X U D E S C f tu.,,. I . M i t i w t . • í i . l . i •

A n t o n i o H e r o n a l d o d c So<«sa R e i t o r

M a r c u a T o m a s i V i c e - R e i t o r

A X c x a n d r e A m o r i m d o s R«is Pró-Reitor d e P e s q u i s a e Pós-Graduação

M a y c o M o r a i s N i m — Pró-Reitor d e Extensão, C u l t u r a e C o m u n i d a d e

A m a u r i B o g o C o o r d e n a d o r E d i t o r a d a U D E S C

F — l o H t n r í q n a X a v i e r d e S o u s a D i r e t o r G e r a l

C e n t r o d e Ciências d a Saúde e d o E s p o r t e

J U A R E Z V I E I R A D O N A S C I M E N T O

E D I S O N R O B E R T O D E S O U Z A

V A L M O R R A M O S

J Ú L I O C E S A R S C H M I T T R O C H A

Orginizadores

COLEÇAO T E M A S E M M O V I M E N T O

E D U C A Ç Ã O F Í S I C A E E S P O R T E :

c o n v e r g i n d o p a r a n o v o s c a m i n h o s . . .

V o l u m e 7

Floíianópolis 2015

A C<»I«flo Tmmmt c m M o v i m e n t o é u m a publicaçAo d a E d i t o r a d a U D E S C . c o m p o s t a p o r u m c o n s e l h o e d i t o r i a l i n t e r i n s t i t u c i o n a l , q u e o b j e t i v a d i v u l g a r a s p e s q u i s a s r e a l i z a d a s s o b d i f e r e n t e s p e r s p e c t i v a s n a A r e a d e Educação F i s i c a c E s p m r t e s , p a r a a p r o f u n d a r a s p e c t o s c o n c e i t u a i s e metodológicos d a p r o f i s -s A o , b e m c o m o c o n t r i b u i r p a r a a aproximação e n t r e a c o m u n i d a d e científica e I 11 ii ,1 !>( I ' v')'.' ' ' - m d i f e r e n t e s c o n t e x t o s d e intervenção.

C o n v n i h o E d i t o r i a l A d r i a n a C o u t i n h o A z e v e d o Guimarães - U D E S C C h r i s t i N o r i k o S o n o o - U E M Flávio M e d e i r o s P e r e i r a - U P P B L J o i c c M a r a F a c c o S t e f a n e l l o - U F P U L u i z Sérgio P e r e s - U N I O S T E M a r c o s A u g u s t o R ' x h a - U E L V i k t o r S h i g u n o v - U F S C Zénite M a c h a d o - U D E S C

Edição revisada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 16 de dezembro de 1990.

IÍ24 l'.JiicaçAfl fliiCT c c«p«rtc : c o n v e r g i n d t ) p a r a n o v o s c a m i n h o s / J u a r c / V i e i r a d o N a s c i m e n t o ... fci ul J o r g a n i / a d o r c s . - Florian«Spolis : E d . d a U D E S C , 2015. 551 p.: it. - (1 'Mnas c m n M i v i m e n l o . v.7)

I m liii rcfcríncwis F S B N : 978-85-8302-050-9

I . Educaçio física - E s t u d o e « H Í B O . 2. Crianças. 3. A s s ^ d r a tm «colai. 4. P r o f e s s a r e s d e cducaçAo física - Formaçlo. 5. E -Isportes - A s p c c i o a s o c i a i s . 6. Q u a l i d a d e di- v i d a . I . N a s c i m e n t o . J u a r e z V i e i r a d o .

C D U : 796,015

CaUil.<g,H,Ao luipuMlut^Hopor OnéUa Sllvu Cuim.mle., CRB-imil

P j r o ) e t o gráfico, dipgramaçâo e c a p a K i l a M o t t a - I v l i t o r a ' I V i h o d a I l l i a

I m p r c f i s A o Gráfica c E d i t o r a C o p i a r t

Apresentação

O l i v r o ^ducação Fisica e Esportes: conver­gindo para n jvos caminhos r e s u l t a d o esforço c o n j u n t o d e p r o f i s s i o n a i s e i n v e s t i g a d o r e s , d e diferentès áreas d o c o n h e c i m e n t o , q u e a t u a m e m n i i c l e o s o u g r u p o s d e p e s q u i s a d e d i f e r e n t e s itistituições d e e n s i n o s u p e r i o r . Além d e m a n i f e s t a r e m a p a r c e r i a e a c u m p l i ­c i d a d e n o espaço d e expressão d a língua p o r ­t u g u e s a , o s a u t o r e s c o n v i d a d o s a p r e s e n t a m i m p o r t a n t e s contribuições p a r a m e l h o r i a d a q u a l i d a d e d a intervenção pedagógica e m Educação Física e E s p o r t e s .

A o p e r t e n c e r a Coleçào T e m a s e m M o v i ­m e n t o , a p r e s e n t e o b r a f o i i d e a l i z a d a p a r a d i ­v u l g a r a s p e s q u i s a s r e a l i z a d a s e a p r o f u n d a r a s p e c t o s c o n c e i t u a i s e metodológicos d a f o r ­mação e prática pedagógica e m Educação Fí­s i c a e E s p o r t e s . A s s i m , e l a a b r e espaço p a r a o d e b a t e e reflexão d e q u a t r o e i x o s temáticos, n o m e a d a m e j n t e a Educação Física E s c o l a r , a Violência e o B u l l y i n g , a Formação P r o f i s s i o ­n a l e a P e d a g o g i a d o E s p o r t e .

A Educação Física E s c o l a r é a b o r d a d a n o primeirô e i x o temático, c o n s i d e r a n d o a e s c o l a e n q u a n t o espaço t r a d i c i o n a l d e

3 7

3 9

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Sumário

P A R T E 1 Educação fíàica escolar

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1 4 9

O currículo Marcos Garcia Neira

m u l t i c u l t u r a l d a Educação Física

Educação F s i c a e i n t e r d i s c i p l i n a r i d a d e : e s t a ­d o d a a r t e Suraya Cristina Darido, Aline Fernanda Ferreira, Fernanda Moreto Impolcetto, Ana Lívia Gorgatto Fraiha, Affonso Manoel Righi Lang, Ricardo Ducatti Colpas

Inclusão: i n c i d e n t e s críticos e m e s c o l a s p o r ­t u g u e s a s Judite Maria Zamith Cruz

O c o r p o e o j o g o n a e s c o l a : o o l h a r d o c e n t e e a t e o r i a v i g e n t e Edison Roberto de Souza, Nathália Cristina Mathos, Rodolfo da Silva Rosa, Ana Flávia Baches, Patrícia dos Anjos Souza

A Educação Física n o e n s i n o p r o f i s s i o n a l : u m e s t u d o exploratório n a ginástica e m e s t u d a n t e s d o 12° a n o C^sa r Sá, Sílvia Marinho, Beatriz Oliveira Pereira

1 6 9

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1 9 1

1 9 3

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2 3 3

O s p e n s a m e n t o s e a s decisões i n t e r a t i v a s d o s p r o f e s s o r e s d e Educação Física Paulo Pereira, Fátima Bento, Beatriz Oliveira Pereira

E f e i t o d a a t i v i d a d e físico-desportiva o r i e n ­t a d a s o b r e a aptidão física d a s crianças q u e f r e q u e n t a m o 1° c i c l o d o e n s i n o básico João Júlio Serrano, João Manuel Petrica, Maria Helena Mesquita, Victor Farinha

P A R T E 2 Violência e bullying

O o l h a r d a criança s o b r e a proteção d o bullying e m m e i o e s c o l a r Beatriz Oliveira Pereira, Fernando Marcelo Melim, Marcela Almeida Zequinão, Lélio Moura Lourenço

Ocorrências d e bullying e m e s c o l a s públicas - d o E n s i n o F u n d a m e n t a l a o E n s i n o Médio -c o m o p r e v e n i r , c o m o i n t e r v i r ? João Eloir Carvalho, Beatriz Oliveira Pereira

Bullying e s c o l a r : intervenções d e a d u l t o s d i a n t e d o r e l a t o d e e s t u d a n t e s v i t i m i z a d o s Marta Angélica lossi Silva, Julliane Messias Cordeiro Sampaio, Jorge Luiz da Silva, Wanderlei Abadio de Oliveira

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2 7 1

2 9 5

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3 2 7

Relação e r t t r e espaços p a r a o r e c r e i o e o c o r ­rência d e bullying e n t r e e s c o l a r e s Paulo Cesar de Barros

Estratégias pedagógicas n o t r a t o c o m a i n ­d i s c i p l i n a n a Educação Física e s c o l a r A n t o n i o Sérgio Santos SantAna, Juarez Vieira do Nascimento, Edson Souza de Azevedo

P A R T E 3 Formação {Profissional

A Formação d e P r o f i s s i o n a i s d e Educação Física: m o d e l o s d e preparação p a r a a prática J o d o Manuel Petrica, João Júlio Serrano

P e r s p e c t i v a s cação Básii Alba Regin de Souza

d a formação d o c e n t e p a r a E d u -

Battisti de Souza, Edison Roberto

Diálogo n a formação d o p r o f e s s o r d e E d u ­cação Física: d a açào p l u r i d i s c i p l i n a r à ação t r a n s d i s c i p l i n a r Ana Maria Alvarenga, Silvio Aparecido Fonseca, Emília Peixoto Vieira, Gelcemar Oliveira Farias, Juarez Vieira do Nascimento

T r a b a l h o d o c e n t e n a formação d e p r o f e s s o ­r e s d e Educação Física: aproximações c o m a e p i s t e m o l o g i a . . . Ricardo Rezer

3 5 7 I A formação p r o f i s s i o n a l p a r a t r e i n a d o r e s d e s u r f n o B r a s i l Vinícius Zeilmann Brasil, Valmor Ramos, Michel Milistetd, Larissa Rafaela Galatti, Juarez Vieira do Nascimento

3 8 3 I Autoeficácia d i s c e n t e e o c o m p o r t a m e n t o d e e s t u d a n t e s n o E n s i n o S u p e r i o r William das Neves Salles, Juarez Vieira do Nascimento, Júlio Cesar Schmitt Rocha

4 0 5 I P A R T E 4 Pedagogia do esporte

4 0 7 P e d a g o g i a d o e s p o r t e : p r e s s u p o s t o s p a r a a organização d e conteúdos e s p o r t i v o s n a e s ­c o l a d e t e m p o i n t e g r a l Gisele Viola Machado, Larissa Rafaela Galatti, Rillerda Silva Reverdito, Roberto Rodrigues Paes

4 2 7 Educação física e d e s p o r t o p a r a crianças e j o v e n s b o a s práticas: d a Educação Física a o d e s p o r t o Maria Isabel Cabrita Condessa

4 5 1 O e n s i n o d o s e s p o r t e s p o r competências: p r o ­p o s t a pedagógica d o I n s t i t u t o G u g a K u e r t e n n a p e r s p e c t i v a d o s q u a t r o p i l a r e s d a educação V a l m o r R a m o s , J e f e r s o n R o d r i g u e s d e S o u z a Marcelo Bittencourt Neiva de Lima, Vinícius Zeilmann Brasil, Ciro Goda

4 7 5

4 8 9

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5 3 1

O s cartõep d e r e c u r s o pedagógico n a s a t i v i -d a d e s d e iniciação e s p o r t i v a Michel Angillo Saad, Alexandra Folie, Edison Roberto de Souza

Reflexões metodológicas d o e n s i n o p a r a o p r o c e s s o d e iniciação e s p o r t i v a d a s l u t a s Larissa Rafaela Galatti, Carolina Cirino, Alcides José Scaglia

M o d e l o dualístico d a paixão: u m o l h a r n o p r o c e s s o d e aderência a o e s p o r t e Lenamar j Fiorese Vieira, Marcus Vinícius Mizoguchi, Andressa Ribeiro Contreira, Patrícia Carolina L B o r s a t o Passos, Luciane Cristina Arantes da Costa

A e t n o l o g i a n o s u r f e : c o m p r e e n d e n d o s e u s e l e m e n t o s e s t r u t u r a i s e s u a s n o m e n c l a t u r a s Edison Roberto de Souza, Sidney Ferreira Farias, Vinícius Zeilmann Brasil, William das Neves Salles

Inclusão: i n c i d e n t e s críticos e m e s c o l a s p o r t u g u e s a s

Jud i te M a r i a Z a m i t h Cruz

Introdução

A s d i f i c u l d a d e s d e a p r e n d i z a g e m e a s perturbações d e c o m p o r t a m e n t o são u m d o s e s t u d o s c o m m a i o r e s c o n t r i b u t o s e m a i s i n t e g r a d o d a P s i c o l o g i a S o c i a l e d a P s i c o l o ­g i a d o D e s e n v o l v i m e n t o n a Educação, c o m f o r t e i m p a c t o n a i n t e l i g i b i l i d a d e d a ação s o ­c i a l d e inclusão.

T o d o s nós, a d u l t o s m a d u r o s , p r e c i s a ­m o s d e a p r e n d e r e m u d a r à l u z d e s s a e x p e ­riência científica e m u d a r m o s a s s i m o m u n ­d o , p o r e f e i t o d a n e u r o - p l a s t i c i d a d e q u e n o s c a r a c t e r i z a ( D O I D G E , 2 0 1 2 ; G O L D B E R G , 2 0 1 0 ; G O L E M A N , 2 0 1 3 ) . M a s não e s t a m o s sós. P r e c i s a m o s d a a j u d a d e j o v e n s d e s e m -p o e i r a d o s , i m a g i n a t i v o s , c o r a j o s o s e s e n s a ­t o s , q u a n d o a s s o c i e d a d e s a i n d a s e j a m e s ­t a n q u e s , até m e s m o o f e n s i v a s d e m i n o r i a s . A l i m e n t e - s e n a e s c o l a a boa educação, d a d o

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a f e t o a t o d o o e s t u d a n t e , c i r c u n s c r i t o a u m perímetro d e r e g r a s e i n c e n t i v a d a a s u a a u t o n o m i a . N a e s c o l a r e g u l a r p o r t u g u e s a , democrática e heterogénea, f a l t a a l g o m a i s . U r g e s e r e m a l t e r a d a s a s estratégias d e a c o l h i m e n t o d e j o ­v e n s d e o u t r a s c u l t u r a s , c o m o u t r a s vivências e códigos d e l i n g u a g e m b e m d i v e r s o s . Impõe-se d i f e r e n c i a r c o n t e ­údos c u r r i c u l a r e s i n d i v i d u a i s . Têm q u e m u d a r a s f o r m a s d e interação. A c r e s c e d i z e r q u e a inclusão d e p e n d e d a s m e l h o r i a s n a e s c o l a pública, n o s r e c u r s o s h u m a n o s , n a s a j u d a s técnicas e m a t e r i a i s . A inclusão e x i g e a m a i s a m p l a formação contínua d e d o c e n t e s , m a s também f a l t a m c r i ­térios r i g o r o s o s d e r e c r u t a m e n t o , e s t a b i l i d a d e n a s e s c o ­l a s , regulamentação d o s c u r s o s d e formação e m Educação E s p e c i a l ( E E ) , c o m q u a l i d a d e científica, p e n s a d o s o s p e r f i s d o c e n t e s e a s competências a j u s t a d a à aceitação d e d i v e r ­s i d a d e h u m a n a .

T o d a v i a , c h e g a r m o s a fazer a exclusão, em nome da in­clusão, c o m o q u a n d o a c a b a m d e s e r c r i a d a s t u r m a s s e p a ­r a d a s p a r a j o v e n s d e e t n i a c i g a n a , e m T o m a r , o u há u m a n o , e m B a r c e l o s , q u a n d o f o r a m c o l o c a d o s e m c o n t e n t o ­r e s f o r a d a e s c o l a , p o r m e d i d a d e "inclusão intermédia", s e g u n d o u m a responsável d o Ministério d a Educação. P a r a e s s a exclusão, a s e s c o l a s a r g u m e n t a m c o m a s q u e s ­tões d e proveniência d e crianças ( " c o n t e x t o s d i f e r e n t e s " ) , l o g o , p r e t e n d i d a a r e s p o s t a " m a i s p e r s o n a l i z a d a " n o o u t r o espaço, p a r a a "prevenção d o i n s u c e s s o e d o a b s e n t i s m o " . M a s s e a prevenção d e v e s e r a n t e r i o r a o a u m e n t o d e d i f i ­c u l d a d e s d e a p r e n d i z a g e m , também s e d e v e s a b e r o q u e a e s c o l a f e z p a r a " a c o l h e r " ( F A R I A , 2 0 1 4 , p . 1 9 ) , s e m e s p e ­r a r q u e v e n h a m t e r " c o n n o s c o " famílias d e e t n i a s m i n o r i ­tárias. A i n d a a s s i m m a l c o l o c a d o s , e m "inclusão intermé­d i a " , s e 9 7 % d o s a l u n o s c o m d i f i c u l d a d e s estão n a e s c o l a

não segregada, t e m o s d o s m a i o r e s índices d e a l u n o s c o m d i f i c u l d a d e s , f o r a d e e s c o l a s e s p e c i a i s , d e n t r o d a União E u r o p e i a ( p . 1 9 ) .

E então o q u e s e p a s s a , o q u e a p a r e c e c l a r a m e n t e ( p o r "crítico", n o s e n t i d o etimológico), n a s s a l a s d e a u l a ? F l a ­n a g a n ( 1 9 5 4 ) f o i o psicólogo a m e r i c a n o q u e p r i m e i r o se r e f e r i u a " i n c i d e n t e s críticos", n a s a l a d e a u l a , n o s s e g u i n ­t e s t e r m o s :

«Por incidente e n t e n d e - s e t o d a a a t i v i d a d e h u m a n a observável, s u f i c i e n t e m e n t e c o m p l e t a , p a r a q u e através d e l a se p o s s a m f a z e r induções o u previsões s o b r e o indivíduo q u e r e a l i z a a açào. P a r a s e r crí­t i c o , u m i n c i d e n t e d e v e d a r - s e n u m a situação t a l q u e o fim o u a intenção d a açào apareçam s u f i c i e n ­t e m e n t e c l a r o s a o o b s e r v a d o r e q u e as consequên­cias da açào s e j a m evidentes.» ( p . 1 6 6 )

N a n o s s a observação c o r r e n t e , v i s t o u m c e g o d e s c e r a e s c a d a c o m b e n g a l a , o b r i g a n d o o u t r o s a a f a s t a r e m - s e n a s e s c o l a s d o c e n t r o d e B r a g a , não é já possível c o m e n t a r -s e : «não s e i p o r q u e é q u e a e s c o l a a c e i t a p e s s o a s assim...». O m e s m o não a c o n t e c e c o m o s incidentes críticos c o m e s ­t u d a n t e s c o m "síndrome d e a s p e r g e r / t r a n s t o r n o d o e s ­p e c t r o a u t i s t a " ( A P A - D S M V , 2 0 1 4 ) , q u e têm m a i s t e m p o n a realização d e t e s t e s e condições e s p e c i a i s d e e x a m e s . O s c o l e g a s não e n c o n t r a m m o t i v o p a r a a s u a "proteção". Também s e c o n t i n u a a c h a m a r d e " m o n g a " , "mongolóide" e "três l e t r a s d o telemóvel/DEF" a crianças n o s r e c r e i o s . D a r e m o s c o n t a d e ocorrências d e i n d i s c i p l i n a ( m a s não só) e m a l u n o s c o m "défice d e atenção/hiperatividade", " t r a n s t o r n o s d i s r u p t i v o s d o c o n t r o l o d e i m p u l s o s e d a c o n d u t a " , incluídos o s "distúrbios d e d e s a f i o e oposição",

IDUCA^AO FÍSICA E M O I A I I

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«6

além d a questão d a liderança d e d o c e n t e : " S e n t a - t e ! " E e l e , s e g u n d o e l a , " c o m arrogância", r e s p o n d i a "não s e n t o ! "

N e s s e s i n c i d e n t e s , há e s t u d a n t e s c o m défices c o g n i t i ­v o s , m a s e s t e s não s e p o d e m v e r n a c a r a . P o d e m s e r p o r t a ­d o r e s d e défices " l e v e s / l i g e i r o s " ( Q I e n t r e 5 0 - 6 9 ) , d i t o q u e s e e n c o n t r e m e n t r e a s 8 0 - 9 0 % d a s situações, s e m a p o i o e s t a t a l o u d e associações d e p a i s e c o o p e r a t i v a s . Terão m a i o r e s r i s c o s d e a p r e n d i z a g e m , a i n d a q u e s e j a m m a i o r e s as e s p e c t a t i v a s d o s p a i s e p r o f e s s o r e s , q u e l h e s dão t a r e f a s m a i s e x i g e n t e s e responsabilização, e n q u a n t o o s próprios j o v e n s «se c u l p a b i l i z a m , c o n s c i e n t e s d a s s u a s limitações e t e n t a m e s c o n d e r dificuldades» ( A N T U N E S , 2 0 1 2 , p . 3 8 ) . O u t r o s , n e m t e n d o u m a a n o m a l i a s e n s o r i a l ( a u d i t i v a , v i ­s u a l o u corporal-cinestésica), p o d e m t e r «dificuldades p e r ­s i s t e n t e s e p r e j u d i c i a i s n a s h a b i l i d a d e s básicas académicas d e l e i t u r a , e s c r i t a e / o u matemática», m e s m o c o m «altas h a b i l i d a d e s intelectuais» ( A P A - D S M V , 2 0 1 4 , p . 3 2 , p . 6 9 ) e até s e m «desvantagem económica o u a m b i e n t a l , a b s e n ­t i s m o crónico o u f a l t a d e educação» ( p . 6 9 ) . F i c a m f o r a d o s Serviços d e Educação E s p e c i a l ( S E E ) .

E m P o r t u g a l d i s c r i m i n a m - s e N E E ligeiras d a s N E E significativas ( D E C R E T O - L E l 3 / 0 8 , d e 0 7 d e j a n e i r o d e 2 0 0 8 ) , m a i s f a c i l m e n t e a s s o c i a d a s n o s "domínio físico e d e saúde". T o d a v i a , são o s p a i s a t e r e m a última p a l a v r a , c a s o não a c e i t e m o a t e n d i m e n t o n o s S E E . O p r o c e d i m e n ­t o n a e s c o l a i m p l i c a q u e u m d o c e n t e c o m u n i q u e à e q u i p a m u l t i d i s c i p l i n a r d e e s c o l a q u e u m j o v e m e v i d e n c i a s i n a i s d e r i s c o , p e l o q u e é a v a l i a d o c o m a Classificação Interna­cional de Funcionalidade ( O M S , 2 0 0 4 ) , d e f o r m a e n t e n d i d a " p r e h m i n a r " - nível d e identificação d e f a t o r e s p o s i t i v o s . P o d e s e r o b s e r v a d o n e l e / a u m " p r o b l e m a d e a p r e n d i z a ­g e m " e é e l a b o r a d a u m a p r i m e i r a intervenção e d u c a t i v a ,

K M H A ^ A O l l S H A f I S P O d U

e n c a m i n h a d a p a r a S E E , o n d e é f e i t a a s e g u n d a a v a l i a ­ção " c o m p r e e n s i v a " , p o r "identificação d o p r o b l e m a " e a "reavaliação" d a realização a t u a l d o e s t u d a n t e , e m áre­as f o r t e s - " n e c e s s i d a d e s " . V e r i f i c a - s e a n e c e s s i d a d e s d e p r o l o n g a m e n t o d e S E E ? A p a r t i r d e então, p r o c e d e - s e à " e l e g i b i l i d a d e " d o j o v e m n o s S E E . É n e s s e espaço c r i a d a a "planificação/programação" ( P l a n o d e A c o m p a n h a m e n t o Pedagógico - p l a n o e d u c a t i v o i n d i v i d u a l e p l a n o e d u c a t i v o n o g r u p o ) e é r e a l i z a d a a s u a avaliação "contínua, f o r m a t i ­v a e p r o c e s s u a l " - a "avaliação programática".

E c o m o s e a v a l i a m n a s a p r e n d i z a g e n s o s e s t u d a n t e s c o m N E E , q u e não m a i o r i t a r i a m e n t e r e t i d o s ? E x i s t e m só avaliações e x t e r n a s d e a p r e n d i z a g e m ( e x a m e s ) , q u e têm c o m o b a s e d e referência «os c u r r i c u l a e a s m e t a s d e a p r e n ­dizagem» ( g l o b a i s ) , s e m atenção a currículos d i f e r e n ­c i a d o s e adaptações às avaliações d e s s e s a l u n o s . Não há " e q u i d a d e " n e m " q u a l i d a d e " n o a t e n d i m e n t o , p a r a t e r e m s u c e s s o académico. M a s têm s u c e s s o p o r d i p l o m a c o n f e r i ­d o , p a r a l e l o a o 12° a n o d e e s c o l a r i d a d e .

O E s t u d o d e C a s o f o i r e a l i z a d o , n o a n o l e t i v o d e 2 0 1 3 - 1 4 , p a r a s e t e histórias-caso, d e s i g n a d a s p e l o s n o m e s fictícios d e j o v e n s d e 1 2 - 1 6 a n o s , a f r e q u e n t a r e m c i n c o instituições e s c o l a r e s públicas e u m a d e e n s i n o p r i v a d o . Não se e n c o n t r a r a m e s t u d a n t e s c o m D A e / o u N E E e m o u ­t r a s instituições não e s t a t a i s , p o r q u e a s e s c o l a s são e s c a ­l o n a d a s d e a c o r d o c o m o s r e s u l t a d o s o b t i d o s p e l o s s e u s e s t u d a n t e s n o s e x a m e s n a c i o n a i s e o s colégios p r i v a d o s têm d e c o n t r a t a r p r o f i s s i o n a i s e s p e c i a l i z a d o s , não l h e s c o n v i n d o o e n c a r g o económico.

A a m o s t r a , p o r conveniência d e diagnóstico, p a r t i n ­d o d o s Serviços d e Educação E s p e c i a l ( S E E ) , a p r i m e i r a p a r t i c i p a n t e voluntária, n o e s t u d o i n i c i a l e explorató­r i o , f o i u m a p r o f e s s o r a d e d o i s a l u n o s a f a s t a d o s d o s p a i s

I 0 U C A ( A 0 M S I ( A 1 S ( 0 I A I I

8 7

Í8

( s u b g r u p o 1 ) e i n s u c e s s o r e a l , a s s o c i a d o a f a t o r e s biológi­c o s , p r e d i s p o n e n t e s a i r r i t a b i l i d a d e ( M i g u e l , 1 2 a n o s , 6° a n o ) e a f a t o r e s s o c i o f a m i l i a r e s (Leónidas, 1 6 a n o s , 10° a n o ) . O s o u t r o s c i n c o j o v e n s p a r t i c i p a n t e s v i v e m c o m o s p a i s ( s u b g r u p o 2 ) . O u v i m o s u m a d a s d u a s j o v e n s ( M a r i a ­n a ) . P o r t a n t o , o u t r o s q u a t r o j o v e n s não f o r a m a u s c u l t a ­d o s , d e v i d o a l i m i t e s d e comunicação o u a c e s s o . S o b r e e l e s , entrevistámos 2 mães e d o c e n t e s , m a s também a c o m p a ­nhámos c i n c o e s t u d a n t e s estagiários, d e m e s t r a d o s d e e n ­s i n o , d a U n i v e r s i d a d e d o M i n h o , n a região n o r t e d e P o r ­t u g a l . A s c i n c o n a r r a t i v a s , p o s t e r i o r e s às p r i m e i r a s d u a s , introdutórias a o e s t u d o , d e m a r c a m várias perceções, n o s u b g r u p o 2 : M a n u e l ( 1 4 a n o s , 7° a n o ) ; M a r i a n a ( 1 5 a n o s , 10° a n o ) ; V a s c o ( 1 5 a n o s , 10° a n o ) ; R i t a ( 1 5 a n o s , 9° a n o ) ; e A l b e r t o ( 1 5 a n o s , 10° a n o ) .

N a b a s e metodológica d e E s t r e l a e E s t r e l a ( 1 9 9 4 , p . 1 5 ) , focámos s e i s temáticas, p a r a c a t e g o r i a s e d u c a t i v a s p r i n c i ­p a i s : ( 1 ) t r a n s t o r n o s e x p l o s i v o s i n t e r m i t e n t e s ( M i g u e l e A l b e r t o ) ; ( 2 ) distraçào compreensível e discriminação p o s i t i ­v a , p o r a b a n d o n o d e mãe (Leónidas); ( 3 ) exigência d e mãe d e inclusão plena d o j o v e m a u t i s t a ( M a n u e l ) ; ( 4 ) a t e n d i m e n ­t o i n c l u s i v o obrigatório n a l e i m a s n e g a d o , n o mal-entendido d e p r o f e s s o r e s e médicos ( M a r i a n a ) ; ( 5 ) u m a p r o f e s s o r a boa e o u t r a má, p a r a q u e s o f r e d e t r a n s t o r n o d e d i s r u p t i v e d o c o n t r o l o d e i m p u l s o s e d a c o n d u t a ( V a s c o ) ; ( 6 ) depressão/ ameaça d e i n t e g r i d a d e física e r i s c o f a m i l i a r ( R i t a ) .

I n c i d e n t e s críticos e inclusão e m e s c o l a s p o r t u g u e s a s : e s t u d o s d e c a s o

A n a r r a t i v a d e M i g u e l s i t u a - s e n u m a z o n a agrícola d e região d e B r a g a , o n d e se l o c a l i z o u o e s t u d o d o s u b g r u p o

I I H K A Í A O F I S K A E I S P O I I I I

1 . O r a p a z f e z 1 2 a n o s e alcança " 3 e m 5 v a l o r e s " ( a n o t a máxima) n a s d i s c i p l i n a s d o 6° a n o , s e m retenções. M a s é r e f e r e n c i a d o p o r " i n s u c e s s o " ( s e n d o a avaliação f r a c a m e n ­t e d i s c r i m i n a t i v a até a o 9° a n o ) , além d e "perturbação d e c o m p o r t a m e n t o " . A n t e r i o r m e n t e o s e u r e g i s t o incluía " t r a n s t o r n o d e n e u r o - d e s e n v o l v i m e n t o / t r a n s t o r n o d e dé­fice d e atenção/hiperatividade", além d e " d i f i c u l d a d e s d e c o n t r o l o d e i m p u l s o s " .

P o s s u i também u m a d e s v a n t a g e m s o c i o c u l t u r a l . C o m 8 irmãos, a mãe d e i x o u - o s p o r s e j u n t a r a u m a c o m u n i d a ­d e c i g a n a . O p a i não t i n h a a i n d a f a l e c i d o , d e p o i s d e d i a g ­n o s t i c a d o d e "alcoólico", q u a n d o M i g u e l f o i c o l o c a d o , a o s 5 a n o s , e m L a r d e Infância e J u v e n t u d e ( L U ) , residência d e l o n g a duração ( s u p e r i o r a 6 m e s e s ) . Já p e d i u p a r a s e r a d o t a d o a u m a d o c e n t e , n o 5° a n o , o q u e e s t a r e c u s o u .

C u m p r e " c a s t i g o s " f r e q u e n t e s , n a s d u a s instituições e m q u e r e s i d e e e s t u d a . D i a r i a m e n t e está o b r i g a d o à l i m ­p e z a d o b a r d e a l u n o s e d o pavilhão g i m n o d e s p o r t i v o , d o s j a r d i n s e r e c i n t o s e x t e r i o r e s a o L U , além d e r e c o l h e r t o d o o l i x o d a instituição e d u c a t i v a .

N o 6° a n o é o incidente crítico r e l a t a d o n a participação d i s c i p l i n a r , q u e d e l i n e i a a s u a c o n d u t a " h a b i t u a l " e "não n o r m a l " , d e s c r i t a s p e l a d o c e n t e e i n f o r m a n t e - c h a v e :

«O a l u n o d u r a n t e t o d a a a u l a e s t e v e f a l a d o r c o m o é s e u c o s t u m e . N o e n t a n t o , e n c o n t r a v a - s e m a i s a g i t a d o e i r r e q u i e t o q u e o n o r m a l , e s t a n d o c o n s ­t a n t e m e n t e a m e x e r n o s p e r t e n c e s da d o c e n t e . O a l u n o f o i d i v e r s a s vezes c h a m a d o à atenção p e l o c o m p o r t a m e n t o i m a t u r o e i n f a n t i l q u e i n s i s t e n ­t e m e n t e d e m o n s t r a v a . A c e r t a a l t u r a l e v a n t o u - s e , a p r o x i m o u - s e de u m a j a n e l a , a b r i u - a , c o l o c o u a cabeça de f o r a e d e s a t o u aos g r i t o s . A d o c e n t e

( O t K A ^ A O F I S K A E S t O l A D

8 9

c h a m o u - o m a i s u m a v e z à atenção e a c o n s e l h o u - o a a u s e n t a r - s e p o r a l g u n s m i n u t o s d a sa l a de a u l a e q u e só r eg re s sa s se q u a n d o se s e n t i s s e capaz de a d o t a r u m c o m p o r t a m e n t o d i f e r e n t e d o a s s u m i d o até a o momento.» ( E x t r a t o de d o c u m e n t o de p a r t i ­cipação e s c r i t a p o r p r o f e s s o r a de M i g u e l ) .

E n t r e t a n t o a a u l a terá r e t o m a d o o s e u c u r s o , s o m e n t e p o r m i n u t o s , s e n d o a d o c e n t e a e s c r e v e r , m a i s u m a v e z , q u e M i g u e l e n t r o u a b r u p t a m e n t e c o m u m a a t i t u d e d e "impaciência", m a i s " e s t r a n h a " :

«Uma v e z q u e , i n s i s t i a e m boicotar a a u l a c o m o s e u c o m p o r t a m e n t o , o a l u n o f o i m a n d a d o p a r a u m d o s c a n t o s da sa l a e f o i - l h e d i t o q u e só v o l t a r i a p a r a o s e u l u g a r se m u d a s s e de a t i t u d e . T e n t o u - s e , m a i s u m a v e z r e t o m a r o r i t m o n o r m a l d e u m a a u l a ,

90 m a s o a l u n o p e r s i s t i a e m não r e s p e i t a r ninguém, i n s i s t i n d o e m f a l a r q u a n d o e r a s o l i c i t a d a a p a r ­ticipação a a l g u m c o l e g a s e u . U m a v e z q u e o a l u ­n o r e s i s t i a e m m u d a r de c o m p o r t a m e n t o , f o i - l h e d a d a o r d e m d e saída d a sa l a de a u l a p e l a d o c e n ­t e , o a l u n o c o n t e s t o u a decisão e a f i r m o u q u e se r e c u s a v a a s a i r , e q u e não l h e p o d i a s e r m a r c a d a u m a f a l t a d e presença, p o i s e l e e n c o n t r a v a - s e n a sala.» ( E x t r a t o d e d o c u m e n t o de participação es­c r i t a p o r p r o f e s s o r a de M i g u e l ) .

N a sequência d a explosão d e i r a , M i g u e l f o i a b o r d a ­d o p e l a p r o f e s s o r a , n a circunstância i n g r a t a , r e g i s t a n d o e s t a q u e o s e u próprio m o d o d e a g i r terá s i d o " e d u c a d o " , n a insistência p a r a q u e e l e s e a u s e n t a s s e d a s a l a d e a u l a . C o m o M i g u e l u s a s s e d e u m " t o m d e s a f i a d o r " , p a r a d i z e r q u e "ninguém o t i r a v a d a l i " , f o i "conduzido p e l o braço", m a s "arrastado p a r a f o r a d a s a l a " .

Já s e r i a c e r c a d e 1 8 h o r a s e 3 0 m i n u t o s e a b i b l i o t e c a d a e s c o l a e n c e r r a r a , l o g o , a s e n h o r a j u s t i f i c o u a i m p o s s i ­b i l i t a d a d e d a r a o r a p a z n o v a t a r e f a p u n i t i v a . N a situação a n t e c i p a d a , a p o r t a d a s a l a d e a u l a f o i f e c h a d a p o r d e n t r o . D e p o i s , t o d o s o u v i r a m a s u a b a t i d a p a r a e n t r a r , r e p e t i d a , d a n d o pontapés à p o r t a . A d o c e n t e p e d i u a o s p r e s e n t e s q u e s e "abstraíssem d o s b a r u l h o s " , s e b e m q u e f o s s e i m ­possível m a n t e r e m a "concentração" e, i n d i f e r e n t e , p r o s ­s e g u i u a "lição".

A c u s o u p o r e s c r i t o o " h i s t e r i s m o " , a "violência" c o n ­t r a a p o r t a e o s o b j e t o s a r r e m e s s a d o s p o r c i m a d a p o r t a , o n d e há u m a j a n e l a a b e r t a . E l e q u a s e a c e r t o u c o m o s o b j e ­t o s n o s c o l e g a s d a s c a r t e i r a s j u n t o à p o r t a .

D a d o o t o q u e d a s i n e t a p a r a a saída, a p o r t a f o i a b e r ­t a , M i g u e l e n t r o u , a r r u m o u o s s e u s p e r t e n c e s e s a i u , s e m comentários d o s u c e d i d o .

N u m a t u r m a d e a l u n o s "difíceis", Leónidas, a o s 1 6 a n o s , f r e q u e n t a o 10° a n o , c o m a p o i o d e S E E .

N o a n o l e t i v o t r a n s a t o , a p r o f e s s o r a p a r t i c i p a n t e p e r g u n t o u - l h e o s e g u i n t e , o q u e e x p l i c i t o u p o r e s c r i t o : «Hoje, estás m u i t o distraído... n o t e i q u e não r e s p o n d i a s às m i ­n h a s p e r g u n t a s . . . p a r e c i a s e s t a r p r e o c u p a d o . . . está t u d o b e m ? P r e c i s a s d e a l g u m a c o i s a ?

«- P r o f e s s o r a , h o j e não e s t o u c o n c e n t r a d o . E s t o u a i m a g i n a r c o m o é q u e s e r i a se a m i n h a mãe e s t i v e s s e a q u i c o m i g o . . . Sabe , p r o f e s s o r a , n u m d i a de manhã, há m u i t o s a n o s [ t i n h a e le 7 a n o s ] , q u a n d o saí da esco la e c h e g u e i a casa , t i n h a u m a f o l h a d e p a p e l n a p o r t a , q u e d i z i a ' f i l h o , t i v e d e i r e m b o r a , u m d i a e u v o l t o ' . Não c o n s i g o e n t e n d e r p o r q u e é q u e a m i n h a mãe f e z i s t o . N o d i a a n t e r i o r , à n o i t e , t i n h a - m e f e i t o u n s o v o s f r i t o s tão b o n s . . . E u g o s t o t a n t o de l a . . .

9 1

IDU<«l,*0 M S H A I I S P O H l i EOUCAÇAO f I S K A E S C O I A R

- E sabes e m a l g u m sítio e m q u e a t u a màe p o s s a e s t a r ? - D i s s e r a m - m e q u e e s t a v a p a r a os l a d o s d e França... - C l a r o q u e u m d i a d e s t e s v a i s e s t a r c o m a t u a màe. E l a a m a - t e ! - Sabe, p r o f e s s o r a . . . Se c a l h a r a m i n h a màe nào gos­t a a s s i m t a n t o de m i m . . . m a s , m e s m o a s s i m , e u que ­r i a que e s t ives se a q u i . D e v e ser a única pessoa q u e m e entende...» ( E x t r a t o de t e s t e m u n h o , r e g i s t a d o e m d i s c u r s o d i r e t o , p e l a p r o f e s s o r a de Leónidas).

A afirmação d a d o c e n t e a c e r c a d o a m o r d e mãe - " c l a ­r o . . . a m a - t e " , é já d e u m a f o r m a d e compreensão p r i v i l e ­g i a d a d o a b a n d o n o , sensível a condições d e v i d a f a m i l i a r , e m c o n t r a s t e c o m a s u a interação c o m M i g u e l . E n c a r a e s ­t u d a n t e s , c o m d i f e r e n t e s o l h a r e s , s e m q u e c o n s i g a " a c e i ­t a r " a disfunção d o s e g u n d o c o m o m a i s d o q u e má e d u c a -

92 ção, n a "perturbação d e c o m p o r t a m e n t o " . P a s s a n d o a o s u b g r u p o 2 , a r e s i d i r e m c o m p a i s , i d e n -

t i f i c a r a m - s e a s e g u i r c i n c o j o v e n s . M a n u e l , a o s 1 4 a n o s , t e m características n o " e s p e c ­

t r o d o a u t i s m o - e x i g i n d o a p o i o s u b s t a n c i a l " ( A P A - D S M V , p . 5 2 ) , s e n d o d o c u m e n t a d a s a " l i n g u a g e m " l i m i t a d a , b e m c o m o a "interação" s o c i a l d i m i n u t a . F o i a v a l i a d o c o m a E s c a l a d e Inteligência d e W e c h s l e r ( 2 0 0 3 ) , o n d e o b t e ­v e u m Q u o c i e n t e d e Inteligência e n t r e 3 5 - 4 0 e 5 0 - 5 5 , m a s c o m b a s e n o funcionamento adaptativo ( A P A - D S M V , 2 0 1 4 , p . 3 3 ) f r e q u e n t a o 7° a n o , aliás, p o r insistência d a mãe q u e p r e t e n d e a s u a inclusão n a s a l a d e e n s i n o r e ­g u l a r , t a n t o n a a u l a d e Inglês ( 9 0 m i n u t o s p o r s e m a n a ) c o m o n a a u l a d e Ciências d a N a t u r e z a ( 4 5 m i n u t o s , p o r s e m a n a ) . N o 5° a n o M a n u e l já integrou a a u l a d e E x p r e s ­sões Artísticas e a a u l a d e Formação Cívica, o q u e não terá s i d o u m a "inclusão p l e n a " .

N a circunstância a t u a l , a màe q u e s t i o n o u - s e , s e g u n ­d o n o s a f i r m o u : «quando v i o horário d e l e , v i q u e só t i n h a " a p o i o s " [ a u l a s i n d i v i d u a i s d o s S E E ] . . . C o m o é q u e f a z e m u m horário p a r a u m a criança, s e m a c o n h e c e r e m [ t e n d o t r a n s i t a d o d e ciclo]?» P e d i u u m a reunião c o m a d i r e t o r a d e t u r m a e p r o f e s s o r e s d e S E E , m a s f o i - l h e n e g a d a . Ameaçou então " i r f a l a r c o m [alguém d e ] a Direção G e r a l d e E d u c a ­ção d o N o r t e " .

C o m e n t o u c o n n o s c o a consequência d a s u a a t i t u d e : «saí d a e s c o l a às 5 d a t a r d e . . . p o r v o l t a d a s 5 e 2 0 e s t a v a m a l i g a r - m e [ a o t e l e f o n e ] , p a r a m a r c a r a reunião p a r a o d i a seguinte.» Questionámo-la s o b r e o m o t i v o p a r a p e d i r a s a u l a s d e Inglês e d e Ciências d a N a t u r e z a . A màe, p r o f e s ­s o r a , e x p l i c o u o s e g u i n t e :

«Vivemos n o c a m p o e e le g o s t a d a n a t u r e z a , d o s a n i m a i s e d a s p l a n t a s . . . e de Inglês, e le também g o s t a ! E já t e m o vocabulário. E o Inglês é u m a lín­g u a a t u a l . . . é s e m p r e m e l h o r t e r d o q u e nào t e r ! N a situação d e l e , o que vem é bom, p o r q u e tem [ ac re ­d i t o q u e p o d e a d q u i r i r ] o u t r o s i n t e r e s s e s e o u t r a s c u r i o s i d a d e s . Nào d i g o q u e a l g u m d i a - n o f u t u r o -vá p r e c i s a r . . . [de s a b e r Inglês] m a s c o m os avanços d a m e d i c i n a , n u n c a se sabe o q u e p o d e a c o n t e c e r [ s e m a n t e c i p a d a cura].» ( T e s t e m u n h o o r a l de màe de M a n u e l ) .

C o l o c a r a m " e n t r a v e s " , q u e a mãe nào a c e i t o u , q u a n d o não q u i s q u e o filho usufruísse d e a p o i o personalizado? A r e s p o s t a não se f e z e s p e r a r : «... p o r q u e t e r a p o i o individu­alizado não é inclusão n e n h u m a . E exclusão. A p o i o i n d i v i -d u a H z a d o d o u - l h e e u [ s e n d o p r o f e s s o r a ] , e m c a s a . E l e t e m q u e e s t a r e m sociedade.»

9 3

f D U f A C A O M ' l K A t I S H O K I f t D U C A ( , A O F Í S I C A E S C O L A R

9 4

M a n u e l começou p o i s a t e r a u l a s d e Inglês, c o m o a t r a s o d e d u a s a três s e m a n a s . M a s , d e a c o r d o já c o m a d o c e n t e , «na p r i m e i r a a u l a , e l e r e v e l o u alguma excitação ( . . . ) t a l v e z p e l a n o v i d a d e o u p e l o e n c o n t r o c o m p a r e s , c o m u m a p r o f e s s o r a q u e não c o n h e c i a . . . a t u r m a r e a g i u b e m e a inclusão t o r n o u - s e fácil e generosa.» E n t r a v a n a p r i m e i ­r a p a r t e d e a u l a d e Inglês ( 4 5 m i n u t o s d e 9 0 m i n u t o s ) , s e n d o c o l o c a d o à f r e n t e e a o l a d o d e u m a d a s m e l h o r e s a l u n a s , s u a " t u t o r a " .

A p r o f e s s o r a d i s s e - n o s d a r - l h e a r e a l i z a r a t i v i d a d e s i n d i v i d u a i s m a s " m e c a n i z a d a s " ( e x . : what's your name?). C h e g a n d o a " p a r t i c i p a r " n o g r a n d e g r u p o , M a n u e l e r a a j u ­d a d o p o r c o l e g a s , q u e "não o d i f e r e n c i a v a m " . M a s a o u t r a p r o f e s s o r a d e Ciências d a N a t u r e z a não a c e d e u a f a l a r - n o s e, s e g u n d o a mãe, não a c e i t o u também a "imposição" d e inclusão, o q u e i m p l i c a q u e M a n u e l não p a r t i c i p a n a a u l a : «ele s e n t a - s e a o f u n d o e fica lá a d e s e n h a r . . . q u a n d o e l e c h e g a a c a s a , v o u v e r o c a d e r n o e nada...»

S e g u e - s e u m a o u t r a situação - M a r i a n a , e x i s t i n d o dúvidas a c e r c a d e s e r "epilética", u m a doença neurológica não incompatível c o m u m " t r a n s t o r n o c o n v e r s i v o " ( A P A -- D S M V , p . 3 2 1 ) .

D e p o i s d o diálogo i n f o r m a l . M a r i a n a l e v o u - n o s à s u a d i r e t o r a d e t u r m a e a o s e u p r o f e s s o r d e Educação Física.

A f r e q u e n t a r o 10° a n o d e e s c o l a r i d a d e , e l a f a l t a m u i ­t o às a u l a s , o n d e n e m se põe d e pé n e m v a i a o q u a d r o d a s a l a d e a u l a , f a z e n d o o s t e s t e s e m s e p a r a d o , p o r q u e t e m " c r i s e s " a p a r a t o s a s d e s d e o 2° c i c l o ( 1 2 - 1 3 a n o s ) .

T o d a v i a , o s médicos c o n s u l t a d o s , s e g u n d o a própria M a r i a n a n o s d i s s e , " d e s d r a m a t i z a r a m " a s u a condição neurológica, a f i r m a n d o q u e e l a " s i m u l a r i a o s d e s m a i o s / t r a n s t o r n o factício o u simulação" ( A P A - D S M V , p . 3 2 2 ) .

I O I I ( A ( , A l ) H S I ( A n S P O R I I

Não é e s s e o parecer de d i r e t o r a d e t u r m a q u e o b s e r v a , p o r v e z e s , d o i s " a t a q u e s " s u c e s s i v o s ( q u e s e a s s e m e l h a m a síncope), d e c e r c a d e 1 0 m i n u t o s , c o m " m o v i m e n t o s violentos, s e m p r e p a r a o l a d o e s q u e r d o " . O r a n o s " a t a q u e s não epiléticos psicogénicos", o s o l h o s p o d e m e s t a r f e c h a ­d o s , c o m resistência à a b e r t u r a , m a s " o e l e t r o e n c e f a l o -g r a m a e m simultâneo p o d e r s e r ( o u não) n o r m a l " , o q u e "não e x c l u i t o d a s a s f o r m a s d e epilepsia/síncope" ( o p . c i t . p . 3 2 0 ) . E terá " c r i s e s " e m c a s a ? E o u t r o s diagnósticos? S e m o s a b e r , f o i a d o c e n t e a c o m e n t a r não possuírem n e m e l a n e m o u t r o s p r o f e s s o r e s c o n h e c i m e n t o , s e n d o a e p i l e p ­s i a "a perturbação m a i s c o m u m n a infância, s o b r e t u d o até a o s 1 0 a n o s " .

F o i M a r i a n a a c o n t a r - n o s t e r " c r i s e s " só n a e s c o l a , o n d e s e t o m a p o r u m " e m p e c i l h o " , n a m e d i d a e m q u e o s c o l e g a s p a r a m a t i v i d a d e s p a r a l h e d a r e m a p o i o . U m b e n e ­fício secundário d e atenção? M a r i a n a , v i n d o a e x p l i c i t a r o s e u " p r o b l e m a " , c o n t o u q u e l h e p r e n d e m a s p e r n a s (não r e c o m e n d a d o n a condição neurológica), s e n d o q u e a «a a n s i e d a d e é normal»: «Devido à m i n h a situação, e u t e n h o a n s i e d a d e , q u a n d o f a l t o às a u l a s , à e s c o l a m a s , p r i n c i p a l ­m e n t e , q u a n d o a s p e s s o a s v e e m a s m i n h a s c r i s e s e d e p o i s e u t e n h o d e i r p a r a o h o s p i t a l . P a r a m e a j u d a r , c o m o m e u p r o b l e m a , a n d o a s e r s e g u i d a p o r u m a psicóloga.» Q u a l é o "verdadeiro p r o b l e m a " não o s a b e M a r i a n a . A s c r i s e s o c o r ­r e r e m t a n t o n a d i s c i p l i n a d e Português, c o m o n o u t r a s d e caráter científico: B i o l o g i a e G e o l o g i a , Matemática, Ciên­c i a s Físico-Químicas. A "exigência é d e m a s i a d a m e n t e e l e ­v a d a " p a r a q u e a m e n i n a s i m u l e a s c r i s e s ?

N o 1° período, e l a t e v e u m a c r i s e n a p i s c i n a , n a a u l a d e natação, e m Educação Física. O p r o f e s s o r m u i t o p r e o ­c u p a d o , s e n d o - l h e c o m p l i c a d o r e t i r a r a a l u n a d a água c o m

t O U C A C A O F I S I C A ISÍOIAR

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o s c o l e g a s , p a s s o u a r e c u s a r - s e l e v a r M a r i a n a à p i s c i n a . A mãe a c u s o u a "discriminação" e o p r o f e s s o r a r g u m e n ­t o u , n a situação l i t i g i o s a , s e g u n d o n o s c o n t o u o s u c e d i d o , o c o r r i d o n a presença d a mãe:

«- E u só c o l o c o a s u a f i l h a n o v a m e n t e d e n t r o da­q u e l a p i s c i n a , se a s e n h o r a v i e r às a u l a s t o m a r c o n t a d e l a . A t u r m a é c o m p o s t a p r o 2 7 a l u n o s . E u não p o s s o d e s c u i d a r o s o u t r o s a l u n o s , p a r a f i x a r os o l h o s n a s u a f i l h a , d u r a n t e 9 0 m i n u t o s . O s o u ­t r o s a l u n o s também n e c e s s i t a m d o m e u c u i d a d o e atenção. A decisão é s u a . A m i n h a decisão está tomada.» ( T e s t e m u n h o o r a l de P r o f e s s o r de E d u ­cação Física de M a r i a n a ) .

O p r o f e s s o r c o n t i n u a a não s e r forçado a i n c l u i r a a l u ­n a , s e n d o q u e o diagnóstico é i n c o n c l u s i v o , e n t r e a s m a i s q u e d u a s avaliações d e t r a n s t o r n o s possíveis: " s i n t o m a s somáticos" ( f a d i g a , d o r . . . ) , " d i s s o c i a t i v o " ( u m a d e s c o n t i ­n u i d a d e d a integração n o r m a l d a consciência...), "dismór-f i c o c o r p o r a l " ( p o r preocupações físicas e x c e s s i v a s ) , " d e ­p r e s s i v o " ( p e s o e x c e s s i v o d e m e m b r o s , além d o s s i n t o m a s c e n t r a i s ) e / o u "pânico"... ( A P A - D S M V , p . 3 2 2 ) . O s p r o f e s ­s o r e s r e c u s a m - s e a v e r u m a "simulação" e m M a r i a n a q u e d i s s e t e r c r i s e s , não antecipáveis, até p o r mudanças d e t e m p e r a t u r a , cansaço o u a n s i e d a d e p o n t u a l .

A f r e q u e n t a r o u t r a a u l a - Matemática d e 10° a n o , c o m o M i g u e l e A l b e r t o , u m r a p a z f o i r e f e r e n c i a d o p o r u m a "perturbação d e c o m p o r t a m e n t o / t r a n s t o r n o s d i s r u p t i v o s d o c o n t r o l o d e i m p u l s o s e d a c o n d u t a " ( A P A - D S M V , p p . 4 6 1 - 4 7 6 ) . D e n o m i n a d o d e V a s c o , a o s 1 5 a n o s , d i s s e à p r o -f e s s o r a / d i r e t o r a d e t u r m a , n a p r i m e i r a a u l a : «Não g o s t o d e s i e v o u f a z e r a s u a v i d a n u m inferno.» E l e j o g a Tetrís, n a s u a c a l c u l a d o r a gráfica, v i s t o p o r u m a estagiária q u e o

( W K A ( . A O M S K A f I S W B C f

a c o m p a n h a n o a n o l e t i v o . E l a a p r o v e i t o u o u t r a c i r c u n s ­tância p a r a l h e p e r g u n t a r o s e g u i n t e : «Já f i z e s t e a f i c h a d e trabalho?» V a s c o s u r p r e e n d e u - a : «Já s e i e s t e s exercícios t o d o s . A matéria é fácil e não p r e c i s o praticar.»

M a i s solícita c o m e l e , a estagiária e x p l i c i t o u - n o s o " c o n t r a t o " q u e e s t a b e l e c e u : «Vamos f a z e r u m a c o r d o , e n ­tão, V a s c o ? S e f o r e s c a p a z d e r e s o l v e r o s d o i s p r i m e i r o s exercícios, c o r r e t a m e n t e , e u não t e chateio m a i s , m a s s e e r r a r e s a l g u m , c o n t i n u a s a r e s o l v e r a ficha». S e g u n d o e l a , o r a p a z p o d e t e r " a c h a d o p i a d a a o a c o r d o " . E r r o u u m e x e r ­cício, p a s s a n d o à f i c h a , p e d i n d o - l h e a j u d a , m a s n a s a u l a s teóricas s e g u i n t e s " p r e f e r i u " v o l t a r a j o g a r Tetris, s e b e m q u e " p a r t i c i p a n d o n a s a u l a s práticas".

N o f i n a l d o 1° período, s e m esforço, a s n o t a s d e l e f o r a m "razoáveis", m a s e l a v o l t o u a d i r i g i r - s e - l h e , d i a s a n t e s d e l e c i o n a r f r e n t e à d o c e n t e : «- N a s m i n h a s a u l a s , v a i s c o n t i n u a r c o m a m e s m a a t i t u d e q u e t e n s , agora?» E l e r e s p o n d e u - l h e o s e g u i n t e :

- C l a r o q u e não, p r o f e s s o r a ! A p r o f e s s o r a é m e s m o fixe e não t e m n a d a a v e r c o m a [ p r o f e s s o r a ] q u e t e m o s a g o r a . D e v e s e r p o r t e r q u a s e a n o s s a i d a d e . A p r o f e s s o r a c o n s e g u e m o t i v a r - n o s m a i s e, além d i s s o , f o i das p o u c a s p r o f e s s o r a q u e d e m o n s t r o u i n t e r e s s e e atenção e m relação a m i m e não m e v i u , l o g o , desde o início, c o m o u m caso p e r d i d o . ( T e s ­t e m u n h o e s c r i t o , e m d i s c u r s o d i r e t o de e s t u d a n t e estagiária de Matemática).

A s s u m i d a m e n t e c o n t e n t e , e l a v o l t o u a interrogá-lo: «Se q u e r i a s q u e a p r o f e s s o r a se p r e o c u p a s s e c o n t i g o , p o r ­q u e é q u e l h e d i s s e s t e a q u i l o [«não g o s t o d e s i e v o u f a z e r a s u a v i d a n u m inferno.»] n a p r i m e i r a aula?» M a n i f e s t a n d o

( t X J C A ^ A O F I S K A t S d K A X

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" v e r g o n h a " , V a s c o a q u i e s c e u , n o s s e g u i n t e s t e r m o s : «Dis-s e - l h e i s s o , m a s nào era o que sentia. D i s s e - l h e p a r a c h a m a r a atenção d e l a . S e não m e d e s s e atenção, p o r s e r u m a l u n o dito normal, i r i a d a r - m e , p o r s e r rebelde.»

C o m o o e s p e r a d o , V a s c o a d e r i u às s u a s a u l a s , p e d i n ­d o p a r a i r a o q u a d r o r e s o l v e r exercícios, c o n d u z i n d o - s e " c o m o outra pessoa, m e s m o p e r a n t e o s c o l e g a s " .

T e r m i n a d a s a s a u l a s a s s i s t i d a s d a estagiária, v o l t o u à " r e b e l d i a " , p i o r a n d o a s avaliações m a i s a i n d a d o q u e n o princípio d o a n o . P a s s o u a s e r expulso d a s a l a d e a u l a , p o r ­q u e não s e m a n t i n h a e m silêncio, e n t r e o u t r o s " c o m p o r t a ­m e n t o i n d e s e j a d o s " .

C o n f o r m e a j o v e m n o s c o n t o u , s o m e n t e n o final, V a s ­c o é filho único, m a s v i v e a f a s t a d o d o s p a i s , q u e s e d e s l o ­c a m e m t r a b a l h o p r o l o n g a d o , ficando n a c a s a d e avós. P a r a e l a e s s a é u m a circunstância p e n o s a .

S e V a s c o é instável, t e n d o a r r e m e s s o s d e violência v e r b a l , R i t a ficara " d e p r i m i d a " e " t e m e x c e s s o d e p e s o " ( s i n t o m a d e depressão, q u a n d o o g a n h o é d e 5 % e m u m mês, s e m d i e t a ) , m o t i v o s p a r a a t e n d i m e n t o e m N E E , m a s só d e p o i s d e r i s c o d e suicídio.

Após u m a repetência, n o 9° a n o , a e s t u d a n t e d e 1 5 a n o s , a p r e s e n t a v a u m " a r apático", v e s t i n d o "indumentá­r i a n e g r a " e p e r s i s t i a n u m a p o s t u r a "solitária". P o s i c i o n a -- s e s e m p r e atrás d e 2 0 r a p a r i g a s e 5 r a p a z e s , d i t o q u e a s c o l e g a s s e j a m " m u i t o c o m p e t i t i v a s c o m e l e s n o s t e s t e s e t r a t e m m u i t o d e i m a g e m " . E l a n e m m a s c a r a v a o m a l - e s -t a r , n a apreciação p o r estagiária d e Português-Espanhol, q u e n o s c o n d u z i u à d i r e t o r a d e t u r m a e à psicóloga.

R i t a , i n v a r i a v e l m e n t e , r e s p o n d i a - l h e "não s a b e r " , s e i n t e r p e l a d a n a a u l a d e língua m a t e r n a , ficando m e s ­m o a l t e r a d a e p r e s t e s a c h o r a r . B a i x a v a a s u a prestação

fWKAt.ÀOIISICAffSPOmF

académica e m Português, d e f o r m a notável, s e g u n d o a d i ­r e t o r a d e t u r m a e i s o l a v a - s e n o s i n t e r v a l o s , s i s t e m a t i c a ­m e n t e . E s s a s observações c o i n c i d i r a m c o m o d e s e m p r e g o d o p a i , após divórcio e, s o b r e t u d o , q u a n d o o p a i e m i g r o u p a r a França, n o q u e s e d e s i g n a d e " p r o b l e m a s d e r e l a c i o ­n a m e n t o - r e l a c i o n a d o s a g r u p o d e a p o i o primário" ( A P A -- D S M V , p . 7 1 6 - 7 1 7 ) . E x t r e m a m e n t e l i g a d a a o p r o g e n i t o r , o T r i b u n a l d e Família e M e n o r e s d e l i b e r o u q u e R i t a p e r ­m a n e c e s s e c o m a mãe. D e s d e então, s e g u n d o e s t a , R i t a m u d o u e m c a s a , o n d e ficava «no s e u q u a r t o , d o r m i n d o m a i s d o q u e h a b i t u a l m e n t e , s e m s a i r c o m a m i g a s , s e m q u e r e r f a z e r c o m p r a s , n e m p e r m a n e c e n d o n o c o m p u t a ­d o r c o m o o s j o v e n s d a s u a idade.» E s s e f o i o s e u p a r e c e r , f r e n t e à psicóloga d o A g r u p a m e n t o d e E s c o l a s , após R i t a t e r f e i t o "escoriações/skin-picking" e " c o r t e s " n o s p u l s o s , e m c a s a , n a b a n h e i r a .

E n c o n t r a d a p e l a mãe, q u e p r o c u r o u o a p o i o e s c o l a r , r e p e t i u a automutilação n a c a s a d e b a n h o d a e s c o l a , n o d i a s e g u i n t e .

P o r i n i c i a t i v a d e d i r e t o r a d e t u r m a , o t r a b a l h o d e e q u i p a d e p r o f e s s o r e s p r i v i l e g i a a Educação Física, f o m e n -t a n d o - s e a " a u t o e s t i m a " d a j o v e m e a atenção " p r i v i l e g i a ­da" . O s c o l e g a s f o r a m i n c e n t i v a d o s a m a i o r c a m a r a d a g e m . E n t r e t a n t o , o p a i f o i c o n t a c t a d o p e l a e s c o l a e , s e m h e s i t a r , p a s s o u a c o n v e r s a r c o m a filha, c o m a s s i d u i d a d e . M a s a mãe d e R i t a m a n t e v e a p o s t u r a d e " d e r r o t a d a " , s e g u n d o a d i r e t o r a d e t u r m a , a f i r m a n d o q u e a filha " p e d e atenção", p o r s e r " m i m a d a e m e x c e s s o p e l o p a i " .

Já A l b e r t o b e n e f i c i a c o m u m P l a n o d e A c o m p a n h a ­m e n t o Pedagógico ( P A P ) e t e m a t e n d i m e n t o n o s Serviços d e Orientação e P s i c o l o g i a ( S O P ) , c o m a indicação d e m e ­dicação ritalin/metilfenidato ( q u e não t o m a ) e u m b i l h e t e

f D U C A ( , A O ( I S K A f S ( O l A R

99

100

e m q u e a psicóloga n o s l e u : «hiperatividade, d i f i c u l d a d e d e c o n t r o l a r o s impulsos». Nào f o i f e i t o u m diagnóstico d i f e ­r e n c i a l , a i n d a q u e v i o l e o s d i r e i t o s d o s o u t r o s p o r " t r a n s ­t o r n o d i s r u p t i v o d o c o n t r o l o d o s i m p u l s o s e d a c o n d u t a " ( A P A - D S M V , p . 4 6 5 ) .

F o r a a c o m p a n h a d o p o r p e d o p s i q u i a t r a e psicóloga, d e Associação d e S o l i d a r i e d a d e S o c i a l , n a z o n a d e residência.

N a s a l a d e a u l a , à semelhança d e o u t r o s ( M i g u e l e V a s c o ) , A l b e r t o a g r e d i r a v e r b a l m e n t e u m a p r o f e s s o r a , n o s s e g u i n t e s t e r m o s : «você é s u r d a ? Você p e n s a q u e m a n d a e m m i m ? Você não m a n d a e m mim!»

S e g u n d o p a l a v r a s d a mãe, e l e " r e s p o n d e b e m a o p a i " , c o m q u e m " f a l a b a i x o " , "é e d u c a d o " e anda certinho.

P a r a a estagiária n a a u l a , q u a n d o é q u e s t i o n a d o s o b r e t e m a s e s c o l a r e s , a f i r m a s e m p r e "não s a b e r " ( c o m o R i t a ) . S o b r e a s a t i t u d e s a g r e s t e s , n u n c a p e d i u " d e s c u l p a " , a s s e ­g u r a n d o "não m u d a r " e "não s e a r r e p e n d e r " .

N a ocasião o b s e r v a d a , A l b e r t o f o i e x p u l s o d e s a l a d e a u l a , m a s não e s p e r o u p o r funcionário, c o m q u e m é s e m ­p r e e f e t u a d a a deslocação p a r a o u t r o espaço, g r i t a n d o : "ninguém m a n d a e m m i m ! "

Considerações finais

T o d a s a s crianças são mal comportadas e " h i p e r - " , d e v e z e m q u a n d o . M a s p o r m a i s i n c o r r e t o q u e s e j a c l a s s i f i ­c a r p e s s o a s , s e g u n d o t i p o s d e "disfunções c e r e b r a i s míni­m a s " , p i o r será a negação d o " p r o b l e m a " d e n e u r o - d e s e n -v o l v i m e n t o . P i o r a i n d a d o q u e e t i q u e t a r / r o t u l a r j o v e n s , é i m p e d i r a o u t r o s p r o f i s s i o n a i s d e u t i l i z a r e m m e d i d a s específicas d e reabilitação n e u r o psicológica, n a m i n o r i a

( D U C A ^ A O FÍSICA ( i S P O f l I t

e s c o l a r q u e não está a a p r e n d e r ( P O R T E L L A N O , 2 0 0 5 , p . 3 0 6 ) . À imprecisão d e diagnósticos a l i a m - s e a s a v a l i a ­ções não s u f i c i e n t e m e n t e f u n d a m e n t a d a s . O u t r o s são o s critérios clínicos, p a r a " a u t i s m o " , além d e questão l i n ­guística e s o c i a l diminuída ( M i g u e l ) e p a r a o p r o b l e m a d e a b a n d o n o s o c i o f a m i l i a r (Leónidas), não e q u a c i o n a d o s p o r p r o f e s s o r e s e técnicos, m a s d e r i s c o e d u c a c i o n a l e v i d e n t e .

N o g r u p o d e e s t u d o , d e c i n c o r a p a z e s ( s u b g r u p o 2 ) , três d e l e s ( M i g u e l , V a s c o e A l b e r t o ) f o r a m a v a l i a d o s , p o r t r a n s t o r n o m a i s f r e q u e n t e n a adolescência, s e g u n d o B A S S A R A T H ( 2 0 0 1 , p . 6 0 9 - 6 1 6 ) , m a s q u e v a r i a d e 1 % a 1 5 % n a população: "perturbação/transtorno d e c o m p o r ­t a m e n t o " , o q u e i n c l u i , não o s e n d o d i t o , u m " p r o b l e m a d e a u t o c o n t r o l o d e emoções" ( A P A - D S M V , 2 0 1 4 p . 4 6 1 ) . P o r s e u l a d o , a s d u a s r a p a r i g a s m a n i f e s t a m s i n a i s e s i n t o m a s d e o u t r o t i p o - "somáticos e t r a n s t o r n o s r e l a c i o n a d o s " . M a r i a n a s o f r e d e "conversão/transtorno d e s i n t o m a s n e u ­rológicos f u n c i o n a i s " ( o p . c i t . , p p . 3 1 9 - 3 2 2 ) e / o u s i m u l a o a t a q u e . R i t a e n c o n t r a - s e m a s a p o i a d a n a "depressão" q u e p o d e s e r p a r a l e l a a a f a s t a m e n t o d o p a i .

E a f i n a l , q u e f a t o r e s i n t e r f e r e m n a s a u l a s , s e g u n d o as visões d o s e n v o l v i d o s , p r o f e s s o r e s estagiários e a u t o r a , p a r a o s incidentes críticos n a r r a d o s ?

Q u a n d o i d e n t i f i c a d o s , o s a t o s p a r a incidentes críticos f o ­r a m c l a r a m e n t e o b s e r v a d o s n a s s u a s intenções/propósitos: i n d i s c i p l i n a e interação n e g a t i v a ( M i g u e l ) ; défice d e a t e n ­ção e interação d e s e j a d a c o m p r e e n s i v a p o r d o c e n t e (Leóni­d a s ) ; exigência d e inclusão d e a u t i s t a p o r mãe e reações d e d o c e n t e s ( M a n u e l ) ; interação c o n f l i t u a l mãe-professor d e Educação Física ( M a r i a n a ) ; i n d i s c i p l i n a m a s e n t e n d i m e n ­t o p o s i t i v o , e s t u d a n t e estagiária ( V a s c o ) ; manifestações d e depressão ( R i t a ) ; e, d e n o v o , i n d i s c i p l i n a ( A l b e r t o ) .

E O C K A ^ A O F I S K A E S C O U R

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Também a s s u a s consequências f o r a m r e v e l a d a s : e x ­pulsão d a a u l a ( M i g u e l ) ; p r e s u m i d a e m p a t i a d o c e n t e p a r a c o m r a p a z a b a n d o n a d o (Leónidas); inclusão e a u t o r i d a d e d o c e n t e ( M a n u e l ) ; inclusão i m p e d i d a p o r p o d e r d e p r o f e s ­s o r ( M a r i a n a ) ; d i s c i p l i n a alcançada p e l a estagiária " a m i g a " ( V a s c o ) ; e n c a m i n h a m e n t o e s c o l a r d e s u c e s s o ( R i t a ) ; e i n ­c a p a c i d a d e d e c u m p r i m e n t o d e r e g r a s e s c o l a r e s ( A l b e r t o ) .

Não m u d a m o s o s g e n e s e m interação c o m o m e i o , m a s p o d e m o s m u d a r o m e i o , t o r n a n d o - o e s t i m u l a n t e . C o n c l u i - s e q u e o s d o c e n t e s e d u c a m crianças/jovens c o m N E E e / o u D A , p o d e n d o g a n h a r e m c o n h e c e r o s s e u s i n ­t e r e s s e s e e n v o l v e n d o - s e m a i s , p o r q u e a s u a influência é e n o r m e n o e n c o r a j a m e n t o e n a perceção d e competência, e m c a s o d e défice c o g n i t i v o ( A N T U N E S , 2 0 1 2 , p . 4 2 - 4 3 ) . I m p o r t a q u e u s e m m a i s informação v i s u a l ( d e s e n h o , q u a ­d r o o u f o t o g r a f i a ) , além d e v e r b a l ( c o m instruções d a d a s p o r e t a p a s ) e d e m o n s t r e m c o m o f a z e r ( n o s e n t i d o d e se " a p r e n d e r f a z e n d o " ) e e m v e z d o s e d u c a n d o s se e n c o n t r a ­r e m a v e r f a z e r . São o s d o c e n t e s a d e m o n s t r a r n a execução, q u e m o d e l a m também a p e r s o n a l i d a d e ( p . 4 3 ) .

I m p o r t a d i z e r q u e n e m é necessário q u e d o c e n t e s c o ­nheçam diagnósticos, c o m o "perturbação/transtorno e x ­p l o s i v o i n t e r m i t e n t e " , n e m q u e s e p r e o c u p e m e conheçam as s u a s c a u s a s . I m p o r t a a n t e s c o m o v i m o s q u e a p r e n d a m a a g i r s o b r e consequências ( A N T U N E S , 2 0 1 2 , p . 3 3 ) , p o r ­q u e não p o d e m o s a l t e r a r f a t o r e s genéticos e c a u s a s miílti-p l a s . N o e n t a n t o , a s crianças só são m u i t a s v e z e s d i a g n o s ­t i c a d a s p o r psicólogos, c o m a e n t r a d a n o e n s i n o básico, a o s 6 a n o s e m e s m o d e p o i s , q u a n d o a o s 2 a n o s é a i d a d e a d e q u a d a . E n t r e t a n t o , a sinalização d e j o v e n s n o a c e s s o a Serviços d e P s i c o l o g i a e Orientação ( S P O ) e a Serviços d e Educação E s p e c i a l ( S E E ) são m a i s e f e t i v a s n a s síndromes

I fMHAíAOllMiAt [ S F < ) ( 1 I I

visíveis n a f a c e ( p o r implicações neurológicas), c o m o n a "síndrome d e X frágil" ( H A R R I S O N ; G E D D E S ; S H A R P E , 2 0 0 6 , p . 3 3 5 ) , n o " a u t i s m o " d e M a n u e l , c o n h e c i d a a m u ­tação d o g e n e F R M l , d o c r o m o s s o m a X , i m p l i c a d a s c o n e ­xões sinápticas, malformações e n v o l v i d a s e défice c o g n i ­t i v o e v i d e n t e .

E n t r e t a n t o , há p a i s não q u e r e m o u v i r o s p r o f i s s i o n a i s , fechando a mente, m a s também há técnicos e médicos q u e l h e s f a l a m c o m linguagem técnica e difícil, p o r v e n t u r a p o r s u p e r i o r i d a d e , o u p a r a não o s m a g o a r e m , u m a ação " c a r i ­d o s a " ( A N T U N E S , 2 0 1 2 , p . 1 6 ) . I m p o r t a a i n d a r e c o n h e c e r q u e n e m t o d o s o s p r o g e n i t o r e s p o d e m s e r i n t e r l o c u t o r e s . C o m t r a n s t o r n o s físicos o u m e n t a i s , p o d e m t r a n s m i t i r s i ­n a i s m e n o r e s neurológicos, d e n a t u r e z a p s i c o m o t o r a e / o u epilética. Não podemos então viver numa plácida ilha de igno­rância, s e m a s s o c i a r m o s a interação d e f a t o r e s biológicos e s o c i o f a m i l i a r e s a c o n d u t a s d e a g r e s s i v i d a d e e m M i g u e l , V a s c o e A l b e r t o .

A t e n t e - s e n o u t r o r e p a r o , v i n d o d e p r o f e s s o r a a q u e t i v e m o s a c e s s o p a r a o e s t u d o ( s u b g r u p o 1 ) : «as t e c n o l o ­g i a s c h e g a m , q u a n d o já n e m s e j a m a s a d e q u a d a s , u m d e s ­perdício e , p i o r , p e r d i d o t e m p o d e a p r e n d i z a g e m v i t a l a o s e s t u d a n t e s c o m NEE.» C o m e n t o u q u e o S i s t e m a N a c i o n a l d e Intervenção P r e c o c e f a l t a , e m c e r t a s z o n a s i s o l a d a s d o país. A i n d a a l e r t o u p a r a a s N E E "transitórias", s e m a p o i o d e "intervenção e s p e c i a l i z a d a " , c o m r i s c o d e e v e n t u a l " c r o n i c i d a d e " . E x p l i c i t o u , d e p a s s a g e m p o r u m r a p a z d e 1 2 a n o s , d a residência d e a c o l h i m e n t o : «Aquele não t e m a p o i o , n a n e c e s s i d a d e 'transitória'.» A b a n d o n a d o p e l a mãe, f o i e n c a m i n h a d o p o r Serviços S o c i a i s , após a p r o g e ­n i t o r a d i z e r n a e s c o l a s e r e l e u m " e s t o r v o " .

lOUíAÇAOFISKAfSÍOlA*

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S o b r e o u t r o m e n i n o d e 9 a n o s , c o m b a i x a visào ( " c r o -n i c i d a d e " ) , f icámos a s a b e r q u e o s m a n u a i s e m B r a i l l e f o ­r a m e n v i a d o s à e s c o l a d e referência ( p a r a a l u n o s c e g o s e d e b a i x a visão), n o f i n a l d o a n o l e t i v o . M a s a c r e s c e n t o u a d o c e n t e s e r " m u i t o a g r e s s i v o e v í t ima d e bullying". C h a -m a m - l h e d e " m e n i n a " e q u e " p a r e c e u m a m e n i n a " , q u a n d o "dança c o m e l a s e f a l a c o m o e l a s " .

P o i s en t ào v e m o s c o m o o e s t i g m a , o p r e c o n c e i t o e a discr iminação são ques tões s o c i a i s n a e s c o l a , q u a n d o t a m b é m M a r i a n a p o s s a s e r excluída o u s u p e r p r o t e g i d a , t o m a n d o - s e p o r u m " e m p e c i l h o " . Esclareça-se q u e , e m t e r m o s científicos, a s imulação p o d e s e r a c o m p a n h a d a d a s índrome orgânica.

O u t r o r e p a r o à impreparação d e p r o f i s s i o n a i s d e educação p a r t i u d u m a estagiária e f u t u r a d o c e n t e , q u e f r e q u e n t o u a s a l a d e a u l a d e R i t a . E x p U c o u - n o s t e r - s e i n ­t e r e s s a d o p o r e l a , p o r t e r s o f r i d o d e "depressão n a a d o l e s ­cência", o q u e j u l g a tê-la a j u d a d o a d e t e t a r o t r a n s t o r n o a f e t i v o n a j o v e m , a "doença d o século X X I " . C u s t o u - l h e o b s e r v a r s e r a a u t o mut i lação a l e v a r a mãe d a m e n i n a a b u s c a r a j u d a n a e s c o l a .

J á a mãe d e M a n u e l e x i g i u a inclusão d e f i l h o . O a p o i o d e p e n d e , só e m p a r t e d o s p a i s . E é d e r e c o r d a r q u e s e j a ( o u não) o / a e n c a r r e g a d o d e educação a t e r a ú l t ima p a ­l a v r a , d e p o i s d o p r o c e d i m e n t o e , c o m o f i m d a adolescên­c i a , a c a b a a m e l h o r época p a r a o d e s e n v o l v i m e n t o b e m c o n s e g u i d o . E , a f i n a l , d e q u e s e r v e a mãe f i c a r s a t i s f e i t a c o m a inclusão e s e r f e i t o o 9° o u 12° a n o , q u a n d o e m t e m ­p o útil (até f i n a l d a adolescência), n ã o s e p o s s u a u m a c o n ­d u t a a d a p t a t i v a o u u m currículo do quotidiano? C o m o s e r c a p a z d e f a z e r u m a refeição, s a b e r a n d a r / m u d a r d e a u t o ­c a r r o , u s a r o telemóvel n u m a emergência , o u f a z e r t r o c o s ?

(IMK»(,toll-iK*í E S P O H f l

Referências

A M E R I C A N P S Y C H I A T R I C A S S O C I A T I O N - A P A . M a n u a l Diagnóstico e Estatístico d e T r a n s t o r n o s M e n t a i s , 5 ' e d . São P a u l o : A r t m e d , 2 0 1 4 .

A N T U N E S , N . M a l - e n t e n d i d o s , 7 * e d . L i s b o a : V e r s o d e K a p a , 2 0 1 2 .

B A S S A R A T H , L . C o n d u c t d i s o r d e r : A b i o p s y c h o s o c i a l v i e w . C a ­n a d i a n J o u r n a l o f P s y c h i a t r y , v . 4 6 , p . 6 0 9 - 6 1 6 , 2 0 0 1 .

D O I D G E , N . O cérebro q u e s e t r a n s f o r m a : c o m o a neurociên-c i a p o d e c u r a r a s p e s s o a s . R i o d e J a n e i r o : E d i t o r a R e c o r d , 2 0 1 2 .

E S T R E L A . M . ; E S T R E L A , A . Técnica d e i n c i d e n t e s críticos n o e n s i n o , 2 ' e d . L i s b o a : E s t a m p a , 1 9 9 4 .

F A R I A , N . A e s c o l a está a r e g r e d i r e m relação às questões d a inclusão. E n t r e v i s t a c o m D a v i d R o d r i g u e s . Público, A n o X X V , n . 8 9 5 3 , p . 1 9 , d i a 1 7 , o u t . , 2 0 1 4 .

F L A N A G A N , J . L a t e c h n i q u e d e I ' i n c i d e n t c r i t i q u e . R e v u e d e P s y c h o l o g i e Appliquée, I V , n . 2 , a b r . , 1 9 5 4 .

G O L D B E R G . E . O p a r a d o x o d a s a b e d o r i a . L i s b o a : P u b l i c a ­ções Europa-América, 2 0 1 0 .

G O L E M A N . D . F o c o : o m o t o r d a excelência. L i s b o a : Círculo d e L e i t o r e s , 2 0 1 3 .

H A R R I S O N , P ; G E D D E S , J . ; S H A R P E , M . G u i a Prático d e P s i ­q u i a t r i a . L i s b o a : C l i m e p s i , 2 0 0 6 .

Organização M u n d i a l d e Saúde/OMS. Classificação I n t e r ­n a c i o n a l d e F u n c i o n a l i d a d e . L i s b o a : Direção G e r a l d e Saú­d e , 2 0 0 4 .

J D O ( A i ; A O H S I C * I S C O I A R

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P O R T E L L A N O , J . Introdución a l a n e u r o p s i c o l o g i a . M a d r i d : M c G r a w - H U l . 2 0 0 5 .

P O R T U G A L . D e c r e t o - L e i 3 / 0 8 . d e 0 7 d e j a n e i r o d e 2 0 0 8 . R e ­v o g a e n t r e o u t r o s , o D L 3 1 9 / 9 1 , e r e s t r i n g e a s m e d i d a s e d u c a t i ­v a s , p r e v i s t a s n o p o n t o 2 d o art.° 1 6 , às N E E d e carácter p e r m a ­n e n t e . L i s b o a : M E , 2 0 0 8 . Disponível e m : < h t t p : / / a e a h e s p e c i a l . b l o g s p o t . c o m / 2 0 0 8 / 0 2 / o - d e c r e t o - l e i - n - 3 2 0 0 8 . h t m l A c e s s o e m : 2 5 d e n o v e m b r o d e 2 0 1 4 .

W E C H S L E R , D . M a n u a l d a E s c a l a d e Inteligência p a r a Crianças - I I I . L i s b o a : C E G O C . 2 0 0 3 .

O c o r p o e o j o g o n a e s c o l a : o o l h a r d o c e n t e e a t e o r i a v i g e n t e

E d i s o n R o b e r t o d e S o u z a Ndthálid C r i s t i n a M a t h o s

R o d o l f o d a S i l v a R o s a A n a Flávia B a c k e s

Patrícia d o s A n j o s S o u z a

Introdução

D e súb i to e d e f a t o o r i t m o f o i q u e b r a d o . S o b o o l h a r d a televisão, d a in formát ica e d a s revoluções d a bioquímica, o m u n d o , a t u a l d a educação, r e v e s t e - s e d e n o v a i n t e n c i o n a l i d a ­d e . E s t e m u n d o d i f e r e n t e , d e forças invisíveis e d e u m s u p o s t o c o n t e x t o intocável começou a s e r d i s c u t i d o . O s c o m p o r t a m e n t o s s o c i a i s , m o r a i s , polí t icos, r e l i g i o s o s e c u l t u r a i s g e r a m u m a c r i s e s e m p r e c e d e n t e s n a his tór ia .

D i a n t e d o q u a d r o , p i n t a d o c o m f o r t e s c o r e s , p r o v o c a t i v a s , a e d u c a d o r a f i c o u p e r p l e ­x a , a v e l h a educação m u d o u a b r u p t a m e n t e e e l a f o i u m d a s úl t imas, a s a b e r . E a o t o m a r ciência, u m a c e r t e z a s e d e s c o r t i n o u , não há

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I I M J ( * ( ; A 0 I I S K A f h P O H f E