educaÇÃo e saÚde: a atuaÇÃo do pedagogo no...

31
Edição 12 Dezembro de 2016 EDUCAÇÃO E SAÚDE: A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO AMBIENTE HOSPITALAR OLIVEIRA, Aparecida da Silva Cândido de 1 MARTINS, Viviane Lima 2 RESUMO: Os espaços de atuação do pedagogo tem sido ampliados, considerando que, onde houver criança, deve haver educação. Não seria diferente no caso dos alunos que temporariamente necessitarem de hospitalização. A escola no hospital passou a ser legalizada para garantir ao paciente/aluno a continuidade escolar, mesmo diante de uma enfermidade, evitando transtornos como reprovação ou interrupção à escolaridade. Destacamos as modalidades de educação, o histórico da Pedagogia Hospitalar, o funcionamento e a prática da classe hospitalar, a atuação do pedagogo e como lidar com a situação de luto. Essa investigação teve uma parcela de contribuição de dois hospitais em São Paulo (interior e capital), que contam com essa modalidade de assistência ao aluno hospitalizado. Palavras-chave: Classe Hospitalar, Pedagogia Hospitalar, aluno hospitalizado ABSTRACT: The spaces of action of the pedagogue have been expanded, considering that, where there is a child, there must be education. It would not be different for students who are temporarily in need of hospitalization. The school in the hospital became legalized to guarantee the patient / student continuity, even in the face of a disease, avoiding disorders such as failure or interruption to schooling. We highlight the modalities of education, the history of Hospital Pedagogy, the operation and practice of the hospital class, the pedagogue's actions and how to deal with the situation of mourning. This research had a contribution of two hospitals in São Paulo (interior and capital), which rely on this type of assistance to the hospitalized student. Keywords: Hospital Class, Hospital Pedagogy, hospitalized student 1 INTRODUÇÃO Quando falamos em educação, logo associamos a uma escola, com salas de aula, alunos, professores, diretores e coordenadores, tudo funcionando regularmente. Mas, o que fazer com o aluno que tem necessidade de passar um período de sua escolaridade hospitalizado ou com algum tipo de enfermidade que o impeça de frequentar o ambiente escolar? Vale lembrar que existem diversos tipos de enfermidades, que causam grandes mudanças no cotidiano de uma pessoa, alterações físicas e emocionais, que exigem do aluno um longo período de afastamento. Se este período não for preenchido e o processo de ensino e aprendizagem não tiver 1 Pedagoga. E-mail: [email protected] 2 Doutora em Comunicação e Semiótica e Professora Universitária. E-mail: [email protected]

Upload: truongdien

Post on 14-Dec-2018

225 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: EDUCAÇÃO E SAÚDE: A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170531133230.pdf · comprometidas. O estado do paciente deve ser levado em conta, para

Edição 12 – Dezembro de 2016

EDUCAÇÃO E SAÚDE: A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO AMBIENTE HOSPITALAR

OLIVEIRA, Aparecida da Silva Cândido de 1

MARTINS, Viviane Lima2

RESUMO: Os espaços de atuação do pedagogo tem sido ampliados, considerando que, onde

houver criança, deve haver educação. Não seria diferente no caso dos alunos que temporariamente

necessitarem de hospitalização. A escola no hospital passou a ser legalizada para garantir ao

paciente/aluno a continuidade escolar, mesmo diante de uma enfermidade, evitando transtornos

como reprovação ou interrupção à escolaridade. Destacamos as modalidades de educação, o

histórico da Pedagogia Hospitalar, o funcionamento e a prática da classe hospitalar, a atuação do

pedagogo e como lidar com a situação de luto. Essa investigação teve uma parcela de contribuição

de dois hospitais em São Paulo (interior e capital), que contam com essa modalidade de assistência

ao aluno hospitalizado.

Palavras-chave: Classe Hospitalar, Pedagogia Hospitalar, aluno hospitalizado

ABSTRACT: The spaces of action of the pedagogue have been expanded, considering that, where

there is a child, there must be education. It would not be different for students who are temporarily

in need of hospitalization. The school in the hospital became legalized to guarantee the patient /

student continuity, even in the face of a disease, avoiding disorders such as failure or interruption to

schooling. We highlight the modalities of education, the history of Hospital Pedagogy, the

operation and practice of the hospital class, the pedagogue's actions and how to deal with the

situation of mourning. This research had a contribution of two hospitals in São Paulo (interior and

capital), which rely on this type of assistance to the hospitalized student.

Keywords: Hospital Class, Hospital Pedagogy, hospitalized student

1 INTRODUÇÃO

Quando falamos em educação, logo associamos a uma escola, com salas de aula, alunos,

professores, diretores e coordenadores, tudo funcionando regularmente. Mas, o que fazer com o

aluno que tem necessidade de passar um período de sua escolaridade hospitalizado ou com algum

tipo de enfermidade que o impeça de frequentar o ambiente escolar?

Vale lembrar que existem diversos tipos de enfermidades, que causam grandes mudanças no

cotidiano de uma pessoa, alterações físicas e emocionais, que exigem do aluno um longo período de

afastamento. Se este período não for preenchido e o processo de ensino e aprendizagem não tiver

1 Pedagoga. E-mail: [email protected]

2 Doutora em Comunicação e Semiótica e Professora Universitária. E-mail: [email protected]

Page 2: EDUCAÇÃO E SAÚDE: A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170531133230.pdf · comprometidas. O estado do paciente deve ser levado em conta, para

Edição 12 – Dezembro de 2016

sequência, muitos problemas poderão ser acarretados, dentre eles, evasão e atraso escolar. Para

atender a essa demanda surge a modalidade de atendimento denominada classe hospitalar, que tem

por finalidade suprir formalmente a escolaridade do aluno hospitalizado e isso passa a ser um

direito garantido por meio de algumas legislações a todos os alunos que dela necessitarem.

O atendimento pedagógico-educacional no ambiente hospitalar deve ser entendido como

uma escuta pedagógica às necessidades e interesses da criança, buscando atendê-las o mais

adequadamente possível nestes aspectos, e não como mera suplência escolar ou “massacre”

concentrado do intelecto da criança. O sucesso deste trabalho depende da cooperação

contínua e próxima entre os professores, alunos, familiares e os profissionais de saúde do

hospital. (FONSECA, 2008, p. 15)

Antes de qualquer coisa, vale lembrar que a criança é uma pessoa que tem direito ao

atendimento de suas necessidades mesmo se estiver com a saúde comprometida.

Muitas vezes a criança sofre porque a hospitalização, mais do que a problemática de saúde

em si, gera falta às aulas. Este fato pode contribuir para o aumento de suas dificuldades em

acompanhar os conteúdos escolares, levando à probabilidade de grande defasagem no ano

do ciclo que vinha cursando em sua escola regular. (FONSECA, 2008, p. 33)

A Constituição Federal de 1988 diz que a educação é um direito de todos e dever do Estado

e da família, portanto, a criança hospitalizada também tem este direito e o Estado deverá cumpri-lo

(BRASIL, 1988). Por conta disso, com o passar do tempo foram criadas leis específicas que

atendessem essa modalidade de ensino.

Segundo Lucon apud Matos (2011, p. 92), “se a escola deve ser promotora da saúde, o

hospital pode ser mantenedor da escolarização”. Ele ainda afirma que, “aprender no hospital é,

muitas vezes, sinal de saúde para criança e o adolescente”.

Tais medidas garantem o atendimento escolar no ambiente hospitalar, fato que originou a

realização desta pesquisa, motivada da mesma forma pelos seguintes questionamentos: até que

ponto os direitos da criança estão sendo cumpridos? As famílias se preocupam com a escolaridade,

num momento em que consideram a recuperação da saúde da criança muito mais importante?

Aceitam o atendimento educacional? Existe realmente apoio e comprometimento escolar com os

enfermos? Como funciona na prática a classe hospitalar?

Esse tema desperta bastante interesse, justamente para trazer ao conhecimento da população

de forma esclarecedora, direitos garantidos na Lei, que muitas vezes não são cobrados pelo fato de

serem completamente desconhecidos.

A Pedagogia Hospitalar é um assunto de extrema importância para o sucesso escolar. Vale

ressaltar que o ambiente hospitalar torna-se mais humanizador, pois existe uma parceria entre

família, escola e profissionais de saúde que visam um objetivo em comum que é de beneficiar o

bem estar do paciente (aluno), consequentemente antecipando a sua alta hospitalar, sem ter perdido

Page 3: EDUCAÇÃO E SAÚDE: A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170531133230.pdf · comprometidas. O estado do paciente deve ser levado em conta, para

Edição 12 – Dezembro de 2016

seu ano letivo. É um trabalho que traz muitos resultados positivos dentre eles, transformar o índice

de reprovações em aprovação ou ainda promover a reintegração à escola dos alunos que sofrem

emocionalmente este período de distanciamento da escola, dos colegas, dos professores. Há alguns

casos mais sérios de crianças em idade escolar que são internadas, sem estar devidamente

matriculadas por uma série de motivos justificados pelos responsáveis. Neste sentido, a Pedagogia

Hospitalar pode proporcionar às crianças o direito de serem matriculadas ainda estando no ambiente

hospitalar o que pode ser comprovado por Fonseca (2008):

Por vezes, a hospitalização inviabiliza até mesmo a matrícula da criança numa escola, o que

pode interferir na percepção que a criança tenha de si mesma, ou seja, de sua autoestima,

não deixando de comprometer também aspectos de seu desenvolvimento físico, social e

intelectual. (FONSECA, 2008, p. 33)

Por outro lado, trata-se também de uma modalidade de educação desafiadora para os

profissionais de Pedagogia, que além do desafio de desenvolver o processo educativo num ambiente

totalmente diferente daquele que ele está acostumado – sem toda a estrutura da escola – há também

o desafio adicional de lidar com a aceitação das pessoas, pelo fato de que sempre foram vistos como

profissionais da educação, num ambiente em que ela não é a prioridade. Para que este professor

possa atuar no âmbito hospitalar é necessário competência e habilidade para desenvolver o aluno de

forma integral, considerando que ele está num ambiente desagradável, com condições de saúde

comprometidas. O estado do paciente deve ser levado em conta, para que as atividades possam se

elaboradas e desenvolvidas.

A realização deste trabalho ressalta a importância do papel do pedagogo em diversas etapas

da vida e a influência que pode se exercida por meio dele, pois cabe ao professor da classe

hospitalar, através de atividades lúdicas e educativas, resgatar nos alunos a autoestima, colocando

em evidência as principais habilidades que foram adquiridas na escola, ao longo das experiências

vividas até aquele momento, buscando por meio do enfrentamento da situação de dificuldade que o

aluno atravessa, contribuir com o seu crescimento tanto cognitivo quanto emocional.

2 A PEDAGOGIA HOSPITALAR

Devemos considerar a educação como requisito fundamental para inserção na sociedade, até

mesmo pelo direito garantido na legislação de praticamente todos os países. Para Gadotti (2005, p.

1), “o direito à educação, é o direito de aprender. Não basta estar matriculado numa escola, é

preciso conseguir aprender na escola”. Não devemos considerar a educação como uma simples

Page 4: EDUCAÇÃO E SAÚDE: A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170531133230.pdf · comprometidas. O estado do paciente deve ser levado em conta, para

Edição 12 – Dezembro de 2016

transmissão de conhecimentos passados para uma geração futura, mas é um processo onde é dado

oportunidade para surgimento do novo, através da elaboração de projetos e o rompimento com tudo

o que possa ser considerado ultrapassado. Segundo Libâneo apud Arruda (2006, p. 31) “educar (em

latim, educare) é conduzir de um estado ao outro, é modificar numa certa direção o que é suscetível

de educação”. Neste capítulo abordaremos as três modalidades de educação, são elas: formal, não

formal e informal.

De acordo com Aranha (2006, p. 94), “a educação informal não é intencional ou organizada,

mas casual e empírica, exercida a partir das vivências, de modo espontâneo”, ou seja, os

conhecimentos não são sistematizados e são repassados a partir das práticas e experiência

anteriores, usualmente é o passado orientando o presente. Ela atua no campo das emoções e

sentimentos. É um processo permanente e não organizado. Na educação informal os resultados não

são esperados, eles simplesmente acontecem a partir do desenvolvimento do senso comum nos

indivíduos, senso este que orienta suas formas de pensar e agir espontaneamente.

Considerando os pontos de vista dos autores citados, podemos refletir em que classe de

educação a Pedagogia Hospitalar estaria inserida. Para chegarmos a esta conclusão, devemos

analisar as principais características desta modalidade educacional. Poderemos considerá-la como

educação formal, simplesmente pelo fato de ser um direito garantido na legislação, o ambiente

hospitalar deve ter regras e padrões de comportamento e o agente transmissor é o professor. Mas

poderia ser classificada como educação não-formal pelo fato de acontecer num ambiente fora da

escola. Com esses dados relevantes, podemos chegar à conclusão de que a Pedagogia Hospitalar

pode ser considerada uma educação formal no ambiente não-escolar.

1.1. A Classe Hospitalar e a Legislação Brasileira

Como citamos anteriormente, esta modalidade de ensino (Pedagogia Hospitalar) é garantida

como direito na legislação brasileira. Partimos do princípio de que “a educação é um direito de

todos” como garante a Constituição Federal de 1988, Capítulo III – Da Educação, da Cultura e do

Desporto, artigo 205, “a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e

incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu

preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. (BRASIL, 1988).

Considerando que esse direito é garantido a todos, podemos incluir o aluno hospitalizado

que deve receber o cumprimento desta Lei por parte do Estado. O Decreto Lei n. 1044/69 estabelece

que “são considerados merecedores de tratamento excepcional os alunos de qualquer nível de

Page 5: EDUCAÇÃO E SAÚDE: A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170531133230.pdf · comprometidas. O estado do paciente deve ser levado em conta, para

Edição 12 – Dezembro de 2016

ensino, portadores de afecções congênitas ou adquiridas, infecções, traumatismo ou outras

condições mórbidas, determinando distúrbios agudos ou agudizados”. (idem).

O Estatuto da Criança e do Adolescente Lei n. 8069, de 13 de julho de 1990, assegura a este

público que o Estado deve dispor de elementos essenciais para que a saúde e a educação não sejam

prejudicadas. Estes direitos são descritos mais precisamente nos seguintes artigos:

Título I – Das Disposições Preliminares, artigo 4º: É dever da família, da comunidade, da

sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos

direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à

profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e

comunitária.

Capítulo I – Do Direito à vida e à saúde, artigo 7º: A criança e o adolescente têm direito a

proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam

o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.

Capítulo I – Do Direito à vida e à saúde, artigo 11º: É assegurado atendimento integral à

saúde da criança e do adolescente, por intermédio do Sistema Único de Saúde, garantindo o

acesso universal e igualitário às ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da

saúde.

Neste Estatuto podemos notar que o artigo 57º é mais voltado para a criança que encontra-

se excluída da vida escolar, portanto podemos inserir mais especificamente neste, justamente por

conta da sua hospitalização ou necessidade de tratamento em domicílio.

Capítulo IV – Do Direito à Educação, à Cultura e ao Lazer, artigo 57º: O Poder Público

estimulará pesquisas, experiências e novas propostas relativas ao calendário, seriação,

currículo e metodologia, didática e avaliação, com vistas à inserção de crianças e

adolescentes excluídos do ensino fundamental obrigatório.

Tratando-se de classe hospitalar o artigo 53º deste mesmo Capítulo, deixa ainda mais

esclarecedor, onde diz que:

Art. 53º: a criança e o adolescente têm direito à educação, visando o pleno desenvolvimento

de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho,

assegurando igualdade de condições para o acesso e permanência na escola.

No Capítulo II – Das Entidades de Atendimento, deste mesmo Estatuto, o artigo 90

responsabiliza as entidades pela assistência à criança hospitalizada.

As entidades de atendimento são responsáveis pela manutenção das próprias unidades,

assim como pelo planejamento e execução de programas de proteção e socioeducativos

destinados a crianças e adolescentes em regime de: VII – internação.

Na legislação também encontramos a publicação da Resolução n. 41 de 13 de outubro de

1995, do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, aprovada pelo Ministério da

Justiça, onde são tratados sobre os direitos da Criança e do Adolescente descritos em 20 itens.

Podemos destacar dois deles que são mais voltados para esta pesquisa:

Page 6: EDUCAÇÃO E SAÚDE: A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170531133230.pdf · comprometidas. O estado do paciente deve ser levado em conta, para

Edição 12 – Dezembro de 2016

9. Direito a desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde,

acompanhamento do curriculum escolar, durante sua permanência hospitalar.

19. Direito a ter seus direitos Constitucionais e os contidos no Estatuto da Criança e do

Adolescente, respeitados pelos hospitais integralmente. (BRASIL, 1995)

Podemos verificar também que a base da LDB é a Constituição Federal de 88, porém ela

informa de maneira mais detalhada como essa educação para todos deve ocorrer. Na Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional n. 9.394/96, em seu Capítulo II – Da Educação Básica,

artigo 23, garante que a educação básica poderá ser organizada de diversas formas, “sempre que o

interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar”. Item este que poderá confirmar-se no

Capítulo V – Da Educação Especial, artigo 58, parágrafo 2º onde ressalta que “o atendimento

educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, em função das condições

específicas dos alunos, caso não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular”

(BRASIL, 1996)

A Resolução Nº 2, do Conselho Nacional de Educação (CNE)/ Conselho de Educação

Básica (CEB), de 11 de setembro de 2001, coloca em seu artigo 13 que:

Os sistemas de ensino, mediante ação integrada com os sistemas de saúde devem organizar

o atendimento educacional especializado a alunos impossibilitados de frequentar as aulas

em razão de tratamento de saúde que implique internação hospitalar, atendimento

ambulatorial ou permanência prolongada em domicílio (BRASIL, 2001).

Em seu parágrafo 1º confirma:

As classes hospitalares e o atendimento em ambiente domiciliar devem dar continuidade ao

processo de desenvolvimento e ao processo de aprendizagem de alunos matriculados em

escolas da Educação Básica, contribuindo para o seu retorno e reintegração ao grupo

escolar, e desenvolver currículo flexibilizado com crianças, jovens e adultos não

matriculados no sistema educacional local, facilitando seu posterior acesso à escola regular

(idem).

No 2º parágrafo deste mesmo artigo diz que: “nos casos de que trata este artigo, a

certificação de frequência deve ser realizada com base no relatório elaborado pelo professor

especializado que atende o aluno” (idem).

Um outro documento sobre Classe Hospitalar foi publicado em 2002 pelo Ministério da

Educação e Secretaria de Educação Especial, tendo como título: “Classe Hospitalar e Atendimento

Pedagógico Domiciliar – Estratégias e Orientações”. Este documento foi criado com o intuito de

oferecer subsídios que possibilitem a organização e o funcionamento administrativo e pedagógico

das classes hospitalares e do atendimento pedagógico domiciliar. (MEC/SEESP, 2002). Está

baseado na política de inclusão e contribui para o processo de humanização da assistência

Page 7: EDUCAÇÃO E SAÚDE: A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170531133230.pdf · comprometidas. O estado do paciente deve ser levado em conta, para

Edição 12 – Dezembro de 2016

hospitalar, esclarecendo também como deverá ser o funcionamento por completo da classe

hospitalar.

Cumpre às classes hospitalares e ao atendimento pedagógico domiciliar elaborar estratégias

e orientações para possibilitar o acompanhamento pedagógico-educacional do processo de

desenvolvimento e construção do conhecimento de crianças, jovens e adultos matriculados

ou não nos sistemas de ensino regular, no âmbito da educação básica e que encontram-se

impossibilitados de frequentar a escola, temporária ou permanente e, garantir a manutenção

do vínculo com as escolas por meio de um currículo flexibilizado e /ou adaptado,

favorecendo seu ingresso, retorno ou adequada integração ao seu grupo escolar

correspondente, como parte do direito da atenção integral (MEC, SEESP, 2002, p. 13).

Em 2002, o Ministério da Saúde, preocupado com a assistência que estava sendo prestada à

alta demanda de seus usuários, o que acarretava muitas vezes num atendimento nem sempre

satisfatório, elaborou um documento chamado PNHAH – Programa Nacional de Humanização no

Atendimento Hospitalar, direcionado aos gestores e profissionais de diferentes categorias, que

visam um atendimento mais humanizador entre quem presta o serviço e o usuário. Este documento

traz algumas propostas que visam ações capazes de melhorar a qualidade e eficácia deste serviço, já

que segundo este documento a maior queixa dos usuários do Sistema de Saúde Brasileiro é

justamente o atendimento que tem sido prestado à população. Entre os principais objetivos estão:

fortalecer todas as iniciativas de humanização, melhorar a qualidade do SUS, recuperar a imagem

pública das instituições junto à comunidade, capacitar profissionais e estimular a realização de

parcerias.

Além disso, o documento resgata a importância da comunicação eficaz, onde preocupa-se

com a chance do usuário poder expressar as suas palavras e o prestador do serviço ser um bom

ouvinte e reconhecer a importância em atender melhor este paciente: “sem comunicação não há

humanização. A humanização depende de nossa capacidade de falar e ouvir , do diálogo com

nossos semelhantes” (PNHAH, 2002)

O PNHAH nasceu de uma iniciativa do Ministério da Saúde de buscar estratégias que

possibilitassem a melhoria do contato humano entre profissional de saúde e usuário, dos

profissionais entre si, e do hospital com a comunidade, visando o bom funcionamento do

Sistema de Saúde Brasileiro (Programa Nacional de Humanização no Atendimento

Hospitalar, 2002).

Segundo Fonseca: “a humanização em saúde busca resgatar o respeito à vida humana, seja

o respeito à vida do profissional de saúde, seja à vida dos pacientes”, ou seja, não basta preocupar-

se apenas com melhorias somente na parte técnica. O contato pessoal deve ser extremamente

valorizado, considerando as fragilidades físicas e emocionais de cada indivíduo, neste caso o

paciente.

Page 8: EDUCAÇÃO E SAÚDE: A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170531133230.pdf · comprometidas. O estado do paciente deve ser levado em conta, para

Edição 12 – Dezembro de 2016

Mas esta mesma autora chama a nossa atenção se referindo a essa nova proposta de

humanização e a classe hospitalar:

Alguns dos profissionais inicialmente envolvidos com as demandas pedagógico-

educacionais da escola hospitalar passaram a, erroneamente, se responsabilizar também por

serviços oferecidos pelo hospital, tais como brinquedotecas, bibliotecas volantes, atividades

para acompanhantes, teatro e recreação (FONSECA, 2008, p.25).

Ainda ressalta que:

[...] é importante ao professor estar consciente de sua atuação no hospital, mesmo que não

homologada oficialmente (embora devesse estar), diz respeito ao acompanhamento dos

processos de desenvolvimento e de aprendizagem do paciente hospitalizado que, para ele, é

um aluno (ibidem, p. 26)

Fonseca demonstra seu interesse em ver o núcleo de humanização do hospital funcionando

articulado com a escola hospitalar, até mesmo fazendo com que os professores aproveitem mais os

acontecimentos socioculturais para acrescentar a construção de conhecimentos de seus alunos,

como por exemplo, filmes, teatros ou qualquer outro evento proposto por esse núcleo. Faz-se

necessário que esses eventos sejam organizados de uma forma que não prejudique qualquer

planejamento de aula, porque a própria autora reforça que: “A escola hospitalar não está no hospital

para humanizá-lo. A escola no hospital tem o papel de atender à necessidades pedagógico-

educacionais dos alunos hospitalizados” (FONSECA, 2008. P. 26). Em outras palavras, “a escola no

hospital não é um serviço de saúde, é um serviço educacional ou escolar” (ibidem, p. 27).

Importante ressaltar que esse movimento de humanização hospitalar trouxe alguns

posicionamentos bastante positivos, dentre eles a Lei n. 11.104 de 21de março de 2005, onde

determina-se a obrigatoriedade da implantação de brinquedotecas nos hospitais. Destacamos o

artigo 1º: “os hospitais que ofereçam atendimento pediátrico contarão, obrigatoriamente, com

brinquedotecas nas suas dependências”, isso será aplicado à qualquer unidade de saúde que ofereça

atendimento pediátrico em regime de internação e artigo 2º: “considera-se brinquedoteca, para os

efeitos desta Lei, o espaço provido de brinquedos e jogos educativos, destinando a estimular as

crianças e seus acompanhantes a brincar” (BRASIL, 2005)

Em 2007, o Conselho Estadual de Educação, publicou a Deliberação n. 68/2007, que

estabelece normas para os alunos com necessidades educacionais especiais no sistema estadual de

ensino. Destacamos o artigo 8º, que refere-se mais ao tema desta pesquisa:

Artigo 8º - Alunos impossibilitados de frequentar as aulas em razão de tratamento de saúde,

que impliquem em internação hospitalar, atendimento ambulatorial ou permanência

prolongada em domicílio, desde que preservada a capacidade de aprendizado, deverão ter

garantia a continuidade do seu processo de aprendizagem, com acompanhamento

pedagógico que lhes facilite o retorno à escola regular.

Page 9: EDUCAÇÃO E SAÚDE: A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170531133230.pdf · comprometidas. O estado do paciente deve ser levado em conta, para

Edição 12 – Dezembro de 2016

Analisando todas as leis que foram citadas, conseguimos detectar que a classe hospitalar

era garantida com base na ideia de que a educação é um direito de todos. Somente na década de 90

houve um olhar específico para atender essa necessidade.

Mesmo com tantas leis que garantem o atendimento deste público, ainda há uma

defasagem muito grande deste serviço. Um dos motivos é a desinformação por parte da população.

Notamos que ainda é preciso maior esclarecimento principalmente para os familiares dos pacientes,

porque devido à própria enfermidade e a preocupação do momento, os familiares estão voltados

para a saúde e não para educação. O governo também precisa tomar consciência de sua

responsabilidade para garantir o atendimento escolar no hospital, oferecendo qualidade de vida

durante a internação do paciente e ao retorno de sua vida escolar formal.

Entendemos como urgente e necessária à expansão e melhoria da educação em classes

hospitalares, além disso, é um direito que para ser cumprido, precisa chegar ao conhecimento das

pessoas.

2.2 Histórico da Pedagogia Hospitalar

A história da Pedagogia Hospitalar não é recente. Há muito tempo busca-se viver com maior

qualidade de vida e isso permanece até os dias atuais.

Segundo alguns autores Esteves (2008), Fonseca (2008), Paula (2011), em consequência da

segunda Guerra Mundial, inúmeras crianças e adolescentes em idade escolar, foram mutiladas e

feridas, o que motivou a permanência delas em hospitais por longos períodos. Diante dessa

realidade surge então a classe hospitalar em 1935 em Paris, criada por Henri Sellier, prefeito de

Suresnes, no intuito de tentar amenizar as tristes consequências da guerra e oferecer oportunidade às

crianças de prosseguir em seus estudos no ambiente hospitalar. E assim com incentivo de médicos,

religiosos e voluntários, a classe hospitalar foi conquistando um espaço na sociedade, sendo

difundida para vários países, entre os quais pode-se citar a Alemanha e os Estados Unidos que

aderiram à criação de classe hospitalar com o objetivo de beneficiar crianças tuberculosas que na

época eram isoladas do convívio social e impossibilitadas de frequentar a escola.

No ano de 1939, segundo estes mesmos autores, foi criado em Suresnes, na França, o

C.N.E.F.E.I. - Centro Nacional de Estudos e de Formação para a Infância Inadaptadas com o

objetivo de formar professores para exercer a Pedagogia Hospitalar em institutos especiais e em

hospitais, já que para atuar nessa área exige-se uma formação diferenciada da pedagogia formal.

Ainda no ano de 1939, foi criado também o cargo de Professor Hospitalar, junto ao Ministério de

Page 10: EDUCAÇÃO E SAÚDE: A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170531133230.pdf · comprometidas. O estado do paciente deve ser levado em conta, para

Edição 12 – Dezembro de 2016

Educação da França. Alguns documentos criados na Europa com relação aos Direitos das Crianças

Hospitalizadas, inspirou vários outros documentos em diversos lugares do mundo.

No Brasil, a Classe Hospitalar, surgiu na cidade do Rio de Janeiro em agosto de 1950, no

Hospital Menino Jesus, na qual permanece atuando com a modalidade de atendimento educacional

até os dias de hoje. Ainda na década de 50, surgiu a primeira Classe Hospitalar em São Paulo no

Hospital da Santa Casa de Misericórdia. Estes primeiros atendimentos pedagógicos hospitalares não

dispunham de uma sala ou espaço específico, por isso, era realizado na própria enfermaria do

Hospital, na ocasião ainda não possuía nenhum vínculo com a Secretaria de Educação do Estado.

Desde então o atendimento pedagógico hospitalar vem crescendo, mas de forma lenta.

Alguns representantes desta modalidade de educação, de diversos estados, apresentaram ao

Ministério da Educação, projetos para a regularização da classe hospitalar, sem obter sucesso.

Somente em 1997, um pedido foi aceito na Secretaria de Educação para a criação do Projeto Classe

Hospitalar nos moldes atuais. Essas dificuldades enfrentadas por tais representantes no trabalho

educacional hospitalar eram semelhantes em todas as regiões, independente da localidade, o que é

muito comum acontecer quando as pessoas trazem algo novo para determinada área. Acreditava-se

que a presença dessas professoras e voluntários no ambiente hospitalar era mal vista, criticada e

talvez discriminada. No entanto aos poucos, essas classes ganhavam espaço em alas pediátricas nos

importantes hospitais de São Paulo, como por exemplo, Hospital das Clínicas e Hospital A. C.

Camargo, através de convênio com a prefeitura.

Segundo a pesquisa realizada por Fonseca (1999) do ano de 1950 até 1980 existia apenas

uma classe hospitalar no Brasil. De 1981 a 1990, passou a existir 8 classes, porém de 1991 a 1998,

este número aumentou para 30 classes hospitalares, ou seja, somente com a publicação do ECA

(1990) que houve o reconhecimento oficial e o aumento significativo desta atividade dentro das

instituições de saúde pública em nossos pais. No ano de 2000, eram 67 classes, no entanto, números

mais recentes, divulgados pelo Censo Escolar de 2006 do Ministério da Educação, em parceria, com

o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais revelam um total de 279 classes

hospitalares públicas no Brasil, sendo 160 destas Estaduais e 119 Municipais.

Levando-se em consideração a população brasileira e o número de hospitais que existem no

Brasil, estima-se que o número de classes hospitalares seja uma quantidade muito inferior, de modo

que o atendimento educacional de crianças e adolescentes hospitalizados não tem recebido a devida

atenção por parte das políticas públicas, daí pode-se concluir que um longo e penoso caminho ainda

está pela frente, o que pode ser confirmado com dados oficiais sobre os encontros promovidos para

discussão deste tema.

Page 11: EDUCAÇÃO E SAÚDE: A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170531133230.pdf · comprometidas. O estado do paciente deve ser levado em conta, para

Edição 12 – Dezembro de 2016

O Primeiro Encontro Nacional de Classe Hospitalar foi realizado no Rio de Janeiro, em

2000. No ano de 2006, na cidade de São Paulo, a Profª Amália Neide Covic e o Prof. Eduardo

Kanemoto organizaram o “I Fórum Nacional de Atendimento Escolar e Hospitalar” (PAULA apud

MATOS, 2011, p.51)

A lentidão deste caminho a ser percorrido também pode ser confirmado, segundo dados

cedidos por Clemente (2012), em curso ministrado sobre Pedagogia Hospitalar, onde o mesmo

coloca que o 1º Simpósio de Classe Hospitalar foi realizado somente em 09/09/2011, no Instituto do

Coração (InCor), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

(HCFMUSP). Lembrando que, conforme dados do próprio site do hospital, ele existe desde 1944 e

conta com o Instituto da Criança (InCr) que teve sua inauguração em 1976, ou seja, somente 36

anos após essa inauguração houve este simpósio organizado pelo serviço de Psicologia com o

seguinte tema “Desvendando uma nova realidade”.

Com estes dados conseguimos entender que tudo que está voltado para esta modalidade tem

sido bastante recente, ou seja, muita coisa encontra-se em fase de testes e pesquisas.

2.3 Como a criança enxerga o ambiente hospitalar?

Cada paciente tem um olhar sobre o hospital e normalmente segundo Fonseca (2008, p.20),

“qualquer indivíduo que se hospitaliza sente sua identidade perdida pelo fato de ser reconhecido

pelo número do leito ou até mesmo pela enfermidade que o levou à internação”. Além disso, a

rotina da vida é completamente alterada, por conta dos horários e regras que os profissionais devem

seguir neste ambiente. As refeições e medicações tem horários específicos, as roupas são muito

diferentes daquelas usadas em casa e até mesmo o cheiro e o som do ambiente são outros. Também

é necessária a realização de diversos exames, o que muitas vezes exige determinado preparo

incluindo longos períodos de jejum ou até mesmo procedimentos incômodos e bastante dolorosos.

O paciente ainda é exposto a diversos profissionais completamente desconhecidos até então, por

conta da sua própria enfermidade e devido ao regime de trabalho, que muitas vezes funciona em

turnos ou plantões, o que significa que não é o mesmo profissional que prestará serviços ao paciente

diariamente.

Considerando que todos esses detalhes relatados anteriormente são encarados com muita

dificuldade por um adulto, imagina por uma criança que está em fase de crescimento e

desenvolvimento e ainda sente segurança e apego aos seus familiares, amigos, brinquedos, bicho de

estimação, escola, professora etc. Fonseca esclarece que:

Page 12: EDUCAÇÃO E SAÚDE: A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170531133230.pdf · comprometidas. O estado do paciente deve ser levado em conta, para

Edição 12 – Dezembro de 2016

Apesar das limitações que a doença ou mesmo uma deficiência possa temporária ou

permanentemente causar, a criança continua valendo-se de suas potencialidades que

contribuem para seu crescimento tanto físico quanto intelectual e social. (FONSECA, 2008,

p. 56)

Mesmo em situação de enfermidade a criança tem necessidades específicas para sua faixa

etária, portanto, de acordo com a mesma autora “o mais importante é estarmos conscientes de que

cada criança traça o seu próprio caminho e o percorre em ritmo também pessoal”. (Ibidem)

De acordo com Kudo e Maria (2009, p. 11), “as crianças têm um olhar, sobre o hospital,

diferente do adulto; sabem de suas necessidades e reivindicam melhorias para suportar melhor o

momento”. Em pesquisa realizada durante três anos, em diversos hospitais, as autoras/pesquisadoras

fizeram anotações sobre as frases e diálogos dos pacientes em diversas enfermarias, de forma

natural e espontânea, sem modelos prontos de roteiros ou entrevistas. E esse trabalho demonstrou a

importância de ter os ouvidos atentos para escutar as queixas e reivindicações das crianças, ou seja,

mesmo hospitalizada a criança é capaz de construir a sua autonomia e cumprir o seu papel de

cidadão participativo, fazendo críticas e opinando sobre possíveis melhorias. Dentre algumas frases,

algumas até com certo humor, destacamos:

- “Quando chamar o médico, não demorar”.

- “Quando o funcionário estiver estressado, não descontar nos pacientes, nós também estamos

estressados”.

- “Ter um ar condicionado nos quartos no calor e aquecedor no frio, e as camas deveriam ter um

controle elétrico para levantar e abaixar, e uma campainha para chamar as enfermeiras quando

precisasse”.

- “Ter uma sala de visitas bem bonita para receber nossas visitas”.

- “Ter um parquinho com quadra e mesa de pingue-pongue, cavalinho, carrossel, escorregador,

balança, casinha etc”.

- “Construir uma piscina, um teatro e um cinema, ou uma sala de DVD com pipoca grátis e filme

todo fim de semana”.

- “E também um quintal bem grande para brincar, tomar sol e respirar ar fresco”.

Algumas solicitações podem parecer um pouco exageradas, mas logo mudamos de opinião,

ao pensarmos nas crianças que permanecem internadas por meses ou anos. Basta nos colocarmos no

lugar delas e de seus familiares que logo passaremos a entender que não se trata de exagero, mas de

Page 13: EDUCAÇÃO E SAÚDE: A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170531133230.pdf · comprometidas. O estado do paciente deve ser levado em conta, para

Edição 12 – Dezembro de 2016

necessidades diárias. É claro que estarão ligadas aos procedimentos invasivos ou dolorosos,

necessários à realização do diagnóstico e tratamento.

Sentir e combater a dor, realizar exames e tomar medicação são etapas necessárias à

recuperação da saúde, e tomam a maior parte do tempo dos pacientes. A princípio, a

aceitação é difícil, mas aos poucos as crianças e adolescentes se tornam verdadeiros

‘doutores’ e conseguem compreender e explicar, à sua maneira, a importância de cada um

desses procedimentos (KUDO e MARIA, 2011, p. 15).

As mesmas autoras também destacam a importância da criança compreender o papel de cada

profissional desde a área assistencial até as áreas de apoio, para justamente entender o

funcionamento do hospital que tem como único objetivo “promover a assistência e o bem-estar da

criança e do adolescente”. Os pacientes conseguem, da sua maneira, reconhecer a função de cada

um. Destacamos três falas das crianças sobre profissionais que atuam na classe hospitalar:

- Professora: ensina a gente a ler, a escrever e a fazer contas com a maior facilidade, e ela ajuda em

tudo o que estamos com dúvidas; é paciente e gosta de ajudar. Ensina, dá atividades para fazer,

ajuda nas lições e também passa regras quando deve; nos ensina a falar direito o português.

- Recreacionista: é a “tia” que ajuda a gente a brincar e a se divertir quando estamos no hospital;

traz diversões e alegria; gostamos muito dos brinquedos e desenhos; mostra a variedade de coisas e

o que ela puder fazer para nós ela faz. Brinca com a gente de jogo, brinca de recortar e colar, ajuda

a colocar jogo no computador; ajuda a gente a sorrir e a ficar melhor. Dá desenhos para pintar, liga

os computadores, faz atividades com a gente, nos empresta brinquedos, nos ensina novas atividades,

chama os nossos pais para participar.

- Voluntário: brinca com a gente e é legal; adora crianças e não ganha nada para trabalhar aqui; traz

brincadeiras e atividades para a gente, e tem uns que também contam histórias. Traz brinquedos

para nós brincarmos e nos ensina brincadeiras; vai aos quartos para brincar; dar coisas que

precisamos.

Fonseca (2008, p. 59) reitera que “a idade da criança não é o aspecto mais importante a ser

considerado, não pode ser perdido de vista que os interesses e as necessidades das crianças são

variáveis”.

O conhecimento sobre o desenvolvimento infantil e sobre a criança que atendemos em

nossa escola hospitalar faz com que possamos lhe oportunizar o máximo possível de

experiências compatíveis com as suas necessidades e interesses, e não apenas com a sua

faixa etária. (Ibidem)

Page 14: EDUCAÇÃO E SAÚDE: A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170531133230.pdf · comprometidas. O estado do paciente deve ser levado em conta, para

Edição 12 – Dezembro de 2016

3 TEORIA E PRÁTICA DA CLASSE HOSPITALAR

Desde o primeiro capítulo dessa pesquisa procuramos entender em qual modalidade de

educação a Pedagogia Hospitalar se encaixa, investigamos as leis que defendem a existência e a

prática da classe hospitalar, incluindo todo a evolução através de um contexto histórico e

esclarecemos como a criança enxerga este ambiente durante sua internação, considerando a

importância do desenvolvimento infantil. Mas acreditamos que uma das coisas mais relevantes

dessa pesquisa é justamente conhecer e compreender como se dá o processo de ensino

aprendizagem num ambiente completamente diferente da escola, onde a saúde é a prioridade e não a

educação.

Para que este atendimento seja realizado é necessário que o aluno seja regularmente

matriculado em suas respectivas séries de ensino.

“Os convênios entre os hospitais e as escolas são firmados com as Secretarias de Educação e Saúde dos

Estados. Mas, tanto os órgãos públicos, os educadores e a sociedade em geral, ainda pouco conhecem esses espaços

educativos como uma modalidade oficial de ensino em nosso país, pois são raras as Secretarias de Educação que

implantam essas práticas educativas nos hospitais, garantindo-lhes apoio e assistência” (PAULA apud MATOS, 2011,

p. 35)

Segundo Fonseca:

O atendimento pedagógico-educacional no ambiente hospitalar deve ser entendido como

uma escuta pedagógica às necessidades e interesses da criança, buscando atendê-las o mais

adequadamente possível nestes aspectos, e não como mera suplência escolar ou ‘massacre’

concentrado do intelecto da criança. O sucesso deste trabalho depende da cooperação

contínua e próxima entre os professores , alunos, familiares e os profissionais de saúde do

hospital, inclusive no que diz respeito aos ajustes necessários na rotina e/ou horários

quando da sua interferência no desenvolvimento do planejamento para o dia-a-dia de aulas

na escola hospitalar. (FONSECA, 2008, p. 15)

Entendemos que a prestação deste serviço não se limita ao pedagogo, são necessárias

parcerias para que o sucesso seja alcançado, assim como o pedagogo deve entender que o seu papel

não está apenas em transmitir conteúdos curriculares, vai muito além disso. O pedagogo acaba se

deparando com um ambiente e diversas situações completamente diferentes da escola e muitas

vezes há necessidade do seu relacionamento ultrapassar as barreiras de aluno e professor,

justamente pela necessidade que existe do professor incentivar, animar, lutar junto com seu aluno

contra os sentimentos de abandono e isolamento, enfim transmitir confiança ao aluno no que diz

respeito à sua recuperação. Atitudes como estas com certeza despertarão o interesse e o

envolvimento do aluno pelas aulas, que enxerga um professor preocupado em atender e respeitar as

Page 15: EDUCAÇÃO E SAÚDE: A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170531133230.pdf · comprometidas. O estado do paciente deve ser levado em conta, para

Edição 12 – Dezembro de 2016

suas limitações do momento. Fonseca afirma que “é a criança ou o adolescente doente quem

sinaliza quando precisa descansar ou quando se sente enfraquecido” (FONSECA, 2008, p. 34).

Para facilitar o trabalho na escola hospitalar, é interessante que o pedagogo tenha um bom

conhecimento da rotina do hospital, para conseguir colocar em prática o seu planejamento diário.

No primeiro contato, o professor deve ter acesso ao prontuário do aluno hospitalizado para

tomar conhecimento da situação da saúde da criança, até mesmo para se informar sobre possíveis

cuidados que deve ter para evitar riscos de contaminação para si e para os outros. Se possível as

primeiras intervenções do professor devem ocorrer junto aos responsáveis pela criança, pelo fato

dele ser um profissional considerado estranho no hospital. Algumas crianças pequenas podem exigir

a presença de um acompanhante e isso deve ser respeitado, outras precisam de um período de

adaptação, por isso é muito interessante que o professor envolva o acompanhante na rotina da

escola e nas atividades elaboradas. Essa interação é muito necessária para transmitir segurança e

confiança ao aluno que será atendido.

De acordo com Fonseca (2008, p. 45), as escolas hospitalares funcionam normalmente no

horário da tarde justamente para evitar conflitos com a rotina hospitalar que tende a ser mais intensa

no período da manhã, quando acontecem as visitas médicas, a higienização do paciente e do quarto,

realização de exames e algumas decisões quanto ao tratamento e a alta dos pacientes.

Outro detalhe que faz parte da rotina da escola no hospital é a necessidade da criança

retornar à enfermaria para realizar algum tipo de procedimento ou até mesmo ter a chegada de uma

visita. Neste ambiente isso não deve ser considerado uma interferência, porque faz parte da

dinâmica do cotidiano.

Muito importante ressaltar que assim como na escola regular, tudo tem objetivos que são

vinculados aos conteúdos que serão desenvolvidos, as atividades devem ser construídas com

começo, meio e fim, sem deixar de lado o conhecimento prévio da criança, atendendo aos seus

interesses, sendo centrada no aluno e não no conteúdo. O professor deve estar atento às possíveis

dificuldades de aprendizagem e às habilidades que devem ser valorizadas. Além disso, “deve ter

sensibilidade para perceber o que ocorre na sala de aula, pois o que o aluno sugere pode ser a

alavanca para uma aprendizagem mais efetiva e significante” (FONSECA, 2008, p. 49)

Na escola hospitalar a criança deve ser sempre bem vinda e recebida, independentemente

de possíveis limitações que, de forma alguma, devem ser encaradas como impedimentos à

sua participação nas atividades. A escola hospitalar deve estar disponível à criança quando

ela precisar. Se a criança precisa sair antes, estratégias de fechamento da atividade devem

ser realizadas, a fim de que ela possa ter a ideia de que concluiu o que estava fazendo e que,

havendo possibilidade, poderá retornar à sala mais tarde ou o dia seguinte. (Ibidem)

Page 16: EDUCAÇÃO E SAÚDE: A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170531133230.pdf · comprometidas. O estado do paciente deve ser levado em conta, para

Edição 12 – Dezembro de 2016

O espaço físico deve ser bem cuidado, higienizado e bastante organizado. Alguns hospitais

colocam à disposição salas que se tornam classes hospitalares, outros não contam com este espaço

próprio, daí cabe à equipe escolar criar dentro das próprias enfermarias, com mesas e cadeiras,

expondo trabalhos e atividades realizados pelos alunos. Vale lembrar que alguns pacientes fazem

uso de próteses especiais, cadeiras de rodas ou suportes para o equipo de medicação, se o professor

sempre levar em consideração esta possibilidade, o espaço poderá ser organizado previamente para

que o aluno sinta-se acolhido e não um incômodo.

Com relação ao dia a dia da escola hospitalar, todos os autores e profissionais atuantes na

área, que foram pesquisados, relatam o mesmo funcionamento atual. Após o acesso ao prontuário

do paciente, o pedagogo deverá entrevistar os pais, a fim de conhecer tudo sobre a criança desde a

vida escolar antes da internação até o estágio da enfermidade e orientá-los sobre a importância

desse trabalho que auxilia e favorece a continuidade e o retorno escolar. O responsável faz uma

solicitação deste atendimento junto a Secretaria de Educação para garantir o vínculo do aluno na

escola hospitalar. Depois é realizado contato com a escola de origem, para que os responsáveis

(direção e coordenação) possam enviar ao hospital o conteúdo curricular que o aluno deverá receber

de acordo com a série em que se encontra. Vale lembrar que é transmitido ao aluno apenas o

conteúdo essencial, tudo aquilo que for considerado de maior importância. Isso ocorre pelo fato da

classe hospitalar ser multisseriada, podendo lhe dar com crianças cursando o Ensino Fundamental

até adolescentes no Ensino Médio.

O professor deve ser polivalente e no caso de não dominar alguma disciplina, pode solicitar

o auxílio de um professor específico, mas infelizmente em muitos hospitais essa participação deve

ser voluntária, o que dificulta a aceitação de alguns profissionais. O pedagogo deve dividir o seu

tempo para que todos os alunos possam ser atendidos, em média quarenta minutos à uma hora por

aluno de segunda a sexta-feira, tudo depende da quantidade de crianças e adolescentes internados e

suas diferentes séries, levando em consideração o estado clínico, pois o próprio tratamento traz

efeitos que poderão atrapalhar o ritmo das crianças, portanto, o tempo de transmissão do conteúdo

depende também da frequência desse aluno à classe. Não podemos esquecer que se o aluno por

algum motivo não puder frequentar a classe, o pedagogo deverá oferecer esta aula no próprio leito

do paciente. Esse é um dos motivos que faz com que o pedagogo elabore um planejamento flexível.

Também são realizados trabalhos de temas diversos, avaliações por escrito e até “lição de

casa”. Neste caso, cada hospital junto a Secretaria de Educação devem escolher a melhor maneira

para trabalhar. Algumas escolas montam as provas e trabalhos para que o pedagogo hospitalar possa

aplicar ao aluno, em outros casos o próprio profissional atuante no hospital elabora as provas e os

Page 17: EDUCAÇÃO E SAÚDE: A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170531133230.pdf · comprometidas. O estado do paciente deve ser levado em conta, para

Edição 12 – Dezembro de 2016

trabalhos. Em ambos os casos, é necessário que tudo seja registrado por meio de relatórios e fichas

de acompanhamento, esclarecendo as principais dificuldades e potencialidades do aluno. Todos

esses documentos devem ser enviados à escola de origem, organizados em formato de portfólio

junto com todas as atividades realizadas pelo aluno.

“Com a manutenção da escolaridade, a criança está garantindo seu futuro acadêmico e profissional, além de

manter-se adaptada ao meio social e escolar, o que lhe possibilita melhor qualidade de vida durante e após o tratamento.

Desse modo, quanto mais integrada às vivências diárias próprias de sua idade, como frequência à escola, mais

facilidade terá no processo de readaptação ao mundo livre da doença” (GRANEMANN apud MATOS, 2011, p.132)

É um atendimento que traz muitos benefícios para o aluno.

Por vezes, mais do que por causa da problemática de saúde, a criança sofre, pois a

hospitalização pode aumentar tanto suas dificuldades em acompanhar os conteúdos

escolares quanto a possibilidade de repetir a série que vinha cursando na escola. Às vezes a

internação hospitalar inviabiliza até mesmo a matrícula da criança numa escola, o que pode

interferir na percepção que a criança tem de si mesma. (FONSECA apud MATOS, 2011,

p.132)

3.1 Recursos utilizados na classe hospitalar

Assim como numa classe regular, a classe hospitalar também tem necessidade de contar com

os mais variados recursos para a transmissão de conteúdo, facilitando, assim, a construção do

conhecimento do aluno.

Fonseca (2008, p. 47), afirma que documentos como Referencial Curricular Nacional para a

Educação Infantil, os Parâmetros Curriculares Nacionais fornecem subsídios para a elaboração do

planejamento. A criatividade conta muito neste processo para transformar a rotina em algo divertido

e isso ainda contribui para a qualidade do relacionamento entre o professor e o aluno. Muitas

classes contam apenas com computador, impressora, quadro branco, mesas e cadeiras.

Segundo Kudo e Maria (2009)

Com o objetivo de afastar o menos possível a criança internada do seu cotidiano e

atividades sociais, as datas comemorativas como Páscoa, Dia da Mães, Festa Junina,

Primavera, Dia das Crianças e Natal são celebradas. As crianças se mobilizam na

organização das festas, confeccionando os enfeites para decoração do ambiente. (KUDO e

MARIA, 2009, p.69)

O atendimento educativo envolve várias atividades que podem ser realizadas dentro do

hospital, é claro que observando as condições de saúde de cada aluno.

Page 18: EDUCAÇÃO E SAÚDE: A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170531133230.pdf · comprometidas. O estado do paciente deve ser levado em conta, para

Edição 12 – Dezembro de 2016

Seguindo um planejamento definido semanalmente, as atividades são capazes de envolver

crianças e adultos presentes. De acordo com Clemente (2012) algumas atividades básicas marcam o

fazer pedagógico, como por exemplo:

- Atividades de Artes: esse tipo de atividade é o mais indicado para iniciar o trabalho com um aluno

recente, pelo fato de proporcionar mais liberdade na construção e ser considerado algo mais lúdico.

É a oportunidade que a criança tem de expressar e criar utilizando técnicas e materiais artísticos em

pinturas, desenhos, construção com sucatas, elaboração de adornos para festas comemorativas,

teatro de fantoches etc.

- Leituras e Interpretações de Histórias: essa atividade oferece ao aluno a possibilidade de ampliar o

seu repertório, pelo fato de oferecer e incentivar o acesso à diferentes tipos de textos escritos desde

jornais, revistas, contos, histórias, biografias etc. Este recurso não pode ser considerado como

distração com relação à doença, pois estimula o gosto e hábito pela leitura. A contação de história

em especial é um momento mágico e prazeroso, pois interfere diretamente na imaginação e na

emoção da criança. Importante ressaltar que as leituras devem acompanhar a faixa etária da criança.

Trabalhar com material atualizado faz com que o aluno sinta-se antenado com o mundo do lado de

fora. Outra sugestão é promover rodas de bate papo após as leituras, para favorecer a socialização e

dar oportunidade do aluno expressar sua opinião, desenvolvendo assim o seu potencial crítico,

tornando um sujeito ativo independente da enfermidade. É possível também o educador observar o

que o aluno assimilou da leitura realizada.

Alguns hospitais contam com projetos em bibliotecas que podem ser móveis ou não. Esse

projeto amplia espaços para população com pouco acesso e menor possibilidade de aquisição de

livros.

- Exibição de Filmes: consiste em atividades que atendam não somente ao lazer, mas que de um

modo geral, venha estimular a verbalização e o pensamento criativo. Em alguns hospitais existe o

Projeto chamado “Sessão Pipoca”. São exibidos filmes infanto-juvenis e há distribuição de pipoca

para pacientes, acompanhantes e funcionários.

Segundo Kudo e Maria (2009, p. 86), “o principal objetivo é entreter e integrar os

participantes a partir da ideia que o hospital não é apenas lugar de dor e doença, mas também de

saúde a partir de encontros culturais e de lazer”.

Page 19: EDUCAÇÃO E SAÚDE: A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170531133230.pdf · comprometidas. O estado do paciente deve ser levado em conta, para

Edição 12 – Dezembro de 2016

As autoras ainda afirmam que:

Para os pacientes, assistir a um filme durante a internação possibilita expansão do universo

cultural, além de amenizar alguns momentos de dor, permitindo, assim, o resgate de uma

atividade cotidiana durante o tratamento clínico. Para acompanhantes e funcionários é uma

forma de diminuir o estresse decorrente de suas atividades (Ibidem)

- Jogos e Brincadeiras: essas atividades devem promover momentos de lazer e socialização, através

de diversas opções de jogos e brincadeiras que oferecem para a criança o desenvolvimento de

alguns aspectos do processo cognitivo, dentre eles: análise, observação, memorização e

planejamento. A criança também passa a reconhecer regras e isso auxilia diretamente no respeito ao

próximo.

A utilização de atividades lúdicas na aprendizagem pode contribuir significantemente na

melhoria da educação. Educadores podem utilizar desta atividade para mediar e contribuir

para o ambiente educacional ficar mais alegre e favorável à educação”. (BORTOLOZZI

apud MATOS, 2011, p.103)

Ainda segundo este autor:

“A ludicidade é um recurso de fácil acesso ao professor e por meio de jogos e brincadeiras

as crianças aprendem facilmente e com prazer, mesmo que contenha regras exigindo

raciocínio lógico. Ao jogar, as crianças aprendem a lidar com o autocontrole, interpretar

símbolos, cores, calcular possíveis estratégias e trabalhar em conjunto, favorecendo suas

relações sociais. (BORTOLOZZI apud MATOS, 2011, p. 104)

- Festas dos Aniversariantes: devido aos longos períodos de internação, muitas crianças passam o

aniversário dentro do hospital. Por isso, a maioria dos hospitais que contam com a classe hospitalar

organizam, mensalmente, uma festa para a comemoração do aniversário dos pacientes internados. É

algo bastante positivo, pois envolve familiares, pacientes e funcionários em todos os preparativos da

festa.

Segundo Kudo e Maria (2009, p. 86), “faz parte da estratégia para preservar os aspectos

sociais e culturais relacionados com esse evento. O ambiente torna-se festivo e agradável, alterando

o enfoque dos aspectos negativos da doença e do tratamento”.

Outro fator importante é o sentimento gerado na criança, que passa a ter sua autoestima

elevada, por se sentir importante neste ambiente.

- Recursos tecnológicos: o avanço da tecnologia alcançou todas as faixas etárias. Esse interesse da

criança pelo mundo tecnológico não muda por conta da sua internação, pelo contrário, hoje em dia

os hospitais são marcados fortemente pela presença da tecnologia que dão suporte à vida.

Page 20: EDUCAÇÃO E SAÚDE: A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170531133230.pdf · comprometidas. O estado do paciente deve ser levado em conta, para

Edição 12 – Dezembro de 2016

É extremamente importante que os educadores saibam utilizar tais recursos para que possam

explorá-los em prol de uma proposta inovadora, pois as novas tecnologias abrem espaço para novos

canais de comunicação.

Existem projetos utilizando este recurso para criação de um ambiente virtual de

aprendizagem, onde o aluno hospitalizado mantém contato direto com sua escola de origem,

realizando atividades curriculares propostas pela escola. Neste caso o pedagogo hospitalar exerce a

função de mediador facilitando a relação do aluno com a tecnologia.

O uso da tecnologia na ação docente possibilita a educação a distância e promove a

inclusão de crianças hospitalizadas, dando chance de continuarem seus estudos durante os

internamentos e, além disso, promove a inclusão digital por uma ação mediadora do

professor que torna acessível o uso de ambientes virtuais de aprendizagem. (RODACOSKI

apud MATOS, 2011, p. 412)

Essa importância do educador estar conectado com a tecnologia também se dá pelo fato de

crianças de classe social baixa não ter acesso a este recurso, como podemos enxergar na fala de uma

adolescente:

“Logo você aprende a mexer no computador. Quando cheguei da Bahia, eu não sabia,

porque lá as escolas não têm. Aqui, quando fui mexer e não sabia eu até chorei. Porque eu

sou de Câncer e as pessoas cancerianas são muito sensíveis. Mas eu chorei porque um

menino riu de mim” – Jéssica, 15 anos – (KUDO e MARIA, 2011, p. 43).

Destacamos até aqui as principais atividades e recursos que podem ser utilizados na classe

hospitalar para promover aprendizagem e garantir ao aluno um ambiente onde sua dignidade é

resgatada, mesmo diante de uma enfermidade.

3.2 O Atendimento Educacional Domiciliar

Como abordamos no 1º capítulo, diversas são as leis que garantem a escolaridade do aluno

enfermo necessitando de afastamento temporário da escola. Visando minimizar a defasagem na

educação, o atendimento educacional pedagógico domiciliar deve ser oferecido aos educandos que,

por motivo de saúde, ficam impossibilitados de frequentar o ambiente escolar, mesmo não

necessitando de internação hospitalar.

O documento publicado em 2002, pelo Ministério da Educação e a Secretaria de Educação

Especial, intitulado “Classe hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar: estratégias e

orientações” teve o objetivo de incentivar a criação do atendimento pedagógico em ambiente

hospitalar e domiciliar.

Page 21: EDUCAÇÃO E SAÚDE: A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170531133230.pdf · comprometidas. O estado do paciente deve ser levado em conta, para

Edição 12 – Dezembro de 2016

Neste caso, mesmo com todo empenho do poder público, ainda se constata que alguns

alunos não estão sendo atendidos pelo fato de receberem alta hospitalar, mas não alta médica.

Mesmo retornando para sua casa, há casos de alunos que não retornam à escola por limitações

físicas temporárias, pela baixa imunidade, ou pelo fato de ainda não ter recuperado totalmente sua

saúde.

Segundo Avanzini (apud MATOS, 2011, p.285), “este atendimento domiciliar não poderá

ser ministrado por voluntários, mas sim por profissionais vinculados ao sistema de educação, que se

encontram no pleno exercício de suas funções docentes”. Isso pela necessidade da mediação

pedagógica por meio de um atendimento educacional.

Algumas escolas privadas contam com uma equipe de profissionais que acompanham o

aluno afastado das aulas, ou até mesmo ampliam a carga horária de alguns professores, para que

estes possam acompanhar o aluno afastado a realização das atividades domiciliares.

Há algumas Secretarias Municipais de Educação que contratam profissionais de educação

para realizar o atendimento aos alunos afastados. Normalmente, esta equipe se concentra num dos

setores da Secretaria e se dirige às casas dos alunos que necessitarem do atendimento. Essa

necessidade é informada pela escola, pela família ou até mesmo pelo professor do atendimento

hospitalar.

Ainda conforme a autora:

Para que o atendimento pedagógico domiciliar aconteça efetivamente, é

imprescindível a participação dos responsáveis pelo aluno, pois eles deverão apresentar, na

escola onde esse se encontra matriculado, laudo médico atestando a impossibilidade de

frequentar regularmente o ambiente escolar, por conta das fragilidades decorrentes do

tratamento de saúde a que está submetido, e com a liberação para que possa receber o

atendimento domiciliar. (AVANZINI apud MATOS, 2011, p. 291)

Quando a escola conta com esta documentação, deve encaminhá-la a seus órgãos

mantenedores para que ocorra a contratação ou liberação dos profissionais. Para solicitar o

professor, alguns documentos são necessários, como:

Laudo médico que ateste a impossibilidade do aluno frequentar sua escola de origem e a

liberação para atendimento pedagógico domiciliar; cópia da ata do Conselho Escolar em

que são apontados os encaminhamentos já realizados pela escola para o acompanhamento

escolar do aluno em questão; ofício de encaminhamento da solicitação da direção da sua

escola à sua mantenedora; documentação comprobatória de vínculo e titulação do professor

que atenderá o aluno. (Ibidem)

A partir desta documentação é possível iniciar um processo nos órgãos competentes, no

intuito de providenciar o atendimento domiciliar ao aluno afastado do ambiente escolar por

problema de saúde.

Page 22: EDUCAÇÃO E SAÚDE: A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170531133230.pdf · comprometidas. O estado do paciente deve ser levado em conta, para

Edição 12 – Dezembro de 2016

Apesar de todas as limitações, este tipo de atendimento oferece possibilidades para o

desenvolvimento de um programa educacional que avance ainda mais no acesso e permanência do

aluno na escola, “pois se acredita na ideia de que a transformação social não é tarefa da escola, mas

sem a escola a tão almejada transformação não acontecerá” (AVANZINI apud MATOS, 2011, p.

293).

Essa proposta de escolarização colabora para evitar a evasão e a repetência em virtude do

afastamento e das dificuldades causadas pela doença, e proporciona à criança um fator

estável e contínuo na sua vida, propicia um processo de ensino e aprendizagem que visa a

estimular a curiosidade e o prazer pelo conhecimento, contribuindo para melhorar o

rendimento e a aprendizagem daqueles alunos que vêm apresentando dificuldades de

aprendizagem ao longo de sua escolarização, podendo, portanto, contribuir para o progresso

do aluno em domínios intelectuais, conceituais e práticos, dos quais fará uso no futuro.

(Ibidem)

A autora encerra, colocando como privilégio grandioso ser educador domiciliar, pois se

pode cuidar da humanização e da dignidade das pessoas, ao mesmo tempo em que se contribui para

a construção de uma nova sociedade, a da inclusão e do acolhimento.

No filme “O óleo de Lorenzo”, analisamos os procedimentos dos pais com uma criança

portadora de uma doença degenerativa que afeta o cérebro. O amor e carinho com que a criança é

tratada, nos fez lembrar o comprometimento que o pedagogo que atua nesta modalidade de

atendimento deve ter:

- a criança não precisa só de medicamentos, mas de profissionais comprometidos que tenham boa

vontade e amor pelo que faz.

- mesmo em domicílio, o professor deve preservar atividades lúdicas, com músicas, contação de

histórias, brincadeiras, etc.

- a criança enferma deve ter a sua idade cronológica respeitada, onde os recursos acompanhem a

faixa etária. No filme existe uma cena, onde o menino cresceu, se tornou um adolescente, mas a

mãe ainda fazia leitura de livros infantis, quando ele se deu conta disso, tratou logo de consertar a

falha.

3.3 Avaliar a aprendizagem no ambiente hospitalar

Encontramos diversas literaturas sobre avaliação da aprendizagem, mas ao nos depararmos

com uma modalidade de educação considerada recente, percebemos que existe mais este detalhe a

ser estudado e esclarecido para os profissionais que atuam na classe hospitalar.

Comentamos no capítulo anterior que são poucos os espaços para debates a respeito de

currículo, planejamento e avaliação, entre outras questões relacionadas ao espaço educacional. A

Page 23: EDUCAÇÃO E SAÚDE: A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170531133230.pdf · comprometidas. O estado do paciente deve ser levado em conta, para

Edição 12 – Dezembro de 2016

avaliação deve ser considerada um elemento de extrema importância no processo de ensino

aprendizagem.

De uma forma geral e bastante tradicional quando se pensa em avaliação, Arosa (2011) diz

que: “processo centrado na coleta de informações, ou seja, avaliar é medir, apurar, aferir

objetivamente um determinado aspecto de realidade, seja ela educativa ou de outra ordem”.

(AROSA apud MATOS, 2011, p. 67).

A autora reforça,

Sendo assim, as práticas avaliativas estariam a serviço da confirmação dos resultados

esperados, determinados pelo planejamento. Avaliar seria, pois, verificar se os objetivos

foram alcançados, nas condições determinadas e no tempo estabelecido. Em última análise,

avaliar a aprendizagem é verificar se o conhecimento transmitido foi acumulado na medida

certa e no tempo estimulado. (AROSA apud MATOS, 2011, p. 68)

Imaginamos que esse modelo de avaliação traz consigo muitas dificuldades e consequências

sérias na escola regular. Como “medir” conhecimento na escola hospitalar, onde muitas vezes o

aluno encontra-se debilitado, sob efeitos de medicações e diversos tratamentos?

Arosa defende a concepção de Paulo Freire: “o conhecimento não é algo que se transfere, de

forma mecânica e imediata, daquele que o detém para aquele que o ignora, ao contrário, sua

construção se dá por meio das relações que são estabelecidas na sociedade”. (AROSA apud

MATOS, 2011, p. 69).

A autora completa que “desse modo, compreendemos o conhecimento como uma construção

coletiva, um bem social que deve estar a serviço da transformação da realidade”. (Ibidem)

Sabemos que historicamente falando, a escola avalia com o propósito de controlar,

selecionar, classificar e rotular, ou seja, inclui alguns e exclui outros. Neste caso, a avaliação tem o

objetivo de verificar os alunos que serão aprovados e reprovados. Mesmo que na escola tradicional

seja possível esse modelo de avaliação, no espaço hospitalar não faz sentido, justamente porque o

pedagogo hospitalar não tem poder instituído para aprovar ou reprovar alunos. Na escola regular a

autoridade sobre esse tipo de decisão é o professor, diferente da classe hospitalar, que a autoridade

que toma decisões sobre o futuro do paciente é o médico.

Para Arosa (2011, p.71), o tipo de avaliação que se enquadra melhor na classe hospitalar é a

Avaliação Formativa, pois ao mesmo tempo que é dado significado à ação educativa, acontece a

formação permanente de professores e alunos. É centrada no processo e não no produto,

considerando que o aluno aprende de diversas formas, em tempo diferente e a partir de suas

experiências cotidianas, mostrando ao professor e ao aluno como ocorre o processo de ensinar e

Page 24: EDUCAÇÃO E SAÚDE: A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170531133230.pdf · comprometidas. O estado do paciente deve ser levado em conta, para

Edição 12 – Dezembro de 2016

aprender. Tem uma concepção emancipadora, que está a serviço da libertação e não domesticação.

O sujeito tem consciência de si e do mundo.

No hospital, isso significa que o aluno necessita conhecer a natureza da sua enfermidade,

suas manifestações, o funcionamento do seu corpo, os procedimentos terapêuticos, mas sem deixar

de reconhecer os seus direitos enquanto paciente e aluno. Os conhecimentos a serem construídos

não devem ficar limitados a essas condições, mas não podem ser ignoradas ao praticar um currículo

que não leve isso em conta.

Entendemos, portanto, que a avaliação deve ser compreendida como um processo

permanente, pois ocorre todo o tempo em que o aluno estiver hospitalizado. Essa observação traz

elementos para subsidiar as ações pedagógicas.

Arosa sugere algumas alternativas para realizar este tipo de avaliação:

Diversas são as atividades desenvolvidas e as possibilidades de promover um olhar atento

sobre o processo de construção do conhecimento. Essas atividades, que podem ser

individual ou coletivamente realizadas, são alvo de permanente e sistemática observação e

análise crítica, que são registradas de diversas maneiras. Esses registros, que tem por

objetivo de documentar qualitativamente as práticas pedagógicas realizadas, podem ser

feitos por meio de anotações pessoais realizadas pelo professor; montagem de portfólios,

em que se agrupam os produtos das atividades realizadas; exercícios diversos que guardem

traços importantes a serem considerados; fichas de avaliação, registro de autoavaliação

realizada pela criança ou adolescente; bem como diários reflexivos do trabalho pedagógico

ou qualquer outra forma de registro que acumule informações que possibilitem a construção

de um Relatório Avaliativo. (AROS apud MATOS, 2011, p. 74)

Vale lembrar que, quando solicitado pela escola de origem, é possível ocorrer uma avaliação

de forma específica. Neste caso nenhum outro procedimento deve ser abandonado, pelo contrário,

essa exigência da escola também servirá para análise.

No Relatório Avaliativo devem conter análise sobre os objetivos alcançados e não

alcançados, o processo que se deu a construção desses objetivos e os procedimentos adotados pelo

professor.

Segundo Farenzena e Silva, referindo-se a uma pesquisa realizada, ressaltam que:

Definir uma intervenção sem ser invasiva, tampouco omissa, não é tarefa fácil, por isso

realizamos o registro diário com apreciação crítica das atividades desenvolvidas.

Semanalmente nos reunimos no próprio espaço, para avaliar, planejar e redimensionar as

ações. (FARENZENA e SILVA apud Matos, 2011, p.116)

A observação é uma das ferramentas que podemos usar para obter informações sobre algo.

Segundo Fonseca (2008, p. 39), “no caso do atendimento pedagógico-educacional hospitalar, o ato

de observar é ainda mais importante”. Algumas questões só podem ser respondidas ou exploradas, a

partir de observações feitas em circunstâncias naturais.

Page 25: EDUCAÇÃO E SAÚDE: A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170531133230.pdf · comprometidas. O estado do paciente deve ser levado em conta, para

Edição 12 – Dezembro de 2016

Um período de observação pode levar à identificação de alguns padrões de comportamento

ou situações que necessitem de uma intervenção diferenciada.

A autora destaca que:

O professor da escola hospitalar deve treinar-se para observar. A melhor forma de fazê-lo é

por meio do exercício de registrar as informações obtidas durante as observações de modo

consciente e crítico, da forma mais fidedigna possível, e evitando colocações tendenciosas.

Para o aprimoramento da observação feita pelo professor, discussões com colegas ou

profissionais da área devem ser realizadas, a fim de determinar que comportamentos ou

situações deve considerar para a observação. (FONSECA, 2008, p.42)

O que o professor observador registra deve ser o mais próximo possível do que realmente

esteja acontecendo no ambiente em que realiza a observação.

A observação vem ganhando lugar respeitável no campo pedagógico-educacional gerido

pelo professor, provando ser um instrumento válido para melhor conhecimento e

entendimento da realidade da sala de aula. Observação tem um papel bastante importante e

é a primeira etapa para termos um bom planejamento ou para a adequada organização das

atividades. (Ibidem)

A autora completa dizendo que, observar se aprende observando. Orienta também que

diariamente devem ser feitos registros sobre o desempenho de cada criança nas atividades que

foram propostas.

Fonseca não deixa de ressaltar que conteúdo deve ser essencial para os alunos de uma classe

hospitalar :

O que se trabalha com o aluno são os conteúdos essenciais, claro que os aprofundando na

medida do interesse e da necessidade do aluno. Sabemos que a base está em dar condições

para que o aluno verdadeiramente domine o ler, o escrever e o contar. Se ele tem esse tripé

sólido, ele constrói todo e qualquer conhecimento Não estamos dizendo aqui que a escola

hospitalar deva se concentrar exaustivamente nesses três domínios, mas que veja que eles

estão presentes em qualquer que seja o assunto tratado na sala de aula, independentemente

se proposto pelo professor ou pelo aluno. (FONSECA, 2008, p.54)

Um serviço educacional de qualidade será prestado, se este referencial for considerado em

um planejamento. “Quem sabe não será o atendimento escolar hospitalar um bom e concreto

exemplo de mostrar como fazer valer o direito à escola de qualidade para todos os nossos cidadãos

em formação, estejam hospitalizados ou não?”. (Ibidem)

3.4 A atuação do pedagogo no ambiente hospitalar

Segundo Clemente (2012), historicamente no Brasil e no mundo o hospital sempre foi

considerado um lugar de dor, sofrimento e morte. Hoje com a atuação do pedagogo neste ambiente,

Page 26: EDUCAÇÃO E SAÚDE: A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170531133230.pdf · comprometidas. O estado do paciente deve ser levado em conta, para

Edição 12 – Dezembro de 2016

poder ser considerado também um lugar de educação, solidariedade e alegria. A classe hospitalar

pode ser considerada um lugar onde a aprendizagem e o conhecimento superam a dor.

“É importante ao professor estar consciente de que sua atuação no hospital, mesmo que não

homologada oficialmente (embora devesse estar), diz respeito ao acompanhamento dos processos

de desenvolvimento e de aprendizagem do paciente hospitalizado que, para ele, é o aluno”

(FONSECA, 2008, p. 26)

No filme “Patch Adams – O amor é contagioso”, também encontramos algumas

coincidências com a realidade do profissional da educação:

- destacam a importância de tratar o paciente pelo nome e não pelo número do leito ou pelo seu

diagnóstico;

- orienta que seja evitada a concentração no problema, a energia deve estar depositada na solução;

- estar atento às necessidades do paciente, pois ele se sente insignificante longe do seu lar.

Para o professor, o indivíduo hospitalizado é aluno. Para o médico é paciente. Mas este

mesmo indivíduo é primeiramente, e independentemente de qualquer coisa, um cidadão de direito

(Fonseca, 2008, p.27). Portanto vale lembrar que o professor não pode interferir em nada na criança

enquanto paciente, neste caso, a equipe de enfermagem ou médica deve ser acionada. Mesmo não

sendo autorizado a interferir, é necessário que o professor seja bem informado sobre a área da

saúde.

Não lhe deve faltar, além de sólido conhecimento das especificidades da área da educação,

noções sobre técnicas e terapêuticas que fazem parte da rotina da enfermaria, e sobre as

doenças que acometem seus alunos e os problemas (mesmo emocionais) delas decorrentes,

tanto para as crianças como também para os familiares e para as perspectivas de vida fora

do hospital. (FONSECA, 2008, p. 29)

Clemente (2012) orienta sobre a importância de realizar um curso sobre primeiros socorros,

conhecer as doenças mais comuns na infância e suas formas de transmissão e prevenção. Aconselha

sobre os cuidados que o pedagogo deve ter com a própria saúde, através do hábito de lavagem das

mãos, uso de equipamentos de proteção individual como luvas e máscaras - isso de acordo com a

orientação dada pela equipe hospitalar -, evitar o uso de perfumes, bijuterias e sempre manter unhas

curtas. Alguns hospitais solicitam o uso de jaleco com uma cor diferenciada da equipe de saúde.

Outro detalhe de grande importância que o autor destaca, é que apesar do pedagogo estar

num ambiente não escolar, ele continua sendo um profissional da educação, portanto, seu discurso

deve conter termos pedagógicos que deem credibilidade ao seu profissionalismo e

comprometimento. Em hipótese alguma, deve se sentir inferiorizado.

Page 27: EDUCAÇÃO E SAÚDE: A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170531133230.pdf · comprometidas. O estado do paciente deve ser levado em conta, para

Edição 12 – Dezembro de 2016

O ambiente hospitalar exige do professor uma conduta específica e diferente da utilizada na

escola regular, por exemplo, não poderá organizar uma fila de crianças e sair cantando pelos

corredores, desrespeitando o ambiente ou falar alto e chamar atenção do aluno, prejudicando ainda

mais o estado emocional fragilizado causado pela enfermidade. E ainda se o aluno simplesmente

não quiser assistir a aula em determinado momento, isso deve ser respeitado. Deve-se criar

estratégias para favorecer o processo de ensino aprendizagem integrando desenvolvimento e

experiências.

De acordo com Fonseca (2008, p. 31), existem duas questões que dividem opiniões entre os

profissionais que atuam e estudam a temática “classe hospitalar”. São elas:

1ª: o trabalho do professor no hospital não apresenta diferenças marcantes daquele que um professor

realiza em uma sala regular. Para a autora, o professor deve se ajustar ao ambiente, mas sem perder

o seu foco pedagógico educacional e isso é uma exigência em qualquer lugar de sua atuação.

2º: o professor da escola hospitalar não requer, necessariamente, uma formação especializada. Para

a autora, a especialização acrescentará pouquíssimo, se o pedagogo não dominar conceitos básicos

como, por exemplo, processos de desenvolvimento e de aprendizagem, didática, planejamento etc.,

que são essenciais para que a dinâmica de qualquer espaço que visa a construção do conhecimento.

Uma educação de qualidade se dá quando o que acontece na sala de aula, através das

mediações professor-aluno e aluno-aluno sobre os conhecimentos do mundo, do dia a dia,

das experiências e da realidade de cada um, é sistematizado. O conhecimento não está na

sala de aula; ele nela chega conosco: professores, alunos, equipe, comunidade, e, com as

trocas nela vivenciadas, ele se constrói. (FONSECA, 2008, p.32)

Como citamos anteriormente, a participação do professor no ambiente hospitalar vai muito

além de cumprir um planejamento e transmitir conteúdos escolares. Sem desrespeitar aspectos

éticos, o professor auxilia a criança e a família a compreenderem melhor sobre a enfermidade, o

tratamento, os efeitos colaterais etc., exatamente pelo fato da equipe médica utilizar termos técnicos

que muitas vezes ficam confusos ao ouvinte. O professor faz a ponte entre o discurso oficial (do

médico) e o discurso do senso comum (da família). Desta forma é ampliada a relação entre

Educação e Saúde dentro do hospital.

Em outras situações o pedagogo atua como agente conscientizador, orientando pacientes e

familiares sobre possíveis riscos de transmissão de doenças, contaminação, epidemias, prevenção

etc., até mesmo encontrando situações que poderão ser abordadas junto ao conteúdo escolar.

A comunicação afetiva e o acolhimento também são fatores que estreitam laços e faz do

professor um parceiro do aluno, da família e do hospital. O cuidado no atendimento, diferenciado

Page 28: EDUCAÇÃO E SAÚDE: A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170531133230.pdf · comprometidas. O estado do paciente deve ser levado em conta, para

Edição 12 – Dezembro de 2016

por séries, exige do professor preparação, um profissional amoroso e humanitário, além de

competente para realizar o trabalho educativo.

Enfim, cabe ao papel do professor, segundo Junior e Gomes (2011) de que “[...] é preciso

gostar de fazer o que se propõe a realizar, é preciso gostar de exercer a função de professor de

classe hospitalar e, por fim, é preciso gostar da possibilidade de conviver com essa realidade e fazer

apesar das limitações da criança”. (JUNIOR e GOMES apud MATOS, 2011, p. 160).

3.5 Como lidar com o aspecto emocional e o luto?

Citamos a relação entre o professor e o aluno da classe hospitalar, onde é criado um vínculo

afetivo muito forte, portanto o sofrimento não acontece apenas pela morte, mas durante o próprio

diagnóstico e tratamento.

Alguns diagnósticos podem prejudicar o desenvolvimento da identidade da criança e do

adolescente. É perdido o sentido de continuar sua história e a perspectiva de futuro, pois a própria

hospitalização traz consigo a fragilidade, o desconforto da dor, a insegurança, e ainda causa o

afastamento de amigos, familiares, casa, escola, professores. A criança é submetida a

procedimentos invasivos e dolorosos, e seu ritmo e estilo de vida são completamente modificados.

A imagem corporal também é afetada, muitas vezes o sujeito se enxerga como sendo a

própria doença. Em alguns casos, a aparência física é completamente modificada, como, por

exemplo, a perda de cabelo dos pacientes que passam por quimioterapia em tratamento contra o

câncer, ou casos onde é necessário algum tipo de amputação de membros. Assim, evidentemente, a

autoestima do paciente ficará extremamente abalada.

Há pacientes com grande dificuldade de aderir ao tratamento, isso por alguns motivos.

Segundo Lucon (apud MATOS, 2011, p.87), “compreensão errônea da enfermidade, tratamento ou

instruções; falta de recursos para seguir o tratamento; o tratamento tem efeitos colaterais

indesejáveis, resultado em longo prazo, custo elevado; a doença é assintomática”.

Cada criança, cada família reage de modo particular à condição de doença, assim como

nem sempre surtem efeitos de restabelecimento os esforços demandados pelas equipes.

Conviver num cenário com essas características, não na posição passiva, de observador,

mas numa posição ativa de intervenção e mediação exige a condição de ser continente de

angústias, de medos, de dúvidas, de sentimentos de impotência, de raiva, de frustração, de

dor e de luto. Essa tarefa básica, pois nosso objetivo está projetado para além dessa

condição. (SILVA e FARENZENA apud MATOS, 2011, p.118)

Page 29: EDUCAÇÃO E SAÚDE: A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170531133230.pdf · comprometidas. O estado do paciente deve ser levado em conta, para

Edição 12 – Dezembro de 2016

Granemann (2011) relata sobre o importante papel do professor neste momento, mas destaca

que, por ser um ser humano o professor também é capaz de ter sensibilidade e sofrer junto com o

paciente e seus familiares.

Os professores devem ter conhecimento dos efeitos emocionais e do impacto da

enfermidade produzidos no âmbito familiar. O conhecimento de tais crises familiares

ajudará o professor a compreender melhor a situação. Ter um aluno que padece de

enfermidade que ameaça sua vida, gera no docente diversas reações. Haverá momentos em

que o professor não se sentirá apto para trabalhar por estar deprimido com a situação da

criança. Compartilhar suas preocupações cm outros membros da escola, assistentes sociais,

psicólogos, médicos podem ajudar a diminuir sua angústia. (GRANEMANN apud

MATOS, 2011, p. 133)

É uma situação bastante difícil de ser enfrentada, pois dependendo do estado do paciente,

em um dia ele estará na enfermaria, no outro numa Unidade de Terapia Intensiva (UTI), até evoluir

para óbito. O profissional deve reconhecer que também tem suas limitações físicas e emocionais,

então é necessário o desabafo, o choro, o toque, o abraço.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A educação, certamente, é o possível caminho para transformação da sociedade, embora

muitos discordam desta afirmação, por conta da situação crítica em que o sistema educacional se

encontra. Esse sistema deve ser repensado, pois de acordo com Paulo Freire (1996), a educação não

transforma a sociedade, mas transforma o sujeito, que consequentemente se torna capaz de

modificar algo na sociedade e o que está a sua volta.

Independente do ambiente onde a educação ocorre, ela deve ser intencional, desenvolvendo

um cidadão conhecedor de seus direitos e deveres, sem esperar por um produto, mas por um

processo que sempre está em construção. Somado a isso, os profissionais da educação devem ter

comprometimento, reconhecendo a influência que o próprio trabalho pode trazer à sociedade e ter a

compreensão que todo aluno tem o direito de aprender.

Essas questões não podem ser consideradas diferenciadas, no caso do aluno hospitalizado.

Pelo contrário, esse é mais um motivo de garantir o seu direito à educação e fazê-lo sujeito ativo

nesse processo de construção da sociedade. Na escola regular devemos considerar a realidade do

aluno. Na escola hospitalar esse conceito passa a ser ainda mais reforçado, porque além de

reconhecer a realidade escolar do aluno antes da internação, o seu estado clínico deve ser levado

muito em conta, pelo sofrimento que a enfermidade traz e ainda as consequências de tratamentos

dolorosos. Muitas vezes, a aula deve ser aplicada no leito ou deixar de ser aplicada por uma

Page 30: EDUCAÇÃO E SAÚDE: A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170531133230.pdf · comprometidas. O estado do paciente deve ser levado em conta, para

Edição 12 – Dezembro de 2016

indisposição do aluno. Respeitar o seu estado clínico é imprescindível, sabendo que o tempo de

aprender é o tempo do aluno.

De acordo com Fonseca (2008, p.75), “a possibilidade de se atingirem os objetivos traçados

em nosso planejamento se faz mais concreta quando os adequamos aos interesses e às necessidades

das crianças”. No hospital, o brincar proporciona o resgate social, afetivo e cognitivo, pelo fato da

criança está fora da sua rotina normal. A interação da criança é tão importante quanto a mediação

do professor nas atividades desenvolvidas.

Para Fonseca (2008, p. 36), “o professor entra como parceiro na relação entre a criança e o

ambiente hospitalar, entre a criança e o familiar, e nas interações de ambos com o hospital”, ou seja,

se torna um facilitador das relações.

A escola no hospital traz muitos benefícios, dentre eles a orientação referente a alguns

serviços prestados pelo próprio hospital, levando em conta as circunstâncias sociais, éticas,

educacionais, psíquicas, que ocorrem não apenas no hospital, mas faz parte do relacionamento

humano. Assim, a classe hospitalar é de extrema importância, pois com a manutenção da

escolaridade, a criança garante seu futuro acadêmico e profissional, além de manter-se adaptada ao

meio social e escolar, o que lhe possibilita melhor qualidade de vida durante e após o tratamento.

Mas infelizmente muitos são os obstáculos a serem vencidos, para que esse direito seja cumprido,

garantindo a dignidade do necessitado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, João Ferreira. A Bíblia da Mulher. 2. ed. rev. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil,

2009.

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação e da Pedagogia. 3. ed. rev. amp. São

Paulo: Moderna, 2006.

________, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. 3. ed. rev. amp. São Paulo: Moderna,

2006.

BIBIANO, Bianca. Ensino nas horas difíceis. Nova Escola, São Paulo, n. 220, março de 2009.

BRASIL. Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Resolução CNE/CEB

2, de 11 de setembro de 2001. Diário Oficial da União 177, seção 1-E, 14 de setembro de 2001. P.

39-40. Brasília: Imprensa Oficial, 2001.

______. Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. Declaração dos Direitos da

Criança e do Adolescente Hospitalizados. Resolução 41, 13 de outubro de 1995. Diário Oficial da

União 199, 17 de outubro de 1995. P. 16.319-20. Brasília: Imprensa Oficial, 1995

______. Declaração dos Direitos da Criança e do Adolescente. 1991

______. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei 8.069/90, de 13 de julho de 1990. Brasília:

Imprensa Oficial; 1990.

Page 31: EDUCAÇÃO E SAÚDE: A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO …uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170531133230.pdf · comprometidas. O estado do paciente deve ser levado em conta, para

Edição 12 – Dezembro de 2016

______. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Imprensa Oficial; 1988.

______. Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar. Ministério da Saúde.

Secretaria de Assistência à Saúde. Brasília: Imprensa Oficial; 2001.

CLEMENTE, Marcelo. Curso de Pedagogia Hospitalar – Instituto Paulista de Educação e Saúde, de

15 de setembro a 06 de outubro de 2012

Dicionário Enciclopédico Larousse, 1. ed. São Paulo: Larousse do Brasil, 2007.

FONSECA, Eneida Simões da. Atendimento escolar no ambiente hospitalar. 2. ed. São Paulo:

Memnon, 2008.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. 34. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

GOHN, Maria da Glória. Educação não-formal, participação da sociedade civil e estruturas

colegiadas nas escolas. Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v. 14, n. 50, p. 27-38,

jan./mar. 2006.

KUDO, Aide Mitie, MARIA, Priscila Bagio. O hospital pelo olhar da criança. São Caetano do Sul,

SP: Yendis, 2009.

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. 26. ed. São Paulo: Cortez, 1994

MATOS, Elizete Lúcia Moreira (Org), TORRES, Patrícia Lupion (Org). Teoria e Prática na

Pedagogia Hospitalar: novos cenários, novos desafios. 2. ed. rev. amp. Curitiba: Champagnat,

2011.

MEC. Estratégias e orientações pedagógicas para a educação de crianças com necessidades

educacionais especiais. Brasília: MEC/SEESP; 2002

____. Classe hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar: estratégias e orientações. Brasília:

MEC/SEESP; 2002.

____. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF; 1998.

____. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1997.

____. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei 9.394 de 20 de dezembro de 1996.

Brasília: Imprensa Oficial; 1996.

____. Política Nacional de Educação Especial. Livro 1. Brasília: MEC/SEESP; 1994.

Filmes:

SHADYAC, Tom (dir.) Patch Adams, o amor é contagioso (Patch Adams). EUA, Universal. 1998.

MILLER, George (dir.) O óleo de Lorenzo (Lorenzo Oil). EUA, Universal,1992.

MOURÃO, Mara (dir.) Doutores da Alegria. Brasil, Imovision, 2005.