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1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO DE CIÊNCIAS: UMA ABORDAGEM A PARTIR DO MATERIALISMO HISTÓRICO E DIALÉTICO Gismeire Hamann Andrade 1 Ana Lúcia Crisóstimo 2 ABSTRACT: This study is the result of a qualitative research in modality of research-action developed during the years 2007 and 2008 within the Program of Educational Development – EDP, the Government of the State of Parana. Its objective is to discuss about the pedagogical practice in Environmental Education adopted by Science teachers of the state network of the municipality of Candói/PR, in the years 2006 and 2007. AND also propose a methodology of the work in this issue under a focus and dialectical materialist historical providing allowance and contributing to the development of an environmental education against-hegemonic, critical and manufacturing to counter currents idealistic differing social issues, and that would lead to understanding the reality in its entirety and contradictions. Evidenced-that the searched teachers have a pedagogical conception influenced by Cartesian rationalism and/or the naturalism, resulting in methodological referrals based on local practices, often naïve , empty, decontextualized, isolated from all and contradictions in Brazil and in the world, therefore, idealistic. well-understood that RESUMO. Este estudo é resultado de uma pesquisa qualitativa na modalidade de pesquisa-ação desenvolvida durante os anos de 2007 e 2008 dentro do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, do Governo do Estado do Paraná. Seu objetivo é discutir sobre a prática pedagógica em Educação Ambiental adotada pelos professores de Ciências da rede estadual do município de Candói/PR, nos anos de 2006 e 2007. E também propor uma metodologia de trabalho nesta temática sob um enfoque materialista histórico e dialético, fornecendo subsídio e contribuindo com o desenvolvimento de uma educação ambiental contra-hegemônica, crítica e transformadora que se contraponha às correntes idealistas distanciadas das questões sociais, e que leve ao entendimento da realidade em sua totalidade e contradições. Evidenciou-se que os professores pesquisados possuem uma concepção pedagógica influenciada pelo racionalismo cartesiano e/ou pelo naturalismo, resultando em encaminhamentos metodológicos baseados em práticas locais, muitas vezes ingênuas, vazias, descontextualizadas, isoladas da totalidade e das contradições existentes no Brasil e no mundo, portanto, idealistas. Assim percebeu-se que ainda existem muitos desafios a serem superados não só na disciplina de Ciências, mas na educação, para que a escola possa cumprir efetivamente com o seu papel social: a emancipação humana através da apropriação do conteúdo científico historicamente produzido pela humanidade. Desafios estes que só serão solucionados através da fundamentação teórica científica consistente dos professores; que sem dúvida alguma se inicia pela consciência de classe e pela luta por uma transformação social que culmine num novo modo de produção. Palavras-chave: Educação ambiental; Educação ambiental crítica; Educação ambiental transformadora. 1 Professora da Rede Estadual do Paraná desde 1996. Graduada em Ciências, Licenciatura de 1 o Grau, com habilitação Plena em Biologia e Especialista em Biologia Geral pela UNICENTRO. 2 Professora Doutora do Departamento de Ciências Biológicas da UNICENTRO - Campus de Guarapuava

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EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO DE CIÊNCIAS: UMA ABORDAGEM A PARTIR DO MATERIALISMO HISTÓRICO E DIALÉTICO

G ism eire H am ann A ndrade 1

A na Lúcia C risóstim o

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ABSTRACT: Th is s tudy is the resu lt of a qua lita tive research in m oda lity o f research-action deve loped during the years 2007 and 2008 w ith in the P rogram o f Educa tiona l D eve lopm ent – ED P, the G overnm ent o f the S ta te o f Parana . Its ob jective is to d iscuss abou t the pedagog ica l p ractice in Environm enta l Educa tion adop ted by Science teachers o f the s ta te ne tw ork o f the m un ic ipa lity o f C andó i/PR , in the years 2006 and 2007 . AN D a lso propose a m ethodo logy o f the w ork in th is issue under a focus and d ia lectica l m a te ria lis t h is to rica l p rov id ing a llow ance and con tribu ting to the deve lopm ent o f an env ironm enta l educa tion aga inst-hegem on ic , critica l and m anufactu ring to coun te r cu rren ts idea lis tic d iffe ring soc ia l issues, and tha t w ou ld lead to understand ing the rea lity in its en tire ty and con trad ic tions. Ev idenced-that the searched teachers have a pedagog ica l concep tion in fluenced by C artes ian ra tiona lism and /o r the na tu ra lism , resu lting in m ethodo log ica l re fe rra ls based on loca l practices, o ften na ïve , em pty, decon textua lized , iso la ted from a ll and con trad ic tions in B raz il and in the w orld , the re fo re , idea lis tic . w e ll-understood tha t

RESUMO. Este estudo é resu ltado de um a pesqu isa qua lita tiva na m oda lidade de pesqu isa -ação desenvo lv ida duran te os anos de 2007 e 2008 den tro do P rogram a de D esenvo lv im ento Educaciona l – PD E, do G overno do Estado do Paraná. Seu ob je tivo é d iscu tir sobre a prá tica pedagóg ica em Educação Am b ien ta l ado tada pe los p ro fessores de C iênc ias da rede estadua l do m un ic íp io de C andó i/PR , nos anos de 2006 e 2007 . E tam bém propor um a m etodo log ia de traba lho nesta tem ática sob um en foque m ate ria lis ta h is tó rico e d ia lé tico , fornecendo subsíd io e con tribu indo com o desenvo lv im en to de um a educação am b ien ta l con tra-hegem ôn ica , crítica e transform adora que se con traponha às co rren tes idea lis tas d is tanc iadas das questões soc ia is , e que leve ao en tend im ento da rea lidade em sua to ta lidade e con trad ições. Ev idenciou-se que os pro fessores pesqu isados possuem um a concepção pedagóg ica in fluenciada pe lo rac iona lism o ca rtes iano e /ou pe lo na tu ra lism o, resu ltando em encam inham entos m etodo lóg icos baseados em p ráticas loca is , m u itas vezes ingênuas, vaz ias, descon textua lizadas, iso ladas da to ta lidade e das con trad ições ex is ten tes no B ras il e no m undo , po rtan to , idea lis tas. Ass im percebeu-se que a inda ex is tem m u itos desa fios a se rem superados não só na d isc ip lina de C iênc ias, m as na educação , pa ra que a esco la possa cum prir e fe tivam ente com o seu pape l soc ia l: a em ancipação hum ana a través da apropriação do con teúdo c ien tífico h is to ricam ente produzido pe la hum an idade . D esa fios estes que só se rão so luc ionados a través da fundam entação teórica c ien tífica consis ten te dos p ro fessores; que sem dúvida a lgum a se in ic ia pe la consc iênc ia de c lasse e pe la lu ta po r um a transfo rm ação soc ia l que cu lm ine num novo m odo de produção .

Palavras-chave: Educação am b ienta l; Educação am b ien ta l crítica ; Educação am b ien ta l transfo rm adora .

1 P ro fessora da R ede Estadua l do Paraná desde 1996. G raduada em C iênc ias, L icencia tura de 1o G rau, com hab ilitação P lena em B io log ia e Especia lis ta em B io log ia G era l pe la U NIC EN TR O . 2 P ro fessora D outora do D epartam ento de C iênc ias B io lóg icas da U N IC EN TR O - C am pus de G uarapuava

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2 the re a re still m any cha llenges to be overcom e no t on ly in the d isc ip line o f Sc iences, bu t in educa tion , so tha t the schoo l can fu lfill e ffective ly w ith its soc ia l ro le: hum an em ancipa tion th rough the ow nersh ip o f the sc ien tific con ten t h is to rica lly p roduced by hum an ity . T hese cha llenges w ill on ly be so lved th rough theore tica l sc ien tific consis ten t o f teachers; tha t certa in ly beg ins by the aw areness o f c lass and the s trugg le fo r a soc ia l transfo rm ation w h ich cu lm ina te in a new m ethod o f p roduction . Key-words: env ironm enta l educa tion ; env ironm enta l educa tion critic ism ; env ironm enta l educa tion m anu factu ring .

INTRODUÇÃO

Este estudo é resu ltado de um a pesqu isa qua lita tiva na m oda lidade de pesqu isa -ação desenvo lv ida duran te os anos de 2007 e 2008 den tro do P rogram a de D esenvo lv im ento Educaciona l – PD E, do G overno do Estado do Paraná. Seu ob je tivo é d iscu tir sobre a p rá tica pedagóg ica em Educação Am b ien ta l desenvo lv ida pe los p ro fessores de C iênc ias da R ede Estadua l do M un ic íp io de C andó i/PR , nos anos de 2006 e 2007 e propor um a m etodo log ia de traba lho nesta tem ática sob um en foque m ateria lis ta h is tórico e d ia lé tico .

É nesta pe rspectiva que nos propusem os duran te este estudo a : apro fundar pesqu isas sobre as concepções e tendências a tua is de Educação Am b ien ta l na lite ra tu ra; ve rificar qua is as concepções que os p ro fessores de C iênc ias possuem sobre hom em , na tureza , C iênc ia , tecno log ia , traba lho ; exp lic ita r os conce itos de hom em , na tu reza , tecno log ia , C iênc ia , traba lho com um en foque m ateria lis ta h is tó rico e d ia lé tico ; fazer o levan tam ento e a aná lise de docum entos que re tra tem as a tiv idades e dos p ro je tos desenvo lv idos pe los p ro fessores de C iênc ias, da R ede Estadua l, no m un ic íp io de C andó i, em Educação Am b ien ta l, nos anos le tivos de 2006 e 2007 ; p ropor um a re flexão co le tiva sobre as m udanças necessárias para um a abordagem dos p rob lem as am b ien ta is que eng lobe rea lm en te a to ta lidade , exp lic itando os conce itos de hom em , práx is , na tu reza e ev idenciando as con trad ições ex is ten tes; e laborar um C D-R O M com um a proposta m etodo lóg ica de Educação Am b ienta l para a d isc ip lina de C iênc ias baseada no m ate ria lism o h is tórico e d ia lé tico ; e traba lha r com o grupo de pro fessores de C iênc ias da R ede Estadua l do m un ic íp io de C andó i, v isando à superação da v isão fragm entada e vaz ia , com um novo o lhar para a C iênc ia e a Educação Am b ien ta l. É oportuno aqu i con textua lizarm os a nossa rea lidade loca l, um a vez que toda a aná lise fe ita neste estudo parte de nossa p rá tica soc ia l.

O m un ic íp io de C andó i fo i insta lado em 1993 , sendo desm em brado do m un ic íp io de G uarapuava , loca lizando-se na m icro-reg ião C en tro -Su l do Paraná e

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3 m eso-reg ião C andó i. Está a 950 m de a ltitude e d is tan te 287 Km de C uritiba . F az parte da Associação dos M un ic íp ios da C antuqu iriguaçú , que reúne 21 m un ic íp ios en tre G uarapuava e C ascave l. Possu i 1 .513 Km 2 de á rea c ircuncidadas por us inas h id re lé tricas. A a tiv idade econôm ica princ ipa l é a ag ricu ltu ra e a extração de m ade ira . E apesar da idé ia d ifund ida no Estado em v irtude da F esta N aciona l do C harque , de que e le é um m un ic íp io rico e em desenvo lv im en to, têm -se aqu i m u itos p rob lem as soc ia is e am b ien ta is (ass im com o em todo o B ras il e no m undo), den tre e les fa lta de em prego e m orad ia , m á d is tribu ição de renda e da te rra e a m ise rab ilidade , o que está re fle tido no ID H (Índ ice de D esenvo lv im en to H um ano) de 0 ,711 , segundo o A tlas de D esenvo lv im en to H um ano – PN D U 2000 ; o que garan te a co locação de 297º lugar en tre os m un ic íp ios pa ranaenses e o 2 .795º lugar en tre os m un ic íp ios bras ile iros.

A popu lação , segundo o senso de 2000, é de 14 .185 hab itantes, sendo que a m a io ria de la v ive no cam po, se ja em terrenos p róprios, ou em assen tam entos e acam pam entos ou , a inda , nas fazendas nas qua is traba lham . Percebe-se , a inda , que ocorre a fa lta de iden tidade própria dos su je itos do cam po bem com o a desva lo rização do cam po e a superva lo rização da c idade , acarre tando em êxodo ru ra l e inchaço das fave las que su rg iram , nos ú ltim os anos, decorren tes da venda ou troca de lo tes em assentam entos dev ido às m ás cond ições de v ida e traba lho , ag ravadas pe lo fa lho s is tem a b ras ile iro de re fo rm a agrá ria. O u pe lo fato de que vá rios pequenos proprie tá rios se desfizeram de suas terras pa ra sa lda r dív idas; ou pe los p rob lem as que en fren tam no cam po devido à prá tica do m ode lo de agricu ltu ra cap ita lis ta , que só func iona para os la tifúnd ios e a inda ass im causando vá rios im pactos soc ia is e am b ien ta is . O u, a inda , in fluenciados pe las fa lsas idé ias que lhes fo ram incutidas pe la ideo log ia da c lasse dom inan te e do m odo cap ita lis ta de p rodução .

Em C andó i ex is tem c inco esco las estadua is de Ensino F undam enta l onde qua tro de las possuem tam bém Ensino M éd io . Segundo dados postados no SEED , Porta l Educaciona l da SEED /PR a rede estadua l de ens ino possu i 87 pro fessores que a tuando no ano le tivo de 2008 , dos qua is onze de les são da á rea de C iênc ias. O C o lég io Estadua l San ta C la ra é o m a io r co lég io e ne le a tuam se te dos p ro fessores de C iênc ias da rede estadua l. N este estabe lec im ento ex is tem 1 .223 a lunos m atricu lados em 2008 , que correspondem a 53 ,9% dos a lunos m atricu lados na rede estadua l do m un ic íp io . Em grande parte , os a lunos são do C am po e m u itos m oram na c idade ou possuem pequenos te rrenos ou a inda , seus pa is traba lham em fazendas.

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N otam os, de m odo gera l, um a fa lta de in te resse dos a lunos em re lação às a tiv idades esco la res, o que pode ter adv indo da fa lta de perspectivas de fu turo em decorrênc ia de v iverem o m om ento , ou a inda da desarticu lação cu rricu la r com a rea lidade em que v ivem . Em ou tras pa lavras a esco la não re flete o m odo com o os a lunos e suas fam ílias p roduzem a sua própria ex is tênc ia . Adem a is, ana lisando os háb itos de m u itos a lunos, pe rcebe-se que , com o a m a io ria das pessoas nesta soc iedade cap ita lis ta com suas a tua is reg ras de m ercado, faz esco lhas in fluenciadas e subord inadas “aos ape los pub lic itários e ido la tria do consum o” sem questionar e te r “a rgum entos para pos ic ionar-se e tom ar dec isões p róprias, de fo rm a consc ien te ” (PAR AN Á, 2006 , p . 26 ).

N o que d iz respe ito a inda às cond ições am b ien ta is ev idenciam os que por m a is que se jam desenvo lv idos pro je tos ou traba lhados tem as na esco la não se vê re flexo na prá tica dos a lunos. Pe lo que observam os desde o estado de conservação do am b ien te fís ico esco la r a té ou tras ações do co tid iano dos a lunos e de suas fam ílias. O que dem onstra que a lgo na prá tica pedagóg ica p rec isa se r m udado para que rea lm en te ha ja um a transfo rm ação da rea lidade posta .

Crise ambiental ou crise do capitalismo?

A d iscussão sobre a questão am b ien ta l não é recen te . D IAS (1994 , p . 20 ) nos lem bra que já em 1949 a rtigos de A ldo Leopo ldo “cham avam a a tenção para a necess idade de um a é tica de uso dos recursos da terra ”. E em 1962 , R ache l C arson “lançava seu liv ro P rim avera S ilenc iosa que se to rnaria um c láss ico do m ovim ento am b ien ta lis ta m und ia l com grande repercussão” (Id.)

Percebe-se que “a questão am b ien ta l cada vez m a is vem ganhando destaque na p reocupação m und ia l, p rinc ipa lm en te em to rno da percepção de um a crise am b ien ta l instau rada que extrapo la as fron te iras geopo líticas a ting indo todo o p lane ta ” (AN SELO N I e ALB ER T O , 2006 , p. 144). M esm o ass im a inda não se chegou a um consenso nos debates sobre este tem a, is to po rque ex is tem “d ife ren tes en tend im entos sobre o ‘am b ien ta l”, e "d ife rentes com preensões sobre as causas da crise e m ode los de ação para o en frentam ento desta ”; e que “esse debate é tam bém perm eado por d iferen tes in te resses e pos ic ionam entos po líticos (Id.).

Ana lisando-se a h is tó ria, pe rcebe-se que a ra iz de todos os p rob lem as am b ien ta is está na separação do hom em e da na tu reza , o que o levou a incorpora r a idé ia de “dom iná-la ”, com o se e le m esm o não pertencesse a esta na tu reza. Este

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5 pensam ento o rig inou-se com R ené D escartes e vem a té os nossos d ias. Segundo G O N Ç ALVES (2005), pode-se perceber do is aspectos p rinc ipa is da filoso fia ca rtes iana que m arcam a m odern idade :

1º) o caráter pragm ático que o conhecim ento adquire ... D essa form a, o conhecim ento cartes iano vê a natureza com o um recurso, ou se ja , com o (...) um m eio para se ating ir um fim ; e , 2º) o antropocentrism o, is to é , o hom em passa a ser v is to com o o centro do m undo; o su je ito em oposição ao ob je to , à natureza. (G O N Ç A LV ES , 2005. p . 33)

Este au to r a inda destaca que “a idé ia de um a na tu reza ob je tiva e exte rio r

ao hom em , o que p ressupões um a idé ia de hom em -não na tura l e fo ra da na tu reza , cris ta liza -se com a c iv ilização industria l inaugurada pe lo cap ita lism o” (Ibid, p . 34 ). D esse m odo pode-se supor, en tão , que a grave crise am b ien ta l v iv ida é fru to do a tua l s is tem a de p rodução ado tado , ge rador não só prob lem as am b ien ta is , com o tam bém graves prob lem as soc ia is , den tre os qua is a des igua ldade , que, segundo BEC K (Apud L IM A , 2005 p . 125) é o p rob lem a “am b ien ta l” m a is im portan te do p lane ta e tam bém o m a io r p rob lem a no rum o do desenvo lv im en to .

T ozzon i-R e is (2004 , p . 32 ) susten ta que a o rigem da crise am b ien ta l está associada “a fa tores po líticos e econôm icos, com o o m ode lo cap ita lis ta , seu m odo de p rodução , a construção de necess idades a rtific ia is e exp lo ração desm ed ida dos recursos na tura is pa ra sa tis fazê-las, o estím u lo ao consum o, a busca do lucro e a subm issão púb lica aos in te resses p rivados”. E a inda que “qua lquer ten ta tiva de superação da crise am b ien ta l deva conside ra r a com preensão de seus de te rm inan tes h is tóricos, ou se ja , só tem sen tido na superação da exp lo ração do hom em sobre o hom em pe lo traba lho , num a perspectiva de construção de um a nova soc iedade” (T O Z ZO N I-R E IS Apud AN SELO N I e ALBER T O , 2006 p. 152).

Bo ld rin i m u ito bem esc la rece que “não é o hom em com o ser genérico que está to rnando insusten táve l a v ida soc ia l e am b ien ta l no p lane ta , m as o m odo de p rodução cap ita lis ta ”. E , neste sen tido, e le en fa tiza a em inen te transfo rm ação deste m odo de p rodução “pa ra que a na tu reza tam bém se ja transfo rm ada sem que hom em e na tu reza co rram o risco de extinção com o denuncia o pensam ento am b ien ta lis ta ” (BO LD R IN I, 2002 p . 10 ). Is to se deve ao fa to de que “na soc iedade cap ita lis ta o va lo r de uso das m ercadorias se expressa pe lo va lo r de troca”, sendo a na tu reza va lo rizada apenas se puder ser trocada por ou tra m ercadoria , de p re fe rênc ia , o d inhe iro. Ass im a consc iênc ia dos hom ens está m ed iada pe la fo rm a m ercadoria /d inhe iro e não pe la ideo log ia de p reservação , conservação, respe ito à na tu reza, desenvo lv im en to susten táve l às futu ras gerações e eco log ia . O re ferido au to r tam bém m enciona que a “p rodução cap ita lis ta criou as cond ições m ate ria is da ex is tênc ia hum ana em sociedade no seu estág io m a is avançado” e é e la tam bém

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6 que “am eaça destru í-las, caso as re lações de p rodução não se jam revo luc ionadas pe las fo rças produ tivas que se desenvo lve ram em m e io às con trad ições deste m odo de p rodução” (Id.).

O s is tem a cap ita lis ta de p rodução criou um a soc iedade descartáve l, onde os bens p roduzidos não servem para suprir as necess idades hum anas de subsis tênc ia , m as têm a u tilidade de fin ida no dom ín io do va lo r de troca (M ESZ ÁR O S, 1989). Ass im v ivem os num cenário de “co is ificação de tudo e de todos, da bana lização da v ida , de ind iv idua lism o exacerbado e de d ico tom ização do hum ano com o ser des locado da na tu reza” (LO U R EIR O , 2006 , p . 94 ). O nde a “va lo rização do m undo das co isas, aum enta em p roporção d ire ta a desva lorização do m undo dos hom ens” (Id .). Sob este aspecto ass im com o o traba lho p roduz m ercadoria e se transform a o p róprio traba lho e o traba lhador em m ercadoria (M AR X, 2002 , p .111).

C oncordam os com vários au tores estudados, e re ferenc iados neste estudo , ao a firm arem que qua lquer fo rm a de cap ita lism o é soc ia lm en te e am b ien ta lm en te . C om o ressa lta D uarte , “a g rande con trad ição do esp írito de p rodução cap ita lis ta , o rien tada para lucros im ed iatos, estaria na v io lação das cond ições de susten tab ilidade im postas pe la na tu reza”, po rtan to , pre jud ica o “in tercâm b io m ateria l en tre o hom em e a te rra ” e acaba “com as o rigens da p rópria p rodução cap ita lis ta : a te rra e o hom em traba lhador” (D U AR T E, 1986 , p . 85).

Sorren tino cham a a a tenção para a ex is tência de duas g randes corren tes no cam po do desenvo lv im en to susten táve l, am bas vo ltadas para a fina lidade de p roposições de so luções que “coadunem com a necess idade de p reservação da b iod ive rs idade , conservação dos recursos na tu ra is , desenvo lv im en to loca l e d im inu ição das des igua ldades soc ia is” (SO R R EN T IN O , 2005 , p . 19 ). Porém um a de las “po r m e io de novas tecno log ias; po líticas com pensató rias, tra tados in te rnac iona is de cooperação e de com prom issos m u ltila tera is , estím u lo ao eco tu rism o, certificação ve rde de m ercados a lte rna tivos, en tre ou tros”; e a ou tra tendência “po r in te rm éd io da inc lusão soc ia l” (Id.). O m esm o au to r, ana lisando m a is p ro fundam ente estas duas tendências, expõe que a p rim e ira de las é fragm entada “quan to à pe rcepção do con jun to de fa tores que levam aos im passes que v ivem os e lim ita -se a p ropor so luções den tro da lóg ica de m ercado”. Enquan to a segunda “p re tende um a com preensão da to ta lidade das causas da não-susten tab ilidade e da crise c iv iliza tó ria , m as lim ita -se à fo rm u lação de propostas reg iona is , po is a ex igência de partic ipação de todos, a to rna pequena e não a rtesana l. E le tam bém v is lum bra que se “dese jam os a construção de soc iedades susten táve is que

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7 bene fic iem a todos os hab itan tes e e lem entos com os qua is com partilham os este p lane ta , prec isam os supera r as lim itações dessas duas tendências, o que ex ige po líticas púb licas vo ltadas para a inc lusão e a pa rtic ipação” (Ibid., p . 19 ).

A partir desta ú ltim a co locação en tão é necessário esc larecer que a idé ia de susten tab ilidade que conside ram os é a m esm a p roposta po r R U SC H EIN SK Y (2003 , p . 1): “um senso pro fundam ente é tico , de igua ldade e justiça soc ia l, de p reservação da d ive rs idade cu ltu ra l, de au tode te rm inação das com un idades e de in teg ridade eco lóg ica .” D essa fo rm a com o o au to r m esm o sa lien ta “a nossa questão fundam enta l não é m a is v iver m e lhor am anhã , m as v ive r de m odo d ife ren te ho je , aqu i e agora e , para que isso acon teça , exige p ro fundas m udanças na fo rm a de pensar, v iver, produzir e consum ir” (Id.).

O papel da Educação Ambiental (E. A.)

D IAS (1994 , p . 21 ) lem bra que na C on fe rência de Estoco lm o (Suécia) -

cons ide rada um m arco h is tó rico po lítico in te rnac iona l pa ra o surg im ento de po líticas de gerenciam ento am b ien ta l - o desenvo lv im en to da Educação Am b ien ta l fo i reconhecido “com o e lem ento crítico pa ra o com bate à crise am b ien ta l no m undo”, e en fa tizou-se “a u rgência da necess idade do hom em reordenar suas p rio ridades” (Ibid., p . 22 ). E tam bém expõe que na C on fe rência de T b ilis i, (G eorgea) fo i p roduzida a D eclaração sobre a Educação Am b ien ta l (docum ento técn ico que apresen tava as fina lidades, ob je tivos, p rincíp ios o rien tadores e estra tég ias para o desenvo lv im en to da E . A .) (Id.). D esde então a E . A . vem sendo m u ito d iscu tida e ap resen tada sob d ive rsas concepções.

T odos os au to res a tua is que d iscu tem a Educação Am b ien ta l, apesar de suas abordagens e concepções d ife renc iadas, apon tam para um pon to com um : a insusten tab ilidade do a tua l m ode lo de p rodução . M esm o aque les que de fendem um m ode lo cap ita lis ta de p rodução concordam em do is pon tos: reconhecem os g raves p rob lem as am b ien ta is causados por este m ode lo , e ev idenciam a insusten tab ilidade do m ode lo cap ita lis ta a tua l. É o que en fa tiza C APR A (2005 , p . 155) quando d iz p rim e iro que “o cap ita lism o g loba l fez aum enta r a pobreza e a des igua ldade soc ia l não só a través da transfo rm ação das re lações en tre o cap ita l e o traba lho , m as tam bém pe lo p rocesso de ‘exc lusão soc ia l’”. E segundo que “a lém de sua instab ilidade econôm ica , a form a a tua l do cap ita lism o g loba l é insusten táve l dos pon tos de v is ta eco lóg ico e soc ia l, e por isso não é v iáve l a longo p razo” (Ibid., p . 167).

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A Agenda 21 (D ocum ento e laborado durante a C on fe rênc ia das N ações U n idas para o M e io Am b ien te e o Desenvo lvim en to (Eco92), em junho de 1992 , no R io de Jane iro ) traz a Educação Am b ien ta l com o o p rinc ipa l instrum ento para a transform ação do a tua l m ode lo de desenvo lv im en to , bem com o para a construção do desenvo lv im en to susten táve l. Bo ldrin i, po rém , ana lisou a concepção de desenvo lv im en to susten táve l que v igo ra en tre nós e está p resen te neste docum ento , e pe rcebeu que esta conside ra o esgo tam ento dos recursos na tura is não renováve is com o a p rinc ipa l causa da insusten tabilidade , sendo este decorren te da superpopu lação e do superconsum o. Porém e le en fa tiza nesta aná lise que “em nenhum m om ento esta concepção critica a superpopu lação e o superconsum o com base na superp rodução”. Segundo e le isso não ocorre “porque este pensam ento não m ergu lha nas ra ízes dos p rob lem as do superconsum o e da superpopu lação” pe lo fa to de que em “toda p rodução teórica da concepção de desenvo lv im en to susten táve l não há qua lquer crítica à propriedade p rivada dos instrum entos do traba lho e à superprodução de m ercadorias” (BO LD R IN I, 2002 , p . 9 ).

N um a aná lise das correntes de E . A . d ifund idas, Sorren tino (1995) iden tifica as p rinc ipa is co rren tes p resen tes a tua lm en te . A conservac ion is ta, o rgan izada em to rno da p reocupação de p reserva r os recursos na tura is in tocados, p ro tegendo a flora e a fauna do con ta to hum ano e da degradação . A educação ao ar liv re , que incen tiva e de fende cam inhadas eco lóg icas, o eco tu rism o e o au to -conhecim ento em con ta to com a na tureza . A gestão am b ien ta l, de grande in te resse po lítico , pa rtic ipa de m ovim entos soc ia is , da de fesa dos recursos na tu ra is e da partic ipação das popu lações na reso lução de seus p rob lem as. São críticos do s is tem a cap ita lis ta e do ca ráte r p reda tó rio de sua lóg ica . E a econom ia eco lóg ica , insp irada no conce ito de ecodesenvo lv im en to , usada com o m ode lo teó rico -m etodo lóg ico por d iversos o rgan ism os e bancos in ternac iona is , tam bém d ive rsos o rgan izações não-governam enta is (O N G s) e associações am b ienta lis tas tam bém são adep tas desta idé ia .

BR U G G ER (1994 Apud L IM A 1999 , p. 8 ) tam bém reconhece a g rande d ive rs ificação das abordagens em educação am b ien ta l, porém pe lo fa to de com o o conhecim ento está organ izado na soc iedade , as ag rupa em apenas duas U m a que ressa lta os fa to res h is tóricos e soc ia is e suprim e os aspectos técn icos e na tu ra is da questão am b ien ta l. Esta segundo a au to ra é p rópria das c iênc ias hum anas. E a ou tra que en foca e fe tivam ente aspectos técn icos e na tu ra is dos p rob lem as am b ien ta is . Esta ú ltim a na v isão da au tora p reva lece sobre a p rim e ira , dev ido “à h is tó rica fragm entação do saber, que d iv ide as c iênc ias soc ia is e na tu ra is e à

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9 d im ensão instrum enta l do conhecim ento instituc iona lizado pe la soc iedade industria l” (Id.)

C AR VALH O (1995 , p . 60 ) ana lisa as p ropostas de educação Am b ien ta l p ra ticadas no B ras il sa lien tando as concepções pedagóg icas, filosó ficas e po líticas de cada um a. A au tora ve rifica que o d iscu rso e a p rá tica do tados p redom inan tem ente em nosso pa ís são conservac ion is tas, ind iv idua lis tas e com portam enta lis tas. E en fa tiza que o p rinc ipa l p rob lem a dessas concepções é reduzirem a questão am b ien ta l a um a questão exc lus iva de “susten tab ilidade fís ica /b io lóg ica e de gestão dos recursos na tu ra is”, negando a susten tab ilidade po lítica de ta is recursos (Id). D essa fo rm a estas propostas a lm e jam reverter os p rocessos de degradação apenas a través da m udança de com portam entos ind iv idua is que re forcem a conservação do am b ien te .

L im a (1999) faz duas consta tações s ign ifica tivas e a rticu ladas que estão p resen tes nas propostas ana lisadas com re lação à educação e a questão am b ien ta l. P rim e iram ente um a v isão un ilate ra l e fragm entada do p rob lem a, separando a rea lidade e exp lic itando-a som ente a pa rtir de um a de suas partes, gerando exp licações d ico tôm icas que separam “a exp licação técn ica / da exp licação po lítica ; a v isão eco lóg ica /da v isão soc ia l; a abordagem com portam enta l/da abordagem po lítico - co le tiv is ta ; a percepção dos e fe itos/da percepção das causas, en tre ou tras d ico tom ias possíve is” (L IM A , 1999 , p . 10 ). E depo is que “essa exp licação d ico tôm ica e fragm entada da rea lidade favorece um a com preensão despo litizada, a lienada e redu tora do p rob lem a” um a vez que esconde “seus m otivos po líticos e a inev itáve l conexão de suas m ú ltip las d im ensões” (Id.).

En fa tizam os a Educação Am b ien ta l transfo rm adora , su rg ida a partir de um a concepção de educação s is tem atizada duran te a década de 1970 , orig iná ria da Pedagog ia H is tórico -C rítica e da Pedagog ia L ibe rtá ria (LIM A , 1999 , p. 24) na qua l pe rcebe-se um a g rande aprox im ação da concepção de Educação Am b ien ta l que aqu i se p ropõe, ca racterizada com o dem ocrá tica, pa rtic ipa tiva, crítica , transform adora , d ia lóg ica m u ltid im ensiona l e é tica (Ibid., p . 13).

T am bém cham ada de em ancipa tó ria , crítica, popu lar ou a inda educação soc ioam b ien ta l, tem com o base para pensar e transform ar o m undo o m étodo d ia lé tico m arx is ta , acred itando que este m étodo "se co loca com o um a oposição a qua lquer form a de idea lism o que priv ileg ia o p lano das idé ias e a qua lquer teoria que separa a m até ria do pensam ento". (Ibid., p . 108). É um a p roposta que vem ao encon tro a um a nova perspectiva de soc iedade (LO U R EIR O , 2006 , p . 88 ), po is conside ra que para a crise am b ien ta l v iv ida ho je não há so luções com patíve is “en tre

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10 o am b ien ta lism o e o cap ita lism o ou a lterna tivas m ora lis tas que des locam o com portam enta l do h is tórico -cu ltura l e do m odo com o a soc iedade está estru tu rada ” (Ibid., p . 94 ).

A Educação Am b ien ta l crítica "insp ira-se no d iá logo , no exercíc io da c idadan ia , no fo rta lec im en to dos su je itos, na superação das fo rm as de dom inação cap ita lis ta e na com preensão do m undo em sua com p lex idade e da v ida em sua to ta lidade" (Ibid., p . 90 ). Possu i "um con teúdo em ancipa tó rio , em que a d ia lé tica en tre fo rm a e con teúdo se rea liza de ta l m ane ira que as a lterações da a tiv idade hum ana, v incu ladas ao fazer educa tivo , im p liquem m udanças ind iv idua is e co le tivas, loca is e g loba is , estrutu ra is e con juntu ra is , econôm icas e cu ltura is" (Id.). Sob este pon to de v is ta , a educação é en tend ida com o "p ráx is soc ia l que con tribu i pa ra a construção de um a nova soc iedade" pau tada num novo m ode lo c iv ilizac iona l onde a "susten tab ilidade da v ida, a a tuação po lítica consc ien te e a construção de um a é tica que se firm e com o eco lóg ica se ja o seu ce rne" (Id.). C om o a firm a L IM A (1999 , p .13) "um a educação crítica d irig ida ao am b ien te, que v isa com bater o com portam ento m ecân ico , im ita tivo e dependen te ".

LO U R EIR O (2000 , p . 69 ) conce itua a E . A . com o “um a p ráx is educa tiva e soc ia l que tem por fina lidade a construção de va lo res, conce itos, hab ilidades e a titudes que poss ib ilitem o en tend im ento da rea lidade de v ida e a a tuação lúc ida e responsáve l de a tores soc ia is ind iv idua is e co le tivos no am b ien te ”. O m esm o au to r ressa lta que e la é um “e lem ento inse rido num con texto m a io r, que p roduz e reproduz as re lações da soc iedade as qua is , pa ra se rem transfo rm adas, dependem de um a educação crítica e de um a série de ou tras m od ificações nos p lanos po lítico , soc ia l, econôm ico e cu ltu ra l” (Ibid., p . 92 ). E le a inda concebe a E . A . com o “um todo d inâm ico” que “con tribu i pa ra a ten ta tiva de im p lem entação de um p lano c iv ilizac iona l e soc ie tá rio d is tin to do v igente” fundam entado num a “nova é tica da re lação soc iedade-na tu reza”; e é o e lem ento estra tég ico na fo rm ação da am p la consc iênc ia crítica das re lações soc ia is e de p rodução que s ituam a inse rção hum ana na na tureza . C onsciênc ia esta que, segundo o au to r, im p lica no m ovim ento d ia lé tico en tre o desve lam ento crítico da realidade e a ação soc ia l transfo rm adora (Ibid., p . 69 ).

A partir dessa concepção a p rá tica pedagóg ica em E . A . deve esta r com prom etida “com as lu tas soc ia is e popu la res” e “saber re lac ionar os e lem entos sóc io -h is tó ricos e po líticos aos conce itos e con teúdos transm itidos e construídos na re lação educador - educando” ev itando um a p rá tica educativa abstra ta , pouco re lac ionado à “ao co tid iano dos su je itos soc ia is e com a p rá tica c idadã” (Ibid., p . 80 ).

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Entendem os “que o m a ior g rau de conhecim ento fo rm a l-não instrum enta l não é ga ran tida de m a io r qua lificação para o exercíc io da c idadan ia eco lóg ica quando se apresen ta iso lado da com preensão g loba l da rea lidade” (Ibid., p .81 ). E sa lien tam os que nesse sen tido a c idadan ia é en tend ida “com o a lgo que se constró i pe rm anen tem ente , que não possu i origem d iv ina ou na tu ra l, nem é fo rnec ida por governan tes, m as se constitu i ao dar s ign ificado ao pertenc im en to do ind iv íduo a um a soc iedade , em cada fase h is tó rica ” (Ibid., p . 75 ).

N a v isão da E . A . transfo rm adora , C iência e fo rm ação crítica devem re lac ionar-se , levando a um a com preensão sobre qua is as cond ições em que se deu o desenvo lv im en to do saber c ien tífico e "a favor do que e de quem ". Bem com o à apropriação "base instrum enta l e re flex iva necessária para a educação , para a a lte ração ob je tiva das cond ições de v ida da popu lação e reversão do processo de degradação e exp lo ração das dem a is espécies e da na tu reza com o um todo , rom pendo com dogm as e obstácu los à libe rdade hum ana" (Ibid., p . 30).

A Educação Ambiental e o Materialismo Histórico e Dialético

O m ateria lism o h is tó rico e d ia lé tico é um a “oposição d ire ta a toda fo rm a de

idea lism o que co loca a suprem acia no p lano das idé ias e a toda teo ria que estabe lece o dua lism o en tre a m até ria e o pensam ento ” (LO U R EIR O , 2006 , p. 114). Ass im , o m ate ria l em M arx re fere -se “a ind iv íduos concre tos, às ações desenvo lv idas por estes, às re lações estabe lec idas e às cond ições de v ida, d iz respe ito [...] a com o a v ida é p roduzida , reproduzida e organ izada” (Ibid., p . 115). Sendo ass im , a m atéria é de fin ida com o “a o rgan ização a tiva do ser e da ex is tênc ia , e m ateria lidade as p róprias re lações soc ia is” ( Id.).

Loure iro (2006) sa lien ta que a d ia lética m arx is ta , de ixa de ser um m étodo para se obter verdades atem pora is , a expressão das le is do pensam ento puro que des loca a hum a nidade da natureza, e passa a entend er ta is verdades com o com preensões datadas e s ituadas no processo de transform ação da soc iedade e de rea lização hum ana e nquanto ser da natureza. E nfatiza tam bém a d im ensão h is tórica, com explíc itas preocupações soc ia is e po líticas. (LO U R E IRO , 2006, p . 115).

Pa ra pensarm os a educação am b ien ta l com base no m ateria lism o h is tó rico

e d ia lé tico é necessário esc la recerm os a lguns conce itos chaves. P rim e iram ente o conce ito de hom em é en tend ido com o um su je ito h is tó rico e concre to , sendo as de te rm inações soc ia is que de te rm inam sua consc iênc ia (M AR X, 1987 , p . 30). D essa fo rm a “o hom em é um ser na tu ra l un ive rsa l, soc ia l e consc ien te e a sua re lação com a na tu reza base ia -se no ca ráte r lim itado da na tu ra lidade hum ana, o que leva o

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12 hom em à dependência do seu eu com p lem enta r ou “corpo inorgân ico ”, que segundo M arx, é a na tu reza transform ada (TO ZZO N I-R E IS , 2004 , p . 38 ). A ssim “há um a

pertença re la tiva do hom em à p rópria natu reza , sendo este po rtador de um o rgan ism o do tado de p rocessos na tu ra is que lhe poss ib ilitam usar sua força fís ica no traba lho ” (D U AR T E, 1986 , p . 86 ).

Em re lação ao conce ito de na tu reza , “a concepção m arx is ta po r se r d ia lé tica re tira a inocência do pensam ento m ítico e a p resunção do m ecan ic ism o, e a inda , po r se r m ate ria lis ta m an tém a especific idade do m undo fís ico ” (Ibid., p . 105). Em M arx, o conce ito de na tu reza é h is to ric izado , se faz na sua re lação com o hom em na h is tó ria , dete rm inado pe lo p rocesso produ tivo (T O Z Z O N I-R E IS , 2004 , p . 38 ).

Segundo D U AR T E (1986 , p . 63 ) o processo de traba lho “é um a transação en tre o hom em e a na tu reza” onde o hom em en fren ta a na tureza a tuando sobre e la “com o ob je tivo de se apropria r de suas m até rias pa ra a sa tis fação de suas necess idades o rgân icas e, no que e le a transfo rm a, transfo rm a tam bém sua p rópria na tu reza”.

LO U R EIR O (2002 , p . 16 ) a firm a que “M arx v ia a econom ia com o a base na tu ra l da soc iedade, pau tada na produção e na transform ação da natu reza”. Sob ta l en foque , “as re lações dos hom ens com a na tu reza são v is tas, então , com o m ed iadas pe lo traba lho, criando , ass im , o hom em com o ser na tu ra l e soc ia l” (T O ZZ O N I-R E IS , 2004 , p . 39 ).

Para LO U R EIR O (2004 , p . 108) “a trad ição in ic iada em M arx, traz um sen tido revo luc ionário , com o um m étodo para, ao m esm o tem po, in te rpre ta r e m udar o m undo – p ráx is , e com o um a teo ria cu ja tese é que a ve rdade se constró i no m ovim ento da h is tória – d ia lé tica ”. E le a inda ressa lta que “o m ateria lism o h is tórico se co loca com o um a oposição a qua lquer fo rm a de idea lism o que p riv ileg ia o p lano das idé ias e a qua lquer teo ria que separa a m até ria do pensam ento ”. E [...] ag rega novos e lem entos cen tra is : a verdade com o com preensões datadas e s ituadas no percu rso de transfo rm ação da soc iedade e rea lização hum ana; a d im ensão h is tórica , com p reocupações soc ia is e po líticas; e a práx is , ou se ja , não im porta só en tender, m as s im ag ir e transform ar (Ibid., p . 114-115).

C arlos F . Loure iro ao com enta r pon tos re levan tes do pensam ento de M arx, en fa tiza : “A exp lic itação da re lação d ia lé tica en tre os fenôm enos po líticos, re lig iosos, ideo lóg icos e os con flitos de c lasse perm ite o en tend im ento do m odo de o rgan ização soc ia l e dos p rocessos a í engendrados na produção do se r hum ano por s i m esm o em suas m ed iações na na tu reza e na soc iedade”. (Ibid., p . 111). E segue

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13 destacando a im portânc ia da ep is tem o log ia de M arx pa ra a re flexão e form u lação de p ropostas de um a nova m etodo log ia em E . A .:

A com eçar pe la própria idé ia de um a transform ação soc ia l necessária . U m a educação insp irada nestas proposições é entend ida com o um instrum ento po lítico , com prom etido com a form ação hum anizadora e a transform ação da soc iedade, a partir de um entendim ento crítico e contextua lizado , inc lus ive, h is toricam ente, da rea lidade. A s prop osições de E A qu e se ap óiam nesta ep is tem olog ia , criticam outras concepções “idea lis tas ” no sentido de que e las não geram m udanças s ign ificativas, defendendo a idé ia d e que as bases eco lóg icas da su stentab ilidade estão não só n a esfera idea l (pensam entos, va lores e com portam entos), m as na m ateria l (no m odo de produção capita lis ta e nas re lações soc ia is). A ss im , são necessárias não só m udanças cu ltura is , m as tam bém socia is (LO U R E IR O Apud A N S E LO N I e A LB E R TO , 2006, p . 145).

DESENVOLVIMENTO

D uran te a pesqu isa ap licam os um questionário aos onze pro fessores de C iênc ias da R ede Estadua l no m un ic íp io , dos qua is o ito responderam . O re ferido questionário con tinha questões d irec ionadas em três b locos. O prim e iro re fe ria-se d ire tam ente a com o se desenvo lve a E . A . nas esco las e na d isc ip lina de C iênc ias. O segundo estava d irec ionado para as D ire trizes C urricu la res Estadua is de C iênc ias, abordando o conce ito de C iênc ia ado tado , os ob jetivos da d isc ip lina de C iênc ias e o pape l do p ro fessor de C iênc ias (ve rsão de 2006). E o ú ltim o , destinava-se a co le ta r as concepções de hom em , na tu reza , C iênc ia , educação , m odo de p rodução , instrum entos de traba lho , m a is va lia e hegem on ia p resen tes en tre os p ro fessores.

A través das questões ap licadas e da aná lise dos p lane jam entos, ve rificam os que a form a de traba lho na esco la se reduz a exp licações e in form ações re lac ionadas aos con teúdos abordados na d isc ip lina ; à ap resen tação de v ídeos e pa lestras sobre os prob lem as am b ien ta is ; à sensib ilização para os p rob lem as am b ien ta is e pa ra a necess idade de preservação do am b ien te ; e a p ro jetos sobre o lixo , rec ic lagem e reu tilização , ho rticu ltura , fab ricação e adubos en tre ou tros.

O bservam os nos p lane jam entos, nas a titudes e p rá ticas dos p rofessores o re flexo de concepções sobre C iênc ia , hom em , na tu reza e traba lho , ge ra lm en te in fluenciadas pe lo rac iona lism o cartes iano , onde o hom em é conside rado com o um ser iso lado dos ou tros an im a is e da na tureza e exerce to ta l dom ín io sobre a na tu reza. O u a in fluência do natu ra lism o. O u a inda , o tota l espontane ísm o e em p irism o, fru tos de um a concepção pós-m oderna onde tudo é vá lido e o conhecim ento é sub je tivo , não ex is tindo um a ún ica ve rdade . T odos pos ic ionam entos

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14 que geram encam inham entos m etodo lóg icos baseados em prá ticas loca is , m u itas vezes ingênuas, vaz ias, descon textua lizadas, iso ladas da to ta lidade e das con trad ições ex is ten tes no B ras il e no m undo .

Em nosso estudo con firm am os o m esm o que ve rificou L im a (1999) quando ana lisou criticam ente as p ropostas educaciona is na área am b ien ta l no B ras il e encon tra ne las os segu in tes p rob lem as:

a inc linaçã o a red uzir o prob lem a am bienta l a um pro b lem a técn ico, desv incu lad o d e outras considerações [...] (e) a questão am bienta l a um prob lem a estritam ente eco lóg ico; a le itura ind iv id ualis ta e com portam enta lis ta da questão e ed ucação am bienta l; aná lises que dão excess iva atenção aos efe itos aparentes do prob lem a am bienta l sem questionar su as causas profundas, que dão origem à crise a tua l; ressa ltar os prob lem as re lac ion ados ao consum o - des tino do lixo , rec ic lag em , poupar energ ia - em detrim ento dos prob lem as ligados à esfera da pro dução, [...]; equívoco de atribu ir as responsabilidades pe la destru ição am bienta l ao hom em enquanto espécie genérica (L IM A , 1999, p. 9).

N o tam os na p rá tica dos p ro fessores, p redom inan tem ente , a tendência de

um a le itura ind iv idua lis ta e com portam enta lis ta da questão e educação am b ien ta l, um a vez que encaram os prob lem as socioam b ien ta is com o um prob lem a de com portam entos ind iv idua is e acred itam na sua so lução a través da m udança de com portam ento dos ind iv íduos em sua re lação com o am b iente . Por consegu in te , concordam os com LO U R EIR O (2005 , p . 70) quando d iz que “a fa lta de c la reza do s ign ificado da d im ensão po lítica em Educação” é um a das g randes fa lhas que se rep roduz na E . A . O que pode ser ve rificado pe la a tuação dos educadores a través de in ic ia tivas am b ien ta lis tas lim itadas “à instrum enta lização e á sensib ilização para a p rob lem ática eco lóg ica , m ecan ism os de p rom oção de um cap ita lism o que busca se a firm ar com o verde e un ive rsa l em seu p rocesso de reprodução , ignorando-se , ass im , seus lim ites e paradoxos na v iab ilização de um a soc iedade susten táve l” (Id.).

T em os c la ra a d im ensão po lítica da educação , com o a firm a L IM A (1999, p . 2 ) “tan to a educação quan to a questão am b ien ta l, apesar das m ú ltip las d im ensões que envo lvem são , em nosso entend im ento , questões essencia lm en te po líticas que com portam v isões de m undo e in te resses d ive rs ificados”. Sendo que Loure iro (2005), com m u ita prob idez, dem onstra a d im ensão po lítica da educação , in ic ia lm en te porque “o conhecim ento transm itido e ass im ilado e os aspectos desenvo lv idos fazem parte de um con texto soc ia l e po lítico de fin ido . O que se p roduz em um a soc iedade é resu ltado desusa p róprias ex igências e con trad ições” (LO U R EIR O , 2005 , p . 72). D essa fo rm a dom inando o conhecim ento técn ico -c ien tífico o ind iv íduo poderá te r m a io r consc iênc ia de s i e será capaz de in te rv ir qua lificadam ente no am b ien te . O saber técn ico é parte do con tro le soc ia l e po lítico da soc iedade . E depo is pe lo fa to de que as re lações soc ia is estabe lec idas “na

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15 esco la , na fam ília , no traba lho ou na com un idade poss ib ilitam ” ao ind iv íduo um a “percepção crítica de s i e da soc iedade , podendo , ass im , en tender sua pos ição e inse rção soc ia l e constru ir a base de responsab ilidade para com o próx im o” (Id.).

A pe rda do ca rá ter em ancipa tó rio do am b ien ta lism o, para L im a (2005) é ev idenciado “na despo litização dos d iscu rsos e prá ticas am b ien ta is e no esvaziam ento dos con flitos ine rentes à questão am b ien ta l”, os qua is são substitu ídos g rada tivam ente “por d iscursos concilia tórios” ta is com o o do “desenvo lv im en to susten táve l” e da “m odern ização eco lóg ica ”; am bos baseados em “idé ias de cooperação , so lidariedade e com patib ilização” (L IM A , 2005 , p . 118). O m esm o auto r a inda esc la rece que “esse é o ou tro lado da instituc iona lização da questão am b ien ta l que o d inam ism o próprio do cap ita lism o operou em seu p rove ito , seqüestrando a crítica à soc iedade industria l e convertendo-a em m a is um instrum ento a serv iço de sua rep rodu tib ilidade (Id.).

C onsta tam os pe los p ro je tos desenvo lv idos um a fragm entação da rea lidade , fazendo com que os m esm os fossem reduzidos à sensib ilização e ao s im p les repasse de in form ações sobre o tem a. D essa fo rm a concordam os com C ardoso (2007) quando a firm a que a opção pelo desenvo lv im en to de p ro je tos “é abso lu tam ente fragm entadora das re lações pedagóg icas, secundarizando o con teúdo e laborado , o pape l do p ro fessor, bem com o a firm ando o espon tane ísm o das p rá ticas esco la res” (PAR AN Á, 2008 , p . 8 )

É p rec iso te rm os cu idado ao se traba lha r com pro je tos, po is segundo D uarte (2001)

a proposta d e trabalh ar em pro je tos secundar iza o próprio a to de e ns inar à m edid a em que re la tiv iza os conhecim entos, priv ileg ian do a construção ind iv id ual dos m esm os. P ro je tos acabam tendo com eço, m eio e fim . N este sentido, os tem as escolh idos acabam esgotando-se em s i m esm os. T em , por conseguinte , um a d im ensão utilitá ria , pragm ática e pontua l pautada n a reso lução de prob lem as. N o entanto, no contexto da soc iedad e du al e c lass is ta n a qual v ivem os, aprend em os e ens inam os, as questões soc ia is , am bienta is e econôm icas que se expressam na v io lênc ia , na droga dição e na sexualidade, entre o utras, não acabam ass im q ue acaba o pro je to na esco la e nem tam pouco são re so lv idas no âm bito curricu lar. (D U A R T E , 2001 apud P A R A N Á , 2008. p . 10)

Sobre as D ire trizes C urricu la res nosso questionário dem onstrou que os

p ro fessores não estavam preparados para entender e sequer ap lica r o que p ropunha a p rim e ira versão das D ire trizes C urricu la res de C iênc ias, baseada na pedagog ia h is tó rico -crítica , que por sua vez, fundam enta -se no m ate ria lism o h is tó rico e d ia lé tico . Isso porque a form ação acadêm ica na área de C iênc ias é extrem am ente pos itiv is ta , basta c ita r que todos os pro fessores entrev is tados conce itua ram o

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16 hom em com o um an im a l rac iona l que se d is tingue dos ou tros pe la sua in te ligência e capacidade de aprender.

A p rim e ira versão das D ire trizes C urricu lares de C iênc ias a Educação Am b ien ta l poderia se r abordada no con teúdo estrutu rante Am b ien te . Segundo e la , este con teúdo estava d irec ionado para um a abordagem dos fenôm enos na tu ra is envo lv idos nos desequ ilíb rios eco lóg icos e tam bém para o tra tam ento das “causas e conseqüências desses desequ ilíb rios pa ra o se r hum ano, para os dem a is se res v ivos e pa ra o am b ien te ” conside rando-se “os aspectos soc ia is , po líticos, econôm icos e é ticos in trínsecos aos prob lem as am b ien ta is” e ana lisando-se “com os a lunos as re lações de poder na soc iedade cap ita lis ta , que re legam a segundo p lano , aspectos am b ien ta is e soc ia is”. N esta pe rspectiva são apon tados do is focos de traba lho na educação am b ien ta l: os p rob lem as soc ioam b ienta is e a in te rvenção hum ana no am b ien te (PAR AN Á, 2006 , p . 27-28).

A m esm a p ropunha-nos um novo o lha r para a C iênc ia , um a vez que a p reocupação m a io r na d isc ip lina de C iênc ias a té en tão em re lação aos con teúdos abordados em “m e io am b ien te ” e ra a de traba lhar com as causas e os e fe itos qu ím icos e b io lóg icos dos p rob lem as am b ien ta is a lém de ten ta r sensib iliza r os a lunos para estes prob lem as. N e la a C iênc ia é en tend ida com o “um p rocesso de construção hum ana, fa líve l, in tenc iona l” e conside ra-se sobre e la a “influência de fa to res soc ia is , econôm icos e po líticos, v inculados às re lações de poder ex is tentes ” (Ibid., p . 25 ). Estas d ire trizes p rezavam “pe lo saber s is tem atizado e e laborado , cu jo ob je tivo é a transfo rm ação da soc iedade”; recom endavam que o ens ino de C iênc ias deveria p rop ic ia r aos a lunos que estabe lecessem “as re lações en tre o m undo na tu ra l (con teúdo da C iênc ia ), o m undo constru ído pe lo hom em (tecno log ia) e seu co tid iano (soc iedade), e que tivessem po tenc ia lizada a função soc ia l da d isc ip lina para se o rien ta rem e , conseqüen tem ente , tom arem decisões com o su je itos transform adores”. En fa tizavam tam bém que e ra a pa rtir da “rea lidade soc ioeconôm ica e do con texto soc ia l” que deveria se r iden tificada a p rob lem atização que o rien ta ria “o processo educa tivo , com e lem entos para que o p ro fessor traba lhe os con teúdos específicos e as questões soc ia is em sa la de au la ” (Ibid., p . 27 ).

M esm o com a m udança nas d ire trizes a SEED /PR adm ite que a linha pedagóg ica ado tada nestes do is ú ltim os governos e que perm e iam todas as d ire trizes cu rricu la res é a pedagog ia h is tó rico -crítica . Sendo ass im San tos quando se re fe re ao ens ino de C iênc ias nesta perspectiva o rien ta que o pon to de partida da p rá tica se ja "um p rob lem a re levan te , que d iga respe ito ao con jun to hum ano em sua to ta lidade" (SAN T O S, 2005 , p . 71). P re ferenc ia lm ente "p rob lem as v ivenciados

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17 loca lm en te , m as que tenham repercussão e um tra tam ento que possa ser extrapo lado para p rob lem as m a is am p los" (Id.). Por exem p lo , pensando em educação am b ien ta l pode-se esco lhe r a questão da qua lidade de v ida , ou a questão da energ ia , en tre ou tras.

Partir da p rá tica soc ia l s ign ifica "pa rtir do hum ano genérico , das p reocupações co le tivas da d im ensão na qua l se m an ifestam nossas lu tas, rea lizações e con trad ições" (Ib id ., p . 10 ). D esta fo rm a para desenvo lver um traba lho nesta linha pedagóg ica é "assum ir que , pa rtindo da p rá tica soc ia l e do prob lem a nesta se lec ionado , se deve usar o conhecim ento c láss ico e estabe lec ido para tra ta r o re fe rido prob lem a. [...] o p rim e iro com prom isso é recorre r ao saber c ien tífico , ep is têm ico , pa ra lida r com a questão in ic ia l" (Ibid., p . 70 ).

Ao p rob lem atiza r deve-se "o lhar pa ra o âm b ito que prec isa ser reso lv ido , m an tendo-se o o lhar nas estru tu ras soc ia is" (Id.). E pe rceber e resga tar os con teúdos c láss icos da d isc ip lina que podem poss ib ilita r ao hom em en tender e desve la r o p rob lem a ev idenciado .

A Instrum enta lização im p lica em "apropriar-se dos instrum entos teóricos e p rá ticos" (Ib id ., p . 11 ) necessários para o en tend im ento do prob lem a. E la requer p rim e iram ente esc la recer qua is são os conhecim entos necessários no âm b ito das C iênc ias que poderão perm itir o p rocesso ana lítico . Isso envo lve aspectos lega is , teó ricos específicos, teóricos co rre lac ionados (ou tras d isc ip linas) e técn icos. D essa fo rm a, o p ro fessor não abordará som ente a sua d isc ip lina , m as deverá ir a lém de la e "averiguar o prob lem a esco lh ido do pon to de v is ta de ou tras d isc ip linas e saberes" (Ib id ., p . 72 ). Para isso é necessário que o p ro fessor pesqu ise e estude o tem po todo para poder e labora r sua s ín tese sobre o p rob lem a.

N a C a ta rse se dá a "inco rporação e fe tiva dos instrum entos cu ltura is , transform ados em e lem entos a tivos de transfo rm ação soc ia l" (Ib id ., p . 12). A ca ta rse se dá quando adqu irim os a capacidade de "en tender a conexão das co isas, quando o saber acum u lado não está estanque em com partim en tos separados", quando aqu ilo que aprendem os nos perm ite "acom panhar o desdobram ento da rea lidade e suas conexões" (Ib id ., p . 77 ). Por exem p lo , quando nos to rnam os capazes de "pe rceber as re lações econôm icas e com o estas engendram a rea lidade , pe rceber que as co isas estão re lac ionadas, que dec isões de governo a fe tam a v ida de m ilha res de pessoas" (Ib id ., p . 76 ).

O R e to rno à p rá tica soc ia l ocorre quando tanto o p ro fessor, quanto o a luno "ap resen tam agora um a concepção o rgân ica do p rob lem a" (Ib id , p . 13 ). A lte rando qua lita tivam ente a p rá tica soc ia l in ic ia l. Ass im se dá conhecim ento se "na e pe la

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18 práx is", ou se ja , re flexão teó rica sobre o p rob lem a ou a rea lidade é um a "re flexão em função da ação para transform ar" (F R IG O T TO , 1994 , p . 81).

Percebem os nos p ro fessores um a con fusão de conce itos e um a m isce lânea de concepções pedagóg icas, o que faz com que e les não tenham um posic ionam ento defin ido e um a fundam entação teó rica consis ten te capaz de em basar a sua p rá tica pedagóg ica num ún ico m étodo .

AN SELO N I e ALBE R T O (2006 , p . 144), ao ana lisa r a E . A . concluem que a inda ex is tem m u itos desa fios a se rem superados, dos qua is destacam a lguns que se re lac ionam às condu tas dos “próprios p ra tican tes” ta is com o “a incoerência do d iscu rso com a p rá tica ”; o “fo rte pragm atism o e o em pobrec im en to teó rico ; a construção de um a “m isce lânea” teó rica e o p redom ín io de concepções idea lis tas. Isso , segundo as au toras é o que gera p rá ticas desenvo lv idas sem um em basam ento que se a fastam de um sen tido educaciona l trazendo postu ras ingênuas, com portam enta is , descon textua lizadas e s im p lis tas, num a perspectiva reden tora de educação “m u itas vezes seduzidas pe lo “m od ism o”, sem sen tido e que va lo rizam o “am b ien ta l com o substan tivo ”.

Partindo-se en tão de toda a fundam entação teó rica ob tida e das consta tações fe itas na prá tica dos pro fessores estudados, num segundo m om ento , e laboram os um C D -R O M , com o m ateria l d idá tico . Este con tém um a fundam entação teó rica e propostas de ativ idades de ta lhadas, com sugestões de le itu ras e de s ites pa ra consu lta . T am bém apresen ta textos de apo io tan to pa ra os p ro fessores quan to pa ra os a lunos. Sendo um subsíd io teórico -prá tico pa ra o traba lho em sa la de au la tan to pa ra p ro fessores de C iênc ias quan to de ou tras d isc ip linas, um a vez que o tem a é in te rd isc ip linar.

N ossa p roposta neste m ateria l se insp irou em um novo o lha r sobre a Educação Am b ien ta l com o um instrum ento de transfo rm ação soc ia l p rocurando ass im ir a lém de prá ticas vaz ias e descon textua lizadas ou apenas da sensib ilização dos a lunos para a p rob lem ática am b ien ta l. A través deste m ate ria l pre tend íam os tam bém levar o p rofessor a re fle tir sobre sua p rá tica pedagóg ica para que possa con tribu ir para a transfo rm ação soc ia l que cu lm ine num a m udança am b ien ta l. F undam entando-se no M ate ria lism o h is tórico e d ia lé tico p ropom os ativ idades d ive rs ificadas, que u tilizam d ife rentes recursos pedagóg icos, sem pre articu lados ao desenvo lv im en to econôm ico , soc ia l, po lítico e cu ltu ra l da soc iedade e que partem da rea lidade loca l. T a is a tiv idades ob je tivam desenvo lve r um a v isão to ta l da rea lidade e de suas contrad ições p ra que se possa ag ir num sen tido con tra -hegem ôn ico .

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C abe sa lien ta r que apesar de não u tiliza rm os os con teúdos c ien tíficos c láss icos da d isc ip lina de C iênc ias, abordam os aspectos de les que possam ser traba lhados tan to na d isc ip lina com o nou tras. Buscam os inovar a p rá tica pedagóg ica do p ro fessor resga tando a lud ic idade , a reflexão e o conhecim ento c ien tífico pa ra a instrum enta lização dos a lunos para a práx is educa tiva .

R ea lizam os a ap resen tação do m ate ria l d idá tico p roduzido duran te a sem ana pedagóg ica em fevere iro /2008 , pa ra que os pro fessores pudessem conhecer e ava lia r a ap licab ilidade das ativ idades sugeridas. Percebem os que houve um a g rande repercussão, p rinc ipa lm en te en tre os p ro fessores de ou tras d isc ip linas, nos qua is percebem os um a m a io r abertura pa ra o en foque dado do que nos p ro fessores de C iênc ias. H ouve a inda a d is tribu ição do m ate ria l pa ra aque les que se in te ressassem .

C om o nossa proposta de m etodo log ia é a pesqu isa -ação a ú ltim a e tapa deste estudo fo i a rea lizam os d ive rsos estudos no C o lég io Estadua l Santa C lara - C EST AC para a d iscussão da nossa p roposta de Educação Am b ien ta l com os p ro fessores de C iênc ias. Estes ocorre ram duran te as sem anas pedagóg icas e du ran te um encon tro sem ana l u tilizando a hora -a tiv idade do p rofessor. Porém nosso ob je tivo in ic ia l que e ra a rea lização de um grupo de estudo perm anen te com todos os p ro fessores da rede estadua l de C iênc ias do m un ic íp io pa ra a d iscussão das D ire trizes de C iênc ias (cu jo nosso traba lho está to ta lm en te pau tado) e da nossa p roposta de traba lho teve que se r adap tado dev ido aos prob lem as que encon tram os.

P rim e iram ente pe la m udança de concepção das D ire trizes im p lan tadas em 2006 e da nova d ire triz d ivu lgada em 2008 , o que fez com que o os p ro fessores se desm otivassem de partic ipar do g rupo . Segundo a fa lta de tem po para as reun iões, po is a m a ioria dos p ro fessores traba lha em m a is de um a esco la e suas horas-a tiv idades não co inc id iam . O utra d ificu ldade encon trada fo i a não ace itação do g rupo de estudos aos sábados por não ex is tir ce rtificação pe la SEED . E a não partic ipação de todos os p ro fessores da rede . M esm o ass im os estudos fo ram m u ito vá lidos, po is a m a ioria dos pro fessores traba lha no C EST AC e já se percebe a lguns re flexos pos itivos na prá tica pedagóg ica dos p ro fessores. Porém sabem os que a fundam entação teó rica ap rofundada é necessária , depende da von tade de cada um e do seu tem po d ispon íve l e não acon tece au tom aticam ente .

D uran te os estudos fo ram d iscu tidos os textos de fundam entação teó rica sobre o m ateria lism o h is tó rico e d ia lé tico, fundam ento da pedagog ia h is tó rico -crítica , que segundo a Secre ta ria de estado da Educação do Paraná , é a linha pedagóg ica que perm e ia as novas d ire trizes cu rricu la res. T am bém fo ram abordados textos sobre

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20 a crise am b ien ta l e sobre a educação am b ien ta l crítica e transfo rm adora . A lém d isso , ap resen tam os o m ateria l d idá tico produzido e m ostram os com o m anuseá-lo . T am bém traba lham os a lguns textos p roduzidos para as a tiv idades p ropostas no m ate ria l.

In fe lizm ente, pe la d ificu ldade de traba lha rm os com os a lunos em con tra tu rno dev ido à fa lta de sa la de au la d ispon íve l no co lég io ; não pudem os rea liza r a segunda e tapa de nossa im p lem entação que e ra o traba lho com os a lunos. O que ao nosso ve r não p re jud icou de fo rm a a lgum a o nossa pesqu isa e pode se r um pon to de partida para um a fu tura pesqu isa .

CONCLUSÃO A través do P rogram a de D esenvo lv im en to Educaciona l – PD E, do Estado

do Paraná , onde rea lizam os este estudo, ce rtam ente ob tivem os um g rande cresc im en to pessoa l e p ro fiss iona l. Po is a lém de ana lisa r a prá tica pedagóg ica dos ou tros pro fessores, re fle tim os sobre a nossa p rópria postura em a la de au la e repensam os nossa p rá tica enquan to pro fessor transform ador que ju lgam os ser. T am bém sen tim os a grande necess idade da constan te fundam entação teó rica em bora sa ibam os das d ificu ldades que en fren tam os com o excess ivo núm ero de au las e de a lunos.

En tendem os a educação no sentido am p lo ev idenciado em S ilva (2006), com o a p rá tica soc ia l que tem o ob je tivo de con tribu ir d ire ta ou ind ire tam ente , no p rocesso de construção h is tó rica das pessoas. E com preendem os que a e la não é a reden tora da hum an idade , m as pode se r um dos instrum entos revo luc ionários de consc ien tização e transfo rm ação da rea lidade . L IM A (1999 , p . 11) lem bra -nos que em m u itos deba tes sobre educação e am b ien te ocorre o superd im ensionam ento do “poder da educação na transform ação dos p rob lem as, tra tando-a com o um a nova panacé ia pa ra todos os prob lem as da soc iedade contem porânea”. Porém o au to r reconhece a im portânc ia da educação na m udança soc ia l, lem brando que e la é “um a, entre ou tras p rá ticas soc ia is , capazes de com por um a estra tég ia integ rada de m udança soc ia l e não com o p rá tica iso lada ou de term inan te no processo de transform ação das re lações de poder na soc iedade”.

É na perspectiva de transfo rm ação soc ia l e na fo rm ação de a lunos críticos, hum an izados e em ancipados que acred itam os. Portan to , a esco la co labora rá com a transform ação da soc iedade à m ed ida que instrum enta liza r o estudan te "com

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21 fe rram entas conce itua is , lóg icas, m atem áticas, c ien tíficas, soc ia is , ve rba is e s im bó licas" (R O SELLA e C ALU Z I, 2004 , p . 3 ). E é pape l do p ro fessor rea liza r esta instrum enta lização através do conhecim ento c ien tífico produzido h is to ricam ente , con tribu indo para que e le tenha um a v isão tota l da rea lidade e de suas con trad ições e se ja capaz de ag ir con tra - hegem on icam ente .

Ass im , po r tudo o que fo i exposto rea firm am os o que escreveram AN SELO N I e ALBER T O (2006 , p . 145): um a educação am b ien ta l insp irada na transform ação soc ia l deve se r “en tend ida com o um instrum ento po lítico , com prom etido com a fo rm ação hum an izadora e a transfo rm ação da soc iedade , a pa rtir de um en tend im ento crítico e con textua lizado , inc lus ive , h is to ricam ente , da rea lidade”. N ão podendo jam a is se firm ar em concepções idea lis tas, com o por exem p lo , a idé ia de que as bases rea is da sustentab ilidade estão apenas re lac ionadas aos pensam entos, va lo res e com portam entos.

Apesar das novas D ire trizes C urricu lares de C iênc ias de fenderem “a necess idade de um p lura lism o m etodo lóg ico que conside re a d ive rs idade dos recursos pedagóg icos/tecno lóg icos d ispon íve is e a am p litude de conhecim entos c ien tíficos a serem abordados na esco la ” (PAR AN Á, 2008 , p . 4 ), acred itam os que o m étodo m arx is ta é o ún ico m étodo capaz de exp lic ita r a rea lidade em sua to ta lidade e con trad ições e de instrum enta liza r para um a transform ação soc ia l.

En fa tizam os a E . A . transfo rm adora de Frederico Loure iro e na E . A . crítica de fend ida por G ustavo L im a e e lencam os três ca tegorias chaves do m ate ria lism o h is tó rico que ju lgam os essencia is pa ra a aná lise dos p rob lem as am b ien ta is , são e las a to ta lidade, a contrad ição e a hegem on ia .

D uran te o estudo nos de fron tam os com d ive rsas d ificu ldades e en fa tizam os que a esco la , da fo rm a com o está estru tu rada , não possu i cond ições m ate ria is pa ra o desenvo lv im en to de um a educação crítica e em ancipadora . Po is sabem os que o a tua l s is tem a de ens ino fo i criado para a rep rodução da soc iedade da fo rm a com o e la está e não para a sua transfo rm ação . En tão o nosso g rande desa fio é fazer com que a esco la cum pria e fe tivam ente com o seu pape l soc ia l: a em ancipação hum ana através da apropriação do con teúdo c ien tífico h is to ricam ente p roduzido pe la hum an idade . D esa fio este que só se rão soluc ionados a través da fundam entação teó rica c ien tífica consis ten te dos p ro fessores; que sem dúvida a lgum a se in ic ia pe la consc iênc ia de c lasse e pe la lu ta po r um a transfo rm ação soc ia l que cu lm ine num novo m odo de produção .

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