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1 Educação Física e saúde: possibilidades de trabalho pedagógico com enfoque nas DCE e na literatura. Dejacira Bazan de Souza 1 RESUMO O presente trabalho teve como ponto central um estudo sobre como articular o tema saúde com as aulas de Educação Física na escola, considerando as Diretrizes Curriculares Estaduais (DCE) e a literatura existente. A pesquisa é caracterizada como descritiva qualitativa, sendo aplicada na 6ª série do Colégio Estadual Nestor Victor, no município de Pérola. Inicialmente, buscou uma fundamentação teórica sobre as indicações de como abordar o tema saúde de acordo com as DCE e a literatura, bem como as considerações relevantes dos exercícios físicos direcionados à saúde. Com base nos estudos, procurou organizar uma seqüência de atividades pedagógicas que contemplassem conhecimentos nas dimensões biológica e social de “saúde”. Ao final, observou que a participação e envolvimento dos alunos nas atividades possibilitaram-lhes uma visão geral de sociedade, de políticas públicas, de direitos e de deveres dos cidadãos. Verificou, também, que os conceitos elaborados pelos mesmos continham elementos sócio-culturais significativos e que estes transcenderam ao ambiente escolar, sem que sejam, contudo, considerados fechados ou acabados. Este trabalho adverte para a necessidade de articular os conteúdos da Educação Física para que não se tornem conhecimentos soltos e fragmentados, só assim, a disciplina cumprirá seu papel de formar pessoas/cidadãs críticas e participativas na sociedade. Palavras-chave: Educação Física. Saúde. Diretrizes. Sugestões de atividades. ABSTRACT This work was a central study about how to articulate the health theme with the lessons of physical education at school, taking into account the state curriculum guidelines and the existing literature. The research, characterized as descriptive and qualitative, was developed in the 6th grade at the Nestor Victor State School, in the district of Pérola. At first it sought theoretical fundaments on the directions about how to discuss health in accordance with the state curriculum guidelines (DCE) and the literature, not disregarding the relevant considerations of the physical exercise related to health. Based on the studies done, the research aimed at organizing a sequence of pedagogical activities which involved the knowledge in the biological and social dimensions of “health”. In the end it pointed out that the students’ participation and involvement enabled them to have a general view of society, public policy and citizens’ rights and duties. It also indicated that the students’ concepts contained significant socio-cultural elements, which are not to be closed or finished, despite outgoing the school environment and boundaries. This work highlights the 1 Professora da SEED-PR, há 15 anos.

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Educação Física e saúde: possibilidades de trabalho pedagógico com enfoque

nas DCE e na literatura.

Dejacira Bazan de Souza1

RESUMO

O presente trabalho teve como ponto central um estudo sobre como articular o tema saúde com as aulas de Educação Física na escola, considerando as Diretrizes Curriculares Estaduais (DCE) e a literatura existente. A pesquisa é caracterizada como descritiva qualitativa, sendo aplicada na 6ª série do Colégio Estadual Nestor Victor, no município de Pérola. Inicialmente, buscou uma fundamentação teórica sobre as indicações de como abordar o tema saúde de acordo com as DCE e a literatura, bem como as considerações relevantes dos exercícios físicos direcionados à saúde. Com base nos estudos, procurou organizar uma seqüência de atividades pedagógicas que contemplassem conhecimentos nas dimensões biológica e social de “saúde”. Ao final, observou que a participação e envolvimento dos alunos nas atividades possibilitaram-lhes uma visão geral de sociedade, de políticas públicas, de direitos e de deveres dos cidadãos. Verificou, também, que os conceitos elaborados pelos mesmos continham elementos sócio-culturais significativos e que estes transcenderam ao ambiente escolar, sem que sejam, contudo, considerados fechados ou acabados. Este trabalho adverte para a necessidade de articular os conteúdos da Educação Física para que não se tornem conhecimentos soltos e fragmentados, só assim, a disciplina cumprirá seu papel de formar pessoas/cidadãs críticas e participativas na sociedade.

Palavras-chave: Educação Física. Saúde. Diretrizes. Sugestões de atividades.

ABSTRACT

This work was a central study about how to articulate the health theme with the lessons of physical education at school, taking into account the state curriculum guidelines and the existing literature. The research, characterized as descriptive and qualitative, was developed in the 6th grade at the Nestor Victor State School, in the district of Pérola. At first it sought theoretical fundaments on the directions about how to discuss health in accordance with the state curriculum guidelines (DCE) and the literature, not disregarding the relevant considerations of the physical exercise related to health. Based on the studies done, the research aimed at organizing a sequence of pedagogical activities which involved the knowledge in the biological and social dimensions of “health”. In the end it pointed out that the students’ participation and involvement enabled them to have a general view of society, public policy and citizens’ rights and duties. It also indicated that the students’ concepts contained significant socio-cultural elements, which are not to be closed or finished, despite outgoing the school environment and boundaries. This work highlights the

1 Professora da SEED-PR, há 15 anos.

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need to articulate the contents of physical education, not to let it result into loose and fragmented knowledge. Only this way physical education will reach the target to educate students, enabling them to become critical and participating people and citizens in the society.

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, há um número crescente de estudos que têm abordado

a relação dos exercícios físicos com a saúde. Observa-se que este assunto é

amplamente debatido pelos meios de comunicação de massa, onde exibem

programas com aulas de ginástica, entrevistas, tipos de dietas, comentam sobre a

importância dos exercícios físicos entre outras abordagens na área da estética ou da

saúde. A maioria das pesquisas nessa área, concorda sobre a importância dos

exercícios físicos para a saúde. Estudiosos como Guedes (1995), Menestrina (2000)

e Vargas Neto (2004) apontam que existem evidências científicas que asseguram

que os praticantes de exercícios físicos são mais saudáveis e, ainda, apresentam

menores riscos de desenvolverem doenças crônico-degenerativas, em relação aos

sedentários.

Outro ponto comum entre os autores, é que um programa de exercício

físico direcionado a promoção da saúde, deve envolver componentes da aptidão

física, que compreendam os fatores morfológicos, funcional, motor, fisiológico e

comportamental. (GUEDES & GUEDES, 1995; ACSM, 1996 apud GLANER, 2002).

Apesar da relevância dos exercícios físicos para a saúde, nota-se que

ainda é a minoria de pessoas que os incluem nos hábitos diários. Estudos do

Ministério da Saúde (2007), e de alguns autores como Nunes (2005) e Guedes &

Guedes (1995) têm advertido que mais de 40% das mortes registradas no país, são

decorrentes de doenças crônico-degenerativas (coronariopatias, hipertensão,

obesidade, diabetes, câncer e outros males). Estas doenças têm relação direta com a

inatividade ou o sedentarismo, características presentes na vida contemporânea. É

importante destacar, que atualmente, há um número crescente de crianças com estes

problemas e que a adolescência é um período crítico para desenvolver a gordura

corporal e em decorrência as doenças que se associam ao sobrepeso.

Esses fatos têm atraído à atenção de estudiosos resultando em

questionamentos sobre as pesquisas que envolvem o tema saúde. Um dos principais

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apontamentos refere-se à aplicabilidade do conhecimento no sentido de

transformação dos problemas sociais (MINAYO, 2006). Na área da Educação Física,

a principal crítica é que a maioria das pesquisas aborda apenas questões biológicas,

responsabilizando o indivíduo por ter ou não saúde, ignorando todo o contexto sócio-

econômico e cultural do país. Soma-se a esses, o crescente mercado de produtos e

serviços que oferecem programas, tratamentos e mercadorias com promessas de

“verdadeiros milagres”, para solucionar problemas de obesidade, estética e saúde, e

que muitas vezes são enganosos e não se preocupam com as possíveis

conseqüências.

Isso evidencia a necessidade de discutir o tema na escola para que o

aluno tenha condições de analisar todo o contexto e assim, inferir da melhor forma

sobre a questão. É importante realizar trabalhos que contemplem os aspectos sociais

e as políticas públicas, voltados para a coletividade. Como cita Devide (1996, p.50) a

“melhoria da qualidade de vida depende também das condições básicas de saúde,

habitação, renda, trabalho, alimentação, educação etc”.

Neste contexto de críticas, relevâncias e questionamentos, e, visto que as

Diretrizes Curriculares Estaduais (2008) salientam a importância do professor de

Educação Física articular este tema às práticas corporais, o presente estudo tem

como objetivos verificar os direcionamentos de trabalhos sugeridos pelas DCE e a

literatura em relação ao tema saúde, suscitar as características fundamentais dos

exercícios físicos voltados para a saúde, propor e aplicar uma seqüência de

atividades pedagógicas que contemplem não apenas o aspecto prático, mas,

sobretudo, o desenvolvimento de conceitos e noções de aplicação destes

conhecimentos por toda a vida.

METODOLOGIA

No que tange aos procedimentos para tal estudo/aplicação, a fim de atingir

os objetivos propostos, em primeira instância, recorreu-se às discussões que têm

sido feitas na literatura a respeito da temática Educação Física e Saúde. Por

conseguinte, elaborou-se uma proposta pedagógica pautada na literatura e nas

Diretrizes Curriculares Estaduais. Essa seqüência didática foi executada em duas

turmas de sextas séries do ensino fundamental, do período vespertino, com idade

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média de 12 anos, composta por 55 alunos regularmente matriculados em uma

escola pública, do município de Pérola, estado do Paraná. Por fim, trata-se de uma

pesquisa do tipo descritiva com abordagem qualitativa. Esse tipo de pesquisa

segundo Minayo (2006) busca a compreensão da realidade, do dinamismo que

envolve a vida individual e coletiva dos seres humanos em sociedade. Portanto, além

de uma visão morfológica e de dados mensuráveis relacionados ao exercício físico e

à saúde, tem intuito de trazer a tona questões pertinentes à complexidade social e

cultural, a fim de provocar “novos” entendimentos e “novas” práticas.

DESENVOLVIMENTO

Base teórica de saúde nas DCE de Educação Física

As Diretrizes Curriculares Estaduais (2008) apontam direcionamentos para

o entendimento de saúde além da dimensão individual. É o pensar no todo, no

contexto social. Uma construção de saúde que perpasse a culpabilização do

indivíduo por ter ou não saúde.

Em seu teor, as DCE (2008), fazem referências à necessidade de articular

o tema sob dois pontos relevantes: a dos direitos e a dos deveres enquanto

cidadãos. Destaca a importância de um trabalho voltado para o conhecimento da

realidade, dos elementos que, muitas vezes, influenciam ou impedem o indivíduo de

ter saúde. Pode-se citar entre esses a alimentação, educação, trabalho, moradia,

sistema de atendimento à saúde, informação, cultura, influência da mídia e

condições de lazer.

Esta abordagem traz para as aulas de Educação Física, a necessidade de

discutir sobre a importância dos exercícios físicos para a saúde, das

responsabilidades individuais de auto preservar-se, mas não deve fazer com que a

prática de exercícios físicos seja apontada como a solução para todos os problemas

de saúde.

Outro ponto relevante e citado nas DCE (2008) como enfoque de trabalho

escolar, é a abordagem do uso de substâncias entorpecentes bem como “a busca

pelas atuais formas de tratamento, modelação, intervenção sobre o corpo com o

intuito de alcançar, a qualquer custo, os modelos instituídos de beleza e a chamada

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saúde perfeita” dissipada pela sociedade capitalista.

Em suas considerações destaca ainda, que é fundamental incluir no

processo pedagógico questões sobre preconceito, sexualidade, banalização do

sexo, prostituição infantil, violência sexual e doenças sexualmente transmissíveis.

Para finalizar as DCE (2008) apontam:

Nestas Diretrizes, os cuidados com a saúde não podem ser atribuídos tão-somente a uma responsabilidade do sujeito, mas sim, compreendidos no contexto das relações sociais, por meio de práticas e análises críticas dos discursos a ela relativos.

Base teórica de saúde na literatura

No decorrer da história o entendimento de saúde assume proposições

diferentes de acordo com as influências do processo de evolução tecnológica, como

também, de influências dos problemas sociais enfrentados pela humanidade.

Inicialmente a saúde foi conceituada pela área médica, sendo considerado apenas

os aspectos biológicos do corpo. Nesse entendimento a saúde era encarada,

estritamente, como ausência de doenças.

Este conceito foi fortemente debatido e pode-se dizer ampliado pela

Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1946, citado por Vargas Neto (2004,

p.224) como “um estado de completo bem estar físico, mental e social e não apenas

a ausência de doença ou enfermidade”. Nota-se que esta definição passa a

considerar aspectos na área biológica como também na área mental e social.

Apesar de considerar novos aspectos neste conceito, a OMS de 1946,

ainda sofreu críticas de médicos e biólogos catalães apud Vargas Neto (2004, p.225)

ao destacar que “a saúde não pode ser definida como um estado, e que a saúde, às

vezes, não supõe um completo bem-estar”. Às vezes temos saúde e não nos

sentimos bem, seja por motivos emocionais, financeiros, familiares, sociais ou um

simples motivo qualquer. Portanto, saúde é um processo constante de busca, que

envolve atitudes individuais e coletivas. É um contínuo “ter e perder”, com situações

que às vezes independem da nossa vontade.

Como destaca Devide (2003) ao citar que a saúde não é algo estático, é

um processo de aprendizagem, de tomada de decisão e ações para melhoria do

próprio bem-estar.

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Concorda com esta visão Guedes e Guedes (1994, p.64) ao descrever

que:

O estado de ser saudável não é algo estático, pelo contrário, torna-se necessário adquiri-lo e reconstruí-lo de forma individualizada constantemente ao longo de toda a vida, e, por sua vez, deva ser tratada não apenas com base em referenciais de natureza biológica e higienista, mas, sobretudo, num contexto didático-pedagógico.

Para completar os médicos e biólogos catalães apud Vagas Neto (2004,

p.226) definem saúde como “é uma condição de harmonia, de equilíbrio funcional

físico e psíquico, do indivíduo dinamicamente integrado em seu meio ambiente

natural e social. A saúde é a maneira de viver cada vez mais autônoma, solidária e

feliz”.

Observa-se que, nos últimos anos, as reflexões a cerca de saúde

ultrapassaram a dimensão biológica, muito embora, ainda contenham traços do

conceito oferecido pela OMS de 1946. As definições atuais apontam

questionamentos voltados para a complexidade social, políticas públicas, meio

ambiente, sentimentos, direitos e deveres enquanto cidadãos. Neste sentido, tanto a

literatura quanto as Diretrizes Curriculares Estaduais apresentam pareceres

semelhantes, havendo concordância nos direcionamentos e estudos sobre o tema.

Faz referência a essa citação uma nova definição de saúde apresentada

pela OMS em 1985, mencionada por Vargas Neto (2004, p.230) como sendo “a

capacidade de desenvolver o próprio potencial pessoal, e de responder de forma

positiva aos desafios do meio ambiente”. Nesta abordagem, observa-se que a idéia

apresentada sobre saúde é bem mais abrangente do que a idéia inicial, de somente

ausência de doenças. Esta considera capacidades pessoais, como também, a forma

que o indivíduo trata o meio ambiente, surgindo aí um novo componente de saúde.

Essas novas idéias ou conceitos de saúde vão se modificando ou se

ampliando de acordo com o momento histórico, as condições sociais, a evolução

tecnológica, a cultura e o conhecimento das pessoas.

Para complementar estes novos apontamentos observa-se o conceito de

saúde expresso por Minayo (1992, p.10):

Saúde é o resultante das condições de alimentação, habitação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso aos serviços de saúde. É, assim, antes de tudo, o resultado das formas de organização social da produção, as quais podem gerar grandes desigualdades

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nos níveis de vida.

Este conceito engloba vários elementos a serem observados para se ter

saúde. Mas, como falar em uma boa alimentação, se não há trabalho para todos e,

consequentemente, não há dinheiro para comprar os alimentos? Como considerar o

lazer se o cidadão não tem tempo livre? Como abordar a liberdade se as pessoas

atualmente vivem em condições modernas de escravatura?

Estes questionamentos fazem parte da análise das novas concepções de

saúde e direcionam caminhos a serem discutidos no âmbito escolar. É a

necessidade de abordar os diferentes fatores que beneficiam ou interferem

negativamente na saúde das pessoas.

Com base na abrangência destes conceitos apresentados e dos variados

elementos que englobam a questão da saúde, é que se devem nortear os trabalhos

pedagógicos relacionados ao tema na escola. Levar o aluno a ter conhecimento da

realidade local, dos benefícios do exercício físico, dos direitos de atendimento à

saúde pelos serviços públicos, direito ao lazer, moradia, trabalho e compreender as

suas responsabilidades individuais de cuidar-se, cobrar e agir em benefício próprio e

da coletividade.

Convém repetir que existem muitas críticas nos trabalhos pedagógicos e

acadêmicos voltados para essa área, como também nas políticas públicas. Como

afirma Palma (2003, p.27):

Assim, lamentavelmente a maior atenção foi e é dada às intervenções para mudanças de comportamento individual e pouco à estratégia política populacional indicando a opção de modificação dos hábitos considerados de risco, tais como, fumar, sedentarismo, dieta etc.

Desta forma, se reforça a responsabilidade da própria pessoa em ter ou

não saúde, de ser ou não obeso, de ter tempo ou não de praticar exercícios físicos.

Em suas citações o mesmo autor conclui que atualmente há um comércio

dissipado pela mídia, que busca “vender saúde” por meio das academias de

ginástica, produtos alimentícios, seguros-saúde e tratamentos estéticos. No entanto,

a maioria da população não tem acesso a estes serviços, e ainda, uma grande parte

não tem conhecimento suficiente para analisar os benefícios e/ou conseqüências

desse “comércio”.

Para completar as reflexões, faz-se uso de mais um componente

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importante a ser destacado num trabalho escolar, através destas palavras: “e

parece, mais uma vez infelizmente, que o Brasil é um campeão nessas buscas. A do

adestramento de comportamentos na procura de ideais estéticos. A escravidão da

eugenia-induzida promovida pelo mercado” (PALMA; ESTEVÃO; BAGRICHEVSKY,

2003).

Estas questões permeiam o tema saúde e devem ser amplamente

debatidas no cotidiano escolar, para possibilitar ao aluno uma visão crítica da

realidade e conhecimentos com condições de mudança na vida social. A Educação

Física, que dispõe do esporte, jogos, ginástica, lutas e danças e como estes estão

diretamente ligados a essa questão contemporânea, mercadológica e de saúde,

precisam ser reestruturados pedagogicamente para atender a real perspectiva

educacional fugindo do “adestramento” citado pelo autor.

É importante destacar que a falta de conhecimento é um fator limitante,

que impede o aluno/pessoa de perceber a realidade de forma múltipla e a si mesmo

como agente de transformação desta realidade.

Para finalizar, outro ponto importante a ser analisado pelos educadores,

na realização de um trabalho é citado por Minayo (2006, p.30) ao relatar que a

saúde é um tema cultural abrangente e que deve ser analisada no âmbito histórico,

percebendo as diferenças existentes entre classes, gêneros e faixas etárias, como

também, entender que as condições de vida e de trabalho “qualificam de forma

diferenciada a maneira pela qual as classes, as etnias, os gêneros e seus

segmentos pensam, sentem e agem a respeito dela”

Possíveis relações e benefícios dos exercícios físicos para a saúde

No que concerne à saúde é importante destacar a utilização do termo

“físico” em grande parte dos conceitos apresentados. Ao longo da história, o corpo

foi objeto de preocupação e durante muito tempo foi tratado de forma fragmentada

entre corpo e mente. Isso acarretou, em momentos diferenciados, uma valorização

ora em prol do corpo, ora em prol da mente. Esta dualidade apresenta

conseqüências até os dias atuais, porém não serão abordadas neste estudo. Neste

momento a ênfase se dará em como iniciou a ligação dos cuidados com o corpo e

sua importância para a saúde.

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Como vimos à citação do termo físico no conceito de saúde deu-se em

suas primeiras definições. Desde a antiguidade a associação da prática de

exercícios físicos com a saúde já era mencionada. Um exemplo é a famosa frase

grega “Mens sana in corpore sano”, que significa “Mente sã em corpo são”.

Os gregos acreditavam que os exercícios físicos proporcionavam uma

formação do espírito e da moral, logo, atribuíam grande valor às atividades físicas

(GUASTI, 2006). Esta valorização é observável por meio das esculturas gregas, as

quais retratavam corpos belos e atléticos. Naquela época, a pessoa que tivesse

conhecimento sobre higiene e medicina era considerada “o médico desportivo que

cuidava da saúde e orientava a educação corporal daquele que praticava os

exercícios” (GUASTI, 2006, p.150). Nota-se, portanto, que a associação dos

exercícios físicos como forma de cuidar da saúde e do espírito, advém desde a

antiguidade.

Atualmente a relação entre a importância de se praticar exercícios físicos

com a promoção da saúde tem sido destacada por inúmeros autores e de forma

constante pela mídia, por meio dos programas de televisão.

As estatísticas, no Brasil, apontam que aproximadamente 40% das mortes

ocorridas na idade adulta, têm como causa distúrbios cardiovasculares

(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2007). Um dos fatores a ser observado é dado por meio

de estudos clínicos, os quais evidenciam que estes problemas se dão em maior

incidência entre idosos, adultos e jovens de vida sedentária. Também é importante

destacar que o hábito da prática de atividade física na infância e na adolescência,

possivelmente transfere-se para a idade adulta (BARBOZA FILHO et al., 2007).

Com base nesses estudos observa-se que é de fundamental importância o

professor de Educação Física oferecer informações ao aluno, desde as séries

iniciais, para permitir-lhes estruturar conceitos mais claros quanto o porquê e para

quê dos exercícios físicos, para que esse hábito seja incorporado no período escolar

e durante toda a vida. Visando oferecer subsídios para estes conhecimentos, fará

uma explanação geral dos principais benefícios dos exercícios físicos para a saúde,

porém, não se pode deixar de citar que o exercício por si só não basta. É preciso

cuidar da alimentação, do descanso, do lazer, dos sentimentos, do trabalho, da

família e outras questões que envolvem a vivência do ser humano. Entre os

benefícios dos exercícios físicos, destacam-se:

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Diversos estudos experimentais mostram que a prática de atividade

física, numa determinada intensidade, influencia no aumento de cálcio nos ossos

como também sua espessura e robustez (MARCOS BARRETO, 1989 apud

VARGAS NETO; VOSER, 2001).

Para Vargas neto (2004, p.127) “a atividade física controlada aumenta

a densidade do osso de forma significativa e acelera o ritmo de justaposição”. Isto

reduz o risco de osteoporose e fraturas na velhice.

A prática regular de exercício físico aumenta o HDL, colesterol que

protege o indivíduo de problemas cardíacos, evitando assim o colesterol LDL que é

responsável pelos depósitos de gordura que ocorrem nas artérias e que causam a

arteriosclerose (SAMPAIO, 2005). Diminui o risco de derrames cerebrais.

É importante destacar que a pessoa praticante de exercícios físicos

apresenta uma freqüência cardíaca (FC) menor que as sedentárias, porém com

maior eficácia. Em outras palavras, segundo Vargas Neto (2004, p. 135) “é uma

forma de fazer o coração trabalhar com menor intensidade, obtendo, em troca, mais

vantagem em seu trabalho”, reduzindo fatores de risco para artérias coronárias,

como pressão arterial, colesterol, infarto, angina e arritmias.

A prática de exercício físico estimula a produção de aminoácidos

(componentes das proteínas) que melhoram a ação protetora do sistema

imunológico afirma Guasti (2006). Consequentemente proporciona uma sensação de

bem-estar, melhora da auto-estima, diminui sintomas depressivos, tensão, controla a

ansiedade e o apetite.

A prática regular de exercício físico melhora a aparência do corpo,

proporcionado pela redução de gordura e aumento da massa muscular. Combate à

obesidade, fortalece a massa muscular e aumenta a flexibilidade.

“A atividade física tem efeitos benéficos sobre ligamentos, tendões e

sobre tecido conectivo intramuscular” (VARGAS NETO, 2004, p.129). A falta de

exercício físico poderá desencadear um processo de enrijecimento desses tecidos,

dificultando a realização dos movimentos e comprometendo a flexibilidade.

O exercício regular diminui a resistência à ação da insulina (hormônio

que facilita a entrada da glicose nas células), favorecendo um melhor controle dos

níveis de açúcar no sangue, facilitando o controle do diabete (GUEDES & GUEDES,

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1995).

Para Sampaio (2005, p.117) “o mecanismo pelo qual o sangue retorna

ao coração é provocado pela contração dos músculos da perna”. Funciona como

uma espécie de bomba, que ajuda o sangue a vencer a força da gravidade e voltar

mais facilmente para o coração. Com a realização de exercícios físicos esse

mecanismo é ativado, diminuindo edemas nas pernas, varizes e o risco de trombose.

A prática de exercícios físicos melhora o funcionamento do coração e

dos pulmões (VARGAS NETO, 2004). A atividade física aumenta a rede de

pequenos vasos que irrigam os alvéolos pulmonares, melhorando o aproveitamento

de oxigênio pelo pulmão. Desse modo, a respiração fica mais eficiente, aumentando

a capacidade cardiorrespiratória. Em um adulto a capacidade vital, quantidade total

de ar inspirado e expirado oscila entre 3 a 5 litros em média. Para um atleta esse

valor pode passar um pouco mais de 6 litros (SAMPAIO, 2005).

Vários estudos comprovam a eficiência dos exercícios físicos para a

saúde, todavia não se pode deixar de pensar nos diversos fatores que compõem o

tema em questão. Ao refletir sobre o assunto Soares (1994) apud Devide (2003,

p.139) faz considerações importantes a serem repensadas:

(...) o exercício físico não é saudável em si, não gera saúde em si, é apenas (...) um elemento, num conjunto de situações, que pode contribuir para um bem-estar geral e, neste sentido, aprimorar a saúde, que não é um dado natural (...) Ao contrário, (...) é resultado, porque mais do que o vigor físico ao nível corpóreo, compreende o espaço de vida dos indivíduos, daí não ser possível medi-la, nem avaliá-la apenas pela aparência de robustez ou de fadiga.

Aspectos importantes dos exercícios físicos direcionados à saúde

A preocupação com a promoção da saúde é cada vez mais crescente nos

paises industrializados ou pós-industrializados. Dentre os estudos já citados,

observou-se que o sedentarismo destaca-se como fator de risco para as doenças

denominadas de hipocinéticas (doenças cardiovasculares, obesidade, hipertensão

arterial, diabete millitus tipo II, osteoporose, dores nas costas, determinados tipos de

câncer, etc.). Já se observou, também, a possível transferência do hábito de se

praticar exercícios físicos na adolescência para a idade adulta. Partindo desses

pressupostos, entende-se que a escola precisa situar-se como fonte de

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conhecimento e envolvimento com a educação para a saúde.

Para atender essa especificidade é preciso trabalhar com componentes

que estejam diretamente ligados ao melhor estado de saúde. Isto implica partir para

o entendimento do conceito de Aptidão Física Relacionada à Saúde (AFRS).

Alguns autores têm sugerido em seus estudos que a aptidão física seja

definida como:

Um estado dinâmico de energia e vitalidade que permita a cada um não apenas a realização das tarefas do cotidiano, as ocupações ativas das horas de lazer e enfrentar emergências imprevistas sem fadiga excessiva, mas também evitar o aparecimento das disfunções hipocinéticas, enquanto funcionamento no pico da capacidade intelectual e sentindo um alegria em viver (BOUCHARD et alii, 1990 apud GUEDES & GUEDES, 1995, P.15).

O conceito de AFRS sugerido por Pate (1988) é bem aceito e abordado

pelos pesquisadores brasileiros. Tanto Guedes & Guedes (1995) como Glaner

(2002) utilizam-se de sua definição que consiste na capacidade de realizar as tarefas

do cotidiano com vigor e energia e, ainda, não demonstrar traços e características de

doenças hipocinéticas.

Assim, os componentes relacionados à AFRS devem abrigar atributos

biológicos que possam oferecer alguma proteção ao aparecimento e ao

desenvolvimento de distúrbios orgânicos induzidos por comprometimento da

condição funcional. Nesse sentido, é unânime o entendimento dos autores já citados

ao apontarem como qualidades imprescindíveis da AFRS a resistência

cardiorrespiratória e muscular, força, composição corporal e flexibilidade. É

importante destacar que estes componentes podem variar de acordo com o genótipo

da pessoa, a idade e o estilo de vida.

Marques e Gaya (1999) ao desenvolverem um estudo que abrange o tema

exercício físico e saúde, relatam que nos anos 70 e 80 se preconizava

fundamentalmente a capacidade de resistência. Atualmente além das expressões

motoras como força, resistência muscular localizada, flexibilidade e composição

corporal, fala-se em relações abrangentes entre os componentes que envolvem um

sistema, necessitando de uma organização (estrutura) adequada de seus elementos

e de suas relações funcionais.

A aptidão cardiorrespiratória, também conhecida como capacidade

aeróbica, é definida por Guedes & Guedes (1995, p.24) como a “capacidade do

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organismo em se adaptar a esforços físicos moderados, envolvendo a participação

dos grandes grupos musculares, por períodos de tempo relativamente longos”.

Durante a realização destes esforços o coração e os pulmões são requisitados

significativamente para atender à demanda de oxigênio através da corrente

sanguínea e manter, assim, de forma eficiente, os esforços musculares. Pela sua

estreita relação com a prevenção de doenças cardiovasculares, tem tido maior

destaque sobre os demais componentes.

O mesmo autor cita que as atividades indicadas para atender esta

especificidade, consistem em esforços físicos que envolvam grandes grupos

musculares e que ativam todo sistema orgânico de oxigenação: coração, pulmões,

sangue e vasos sanguíneos. São exemplos destas atividades, os exercícios

chamados de aeróbicos, longa duração e baixa intensidade, tais como a caminhada,

corrida, ciclismo, natação e pular corda.

A resistência muscular, força e flexibilidade são componentes motores

considerados moduladores do sistema músculo-esquelético. Para Glaner (2002, p.

77) “a força/resistência refere-se à capacidade, do músculo, ou de um grupo de

músculos, sustentar contrações repetidas por um determinado período de tempo”.

Para atender esta característica é necessário exercitar o grupo muscular específico

de forma mais intensa do que é exigido nas atividades diárias, utilizando-se de

pesos, halteres, flexões de braço, pernas, tronco e outros exercícios similares. São

exemplos: a ginástica localizada e a musculação.

A flexibilidade é definida “como a capacidade de amplitude de uma

articulação isolada ou de um grupo de articulações, quando solicitada na realização

dos movimentos” (CORBIN & FOX, 1987 apud GUEDES & GUEDES, 1995, p.28).

Atendem essas exigências os exercícios de alongamentos, que consistem em

manter os músculos estendidos e de forma estática, durante algum tempo. Para

Weineck (1986) apud Marques e Gaya (1999) é importante manter um índice

adequado de mobilidade da coluna vertebral e da articulação coxo-femural,

especialmente durante a adolescência. Completam que é suficiente executar de 10 a

15 minutos de exercícios no início das aulas de Educação Física. Juntos, os

componentes de força/resistência e flexibilidade previnem problemas posturais,

articulares e de lesões em geral.

A composição corporal tem sido motivo de preocupação para os males

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associados à obesidade. Há uma relação direta com o excesso de gordura e várias

doenças crônico-degenerativas. Guedes (1998) aponta que uma das fases críticas

para desenvolver a gordura corporal é na adolescência. O excesso de gordura pode

provocar obesidade, problemas cardiovasculares, hipertensão, diabetes, depressão

e estresse, entre outras doenças. Não se pode esquecer que a falta de atividade

física contribui para o excesso de peso e está associada a estas doenças.

É importante destacar que não se pode taxar ou discriminar as pessoas por

estarem acima do peso ou com uns quilinhos a mais. Cabe ainda salientar que, estar

dentro dos padrões de beleza exigidos pela sociedade não é fácil e nem rápido

como se apresenta na mídia. Muitas vezes os resultados conseguidos são por meio

de medicamentos ou tratamentos prejudiciais à saúde, como os anabolizantes,

esteróides, anfetaminas ou por meio de cirurgias plásticas. É essencial entender que

ser magro nem sempre é sinônimo de ser saudável.

Vargas Neto (2004, p.151) destaca que, ”para viver com saúde, não só

devemos incentivar o exercício físico-desportivo como também é inevitável criar e

desenvolver, paralelamente, outros recursos ambientais, culturais, morais e políticos,

positivos e adequados à sociedade contemporânea”. Os cuidados com: a higiene

pessoal, as relações familiares e sociais, consultas médicas e odontológicas

periódicas, a alimentação saudável e os exercícios físicos são elementos que devem

estar presentes na vida de quem almeja saúde.

Como a obesidade está associada a várias doenças, faz-se necessário ter

conhecimentos teóricos e práticos sobre o assunto, para adotar medidas de controle

ou de prevenção. Existem vários procedimentos para verificar se o peso está no

limite considerado normal. Estas técnicas analisam o peso corporal com base em

estimativas da quantidade de gordura e de massa magra. Uma das formas mais

simples e acessível é a verificação do I.M.C. (Índice de Massa Corporal) indicada

pela Organização Mundial de Saúde. Este índice é calculado dividindo-se o peso em

quilogramas (kg) pela altura em metros elevada ao quadrado (quadrado de sua

altura), conforme abaixo:

Fórmula: IMC = Peso Corporal

Altura²

O resultado do IMC deve ser comparado com a tabela proposta pela

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Organização Mundial de Saúde, citada pelo Grupo de Estudos em Nutrição e

Transtornos Alimentares (GENTA), a qual mostra os valores estabelecidos como

normais, os abaixo ou acima do peso ideal, caracterizando os riscos conforme

apresentado a seguir:

CLASSIFICAÇÃO IMC (Kg/m²) RISCO DE DOENÇAS ASSOCIADAS

Baixo peso Menor que 18,4 Baixo Normalidade 18,5 a 24,9 Médio Sobrepeso 25 a 29,9 Aumentado Obesidade Classe I 30 a 34,9 Moderado Obesidade Classe II 35 a 39,9 Severo Obesidade Classe III Maior que 40 Muito severo

Para verificação dos componentes relacionados à saúde existem várias

baterias de testes que podem ser aplicadas pelos professores de Educação Física

na escola, as quais não serão abordadas neste trabalho.

Mediante estas considerações, além de abordar os componentes físicos

relacionados à saúde, é preciso tratar a questão como um campo multifacetáreo e

multidimensional que aponta horizontes cada vez mais amplos de intervenção

pedagógica. Como afirma Minayo (2006, p.28):

Portanto, no campo da saúde se vivencia a complexidade dos objetos de estudo pois a abrangente área biomédica não pode prescindir da problemática social, uma vez que o corpo humana está atravessado pelas determinações das condições, situações e estilos de vida.

Para finalizar é importante ressaltar que as aulas de Educação Física não

parecem por si só, ter condições de quantidade, ainda que a qualidade fosse a

desejável, de atividade necessária para processarem benefícios ótimos sobre a

saúde (SIMONS-MORTON et al., 1987, apud MARQUES & GAYA, 1999).

Seqüência de atividades pedagógicas

Com base nos estudos realizados observou-se que a temática saúde

apresenta diversas possibilidades e enfoques diferentes para serem discutidos num

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trabalho pedagógico. Alguns autores têm criticado os programas de Educação Física

que visam o desenvolvimento da aptidão física. Convém destacar que não se

pretende neste trabalho, indicar uma proposta pedagógica ou programa de ensino,

nem tão pouco estabelecer um programa exclusivamente voltado para a saúde, visto

que as aulas de Educação Física têm outros objetivos e não menos importantes.

O que se pretende é apresentar sugestões de atividades que possibilitem

o entendimento de “saúde” numa dimensão histórico-social, como descreve Minayo

(2006, p.28) “O saber teórico e prático sobre saúde e doença faz parte de um

universo dinâmico recheado de história e de inter-relações mediadas por

institucionalizações, lógicas de prestação de serviços e participação dos cidadãos”.

Como a falta de conhecimento é um fator limitante de atitudes na vida

pessoal e comunitária dos cidadãos, espera-se que, com a realização destas

atividades, os alunos tenham condições iniciais de intervir na sua realidade pessoal

e local, tornando-se praticantes e “consumidores” críticos de exercícios físicos como

de todos os componentes envolvidos na questão.

Para facilitar a execução do trabalho, as atividades foram divididas em

etapas: primeiro buscou-se demonstrar as reações do corpo e a intensidade dos

exercícios, em diferentes práticas corporais, observadas por meio da freqüência

cardíaca. O início dos conteúdos, por meio desta atividade, deu-se por acreditar que

desperta nos alunos motivação e curiosidades em saber sobre o próprio corpo. Num

segundo momento, discutiu-se a importância dos exercícios físicos. Depois,

procurou-se analisar os elementos que influenciam na saúde, tais como a

alimentação, moradia, lazer, educação, jornada de trabalho, direitos e deveres dos

cidadãos em relação à saúde. Para tanto, recorreu-se a atividades de campo, de

pesquisa e de construção de textos. Por último, propôs-se a elaboração de uma

carta, direcionada aos poderes políticos do município, manifestando críticas e

sugestões de melhorias em relação ao tema, como forma de exercer a cidadania.

É importante mencionar que durante a execução das atividades sentiu-se

a necessidade de um material de apoio, por isso, organizou-se uma apostila

contendo as ações previstas para a realização da proposta. Este material possibilitou

um maior envolvimento dos alunos, dando-lhes condições de acompanhar, sugerir e

interagir, enriquecendo o trabalho.

A seqüência das atividades trabalhadas com os alunos e destacadas na

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apostila serão apresentadas a seguir:

Indagações sobre o funcionamento do coração: quantas vezes seu

coração bate por minuto? Será que todos apresentam o mesmo batimento cardíaco?

Qual coração bate mais, de um idoso ou de uma criança? Qual é a função do

coração? Durante a atividade física o coração bate mais ou menos? Por quê?

Explicações gerais e discussões sobre o assunto.

Verificação da freqüência cardíaca (FC) em repouso, caracterizada

após exercícios de respiração e relaxamento. Aferir a FC em 15 segundos e após

calcular em 1 minuto. Aferir a FC de colegas e de familiares.

Análises por meio de textos e debates, das situações que modificam os

batimentos cardíacos: susto, medo, tensão nervosa, doenças, paixão, idade e a

prática de exercícios físicos.

Verificação da FC em esforço físico, caracterizada após a realização de

uma atividade de resistência aeróbica, como jogos recreativos, jogos pré-desportivos

ou corrida. Aferir a freqüência em 15 segundos e calcular em 1 minuto. Análise dos

resultados.

Com base na afirmação do autor Guedes & Guedes (1995) que após

25 anos o coração diminui um batimento por minuto a cada ano, explicar a relação

entre a idade e a freqüência cardíaca. Demonstrar a necessidade de controlar a

intensidade dos exercícios para que haja benefícios cardiorrespiratórios. Determinar

a freqüência cardíaca máxima (FCM) e a intensidade ideal dos exercícios, utilizando

o seguinte cálculo: subtrair a idade do valor de 220. Assim, para um jovem de 12

anos a FCM é 220 – 12 = 208 batimentos por minuto. Logo após, calcular a

intensidade ideal, por meio da porcentagem mínima de 60% e a máxima de 90% da

FCM. Portanto, os resultados serão 124 e 187 batidas por minuto, respectivamente.

Fazer o cálculo de uma pessoa da família.

Verificação da FC em diversas atividades práticas: estudando, jogando

voleibol, jogando futsal, caminhando, correndo, fazendo alongamentos, dançando

(maculelê) e jogando queima. No decorrer destas atividades, tratar a relevância dos

exercícios aeróbicos, dos alongamentos e dos exercícios de resistência localizada.

Construção de uma tabela individual, para anotações dos valores da

FC, obtidos nas vivências das atividades anteriores. Comparações e debates dos

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resultados ressaltando a importância de se controlar a intensidade dos exercícios

físicos, como fator de prevenção de várias doenças. Verificar se a FC observada

está dentro dos valores tidos como ideais.

Observação da questão da alimentação como componente importante

para a saúde. Abordar a relação direta entre alimentação como fonte de energia

para o corpo e a importância dos exercícios físicos como meio de queimar essa

energia.

Listagem individual, dos alimentos consumidos no dia-a-dia pelos

alunos. Realização coletiva de uma síntese dos alimentos mais consumidos pela

turma. Análise dos resultados e debates sobre a alimentação dos menos favorecidos

economicamente.

Aferição do peso e altura dos alunos e após calcular o Índice de Massa

Corporal (IMC), por meio da fórmula indicada pela Organização Mundial da Saúde

(OMS). Esse índice é obtido dividindo-se o peso em quilogramas (kg) pela altura em

metros elevada ao quadrado, conforme a seguir:

IMC = Peso corporal

Altura²

Comparação do resultado com a tabela proposta pela OMS.

Pesquisa na Constituição Federal sobre os direitos dos cidadãos

referentes ao lazer, esporte, alimentação e saúde.

Realização de um passeio na cidade, observando os espaços de lazer

e de atividade física ofertados pelo município às crianças, aos jovens, aos adultos e

aos idosos. Descrever em forma de texto a realidade observada.

Conceituar alguns termos discutidos durante as atividades: saúde,

atividade física e exercício físico.

Elaborar uma carta/documento com sugestões e solicitações de

espaços adequados de lazer para a comunidade, como também, de políticas

públicas adequadas no atendimento de saúde.

Exposição de fotos, imagens e trechos de textos escritos pelos alunos

à comunidade escolar, valorizando a seqüência e os resultados dos trabalhos

realizados.

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Resultados e amostras dos conceitos elaborados pelos alunos

Visto que as DCE apontam uma abordagem sobre saúde que vai além da

culpabilização do indivíduo, este estudo buscou uma prática direcionada para a

compreensão das relações sociais e dos fatos que englobam a questão. Estes

encaminhamentos permitiram uma visão macro e crítica da realidade e, acredita-se,

com maiores possibilidades de interferência na vida social.

Para auxiliar na compreensão do resultado do trabalho serão

apresentados alguns conceitos elaborados pelos alunos referentes ao conteúdo

abordado. Estas citações foram escolhidas pela autora por expressarem elementos

sociais relevantes que chamaram sua atenção. As “falas” serão transcritas na

íntegra, com exceção dos nomes de autoridades municipais mencionados pelos

alunos.

Definição de Educação Física, no conceito de uma aluna:

“É uma aula que proporciona bem-estar, sensação de liberdade,

solidariedade, alegria, relaxamento. O movimento faz muito bem para mim, ajuda a

queimar calorias e eu fico muito contente sabendo que isso evita doenças fazendo

bem à saúde. Os alongamentos às vezes doem, mas são importantes”.

Observa-se que o conceito apresentado ainda contém traços de uma

Educação Física tida como uma atividade paralela dentro da escola, ao ser

destacada como uma aula que proporciona alegria, liberdade. No entanto,

demonstra conhecimentos na área da saúde, mesmo que ainda sejam desprovidos

de profundidade. Vale relembrar que são alunos de 6ª série do ensino fundamental e

que estão no início de um trabalho pedagógico.

Conceito de Saúde expresso pelos alunos da 6ª série:

“Saúde é ter acesso ao trabalho, emprego, moradia, lazer, segurança,

etc”.

“Saúde são os exercícios físicos, política, boa alimentação, moradia,

trabalho.”

“Saúde é ter acesso ao trabalho, emprego, moradia, lazer, segurança,

viver de bem com a vida, dormir bem, praticar exercícios físicos.”

“Para minha saúde é fazer tudo que é de bom para comer sem exageros,

moradia, trabalho, escola, fora outros. Eu sou feliz, faço tudo o que eu gosto e isto

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também é um motivo para se ter saúde”.

“É importante fazer atividade física para melhorar a saúde, faz o coração

acelerar e empurra o sangue para as veias. As pessoas que não fazem atividade

física correm o risco de ter gordura no coração mesmo que não seja gordo. A

alimentação correta é comer dois tipos de salada, de preferência de cores diferentes,

comer duas frutas todos os dias, não comer alimentos misturados e comer doce de

vez em quando.”

Nota-se que os conceitos de saúde apresentam aspectos importantes do

contexto social e estes elementos são considerados fundamentais para a

compreensão e apropriação do conhecimento, de forma geral e não fragmentada. A

articulação entre os diversos fatores que interferem na saúde do cidadão foram

mencionados, atendendo satisfatoriamente o objetivo do estudo como dos

encaminhamentos das DCE.

Amostras de pedidos e solicitações dos alunos, expressos nas

cartas/documentos, direcionados as autoridades competentes:

“Prezado prefeito, venho lhe pedir que a cidade está precisando de mais

recursos de lazer, para as várias idades, exemplo: jovem, crianças, idosos.... Eu

quero saber por que a cidade tem tantos espaços grandes que daria para construir

academias e por que não está providenciando?”

“Por exemplo, a praça da escola tem uma piscina que está toda suja e a

água poluída. Poderia reformar a piscina e ter um lugar para jogar voleibol e futebol”.

“Prefeito, nós estamos precisando de quadras disponíveis e que tenha

gente cuidando”.

“O parquinho infantil é muito bom para as crianças, só que se fizesse o

campo ia ficar bem melhor”.

“Também os bancos da praça estão quebrados e as praças estão

precisando de mais árvores”.

“O ginásio de esportes não está em condições para jogar, a porta está

emperrada. Vocês poderiam mudar essas coisas!”.

“Na pista de MotoCross tem um campo onde jogam pessoas no final de

semana e ao lado da pista tem um velho laticínio onde poderia montar uma fábrica

de roupas”.

“Há uma coisa que está precisando, é o hospital, se for lá uma hora, você

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sai às seis horas, porque só tem um médico para atender as pessoas, que tem todo

direito de serem medicadas. Outra coisa são os remédios que às vezes não tem no

posto médico e às vezes são muito caros. Uma coisa é o lar que várias pessoas não

têm. Mas vocês poderiam fazer mais casas para essas pessoas, que tem seus

direitos.”

Procurou-se com a realização desta atividade, oportunizar ao aluno a

participação na vida coletiva da sociedade. É o ato de exercer a cidadania, que exige

conhecimento, responsabilidade, o pensar no bem coletivo, propor sugestões e

quando necessário reivindicar os direitos. Percebe-se, por meio das falas das

crianças, uma preocupação geral com as condições ofertadas pelo município no

sentido de atender aos direitos de lazer, saúde, trabalho e moradia. Esta visão da

complexidade social e cultural contribui significativamente, segundo a literatura e as

DCE, para que o aluno passe a ser um agente de transformação dos problemas

pessoais e sociais.

CONCLUSÕES

O resultado do presente estudo demonstrou que a seqüência de

atividades possibilitou aos alunos uma visão geral de saúde, de sociedade, de

políticas públicas, de direitos e de deveres enquanto cidadãos. No início das

atividades não existia um material teórico-pedagógico preparado para este fim, no

entanto sentiu-se essa necessidade. É importante mencionar que a confecção e

utilização deste, distribuído com antecedência, propiciou maior envolvimento e um

estado de prontidão para a execução das atividades, favorecendo notadamente o

trabalho. Os conceitos elaborados pelos alunos, no final do processo, apresentaram

elementos sócio-culturais significativos e estes se transcenderam ao ambiente

escolar. A atividade direcionada ao aspecto quantitativo (peso e altura) despertou

interesse na maioria e timidez em alguns, necessitando de cuidados na aplicação.

As visitas em diversos locais do município foram realizadas com muito entusiasmo e

estimularam o pensamento crítico.

Mediante os resultados concluiu-se que o trabalho sistematizado,

envolvendo a realidade social, econômica e cultural local, desperta nos alunos

motivação e oportuniza o conhecimento geral e contextualizado, superando a

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fragmentação de conteúdos como vem sendo ministrados. Não se pretendeu em

nenhum momento considerar este estudo acabado. Sabe-se que há muito a

aprender! Sugere-se como continuidade do trabalho, a discussão e reorganização

entre professor e alunos, dos conteúdos da Educação Física relacionados à AFRS.

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