eduardo roberto alcantara del campo dissertacao

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EDUARDO ROBERTO ALCÂNTARA DEL-CAMPO EXAME E LEVANTAMENTO TÉCNICO PERICIAL DE LOCAIS DE INTERESSE À JUSTIÇA CRIMINAL: ABORDAGEM DESCRITIVA E CRÍTICA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO ORIENTADORA: PROFA. DRA. IRENE BATISTA MUAKAD FACULDADE DE DIREITO DA USP SÃO PAULO 2008

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  • EDUARDO ROBERTO ALCNTARA DEL-CAMPO

    EXAME E LEVANTAMENTO TCNICO PERICIAL DE LOCAIS DE INTERESSE JUSTIA CRIMINAL:

    ABORDAGEM DESCRITIVA E CRTICA

    DISSERTAO DE MESTRADO

    ORIENTADORA: PROFA. DRA. IRENE BATISTA MUAKAD

    FACULDADE DE DIREITO DA USP SO PAULO

    2008

  • EDUARDO ROBERTO ALCNTARA DEL-CAMPO

    EXAME E LEVANTAMENTO TCNICO PERICIAL DE LOCAIS DE INTERESSE JUSTIA CRIMINAL:

    ABORDAGEM DESCRITIVA E CRTICA

    Dissertao apresentada Banca Examinadora da Faculdade de Direito da Universidade de So Paulo, como exigncia parcial para a obteno do ttulo de Mestre em Medicina Legal, sob orientao da Profa. Dra. Irene Batista Muakad

    FACULDADE DE DIREITO DA USP SO PAULO

    2008

  • FICHA CATALOGRFICA (Elaborada pelo Servio de Processos Tcnicos da Biblioteca da Faculdade de Direito da USP)

    Del-Campo, Eduardo Roberto Alcntara Exame e levantamento tcnico pericial de locais de interesse justia criminal : abordagem descritiva e crtica / Eduardo Roberto Alcntara Del-Campo. So Paulo : E. R. A. Del-Campo, 2008. 252 f. : il. (algumas color.)

    Dissertao (mestrado) Faculdade de Direito da USP, 2008 Orientador: Prof. Irene Batista Muakad

    Bibliografia. Notas de rodap.

    1. Percia tcnica 2. Medicina legal 3. Criminalstica 4. Local do crime. I. Ttulo. CDU 343.977.3

  • Banca Examinadora

    _______________________________

    Profa. Dra. Irene Batista Muakad Orientadora

    _______________________________

    Prof. Dr.

    _______________________________

    Prof. Dr.

  • minha esposa Luciana e aos meus filhos: Victoria, Gabriela e Vinicius, que

    trouxeram um novo sentido a minha vida.

  • AGRADECIMENTOS

    Ao saudoso Professor Doutor Jos Lopes Zarzuela, colega e amigo inesquecvel, Emrito Perito Criminal e mestre da Academia de Polcia de So Paulo e da Faculdade de Direito da Universidade de So Paulo, sem cujos ensinamentos este trabalho no teria sido possvel.

    estimada Professora Doutora Irene Batista Muakad, pela pacincia, ateno e sincera amizade e, principalmente, pelo estmulo durante minha orientao.

    Ao Professor Doutor Alvino Augusto de S e ao Professor Doutor Roberto Augusto de Carvalho Campos, ambos do Departamento de Direito Penal, Medicina Forense e Criminologia da Faculdade de Direito da Universidade de So Paulo, pelas observaes e correes feitas ao trabalho inicial de qualificao.

    Ao Doutor Celso Perioli, Coordenador da Superintendncia da Polcia Tcnico-Cientfica do Estado de So Paulo, que sempre atendeu s minhas solicitaes prestando informaes e esclarecimentos absolutamente imprescindveis para a consecuo deste trabalho.

    Ao desenhista e amigo, Luiz Almeida, que soube interpretar minhas descries e transform-las nas gravuras originais que ilustram o presente trabalho.

  • RESUMO

    DEL-CAMPO, Eduardo R. A. Exame e levantamento tcnico pericial de locais de interesse Justia Criminal: abordagem descritiva e crtica. So Paulo, 2008. 274 f. Dissertao (Mestrado) Faculdade de Direito, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2009.

    O panorama das cincias forenses no Brasil poderia ser mais auspicioso. O aumento incontrolvel das dissenses sociais e da criminalidade comum, o crescimento de faces do crime organizado, o surgimento de novas modalidades de delitos, os desastres de massa e o incremento de novas tecnologias so fatores que apontam no sentido de uma maior demanda por exames periciais e da crescente complexidade dos trabalhos relacionados com as cincias forenses. Paradoxalmente, a falta de investimentos pblicos na rea, os baixos salrios, a ausncia de perspectiva profissional e o acmulo de servio so alguns dos fatores que claramente influenciam na queda de qualidade do trabalho tcnico. No se publicam mais obras de Criminalstica e Medicina Legal no pas. As revistas especializadas so poucas e os cursos de Direito paulatinamente vo destinando cada vez menos espao para aquelas que, ao lado da formao jurdica especfica, deveriam ser as matrias principais na formao do bacharel, especialmente daqueles que militam na rea penal. Alm disso, e exatamente pela natureza tcnica da matria, poucos so os questionamentos que recaem sobre a cadeia de custdia ou sobre a validade das provas periciais apresentadas pelos organismos pblicos encarregados da preveno e da represso criminal. Este trabalho pretende apresentar uma breve reviso dos dispositivos que regulamentam a prova pericial no sistema processual penal, recentemente alterados pela Lei n. 11.690, de 09/06/08, a estrutura da polcia cientfica e os procedimentos periciais de levantamento dos locais de interesse Justia Criminal, desde o momento que antecede percia at a entrega do relatrio tcnico, apontando seus limites, deficincias e qualidades.

    Palavras-chave: Percia; Perito; Exame de corpo de delito; Local de crime; Preservao de local de crime; Cincias Forenses; Medicina Legal; Criminalstica.

  • ABSTRACT

    DEL-CAMPO, Eduardo R. A. Examination and technical survey on sites of the Criminal Justices interest: descriptive and critical approach. So Paulo, 2008. 274 f. Dissertation (Mestrado) School of Law, University of So Paulo, So Paulo, 2009.

    The overview of forensic sciences in Brazil could be more auspicious. The uncontrollable raise of social disagreements and common criminality, the increase of organized crime factions, the appearance of new forms of crime, mass disasters and improvement of new technologies are factors which leads to a sense of higher demand for expert examinations and an increasing complexity of works related to forensic sciences. Paradoxically, the absence of public investment in the area, the low wages, the lack of professional perspectives and the accrual of workload are some of the factors that clearly influence the decline of quality of technical works. There are few new publications about Criminalistics and Legal Medicine in Brazil. The specialized journals are few and law schools are gradually giving less space for those which, like specific legal matters, should be the main ones in the training of new lawyers, especially those who work with criminal law. Besides that, and exactly because of the technical nature of the matter, few are the questions which fall upon the chain of custody or the validity of the expert evidence shown by the public organisms which are responsible for the criminal prevention and repression. This dissertation intends to present a brief review of the articles that regulate the expert evidence in the criminal procedural law, recently altered by Law n 11.690 of 09/06/08, and the structure of forensic science and the expert procedures to gather places of interest to the Criminal Justice, from the moment preceding the expertise until the delivery of the technical report, pointing out its limitations, shortcomings and qualities.

    Key words: Expert examination; Expert, body of the offense; Crime scene; Crime scene preservation; Forensic Sciences; Legal Medicine; Criminalistics.

  • ABREVIATURAS E SIGLAS

    ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas. ABO Grupo de antgenos eritrocitrios descobertos pelo cientsta austraco Karl

    Landsteiner no incio do sculo XX. ANP Agncia Nacional do Petrleo. ANVISA Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria. CAD Computer Aided Design. CC Cdigo Civil. CD Compact disc. CETESB Companhia de tecnologia de Saneamento Ambiental. CFM Conselho Federal de Medicina. CGCRE Coordenao Geral de Credenciamento. CID 10 Classificao Estatstica Internacional de Doenas e Problemas Relacionados

    Sade (10 Reviso). CITAC Cooperation on International Traceability in Analytical Chemistry. CLT Consolidao das Leis do Trabalho. CP Cdigo Penal. CPC Cdigo de Processo Civil. CPM Cdigo Penal Militar. CPP Cdigo de Processo Penal. CPPM Cdigo de Processo Penal Militar. CR Coeficiente de correlao. CV Coeficiente de variao. DATASUS Banco de dados do Sistema nico de Sade. DEPC Departamento Estadual de Polcia Cientfica. DGP Delegacia Geral de Polcia. DHPP Departamento de Homicdios e Proteo pessoa. DIRD Departamento de Investigao e Registros Diversos. DNA Deoxyribonucleic acid ou, em portugus, cido desoxirribonucleico (ADN). DP Desvio padro. DPC Departamento de Produtos Controlados. DPCRIM Diviso de Percias e Dados Criminalsticos (do INC). DPER Diviso de Percias (do INC).

  • DPME Departamento de Percias Mdicas do Estado. DVD Digital video disc. EDS Energy Dispersive Spectrometer. EURACHEM Rede de organizaes Europias que tem como objetivo o estabelecimento

    de um sistema de rastreabilidade internacional de medies qumicas e a promoo de boas prticas da qualidade.

    FDA Food and Drug Administration. GATE Grupo de Operaes Tticas Especiais da Polcia Militar. HLA Do ingls Human Leukocyte Antigen ou sistema antgeno leucocitrio humano. IAL Instituto Adolfo Lutz. IB Instituto Biolgico.

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica. IC Instituto de Criminalstica de So Paulo. ICH International Conference on Harmonisation. IEC International Electrotechnical Commission. IIRGD Instituto de Identificao Ricardo Gumbleton Daunt. IMESC Instituto de Medicina Social e Criminologia de So Paulo. IML Instituto Mdico Legal. INC Instituto Nacional de Criminalstica. INI Instituto Nacional de Identificao. INMETRO Instituto Nacional de Metrologia, Normalizao e Qualidade Industrial. IPEM Instituto de Pesos e Medidas do Estado de So Paulo. IPEN Instituto de Pesquisas Energticas e Nucleares. IPT Instituto de Pesquisas Tecnolgicas do Estado de SP. ISO International Organization for Standardization. LCP Lei das Contravenes Penais. LOD Limite de deteco. LOQ Limite de quantificao. MN Sistema de antgenos sanguneos. MRC Material de Referncia Certificado. NATA National Association of Testing Authorities. NBR Norma brasileira. OMS Organizao Mundial de Sade. PSA Prostate specific antigen.

  • Rh Fator Rh (rhesus) Grupo de antgenos eritrocitrios envolvido em reaes transfusionais hemolticas e na doena hemolitica do recm-nascido.

    RT Revista dos Tribunais. SEPAEL Servio de Percias em Audiovisual e Eletrnicos (do INC). SEPCONT Servio de Percias Contbeis e Econmicas (do INC). SEPDOC Servio de Percias Documentoscpicas (do INC). SEPEMA Servio de Percias de Engenharia e Meio Ambiente (do INC). SEPINF Servio de Percias em Informtica (do INC). SEPLAB Servio de Percias de Laboratrio e de Balstica (do INC). SESDEC

    Secretaria de Estado da Segurana e Defesa da Cidadania. SETEC Seo Tcnico-Cientfica (do Instituto Nacional de Criminalstica). SIF Servio de Inspeo Federal. SPTC Superintendncia da Polcia Tcnico-Cientfica. STF Supremo Tribunal Federal. STJ Superior Tribunal de Justia. SUS Sistema nico de Sade. SVO Servio de Verificao de bitos. USP United States Pharmacopeia.

  • UNIDADES DE MEDIDA

    Comprimento: m metro. cm centmetro. mm milmetro. nm nanmetro.

    Tempo: s segundo. m minuto. h hora.

    Massa: Kg quilograma. g grama. dg decigrama. mg miligrama. ug micrograma. ng nanograma.

    Volume: l litro. dl decilitro. ml mililitro.

    Temperatura: oC grau Celsius.

    Quantidade de matria: mol mol (massa molecular expressa em gramas). mmol milimol.

    Normalidade: Eq equivalente-grama mEq miliequivalente-grama

    Outras unidades: Unidades King Armstrong Unidade de medida da fosfatase. Unidades Wohlgemuth Unidade de titulao colorimtrica da amilase srica.

  • SUMRIO DAS ILUSTRAES

    Figura 1 Mecanismo de produo das pegadas ....................................................................................... 90 Figura 2 Regies dos ps e dos calados................................................................................................. 91 Figura 3 Modo de colocao das escalas ................................................................................................ 92 Figura 4 Provveis locais de encontro de manchas sangneas no corpo ............................................... 99 Figura 5 Provveis locais de encontro de manchas sangneas no local............................................... 100 Figura 6 Provveis locais de encontro de manchas sangneas em automveis ................................... 100 Figura 7 Morfologia das gotas de sangue em queda livre sobre planos horizontais ............................. 102 Figura 8 Morfologia das gotas de sangue em queda livre sobre planos oblquos ................................. 103 Figura 9 Variao morfolgica das hemcias ....................................................................................... 107 Figura 10 As provas cristalogrficas mais comuns ............................................................................... 108 Figura 11 Cristais de Florence .............................................................................................................. 113 Figura 12 Estrutura do espermatozide ................................................................................................. 114 Figura 13 Morfologia do espermatozide em diferentes espcies animais ........................................... 115 Figura 14 Elementos microscpicos encontradios no mecnio........................................................... 119 Figura 15 Elementos microscpicos encontradios nas fezes ............................................................... 122 Figura 16 Elementos microscpicos encontradios no unto sebceo .................................................... 130 Figura 17 Elementos microscpicos encontradios no lquido amnitico ............................................ 131 Figura 18 Fragmento de tecido aderido ao projtil ............................................................................... 140 Figura 19 Modo correto de transportar um revlver ............................................................................. 146 Figura 20 Modo correto de coletar e acondicionar um projtil ............................................................. 147 Figura 21 Modos corretos de manusear armas brancas ......................................................................... 148 Figura 22 Estrutura bsica dos pneumticos ......................................................................................... 154 Figura 23 Variao das marcas de acordo com a forma de incidncia da ferramenta .......................... 158 Figura 24 Suicdios atpicos .................................................................................................................. 168 Figura 25 Exemplo de croqui ................................................................................................................ 180 Figura 26 Exemplo de desenho linear ................................................................................................... 181 Figura 27 Exemplo de rebatimento topogrfico .................................................................................... 182 Figura 28 Diferena entre a dinmica do evento e a descrio do ferimento........................................ 185 Figura 29 Queda acidental .................................................................................................................... 214 Figura 30 Hipteses de suicdio por precipitao sem ou com pequeno impulso inicial ...................... 215 Figura 31 Suicdio por precipitao com impulso inicial ..................................................................... 215 Figura 32 Hipteses de simulao de suicdio ou de homicdio por precipitao ................................ 216 Figura 33 Artefato utilizado para burlar exames antidoping ................................................................. 238 Figura 34 Linearidade ........................................................................................................................... 247 Figura 35 Heteroscedasticidade ............................................................................................................ 248 Figura 36 Formulrio padro do IML Posio ortosttica ................................................................. 262 Figura 37 Divergncia aparente entre peritos orientao do disparo ................................................. 263 Figura 38 Divergncia aparente entre peritos ....................................................................................... 263 Figura 39 Divergncia aparente entre peritos orientao e nmero de disparos ................................ 264

  • SUMRIO

    RESUMO ABSTRACT ABREVIATURAS E SIGLAS UNIDADES DE MEDIDA SUMRIO DAS ILUSTRAES

    INTRODUO ........................................................................................................................................ 16

    1. CINCIAS FORENSES ...................................................................................................................... 19 1.1. A percia e o Direito ....................................................................................................................... 19 1.2. Conceito de percia ........................................................................................................................ 20 1.3. Objetivo da percia ......................................................................................................................... 21 1.4. Natureza jurdica da percia ........................................................................................................... 21 1.5. Classificao das percias............................................................................................................... 22 1.6. A inspeo judicial ......................................................................................................................... 26 1.7. Percias previstas no Cdigo de Processo Civil ............................................................................. 28 1.8. Percias previstas no Cdigo de Processo Penal ............................................................................ 28 1.9. Corpo de delito e exame de corpo de delito ................................................................................... 29 1.10. A Polcia Cientfica no Estado de So Paulo ............................................................................... 31 1.11. O Instituto Mdico-Legal ............................................................................................................. 33 1.12. O Instituto de Criminalstica ........................................................................................................ 35 1.13. O Instituto de Identificao Ricardo Gumbleton Daunt .............................................................. 37 1.14. Outras instituies ........................................................................................................................ 38

    1.14.1. Instituto de Pesquisas Tecnolgicas do Estado de SP (IPT) ............................................. 39 1.14.2. Instituto de Pesquisas Energticas e Nucleares (IPEN) .................................................... 39 1.14.3. Instituto Biolgico (IB) ..................................................................................................... 40 1.14.4. Instituto Adolfo Lutz (IAL) ............................................................................................... 40 1.14.5. Instituto de Pesos e Medidas do Estado de So Paulo (IPEM) ......................................... 41 1.14.6. Instituto de Medicina Social e Criminologia de SP (IMESC) ........................................... 42 1.14.7. Companhia de tecnologia de Saneamento Ambiental (CETSB) ....................................... 42 1.14.8. Agncia Nacional do Petrleo (ANP) ............................................................................... 43 1.14.9. Grupo de Operaes Tticas Especiais da Polcia Militar (GATE) .................................. 43 1.14.10. Departamento de Percias Mdicas do Estado (DPME) .................................................. 43

    1.15. Estrutura Federal .......................................................................................................................... 44 1.16. Peritos A Lei n 11.690/08 ........................................................................................................ 45

    1.16.1. Peritos ................................................................................................................................ 45 1.16.2. Classificao e investidura ................................................................................................ 46

    1.16.2.1. Peritos oficiais e peritos leigos ou ad hoc ......................................................... 46 1.16.2.2. Peritos nomeados ou louvados .......................................................................... 49 1.16.2.3. Assistentes tcnicos ........................................................................................... 49 1.16.2.4. Momento de admisso dos assistentes tcnicos ................................................ 51 1.16.2.5. Modo de atuao dos assistentes tcnicos ......................................................... 53 1.16.2.6. Nmero de peritos ............................................................................................. 54 1.16.2.7. Prazos para realizao da percia ....................................................................... 55

  • 1.16.2.8. Prazos para entrega dos relatrios ..................................................................... 57 1.17. Relatrios periciais ....................................................................................................................... 58

    1.17.1. Pareceres ou consultas percia extrajudicial ................................................................... 59 1.17.2. Partes constitutivas do auto e do laudo pericial................................................................. 60 1.17.3. Anexos do laudo pericial ................................................................................................... 61 1.17.4. Quesitos ............................................................................................................................. 62 1.17.5. Classificao dos quesitos ................................................................................................. 63

    1.18. Outros documentos processuais da medicina legal ...................................................................... 65 1.18.1. Declaraes ou atestados de bito ..................................................................................... 67

    2. LOCAIS DE EXAMES PERICIAIS .................................................................................................. 74 2.1. Definio ........................................................................................................................................ 74 2.2. Locais de interesse Justia Criminal ........................................................................................... 74 2.3. Classificao dos locais de interesse Justia Criminal ................................................................ 75 2.4. A preservao dos locais de crime ................................................................................................. 77 2.5. Indcios, vestgios, circunstncias e presunes ............................................................................ 78 2.6. Classificao dos indcios materiais e vestgios............................................................................. 81

    2.6.1. Propositais e acidentais ....................................................................................................... 83 2.6.2. Perceptveis e latentes ......................................................................................................... 84 2.6.3. Perenes, persistentes e fugazes ............................................................................................ 85 2.6.4. Marcas e impresses produzidas pela pessoa ...................................................................... 85

    2.6.4.1. Impresses papilares ............................................................................................ 86 2.6.4.2. Impresses de luvas ............................................................................................. 86 2.6.4.3. Marcas ungueais .................................................................................................. 88 2.6.4.4. Marcas produzidas pelos dentes e lbios ............................................................. 88 2.6.4.5. Marcas e impresses produzidas pelos ps descalos ou por solados

    (pegadas) .............................................................................................................. 89 2.6.4.6. Marcas e impresses de partes do corpo ............................................................. 92 2.6.4.7. Marcas de arrastamento ....................................................................................... 93 2.6.4.8. Marcas deixadas por peas de vesturio .............................................................. 93 2.6.4.9. Fragmentos de pele e anexos ............................................................................... 94 2.6.4.10. Amostras ou manchas de lquidos ou secrees orgnicas ................................ 96 2.6.4.11. Manchas e deposies de sangue ...................................................................... 97 2.6.4.12. O estudo das manchas de sangue no local do fato ............................................. 97 2.6.4.13. Coleta das manchas e envio ao laboratrio ..................................................... 104 2.6.4.14. O estudo das manchas de sangue no laboratrio ............................................. 104 2.6.4.15. Manchas de esperma........................................................................................ 111 2.6.4.16. Manchas de suor .............................................................................................. 115 2.6.4.17. Manchas de saliva ........................................................................................... 116 2.6.4.18. Manchas de mecnio ....................................................................................... 118 2.6.4.19. Manchas e deposies de matria fecal ........................................................... 120 2.6.4.20. Manchas de urina ............................................................................................. 123 2.6.4.21. Manchas de vmito ......................................................................................... 124 2.6.4.22. Manchas de leite .............................................................................................. 125 2.6.4.23 Manchas de colostro ......................................................................................... 126 2.6.4.24. Manchas de muco nasal ................................................................................... 127

  • 2.6.4.25. Manchas de secrees bronquiais .................................................................... 127 2.6.4.26. Manchas de secrees uretrais ......................................................................... 128 2.6.4.27. Manchas de secrees vaginais ....................................................................... 128 2.6.4.28. Manchas de substncias graxas ....................................................................... 129 2.6.4.29. Manchas de unto sebceo ................................................................................ 129 2.6.4.30. Manchas de secreo purulenta ....................................................................... 130 2.6.4.31. Manchas de lquido amnitico ......................................................................... 130 2.6.4.32 Produtos da gestao ........................................................................................ 132 2.6.4.33. Peas de vesturio e acessrios ....................................................................... 133 2.6.4.34. rteses e prteses ............................................................................................ 141 2.6.4.35. Escritos e desenhos .......................................................................................... 142 2.6.4.36. Outras marcas, impresses e sinais ................................................................. 143

    2.6.5. Vestgios e indcios relacionados com instrumentos, objetos e animais ........................... 144 2.6.5.1. Armas e instrumentos de crimes ........................................................................ 144 2.6.5.2. Cordas, cordis e similares ................................................................................ 148 2.6.5.3. Plantas e animais ............................................................................................... 150 2.6.5.4. Marcas e sinais relacionados com veculos ....................................................... 151 2.6.5.5. Marcas de instrumentos ..................................................................................... 156 2.6.5.6. lcool, medicamentos e entorpecentes ............................................................. 158 2.6.5.7. Manchas inorgnicas ......................................................................................... 159 2.6.5.8. Produtos qumicos diversos ............................................................................... 160 2.6.5.9. Poeira e cinzas ................................................................................................... 160 2.6.5.10. Papis, cartas, livros, documentos, gravaes filmes, fotografias e outros ..... 163 2.6.5.11. Programas e arquivos de computador .............................................................. 163 2.6.5.12. Outros vestgios e indcios materiais ............................................................... 164

    2.6.6. Vestgios e indcios mistos sinais de luta ....................................................................... 165 2.7. Exame e levantamento tcnico-pericial ....................................................................................... 171

    2.7.1. Conceito e finalidades do exame e do levantamento tcnico-pericial ............................... 171 2.7.2. Tipos de levantamento tcnico-pericial ............................................................................. 173

    2.7.2.1. Levantamento descritivo ................................................................................... 174 2.7.2.2. Levantamento por fotografia (fotografia judiciria) .......................................... 175 2.7.2.3. Levantamento por desenho (topografia judiciria) ............................................ 178 2.7.2.4. Levantamento dermatoglfico (ou papiloscpico) ............................................. 183 2.7.2.5. Levantamento por modelagem .......................................................................... 183 2.7.2.6. Levantamento do cadver (perinecroscopia) ..................................................... 184 2.7.2.7. Levantamento complementar laboratorial ......................................................... 187 2.7.2.8. Levantamento complementar do local ............................................................... 188 2.7.2.9. Levantamento complementar na pessoa ............................................................ 189 2.7.2.10. Levantamento complementar por exumao ................................................... 190 2.7.2.11. Reproduo simulada dos fatos ....................................................................... 190

    2.7.3. Alguns locais que merecem especial ateno .................................................................... 196 2.7.3.1. Locais de suicdio .............................................................................................. 196 2.7.3.2. O exame do local de suicdio............................................................................. 207 2.7.3.3. Discusso sobre alguns suicdios atpicos ......................................................... 211 2.7.3.4. Suicdios cometidos com mais de um disparo ou mais de uma arma de fogo ... 211 2.7.3.5. Locais de morte por precipitao ...................................................................... 212

  • 2.7.3.6. Locais de morte a esclarecer ou encontro de cadver ....................................... 217 2.7.3.7. Corpos em adiantado estado de decomposio ................................................. 217 2.7.3.8. Ocorrncias em ferrovias ................................................................................... 218 2.7.3.9. Locais de exploso e incndio ........................................................................... 218 2.7.3.10. Acidentes do trabalho ...................................................................................... 219

    3. CONSIDERAES CRTICAS ...................................................................................................... 220 3.1. Preliminares ................................................................................................................................. 220 3.2. Estrutura inadequada dos organismos estatais encarregados da produo da prova pericial ....... 221 3.3. Preservao inexistente ou inadequada do local .......................................................................... 225 3.4. Despreparo do corpo tcnico encarregado da realizao dos exames .......................................... 230

    3.4.1. Laudos de constatao, de orientao e tecnicamente conclusivos ................................... 231 3.5. Inexistncia de uma cadeia de custdia satisfatria ..................................................................... 233

    3.5.1. Coleta, acondicionamento, transporte e guarda ................................................................. 236 3.5.2. Guarda dos materiais Centro de custdia ....................................................................... 239 3.5.3. A Lei n. 11.690/08 e os centros de custdia ...................................................................... 241

    3.6. Ausncia de padronizao do mtodo e de certificao dos laboratrios envolvidos.................. 242 3.6.1. Validao do mtodo analtico .......................................................................................... 243

    3.6.1.1. Preciso ............................................................................................................. 245 3.6.1.2. Exatido ............................................................................................................. 245 3.6.1.3. Linearidade homo e heteroscedasticidade ...................................................... 246 3.6.1.4. Recuperao ...................................................................................................... 248 3.6.1.5. Limite de deteco (LOD) e de quantificao (LOQ) ....................................... 249 3.6.1.6. Seletividade e especificidade ............................................................................. 249 3.6.1.7. Robustez ............................................................................................................ 249 3.6.1.8. Estabilidade da amostra ..................................................................................... 250 3.6.1.9. Faixa de aplicao ............................................................................................. 250

    3.6.2. A necessidade de validao e certificao......................................................................... 250 3.7. Estrutura fragmentria da percia ................................................................................................. 252 3.8. Despreparo das carreiras jurdicas no que toca a apreciao crtica da prova tcnica ................. 253

    3.8.1. Percia contraditria .......................................................................................................... 255 3.8.2. Falsa percia....................................................................................................................... 256 3.8.3 Divergncia aparente entre peritos ..................................................................................... 259

    CONCLUSES ...................................................................................................................................... 265

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ................................................................................................. 268

  • 16

    INTRODUO

    Foi o co de Nicole, na noite de 12 de junho de 1994, que deu o alarme. Por volta das 10h15min. Os vizinhos ouviram os latidos e avistaram o Akita sujo de sangue, fato que os levou at o porto da residncia de nmero 875 da South Bund Drive, no subrbio de Brentwood em Los Angeles.

    A cena era horripilante. No passeio de entrada do imvel jaziam os corpos assassinados de Nicole Brown, ex-mulher de Orenthal James Simpson, famoso jogador de futebol americano, e o do amigo dela, Ron Goldman. Ambos estavam cobertos de sangue e apresentavam profundos ferimentos produzidos por instrumento perfurocortante (faca). Nicole estava praticamente decapitada.

    Cinco gotas de sangue formavam uma trilha que se afastava dos corpos e apontava na direo da sada dos fundos do imvel1, cujo porto estava manchado de sangue. Quatro dessas gotas estavam localizadas imediatamente esquerda de pegadas deixadas, tambm em sangue, pelo solado de um sapato masculino de tamanho 12 (45 pelo sistema brasileiro), mesmo nmero calado por O. J. Simpson. Tal constatao indicava que o assassino havia sido ferido do lado esquerdo de seu corpo.

    Na manh seguinte aos crimes, a polcia observou que O. J. Simpson usava uma bandagem no dedo mdio da mo esquerda, curativo que encobria um profundo corte em uma das articulaes.

    Alm disso, tambm foi encontrado sangue no carro de O. J. Simpson, em uma meia, localizada no quarto dele, e em uma luva deixada do lado de fora de sua casa.

    Amostras foram extradas de todas as deposies e manchas encontradas nos locais relacionados com o crime. Uma vez analisadas, o quadro que emergiu parecia demonstrar uma irrefutvel ligao entre Simpson e os assassinatos.

    Os testes de DNA feitos em todos os cinco pingos e nas manchas do porto traseiro da casa revelaram, sem sombra de dvida, que o sangue pertencia a O. J. Simpson.

    1PLATT, Richard. Crime scene: the ultimate guide to forensic science. 1th ed. New York: Dorling & Kindersley, 2003.

  • 17

    O sangue recolhido do automvel apresentava perfis compatveis com o de O. J. Simpson e com os de ambas as vtimas. A luva continha os perfis de Nicole e de Ron, e a meia o DNA de Nicole.

    Ao ser apontado como possvel autor de duplo homicdio, O. J. Simpson desapareceu, depois de deixar com amigos uma carta que anunciava seu desejo de cometer suicdio. Localizado, foi perseguido pela polcia por 96 quilmetros, trancou-se durante horas em seu carro e em seguida entregou-se.

    Durante o julgamento a defesa lutou bravamente. Pequenas falhas na coleo de evidncias foram habilmente exploradas de maneira a demonstrar uma possvel contaminao das amostras. A estratgia da defesa foi a de no apenas tentar desenhar o cenrio de uma investigao incompleta e falha, como o de uma investigao em que a polcia poderia ter comprometido a prova tcnica pela inobservncia de uma correta cadeia de custdia ou plantado evidncias de forma desonesta.

    A estratgia funcionou e, apesar do esmagador conjunto probatrio, O. J. Simpson foi absolvido do duplo homicdio por veredicto proferido em 3 de outubro de 19952.

    Anos antes, em outro crime, no menos miditico, na madrugada de 9 de agosto de 1969, na residncia de nmero 10.050 da Cielo Drive, Bel Air, tambm em Los Angeles, a herdeira milionria de uma empresa de caf, Abigail Folger, seu namorado, o playboy polons, Wojciech Frykowski, o conhecido cabeleireiro Jay Sebring e a dona da casa, grvida de oito meses e meio, a atriz Sharon Marie Tate, esposa do cineasta francs Roman Polanski, foram brutalmente assassinados por um grupo de quatro jovens hippies fanticos, integrado por Charles Watson, Susan Atkins, Patricia Krenwinkel e Linda Kasabian, comandados por seu mentor e guru espiritual Charles Manson.

    Os corpos foram encontrados pela governanta Winifred Chapman que, ao avistar a chacina, saiu correndo pela rua, literalmente histrica, gritando por auxlio. Foi socorrida por Jim Asin, um adolescente com 15 anos de idade, que estava aquecendo o motor do carro em uma casa vizinha. Jim acionou a polcia s 08h33min. Por volta das 09h05min., chegou ao local o patrulheiro Jerry Joe DeRosa, nico disponvel no momento para atender ocorrncia. Pouco depois chegaram duas outras viaturas, com os policiais Willian T. Whisehunt e Robert Burbridge.

    2SAFERSTAIN, Richard. Criminalistics: an introduction to forensic science. 9th ed. New Jersey: Prentice Hall, 2007. p. 380.

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    Experientes, DeRosa, Whisehunt e Burbridge tomaram todos os cuidados para preservar as evidncias que observaram no local. A porta da sala estava parcialmente bloqueada por dois bas antigos. No piso, ao lado dos bas, DeRosa observou um par de culos com armao de tartaruga. Burbridge observou algo mais: no carpete, esquerda da entrada, havia duas pequenas peas de madeira, semelhantes a fragmentos de um cabo de revlver partido. Manchas de sangue comprometiam todo o lugar.

    Mais tarde, medida que outros policiais afluiam ao local, a cena do crime era desfigurada.

    Os culos com armao de tartaruga foram inadivertidamente removidos antes da chegada da percia e colocados sobre uma escrivaninha a dois metros de distncia. Os dois fragmentos de cabo de revlver, inicialmente visualizados junto entrada da sala, estavam agora debaixo de uma cadeira em outro cmodo.

    Vrios policiais pisavam sobre as deposies de sangue e acabavam por misturar as amostras, desconfigurar as manchas e produzir outras em locais onde antes nada havia. Alteraes bastante significativas para uma poca em que sequer se cogitava do exame de DNA e a tipagem sangnea era a anlise mais acurada que se podia pretender.

    Todas essas inovaes e intercorrncias foram exploradas no julgamento, mas, felizmente, no foram suficientes para afastar a responsabilidade dos assassinos que, condenados priso perptua, ainda cumprem suas penas3.

    Em ambos os casos, sucintamente relatados, vemos falhas nos procedimentos de coleta e/ou preservao das evidncia fsicas, com srias repercusses na prestao jurisdicional penal, similares s que se repetem diuturnamente no Brasil. Apesar disso, em nosso meio, poucos so os questionamentos que recaem sobre a tcnica utilizada ou a idoneidade da prova pericial.

    Neste trabalho, pretendemos demonstrar a abrangncia da prova pericial, notadamente a partir do levantamento dos locais de interesse Justia Penal, apontar seus limites, deficincias e qualidades e sugerir modificaes possveis de maneira a contribuir para o aperfeioamento das cincias forenses.

    3BUGLIOSI, Vincent; GENTRY, Curt. Helter Skelter: the true story of the manson murders. New York: W. W. Norton & Company, Inc., 1994. p. 35.

  • 19

    1. AS CINCIAS FORENSES

    1.1. A percia e o Direito

    Costuma existir certa separao entre os profissionais do Direito e das demais cincias exatas e biolgicas, quer porque atuam em ramos absolutamente distintos do conhecimento humano, com mtodos e objetos prprios, quer porque se colocam, com freqncia, em situaes antagnicas dentro do processo.

    Idiossincrasias parte, possvel afirmar que existem mais similaridades que diferenas entre essas profisses e que h reas de concentrao que demandam ao conjunta no interesse da sociedade.

    So mdicos, qumicos, matemticos, fsicos, engenheiros, psiclogos, socilogos, filsofos que, juntamente com os juzes, promotores, advogados e demais auxiliares, se irmanam na difcil tarefa de distribuir a Justia.

    Apesar da diversidade de reas envolvidas e da grande inter-relao entre elas, costuma-se dividir as cincias forenses em trs grandes grupos: a medicina legal, a criminalstica e a criminologia. Tal conceituao no correta, pois a expresso cincias forenses mais ampla e engloba hipteses no abrangidas pelos ramos mencionados.

    Neste trabalho procuraremos fazer uma anlise dos captulos mais importantes da medicina legal e da criminalstica, alm de ponderaes a respeito da apreciao e valorao das chamadas provas tcnicas, especialmente nos casos em que o bem jurdico violado se relaciona com a vida, a sade ou a integridade do ser humano.

    O quadro a seguir, adaptado de similar proposto por Calabuig4, d uma plida noo da abrangncia do tema.

    4CALABUIG, J. A. Gisbert. Medicina legal y toxicologia. 5. ed. Barcelona: Masson, 1998. p. 4.

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    Medicina

    Filosofia

    Direito

    Sociologia

    BiologiaBioqumicaQumicaEstatstica Fsica Tcnicasespecializadas

    Medicina Legal Odontologia Legal

    Criminalstica

    Criminologia

    Matemtica

    Odontologia

    Processos Judiciais

    Cincias forenses

    1.2. Conceito de percia

    Para Fernando Capez5:

    O termo percia, originrio do latim peritia (habilidade especial), um meio de prova que consiste em um exame elaborado por pessoa, em regra profissional, dotada de formao e conhecimentos tcnicos especficos, acerca de fatos necessrios ao deslinde da causa. Trata-se de um juzo de valorao cientfico, artstico, contbil, avaliatrio ou tcnico, exercido por especialista, com o propsito de prestar auxlio ao magistrado em questes fora de sua rea de conhecimento profissional.

    Zarzuela6 a define como:

    Modalidade de prova que requer conhecimentos especializados para a sua produo, relativamente pessoa fsica, viva ou morta, e coisa, implicando da apreciao, interpretao e descrio de fatos ou de circunstncias, de presumvel ou evidente interesse jurdico.

    5CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 2. ed. So Paulo: Saraiva, 1998. p. 251. 6ZARZUELA, Jos Lopes; MATUNAGA, Minoru; THOMAZ, Pedro Loureno. Laudo pericial: aspectos

    tcnicos e jurdicos. 1. ed. So Paulo: Ed. Revista dos Tribunais; Sindicato dos Peritos Criminais do Estado de So Paulo, 2000. p. 337.

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    Percias so, enfim, todos os exames levados a efeito por profissionais da medicina (clnicos, laboratoriais ou necroscpicos) ou de outras reas do conhecimento humano, destinados a uso como meio de prova judicial. So ensaios que reclamam conhecimentos tcnicos, cientficos ou artsticos de seu protagonista.

    Os espanhis as denominam de informe especial, os franceses de expertise ou avaliation, os ingleses de expert examination, os alemes, referindo-se ao laudo pericial, usam a expresso sachverstndgen gutachten, que literalmente significa parecer de entendido na matria, assunto ou coisa7.

    Como as questes levadas a juzo so muito diversas, a natureza da percia depende do tipo de exame considerado, requerendo um profissional especializado que poder ou no ser um mdico.

    Tratando-se de matria mdica, o perito necessariamente dever ser um mdico e o exame produzido uma percia mdica. Cuidando-se de matria referente s demais especialidades, o indicado poder ser um engenheiro, um fsico, um qumico ou outro profissional habilitado, e o exame produzido uma percia de engenharia, de fsica, de qumica ou diversa.

    1.3. Objetivo da percia

    O objetivo da percia a produo de um documento tcnico, cientfico ou artstico, de natureza mdico-legal ou criminalstica8.

    1.4. Natureza jurdica da percia

    Dentro da teoria do processo, a percia est classificada como um meio de prova especial, ao qual se concede um valor relativo maior, situando-se em uma posio intermediria entre as provas comuns e a sentena.

    Como bem lembra Helio Tornaghi:

    7TORNAGHI, Hlio. Curso de processo penal. 6. ed. So Paulo: Saraiva, 1989. v. 1, p. 312. 8ZARZUELA, Jos Lopes; MATUNAGA, Minoru; THOMAZ, Pedro Loureno.op. cit., p. 337.

  • 22

    Se o perito se limitasse a transmitir ao juiz o que apurou com seus conhecimentos tcnicos, ento a percia seria realmente apenas um meio de prova, testemunho. Mas tal no se d: o perito emite juzo sobre o valor dos fatos, externa impresso sobre a possibilidade de terem sido causados por outros acontecimentos e de virem a produzir outros ainda. Considera no apenas a realidade, mas joga tambm com as probabilidades, com os princpios da experincia (erfahrungsstzen). Entra em conjeturas sobre as relaes do fato com outros eventos. No se atm a relatar ao juiz o que se passou e de que teve conhecimento graas a seu saber cientfico ou artstico. O que o juiz deseja saber do perito qual o valor e quais as provveis conseqncias dos fatos. No apenas o que ocorreu, mas o que h de vir. O diagnstico e o prognstico do perito no podem, de maneira alguma, considerar-se mera prova, concluindo que a percia no prova somente, mas tambm ilumina a prova. 9

    Jorge Americano baseia a diferena entre a percia e a prova testemunhal na forma de aquisio do conhecimento que transmitem ao juzo. Lembra o autor que:

    Na testemunha no h contemporaneidade entre a aquisio e a funo jurisdicional. Aquela toma conhecimento dos fatos no momento em que os mesmos se do, de sorte que os juzos que formula, e as conseqncias que induz, ela os faz sob a impresso dessa presena ocasional; h perfeito sincronismo entre o fato que se d e o conhecimento que a testemunha adquire, mas ela s se investe da funo judicial posteriormente, quando arrolada. O perito no. Ele vai conhecer do fato para o fim intencional de instruir a demanda, pelos elementos subseqentes ao mesmo fato, pelos vestgios. 10

    1.5. Classificao das percias

    As percias podem ser classificadas segundo vrios critrios. No quadro a seguir indicamos os mais freqentes, a ttulo de exemplo:

    9TORNAGHI, Hlio. op. cit., v. 1, p. 313. 10AMERICANO, Jorge. Processo civil e comercial no direito brasileiro. So Paulo: Saraiva, 1925. p. 125.

  • 23

    antropolgica gentica necroscpica mdico-legais psiquitrica sexolgica traumatolgica outras

    Quanto matria bioqumica

    balstica contbil documentoscpica criminalsticas engenharia fsica informtica qumica outras

    Quanto maneira de realizar o exame direta Indireta

    cvel criminal

    Quanto ao ramo do direito relacionado fiscal trabalhista

    outras

    Quanto finalidade percipiendi ou de retratao deduciendi ou interpretativa opinativas

    Quanto ao momento de realizao retrospectivas prospectivas

    Quanto concordncia entre peritos coincidentes contraditrias

    Quanto relao que guardam entre si primrias complementares

    Quanto ao objeto de observao intrnseca extrnseca

    Quanto ao sistema de apreciao da prova pelo magistrado vinculatria liberatria

  • 24

    De acordo com a matria, as percias se dividem em mdico-legais e criminalsticas (ou no mdicas). Desnecessrio traar maiores comentrios porque j analisamos os diversos campos que cada uma das cincias engloba.

    Quanto maneira de realizar o trabalho, podem ser diretas ou indiretas.

    Na percia direta o exame feito objetivamente sobre a coisa ou a pessoa, sempre que o evento tenha deixado vestgios. No caso da medicina legal, por exemplo, ser direta quando o mdico examinar a prpria vtima e indireta quando a anlise for efetivada por intermdio de fichas hospitalares ou outros documentos.

    O exame indireto no deve ser confundido com o depoimento de testemunhas, que eventualmente poder suprir a falta do exame de corpo de delito (art. 167 do CPP). Nele, como observa Hlio Tornaghi11, h sempre um juzo de valor feito pelos peritos. Uma coisa afirmarem as testemunhas que viram tais sintomas, e outra os peritos conclurem,

    da, que a causa mortis foi essa ou aquela.

    No que toca ao ramo do direito relacionado, as percias podem objetivar a elucidao de questes de natureza criminal, cvel, trabalhista, tributria e outras, dependendo dos interesses em litgio.

    Considerada a finalidade, podem ser de retratao, de interpretao ou opinativas.

    Percia de retratao ou percipiendi a que tem por objetivo apenas a reproduo pura e simples das impresses colhidas pelo tcnico. A maior parte das percias limita-se narrao detalhada daquilo que foi observado no local, nos instrumentos do crime ou no corpo da vtima, sem que o perito venha a emitir qualquer concluso especfica.

    Essa talvez a modalidade mais simples e comum de exame pericial, principalmente nos levantamentos de locais de crime. O smbolo do Instituto de Criminalstica de So Paulo, com o brocardo latino: visum et repertum, demonstra essa realidade.

    Percia interpretativa ou deduciendi a que se realiza por meio de uma metodologia cientfica de anlise e interpretao dos fatos ou de suas circunstncias. Nela, o perito, aps analisar todos os elementos colhidos de seu objeto de estudo, apresenta uma concluso tcnica sobre o evento questionado.

    11TORNAGHI, Hlio. op. cit., v. 1, p. 319.

  • 25

    Percia opinativa aquela que corresponde a um parecer dos especialistas sobre determinado assunto. As concluses, no caso, traduzem o entendimento, a opinio dos tcnicos sobre determinado tema e no necessariamente uma verdade.

    Quanto ao momento de efetivao do exame em relao ao fato analisado, as percias podem ser retrospectivas ou prospectivas. As primeiras, retrospectivas, constituem exames realizados no presente, mas relacionados com fatos pretritos, e tm por objetivo a perpetuao dos elementos de prova colhidos (efeitos futuros). Correspondem maior parte das percias.

    As prospectivas relacionam-se ao exame de situaes presentes cujos efeitos devero ocorrer no futuro, como, por exemplo, o exame de cessao de periculosidade, previsto no art. 775 do Cdigo de Processo Penal.

    No que tange concordncia entre os peritos, podem ser coincidentes, quando todos tm a mesma opinio, ou contraditrias, em que os especialistas apresentam concluses diversas em face do mesmo objeto de estudo12.

    Consideradas umas em relao s outras, as percias sero primrias quando corresponderem ao exame inicial e complementares quando surgirem em conseqncia de uma percia anterior.

    Em relao ao objeto de observao, podem ser classificadas em intrnsecas, nos casos em que o objetivo a comprovao da materialidade da infrao penal, e extrnsecas, quando o exame recair sobre elementos que circundam o crime, mas no compem sua materialidade, como, por exemplo, danos produzidos pelo agente no imvel antes de tirar a vida da vtima.

    Finalmente, em relao possibilidade de livre apreciao da prova pelo magistrado, dividem-se em vinculatrias, nas hipteses em que o juiz est adstrito s concluses do laudo, e liberatrias, em que o julgador pode ou no aceitar os resultados do perito, baseado em seu livre convencimento. Esta ltima foi a posio adotada pela nossa legislao processual (art. 182 do CPP, art. 326 do CPPM e art. 436 do CPC).

    CPP Art. 182. O juiz no ficar adstrito ao laudo, podendo aceit-lo ou rejeit-lo, no todo ou em parte. CPPM

    12Ver item 3.8.2: Falsa percia.

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    Art. 326. O juiz no ficar adstrito ao laudo, podendo aceit-lo ou rejeit-lo, no todo ou em parte CPC Art. 436. O juiz no est adstrito ao laudo pericial, podendo formar a sua convico com outros elementos ou fatos provados nos autos.

    1.6. A inspeo judicial

    Inspeo judicial uma forma de vistoria feita pelo prprio juiz para verificao de um determinado fato relacionado com a lide.

    Afonso Fraga define o instituto como a inspeo ocular do juiz sobre o objeto da contenda (lugar ou coisa que versa a demanda) com o auxlio somente do pessoal do foro, escrivo, oficial de justia, partes ou seus procuradores13 (art. 440 do CPC).

    Para Humberto Theodoro Jnior o meio de prova que consiste na percepo sensorial direta do juiz sobre qualidades ou circunstncias corpreas ou coisas relacionadas com o litgio14.

    A inspeo judicial pode ter por objeto: a) pessoas que integram ou no os plos processuais, para verificar seu estado

    de sade ou condies de vida ou trabalho;

    b) coisas imveis ou mesmo mveis que, pela sua peculiar condio, no possam ser levadas at o magistrado; e

    c) lugares quando a presena do juiz for importante para esclarecer fatos que importaro na deciso da causa, por exemplo, a condio de visibilidade de uma via pblica onde ocorreu acidente em trnsito.

    Embora no possa ser classificada como percia propriamente dita, o Cdigo de Processo Civil faculta ao magistrado a assistncia de um ou mais peritos (art. 441 do CPC). A verificao dos fatos obra do juiz, que pode contar com a colaborao, necessria ou conveniente, dos especialistas.

    13Instituies do Processo Civil Brasileiro, 1940, vol. II, p. 568, apud MARQUES, Jos Frederico. Instituies de direito processual civil. Campinas, SP: Millennium, 1999. p. 427.

    14THEODORO JNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: teoria geral do direito processual civil e processo de conhecimento. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1996. v. 1, p. 483.

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    Se cumulada com percia, constitui elemento para apreciao do laudo pelo prprio juiz que deve mencion-la com todos os pormenores do que observou para que, em caso de recurso, possa ser considerada pela instncia superior.

    Ensina Moacyr Amaral Santos que:

    O que caracteriza a inspeo judicial, distinguindo-a da percia, que naquela o prprio juiz colhe diretamente as informaes ou observaes das pessoas, coisas ou lugares como objeto de suas observaes, enquanto que na percia essas observaes so colhidas por pessoas entendidas, que a transmitem por meio de um relatrio. 15

    As hipteses de cabimento esto descritas no art. 442 do CPC. Da diligncia poder ser lavrado um auto circunstanciado instrudo ou no com desenhos, grficos ou fotografias (art. 443 do CPC).

    CPC Art. 440. O juiz, de ofcio ou a requerimento da parte, pode, em qualquer fase do processo, inspecionar pessoas ou coisas, a fim de se esclarecer sobre fato, que interesse deciso da causa. Art. 441. Ao realizar a inspeo direta, o juiz poder ser assistido de um ou mais peritos. Art. 442. O juiz ir ao local, onde se encontre a pessoa ou coisa, quando: I - julgar necessrio para a melhor verificao ou interpretao dos fatos que deva observar; II - a coisa no puder ser apresentada em juzo, sem considerveis despesas ou graves dificuldades; III - determinar a reconstituio dos fatos. Pargrafo nico. As partes tm sempre direito a assistir inspeo, prestando esclarecimentos e fazendo observaes que reputem de interesse para a causa. Art. 443. Concluda a diligncia, o juiz mandar lavrar auto circunstanciado, mencionando nele tudo quanto for til ao julgamento da causa.

    Pargrafo nico. O auto poder ser instrudo com desenho, grfico ou fotografia.

    15SANTOS, Moacyr Amaral. Comentrios ao Cdigo de Processo Civil: artigos 332 a 475. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1994. v. 4, p. 449.

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    1.7. Percias previstas no Cdigo de Processo Civil

    O Cdigo de Processo Civil elenca, basicamente, trs formas de percias: exame, vistoria e avaliao.

    CPC Art. 420. A prova pericial consiste em exame, vistoria ou avaliao. Pargrafo nico. O juiz indeferir a percia quando: I - a prova do fato no depender do conhecimento especial de tcnico; II - for desnecessria em vista de outras provas produzidas; III - a verificao for impraticvel.

    Exame a inspeo realizada por peritos para certificar a existncia de algum fato ou circunstncia de importncia para a soluo da lide. O exame pode recair sobre mveis, semoventes, documentos ou pessoas.

    Vistoria a percia realizada em bens imveis.

    Avaliao o exame pericial que tem por objetivo a determinao do valor monetrio de alguma coisa ou obrigao. Se o valor a ser apurado for o de um servio ou implicar na realizao de clculo abstrato de indenizao, o Cdigo de Processo Civil utiliza o termo arbitramento.

    1.8. Percias previstas no Cdigo de Processo Penal

    No Cdigo de Processo Penal temos de diferenciar as percias mdico-legais e as criminalsticas.

    Percias mdico-legais:

    Incidente de insanidade mental art. 149 e seguintes do CPP;

    Autpsia art. 162 do CPP;

    Exame cadavrico art. 163 do CPP;

    Exumao art. 163 do CPP;

  • 29

    Identificao de cadver exumado art. 166 do CPP;

    Leses corporais art. 168 do CPP;

    Mdico-legais de laboratrio art. 170 do CPP; e

    Exame de cessao de periculosidade art. 715, 775 e 777 do CPP.

    Percias criminalsticas:

    Reproduo simulada dos fatos art. 7 do CPP;

    Exame de corpo de delito art. 158 do CPP;

    Perinecroscopia arts. 164 e 165 do CPP;

    Criminalsticas de laboratrio art. 170 do CPP;

    Exames em locais de crimes contra o patrimnio art. 171 do CPP;

    Percias em locais de incndio art. 173 do CPP;

    Percias em documentos art. 174 do CPP;

    Percias em instrumentos do crime art. 175 do CPP; e

    Percia relacionada com a busca e apreenso art. 527 do CPP.

    Os dispositivos legais relacionados com as percias em espcie sero analisados, oportunamente e, quando necessrio, em cada caso.

    1.9. Corpo de delito e exame de corpo de delito

    Algumas infraes penais deixam vestgios (delita facti permanentis) e outras no (delita facti transeuntis).

    Crimes como a injria verbal (art. 140 do CP) ou o desacato (art. 331 do CP), nada deixam de material que possa ser analisado e consubstanciado em um trabalho pericial, devendo ser constatados por outros meios de prova.

    Todavia, delitos, como o homicdio (art. 121 do CP) ou a maioria dos crimes patrimoniais, provocam modificaes sensveis no mundo real que podem ser percebidas

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    por nossos sentidos ou por aparelhos especiais. Nesses casos necessria a realizao do exame de corpo de delito, cujo resultado ser posteriormente apresentado sob a forma de relatrio pericial.

    Tourinho Filho16 lembra que:

    Quando se fala em corpo de delito a primeira idia que se tem a do corpo da vtima. Nada mais errado. Corpo de delito ou corpus delicti, ou ainda corpus criminis, o conjunto dos vestgios materiais deixados pelo crime. Assim o exame de corpo de delito pode ser feito num cadver, numa pessoa viva, numa janela, num quadro, num documento.

    Hlio Tornagui17 ensina que:

    Corpo de delito tudo quanto pode ser usado como prova material do crime: o objeto fsico da ao criminosa (p. ex., o corpo lesado), os instrumentos do crime, o produto da infrao, os efeitos que caem sob os sentidos, isto , podem ser vistos, ouvidos, tocados, cheirados, degustados.

    Para Zarzuela18, a expresso corpo de delito indica:

    A somatria de elementos vestigiais encontradios nos locais de fato, nos instrumentos relacionados com a prtica de uma infrao penal, no exame das peas ou na pessoa fsica, viva ou morta, deixados pelo sujeito ativo da infrao penal, que sero apreciados, interpretados e descritos em laudo pericial.

    Distingue-se, assim, o corpo de delito, que , nas palavras de Fernando Capez19, o prprio crime em sua tipicidade, do exame de corpo de delito, expresso que abrange todos os exames realizados no local dos fatos, instrumentos relacionados e pessoas envolvidas.

    O exame de corpo de delito, nas infraes que deixam vestgio, obrigatrio (art. 158 do CPP). As demais percias requeridas pelas partes podem ser indeferidas, se no forem absolutamente necessrias ao esclarecimento do feito (art. 184 do CPP).

    16TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal. 10. ed. So Paulo: Saraiva, 1987. v. 4, p. 220. 17TORNAGHI, Hlio. op. cit., v. 1, p. 318. 18Conceito proferido em aula ministrada no curso de formao para peritos criminais, na Academia da Polcia

    do Estado de So Paulo, em 1981. 19CAPEZ, Fernando. op. cit., p. 254.

  • 31

    CPP Art. 158. Quando a infrao deixar vestgios, ser indispensvel o exame de corpo de delito, direto ou indireto, no podendo supri-lo a confisso do acusado. Art. 184. Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a autoridade policial negar a percia requerida pelas partes, quando no for necessria ao esclarecimento da verdade.

    O Cdigo de Processo Penal expresso em afirmar que configura nulidade a ausncia do exame de corpo de delito nas infraes que deixam vestgio, ressalvada a impossibilidade pelo seu desaparecimento (art. 564, III, b, do CPP)20.

    No processo civil, embora no exista disposio expressa, a ausncia da percia pode levar nulidade do feito por cerceamento de defesa.

    1.10. A Polcia Cientfica no Estado de So Paulo

    No Estado de So Paulo, a chamada Polcia Cientfica, antiga Polcia Tcnica, estruturava-se segundo o quadro a seguir:

    Essa disposio vigorou durante um longo perodo. A principal crtica que se fazia era a de que rgos eminentemente tcnicos, como o Instituto de Criminalstica e o

    20No processo penal, salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a autoridade policial pode negar a realizao da percia requerida pelas partes, quando no for necessria ao esclarecimento da verdade (art. 184 do PP).

  • 32

    Instituto Mdico-Legal, no deveriam ser dirigidos por delegados de polcia de carreira, pessoas que, embora com conhecimento jurdico e competncia administrativa inquestionveis, no possuam o respaldo tcnico necessrio.

    Estas ponderaes levaram o legislador a editar a Lei Complementar Estadual n 756, de 27 de julho de 1994, criando a Superintendncia da Polcia Tcnico-Cientfica (SPTC), que alterava significativamente a estrutura anterior.

    Apesar de criada no papel, somente quatro anos depois, por iniciativa do Governador Mrio Covas, atravs do Decreto Estadual n 42.847, de 09 de fevereiro de 1998, foi efetivamente implantada.

    Ligada diretamente ao Gabinete do Secretrio da Segurana Pblica e dirigida, alternadamente, por peritos criminais e mdicos-legistas, para um perodo de dois anos, a Superintendncia da Polcia Tcnico-Cientfica tem por finalidades21:

    I. - coordenar e supervisionar os trabalhos de pesquisas nos campos da criminalstica e da medicina legal;

    II. - proceder a estudos tcnicos no mbito de suas atividades especficas;

    III. - prestar orientao tcnica s unidades subordinadas;

    IV. - manter intercmbio com entidades ligadas s reas cientficas correspondentes;

    V. - exercer as atividades inerentes aos sistemas de administrao geral; e

    VI. - zelar pela regularidade das atividades exercidas nas unidades subordinadas.

    Pela nova estrutura, o antigo Departamento Estadual de Polcia Cientfica (DEPC) passou a denominar-se Departamento de Identificao e Registros Diversos (DIRD), ao qual ficaram subordinados o Instituto de Identificao Ricardo Gumbleton Daunt (IIRGD) e o Departamento de Produtos Controlados (DPC). Lamentavelmente, por razes puramente polticas, o IIRGD no ficou subordinado Superintendncia, j que sua funo eminentemente tcnica.

    O quadro mostra a estrutura atual da Polcia Cientfica no Estado de So Paulo:

    21Art. 2 do Decreto Estadual n 42.847, de 9 de fevereiro de 1998.

  • 33

    A iniciativa governamental constituiu inegvel avano legislativo. Inicialmente,

    porque razovel e desejvel que rgos tcnicos sejam dirigidos por aqueles que detm conhecimento especfico na rea de atuao. Em segundo lugar, porque as atividades da Polcia Cientfica apresentam peculiaridades que as distinguem da funo bsica de investigao, afeta Polcia Judiciria e, finalmente, porque, em no raras ocasies, os prprios membros das Polcias Civil e Militar so alvo de apurao, existindo maior credibilidade pblica, at em benefcio do prprio averiguado, quando os exames periciais so elaborados por organismos desvinculados da atividade policial propriamente dita.

    1.11. O Instituto Mdico-Legal

    O Instituto Mdico-Legal (IML) tem por finalidade a elaborao das percias mdico-legais e toxicolgicas.

    Aos mdicos-legistas esto afetas as necropsias, exumaes e demais exames na pessoa humana. Os exames toxicolgicos e laboratoriais relacionados, embora realizados no IML, no so feitos por mdicos-legistas, mas por peritos criminais ali designados.

    Com a criao da Superintendncia, a estrutura do IML ficou sensivelmente alterada, passando a apresentar a seguinte disposio22:

    22Baseado nas atribuies estabelecidas pelo Decreto Estadual n 48.009, de 11 de agosto de 2003.

  • 34

    IML

    Centro dePercias

    Centro deExames

    Anlises ePesquisas

    Ncleo de ApoioLogstico

    Ncleo de ApoioAdministrativo

    Equipe de Assistncia familiar Equipe de Fotografia e Recursos

    udio-Visuais

    Ncleo de Anatomia Patolgica Ncleo de Toxicologia Forense Ncleo de Antropologia

    Ncleo de Clnica Mdica Ncleo de Tanatologia Forense Ncleo de Radiologia Ncleo de Odontologia Legal Ncleo de Percias Mdico-Legais

    da Capital e Grande So Paulo Ncleo de Percias Criminais do

    Interior

    O quadro elenca os exames de corpo de delito privativos dos mdicos-legistas:

    Ncleo responsvel Atribuio Centro de Percias

    Ncleo de Clnica Mdica Prestar orientao tcnica, normatizar, fiscalizar e promover a realizao de percias nas diversas especialidades mdicas.

    Ncleo de Tanatologia Forense Prestar orientao tcnica, fiscalizar e normatizar a execuo de percias em cadveres.

    Ncleo de Radiologia Realizar exames radiolgicos, emitir os respectivos laudos e zelar pelo equipamento radiolgico.

    Ncleo de Odontologia Legal

    Efetuar percias odontolgicas em vivos, objetivando estabelecer nexo causal, determinar a natureza das leses corporais e, se for o caso, avaliar a idade e proceder a identificao, e, em mortos, visando avaliar a idade e/ou proceder a identificao.

    Ncleo de Percias Mdico-Legais da Capital e Grande So Paulo

    Prestar orientao tcnica; fiscalizar a realizao dos exames a cargo das Equipes de Percias Mdico-Legais subordinadas, por meio das Equipes de Percias Mdico-Legais, no mbito de suas respectivas reas de atuao; executar exumaes e exames necroscpicos; realizar exames de embriaguez, de corpo de delito e sexolgicos.

    Ncleo de Percias Mdico-Legais do Interior

    Centro de Exames, Anlises e Pesquisas

    Ncleo de Anatomia Patolgica Realizar exames histolgicos e citolgicos em rgos, ou seus fragmentos, e em secrees procedentes de seres humanos, com o objetivo de subsidiar a percia mdico-legal.

    Ncleo de Toxicologia Forense Efetuar exames em sangue, urina, secrees e vsceras de seres humanos, a fim de detectar substncias que causem envenenamento e/ou dependncia.

    Ncleo de Antropologia Realizar percias e pesquisas em cadveres humanos esqueletizados, ossos, dentes e plos, visando identificao mdico-legal.

  • 35

    1.12. O Instituto de Criminalstica

    Ao Instituto de Criminalstica est afeta a tarefa de realizar todos os exames destinados a instruir processos penais e que no sejam de atribuio do IML ou do IIRGD.

    A grande generalidade das percias pertence aos peritos criminais, abrangendo exames em documentos, crimes contra a pessoa, crimes contra o patrimnio, acidentes de trnsito e outros.

    Com a criao da Superintendncia da Polcia Tcnico-Cientfica, a estrutura do Instituto de Criminalstica passou a apresentar divises entre as unidades tcnicas baseadas em trs critrios: a habilitao profissional requerida (especficas de portadores de determinada formao universitria)23; o grau de especializao (prpria da criminalstica, mas sem uma especificidade universitria definida) e a regio atendida24.

    O esquema a seguir resume a estrutura atual do Instituto de Criminalstica25:

    Como seria praticamente impossvel esgotar o extenso rol de exames realizados pelo Instituto de Criminalstica, o quadro aponta algumas das percias mais freqentes, realizadas por cada ncleo:

    23Vide item 1.7. 24NEGRINI NETO, Osvaldo. Manual de requisies periciais. Edio eletrnica. So Paulo: APMP, 2002. p.

    9. 25Segundo o Decreto Estadual n 48.009/03.

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    Ncleo responsvel Atribuio

    Centro de percias

    Ncleo de Acidentes de Trnsito Percias de infraes penais de qualquer natureza, que necessitem de exame em matria fiscal, contbil ou administrativa.

    Ncleo de Crimes Contra o Patrimnio

    Exames visando elaborao de laudos de locais e peas relacionados com delitos contra o patrimnio, exceto roubo seguido de morte e furto de gua, de energia eltrica, de telefonia ou de telecomunicaes; a propriedade industrial; a organizao do trabalho; o sentimento religioso e o respeito aos mortos; a sade pblica; a economia popular; jogos ilegais; violao de cofres, caixas-fortes, sistemas de vigilncia, de segurana, de alarme e afins; motim e fuga de presos e exerccio arbitrrio das prprias razes.

    Ncleo de Crimes Contra a Pessoa

    Percias objetivando a elaborao de laudos de locais e peas relacionados com delitos praticados contra a pessoa, exceto os homicdios originrios de acidente de trnsito ou de acidente do trabalho; crimes contra os costumes; roubo seguido de morte; exerccio ilegal da medicina, da arte dentria ou da farmacutica; encontro de material de origem supostamente humana, de presumvel relao com prtica delituosa; exumao e disparo de arma de fogo, envolvendo tentativa de homicdio.

    Ncleo de Documentoscopia Exames relacionados com crimes contra a f pblica em documentos de qualquer espcie; escrita mecnica e manuscrita e contrafao de impressos e papis de segurana, cartes de crdito, cheques e ttulos.

    Ncleo de Engenharia

    Percias visando elaborao de laudos de locais e peas relacionados com delitos de perigo comum ou contra a incolumidade pblica; acidentes do trabalho; desabamentos e desmoronamentos; fraude na construo civil ou no comrcio; esbulho possessrio, usurpao ou furto de gua, de energia eltrica e de meios de comunicao; agresso contra o meio ambiente; violao da segurana de meios de comunicao, transportes e outros servios pblicos; desrespeito ao consumidor, envolvendo aparelhos mecnicos, incluindo veculos, e aparelhos eltricos e eletrnicos, exceto os relacionados com informtica.

    Ncleo de Percias Especiais

    Percias visando elaborao de laudos de locais e peas relacionados com delitos resultantes de ilcitos penais cujo exame no seja de atribuio especfica de outros ncleos do Instituto de Criminalstica. Cooperar e auxiliar, quando solicitado ou determinado por autoridade competente, nos exames e diligncias que se fizerem necessrios em casos mais complexos, incluindo locais de catstrofes ou reas de grande extenso territorial, ou quando haja grande diversidade de material a ser coletado para exame.

    Ncleo de Identificao Criminal

    Identificao de caractersticas humanas com emprego de mtodos diversos dos biolgicos; identificao de imagens digitais e impressas, bem como de publicaes de contedo pornogrfico; averiguao de autenticidade de dados de udio ou vdeo, em qualquer meio de gravao.

    Ncleo de Percias em Informtica Percias visando elaborao de laudos de locais e peas envolvendo aparelhos computadorizados, software, hardware e perifricos, relacionados com a prtica de infraes penais na rea de informtica.

    Ncleo de Percias Criminalsticas Sua atribuio varia de acordo com a rea correspondente, na capital, grande So Paulo ou interior.

  • 37

    Centro de Exames, Anlises e Pesquisas

    Ncleo de Anlise Instrumental Identificao, adulteraes ou falsificaes de produtos farmacuticos; composio, adulterantes ou grau de pureza de drogas psicoativas; identificao de venenos.

    Ncleo de Balstica Efetuar exames e confrontos em armas de fogo e peas de munio, para o estabelecimento de sua natureza, eficcia para a prtica da infrao penal e individualizao.

    Ncleo de Biologia e Bioqumica

    Identificao de fluidos biolgicos, em suportes ou in natura; tipagem sangnea; constatao e identificao de plos e cabelos, exceto os destinados identificao humana, bem como de fibras naturais ou artificiais; identificao humana por anlise comparativa de DNA.

    Ncleo de Fsica

    Proceder aos exames de dispositivos e materiais para caracterizao de forma, disposio, integridade, funo, desempenho, atributos, propriedades ou estrutura; alteraes, deformaes, fraturas e seces em materiais diversos, para caracterizao do agente; efetuar ensaios de caracterizao de materiais; realizar anlises elementares ou de estruturas cristalinas por microscopia eletrnica de varredura, difratometria de raios-X ou outros sistemas fsicos de preciso e espectrogrficas acsticas.

    Ncleo de Qumica

    Realizar exames e anlises de produtos qumicos de origem industrial; produtos residuais de disparo de arma de fogo; preparar reagentes especficos para os exames de interesse criminalstico; efetuar anlises qumicas por via clssica, cromatografia ou espectrofotometria de substncias orgnicas e inorgnicas.

    Ncleo de Exames de Entorpecentes Exames de identificao, constatao e comprovao de substncias txicas e de outras drogas classificadas como causadoras de dependncia fsica ou psquica.

    1.13. O Instituto de Identificao Ricardo Gumbleton Daunt

    Ao Instituto de Identificao Ricardo Gumbleton Daunt26 (IIRGD) cabe a pesquisa e a realizao de percias relativas classificao, centralizao e arquivamento de individuais datiloscpicas para efeito de pesquisa e comparao; a pesquisa datiloscpica em documentos, tanto na esfera cvel quanto na criminal; a coleta e a anlise de fragmentos e impresses papilares encontradas em locais de crime, visando identificao de pessoas suspeitas do cometimento de infraes penais; a identificao datiloscpica de cadveres, despojos humanos e desconhecidos e a expedio de Carteiras de Identidade.

    Embora realize percias e elabore laudos, os tcnicos do IIRGD no recebem a designao de peritos, mas sim de pesquisadores papiloscpicos e papiloscopistas

    26Chefe e posteriormente diretor do Servio de Identificao de So Paulo, que hoje leva o seu nome (IIRGD Instituto de Identificao Ricardo Gumbleton Daunt). considerado o precursor da polcia cientfica e um dos introdutores do servio de identificao no Brasil.

  • 38

    policiais27. Os primeiros, pesquisadores, tm por funo a pesquisa e o levantamento dos fragmentos e impresses encontrados em locais de crime, das pessoas, nos postos de identificao, e de cadveres no identificados. Os papiloscopistas efetuam a classificao, o estudo e o cotejo dessas impresses, procurando a identificao.

    1.14. Outras instituies

    O IC, o IML e o IIRGD, cujas atribuies restringem-se praticamente produo de percias da rea penal, no realizam exames relacionados a infraes administrativas, tais como poluio de meio ambiente, uso indevido de medicamentos, aferio de medidas, quantidades em embalagens, suspeita de adulterao de combustveis e outros.

    Nessas hipteses, devem ser acionados outros rgos pblicos, at porque, em determinados casos, existem normas especficas para a coleta de materiais que os institutos mencionados no tm condies de cumprir.

    Entre os rgos pblicos encarregados desses exames, no Estado de So Paulo, podemos citar28:

    Instituto de Pesquisas Tecnolgicas do Estado de So Paulo (IPT);

    Instituto de Pesquisas Energticas e Nucleares (IPEN);

    Instituto Biolgico (IB);

    Instituto Adolfo Lutz (IAL);

    Instituto de Pesos e Medidas do Estado de So Paulo (IPEM);

    Instituto de Medicina Social e de Criminologia de So Paulo (IMESC);

    Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB);

    Agncia Nacional do Petrleo (ANP);

    Grupo de Operaes Tticas Especiais da Polcia Militar (GATE); e

    27No Estado de So Paulo, ao menos at o momento, no se exige formao universitria dos papiloscopistas e pesquisadores papiloscpicos. Entretanto, h em tramitao na Assemblia Legislativa, o Projeto de Lei Complementar Estadual n 46/2003, que prev a exigncia de diploma de nvel superior ou habilitao legal para os papiloscopistas.

    28NEGRINI NETO, Osvaldo. op. cit., p. 70-74.

  • 39

    Departamento de Percias Mdicas do Estado (DPME).

    1.14.1. Instituto de Pesquisas Tecnolgicas do Estado de SP (IPT)

    O IPT atua na realizao de mais de 2300 ensaios e pesquisas nas reas de economia e engenharia de sistemas, engenharia civil, informtica e telecomunicaes, geologia e mineralogia, mecnica e eletricidade, metalurgia, qumica e metrologia qumica, produtos florestais (papel e celulose), tecnologia de couros e calados, tecnologia de transportes (naval, ferrovirio e rodovirio), anlise de embalagens, indstria txtil e outros.

    Produz pareceres tcnicos, relatrios (de ensaio, medio e referncia tcnica), certificaes (de calibrao, de conformidade e de materiais de referncia) e relatrios de atendimento tecnolgico, sempre em atendimento a solicitaes de pessoas fsicas ou jurdicas e mediante remunerao do interessado.

    Excepcionalmente, em percias relacionadas a crimes contra o consumidor (Lei n 8.078, de 11 de setembro de 1990), os servios do IPT podem ser solicitados pelo Instituto de Criminalstica, mas a percia dever ser paga pelo interessado.

    1.14.2. Instituto de Pesquisas Energticas e Nucleares (IPEN)

    Realiza anlises e pesquisas relacionadas com biologia molecular, clulas combustveis, tecnologia de materiais, desenvolvimento e fabricao de combustveis nucleares, engenharia nuclear, laser e suas aplicaes, radiofarmcia, rejeitos radioativos, e tecnologia das radiaes.

    O Instituto de Criminalstica possui um convnio com o IPEN para a realizao de exames que reclamem equipamentos e pessoal de alta especializao.

  • 40

    1.14.3. Instituto Biolgico (IB)

    O Instituto Biolgico tem por atribuies o desenvolvimento e a transferncia de conhecimento cientfico e tecnolgico para o negcio agrcola nas reas de proteo ambiental e sanidade animal e vegetal, objetivando melhoria na qualidade de vida da populao e de suas relaes com o meio ambiente.

    Pode, em casos especiais, auxiliar o Instituto de Criminalstica na elaborao de percias relacionadas com a sua rea de atuao.

    1.14.4. Instituto Adolfo Lutz (IAL)

    O Instituto Adolfo Lutz tem como atribuies controlar a qualidade da produo dos laboratrios da rede Estadual, orientando a organizao dos servios tcnico-especializados, promovendo a introduo de tecnologia, reciclando pessoal e avaliando resultados; atuar como referncia tcnica de laboratrios integrantes do Sistema de Sade no Estado de So Paulo; realizar atividades laboratoriais pertinentes ao seu nvel de complexidade; realizar investigaes e pesquisas pertinentes sua finalidade e papel no Sistema de Sade e divulgar os resultados; informar o Conselho das Vigilncias da Secretaria de Estado da Sade de So Paulo sobre os resultados de investigaes e observaes realizadas pelo Instituto, consideradas relevantes para o controle ou eliminao de agravos e riscos sade da populao, e participar da elaborao das diretrizes e definies das polticas em Sade e em Cincia e Tecnologia29.

    Realiza exames de laboratrios para diagnstico de molstias transmissveis, imunolgicas e neoplsicas; exames histopatolgicos, citolgicos e necrpsias de interesse sanitrio e de medicina preventiva; anlise de produtos qumicos e biolgicos de drogas, medicamentos oficiais e especialidades farmacuticas de produtos de higiene e toucador, desinfetantes e similares; exames fsicos, qumicos, biolgicos e microscpicos de alimentos naturais e industrializados, dietticos, gua e bebidas em geral; exames de plsticos, vernizes e outros materiais de embalagem; anlises clnicas auxiliares de

    29INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Disponvel em: .

  • 41

    interesse da sade pblica; estudo e pesquisa da etiologia de endemias, epidemias e antropozoonoses30.

    Recentemente foi editado um Termo de Cooperao Tcnica entre a Secretaria da Sade e o Instituto Adolfo Lutz, objetivando o atendimento de todas as percias relacionadas com infraes sanitrias (descritas na Lei n 6.437 de 20 de agosto de 1977).

    Alm disso, em outros casos, quando o Instituto de Criminalstica no dispuser da metodologia necessria para a realizao de algum exame especfico, poder solicitar auxlio ao IAL.

    Importante lembrar que a percia relacionada com laticnios, carnes e embutidos de atribuio do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento, por intermdio do Servio de Inspeo Federal SIF.

    1.14.5. Instituto de Pesos e Medidas do Estado de So Paulo (IPEM)

    O Instituto de Pesos e Medidas do Estado de So Paulo (IPEM) um rgo de proteo s relaes de consumo, na rea relacionada metrologia legal31, exercendo a verificao e a fiscalizao de instrumentos de medio (balanas, bombas de combustvel, peso de embalagens, etc.), produtos pr-medidos32, artigos txteis (em relao qualidade das fibras componentes), produtos com certificao compulsria33 e veculos transportadores de produtos perigosos34.

    30Atribuies conferidas pelo Decreto-lei n 11.522 de 26 de outubro de 1940, modificado pelo art. 2 do Decreto s/n de 28/04/70 (Apud NEGRINI, 2002, p. 72).

    31Parte da metrologia que se refere s exigncias legais, tcnicas e administrativas, relativas s unidades de medida, aos mtodos de medio, aos instrumentos de medir e s medidas materializadas.

    32Produto pr-medido aquele cuja quantidade determinada sem que o consumidor tenha acesso ao processo de medio. Geralmente acondicionado em embalagem que traz no rtulo a quantidade de produto nela contida.

    33Existem produtos que, por suas caractersticas, podem colocar em risco a sade e a segurana do usurio ou do meio ambiente se fabricados de maneira inadequada. Por isso, so certificados compulsoriamente, ou seja, devem obedecer rigorosamente as normas especficas de produo estabelecidas pelo INMETRO. So exemplos os brinquedos, capacetes para motociclistas, fios e cabos eltricos, extintores de incndio, botijes, mangueiras e reguladores de gs, preservativos e outros.

    34Veculos transportadores de determinados produtos qumicos (xileno, tolueno, etc.) e de combustveis lquidos (gasolina, lcool etlico carburante, leo diesel, querosene e gasolina de aviao).

  • 42

    1.14.6. Instituto de Medicina Social e Criminologia de SP (IMESC)

    Tem por atribuio a realizao de percias mdico-legais, psiquitricas e imuno-hematolgicas requisitadas pelo Poder Judicirio Estadual ou Federal, tanto na esfera cvel quanto na criminal. Os exames so gratuitos desde que decorrentes de requisio judicial.

    Na rea penal atua nos casos de verificao de insanidade mental (art. 149 do CPP), dependncia toxicolgica (art. 23, 1, da Lei n 6.368/76) e cessao de periculosidade (art. 715 do CPP).

    Na rea cvel, ensaios imuno-hematolgicos (incluindo DNA) em aes de investigao de paternidade ou maternidade, negatria de filiao ou paternidade e correlatas. Realiza tambm percias mdico-legais, em aes acidentrias, previdencirias e reparaes de dano, anulaes de casamento, verificao de idade e outras. No campo da psiquiatria forense, exames nos casos de interdio, tutela, curatela, modificao de guarda de menores, anulao de casamento (por fatores psquicos), avaliaes psiquitricas em geral, para aes indenizatrias, anulatrias de atos jurdicos.

    1.14.7. Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB)

    A CETESB tem por objetivos fiscalizar os padres de qualidade ambiental no Estado, organizar e disponibilizar dados e informaes sobre a qualidade ambiental e fontes de poluio, desenvolver indicadores e monitorar o desempenho nas diversas reas de interesse ambiental.

    Para alcanar esses objetivos, promove o licenciamento ambiental35 e a fiscalizao de fontes fixas36, a fiscalizao das fontes mveis, o monitoramento da qualidade do ar e das guas, assim como o estudo da balneabilidade37 das praias.

    35Licenciamento ambiental o procedimento pelo qual o rgo ambiental competente permite a localizao, instalao, ampliao e operao de empreendimentos e atividades que utilizam recursos ambientais e possam ser efetiva ou potencialmente poluidoras ou possam causar degradao ambiental.

    36Fontes poluidoras. 37Balneabilidade a qualidade das guas destinadas recreao de contato primrio, ou seja, aquele direto e

    prolongado com a gua (natao, mergulho, esqui-aqutico, etc.), em que a possibilidade de ingesto de quantidades apreciveis de gua elevada.

  • 43

    Possui tecnologia e metodologia para coleta de materiais e exames comprobatrios de crimes e infraes ambientais, como poluio do ar, gua, solo, etc.

    1.14.8. Agncia Nacional do Petrleo (ANP)

    A Agncia Nacional do Petrleo uma autarquia federal, vinculada ao Ministrio de Minas e Energia, que tem por finalidade a regulao, a contratao e a fiscalizao das atividades relacionadas com a indstria do petrleo (Lei n 9.478, de 06 de agosto de 1997). responsvel pelos exames de combustv