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Edição 12 – Dezembro de 2016
EDUCAÇÃO E SAÚDE: A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NO AMBIENTE HOSPITALAR
OLIVEIRA, Aparecida da Silva Cândido de 1
MARTINS, Viviane Lima2
RESUMO: Os espaços de atuação do pedagogo tem sido ampliados, considerando que, onde
houver criança, deve haver educação. Não seria diferente no caso dos alunos que temporariamente
necessitarem de hospitalização. A escola no hospital passou a ser legalizada para garantir ao
paciente/aluno a continuidade escolar, mesmo diante de uma enfermidade, evitando transtornos
como reprovação ou interrupção à escolaridade. Destacamos as modalidades de educação, o
histórico da Pedagogia Hospitalar, o funcionamento e a prática da classe hospitalar, a atuação do
pedagogo e como lidar com a situação de luto. Essa investigação teve uma parcela de contribuição
de dois hospitais em São Paulo (interior e capital), que contam com essa modalidade de assistência
ao aluno hospitalizado.
Palavras-chave: Classe Hospitalar, Pedagogia Hospitalar, aluno hospitalizado
ABSTRACT: The spaces of action of the pedagogue have been expanded, considering that, where
there is a child, there must be education. It would not be different for students who are temporarily
in need of hospitalization. The school in the hospital became legalized to guarantee the patient /
student continuity, even in the face of a disease, avoiding disorders such as failure or interruption to
schooling. We highlight the modalities of education, the history of Hospital Pedagogy, the
operation and practice of the hospital class, the pedagogue's actions and how to deal with the
situation of mourning. This research had a contribution of two hospitals in São Paulo (interior and
capital), which rely on this type of assistance to the hospitalized student.
Keywords: Hospital Class, Hospital Pedagogy, hospitalized student
1 INTRODUÇÃO
Quando falamos em educação, logo associamos a uma escola, com salas de aula, alunos,
professores, diretores e coordenadores, tudo funcionando regularmente. Mas, o que fazer com o
aluno que tem necessidade de passar um período de sua escolaridade hospitalizado ou com algum
tipo de enfermidade que o impeça de frequentar o ambiente escolar?
Vale lembrar que existem diversos tipos de enfermidades, que causam grandes mudanças no
cotidiano de uma pessoa, alterações físicas e emocionais, que exigem do aluno um longo período de
afastamento. Se este período não for preenchido e o processo de ensino e aprendizagem não tiver
1 Pedagoga. E-mail: [email protected]
2 Doutora em Comunicação e Semiótica e Professora Universitária. E-mail: [email protected]
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sequência, muitos problemas poderão ser acarretados, dentre eles, evasão e atraso escolar. Para
atender a essa demanda surge a modalidade de atendimento denominada classe hospitalar, que tem
por finalidade suprir formalmente a escolaridade do aluno hospitalizado e isso passa a ser um
direito garantido por meio de algumas legislações a todos os alunos que dela necessitarem.
O atendimento pedagógico-educacional no ambiente hospitalar deve ser entendido como
uma escuta pedagógica às necessidades e interesses da criança, buscando atendê-las o mais
adequadamente possível nestes aspectos, e não como mera suplência escolar ou “massacre”
concentrado do intelecto da criança. O sucesso deste trabalho depende da cooperação
contínua e próxima entre os professores, alunos, familiares e os profissionais de saúde do
hospital. (FONSECA, 2008, p. 15)
Antes de qualquer coisa, vale lembrar que a criança é uma pessoa que tem direito ao
atendimento de suas necessidades mesmo se estiver com a saúde comprometida.
Muitas vezes a criança sofre porque a hospitalização, mais do que a problemática de saúde
em si, gera falta às aulas. Este fato pode contribuir para o aumento de suas dificuldades em
acompanhar os conteúdos escolares, levando à probabilidade de grande defasagem no ano
do ciclo que vinha cursando em sua escola regular. (FONSECA, 2008, p. 33)
A Constituição Federal de 1988 diz que a educação é um direito de todos e dever do Estado
e da família, portanto, a criança hospitalizada também tem este direito e o Estado deverá cumpri-lo
(BRASIL, 1988). Por conta disso, com o passar do tempo foram criadas leis específicas que
atendessem essa modalidade de ensino.
Segundo Lucon apud Matos (2011, p. 92), “se a escola deve ser promotora da saúde, o
hospital pode ser mantenedor da escolarização”. Ele ainda afirma que, “aprender no hospital é,
muitas vezes, sinal de saúde para criança e o adolescente”.
Tais medidas garantem o atendimento escolar no ambiente hospitalar, fato que originou a
realização desta pesquisa, motivada da mesma forma pelos seguintes questionamentos: até que
ponto os direitos da criança estão sendo cumpridos? As famílias se preocupam com a escolaridade,
num momento em que consideram a recuperação da saúde da criança muito mais importante?
Aceitam o atendimento educacional? Existe realmente apoio e comprometimento escolar com os
enfermos? Como funciona na prática a classe hospitalar?
Esse tema desperta bastante interesse, justamente para trazer ao conhecimento da população
de forma esclarecedora, direitos garantidos na Lei, que muitas vezes não são cobrados pelo fato de
serem completamente desconhecidos.
A Pedagogia Hospitalar é um assunto de extrema importância para o sucesso escolar. Vale
ressaltar que o ambiente hospitalar torna-se mais humanizador, pois existe uma parceria entre
família, escola e profissionais de saúde que visam um objetivo em comum que é de beneficiar o
bem estar do paciente (aluno), consequentemente antecipando a sua alta hospitalar, sem ter perdido
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seu ano letivo. É um trabalho que traz muitos resultados positivos dentre eles, transformar o índice
de reprovações em aprovação ou ainda promover a reintegração à escola dos alunos que sofrem
emocionalmente este período de distanciamento da escola, dos colegas, dos professores. Há alguns
casos mais sérios de crianças em idade escolar que são internadas, sem estar devidamente
matriculadas por uma série de motivos justificados pelos responsáveis. Neste sentido, a Pedagogia
Hospitalar pode proporcionar às crianças o direito de serem matriculadas ainda estando no ambiente
hospitalar o que pode ser comprovado por Fonseca (2008):
Por vezes, a hospitalização inviabiliza até mesmo a matrícula da criança numa escola, o que
pode interferir na percepção que a criança tenha de si mesma, ou seja, de sua autoestima,
não deixando de comprometer também aspectos de seu desenvolvimento físico, social e
intelectual. (FONSECA, 2008, p. 33)
Por outro lado, trata-se também de uma modalidade de educação desafiadora para os
profissionais de Pedagogia, que além do desafio de desenvolver o processo educativo num ambiente
totalmente diferente daquele que ele está acostumado – sem toda a estrutura da escola – há também
o desafio adicional de lidar com a aceitação das pessoas, pelo fato de que sempre foram vistos como
profissionais da educação, num ambiente em que ela não é a prioridade. Para que este professor
possa atuar no âmbito hospitalar é necessário competência e habilidade para desenvolver o aluno de
forma integral, considerando que ele está num ambiente desagradável, com condições de saúde
comprometidas. O estado do paciente deve ser levado em conta, para que as atividades possam se
elaboradas e desenvolvidas.
A realização deste trabalho ressalta a importância do papel do pedagogo em diversas etapas
da vida e a influência que pode se exercida por meio dele, pois cabe ao professor da classe
hospitalar, através de atividades lúdicas e educativas, resgatar nos alunos a autoestima, colocando
em evidência as principais habilidades que foram adquiridas na escola, ao longo das experiências
vividas até aquele momento, buscando por meio do enfrentamento da situação de dificuldade que o
aluno atravessa, contribuir com o seu crescimento tanto cognitivo quanto emocional.
2 A PEDAGOGIA HOSPITALAR
Devemos considerar a educação como requisito fundamental para inserção na sociedade, até
mesmo pelo direito garantido na legislação de praticamente todos os países. Para Gadotti (2005, p.
1), “o direito à educação, é o direito de aprender. Não basta estar matriculado numa escola, é
preciso conseguir aprender na escola”. Não devemos considerar a educação como uma simples
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transmissão de conhecimentos passados para uma geração futura, mas é um processo onde é dado
oportunidade para surgimento do novo, através da elaboração de projetos e o rompimento com tudo
o que possa ser considerado ultrapassado. Segundo Libâneo apud Arruda (2006, p. 31) “educar (em
latim, educare) é conduzir de um estado ao outro, é modificar numa certa direção o que é suscetível
de educação”. Neste capítulo abordaremos as três modalidades de educação, são elas: formal, não
formal e informal.
De acordo com Aranha (2006, p. 94), “a educação informal não é intencional ou organizada,
mas casual e empírica, exercida a partir das vivências, de modo espontâneo”, ou seja, os
conhecimentos não são sistematizados e são repassados a partir das práticas e experiência
anteriores, usualmente é o passado orientando o presente. Ela atua no campo das emoções e
sentimentos. É um processo permanente e não organizado. Na educação informal os resultados não
são esperados, eles simplesmente acontecem a partir do desenvolvimento do senso comum nos
indivíduos, senso este que orienta suas formas de pensar e agir espontaneamente.
Considerando os pontos de vista dos autores citados, podemos refletir em que classe de
educação a Pedagogia Hospitalar estaria inserida. Para chegarmos a esta conclusão, devemos
analisar as principais características desta modalidade educacional. Poderemos considerá-la como
educação formal, simplesmente pelo fato de ser um direito garantido na legislação, o ambiente
hospitalar deve ter regras e padrões de comportamento e o agente transmissor é o professor. Mas
poderia ser classificada como educação não-formal pelo fato de acontecer num ambiente fora da
escola. Com esses dados relevantes, podemos chegar à conclusão de que a Pedagogia Hospitalar
pode ser considerada uma educação formal no ambiente não-escolar.
1.1. A Classe Hospitalar e a Legislação Brasileira
Como citamos anteriormente, esta modalidade de ensino (Pedagogia Hospitalar) é garantida
como direito na legislação brasileira. Partimos do princípio de que “a educação é um direito de
todos” como garante a Constituição Federal de 1988, Capítulo III – Da Educação, da Cultura e do
Desporto, artigo 205, “a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e
incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu
preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. (BRASIL, 1988).
Considerando que esse direito é garantido a todos, podemos incluir o aluno hospitalizado
que deve receber o cumprimento desta Lei por parte do Estado. O Decreto Lei n. 1044/69 estabelece
que “são considerados merecedores de tratamento excepcional os alunos de qualquer nível de
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ensino, portadores de afecções congênitas ou adquiridas, infecções, traumatismo ou outras
condições mórbidas, determinando distúrbios agudos ou agudizados”. (idem).
O Estatuto da Criança e do Adolescente Lei n. 8069, de 13 de julho de 1990, assegura a este
público que o Estado deve dispor de elementos essenciais para que a saúde e a educação não sejam
prejudicadas. Estes direitos são descritos mais precisamente nos seguintes artigos:
Título I – Das Disposições Preliminares, artigo 4º: É dever da família, da comunidade, da
sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos
direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária.
Capítulo I – Do Direito à vida e à saúde, artigo 7º: A criança e o adolescente têm direito a
proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam
o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.
Capítulo I – Do Direito à vida e à saúde, artigo 11º: É assegurado atendimento integral à
saúde da criança e do adolescente, por intermédio do Sistema Único de Saúde, garantindo o
acesso universal e igualitário às ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da
saúde.
Neste Estatuto podemos notar que o artigo 57º é mais voltado para a criança que encontra-
se excluída da vida escolar, portanto podemos inserir mais especificamente neste, justamente por
conta da sua hospitalização ou necessidade de tratamento em domicílio.
Capítulo IV – Do Direito à Educação, à Cultura e ao Lazer, artigo 57º: O Poder Público
estimulará pesquisas, experiências e novas propostas relativas ao calendário, seriação,
currículo e metodologia, didática e avaliação, com vistas à inserção de crianças e
adolescentes excluídos do ensino fundamental obrigatório.
Tratando-se de classe hospitalar o artigo 53º deste mesmo Capítulo, deixa ainda mais
esclarecedor, onde diz que:
Art. 53º: a criança e o adolescente têm direito à educação, visando o pleno desenvolvimento
de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho,
assegurando igualdade de condições para o acesso e permanência na escola.
No Capítulo II – Das Entidades de Atendimento, deste mesmo Estatuto, o artigo 90
responsabiliza as entidades pela assistência à criança hospitalizada.
As entidades de atendimento são responsáveis pela manutenção das próprias unidades,
assim como pelo planejamento e execução de programas de proteção e socioeducativos
destinados a crianças e adolescentes em regime de: VII – internação.
Na legislação também encontramos a publicação da Resolução n. 41 de 13 de outubro de
1995, do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, aprovada pelo Ministério da
Justiça, onde são tratados sobre os direitos da Criança e do Adolescente descritos em 20 itens.
Podemos destacar dois deles que são mais voltados para esta pesquisa:
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9. Direito a desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde,
acompanhamento do curriculum escolar, durante sua permanência hospitalar.
19. Direito a ter seus direitos Constitucionais e os contidos no Estatuto da Criança e do
Adolescente, respeitados pelos hospitais integralmente. (BRASIL, 1995)
Podemos verificar também que a base da LDB é a Constituição Federal de 88, porém ela
informa de maneira mais detalhada como essa educação para todos deve ocorrer. Na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional n. 9.394/96, em seu Capítulo II – Da Educação Básica,
artigo 23, garante que a educação básica poderá ser organizada de diversas formas, “sempre que o
interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar”. Item este que poderá confirmar-se no
Capítulo V – Da Educação Especial, artigo 58, parágrafo 2º onde ressalta que “o atendimento
educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, em função das condições
específicas dos alunos, caso não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular”
(BRASIL, 1996)
A Resolução Nº 2, do Conselho Nacional de Educação (CNE)/ Conselho de Educação
Básica (CEB), de 11 de setembro de 2001, coloca em seu artigo 13 que:
Os sistemas de ensino, mediante ação integrada com os sistemas de saúde devem organizar
o atendimento educacional especializado a alunos impossibilitados de frequentar as aulas
em razão de tratamento de saúde que implique internação hospitalar, atendimento
ambulatorial ou permanência prolongada em domicílio (BRASIL, 2001).
Em seu parágrafo 1º confirma:
As classes hospitalares e o atendimento em ambiente domiciliar devem dar continuidade ao
processo de desenvolvimento e ao processo de aprendizagem de alunos matriculados em
escolas da Educação Básica, contribuindo para o seu retorno e reintegração ao grupo
escolar, e desenvolver currículo flexibilizado com crianças, jovens e adultos não
matriculados no sistema educacional local, facilitando seu posterior acesso à escola regular
(idem).
No 2º parágrafo deste mesmo artigo diz que: “nos casos de que trata este artigo, a
certificação de frequência deve ser realizada com base no relatório elaborado pelo professor
especializado que atende o aluno” (idem).
Um outro documento sobre Classe Hospitalar foi publicado em 2002 pelo Ministério da
Educação e Secretaria de Educação Especial, tendo como título: “Classe Hospitalar e Atendimento
Pedagógico Domiciliar – Estratégias e Orientações”. Este documento foi criado com o intuito de
oferecer subsídios que possibilitem a organização e o funcionamento administrativo e pedagógico
das classes hospitalares e do atendimento pedagógico domiciliar. (MEC/SEESP, 2002). Está
baseado na política de inclusão e contribui para o processo de humanização da assistência
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hospitalar, esclarecendo também como deverá ser o funcionamento por completo da classe
hospitalar.
Cumpre às classes hospitalares e ao atendimento pedagógico domiciliar elaborar estratégias
e orientações para possibilitar o acompanhamento pedagógico-educacional do processo de
desenvolvimento e construção do conhecimento de crianças, jovens e adultos matriculados
ou não nos sistemas de ensino regular, no âmbito da educação básica e que encontram-se
impossibilitados de frequentar a escola, temporária ou permanente e, garantir a manutenção
do vínculo com as escolas por meio de um currículo flexibilizado e /ou adaptado,
favorecendo seu ingresso, retorno ou adequada integração ao seu grupo escolar
correspondente, como parte do direito da atenção integral (MEC, SEESP, 2002, p. 13).
Em 2002, o Ministério da Saúde, preocupado com a assistência que estava sendo prestada à
alta demanda de seus usuários, o que acarretava muitas vezes num atendimento nem sempre
satisfatório, elaborou um documento chamado PNHAH – Programa Nacional de Humanização no
Atendimento Hospitalar, direcionado aos gestores e profissionais de diferentes categorias, que
visam um atendimento mais humanizador entre quem presta o serviço e o usuário. Este documento
traz algumas propostas que visam ações capazes de melhorar a qualidade e eficácia deste serviço, já
que segundo este documento a maior queixa dos usuários do Sistema de Saúde Brasileiro é
justamente o atendimento que tem sido prestado à população. Entre os principais objetivos estão:
fortalecer todas as iniciativas de humanização, melhorar a qualidade do SUS, recuperar a imagem
pública das instituições junto à comunidade, capacitar profissionais e estimular a realização de
parcerias.
Além disso, o documento resgata a importância da comunicação eficaz, onde preocupa-se
com a chance do usuário poder expressar as suas palavras e o prestador do serviço ser um bom
ouvinte e reconhecer a importância em atender melhor este paciente: “sem comunicação não há
humanização. A humanização depende de nossa capacidade de falar e ouvir , do diálogo com
nossos semelhantes” (PNHAH, 2002)
O PNHAH nasceu de uma iniciativa do Ministério da Saúde de buscar estratégias que
possibilitassem a melhoria do contato humano entre profissional de saúde e usuário, dos
profissionais entre si, e do hospital com a comunidade, visando o bom funcionamento do
Sistema de Saúde Brasileiro (Programa Nacional de Humanização no Atendimento
Hospitalar, 2002).
Segundo Fonseca: “a humanização em saúde busca resgatar o respeito à vida humana, seja
o respeito à vida do profissional de saúde, seja à vida dos pacientes”, ou seja, não basta preocupar-
se apenas com melhorias somente na parte técnica. O contato pessoal deve ser extremamente
valorizado, considerando as fragilidades físicas e emocionais de cada indivíduo, neste caso o
paciente.
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Mas esta mesma autora chama a nossa atenção se referindo a essa nova proposta de
humanização e a classe hospitalar:
Alguns dos profissionais inicialmente envolvidos com as demandas pedagógico-
educacionais da escola hospitalar passaram a, erroneamente, se responsabilizar também por
serviços oferecidos pelo hospital, tais como brinquedotecas, bibliotecas volantes, atividades
para acompanhantes, teatro e recreação (FONSECA, 2008, p.25).
Ainda ressalta que:
[...] é importante ao professor estar consciente de sua atuação no hospital, mesmo que não
homologada oficialmente (embora devesse estar), diz respeito ao acompanhamento dos
processos de desenvolvimento e de aprendizagem do paciente hospitalizado que, para ele, é
um aluno (ibidem, p. 26)
Fonseca demonstra seu interesse em ver o núcleo de humanização do hospital funcionando
articulado com a escola hospitalar, até mesmo fazendo com que os professores aproveitem mais os
acontecimentos socioculturais para acrescentar a construção de conhecimentos de seus alunos,
como por exemplo, filmes, teatros ou qualquer outro evento proposto por esse núcleo. Faz-se
necessário que esses eventos sejam organizados de uma forma que não prejudique qualquer
planejamento de aula, porque a própria autora reforça que: “A escola hospitalar não está no hospital
para humanizá-lo. A escola no hospital tem o papel de atender à necessidades pedagógico-
educacionais dos alunos hospitalizados” (FONSECA, 2008. P. 26). Em outras palavras, “a escola no
hospital não é um serviço de saúde, é um serviço educacional ou escolar” (ibidem, p. 27).
Importante ressaltar que esse movimento de humanização hospitalar trouxe alguns
posicionamentos bastante positivos, dentre eles a Lei n. 11.104 de 21de março de 2005, onde
determina-se a obrigatoriedade da implantação de brinquedotecas nos hospitais. Destacamos o
artigo 1º: “os hospitais que ofereçam atendimento pediátrico contarão, obrigatoriamente, com
brinquedotecas nas suas dependências”, isso será aplicado à qualquer unidade de saúde que ofereça
atendimento pediátrico em regime de internação e artigo 2º: “considera-se brinquedoteca, para os
efeitos desta Lei, o espaço provido de brinquedos e jogos educativos, destinando a estimular as
crianças e seus acompanhantes a brincar” (BRASIL, 2005)
Em 2007, o Conselho Estadual de Educação, publicou a Deliberação n. 68/2007, que
estabelece normas para os alunos com necessidades educacionais especiais no sistema estadual de
ensino. Destacamos o artigo 8º, que refere-se mais ao tema desta pesquisa:
Artigo 8º - Alunos impossibilitados de frequentar as aulas em razão de tratamento de saúde,
que impliquem em internação hospitalar, atendimento ambulatorial ou permanência
prolongada em domicílio, desde que preservada a capacidade de aprendizado, deverão ter
garantia a continuidade do seu processo de aprendizagem, com acompanhamento
pedagógico que lhes facilite o retorno à escola regular.
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Analisando todas as leis que foram citadas, conseguimos detectar que a classe hospitalar
era garantida com base na ideia de que a educação é um direito de todos. Somente na década de 90
houve um olhar específico para atender essa necessidade.
Mesmo com tantas leis que garantem o atendimento deste público, ainda há uma
defasagem muito grande deste serviço. Um dos motivos é a desinformação por parte da população.
Notamos que ainda é preciso maior esclarecimento principalmente para os familiares dos pacientes,
porque devido à própria enfermidade e a preocupação do momento, os familiares estão voltados
para a saúde e não para educação. O governo também precisa tomar consciência de sua
responsabilidade para garantir o atendimento escolar no hospital, oferecendo qualidade de vida
durante a internação do paciente e ao retorno de sua vida escolar formal.
Entendemos como urgente e necessária à expansão e melhoria da educação em classes
hospitalares, além disso, é um direito que para ser cumprido, precisa chegar ao conhecimento das
pessoas.
2.2 Histórico da Pedagogia Hospitalar
A história da Pedagogia Hospitalar não é recente. Há muito tempo busca-se viver com maior
qualidade de vida e isso permanece até os dias atuais.
Segundo alguns autores Esteves (2008), Fonseca (2008), Paula (2011), em consequência da
segunda Guerra Mundial, inúmeras crianças e adolescentes em idade escolar, foram mutiladas e
feridas, o que motivou a permanência delas em hospitais por longos períodos. Diante dessa
realidade surge então a classe hospitalar em 1935 em Paris, criada por Henri Sellier, prefeito de
Suresnes, no intuito de tentar amenizar as tristes consequências da guerra e oferecer oportunidade às
crianças de prosseguir em seus estudos no ambiente hospitalar. E assim com incentivo de médicos,
religiosos e voluntários, a classe hospitalar foi conquistando um espaço na sociedade, sendo
difundida para vários países, entre os quais pode-se citar a Alemanha e os Estados Unidos que
aderiram à criação de classe hospitalar com o objetivo de beneficiar crianças tuberculosas que na
época eram isoladas do convívio social e impossibilitadas de frequentar a escola.
No ano de 1939, segundo estes mesmos autores, foi criado em Suresnes, na França, o
C.N.E.F.E.I. - Centro Nacional de Estudos e de Formação para a Infância Inadaptadas com o
objetivo de formar professores para exercer a Pedagogia Hospitalar em institutos especiais e em
hospitais, já que para atuar nessa área exige-se uma formação diferenciada da pedagogia formal.
Ainda no ano de 1939, foi criado também o cargo de Professor Hospitalar, junto ao Ministério de
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Educação da França. Alguns documentos criados na Europa com relação aos Direitos das Crianças
Hospitalizadas, inspirou vários outros documentos em diversos lugares do mundo.
No Brasil, a Classe Hospitalar, surgiu na cidade do Rio de Janeiro em agosto de 1950, no
Hospital Menino Jesus, na qual permanece atuando com a modalidade de atendimento educacional
até os dias de hoje. Ainda na década de 50, surgiu a primeira Classe Hospitalar em São Paulo no
Hospital da Santa Casa de Misericórdia. Estes primeiros atendimentos pedagógicos hospitalares não
dispunham de uma sala ou espaço específico, por isso, era realizado na própria enfermaria do
Hospital, na ocasião ainda não possuía nenhum vínculo com a Secretaria de Educação do Estado.
Desde então o atendimento pedagógico hospitalar vem crescendo, mas de forma lenta.
Alguns representantes desta modalidade de educação, de diversos estados, apresentaram ao
Ministério da Educação, projetos para a regularização da classe hospitalar, sem obter sucesso.
Somente em 1997, um pedido foi aceito na Secretaria de Educação para a criação do Projeto Classe
Hospitalar nos moldes atuais. Essas dificuldades enfrentadas por tais representantes no trabalho
educacional hospitalar eram semelhantes em todas as regiões, independente da localidade, o que é
muito comum acontecer quando as pessoas trazem algo novo para determinada área. Acreditava-se
que a presença dessas professoras e voluntários no ambiente hospitalar era mal vista, criticada e
talvez discriminada. No entanto aos poucos, essas classes ganhavam espaço em alas pediátricas nos
importantes hospitais de São Paulo, como por exemplo, Hospital das Clínicas e Hospital A. C.
Camargo, através de convênio com a prefeitura.
Segundo a pesquisa realizada por Fonseca (1999) do ano de 1950 até 1980 existia apenas
uma classe hospitalar no Brasil. De 1981 a 1990, passou a existir 8 classes, porém de 1991 a 1998,
este número aumentou para 30 classes hospitalares, ou seja, somente com a publicação do ECA
(1990) que houve o reconhecimento oficial e o aumento significativo desta atividade dentro das
instituições de saúde pública em nossos pais. No ano de 2000, eram 67 classes, no entanto, números
mais recentes, divulgados pelo Censo Escolar de 2006 do Ministério da Educação, em parceria, com
o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais revelam um total de 279 classes
hospitalares públicas no Brasil, sendo 160 destas Estaduais e 119 Municipais.
Levando-se em consideração a população brasileira e o número de hospitais que existem no
Brasil, estima-se que o número de classes hospitalares seja uma quantidade muito inferior, de modo
que o atendimento educacional de crianças e adolescentes hospitalizados não tem recebido a devida
atenção por parte das políticas públicas, daí pode-se concluir que um longo e penoso caminho ainda
está pela frente, o que pode ser confirmado com dados oficiais sobre os encontros promovidos para
discussão deste tema.
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O Primeiro Encontro Nacional de Classe Hospitalar foi realizado no Rio de Janeiro, em
2000. No ano de 2006, na cidade de São Paulo, a Profª Amália Neide Covic e o Prof. Eduardo
Kanemoto organizaram o “I Fórum Nacional de Atendimento Escolar e Hospitalar” (PAULA apud
MATOS, 2011, p.51)
A lentidão deste caminho a ser percorrido também pode ser confirmado, segundo dados
cedidos por Clemente (2012), em curso ministrado sobre Pedagogia Hospitalar, onde o mesmo
coloca que o 1º Simpósio de Classe Hospitalar foi realizado somente em 09/09/2011, no Instituto do
Coração (InCor), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
(HCFMUSP). Lembrando que, conforme dados do próprio site do hospital, ele existe desde 1944 e
conta com o Instituto da Criança (InCr) que teve sua inauguração em 1976, ou seja, somente 36
anos após essa inauguração houve este simpósio organizado pelo serviço de Psicologia com o
seguinte tema “Desvendando uma nova realidade”.
Com estes dados conseguimos entender que tudo que está voltado para esta modalidade tem
sido bastante recente, ou seja, muita coisa encontra-se em fase de testes e pesquisas.
2.3 Como a criança enxerga o ambiente hospitalar?
Cada paciente tem um olhar sobre o hospital e normalmente segundo Fonseca (2008, p.20),
“qualquer indivíduo que se hospitaliza sente sua identidade perdida pelo fato de ser reconhecido
pelo número do leito ou até mesmo pela enfermidade que o levou à internação”. Além disso, a
rotina da vida é completamente alterada, por conta dos horários e regras que os profissionais devem
seguir neste ambiente. As refeições e medicações tem horários específicos, as roupas são muito
diferentes daquelas usadas em casa e até mesmo o cheiro e o som do ambiente são outros. Também
é necessária a realização de diversos exames, o que muitas vezes exige determinado preparo
incluindo longos períodos de jejum ou até mesmo procedimentos incômodos e bastante dolorosos.
O paciente ainda é exposto a diversos profissionais completamente desconhecidos até então, por
conta da sua própria enfermidade e devido ao regime de trabalho, que muitas vezes funciona em
turnos ou plantões, o que significa que não é o mesmo profissional que prestará serviços ao paciente
diariamente.
Considerando que todos esses detalhes relatados anteriormente são encarados com muita
dificuldade por um adulto, imagina por uma criança que está em fase de crescimento e
desenvolvimento e ainda sente segurança e apego aos seus familiares, amigos, brinquedos, bicho de
estimação, escola, professora etc. Fonseca esclarece que:
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Apesar das limitações que a doença ou mesmo uma deficiência possa temporária ou
permanentemente causar, a criança continua valendo-se de suas potencialidades que
contribuem para seu crescimento tanto físico quanto intelectual e social. (FONSECA, 2008,
p. 56)
Mesmo em situação de enfermidade a criança tem necessidades específicas para sua faixa
etária, portanto, de acordo com a mesma autora “o mais importante é estarmos conscientes de que
cada criança traça o seu próprio caminho e o percorre em ritmo também pessoal”. (Ibidem)
De acordo com Kudo e Maria (2009, p. 11), “as crianças têm um olhar, sobre o hospital,
diferente do adulto; sabem de suas necessidades e reivindicam melhorias para suportar melhor o
momento”. Em pesquisa realizada durante três anos, em diversos hospitais, as autoras/pesquisadoras
fizeram anotações sobre as frases e diálogos dos pacientes em diversas enfermarias, de forma
natural e espontânea, sem modelos prontos de roteiros ou entrevistas. E esse trabalho demonstrou a
importância de ter os ouvidos atentos para escutar as queixas e reivindicações das crianças, ou seja,
mesmo hospitalizada a criança é capaz de construir a sua autonomia e cumprir o seu papel de
cidadão participativo, fazendo críticas e opinando sobre possíveis melhorias. Dentre algumas frases,
algumas até com certo humor, destacamos:
- “Quando chamar o médico, não demorar”.
- “Quando o funcionário estiver estressado, não descontar nos pacientes, nós também estamos
estressados”.
- “Ter um ar condicionado nos quartos no calor e aquecedor no frio, e as camas deveriam ter um
controle elétrico para levantar e abaixar, e uma campainha para chamar as enfermeiras quando
precisasse”.
- “Ter uma sala de visitas bem bonita para receber nossas visitas”.
- “Ter um parquinho com quadra e mesa de pingue-pongue, cavalinho, carrossel, escorregador,
balança, casinha etc”.
- “Construir uma piscina, um teatro e um cinema, ou uma sala de DVD com pipoca grátis e filme
todo fim de semana”.
- “E também um quintal bem grande para brincar, tomar sol e respirar ar fresco”.
Algumas solicitações podem parecer um pouco exageradas, mas logo mudamos de opinião,
ao pensarmos nas crianças que permanecem internadas por meses ou anos. Basta nos colocarmos no
lugar delas e de seus familiares que logo passaremos a entender que não se trata de exagero, mas de
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necessidades diárias. É claro que estarão ligadas aos procedimentos invasivos ou dolorosos,
necessários à realização do diagnóstico e tratamento.
Sentir e combater a dor, realizar exames e tomar medicação são etapas necessárias à
recuperação da saúde, e tomam a maior parte do tempo dos pacientes. A princípio, a
aceitação é difícil, mas aos poucos as crianças e adolescentes se tornam verdadeiros
‘doutores’ e conseguem compreender e explicar, à sua maneira, a importância de cada um
desses procedimentos (KUDO e MARIA, 2011, p. 15).
As mesmas autoras também destacam a importância da criança compreender o papel de cada
profissional desde a área assistencial até as áreas de apoio, para justamente entender o
funcionamento do hospital que tem como único objetivo “promover a assistência e o bem-estar da
criança e do adolescente”. Os pacientes conseguem, da sua maneira, reconhecer a função de cada
um. Destacamos três falas das crianças sobre profissionais que atuam na classe hospitalar:
- Professora: ensina a gente a ler, a escrever e a fazer contas com a maior facilidade, e ela ajuda em
tudo o que estamos com dúvidas; é paciente e gosta de ajudar. Ensina, dá atividades para fazer,
ajuda nas lições e também passa regras quando deve; nos ensina a falar direito o português.
- Recreacionista: é a “tia” que ajuda a gente a brincar e a se divertir quando estamos no hospital;
traz diversões e alegria; gostamos muito dos brinquedos e desenhos; mostra a variedade de coisas e
o que ela puder fazer para nós ela faz. Brinca com a gente de jogo, brinca de recortar e colar, ajuda
a colocar jogo no computador; ajuda a gente a sorrir e a ficar melhor. Dá desenhos para pintar, liga
os computadores, faz atividades com a gente, nos empresta brinquedos, nos ensina novas atividades,
chama os nossos pais para participar.
- Voluntário: brinca com a gente e é legal; adora crianças e não ganha nada para trabalhar aqui; traz
brincadeiras e atividades para a gente, e tem uns que também contam histórias. Traz brinquedos
para nós brincarmos e nos ensina brincadeiras; vai aos quartos para brincar; dar coisas que
precisamos.
Fonseca (2008, p. 59) reitera que “a idade da criança não é o aspecto mais importante a ser
considerado, não pode ser perdido de vista que os interesses e as necessidades das crianças são
variáveis”.
O conhecimento sobre o desenvolvimento infantil e sobre a criança que atendemos em
nossa escola hospitalar faz com que possamos lhe oportunizar o máximo possível de
experiências compatíveis com as suas necessidades e interesses, e não apenas com a sua
faixa etária. (Ibidem)
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3 TEORIA E PRÁTICA DA CLASSE HOSPITALAR
Desde o primeiro capítulo dessa pesquisa procuramos entender em qual modalidade de
educação a Pedagogia Hospitalar se encaixa, investigamos as leis que defendem a existência e a
prática da classe hospitalar, incluindo todo a evolução através de um contexto histórico e
esclarecemos como a criança enxerga este ambiente durante sua internação, considerando a
importância do desenvolvimento infantil. Mas acreditamos que uma das coisas mais relevantes
dessa pesquisa é justamente conhecer e compreender como se dá o processo de ensino
aprendizagem num ambiente completamente diferente da escola, onde a saúde é a prioridade e não a
educação.
Para que este atendimento seja realizado é necessário que o aluno seja regularmente
matriculado em suas respectivas séries de ensino.
“Os convênios entre os hospitais e as escolas são firmados com as Secretarias de Educação e Saúde dos
Estados. Mas, tanto os órgãos públicos, os educadores e a sociedade em geral, ainda pouco conhecem esses espaços
educativos como uma modalidade oficial de ensino em nosso país, pois são raras as Secretarias de Educação que
implantam essas práticas educativas nos hospitais, garantindo-lhes apoio e assistência” (PAULA apud MATOS, 2011,
p. 35)
Segundo Fonseca:
O atendimento pedagógico-educacional no ambiente hospitalar deve ser entendido como
uma escuta pedagógica às necessidades e interesses da criança, buscando atendê-las o mais
adequadamente possível nestes aspectos, e não como mera suplência escolar ou ‘massacre’
concentrado do intelecto da criança. O sucesso deste trabalho depende da cooperação
contínua e próxima entre os professores , alunos, familiares e os profissionais de saúde do
hospital, inclusive no que diz respeito aos ajustes necessários na rotina e/ou horários
quando da sua interferência no desenvolvimento do planejamento para o dia-a-dia de aulas
na escola hospitalar. (FONSECA, 2008, p. 15)
Entendemos que a prestação deste serviço não se limita ao pedagogo, são necessárias
parcerias para que o sucesso seja alcançado, assim como o pedagogo deve entender que o seu papel
não está apenas em transmitir conteúdos curriculares, vai muito além disso. O pedagogo acaba se
deparando com um ambiente e diversas situações completamente diferentes da escola e muitas
vezes há necessidade do seu relacionamento ultrapassar as barreiras de aluno e professor,
justamente pela necessidade que existe do professor incentivar, animar, lutar junto com seu aluno
contra os sentimentos de abandono e isolamento, enfim transmitir confiança ao aluno no que diz
respeito à sua recuperação. Atitudes como estas com certeza despertarão o interesse e o
envolvimento do aluno pelas aulas, que enxerga um professor preocupado em atender e respeitar as
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suas limitações do momento. Fonseca afirma que “é a criança ou o adolescente doente quem
sinaliza quando precisa descansar ou quando se sente enfraquecido” (FONSECA, 2008, p. 34).
Para facilitar o trabalho na escola hospitalar, é interessante que o pedagogo tenha um bom
conhecimento da rotina do hospital, para conseguir colocar em prática o seu planejamento diário.
No primeiro contato, o professor deve ter acesso ao prontuário do aluno hospitalizado para
tomar conhecimento da situação da saúde da criança, até mesmo para se informar sobre possíveis
cuidados que deve ter para evitar riscos de contaminação para si e para os outros. Se possível as
primeiras intervenções do professor devem ocorrer junto aos responsáveis pela criança, pelo fato
dele ser um profissional considerado estranho no hospital. Algumas crianças pequenas podem exigir
a presença de um acompanhante e isso deve ser respeitado, outras precisam de um período de
adaptação, por isso é muito interessante que o professor envolva o acompanhante na rotina da
escola e nas atividades elaboradas. Essa interação é muito necessária para transmitir segurança e
confiança ao aluno que será atendido.
De acordo com Fonseca (2008, p. 45), as escolas hospitalares funcionam normalmente no
horário da tarde justamente para evitar conflitos com a rotina hospitalar que tende a ser mais intensa
no período da manhã, quando acontecem as visitas médicas, a higienização do paciente e do quarto,
realização de exames e algumas decisões quanto ao tratamento e a alta dos pacientes.
Outro detalhe que faz parte da rotina da escola no hospital é a necessidade da criança
retornar à enfermaria para realizar algum tipo de procedimento ou até mesmo ter a chegada de uma
visita. Neste ambiente isso não deve ser considerado uma interferência, porque faz parte da
dinâmica do cotidiano.
Muito importante ressaltar que assim como na escola regular, tudo tem objetivos que são
vinculados aos conteúdos que serão desenvolvidos, as atividades devem ser construídas com
começo, meio e fim, sem deixar de lado o conhecimento prévio da criança, atendendo aos seus
interesses, sendo centrada no aluno e não no conteúdo. O professor deve estar atento às possíveis
dificuldades de aprendizagem e às habilidades que devem ser valorizadas. Além disso, “deve ter
sensibilidade para perceber o que ocorre na sala de aula, pois o que o aluno sugere pode ser a
alavanca para uma aprendizagem mais efetiva e significante” (FONSECA, 2008, p. 49)
Na escola hospitalar a criança deve ser sempre bem vinda e recebida, independentemente
de possíveis limitações que, de forma alguma, devem ser encaradas como impedimentos à
sua participação nas atividades. A escola hospitalar deve estar disponível à criança quando
ela precisar. Se a criança precisa sair antes, estratégias de fechamento da atividade devem
ser realizadas, a fim de que ela possa ter a ideia de que concluiu o que estava fazendo e que,
havendo possibilidade, poderá retornar à sala mais tarde ou o dia seguinte. (Ibidem)
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O espaço físico deve ser bem cuidado, higienizado e bastante organizado. Alguns hospitais
colocam à disposição salas que se tornam classes hospitalares, outros não contam com este espaço
próprio, daí cabe à equipe escolar criar dentro das próprias enfermarias, com mesas e cadeiras,
expondo trabalhos e atividades realizados pelos alunos. Vale lembrar que alguns pacientes fazem
uso de próteses especiais, cadeiras de rodas ou suportes para o equipo de medicação, se o professor
sempre levar em consideração esta possibilidade, o espaço poderá ser organizado previamente para
que o aluno sinta-se acolhido e não um incômodo.
Com relação ao dia a dia da escola hospitalar, todos os autores e profissionais atuantes na
área, que foram pesquisados, relatam o mesmo funcionamento atual. Após o acesso ao prontuário
do paciente, o pedagogo deverá entrevistar os pais, a fim de conhecer tudo sobre a criança desde a
vida escolar antes da internação até o estágio da enfermidade e orientá-los sobre a importância
desse trabalho que auxilia e favorece a continuidade e o retorno escolar. O responsável faz uma
solicitação deste atendimento junto a Secretaria de Educação para garantir o vínculo do aluno na
escola hospitalar. Depois é realizado contato com a escola de origem, para que os responsáveis
(direção e coordenação) possam enviar ao hospital o conteúdo curricular que o aluno deverá receber
de acordo com a série em que se encontra. Vale lembrar que é transmitido ao aluno apenas o
conteúdo essencial, tudo aquilo que for considerado de maior importância. Isso ocorre pelo fato da
classe hospitalar ser multisseriada, podendo lhe dar com crianças cursando o Ensino Fundamental
até adolescentes no Ensino Médio.
O professor deve ser polivalente e no caso de não dominar alguma disciplina, pode solicitar
o auxílio de um professor específico, mas infelizmente em muitos hospitais essa participação deve
ser voluntária, o que dificulta a aceitação de alguns profissionais. O pedagogo deve dividir o seu
tempo para que todos os alunos possam ser atendidos, em média quarenta minutos à uma hora por
aluno de segunda a sexta-feira, tudo depende da quantidade de crianças e adolescentes internados e
suas diferentes séries, levando em consideração o estado clínico, pois o próprio tratamento traz
efeitos que poderão atrapalhar o ritmo das crianças, portanto, o tempo de transmissão do conteúdo
depende também da frequência desse aluno à classe. Não podemos esquecer que se o aluno por
algum motivo não puder frequentar a classe, o pedagogo deverá oferecer esta aula no próprio leito
do paciente. Esse é um dos motivos que faz com que o pedagogo elabore um planejamento flexível.
Também são realizados trabalhos de temas diversos, avaliações por escrito e até “lição de
casa”. Neste caso, cada hospital junto a Secretaria de Educação devem escolher a melhor maneira
para trabalhar. Algumas escolas montam as provas e trabalhos para que o pedagogo hospitalar possa
aplicar ao aluno, em outros casos o próprio profissional atuante no hospital elabora as provas e os
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trabalhos. Em ambos os casos, é necessário que tudo seja registrado por meio de relatórios e fichas
de acompanhamento, esclarecendo as principais dificuldades e potencialidades do aluno. Todos
esses documentos devem ser enviados à escola de origem, organizados em formato de portfólio
junto com todas as atividades realizadas pelo aluno.
“Com a manutenção da escolaridade, a criança está garantindo seu futuro acadêmico e profissional, além de
manter-se adaptada ao meio social e escolar, o que lhe possibilita melhor qualidade de vida durante e após o tratamento.
Desse modo, quanto mais integrada às vivências diárias próprias de sua idade, como frequência à escola, mais
facilidade terá no processo de readaptação ao mundo livre da doença” (GRANEMANN apud MATOS, 2011, p.132)
É um atendimento que traz muitos benefícios para o aluno.
Por vezes, mais do que por causa da problemática de saúde, a criança sofre, pois a
hospitalização pode aumentar tanto suas dificuldades em acompanhar os conteúdos
escolares quanto a possibilidade de repetir a série que vinha cursando na escola. Às vezes a
internação hospitalar inviabiliza até mesmo a matrícula da criança numa escola, o que pode
interferir na percepção que a criança tem de si mesma. (FONSECA apud MATOS, 2011,
p.132)
3.1 Recursos utilizados na classe hospitalar
Assim como numa classe regular, a classe hospitalar também tem necessidade de contar com
os mais variados recursos para a transmissão de conteúdo, facilitando, assim, a construção do
conhecimento do aluno.
Fonseca (2008, p. 47), afirma que documentos como Referencial Curricular Nacional para a
Educação Infantil, os Parâmetros Curriculares Nacionais fornecem subsídios para a elaboração do
planejamento. A criatividade conta muito neste processo para transformar a rotina em algo divertido
e isso ainda contribui para a qualidade do relacionamento entre o professor e o aluno. Muitas
classes contam apenas com computador, impressora, quadro branco, mesas e cadeiras.
Segundo Kudo e Maria (2009)
Com o objetivo de afastar o menos possível a criança internada do seu cotidiano e
atividades sociais, as datas comemorativas como Páscoa, Dia da Mães, Festa Junina,
Primavera, Dia das Crianças e Natal são celebradas. As crianças se mobilizam na
organização das festas, confeccionando os enfeites para decoração do ambiente. (KUDO e
MARIA, 2009, p.69)
O atendimento educativo envolve várias atividades que podem ser realizadas dentro do
hospital, é claro que observando as condições de saúde de cada aluno.
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Seguindo um planejamento definido semanalmente, as atividades são capazes de envolver
crianças e adultos presentes. De acordo com Clemente (2012) algumas atividades básicas marcam o
fazer pedagógico, como por exemplo:
- Atividades de Artes: esse tipo de atividade é o mais indicado para iniciar o trabalho com um aluno
recente, pelo fato de proporcionar mais liberdade na construção e ser considerado algo mais lúdico.
É a oportunidade que a criança tem de expressar e criar utilizando técnicas e materiais artísticos em
pinturas, desenhos, construção com sucatas, elaboração de adornos para festas comemorativas,
teatro de fantoches etc.
- Leituras e Interpretações de Histórias: essa atividade oferece ao aluno a possibilidade de ampliar o
seu repertório, pelo fato de oferecer e incentivar o acesso à diferentes tipos de textos escritos desde
jornais, revistas, contos, histórias, biografias etc. Este recurso não pode ser considerado como
distração com relação à doença, pois estimula o gosto e hábito pela leitura. A contação de história
em especial é um momento mágico e prazeroso, pois interfere diretamente na imaginação e na
emoção da criança. Importante ressaltar que as leituras devem acompanhar a faixa etária da criança.
Trabalhar com material atualizado faz com que o aluno sinta-se antenado com o mundo do lado de
fora. Outra sugestão é promover rodas de bate papo após as leituras, para favorecer a socialização e
dar oportunidade do aluno expressar sua opinião, desenvolvendo assim o seu potencial crítico,
tornando um sujeito ativo independente da enfermidade. É possível também o educador observar o
que o aluno assimilou da leitura realizada.
Alguns hospitais contam com projetos em bibliotecas que podem ser móveis ou não. Esse
projeto amplia espaços para população com pouco acesso e menor possibilidade de aquisição de
livros.
- Exibição de Filmes: consiste em atividades que atendam não somente ao lazer, mas que de um
modo geral, venha estimular a verbalização e o pensamento criativo. Em alguns hospitais existe o
Projeto chamado “Sessão Pipoca”. São exibidos filmes infanto-juvenis e há distribuição de pipoca
para pacientes, acompanhantes e funcionários.
Segundo Kudo e Maria (2009, p. 86), “o principal objetivo é entreter e integrar os
participantes a partir da ideia que o hospital não é apenas lugar de dor e doença, mas também de
saúde a partir de encontros culturais e de lazer”.
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As autoras ainda afirmam que:
Para os pacientes, assistir a um filme durante a internação possibilita expansão do universo
cultural, além de amenizar alguns momentos de dor, permitindo, assim, o resgate de uma
atividade cotidiana durante o tratamento clínico. Para acompanhantes e funcionários é uma
forma de diminuir o estresse decorrente de suas atividades (Ibidem)
- Jogos e Brincadeiras: essas atividades devem promover momentos de lazer e socialização, através
de diversas opções de jogos e brincadeiras que oferecem para a criança o desenvolvimento de
alguns aspectos do processo cognitivo, dentre eles: análise, observação, memorização e
planejamento. A criança também passa a reconhecer regras e isso auxilia diretamente no respeito ao
próximo.
A utilização de atividades lúdicas na aprendizagem pode contribuir significantemente na
melhoria da educação. Educadores podem utilizar desta atividade para mediar e contribuir
para o ambiente educacional ficar mais alegre e favorável à educação”. (BORTOLOZZI
apud MATOS, 2011, p.103)
Ainda segundo este autor:
“A ludicidade é um recurso de fácil acesso ao professor e por meio de jogos e brincadeiras
as crianças aprendem facilmente e com prazer, mesmo que contenha regras exigindo
raciocínio lógico. Ao jogar, as crianças aprendem a lidar com o autocontrole, interpretar
símbolos, cores, calcular possíveis estratégias e trabalhar em conjunto, favorecendo suas
relações sociais. (BORTOLOZZI apud MATOS, 2011, p. 104)
- Festas dos Aniversariantes: devido aos longos períodos de internação, muitas crianças passam o
aniversário dentro do hospital. Por isso, a maioria dos hospitais que contam com a classe hospitalar
organizam, mensalmente, uma festa para a comemoração do aniversário dos pacientes internados. É
algo bastante positivo, pois envolve familiares, pacientes e funcionários em todos os preparativos da
festa.
Segundo Kudo e Maria (2009, p. 86), “faz parte da estratégia para preservar os aspectos
sociais e culturais relacionados com esse evento. O ambiente torna-se festivo e agradável, alterando
o enfoque dos aspectos negativos da doença e do tratamento”.
Outro fator importante é o sentimento gerado na criança, que passa a ter sua autoestima
elevada, por se sentir importante neste ambiente.
- Recursos tecnológicos: o avanço da tecnologia alcançou todas as faixas etárias. Esse interesse da
criança pelo mundo tecnológico não muda por conta da sua internação, pelo contrário, hoje em dia
os hospitais são marcados fortemente pela presença da tecnologia que dão suporte à vida.
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É extremamente importante que os educadores saibam utilizar tais recursos para que possam
explorá-los em prol de uma proposta inovadora, pois as novas tecnologias abrem espaço para novos
canais de comunicação.
Existem projetos utilizando este recurso para criação de um ambiente virtual de
aprendizagem, onde o aluno hospitalizado mantém contato direto com sua escola de origem,
realizando atividades curriculares propostas pela escola. Neste caso o pedagogo hospitalar exerce a
função de mediador facilitando a relação do aluno com a tecnologia.
O uso da tecnologia na ação docente possibilita a educação a distância e promove a
inclusão de crianças hospitalizadas, dando chance de continuarem seus estudos durante os
internamentos e, além disso, promove a inclusão digital por uma ação mediadora do
professor que torna acessível o uso de ambientes virtuais de aprendizagem. (RODACOSKI
apud MATOS, 2011, p. 412)
Essa importância do educador estar conectado com a tecnologia também se dá pelo fato de
crianças de classe social baixa não ter acesso a este recurso, como podemos enxergar na fala de uma
adolescente:
“Logo você aprende a mexer no computador. Quando cheguei da Bahia, eu não sabia,
porque lá as escolas não têm. Aqui, quando fui mexer e não sabia eu até chorei. Porque eu
sou de Câncer e as pessoas cancerianas são muito sensíveis. Mas eu chorei porque um
menino riu de mim” – Jéssica, 15 anos – (KUDO e MARIA, 2011, p. 43).
Destacamos até aqui as principais atividades e recursos que podem ser utilizados na classe
hospitalar para promover aprendizagem e garantir ao aluno um ambiente onde sua dignidade é
resgatada, mesmo diante de uma enfermidade.
3.2 O Atendimento Educacional Domiciliar
Como abordamos no 1º capítulo, diversas são as leis que garantem a escolaridade do aluno
enfermo necessitando de afastamento temporário da escola. Visando minimizar a defasagem na
educação, o atendimento educacional pedagógico domiciliar deve ser oferecido aos educandos que,
por motivo de saúde, ficam impossibilitados de frequentar o ambiente escolar, mesmo não
necessitando de internação hospitalar.
O documento publicado em 2002, pelo Ministério da Educação e a Secretaria de Educação
Especial, intitulado “Classe hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar: estratégias e
orientações” teve o objetivo de incentivar a criação do atendimento pedagógico em ambiente
hospitalar e domiciliar.
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Neste caso, mesmo com todo empenho do poder público, ainda se constata que alguns
alunos não estão sendo atendidos pelo fato de receberem alta hospitalar, mas não alta médica.
Mesmo retornando para sua casa, há casos de alunos que não retornam à escola por limitações
físicas temporárias, pela baixa imunidade, ou pelo fato de ainda não ter recuperado totalmente sua
saúde.
Segundo Avanzini (apud MATOS, 2011, p.285), “este atendimento domiciliar não poderá
ser ministrado por voluntários, mas sim por profissionais vinculados ao sistema de educação, que se
encontram no pleno exercício de suas funções docentes”. Isso pela necessidade da mediação
pedagógica por meio de um atendimento educacional.
Algumas escolas privadas contam com uma equipe de profissionais que acompanham o
aluno afastado das aulas, ou até mesmo ampliam a carga horária de alguns professores, para que
estes possam acompanhar o aluno afastado a realização das atividades domiciliares.
Há algumas Secretarias Municipais de Educação que contratam profissionais de educação
para realizar o atendimento aos alunos afastados. Normalmente, esta equipe se concentra num dos
setores da Secretaria e se dirige às casas dos alunos que necessitarem do atendimento. Essa
necessidade é informada pela escola, pela família ou até mesmo pelo professor do atendimento
hospitalar.
Ainda conforme a autora:
Para que o atendimento pedagógico domiciliar aconteça efetivamente, é
imprescindível a participação dos responsáveis pelo aluno, pois eles deverão apresentar, na
escola onde esse se encontra matriculado, laudo médico atestando a impossibilidade de
frequentar regularmente o ambiente escolar, por conta das fragilidades decorrentes do
tratamento de saúde a que está submetido, e com a liberação para que possa receber o
atendimento domiciliar. (AVANZINI apud MATOS, 2011, p. 291)
Quando a escola conta com esta documentação, deve encaminhá-la a seus órgãos
mantenedores para que ocorra a contratação ou liberação dos profissionais. Para solicitar o
professor, alguns documentos são necessários, como:
Laudo médico que ateste a impossibilidade do aluno frequentar sua escola de origem e a
liberação para atendimento pedagógico domiciliar; cópia da ata do Conselho Escolar em
que são apontados os encaminhamentos já realizados pela escola para o acompanhamento
escolar do aluno em questão; ofício de encaminhamento da solicitação da direção da sua
escola à sua mantenedora; documentação comprobatória de vínculo e titulação do professor
que atenderá o aluno. (Ibidem)
A partir desta documentação é possível iniciar um processo nos órgãos competentes, no
intuito de providenciar o atendimento domiciliar ao aluno afastado do ambiente escolar por
problema de saúde.
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Apesar de todas as limitações, este tipo de atendimento oferece possibilidades para o
desenvolvimento de um programa educacional que avance ainda mais no acesso e permanência do
aluno na escola, “pois se acredita na ideia de que a transformação social não é tarefa da escola, mas
sem a escola a tão almejada transformação não acontecerá” (AVANZINI apud MATOS, 2011, p.
293).
Essa proposta de escolarização colabora para evitar a evasão e a repetência em virtude do
afastamento e das dificuldades causadas pela doença, e proporciona à criança um fator
estável e contínuo na sua vida, propicia um processo de ensino e aprendizagem que visa a
estimular a curiosidade e o prazer pelo conhecimento, contribuindo para melhorar o
rendimento e a aprendizagem daqueles alunos que vêm apresentando dificuldades de
aprendizagem ao longo de sua escolarização, podendo, portanto, contribuir para o progresso
do aluno em domínios intelectuais, conceituais e práticos, dos quais fará uso no futuro.
(Ibidem)
A autora encerra, colocando como privilégio grandioso ser educador domiciliar, pois se
pode cuidar da humanização e da dignidade das pessoas, ao mesmo tempo em que se contribui para
a construção de uma nova sociedade, a da inclusão e do acolhimento.
No filme “O óleo de Lorenzo”, analisamos os procedimentos dos pais com uma criança
portadora de uma doença degenerativa que afeta o cérebro. O amor e carinho com que a criança é
tratada, nos fez lembrar o comprometimento que o pedagogo que atua nesta modalidade de
atendimento deve ter:
- a criança não precisa só de medicamentos, mas de profissionais comprometidos que tenham boa
vontade e amor pelo que faz.
- mesmo em domicílio, o professor deve preservar atividades lúdicas, com músicas, contação de
histórias, brincadeiras, etc.
- a criança enferma deve ter a sua idade cronológica respeitada, onde os recursos acompanhem a
faixa etária. No filme existe uma cena, onde o menino cresceu, se tornou um adolescente, mas a
mãe ainda fazia leitura de livros infantis, quando ele se deu conta disso, tratou logo de consertar a
falha.
3.3 Avaliar a aprendizagem no ambiente hospitalar
Encontramos diversas literaturas sobre avaliação da aprendizagem, mas ao nos depararmos
com uma modalidade de educação considerada recente, percebemos que existe mais este detalhe a
ser estudado e esclarecido para os profissionais que atuam na classe hospitalar.
Comentamos no capítulo anterior que são poucos os espaços para debates a respeito de
currículo, planejamento e avaliação, entre outras questões relacionadas ao espaço educacional. A
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avaliação deve ser considerada um elemento de extrema importância no processo de ensino
aprendizagem.
De uma forma geral e bastante tradicional quando se pensa em avaliação, Arosa (2011) diz
que: “processo centrado na coleta de informações, ou seja, avaliar é medir, apurar, aferir
objetivamente um determinado aspecto de realidade, seja ela educativa ou de outra ordem”.
(AROSA apud MATOS, 2011, p. 67).
A autora reforça,
Sendo assim, as práticas avaliativas estariam a serviço da confirmação dos resultados
esperados, determinados pelo planejamento. Avaliar seria, pois, verificar se os objetivos
foram alcançados, nas condições determinadas e no tempo estabelecido. Em última análise,
avaliar a aprendizagem é verificar se o conhecimento transmitido foi acumulado na medida
certa e no tempo estimulado. (AROSA apud MATOS, 2011, p. 68)
Imaginamos que esse modelo de avaliação traz consigo muitas dificuldades e consequências
sérias na escola regular. Como “medir” conhecimento na escola hospitalar, onde muitas vezes o
aluno encontra-se debilitado, sob efeitos de medicações e diversos tratamentos?
Arosa defende a concepção de Paulo Freire: “o conhecimento não é algo que se transfere, de
forma mecânica e imediata, daquele que o detém para aquele que o ignora, ao contrário, sua
construção se dá por meio das relações que são estabelecidas na sociedade”. (AROSA apud
MATOS, 2011, p. 69).
A autora completa que “desse modo, compreendemos o conhecimento como uma construção
coletiva, um bem social que deve estar a serviço da transformação da realidade”. (Ibidem)
Sabemos que historicamente falando, a escola avalia com o propósito de controlar,
selecionar, classificar e rotular, ou seja, inclui alguns e exclui outros. Neste caso, a avaliação tem o
objetivo de verificar os alunos que serão aprovados e reprovados. Mesmo que na escola tradicional
seja possível esse modelo de avaliação, no espaço hospitalar não faz sentido, justamente porque o
pedagogo hospitalar não tem poder instituído para aprovar ou reprovar alunos. Na escola regular a
autoridade sobre esse tipo de decisão é o professor, diferente da classe hospitalar, que a autoridade
que toma decisões sobre o futuro do paciente é o médico.
Para Arosa (2011, p.71), o tipo de avaliação que se enquadra melhor na classe hospitalar é a
Avaliação Formativa, pois ao mesmo tempo que é dado significado à ação educativa, acontece a
formação permanente de professores e alunos. É centrada no processo e não no produto,
considerando que o aluno aprende de diversas formas, em tempo diferente e a partir de suas
experiências cotidianas, mostrando ao professor e ao aluno como ocorre o processo de ensinar e
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aprender. Tem uma concepção emancipadora, que está a serviço da libertação e não domesticação.
O sujeito tem consciência de si e do mundo.
No hospital, isso significa que o aluno necessita conhecer a natureza da sua enfermidade,
suas manifestações, o funcionamento do seu corpo, os procedimentos terapêuticos, mas sem deixar
de reconhecer os seus direitos enquanto paciente e aluno. Os conhecimentos a serem construídos
não devem ficar limitados a essas condições, mas não podem ser ignoradas ao praticar um currículo
que não leve isso em conta.
Entendemos, portanto, que a avaliação deve ser compreendida como um processo
permanente, pois ocorre todo o tempo em que o aluno estiver hospitalizado. Essa observação traz
elementos para subsidiar as ações pedagógicas.
Arosa sugere algumas alternativas para realizar este tipo de avaliação:
Diversas são as atividades desenvolvidas e as possibilidades de promover um olhar atento
sobre o processo de construção do conhecimento. Essas atividades, que podem ser
individual ou coletivamente realizadas, são alvo de permanente e sistemática observação e
análise crítica, que são registradas de diversas maneiras. Esses registros, que tem por
objetivo de documentar qualitativamente as práticas pedagógicas realizadas, podem ser
feitos por meio de anotações pessoais realizadas pelo professor; montagem de portfólios,
em que se agrupam os produtos das atividades realizadas; exercícios diversos que guardem
traços importantes a serem considerados; fichas de avaliação, registro de autoavaliação
realizada pela criança ou adolescente; bem como diários reflexivos do trabalho pedagógico
ou qualquer outra forma de registro que acumule informações que possibilitem a construção
de um Relatório Avaliativo. (AROS apud MATOS, 2011, p. 74)
Vale lembrar que, quando solicitado pela escola de origem, é possível ocorrer uma avaliação
de forma específica. Neste caso nenhum outro procedimento deve ser abandonado, pelo contrário,
essa exigência da escola também servirá para análise.
No Relatório Avaliativo devem conter análise sobre os objetivos alcançados e não
alcançados, o processo que se deu a construção desses objetivos e os procedimentos adotados pelo
professor.
Segundo Farenzena e Silva, referindo-se a uma pesquisa realizada, ressaltam que:
Definir uma intervenção sem ser invasiva, tampouco omissa, não é tarefa fácil, por isso
realizamos o registro diário com apreciação crítica das atividades desenvolvidas.
Semanalmente nos reunimos no próprio espaço, para avaliar, planejar e redimensionar as
ações. (FARENZENA e SILVA apud Matos, 2011, p.116)
A observação é uma das ferramentas que podemos usar para obter informações sobre algo.
Segundo Fonseca (2008, p. 39), “no caso do atendimento pedagógico-educacional hospitalar, o ato
de observar é ainda mais importante”. Algumas questões só podem ser respondidas ou exploradas, a
partir de observações feitas em circunstâncias naturais.
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Um período de observação pode levar à identificação de alguns padrões de comportamento
ou situações que necessitem de uma intervenção diferenciada.
A autora destaca que:
O professor da escola hospitalar deve treinar-se para observar. A melhor forma de fazê-lo é
por meio do exercício de registrar as informações obtidas durante as observações de modo
consciente e crítico, da forma mais fidedigna possível, e evitando colocações tendenciosas.
Para o aprimoramento da observação feita pelo professor, discussões com colegas ou
profissionais da área devem ser realizadas, a fim de determinar que comportamentos ou
situações deve considerar para a observação. (FONSECA, 2008, p.42)
O que o professor observador registra deve ser o mais próximo possível do que realmente
esteja acontecendo no ambiente em que realiza a observação.
A observação vem ganhando lugar respeitável no campo pedagógico-educacional gerido
pelo professor, provando ser um instrumento válido para melhor conhecimento e
entendimento da realidade da sala de aula. Observação tem um papel bastante importante e
é a primeira etapa para termos um bom planejamento ou para a adequada organização das
atividades. (Ibidem)
A autora completa dizendo que, observar se aprende observando. Orienta também que
diariamente devem ser feitos registros sobre o desempenho de cada criança nas atividades que
foram propostas.
Fonseca não deixa de ressaltar que conteúdo deve ser essencial para os alunos de uma classe
hospitalar :
O que se trabalha com o aluno são os conteúdos essenciais, claro que os aprofundando na
medida do interesse e da necessidade do aluno. Sabemos que a base está em dar condições
para que o aluno verdadeiramente domine o ler, o escrever e o contar. Se ele tem esse tripé
sólido, ele constrói todo e qualquer conhecimento Não estamos dizendo aqui que a escola
hospitalar deva se concentrar exaustivamente nesses três domínios, mas que veja que eles
estão presentes em qualquer que seja o assunto tratado na sala de aula, independentemente
se proposto pelo professor ou pelo aluno. (FONSECA, 2008, p.54)
Um serviço educacional de qualidade será prestado, se este referencial for considerado em
um planejamento. “Quem sabe não será o atendimento escolar hospitalar um bom e concreto
exemplo de mostrar como fazer valer o direito à escola de qualidade para todos os nossos cidadãos
em formação, estejam hospitalizados ou não?”. (Ibidem)
3.4 A atuação do pedagogo no ambiente hospitalar
Segundo Clemente (2012), historicamente no Brasil e no mundo o hospital sempre foi
considerado um lugar de dor, sofrimento e morte. Hoje com a atuação do pedagogo neste ambiente,
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poder ser considerado também um lugar de educação, solidariedade e alegria. A classe hospitalar
pode ser considerada um lugar onde a aprendizagem e o conhecimento superam a dor.
“É importante ao professor estar consciente de que sua atuação no hospital, mesmo que não
homologada oficialmente (embora devesse estar), diz respeito ao acompanhamento dos processos
de desenvolvimento e de aprendizagem do paciente hospitalizado que, para ele, é o aluno”
(FONSECA, 2008, p. 26)
No filme “Patch Adams – O amor é contagioso”, também encontramos algumas
coincidências com a realidade do profissional da educação:
- destacam a importância de tratar o paciente pelo nome e não pelo número do leito ou pelo seu
diagnóstico;
- orienta que seja evitada a concentração no problema, a energia deve estar depositada na solução;
- estar atento às necessidades do paciente, pois ele se sente insignificante longe do seu lar.
Para o professor, o indivíduo hospitalizado é aluno. Para o médico é paciente. Mas este
mesmo indivíduo é primeiramente, e independentemente de qualquer coisa, um cidadão de direito
(Fonseca, 2008, p.27). Portanto vale lembrar que o professor não pode interferir em nada na criança
enquanto paciente, neste caso, a equipe de enfermagem ou médica deve ser acionada. Mesmo não
sendo autorizado a interferir, é necessário que o professor seja bem informado sobre a área da
saúde.
Não lhe deve faltar, além de sólido conhecimento das especificidades da área da educação,
noções sobre técnicas e terapêuticas que fazem parte da rotina da enfermaria, e sobre as
doenças que acometem seus alunos e os problemas (mesmo emocionais) delas decorrentes,
tanto para as crianças como também para os familiares e para as perspectivas de vida fora
do hospital. (FONSECA, 2008, p. 29)
Clemente (2012) orienta sobre a importância de realizar um curso sobre primeiros socorros,
conhecer as doenças mais comuns na infância e suas formas de transmissão e prevenção. Aconselha
sobre os cuidados que o pedagogo deve ter com a própria saúde, através do hábito de lavagem das
mãos, uso de equipamentos de proteção individual como luvas e máscaras - isso de acordo com a
orientação dada pela equipe hospitalar -, evitar o uso de perfumes, bijuterias e sempre manter unhas
curtas. Alguns hospitais solicitam o uso de jaleco com uma cor diferenciada da equipe de saúde.
Outro detalhe de grande importância que o autor destaca, é que apesar do pedagogo estar
num ambiente não escolar, ele continua sendo um profissional da educação, portanto, seu discurso
deve conter termos pedagógicos que deem credibilidade ao seu profissionalismo e
comprometimento. Em hipótese alguma, deve se sentir inferiorizado.
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O ambiente hospitalar exige do professor uma conduta específica e diferente da utilizada na
escola regular, por exemplo, não poderá organizar uma fila de crianças e sair cantando pelos
corredores, desrespeitando o ambiente ou falar alto e chamar atenção do aluno, prejudicando ainda
mais o estado emocional fragilizado causado pela enfermidade. E ainda se o aluno simplesmente
não quiser assistir a aula em determinado momento, isso deve ser respeitado. Deve-se criar
estratégias para favorecer o processo de ensino aprendizagem integrando desenvolvimento e
experiências.
De acordo com Fonseca (2008, p. 31), existem duas questões que dividem opiniões entre os
profissionais que atuam e estudam a temática “classe hospitalar”. São elas:
1ª: o trabalho do professor no hospital não apresenta diferenças marcantes daquele que um professor
realiza em uma sala regular. Para a autora, o professor deve se ajustar ao ambiente, mas sem perder
o seu foco pedagógico educacional e isso é uma exigência em qualquer lugar de sua atuação.
2º: o professor da escola hospitalar não requer, necessariamente, uma formação especializada. Para
a autora, a especialização acrescentará pouquíssimo, se o pedagogo não dominar conceitos básicos
como, por exemplo, processos de desenvolvimento e de aprendizagem, didática, planejamento etc.,
que são essenciais para que a dinâmica de qualquer espaço que visa a construção do conhecimento.
Uma educação de qualidade se dá quando o que acontece na sala de aula, através das
mediações professor-aluno e aluno-aluno sobre os conhecimentos do mundo, do dia a dia,
das experiências e da realidade de cada um, é sistematizado. O conhecimento não está na
sala de aula; ele nela chega conosco: professores, alunos, equipe, comunidade, e, com as
trocas nela vivenciadas, ele se constrói. (FONSECA, 2008, p.32)
Como citamos anteriormente, a participação do professor no ambiente hospitalar vai muito
além de cumprir um planejamento e transmitir conteúdos escolares. Sem desrespeitar aspectos
éticos, o professor auxilia a criança e a família a compreenderem melhor sobre a enfermidade, o
tratamento, os efeitos colaterais etc., exatamente pelo fato da equipe médica utilizar termos técnicos
que muitas vezes ficam confusos ao ouvinte. O professor faz a ponte entre o discurso oficial (do
médico) e o discurso do senso comum (da família). Desta forma é ampliada a relação entre
Educação e Saúde dentro do hospital.
Em outras situações o pedagogo atua como agente conscientizador, orientando pacientes e
familiares sobre possíveis riscos de transmissão de doenças, contaminação, epidemias, prevenção
etc., até mesmo encontrando situações que poderão ser abordadas junto ao conteúdo escolar.
A comunicação afetiva e o acolhimento também são fatores que estreitam laços e faz do
professor um parceiro do aluno, da família e do hospital. O cuidado no atendimento, diferenciado
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por séries, exige do professor preparação, um profissional amoroso e humanitário, além de
competente para realizar o trabalho educativo.
Enfim, cabe ao papel do professor, segundo Junior e Gomes (2011) de que “[...] é preciso
gostar de fazer o que se propõe a realizar, é preciso gostar de exercer a função de professor de
classe hospitalar e, por fim, é preciso gostar da possibilidade de conviver com essa realidade e fazer
apesar das limitações da criança”. (JUNIOR e GOMES apud MATOS, 2011, p. 160).
3.5 Como lidar com o aspecto emocional e o luto?
Citamos a relação entre o professor e o aluno da classe hospitalar, onde é criado um vínculo
afetivo muito forte, portanto o sofrimento não acontece apenas pela morte, mas durante o próprio
diagnóstico e tratamento.
Alguns diagnósticos podem prejudicar o desenvolvimento da identidade da criança e do
adolescente. É perdido o sentido de continuar sua história e a perspectiva de futuro, pois a própria
hospitalização traz consigo a fragilidade, o desconforto da dor, a insegurança, e ainda causa o
afastamento de amigos, familiares, casa, escola, professores. A criança é submetida a
procedimentos invasivos e dolorosos, e seu ritmo e estilo de vida são completamente modificados.
A imagem corporal também é afetada, muitas vezes o sujeito se enxerga como sendo a
própria doença. Em alguns casos, a aparência física é completamente modificada, como, por
exemplo, a perda de cabelo dos pacientes que passam por quimioterapia em tratamento contra o
câncer, ou casos onde é necessário algum tipo de amputação de membros. Assim, evidentemente, a
autoestima do paciente ficará extremamente abalada.
Há pacientes com grande dificuldade de aderir ao tratamento, isso por alguns motivos.
Segundo Lucon (apud MATOS, 2011, p.87), “compreensão errônea da enfermidade, tratamento ou
instruções; falta de recursos para seguir o tratamento; o tratamento tem efeitos colaterais
indesejáveis, resultado em longo prazo, custo elevado; a doença é assintomática”.
Cada criança, cada família reage de modo particular à condição de doença, assim como
nem sempre surtem efeitos de restabelecimento os esforços demandados pelas equipes.
Conviver num cenário com essas características, não na posição passiva, de observador,
mas numa posição ativa de intervenção e mediação exige a condição de ser continente de
angústias, de medos, de dúvidas, de sentimentos de impotência, de raiva, de frustração, de
dor e de luto. Essa tarefa básica, pois nosso objetivo está projetado para além dessa
condição. (SILVA e FARENZENA apud MATOS, 2011, p.118)
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Granemann (2011) relata sobre o importante papel do professor neste momento, mas destaca
que, por ser um ser humano o professor também é capaz de ter sensibilidade e sofrer junto com o
paciente e seus familiares.
Os professores devem ter conhecimento dos efeitos emocionais e do impacto da
enfermidade produzidos no âmbito familiar. O conhecimento de tais crises familiares
ajudará o professor a compreender melhor a situação. Ter um aluno que padece de
enfermidade que ameaça sua vida, gera no docente diversas reações. Haverá momentos em
que o professor não se sentirá apto para trabalhar por estar deprimido com a situação da
criança. Compartilhar suas preocupações cm outros membros da escola, assistentes sociais,
psicólogos, médicos podem ajudar a diminuir sua angústia. (GRANEMANN apud
MATOS, 2011, p. 133)
É uma situação bastante difícil de ser enfrentada, pois dependendo do estado do paciente,
em um dia ele estará na enfermaria, no outro numa Unidade de Terapia Intensiva (UTI), até evoluir
para óbito. O profissional deve reconhecer que também tem suas limitações físicas e emocionais,
então é necessário o desabafo, o choro, o toque, o abraço.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A educação, certamente, é o possível caminho para transformação da sociedade, embora
muitos discordam desta afirmação, por conta da situação crítica em que o sistema educacional se
encontra. Esse sistema deve ser repensado, pois de acordo com Paulo Freire (1996), a educação não
transforma a sociedade, mas transforma o sujeito, que consequentemente se torna capaz de
modificar algo na sociedade e o que está a sua volta.
Independente do ambiente onde a educação ocorre, ela deve ser intencional, desenvolvendo
um cidadão conhecedor de seus direitos e deveres, sem esperar por um produto, mas por um
processo que sempre está em construção. Somado a isso, os profissionais da educação devem ter
comprometimento, reconhecendo a influência que o próprio trabalho pode trazer à sociedade e ter a
compreensão que todo aluno tem o direito de aprender.
Essas questões não podem ser consideradas diferenciadas, no caso do aluno hospitalizado.
Pelo contrário, esse é mais um motivo de garantir o seu direito à educação e fazê-lo sujeito ativo
nesse processo de construção da sociedade. Na escola regular devemos considerar a realidade do
aluno. Na escola hospitalar esse conceito passa a ser ainda mais reforçado, porque além de
reconhecer a realidade escolar do aluno antes da internação, o seu estado clínico deve ser levado
muito em conta, pelo sofrimento que a enfermidade traz e ainda as consequências de tratamentos
dolorosos. Muitas vezes, a aula deve ser aplicada no leito ou deixar de ser aplicada por uma
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indisposição do aluno. Respeitar o seu estado clínico é imprescindível, sabendo que o tempo de
aprender é o tempo do aluno.
De acordo com Fonseca (2008, p.75), “a possibilidade de se atingirem os objetivos traçados
em nosso planejamento se faz mais concreta quando os adequamos aos interesses e às necessidades
das crianças”. No hospital, o brincar proporciona o resgate social, afetivo e cognitivo, pelo fato da
criança está fora da sua rotina normal. A interação da criança é tão importante quanto a mediação
do professor nas atividades desenvolvidas.
Para Fonseca (2008, p. 36), “o professor entra como parceiro na relação entre a criança e o
ambiente hospitalar, entre a criança e o familiar, e nas interações de ambos com o hospital”, ou seja,
se torna um facilitador das relações.
A escola no hospital traz muitos benefícios, dentre eles a orientação referente a alguns
serviços prestados pelo próprio hospital, levando em conta as circunstâncias sociais, éticas,
educacionais, psíquicas, que ocorrem não apenas no hospital, mas faz parte do relacionamento
humano. Assim, a classe hospitalar é de extrema importância, pois com a manutenção da
escolaridade, a criança garante seu futuro acadêmico e profissional, além de manter-se adaptada ao
meio social e escolar, o que lhe possibilita melhor qualidade de vida durante e após o tratamento.
Mas infelizmente muitos são os obstáculos a serem vencidos, para que esse direito seja cumprido,
garantindo a dignidade do necessitado.
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