eduardo de oliveira - uel portal · a minha amiga meire cristina da silva pela amizade que...

119
EDUARDO DE OLIVEIRA A PEQUENA CIDADE DE ELÍSIO MEDRADO-BA E SUA INSERÇÃO NA REDE URBANA. LONDRINA 2010

Upload: buithuan

Post on 08-Nov-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

EDUARDO DE OLIVEIRA

A PEQUENA CIDADE DE ELÍSIO MEDRADO-BA E SUA INSERÇÃO NA REDE URBANA.

LONDRINA 2010

EDUARDO DE OLIVEIRA

A PEQUENA CIDADE DE ELÍSIO MEDRADO-BA E SUA INSERÇÃO NA REDE URBANA.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina, para obtenção do título de bacharel em Geografia. Orientador: Prof. Dr. Claudio Roberto Bragueto

LONDRINA 2010

EDUARDO DE OLIVEIRA

A PEQUENA CIDADE DE ELÍSIO MEDRADO-BA E SUA INSERÇÃO NA REDE URBANA.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina, para obtenção do título de bacharel em Geografia.

COMISSÃO EXAMINADORA

____________________________________ Prof. Dr. Claudio Roberto Bragueto Universidade Estadual de Londrina

____________________________________ Profª. Me. Rosely Maria de Lima

Universidade Estadual de Londrina

____________________________________ Profª. Drª Márcia Siqueira de Carvalho

Universidade Estadual de Londrina

Londrina, _____de ___________de _____.

DEDICO ESTA CONQUISTA A MINHA

FAMÍLIA, OS QUAIS AMO MAIS QUE TUDO:

MINHA ESPOSA, MEUS PAIS E IRMÃOS.

AGRADECIMENTOS

A meu pai (Severino), minha mãe (Alice) exemplos de amor e dedicação; À minha esposa, Adenildes, pelo carinho, paciência, apoio, amizade e amor;

e que soube segurar as “pontas” enquanto eu realizava uma e outra tarefa, alheio aos

“afazeres” familiares, estando sempre do meu lado em todos os momentos. Te amo!!!;

A meus irmãos, Carlos e Lusimara pelo carinho; Aos meus sogros Aristides e Maria Alice por todo auxílio e apoio durante

esta caminhada;

Aos meus cunhados, cunhadas e sobrinhos, especialmente ao meu

sobrinho Cleison pela ajuda e prontidão no decorrer da pesquisa;

A Dilê e Rosangela Martins pela amizade e apoio, sempre que necessário e

pelo estímulo para superar as dificuldades;

A minha amiga Meire Cristina da Silva pela amizade que conquistamos

durante esta etapa de nossas vidas;

Ao Padre Gilberto Vaz Sampaio por ter deixado uma grande contribuição

teórica da região (in memorian);

Ao meu orientador Prof. Dr. Claudio Roberto Bragueto pela sua

disponibilidade e apoio ao longo do trabalho;

À professora Tania Maria Fresca, pois foi a partir de suas primeiras

orientações que ampliei minha visão quanto ao universo da temática;

A todos os professores do curso de Geografia da UEL, que são parte ativa

deste trabalho;

A todas as pessoas de Elísio Medrado que me permitiram entrevistá-las e

que me deram valiosas informações para a elaboração deste trabalho;

Enfim, agradeço a todos que diretamente e indiretamente contribuíram para

esta minha conquista.

No meio da dificuldade encontra-se a oportunidade.

Albert Einstein

OLIVEIRA, Euardo de. A pequena cidade de Elísio Medrado-BA e sua inserção na rede urbana. 2010. 118 f.Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Geografia) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2010.

RESUMO

Analisa a dinâmica funcional da cidade de Elísio Medrado- BA e sua inserção na rede urbana regional. Além disso, identifica a gênese do município e as mudanças que ocorreram ao longo de sua história. Para a coleta das informações utiliza-se pesquisa de campo, entrevistas abrangendo a população tanto rural como urbana. Faz uma análise teórica mostrando o que é uma rede urbana e o conceito de pequena cidade dentro do conceito hierárquico. Dentro da análise histórica, constata que o município apresenta três pequenos núcleos urbanos que se formaram em períodos e contextos econômicos diferentes. Inicialmente o município era habitado por nativos da região, com a penetração dos bandeirantes no Recôncavo Sul surgiu um primeiro povoado que chegou a ser sede de município, atualmente é apenas distrito do município denominado Monte Cruzeiro. No ponto sul do município surgiu outro povoado na segunda metade do século XIX em decorrência da estrada de ferro que cortava a região, atualmente é um pequeno povoado conhecido como Souza Peixoto. Já, no início do século XX surge o povoado que é hoje a sede do município. Atualmente o município encontra-se na área periférica da rede urbana regional, apresentando um baixo desenvolvimento, cuja população não tem acesso a trabalho, poucos são empregados públicos, muitos vivem da aposentadoria e da agricultura de baixa capitalização. Em decorrência desses fatores os jovens do município migram para outras cidades em busca de melhores condições de vida. Assim, esse trabalho faz uma análise geral dos aspectos históricos, econômicos e geográfico do município, desde as primeiras ocupações até a atualidade, buscando entender as problemáticas econômica e social em que passa o município e finalmente são sugeridas algumas alternativas de melhoria social e econômica para a população local. Palavras-chave: Rede urbana, cidade pequena, Elísio Medrado.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Mapa com a localização do município de Elísio Medrado .................................. 14

Figura 1a – Mapa com a localização dos povoados do município de Elísio Medrado ......... 35

Figura 2 – Fazenda Estiva ..................................................................................................... 38

Figura 3 – Casas antigas e novas – lado a lado ..................................................................... 40

Figura 4 – Casas antigas e novas – lado a lado .................................................................... 40

Figura 5 – Casas antigas e novas – lado a lado .................................................................... 40

Figura 6 – Casas antigas e novas – lado a lado .................................................................... 40

Figura 7 – Plantação de uva ................................................................................................. 41

Figura 8 – Produção artesanal de vinho ............................................................................... 41

Figura 9 – Produção artesanal de vinho .............................................................................. 41

Figura 10 – Vista da Igreja de Monte Cruzeiro (Nossa Senhora de Sant’Ana) .................... 42

Figura 11 – Aspecto interno da Igreja de Monte Cruzeiro (Nossa Senhora

de Sant’Ana) ........................................................................................................................... 43

Figura 12 – Aspecto interno da Igreja de Monte Cruzeiro (Nossa Senhora

de Sant’Ana) .......................................................................................................................... 43

Figura 13 – Aspecto interno da Igreja de Monte Cruzeiro (Nossa Senhora

de Sant’Ana) .......................................................................................................................... 43

Figura 14 – Aspecto interno da Igreja de Monte Cruzeiro (Nossa Senhora

de Sant’Ana) ........................................................................................................................... 43

Figura 15 – Povoado de Souza Peixoto................................................................................. 44

Figura 16 – Igreja do Povoado de Souza Peixoto (São Francisco do Cajueiro) ................... 45

Figura 17 – Aspecto das construções: antiga e mais recente ................................................ 45

Figura 18 – Aspecto das construções: antiga e mais recente ................................................ 45

Figura 19 – Aspecto das construções: antiga e mais recente ................................................ 45

Figura 20 – Aspecto das construções: antiga e mais recente ................................................ 45

Figura 21 – Construção antiga passando por transformação na atualidade .......................... 46

Figura 22 – Construção antiga passando por transformação na atualidade ......................... 46

Figura 23 – Plantação de mandioca ...................................................................................... 46

Figura 24 – Residência e casa comercial do Sr. Vitorino Peixoto ....................................... 48

Figura 25 – Residência e casa comercial do Sr. Vitorino Peixoto ....................................... 48

Figura 26 – Casa Santana em destaque – residência e casa comercial do

Sr. Vitorino Peixoto ............................................................................................................... 48

Figura 27 – Residência no Lagedo Batista ........................................................................... 49

Figura 28 – Cesta do Povo – proximidade do local de início da feira do município de

Elísio Medrado, no ano de 1928 ........................................................................................... 50

Figura 28a – Quadro evolutivo mostrando a qual município pertenceu o território do

atual município de Elísio Medrado......................................................................................... 52

Figura 29 – Construção antiga feita de adobe ...................................................................... 53

Figura 30 – Construção antiga feita de adobe ...................................................................... 53

Figura 31 – Construções antigas que servem como moradia e comércio ............................. 54

Figura 32 – Construções antigas que servem como moradia e comércio ............................ 54

Figura 33 – Carros estacionados na calçada e na rua, devido à ausência de garagem, e

uma das casas com um melhor padrão arquitetônico contendo garagem .............................. 54

Figura 34 – Carros estacionados na calçada e na rua, devido à ausência de garagem, e

uma das casas com um melhor padrão arquitetônico contendo garagem ............................. 54

Figura 35 – Serviço de moto táxi oferecido a população do município de Elísio Medrado . 55

Figura 36 – Casas populares ................................................................................................. 57

Figura 37 – Casas populares ................................................................................................. 58

Figura 38 – Calçamento com paralelepipedo ....................................................................... 59

Figura 39 – Comércio da área central do município de Elísio Medrado ............................. 59

Figura 40 – Comércio da área central do município de Elísio Medrado ............................. 60

Figura 41 – Comércio da área central do município de Elísio Medrado ............................ 60

Figura 42 – Comércio da área central do município de Elísio Medrado ............................ 61

Figura 43 – Comércio da área central do município de Elísio Medrado ............................. 61

Figura 44 – Comércio da área central do município de Elísio Medrado ............................ 62

Figura 45 – Comércio da área central do município de Elísio Medrado ............................ 62

Figura 46 – Comércio da área central do município de Elísio Medrado ............................ 63

Figura 47 – Mapa da Região Econômica do Recôncavo Sul da Bahia ................................ 67

Figura 48 – Estrutura viária da Região de Amargosa Bahia - 1960 ..................................... 71

Figura 49 – Fazenda Estiva do Sr. Kamal Elílio Chaoul ...................................................... 72

Figura 50 – Árvores de Flamboyants e ao fundo a Serra da Jibóia (Fazenda Estiva) .......... 73

Figura 51 – Fazenda do povoado Limoeiro do ano de 1912 ................................................ 74

Figura 52 – Decoração artística na parede interna da fazenda do povoado Limoeiro do ano

de 1912, e piso de lajota feito de barro cozido ...................................................................... 74

Figura 53 – Decoração artística na parede interna da fazenda do povoado Limoeiro do ano

de 1912, e piso de lajota feito de barro cozido ..................................................................... 74

Figura 54 – Fazenda Rio Vermelho ..................................................................................... 75

Figura 55 – Equipamento para moagem da cana pertencente à Fazenda Rio Vermelho ...... 76

Figura 56 – Regiôes Econômicas do estado da Bahia e seu desenvolvimento .................... 80

Figura 57 – Preparo do terreno de forma manual para plantio de mandioca ....................... 89

Figura 58 – Feira de roupas .................................................................................................. 93

Figura 59 – Cesta do Povo (portas e janelas na cor azul) – local próximo de onde se iniciou

a feira do município de Elísio Medrado no ano de 1928.......................................................94

Figura 60 – Centro de Abastecimento Governador César Borges onde acontece a feira

do munícípio de Elísio Medrado ...........................................................................................94

Figura 61 – Feirante do município de Elísio Medrado, transportando suas mercadorias

no lombo de um jegue............................................................................................................95

Figura 62 – Barraca de um dos feirantes expondo seus produtos aos consumidores da

Feira.......................................................................................................................................95

Figura 63 – Barraca de um dos feirantes expondo seus produtos aos consumidores da

feira .......................................................................................................................................96

Figura 64 – Barraca de um dos feirantes expondo seus produtos aos consumidores da

feira .......................................................................................................................................96

Figura 65 – Vista de algumas barracas dos diversos feirantes da feira expondo seus

produtos aos consumidores....................................................................................................97

Figura 66 – Transporte oferecido aos moradores da zona rural, trazendo a população

do campo para consumir produtos da feira............................................................................98

Figura 67 – Sorteio de brindes, realizado no dia 31 de dezembro de 2009........................100

Figura 68 – Mercado Municipal.........................................................................................100

Figura 69 – Produtor expondo seus produtos na rua..........................................................101

Figura 70 – Potencialidades econômicas de alguns municípios do Recôncavo Sul...........104

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Frota de veículos em 2009................................................................................... 55

Tabela 2 – Movimentação financeira da empresa Estrada de Ferro de Nazaré/1931-1969

(em réis, entre 1931-1945; 1946-1969, em cruzeiros............................................................. 70

Tabela 3 – Rendimento médio mensal da população economicamente ativa: 1980 e 2000.. 82

Tabela 4 – Estrutura fundiária do município de Elísio Medrado - 2006 ............................... 83

Tabela 5 – População Urbana e Rural nos períodos de 1970 a 2000 .................................... 83

Tabela 6 – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) - 2009 ........................ 85

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Linhas de ônibus intermunicipal ....................................................................... 64

Quadro 2 – Dados geográficos do município de Elísio Medrado ........................................ 81

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CEL. - Coronel

D. - Dona

EMTRAM – Empresa de Transportes Macaubense Ltda.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

PE. - Padre

SIDRA – Sistema IBGE de Recuperação Automática

SPC – Sistema de Proteção ao Crédito

SR. - Senhor

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 14

2 A REDE URBANA E PEQUENAS CIDADES................................................................ 18

2.1 REDE URBANA NA VISÃO DE ROBERTO LOBATO CORRÊA................................ 18

2.1.1 A Hierarquia Urbana ...................................................................................................... 20

2.2 PEQUENAS CIDADES: POR QUE ESTUDÁ-LAS? ..................................................... 24

2.2.1 Breve Considerações Sobre a Urbanização Brasileira e Pequenas Cidades................... 26

2.2.2 Pequenas Cidades: Seu Papel na Rede Urbana .............................................................. 28

3 A HISTÓRIA DE ELÍSIO MEDRADO ........................................................................... 34

3.1 SURGIMENTO DO POVOADO DE MONTE CRUZEIRO ........................................... 35

3.2 SURGIMENTO DO POVOADO DE SOUZA PEIXOTO............................................... 43

3.3 SURGIMENTO DO POVOADO PARAÍSO ................................................................... 47

3.4 MARCAS DO PASSADO E ALGUMAS CARACTERÍSTICAS ATUAIS

DO MUNICÍPIO ..................................................................................................................... 53

3.4.1 Presença de Escravidão no Município............................................................................ 65

3.4.2. O Cultivo do Café.......................................................................................................... 66

4 FORMAÇÃO DA REDE URBANA E O MUNICÍPIO DE ELÍSIO MEDRADO. ..... 67

4.1 INÍCIO DA FORMAÇÃO DA REDE URBANA E/OU O MUNICÍPIO DE

ELÍSIO MEDRADO ............................................................................................................... 68

4.2 A REDE URBANA E A DINÂMICA FUNCIONAL DE ELÍSIO MEDRADO

NA ATUALIDADE ................................................................................................................ 79

4.2.1 Alguns Dados Econômicos e Sociais de Elísio Medrado............................................... 80

4.2.2 A Problemática dos Comerciantes Locais ...................................................................... 90

4.2.3 A Feira Semanal ............................................................................................................. 93

4.3 UM OLHAR GEOGRÁFICO SOBRE O MUNICÍPIO DE

ELÍSIO MEDRADO: ALGUMAS SUGESTÕES.................................................................101

CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................108

REFERÊNCIAS....................................................................................................................110

APÊNDICES.........................................................................................................................113

APÊNDICE A – Entrevista aplicada com os comerciantes do município de

Elísio Medrado.......................................................................................................................114

APÊNDICE B – Entrevista aplicada com os feirantes do município de

Elísio Medrado........................................................................................................................115

APÊNDICE C – Entrevista aplicada com os moradores da área urbana e rural do

município de Elísio Medrado..................................................................................................116

APÊNDICE D – Relação das pessoas entrevistadas...............................................................117

14

1 INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas o mundo tem passado por muitas mudanças no âmbito

social e econômico. A acirrada competição produtiva, comercial e financeira em escala global

cria dificuldades para algumas regiões se adequarem às novas transformações.

A Geografia enquanto ciência que estuda a organização e as interações no

espaço geográfico, passa a desempenhar um relevante papel neste cenário atual, sobretudo, na

busca da compreensão das relações existentes entre o desenvolvimento regional e o local.

Neste contexto o Recôncavo Sul da Bahia, que no início da colonização

brasileira era uma importante região exportadora de açúcar e posteriormente de café, é objeto

de estudo deste trabalho dando ênfase para o município de Elísio Medrado (figura 1).

Figura 1: Mapa com a localização do Município de Elísio Medrado. Fonte: MENEZES (2008, p. 16). Adaptação: Eduardo de Oliveira, 2010.

15

Tem como objetivo analisar a dinâmica funcional do município de Elísio

Medrado e sua inserção na rede urbana regional. E como objetivos específicos a pesquisa

buscou:

Identificar a gênese do município;

Verificar as mudanças que ocorreram e que estão ocorrendo ao longo dos anos neste

município em função das demandas diárias de trabalho, sociais e econômicas;

Compreender sua importância na rede urbana regional, analisando a influência deste

em outros municípios da região.

Em outras palavras, procura-se compreender os fatores que estão levando o

município a um declínio de suas atividades econômicas já que a população local não tem

acesso a emprego, poucos são os empregos gerados pela Prefeitura, e muitos vivem de

aposentadoria e da agricultura de baixa capitalização.

Com esta pesquisa foi possível descobrir as causas do fraco desenvolvimento

municipal. Um fato que chama a atenção é a ausência de agentes produtores do espaço, visto

que a cidade não tem promotor imobiliário, o grande capitalista, latifundiário, agente

industrial, existindo apenas intervenção do Estado que pouco interfere na produção espacial

urbana.

A produção espacial por parte do Estado, se dá apenas com a construção de

algumas casas populares que começaram a surgir a partir da última década. A negociação de

imóveis ocorre de boca a boca, onde o comprador e o vendedor negociam diretamente.

Em decorrência do pouco desenvolvimento do município muitos jovens se

deslocam principalmente para Salvador para trabalhar no comércio de alguém conhecido e

posteriormente deixa de ser comerciário e passa a ser comerciante; montando o seu pequeno

comércio, geralmente ligados a alimentação (minimercado, padaria, lanchonete, açougue,

entre outros). Percebe-se que a saída desses jovens faz com que a população local reduza,

ficando apenas os mais velhos.

Outro fato relevante, que ocorre no município, é que os moradores se

deslocam até as cidades como Amargosa e Santo Antônio de Jesus para fazer feiras e comprar

produtos como eletrodomésticos, serviços entre outros, mesmo que muitos destes produtos

sejam vendidos no comércio local, porém este não oferece as variedades encontradas nestes

dois municípios.

Estes fatores citados, anteriormente, deixam o município ainda mais

empobrecido, pois sai a mão-de-obra jovem e o dinheiro que poderia circular na cidade vai

para os demais municípios.

16

Este estudo pode servir de base para o desenvolvimento de um planejamento

urbano, ajudando na tomada de rumos para seu desenvolvimento, visto que a administração

atual se mostra interessada em conhecer o resultado do trabalho.

Outro fator de interesse pela pesquisa é de cunho pessoal, pois minha esposa

nasceu neste município onde também nos casamos e onde vive muitos familiares, que

despertaram em mim a curiosidade de fazer tal pesquisa, por perceber que o município não

tem um trabalho semelhante.

Com base em uma metodologia que parte da teoria para a prática, foi

analisada a área de estudo com leitura mais aprofundada sobre o tema, para facilitar a

compreensão dos fatos observados em atividade de campo.

Toda análise realizada foi feita através de pesquisa de campo (entrevistas,

observação em torno do município e da região) e coleta de dados na Prefeitura do Município

de Elísio Medrado, IBGE., biblioteca, entre outros.

Todas as informações obtidas foram analisadas. No decorrer de todo este

trabalho, além do reconhecimento da área e levantamento cartográfico, foi discutida a parte

teórica que serviu de base para a redação do presente trabalho.

Inicialmente foi feito um levantamento bibliográfico sobre o município e a

área em estudo, além das teorias da Geografia Urbana com ênfase em Rede Urbana e

pequenas cidades. Após o levantamento bibliográfico procedeu-se a elaboração de

fechamentos e resumos.

Como já se tinha conhecimento prévio da localidade, não houve necessidade

de um reconhecimento de campo para elaboração de uma entrevista.

Após a tabulação dos dados coletados pelas entrevistas, que foram feitas

tanto com os comerciantes, quanto a população local, os mesmos foram analisados com base

nas teorias estudadas. Finalmente foi montado o trabalho final, tendo como base os dados

obtidos e o referencial teórico.

Assim, este trabalho se subdivide em:

Capítulo 2 é discutido o tema a rede urbana e pequenas cidades, pois para se

entender a dinâmica funcional de um município faz-se necessário entender a rede urbana e sua

hierarquia neste contexto. Também fez-se uma discussão sobre as pequenas cidades,

mostrando sua importância dentro do espaço geográfico, visto que aparentemente são cidades

com pouca dinâmica econômica, mas tem sua importância dentro da rede urbana, tanto como

fornecedora de mão-de-obra, matéria-prima, ou alimentos, bem como consumidora final de

produtos industrializados.

17

Já no capítulo 3, é feita uma reconstrução histórica do município desde a sua

gênese de formação até a situação atual, destacando aspectos geográficos e históricos. Como o

município não conta com muito material bibliográfico para pesquisa, foi preciso buscar

informações junto à comunidade local através de entrevistas, além de observações dos

aspectos arquitetônicos e históricos. Mas uma obra não publicada escrita pelo padre Gilberto

Vaz Sampaio ajudou muito nesta pesquisa, que junto à comunidade pode-se constatar a

veracidade dos fatos relatados em seu trabalho, que certamente não foi publicado devido ao

seu falecimento, na fase de correção gramatical.

O capítulo 4 aborda a formação da Rede Urbana e/ou o município de Elísío

Medrado desde o seu início até a fase atual, buscando caracterizar o município dentro do

espaço regional econômico do Recôncavo Sul da Bahia. Com base no resultado dessa

pesquisa, sugere-se algumas atividades que podem ser desenvolvidas no município para

melhorar a qualidade de vida da população local. Embora sejam sugestões simples e que não

demandam de muito recurso financeiro, eles necessitam de um grande empenho da população

junto ao poder público local para que tais atividades se tornem viáveis a médio e longo prazo.

Assim, esta monografia será mais um dos poucos trabalhos bibliográficos

sobre o município que poderá servir de base para novos estudos.

18

2 A REDE URBANA E PEQUENAS CIDADES

2.1 REDE URBANA NA VISÃO DE ROBERTO LOBATO CORRÊA

Para se entender a dinâmica funcional do município de Elísio Medrado, se

faz necessário entender a rede urbana.

Mas o que seria uma rede urbana? Entre vários autores e as definições que

estes dão ao tema, o que Corrêa descreve parece mais claro para se entender como Elísio

Medrado está inserido nesta rede.

Para Corrêa (1994, p. 293)

[...] a rede urbana, é um produto social, historicamente contextualizado, cujo papel crucial é o de, através de interações sociais espacializadas, articular toda a sociedade numa dada porção do espaço, garantindo a sua existência e reprodução.

Em forma resumida, rede urbana é uma rede de relações que permite a

sociedade manter suas relações sociais e econômicas, através da rede de transporte,

comunicação, entre outras.

Para Corrêa (1989a, p. 5), a gênese da rede urbana começa no século XVI

com início do capitalismo. Mas foi a partir de mudanças sociais, ocorridas principalmente na

segunda metade do século XX, que os estudos sobre rede urbana têm se intensificado no

âmbito da Geografia. É através da crescente rede de comunicação e transporte que vários

lugares passaram a estar interligados, estabelecendo uma economia global.

Entre os anos de 1920 a 1950 os estudos sobre rede urbana começavam a se

propagar. “É deste período que aparecem, entre outras, as proposições de Christaller e de

Maark Gefferson” (CORRÊA, 1989a, p. 9).

Mas no Brasil, só a partir de 1955 que se iniciam os estudos sobre rede

urbana, pois após a Segunda Guerra Mundial ocorreu o processo de aceleração urbana. Os

geógrafos e outros cientistas sociais têm abordado o tema a partir de diferentes vias: “[...] à

diferenciação das cidades em termo de suas funções, dimensões básicas de variação, relações

entre tamanho demográfico e desenvolvimento, hierarquia urbana, e relações entre cidade e

região” (CORRÊA, 1989a, p. 10).

19

Dentro da classificação funcional, Corrêa (1989a, p. 10) coloca que “esta

abordagem tem como pressuposto a existência de diferenças entre as cidades no que se refere

às funções”. Conhecendo a função principal da cidade se torna mais fácil compreender a

organização espacial. Mas para definir a função básica da cidade é preciso que o geógrafo

tenha bastante cuidado com relação as técnicas estatísticas, pois elas podem não revelar a

realidade das cidades. Como exemplo “os dados do Censo Demográfico são incapazes de

revelar algumas funções importantes das cidades brasileiras, como aquelas ligadas à

drenagem da renda fundiária” (CORRÊA, 1989a, p. 12). Características como: o ritmo de

crescimento da população, a estrutura etária, a escolaridade, a proporção de homens e

mulheres na idade ativa, as taxas de desemprego e a renda per capita podem variar

dependendo das funções que desempenham (CAPEL apud CORRÊA, 1989a, p. 13).

Foi com o estudo de Moser e Scott, em 1961, que se iniciou a procura

sistemática das dimensões básicas de variação dos sistemas urbanos (CORRÊA, 1989a, p.

13). Vários estudos relativos a diversos países foram realizados com o objetivo de descobrir

através da prática as dimensões básicas de variações como também sua estabilidade ao longo

do tempo e a existência de dimensões universais de variações. Nesses estudos foram

descobertas várias dimensões básicas de variáveis, entre elas estão às referentes ao tamanho,

especialização funcional, características sociais e crescimento demográfico (CORRÊA,

1989a, p. 14).

No Brasil, entre os anos de 1970 a 1977, devido a muitos geógrafos usaram

as técnicas quantitativas e modelos de desenvolvimento regional, além do envolvimento do

sistema de planejamento, isso fez com que as abordagens sobre rede urbana tenham sido

marcadas, nessa época, pelo uso da dimensão básica de variações.

Esses estudos revelaram alguns tipos de centro que “[...] em sua

espacialização, definem regiões que foram interpretadas segundo as proposições de

Friedmann: regiões centrais, principal e secundária, e regiões periféricas” (CORRÊA, 1989a,

p. 14).

Corrêa (1989a, p. 14-15), coloca que “[...] o estudo de Fredrich e Davidovich,

mais recente, está baseado em três dimensões de variação do sistema urbano: estrutura

sócioeconômica, ritmos de crescimento e formas de concentração espacial urbana”1.

Na abordagem de tamanho e desenvolvimento, Corrêa (1989a, p. 15) coloca

que, a rede urbana é considerada um todo, estabelecendo uma relação entre o tamanho das

1 FREDERICH, Olga M. B. L. & DAVIDOVICH, Fany. A configuração espacial do sistema urbano brasileiro como expressão no território da divisão social do trabalho. Revista Brasileira de Geografia, 44 (4), 1982.

20

cidades de uma rede urbana e certos aspectos da vida econômica e social. Ao se relacionar

tamanho e desenvolvimento é preciso considerar o dinamismo econômico e social, levando

em conta todo conjunto de cidades.

O discurso dos modernistas, com relação ao tamanho e desenvolvimento das

cidades, é que há um processo de difusão estabelecendo um equilibro entre a rede hierárquica,

ou seja, as mudanças econômicas são disseminadas do seguinte modo: “(a) das metrópoles da

core área para as metrópoles da periferia; (b) dos centros de mais alta hierarquia para os de

mais baixa, num padrão de ‘difusão hierárquica’; (c) dos centros urbanos para as suas áreas de

influência” (CORRÊA, 1989a, p. 18-19).

Os estudiosos tradicionalistas contrapõem as ideias modernistas

argumentando que as condições históricas das cidades são diferentes sendo “[...] necessário

que haja uma política explicita e dirigida para se conter o crescimento exagerado da grande

cidade, a ‘inchação’ das grandes metrópoles primazes” (CORRÊA, 1989a, p. 19).

Com o aparecimento das idéias de descentralização, criando os pólos de

desenvolvimento e a “[...] ação do Estado visando um desenvolvimento que seria equilibrado

tanto no plano social como espacial [...]” (CORRÊA, 1989a, p. 19), passou-se a incluir a rede

urbana.

Com o desenvolvimento capitalista as diferenças entre as cidades aumentam,

com isso os estudiosos incluem a temática hierarquia urbana. Segundo Corrêa (1989a, p. 20),

foi “[...] a partir da expropriação dos meios de produção e de vida de enorme parcela da

população, e a industrialização levam à expansão da oferta de produtos industriais e de

serviços”. Com esta oferta de produtos e serviços surgiu um espaço de modo desigual criado

pelo sistema capitalista, criando assim a hierarquia urbana.

2.1.1 A Hierarquia Urbana

A hierarquia urbana é um dos assuntos mais estudados pelos pesquisadores

que se dedicam a estudar a rede urbana. Esses estudos se originam dos questionamentos a

respeito do número, tamanho e distribuição das cidades, procurando entender a natureza da

rede, a teoria das localidades centrais. “Os numerosos estudos, teóricos e empíricos,

procuram, em realidade, compreender a natureza da rede urbana segundo um ângulo

específico que é o da hierarquia de seus centros” (CORRÊA, 1989a, p. 20).

21

Os estudos de Christaller discutidos por Corrêa (1989a, p. 21-32) apontam

que há aglomerações urbanas de todos os tamanhos e que “[...] existem princípios gerais que

regulam o número, tamanho e distribuição dos núcleos de povoamento: grandes, médias e

pequenas cidades, e ainda minúsculos núcleos semi-rurais, todos são considerados como

localidades centrais” (CORRÊA, 1989a, p. 21). Ou seja, todas as localidades são dotadas de

funções centrais, com atividades de bens e serviços destinados para uma população externa,

formando, assim, a organização de um sistema hierárquico de cidades. Com isso “a

centralidade de um núcleo, por outro lado, refere-se ao seu grau de importância a partir de

suas funções centrais: maior o número delas, maior a sua região de influência, maior a

população externa atendida pela localidade central, e maior a sua centralidade” (CORRÊA,

1989a, p. 21).

Com esses modelos de Christaller foi possível o desenvolvimento teórico a

respeito das configurações espaciais da rede urbana em geral e não apenas da rede de lugares

centrais. Esses estudos se originaram através dos questionamentos “[...] a respeito do número,

tamanho e distribuição das cidades, procurando compreender a natureza da rede, a teoria das

localidades centrais” (RODRIGUES; SILVA, 2007, p. 59).

Ou seja, cidade como Elísio Medrado sofre influência de centros maiores

como Amargosa, Santo Antônio de Jesus, entre outros. Sendo que sua população se desloca

em busca de bens e serviços que o município de Elísio Medrado não oferece, ou até mesmo

para abastecer o mercado local que, por sua vez, dentro de uma hierarquia urbana exercem

influência nos povoados rurais.

Esse sistema hierárquico da rede forma “uma região homogênea e

desenvolvida economicamente, havendo, portanto, uma hierarquia caracterizada de níveis

estratificados de localidades centrais, nos quais os centros de mesmo nível hierárquico [...]”

(RODRIGUES; SILVA, 2007, p. 60) atuam de maneira semelhante no que diz respeito à

oferta de bens e serviços, tamanho da área de atuação e o número populacional.

Fresca (2009, p. 44) coloca que

a rede urbana apresenta uma diversidade de centros urbanos que vão desde aqueles com nível de centralidade muito fraco e cuja área de influência é bastante reduzida com alguns municípios em seu entorno, até aqueles com nível forte, muito forte ou máximo, dependendo da escala de análise e da complexidade da rede urbana em estudo.

22

Nessa perspectiva o município em estudo (Elísio Medrado) pode ser

considerado como área de influência bastante reduzida, visto que o processo de produção,

circulação e consumo é baixo se comparado a outras cidades da região.

É importante ressaltar que num processo de globalização e consequentemente

da modernização da produção, centros com influências reduzidas “estão à espera de terem

suas potencialidades valorizadas pela incidência de outros processos, que gerarão outras

singularidades” (FRESCA, 2009, p. 45).

Na discussão feita por Corrêa (1989a, p. 21) sobre a teoria de Christaller, ele

coloca que a rede urbana tem um alcance espacial máximo, este é referente à área

determinada por um raio a partir da localidade central que faz com que os consumidores se

desloquem para essa localidade central com o objetivo de obter bens e serviços, já no alcance

espacial mínimo são englobados “[...] o número mínimo de consumidores que são suficientes

para que uma atividade comercial ou de serviços, uma função central, possa economicamente

se instalar” (CORRÊA, 1989a, p. 21).

No alcance espacial mínimo são ofertados produtos e serviços que são

consumidos quase que diariamente pela população local, nesse caso entram os produtos de

primeira necessidade como os produtos alimentícios, higiênicos, entre outros. É o que se

percebe no comércio de Elísio Medrado, visto que são vendidos em sua maioria produtos de

primeira necessidade, pois para o consumidor dificultaria sua saída quase que diariamente

para outros centros urbanos. Já produtos como eletrodomésticos são oferecidos em pequena

quantidade, sem opção de escolha e geralmente com preços elevados, isso faz com que a

população se desloque para centros como Santo Antônio de Jesus que oferece mais opções de

escolha e preços mais baixos.

No conceito de Christaller, discutido por Corrêa (1989a, p. 21-32), pode ser

considerado que quanto maior for o nível hierárquico que uma cidade alcança, maior são as

opções de bens e serviços oferecidos aos consumidores, sejam de mínimo ou máximo alcance.

Já para Santos (1989, p. 152), nos países subdesenvolvidos as redes têm pouco

desenvolvimento, onde “observa-se que as redes lineares ou em espinha de peixe ocorrem

com freqüência, enquanto que as transversais são bastante raras [...]” (SANTOS, 1989, p.

152).

Contudo, com as melhorias nos meios de transporte e telecomunicações o

tempo e a distância entre os centros têm diminuído consideravelmente, revelando assim,

mudanças significativas na rede urbana. Embora com toda essa evolução tecnológica

permitindo diversas relações virtuais, por outro lado ainda existem necessidades básicas como

23

serviço de saúde, educação, serviços especializados para o campo em muitas localidades

brasileiras; demonstrando com isso que há uma hierarquia presente, sendo que os pequenos

núcleos são dominados por uma cidade mais equipada.

Vale lembrar que as atividades de comércio e de serviços são processos

sociais que contribuem para a produção do espaço urbano definido por Corrêa (1989b, p. 9)

como “[...] fragmentado e articulado, reflexo e condicionante social, um conjunto de símbolos

e campo de lutas. É assim a própria sociedade em uma de suas dimensões, aquela mais

aparente, materializada nas formas espaciais.” Assim sendo, o espaço urbano é formado de

símbolos que variam de acordo com a cultura da sociedade, período da história, faixa etária da

população, atividades econômicas desenvolvidas entre outras.

Não existe um conceito de cidade que abranja “[...] as diferentes origens,

formas, funções e estruturas resultantes do trabalho da sociedade acumulado ao longo do

tempo nos distintos espaços urbanos da superfície terrestre” (RODRIGUES; SILVA, 2007, p.

50). Pois toda cidade tem seu dinamismo próprio e sofre mutações ao longo do processo

histórico, bem como a própria sociedade que elas abrigam e que a produzem.

Por isso, analisar o espaço urbano a partir da instalação das redes “pressupõe

a necessidade de organização e ordenamento de determinado espaço visando atender a fins e

interesses específicos, sejam eles engendrados por agentes econômicos, políticos ou sociais”

(RODRIGUES; SILVA, 2007, p. 50).

As inovações fizeram com que as sociedades estejam cada vez mais

interligadas formando as redes. “Com a ferrovia, a rodovia, a telegrafia, a telefonia e

finalmente a teleinformática, a redução do lapso do tempo permitiu instalar uma ponte entre

lugares distantes: doravante eles serão virtualmente aproximados” (DIAS, 1995, p. 141).

Todas essas inovações facilitaram a circulação de mercadorias, pessoas e informações e

consequentemente interligando os lugares de forma hierárquica.

Assim, a organização do espaço em redes tem como função principal facilitar

a comunicação e a circulação de bens e pessoas entre um lugar e outro do espaço, isso é

possível observar em todas as escalas de análise, desde o local ao global.

É através dessas funções, interligadas entre as cidades, como comércio,

bancos, indústrias, serviços, transportes, armazenagem, educação, saúde, que a rede urbana é

uma condição para a divisão territorial do trabalho. “É via rede urbana que o mundo pode

tornar-se simultânea e desigualmente dividido e integrado” (CORRÊA, 1989a, p. 49-50).

Nesse contexto global observa-se que é através das metrópoles que são

tomadas as decisões, são feitos os maiores investimentos e inovações, criando desta forma

24

constantes desigualdades. Portanto “[...] a rede urbana dos países subdesenvolvidos constitui-

se, em parte, na extensão de uma ampla rede urbana com sede nos denominados países

centrais, em metrópoles mundiais como New York, Londres, Tóquio e Paris” (CORRÊA,

1989a, p. 50). Sendo assim o Brasil dentro de uma escala global se situa na base periférica da

hierarquia.

Mas vale lembrar que diante das múltiplas realidades brasileiras, onde a

materialização do meio técnico científico se faz apresentar com maior ou menor intensidade, é

necessário enfatizar que a análise geográfica varia de lugar para lugar, de acordo com sua

realidade sócio-econômica e política, sendo que existem cidades estagnadas e outras com

dinamismo muito grande dependendo de vários fatores sócio-econômicos.

Outro aspecto a ser considerado, refere-se à distribuição de bens, serviços e

infra-estruturas que ainda são precárias ao se afastar dos centros maiores, distanciando em

quantidade e qualidade as funções desempenhadas. Com isso esses núcleos distantes dos

centros maiores ficam estagnados tendo remotas chances de desenvolvimento. Mas vale

lembrar que esses pequenos núcleos desempenham um papel importante dentro da rede

urbana, sejam como consumidores dos produtos oriundos dos centros maiores, seja como

fornecedores de matéria prima e até mesmo mão-de-obra barata.

No ítem a seguir, será feita uma discussão sobre pequenas cidades mostrando

os vários conceitos existentes, sua importância dentro da rede urbana bem como os problemas

existentes. Visto que esse trabalho tem como lugar de estudo o município de Elísio Medrado,

que dentro dos argumentos discutidos por autores como Milton Santos e Roberto Lobato

Corrêa o espaço urbano deste município apresenta características de uma pequena cidade.

2.2 PEQUENAS CIDADES: POR QUE ESTUDÁ-LAS?

Na década de 1970, com o êxodo rural, muitas pequenas cidades tiveram sua

população em declívio, pois grande parte desses municípios tinham maior parte da população

concentrada no campo.

Posteriormente, o declínio populacional no campo foi esvaziando, também os numerosos e pequenos núcleos urbanos sob o aspecto funcional, promovendo uma outra mobilidade oriunda das pequenas cidades

25

estagnadas em direção, sobretudo, a centros maiores (ENDLICH, 2006, p. 24).

Com isso, percebe-se que uma cidade por menor que seja, ela estará sempre

articulada em uma rede hierárquica, onde a população está sempre em constante movimento

buscando sempre melhores condições de vida.

É comum a presença de vários problemas nas grandes cidades brasileiras,

aquelas que estão no topo da rede urbana, que no processo migratório regional são as mais

procuradas, onde essa população que se desloca enfrenta problemas como: pobreza, violência,

poluição, desemprego, entre outros.

No entanto, vale lembrar que as pequenas cidades apresentam outros tantos

problemas como: falta de hospitais, universidades, transportes, entre outros.

Outro tipo de migrante responsável, em parte, pelo “crescimento demográfico

dos centros urbanos intermediários compõem-se de fluxos humanos, hora procedentes de

cidades maiores, constituindo um contingente em busca de tranqüilidade e qualidade de vida”

(ENDLICH, 2006, p. 29). Esses são disputados, várias são as ofertas de serviços e habitação.

Já o grupo procedente de pequenas cidades é rejeitado pela população local, pois não tem alto

poder aquisitivo. Pelo contrário, necessitam de ajuda financeira do Estado para ter as mínimas

condições de vida. Porém, é essa população rejeitada que vai suprir as necessidades de falta

de mão-de-obra não especializada, como faxineira e serviços ligados a construção civil.

Se por um lado essa população oriunda de pequenas cidades traz incômodo

para a população urbana já estabelecida nos centros médios e grandes, é ela que compõe

grande parte dos trabalhadores da construção civil, serviços gerais, entre outros.

Grande parte das pequenas cidades brasileiras tem a atividade agrícola

formada por pequenas propriedades, tendo como mão-de-obra a própria família. Com a

mecanização, principalmente na Região Sul, o pequeno produtor deixa de ter importância no

cenário agrário brasileiro. Esse fenômeno causa a decadência dessas cidades, sendo que não

possui outras atividades econômicas para incentivar os moradores a permanecerem no próprio

município, tornando assim geradores de mão-de-obra não especializada para as médias e

grandes cidades.

Como não existem centros educacionais como faculdades e universidades e

mesmo cursos técnicos, essa população das pequenas cidades não tem condições mínimas de

se especializarem em determinada área, restando apenas ficar no campo produzindo para

vender seus produtos, a preços irrisórios, para atravessadores ou na feira livre do próprio

26

município. Outra opção para essa população é migrar para centros urbanos maiores em busca

de um serviço braçal.

Por isso

não contemplar as pequenas cidades é esquecer uma parte da realidade urbana. Não se deixa apenas de estudar uma parte concreta da espacialidade brasileira, como também essa falta de estudo compromete uma compreensão mais ampla da rede urbana, até mesmo das questões tratadas num domínio dos centros urbanos maiores, bem como das possibilidades de intervenção (ENDLICH, 2006, p. 31).

Assim sendo, o município em estudo enfrenta os mesmos problemas de

outros pequenos núcleos brasileiros, ou seja, a falta de infra-estrutura, emprego, entre outros.

2.2.1 Breve Considerações Sobre a Urbanização Brasileira e Pequenas Cidades

Por volta do século XVI, o processo de urbanização teve início com as

primeiras aglomerações próximo ao litoral, que tinha como principal função a ligação entre a

Metrópole e a Colônia (ASSUNÇÃO; MELO; SOARES, 2010, p. 2).

No decorrer da história econômica da sociedade brasileira, novos

povoamentos foram surgindo em outras áreas do território, impulsionando a urbanização de

outras localidades. Mas vale lembrar que esses novos povoamentos surgiram, em grande

parte, em decorrência de ciclos econômicos cujo objetivo esteve sempre voltado para o

mercado externo.

Dentro desta sucessão de ciclos se destacam os engenhos de cana-de-açúcar,

tendo como mão-de-obra o escravo que desencadearam vários povoados. Com a abolição da

escravatura entraram em decadência.

É importante ressaltar que esses agentes sociais dominantes – os fazendeiros

– tiveram importância considerável na formação de núcleos urbanos no período colonial.

Como coloca Deffontaines (apud ASSUNÇÃO; MELO; SOARES, 2010, p. 3)

pela iniciativa de um fazendeiro ou um grupo de fazendeiros vizinhos que faz doação do território, ele o constitui em patrimônio, patrimônio oferecido à igreja ou antes a um santo, ao qual será dedicado o novo núcleo e do qual ele levará o nome.

27

Esses patrimônios tiveram seu ponto de partida para se tornarem cidades com

o passar dos anos. Além disso, destaca-se nesse período a formação de núcleos nos caminhos

das tropas pela constituição de ponto de pouso que, com o passar do tempo, foram

transformando-se em cidades.

Com o desenvolvimento industrial do século XX, o processo de urbanização

tornou-se mais complexo, compondo-se de novos agentes, conteúdos e articulação de forma

mais complexa.

A implantação das ferrovias e outros incrementos na infra-estrutura foram de

grande importância para o desenvolvimento industrial e consequentemente à formação de

muitas cidades, pois as mesmas possibilitavam uma maior articulação entre outros povoados

ou cidades da região em que estas ferrovias interligavam.

Apesar de todo este dinamismo e surgimento de várias cidades no decorrer

dos ciclos do “ouro, cana-de-açúcar, café, entre outros”, até meados do século XX, “o Brasil

ainda contava com a maior parte de sua população residindo no meio rural” (ASSUNÇÃO;

MELO; SOARES, 2010, p. 4).

Após a segunda metade do século XX, a população rural começou a deixar o

campo e “as cidades, sobretudo, aquelas onde havia algum tipo de desenvolvimento industrial,

passaram a crescer imensamente” (ASSUNÇÃO; MELO; SOARES, 2010, p. 4).

Esse crescimento trouxe, consequentemente, vários problemas sociais nas

grandes e médias cidades e no outro extremo, encontram-se, em maior número, as pequenas

cidades que estagnaram ou entraram em decadência. Elas estão inseridas

[...] em graus menores na economia globalizada, atendendo as necessidades primárias da sua população, com ou sem crescimento demográfico; outras enfrentam sérios problemas para reter sua população, sobretudo, as pessoas jovens, e acabam tendo fortes dependências de transferência de verbas públicas (MELO apud ASSUNÇÃO; MELO; SOARES, 2010, p. 5).

Dentro desta perspectiva faz-se necessário o estudo sobre as pequenas

cidades, para entender-se o processo da urbanização brasileira.

28

2.2.2 Pequenas Cidades: Seu Papel na Rede Urbana

Na discussão sobre pequena cidade e o seu papel na rede urbana brasileira, é

preciso entender o que é considerado uma pequena cidade. Muitos autores usam

denominações diferentes: Milton Santos (1982) usa o termo cidade local, já Corrêa (1989a)

prefere chamar de pequeno núcleo. Por isso, alguns estudos sobre o conceito de pequena

cidade podem variar.

Segundo Ferreira (2010, p. 2), o IBGE estabelece como critério o número de

habitantes, sendo que até 100 mil habitantes, pequena cidade, de 100 mil a 500 mil, cidade

média, acima de 500 mil, cidade grande.

Ainda segundo a autora (2010, p. 1), o IBGE diz que das 5.507 cidades

brasileiras, 4.646 estavam na categoria pequena e tinham com menos de 100 mil habitantes.

Com essa predominância, é importante que em um estudo se tenha a compreensão do papel

das pequenas cidades, dentro da rede local, regional e até mesmo nacional. Percebe-se com

esses dados do IBGE que no Brasil há cidades com idade, tamanho, contexto e formações

diferentes. Porém a maioria é pequena cidade.

Já os pequenos municípios brasileiros ocupam grandes extensões do

território, embora não contenham grande proporção da população. “Quase sempre compõem

áreas pouco densas, o que oferece condições para que constituam cidades confortáveis à vida

das populações” (MOURA, 2009, p. 18).

Segundo a contagem da população, feita pelo IBGE em 2007, dos 5.565

municípios brasileiros, 78% têm menos que 25 mil habitantes, ocupando uma área de 59,9% e

abriga apenas 22,3% da população (MOURA, 2009, p. 18).

Sobre estes dados Moura (2009, p. 35) esclarece que

os dados analisados demonstraram que os pequenos municípios constituem

uma parcela significativa do território nacional e estadual voltada à produção agropecuária, que abrigam elevado contingente da população, e que têm importante papel na inserção do País e do Estado na divisão social do trabalho.

Mas para a pesquisadora é importante tomar alguns cuidados para não cair na

generalização, pois o Brasil tem uma grande extensão territorial com formações culturais,

econômicas e sociais distintas e uma cidade com poucos habitantes pode ter uma dinâmica

maior que outra com mais habitantes.

29

É claro que se uma cidade tem um bom dinamismo certamente atrairá mais

habitantes. Como mostra Corrêa (1989a, p. 15) “[...] o tamanho das cidades aparece então

como uma expressão do desenvolvimento”. Ou seja, segundo o autor, se uma cidade tem

poucos habitantes é porque tem pouco desenvolvimento. Mas vale frisar que Elísio Medrado,

cidade em estudo deste trabalho, se comparada com outra com o número de habitantes

semelhante, localizada no Sul do Brasil, certamente as cidades do Sul têm um melhor

desenvolvimento econômico e tecnológico.

Milton Santos afirma que a pequena cidade é cidade local com “[...]

aglomeração capaz de responder às necessidades vitais mínimas, reais ou criadas de toda uma

população, função esta que implica uma vida de relações” (SANTOS, 1982, p. 71).

Ainda refletindo sobre as pequenas cidades, (SANTOS, 1981, p. 15) afirma

que “as estatísticas internacionais estabelecem um marco de 20.000 habitantes para esse tipo

de cidade [...]”. “Só a partir de um certo estágio de desenvolvimento e dinamismo é que a

cidade se define” (SANTOS, 1981, p. 15). Nesse contexto o autor deixa claro que além do

número de habitantes é preciso compreender o dinamismo que a cidade tem dentro de uma

rede urbana.

Para Santos (1981, p. 15),

a cidadezinha constitui a célula-máter que atende às necessidades de uma

população; tais necessidades variam em função da densidade demográfica, das comunicações e da economia da região, bem como do comportamento sócio-econômico de seus habitantes.

Porém, cada pequena cidade se constitui um caso específico, levando sempre

em consideração sua função principal, seja na área de serviços, agricultura, pecuária, entre

outros.

Milton Santos (1982, p. 71) define as pequenas cidades como cidades locais

que para ele “é a dimensão mínima a partir da qual as aglomerações deixam de servir às

necessidades inadiáveis da população com verdadeira <<especialização do espaço>>”. Com

isso, Milton Santos usa a denominação de cidade local, para não cair na classificação de

pequena cidade que utilizam número populacional, e para ele seria “[...] incorrer no perigo de

uma generalização perigosa”. (SANTOS, 1982, p. 69).

Com isso, percebe-se que não há um consenso na definição de pequenas

cidades, mas considerando os argumentos estudados, pode-se identificar como pequena

cidade aquela que tem baixo estágio de desenvolvimento, com baixo dinamismo social,

30

econômico e cultural. Geralmente essas cidades são pacatas, com alguns comércios e serviços

locais capaz apenas de oferecer tão somente condições mínimas vitais para seus habitantes.

Mas é importante ressaltar que, com a globalização, essas cidades pacatas

estão deixando de existir, pois cada vez mais a poluição, violência, fome vão se alastrando

nos pequenos núcleos urbanos do interior.

Para Santos (1982, p. 74), “a cidade local facilita o acesso da população aos

bens e serviços, embora isto se faça a um preço mais elevado que nos centros de nível

superior”. Ela vai estar sempre na periferia da rede urbana, com isso os habitantes estarão

sempre tendo problemas tanto como produtor, como consumidor, pois seus produtos são

vendidos a preços irrisórios e os que não são produzidos no município são comercializados

com altos preços.

Corrêa (1989a, p. 59) afirma que “o atacadista coletor, da pequena cidade

encravada em plena zona rural, tem uma margem de lucro ao vender a produção ao atacadista

reexpedidor ou a uma usina de beneficiamento localizada em uma cidade regional.” Com isso,

os produtores destas cidades vendem seus produtos para os intermediários, estes asseguram

uma parte do lucro da produção e o produtor que tem as despesas para produzir, além da mão-

de-obra, não consegue um preço justo. Sendo assim, o lucro fica para os intermediários e

industriais. Nessa cadeia de comercialização os pequenos núcleos pagam preços elevados

pelos produtos industrializados e recebem preços baixos pelos produtos cultivados.

Com isso “as cidades locais desempenham um importante papel junto às

zonas de produção primária, às quais permitem um consumo mais próximo daquele do resto

da população do país, provocando, como feedback, a expansão da economia urbana”.

(SANTOS, 1982, p. 74). São as pequenas cidades que fazem articulação entre a população

rural e as outras cidades mais desenvolvidas, permitindo o acesso desta população a outros

bens e serviços, além da comercialização dos produtos do campo, mesmo conseguindo apenas

preços irrisórios.

A cidade, por menor que seja, desempenha um papel importante dentro de

um espaço, mesmo que seja como consumidora ou criadora de mão-de-obra não especializada

e até mesmo como produtora de alimento para consumo interno do país. Mesmo para toda

cidade que tenha sua gênese num pequeno núcleo, que se estagnou, entrou em decadência ou

evoluiu até tornar-se uma metrópole. Daí a importância de se entender a pequena cidade e

reconstruir a sua história.

Dentro desse contexto histórico é possível entender porque há cidades

centenárias menos dinâmicas que outras com algumas décadas de emancipação, mas mesmo

31

com pouco dinamismo, em alguns dias da semana a cidade passa a ser centro de encontro e

comércio, como as feiras que acontecem semanalmente em muitas pequenas cidades. Como

afirma Corrêa (1989a, p. 35), alguns “[...] núcleos de povoamento, pequenos, via de regra

semi-rurais [...]” de uma a duas vezes por semana transformam-se em centros comerciais, mas

os demais dias voltam a ser pacato com a maioria da população voltada para a atividade

primária.

Nos dias de mercado o pequeno núcleo transforma-se em um centro de mercado. Vendedores dos mais variados produtos, artesões e prestadores de diversos serviços amanhecem no centro com suas mercadorias e instrumento de trabalho (CORRÊA, 1989a, p.35).

Geralmente, essas pessoas, vendem seus produtos em várias cidades da

região em dias alternados, outros vêm da zona rural, de onde vão ao comércio local vender

seus produtos colhidos no campo e comprar outros bens que não produzem. Usa-se como

meio de transporte animais como cavalo, burro, carroça ou transporte público como caminhão

ou ônibus. Nesses centros de comércio das pequenas cidades “são ainda os dias em que as

pessoas se encontram, sabem das novidades e vários eventos sociais, culturais e políticos se

realizam” (CORRÊA, 1989a, p. 35). “[...] Mesmo pequenos núcleos organizam-se para a

vivência coletiva e, ao seu modo, para a política e para a cidadania.” (MOURA, 2009, p. 17).

Vale lembrar que, embora os pequenos municípios estejam em nível de

subordinação, não significa que estão à margem desse processo hierárquico. Mas “os

pequenos municípios têm uma dinâmica de crescimento bastante reduzida” (MOURA, 2009,

p. 22). Muitos deles perdem população e não atraem novos moradores pela falta de atrativos.

Somando a essa estagnação dos pequenos municípios, ocorreu “o processo de

desmembramento de novos pequenos municípios” (MOURA, 2009, p. 24).

Porém, característica comum nas pequenas cidades é ser receptora de

indústrias rejeitadas nas cidades maiores. Como coloca Corrêa (1989a, p. 65) “as pequenas

cidades, e às vezes o próprio campo, transformam-se em locais de implantações de indústrias

poluentes que não podem, por força de interesses urbanos, permanecer na grande cidade”.

Essas empresas se localizam em lugares pequenos e não desenvolvidos devido a pouca

fiscalização das leis ambientais, além de encontrar mão-de-obra barata, o que constitui mais

lucro para essas empresas.

Partindo do ponto de vista de que toda cidade nasce pequena e que, qualquer

que seja o núcleo urbano ela estará sempre interligada a uma rede urbana no mundo

32

globalizado, vale lembrar que “aos pequenos municípios é fundamental o apoio e

fortalecimento das atividades existentes, como também o adensamento das cadeias

produtivas” (MOURA, 2009, p. 36). Com isso, percebe-se a necessidade cada vez maior de

planejamento voltado para esses pequenos núcleos.

Alves et al (2008, p. 2) argumenta que

mesmo diante da grande importância do planejamento urbano nas pequenas

cidades, verifica-se que há uma maior dificuldade em realizar medidas públicas de organização do espaço, isso devido à falta de obrigatoriedade desse mecanismo para municípios com população inferior a 20 mil habitantes.

Aliado a essa não obrigatoriedade está à falta de comprometimento dos

políticos locais que, muitos deles têm baixa escolaridade, dificultando dessa forma a

contratação de uma equipe preparada para fazer um bom planejamento urbano voltado à área

ambiental e social, oferecendo uma melhor qualidade de vida aos seus habitantes.

Com isso, é preciso entender que “a urbanização como processo, e a cidade,

forma concretizada desse processo, marcam tão profundamente a civilização contemporânea,

que é muitas vezes difícil pensar que em algum período da História as cidades não existiam,

ou tiveram um papel insignificante” (SPOSITO, 1989, p. 11).

Para entender a cidade pequena, sua organização espacial, é preciso voltar a

origem do povoamento, descobrindo sua gênese, ainda que de forma sintética.

Desta forma, o espaço concretizado em cidade é história e

[...] nesta perspectiva, a cidade de hoje, é o resultado cumulativo de todas

as outras cidades de antes, transformadas destruídas, reconstruídas, enfim produzidas pelas transformações sociais ocorridas através dos tempos, engendradas pelas relações que promovem estas transformações (SPOSITO, 1989, p. 11).

Dessa forma, no decorrer desse trabalho serão descritos e analisados todos os

acontecimentos julgados importantes, ocorridos no decorrer da história do município em

estudo, para a partir daí compreender a dinâmica atual do município. Vale lembrar que como

o município tem sua base rural é preferível estudar o município como um todo não separando

o rural do urbano, pois “[...] a delimitação do urbano de muitos municípios é apenas uma lei

que identifica um núcleo em um território ainda preso à base produtiva e ao modo de vida

rural” (MOURA, 2009, p. 16). Sendo assim, “ toda a nossa história é a história de um povo

agrícola, é a história de uma sociedade de lavradores e pastores. É no campo que se forma a

33

nossa raça e se elaboram as forças íntimas de nossa civilização” (OLIVEIRA VIANNA apud

SANTOS, 2008a, p.19).

34

3 A HISTÓRIA DE ELÍSIO MEDRADO

Esta reconstrução histórica é necessária dentro deste trabalho, pois através

dela é possível compreender os signos existentes na espacialidade do município, signos que

trazem um significado histórico e cultural de um passado mais remoto. É através da

compreensão da história, que se torna possível compreender muitos fatos presentes na

atualidade. Como argumenta Lins (2007, p. 34), que “[...] em uma perspectiva regional é

necessário uma reconstrução histórica para entender traços do momento atual”.

Oficialmente, a gênese de Elísio Medrado ocorre no início do século XX, nos

primeiros anos de 1900, quando a cidade era chamada de Paraíso. No entanto, antes desse

fato, já havia uma ocupação desse espaço. Primeiro por indígenas, depois no período da

colonização no século XVI, por intermédio dos bandeirantes que penetravam à região. O mais

conhecido foi Gabriel Soares, que construira “[...] uma fortaleza para se proteger dos ferozes

índios Cariris e Sabujás que povoaram o território e para armazenar mantimentos, armas e

munições” (ELÍSIO MEDRADO, [2009?], p. 22).

Foi ainda no Brasil colonial que surgiu o primeiro povoado dentro do

domínio do atual município de Elísio Medrado: onde hoje é o atual distrito do município

denominado de Monte Cruzeiro (figura 1a), outrora foi chamado de Jibóia, chegando por duas

vezes ser sede de município. Outro povoado que surgiu antes do povoado Paraíso foi São

Francisco do Cajueiro (figura 1a), posteriormente Acaju e atualmente povoado de Souza

Peixoto, este teve seu início do povoamento nas imediações da estação ferroviária da

localidade. E, no início do século XX, formou-se outro povoado denominado de Paraíso

(figura 1a), que hoje é a sede do município.

35

Figura 1a: Mapa com a localização dos povoados do município de Elísio Medrado. Fonte: IBGE (2009, p. 1). Adaptação: Eduardo de Oliveira, 2010.

3.1 SURGIMENTO DO POVOADO DE MONTE CRUZEIRO

Fazer uma contextualização histórica do município em estudo faz-se

necessário nessa abordagem sobre a dinâmica funcional, visto que é através de vários

períodos da história que o espaço geográfico vai se concretizando e se transformando.

Por isso, o momento passado está morto como ‘tempo’, não porém como

‘espaço’; o momento passado já não é nem voltará a ser, mas sua objetivação não equivale totalmente ao passado, uma vez que está sempre aqui e participa da vida atual como forma indispensável à realização social” (SANTOS, 1986, p. 10).

Sendo assim, o tempo passado se foi, mas o espaço concretizado no passado

continua no presente, cristalizado como objeto geográfico indispensável para o geógrafo

entender o espaço atual.

Elísio Medrado foi emancipado em 20 de julho de 1962, desmembrando-se

de Santa Terezinha, com isso aparentemente é um núcleo recente, mas a sua gênese histórica é

36

bem mais antiga. A cidade fica a 224 km de Salvador. Essa distância da capital baiana

demonstra que não fica tão distante dos primeiros núcleos fundados pelos portugueses. Esse

fato facilitou a penetração dos aventureiros pelo interior, chegando às terras onde hoje fica o

município de Elísio Medrado.

A região era inicialmente habitada por indígenas Cariris e Sabujás, mas

aventureiros bandeirantes, chefiados por Gabriel Soares de Souza, penetraram na região na

segunda metade do século XVI com o objetivo de “[...] construir uma fortaleza na região para

se proteger dos índios Cariris e Sabujás e para armazenar mantimentos e munições”

(PEDREIRA apud SANTOS, 2003, p. 12). “O seu objetivo era localizar as minas descobertas

por seu irmão de nome João, que lhe deixara roteiro delas” (SANTA TEREZINHA, 1958, p.

291). A fortaleza plantada por Gabriel Soares de Souza “[...] foi nas imediações da localidade

de Pedra Branca” (SAMPAIO, [200-], p. 2). Vale lembrar que Pedra Branca é um povoado

pertencente ao município de Santa Terezinha que faz limite ao atual município de Elísio

Medrado. Pela proximidade da região pode-se concluir que Gabriel Soares de Souza e sua

bandeira foram os primeiros brancos a pisarem na região.

Com o crescimento populacional no Recôncavo Baiano surgiram muitos

problemas, entre eles lutas com os indígenas, assassinatos e roubos. O rei de Portugal

autorizou o Governador da província, Dom João de Lencastro que criasse vilas e povoados

para que houvesse justiça para atender a população. Uma das vilas criadas foi a de Vila de

Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira fundada em 1698, “[...] que tinha por termo

uma grande área que ia do Rio Subaúna ao Rio Inhambupe, cortando direto pela praia e daí

até intestar com o Rio Real. Nessa área surgiu, 3 séculos e meio depois, o município de Elísio

Medrado” (SAMPAIO, [200-], p. 2 ).

Evidências mostram que o atual município de Elísio Medrado começou a ser

povoado pelo lado norte, onde fica o atual município de Santa Terezinha. Sendo que ao leste

estende-se a Serra do Guariru, hoje conhecida por Serra da Jibóia. Ali habitavam os povos

indígenas que, segundo a literatura pesquisada, entraram em vários confrontos com os

colonizadores dificultando a penetração em direção a Serra do Guariru. Como afirma Sampaio

([200-], p. 3), “a paz em que viviam foi interrompida quando a civilização foi adentrando,

quando os colonos, já no primeiro século da colonização, sonhando com a existência de minas

de ouro e de prata [...]”. Com isso, o leito do Rio Paraguaçu foi seguido para que os

aventureiros alcançassem o sertão, evitando as densas matas da Serra do Guariru (atual serra

da Jibóia).

37

Nessa região houveram diversas lutas entre colonos e indígenas, o rei de

Portugal buscou solucionar o problema e os tranquilizar colocando os jesuítas para catequizar

os indígenas da região. No ano de 1667 chega o primeiro jesuíta para assumir a missão e “o

local escolhido para a implantação do Aldeamento foi o sopé da Serra do Guariru, local fértil,

ameno, e onde, na ocasião se concentrava maior número de Índios que ali buscavam refúgio”

(SAMPAIO, [200-], p. 5). Nesse aldeamento foram construídas igreja, escola, casas para os

indígenas, para os padres, para o juiz de paz-diretor, para o comandante da guarda e para toda

a tropa.

Com essas informações é possível afirmar que o município de Elísio

Medrado teve seu primeiro povoado com base nas missões religiosas e o local escolhido está

nas proximidades do atual distrito de Elísio Medrado chamado de Monte Cruzeiro. “A apenas

alguns quilômetros de Pedra Branca, bem ao pé da Serra, encontravam-se duas aldeias, a de

Caranguejo e a da Jibóia também aos cuidados dos educadores” (SAMPAIO, [200-], p. 5).

Jibóia foi o povoado que deu origem ao atual distrito de Monte Cruzeiro.

Esses indígenas catequizados por jesuítas tornaram-se úteis ao ponto de servir

como guarnecedores de estradas, além dos “fazendeiros e autoridades da região exploravam a

mão-de-obra barata dos índios” (SAMPAIO, [200-], p. 5).

Os jesuítas não aceitavam esse tipo de exploração feita aos povos indígenas e

“os governantes passaram a perseguir os Jesuítas. A luta passa também a seguir nas

povoações de Jibóia e Caranguejo” (SAMPAIO, [200-], p. 6). A partir de 1720 suas terras

passaram a ser invadidas pelos colonos que buscavam cultivar cana-de-açúcar, fumo e criar

gado e com a formação religiosa dos indígenas aos poucos eles foram ingressando na cultura

dos colonos.

Com a chegada dos negros para trabalhar na lavoura de cana-de-açúcar, a

região foi sendo ocupada cada vez mais por fazendeiros que buscavam fixar-se nas terras

férteis. Com os castigos severos dos fazendeiros muitos negros fugiram para o Aldeamento

localizado ao pé da Serra da Jibóia. “A tradição revela ter havido na região conhecida por

Palmeira, a pequena distância de Pedra Branca, um Quilombo, no futuro município de Elísio

Medrado” (SAMPAIO, [200-], p. 7). Com isso no século XIX quase toda população da região

de Monte Cruzeiro já era descendente de escravos ou indígenas.

Nas imediações de Monte Cruzeiro, Distrito de Elísio Medrado, encontra-se a

fazenda Estiva (figura 2) pertencendo atualmente ao proprietário Kamal Elílio Chaoul. Nela

há evidências de escravidão no passado. Relatos de moradores da localidade e netos de

38

escravos afirmam que seus antepassados trabalhavam na fazenda e eram castigados

severamente, muitos chegavam a ser mortos e sepultados no fundo da fazenda.

Figura 2: Fazenda Estiva. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010. O povoado de Jibóia, que atualmente pertence ao município de Elísio

Medrado, conhecido atualmente como Monte Cruzeiro, devido ao seu desenvolvimento, no

dia 17 de janeiro de 1834 passou a ser sede municipal, porém “Jibóia teve vida efêmera, pois

através da Lei Provincial nº 07 de 02 de Maio de 1835, foi extinto, passando a ser anexado ao

de Cachoeira” (SAMPAIO, [200-], p. 19). Porém continuava como Freguesia, que era “a

principal divisão eclesiástica e abrangia várias Capelas, além do Vigário, várias autoridades

constituídas, sendo a mais destacada o Juiz de Paz” (SAMPAIO, [200-], p. 20).

Este povoado que pertence ao atual município de Elísio Medrado, em 03 de

agosto de 1892 passou a ser sede do município de Tapera. No dia 05 de abril de 1893 ocorre a

solenidade onde é “[...] empossado como seu Intendente o Cel. Ápio Vaz Medrado”

(SAMPAIO, [200-], p. 37). A partir desta data a povoação que antes era chamada de Jibóia,

passa a ser a sede do município de Tapera e em 1º de agosto de 1899 através da Lei estadual

nº 321 passa a ser intitulado de Monte Cruzeiro.

No ano de 1908 a freguesia de Monte Cruzeiro já se destacava entre as mais

importantes do estado. Mas desde a data em que Tapera deixou de ser sede do município

proporcionou fortes revoltas dos líderes políticos da povoação. “Não mais suportando a

39

humilhação, os líderes de Tapera lutam por retornar a sede para a sua povoação” (SAMPAIO,

[200-], p. 42). Esses líderes políticos marcaram um encontro com Macionílio Souza, que era

famoso líder político e chefe de jagunços no sertão da Bahia.

No dia 02 de fevereiro de 1920, o Pe. Gustavo Adolfo Marinho das Neves,

que era Presidente da Câmara de Monte Cruzeiro, além de ser senador do Estado, e dominava

a política do município, celebrava a festa de Nossa Senhora de Brotas de Milagres, quando o

povoado de Milagres é cercado pela tropa de jagunços sob o comando de Macionílio Souza

(SAMPAIO, [200-], p. 43). “Macionílio se dirige ao Padre e lhe apresenta documento através

do qual a sede do município deixará de ser Monte Cruzeiro (Jibóia), passando para o povoado

de Tapera” (SAMPAIO, [200-], p. 43).

Temendo sofrer violência por parte do chefe dos jagunços o padre não teve

alternativa e assinou o documento. Com isso, no dia 29 de julho de 1921, Tapera passou a ser

novamente sede do município.

No Diário Oficial do Estado da Bahia, do ano de 1923 (apud SAMPAIO,

[200-], p. 46), o município de Monte Cruzeiro é descrito como

[...] Município, na sua maior extensão territorial, possuidor de um clima salubérrimo, cuja sede é a Vila de Tapera, admirável sanatório, onde rara e perfunctoriamente se registra um óbito, está situada entre os municípios de Amargosa, São Miguel e Castro Alves. Sua área se aproxima de 108 quilômetros de extensão, cujo terreno adapta-se, com ótimos resultados, à agricultura e à pecuária .

Completa ainda que o município de Monte Cruzeiro, no ano de 1923, tinha

cerca de 350 fazendas que se dedicavam à pecuária com a criação de gado bovino, suíno,

caprino, ovino e eqüino, além da prática da agricultura que era destinada à cultura do fumo,

mandioca, café, aipim, milho, feijão e cana-de-açúcar.

A exportação de café, fumo em folha e em rolo, cereais, gado em geral, peles, couros, etc., é considerável. Existem vários curtumes e salgadeiras, aparelhos modernos para descascar café, destiladores, engenhocas para o fabrico de açúcar e raspadura, etc (O DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DA BAHIA apud SAMPAIO, [200-], p. 46).

Com essas informações percebe-se que o município de Monte Cruzeiro era

dominado por um poder religioso, porém o poder político sobressaia na tomada de decisões

do município, beneficiando sempre um grupo de interessados, geralmente quem tinha maior

poder aquisitivo. Nas entrevistas com os moradores do atual povoado de Monte Cruzeiro, hoje

40

pertencente ao município de Elísio Medrado, os entrevistados comentaram se lembrar quando

a vila era sede de município com prefeitura, escolas e cartório funcionando na localidade.

Hoje o povoado possui construções antigas, do início do século XX, e atuais

(figuras 3 a 6) pequenos proprietários de terra, que cultivam principalmente a uva (figura 7) e

alguns produzem vinhos de forma artesanal (figuras 8 e 9).

Figuras 3 e 4: Casas antigas e novas - lado à lado. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

Figuras 5 e 6: Casas antigas e novas – lado à lado. Autor: Eduardo de Oliveira, 20010.

41

Figura 7: Plantação de uva. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

Figuras 8 e 9: Produção artesanal de vinho. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

No povoado ainda se encontra uma antiga igreja do século XIX (figuras 10 a

14), que segundo moradores foi tombada pelo Patrimônio Histórico da Bahia. É uma obra

bem rudimentar, nas paredes foram usadas adobes2 na sua construção e se encontra bem

deteriorada devido a má conservação. Percebe-se que ali se concentrava o poder religioso da

região no século XIX. Moradores mais antigos relatam que havia várias fazendas com 2 Espécie de tijolos usados nas construções antigas da região, feito manualmente com barro amassado e depois exposto ao sol para secar.

42

engenho de cana-de-açúcar na região. Porém, muitas delas foram demolidas pelos atuais

donos, restando apenas a fazenda Estiva situada nas proximidades do povoado.

Nos levantamentos de campo, feitos através de observações nas construções,

entrevistas, conclui-se que esse povoado pertencente ao atual município de Elísio Medrado é

o mais antigo do município, sendo possível afirmar que a região foi colonizada pelo lado

norte do município, onde predominavam as grandes fazendas com o cultivo da cana-de-açúcar

e engenhos tendo como mão-de-obra a escravatura de negros e índios.

Já na primeira metade do século XX predominavam as fazendas de café na

região. Atualmente, com a decadência dessas fazendas, predominam os pequenos produtores

que em grande parte são descendentes de escravos e índios.

Figura 10: Vista da Igreja de Monte Cruzeiro (Nossa Senhora de Sant’Ana). Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

43

Figuras 11 e 12: Aspecto interno da Igreja de Monte Cruzeiro (Nossa Senhora de Sant’Ana). Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

Figuras 13 e 14: Aspecto interno da Igreja de Monte Cruzeiro (Nossa Senhora de Sant’Ana). Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

3.2 SURGIMENTO DO POVOADO DE SOUZA PEIXOTO

Na segunda metade do século XIX surgiu no atual município outro povoado

ao sul, conhecido por São Francisco do Cajueiro, Cajueiro, Acaju e denominado atualmente

de Souza Peixoto (figura 15), provavelmente pela proximidade da linha férrea que ligava

Amargosa a Nazaré. “Na região já se destacam várias propriedades como boas fazendas. Já o

povoado é dotado de Capela e de Cartório, tendo como tabelião o sr. Manoel Francisco da

Silva Peixoto” (SAMPAIO, [200-], p. 34). Nessa região já se destacavam como grandes

fazendeiros o Sr. João Félix da Silva Andrade, Antônio Félix da Silva Andrade, Francisco

Félix de Souza que possuíam alambique para produção de rapadura e cachaça.

Inicialmente, o povoado pertencia ao atual município de Amargosa e além de

cartório, tinha casas comerciais como açougue e sapateiro, além de feira semanal.

44

Segundo relatos de moradores, o local onde fica o Cajueiro, oficialmente

povoado de Souza Peixoto, era habitado pelos índios Cariris e Sabujás. O povoamento branco

ocorreu com a chegada de agricultores que ali se fixaram em virtude da fertilidade das terras,

vindos da região de Santo Antônio de Jesus. Com o estabelecimento da Estrada de Ferro de

Nazaré, a estação de trem de Acaju foi construída logo abaixo do morro onde fica o vilarejo, o

que deu ânimo novo ao lugar. Posteriormente, na década de 1960, a vila foi desmembrada de

Amargosa e passou a integrar o recém-criado município de Elísio Medrado. Na mesma época,

houve a desativação da estrada de ferro e o cartório existente foi transferido para a sede do

município (antigo Paraíso), condenando o Cajueiro à decadência.

Figura 15: Povoado de Souza Peixoto. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010. Hoje o povoado tem uma igreja (figura 16), um cemitério aos fundos da

igreja com túmulos das famílias dos fazendeiros citados anteriormente e outro cemitério onde

existem túmulos de outros moradores da região. As construções são antigas e muitas delas

estão sendo substituídas por outras mais recentes (figuras 17 a 20).

Percebeu-se também que na parte mais afastada do povoado, há construções

recentes nas proximidades da rodovia sentido Amargosa (figura 21 e 22).

45

Figura 16: Igreja do Povoado de Souza Peixoto (São Francisco do Cajueiro). Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

Figuras 17 e 18: Aspecto das construções: antiga e mais recente. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

Figuras 19 e 20: Aspectos das construções: antiga e mais recente. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

46

Figuras 21 e 22: Construção antiga passando por transformação na atualidade. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

Estão acabando com as pastagens para serem substituídas pela cultura da

mandioca (figura 23), pois as sementes anteriores de capim não eram boas, sem contar que

boa parte das propriedades não tinha gado e os proprietários alugavam por mês para outros

sitiantes deixarem seu gado se alimentar.

Figura 23: Plantação de mandioca. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

Presença de elementos como cemitério e igreja demonstram que o povoado

tinha uma maior dinâmica, principalmente pela proximidade com a estrada de ferro no

47

passado e hoje moram apenas alguns pequenos proprietários, é um lugar pacato, sem

movimento algum. Diferentemente do que relataram alguns moradores sobre o passado em

que havia uma escola primária com muitos alunos, grandes fazendas de cana-de-açúcar e

posteriormente de café, aonde iam muitos “panhadores”3 de café. Nas estradas seguiam as

tropas de burros carregados de cachaça, rapadura e posteriormente café. Porém pela

proximidade de alambiques era tido como um lugar violento no passado, pois muitos

trabalhadores desse povoado se embriagavam no final do expediente e ficavam nos bares do

povoado procurando briga. Mas hoje o local é, segundo moradores, muito parado e tranqüilo.

Devido sua proximidade com a cidade de Amargosa, os moradores do povoado sempre

fizeram suas compras em Amargosa e essa realidade não é diferente na atualidade.

3.3 SURGIMENTO DO POVOADO PARAÍSO

Até o início do século XX, a região que é hoje o município de Elísio

Medrado tinha povoações como Monte Cruzeiro (ao norte) e São Francisco do Cajueiro (ao

sul). Já o terceiro povoado, onde é a atual sede do município de Elísio Medrado, teve sua

gênese em um planalto na área central, que provavelmente era algum ponto de parada dos

tropeiros que ligava o sul ao norte da região.

Foi na área central do município que “[...] veio surgir a primeira casa como

embrião da futura cidade, residência do sr. Vitorino Peixoto” (SAMPAIO, [200-], p. 38). Este

cidadão adquiriu uma propriedade e por volta de 1906 construiu sua residência e casa

comercial (figuras 24 a 26), além da casa de farinha com rodão. “O Sr. Pedro Alves dos

Santos que em 2002 alcançou a idade de 93 anos de idade, dotado de boa memória, revela ter

conhecido, quando tinha apenas 12 anos, Elísio Medrado (outrora Paraíso) com apenas 3

casas [...]” (SAMPAIO, [200-], p. 39), sendo uma na área onde é o centro da cidade que

pertencia a Vitorino Peixoto, as outras duas ficavam afastadas: uma ficava no Lagedo Batista

(figura 27) e a outra na Baixa do Paraíso (povoações rurais do atual município).

3 Trabalhadores que colhem café.

48

Figuras 24 e 25: Residência e casa comercial do Sr. Vitorino Peixoto. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

Figura 26: Casa Santana em destaque – residência e casa comercial do Sr. Vitorino Peixoto. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

49

Figura 27: Residência no Lagedo Batista. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

No ano de 1927 chegou o primeiro carro ao povoado de Paraíso, tendo como

proprietário Bonifácio Pereira dos Santos, filho de Luciano Pereira dos Santos e irmão de

João Santos (proprietário comercial do povoado). “Veio de Amargosa através da estrada

carroçável que passava por São Roque posteriormente Diógenes Sampaio” (SAMPAIO, [200-

], p. 49).

Bonifácio Pereira dos Santos tornou-se o primeiro proprietário de veículo do

povoado Paraíso, durante certo tempo passou a circular na região indo a Castro Alves

transportando café e fumo. Como relata uma moradora: “naquele tempo eu era pequena e

lembro das tropas de burro que levava café, raspadura e cachaça para Nazaré ou para o

Cajueiro, na frente ia um burro com um sino balançando puxando toda a tropa”. Essas

informações mostram a precariedade que apresentavam as estradas da região no início do

século, sendo em sua maioria usados animais como burro e cavalo para o transporte de

mercadorias até a estação de trem que ficava mais próxima, que nesse caso era a do Cajueiro

(ponto sul da cidade). Já no ano de 1929 o povoado “Paraíso” era dotado de várias

residências e algumas casas comerciais.

50

No mês de janeiro de 1928 iniciou em frente a “Cesta do Povo”4 (figura 28)

uma feira. O Sr. Gil Procônio Lapa vindo de Jequié estabeleceu-se com açougue e secos e

molhados.

A feira, iniciada por Gil Procônio Lapa, caminhou lentamente em virtude de existir, nas proximidades do hoje entroncamento da entrada de São Miguel, um próspero comércio, na fazenda do major Francisco Inácio Souza Peixoto, pessoa de destaque, tendo sido até intendente na Jibóia (SAMPAIO, [200-], p. 49).

Figura 28: “Cesta do Povo” – proximidade do local de início da feira do município

de Elísio Medrado, no ano de 1928. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

O comércio do proprietário Francisco Inácio Souza Peixoto “[...] possuía

forte loja de tecidos, venda, armazém de compra de café e fumo, açougue, e a pequena

distância da residência, alambique” (SAMPAIO, [200-], p. 49). Com forte movimentação

comercial nessa fazenda segundo alguns depoimentos de moradores. Nesse período o

povoado do Paraíso contava com apenas 30 casas.

Mas foram os catingueiros que deram novo ânimo a feira de Paraíso. Estes

traziam tropas de produtos do sertão, principalmente milho e feijão, além de carne do sol e

compravam dos produtores locais os produtos como café, rapadura e farinha. Com o 4 Comércio que vende produtos de primeira necessidade mantido pelo Governo Estadual.

51

surgimento da feira outros comércios foram surgindo no povoado, um deles foi o do

comerciante Luciano Pereira dos Santos que “ia sempre a Salvador, através do trem que

passava na Estação do Cajueiro, hoje Acaju, onde adquiria produtos variados que aguçavam o

interesse da freguesia, indo na sua volta, uma tropa até a estação para conduzi-la até o seu

estabelecimento comercial” (SAMPAIO, [200-], p. 49).

Esses fatos mostram as primeiras ligações do povoado Paraíso com outras

localidades, como Salvador, e outros povoados do sertão baiano. Mostrando com isso a

dificuldade que era na época para se deslocar até essas localidades, necessitando de tropas de

animais e o trem que fazia ligação entre Amargosa e Nazaré. Segundo relatos de Sampaio

([200-], p. 50), um dos produtos mais procurados era o relógio de parede que era difícil

encontrar nas lojas da região.

Mesmo com as precárias condições de transportes e estradas, outros

comerciantes foram se estabelecendo na região, visto que os moradores também tinham

muitas dificuldades para se dirigir até outros povoados e cidades e conseqüentemente os

comerciantes aproveitavam para cobrar altos preços pelas mercadorias comercializadas e essa

é uma das versões que levou o povoado a ter o apelido de “Raspa Bolso” (SAMPAIO, [200-],

p. 50). Essa realidade da cidade apresentar altos preços não muda muito em relação aos dias

atuais, assunto que será comentado com maior detalhe no decorrer deste trabalho. Mas

segundo (SAMPAIO, [200-], p. 50) há três versões para o apelido:

A primeira versão foi essa citada acima, pois o comércio era pequeno e

apresentava preços altos em suas mercadorias, com isso os comerciantes limpavam o bolso

dos fregueses. A outra versão é que na ocasião havia uma casa com mulheres prostitutas que

exploravam de modo particular os catingueiros que vinham para a feira, deixando-os com os

bolsos raspados. Uma outra versão para o apelido é que “na pequena feira havia um jogo de

Roleta, Jaburu, que atraia a criançada que vinha à feira com seus pais” (SAMPAIO, [200-], p.

50) Nesse jogo as crianças gastavam todo o dinheiro dos pais buscando ganhar os prêmios

oferecidos que eram galinha, peru, doces e brinquedos.

Dentre as três versões apresentadas acima, a primeira e a segunda foram

citadas por vários moradores do município, que provavelmente juntando com a terceira levou

o povoado a ter tal apelido de “Raspa Bolso”.

Com o surgimento de outras benfeitorias nas proximidades do povoado, entre

elas a estrada de rodagem ligando Santa Terezinha (antiga Tapera) a São Roque, passando por

Paraíso (atual Elísio Medrado), construída na gestão do prefeito de Santa Terezinha, José

Isidoro Santos, no ano de 1930, o local foi atraindo novos moradores e comerciantes.

52

Com isso, o povoado Paraíso foi elevado à categoria de Distrito, no dia 30 de

outubro de 1953, através do Decreto Estadual de 30 de Outubro de 1953. A partir daí o

povoado de São Francisco do Cajueiro passa a ser chamado de Souza Peixoto e perde a

condição de sede de Distrito para o novo povoado com o nome de “Novo Paraíso”. Segundo

(SAMPAIO, [200-], p. 52), “[...] Distrito era uma Unidade política do Município que tinha um

Juiz de Paz eleito por 4 anos. Normalmente era um funcionário graduado autorizado a

executar as ordens da Província”.

Com o crescimento do povoado e posteriormente Distrito Novo Paraíso,

pertencente ao município de Santa Terezinha (antiga Tapera), em 20 de julho de 1962 o

Distrito foi emancipado tornando-se município independente, através da lei nº 1741 da mesma

data, sancionada pelo Governador do Estado da Bahia, Juracy Montenegro Magalhães,

deixando de ser Novo Paraíso e passando a se chamar Elísio Medrado. O Distrito de Monte

Cruzeiro (antiga cidade de Jibóia) e o povoado de Souza Peixoto (antigo Distrito de São

Francisco do Cajueiro) que outrora tiveram um dinamismo bem maior na região, hoje se

encontram estagnados sendo apenas núcleos rurais pertencentes ao atual município de Elísio

Medrado.

A figura 28a sintetiza o quadro evolutivo do município de Elísio Medrado.

Figura 28a: Quadro evolutivo mostrando a qual município pertenceu o território do atual município de Elísio Medrado. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

53

3.4 MARCAS DO PASSADO E ALGUMAS CARACTERÍSTICAS ATUAIS DO

MUNICÍPIO

A história de uma cidade não está só registrada em documentos e arquitetura

da localidade, mas em muitas das memórias de seus moradores mais antigos que viveram a

história passada e acompanharam as transformações da localidade ao longo do tempo. Como

Elísio Medrado tem poucas fontes de pesquisas para resgatar sua história, fez-se necessário

uma observação mais detalhada de todos os resíduos do passado, seja na zona rural como na

zona urbana, além de um resgate de sua história contada por seus moradores.

A sede municipal, conhecida antigamente por Paraíso, ainda apresenta em

sua área central algumas construções feitas no início do povoamento. São construções

simples, de adobe, com portas e janelas rentes as calçadas dando acesso à rua, servindo como

residência ou comércio (figuras 29 a 32). Outras já foram substituídas por uma arquitetura

mais moderna, porém em sua maioria são construções simples, seguindo os padrões das casas

da região, sendo poucas que apresentam um melhor padrão arquitetônico. Estas residências

em sua maioria não possuem garagem, mesmo aquelas no padrão superior, os poucos carros

existentes são estacionados nas ruas, sendo poucos do município e outros de outras

localidades como Salvador, Feira de Santana e de localidades mais distantes como São Paulo

e Curitiba (figuras 33 e 34).

Figuras 29 e 30: Construção antiga feita de adobe. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

54

Figuras 31 e 32: Construções antigas que servem como moradia e comércio. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

Figuras 33 e 34: Carros estacionados na calçada e na rua, devido à ausência de garagem; e

uma das casas com um melhor padrão arquitetônico contendo garagem. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010. A tabela 1 mostra a pequena quantidade de veículos no município,

certamente esse fato ocorre devido à baixa renda da população local, que não teria condições

de comprá-los e muito menos de mantê-los em funcionamento. Os dados da tabela mostram

um índice elevado de motocicletas. Esse fato ocorre devido ao serviço de moto taxistas

presente no município, conforme figura 35. Esse transporte é utilizado principalmente pelas as

pessoas para se deslocarem da zona rural até a sede do município onde é mais difícil outro

tipo de transporte.

55

Tabela 1 – Frota de veículos em 2009.

Veículos Número

Automóveis de passeio 269

Caminhão 20

Caminhonete 36

Microônibus 6

Motocicletas 365

Motoneta 17

Ônibus 9

Fonte: IBGE – Frota 2009. Disponível em: <http://www.ibge.com.br/cidadesat/topwindow.htm?1>. Acesso em: 29 ago. 2010. Organização: Eduardo de Oliveira, 2010.

Figura 35: Serviço de moto táxi oferecido a população do município de Elísio Medrado. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

Outro fato relevante encontrado nos dados do SIDRA – Sistema IBGE de

Recuperação Automática5, é de que dos 1.336 estabelecimentos agrícolas existentes no

município apenas seis (0,45%) possuem tratores, dois (0,15%) possuem roçadeiras e apenas

5 Disponível em: <http://www.sidra.ibge.gov.br>. Acesso em: 11 nov. 2010.

56

um (0,07%) estabelecimento possui colheitadeira. Esta pouca presença de máquinas

agrícolas, como tratores, colheitadeiras, entre outros, ocorre porque grande parte dos

proprietários rurais são pequenos produtores que ainda usam instrumentos como enxada para

o plantio e a colheita é feita com as mãos, demonstrando com isso o baixo índice de

desenvolvimento agrícola do município.

Já na parte urbana do município, há também o baixo desenvolvimento com

apenas duas fábricas de beneficiamento de café e alguns pequenos comércios. Já no final da

rua principal (Rua XV de Novembro), dando acesso a Santa Terezinha, foi construído na

década de 2000 um conjunto de casas populares (figuras 36 e 37). Conforme um dos

moradores da cidade de Elísio Medrado, a construção dessas casas tem trazido ao município

o êxodo rural. Visto que essas casas deveriam ser construídas na zona rural para que a

população permanecesse no campo, sendo que na zona urbana não há trabalho para essas

pessoas. Alguns moradores revelaram que as casas populares, em sua maioria, foram

ocupadas por moradores que viviam na área urbana pagando aluguel, mas houve outros

moradores que viviam na zona rural do próprio município e alguns obtiveram acesso às casas

na administração passada. O prefeito na época oferecia casas para pessoas de cidades vizinhas

e para quem já possuía casa na cidade. Ou seja, não teve um parâmetro na oferta das casas

populares. O mais grave é que esses moradores obtiveram as casas sem a intenção de morar

ali, mas com o objetivo de vendê-las posteriormente. Observa-se que tais atitudes do prefeito

têm um caráter eleitoreiro, sendo que a população favorecida se compromete a apoiá-lo nas

eleições posteriores.

57

Figura 36: Casas populares. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

Vale ressaltar que as entrevistas realizadas foram feitas com pessoas dos

vários segmentos da sociedade e os comentários mais repetidos foram discutidos aqui. Como

o foco dessa pesquisa não é apenas o estudo das casas populares, não se fez necessário um

estudo mais aprofundado na comunidade, mas foi verificado o que foi mais relevante na

pesquisa. A grande maioria dos moradores são de pessoas que viviam na cidade e não tinham

moradia própria, porém houve casos de pessoas que deixaram a zona rural e foram morar na

cidade com a oferta das casas. E teve os casos de pessoas que obtiveram as casas com o

objetivo apenas de vender.

58

Figura 37: Casas populares. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

A cidade é toda coberta por calçamento com paralelepípedo (figura 38), até

mesmo as ruas construídas recentemente. Conta com alguns comércios simples e sem muitas

variedades como lanchonetes, minimercado, sorveteria, salão de beleza, lan house, lojas de

móveis e eletrodomésticos, roupas e comércio de construção (39 a 46).

59

Figura 38: Calçamento com paralelepípedo. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

Figura 39: Comércio da área central do Município de Elísio Medrado. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

60

Figura 40: Comércio da área central do Município de Elísio Medrado. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

Figura 41: Comércio da área central do Município de Elísio Medrado. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

61

Figura 42: Comércio da área central do Município de Elísio Medrado. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

Figura 43: Comércio da área central do Município de Elísio Medrado. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

62

Figura 44: Comércio da área central do Município de Elísio Medrado. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

Figura 45: Comércio da área central do Município de Elísio Medrado. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

63

Figura 46: Comércio da área central do Município de Elísio Medrado. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

Não existem faculdade, agência bancária, aeroporto, rodoviária, fórum,

serviços especializados, lojas de nome reconhecido regionalmente, sapatos e roupas de marcas

nacionais, concessionárias, entre outros. Esse fato ocorre principalmente porque a população

local tem um baixo poder aquisitivo, prevalecendo assim comércio simples, pequenos e com

produtos populares.

No serviço de transporte há três empresas que atuam no âmbito

intermunicipal (quadro 1). Já como serviço interestadual entra na cidade semanalmente um

ônibus da empresa EMTRAM – Empresa de Transportes Macaubense Ltda. que vai até São

Paulo, Capital. Mostrando com isso dentro da rede urbana hierárquica que há transporte

suficiente para levar a população local aos centros maiores e de maior procura, de acordo com

a demanda.

Na área da educação e cultura, a cidade tem duas escolas particulares, uma

creche, uma escola estadual que funciona com ensino fundamental de 5ª a 8ª Séries e ensino

médio com opção de Magistério ou Formação Geral. No âmbito municipal há trinta e cinco

estabelecimentos de ensino, abrangendo toda zona rural. Há grupo teatral, banda musical,

poeta, porém faltam teatro, biblioteca, museu, entre outros para incentivar os jovens a

valorizarem a cultura regional, e fazer com que a população tenha identidade com o local

64

resgatando sua auto-estima e consequentemente buscando inovações para resolver os

problemas locais.

Empresa Origem Destino Km Horário Camurugipe Elísio Medrado Salvador 224 05h30min; 08hs;

15h30min Camurugipe Elísio Medrado Santa Terezinha 34 05h30min; 08hs;

15h30min Cidade do Sol Elísio Medrado Varzedo 20 08hs Cidade do Sol Elísio Medrado São Miguel das Matas 16 08hs Cidade do Sol Elísio Medrado Santo Antônio de Jesus 38 8hs Cidade do Sol Elísio Medrado Bom Despacho 08hs José Peixoto Elísio Medrado Amargosa 30 7hs; 8hs Fonte: ELÍSIO MEDRADO, ([2009?], p. 2) Organização: Eduardo de Oliveira, 2010.

Quadro 1 – Linhas de ônibus intermunicipal. No âmbito da saúde, o município conta com pequeno hospital que funciona

como pronto-socorro, pré-natal, laboratório e consultório. Porém é importante ressaltar que o

hospital não tem centro cirúrgico e o atendimento feito na localidade é só para os casos mais

simples. Nos casos mais graves os pacientes são encaminhados para Santo Antônio de Jesus

ou Salvador, onde acabam enfrentando grandes filas à espera de um atendimento

especializado. O município conta ainda com dois laboratórios particulares para exame de

rotina, sete postos de saúde municipais, sendo que seis são distribuídos na zona rural.

Vale ressaltar que esta situação também está presente na periferia das grandes

cidades, como ausência de muitos itens mencionados anteriormente, com isso a população de

baixa renda enfrenta problemas em todas as localidades que se estabelecem, seja nas pequenas

cidades ou nos centros maiores, ficando sempre na periferia. Portanto,

com diferença de grau e de intensidade, todas as cidades brasileiras exibem problemáticas parecidas. Seu tamanho, tipo de atividade, região em que se inserem etc. são elementos de diferenciação, mas, em todas elas problemas como os do emprego, da habitação, dos transportes, do lazer, da água, dos esgotos, da educação e saúde são genéricos e revelam enormes carências (SANTOS, 2008b, p. 105).

Porém nas pequenas cidades essas problemáticas não são tão visíveis, pois a

população tem uma condição social semelhante, não havendo uma disparidade muito grande

65

entre as condições sociais das classes existentes. “Quanto maior a cidade, mais visíveis se

tornam essas mazelas” (SANTOS, 2008b, p. 105).

3.4.1 Presença de Escravidão no Município

A presença da escravidão na região que hoje abrange o município de Elísio

Medrado foi constatada através de algumas edificações presentes como grandes fazendas de

engenho, com resíduos de senzalas, mas muitos depoimentos realizados em dezembro e

janeiro (2009/2010) confirmam esse fato.

“Mamãe contava em vida que meu avô tinha um casal de escravo que

trabalhavam com eles e que com a liberdade dos negros eles não quiseram sair da fazenda, aí

meu avô passou a pagar para eles, mas continuava na fazenda morando ali.”

“Meu bisavô Chico Peixoto era o dono de todas essas terras daqui, tinha

escravo e com o tempo foi vendendo as terra da Boa Vista, ele tinha posse e poder de

influência, se ele mandasse prender alguém, esse alguém era preso até no Rio de Janeiro”.

“Aqui nessa porta era a senzala que foi destruída há muitos ano, ficou só a

porta de entrada...”

“Meu pai morreu com 102 faz um mês, ele contava muitas coisa sobre a vida

dos escravo, ele contava que teve familiar que trabalhou como escravo para fazer essa igreja e

na fazenda de Dotor Kamal. Ali na fazenda tinha corrente para prender os escravo, tinha

tronco e um quarto que era armadilha, ali morreram muito escravo e pessoa que o fazendeiro

não gostava. O fazendeiro chamava a pessoa que ele queria matar, a pessoa entrava e na

entrada do quarto tinha uma armadilha, a pessoa pisava no assoalho e caia em um buraco

fundo e cheio de lança e ali o corpo ficava. O dono de agora tampou o buraco para evitar

acidentes, mas tiraram muito osso de gente de lá de dentro do buraco”.

“A fazenda mais antiga daqui dessa região acho que era a de Augusto

Medrado, lá tinha corrente, senzala e tronco, mas o dono destruiu tudo depois que ganhou na

loteria”.

“Meu pai contava que para fazer essa igreja cada escravo carregava um adobe

de tão grande que é”.

66

Os depoimentos descritos acima foram de moradores do município de Elísio

Medrado, dos povoados de Monte Cruzeiro, Boa Vista, Limoeiro, entre outros.

3.4.2 O Cultivo do Café

Segundo alguns vestígios observados na região, percebe-se que havia

algumas grandes propriedades de café, que foi substituindo a cultura da cana-de-açúcar, mas

já existiam pequenos proprietários na região. Porém, era Amargosa que comandava a

produção cafeeira na região e que, naquela época, era chamada de “Pequena São Paulo”,

devido a grande produção de café. Alguns vestígios como terreiro de café ainda são

encontrados na região, mas os depoimentos vêm reforçar essa evidência:

“Aqui era só café, as mulher saia para apanhar o café era aquela cantoria: ‘eu

vou prantar café, pra depois colher, no final do verão eu vô vender’. Outra cantoria era assim:

‘A tropa vem de cima, a cabeçada já bateu, meu coração tá de luto foi meu benzinho que

morreu’. A gente apanhava o café e cantava o dia todo, tem outra que também dizia: ‘ café é

bem de raiz, pasto é bem feitoria, quem tem café tem dinheiro e quem não tem pasto não cria’.

Lembrei de outra música: ‘eu queria ser balaio para apanhar o café e andar dependurado na

cintura da mulher’...”.

“Aqui tinha as fazenda grande de café, mais o pobre também prantava sua

moitinha e no dia de sábado ia meus irmão, eu, minha mãe e meu pai, cada um levava um

pouco de café no saco e vendia em Castro Alves, a gente ia a pé e levava um burro com mais

coisa”.

“As veis as pessoa se juntava para pegar o café de um vizinho, a gente fala

‘robo’, quando chegava na prantação de café as pessoa sortava um fuguete para avisar o dono.

O proprietário preparava o armoço, matava galinha, porco e todo mundo ia comer no fim da

colheta, aí a festa começava e ia até artas horas da noite”.

67

4 FORMAÇÃO DA REDE URBANA E O MUNICÍPIO DE ELÍSIO MEDRADO

Este capítulo busca caracterizar o espaço do município de Elísio Medrado

dentro da região do Recôncavo Sul da Bahia (figura 47). Para tanto, em uma primeira

abordagem, foi necessário entender como ocorreu a formação da rede urbana na espacialidade

do município, no início de sua colonização. Num segundo momento, buscou-se compreender

a dinâmica funcional na atualidade, com o objetivo de compreender sua importância na rede

urbana regional, analisando sua influência na região. Para isso fez-se necessário o estudo

sobre a problemática dos comerciantes, a feira da cidade, entre outros.

Figura 47: Mapa da Região Econômica do Recôncavo Sul da Bahia. Fonte: SANTOS (2005, p. 10).

68

4.1 INÍCIO DA FORMAÇÃO DA REDE URBANA E/OU O MUNICÍPIO DE ELÍSIO

MEDRADO

O município de Elísio Medrado fica localizado na Região Administrativa do

Recôncavo Sul. Foi nessa região onde ocorreu o início da rede urbana aqui no Brasil. Como

coloca Milton Santos (1959) apud (HENRIQUE, 2009, p. 188), “[...] foi no Recôncavo Baiano que se constituiu a primeira rede urbana no Brasil, impulsionada pelo papel de

destaque na economia colonial e mesmo durante o período imperial.”

Com isso ela foi pioneira na formação econômica baiana e brasileira, foi a

fertilidade de suas terras e ajuda dos elementos naturais, principalmente do Rio Paraguaçu,

que fez com que a sociedade mercantil portuguesa formasse o primeiro complexo de

exportação do país. “A organização territorial e a distribuição espacial dos habitantes na

região tiveram como base uma atividade eminentemente rural, sendo o engenho de açúcar o

aglutinador de pessoas em seu entorno” (LINS, 2007, p. 51).

A atividade ligada aos engenhos de açúcar era de cunho agrário exportadora,

a produção de açúcar foi iniciada com o cultivo nas áreas mais próximas do litoral para que a

produção fosse escoada pelo porto de Salvador e em seguida foi expandindo para o interior

(LINS, 2007, p. 51).

A região teve um passado com um dinamismo atuante, porém vive em

período de estagnação econômica. Fonseca (apud LINS, 2007, p. 51) faz um resumo da

trajetória econômica da região em estudo:

1) o sistema escravista agrícola, com alto grau de eficiência no uso do capital até o século XVI e seu declínio no século seguinte pontuado por ocorrências de recuperações parciais. agravando-se, todavia, pela opção portuguesa em relação ao Rio de Janeiro.

2) o desgaste da produção agro-mercantil. em decorrência de influências internacionais, resultantes do enfraquecimento de Portugal no cenário europeu, aliadas à rigidez da estrutura escravista, à monocultura e à perda de posição estratégica em relação à região do ouro. 3) a introdução da cultura do fumo e a diversificação do sistema produtivo com a implantação das primeiras plantas industriais na segunda metade do século XIX. Tudo isso aliado à saída do capital da região dirigido ao extrativismo, à industrialização e a outros interesses fora de suas fronteiras. 4) a decadência da região em seu conjunto já no início do século XX. Com a quebra definitiva da produção açucareiro e fumegueira, aliadas aos investimentos subsequentes no petróleo e nos seus derivativos.

69

A ocupação do estado da Bahia começou, inicialmente, com a chegada dos

portugueses em 1500. Pela facilidade de navegação, as regiões próximas a Bahia de Todos os

Santos foi sendo ocupada, inicialmente em busca de pedras preciosas, exploração do pau-

brasil, mas foi com o plantio da cana-de-açúcar que o processo de ocupação se intensificou.

A ocupação da então área que hoje pertence ao município de Elísio Medrado

iniciou-se com a chegada dos bandeirantes chefiada por Gabriel Soares de Souza, no final do

século XVI. A navegação via Rio Paraguaçu facilitou a entrada do homem branco na região,

embora esse rio não banhe as terras do município em estudo, mas corta o atual município de

Santa Terezinha, o qual faz limite com Elísio Medrado. “Os armazéns localizados nas

margens do Paraguaçu eram marcantes na paisagem urbana e simbolizavam o papel

econômico da cidade como o entreposto comercial entre o litoral e o ‘sertão’ brasileiro”

(HENRIQUE, 2009, p. 188).

O atual município de Elísio Medrado teve sua organização espacial

estruturada numa economia baseada nos engenhos de cana-de-açúcar, no café e no fumo, até

os meados do século XX. O Recôncavo até a primeira metade do século XX tinha uma

importância econômica, desempenhava um papel de integração entre o litoral baiano e o

sertão, tendo o sistema de ferrovia que lhe permitia essa articulação.

O Ramal da Estrada de Ferro Nazaré serviu para dinamizar a comercialização

e exportação do café. Período que se iniciou no final do século XIX e perdurou até a década

de 1930 (LINS, 2007, p. 66). A tabela 2 mostra uma queda no lucro da ferrovia, sendo que a

partir de 1945 a empresa que administrava a estrada de ferro passou a acumular saldo

negativo em suas operações.

Foi com a construção da BR-101 e BR-116 e a falência da ferrovia que

municípios como Elísio Medrado, Amargosa e São Miguel das Matas ficaram relativamente

isolados, pois ficam fora do entroncamento rodoviário. “A esta fase é definida como ‘ilha

inércia’, denominação dada pelo Prof. Milton Santos no ano de 1963, devido a sua estagnação

econômica e social” (LINS, 2007, p. 66).

70

Tabela 2 – Movimentação financeira da empresa Estrada de Ferro de Nazaré/1931-1969 (em réis, entre 1931-1945; 1946-1969, em cruzeiros).

Fonte: LINS (2007, p. 99).

Com a decadência do café, a falência da estrada de ferro e a criação de

rodovias fizeram com que toda a região ficasse estagnada, com isso, municípios como Elísio

Medrado, Amargosa, entre outros ficaram em uma ilha cercada por rodovias federais, como

mostra a figura 48.

71

Figura 48: Estrutura viária da Região de Amargosa Bahia – 1960. Fonte: LINS (2007, p. 101). Adaptação: Eduardo de Oliveira, 2010.

Atualmente a economia do município de Elísio Medrado é baseada na

agricultura e na pecuária, a maioria da população está inserida nas culturas de subsistência,

sendo a mandioca a mais importante.

Grande parte dessas pessoas são descendentes de africanos e índios e por isso

vale ressaltar a importância desses povos, sendo que os africanos chegaram à região na

condição de escravos para trabalhar nas fazendas de cana-de-açúcar e na cultura do café. “As

marcas desse povo estão em toda parte, seja na religiosidade, ritmos musicais e na forma de

produção das culturas de subsistências, principalmente na cultura da mandioca” (LINS, 2007,

p. 71).

Toda essa região foi sendo ocupada por fazendeiros donos de engenhos, que

cultivavam principalmente a cana-de-açúcar, tendo como mão-de-obra os índios escravizados

e principalmente os negros vindos da África, evidências ainda são possíveis de serem

encontradas no território de Elísio Medrado, entre elas estão algumas fazendas que nas suas

estruturas mostram sua funcionalidade por volta do século XIX.

72

Uma delas, a do atual proprietário Kamal Elílio Chaoul, fica situada numa

área plana, tendo a sua frente (lado leste) gramado com árvores como jenipapo e flamboyants,

sendo possível a observação de toda a Serra da Jibóia e o povoado de Monte Cruzeiro, ao

sopé da serra (figuras 49 e 50). Essa casa, segundo relatos de moradores, foi construída na

segunda metade do século XIX, havia plantações de café na primeira metade do século XX e

no seu interior há vestígios do período da escravidão, com porões, área de castigo para os

escravos, entre outros relatados pelos moradores de Monte Cruzeiro.

Figura 49: Fazenda Estiva do Sr. Kamal Elílio Chaoul. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

73

Figura 50: Árvores de Flamboyants e ao fundo a Serra da Jibóia (Fazenda Estiva). Autor: Eduardo de Oliveira, 2010. Muitos dos moradores revelaram que seus avós eram escravos da Fazenda

Estiva e até de outras existentes na localidade, porém já haviam sido demolidas. “O mais

antigo proprietário de que se tem notícia foi o Pe. Gustavo, vindo a seguir uma viúva de nome

D. Virgínia e a fazenda fica para seu genro Ramiro Sales, que por sua vez a vendeu a Odilon

Sampaio. Posteriormente é adquirida por Pedro Costa 1973 – Neste ano, Kamal Emílio

Chaoul, atual proprietário, adquire a fazenda [...]” (SAMPAIO, [200-], p. 95).

Uma outra propriedade fica localizada no povoado Limoeiro, nas

proximidades do povoado Souza Peixoto (antigo Cajueiro ou Acaju), a antiga fazenda foi

construída em 1912 (figura 51), porém relatos de antigos moradores revelam que antes dessa

construção havia uma outra que funcionava como engenho e havia escravos. Nessa

propriedade, no início do século XX, funcionava uma loja e armazém para compra de café e

fumo dos proprietários rurais da região, além de um terreiro para secagem de café e uma

antiga casa de farinha. Apesar da casa se encontrar em ruína, mostra que era de alto padrão

para a época, pois apresenta decorações artísticas nas paredes internas e amplos espaços com

piso de lajotas feito de barro cozido (figuras 52 e 53).

74

Figura 51: Fazenda do povoado Limoeiro do ano de 1912. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

Figuras 52 e 53: Decoração artística na parede interna da fazenda do povoado Limoeiro do

ano de 1912, e piso de lajota feito de barro cozido. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

Já a fazenda Rio Vermelho (figura 54) fica localizada nas proximidades do

entroncamento de Elísio Medrado, quase fazendo limite com o atual município de São Miguel

das Matas. A casa da Fazenda Rio Vermelho fica localizada em um terreno plano. Com ampla

varanda onde é possível visualizar a Serra da Jibóia, atualmente grande parte da propriedade é

recoberta com pastagem para gado. Ao sul da casa há uma plantação de cana e ao fundo do

vale, o Rio Vermelho que serve de limite entre os atuais municípios de Elísio Medrado e São

75

Miguel das Matas. Ao lado norte da casa encontra-se um engenho de cana, ainda em

funcionamento e mantém todo seu equipamento original da segunda metade do século XIX

(figura 55). Na chaminé do engenho indica o ano de sua construção que é de 1861, na fachada

principal da casa indica que sua construção foi posterior ao engenho, 20 de abril de 1866. Não

foi possível levantar dados dos seus primeiros proprietários, porém no seu interior há indícios

de escravidão, como lugar para aprisionar os escravos. O atual proprietário é Leonel Souza

Argolo que adquiriu a fazenda em 1973.

Figura 54: Fazenda Rio Vermelho. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

76

Figura 55: Equipamento para moagem da cana pertencente à Fazenda Rio Vermelho. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

Construções como essas revelam que no século XIX havia grande demanda

de cana-de-açúcar, rapadura e aguardente na região, porém era precário o sistema de

transportes, sendo usado tropas de animais para transportar os produtos que eram levados até

o trem na estação do Cajueiro (atual Souza Peixoto). Outra opção era ir até a cidade de Nazaré

e de lá era transportado até Salvador. Já com o fim da escravidão houve a decadência desses

engenhos e os cafezais dominaram a região, o que certamente impulsionou o crescimento do

povoado Paraíso.

No contexto da expansão territorial dos canaviais, os povoados da região

também se expandiram, além da cafeicultura que veio posteriormente ocupar o lugar dos

canaviais. Por exemplo, no ano de 1870 o estado da Bahia contava com 75 municípios, e no

ano de 1889 (ano da Proclamação da República) na Bahia havia 98 municípios (SAMPAIO,

[200-], p. 33).

Com a implantação da ferrovia e o fim da escravidão,

a medida que a economia cafeeira se expandia, criava-se as condições para sua própria transformação. Aumentava cada dia a população rural, o número de cidades, a população urbana, a extensão da rede ferroviária que no conjunto passava a dar sinais de transformação (FRESCA, 1994, p. 8).

77

Com isso, a agricultura tende, no início do século XX, a se diversificar cada

vez mais, visto que a demanda de matéria-prima aumentava cada vez mais devido ao aumento

de cidades e povoados, “além disto, a agricultura passava a produzir matéria-prima para a

indústria que se intensificava [...]” (FRESCA, 1994, p. 8).

Nesse período a estrutura regional montada teve como base econômica a

exploração das atividades primárias, voltadas para o mercado externo, culturas como cana-de-

açúcar, café e fumo. Milton Santos (1963) coloca que (apud LINS, 2007, p. 72)

algumas culturas tradicionais do Recôncavo ali se instalaram: em pequena escala, a mandioca e a cana de açúcar. O fumo, a mais antiga dessas lavouras, é mais intensamente cultivado; parece que, recuou para o litoral na segunda metade do século XVIII, atingindo o município de Castro Alves, depois Amargosa. O café sombreado veio de Maragogipe e espalhou-se, largamente, pelas encostas íngremes, que foram plantadas como culturas de subsistência e para alimentar pequenas casas de farinha, alambiques e engenhocas de fraca produção [...].

Foi com a libertação dos escravos em 1888 que o café tornou-se o produto-

base da economia da região. Vários foram os fatores que favoreceram o seu cultivo como

coloca Lins (2007, p. 72):

1- Os fatores naturais – o cafeeiro se adaptou bem ao clima e relevo da

região, sobretudo nas zonas de terras altas de topos aplainados.

2- Alto valor econômico no mercado – a alta cotação do café no mercado

internacional estimulou os fazendeiros a investir na lavoura cafeeira.

3- Tipo de povoamento da região – os imigrantes europeus que ali se

estabeleceram tinham experiência na cultura do café, além disso, os

africanos libertos e os retirantes nordestinos eram mão-de-obra barata e

estavam habituados a trabalhar na terra.

Nesse período os municípios do Recôncavo intensificaram as relações

espaciais dentro da economia cafeicultora. “Desta forma, a região se insere dentro da

economia hegemônica vigente no país no começo do século XX” (LINS, 2007, p. 73).

O café era sinônimo de prosperidade e progresso e “[...] onde se estabelecia

gerava riqueza e estimulava o surgimento de infra-estruturas” (LINS, 2007, p. 73). No caso da

região em estudo, percebe-se que houve investimentos em relação ao sistema viário para

78

escoamento da produção do café, além de surgimento de bancos e armazéns para compra do

café.

Vale lembrar que o território que é o atual município de Elísio Medrado, teve

seu primeiro núcleo denominado de Jibóia, que é o atual povoado de Monte Cruzeiro e o

escoamento da produção das fazendas de engenhos eram feitos pelo lado norte do município,

passando por Castro Alves. Este se formou devido a produção da cana-de-açúcar e os

engenhos. Já o segundo povoado denominado de Cajueiro se formou, como já foi comentado

anteriormente devido a construção da ferrovia que ligava Amargosa a Nazaré. Nesse segundo

momento da história, percebe-se que foi a cultura do café que impulsionou o surgimento do

povoado, hoje denominado de Souza Peixoto, sendo que os proprietários das fazendas

cafeeiras faziam o escoamento da produção via ferrovia.

Contudo, percebe-se que nos dois momentos da história do ciclo agrícola

brasileiro, houve dois períodos distintos: o primeiro povoado se desenvolveu bem, chegando

ao auge da região, porém no segundo momento da história percebe-se que o povoado de

Cajueiro que chegou a ser Distrito de Amargosa, sempre esteve ligado a Amargosa.

Já no outro povoado de Paraíso, que deu origem ao município de Elísio

Medrado, nota-se que se desenvolveu principalmente motivado pelo comércio local, mas em

nenhum momento chegou a estar no topo da hierarquia urbana. É notório por suas construções

urbanas que as pessoas que ali residiam tinham baixo poder aquisitivo, até mesmo as casas

comerciais.

Diferentemente da cidade de Amargosa que tem suas casas antigas,

localizadas no centro da cidade, próximas a Igreja Matriz (Catedral Nossa Senhora da

Conceição, datada no ano de 1917) e são de alto padrão para a época: com eira, beira, frente

decorada, com estátuas entre outros. Assim, sendo superior as casas do centro de Elísio

Medrado, o que faz entender que a elite morava na área urbana de Amargosa e em Elísio

ficava a população de baixa renda. As casas seguem uma datação que vai de 1917 a 1954,

localizadas da igreja até a Praça do Cristo, não havendo vazio urbano, ou seja é possível que

não houvesse uma preocupação com a valorização do local. Vale ressaltar que não mais

existem todas as casas de 1917 até 1954, mas a sequência hierárquica faz pensar assim de que

um dia elas existiram.

Afastando-se da área central de Amargosa, encontra-se uma antiga estação

ferroviária e em sua proximidade algumas residências as margens da antiga linha do trem,

estas residências são bem semelhantes as do centro de Elísio Medrado. Com essas

observações feitas percebe-se que Elísio Medrado fazia parte da periferia da cidade de

79

Amargosa e que na época já havia segregação espacial, mostrando com isso que a elite

regional concentrava-se na área central da cidade de Amargosa. Esse comentário baseia-se em

uma observação preliminar dos aspectos físicos da cidade de Amargosa, cabendo um estudo

mais aprofundado para se confirmar ou não esta hipótese levantada.

Contudo na, zona rural do município de Elísio Medrado ainda se encontram,

como foi citado anteriormente, grandes fazendas, mostrando que no passado foram de grande

importância para a região. Porém, seu sistema viário sempre foi precário, dificultando o

escoamento da produção, sendo necessário usar animais em tropas para levar a produção até a

estação mais próxima que nesse caso era a do Cajueiro.

4.2 A REDE URBANA E A DINÂMICA FUNCIONAL DE ELÍSIO MEDRADO NA

ATUALIDADE

Este ítem busca caracterizar o município de Elísio Medrado dentro do espaço

regional econômico do Recôncavo Sul da Bahia. Dentre as 15 regiões econômicas (figura 56),

a região do Recôncavo Sul é uma das principais regiões econômicas do estado, sendo uma das

primeiras a ser colonizada, servindo como acesso dos portugueses no período do

descobrimento do Brasil. “A herança desta época pode ser constatada através das diversas

cidades seculares de grande importância histórica num contexto nacional, a exemplo de

Cachoeira, Nazaré [...]” (LINS, 2007, p. 49-50).

80

Figura 56: Regiões Econômicas do estado da Bahia e seu desenvolvimento Fonte: LINS (2007, p. 47).

Atualmente a região compreende 33 municípios. Amargosa, Aratuípe,

Brejões, Cabaceiras do Paraguaçu, Cachoeira, Cruz das Almas, Castro Alves, Conceição do

Almeida, Dom Macedo Costa, Elísio Medrado, Governador Mangabeira, Itatim,

Jaguaripe, Jiquiriçá, Laje, Maragogipe, Milagres, Muniz Ferreira, Muritiba, Mutuipe,

Nazaré, Nova Itarana, Salinas da Margarida, Santa Terezinha, Santo Amaro, Santo Antônio

de Jesus, São Felipe, São Félix, São Miguel das Matas, Sapeaçu, Saubara, Ubaíra e

Varzedo.

4.2.1 Alguns Dados Econômicos e Sociais de Elísio Medrado

Entre estes 33 municípios, que formam a região do Recôncavo Sul, o ponto

de partida para o presente estudo é Elísio Medrado. Este está ligado aos seus limites dispondo

de estradas asfaltadas. Da sede do município ao entroncamento são 6 km de distância, o qual

está ligado a BA-046 que liga Santo Antônio de Jesus (Leste) a Amargosa (Oeste). Esta é a

81

principal via de acesso que liga Elísio Medrado a vários Municípios, além da BR-101. É um

dos menores municípios do Estado da Bahia em extensão territorial. Sua área abrange, cerca

de 199,54 km².

O quadro 2 mostra alguns dados geográficos do município de Elísio

Medrado.

Latitude 12º 56’ 45,60” Sul

Longitude 39º 31’ 19,20” Oeste

Área 199,54 km2

Distância da capital (Salvador) 224 km (Salvador)

Distância de Amargosa 22 km

Distância de Santo Antônio de Jesus 38 km

Fonte: IBGE (2009, p. 5). Organização: Eduardo de Oliveira, 2010. Quadro 2 – Dados geográficos do município de Elísio Medrado.

Segundo o sítio do IBGE, o município possuía em 2007 o total de 62

empresas, ocupando a posição de nº 362 entre os 417 municípios existentes no estado da

Bahia.

No que se refere à renda, no Censo Demográfico de 2000 é apresentado um

percentual de 42,93% das famílias que ganham até meio salário mínimo, sendo maior que o

percentual do estado e do país (IBGE, 2009, p. 4), mostrando assim que é um município com

alto índice de pobreza. No sítio do IBGE, no ano de 2003, no mapa de pobreza e

desigualdade entre os municípios brasileiros, o município de Elísio Medrado apresentava um

índice de Gini de 0,37, sendo que o limite inferior e superior do estado é apresentado os

valores de 0,33 e 0,41 respectivamente.

Entre os anos de 1980 a 2000 a população economicamente ativa do

município em estudo melhorou seu rendimento (tabela 3), visto que caiu o número de pessoas

sem rendimentos, aumentando nos demais. Mas dos 6.492 ativos grande parte estão sem

rendimentos ou ganham até um salário mínimo. Estes dados revelam uma população

economicamente pobre em sua grande maioria.

82

Tabela 3 – Rendimento médio mensal da população economicamente ativa: 1980 e 2000

Rendimento médio mensal 1980 2000 Nº % Nº %

Até 1 salário mínimo 2030 37,03 2773 42,72De 1 a 2 salários mínimos 282 5,15 847 13,05De 2 a 5 salários mínimos 175 3,20 264 4,07De 5 a 10 salários mínimos 33 0,60 86 1,32De 10 a 20 salários mínimos 3 0,05 32 0,49Mais de 20 salários mínimos 3 0,05 13 0,20Sem rendimentos 2915 53,17 2477 38,15Sem declaração 41 0,75 - 0,00Total 5482 100,00 6492 100,00Fonte: IBGE (1994, p. 240); IBGE – Censo Demográfico. Disponível em: (http://www.ibge.com.br/cidadesat/topwindow.htm?1). Acesso em: 29 ago. 2010. Organização: Eduardo de Oliveira, 2010. O município possui apenas dezesseis propriedades com mais de 200 hectares

(ha). Grande parte do território é ocupado por pequenos agricultores, com isso o município

tem uma densidade demográfica alta que é de 39,63 habitantes/km² (IBGE, 2009, p. 5), sendo

que a média baiana é de 23,16 habitantes/km² (LINS, 2007, p. 52). A tabela 4 a seguir mostra

que há predominância de pequenos estabelecimentos, sendo que sua maioria tem menos de 1

ha, totalizando 36,08%. Outro dado relevante é que 81,31% dos estabelecimentos tem menos

de 10 ha, esse dado mostra que o município é formado de pequenos produores rurais. Porém,

é importante ressaltar que segundo os dados do IBGE há alguns grandes estabelecimentos,

sendo que dois estão acima de 500 ha, porém os valores da área não são identificados porque

há menos de três informantes conforme sítio do IBGE.

Em pesquisa de campo fica evidente as pequenas propriedades administradas

pelos próprios proprietários rurais, porém há algumas propriedades, destinadas a criação de

gado para corte, que os donos não residem no município. Muitos deles são medradenses6 que

tem comércio em cidades maiores e com reserva de dinheiro compram propriedades e

promovem a concentração de terra, embora em pequena escala. Ou seja, a tabela abaixo

confirma que apesar do predomínio dos pequenos produtores, que possuem 1.317

estabelecimentos com até 200 ha, perfazendo um percentual de 62%, a terra é concentrada,

pois os 16 estabelecimentos com mais de 200 ha concentram 38% das terras.

6 Designação dada aos nascidos no município de Elísio Medrado.

83

Tabela 4 – Estrutura fundiária do município de Elísio Medrado – 2006

Faixas de Área (ha) Estab. % Área %

Mais de 0 a menos de 1 ha 481 36,08 271 1,31

De 1 a menos de 5 ha 472 35,40 1.071 5,18

De 5 a menos de 10 ha 131 9,83 924 4,47

De 10 a menos de 100 ha 201 15,08 6.131 29,66

De 100 a menos de 200 ha 32 2,40 4.459 21,57

De 200 a menos de 500 ha 14 1,05 4.245 20,53

De 500 ha e mais 2 0,16 X 17,28

Total 1.333 100,00 17.101 100,00

Fonte: IBGE – Censo Agropecuário. Disponível em: <http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?c=854&z=t&o=11&i=P>. Acesso em 05 set. 2010. Obs.: A letra X representa dados ausentes na tabela do IBGE. Organização: Eduardo de Oliveira, 2010. Conforme informações do Censo Agropecuário de 2006, no sítio do IBGE, a

maioria da população ativa do município em sua maioria trabalha nas atividades de

agropecuária, sendo 1.096 mulheres e 2.064 homens. Totalizando 3.160 trabalhadores rurais,

o que representa 38,62% da população geral residente no município.

As características econômicas, tanto na agricultura quanto na pecuária; as

produções e criações são voltadas mais para o consumo interno.

A população total estimada para o ano de 2009 era de 8.183 habitantes e, de

acordo com a tabela 5, nota-se que a população total do município teve um decréscimo no ano

de 1980 em relação a 1970. Outro dado observado na tabela é o aumento da população urbana

em todas as décadas, muito embora a população rural ainda seja superior a população urbana.

Tabela 5 - População Urbana e Rural nos períodos de 1970 a 2000

Ano Urbana % Rural % Total %1970 912 10,57 7716 89,43 8628 100,001980 1038 13,45 6675 86,55 7713 100,001991 1995 25,46 5840 74,54 7835 100,002000 2514 31,99 5346 68,01 7860 100,002009* - - - - 8183 100,00Fonte: IBGE (1994, p. 238); IBGE (2009, p. 2); IBGE – Estimativa da População 2009. Disponível em: <http://www.ibge.com.br/cidadesat/topwindow.htm?1>. Acesso em: 29 ago. 2010. (*): População estimada. Organização: Eduardo de Oliveira, 2010.

84

Na parte educacional, o município apresentava 94,88% de pessoas

freqüentando curso de nível fundamental (população entre 7 e 14 anos de idade), colocando o

município em situação superior à estadual e à nacional, porém 25,97% da população acima

de 25 anos apresenta sem instrução ou tem menos de um ano de estudo. Mas a maioria da

população acima de 25 anos (52,52%) tem de 1 a 4 anos de estudo (IBGE, 2009, p. 4). Esses

dados mostram pouca instrução para grande parte da população, porém quanto às crianças e

adolescentes os dados mostram que a freqüência escolar tem melhorado no município. Os

dados atuais do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), constantes na tabela

6, mostram que o município atingiu o terceiro melhor índice (4ª série ou 5º ano) da região,

ficando a frente de cidades mais desenvolvidas como Amargosa, Santo Antonio, Cruz das

Almas, Castro Alves, entre outras; atingindo uma média de 4.1 para o ensino de 4ª série ou 5º

ano, e para o ensino de 8ª série ou 9º ano atingiu a média de 3.1, ocupando ao lado do

município de São Miguel das Matas a sétima posição, ficando novamente a frente das cidades

citadas, exceto Santo Antonio de Jesus que obteve 3.2. Esses dados mostram que o ensino das

séries iniciais, do ensino fundamental, tem melhorado muito no município se sobressaindo em

relação às demais cidades circunvizinhas.

O maior peso na economia municipal está associado à administração pública

devido ao elevado número de pessoas ocupadas neste setor (IBGE, 2009, p. 4). Porém, este

setor possui uma diversidade muito baixa na oferta de atividades. há muita gente trabalhando

em uma só área, abrangendo mais a educação e serviços gerais. Outro setor relevante,

observado nos dados do IBGE de 2000, que coloca o município acima da média nacional, é a

iluminação elétrica (99%), pavimentação (90%) e abastecimento de água (96%) na área

urbana (IBGE, 2009, p. 4). A iluminação elétrica e o abastecimento de água abrangem

também grande parte da área rural. A área central do município, caracteriza-se pelo uso

intensivo do solo, com maior concentração de atividades econômicas, com uma escala

horizontal.

Esses dados acima mostram dois pontos contraditórios. Se por um lado o

município é abastecido com água, energia elétrica e pavimentação, que são elementos

essenciais para o desenvolvimento social, por outro lado percebe-se a existência de uma

população pobre e analfabeta ou com baixa escolaridade.

85

Tabela 6 – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) – 2009 MUNICÍPIO 4ª SÉRIE OU 5º ANO 8ª SÉRIE OU 9º ANO Amargosa 3.7 2.3 Aratuípe 3.6 3.2 Brejões 3.4 3.0 Cabaceiras do Paraguaçu 2.9 2.7 Cachoeira 3.3 2.5 Cruz das Almas 3.8 2.8 Castro Alves 3.3 2.9 Conceição do Almeida 4.0 2.7 Dom Macedo Costa 4.6 3.3 Elísio Medrado 4.1 3.1 Governador Mangabeira 3.7 2.7 Itatim 3.3 1.8 Jaguaripe 4.8 --- Jiquiriçá 3.1 3.4 Laje 3.5 2.6 Maragogipe 3.3 2.6 Milagres 3.4 2.9 Muniz Ferreira 3.3 3.2 Muritiba 3.9 2.7 Mutuipe 3.7 2.9 Nazaré 3.5 2.6 Nova Itarana 3.2 2.5 Salinas das Margaridas 3.6 2.9 Santa Terezinha 3.2 3.8 Santo Amaro 3.3 3.0 Santo Antônio de Jesus 3.9 3.2 São Felipe 3.1 2.3 São Félix 3.0 2.6 São Miguel das Matas 3.7 3.1 Sapeaçu 3.0 2.5 Saubara 3.8 2.6 Ubaíra 3.8 2.9 Varzedo 2.6 2.2 Fonte: BRASIL (2010). Organização: Eduardo de Oliveira, 2010.

Com os dados citados acima, dentro dessa pesquisa, considera-se o município

como pequeno. Pois “segundo o tamanho as cidades diferenciam-se de acordo com o número

de seus habitantes ou segundo agregados econômicos distintos, com base, por exemplo, no

valor da produção industrial e da receita do comércio e serviços e a renda de seus habitantes”

(CORRÊA, 2003, p. 135), e Elísio Medrado apresenta estas características citadas pelo autor.

Segundo relatório do IBGE sobre a Divisão do Brasil em Regiões Funcionais

Urbanas, que pretende mostrar as relações que as cidades mantêm através de bens e serviços.

86

O município de Elísio Medrado encontrava-se na rede urbana de Amargosa (IBGE, 1972, p.

53). Nesta localidade, os produtores rurais e a população local poderiam vender parte de sua

produção e adquirir outros bens e serviços na cidade de Amargosa, conforme suas

necessidades. No entanto, na atualidade, é fácil perceber que o município de Amargosa não é

o único a fazer parte desta rede urbana, pois a população de Elísio Medrado também se

desloca com mais freqüência para o município de Santo Antônio de Jesus, tendo em vista que

neste município o comércio é mais dinâmico e é possível encontrar grandes redes do comércio

nordestino instalados nesta localidade.

O estudo mais recente do IBGE (2008, p. 55) - Região de Influência das

Cidades, confirma o que foi constatado em campo; de que o município de Elísio Medrado

(Centro Local) está inserido na rede urbana do município de Santo Antônio de Jesus (Centro

Sub Regional A).

Santo Antônio de Jesus está apenas a 38 km distante de Elísio Medrado.

Amargosa fica mais próxima, com apenas 30 km de distância. O acesso a ambos os

municípios se dá através da rodovia BA-046. Na atualidade há várias opções de transportes

rodoviários para ambas as cidades como ônibus, carros para fretes, moto táxis, vans que

fazem linha, entre outros. Têm todas estas opções diariamente e conforme a necessidade de

busca de bens e serviços a população sempre se desloca para uma das duas cidades.

Percebe-se que devido a grande variedade da feira de Amargosa,

principalmente aos sábados, a população se desloca para fazer compras semanais nessa cidade

pois, com a facilidade de transporte e o preço acessível da passagem, os moradores preferem

ir até Amargosa, visto que o comércio de Elísio Medrado ainda tem pouca opção de produtos,

além da crença de que é tudo mais caro.

A feira de Amargosa fica localizada no centro da cidade, sua origem é antiga

e tem a ver com o surgimento do núcleo urbano, ganhando mais importância com a

construção da estrada de ferro. De acordo com Weber (apud LINS, 2007, p. 86) “o

aparecimento das cidades está relacionado estreitamente com as feiras, que representavam o

embrião de uma nova aglomeração humana a partir da atividade comercial”. Essa feira tem

uma importante concentração de fluxo de pessoas e mercadorias, intensificando as relações

comerciais e sociais de Amargosa com outros municípios, entre eles está Elísio Medrado.

Pode-se afirmar que a feira livre de Amargosa, é um dos principais elementos que coloca o

município como um centro com mais dinamismo que o seu entorno.

87

Embora a feira de Amargosa tenha opções muito variadas, além do maior

número de supermercados, o município não se destaca como grande produtor agrícola da

região do Recôncavo Sul, sendo que no ano de 2005,

Brejões, com seus mais de 23 milhões de reais gerados pelas plantações, é a maior economia agrícola regional, respondendo por mais de um terço das divisas criadas pelo setor. São Miguel das Matas vem em segundo lugar, com um quarto da geração de riqueza agrícola regional, ou seja, 17 milhões de reais. Amargosa e Santo Antônio de Jesus são o terceiro e quarto lugar, com 10 milhões e 7 milhões, respectivamente, sendo que este último tem praticamente a mesma área plantada de Brejões, mesmo tendo uma produção mais diversificada (LINS, 2007, p. 125).

Com isso, é possível afirmar que muitos feirantes vêm de outros centros

urbanos da região para comercializar seus produtos na feira de Amargosa, mas é importante

destacar que grande parte dos moradores de Elísio Medrado se deslocam até Amargosa para

consumir produtos principalmente de primeira necessidade. Muitos desses consumidores são

aposentados e aproveitam para sacar a aposentadoria mensal nos bancos de Amargosa e

conseqüentemente aproveitam a ocasião para fazer compras na cidade.

Atualmente, dentro dessa hierarquia urbana regional também acontece um

grande deslocamento da população de Elísio Medrado para o centro maior que é Santo

Antônio de Jesus, embora com uma finalidade um pouco diversificada, buscando produtos

como eletrodomésticos, móveis, especialidades no serviço de saúde, vestimentas, entre outros.

Milton Santos em seu trabalho A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo,

Razão e Emoção, menciona sobre o passado e o presente das redes. Para o autor a “[...]

sucessão não é aleatória. Cada movimento se opera na data adequada, isto é, quando o

movimento social exige uma mudança [...]” (SANTOS, 2004, p. 263). Milton Santos (apud

CUNHA, 2002, p. 266) complementa que “ mediante as redes, há uma criação paralela e

eficaz da ordem e da desordem no território, já que as redes integram e desintegram, destroem

velhos recortes espaciais e criam outros”.

Numa primeira análise, é possível entender que no ano de 1972 a população

de Elísio Medrado, tinha em Amargosa o seu ponto de referência para realização das

demandas diárias de trabalho, estudo e outras demandas sociais e econômicas.

O ponto mais positivo para aquela época, deveria ser a distância e as vias de

acesso. É de se imaginar que naquela época as estradas eram precárias e que ir para

localidades mais próximas era a melhor opção. Hoje, com o avanço tecnológico e os meios de

88

transportes mais difundidos, contribuem para que a população de Elísio Medrado busquem

novas localidades para realização das demandas diárias.

Essa facilidade de transporte permitindo o deslocamento da população de

Elísio Medrado para Amargosa e Santo Antônio de Jesus, em primeira instância, parece

favorável ao município, como colocam alguns moradores do município ao afirmarem que hoje

o lugar está bom para morar porque tem transporte para várias localidades como Amargosa,

Santo Antônio de Jesus, Salvador, entre outros. Mas é importante frisar que tal benefício é

apenas aparente, pois os moradores de Elísio Medrado são vistos apenas como consumidores,

levando a renda obtida na cidade para outros municípios, com isso há estagnação do comércio

local, dificultando que o mesmo se desenvolva dando ao consumidor outras opções de

produtos e pagamentos. Essa realidade é presente na hierarquia urbana, como coloca Milton

Santos (apud CUNHA, 2002, p. 266) que

quando ele é visto pelo lado exclusivo da produção da ordem, da integração e da constituição de solidariedades espaciais que interessam a certos agentes, esse fenômeno é como um processo de homogeneização. Sua outra face, a heterogeneização, é ocultada. Mas ela é igualmente presente.

Essa heterogeneização é presente na região, sendo que Elísio Medrado fica na

periferia hierárquica, sendo que ainda possui um modo de produção tradicional, onde

acontecem em grande escala o uso da enxada para “preparar” o terreno para plantio (figura

57). Este é feito usando os pés e as mãos do pequeno produtor. No município há ausência de

técnicas modernas, como colheitadeiras, tratores, arados mecânico e até utilização de um

animal para arar o terreno, entre outros.

Se cada modo de produção se constitui uma etapa da produção da história e

se manifesta pelo aparecimento de novas técnicas (SANTOS, 1999, p. 6), o município mostra

que a ausência destas novas técnicas mantém o espaço geográfico com pouca alteração

econômica desde o início de sua criação.

Segundo Santos (1999, p. 6), “modos de produção e espaço geográfico

evoluem juntos, movido por uma lógica unitária”. Ainda segundo Santos (1999, p. 6-7), no

início da história a ação dos modos de produção sobre o espaço se dava praticamente sem

mediações. A partir do século XVI, isso mudou com a expansão capitalista.

O capitalismo avança no território e o modo de produção tende a ser único,

sendo que “[...] em nenhuma outra época, o modo de produção teve uma difusão tão

89

generalizada e uma presença tão profunda e eficaz, em todos os recantos da terra” (SANTOS,

1999, p. 7).

Figura 57: Preparo do terreno de forma manual para plantio de mandioca. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

No município em estudo, percebe-se a presença mesmo que pontual do

capitalismo globalizado como a venda de produtos como a Coca-Cola, Nestlé, Philips,

serviços como internet, celular, entre outros, que são oferecidos para a população. Nessa

perspectiva

os investimentos, pensados e programados segundo uma perspectiva global, criaram e reestruturaram inúmeras e complexas redes geográficas das quais a rede urbana é a expressão mais contundente. Trata-se, em toda parte, de uma rede urbana que sofreu o impacto da globalização, na qual cada centro, por minúsculo que seja, participa, ainda que não exclusivamente, de um ou mais circuitos espaciais de produção (SANTOS apud CORRÊA, 1999, p. 44).

Como a globalização é incompleta, ela se dá de forma desigual, ela é

perversa, não constitui um período novo, mas apenas um prolongamento da fase anterior. Por

isso ela não é um paradigma. As épocas se sucedem umas às outras sem interrupção e ao

mesmo tempo guarda vestígio do passado (SANTOS, 1999, p. 7).

90

Como exemplo desta globalização perversa, comentada por Milton Santos,

têm-se no município em estudo que apresenta baixos índices sociais e econômicos citados

anteriormente.

Como “[...] existem lugares que tendem a tornar-se especializados, tanto no

campo como na cidade, e essa especialização se deve mais às condições técnicas e sociais que

aos recursos naturais” (SANTOS, 1999, p. 11), o município de Elísio Medrado é o oposto

desses lugares especializados, certamente não por falta de recursos naturais existentes na

localidade, mas pelo baixo índice de estudo da população local dificultando o

desenvolvimento do meio técnico científico na localidade.

Com base nesses estudos percebe-se em primeira instância que o município

precisaria avançar na escolaridade da população e mudar o cenário do campo, modernizando

com técnicas que melhore a produtividade, conseqüentemente essa melhora rural mudaria

também o cenário urbano.

4.2.2 A Problemática dos Comerciantes Locais

Devido a essa hierarquia urbana, colocando Elísio Medrado como cidade

local dentro de uma zona periférica desta hierarquia, os comerciantes locais enfrentam muitas

dificuldades financeiras para manter os estabelecimentos em funcionamento. Dentre estas

dificuldades estão um grande número de inadimplentes e os que chegam a pagar levam meses.

Segundo um comerciante que trabalha com açougue uma vez por semana, nas tradicionais

festas juninas do corrente ano, teve uma boa venda de seus produtos, conforme seus

comentários. Porém, grande parte ficou no chamado “fiado”, que certamente pagarão com

alguns meses de atraso, esvaindo todo lucro.

Outro comerciante proprietário de uma mercearia e bar, relatou que abastece

seu comércio comprando no cheque, porém vende quase tudo “fiado” e quando vai cobrir o

cheque não tem dinheiro, então toma emprestado de familiares. Nessa conversa, ele relata que

um freguês estava devendo cem reais (R$ 100,00), mas não pagava porque perdeu o emprego

na Prefeitura, com a mudança de Prefeito. Cobrou a dívida e o freguês não tendo como pagar

ofereceu dois filhotes de porco para quitar sua dívida, acabou aceitando a proposta, por não

haver outra opção. Durante a semana vende entre dois a três reais (R$ 2,00 a R$ 3,00) por dia,

e às vezes prefere deixar fechado e só abrir aos sábados, que devido a feira tem um melhor

91

movimento, mas a maioria compra “fiado”. Segundo ele, não fecha o comércio porque não

tem outra opção de trabalho, mas o lucro é quase inexistente.

Já uma outra comerciante, que possui um estabelecimento de venda de

roupas, e que trabalha neste ramo há mais de quinze anos, comentou que o maior problema

são os “fiados”, além de terem caído as vendas. Isto está acontecendo devido aos empréstimos

oferecidos aos aposentados, que ao final do mês ao receberem suas aposentadorias pouco lhe

sobra deste benefício para que possam adquirir produtos de segunda necessidade. Na década

de 1990 a comerciante abastecia cerca de duas vezes ao mês comprando em Feira de Santana,

“hoje em dia não compensa mais” e prefere fazer as compras para abastecer o seu

estabelecimento em Santo Antônio de Jesus por ser mais perto, além da facilidade com os

meios de transportes, por haver várias opções e horários.

Em uma outra entrevista realizada com outra comerciante local, dona de um a

loja de variedades, tem as mesmas reclamações feitas por outros comerciantes: muito “fiado”,

pouco movimento durante a semana, tendo uma venda diária de no máximo cinco reais (R$

5,00) por dia, sendo que há dias que não há venda de um único produto; havendo uma

melhora nos dias de feira. Segundo ela, as pessoas compram muito “fiado” e demoram em

pagar, todo comércio tem sentido os efeitos negativos neste tipo de compra. Demoram em

pagar e quando ocorre é sempre em partes e vindos de uma nova compra “fiado”. Ela abastece

o seu comércio comprando os seus produtos nas lojas de Santo Antonio de Jesus e Amargosa,

nada direto do fabricante e sim de lojistas. Uma outra reclamação da comerciante é com o

surgimento da BV Financeira que, aparentemente, seria bom para a cidade, mas isto fez com

que os aposentados entrassem em dívida, recebendo muito pouco da aposentadoria e estão

passando dificuldades, isso fez com que as vendas no comércio local diminuíssem.

Foi constatado que no comércio local de Elísio Medrado existem muitas

placas com a seguinte frase: “Não vendemos fiado”, porém como é uma cidade pequena e

todos se conhecem, esse aviso é ignorado pelos fregueses, e os comerciantes para não

perderem os clientes acabam cedendo.

Com as observações feitas e pelas entrevistas, percebe-se que a população

local quando tem dinheiro em mãos prefere deslocar-se para outros centros comerciais como

Amargosa e Santo Antônio de Jesus. Pois há diariamente oito veículos entre ônibus e carros

particulares que fazem linha entre o município de Elísio Medrado a Amargosa, cobrando em

torno de seis reais (R$ 6,00) incluindo ida e volta. Já para Santo Antônio de Jesus, há quatro

veículos entre ônibus e carros particulares que saem diariamente cobrando aproximadamente

dez reais (R$ 10,00) ida e volta. Essa facilidade de transporte faz com que a população se

92

desloque para esses outros centros urbanos, levando o dinheiro adquirido no município para

outros municípios. Sendo assim, o comércio local enfraquece e fica como segunda opção

quando lhes faltam dinheiro. Também se percebe que na cidade há ausência de agências

bancárias, pois só existem postos de atendimento que funcionam dentro de redes comerciais,

com a finalidade apenas para saque e depósito. Como exemplo, um posto de atendimento da

Caixa Econômica, que funciona juntamente com os serviços oferecidos por uma Casa

Lotérica que se encontra dentro de um mini-mercado. Vale ressaltar que estes postos estão

atrelados as agências localizadas no município de Amargosa, mostrando esta dependência

financeira dentro da rede urbana.

Uma outra pessoa entrevistada mencionou que houve uma tentativa de

melhorar o comércio local, formando uma associação comercial no município. No início, a

associação contava com cerca de trinta membros que pagavam mensalidade de quinze reais

(R$ 15,00), porém a associação durou apenas cerca de dez meses, e tinha como objetivo

combater o “fiado” e acabar com a feira de roupas (figura 58) que acontece no mercado

municipal uma vez por mês. São comerciantes vindos de Itatim e Feira de Santana, que

concorrem com o comércio local e não pagam impostos e nem aluguel pelo espaço utilizado.

Percebe-se que esta feira acontece no período em que ocorre o pagamento de aposentadorias.

Estes dois objetivos não foram alcançados pela associação, e com relação aos

fiados os resultados esperados não foram alcançados porque não podiam colocar os

inadimplentes no SPC (Sistema de Proteção ao Crédito), sendo que os estabelecimentos locais

só tinham um alvará simples cedido pela Prefeitura. Na primeira reunião, houve uma

participação grande, que foi diminuindo com o passar do tempo. Estes associados eram donos

de estabelecimentos comerciais da cidade de Elísio Medrado, que foram se desvinculado

porque não viram resultado algum, levando à falência da associação.

93

Figura 58: Feira de roupas. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

4.2.3 A Feira Semanal

A feira da cidade de Elísio Medrado teve seu início no povoamento de

Paraíso por volta do ano de 1928, quando Gil Procônio Lapa vindo de Jequié se estabeleceu

com açougue e alguns produtos. Esta iniciou-se em frente da casa onde na última década do

século XX funcionou a Cesta do Povo (figura 59).

Atualmente a feira (figura 60) conta com produtores locais e muitas pessoas

vindas de fora, principalmente de Itatim e Santa Terezinha. Estes feirantes provindos de

outras cidades chegam à sexta feira a tarde e montam suas barracas, dormem no próprio local,

acordando de madrugada (sábado) para dar início às vendas. Outros produtores locais saem de

suas casas pela madrugada transportando suas mercadorias em animais (figura 60). São

comercializadas frutas, legumes, hortaliças, produtos alimentícios feitos de forma artesanal

como beiju, requeijão, bolos, e uma variedade de outros produtos, porém em pequenas

quantidades (figuras 62 a 65).

94

Figura 59: Cesta do Povo (portas e janelas na cor azul) – local próximo de onde se iniciou a feira do município de Elísio Medrado no ano de 1928. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

Figura 60: Centro de Abastecimento Governador César Borges,

onde acontece a feira do município de Elísio Medrado. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

95

Figura 61: Feirante do município de Elísio Medrado, transportando suas

mercadorias no lombo de um jegue. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

Figura 62: Barraca de um dos feirantes expondo seus produtos aos consumidores

da feira. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

96

Figura 63: Barraca de um dos feirantes expondo seus produtos aos Consumidores da feira. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

Figura 64: Barraca de um dos feirantes expondo seus produtos aos Consumidores da feira. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

97

Figura 65: Vista de algumas barracas dos diversos feirantes da feira expondo seus produtos aos consumidores. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

O preço das mercadorias comercializadas na feira é determinado pela lei de

oferta e procura. Geralmente o comerciante pede um preço e se não conseguir vender vai

abaixando. Por exemplo, uma dúzia de ovos de galinha caipira, o produtor pedia na época da

pesquisa ao iniciar a feira cerca de três reais (R$ 3,00), mas como não conseguia vender toda

a produção, o preço foi caindo até chegar a dois reais (R$ 2,00) ao final da feira. Ou seja, o

cliente tem a oportunidade de comprar no final da feira produtos por menor preço, porém

corre o risco de não encontrar mais ou em menor qualidade.

Em relação aos açougues há dois tipos de cortes, classificando a carne como:

com osso que custa dez reais (R$ 10,00) e sem osso que custa doze reais (R$ 12,00) - (que são

carnes mais nobres como picanha, maminha, entre outros). Segundo um dos açougueiros, se

fossem classificar as carnes, como é feito nas grandes cidades, a população não teria

condições de pagar o preço real de uma carne nobre.

Observou-se que por volta das 4h45min da manhã já chegavam os primeiros

fregueses, que foram se intensificando com a chegada dos transportes vindos da área rural

(figura 66) oferecidos pela Prefeitura, por volta das 7hs da manhã. Mas nesse mesmo horário

verificou-se muitos veículos pegando passageiros, que chegavam à cidade, para irem

principalmente com destino para a feira de Amargosa. Um dos entrevistados que sempre vai

até Amargosa para fazer a feira semanal explicou que “muitas pessoas de Elísio preferem

98

fazer compras em Amargosa, pois a feira oferece de tudo e em variedades, isso faz com que a

feira de Elísio Medrado se torne fraca, sem contar que em Amargosa é mais barato”. Após as

11 horas da manhã já se percebe o início do término da feira que se concretiza por volta das

12 horas.

Grande parte dos feirantes, moradores do município, vendem sua produção

provinda de sua propriedade, são pequenos produtores que geralmente vendem algumas

frutas, legumes e hortaliças, além de pequena produção de ovos, entre outros. Já os feirantes

que se deslocam de outras cidades, geralmente adquirem os produtos de terceiros e participam

de outras feiras nas cidades circunvizinhas que acontecem em outros dias da semana, como:

Santa Terezinha (domingo), Itatim (segunda-feira), Milagres (domingo), entre outros.

Figura 66: Transporte oferecido aos moradores da zona rural, trazendo a população do campo

para consumir produtos da feira. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

Em entrevista realizada com onze (11) dos feirantes, com o objetivo de

descobrir de onde vieram para comercializar os produtos, apurou-se que 45% são do próprio

município, 36% são de Itatim e outras cidades somam 19%. Com isso percebe-se que em sua

maioria são feirantes de Elísio Medrado e de Itatim totalizando 81% dos feirantes. Dos 55%

99

dos feirantes que não são do município, apenas 9,5% declararam que são consumidores do

comércio local. Esse dado mostra um agravante para o município que tem o dinheiro escoado

para outros municípios da região.

Com relação aos feirantes do próprio município, percebe-se que predominam

os produtos como banana, mandioca e seus derivados, carne bovina, entre outros; enquanto

que os feirantes de Itatim oferecem outras variedades de produtos como tomate, verduras,

legumes, entre outros. Esse fato se dá devido a proximidade de Itatim com o Rio Paraguaçu,

onde o mesmo facilita a irrigação das hortas. Mas alguns consumidores entrevistados

comentaram que isso se dá devido a comodidade dos trabalhadores rurais de Elísio Medrado

que preferem viver de bolsa família e comprar produtos vindos de outros municípios. Como

coloca um dos entrevistados que “o povo aqui não gosta de trabalhar prefere comprar tomate

que vem de longe do que ter sua própria plantação”. Porém, vale lembrar que esses

trabalhadores em sua grande maioria são pessoas idosas que não tem nenhum incentivo por

parte do Estado e não tem mais força para trabalhar no campo. Como coloca um dos

trabalhadores que possui vaca leiteira em sua propriedade, mas não faz mais a ordenha por

não ter mais força para o serviço, pois seus filhos moram todos na capital baiana.

Outro dado pesquisado é que os feirantes residentes do município em estudo,

no final da feira, doam a sobra para pessoas conhecidas, já os provindos de outros municípios

guardam para comercializar nas demais feiras de outras localidades.

Nesse dia, de feira, a cidade de Elísio Medrado passa a ser um ponto de

dinamismo comercial com compra e venda de produtos de gênero de alimentação e higiene.

Nesse dia é que os comerciantes locais tem um melhor fluxo de clientes, em sua grande

maioria vindos da zona rural que vendem seus produtos cultivados no sítio e compram outros

industrializados. Outro fato que acontece também nas feiras semanais são os eventos culturais

e políticos, como foi presenciado o sorteio de brindes (figura 67) ofertado pelos comerciantes

locais para seus clientes, em que participavam autoridades como Prefeito e Vice-Prefeito.

A feira também conta com um mercado municipal contendo 46 boxes (figura

68), sendo que dez encontravam-se fechados e 36 em funcionamento com produtos variados

como açougue, produtos de limpeza, derivados da mandioca (beiju, farinha, tapioca), sucos e

café, produtos de alimentação industrializados, entre outros. Outra parte dos feirantes monta

sua própria barraca, com estrutura de madeira, porém os pequenos produtores preferem

espalhar seus produtos sobre a rua coberta de paralelepípedo (figura 69). A Prefeitura cobra

uma pequena quantia que pode variar dependendo do tamanho da barraca, do espaço ocupado

100

e do produto comercializado. Este valor pode variar entre um a dez reais (R$ 1,00 a R$

10,00).

Figura 67: Sorteio de brindes, realizado no dia 31 de dezembro de 2009. Autor: Eduardo de Oliveira, 2009.

Figura 68: Mercado Municipal. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.

101

Figura 69: Produtor expondo seus produtos na rua. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010. 4.3 UM OLHAR GEOGRÁFICO SOBRE O MUNICÍPIO DE ELÍSIO MEDRADO:

ALGUMAS SUGESTÕES

Na problemática do município em estudo, percebe-se que falta incentivo por

parte do Estado (Poder Público) em vários âmbitos, tanto educacional, cultural e econômico.

Isso faz com que a população jovem deixe o município em direção aos centros maiores em

busca de melhores condições de vida. Como o município apresenta pequenas propriedades

rurais onde estão estabelecidos pequenos produtores, em sua maioria pessoas idosas, pois os

filhos destes produtores quando alcançam a idade economicamente ativa não tem perspectiva

no município, grande parte vai trabalhar no comércio em Salvador ou outras cidades. Este fato

foi verificado em conversa com os moradores locais, como coloca uma moradora do Distrito

de Monte Cruzeiro de que

todo lugar cresce, mas Elísio Medrado não sai disso. Só fica os mais velhos aqui, porque não acostumam na cidade grande. Toda minha família trabalha em Salvador como dono de comércio: vai filho, sobrinho, primo. Começa trabalhando de empregado com os parentes, depois já quer ter seu próprio ponto. Lá se casa e não quer mais saber daqui. Eu gosto daqui. Lá eu passo oito dias e fico zonza para vir embora, não gosto de zuada e ficar presa dentro de casa. Aqui crio minhas criações, planto minha roça para distrair,

102

tem transporte para todo lugar: Amargosa, Santo Antônio de Jesus, Santa Terezinha e Salvador; tenho minha aposentadoria e tá tudo bom (sic).

Essa realidade é presente na vida de muitos proprietários rurais do município.

Percebe-se que os mais velhos ficam por estarem acostumados a vida calma do campo e

cultivam apenas pelo prazer em trabalhar, ocupando o tempo ocioso que tem, mas a renda é

apenas um complemento da aposentadoria que muitos deles adquiriram por serem proprietário

rural e já se encontrarem na idade que garante este benefício. Em muitos casos, essa opção de

ficar no município é devido a tranqüilidade do local. Muitos políticos no auge de suas

campanhas prometem atração de indústrias para o município. Mas vale ressaltar que essa

opção como geração de emprego não será benéfica para o município, visto que atrairá para a

cidade novos desempregados vindos de outras localidades, acarretando o aumento da pobreza

urbana.

Pensando em dinamizar a economia do município, o que parece mais viável

deveria partir da área rural, incentivando os produtores e dando todo apoio técnico de um

Agrônomo, Geógrafo, Administrador, entre outros.

Esses profissionais poderiam ser das universidades regionais, em que estes

alunos ainda em formação poderiam colocar em prática os seus conhecimentos teóricos,

aprendendo mais e ajudando os produtores rurais. A Prefeitura do município poderia, junto ao

Governo Estadual ou Federal, solicitar um recurso financeiro para custear bolsas a estes

alunos universitários pelo tempo em que estiverem prestando serviço à comunidade. Dentro

deste projeto seria possível desenvolver uma agricultura orgânica, visto que com a

modernização da agricultura e a utilização de insumos e inseticidas agrícolas na atualidade,

há uma tendência para valorização desse tipo de alimento. Para a comercialização desse

produto, seria necessária a formação de uma Cooperativa formada pelos pequenos produtores

rurais que levariam os produtos e escoariam a produção que levariam para o comércio

regional e até mesmo Salvador, tendo em vista que há vários filhos do município que

trabalham na capital. Para garantir a boa procedência orgânica dos alimentos, será necessário

adquirir junto aos órgãos competentes um selo de garantia de produto orgânico. Outra

possível atividade que poderia ser desenvolvida no município junto a cooperativa seria a de

pequenas fábricas administradas pelos próprios cooperados, como fábrica de doces, suco de

polpa de frutas, laticínio, beiju, vinho, entre outros.

Partindo da zona rural, melhorando o dinamismo da mesma, sem grandes

capitalistas, faz com que a área urbana viabilize a dinâmica comercial. Tendo em vista que a

103

cooperativa vai gerar renda ao município e aos moradores, melhorando a vida dos moradores

do campo e da cidade, permitindo assim que os mais jovens permaneçam no município pela

perspectiva que passariam a ter, se engajando no novo ramo de trabalho. Dentro deste projeto

poderia se pensar na criação de um curso a nível médio com formação técnica em Orientação

Comunitária a ser oferecido aos jovens da localidade, como o que ocorre no município de

Matinhos, localizado no litoral paranaense.

Conforme o sítio da UFPR, este curso é

dividido em 3 etapas, todas direcionadas para o desenvolvimento local do litoral do Paraná a partir do diálogo com os movimentos sociais. Desde a primeira etapa, estimula-se a autonomia e o protagonismo do aluno na construção do seu conhecimento. Dessa maneira, os estudantes refletem sobre a realidade e, nesse fazer, se sensibilizam para perceber seu meio social e ambiental, relacionando o mundo que os cerca com os conhecimentos e saberes das comunidades do litoral. Numa segunda etapa, a partir dos problemas levantados pelos estudantes e da sua observação da realidade litorânea, ao mesmo tempo em que aprofundam e problematizam os temas trabalhados, os alunos são estimulados a elaborar projetos de investigação que versem sobre as atividades das organizações locais. Finalmente, na terceira etapa, os futuros técnicos em orientação comunitária propõem ações alternativas e interativas no litoral, por meio dos projetos problematizados anteriormente (ORIENTAÇÃO..., 2010).

Como é um curso voltado para a realidade local torna-se válido, pois o aluno

tem a oportunidade de vivenciar a problemática local compreendendo e buscando possíveis

soluções para diminuir os problemas da comunidade de uma forma geral. Problemas estes

ligados à saúde da população, degradação ambiental, ausência de empregos, entre outros.

Neste momento, o município conta com um filho ilustre na Câmara Estadual,

que poderia estar agilizando junto aos órgãos públicos muitas etapas do projeto.

A região é extremamente propícia às atividades turísticas, sua grande

diversidade, tanto histórica, como natural e cultural, revelam uma grande potencialidade, ou

seja, é uma região de múltiplas possibilidades, com paisagens belíssimas e diferentes.

Portanto, o turismo nesta região não só seria uma fonte de renda como também geradora de

empregos, já que dinamiza a economia local.

Dentro desta potencialidade percebe-se no município a capacidade para

desenvolver o turismo ecológico, como mostra Lins (2007, p. 163) na figura 70. Visto que o

município possui em seu lado leste a Serra da Jibóia que conta com uma vegetação rica e

variada, além de algumas cachoeiras como a denominada Pancada.

104

A figura 70 demonstra que o município de Elísio Medrado tem duas

principais potencialidades econômicas, sendo o turismo ecológico e o potencial agrícola com

o cultivo da mandioca (aipim) que poderia ser vendida para outras cidades já descascadas.

Dentro de um plano de turismo rural, a cultura da mandioca poderá ser aproveitada para

inserir como mais uma opção para o pequeno produtor aumentar sua renda. Como no Estado

do Paraná existe a Festa da Mandioca, sugere também essa alternativa econômica. Nessa festa

pode-se aproveitar os cantores/grupos musicais locais para animá-la. Onde seriam vendidos

vários derivados da mandioca como beiju, tapioca, bolos, doces, sucos, salgados, entre outros;

com apresentação folclóricas mostrando a cultura local.

Figura 70: Potencialidades econômicas de alguns municípios do Recôncavo Sul. Fonte: LINS (2007, p. 163).

Além dessas possibilidades de turismo, poderia estar ampliando junto a

sociedade local o turismo histórico, cultural, entre outros, aproveitando as sedes das fazendas

centenárias como receptora para o turismo rural, tendo como opção para o turista: passeio a

105

cavalo, caminhada ecológica em trilhas, turismo de aventura, café colonial, além de pousada

na propriedade, visita a engenhos, igrejas (sendo que o município apresenta uma igreja

centenária localizada no Distrito de Monte Cruzeiro). Assim,

os objetivos do turismo rural estariam ligados: à participação ativa da população local; à ocorrência de maneira não concentrada e em pequena escala; à valorização e conservação do patrimônio cultural e natural; e à inversão no processo de concentração fundiária e de desigual e injusta distribuição de renda (ZANGIROLI; CASAGRANDE; GONÇALVES, 2004, p. 9).

Mas é importante ressaltar que alguns turistas que buscam este tipo de lazer

preferem o silêncio, porém tem aqueles que buscam conhecer ou relembrar a vida no campo

com sanfoneiros, fogueira, conversa ao ar livre, entre outros. É importante que atividades

como essas sejam ofertadas pelas propriedades rurais. Assim o proprietário estará agradando

os dois tipos de turistas.

Outros potenciais turísticos como jegadas, cavalgadas, festa junina, festa de

Santo Antônio, poderão ser melhorados e, como já são conhecidos, servirão como porta de

propaganda para os novos empreendimentos turísticos implementados na cidade. Outros

meios de divulgação seriam a internet, rádios locais, outdoor, jornais, entre outros. Num

segundo ponto importante será a preparação da população para receber bem o turista, para

isso será necessário oferecer cursos para proprietários rurais, donos de comércio, sanfoneiros,

artistas, entre outros. Esses cursos oferecidos à população local, devem ser rápidos, com o

objetivo de ensinar a conquistar o turista e sensibilizá-los quanto aos cuidados ambientais que

deverão ter para minimizar os impactos negativos que o turismo possivelmente trará.

Com a população local preparada para receber o turista, este se sentirá

satisfeito recomendando para seus amigos e familiares como uma boa opção de lazer, pois a

melhor propaganda é de “boca a boca”.

É importante ressaltar que para a população local ser beneficiada e não os

grandes empreendedores, é preciso que o poder público estabeleça metas, programas e

projetos voltados para esta questão.

A criação de um museu seria mais uma opção para o turista, além de resgatar

a história regional (indígena, escravidão, engenho, ciclo da cana-de-açúcar e café, entre

outros). Esse resgate histórico faz com que a população local resgate sua auto-estima e

valorize hábitos culturais que estão sendo esquecidos pela população mais jovem. Vale

lembrar que o turismo em pequena escala, como o turismo ecológico e rural, trazem apenas

106

mínimas consequências para a população local e sim mais uma alternativa de renda para

esses pequenos produtores que poderão oferecer seus produtos artesanais como beiju,

cachaça, vinho, requeijão, tapioca, entre outros, para os turistas que visitam a região. Ou seja

o turismo ecológico e rural traz vários benefícios para a população local como coloca

(ZANGIROLI; CASAGRANDE; GONÇALVES, 2004, p. 10-11):

auxilia o desenvolvimento do artesanato de produtos alimentícios ; exige uma melhoria na infra-estrutura básica e em outros serviços que beneficiam a população local; por ser em pequena escala, permite evitar muitos dos problemas ligados ao turismo massificado (depredação, prostituição, crescimento da utilização de drogas, de doenças transmissíveis e de insegurança); significa uma diversificação necessário nas atividades econômicas do meio rural; valoriza os elementos da cultura rural (festas, brincadeiras, jogos, trabalho artesanal e formas de trabalho tradicionais); estimula o reflorestamento e a manutenção da flora local; valoriza as paisagens naturais, estimulando a conservação; permite a interação social e cultural dos moradores das grandes cidades com os agricultores (e vice-versa); tem também uma função didática ou educativa.

É evidente que alguns problemas sempre irão surgir, mas cabe ao poder

público junto a população local buscar alternativas para minimizar esses impactos.

Além destas potencialidades, poderão ser implantados novos meios de

atrativos, dentre eles: pesque-pague, restaurantes rurais (ofertando comida típica local:

galinha caipira ao molho pardo, feijão andu, feijão mangalô, xinxim de galinha, sarapatel,

entre outros; além das variedades de sobremesas como frutas naturais, doces e bebidas como

vinhos artesanais, licores e cachaça, entre outros com sabores de frutas). Estes restaurantes e

fazendas rurais, poderão aproveitar a mão-de-obra local ofertando aos visitantes atrativos

diferentes, como sanfoneiro, agricultores contando lendas locais, teatro, entre outros. Este tipo

de atividade, além de divertir o turista, é uma forma de gerar emprego para a população local,

mantendo-os no município, e isso faz com que parte do dinheiro deixado pelos turistas circule

na própria cidade contribuindo para a economia local.

Pela proximidade do município a capital baiana e a outras cidades mais

desenvolvidas do Recôncavo, se bem implantado este tipo de turismo, contando com o apoio

da população local e poder público certamente trará dinamismo para o município, visto que

Elísio Medrado ainda apresenta a tranqüilidade tão almejada pela população urbana que se

encontra estressada com o corre-corre do dia-a-dia nas grandes cidades.

107

Assim, poderemos ter uma contribuição para melhoria de vida da população

local, mas é preciso saber que essas atividades e projetos devem estar dirigidas a população

pobre que certamente compõem grande parte da população medradense. Muitos jovens “[...]

mesmo que não consigam emprego, passam a ter atividades quando há visitantes na cidade e

aumenta a auto estima – a valorização da cultura e de locais do município por pessoas de fora

pode levar a que os jovens moradores também passem a valorizá-lo” (CALVENTE;

FUSCALDO, 2002, p. 206).

Contudo, é importante salientar que o poder público e sociedade local devem

trabalhar juntos, com um único objetivo de gerar renda para o município, melhorando o

dinamismo local e consequentemente a qualidade de vida dos moradores. Pois se a população

estiver engajada, sabendo da importância das atividades desenvolvidas no município quando

houver mudança de governantes, esta exigirá continuação e até melhoria do projeto.

108

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através das observações e pesquisas feitas conclui-se que o município de

Elísio Medrado apresenta três pequenos núcleos urbanos, porém os três apresentam gêneses

distintas formados em épocas diferentes. Sendo o distrito de Monte Cruzeiro o núcleo mais

antigo do município, formado no ciclo da cana-de-açúcar, com a decadência dos engenhos, o

núcleo, que já chegou a ser sede de município, hoje é apenas um distrito do município em

estudo.

Outro povoado, conhecido atualmente como Souza Peixoto, que surgiu no

final do século XIX, já teve uma dinâmica maior, principalmente na primeira metade do

século XX, devido à proximidade com a ferrovia que ligava Amargosa a Nazaré e o plantio do

café na região, atualmente é um povoado do município.

Já a atual sede do município teve sua gênese no início do século XX com o

surgimento de uma casa comercial pertencente ao Sr. Vitorino Peixoto, ponto estratégico para

a construção de um comércio, pois ligava o povoado de Souza Peixoto (sul do atual

município) a Monte Cruzeiro (norte do atual município), provavelmente era ponto de parada

dos tropeiros da região.

Outro ponto observado no município foi a mudança da rede urbana ao longo

da história da região. Inicialmente com o surgimento de Monte Cruzeiro a região tinha uma

forte ligação com Cachoeira e Nazaré, usando o Rio Paraguaçu como via para escoamento da

produção. Com o ciclo do café e a construção da ferrovia, que passava ao sul do município,

houve uma mudança de rota e uma forte ligação com Amargosa, muito embora continuasse

sendo Nazaré o município que ficava no topo hierárquico da rede urbana da região. Com a

expansão das rodovias, o município passou a pertencer a rede urbana de Santo Antônio de

Jesus, porém há um grande deslocamento para cidades mais dinâmicas como Salvador.

Amargosa que outrora fazia parte da hierarquia urbana de Elísio Medrado, agora só recebe a

população medradense em momentos de feira que ocorrem aos sábados ou quando os

aposentados vão até o município para retirar suas aposentadorias.

Quanto à produção agrícola, no decorrer da história houve a predominância

de produtos distintos, há vestígios na região de fazendas de cana-de-açúcar com engenhos e

utilização da mão-de-obra escrava. Após a abolição da escravatura inicia-se uma nova

produção que era a de fazendas de café. Atualmente há uma agricultura de subsistência

109

diversificada, mas há um destaque maior para o cultivo da mandioca e produção da farinha

que é escoada para feiras como de Itatim e para Salvador.

Com esses pontos observados, conclui-se que Elísio Medrado fica na

periferia hierárquica da rede urbana, tendo uma forte dependência econômica e social de

cidades como Amargosa, Santo Antonio de Jesus e Salvador. Porém, vale lembrar que o

município fica em uma “ilha inércia” ficando isolado das rodovias federais que cortam a

região e as rodovias estaduais que ligam o município a outras localidades são pistas simples e

que muitas vezes são mal conservadas. Isso vem dificultando o desenvolvimento do

município, além da população ter baixo índice de conhecimento e escolaridade.

Cabe à população jovem buscar novos conhecimentos, para fazer com que se

descubra novos meios de fazer com que o município deixe de ser mercado de mão-de-obra

barata e não especializadas para outros municípios e regiões.

110

REFERÊNCIAS

ALVES, Priscilla et al. O planejamento urbano e sua aplicabilidade em pequenas cidades: o estudo de caso do município de Santa Vitória-MG. In: 4ª SEMANA DO SERVIDOR E 5ª SEMANA ACADÊMICA: 2008 – UFU 30 ANOS, 2008. Uberlândia. Resumo... Uberlândia: Universidade Federal de Uberlândia, 2008, p. 1-9. ASSUNÇÃO, Maria Cecília de Freitas; MELO, Nágela Aparecida de; SOARES, Beatriz Ribeiro. Caracterização sócio-econômica e espacial das pequenas cidades da microrregião de Catalão (GO). Disponível em: <http://www.seer.ufu.br/index.php/horizontecientifico/article/viewFile/3870/2875>. Acesso em: 01 maio 2010. 32 p. BRASIL. Ministério da Educação. IDEB: resultados e metas. Disponível em: <http://sistemasideb.inep.gov.br/resultado/>. Acesso em: 19 jul. 2010. CALVENTE, Maria Del Carmen Matilde Huertas; FUSCALDO, Wladimir Cesar. A relação entre o excursionismo rural e a educação formal e informal. Geografia: Revista do Departamento de Geociências. Londrina, v. 11, n. 2, p. 195-208, jul./dez. 2002. CORRÊA, Roberto Lobato. A rede urbana. São Paulo: Ática, 1989a. 96 p. CORRÊA, Roberto Lobato. Globalização e reestruturação da rede urbana – uma nota sobre as pequenas cidades. Revista Território, [Rio de Janeiro], ano IV, nº 6, p. 43-53, jan./jun. 1999. CORRÊA, Roberto Lobato. O espaço urbano. São Paulo: Ática, 1989b. 96 p. CORRÊA, Roberto Lobato. Origem e tendências da rede urbana brasileira: algumas notas. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v. 56, n. 1/4, p. 293-299, jan./dez. 1994. CORRÊA, Roberto Lobato. Uma nota sobre o urbano e a escala. Revista Território, Rio de Janeiro, ano VII, nº 11/13, p. 133-136, set./out. 2003. CUNHA, Fábio César Alves da. Redes técnicas e poder: relevância dos agentes relevantes. Geografia: Revista do Departamento de Geociências. Londrina, v. 11, n. 2, p. 265-269, jul./dez. 2002. DIAS, Leila Christina. Redes: emergência e organização. In: CASTRO, Iná Elias; GOMES, Paulo Cesar da Costa; CORRÊA, Roberto Lobato (Org.). Geografia conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 1995. p. 141-162. ELÍSIO MEDRADO. Secretaria Municipal de Educação e Cultura. Guia cultural de Elísio Medrado. Elísio Medrado, [2009?]. 26 p. ENDLICH, Ângela Maria. Introdução. In: ENDLICH, Ângela Maria. Pensando os papéis e significados das pequenas cidades do Noroeste do Paraná. 2006. f. 19-40. Tese (Doutorado em Produção do Espaço Urbano) – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho.

111

FERREIRA, Sandra Cristina. Contribuição ao debate acerca de pequenas cidades na rede urbana. Disponível em: <http://www.dge.uem.br/semana/eixo1/trabalho_19.pdf>. Acesso em: 08 jul. 2010. 9 p. FRESCA, Tania Maria. O processo urbano de formação da rede urbana de Marília. In: Contribuição ao estudo da dinâmica funcional da rede urbana de Marília: a concentração de bóias-frias nas cidades pequenas. Londrina: Relatório de Pesquisa – CPG/UEL, 1994. cap. 2, p. 7-17. FRESCA, Tania Maria. Redefinição dos papéis das pequenas cidades na rede urbana do Norte do Paraná. In: ENDLICH, Ângela Maria; ROCHA, Márcio Mendes (Org.). Pequenas cidades e desenvolvimento local. Maringá: PGE, 2009. p. 41-68. HENRIQUE, Wendel. Planejamento urbano e vida cotidiana em cidades e áreas patrimoniais. Terra@Plural, Ponta Grossa, v. 3, n. 2, p. 187-195, jul./dez. 2009. IBGE. Informações básicas dos municípios baianos: Recôncavo Sul (Elísio Medrado). Centro de Estatísticas e Informações – CEI. v. 8, 1994. p. 236-255. IBGE. Ministério do Planejamento e Coordenação Geral. Divisão do Brasil em regiões funcionais urbanas. Rio de Janeiro: [s.n.]. 1972. 112 p. IBGE. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Regiões de Influência das cidades 2007. Rio de Janeiro: [s.n.]. 2008. 201 p. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/geografia/regic.shtm?c=6>. Acesso em: 08 nov. 2010. IBGE. O município e o seu contexto: Elísio Medrado – BA. [S.I.: s.n.]. 2009. 6 p. LINS, Robson Oliveira. A região de Amargosa: transformações e dinâmica atual (Recuperando uma contribuição de Milton Santos). 2007. 177 f. Dissertação (Mestrado em Geografia), Universidade Federal da Bahia, Salvador. MENEZES, Eliane. Considerações iniciais. 2008. In:______. A beneficiente dos artistas santantonienses. 2008. f. 16. Dissertação (Mestrado em Cultura, Memória e Desenvolvimento Regional) – Campos V da Universidade do Estado da Bahia, Santo Antônio de Jesus. Disponível em: <http://www.multisaj.com.br/listas/arquivos/161/a_beneficente_dos__artistas__santantonienses.pdf>. Acesso em: 02 nov. 2010. MOURA, Rosa. Qual o papel dos pequenos municípios na escala local do desenvolvimento? In: ENDLICH, Ângela Maria; ROCHA, Márcio Mendes (Org.). Pequenas cidades e desenvolvimento local. Maringá: PGE, 2009. p. 15-40. ORIENTAÇÃO Comunitária. Compromisso com a comunidade. Disponível em: <http://www.litoral.ufpr.br/htms/em_toc/toc.htm>. Acesso em: 26 jul. 2010. RODRIGUES; Maria José; SILVA, Francine Borges. Considerações teóricas sobre rede urbana. Geoambiente On-Line, Jataí, n. 8, p. 49-66, jan./jun. 2007. Disponível em < http://jatai.ufg.br/ojs/index.php/geoambiente/article/view/53/46>. Acesso em: 11 jul. 2010.

112

SAMPAIO, Gilberto Vaz. Comunidade de Elísio Medrado (Paraíso): antes da criação da diocese de Amargosa. Amargosa, [200-]. 97 p. SANTA TEREZINHA. In: Enciclopédia dos municípios brasileiros. Municípios do Estado da Bahia. Rio de Janeiro: IBGE, 1958. p. 291-294. SANTOS, Bernadete Silva. O viver no Novo Paraíso: memórias e cotidiano do município de Elísio Medrado (1940-1970). 2003. 46 f. Monografia (Licenciatura em História) – Universidade do Estado da Bahia, Santo Antônio de Jesus. SANTOS, Denílson Lessa dos. Mapas. In:______. Nas encruzilhadas da cura: crenças, saberes e diferentes práticas curativas. Santo Antônio de Jesus – Recôncavo Sul – Bahia (1940-1980). 2005. f. 10. Dissertação (Mestrado em História), Universidade Federal da Bahia, Salvador. SANTOS, Milton. A organização interna das cidades: a cidade caótica. In:______. A urbanização brasileira. 8. ed. São Paulo: Edusp, 2008b. cap. 11, p. 105-108. SANTOS, Milton. A urbanização pretérita. In:______. A urbanização brasileira. 8. ed. São Paulo: Edusp, 2008a. cap. 2, p. 19-30. SANTOS, Milton. As cidades locais no terceiro mundo: o caso da América latina. In:______. Espaço e sociedade: ensaios. Petrópolis: Vozes, 1982. cap. 6, p. 69-75. SANTOS, Milton. As redes urbanas nos países subdesenvolvidos. In:______. Manual de Geografia Urbana. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 1989. cap. 12, p. 151-180. SANTOS, Milton. Características da urbanização nos países subdesenvolvidos. In:______. Manual de Geografia Urbana. São Paulo: Hucitec, 1981. cap. 2, p. 11-18. SANTOS, Milton. Modo de produção técnico-científico e diferenciação espacial. Revista território, [Rio de Janeiro], ano IV, nº 6, p. 5-20, jan./jun. 1999. SANTOS, Milton. O presente como espaço. In:______. Pensando o espaço do homem. 2. Ed. São Paulo: Hucitec, 1986. cap. 1, p. 9-36. SANTOS, Milton. Por uma geografia das redes. In:______. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4. ed. São Paulo: EDUSP, 2004. cap. 3, p. 261-279. SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão. A urbanização pré-capitalista. In: SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão. Capitalismo e urbanização. 2. ed. São Paulo: Contexto, 1989. cap. 1, p. 11-29. ZANGIROLI, Cíntia M.; CASAGRANDE, Juliane A.; GONÇALVES, Aline C. A atividade turística. In: CALVENTE, Maria Del Carmen; GONÇALVES, Martha (org.). Turismo em pequenos municípios: Jataizinho – Paraná. Londrina: Humanidades, 2004, p. 9-14.

113

APÊNDICES

114

APÊNDICE A

Entrevista aplicada com os comerciantes do município de Elísio Medrado-BA.

1) Qual o teu nome?

2) Qual a tua idade?

3) Que tipo de comércio você possui?

4) Desde quando trabalha nesse ramo?

5) De qual cidade adquire os produtos para o seu estabelecimento?

6) Vêm pessoas de outras cidades fazerem compras em seu estabelecimento?

7) Percebe-se que muitas pessoas da cidade deslocam-se para Amargosa e Santo Antônio

de Jesus. Em sua opinião, por que isso acontece?

8) Sua família sempre trabalhou com comércio?

9) O que você sabe sobre a história da fundação de Elísio Medrado?

Obs.: O questionário foi aplicado de forma aberta, permitindo ao entrevistado responder

com as suas próprias palavras, permitindo deste modo a liberdade de expressão, pois o

trabalho num todo foi de caráter investigativo. Embora algumas perguntas necessárias

para tabulação de dados tenham sido feitas de forma padrão para todos os entrevistados.

115

APÊNDICE B

Entrevista aplicada com os feirantes do município de Elísio Medrado-BA.

1) Qual o teu nome?

2) Qual a tua idade?

3) Cidade onde mora?

4) Quais os produtos que você vende na feira?`Preço?

5) Todos os produtos são de sua propriedade?

6) Vende toda a produção? O que faz com a sobra?

7) Há quanto tempo atua nessa feira?

8) Paga para usar o espaço da feira?

9) Além de Elísio Medrado, vai vender em outras feiras?

10) Faz compras aqui na cidade? O que compra?

11) O que você sabe sobre a história da fundação de Elísio Medrado?

Obs.: O questionário foi aplicado de forma aberta, permitindo ao entrevistado responder

com as suas próprias palavras, permitindo deste modo a liberdade de expressão, pois o

trabalho num todo foi de caráter investigativo. Embora algumas perguntas necessárias

para tabulação de dados tenham sido feitas de forma padrão para todos os entrevistados.

116

APÊNDICE C

Entrevista aplicada com os moradores da área urbana e rural do município de Elísio Medrado-

BA.

1) Qual o teu nome?

2) Qual a tua idade?

3) Há quanto tempo reside em Elísio Medrado?

4) Faz compras no comércio local?

5) Faz compras no município de Amargosa?

6) Faz compras no município de Santo Antônio de Jesus?

7) O que você sabe sobre a história da fundação de Elísio Medrado?

Obs.: O questionário foi aplicado de forma aberta, permitindo ao entrevistado responder

com as suas próprias palavras, permitindo deste modo a liberdade de expressão, pois o

trabalho num todo foi de caráter investigativo. Embora algumas perguntas necessárias

para tabulação de dados tenham sido feitas de forma padrão para todos os entrevistados.

117

APÊNDICE D

Relação das pessoas entrevistadas

01 - Cesar, 38 anos – Taxista. Data: 24/12/2009.

02 - Maria Alice, 70 anos – Agricultora. Data: 24/12/2009.

03 - Aristides, 80 anos – Agricultor. Data: 25/12/2009.

04 - Silvinho, 30 anos – Agricultor. Data: 25/12/2009.

05 - Dona Dil, 62 anos – Agricultora (aposentada). Data: 25/12/2009.

06 - Edite, 63 anos – Dona do lar (aposentada). Data: 25/12/2009.

07 - Leni, 53 anos – Agricultora. Data: 25/12/2009.

08 - Cleisson, 13 anos – Estudante (Oitava Série). Data: 25/12/2009.

09 - Seo Jóia (Josué), 45 anos – Taxista. Data: 26/12/2009.

10 - Genival, 30 anos – Funcionário Rural. Data: 26/12/2009.

11 - Dona Maria, 72 anos – Agricultora (aposentada). Data: 26/12/2009.

12 - Joaquim da Farinha (Joaquim), 57 anos – Agricultor. 27/12/2009.

13 - Maria Peixoto, 74 anos – Funcionária Rural (aposentada). Data: 28/12/2009.

14 - José, 70 anos – Funcionário Rural (aposentado). Data: 28/12/009.

15 - Neca, 79 anos – Funcionário Rural (aposentado). Data: 28/12/2009.

16 - Jossiel – Funcionário da Prefeitura. Data: 29/12/2009.

17 - Jozineide, 34 anos – Comerciante. Data: 29/12/2009.

18 - Raimundo, 50 anos – Data: 29/12/2009.

19 - José dos Reis, 60 anos – Agricultor e proprietário de uma fábrica artesanal de vinho.

Data: 29/12/2009.

20 – Solange, 35 anos – Caseira. Data: 29/12/2009.

21 – Angelina, 64 anos – Zeladora. Data: 29/12/2009.

22 – Manu, 64 anos – Funcionário Rural (aposentado). Data: 30/12/2009.

23 – Miguel, 79 anos – Funcionário Rural (aposentado). Data: 30/12/2009.

24 – Nair, 45 – Feirante (Elísio Medrado). Data: 31/12/2009

25 – Zé, 47 anos – Feirante (Santa Terezinha). Data: 31/12/2009.

26 – Eunice, 64 anos – Feirante (Elísio Medrado). Data: 31/12/2009.

27 – Adriano, 31 anos – Feirante (Itatim). Data: 31/12/2009.

28 – Edivaldo, 45 anos – Feirante (Amargosa). Data: 31/12/2009.

118

29 – Jair, 40 anos – Feirante (Elísio Medrado). Data: 31/12/2009.

30 – Águida, 24 anos – Feirante (Elísio Medrado). Data: 31/12/2009.

31 – Roberval, 16 anos – Feirante (Itatim). Data: 31/12/2009.

32 – Maria Madalena, 43 anos – Feirante (Itatim). Data: 31/12/2009.

33 – Railda, 40 anos – Feirante (Elísio Medrado). Data: 31/12/2009.

34 – Roque, 45 anos – Feirante (Amargosa). Data: 31/12/2009.

35 - Edvan, 28 anos – Funcionário de uma fábrica de beneficiamento de café. Data:

03/01/2010.