educação física escolar e meio ambiente

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Educao Fsica escolar e meio ambiente: reflexes e aplicaes pedaggicas*Professor da FEF MACKENZIE. **Professora da Unesp - Rio Claro, e orientadora da dissertao defendida em dezembro de 2002. (Brasil)

Prof. Ms Luiz Henrique Rodrigues*[email protected]

Prof. Dra. Suraya Cristina Darido** Resumo Construir um campo ilustrativo, explorando a rede de significados que emerge da aproximao entre a Educao Fsica e a Temtica Ambiental coloca-se como o objetivo deste trabalho. Como resultado, so apresentados algumas propostas e seus encaminhamentos pedaggicos abordando os temas relacionados anlise dos ciclos corporais e as suas relaes com os ciclos da natureza, as interferncias climticas nas aulas de Educao Fsica escolar, as reflexes sobre a disponibilidade e o estado de conservao dos espaos pblicos e privados de esporte e lazer como tambm os espaos destinados s aulas de Educao Fsica na escola, as relaes que se constroem a partir da aproximao entre as temticas da sade e do meio ambiente em aulas de educao fsica, a anlise crtica relacionada s propostas dos esportes de aventura enquanto um estmulo preservao do meio ambiente. Unitermos: Educao Fsica. Educao Ambiental. Parmetros Curriculares Nacionais. Temas Transversais.http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Ao 11 - N 100 - Septiembre de 2006

IntroduoCom a divulgao dos Parmetros Curriculares Nacionais brasileiros (1997 e 1998), a temtica relacionada ao Meio Ambiente, juntamente com tica, Sade, Orientao Sexual, Pluralidade Cultural, Sexualidade e Trabalho e Consumo - por envolverem mltiplos aspectos e diferentes dimenses da vida social, vem merecendo um lugar de destaque nas discusses relacionadas elaborao e implementao de novas propostas educacionais, muito embora essas temticas no sejam recorrentes na Educao Fsica. Que relaes podem ser construdas a partir da aproximao entre a temtica relacionada ao Meio Ambiente e as aulas de Educao Fsica Escolar? Que referncias conceituais servem de subsdio para essa aproximao? Qual abordagem metodolgica viabiliza a aproximao desses dois ncleos temticos? O ambiente escolar compreende tais conceitos? Os fatos cotidianos nos encaminham para a necessidade de um entendimento mais aprofundado e ao mesmo tempo, ampliado de inmeros conceitos, entre os quais, o Meio Ambiente. Entendimento este que se d a partir das relaes, das interfaces, da construo de uma rede de significados que impem uma nova ordem, dando um sentido diferenciado Escola, Sociedade, ao Universo. Construir um campo ilustrativo, explorando essa rede de significados, com aplicaes no contexto da Educao Fsica Escolar, parece ser um desafio promissor e coloca-se como uma das principais finalidades deste estudo. O discurso da Educao Ambiental Os primeiros movimentos considerando a contribuio do processo educativo relacionados questo ambiental ocorreram em meados da dcada de 60. As referncias bsicas para a estruturao da educao ambiental como uma rea do conhecimento aplicado encontram-se nos documentos produzidos pela UNESCO, especialmente na Carta de Belgrado, de 1976, e no documento produzido em Tbilisi, em 1983 e 1985. Como metas para a educao ambiental, prope o desenvolvimento da conscincia em relao interdependncia das esferas econmica, social, poltica e ecolgica em reas urbanas e suburbanas e como dotar os indivduos de conhecimentos, atitudes, motivaes, engajamento e instrumentos para a soluo e preveno de problemas. Como objetivos da educao ambiental, so colocados a aquisio de conhecimentos, atitudes e valores sociais que levem participao ativa na melhoria do meio ambiente.

Destaca-se a necessidade da abordagem dos aspectos relacionados ao meio biofsico do homem e as suas complexas relaes, bem como as formas de interao do homem com o ambiente, nas dimenses poltica, social e cultural. Outros pontos a serem considerados so as conseqncias da onda tecnolgica que envolve a sociedade, para que o cidado possa fazer escolhas, tanto do ponto de vista ambiental como social. O debate em torno do termo desenvolvimento sustentvel, apresentado pelo Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), em 1991, como melhoria da qualidade de vida humana dentro dos limites da capacidade de suporte dos ecossistemas (Brasil, 1998, p.177), introduziu o termo sustentabilidade. Em Thessaloniki, dezembro de 1997, a temtica da sustentabilidade assumiu a centralidade das discusses. Educao Fsica e meio ambiente: algumas possibilidades Olhar o meio ambiente e toda a sua complexidade a partir das aulas de educao fsica tarefa extremamente delicada, dada abrangncia e a profundidade das temticas. Algumas temticas e suas discusses se sobrepem, o que, ao invs de ser considerado negativo, pode ser mais um instrumento para o enfrentamento da realidade social. Temas e possibilidades de trabalho em aulas de Educao Fsica Meio ambiente, temperatura e aulas de Educao Fsica A anlise da incidncia de sol e chuva em quadras externas e as solues para a diminuio das interferncias negativas dos fatores climticos nas aulas poderiam configurar-se em um projeto de trabalho. Alguns encaminhamentos seriam, no caso da incidncia de sol, os plantios de rvores que deve levar em considerao o tempo de crescimento, o posicionamento, o tipo de rvore e de copa, as correes no solo para melhor germinao, o espaamento entre as rvores como tambm a construo de uma cobertura artificial. Poderia ser avaliado o material a ser utilizado, o impacto ambiental gerado para a construo da cobertura, produo da matria-prima a ser utilizada, a disponibilidade de recursos financeiros, a forma de captao... A partir da problematizao de um fato relacionado aula de educao fsica, estaramos mobilizando uma srie de conhecimentos (conceituais, procedimentais e atitudinais) que poderiam ser extremamente teis ao cotidiano dos alunos sobretudo pelo fato de estimular a vivncia social cidad. Educao Fsica, Lazer e Meio Ambiente Outro grande tpico apresentado pelo tema transversal meio ambiente prope-se analisar as diversas maneiras de relacionamento entre a sociedade e o meio ambiente. Uma interface promissora dentro dessa temtica relaciona-se s reflexes sobre a extino ou privatizao dos espaos pblicos destinados as atividades de lazer e recreao. Entender as razes histricas e estruturais responsveis pela apropriao dos espaos pblicos de lazer e buscar alternativas para assegurar condies mnimas de segurana e adequao bem como estratgias para a ampliao da oferta dos espaos por parte dos rgos pblicos caracterizam-se como uma ao pedaggica significativa. A efetivao da cidadania pela Educao Fsica, passa pelas discusses envolvendo o lazer e a disponibilidade de espaos pblicos para as prticas da cultura corporal de movimento. Essas so necessidades essenciais ao homem contemporneo e, por isso, direitos do cidado. Os alunos podem compreender que os esportes e as demais atividades corporais no devem ser apenas privilgio dos esportistas profissionais ou das pessoas em condies de pagar academias ou clubes. Dar valor a essas atividades e reivindicar acesso a centros esportivos e de lazer e programas de praticas corporais dirigidos populao em geral pode ser incentivado a partir dos conhecimentos adquiridos nas aulas de Educao Fsica. Espaos disponveis para as aulas de Educao Fsica A problemtica da inadequao do espao fsico para a prtica de atividades corporais tambm pode ser identificada no interior das escolas, especialmente das pblicas. Um caminho possvel o envolvimento da comunidade local, visto que a escassez de espaos pblicos para o lazer e para o esporte coloca-se como uma realidade com desdobramentos sociais que merecem ser analisados. Seria ingnuo acreditar que a simples construo de uma quadra ou equipamento ldico/esportivo qualquer traria solues para os problemas estruturais da sociedade.

Cabe aos envolvidos com a escola refletir e procurar solues para a diminuio ou, mesmo, extino dessa problemtica. A depredao dos prdios escolares tambm tem sido motivo de grandes preocupaes para todos. A recuperao dos espaos, muitas vezes, torna-se mais difcil do que a construo de novo equipamento. Refletir sobre essas questes, bem como desenvolver atitudes de preservao e conservao, configura-se como mais uma possibilidade que pode ser trabalhada nas aulas de Educao Fsica. Sade e Meio Ambiente A interface entre a sade e o meio ambiente abre significativas possibilidades pedaggicas em aulas de Educao Fsica e pode ser abordada como uma temtica social. O entendimento de sade deve estar vinculado a uma poltica pblica, direcionada a toda a populao e no a uma elite, a interveno no esteja restrita a uma nica ao (praticar atividade fsica), esquecendo os fatores sociais, econmicos, culturais, educacionais, etc. A concepo de sade deve envolver a complexidade das relaes entre o indivduo e o meio ambiente, considerando as desigualdades sociais, fruto da m distribuio de renda. Palma (2001) aponta: "a pobreza, a sade e a educao, assim, se inter-relacionam numa rede de interaes, onde os baixos salrios, a m educao, a dieta pobre, a habitao e as condies de higiene insalubres e o vesturio inadequado se influenciam mutuamente". (p.30). Os PCNs da Educao Fsica pretendem assegurar a autonomia necessria para os alunos agirem criticamente sobre os programas de sade pblica como tambm em qualquer vivncia relacionada cultura corporal de movimento. Esportes de aventura e o Meio Ambiente Em oposio vertente institucionalizada do esporte espetculo em que preponderam as prticas mecanizadas, a eficcia do rendimento corporal e a produo de bens e servios, os esportes de aventura buscam, segundo Costa (2000), resgatar os valores de beleza, auto-realizao, liberdade, cooperao e solidariedade. necessrio, ento, um olhar mais cuidadoso em relao insero dos esportes de aventura e as suas influncias no cenrio da cultura corporal de movimento. O movimento esportivo institucional assume posio de destaque do ponto de vista social e exerce grande influncia nas atividades escolares. Como um dos elementos que compem a cultura corporal de movimento, o esporte coloca-se como objeto de estudo, tendo em vista as suas interfaces com o movimento ambientalista. Da Costa (1997), ao analisar a Declarao do Rio de Janeiro como o resultado final da Conferncia das Naes Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, cita o princpio, da reduo e eliminao de padres de produo e consumo no-sustentveis (p.23), no qual o desporto colocado como um padro, devido a sua crescente expanso, por vezes de forma no saudvel sociedade e freqentemente, em desarmonia com a natureza. De acordo com o autor, inmeras discusses tm sido desencadeadas no meio desportivo, abrangendo as federaes regionais, nacionais e, mesmo, o Comit Olmpico Internacional, buscando encaminhamentos para a adequao nova ordem, qual seja, a gesto de um desporto sustentvel. Bento (1991, citado por Da Costa, 1997) constata que "o cenrio desportivo, impulsionado por uma primeira tendncia de trazer o desporto do exterior para o interior, para o espao fechado e coberto, hoje marcado por uma segunda tendncia, nomeadamente a de levar o desporto para o espao aberto, para o ar livre, para o exterior, para a natureza" (p.61). Tal tendncia pode ser evidenciada pela crescente busca dos esportes de aventura, o que pode carregar valores que retratam uma nova dimenso do relacionamento homem-natureza. A relao entre os esportes de aventura e os esportes tradicionais, pode conter grande potencial educacional. Piageassou (1997a), compara o sistema de pensamento tradicional com o sistema de pensamento ambientalista, conforme o quadro 2:

Quadro 2: Comparao entre o desporto sob a influncia do pensamento tradicional e o pensamento ambientalista, Piageassou (1997).

Piageaussou (1997b) aponta essa tendncia como uma nova forma de mediao desportiva que supera as formas tradicionais de competio e oposio (p.126). Costa (2000) constata que a opo por modalidades esportivas sob a tica ambientalista tem como motivao a superao de obstculos na busca do autoconhecimento, da auto-realizao, da satisfao pessoal, nas quais so reintroduzidas as noes de jogo e de prazer, tais como a fantasia, o desejo, o sonho, o desafio e a vertigem. O esporte de aventura, sobretudo aquele realizado junto natureza, representa mais uma possibilidade de aproximao entre o indivduo e o meio ambiente, devido interao com os elementos naturais e as suas variaes, como sol, vento, montanha, rios, vegetao densa ou desmatada, lua, chuva, tempestade, desencadeando atitudes de admirao, respeito e preservao. Seria ingnuo acreditar que o simples contato com a natureza fosse condio suficiente considerar o indivduo como defensor do meio ambiente. Tais temticas so muito amplas e ultimamente vm merecendo grande destaque, especialmente por parte da mdia, o que pode ser entendido como colaborao ou tambm como gerador de problemas. A pluralidade de idias e de propostas prticas fundamental para o debate educacional e para a consolidao da representatividade social da Educao Fsica. Consideraes finais Aproximar trs realidades, a Educao Fsica, o Meio Ambiente e a Escola, em constante processo de atualizao e transformao, demanda cuidados e ousadia. So temticas que isoladamente vm merecendo um destaque significativo nos meios de comunicao de massa, o que tambm deve ser olhado com ressalvas. Os temas relacionados anlise dos ciclos corporais e suas relaes com os ciclos da natureza, as interferncias climticas, a disponibilidade e o estado de conservao dos espaos pblicos e privados de esporte e lazer como tambm os espaos destinados s aulas de Educao Fsica, as relaes que se constrem a partir da aproximao entre as temticas da sade e do meio ambiente, a anlise crtica relacionada s propostas dos esportes de aventura como um estmulo preservao do meio ambiente, configuram-se como propostas e encaminhamentos pedaggicos. Tais propostas bem como as sugestes de tratamento metodolgico s se tornaro viveis, se os profissionais apropriarem delas e as transformarem, tendo em vista a realidade onde se encontram. Referncias bibliogrficas BRASIL. Parmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos: Apresentao dos Temas Transversais/ Secretaria de Ensino Fundamental. Braslia: MEC/SEF, 1998. COSTA, V. L. de M. Esportes de aventura e risco na montanha: Um mergulho no imaginrio. Barueri: Manole, 2000. DA COSTA, L. P. Environment and Sport: an international overview. Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica, Universidade do Porto, Porto, Portugal, 1997. PALMA, A. Educao Fsica, corpo e sade: uma reflexo sobre outros modos de olhar. . Revista Brasileira de Cincias do Esporte. n.2 v.22 p.23-39, 2001. PIGEAUSSOU, C. The various forms of environmentalist thinking within the field of sports activities: Fron the utopic to the realistic. In: DA COSTA, L. P. Environment and Sport: an international overview. Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica, Universidade do Porto, Porto, Portugal, 1997a. Mutations du sport et de son environnement: Evolution ou revolution? D'une aproche pragmatique une reflexion antropologique, perspectives francaises. In: DA COSTA, L. P. Environment and Sport: an international overview. Faculdade de Cincias do Desporto e Educao Fsica, Universidade do Porto, Porto, Portugal, 1997b.

A Educao Ambiental no contexto da Educao Fsica EscolarInstituto Estadual de Educao Ponche Verde Escola Superior de Educao Fsica - UFPel (Brasil)

Prof. Esp. Jos Eduardo Nunes de Vargas* Prof. Ms. Francisco Jos Pereira Tavares**[email protected]

Resumo O presente estudo teve como objetivo elaborar uma proposta para o desenvolvimento da Educao Ambiental (EA) no meio escolar atravs da Educao Fsica (EF). Inicialmente identificamos as questes que nortearam o estudo, onde procuramos determinar como a EF pode contribuir na formao de valores e atitudes meio ambientais no meio escolar. Para tanto partimos da contextualizao da EA, a partir de uma abordagem integrada do homem com o entorno. Aps identificamos a competitividade e excluso presentes no cotidiano da EF escolar. Com base no referencial terico utilizado elaboramos uma proposio de EF Escolar num modelo de EA. Nesta proposta, identificamos os contedos que devem ser trabalhados nas aulas de EF, definidos segundo os Parmetros Curriculares Nacionais e apontamos para a necessidade destes contedos estarem alicerados por uma nova tica que privilegie a educao em valores a partir de pressupostos como cooperao, igualdade de direitos, autonomia, democracia e participao. Como encaminhamento final, acreditamos que as reflexes aqui apresentadas possam contribuir, seno para a implementao de um projeto de ambientalizao no contexto escolar, ao menos possam ser consideradas algumas proposies ou sugestes a que nos referimos, como rumo inicial que possa nortear outras formulaes.http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Ao 10 - N 69 - Febrero de 2004

IntroduoO mundo atual vive uma grave crise de valores e oportunidades protagonizada por vrios sculos de explorao e desigualdades. No entanto, esta viso, alicerada sobre valores antropocntricos e fragmentados, centra seu enfoque no ser humano e precisa ser superada por uma outra que privilegie a interdependncia, a igualdade de oportunidades e a solidariedade, com uma nova viso a cerca da relao do homem com o entorno. Neste sentido Reigota (1994) sustenta e identifica uma proposta que vai alm de um mero sinnimo de meio natural. Para tanto Tavares (2002) difere claramente Meio Ambiente de Educao Ambiental: Meio ambiente - Definido como o lugar determinado e ou percebido onde os aspectos naturais e sociais esto em relaes dinmicas e em constante interao, acarretando processos de transformao da natureza e da sociedade. Educao Ambiental - Ser entendida como uma perspectiva educativa, com carter de educao permanente, que pode estar presente em todas as disciplinas, na

tentativa de enfocar a compreenso e resoluo de todos os problemas ambientais planetrios. Temos convico de que as idias meio ambientais devem estar presentes em todos os espaos que educam o cidado, desde praas e reservas ecolgicas, passando por sindicatos e movimentos sociais, at chegar ao sistema educacional, este considerado como um dos locais privilegiados para a consecuo da EA (Reigota, 1994). O que concordam Medina e Santos (2000), quando justificam a insero da EA no currculo, no sentido de uma renovao educativa escolar visando uma melhoria na qualidade de ensino, respondendo s necessidades cognitivas, afetivas e ticas, capaz de contribuir para o desenvolvimento integral do sujeito. Para isto se faz necessrio uma transformao nos valores e atitudes, afirma Guimares (2000), para que se ande em direo a uma nova tica, sensibilizadora e transformadora para as relaes integradas homem/sociedade/meio ambiente. O que pode ser observado no esquema que segue (figura 1), onde caracterizamos um modelo de EA, adaptado de Gonzles Muoz (1999) e referido por Tavares (2002) quando afirma que a Educao Ambiental caracteriza-se por ter um enfoque interdisciplinar, onde as condutas em relao ao entorno devem estar em constante aprendizado. Um novo entendimento na relao do ser humano com o ambiente ento deve ser concebido, partindo de uma leitura crtica e reflexiva do entorno, caracterizada por um pensar global cerca das problemticas meio ambientais a partir da ao local. Este pensamento deve ter claro que os recursos naturais de nosso planeta so finitos e necessitam uma maior ateno cerca dos recursos renovveis e no renovveis, conjuntamente a uma justa redistribuio e solidariedade que outro princpio da Educao Ambiental. Finalmente esta solidariedade se far presente a partir de uma nova tica, sensibilizadora e transformadora para as relaes integradas homem/sociedade/meio ambiente, privilegiando o alcance de uma melhor qualidade de vida para todos os seres deste planeta. Por outro lado constatamos a Educao Fsica moldada em arqutipos olmpicos, onde as modalidades esportivas se dedicam ao rendimento e ao alto nvel. Este sistema de competio escolar reflete de maneira clara esta constatao, que vai do plano local, passando pelo estadual at chegar ao federal. Enquanto orientada nos moldes do esporte de alto nvel a Educao Fsica Escolar coloca o aluno mais como objeto do que como sujeito e indivduo - exerccios articulares geomtricos, proporcionados pela calistenia; formalismo diretivo do mtodo Francs; e prontides especiais de movimentos, caracterizadas pelo esporte de alto rendimento. As aulas nem sequer motivam e preparam o discente para efetuar em seu tempo livre uma prtica esportiva que se reflita por toda a vida (Dieckert, Kurz & Brodtmann, 1985). O binmio Educao Fsica - Esportes, encontrado dentro das escolas, segundo Moreira (1993) coloca a disciplina como um contedo sem identidade e acrtico. A Educao Fsica escolar necessita de uma nova antropologia, onde os modelos de movimento estejam de acordo com a cultura deste pas extremamente rico culturalmente, conforme citam Dieckert, Kurz & Brodtmann (1985).Figura 1 - O paradigma da Educao Ambiental: organizao esquemtica

Segundo Negrn Prez e Torrez Vsquez (2000) a formao de convices meio ambientais, atravs da EF, contribui na formao de geraes de homens preocupados com o humano, tendo em vista que o meio ambiente no responsabilidade somente das Cincias Naturais, pois seu enfoque interdisciplinar, alm de multidisciplinar. Os pressupostos que fundamentam uma Educao Fsica num paradigma ambientalizado no meio escolar, para fins de consecuo desta investigao, esto alicerados nas proposies de Negrn Prez e Torrez Vsquez (2000), e que explicitamos a seguir: Ao identificar o aluno com seu meio natural a EF permite formar convices meio ambientais; O desfrute nos alunos pela descoberta de suas possibilidades na preservao do meio natural; A compreenso e aprendizagem de conceitos meio ambientais relacionados com a EF, torna a atividade mais dinmica e prazerosa; O trabalho no espao natural provoca uma disposio positiva acerca da natureza; As relaes interpessoais e de grupo encontram-se favorecidas. Por realizarem-se em sua maioria ao ar livre, as atividades pertinentes a EF, se configuram como um timo momento para a formao de convices meio ambientais e proteo do meio ambiente. Alm disto, o contato direto com o meio natural e seus objetivos baseados na eliminao do stress e da sobrecarga intelectual alm da manuteno da qualidade de vida colocam a possibilidade do trabalho de uma EA, enfatizam Negrn Prez e Torrez Vsquez (op cit).

Alm disso, o meio natural apresenta-se como local de grande interesse por parte dos alunos na medida que so realizadas atividades como: Saneamento na comunidade, reas naturais e no prprio espao da EF; Excurses; Acampamentos recreativos; Recreao turstica como trilhas; Cuidado e preservao das reas desportivas; Higiene pessoal e do vesturio, assim como da escola; Exposies e outras atividades organizadas pelos estudantes; Debates e seminrios em grupos sobre determinado tema. Finalmente, a ltima proposio apresentada por Negrn Prez e Torrez Vasquez (2000), se refere s relaes interpessoais, as quais so analisadas por Vanzan (2000), quando observa que estas relaes esto aliceradas em princpios que buscam o resgate de valores onde hoje, em grande parte da sociedade, esto esquecidos. Estes valores so considerados como uma crena duradoura onde um modo de conduta preferido de forma pessoal e social em relao a outro. As preferncias por determinada maneira de ser so adquiridas atravs dos processos de socializao, por tanto no relacionamento interpessoal os valores so confrontados, aprendem a coexistir e so justificados em uma relao intersubjetiva carregada de significados. A partir disto se estrutura e organiza uma escala de valores. Identificamo-nos com a indicao dos valores que a escola deve promover, apresentados por Vanzan (op cit), onde se encontram a dignidade, a liberdade, o amor, a paz, a convivncia, a justia, a liberdade e a tolerncia. Contudo observamos que estes somente sero alcanados pelos discentes medida que o ambiente escolar estiver alicerado nos valores citados, onde os docentes estejam com estes explicitados em suas maneiras de ser e a partir da em sua prtica educacional. Neste momento estaremos realizando em nossa prtica docente uma EA, Educao esta que se diz, conforme afirma Guimares (2000), transformadora de valores e atitudes atravs da construo de novos hbitos e conhecimentos, criando uma nova tica, sensibilizadora e conscientizadora no processo relacional. No intuito de promover esta mudana de paradigma em relao aos valores pessoais, a EF utiliza os jogos motores como instrumentos que permitem a oportunidade de criticar, acordar e elaborar normas para a construo de uma forma de pensar e agir harmoniosa e integradora que busque a transformao do atual quadro ambiental do nosso planeta. Para Vanzan (2000) o jogo por si s no bom ou ruim o que deve ser revisto a forma de utilizao do mesmo, a partir da concepo sociolgica do professor que os apresenta, que pode ser a de cumplicidade ou criticidade frente aos valores e idias do modelo dominante. Pois a forma (modo de jogar, restries, etc.) e o contedo (noes, habilidades e atitudes implicadas) do jogo iro afetar a conscincia dos alunos. Por tudo isto o educador deve se perguntar, conforme refere Skliar (2000): Qual minha atitude pessoal e profissional frente realidade? Para que modelo de homem trabalho? Quais so meus objetivos e minhas intenes na hora de propor um jogo? A partir do esclarecimento dos objetivos, o professor ter a tarefa de eleger o jogo e a forma de trabalh-lo, tendo claro que estas j estaro facilitadas, pois ter certeza sobre o que quer alcanar com a atividade. Os jogos que se coadunam com a EA em relao EF Escolar, devem ser regidos por alguns indicadores apresentados por Vanzn (2000) e que apresentaremos a seguir: Princpios: tica social mediada por crtica, dilogo, reflexo, sensibilidade, autonomia, felicidade, criatividade, justia, intelectualidade e argumentao desde a lgica social. Regras: Jogos com regulamentao que responda a igualdade de oportunidades, equidade, integrao, respeito integridade, liberdade de conscincia, desempenho, responsabilidade, solidariedade, compromisso e uso responsvel da liberdade. Organizao: Consensual, responsvel, convivncia social pluralista e participativa. Contudo este jogo no vai atuar de forma mgica na construo de valores meio ambientais, necessrio que haja um comprometimento de toda a classe docente colocando estes valores como objetivos norteadores do processo de ensino, pois a EA , antes de tudo, uma perspectiva educacional interdisciplinar que busca chamar a ateno para os problemas ambientais rumo a uma melhoria da qualidade de vida planetria. Com base nos pressupostos at ento apresentados, encaminhamos uma proposio de EF que deve nortear o trabalho escolar num molde ambiental.

Nele a Educao Fsica Escolar possui em seu corpo de contedos trs blocos que se interrelacionam entre si, tendo muito teor em comum a pesar de guardarem suas especificidades, segundo manifestao apresentada nos Parmetros Curriculares Nacionais (Brasil, 1998). Todos estes contedos devem ser apresentados, a partir de sua categoria conceitual (fatos, princpios e conceitos), procedimental (saber-fazer) e atitudinal (normas, valores e atitudes), segundo as intenes educativas. Estas intenes, segundo Guimares (2000), devem estar aliceradas por uma nova tica, sensibilizadora e conscientizadora, para as relaes integradas ser humano/sociedade/natureza. A tica ocupa, portanto, papel de fundamental importncia na Educao Ambiental, pois o seu conjunto de regras e valores, determina os julgamentos e aes humanos, conforme podemos observado no esquema ilustrado da figura 2:Figura 2 - A Educao Fsica Escolar num modelo de Educao Ambiental

Conforme afirma Tavares (2002), para a implementao de uma Educao Fsica Escolar nos moldes da Educao Ambiental necessrio que os contedos dirigidos pela primeira estejam de acordo com os princpios norteadores da segunda. Para tanto fundamentaremos nossa proposta objetivando alguns destes, definidos como cooperao, igualdade de direitos, autonomia, democracia e participao. Assim sendo a prtica diria do professor dever conduzir para estes, onde o modo de se trabalhar cada um dos contedos, mais do que sua seleo dever estar imbuda por uma conscincia meio ambiental.

Com base neste paradigma que acreditamos ser possvel a implantao da EA no contexto escolar atravs da EF, tanto em termos de trazer maiores possibilidades de se tornar sustentvel no tempo quanto em termos de maximizao de sua eficcia. E no ser a EF isolada no interior dos muros escolares a responsvel pela mudana social que propomos. Este paradigma educacional somente ser vivel a partir de uma viso de totalidade onde a interdisciplinaridade se faa presente, com outras disciplinas se identificando com a proposta da Educao Ambiental, agindo em cooperao na busca de solues para a problemtica meio ambiental. Mesmo encontrando resistncias para desenvolver um modelo de EA a partir da EF, ainda que de forma muito menos abrangente do que se esteja idealizando, acreditamos que as reflexes aqui apresentadas possam contribuir, seno para a implementao de um projeto de ambientalizao no contexto escolar, ao menos possam ser consideradas algumas proposies ou sugestes a que nos referimos, como rumo inicial que possa nortear outras formulaes. Referncias bibliogrficas BRASIL. Parmetros Curriculares Nacionais: Educao Fsica / Secretaria de Educao Fundamental. - Braslia: MEC / SEF, 1998. DIECKERT, J.; Kurz, D.; Brodtmann, D. Elementos e Princpios da Educao Fsica: uma antologia. Rio de Janeiro: Ao Livro Tcnico, 1985. GONZLEZ MUHOZ, M. C. Principales tendencias y modelos de la Educacin Ambiental en el sistema escolar. Revista Iberoamericana de Educacin. Espanha, OEI, n 11, 1999a. GUIMARES, M. A Dimenso ambiental na educao. Campinas: Papirus, 2000. MEDINA, N. M. e SANTOS, E. da C. Educao Ambiental: uma metodologia participativa de formao. Petrpolis: Vozes, 2000. MOREIRA, W. W. Educao Fsica e Esportes: perspectivas para o sculo XXI. Campinas: Papirus, 1993. NEGRN PEREZ, R. e TORREZ VASQUEZ, N. de la. Consideraciones en relacin con la Educacin Fsica y la formacin de valores medio ambientales. Disponivel: site Lecturas: Educacin Fsica y Deportes (may. 2000) endereo: http://www.efdeportes.com. REIGOTA, M. O que Educao Ambiental. So Paulo: Brasiliense, 1994. SKLIAR, M. Reflexiones en torno al juego. Lecturas: Educacin Fsica y Deportes (Sep. 2000) endereo: http://www.efdeportes.com. TAVARES, F. J. P. A Educao Ambiental na Formao Inicial de Professores de Educao Fsica. Rio Grande: 2002. 197 p. Dissertao de Mestrado (Programa de Mestrado em Educao Ambiental) - FURG. VANZAN, J. Competicin o cooperacin? Disponible: site Lecturas: Educacin Fsica y Deportes (oct. 2000) endereo: http://www.efdeportes.com.