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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA CAMPUS II ALAGOINHAS DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO DEDC RAUL CARNEIRO ROCHA EDUCAÇÃO FÍSICA INCLUSIVA NA ESCOLA: UM ESTUDO DE CASO EM UMA ESCOLA PARTICULAR DE SERRINHA BAHIA ALAGOINHAS 2012

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Raul Carneiro Rocha

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Page 1: Educação física inclusiva na escola: um estudo de caso em uma escola particular de serrinha- Bahia

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA CAMPUS II – ALAGOINHAS

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC

RAUL CARNEIRO ROCHA

EDUCAÇÃO FÍSICA INCLUSIVA NA ESCOLA: UM ESTUDO DE CASO EM UMA ESCOLA PARTICULAR DE SERRINHA –

BAHIA

ALAGOINHAS 2012

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RAUL CARNEIRO ROCHA

EDUCAÇÃO FÍSICA INCLUSIVA NA ESCOLA: UM ESTUDO DE CASO EM UMA ESCOLA PARTICULAR DE SERRINHA –

BAHIA Monografia apresentada à Universidade do Estado da Bahia como requisito parcial para a obtenção do título de graduado em Licenciatura em Educação Física, sob orientação da professora Esp. Viviane Rocha Viana.

ALAGOINHAS 2012

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Agradecimentos Agradeço primeiramente a Deus, por estar comigo em todos os momentos de minha

vida.

A minha família, pela lição de vida que, sabiamente, prestaram e continuam a

prestar, por sempre saberem daquilo de que necessito mesmo antes de pedir, e

jamais terem me desamparado ficando sempre do meu lado em todos os momentos

da minha vida. A vocês “Família Rocha e Carneiro” a minha eterna gratidão.

Aos meus amigos, que direta ou indiretamente contribuíram para essa conquista, em

especial a família de “Serrinha’s House” (Lucas, Titico, Rodrigo, Bruno (Boquinha),

Emmelyn, Mila, Ayala, Kelly, Iasmine Varla, Géssica e Rogéria) pelo

companheirismo e lealdade, sem vocês não teria suportado esse quatro anos e a

“Galera do mal” (Rodrigo Delicado, Raimundo, André e Helder) que me

acompanharam nessa trajetória acadêmica.

A minha Namorada Kátia, pela paciência e companheirismo sempre me apoiando

nas decisões mais difíceis.

Aos professores que fizeram parte da minha trajetória acadêmica, em especial, a

minha orientadora Viviane, que me deu apoio, atenção e um voto de confiança.

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Dedico este trabalho :

A todas as crianças com síndrome de Down em

especial ao meu querido primo Rafael Rocha

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Eu sou um intelectual que não tem medo de ser amoroso, eu amo as gentes e amo o mundo. E é porque amo as pessoas e amo o mundo que eu brigo para que a justiça social se implante antes da caridade.

(FREIRE, 2003)

O ser torna muitas vezes o que ele próprio acredita que é. Se insisto em repetir para mim mesmo que não posso fazer determinada coisa, é possível que acabe me tornando realmente incapaz de fazê-la. Ao contrario se tenho a convicção de que posso fazê-la certamente adquirirei a capacidade de realizá-la mesmo que não a tenha no começo.

(MAHATMA GANDHI apud SOLER, 2005)

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RESUMO

O presente trabalho trata do componente curricular Educação Física e o processo de inclusão de alunos com síndrome de Down. Tem como problemática o interesse em investigar se as aulas de Educação Física são inclusivas ou excludentes para alunos com necessidades educacionais especiais. Assim como também tem como objetivos identificar que relação esses alunos estabelecem com a escola, quais as dificuldades encontradas pelos alunos e pela escola que os acolhe no ensino regular e ainda verificar se o componente curricular Educação Física na escola regular propicia a inclusão de pessoas com necessidades educacionais especiais, analisando também a freqüência e a participação do educando. Utilizei como lastro teórico os escritos de Soler, Mitller, Paulo Freire, os parâmetros curriculares nacionais para a educação física, também a Lei de Diretrizes e Bases Nº 9394/96 e a Constituição Federal de 1988 que se configuram como documentos que são marco legal ao se tratar da política de inclusão educacional. A metodologia estabelecida foi qualitativa, do tipo estudo de caso. Foi utilizado como instrumento de coleta de dados o questionário e a observação que permitiu considerar que há de fato uma grande preocupação quanto à infra-estrutura da escola, que há também uma intenção em se adequar melhor para receber pessoas com deficiência, contudo, percebe-se que os profissionais envolvidos no processo de inclusão, apesar da disposição e do desejo de trabalhar com as diferenças de forma adequada, ainda precisam passar por uma melhor qualificação. Além disso, a legislação ainda que seja extremamente favorável ao processo de inclusão de alunos com necessidades especiais em escolas regulares, é notável que muitas crianças com deficiência ainda ficam fora deste contexto escolar, por motivos cada vez mais injustificáveis. Palavras-chave: Educação, Educação física, política de inclusão, síndrome de

Down

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ABSTRACT The present work deal with the discipline of Physical Education and the process of inclusion of students with Down syndrome. Its problem is interest in investigating the physical education classes are inclusive or exclusive for students with special educational needs? As also aims to identify these students establish that relationship with the school, what are the difficulties encountered by students and school that welcomes them into mainstream education and also verify that the discipline in the regular school physical education promotes the inclusion of people with educational needs special, also analyzing the frequency and participation of the student. Used as ballast theoretical writings of Soler, Mitller, Paulo Freire, the national curriculum guidelines for physical education, also the Law of Guidelines and Bases No. 9394/96 and the Federal Constitution of 1988 that are configured as documents that are legal framework when address the educational policy of inclusion. A qualitative methodology was established, the case study. Was used as an instrument of data collection the questionnaire and the observation that allowed us to consider that there is indeed a great concern about the infrastructure of schools, they are increasingly being adapted best to accommodate people with disabilities, however, one realizes that professionals involved in the process of inclusion, despite the willingness and desire to work with differences appropriately, still need to go through better qualification. In addition, the legislation even though it is extremely favorable to the process of inclusion of students with special needs in regular schools, it is remarkable that many children with disabilities are still outside of the school, for reasons more and more unjustifiable.

Keywords: Education, Physical Education, political inclusion, Down syndrome

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LISTA DE SIGLAS

APAE: Associação de pais e amigos excepcionais

FUNDEB: Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de

Valorização dos Profissionais de Educação

LDB: Lei de Diretrizes e bases da Educação Brasileira

MEC: Ministério da Educação e Cultura

PCNs: Parâmetros Curriculares Nacionais

PNEs: Pessoas com necessidades especiais

SD: Síndrome de Down

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO........................................................................................................9

2. OS CAMINHOS DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA NO BRASIL: UMA BREVE

ABORDAGEM CONCEITUAL, HISTÓRICA E LEGAL.............................................13

2.1. O processo de educação e a instituição escolar...............................................14 2.2. Educação especial no Brasil...............................................................................17

3. SÍNDROME DE DOWN: CONHECENDO UM POUCO MAIS.............................21

3.1. Relação educação física e síndrome de Down...............................................24 3.2. Necessidade da formação de professores na perspectiva inclusiva...............26 4. PERCURSO METODOLOGICO...........................................................................28

4.1. Abordagem metodológica................................................................................29 4.2. Tipo de pesquisa..............................................................................................29 4.3. Instrumentos e procedimentos.........................................................................31 4.4. Local e sujeitos................................................................................................32 5. ANÁLISE DE DADOS..........................................................................................33

5.1. Inclusão o que se entende sobre?......................................................................33 5.2. A escola e o processo de inclusão......................................................................34 5.3. O professor e a inclusão do aluno com síndrome de Down nas aulas de educação física...........................................................................................................37 5.4. O aluno com síndrome de Down em relação à escola........................................39 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................42 REFERÊNCIAS..........................................................................................................44 ANEXOS....................................................................................................................46 Anexo A......................................................................................................................47 Anexo B......................................................................................................................48 Anexo C......................................................................................................................50 Anexo D......................................................................................................................51 Anexo E......................................................................................................................52 Anexo F......................................................................................................................53

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1. INTRODUÇÃO

A educação especial no Brasil vem sendo falada desde a década de 1950. A

partir de então medidas vem sendo adotadas no combate a exclusão da pessoa com

deficiência. A promulgação da Constituição Federal que reserva seção específica

para a educação dispõe no Art. 205:

A educação direito de todos e dever do estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para a cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1988)

Além do artigo 205 da Constituição Federal o art. 208 a referida Constituição

afirma que é dever do Estado a educação especializada às pessoas com

deficiências, preferencialmente na rede regular de ensino.

Outros documentos importantes foram oficializados, sendo o de maior

destaque a Declaração de Salamanca, elaborada em 1994, na cidade de Salamanca

na Espanha. Documento norteador da educação inclusiva é resultado de ações

sociais dos movimentos de direitos humanos nas décadas de 1960 e 1970. Com

essa declaração o conceito de Necessidades Educacionais Especiais (NEE) tornou-

se mais abrangente, incluindo todas as pessoas com dificuldade de participar

efetivamente da escola, por qualquer deficiência temporária ou permanente.

As escolas devem ajustar-se a todas as crianças independentemente das suas condições físicas, sociais, lingüísticas ou outras. Neste conceito devem incluir-se crianças com deficiências ou super-dotadas, crianças da rua ou crianças que trabalham, crianças de população imigradas ou nômades, crianças de minoria lingüísticas, étnicas ou culturais e crianças de áreas ou grupos desfavorecidos ou marginais.” (Declaração de Salamanca: UNESCO, 1994)

A inclusão da pessoa com deficiência é percebida como evolução do ser

humano, para educação escolar, uma vez que defende a interação dessa pessoa

com outras “não deficientes”. Essa interação proporciona o desenvolvimento

conjunto de iguais oportunidades para todos e assegura o respeito à diversidade

humana. Apesar de tudo, a pessoa com necessidades especiais (PNE) encontra

diversas barreiras a exemplo da resistência na aceitação das escolas regulares,

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despreparo dos profissionais da educação para o acolhimento dessas pessoas, o

que interfere no avanço das mesmas na vida educacional.

Segundo a discussão trazida por Soler (2005), ele nos diz que: “Não

podemos, e não temos o direito, enquanto educadores de privar uma criança

portadora de necessidades especiais de ter a oportunidade de tentar ser feliz na

escola que desejar”. p.35.

Diante desse pressuposto, o processo de inclusão escolar das PNEs tem

como base teórica também o sócio-interacionismo representado por Vigotsky que

analisa fenômenos da linguagem e do pensamento buscando compreendê-los

dentro do processo sócio-histórico como internalização das atividades socialmente

enraizadas e historicamente desenvolvidas. Assim a relação do mundo conhecido

com o sujeito que o conhece acontece por mediações de sistemas e símbolos

facilitando o processo de ensino e aprendizagem. Esse processo de ensino

aprendizagem tem relação com o processo histórico e social concebido no espaço

escolar.

Historicamente a escola se caracterizou por delimitar a educação como

privilégio de um grupo. Exclusão legitimada pelas políticas públicas. O processo de

democratização das escolas foca o paradoxo inclusão/exclusão na universalização e

acesso do ensino pelos sistemas, porém a exclusão de indivíduos e grupos

considerados fora dos padrões normais continua existindo.

A garantia da matrícula da pessoa com deficiência é consolidada na Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) nº 9394/96 e reafirmada na

resolução nº 2 de 2001 do Conselho Nacional de Educação (CNE). Tais leis não

asseguram a permanência das PNEs na escola regular, uma vez que permite o

encaminhamento das mesmas para o ensino especial ou regular com sala especial

(salas multifuncionais).

O atendimento escolar da PNE deve ser realizado preferencialmente na rede

regular de ensino, em classes comuns apoiados, por serviços especializados,

organizados na própria escola, baseado no pressuposto da igualdade incentivando a

pratica da inclusão e desmistificando a idéia do diferente, que Sung e Silva define

muito bem na citação de Soler (2005, p.33).

O diferente é aquele que não nos deixa esquecer que a insegurança, a provisoriedade e a relatividade fazem parte da nossa condição humana.

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Não é à toa que as pessoas que tem mais dificuldades em aceitar e conviver com essa insegurança da condição humana são as mais intolerantes e agressivas contra os diferentes.

A alternativa mais eficaz para o processo de atendimento das PNEs é a

integração, permanência, progressão e sucesso dessas nas classes regulares de

ensino.

Sempre que não for possível essa integração em função das condições

específicas, oferecer atendimento especializado por meio de parcerias objetivando

diversificar formas e ampliar os serviços de apoio que favorecem a reorganização da

educação para esse público. Assim é importante e urgente a promoção e inclusão

dessas PNEs na escola e nas aulas de Educação Física das Escolas.

Os sistemas educacionais das quatro esferas administrativas: Federal,

Estadual, Municipal e Particular devem operacionalizar com maior esforço os

dispositivos legais de amparo a inclusão das PNEs.

O presente trabalho caracteriza-se a partir de algumas questões importantes

como: a experiência pessoal, uma vez que existe na família uma pessoa com

necessidades educacionais especiais (Síndrome de Down), assim como da

relevância de maior aprofundamento sobre os estudos da inclusão dessas pessoas

nas aulas de Educação Física.

A vivência familiar acima citada trouxe um impacto de grande significado tanto

no âmbito pessoal quanto no profissional, que levaram as observações e análise

referente ao trabalho desenvolvido em uma escola em Serrinha – Bahia e do

profissional de Educação Física envolvidos no processo de inclusão dos PNEs em

suas aulas. Diante deste contexto surge à problemática: As aulas de Educação

Física são inclusivas ou excludentes para alunos com necessidades

educacionais especiais?

Conviver com a diversidade torna o cenário da pessoa com necessidade

especial (PNE) conflituosa nas aulas de educação física, uma vez que é necessário

que as diferenças sejam respeitadas e uma nova concepção de escola, de aluno, de

ensino e de aprendizagem seja entendida.

É evidente que na prática cotidiana alunos com necessidades especiais

inseridos em classes regulares ainda vivem precariamente suas experiências nas

aulas de educação física, as atividades raramente atendem as características de

suas limitações. A partir desta constatação pensamos como objetivos: verificar se a

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disciplina educação física na escola regular propicia a inclusão de pessoas

com necessidades educacionais especiais, analisando a freqüência e a

participação do educando; identificar as relações que estes alunos

estabelecem com a escola; assim como também diagnosticar as dificuldades

encontradas pelos alunos e pela escola que os acolhe no ensino regular.

A pesquisa foi dividida em capítulos assim organizados: no primeiro capítulo

apresentamos uma breve abordagem histórica, conceitual e legal sobre a Educação

Inclusiva no Brasil, em seguida apresentamos uma discussão teórica sobre os

conceitos a cerca da síndrome de Down, relacionando a mesma com a educação

física, assim como também esclarecendo a importância e necessidade da

qualificação profissional, sobretudo na perspectiva inclusiva. No terceiro capítulo

exibimos os caminhos metodológicos utilizados para a realização da pesquisa. Por

fim, apresentamos a análise e discussão dos dados encontrados e as considerações

finais.

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2. OS CAMINHOS DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA NO BRASIL: UMA BREVE

ABORDAGEM CONCEITUAL, HISTÓRICA E LEGAL

A palavra inclusão segundo o dicionário Aurélio significa ação ou efeito de

incluir, estado de uma coisa incluída em outra, porém não determina que o ser

incluído seja igual ou semelhante ao qual foi incluído. Assim, ocorre com a interação

social.

A interação social, conforme Sassaki (1997) surge para derrubar a pratica da

exclusão sofrida pelas pessoas com necessidades especiais durante séculos. A

plena integração dessas pessoas acontece pela igualdade de oportunidades e

direitos, resultando num ambiente de convívio menos restrito com oportunidades

iguais para todos, constituindo assim processo de inclusão dinâmico e participativo

em todos os níveis sociais.

Pensar a inclusão é pensar nas pessoas que não possuem as mesmas

oportunidades dentro da sociedade. São elas: idosos, negros, pobres e pessoas

com deficiência, como cadeirantes, deficiente visual, auditivo e mental. Pessoas

essas que são excluídas por não se encontrarem dentro dos padrões exigidos pela

sociedade.

O atendimento das pessoas com necessidades educacionais especiais em

escolas especiais levou a se pensar na inclusão educacional, uma vez que esse

atendimento sofria críticas pelo fato de reduzir ou até mesmo acabar com as

oportunidades de convívio dessas pessoas com a família e a sociedade.

Segundo Mittler (2003, p.21) “A inclusão é uma visão, uma estrada a ser

viajada, mas uma estrada sem fim, com todos os tipos de barreiras e obstáculos,

alguns dos quais estão em nossas mentes e em nossos corações”.

Portanto, considerando o que Mittler (2003) coloca, a inclusão educacional, é

possível conceituá-la como prática pedagógica capaz de educar com sucesso todos

os educandos, formando um paradigma educacional pautado nos direitos humanos

e na indissociabilidade entre igualdade e diferença. Assim o aluno é compreendido

como ser único, singular e social que a partir de sua história de vida se constitui

gradativa e interativamente num ser histórico diferente.

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A integração de pessoas com necessidades educativas especiais (PNEs) em

classes regulares começou na década de 70, momento em que recebiam alguns

serviços educacionais que favoreciam a interação entre o deficiente e o dito “não

deficiente”. Mas foi na década de 80 que o movimento pela educação inclusiva no

Brasil ganhou fôlego e a classe regular torna-se ambiente pedagógico acessível ao

desenvolvimento das PNEs.

Contudo o grande avanço vem com a Constituição Federal de 1988, que

respalda e elege a cidadania e a dignidade da pessoa humana como um dos seus

objetivos fundamentais (art. 1º incisos I e II), a promoção do bem de todos sem

preconceito (art. 3º inciso IV) e garante o direito a igualdade (art. 5º).

Com a garantia de educação para todos, (art. 205) a Constituição Federal visa

o pleno desenvolvimento da pessoa, o seu preparo para a cidadania e sua

qualificação para o trabalho com igualdade de condições, acesso e permanência na

escola. (BRASIL,1988)

O sistema educacional inclusivo no Brasil surgiu com a Declaração Mundial

de Educação para Todos firmada em Jomtien na Tailândia em 1990, porém foi em

1994 que a educação inclusiva teve maior impulso na Conferencia Mundial sobre

Necessidades Educacionais Especiais, realizada na cidade de Salamanca na

Espanha. Tal conferencia transformou a educação inclusiva em proposta para as

escolas de ensino regular, objetivando combater a prática discriminatória e a

promoção da pessoa deficiente na sociedade (SILVA, 2004).

Segundo Góes e Laplane (2007): O discurso educacional em diversos

momentos da história tem se caracterizado por camuflar a realidade. Há uma

contradição no discurso de que na escola todos são iguais, as oportunidades são

iguais para todos e o acesso a educação é garantido a todos os cidadãos. A

mudança de conceito e do horizonte da educação inclusiva foi significativa, pois a

pessoa com deficiência deixa de ser um problema para o sistema educacional, e os

sistemas passam a ter a missão de se adequar para atender de forma satisfatória as

PNEs não apenas inserindo no contexto escolar para dizer que existe, mais sim,

atendendo de fato as expectativas de uma grande parcela da população que fala em

inclusão, mas que ainda discrimina, sobretudo aos deficientes.

2.1. O processo de educação e a instituição escolar

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A Educação é ação exercida para a vida, para o convívio em sociedade; tem

como objetivo o desenvolvimento físico, intelectual e a interação social, cultivando

em cada individuo a construção da autonomia, da criticidade e da emancipação

cidadã no conjunto a que naturalmente o educando em seu particular se destina

como afirma Kant (apud DURKHEIM, S/D, p. 35): “O fim da educação é desenvolver

em cada individuo, toda perfeição que ele seja capaz”.

A educação se destina então a dar conta de satisfazer as necessidades de

cada sujeito individual e coletivamente ao passo que este convive em constantes

relações sociais. Todavia temos sociedades nas quais esse predicado não é

cultivado.

Este fator relaciona-se com fatores histórico-culturais ligados ao processo

educativo escolar, que só tem despertado discussões acerca de espaços

alternativos que dê conta da demanda educacional, as quais não estão sendo

contempladas nos sistemas educacionais escolares.

Na perspectiva Freireana, a prática educativa enquanto prática social em sua

complexidade é compreendida como fenômeno típico da existência “por isso mesmo

é fenômeno típico da existência, por isso mesmo exclusivamente humano” (FREIRE,

2003, p.66).

Daí também é o motivo pelo qual a prática educativa deve ser histórica. A

existência humana não tem o ponto determinante de sua caminhada fechado na

espécie, ao inventar a existência homens e mulheres inventaram ou descobriram a

possibilidade que implica necessariamente a liberdade que não recebera, mas que

tiveram de criar na busca pela educação enquanto direito à liberdade como afirma o

autor (2003, p.70):

O direito e dever de viver a prática educativa em coerência com a nossa opção progressiva, substantivamente democrática, devemos respeitando o direito que têm os educadores de também optar e de apreender a optar, para o que precisamos de liberdade, testemunhar-lhes a liberdade com que optamos (ou obstáculos que tivemos para fazê-lo e jamais tentar sub-repticiamente ou não impor-lhes nossa escolha.

Também, Brandão (1997, p. 7) nos afirma que:

Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos todos nós envolvemos pedaços da vida como ela: para aprender, para ensinar, para aprender-e-ensinar. Para saber para

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fazer, par ser ou para conviver, todos os dias misturando a vida com a educação.

Dessa forma, além da educação que nos proporcione liberdade de decisões

defendida por Freire, Brandão coloca que ninguém escapa da educação e ela é

concebida em vários espaços em casa, na rua, uma educação que objetiva formar

para a cidadania.

A aprendizagem política dos direitos dos indivíduos enquanto cidadãos, isto é,

o processo que gera a conscientização dos indivíduos para a compreensão de seus

interesses do meio social; a capacidade dos indivíduos para o trabalho, por meio da

aprendizagem de habilidades e/ou desenvolvimento de potencialidades; a

aprendizagem e exercício de prática que capacitam os indivíduos a se organizarem

com objetivos comunitários, voltadas para a solução de problemas coletivos

cotidianos.

Podemos assim perceber como foco principal da educação, a aprendizagem

que deve se dá por meio da prática social. É a experiência das pessoas em

trabalhos coletivos que gera um aprendizado. Que muitas vezes passa das gerações

mais antigas para as mais novas.

O contexto da vida social, política, econômica e cultural, os espaços do

convívio social, comunitário, na família, nas escolas, nas fábricas, na rua e na

variedade de organizações e instituições sociais, formam um ambiente que produz

efeitos educativos.

Os estudos sobre educação e prática social, educação e trabalho, currículo e

sociedade, educação e reprodução social, currículo explicito e oculto são mostra do

impacto dos elementos informais da educação nos processos educativos individuais.

A prática educativa é um fenômeno constante e universal inerente à vida

social, sendo uma atividade humana real, que se constitui como objetivo de

conhecimento. A educação é um fenômeno social inerente à constituição do homem

e a sociedade, integrante, portanto da vida social, econômica, política e cultural.

Para Saviani (2007), a educação é uma atividade especificamente humana. A

educação na instituição Escolar nasce concomitantemente à divisão da sociedade

em classes, para o autor com “o surgimento da propriedade privada surgiram às

classes, vale dizer, a divisão da sociedade em classes. E é nesse momento que

surge a escola”. Até ai não havia a escola. (SAVIANI, 2007, p. 10).

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O autor coloca um diferencial entre Educação e Educação Escolar, pois no

próprio ato de educar, os homens se educavam e educavam as novas gerações, a

educação escolar que é o conceito que estamos trabalhando na pesquisa é a

institucionalização desse ato de educar, que faz parte de uma cultura humana no

processo histórico e passa para uma instituição chamada escola que segundo o

autor nasce com o surgimento de classe num processo excludente, contrariamente o

nosso trabalho pauta-se na discussão da inclusão em escolas regulares.

2.2. Educação especial no Brasil

No século XIX, brasileiros inspirados em experiências européias e norte

americanas, realizam serviços de atendimento a cegos, surdos, deficientes mentais

e deficientes físicos no Brasil, contudo esse atendimento não se caracteriza

educacional. Em 1824, a Constituição garante direito a educação a todos os

brasileiros, direito esse mantido pelas Constituições de 1934, 1937 e 1947, porém,

só nas décadas de 50 e 60 esse direito começou a ser alvo de preocupação. Assim

foram criadas as Associações de pais e sociedades como a APAE – Associação de

Pais e Amigos dos Excepcionais, a Pestalozzi e outras associações ligadas a essa

área.

Contudo, até 1854 aos portadores de deficiência de qualquer natureza eram

excluídos pela família e pela sociedade, amparados apenas por asilos e instituições

filantrópicas e/ou religiosas.

De 1854 a 1956 surgem algumas escolas especiais particulares com ênfase

no atendimento clínico e especializados, provocando na sociedade uma leve

compreensão de que os deficientes como todos os outros sujeitos tem suas

habilidades, podendo ser inseridos na escola, no mercado de trabalho e no convívio

social como cidadão de direitos. Assim, surgem os primeiros sinais de educação

para esse público, com a fundação de várias instituições a principio pautadas no

assistencialismo.

Posteriormente, entre 1957 e 1993, a partir de discussões políticas como, por

exemplo, a havida na cidade de Salamanca, a educação especial, ganha corpo e se

estabelece como modalidade escolar, assegurada por lei como a LDB, que prevê um

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conjunto de serviços educacionais especializados de apoio complementar a

atividade pedagógica realizada com esses educandos. Com o objetivo de garantir o

acesso e permanência, ou seja, o desenvolvimento do aluno perpassando por todos

os níveis de educação.

Por fim, na década de 1990 a participação do Brasil na Conferência Mundial

sobre Educação para Todos na Tailândia, momento que se configurou como os

primeiros sinais da educação inclusiva. Tal espaço despertou no governo brasileiro a

necessidade de gerenciar a educação especial pela Secretaria de Educação Básica,

Secretaria esta que se responsabiliza pela assistência técnica e financeira,

denominada de Secretaria de Educação Especial (SEESP).

Ainda na década de 1990 a educação especial com base na Declaração de

Salamanca (1994) foi substituída pela concepção de educação inclusiva, que tendo

como principio uma educação para todos, ampliou o conceito de necessidades

especiais e defendeu a inclusão das pessoas com necessidades especiais no

sistema regular de ensino.

Em consonância com essa declaração o Brasil constrói o Sistema

Educacional Inclusivo mediante dispositivos legais, políticos e filosóficos que

possibilitam estabelecer políticas educacionais que asseguram a igualdade de

oportunidades e valorização da diversidade no processo educativo, a exemplo da Lei

de Diretrizes e Base da Educação Nacional nº 9394/96 que dispõe no art. 4º inciso

III sobre o atendimento especializado aos portadores de deficiência

preferencialmente na rede regular de ensino.

É nesse contexto que o desenvolvimento inclusivo assume a centralidade das

políticas públicas, que asseguram as condições de acesso, participação e

aprendizagem de todos os alunos nas escolas regulares em igualdade de condições.

Assim, a educação especial é definida como uma modalidade de ensino transversal

a todos os níveis, etapas e modalidades que disponibiliza recursos e serviços e

realiza o atendimento educacional especializado – AEE de forma complementar ou

suplementar à formação dos alunos público alvo da educação especial. (Nota

Técnica – SEESP/GAB/N 11/2010).

Assim, a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da

educação Inclusiva (2008), traz como objetivo garantir o acesso, a participação e

aprendizagem dos alunos com deficiência na escola regular, orientando para a

transversalidade da educação especial, o atendimento educacional especializado, a

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continuidade da escolarização a formação de professores, a participação da família

e da comunidade, a acessibilidade e a articulação intersetorial na implementação

das Políticas Públicas.

Dessa forma, considerando a necessidade de realizar adequações

arquitetônicas nas escolas públicas das redes Estaduais, Municipais e Distrito

Federal, com o objetivo de favorecer a igualdade de acesso a as condições de

permanência aos alunos com, ou sem, deficiência, em suas sedes, assegurando o

direito de todos os estudantes de compartilhar os espaços comuns de aprendizagem

e fundamentado na Constituição Federal de 1988 com podemos perceber nas

seguintes linhas:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

I- igualdade de condições para o acesso e permanência na escola.

Também a Lei nº 11.947/2009, no Decreto n 6.571/2008, Decreto nº

6.949/2009 e a Resolução nº 17 de 19 de abril de 2011, do Conselho Deliberativo do

Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, passa a ser destinado recursos

financeiros de custeio e capital por intermédio das Unidades Executoras Próprias

(UEx), às escolas públicas das redes da Educação Básica, com matrículas de

público alvo da educação especial em classes comuns registradas no censo,

contempladas com salas de recursos multifuncionais no ano de 2009 (Política do

MEC/FNDE) e que integrarão ao programa escola Acessível em 2011 como afirma

o parágrafo 1º do artigo 58 da lei de Diretrizes e Bases da Educação – 93934 de

1996: “§ 1º. Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola

regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial”

Esse trabalho foi realizado na instituição particular pela não existência de

alunos com síndrome de Down nas aulas de educação física na rede pública no

município de Serrinha – Ba, porém, os recursos que tais leis prevêem são

destinados à promoção da acessibilidade e inclusão de alunos das instituições

públicas, alvo da educação especial em classes comuns do ensino regular, devendo

ser empregado em aquisição de materiais e bens e/ou contratação de serviços para

Page 21: Educação física inclusiva na escola: um estudo de caso em uma escola particular de serrinha- Bahia

20

construção e adequação de rampas, alargamento de portas e passagens, instalação

de corrimão, construção e adequação de sanitários para acessibilidade e colocação

de sinalização visual, tátil e sonora, bem como aquisição de cadeiras de rodas,

bebedouros, mobiliários acessíveis e recursos de tecnologia assistida.

É também assegurado legalmente pelo FUNDEB (Fundo de Manutenção e

Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da Educação)

para as escolas públicas com matrícula de pessoas com NEE, tomando por base o

censo do ano anterior, o dobro do valor per capta, para a instituição possibilitando

assim maior investimento em salas multifuncionais, formação continuada de

professores e melhoria no ambiente físico.

Portanto, destaca-se também o disposto na Convenção dos Direitos das

Pessoas com Deficiência (2006), publicada pela Organização das Nações Unidas

(ONU) e promulgada no Brasil por meio do Decreto n 6.949/2009 onde determina no

Art. 24 que o direito das pessoas com deficiência à educação, com base na

igualdade de oportunidades, assegurarão um Sistema Educacional inclusivo em

todos os níveis.

3. SÍNDROME DE DOWN: CONHECENDO UM POUCO MAIS

Segundo Mustacchi, (1990) a síndrome de Down foi a primeira anormalidade

autossômica descrita no homem e constitui a aberração de cromossomo

autossômico mais comumente encontrada. Ocorre uma vez em cada 600

nascimentos e é mais freqüente quando as mães são mais idosas que a média.

É a síndrome genética mais conhecida, sendo responsável por 15% dos

portadores de atraso mental, também conhecida como trissomia do cromossomo 21.

As pessoas com Síndrome de Down apresentam 47 cromossomos em cada célula

em vez de 46, como as demais, este cromossomo extra encontra-se no par 21.

(SOLER, 2005, p.68)

Page 22: Educação física inclusiva na escola: um estudo de caso em uma escola particular de serrinha- Bahia

21

Conforme informações apontadas por 1autores que pesquisam a síndrome de

Down (SD) esta que foi descrita em 1866 por John Langdon Down, que acabou

sendo batizada com seu nome. Ele foi o primeiro a descrever as características de

uma criança com (SD), no entanto ela foi identificada pela primeira vez pelo

geneticista francês Jérôme Lejeune em 1958.

A síndrome de Down pode se apresentar de três formas, como define

Mustacchi, (1990) a seguir:

Trissomia 21 simples:

É a alteração genética mais comum, ocorre em aproximadamente 95% dos

casos onde apresentam três cromossomos 21 independentes, a causa é a não

disjunção cromossômica durante a meiose.

Mosaico

O mosaico origina-se nas primeiras divisões de uma célula-ovo, resultando

também da não disjunção cromossômica, dois ou mais tipos de células, podendo ser

conseqüente à perda de uma cromátide de célula trissômica. Ocorre em

aproximadamente 2% dos casos.

Translocação

Caracteriza-se pela transferência de fragmento cromossômico ou de todo um

cromossomo para outro, podendo resultar em um cromossomo que possua a maior

parte do material genético dos dois inicialmente envolvidos. Em geral o cromossomo

21 extra adere a um novo par normalmente o 14 e sua ocorrência é em

aproximadamente 3% dos casos.

Em geral a identificação da pessoa com (SD) acontece na ocasião do

nascimento, ou logo após, com base na combinação de características físicas,

1 Fundação Síndrome de Down http://www.fsdown.org.br/. Acessado em fevereiro de 2012.

Page 23: Educação física inclusiva na escola: um estudo de caso em uma escola particular de serrinha- Bahia

22

algumas delas descritas adiante por Soler (2005): Os olhos apresentam-se com

pálpebras estreitas e levemente oblíquas;

A cabeça, geralmente, é menor e a parte posterior levemente achatada;

A boca é pequena e geralmente se mantém aberta;

As orelhas são geralmente pequenas e de implantação baixa;

As mãos são curtas e largas;

A musculatura de maneira geral, flácida (hipotonia muscular);

A criança com SD pode apresentar algumas ou todas essas características,

porém, ela também parecerá com seus pais, pois herdam os genes destes. Segundo

algumas 2leituras realizadas, pode-se perceber que a única característica em comum

a todos é o déficit intelectual, ainda de acordo com o site cerca de 50% das crianças

com síndrome de Down apresentam problemas cardíacos, em alguns casos graves,

chegando a ser necessária cirurgia nos primeiros anos de vida.

A comprovação da SD no indivíduo acontece por meio do exame genético: O

cariótipo, que permite confirmar a presença de um cromossomo extra no par 21.

Cromossomo este proveniente de um erro na divisão do material genético no

embrião. Esta divisão modifica definitivamente o desenvolvimento embrionário do

bebe.

É importante ressaltar que não existem graus de SD, as diferenças de

desenvolvimento acontecem por conta das diferenças individuais, (herança genética,

educação, meio ambiente).

Geralmente o desenvolvimento da criança com SD ocorre de maneira muito

parecida com a da criança sem esse comprometimento. De certo atingirão as etapas

embora em ritmo lento, é importante que o tempo da criança seja respeitado.

Os limites impostos aos indivíduos, desde seu nascimento, envolvendo principalmente, as áreas de aprendizado e sociabilidade não devem ser rigorosos e imperativos a ponto de preocupar os familiares de portadores de síndrome de Down. Devem ser flexíveis até o ponto em que não se

2 Pesquisa realizada em http://www.fsdown.org.br/. Acessada em fevereiro de 2012.

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23

prejudique a integridade do indivíduo que necessita de estimulação constante para promover sua adesão ao ambiente em que vive. (MUSTACCHI, 1990,p.21)

Contudo, a criança com esse comprometimento possui algumas limitações do

ponto de vista educacional e social, mas dependendo do potencial genético e de

como ela é estimulada no meio onde vive qualquer criança pode desenvolver suas

habilidades e potencialidades sem serem estereotipadas, como crianças inferiores

ou mesmo incapazes.

No Brasil um conjunto de normas assegura a proteção para pessoas que tem

síndrome de Down: direito à educação e também com a condição de oportunidades

de desenvolvimento iguais. A constituição federal de 1988 no seu artigo 208

determina que “o dever do estado com a educação será efetivado mediante a

garantia de atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,

preferencialmente na rede regular de ensino”.

O Conselho Nacional de Educação na Resolução nº 2/2001 defende que as

escolas regulares recebam em suas classes alunos com deficiência para promover a

inclusão social, admitindo ainda salas especiais temporárias para crianças e

adolescentes. A Lei de Diretrizes de Bases da Educação (LDB) nº 9.394/96

estabelece a divisão do ensino regular e especial admitindo a possibilidade de ser

substituída do regular pelo especial.

Dessa forma, o cumprimento adequado dessas leis representa um grande

avanço para a cidadania das pessoas com deficiência ou baixa mobilidade,

permitindo o acesso à escola, saúde, trabalho, lazer, cultura, e que esses sejam

elementos cada vez mais presentes na vida destas pessoas.

Autores com Paulo Freire (1996) na discussão sobre o processo de

aprendizagem e formação defendem que a relação professor aluno e aluno

professor, aluno e aluno, a partir do conjunto de experiências trazidas e vivenciadas

na comunidade e trazidas para o ambiente escolar, a troca das experiências

vivenciadas pelos educandos pode configurar uma excelente maneira pela qual um

aluno possa aprender com o outro. Brandão (1997) diz que ninguém escapa da

educação é ela acontece na prática vivenciada seja no espaço escolar ou na

comunidade que as crianças vivem, dessa forma as experiências entre diferentes

vivencias é um legado rico e diversificado que vem contribuindo sobremaneira para

ressignificar s conteúdos em sala de aula.

Page 25: Educação física inclusiva na escola: um estudo de caso em uma escola particular de serrinha- Bahia

24

Os PCNs, especificamente o de Educação Física nos mostra que:

Não existe homem sem cultura, mesmo que não saiba ler, escrever e fazer contas. Pode-se dizer que o homem é biologicamente incompleto; não sobreviveria sozinho sem a participação das pessoas e do grupo que o geraram (BRASIL,1998, p. 27).

Então diante dos pressupostos que os autores colocam o diferencial da

inclusão em classes regulares é a aprendizagem que as diferenças proporciona, a

aprendizagem entre diversas culturas, o intercambio escolar entre as vivencias que

cada educando traz diferentemente de sua comunidade seja ele um aluno dito

normal ou um aluno com necessidade especial, eles, na troca de experiências

juntamente com os conteúdos trabalhados em sala de aula, ressignificam a

aprendizagem, garantindo o desenvolvimento integral da criança. Colocar todos os

educandos com necessidades especiais juntos sem uma preocupação com seu

direito de aprender não garante seu desenvolvimento enquanto cidadão que tem o

direito garantido como reza as leis educacionais

3.1. Relação Educação Física e síndrome de Down

Uma das grandes vantagens do componente curricular Educação Física na

escola é o fato dele poder trabalhar com o movimento e o corpo do educando. Sua

possibilidade dinâmica de atrair o estudante para a aula se dá pelo seu diferencial

em relação às demais disciplinas, pois o momento prático no trabalho com

atividades, fazendo com que o estudante interaja melhor com os conteúdos

trabalhados na disciplina. Proporcionando também, uma melhor interação entre os

educandos nas suas diversas vivencias. Proposta que se tornam cada vez mais

comum e necessária no âmbito escolar, já que, as escolas devem se preparar cada

vez melhor para atender um público que necessita de uma educação especial.

Tratando-se de alunos com síndrome de Down, as atividades propostas nas

aulas de Educação física devem sempre contribuir para que o aluno tenha um

melhor aproveitamento das tarefas, seu desenvolvimento depende muito disso. É

importante que haja uma aproximação da criança, estabelecendo uma relação de

confiança com o professor e principalmente com os colegas de classe.

Page 26: Educação física inclusiva na escola: um estudo de caso em uma escola particular de serrinha- Bahia

25

Uma das maneiras mais eficientes para o trato com pessoas com síndrome

de Down está diretamente associada ao reconhecimento da deficiência e de suas

limitações por parte dos envolvidos. O processo de desenvolvimento é considerado

lento, porém quanto mais cedo se inicia os estímulos, melhor. No que se refere à

estimulação precoce Mustacchi (1990, p. 86), diz:

A estimulação precoce é uma serie de exercícios que visa a desenvolver as capacidades da criança de acordo com a fase do desenvolvimento que ela se encontra. O desenvolvimento global da criança depende muito do ambiente em que vive, devendo ser tranqüilo, fornecendo a criança estímulos variados, realizados diariamente sempre com o envolvimento da família.

Para Soler (2005), comparados a uma criança “normal” o desenvolvimento

motor da criança com síndrome de Down é inferior, a tarefa principal do educador

consiste em intervir inicialmente dentro das possibilidades da criança com o

propósito de deixá-las mais confiantes e seguras de seus movimentos, ampliando as

exigências com o passar do tempo tendo em vista que elas se desenvolvem num

ritmo mais lento que as demais

Hoje muito se fala sobre a importância da prática de atividades psicomotoras

no processo de desenvolvimento das crianças principalmente aquelas com síndrome

de Down.

Schwartzman (1999) citado por Voivodic (2004) diz que a 3hipotonia muscular

presente na maioria dos casos de síndrome de Down é o principal motivo para que o

desenvolvimento motor da criança ocorra de forma mais tardia que as demais e que

isso interfere no desenvolvimento de outros aspectos, pois a partir da exploração de

ambiente que a criança constrói o seu desenvolvimento de mundo. (Voivodic, 2004,

p.43).

A educação física tem grande contribuição quanto ao desenvolvimento

desses aspectos tomando como referência a variedade de conteúdos e

possibilidades. Conteúdos que quando trabalhados de forma lúdica proporcionam

uma motivação extra à criança, facilitando o processo de ensino aprendizagem não

somente da criança com síndrome de Down, mas, a todos que ali estão. Além disso,

as escolas devem se preparar melhor com formação profissional de qualidade,

3 Hipotonia muscular: diminuição do estado fisiológico da tensão muscular: ou seja, contratilidade muscular

reduzida. (MUSTACCHI, 1990)

Page 27: Educação física inclusiva na escola: um estudo de caso em uma escola particular de serrinha- Bahia

26

adequar à estrutura física da escola, utilizar em seu planejamento atividades

multidisciplinares, utilizando de tudo isso em prol do melhoramento das condições

necessárias para uma escola inclusiva.

O caminho para uma educação física inclusiva, assim como para uma escola inclusiva, é longo e cheio de desafios, que só conseguiremos vencer se jogarmos todos num único time, harmonizando os conflitos e tentando em equipe alcançar os objetivos. O primeiro passo é enxergar a atual paisagem e tentar aos poucos modificá-la. (SOLER, 2005, p13)

Ao mesmo tempo em que a educação física pode contribuir para a inclusão

de pessoas com síndrome de Down em suas aulas. É preciso ter o cuidado com a

possibilidade de exclusão e frustração. Tratando-se de pessoas com deficiência é

comum acontecer o contrário do planejado, o profissional de educação precisa estar

preparados para saber lidar com essas situações que nem sempre tem os efeitos de

incluir, entretanto motivar sempre vai ter um valor significativo no processo de

aprendizagem dos alunos com síndrome de Down.

3.2. Necessidade da formação de professores na perspectiva inclusiva

A formação do Profissional que irá estar em contato direto com criança e

principalmente crianças com necessidades especiais no processo de educar é de

suma importância e foco dos debates contemporâneos nos cenários educacionais. A

formação continua não só contribui com os processos formativos como também

define o perfil do Profissional que irá lidar diariamente com questões adversas na

sala de aula.

Segundo a LDB Lei 9394/96 no seu artigo 61 diz que:

Art. 61. A formação de profissionais da educação, de modo a atender aos

objetivos dos diferentes níveis e modalidades de ensino e às características

de cada fase do desenvolvimento do educando, terá como fundamentos:

I- a associação entre teorias e práticas, inclusive mediante a

capacitação em serviço;

II- aproveitamento da formação e experiências anteriores em

instituições de ensino e outras atividades;

Page 28: Educação física inclusiva na escola: um estudo de caso em uma escola particular de serrinha- Bahia

27

Podemos perceber que a própria Lei de Diretrizes e Bases da educação

brasileira traz a importância da formação continuada do docente para atuar como

profissional que atenda os objetivos dos diferentes níveis, associando teoria e

prática para que assim a aprendizagem do educando principalmente quando ele

necessite de uma educação especial que atenda suas necessidades seja garantida.

A garantia da formação continuada definirá o perfil do profissional que estará

lidando diretamente com educados com síndrome de Down matriculados nas salas

de aula regular do ensino, até porque o perfil desse professor na condução de suas

aulas contribuirá para a garantia do direito de aprender, do direito ao

desenvolvimento integral da criança com síndrome de Down.

A sala de aula então deve ser um ambiente formador, segundo Castro e

Carvalho:

A sala de aula pode ainda ser considerada um espaço privilegiado de aprendizagem nas sociedades avançadas em que dominam as novas tecnologias de comunicação e informação? Hoje, as informações estão facilmente disponíveis. De fato, defrontamo-nos com muito mais dados do que nossa capacidade para entendê-los e gerenciá-los. Sentimos falta, muitas vezes, de referencias teóricos e metodológicos para mapeá-los e dar-lhes significado. A sala de aula pode ser esse espaço formador para o aluno. Espaço em que ele aprende a pensar, elaborar e expressar melhor suas idéias e a ressignificar suas concepções (2001, p. 125).

Castro e Carvalho além de definirem o espaço da sala de aula como um

espaço que deve ser formador para o educando elas defendem que o professor

também pode ser formado a partir das perspectivas da sala de aula observe, “A sala

de aula pode ser também um espaço formador para o professor. A formação inicial

não pode dar conta da variedade e da complexidade de situações com as quais o

futuro professore se defrontará (2001, p.125)”.

A formação do profissional docente que os autores colocam se dá

necessariamente pelo fato das complexas situações que tais profissionais vão lidar

na sala de aula a inclusão é uma delas. Tratar da inclusão requer um perfil

profissional ainda mais preparado para com diversas situações para atender as

necessidades especiais desses educandos na garantia que eles têm o direito de

aprender, de se desenvolver como todo educando tem, ao se matricular numa

instituição de ensino publica ou particular.

Page 29: Educação física inclusiva na escola: um estudo de caso em uma escola particular de serrinha- Bahia

28

Especificamente a pesquisa lidará com um profissional de licenciatura

especifica que é o professor de educação física. Que segundo Heringer e Figueiredo

no texto: Prática de formação continuada em Educação Física, defendem a partir de

uma experiência numa escola municipal, que o profissional de Educação Física deve

estar sempre em formação continuada para que assim ele possa atender às

necessidades do educando quando trata do seu desenvolvimento integral.

4. PERCURSO METODOLÓGICO

O ato de pesquisar tem em si descobertas, como nos diz Demo (2002, p. 11)

“o processo de pesquisa está sempre cercado de ritos especiais”. E, na Academia, o

ato de pesquisar está inerentemente ligado a cientificidade, e a depender do que se

pretende com a pesquisa, esta pode ganhar caráter sociológico, político e

educacional agindo assim, para a transformação desses agentes da sociedade.

Neste capítulo será apresentada a metodologia utilizada para o

desenvolvimento da pesquisa que tem como tema: Educação Física inclusiva na

escola: um estudo de caso em uma escola privada em Serrinha – Bahia, tendo como

objetivos de pesquisa: verificar se a disciplina educação física na escola regular

propicia a inclusão de pessoas com necessidades educacionais especiais (síndrome

de Down), analisando a freqüência e a participação do educando, assim como

também identificar que relação esses alunos estabelecem com a escola; e

diagnosticar as dificuldades encontradas pelos alunos e pela escola que os acolhe

no ensino regular.

Partindo dessa premissa, foi necessário para o êxito deste estudo, definir, o

método a ser empregado a este trabalho, tendo em vista que uma vez escolhida, a

metodologia norteará os caminhos a serem seguidos durante o percurso de estudo.

Dessa forma, a presente pesquisa caracteriza-se como um estudo qualitativo,

este que apresenta a tentativa de se explicar em profundidade o significado e as

características do resultado das informações obtidas através de questões abertas, e

observação sem mensuração quantitativa de característica ou comportamento.

4.1 A abordagem metodológica

Page 30: Educação física inclusiva na escola: um estudo de caso em uma escola particular de serrinha- Bahia

29

A intenção com esta pesquisa está especificamente relacionada aos

processos educativos de inclusão na disciplina de Educação física e suas questões

mais ligadas à sociedade, por isso, a opção foi pela abordagem qualitativa.

Dessa forma a pesquisa apresenta relevância em torno de discussão da

temática, a qual teve a pretensão de investigar a inserção no meio inclusivo de

crianças com síndrome de Down nas aulas de Educação física, o que no cerne da

pesquisa só nos apontou a necessidade da metodologia qualitativa.

Oliveira (2007, p. 37) vê a abordagem qualitativa ou pesquisa qualitativa como

sendo “um processo de reflexão e análise técnica para compreensão detalhada do

objeto de estudo em seu contexto histórico e /ou segundo sua estruturação”. Esse

processo implica em estudos segundo a literatura pertinentes ao tema, observações,

aplicação de questionário, entrevista e análise de dados, que deve ser apresentado

de forma descrita segundo Oliveira (2007, p. 38):

Na pesquisa de abordagem qualitativa todos os fatos e fenômenos são significativos e relevantes, e são trabalhados através das principais técnicas: entrevista, observações, análise de conteúdo, estudo de caso e estudo etnográfico.

Por conta dessa definição acerca da pesquisa ou abordagem qualitativa é que

foi escolhida esta trajetória tendo em vista que a pesquisa além de possuir um cunho

social, procurou se apropriar dos mínimos detalhes para assim chegar às suas

considerações.

4.2 O tipo de pesquisa

O tipo de pesquisa utilizado foi então o Estudo de Caso que segundo Yin

citado por Oliveira (2007, p. 55) facilita a compreensão de fenômenos sociais

complexos em geral aplica-se com mais frequência às áreas das ciências humanas

e sociais, destacando-se a psicologia, a sociologia, a ciência política, a economia e a

administração.

Gil (1991) caracteriza o estudo de caso como um estudo profundo e

exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira que permita o seu amplo e

Page 31: Educação física inclusiva na escola: um estudo de caso em uma escola particular de serrinha- Bahia

30

detalhado conhecimento. Para o autor a maior utilidade do estudo de caso é

verificada nas pesquisas exploratórias.

A maior utilidade do estudo de caso é verificada nas pesquisas exploratórias. Por sua flexibilidade, é recomendável nas fases iniciais de uma investigação sobre temas complexos, para a construção e hipóteses ou reformulação do problema. Também se aplica com pertinência nas situações em que o objeto de estudo já é suficientemente conhecido a ponto de ser enquadrado em determinado tipo ideal. (GIL, 1991, p. 59)

André (2005) baseado na idéias de autores como Merriam (1988) diz que o

estudo de caso apresenta quatro características: (1) a particularidade que o estudo

de caso focaliza uma situação, um programa, um fenômeno; (2) descrição significa

que o produto final de um estudo de caso é uma descrição “densa” do fenômeno em

estudo. Por discrição densa entende-se uma descrição completa e literal da situação

investigada; (3) Heurística significa que o estudo de caso ilumina a compreensão do

leitor sobre o fenômeno estudado. Podem revelar a descoberta de novos

significados, entender a experiência do leitor ou confirmar o já conhecido e (4)

Indução significa que em grande parte, os estudos de caso se baseiam na lógica

indutiva.

Stake citado por André (2005, p.18) diz que o “estudo de caso é estudo da

particularidade e da complexidade de um caso singular, levando a entender sua

atividade dentro de importantes circunstancias”.

A especificidade deste Estudo de Caso está centrada no nosso objeto de

estudo, que foi às aulas de educação física para crianças com Down em uma escola

privada, situada no município de Serrinha – Ba, o qual se constitui num dos casos

dentre os demais nas aulas de educação física oferecidas no âmbito escolar. Com

625 alunos matriculados, 3 alunos possuem a síndrome de Down e apenas 01

participa das aulas de Educação física.

Logo, percebe-se que o Estudo de Caso é utilizado para atender aos

objetivos preestabelecidos pelos pesquisadores (as), como sendo um estudo

aprofundado a fim de buscar fundamentos e explicações para determinado fato ou

fenômeno da realidade empírica.

Este tipo de instrumento segundo Oliveira (2007) permite qualificar os dados

obtidos por meio de informações coletadas através de questionários, entrevistas,

observações.

Page 32: Educação física inclusiva na escola: um estudo de caso em uma escola particular de serrinha- Bahia

31

O procedimento visa buscar informações autênticas para se explicar em

profundidade o significado e as características de cada contexto em que encontra o

objeto de pesquisa. Os dados podem ser obtidos através de uma pesquisa

bibliográfica, entrevista, questionário e todo o instrumento que se faz necessário

para a obtenção de informações.

Outro tipo utilizado foi à pesquisa bibliográfica, pois ela é uma modalidade de

estudo e análise de documentos de domínio científico tais como livros,

enciclopédias, periódicos, ensaios, artigo cientifico dentre outras fontes. Pode-se

afirmar que grande parte de estudos exploratórios fazem parte desse tipo de

pesquisa e apresenta como principal vantagem um estudo direto em fontes

cientificas, sem precisar recorrer diretamente aos fatos. A pesquisa bibliográfica é

imprescindível para realização de estudos históricos como foi feito nesta pesquisa.

A pesquisa bibliográfica é capaz de fornecer dados atuais e relevantes

relacionado com o tema. A principal finalidade para a utilização desse tipo de

pesquisa foi o poder que este tipo de pesquisa tem de possibilitar ao pesquisador

um contato direto com obras, artigos ou documentos que tratam do tema em estudo.

4.3 Instrumentos e procedimentos

Com o intuito de alcançar informações inerentes aos objetivos explicitados

para a realização desta pesquisa, foi necessária a escolha de instrumentos como o

questionário aberto e a observação em campo sendo realizada no mês de fevereiro

e março com observação a 4 aulas de educação física.

Tratando-se de observação Gil (1994), enfatiza que: “a observação nada mais

é que o uso dos sentidos com vistas a adquirir os conhecimentos necessários para o

cotidiano” (p.104). Nesse sentido, é uma técnica necessária ao mundo acadêmico e

profissional, pois contribui para o processo de construção do conhecimento. É a

partir da observação que se conhece e compreende pessoas, coisas,

acontecimentos e situações que são possíveis de registrar e analisar fatos e

fenômenos.

Assim, os instrumentos utilizados para a realização da pesquisa de campo,

têm o objetivo de conseguir informações e/ou conhecimentos acerca de um

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32

problema, para o qual se procura uma resposta, ou ainda, descobrir novos

fenômenos ou as relações entres eles.

4.4 O local e os sujeitos

Esta pesquisa foi desenvolvida entre os meses de fevereiro e março de 2012,

com os sujeitos que se caracterizam o corpo docente/pedagógico e discente de um

colégio particular em Serrinha – Bahia, com 625 alunos matriculados entre estes 3

alunos com síndrome de Down e 01 deles participa das aulas de Educação física, a

Escola é situada no Bairro da Vaquejada do Município de Serrinha – Bahia. Os

sujeitos colaboradores com a pesquisa tiveram seus nomes substituídos por letras

do alfabeto para terem sua identidade preservada, como por exemplo: a diretora foi

chamada nesta pesquisa de sujeito D; A coordenadora pedagógica que é formada

em pedagogia e chamada na pesquisa de sujeito C; 1 professor de Educação física

que é bacharel em Educação Física, na pesquisa é o sujeito P e 1 criança com

síndrome de Down observada durante sua permanência na escola e que participa

das aulas de Educação Física no referido Colégio.

5. ANÁLISE DE DADOS

Page 34: Educação física inclusiva na escola: um estudo de caso em uma escola particular de serrinha- Bahia

33

Neste capítulo, procuramos apresentar os dados da pesquisa, reflexões e

análise sobre eles, sempre reportando-nos ao referencial teórico apresentado

anteriormente, este capítulo também terá como embasamento os passos

metodológicos também já explicitados.

As informações coletadas através dos instrumentos foram exímios condutores

aos objetivos traçados pela pesquisa, esses dados refletem o perfil do lócus

estudado e a trajetória dos sujeitos pesquisados.

Diante disso, foi organizada a análise das informações em blocos e

categorias.

5.1. Inclusão o que se entende sobre?

Para perceber o que os sujeitos pesquisados entendem sobre o conceito de

inclusão lancei a pergunta: Para você o que significa inclusão?

Sujeito D: É a valorização da diversidade. É saber conviver, é contribuir para um mundo de oportunidades reais para todos.

Sujeito C: Permitir o acesso a escola a crianças portadoras de necessidades especiais bem como a sociedade, oportunizando a ela os conhecimentos e socialização. Sujeito P: A inclusão é um processo no qual o professor vai desenvolver

o seu trabalho em um determinado local, com um publico diverso.

Percebemos que os sujeitos mesmo de forma simplificada entendem o que é

inclusão, sabem que na escola o processo de inclusão é trabalhar com as diferenças

respeitando-as. Pode ser citado na década de 1990 que a educação especial com

base na Declaração de Salamanca (1994) foi substituída pela concepção de

educação inclusiva, tendo como principio uma educação para todos, ampliando o

conceito de necessidades especiais e a inclusão das pessoas com necessidades

especiais no sistema regular de ensino como afirma Mazzota (1996).

Segundo Mittler (2003, p.21) “A inclusão é uma visão, uma estrada a ser

viajada, mas uma estrada sem fim, com todos os tipos de barreiras e obstáculos,

alguns dos quais estão em nossas mentes e em nossos corações”.

Page 35: Educação física inclusiva na escola: um estudo de caso em uma escola particular de serrinha- Bahia

34

Perguntamos também a esse respeito ao profissional de educação física:

Você encontra apoio pedagógico para atender os alunos com síndrome de

Down?

Sujeito P: Sim. A coordenação da escola dá o apoio material para que

possua materiais adequados para ser trabalhado com o mesmo.

Embora a coordenação dê apoio material, só isso não basta, a escola deve

estar preparada para a inclusão de fato o que é de direito, nas observações em

lócus ficou notório que a escola só agrega no seu quadro crianças com Síndrome de

Down, nenhuma criança com qualquer outra necessidade educacional especial foi

percebida na escola. Pude observar que a criança com síndrome de Down passou

as aulas de educação física que foram observadas, brincando sozinha sem a

mínima intervenção do professor ou da coordenadora da escola e os colegas a

ignoram como se não notassem a sua presença.

5.2. A escola e o processo de inclusão:

É de suma importância quando se trata do processo de inclusão sabermos:

que perspectiva é dada pela escola para a inclusão de alunos com síndrome de

Down? Pois a partir de tal questionamento podemos identificar se de fato a escola é

inclusiva ou só integra a criança, colocando a criança no ambiente escolar sem se

importar com seu desenvolvimento ou a relação social que manterá com os demais

estudantes, sobre este aspecto obtive as seguintes respostas:

Sujeito D: A escola busca de maneira gradativa privilegiar uma educação inclusiva, compreendendo a necessidade de uma reorganização do projeto pedagógico que atenda às necessidades do indivíduo em sua essência.

Sujeito C: torná-los indivíduos capazes de interagir com a sociedade, assim como a aprendizagem inclusiva.

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35

Sujeito P: Não sei as escolas públicas, mas as escolas particulares estão

abraçando esses alunos com o objetivo de passar ao mesmo uma boa

educação com respeito e visando o seu futuro.

Entretanto, não percebi com as observações que a escola proporciona ao

estudante com síndrome de Down a perspectiva de se sentir incluído muito menos

de se sentir sujeito e se relacionar com os demais estudantes, a criança é

matriculada, mas sua participação é restrita nas aulas, não sendo ofertada uma

educação igualitária que contribua para sua formação como de direito.

Entendo que a prática educativa deve ser um fenômeno constante e universal

inerente à vida social, sendo uma atividade humana real, que se constitui como

objetivo de conhecimento. A educação é um fenômeno social essencial à

constituição do homem e a sociedade, integrante, portanto da vida social,

econômica, política e cultural.

Diante do exposto precisamos saber se os profissionais passam por algum

tipo de formação que os preparem para lidar com a educação inclusiva.

Sujeito D: Sim. Através de cursos oferecidos por instituições públicas e privadas, Jornadas Pedagógicas, Seminários, Palestras etc.

Perguntei qual a atuação do diretor escolar quando se trata da educação

inclusiva: no que ele pode influenciar? Como você vê a participação/ação de: diretor,

coordenador, professores e pais no processo de inclusão?

Sujeito D: O movimento de inclusão está atrelado à construção de uma sociedade democrática, na qual todos nós educadores estamos envolvidos e devemos estar dispostos a exercitar a aceitação e o reconhecimento das diferenças.

Em se tratando do processo de inclusão percebemos que as respostas

demonstram que os sujeitos entendem e sabem qual deve ser a postura da escola e

dos profissionais que estão envolvidos diretamente com a prática educativa, como

diz a constituição: a educação é direito de todos indistintamente.

Page 37: Educação física inclusiva na escola: um estudo de caso em uma escola particular de serrinha- Bahia

36

Segundo a Constituição Federal que reserva seção específica para a

educação dispõe no Art. 205:

A educação direito de todos e dever do estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para a cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Precisei ainda perguntar com o intuito de perceber qual a postura da escola em

relação ao aluno com síndrome de Down: Qual a atuação do coordenador

pedagógico quando se trata da educação inclusiva no que ele pode influenciar.

Sujeito C: Levar os alunos a perceber a necessidade de convivência bem como a construção de atitudes menos discriminatórias e mais cooperativas, humanas e solidárias e a transformação da comunidade escolar levando a turma a perceber a necessidade de acolher a todos sem distinção de raça, ou credo, construindo assim uma sociedade justa para todos.

Também se faz importante perceber quais as dificuldades que a escola tem ao

acolher no ensino regular crianças com necessidades especiais, principalmente nas

aulas de educação física, a respeito de tal questionamento o sujeito responde:

Sujeito C: A escola atual não está preparada para receber alunos com necessidades especiais. No nosso caso se fez necessário, adaptação do plano pedagógico, bem como mudanças de estratégias do planejamento nas aulas de educação física tornando-as agradáveis, despertando interesse da criança

Percebi com as observações que a escola no seu aspecto físico apresenta

condições para atender o aluno com deficiência, possui rampas, banheiros

adaptados, porém nos aspectos políticos pedagógicos, principalmente o que se

refere às aulas de educação física foi percebido que a criança se relaciona de forma

muito vaga com os outros colegas e com o professor da disciplina no momento das

aulas de educação física, portanto seu desenvolvimento é comprometido. Mustacchi

(1990, p. 86), diz:

Page 38: Educação física inclusiva na escola: um estudo de caso em uma escola particular de serrinha- Bahia

37

A estimulação precoce é uma serie de exercícios que visa a desenvolver as capacidades da criança de acordo com a fase do desenvolvimento que ela se encontra. O desenvolvimento global da criança depende muito do ambiente em que vive, devendo ser tranqüilo, fornecendo a criança estímulos variados, realizados diariamente sempre com o envolvimento da família.

O que apresenta o autor deveria ser vivenciado na escola pela criança com

síndrome de Down, pois sua relação com o professor e com seus colegas, as

experiências trocadas irão sem dúvidas contribuir para estímulos de sociabilidade e

cada vez mais a garantia do desenvolvimento integral da criança.

5.3. O professor e a inclusão do aluno com síndrome de Down nas aulas de

educação física.

Para percebermos qual a relação do aluno com SD nas aulas de Educação

Física, se ele se sente incluído e/ou se relaciona com os colegas, se o componente

curricular contribui para o processo de desenvolvimento do aluno, perguntei aos

sujeitos sobre a importância do componente curricular educação física no processo

de desenvolvimento do aluno com SD.

Sujeito C: Com as aulas de educação física a criança pode receber inúmeros benefícios, tais como, senso de realização, consciência corporal, desafios físicos e mentais, melhoria da auto-estima, participação na comunidade, sensação de pertencer ao grupo e o mais importante, diversão. Sujeito P: Ela pode se relacionar com os colegas nas aulas práticas com as brincadeiras e não se sentir diferente dos outros colegas.

Posteriormente se a disciplina educação física propicia a inclusão de pessoas

com necessidades educacionais especiais? Quais as metodologias utilizadas com

as crianças com síndrome de Down?

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38

Sujeito C: Sim, como respondi na questão anterior, as atividades físicas faz com que a criança tenha oportunidade de descobrir áreas de interesse e destreza de forma prazerosa e positiva.

Sujeito P: Essa aluna que possui síndrome, claro que ela fica mais

afastada, mas daí o professor incentiva, conversa, realiza brincadeiras

com ela, para que nunca ela pense que por ela ser assim que ela vai

estar excluída da turma e das brincadeiras desenvolvidas em aula.

Embora os sujeitos colaboradores da pesquisa tenha respondido que a

disciplina de Educação Física tem contribuído com o desenvolvimento da criança

com síndrome de Down, que os professores intervêm pedagogicamente quando

sente a criança afastada dos colegas, percebi com as observações que a criança

com síndrome de Down nas aulas de educação física fica afastada das demais

pessoas do grupo, questiona-se então se essa prática é constante, se as escolas

que tem em suas aulas de educação física criança com Down estão realmente

preparadas para lidar com as necessidades especiais do educando com Down,

segundo a Declaração de Salamanca trazida na pesquisa a pratica escolar deveria

ser inclusiva e a escola deveria se ajustar a realidade e necessidade do educando:

As escolas devem ajustar-se a todas as crianças independentemente das suas condições físicas, sociais, lingüísticas ou outras. Neste conceito devem incluir-se crianças com deficiências ou super-dotadas, crianças da rua ou crianças que trabalham, crianças de população imigradas ou nômades, crianças de minoria lingüísticas, étnicas ou culturais e crianças de áreas ou grupos desfavorecidos ou marginais.” (Declaração de Salamanca: UNESCO, 1994).

A Declaração de Salamanca é um importante documento que define de fato

os avanços que as escolas deveriam ter em relação à Educação Inclusiva que é um

direito instituído ainda na Lei de Diretrizes e Base da Educação Brasileira e na

constituição Federal de 1988, diferentemente do que foi observado na escola na

qual fiz a minha pesquisa que o professor afirma que as aulas de educação física

contribuem com o desenvolvimento integral da criança com síndrome Down, e que

proporciona a inclusão da mesma, porém na prática percebi que ainda está muito

distante da inclusão de fato e de direito como merece a aluna com síndrome de

Down que freqüenta as aulas de educação física na escola.

Page 40: Educação física inclusiva na escola: um estudo de caso em uma escola particular de serrinha- Bahia

39

5.4. O aluno com síndrome de Down em relação à escola

Que relação o aluno com síndrome de Down estabelece com a escola? Foi a

pergunta direcionada à coordenadora para percebermos como se sente a criança

com síndrome de Down na escola pesquisada.

Sujeito C: desenvolve a capacidade de realização de atividades diárias bem como socialização, desenvolvimento cidadão, independência social.

O professor aponta em sua resposta a necessidade que a escola tem de fazer

com que os alunos com necessidades especiais possam interagir com as demais

crianças. A interação social, conforme Sassaki (1997) surge para derrubar a pratica

da exclusão sofrida pelas pessoas com necessidades especiais durante séculos. A

plena integração dessas pessoas acontece pela igualdade de oportunidades e

direitos, resultando num ambiente de convívio menos restrito com oportunidades

iguais para todos, constituindo assim processo de inclusão dinâmico e participativo

em todos os níveis sociais.

Questionei na intenção de relacionar as respostas dos sujeitos entrevistados

com as observações feitas: Quais as maiores dificuldades de aprendizagem

encontradas pelas crianças com síndrome de Down? Já que foi perceptível que não

há interação com a criança com síndrome de Down nas aulas de Educação Física

nem com as demais crianças e/ou com o professor, sobre esses aspectos os

sujeitos responderam que:

Sujeito P: Acho que não possui dificuldade nenhuma, tendo uma boa

equipe de professores para acompanhar e uma boa turma.

Fiz alguns questionamentos com o objetivo de entender porque a prática

observada se dissocia tanto das repostas dadas aos sujeitos, como pode ser

observado a seguir:

Page 41: Educação física inclusiva na escola: um estudo de caso em uma escola particular de serrinha- Bahia

40

1- A aluna com síndrome de Down tem maior interesse em quais atividades?

Quais fatores a distrai?

Sujeito P: Brincadeira com bolas, bambolê, petecas, etc.,

colegas correndo em quadra, fazendo cestas ou gol.

2- Como reage a frustrações? Os colegas sabem sobre a síndrome de Down?

Qual a relação dos colegas com a criança?

Sujeito P: Caso tenha algum problema (frustração), ela se sente magoada e tenta se isolar. Sim e compreendem e ajudam a colega. A relação dos colegas com a criança é ótima.

3- Quais as maiores dificuldades encontradas pelos alunos da turma?

Sujeito P: Mais crianças com síndrome em escolas, com certeza o seu

desenvolvimento seria muito mais rápido e divertido.

4- Quais as qualidades que você vê em seu aluno?

Sujeito P: Ela é uma aluna muito educada, inteligente e obediente nas atividades realizadas pelo professor.

Percebi então que o profissional até tenta que sua prática seja diferente em

relação à aluna com síndrome Down, quer ver qualidades e entende as dificuldades

que a criança com Down tem no dia-a-dia da escola e mais, que a criança poderia

interagir muito mais se tivessem outros colegas com síndrome de Down, porém,

quando a escolas opta por uma política de educação inclusiva, deve se entender

que a inclusão está entre os diferentes, como coloquei anteriormente, pensar a

inclusão é pensar nas pessoas que não possuem as mesmas oportunidades dentro

da sociedade. São elas: idosos, negros, pobres e pessoas com deficiência, como

Page 42: Educação física inclusiva na escola: um estudo de caso em uma escola particular de serrinha- Bahia

41

cadeirantes, deficiente visual, auditivo e mental. Pessoas essas que são excluídas

por não se encontrarem dentro dos padrões exigidos pela sociedade.

Para Soler (2005, p.33).

O diferente é aquele que não nos deixa esquecer que a insegurança, a provisoriedade e a relatividade fazem parte da nossa condição humana. Não é à toa que as pessoas que tem mais dificuldades em aceitar e conviver com essa insegurança da condição humana são as mais intolerantes e agressivas contra os diferentes.

Ser respeitada em suas diferenças e se sentir incluída ao freqüentar a escola,

as aulas de educação física são direitos que a aluna observada tem, que por vezes

a escola que foi lócus da pesquisa negou, seja porque no seu cotidiano corriqueiro a

escola não percebe que as diferenças devem ser tratadas como igual no direito que

o aluno tem que aprender, ou porque a escola matricula uma criança com síndrome

de Down, mas não esta preparada ainda em relação ao debate sobre a política de

inclusão educacional, uma vez que, a aluna com SD freqüenta as aulas, sobretudo

as de educação física e não é motivada a participar das atividades junto aos colegas

da turma.

Page 43: Educação física inclusiva na escola: um estudo de caso em uma escola particular de serrinha- Bahia

42

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa teve com objetivo verificar se a disciplina educação física na

escola regular propicia a inclusão de pessoas com necessidades educacionais

especiais, analisando a participação do educando. Para isso usou-se de um

referencial teórico que trouxesse o processo histórico de inclusão, os caminhos que

essa discussão percorreu no Brasil que foi caracterizada no primeiro capitulo desse

trabalho.

Dessa forma o trabalho monográfico obteve olhares acerca do trabalho do

profissional, professor de Educação física que tem em sua turma, uma aluna com

necessidades especiais (síndrome de Down). O olhar sobre a escola regular em

relação à política de inclusão tornou-se uma necessidade, tendo em vista que a

relação entre o que reza as Leis educacionais como a LDB 9394/96 no capítulo que

dá tratamento a inclusão e o que diz a Constituição Federal de 1988 a educação é

direito de todos indistintamente, não garante de fato que o diferente seja aceito nos

âmbitos da sala de aula.

O reconhecimento das diferenças defendendo que ela dá sentido ao processo

de aprendizagem na troca de experiências entre os sujeitos que compõem a

comunidade escolar tornou-se cada vez mais na contemporaneidade uma

necessidade e uma obrigatoriedade, pois a escola, ou seja, a gestão escolar deve

entender que o ato de aprender é direito intransferível do aluno, seja ele homem,

mulher, branco, negro, magro, gordo, com necessidades especiais, cada um tem

uma carga cultural e uma vivencia em comunidade, em sua localidade que pode

contribuir para a aprendizagem do outro e a escola contemporânea deve contribuir

com esse aspecto na apresentação de seus conteúdos programáticos.

Embora a educação inclusiva seja bastante discutida na atualidade com o

intuito de promover o respeito às diversidades humanas e a fim de atingir o dever de

proporcionar oportunidades a todos, muitos questionamentos e conceitos ainda

precisam ser ajustados para que a perspectiva da inclusão tenha efeitos relevantes

na prática.

Existe, de fato, uma grande preocupação quanto à infra-estrutura da escola,

elas esta se adequando cada vez melhor para receber pessoas com deficiência,

contudo, percebe-se que os profissionais envolvidos no processo de inclusão,

Page 44: Educação física inclusiva na escola: um estudo de caso em uma escola particular de serrinha- Bahia

43

apesar da disposição e do desejo de trabalhar com as diferenças de forma

adequada, ainda precisam passar por uma melhor qualificação.

A legislação ainda que seja extremamente favorável ao processo de inclusão

de alunos com necessidades especiais em escolas regulares, é notório que muitas

crianças com deficiência ainda ficam fora deste contexto escolar, por motivos cada

vez mais injustificáveis.

As crianças têm o direito de aprender e a escola não pode ser reprodutora da

exclusão, a escola precisa postar-se como um espaço que garanta a aprendizagem

coletiva fazendo com que a comunidade escolar entenda que seus sujeitos são

diferentes e possui vivências diferentes, embora as diferenças devam ser

reconhecidas no processo de aprendizagem, a inclusão de fato acontecerá na

medida que as pessoas sejam encaradas como pessoas.

Ainda há muito que fazer para se alcançar uma educação física inclusiva,

para isso as aulas devem propiciar aos alunos através das atividades, momentos

construtivos e ao mesmo tempo prazerosos, possibilitando uma atitude de respeito,

aceitação e solidariedade entre todos do grupo, onde essas pessoas não se sintam

apenas incluídas e sim integradas com o grupo o qual fazem parte.

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44

REFERÊNCIAS ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de. Estudo de caso e avaliação educacional. Brasília: Líder Livro Editora, 2005. ASSOCIAÇÃO DE PAIS E AMIGOS DOS EXCEPCIONAIS: Federação Nacional das APAES. Disponível em: < http://www.apaebrasil.org.br BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é Educação. São Paulo: Brasiliense, 1997. BRASIL. Constituição (1988). Constituição: República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal. 1988. ________.Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional- Lei 9.394/1996, de 20 de dezembro de 1996. Brasília, MEC, 1996. ________.Parâmetros Curriculares Nacionais/Adaptações Curriculares. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria de Educação Fundamental. Secretaria de Educação Especial.. Brasília: MEC, 1997 _________. Declaração de Salamanca e Linhas de Ação sobre Necessidades Educativas Especiais. Ministério da Justiça. Brasília: CORDE, 1997 __________. Parâmetros Curriculares Nacionais: adaptações curriculares. Brasil. ____________Parâmetros curriculares nacionais : Educação Física / Secretaria de Educação Fundamental. . Brasília : MEC /SEF, 1998. _________. Plano de Desenvolvimento da Educação: razões, princípios e programas. Ministério da Educação, Brasília: MEC 2007. DEMO, Pedro. Pesquisa: princípios científico e educativo. 9. ed. São Paulo: Cortez, 2002. DURKHEM, Émile. A educação como processo socializador função homogeneizadora e função diferenciadora. In: PEREIRA e FORACCHI. Educação e sociedade . São Paulo: Nacional. S/D.

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FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

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Page 46: Educação física inclusiva na escola: um estudo de caso em uma escola particular de serrinha- Bahia

45

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GÓES, Maria Cecília Rafael De, e LAPLANE, Adriana Frisman de, Políticas e práticas de educação inclusiva. – 2.ed – Campinas, SP, Autores associados, 2007.- (Coleção educação contemporânea)

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MITTLER, Peter. Educação inclusiva: Contextos sociais. Porto Alegre: Artmed, 2003.

OLIVEIRA, Maria Marly. Como fazer pesquisa qualitativa. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007. SASSAKI, R. K. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 1997. SAVIANI, Dermeval. Os desafios da Educação pública na Sociedade de classes. In: ORSO, Paulino José (org.) Educação sociedade de classes e reforma Universitária. Campinas, SP: Autores Associados,2007. SILVA, A. P. S.; ROSSETTI-FERREIRA, M. C. Desafios atuais da educação infantil e da qualificação de seus profissionais: onde o discurso e a prática se encontram? Disponível: www.anped.org.br. SOLER, Reinaldo, Educação física inclusiva: em busca de uma escola plural / Reinaldo Soler. – Rio de Janeiro: Sprint, 2005.

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______________. Formação social da mente. São Paulo: Martins fontes, 1994.

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ANEXOS

Anexo A

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FICHA DE ACOMPANHAMENTO

Prezado (a) Senhor (a)

Para a realização dessa pesquisa é necessário obter algumas informações sobre “O

processo de inclusão do aluno com síndrome de Down nas aulas de educação física

na escola”, para tal solicito a sua colaboração respondendo as questões abaixo.

Nome da Escola/Colégio: ________________________________________

Bairro: _____________________________

Rede publica Municipal ( ) Rede publica Estadual ( ) privada ( )

Nº. de alunos matriculados: ___________

1. Existem alunos com síndrome de Down matriculados? Sim ( ) Não ( )

2. Nº. de alunos com síndrome de Down matriculados: ______

3. Os alunos com síndrome de Down participam das aulas de Ed. Física? Sim (

)Não ( )

4. Caso a resposta acima for NÃO, explique o motivo.

___________________________________________________________________

___________________________________________________________

5. Nº. de alunos com síndrome de Down nas aulas de Ed. Física: ______

Anexo B

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Roteiro de observação

1- ESTRUTURA

Há rampas de acesso?

Sim ( ) Não ( )

Obs:________________________________________________________________

Os banheiros são adaptados

Sim ( ) Não ( )

Obs:________________________________________________________________

Os espaços reservados às aulas de educação física oferecem segurança ao aluno

com necessidades especiais?

Sim ( ) Não ( )

Obs:________________________________________________________________

2. PEDAGÓGICO

O projeto político pedagógico da escola atende a perspectiva da educação

inclusiva?

Sim ( ) Não ( )

Obs:________________________________________________________________

Os profissionais de educação da escola estão preparados para lidar com a inclusão?

Sim ( ) Não ( )

Obs:________________________________________________________________

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A ação didática do professor contribui para o desenvolvimento do educando com

síndrome de Down?

Sim ( ) Não ( )

Obs:________________________________________________________________

3- A CRIANÇA

Como a criança se relaciona com os colegas?

Obs:________________________________________________________________

Como se apresenta na relação com o professor de educação física?

Obs:________________________________________________________________

Como a criança se comporta durante as atividades na aula de educação física?

Obs:________________________________________________________________

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Anexo C

Diretor (a) escolar

Prezado (a) Senhor (a)

Para a realização dessa pesquisa é necessário obter algumas informações sobre “O processo de inclusão do aluno com síndrome de Down nas aulas de educação física na escola”, para tal solicito a sua colaboração respondendo as questões abaixo.

1. Fale um pouco sobre você e a profissão.

2. Para você o que significa inclusão?

3. Que perspectiva é dada pela escola para a inclusão de alunos com síndrome

de Down?

4. Qual a atuação do diretor escolar quando se trata da educação inclusiva: no

que ele pode influenciar?

5. Como você vê a participação/ação de: diretor, coordenador, professores e

pais no processo de inclusão?

6. Os profissionais passam por algum tipo de formação que os preparem para

lhe dar com a educação inclusiva?

7. A escola possui professores e/ou recursos especializados para atender a

crianças com síndrome de Down?

Respostas

Page 52: Educação física inclusiva na escola: um estudo de caso em uma escola particular de serrinha- Bahia

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Anexo D

Coordenador (a) pedagógico

Prezado (a) Senhor (a)

Para a realização dessa pesquisa é necessário obter algumas informações sobre “O processo de inclusão do aluno com síndrome de Down nas aulas de educação física na escola”, para tal solicito a sua colaboração respondendo as questões abaixo.

1. Fale um pouco sobre você e a profissão.

2. Para você o que significa inclusão?

3. Que perspectiva é dada pela escola para a inclusão de alunos com síndrome

de Down?

4. Qual a atuação do coordenado pedagógico quando se trata da educação

inclusiva/ no que ele pode influenciar?

5. Quais as dificuldades que a escola tem ao acolher no ensino regular crianças

com necessidades especiais, principalmente nas aulas de educação física?

6. Qual a importância da disciplina Educação física no processo de

desenvolvimento do Down?

7. A disciplina Educação física propicia a inclusão de pessoas com

necessidades educacionais especiais?

8. Que relação o aluno com síndrome de Down estabelece com a escola?

Respostas

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Anexo E

Professor (a) da Disciplina Educação física

Prezado (a) Senhor (a)

Para a realização dessa pesquisa é necessário obter algumas informações sobre “O processo de inclusão do aluno com síndrome de Down nas aulas de educação física na escola”, para tal solicito a sua colaboração respondendo as questões abaixo.

1. Fale um pouco sobre você e sua profissão.

2. Para você o que significa inclusão?

3. Que perspectiva é dada pela escola para a inclusão de alunos com síndrome de

Down?

4. Você encontra apoio pedagógico para atender os alunos com síndrome de

Down?

5. Quais as metodologias utilizadas com as crianças com síndrome de Down?

6. Quais as maiores dificuldades de aprendizagem encontradas pelas crianças com

síndrome de Down?

7. O aluno com síndrome de Down tem maior interesse em atividades envolvendo:

8. Qual o tempo de permanência em uma atividade?

9. Quais fatores os distraem?

10. Como o aluno se comunica? Ele tem boa oralidade?

11. Como reage a frustrações?

12. Tem autonomia em atividades da vida diária? Movimenta-se pela escola e se

alimenta com autonomia?

13. Tem iniciativas?

14. Compreende as atividades?

15. Os colegas sabem sobre a síndrome de Down?

16. Qual a relação dos colegas com a criança?

17. Como você avalia a freqüência e a participação do educando com necessidades

especiais?

18. Quais a maiores dificuldades encontradas pelos alunos?

19. Quais as qualidades que você vê em seu aluno?

Respostas

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Anexo F

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

CAMPUS II – ALAGOINHAS DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – DEDC

Termo de Consentimento

Eu, Raul Carneiro Rocha estudante do curso de Licenciatura em Educação Física na

Universidade do Estado da Bahia – UNEB Campus II, estou em processo de

conclusão de curso na realização do trabalho monográfico. Trata-se de um estudo

sobre o processo de inclusão do aluno com síndrome de Down nas aulas de

educação física na escola regular, no município de Serrinha – Bahia. Para tal

pesquisa é necessário intervenção na instituição, com observação das atividades

realizadas pelo grupo e realização de questionários com o corpo docente,

comprometendo-me com o sigilo com relação ao nome e imagens do (s) sujeito (s).

Aceito participar da pesquisa ( ) Não aceito participar da pesquisa ( )

_________________________________________________________ Raul Carneiro Rocha

________________________________________________________

Assinatura do (a) Diretor (a) do Colégio

ALAGOINHAS 2012