educaÇÃo brasileira aula 3 - a educação na primeira república

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EDUCAO BRASILEIRACurso de Psicologia Professora Zil Gomes de Moraes Flores

Unidade 3 : Brasil: A Educao na Primeira Repblica O entusiasmo pela educao e o otimismo pedaggico: Os conflitos pedaggicos A organizao curricular As influncias do escolanovismo e positivismo no Brasil As novas exigncias capitalistas em relao a escola

A Primeira Repblica no BrasilDurante o perodo denominado de Primeira Repblica que se inicia em 1889 e vai at 1930, tambm conhecido como Repblica Velha ou Repblica dos Coronis, o governo federal tentou vrias reformas no campo da educao, principalmente, no que, hoje, chamaramos de Ensino Mdio e no Ensino Superior. A Repblica proclamada adotou o modelo poltico americano baseado no sistema presidencialista.

Contexto histricoA Repblica no veio por meio de um grande movimento popular, se instaura como um movimento militar, que teve apoio de setores da economia cafeeira. Os cafeeiros estavam descontentes, pois a poltica do at ento imprio era incapaz de dar proteo econmica aos Bares do caf e outros grupos regionais.

O imprio no conseguiu sobreviver a um modo de vida que parecia nada ter a ver mais com ele, repleto de novidades: expanso da lavoura de caf, fim do regime escravocata, adoo do trabalho assalariado, remodelao do pas: rede telegrfica, novos portos e ferrovias, sem contar com o novo pensamento vigente, permeado com idias democrticas vindas do exterior. Apesar de no ter sido uma conquista popular, temos que admitir que o novo regime apresentou ganhos para a populao: desapareceu o Poder Moderador do imperador, terminou com o voto censitrio, so extintos os ttulos de nobreza e o poder descentralizado de certa forma.

Em meio a estas mudanas, cresce a urbanizao do pas, tendo como resultado a ampliao do que hoje chamamos de Classe mdia. As pessoas que estavam nesse extrato da sociedade j no aceitavam mais que seus filhos fossem submetidos ao trabalho comum- braal; queriam para seus filhos a escolarizao, sabiam que a escola estava se tornando um elemento central da vida urbana, formava os profissionais que iriam exercer cargos burocrticos e de ensino formal, trazendo tona a discusso da necessidade de ampliar o nmero de escolas.

Com a idia de realizao de mudanas, durante a primeira repblica os brasileiros viram dois grandes movimentos a respeito da necessidade da abertura e aperfeioamento de escolas: O entusiasmo pela educao Otimismo pedaggico

O movimento de Entusiasmo pela educao tinha um sentido quantitativo, pois solicitava a abertura de escolas. O Movimento do Otimismo pedaggico tinha um sentido qualitativo e se preocupava com os mtodos e contedos do ensino. Tais movimentos se alternam e at se somaram durante o perodo da Primeira repblica.

A partir dessa retomada histrica centraremos o eixo organizador de nossas reflexes pelas reformas educacionais, realizadas neste perodo, na seguinte sequncia: 1) Reforma Benjamin Constant (1890); Cdigo Epitcio Pessoa (1901); Reforma Rivadvia Correa (1911); Reforma Carlos Maximiliano (1915); Reforma Joo Luiz Alves/Rocha Vaz (1925), todas elas ainda na Primeira Repblica (1889-1930) e, de algum modo, preocupadas em organizar o ensino secundrio. Ainda sobre este perodo, discutiremos a situao do ensino primrio que, desde o Ato Adicional de 1834, se encontra sobre a influncia dos governos regionais, provinciais durante o Imprio (18221889) e estaduais, a partir de 1889, com a instalao da Repblica. Tambm, iniciaremos a discusso das reformas realizadas durante o perodo que se convencionou chamar de Era Vargas (1930-1964).

A Reforma Benjamim ConstantAcontece em 1891, tem como autor da reforma um militar de formao positivista que esteve frente do primeiro ministrio criado para cuidar das questes educacionais (ministrio da instruo pblica e dos correios e telgrafos). Os princpios orientadores da reforma eram: liberdade e laicidade do ensino e gratuidade da escola primria. Diz-se que o ensino laico quando no apresenta contedo religioso. O princpio da laicidade do ensino quer uma educao afastada do clero e da igreja. A organizao escolar estruturava-se da seguinte forma: a) A escola primria foi organizada em dois ciclos: 1 grau para crianas de 7 a 13 anos; 2 grau para crianas de 13 a 15 anos; b) A escola secundria teria a durao de 7 anos; c) O ensino superior foi reestruturado: politcnico, de direito, de medicina e militar.

Benjamin Constant, prev em sua reforma que todo o professor de escola pblica deveria ter o diploma da Escola normal, para as escolas particulares se limitava apenas em apresentarem um atestado de idoneidade moral. Foi o terceiro Diretor do antigo Imperial Instituto dos Meninos Cegos, instituio criada em 1854 por D. Pedro II para cuidar da educao de crianas com deficincia visual Em virtude de ter permanecido por longos anos frente dessa instituio, em 1890 o governo provisrio da recm-proclamada Repblica renomeou-a como Instituto Benjamin Constant - que, apesar de inativo em alguns perodos, permanece em franca atividade at os dias atuais.

Uma das intenes dessa reforma era transformar o ensino em formador de alunos para os cursos superiores e no apenas no sentido preparador. Outra inteno era substituir a predominncia literria pela cientfica. A reforma foi bastante criticada pelos positivistas, que afirmavam no respeitar as idias ou princpios pedaggicos defendidos por Comte, e pelos que defendiam a predominncia literria, j que inclui matrias cientficas s tradicionais, e com isso tornava o ensino enciclopdico.

Com a reforma, alm do alargamento das formas de acesso ao ensino superior, Benjamin Constant possibilita condies legais para que escolas superiores particulares mantidas por entidades ou pessoas, viessem a conceder diplomas com o mesmo valor dos que eram expedidos pelas faculdades federais. Em dois de janeiro de 1891, foram publicados dois decretos com providncias nesta direo. O decreto 1.232-G criava o Conselho de Instruo Superior com a competncia para aprovar os programas de ensino das escolas federais, e das que lhes fossem equiparadas; de propor ao Governo Federal, os regulamentos para a inspeo dos estabelecimentos federais e das faculdades livres.

O decreto 1.232-H determinava novo regulamento para as faculdades de Direito existentes no pas a de So Paulo (Largo de So Francisco) e de Recife/Olinda -, ainda, permitia aos governos estaduais e aos particulares a fundao de escolas de Direito. Os diplomas expedidos por estas instituies teriam o mesmo valor daqueles expedidos pelas duas faculdades oficiais, desde que inclussem nos currculos as mesmas disciplinas presentes no currculo das oficiais, se submetessem inspeo peridica e seus exames fossem assistidos por representantes do Conselho Superior.

Em relao ao plano curricular do ensino secundrio, a reforma Benjamin Constant, sem suprimir a parte tradicional do currculo, ou seja, o estudo do Latim e do Grego, props que a sua parte principal fosse constituda pelo estudo das cincias fundamentais, em um curso de sete anos, na ordem lgica de sua classificao estabelecida por Auguste Comte, um dos mentores da filosofia positivista.

O nome do pensador francs Auguste Comte (1798-1857) est indissociavelmente ligado ao positivismo, corrente filosfica que fundou com o objetivo de reorganizar o conhecimento humano e que teve grande influncia no Brasil. Comte tambm considerado o grande sistematizador da sociologia. Um dos fundamentos do positivismo a idia de que tudo o que se refere ao saber humano pode ser sistematizado segundo os princpios adotados como critrio de verdade para as cincias exatas e biolgicas. Isso se aplicaria tambm aos fenmenos sociais, que deveriam ser reduzidos a leis gerais como as da fsica. Para Comte, a anlise cientfica aplicada sociedade o cerne da sociologia, cujo objetivo seria o planejamento da organizao social e poltica.

Desse modo, a organizao curricular do ensino secundrio adquiria a seguinte estruturao: 1 ano aritmtica (estudo completo) e lgebra elementar (estudo completo); 2 ano geometria preliminar, trigonometria retilnea e geometria espacial; 3 ano geometria geral e seu complemento algbrico, clculo diferencial e integral (limitado ao conhecimento das teorias rigorosamente indispensveis ao estudo da mecnica geral propriamente dita); 4 ano mecnica geral; 5 ano fsica geral e qumica geral; 6 ano biologia; 7 ano sociologia e moral, e noes de direito ptrio e de economia poltica. Alm disso, a reforma cria o Pedagogium um centro de aperfeioamento do magistrio.

Para compor sua fisionomia enciclopdica, paralelamente a esse eixo, dispunha-se no currculo o estudo do portugus nos dois primeiros anos; do Ingls e do alemo do 3 ao 5 ano; do latim e do francs nos trs primeiros anos; do grego no 4 e 5 anos; da geografia nos dois primeiros anos; da zoologia, da botnica, da meteorologia, da mineralogia e da geologia no 6 ano; da histria natural no 6 ano; da histria do Brasil e da literatura nacional no 7 ano; do desenho, da msica e da prtica de ginstica nos quatro primeiros anos. Como se no bastasse, em todos os anos, estava previsto o estudo de reviso de todas as matrias anteriormente estudadas que, no 7 ano, ocuparia a maior parte do horrio escolar.

Obviamente, a organizao proposta por Constant, nem chegou a ser seriamente ensaiada, uma vez que o seu elevado intelectualismo e sua grandiosidade excediam a capacidade de aprendizagem dos adolescentes. O plano de estudos proposto por Benjamin Constant, alm das razes expostas, no foi levado a srio, pela falta de interesse que despertou nos alunos, por contrariar a concepo preparatria do ensino secundrio, alm do que era totalmente inexecutvel. Assim que j no primeiro ano da sua implantao, vozes de protesto se levantavam pedindo a sua imediata revogao.

O Cdigo Epitcio Pessoa 1901A reforma curricular proposta pelo Ministro do Interior (Justia e Educao) do governo Campos Sales (1898-1902), Epitcio Pessoa, que mais tarde viria a ser Presidente da Repblica (1918-1922), novamente acentua a parte literria do currculo do ensino secundrio. Na prtica, assumia que o curso secundrio passava a ser um mero preparatrio para ingresso nas Faculdades existentes na poca. Entre outras medidas, reduzia para seis anos o curso secundrio, que era de sete anos, de acordo com a reforma de Constant.

Epitcio Pessoa

Iniciou a carreira como promotor em Pernambuco. Em 1889, assumiu a Secretaria de Governo da Paraba. Foi deputado Assemblia Nacional Constituinte (1890-1891), deputado federal (18911893) e ministro da Justia e Negcios Interiores (1898-1901). Foi procurador da Repblica (19021905) e ministro do Supremo Tribunal Federal (1902-1912). Presidiu a Junta Internacional que analisou os projetos do Cdigo de Direito Internacional Pblico e Privado. Foi senador pela Paraba (1912-1919) e presidiu a delegao brasileira Conferncia da Paz (1918-1919), em Versalhes. Foi indicado candidato a presidente da Repblica por um acordo entre paulistas, mineiros e gachos. Venceu facilmente as eleies diretas contra Rui Barbosa e assumiu a presidncia em 28 de julho de 1919.

A Reforma Epitcio Pessoa (1901) consta de dois instrumentos legais: o Decreto n 3.890, de 01 de janeiro de 1901, que Approva o Codigo dos Institutos Officiaes de Ensino Superior e Secundario, dependentes do Ministerio da Justia e Negocios Interiores; e, o Decreto n 3.914, de 26 de janeiro de 1901, que Approva o regulamento para o Gymnasio Nacional. O primeiro documento disciplina questes diversas relativas organizao, composio e funcionamento das instituies federais de ensino superior e secundrio e daquelas fundadas pelos estados ou por particulares. O segundo texto trata da organizao do Ginsio Nacional, assim como assuntos relativos ao curso, programas e exames; admisso, disciplina, freqncia e recompensas de alunos; magistrio e pessoal administrativo. Segundo Freire esta uma iniciativa caracterizada pelo excesso de centralizao, assegurada atravs de mediadores diversos, envolvendo diretores, fiscais, professores e at mesmo governadores (FREIRE, 1993, p. 194).

Conforme os historiadores a reforma Epitcio Pessoa, de 1901, assinalava nova fase na evoluo do ensino secundrio brasileiro, em seguimento ao perodo iniciado pela reforma Constant. Comparada com esta ltima, ela no apenas uma nova reforma, mas, sobretudo, representa mudana radical do sentido da atuao federal em face do ensino secundrio de todo o pas. Inclui a lgica entre as matrias e retira a biologia, a sociologia e a moral, acentuando, assim, a parte literria em detrimento da cientfica.

Essa mudana se retrata em dois pontos principais: a consolidao da equiparao, ao Colgio Pedro II, tanto dos colgios particulares quanto dos estabelecimentos estaduais, e sua transformao em instrumento de rigorosa uniformizao de todo o ensino secundrio nacional. Mas, tambm em relao ao currculo e a outros aspectos da organizao didtica do ensino secundrio, a reforma E. Pessoa teve o sentido do encerramento do ciclo iniciado, logo aps 1889, pela primeira reforma republicana do ensino secundrio.

Entretanto, fracassou a tentativa de dar ao ensino secundrio um sentido prprio, uma vez que o mesmo continuar funcionando como um curso preparatrio ao ensino superior. A equiparao ao Colgio Pedro II de todas as escolas do pas que ministrassem ensino secundrio e a consequente fiscalizao federal no alcana o objetivo de torn-lo um ensino com um fim em si mesmo, uma vez que os educandos continuam a v-lo apenas como um degrau de preparao imediata ao exame de habilitao ao ensino superior.

A Reforma Rivadvia Corra -1911A cinco de abril de 1911, o Marechal Hermes da Fonseca, ento Presidente da Repblica, promulgou o Decreto 8.659, conhecido como Lei Orgnica do Ensino Superior e Fundamental, elaborado pelo seu ministro do Interior, Rivadvia da Cunha Corra, que ficou conhecida como a reforma que desoficializou o ensino brasileiro. Essa medida j fora anteriormente adotada por ocasio da Reforma de Lencio de Carvalho em 1879, feita em nome da liberdade de ensino - princpio caro ao liberalismo - que, nessa poca, comeava a influenciar a educao brasileira ao lado do credo positivista, ambos em competio com a doutrina catlica.

Argumentava-se que era preciso dar aos particulares, de forma ampla, o direito de ensinar. Este direito, diga-se de passagem, nunca lhes fora negado, uma vez que, durante o Imprio (1822-1889), o ensino secundrio, na sua maior parte, esteve em mos dos particulares, leigos ou religiosos. Curiosamente, os positivistas, que sempre defenderam um Estado forte, passaram a fazer coro, em matria de educao, com os liberais.

Rivadvia Correa era de formao positivista e seguidor do poltico gacho Pinheiro Machado.

A Reforma Rivadvia Corra (1911) instituda atravs de dois documentos: o primeiro, Aprova a Lei Orgnica do Ensino Superior e do Ensino Fundamental na Repblica (Decreto n 8.659, de 05 de abril de 1911); o segundo, Aprova o Regulamento do Collegio Pedro II (Decreto n 8.660, de 5 de abril de 1911). Diferentemente da proposta anterior, esta iniciativa pretende modificar radicalmente a estrutura do ensino superior em todo o Brasil. A abolio dos privilgios, a concesso de autonomia aos estabelecimentos de educao superior e secundrio dos estados e o carter prtico agora dado ao ensino, representam alguns dos destaques da nova medida de reforma, marcada pela desoficializao e descentralizao do ensino.

As justificativas apresentadas a essa reforma evocavam as antigas e reiteradas crticas m qualidade do ensino secundrio (Cunha, 1986, p. 163). Os principais destaques da reforma: O ensino passa a ser de freqncia no obrigatria; Os diplomas so abolidos; So criados exames de admisso s Faculdades (uma espcie de vestibular), que so realizados nas prprias instituies de ingresso dos candidatos.

Essas medidas propiciaram a proliferao de cursos sem qualidade, unicamente preocupados em formar bacharis e doutores. Como afirma Silva (1969, p. 269): A crer em certos testemunhos, o resultado da liberdade de ensino no foi diferente daquele facilmente previsvel: a caa ao diploma, por uma clientela vida de ascenso social ou pouco disposta a um esforo srio de justificao das posies sociais herdadas Como consequncia, foram desastrosos os resultados da reforma iniciada em 1911. To desastrosos que a mesma acabou revogada parcialmente em 1915, pelo ministro do Interior Carlos Maximiliano.

A Reforma Carlos Maximiliano 1915A Reforma Carlos Maximiliano (1915) proposta no governo de Wenceslau Braz, que coincide com a Primeira Guerra Mundial, sendo por ela condicionado. A adoo de medidas de austeridade financeira marcam esta administrao que busca em mais uma proposta de reforma da educao a alternativa para solucionar seus problemas. A reorganizao do ensino secundrio e superior na Repblica encaminhada atravs do Decreto n 11.530, de 18 de maro de 1915, iniciativa que se configura como uma retomada da centralizao. Trata-se de um documento onde so abordados temas diversos relativos reorganizao geral do ensino secundrio e superior na Repblica. As orientaes definidas por esta reforma permaneceriam vigentes por cerca de dez anos, quando nova iniciativa de reforma retomaria a questo do ensino primrio.

Carlos Maximiliano com a nova reforma manteve a extino dos privilgios dos concluintes do Ginsio Nacional e o ingresso ao ensino superior atravs dos exames de admisso, os quais passaram a ser chamados de exames vestibulares.

A Reforma Carlos Maximiliano (1915) proposta no governo de Wenceslau Braz, que coincide com a Primeira Guerra Mundial, sendo por ela condicionado. A adoo de medidas de austeridade financeira marcam esta administrao que busca em mais uma proposta de reforma da educao a alternativa para solucionar seus problemas. A reorganizao do ensino secundrio e superior na Repblica encaminhada atravs do Decreto n 11.530, de 18 de maro de 1915, iniciativa que se configura como uma retomada da centralizao. Trata-se de um documento onde so abordados temas diversos relativos reorganizao geral do ensino secundrio e superior na Repblica. As orientaes definidas por esta reforma permaneceriam vigentes por cerca de dez anos, quando nova iniciativa de reforma retomaria a questo do ensino primrio.

Talvez, esta tenha sido a reforma educacional mais inteligente realizada durante toda a Primeira Repblica. De formao liberal, Carlos Maximiliano afasta-se da orientao de Epitcio Pessoa - rigorosa uniformizao do ensino -, uma vez que estava mais preocupado em melhorar a qualidade do ensino secundrio, bastante debilitado pela desastrada e inoportuna reforma levada a efeito por Rivadvia Corra. Todavia, Carlos Maximiliano se preocupou apenas com a funo de preparatrio ao ensino superior que, ainda, era o que os estudantes e seus familiares esperavam do ensino secundrio.

A concepo de ensino no poderia ser diferente, uma vez que em um pas de analfabetos, onde a maioria da populao sequer tinha acesso ao ensino primrio, acabava sendo perfeitamente normal que os poucos a conseguir chegar ao ensino secundrio, apenas o fizessem com o intuito de poder ingressar no ensino superior. Da, tambm, a preferncia pelos exames de parcelados, herdados do Imprio e que, ainda, fizeram muito sucesso durante toda a Primeira Repblica, constituindo-se, alis, em um grande obstculo consolidao do ensino secundrio.

Foi uma reforma inteligente pelo fato de que procurou manter das reformas precedentes o que nelas houvesse de progressivo e fosse concilivel com a experincia anterior. Assim, da Lei Rivadvia conserva-se o exame de admisso s escolas superiores; do Cdigo Epitcio Pessoa, o ensino seriado e a reduo do currculo; da Reforma de Benjamin Constant. Constant, a restrio da equiparao aos estabelecimentos estaduais; e da relativamente longa experincia do ensino secundrio brasileiro, os exames preparatrios. Essa reforma ainda responsvel pela criao da primeira Universidade Brasileira, uma instituio pblica, a Universidade do Rio de Janeiro, resultante do agrupamento em uma nica instituio da Escola Politcnica, da Faculdade de Medicina e de uma escola livre de Direito.

A Reforma Joo Luiz Alves/Rocha Vaz 1925Trata-se de um prolongamento e de uma ampliao das medidas preconizadas por Carlos Maximiliano em 1915, portanto, de uma reforma de consolidao da anterior e que preparou o terreno de modo definitivo para a implantao de um ensino secundrio seriado, que marcar o fim dos exames de parcelados a partir dos anos 1930.

A Reforma Joo Luiz Alves (1925), tambm conhecida como Lei Rocha Vaz, estabelece o concurso da Unio para a difuso do ensino primrio, organiza o Departamento Nacional de Ensino, reforma o ensino secundrio e superior e d outras providncias (Decreto n 16.782-A, de 13 de janeiro de 1925).

O Decreto dispe sobre a melhoria no ensino primrio, secundrio e superior e determina que a Unio, juntamente com os Estados, deve passar a ter responsabilidades sobre o ensino primrio. Outras medidas propostas pelo documento consistem em: incluso de cegos, surdos-mudos e menores abandonados do sexo masculino no ensino profissional; introduo da matria de Moral e Cvica no programa de ensino da instruo secundria; criao do Departamento Nacional de Ensino (hoje Ministrio da Educao); e, substituio do Conselho Superior do Ensino pelo Conselho Nacional do Ensino.

Assim, foi instituda a reforma Rocha Vaz, nome do presidente do Conselho Superior de Ensino, rgo criado para fiscalizar as instituies superiores. Com as medidas adotadas pelo ministro Joo Luiz Alves, o ensino secundrio passa a ser seriado, como j salientado, com a durao de seis anos, sendo o ltimo ano um curso de Filosofia. Tem por finalidade fornecer preparo fundamental e geral para a vida, qualquer que seja a profisso a que se dedicasse posteriormente o estudante. A concluso do 5 ano j dava direito ao prosseguimento de estudos em nvel superior, desde que, claro, o estudante fosse aprovado nos vestibulares. Aos concluintes do 6 ano, ser atribudo o grau de bacharel em cincias e letras.

Esta reforma, procurou dar ao ensino secundrio um carter de ensino regular, capaz de preencher funes mais amplas do que a mera preparao fragmentria e imediatista aos cursos superiores. Entretanto, essa uma situao que s se consolida com as reformas empreendidas a partir de 1930, j no governo do Presidente Getlio Vargas.

A Situao do Ensino Primrio no Incio da Primeira RepblicaNo que diz respeito educao elementar (ensino das primeiras letras/ensino primrio), a Repblica manteve a situao criada pelo Ato Adicional de 1834. Dessa forma, apenas os estados da federao em melhores condies econmicas realizavam algumas transformaes de vulto no ensino primrio, da qual a reforma empreendida por Caetano de Campos, em So Paulo, acaba sendo um bom exemplo.

De acordo com os historiadores o princpio pedaggico que norteia o pensamento de Caetano de Campos o da educao pblica, gratuita, universal, obrigatria e laica. Campos um livre pensador, fortemente influenciado pelos ideais liberais de sua poca. Sendo estes ideais da poca ardorosamente defendidos por Rui Barbosa, cujo pensamento fruto da vulgarizao das obras dos naturalistas, historiadores e filsofos que no fim do sculo XIX europeu, utilizaram os conhecimentos cientficos para combater a metafsica escolstica.

Na carta de Campos encaminhada ao governador do Estado, prope a seguinte estrutura vertical para o ensino pblico: 1. Jardim de Infncia para crianas de 4 a 6 anos de idade. 2. Escola de 1. grau (primrio) para crianas de 7 a 10 anos de idade. 3. Escola de 2. grau para pr-adolescentes de 11 a 14 anos de idade. 4. Escola de 3. grau para adolescentes de 15 a 18 anos de idade.

Ao discorrer sobre temas de educao, Caetano de Campos mostra-se muito sintonizado com o pensamento pedaggico de sua poca, demonstrando uma crena nos mtodos e processos de ensino quase mstica, chegando a afirmar na carta que enviou ao governador do Estado, Prudente de Morais, que os mtodos de ensino esto agora transformando em toda parte o destino das sociedades.

Na Primeira Repblica os tericos que imprimiam os rumos da educao brasileira tinham grande admirao por Pestalozzi (1746-1827), pensador iluminista, adepto das idias de Rousseau e que propunha a reforma da sociedade pela educao das camadas populares da sociedade, que tambm dava grande importncia ao desenvolvimento do psiquismo da criana.

O pensamento iluminista surgiu no sculo XVII, que se fortaleceu com a Revoluo Francesa, na poca em que se buscava as liberdades individuais, contra a escurido da igreja e a prepotncia dos governantes. Na poca do auge do Iluminismo, Jean Jacques Rousseau, inaugurou uma nova fase na educao. Pela primeira vez, a educao se tornou obrigatria, assim se fazendo escola pblica, filha da revoluo burguesa, gratuita e para todos, mas ainda elitista, pois poucos podiam cursar uma universidade. (GADOTTI, 2002)

JOHANN HEINRICH PESTALOZZI : (1746-1827) Educador suo nasceu em Zurique. desde os tempos de estudante participou de movimentos de reforma social. em 1774 fundou um orfanato onde tentou ensinou os rudimentos de agricultura e de comrcio, iniciativa que fracassou poucos anos depois. Publicou um romance em quatro volumes, bastante lido na poca, intitulado Leonardo e Gertrudes , no qual delineava suas idias sobre reforma poltica, moral e social. Quando a cidade de Stans foi tomada durante a invaso napolenica de 1798, Pestalozzi reuniu algumas crianas abandonadas e passou a cuidar delas nas mais difceis condies. Em 1805, fundou o famoso internato de Yverdon, que durante seus 20 anos de funcionamento foi frequentado por estudantes de todos os pases da Europa. O currculo adotado dava nfase atividade dos alunos: apresentava-se no incio objetos simples para chegar aos mas complexos; partia-se do conhecido para o desconhecido, do concreto para o abstrato, do particular para o geral. Por isso, as atividades mais estimuladas em Yvedon eram desenho, conto, educao fsica, modelagem, cartografia e atividades ao ar livre. (GADOTTI, 2002).

Pestalozzi, ao lado de Rousseau, considerado um dos precursores da escola nova, movimento que muito ir influenciar as reformas educacionais do ensino primrio em nosso pas a partir da dcada de 1920. Criou o chamado mtodo pedaggico intuitivo que rapidamente se difundiu por toda Europa e Estados Unidos. A partir de 1893, o ensino primrio, gratuito e leigo passou a ser estruturado em dois nveis: o preliminar e o complementar, mas apenas o primeiro era obrigatrio dos 7aos 15 anos e facultativo at os 16 anos.

A legislao editada, a partir de 1892, previa ainda que seriam criadas escola preliminares em todas as localidades onde houvesse de vinte a quarenta alunos matriculveis. Previa tambm a criao de escolas mistas nas localidades onde houvesse apenas 20 alunos matriculveis de ambos os sexos, mas havia uma restrio para os meninos que fossem matriculados em escolas mistas que era a de no possuir mais de dez anos de idade. Quanto ao currculo, podemos exemplificar com o artigo 5 do Decreto n 248, de 18 de julho de 1894 do estado de So Paulo, que estabelece para o curso elementar as seguintes matrias de estudo:

Leitura e deduo de princpios de gramtica; escrita e caligrafia; clculo aritmtico sobre nmeros inteiros e fraes; geometria prtica (taximetria) com as noes necessrias para suas aplicaes medio de superfcie e volumes; sistema mtrico e decimal; desenho mo livre; moral prtica; educao cvica; noes de geografia geral; geografia do Brasil, especialmente, a do estado de So Paulo; noes de fsica, qumica e histria natural, nas suas mais simples aplicaes, especialmente higiene; histria do Brasil e leitura sobre a vida dos grandes homens; leitura de msica e canto; exerccios ginsticos e militares, trabalhos manuais apropriados idade e ao sexo.

Por fim, assinale-se ainda nesse perodo a criao do Grupo Escolar, a reforma da escola normal e a criao das escolas noturnas, instaladas em todo lugar onde houvesse frequncia provvel de 30 alunos e que no se dirigiam primordialmente para a alfabetizao, mas tinha intenes profissionalizantes. Quanto ao magistrio, comparando-se com a situao do professor no Imprio, as condies de trabalho e o nvel salarial melhoraram durante o perodo da primeira repblica.

Os historiadores afirmam que a legislao da poca, alm de assegurar uma boa remunerao para os professores que possussem o curso normal, realizava concursos peridicos e facultava aos professores normalistas que quisessem completar seus estudos a possibilidade de faz-lo com o recebimento dos vencimentos sem as gratificaes. Era tambm assegurada aposentadoria com vencimentos integrais para os que contassem com trinta anos de tempo de servio.

Para os educadores que estiveram frente dessas mudanas no Ensino, entre outros, Caetano de Campos, Gabriel Prestes e Cesrio Mota Junior, a educao consistia no mais eficiente instrumento para a construo de um Estado republicano democrtico. Existia nas reformas empreendidas nos Estados do pas, uma clara relao entre ensino e poltica, consubstanciada na afirmao de que a instruo pblica bem dirigida o mais forte e eficaz elemento do progresso e que cabia ao governo o rigoroso dever de promover o seu desenvolvimento.

Essa crena exagerada nas possibilidades da educao, sem se preocupar com transformaes sociais mais profundas na sociedade brasileira, caracterstica do iderio liberal dessa poca, tpica de uma sociedade que vive um momento de passagem do sistema agrrio comercial para o sistema urbano industrial, o entusiasmo pela educao que viria a ser seguido na dcada de 1920 pelo que chamou de otimismo pedaggico.

A Situao do Ensino Primrio na Dcada de 1920A crnica falta de professores em todo o Brasil fez com que, em 1920, Sampaio Dria propusesse ao Presidente do Estado de So Paulo importante reforma do ensino primrio. Reforma que seguida por propostas semelhantes em diferentes estados da federao, tendo frente Fernando de Azevedo, em 1928, no antigo Distrito Federal (Rio de Janeiro); Ansio Teixeira, 1925, na Bahia; Loureno Filho, 1923, no Cear; Francisco Campos e Mrio Casassanta, 1927, em Minas Gerais; Carneiro Leo, 1929, em Pernambuco; e Loureno Filho, em 1930, em So Paulo.

Essas reformas, resultantes do ensino primrio e normal, foram propostas dentro do esprito liberal e no quadro j mencionado do chamado entusiasmo pela educao e do otimismo pedaggico. De um modo geral, preocupam-se em ampliar as oportunidades educacionais e renovar os mtodos de ensino nos termos do movimento da Escola Nova.

As reformas foram lideradas por um grupo de pessoas que, a partir dos anos 1930, tiveram participao ativa nos movimentos de renovao educacional, iniciado com a publicao do Manifesto dos Pioneiros pela Educao Nova, em 1932. Trata-se de propostas de mudana no campo educacional, originrias do clima de discusses gerado pelo entusiasmo pela educao que superestimaram o papel da educao no processo de renovao social do Brasil. Advm disso a denominao de otimismo pedaggico dado a esse ciclo de reformas estaduais que teve, na reforma realizada em So Paulo, em 1920, por Sampaio Dria, um marco inicial importante.

Romanelli oferece uma explicao plausvel para a existncia desse quadro de reformas estaduais at incio dos anos 1930, nos seguintes termos: [...] os fatores atuantes na organizao e evoluo do ensino, quais sejam o sistema econmico, a herana cultural, a demanda social de educao e o sistema de poder permaneceram durante o perodo que antecedeu a dcada de 20, integrados na formao de um complexo scioeconmico-poltico-cultural que fez com que a educao ofertada populao brasileira correspondesse s reais exigncias da sociedade ento existente (ROMANELLI, 1997, p. 45).

Ainda de acordo com essa autora, a demanda por recursos humanos, dada manuteno do modelo econmico agrrio exportador, no fazia grandes exigncias organizao escolar brasileira. Situao que se agravava em razo de que: a herana cultural havia sido criada a partir da importao de modelos provenientes da Europa; a estratificao social, predominantemente dicotmica na poca colonial, havia destinado escola apenas parte da aristocracia ociosa.

Essa demanda social de educao, mesmo quando englobou no seu perfil os estratos mdios urbanos, procurou sempre na escola uma forma de adquirir e manter status, alimentando, alm disso, um preconceito contra o trabalho que no fosse o intelectual. Enfim, todos esses aspectos se integravam. Pode-se afirmar que a educao escolar existente, com origem na ao pedaggica dos Jesutas, correspondia s exatas necessidades da sociedade como um todo. A funo social da escola era, ento, a de fornecer os elementos que iriam preencher os quadros da poltica, da administrao pblica e formar a inteligncia do regime.

Pode-se observar, assim, que no h defasagem entre educao e desenvolvimento nessa poca, ou seja, possvel pensar numa ausncia de defasagem entre os produtos acabados oferecidos pela escola e a demanda social e econmica de educao (ROMANELLI, 1997).. Mesmo no terreno da expanso quantitativa das oportunidades educacionais, o esforo feito na Primeira Repblica no foi suficiente para compensar o crescimento da populao em idade escolar.

Embora entre 1900 e 1920 tenha havido um crescimento significativo da populao que sabe ler e escrever, que saltou de 3.380.451 para 6.155.567, o percentual dos que no sabiam ler e escrever permaneceu o mesmo, ou seja, 65%, passando de 6.348.869 em 1900 para 11.401.715 Portanto, este o quadro educacional que Getlio Vargas ir encontrar ao assumir a Presidncia da Repblica, levado que fora ao poder pelo movimento vitorioso de 1930.

Referncias:FREIRE, Ana Maria Arajo. Analfabetismo no Brasil: da ideologia da interdio do corpo ideologia nacionalista, ou de como deixar sem ler e escrever desde as Catarinas (paraguau), Filipinas, Madalenas, Anas, Genebras, Apolnias e Grcias at os Severinos. 2. ed. So Paulo: Cortez, 1993. GADOTTI, Moacir. Histria das idias pedaggicas. So Paulo: Editora tica, 2002. GHIRALDELLI, J. P. Filosofia e Histria da Educao Brasileira: da colnia ao governo Lula. 2 Ed. Barueri: Manole, 2009. ROMANELLI, Otaza de Oliveira. Histria da educao no Brasil. 26 ed. Petrpolis: editora vozes. 2001.