “Oportunizar aos alunos da educação básica, uma discussão

sobre os acontecimentos atuais que envolvem a Copa do Mundo 2014, no contexto

político-econômico e social brasileiro.[...] (CARVALHO et al, 2014, p.2).

O projeto teve início com a fundamentação teórico-metodológica da área de

ensino de História, a distribuição entre os alunos-bolsistas de subtemas para

pesquisa bibliográfica e documental sobre a temática em questão. Em seguida, os

conteúdos foram organizados de forma didática, fez-se a previsão, seleção e

Page 6: EDUCAÇÃO HISTÓRICA COMO PERSPECTIVA DE ENSINO: … · abrangem da satisfação dos professores e acadêmicos e alunos, na efetivação da práxis docente e, na produção do conhecimento

456

confecção do material didático necessário, como: vídeos, cartazes, textos, jogos

didáticos e mural para a socialização dos resultados das oficinas pedagógicas.

Essas foram projetadas e orientadas pelos professores supervisores e,

planejadas conjuntamente com os acadêmicos, visando os seguintes objetivos:

- Contribuir no processo de formação cidadã dos alunos da educação básica, articulando acontecimentos esportivos atuais e suas implicações na vida do país. - Conduzir os alunos a uma reflexão crítica acerca das informações sobre a organização da Copa do Mundo no Brasil com base na exposição de conteúdos diversificados que apresentem os prós e contras da realização deste evento no país. ( WILLENBORG, KLOSTER, 2014, p. 02)

Frente aos objetivos propostos, fez-se o detalhamento de cada um dos

momentos previstos para a oficina pedagógica e, a adequação da proposta aos

diferentes anos escolares, do 6º ao 9º ano do ensino fundamental e, às três séries

do ensino médio. Seguindo os encaminhamentos metodológicos da Educação

Histórica, contemplando a interpretação de fontes e a problematização de relações

entre passado, presente e horizontes de futuro. (BARCA, 2004). Assim, o trabalho

didático aconteceu em três momentos (WILLENBORG, KLOSTER, 2014), conforme

a sequência a seguir:

1º - Sensibilização dos alunos e localização espaço-temporal da temática.

- Exibição de vídeos sobre a Copa do Mundo no Brasil/2014.

- Discussão sobre o evento, a partir dos vídeos e com a localização no mapa

mundi, dos países participantes e um breve histórico sobre o futebol e participação

de cada um, nas Copas do Mundo, desde a criação do campeonato.

- Exposição didática, com recurso de power point, sobre a origem e difusão da

prática do futebol na história da sociedade ocidental, assim como, as inúmeras

edições da Copa do Mundo desde o início do século XX, adentrando o século XXI.

- Apresentação e orientação sobre o “jogo da Copa” em figurinhas.

- Realização do “jogo da Copa” no qual o aluno fez a leitura do texto impresso nas

figuras, dispondo-os em ordem cronológica as diversas edições da Copa do Mundo.

Dessa forma, possibilitou-se ao aluno organizar as ideias e elaborar sua própria

síntese sobre o tema em estudo.

Nesse primeiro momento, buscou-se situar os alunos no contexto da temática

proposta, oferecendo-lhe subsídios para pensar sobre a questão e recorrendo e

Page 7: EDUCAÇÃO HISTÓRICA COMO PERSPECTIVA DE ENSINO: … · abrangem da satisfação dos professores e acadêmicos e alunos, na efetivação da práxis docente e, na produção do conhecimento

457

expondo os seus conhecimentos prévios sobre o assunto. Na continuidade,

direcionou-se para um trabalho investigativo, assim desenvolvido:

2º – Problematização do tema

- Realização de leitura comentada de textos sobre os “prós e contras” à realização

da Copa do Mundo no Brasil.

- Apresentação das imagens, propagandas, textos trazidos pelos alunos sobre o

assunto.

- Discussão sobre os diferentes pontos de vista a respeito do evento, a partir dos

textos lidos e do material apresentado.

- Orientação aos grupos formados por até seis alunos, para que, diante das

argumentações de cada um, dos subsídios apresentados, cheguem a um consenso

no grupo, e, com posicionamento assumido, expressassem-no na produção de

frases ou slogans, a partir das discussões, leituras e propagandas.

Para a problematização do tema, além de textos sobre os aspectos positivos

e negativos da Copa do Mundo, para o país, serviram como fontes históricas sobre a

história recente, as imagens e reportagens sobre o tema, trazidas pelos alunos para

a sala de aula, com diferentes argumentações e pontos de vista. Após os

questionamentos sobre as questões levantadas pelos alunos e pelo professor,

debatendo-se os prós e contras, os alunos tiveram condições de se posicionar, com

suas próprias argumentações, o que ocorreu na fase seguinte.

3ª. Produção do conhecimento histórico escolar

- Elaboração dos cartazes, com a utilização de gravuras, desenhos e frases, como

expressão das conclusões do grupo, como resultado da problematização do

assunto, das argumentações expostas nas reportagens de revista e jornais,

discussões em sala de aula.

- Montagem de um painel com cartazes construídos pelos alunos, para leitura dos

mesmos e, verificação dos diferentes saberes construídos pelos grupos, a respeito

de um mesmo assunto problematizado durante a oficina.

Os resultados apresentados na produção final, decorreram do trabalho de

análise de fontes históricas midiáticas, escritas e observação da realidade, para

reconhecer os prós e contras da Copa, diante das condições político-econômicas do

país e, expressados nas conclusões provisórias divulgadas em frases e cartazes.

Page 8: EDUCAÇÃO HISTÓRICA COMO PERSPECTIVA DE ENSINO: … · abrangem da satisfação dos professores e acadêmicos e alunos, na efetivação da práxis docente e, na produção do conhecimento

458

A exposição realizada no espaço escolar constituiu-se uma forma de

publicação, em âmbito educacional, do conhecimento histórico produzido no

exercício pedagógico, ou seja, na prática reflexiva , compartilhada pelo professor

supervisor com os pibidianos em todas as fases que envolvem o trabalho docente,

do planejamento à avaliação final e, com os alunos da educação básica, na

interação no desenvolvimento do trabalho.

As oficinas pedagógicas contaram com a participação efetiva de

aproximadamente 240 alunos, nas duas escolas de atuação do projeto PIBID de

História. Analisando os resultados obtidos frente aos objetivos propostos, verifica-se

que os mesmos foram atingidos, pela presença de visões críticas sobre o tema

Copa do Mundo no Brasil, em 80% dos cartazes apresentados, sendo que os

demais retrataram apenas a tomada de conhecimento sobre o evento, seus

símbolos, entre outros.

O conhecimento/saber escolar construído, produzido e divulgado na

exposição dos resultados, evidenciam a concretização de uma aprendizagem

histórica, demonstrada na construção de uma narrativa, como produto da reflexão

realizada pela articulação entre o conhecimento prévio dos alunos, os conteúdos

abordados na problematização do tema de estudo, cujas conclusões provisórias

foram expressas nos cartazes elaborados.

Quanto aos resultados apresentados pelos alunos do 6º e 7º anos, do ensino

fundamental nota-se a presença de uma visão crítica sobre os acontecimentos, mas

os autores não se colocam como partícipes desse processo. Demonstram

conhecimento sobre o assunto, apontam para uma visão crítica, ao enunciar alguns

aspectos sociais, políticos e econômicos, mas não assumem um posicionamento

diante da questão, como se apresenta nos cartazes a seguir.

Page 9: EDUCAÇÃO HISTÓRICA COMO PERSPECTIVA DE ENSINO: … · abrangem da satisfação dos professores e acadêmicos e alunos, na efetivação da práxis docente e, na produção do conhecimento

459

Cartaz elaborado por alunos do 6º ano do Ensino Fundamental (CELB), jun/2014.

Cartaz elaborado por alunos do 7º ano do Ensino Fundamental(CELB) jun/2014

A visão sobre os acontecimentos demonstrada no conhecimento histórico

apresentado pelos alunos do ensino fundamental, permitem apontar para os

diferentes níveis de aprendizagem histórica, a qual para Rüsen leva em conta a

experiência, a interpretação e a orientação e, “ [...] as três operações podem ser

analisadas e distinguidas uma da outra em diferentes níveis ou dimensões da

aprendizagem histórica [...]” (In: SCHMIDT et al, 2010, p. 84).

Ainda, segundo esse autor, a aprendizagem histórica possibilita o

desenvolvimento da consciência histórica, quando traz à tona um aumento na

experiência do passado humano que possibilita um aumento da competência

histórica, com a qual se atribui significado à experiência e a capacidade de aplicar

os significados históricos na orientação da vida prática (Ibidem).

Assim sendo, constata-se que na aprendizagem histórica dos alunos do

ensino fundamental, deve-se levar em conta que entre as três operações previstas

Page 10: EDUCAÇÃO HISTÓRICA COMO PERSPECTIVA DE ENSINO: … · abrangem da satisfação dos professores e acadêmicos e alunos, na efetivação da práxis docente e, na produção do conhecimento

460

por Rüsen (2010), “a experiência de vida” corresponde à sua faixa etária e, a partir

dessa operação é que ocorrem as demais. Por isso, os resultados correspondem ao

grau de consciência histórica alcançado por esses sujeitos.

Nos trabalhos realizados por alunos do ensino médio nota-se a presença de

uma visão crítica baseada nas contradições sociais, pelo reconhecimento dos

problemas existentes, da falta de vontade política em resolvê-los dos prós e contras,

com um posicionamento questionador, como se demonstra a seguir.

Cartaz elaborado por alunos do 1º ano do Ensino Médio (CEJER) - jun/2014

Nessa produção percebe-se a constatação da contraditoriedade do contexto

social brasileiro, frente à ostentação da Copa Mundo e, a presença de caráter

questionador, o que demonstra que na aprendizagem histórica, a maior experiência

do aluno sobre o passado lhe possibilita assumir uma postura questionadora frente

ao tema e suas implicações sociais, políticas e econômicas.

A mensagem expressa no próximo cartaz como no anterior, apresenta um

posicionamento político diante dos fatos, acrescentando à visão crítica sobre o tema,

possibilidade de ação dos sujeitos, na busca por mudanças, na constatação dos

fatos, no questionamento e, no desafio “ O PODER... nas tuas mãos.”

Page 11: EDUCAÇÃO HISTÓRICA COMO PERSPECTIVA DE ENSINO: … · abrangem da satisfação dos professores e acadêmicos e alunos, na efetivação da práxis docente e, na produção do conhecimento

461

Cartaz elaborado por alunos do 1º ano do Ensino Médio - Jun/2014 (CEJER)

O próximo cartaz apresenta uma produção mais consistente, dada uma

entonação de denúncia sobre as questões precárias e, anúncio de luta pelos

direitos, pela valorização da vida, da educação e saúde, apontando para a

dignidade humana, em suas condições de vida e nas ações.

Cartaz elaborado por alunos do 1º ano do Ensino Médio (CEJER) - jun/2014

Os resultados expostos na produção dos alunos, permitem verificar que

houve aprendizagem e avanços conceituais, para uma maioria significativa dos

alunos participante, o que se denota nos exemplos aqui exibidos, entre os demais.

Tais resultados alcançados possibilitam avaliar a validade da experiência

no processo de formação inicial e continuada de professores, englobando os

momentos da prática educativa. Para tanto, realizou-se uma reunião da equipe do

Projeto PIBID de História/UEPG, na qual fez-se a avaliação final do projeto de

Page 12: EDUCAÇÃO HISTÓRICA COMO PERSPECTIVA DE ENSINO: … · abrangem da satisfação dos professores e acadêmicos e alunos, na efetivação da práxis docente e, na produção do conhecimento

462

ensino sobre a Copa, no dia 27/06/2014, quando os participantes fizeram suas

considerações.

Sob o olhar dos professores supervisores, o projeto “oportunizou o trabalho

didático com um tema inusitado, permitiu pensar sobre acontecimentos atuais, como

históricos e, relacionados ao passado, além de proporcionar um trabalho em equipe”

( Professor 2). Dessa forma, nota-se o presente também é história e, suscita uma

reflexão sobre os acontecimentos presentes relacionando-os com o passado.

O aspecto do trabalho em equipe também foi enfatizado pelo outro professor

que ressaltou a importância da integração da equipe PIBID para o desenvolvimento

do projeto, o que geralmente não acontece no cotidiano escolar e, que se faz

necessário aprendê-lo, como uma das formas de viabilizar um trabalho conjunto, tão

necessário e, no espaço escolar e, também como caminho para um trabalho

interdisciplinar, visando oferecer ao aluno um ensino relacionado à sua vida e

realidade, possibilitado pela ação conjunta de várias áreas de ensino.

Para os acadêmicos pibidianos, recém-chegados no PIBID, foi a primeira

experiência de inserção no processo de ensino e aprendizagem, ultrapassando as

observações da realidade escolar. Mas, os depoimentos e avaliações feitas junto a

esses, revelam aspectos importantes vivenciados na experiência. O primeiro ponto

valorizado foi a possibilidade de aproximação dos alunos da educação básica, a

participação e correspondência desses na oficina desenvolvida, numa alternativa

metodológica que viabilizou a expressão das ideias pelos alunos, um trabalho

diferente do cotidiano da sala de aula.

Com relação ao trabalho docente do planejamento, execução e avaliação, os

acadêmicos ressaltaram a importância do planejamento , preparação do conteúdo e

do material didático com antecedência, reconheceram a característica fundamental

do planejamento didático, a flexibilidade do mesmo na execução da oficina, assim

como, no aprimoramento e/ou adequação ao momento vivenciado.

Dessa forma, se reconhece como a educação histórica pode contribuir para

a emancipação de todos os sujeitos da prática educativa, professores supervisores,

acadêmicos e alunos, na efetivação da práxis docente e, da produção do

conhecimento histórico em sala de aula.

Page 13: EDUCAÇÃO HISTÓRICA COMO PERSPECTIVA DE ENSINO: … · abrangem da satisfação dos professores e acadêmicos e alunos, na efetivação da práxis docente e, na produção do conhecimento

463

Referências

BARCA, isabel. Ideias chave para uma educação história: em busca de (inter)identidades. In: Hist. R., Goiânia, v. 17, n. 1, p. 37-51, jan./jun. 2012.

BITTENCOURT.Circe (org). O saber histórico em sala de aula. São Paulo: Contexto, 1997.

------------- “ -------------- Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2004. (Coleção Docência em formação: ensino fundamental).

-------------“ --------------. História nas atuais propostas curriculares In: Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2004 (Coleção Docência em formação. Série ensino fundamental) ( p. 97 a 132).

CARVALHO, Silvana Maura Batista de. Copa do Mundo: o que ganham os brasileiros. Ponta Grossa:UEPG-PIBID de História, 2014

FRANCO, Maria Amélia Santoro Franco. Prática pedagógica-pedagogia da pesquisa-ação. Disponível em: http://www.portaleducacao.com.br/pedagogia/artigos/. Acesso em 29/07/2011.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação - Superintendência de Educação – Diretrizes para o ensino fundamental – História. Curitiba: 2009. Disponível em: http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/diretrizes/dce_hist.pdf.

RÜSEN, Jörn. Experi^rncia, interpretação, orientação: as três dimensões da aprendizagem histórica. In: SCHMIDT, M. A., BARCA. I. , MARTIN, E. R. Jörn Rüsen e ensino de História. Curitiba: UFPR, 2010.

SCHMIDT, Maria Auxiliadora; CAINELLI, Marlene. Ensinar história. São Paulo: Scipione, 2004. (Pensamento e ação no magistério).

WILLENBORG, Adreane Marceli, KLOSTER, Marcelo. COPA DO MUNDO NO BRASIL: prós e contras. Ponta Grossa: UEPG-PIBID de História,2014.