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EDUARDO DE OLIVEIRA
A PEQUENA CIDADE DE ELÍSIO MEDRADO-BA E SUA INSERÇÃO NA REDE URBANA.
LONDRINA 2010
EDUARDO DE OLIVEIRA
A PEQUENA CIDADE DE ELÍSIO MEDRADO-BA E SUA INSERÇÃO NA REDE URBANA.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina, para obtenção do título de bacharel em Geografia. Orientador: Prof. Dr. Claudio Roberto Bragueto
LONDRINA 2010
EDUARDO DE OLIVEIRA
A PEQUENA CIDADE DE ELÍSIO MEDRADO-BA E SUA INSERÇÃO NA REDE URBANA.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina, para obtenção do título de bacharel em Geografia.
COMISSÃO EXAMINADORA
____________________________________ Prof. Dr. Claudio Roberto Bragueto Universidade Estadual de Londrina
____________________________________ Profª. Me. Rosely Maria de Lima
Universidade Estadual de Londrina
____________________________________ Profª. Drª Márcia Siqueira de Carvalho
Universidade Estadual de Londrina
Londrina, _____de ___________de _____.
DEDICO ESTA CONQUISTA A MINHA
FAMÍLIA, OS QUAIS AMO MAIS QUE TUDO:
MINHA ESPOSA, MEUS PAIS E IRMÃOS.
AGRADECIMENTOS
A meu pai (Severino), minha mãe (Alice) exemplos de amor e dedicação; À minha esposa, Adenildes, pelo carinho, paciência, apoio, amizade e amor;
e que soube segurar as “pontas” enquanto eu realizava uma e outra tarefa, alheio aos
“afazeres” familiares, estando sempre do meu lado em todos os momentos. Te amo!!!;
A meus irmãos, Carlos e Lusimara pelo carinho; Aos meus sogros Aristides e Maria Alice por todo auxílio e apoio durante
esta caminhada;
Aos meus cunhados, cunhadas e sobrinhos, especialmente ao meu
sobrinho Cleison pela ajuda e prontidão no decorrer da pesquisa;
A Dilê e Rosangela Martins pela amizade e apoio, sempre que necessário e
pelo estímulo para superar as dificuldades;
A minha amiga Meire Cristina da Silva pela amizade que conquistamos
durante esta etapa de nossas vidas;
Ao Padre Gilberto Vaz Sampaio por ter deixado uma grande contribuição
teórica da região (in memorian);
Ao meu orientador Prof. Dr. Claudio Roberto Bragueto pela sua
disponibilidade e apoio ao longo do trabalho;
À professora Tania Maria Fresca, pois foi a partir de suas primeiras
orientações que ampliei minha visão quanto ao universo da temática;
A todos os professores do curso de Geografia da UEL, que são parte ativa
deste trabalho;
A todas as pessoas de Elísio Medrado que me permitiram entrevistá-las e
que me deram valiosas informações para a elaboração deste trabalho;
Enfim, agradeço a todos que diretamente e indiretamente contribuíram para
esta minha conquista.
OLIVEIRA, Euardo de. A pequena cidade de Elísio Medrado-BA e sua inserção na rede urbana. 2010. 118 f.Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Geografia) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2010.
RESUMO
Analisa a dinâmica funcional da cidade de Elísio Medrado- BA e sua inserção na rede urbana regional. Além disso, identifica a gênese do município e as mudanças que ocorreram ao longo de sua história. Para a coleta das informações utiliza-se pesquisa de campo, entrevistas abrangendo a população tanto rural como urbana. Faz uma análise teórica mostrando o que é uma rede urbana e o conceito de pequena cidade dentro do conceito hierárquico. Dentro da análise histórica, constata que o município apresenta três pequenos núcleos urbanos que se formaram em períodos e contextos econômicos diferentes. Inicialmente o município era habitado por nativos da região, com a penetração dos bandeirantes no Recôncavo Sul surgiu um primeiro povoado que chegou a ser sede de município, atualmente é apenas distrito do município denominado Monte Cruzeiro. No ponto sul do município surgiu outro povoado na segunda metade do século XIX em decorrência da estrada de ferro que cortava a região, atualmente é um pequeno povoado conhecido como Souza Peixoto. Já, no início do século XX surge o povoado que é hoje a sede do município. Atualmente o município encontra-se na área periférica da rede urbana regional, apresentando um baixo desenvolvimento, cuja população não tem acesso a trabalho, poucos são empregados públicos, muitos vivem da aposentadoria e da agricultura de baixa capitalização. Em decorrência desses fatores os jovens do município migram para outras cidades em busca de melhores condições de vida. Assim, esse trabalho faz uma análise geral dos aspectos históricos, econômicos e geográfico do município, desde as primeiras ocupações até a atualidade, buscando entender as problemáticas econômica e social em que passa o município e finalmente são sugeridas algumas alternativas de melhoria social e econômica para a população local. Palavras-chave: Rede urbana, cidade pequena, Elísio Medrado.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Mapa com a localização do município de Elísio Medrado .................................. 14
Figura 1a – Mapa com a localização dos povoados do município de Elísio Medrado ......... 35
Figura 2 – Fazenda Estiva ..................................................................................................... 38
Figura 3 – Casas antigas e novas – lado a lado ..................................................................... 40
Figura 4 – Casas antigas e novas – lado a lado .................................................................... 40
Figura 5 – Casas antigas e novas – lado a lado .................................................................... 40
Figura 6 – Casas antigas e novas – lado a lado .................................................................... 40
Figura 7 – Plantação de uva ................................................................................................. 41
Figura 8 – Produção artesanal de vinho ............................................................................... 41
Figura 9 – Produção artesanal de vinho .............................................................................. 41
Figura 10 – Vista da Igreja de Monte Cruzeiro (Nossa Senhora de Sant’Ana) .................... 42
Figura 11 – Aspecto interno da Igreja de Monte Cruzeiro (Nossa Senhora
de Sant’Ana) ........................................................................................................................... 43
Figura 12 – Aspecto interno da Igreja de Monte Cruzeiro (Nossa Senhora
de Sant’Ana) .......................................................................................................................... 43
Figura 13 – Aspecto interno da Igreja de Monte Cruzeiro (Nossa Senhora
de Sant’Ana) .......................................................................................................................... 43
Figura 14 – Aspecto interno da Igreja de Monte Cruzeiro (Nossa Senhora
de Sant’Ana) ........................................................................................................................... 43
Figura 15 – Povoado de Souza Peixoto................................................................................. 44
Figura 16 – Igreja do Povoado de Souza Peixoto (São Francisco do Cajueiro) ................... 45
Figura 17 – Aspecto das construções: antiga e mais recente ................................................ 45
Figura 18 – Aspecto das construções: antiga e mais recente ................................................ 45
Figura 19 – Aspecto das construções: antiga e mais recente ................................................ 45
Figura 20 – Aspecto das construções: antiga e mais recente ................................................ 45
Figura 21 – Construção antiga passando por transformação na atualidade .......................... 46
Figura 22 – Construção antiga passando por transformação na atualidade ......................... 46
Figura 23 – Plantação de mandioca ...................................................................................... 46
Figura 24 – Residência e casa comercial do Sr. Vitorino Peixoto ....................................... 48
Figura 25 – Residência e casa comercial do Sr. Vitorino Peixoto ....................................... 48
Figura 26 – Casa Santana em destaque – residência e casa comercial do
Sr. Vitorino Peixoto ............................................................................................................... 48
Figura 27 – Residência no Lagedo Batista ........................................................................... 49
Figura 28 – Cesta do Povo – proximidade do local de início da feira do município de
Elísio Medrado, no ano de 1928 ........................................................................................... 50
Figura 28a – Quadro evolutivo mostrando a qual município pertenceu o território do
atual município de Elísio Medrado......................................................................................... 52
Figura 29 – Construção antiga feita de adobe ...................................................................... 53
Figura 30 – Construção antiga feita de adobe ...................................................................... 53
Figura 31 – Construções antigas que servem como moradia e comércio ............................. 54
Figura 32 – Construções antigas que servem como moradia e comércio ............................ 54
Figura 33 – Carros estacionados na calçada e na rua, devido à ausência de garagem, e
uma das casas com um melhor padrão arquitetônico contendo garagem .............................. 54
Figura 34 – Carros estacionados na calçada e na rua, devido à ausência de garagem, e
uma das casas com um melhor padrão arquitetônico contendo garagem ............................. 54
Figura 35 – Serviço de moto táxi oferecido a população do município de Elísio Medrado . 55
Figura 36 – Casas populares ................................................................................................. 57
Figura 37 – Casas populares ................................................................................................. 58
Figura 38 – Calçamento com paralelepipedo ....................................................................... 59
Figura 39 – Comércio da área central do município de Elísio Medrado ............................. 59
Figura 40 – Comércio da área central do município de Elísio Medrado ............................. 60
Figura 41 – Comércio da área central do município de Elísio Medrado ............................ 60
Figura 42 – Comércio da área central do município de Elísio Medrado ............................ 61
Figura 43 – Comércio da área central do município de Elísio Medrado ............................. 61
Figura 44 – Comércio da área central do município de Elísio Medrado ............................ 62
Figura 45 – Comércio da área central do município de Elísio Medrado ............................ 62
Figura 46 – Comércio da área central do município de Elísio Medrado ............................ 63
Figura 47 – Mapa da Região Econômica do Recôncavo Sul da Bahia ................................ 67
Figura 48 – Estrutura viária da Região de Amargosa Bahia - 1960 ..................................... 71
Figura 49 – Fazenda Estiva do Sr. Kamal Elílio Chaoul ...................................................... 72
Figura 50 – Árvores de Flamboyants e ao fundo a Serra da Jibóia (Fazenda Estiva) .......... 73
Figura 51 – Fazenda do povoado Limoeiro do ano de 1912 ................................................ 74
Figura 52 – Decoração artística na parede interna da fazenda do povoado Limoeiro do ano
de 1912, e piso de lajota feito de barro cozido ...................................................................... 74
Figura 53 – Decoração artística na parede interna da fazenda do povoado Limoeiro do ano
de 1912, e piso de lajota feito de barro cozido ..................................................................... 74
Figura 54 – Fazenda Rio Vermelho ..................................................................................... 75
Figura 55 – Equipamento para moagem da cana pertencente à Fazenda Rio Vermelho ...... 76
Figura 56 – Regiôes Econômicas do estado da Bahia e seu desenvolvimento .................... 80
Figura 57 – Preparo do terreno de forma manual para plantio de mandioca ....................... 89
Figura 58 – Feira de roupas .................................................................................................. 93
Figura 59 – Cesta do Povo (portas e janelas na cor azul) – local próximo de onde se iniciou
a feira do município de Elísio Medrado no ano de 1928.......................................................94
Figura 60 – Centro de Abastecimento Governador César Borges onde acontece a feira
do munícípio de Elísio Medrado ...........................................................................................94
Figura 61 – Feirante do município de Elísio Medrado, transportando suas mercadorias
no lombo de um jegue............................................................................................................95
Figura 62 – Barraca de um dos feirantes expondo seus produtos aos consumidores da
Feira.......................................................................................................................................95
Figura 63 – Barraca de um dos feirantes expondo seus produtos aos consumidores da
feira .......................................................................................................................................96
Figura 64 – Barraca de um dos feirantes expondo seus produtos aos consumidores da
feira .......................................................................................................................................96
Figura 65 – Vista de algumas barracas dos diversos feirantes da feira expondo seus
produtos aos consumidores....................................................................................................97
Figura 66 – Transporte oferecido aos moradores da zona rural, trazendo a população
do campo para consumir produtos da feira............................................................................98
Figura 67 – Sorteio de brindes, realizado no dia 31 de dezembro de 2009........................100
Figura 68 – Mercado Municipal.........................................................................................100
Figura 69 – Produtor expondo seus produtos na rua..........................................................101
Figura 70 – Potencialidades econômicas de alguns municípios do Recôncavo Sul...........104
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Frota de veículos em 2009................................................................................... 55
Tabela 2 – Movimentação financeira da empresa Estrada de Ferro de Nazaré/1931-1969
(em réis, entre 1931-1945; 1946-1969, em cruzeiros............................................................. 70
Tabela 3 – Rendimento médio mensal da população economicamente ativa: 1980 e 2000.. 82
Tabela 4 – Estrutura fundiária do município de Elísio Medrado - 2006 ............................... 83
Tabela 5 – População Urbana e Rural nos períodos de 1970 a 2000 .................................... 83
Tabela 6 – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) - 2009 ........................ 85
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Linhas de ônibus intermunicipal ....................................................................... 64
Quadro 2 – Dados geográficos do município de Elísio Medrado ........................................ 81
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CEL. - Coronel
D. - Dona
EMTRAM – Empresa de Transportes Macaubense Ltda.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
PE. - Padre
SIDRA – Sistema IBGE de Recuperação Automática
SPC – Sistema de Proteção ao Crédito
SR. - Senhor
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 14
2 A REDE URBANA E PEQUENAS CIDADES................................................................ 18
2.1 REDE URBANA NA VISÃO DE ROBERTO LOBATO CORRÊA................................ 18
2.1.1 A Hierarquia Urbana ...................................................................................................... 20
2.2 PEQUENAS CIDADES: POR QUE ESTUDÁ-LAS? ..................................................... 24
2.2.1 Breve Considerações Sobre a Urbanização Brasileira e Pequenas Cidades................... 26
2.2.2 Pequenas Cidades: Seu Papel na Rede Urbana .............................................................. 28
3 A HISTÓRIA DE ELÍSIO MEDRADO ........................................................................... 34
3.1 SURGIMENTO DO POVOADO DE MONTE CRUZEIRO ........................................... 35
3.2 SURGIMENTO DO POVOADO DE SOUZA PEIXOTO............................................... 43
3.3 SURGIMENTO DO POVOADO PARAÍSO ................................................................... 47
3.4 MARCAS DO PASSADO E ALGUMAS CARACTERÍSTICAS ATUAIS
DO MUNICÍPIO ..................................................................................................................... 53
3.4.1 Presença de Escravidão no Município............................................................................ 65
3.4.2. O Cultivo do Café.......................................................................................................... 66
4 FORMAÇÃO DA REDE URBANA E O MUNICÍPIO DE ELÍSIO MEDRADO. ..... 67
4.1 INÍCIO DA FORMAÇÃO DA REDE URBANA E/OU O MUNICÍPIO DE
ELÍSIO MEDRADO ............................................................................................................... 68
4.2 A REDE URBANA E A DINÂMICA FUNCIONAL DE ELÍSIO MEDRADO
NA ATUALIDADE ................................................................................................................ 79
4.2.1 Alguns Dados Econômicos e Sociais de Elísio Medrado............................................... 80
4.2.2 A Problemática dos Comerciantes Locais ...................................................................... 90
4.2.3 A Feira Semanal ............................................................................................................. 93
4.3 UM OLHAR GEOGRÁFICO SOBRE O MUNICÍPIO DE
ELÍSIO MEDRADO: ALGUMAS SUGESTÕES.................................................................101
CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................108
REFERÊNCIAS....................................................................................................................110
APÊNDICES.........................................................................................................................113
APÊNDICE A – Entrevista aplicada com os comerciantes do município de
Elísio Medrado.......................................................................................................................114
APÊNDICE B – Entrevista aplicada com os feirantes do município de
Elísio Medrado........................................................................................................................115
APÊNDICE C – Entrevista aplicada com os moradores da área urbana e rural do
município de Elísio Medrado..................................................................................................116
APÊNDICE D – Relação das pessoas entrevistadas...............................................................117
14
1 INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas o mundo tem passado por muitas mudanças no âmbito
social e econômico. A acirrada competição produtiva, comercial e financeira em escala global
cria dificuldades para algumas regiões se adequarem às novas transformações.
A Geografia enquanto ciência que estuda a organização e as interações no
espaço geográfico, passa a desempenhar um relevante papel neste cenário atual, sobretudo, na
busca da compreensão das relações existentes entre o desenvolvimento regional e o local.
Neste contexto o Recôncavo Sul da Bahia, que no início da colonização
brasileira era uma importante região exportadora de açúcar e posteriormente de café, é objeto
de estudo deste trabalho dando ênfase para o município de Elísio Medrado (figura 1).
Figura 1: Mapa com a localização do Município de Elísio Medrado. Fonte: MENEZES (2008, p. 16). Adaptação: Eduardo de Oliveira, 2010.
15
Tem como objetivo analisar a dinâmica funcional do município de Elísio
Medrado e sua inserção na rede urbana regional. E como objetivos específicos a pesquisa
buscou:
Identificar a gênese do município;
Verificar as mudanças que ocorreram e que estão ocorrendo ao longo dos anos neste
município em função das demandas diárias de trabalho, sociais e econômicas;
Compreender sua importância na rede urbana regional, analisando a influência deste
em outros municípios da região.
Em outras palavras, procura-se compreender os fatores que estão levando o
município a um declínio de suas atividades econômicas já que a população local não tem
acesso a emprego, poucos são os empregos gerados pela Prefeitura, e muitos vivem de
aposentadoria e da agricultura de baixa capitalização.
Com esta pesquisa foi possível descobrir as causas do fraco desenvolvimento
municipal. Um fato que chama a atenção é a ausência de agentes produtores do espaço, visto
que a cidade não tem promotor imobiliário, o grande capitalista, latifundiário, agente
industrial, existindo apenas intervenção do Estado que pouco interfere na produção espacial
urbana.
A produção espacial por parte do Estado, se dá apenas com a construção de
algumas casas populares que começaram a surgir a partir da última década. A negociação de
imóveis ocorre de boca a boca, onde o comprador e o vendedor negociam diretamente.
Em decorrência do pouco desenvolvimento do município muitos jovens se
deslocam principalmente para Salvador para trabalhar no comércio de alguém conhecido e
posteriormente deixa de ser comerciário e passa a ser comerciante; montando o seu pequeno
comércio, geralmente ligados a alimentação (minimercado, padaria, lanchonete, açougue,
entre outros). Percebe-se que a saída desses jovens faz com que a população local reduza,
ficando apenas os mais velhos.
Outro fato relevante, que ocorre no município, é que os moradores se
deslocam até as cidades como Amargosa e Santo Antônio de Jesus para fazer feiras e comprar
produtos como eletrodomésticos, serviços entre outros, mesmo que muitos destes produtos
sejam vendidos no comércio local, porém este não oferece as variedades encontradas nestes
dois municípios.
Estes fatores citados, anteriormente, deixam o município ainda mais
empobrecido, pois sai a mão-de-obra jovem e o dinheiro que poderia circular na cidade vai
para os demais municípios.
16
Este estudo pode servir de base para o desenvolvimento de um planejamento
urbano, ajudando na tomada de rumos para seu desenvolvimento, visto que a administração
atual se mostra interessada em conhecer o resultado do trabalho.
Outro fator de interesse pela pesquisa é de cunho pessoal, pois minha esposa
nasceu neste município onde também nos casamos e onde vive muitos familiares, que
despertaram em mim a curiosidade de fazer tal pesquisa, por perceber que o município não
tem um trabalho semelhante.
Com base em uma metodologia que parte da teoria para a prática, foi
analisada a área de estudo com leitura mais aprofundada sobre o tema, para facilitar a
compreensão dos fatos observados em atividade de campo.
Toda análise realizada foi feita através de pesquisa de campo (entrevistas,
observação em torno do município e da região) e coleta de dados na Prefeitura do Município
de Elísio Medrado, IBGE., biblioteca, entre outros.
Todas as informações obtidas foram analisadas. No decorrer de todo este
trabalho, além do reconhecimento da área e levantamento cartográfico, foi discutida a parte
teórica que serviu de base para a redação do presente trabalho.
Inicialmente foi feito um levantamento bibliográfico sobre o município e a
área em estudo, além das teorias da Geografia Urbana com ênfase em Rede Urbana e
pequenas cidades. Após o levantamento bibliográfico procedeu-se a elaboração de
fechamentos e resumos.
Como já se tinha conhecimento prévio da localidade, não houve necessidade
de um reconhecimento de campo para elaboração de uma entrevista.
Após a tabulação dos dados coletados pelas entrevistas, que foram feitas
tanto com os comerciantes, quanto a população local, os mesmos foram analisados com base
nas teorias estudadas. Finalmente foi montado o trabalho final, tendo como base os dados
obtidos e o referencial teórico.
Assim, este trabalho se subdivide em:
Capítulo 2 é discutido o tema a rede urbana e pequenas cidades, pois para se
entender a dinâmica funcional de um município faz-se necessário entender a rede urbana e sua
hierarquia neste contexto. Também fez-se uma discussão sobre as pequenas cidades,
mostrando sua importância dentro do espaço geográfico, visto que aparentemente são cidades
com pouca dinâmica econômica, mas tem sua importância dentro da rede urbana, tanto como
fornecedora de mão-de-obra, matéria-prima, ou alimentos, bem como consumidora final de
produtos industrializados.
17
Já no capítulo 3, é feita uma reconstrução histórica do município desde a sua
gênese de formação até a situação atual, destacando aspectos geográficos e históricos. Como o
município não conta com muito material bibliográfico para pesquisa, foi preciso buscar
informações junto à comunidade local através de entrevistas, além de observações dos
aspectos arquitetônicos e históricos. Mas uma obra não publicada escrita pelo padre Gilberto
Vaz Sampaio ajudou muito nesta pesquisa, que junto à comunidade pode-se constatar a
veracidade dos fatos relatados em seu trabalho, que certamente não foi publicado devido ao
seu falecimento, na fase de correção gramatical.
O capítulo 4 aborda a formação da Rede Urbana e/ou o município de Elísío
Medrado desde o seu início até a fase atual, buscando caracterizar o município dentro do
espaço regional econômico do Recôncavo Sul da Bahia. Com base no resultado dessa
pesquisa, sugere-se algumas atividades que podem ser desenvolvidas no município para
melhorar a qualidade de vida da população local. Embora sejam sugestões simples e que não
demandam de muito recurso financeiro, eles necessitam de um grande empenho da população
junto ao poder público local para que tais atividades se tornem viáveis a médio e longo prazo.
Assim, esta monografia será mais um dos poucos trabalhos bibliográficos
sobre o município que poderá servir de base para novos estudos.
18
2 A REDE URBANA E PEQUENAS CIDADES
2.1 REDE URBANA NA VISÃO DE ROBERTO LOBATO CORRÊA
Para se entender a dinâmica funcional do município de Elísio Medrado, se
faz necessário entender a rede urbana.
Mas o que seria uma rede urbana? Entre vários autores e as definições que
estes dão ao tema, o que Corrêa descreve parece mais claro para se entender como Elísio
Medrado está inserido nesta rede.
Para Corrêa (1994, p. 293)
[...] a rede urbana, é um produto social, historicamente contextualizado, cujo papel crucial é o de, através de interações sociais espacializadas, articular toda a sociedade numa dada porção do espaço, garantindo a sua existência e reprodução.
Em forma resumida, rede urbana é uma rede de relações que permite a
sociedade manter suas relações sociais e econômicas, através da rede de transporte,
comunicação, entre outras.
Para Corrêa (1989a, p. 5), a gênese da rede urbana começa no século XVI
com início do capitalismo. Mas foi a partir de mudanças sociais, ocorridas principalmente na
segunda metade do século XX, que os estudos sobre rede urbana têm se intensificado no
âmbito da Geografia. É através da crescente rede de comunicação e transporte que vários
lugares passaram a estar interligados, estabelecendo uma economia global.
Entre os anos de 1920 a 1950 os estudos sobre rede urbana começavam a se
propagar. “É deste período que aparecem, entre outras, as proposições de Christaller e de
Maark Gefferson” (CORRÊA, 1989a, p. 9).
Mas no Brasil, só a partir de 1955 que se iniciam os estudos sobre rede
urbana, pois após a Segunda Guerra Mundial ocorreu o processo de aceleração urbana. Os
geógrafos e outros cientistas sociais têm abordado o tema a partir de diferentes vias: “[...] à
diferenciação das cidades em termo de suas funções, dimensões básicas de variação, relações
entre tamanho demográfico e desenvolvimento, hierarquia urbana, e relações entre cidade e
região” (CORRÊA, 1989a, p. 10).
19
Dentro da classificação funcional, Corrêa (1989a, p. 10) coloca que “esta
abordagem tem como pressuposto a existência de diferenças entre as cidades no que se refere
às funções”. Conhecendo a função principal da cidade se torna mais fácil compreender a
organização espacial. Mas para definir a função básica da cidade é preciso que o geógrafo
tenha bastante cuidado com relação as técnicas estatísticas, pois elas podem não revelar a
realidade das cidades. Como exemplo “os dados do Censo Demográfico são incapazes de
revelar algumas funções importantes das cidades brasileiras, como aquelas ligadas à
drenagem da renda fundiária” (CORRÊA, 1989a, p. 12). Características como: o ritmo de
crescimento da população, a estrutura etária, a escolaridade, a proporção de homens e
mulheres na idade ativa, as taxas de desemprego e a renda per capita podem variar
dependendo das funções que desempenham (CAPEL apud CORRÊA, 1989a, p. 13).
Foi com o estudo de Moser e Scott, em 1961, que se iniciou a procura
sistemática das dimensões básicas de variação dos sistemas urbanos (CORRÊA, 1989a, p.
13). Vários estudos relativos a diversos países foram realizados com o objetivo de descobrir
através da prática as dimensões básicas de variações como também sua estabilidade ao longo
do tempo e a existência de dimensões universais de variações. Nesses estudos foram
descobertas várias dimensões básicas de variáveis, entre elas estão às referentes ao tamanho,
especialização funcional, características sociais e crescimento demográfico (CORRÊA,
1989a, p. 14).
No Brasil, entre os anos de 1970 a 1977, devido a muitos geógrafos usaram
as técnicas quantitativas e modelos de desenvolvimento regional, além do envolvimento do
sistema de planejamento, isso fez com que as abordagens sobre rede urbana tenham sido
marcadas, nessa época, pelo uso da dimensão básica de variações.
Esses estudos revelaram alguns tipos de centro que “[...] em sua
espacialização, definem regiões que foram interpretadas segundo as proposições de
Friedmann: regiões centrais, principal e secundária, e regiões periféricas” (CORRÊA, 1989a,
p. 14).
Corrêa (1989a, p. 14-15), coloca que “[...] o estudo de Fredrich e Davidovich,
mais recente, está baseado em três dimensões de variação do sistema urbano: estrutura
sócioeconômica, ritmos de crescimento e formas de concentração espacial urbana”1.
Na abordagem de tamanho e desenvolvimento, Corrêa (1989a, p. 15) coloca
que, a rede urbana é considerada um todo, estabelecendo uma relação entre o tamanho das
1 FREDERICH, Olga M. B. L. & DAVIDOVICH, Fany. A configuração espacial do sistema urbano brasileiro como expressão no território da divisão social do trabalho. Revista Brasileira de Geografia, 44 (4), 1982.
20
cidades de uma rede urbana e certos aspectos da vida econômica e social. Ao se relacionar
tamanho e desenvolvimento é preciso considerar o dinamismo econômico e social, levando
em conta todo conjunto de cidades.
O discurso dos modernistas, com relação ao tamanho e desenvolvimento das
cidades, é que há um processo de difusão estabelecendo um equilibro entre a rede hierárquica,
ou seja, as mudanças econômicas são disseminadas do seguinte modo: “(a) das metrópoles da
core área para as metrópoles da periferia; (b) dos centros de mais alta hierarquia para os de
mais baixa, num padrão de ‘difusão hierárquica’; (c) dos centros urbanos para as suas áreas de
influência” (CORRÊA, 1989a, p. 18-19).
Os estudiosos tradicionalistas contrapõem as ideias modernistas
argumentando que as condições históricas das cidades são diferentes sendo “[...] necessário
que haja uma política explicita e dirigida para se conter o crescimento exagerado da grande
cidade, a ‘inchação’ das grandes metrópoles primazes” (CORRÊA, 1989a, p. 19).
Com o aparecimento das idéias de descentralização, criando os pólos de
desenvolvimento e a “[...] ação do Estado visando um desenvolvimento que seria equilibrado
tanto no plano social como espacial [...]” (CORRÊA, 1989a, p. 19), passou-se a incluir a rede
urbana.
Com o desenvolvimento capitalista as diferenças entre as cidades aumentam,
com isso os estudiosos incluem a temática hierarquia urbana. Segundo Corrêa (1989a, p. 20),
foi “[...] a partir da expropriação dos meios de produção e de vida de enorme parcela da
população, e a industrialização levam à expansão da oferta de produtos industriais e de
serviços”. Com esta oferta de produtos e serviços surgiu um espaço de modo desigual criado
pelo sistema capitalista, criando assim a hierarquia urbana.
2.1.1 A Hierarquia Urbana
A hierarquia urbana é um dos assuntos mais estudados pelos pesquisadores
que se dedicam a estudar a rede urbana. Esses estudos se originam dos questionamentos a
respeito do número, tamanho e distribuição das cidades, procurando entender a natureza da
rede, a teoria das localidades centrais. “Os numerosos estudos, teóricos e empíricos,
procuram, em realidade, compreender a natureza da rede urbana segundo um ângulo
específico que é o da hierarquia de seus centros” (CORRÊA, 1989a, p. 20).
21
Os estudos de Christaller discutidos por Corrêa (1989a, p. 21-32) apontam
que há aglomerações urbanas de todos os tamanhos e que “[...] existem princípios gerais que
regulam o número, tamanho e distribuição dos núcleos de povoamento: grandes, médias e
pequenas cidades, e ainda minúsculos núcleos semi-rurais, todos são considerados como
localidades centrais” (CORRÊA, 1989a, p. 21). Ou seja, todas as localidades são dotadas de
funções centrais, com atividades de bens e serviços destinados para uma população externa,
formando, assim, a organização de um sistema hierárquico de cidades. Com isso “a
centralidade de um núcleo, por outro lado, refere-se ao seu grau de importância a partir de
suas funções centrais: maior o número delas, maior a sua região de influência, maior a
população externa atendida pela localidade central, e maior a sua centralidade” (CORRÊA,
1989a, p. 21).
Com esses modelos de Christaller foi possível o desenvolvimento teórico a
respeito das configurações espaciais da rede urbana em geral e não apenas da rede de lugares
centrais. Esses estudos se originaram através dos questionamentos “[...] a respeito do número,
tamanho e distribuição das cidades, procurando compreender a natureza da rede, a teoria das
localidades centrais” (RODRIGUES; SILVA, 2007, p. 59).
Ou seja, cidade como Elísio Medrado sofre influência de centros maiores
como Amargosa, Santo Antônio de Jesus, entre outros. Sendo que sua população se desloca
em busca de bens e serviços que o município de Elísio Medrado não oferece, ou até mesmo
para abastecer o mercado local que, por sua vez, dentro de uma hierarquia urbana exercem
influência nos povoados rurais.
Esse sistema hierárquico da rede forma “uma região homogênea e
desenvolvida economicamente, havendo, portanto, uma hierarquia caracterizada de níveis
estratificados de localidades centrais, nos quais os centros de mesmo nível hierárquico [...]”
(RODRIGUES; SILVA, 2007, p. 60) atuam de maneira semelhante no que diz respeito à
oferta de bens e serviços, tamanho da área de atuação e o número populacional.
Fresca (2009, p. 44) coloca que
a rede urbana apresenta uma diversidade de centros urbanos que vão desde aqueles com nível de centralidade muito fraco e cuja área de influência é bastante reduzida com alguns municípios em seu entorno, até aqueles com nível forte, muito forte ou máximo, dependendo da escala de análise e da complexidade da rede urbana em estudo.
22
Nessa perspectiva o município em estudo (Elísio Medrado) pode ser
considerado como área de influência bastante reduzida, visto que o processo de produção,
circulação e consumo é baixo se comparado a outras cidades da região.
É importante ressaltar que num processo de globalização e consequentemente
da modernização da produção, centros com influências reduzidas “estão à espera de terem
suas potencialidades valorizadas pela incidência de outros processos, que gerarão outras
singularidades” (FRESCA, 2009, p. 45).
Na discussão feita por Corrêa (1989a, p. 21) sobre a teoria de Christaller, ele
coloca que a rede urbana tem um alcance espacial máximo, este é referente à área
determinada por um raio a partir da localidade central que faz com que os consumidores se
desloquem para essa localidade central com o objetivo de obter bens e serviços, já no alcance
espacial mínimo são englobados “[...] o número mínimo de consumidores que são suficientes
para que uma atividade comercial ou de serviços, uma função central, possa economicamente
se instalar” (CORRÊA, 1989a, p. 21).
No alcance espacial mínimo são ofertados produtos e serviços que são
consumidos quase que diariamente pela população local, nesse caso entram os produtos de
primeira necessidade como os produtos alimentícios, higiênicos, entre outros. É o que se
percebe no comércio de Elísio Medrado, visto que são vendidos em sua maioria produtos de
primeira necessidade, pois para o consumidor dificultaria sua saída quase que diariamente
para outros centros urbanos. Já produtos como eletrodomésticos são oferecidos em pequena
quantidade, sem opção de escolha e geralmente com preços elevados, isso faz com que a
população se desloque para centros como Santo Antônio de Jesus que oferece mais opções de
escolha e preços mais baixos.
No conceito de Christaller, discutido por Corrêa (1989a, p. 21-32), pode ser
considerado que quanto maior for o nível hierárquico que uma cidade alcança, maior são as
opções de bens e serviços oferecidos aos consumidores, sejam de mínimo ou máximo alcance.
Já para Santos (1989, p. 152), nos países subdesenvolvidos as redes têm pouco
desenvolvimento, onde “observa-se que as redes lineares ou em espinha de peixe ocorrem
com freqüência, enquanto que as transversais são bastante raras [...]” (SANTOS, 1989, p.
152).
Contudo, com as melhorias nos meios de transporte e telecomunicações o
tempo e a distância entre os centros têm diminuído consideravelmente, revelando assim,
mudanças significativas na rede urbana. Embora com toda essa evolução tecnológica
permitindo diversas relações virtuais, por outro lado ainda existem necessidades básicas como
23
serviço de saúde, educação, serviços especializados para o campo em muitas localidades
brasileiras; demonstrando com isso que há uma hierarquia presente, sendo que os pequenos
núcleos são dominados por uma cidade mais equipada.
Vale lembrar que as atividades de comércio e de serviços são processos
sociais que contribuem para a produção do espaço urbano definido por Corrêa (1989b, p. 9)
como “[...] fragmentado e articulado, reflexo e condicionante social, um conjunto de símbolos
e campo de lutas. É assim a própria sociedade em uma de suas dimensões, aquela mais
aparente, materializada nas formas espaciais.” Assim sendo, o espaço urbano é formado de
símbolos que variam de acordo com a cultura da sociedade, período da história, faixa etária da
população, atividades econômicas desenvolvidas entre outras.
Não existe um conceito de cidade que abranja “[...] as diferentes origens,
formas, funções e estruturas resultantes do trabalho da sociedade acumulado ao longo do
tempo nos distintos espaços urbanos da superfície terrestre” (RODRIGUES; SILVA, 2007, p.
50). Pois toda cidade tem seu dinamismo próprio e sofre mutações ao longo do processo
histórico, bem como a própria sociedade que elas abrigam e que a produzem.
Por isso, analisar o espaço urbano a partir da instalação das redes “pressupõe
a necessidade de organização e ordenamento de determinado espaço visando atender a fins e
interesses específicos, sejam eles engendrados por agentes econômicos, políticos ou sociais”
(RODRIGUES; SILVA, 2007, p. 50).
As inovações fizeram com que as sociedades estejam cada vez mais
interligadas formando as redes. “Com a ferrovia, a rodovia, a telegrafia, a telefonia e
finalmente a teleinformática, a redução do lapso do tempo permitiu instalar uma ponte entre
lugares distantes: doravante eles serão virtualmente aproximados” (DIAS, 1995, p. 141).
Todas essas inovações facilitaram a circulação de mercadorias, pessoas e informações e
consequentemente interligando os lugares de forma hierárquica.
Assim, a organização do espaço em redes tem como função principal facilitar
a comunicação e a circulação de bens e pessoas entre um lugar e outro do espaço, isso é
possível observar em todas as escalas de análise, desde o local ao global.
É através dessas funções, interligadas entre as cidades, como comércio,
bancos, indústrias, serviços, transportes, armazenagem, educação, saúde, que a rede urbana é
uma condição para a divisão territorial do trabalho. “É via rede urbana que o mundo pode
tornar-se simultânea e desigualmente dividido e integrado” (CORRÊA, 1989a, p. 49-50).
Nesse contexto global observa-se que é através das metrópoles que são
tomadas as decisões, são feitos os maiores investimentos e inovações, criando desta forma
24
constantes desigualdades. Portanto “[...] a rede urbana dos países subdesenvolvidos constitui-
se, em parte, na extensão de uma ampla rede urbana com sede nos denominados países
centrais, em metrópoles mundiais como New York, Londres, Tóquio e Paris” (CORRÊA,
1989a, p. 50). Sendo assim o Brasil dentro de uma escala global se situa na base periférica da
hierarquia.
Mas vale lembrar que diante das múltiplas realidades brasileiras, onde a
materialização do meio técnico científico se faz apresentar com maior ou menor intensidade, é
necessário enfatizar que a análise geográfica varia de lugar para lugar, de acordo com sua
realidade sócio-econômica e política, sendo que existem cidades estagnadas e outras com
dinamismo muito grande dependendo de vários fatores sócio-econômicos.
Outro aspecto a ser considerado, refere-se à distribuição de bens, serviços e
infra-estruturas que ainda são precárias ao se afastar dos centros maiores, distanciando em
quantidade e qualidade as funções desempenhadas. Com isso esses núcleos distantes dos
centros maiores ficam estagnados tendo remotas chances de desenvolvimento. Mas vale
lembrar que esses pequenos núcleos desempenham um papel importante dentro da rede
urbana, sejam como consumidores dos produtos oriundos dos centros maiores, seja como
fornecedores de matéria prima e até mesmo mão-de-obra barata.
No ítem a seguir, será feita uma discussão sobre pequenas cidades mostrando
os vários conceitos existentes, sua importância dentro da rede urbana bem como os problemas
existentes. Visto que esse trabalho tem como lugar de estudo o município de Elísio Medrado,
que dentro dos argumentos discutidos por autores como Milton Santos e Roberto Lobato
Corrêa o espaço urbano deste município apresenta características de uma pequena cidade.
2.2 PEQUENAS CIDADES: POR QUE ESTUDÁ-LAS?
Na década de 1970, com o êxodo rural, muitas pequenas cidades tiveram sua
população em declívio, pois grande parte desses municípios tinham maior parte da população
concentrada no campo.
Posteriormente, o declínio populacional no campo foi esvaziando, também os numerosos e pequenos núcleos urbanos sob o aspecto funcional, promovendo uma outra mobilidade oriunda das pequenas cidades
25
estagnadas em direção, sobretudo, a centros maiores (ENDLICH, 2006, p. 24).
Com isso, percebe-se que uma cidade por menor que seja, ela estará sempre
articulada em uma rede hierárquica, onde a população está sempre em constante movimento
buscando sempre melhores condições de vida.
É comum a presença de vários problemas nas grandes cidades brasileiras,
aquelas que estão no topo da rede urbana, que no processo migratório regional são as mais
procuradas, onde essa população que se desloca enfrenta problemas como: pobreza, violência,
poluição, desemprego, entre outros.
No entanto, vale lembrar que as pequenas cidades apresentam outros tantos
problemas como: falta de hospitais, universidades, transportes, entre outros.
Outro tipo de migrante responsável, em parte, pelo “crescimento demográfico
dos centros urbanos intermediários compõem-se de fluxos humanos, hora procedentes de
cidades maiores, constituindo um contingente em busca de tranqüilidade e qualidade de vida”
(ENDLICH, 2006, p. 29). Esses são disputados, várias são as ofertas de serviços e habitação.
Já o grupo procedente de pequenas cidades é rejeitado pela população local, pois não tem alto
poder aquisitivo. Pelo contrário, necessitam de ajuda financeira do Estado para ter as mínimas
condições de vida. Porém, é essa população rejeitada que vai suprir as necessidades de falta
de mão-de-obra não especializada, como faxineira e serviços ligados a construção civil.
Se por um lado essa população oriunda de pequenas cidades traz incômodo
para a população urbana já estabelecida nos centros médios e grandes, é ela que compõe
grande parte dos trabalhadores da construção civil, serviços gerais, entre outros.
Grande parte das pequenas cidades brasileiras tem a atividade agrícola
formada por pequenas propriedades, tendo como mão-de-obra a própria família. Com a
mecanização, principalmente na Região Sul, o pequeno produtor deixa de ter importância no
cenário agrário brasileiro. Esse fenômeno causa a decadência dessas cidades, sendo que não
possui outras atividades econômicas para incentivar os moradores a permanecerem no próprio
município, tornando assim geradores de mão-de-obra não especializada para as médias e
grandes cidades.
Como não existem centros educacionais como faculdades e universidades e
mesmo cursos técnicos, essa população das pequenas cidades não tem condições mínimas de
se especializarem em determinada área, restando apenas ficar no campo produzindo para
vender seus produtos, a preços irrisórios, para atravessadores ou na feira livre do próprio
26
município. Outra opção para essa população é migrar para centros urbanos maiores em busca
de um serviço braçal.
Por isso
não contemplar as pequenas cidades é esquecer uma parte da realidade urbana. Não se deixa apenas de estudar uma parte concreta da espacialidade brasileira, como também essa falta de estudo compromete uma compreensão mais ampla da rede urbana, até mesmo das questões tratadas num domínio dos centros urbanos maiores, bem como das possibilidades de intervenção (ENDLICH, 2006, p. 31).
Assim sendo, o município em estudo enfrenta os mesmos problemas de
outros pequenos núcleos brasileiros, ou seja, a falta de infra-estrutura, emprego, entre outros.
2.2.1 Breve Considerações Sobre a Urbanização Brasileira e Pequenas Cidades
Por volta do século XVI, o processo de urbanização teve início com as
primeiras aglomerações próximo ao litoral, que tinha como principal função a ligação entre a
Metrópole e a Colônia (ASSUNÇÃO; MELO; SOARES, 2010, p. 2).
No decorrer da história econômica da sociedade brasileira, novos
povoamentos foram surgindo em outras áreas do território, impulsionando a urbanização de
outras localidades. Mas vale lembrar que esses novos povoamentos surgiram, em grande
parte, em decorrência de ciclos econômicos cujo objetivo esteve sempre voltado para o
mercado externo.
Dentro desta sucessão de ciclos se destacam os engenhos de cana-de-açúcar,
tendo como mão-de-obra o escravo que desencadearam vários povoados. Com a abolição da
escravatura entraram em decadência.
É importante ressaltar que esses agentes sociais dominantes – os fazendeiros
– tiveram importância considerável na formação de núcleos urbanos no período colonial.
Como coloca Deffontaines (apud ASSUNÇÃO; MELO; SOARES, 2010, p. 3)
pela iniciativa de um fazendeiro ou um grupo de fazendeiros vizinhos que faz doação do território, ele o constitui em patrimônio, patrimônio oferecido à igreja ou antes a um santo, ao qual será dedicado o novo núcleo e do qual ele levará o nome.
27
Esses patrimônios tiveram seu ponto de partida para se tornarem cidades com
o passar dos anos. Além disso, destaca-se nesse período a formação de núcleos nos caminhos
das tropas pela constituição de ponto de pouso que, com o passar do tempo, foram
transformando-se em cidades.
Com o desenvolvimento industrial do século XX, o processo de urbanização
tornou-se mais complexo, compondo-se de novos agentes, conteúdos e articulação de forma
mais complexa.
A implantação das ferrovias e outros incrementos na infra-estrutura foram de
grande importância para o desenvolvimento industrial e consequentemente à formação de
muitas cidades, pois as mesmas possibilitavam uma maior articulação entre outros povoados
ou cidades da região em que estas ferrovias interligavam.
Apesar de todo este dinamismo e surgimento de várias cidades no decorrer
dos ciclos do “ouro, cana-de-açúcar, café, entre outros”, até meados do século XX, “o Brasil
ainda contava com a maior parte de sua população residindo no meio rural” (ASSUNÇÃO;
MELO; SOARES, 2010, p. 4).
Após a segunda metade do século XX, a população rural começou a deixar o
campo e “as cidades, sobretudo, aquelas onde havia algum tipo de desenvolvimento industrial,
passaram a crescer imensamente” (ASSUNÇÃO; MELO; SOARES, 2010, p. 4).
Esse crescimento trouxe, consequentemente, vários problemas sociais nas
grandes e médias cidades e no outro extremo, encontram-se, em maior número, as pequenas
cidades que estagnaram ou entraram em decadência. Elas estão inseridas
[...] em graus menores na economia globalizada, atendendo as necessidades primárias da sua população, com ou sem crescimento demográfico; outras enfrentam sérios problemas para reter sua população, sobretudo, as pessoas jovens, e acabam tendo fortes dependências de transferência de verbas públicas (MELO apud ASSUNÇÃO; MELO; SOARES, 2010, p. 5).
Dentro desta perspectiva faz-se necessário o estudo sobre as pequenas
cidades, para entender-se o processo da urbanização brasileira.
28
2.2.2 Pequenas Cidades: Seu Papel na Rede Urbana
Na discussão sobre pequena cidade e o seu papel na rede urbana brasileira, é
preciso entender o que é considerado uma pequena cidade. Muitos autores usam
denominações diferentes: Milton Santos (1982) usa o termo cidade local, já Corrêa (1989a)
prefere chamar de pequeno núcleo. Por isso, alguns estudos sobre o conceito de pequena
cidade podem variar.
Segundo Ferreira (2010, p. 2), o IBGE estabelece como critério o número de
habitantes, sendo que até 100 mil habitantes, pequena cidade, de 100 mil a 500 mil, cidade
média, acima de 500 mil, cidade grande.
Ainda segundo a autora (2010, p. 1), o IBGE diz que das 5.507 cidades
brasileiras, 4.646 estavam na categoria pequena e tinham com menos de 100 mil habitantes.
Com essa predominância, é importante que em um estudo se tenha a compreensão do papel
das pequenas cidades, dentro da rede local, regional e até mesmo nacional. Percebe-se com
esses dados do IBGE que no Brasil há cidades com idade, tamanho, contexto e formações
diferentes. Porém a maioria é pequena cidade.
Já os pequenos municípios brasileiros ocupam grandes extensões do
território, embora não contenham grande proporção da população. “Quase sempre compõem
áreas pouco densas, o que oferece condições para que constituam cidades confortáveis à vida
das populações” (MOURA, 2009, p. 18).
Segundo a contagem da população, feita pelo IBGE em 2007, dos 5.565
municípios brasileiros, 78% têm menos que 25 mil habitantes, ocupando uma área de 59,9% e
abriga apenas 22,3% da população (MOURA, 2009, p. 18).
Sobre estes dados Moura (2009, p. 35) esclarece que
os dados analisados demonstraram que os pequenos municípios constituem
uma parcela significativa do território nacional e estadual voltada à produção agropecuária, que abrigam elevado contingente da população, e que têm importante papel na inserção do País e do Estado na divisão social do trabalho.
Mas para a pesquisadora é importante tomar alguns cuidados para não cair na
generalização, pois o Brasil tem uma grande extensão territorial com formações culturais,
econômicas e sociais distintas e uma cidade com poucos habitantes pode ter uma dinâmica
maior que outra com mais habitantes.
29
É claro que se uma cidade tem um bom dinamismo certamente atrairá mais
habitantes. Como mostra Corrêa (1989a, p. 15) “[...] o tamanho das cidades aparece então
como uma expressão do desenvolvimento”. Ou seja, segundo o autor, se uma cidade tem
poucos habitantes é porque tem pouco desenvolvimento. Mas vale frisar que Elísio Medrado,
cidade em estudo deste trabalho, se comparada com outra com o número de habitantes
semelhante, localizada no Sul do Brasil, certamente as cidades do Sul têm um melhor
desenvolvimento econômico e tecnológico.
Milton Santos afirma que a pequena cidade é cidade local com “[...]
aglomeração capaz de responder às necessidades vitais mínimas, reais ou criadas de toda uma
população, função esta que implica uma vida de relações” (SANTOS, 1982, p. 71).
Ainda refletindo sobre as pequenas cidades, (SANTOS, 1981, p. 15) afirma
que “as estatísticas internacionais estabelecem um marco de 20.000 habitantes para esse tipo
de cidade [...]”. “Só a partir de um certo estágio de desenvolvimento e dinamismo é que a
cidade se define” (SANTOS, 1981, p. 15). Nesse contexto o autor deixa claro que além do
número de habitantes é preciso compreender o dinamismo que a cidade tem dentro de uma
rede urbana.
Para Santos (1981, p. 15),
a cidadezinha constitui a célula-máter que atende às necessidades de uma
população; tais necessidades variam em função da densidade demográfica, das comunicações e da economia da região, bem como do comportamento sócio-econômico de seus habitantes.
Porém, cada pequena cidade se constitui um caso específico, levando sempre
em consideração sua função principal, seja na área de serviços, agricultura, pecuária, entre
outros.
Milton Santos (1982, p. 71) define as pequenas cidades como cidades locais
que para ele “é a dimensão mínima a partir da qual as aglomerações deixam de servir às
necessidades inadiáveis da população com verdadeira <<especialização do espaço>>”. Com
isso, Milton Santos usa a denominação de cidade local, para não cair na classificação de
pequena cidade que utilizam número populacional, e para ele seria “[...] incorrer no perigo de
uma generalização perigosa”. (SANTOS, 1982, p. 69).
Com isso, percebe-se que não há um consenso na definição de pequenas
cidades, mas considerando os argumentos estudados, pode-se identificar como pequena
cidade aquela que tem baixo estágio de desenvolvimento, com baixo dinamismo social,
30
econômico e cultural. Geralmente essas cidades são pacatas, com alguns comércios e serviços
locais capaz apenas de oferecer tão somente condições mínimas vitais para seus habitantes.
Mas é importante ressaltar que, com a globalização, essas cidades pacatas
estão deixando de existir, pois cada vez mais a poluição, violência, fome vão se alastrando
nos pequenos núcleos urbanos do interior.
Para Santos (1982, p. 74), “a cidade local facilita o acesso da população aos
bens e serviços, embora isto se faça a um preço mais elevado que nos centros de nível
superior”. Ela vai estar sempre na periferia da rede urbana, com isso os habitantes estarão
sempre tendo problemas tanto como produtor, como consumidor, pois seus produtos são
vendidos a preços irrisórios e os que não são produzidos no município são comercializados
com altos preços.
Corrêa (1989a, p. 59) afirma que “o atacadista coletor, da pequena cidade
encravada em plena zona rural, tem uma margem de lucro ao vender a produção ao atacadista
reexpedidor ou a uma usina de beneficiamento localizada em uma cidade regional.” Com isso,
os produtores destas cidades vendem seus produtos para os intermediários, estes asseguram
uma parte do lucro da produção e o produtor que tem as despesas para produzir, além da mão-
de-obra, não consegue um preço justo. Sendo assim, o lucro fica para os intermediários e
industriais. Nessa cadeia de comercialização os pequenos núcleos pagam preços elevados
pelos produtos industrializados e recebem preços baixos pelos produtos cultivados.
Com isso “as cidades locais desempenham um importante papel junto às
zonas de produção primária, às quais permitem um consumo mais próximo daquele do resto
da população do país, provocando, como feedback, a expansão da economia urbana”.
(SANTOS, 1982, p. 74). São as pequenas cidades que fazem articulação entre a população
rural e as outras cidades mais desenvolvidas, permitindo o acesso desta população a outros
bens e serviços, além da comercialização dos produtos do campo, mesmo conseguindo apenas
preços irrisórios.
A cidade, por menor que seja, desempenha um papel importante dentro de
um espaço, mesmo que seja como consumidora ou criadora de mão-de-obra não especializada
e até mesmo como produtora de alimento para consumo interno do país. Mesmo para toda
cidade que tenha sua gênese num pequeno núcleo, que se estagnou, entrou em decadência ou
evoluiu até tornar-se uma metrópole. Daí a importância de se entender a pequena cidade e
reconstruir a sua história.
Dentro desse contexto histórico é possível entender porque há cidades
centenárias menos dinâmicas que outras com algumas décadas de emancipação, mas mesmo
31
com pouco dinamismo, em alguns dias da semana a cidade passa a ser centro de encontro e
comércio, como as feiras que acontecem semanalmente em muitas pequenas cidades. Como
afirma Corrêa (1989a, p. 35), alguns “[...] núcleos de povoamento, pequenos, via de regra
semi-rurais [...]” de uma a duas vezes por semana transformam-se em centros comerciais, mas
os demais dias voltam a ser pacato com a maioria da população voltada para a atividade
primária.
Nos dias de mercado o pequeno núcleo transforma-se em um centro de mercado. Vendedores dos mais variados produtos, artesões e prestadores de diversos serviços amanhecem no centro com suas mercadorias e instrumento de trabalho (CORRÊA, 1989a, p.35).
Geralmente, essas pessoas, vendem seus produtos em várias cidades da
região em dias alternados, outros vêm da zona rural, de onde vão ao comércio local vender
seus produtos colhidos no campo e comprar outros bens que não produzem. Usa-se como
meio de transporte animais como cavalo, burro, carroça ou transporte público como caminhão
ou ônibus. Nesses centros de comércio das pequenas cidades “são ainda os dias em que as
pessoas se encontram, sabem das novidades e vários eventos sociais, culturais e políticos se
realizam” (CORRÊA, 1989a, p. 35). “[...] Mesmo pequenos núcleos organizam-se para a
vivência coletiva e, ao seu modo, para a política e para a cidadania.” (MOURA, 2009, p. 17).
Vale lembrar que, embora os pequenos municípios estejam em nível de
subordinação, não significa que estão à margem desse processo hierárquico. Mas “os
pequenos municípios têm uma dinâmica de crescimento bastante reduzida” (MOURA, 2009,
p. 22). Muitos deles perdem população e não atraem novos moradores pela falta de atrativos.
Somando a essa estagnação dos pequenos municípios, ocorreu “o processo de
desmembramento de novos pequenos municípios” (MOURA, 2009, p. 24).
Porém, característica comum nas pequenas cidades é ser receptora de
indústrias rejeitadas nas cidades maiores. Como coloca Corrêa (1989a, p. 65) “as pequenas
cidades, e às vezes o próprio campo, transformam-se em locais de implantações de indústrias
poluentes que não podem, por força de interesses urbanos, permanecer na grande cidade”.
Essas empresas se localizam em lugares pequenos e não desenvolvidos devido a pouca
fiscalização das leis ambientais, além de encontrar mão-de-obra barata, o que constitui mais
lucro para essas empresas.
Partindo do ponto de vista de que toda cidade nasce pequena e que, qualquer
que seja o núcleo urbano ela estará sempre interligada a uma rede urbana no mundo
32
globalizado, vale lembrar que “aos pequenos municípios é fundamental o apoio e
fortalecimento das atividades existentes, como também o adensamento das cadeias
produtivas” (MOURA, 2009, p. 36). Com isso, percebe-se a necessidade cada vez maior de
planejamento voltado para esses pequenos núcleos.
Alves et al (2008, p. 2) argumenta que
mesmo diante da grande importância do planejamento urbano nas pequenas
cidades, verifica-se que há uma maior dificuldade em realizar medidas públicas de organização do espaço, isso devido à falta de obrigatoriedade desse mecanismo para municípios com população inferior a 20 mil habitantes.
Aliado a essa não obrigatoriedade está à falta de comprometimento dos
políticos locais que, muitos deles têm baixa escolaridade, dificultando dessa forma a
contratação de uma equipe preparada para fazer um bom planejamento urbano voltado à área
ambiental e social, oferecendo uma melhor qualidade de vida aos seus habitantes.
Com isso, é preciso entender que “a urbanização como processo, e a cidade,
forma concretizada desse processo, marcam tão profundamente a civilização contemporânea,
que é muitas vezes difícil pensar que em algum período da História as cidades não existiam,
ou tiveram um papel insignificante” (SPOSITO, 1989, p. 11).
Para entender a cidade pequena, sua organização espacial, é preciso voltar a
origem do povoamento, descobrindo sua gênese, ainda que de forma sintética.
Desta forma, o espaço concretizado em cidade é história e
[...] nesta perspectiva, a cidade de hoje, é o resultado cumulativo de todas
as outras cidades de antes, transformadas destruídas, reconstruídas, enfim produzidas pelas transformações sociais ocorridas através dos tempos, engendradas pelas relações que promovem estas transformações (SPOSITO, 1989, p. 11).
Dessa forma, no decorrer desse trabalho serão descritos e analisados todos os
acontecimentos julgados importantes, ocorridos no decorrer da história do município em
estudo, para a partir daí compreender a dinâmica atual do município. Vale lembrar que como
o município tem sua base rural é preferível estudar o município como um todo não separando
o rural do urbano, pois “[...] a delimitação do urbano de muitos municípios é apenas uma lei
que identifica um núcleo em um território ainda preso à base produtiva e ao modo de vida
rural” (MOURA, 2009, p. 16). Sendo assim, “ toda a nossa história é a história de um povo
agrícola, é a história de uma sociedade de lavradores e pastores. É no campo que se forma a
33
nossa raça e se elaboram as forças íntimas de nossa civilização” (OLIVEIRA VIANNA apud
SANTOS, 2008a, p.19).
34
3 A HISTÓRIA DE ELÍSIO MEDRADO
Esta reconstrução histórica é necessária dentro deste trabalho, pois através
dela é possível compreender os signos existentes na espacialidade do município, signos que
trazem um significado histórico e cultural de um passado mais remoto. É através da
compreensão da história, que se torna possível compreender muitos fatos presentes na
atualidade. Como argumenta Lins (2007, p. 34), que “[...] em uma perspectiva regional é
necessário uma reconstrução histórica para entender traços do momento atual”.
Oficialmente, a gênese de Elísio Medrado ocorre no início do século XX, nos
primeiros anos de 1900, quando a cidade era chamada de Paraíso. No entanto, antes desse
fato, já havia uma ocupação desse espaço. Primeiro por indígenas, depois no período da
colonização no século XVI, por intermédio dos bandeirantes que penetravam à região. O mais
conhecido foi Gabriel Soares, que construira “[...] uma fortaleza para se proteger dos ferozes
índios Cariris e Sabujás que povoaram o território e para armazenar mantimentos, armas e
munições” (ELÍSIO MEDRADO, [2009?], p. 22).
Foi ainda no Brasil colonial que surgiu o primeiro povoado dentro do
domínio do atual município de Elísio Medrado: onde hoje é o atual distrito do município
denominado de Monte Cruzeiro (figura 1a), outrora foi chamado de Jibóia, chegando por duas
vezes ser sede de município. Outro povoado que surgiu antes do povoado Paraíso foi São
Francisco do Cajueiro (figura 1a), posteriormente Acaju e atualmente povoado de Souza
Peixoto, este teve seu início do povoamento nas imediações da estação ferroviária da
localidade. E, no início do século XX, formou-se outro povoado denominado de Paraíso
(figura 1a), que hoje é a sede do município.
35
Figura 1a: Mapa com a localização dos povoados do município de Elísio Medrado. Fonte: IBGE (2009, p. 1). Adaptação: Eduardo de Oliveira, 2010.
3.1 SURGIMENTO DO POVOADO DE MONTE CRUZEIRO
Fazer uma contextualização histórica do município em estudo faz-se
necessário nessa abordagem sobre a dinâmica funcional, visto que é através de vários
períodos da história que o espaço geográfico vai se concretizando e se transformando.
Por isso, o momento passado está morto como ‘tempo’, não porém como
‘espaço’; o momento passado já não é nem voltará a ser, mas sua objetivação não equivale totalmente ao passado, uma vez que está sempre aqui e participa da vida atual como forma indispensável à realização social” (SANTOS, 1986, p. 10).
Sendo assim, o tempo passado se foi, mas o espaço concretizado no passado
continua no presente, cristalizado como objeto geográfico indispensável para o geógrafo
entender o espaço atual.
Elísio Medrado foi emancipado em 20 de julho de 1962, desmembrando-se
de Santa Terezinha, com isso aparentemente é um núcleo recente, mas a sua gênese histórica é
36
bem mais antiga. A cidade fica a 224 km de Salvador. Essa distância da capital baiana
demonstra que não fica tão distante dos primeiros núcleos fundados pelos portugueses. Esse
fato facilitou a penetração dos aventureiros pelo interior, chegando às terras onde hoje fica o
município de Elísio Medrado.
A região era inicialmente habitada por indígenas Cariris e Sabujás, mas
aventureiros bandeirantes, chefiados por Gabriel Soares de Souza, penetraram na região na
segunda metade do século XVI com o objetivo de “[...] construir uma fortaleza na região para
se proteger dos índios Cariris e Sabujás e para armazenar mantimentos e munições”
(PEDREIRA apud SANTOS, 2003, p. 12). “O seu objetivo era localizar as minas descobertas
por seu irmão de nome João, que lhe deixara roteiro delas” (SANTA TEREZINHA, 1958, p.
291). A fortaleza plantada por Gabriel Soares de Souza “[...] foi nas imediações da localidade
de Pedra Branca” (SAMPAIO, [200-], p. 2). Vale lembrar que Pedra Branca é um povoado
pertencente ao município de Santa Terezinha que faz limite ao atual município de Elísio
Medrado. Pela proximidade da região pode-se concluir que Gabriel Soares de Souza e sua
bandeira foram os primeiros brancos a pisarem na região.
Com o crescimento populacional no Recôncavo Baiano surgiram muitos
problemas, entre eles lutas com os indígenas, assassinatos e roubos. O rei de Portugal
autorizou o Governador da província, Dom João de Lencastro que criasse vilas e povoados
para que houvesse justiça para atender a população. Uma das vilas criadas foi a de Vila de
Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira fundada em 1698, “[...] que tinha por termo
uma grande área que ia do Rio Subaúna ao Rio Inhambupe, cortando direto pela praia e daí
até intestar com o Rio Real. Nessa área surgiu, 3 séculos e meio depois, o município de Elísio
Medrado” (SAMPAIO, [200-], p. 2 ).
Evidências mostram que o atual município de Elísio Medrado começou a ser
povoado pelo lado norte, onde fica o atual município de Santa Terezinha. Sendo que ao leste
estende-se a Serra do Guariru, hoje conhecida por Serra da Jibóia. Ali habitavam os povos
indígenas que, segundo a literatura pesquisada, entraram em vários confrontos com os
colonizadores dificultando a penetração em direção a Serra do Guariru. Como afirma Sampaio
([200-], p. 3), “a paz em que viviam foi interrompida quando a civilização foi adentrando,
quando os colonos, já no primeiro século da colonização, sonhando com a existência de minas
de ouro e de prata [...]”. Com isso, o leito do Rio Paraguaçu foi seguido para que os
aventureiros alcançassem o sertão, evitando as densas matas da Serra do Guariru (atual serra
da Jibóia).
37
Nessa região houveram diversas lutas entre colonos e indígenas, o rei de
Portugal buscou solucionar o problema e os tranquilizar colocando os jesuítas para catequizar
os indígenas da região. No ano de 1667 chega o primeiro jesuíta para assumir a missão e “o
local escolhido para a implantação do Aldeamento foi o sopé da Serra do Guariru, local fértil,
ameno, e onde, na ocasião se concentrava maior número de Índios que ali buscavam refúgio”
(SAMPAIO, [200-], p. 5). Nesse aldeamento foram construídas igreja, escola, casas para os
indígenas, para os padres, para o juiz de paz-diretor, para o comandante da guarda e para toda
a tropa.
Com essas informações é possível afirmar que o município de Elísio
Medrado teve seu primeiro povoado com base nas missões religiosas e o local escolhido está
nas proximidades do atual distrito de Elísio Medrado chamado de Monte Cruzeiro. “A apenas
alguns quilômetros de Pedra Branca, bem ao pé da Serra, encontravam-se duas aldeias, a de
Caranguejo e a da Jibóia também aos cuidados dos educadores” (SAMPAIO, [200-], p. 5).
Jibóia foi o povoado que deu origem ao atual distrito de Monte Cruzeiro.
Esses indígenas catequizados por jesuítas tornaram-se úteis ao ponto de servir
como guarnecedores de estradas, além dos “fazendeiros e autoridades da região exploravam a
mão-de-obra barata dos índios” (SAMPAIO, [200-], p. 5).
Os jesuítas não aceitavam esse tipo de exploração feita aos povos indígenas e
“os governantes passaram a perseguir os Jesuítas. A luta passa também a seguir nas
povoações de Jibóia e Caranguejo” (SAMPAIO, [200-], p. 6). A partir de 1720 suas terras
passaram a ser invadidas pelos colonos que buscavam cultivar cana-de-açúcar, fumo e criar
gado e com a formação religiosa dos indígenas aos poucos eles foram ingressando na cultura
dos colonos.
Com a chegada dos negros para trabalhar na lavoura de cana-de-açúcar, a
região foi sendo ocupada cada vez mais por fazendeiros que buscavam fixar-se nas terras
férteis. Com os castigos severos dos fazendeiros muitos negros fugiram para o Aldeamento
localizado ao pé da Serra da Jibóia. “A tradição revela ter havido na região conhecida por
Palmeira, a pequena distância de Pedra Branca, um Quilombo, no futuro município de Elísio
Medrado” (SAMPAIO, [200-], p. 7). Com isso no século XIX quase toda população da região
de Monte Cruzeiro já era descendente de escravos ou indígenas.
Nas imediações de Monte Cruzeiro, Distrito de Elísio Medrado, encontra-se a
fazenda Estiva (figura 2) pertencendo atualmente ao proprietário Kamal Elílio Chaoul. Nela
há evidências de escravidão no passado. Relatos de moradores da localidade e netos de
38
escravos afirmam que seus antepassados trabalhavam na fazenda e eram castigados
severamente, muitos chegavam a ser mortos e sepultados no fundo da fazenda.
Figura 2: Fazenda Estiva. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010. O povoado de Jibóia, que atualmente pertence ao município de Elísio
Medrado, conhecido atualmente como Monte Cruzeiro, devido ao seu desenvolvimento, no
dia 17 de janeiro de 1834 passou a ser sede municipal, porém “Jibóia teve vida efêmera, pois
através da Lei Provincial nº 07 de 02 de Maio de 1835, foi extinto, passando a ser anexado ao
de Cachoeira” (SAMPAIO, [200-], p. 19). Porém continuava como Freguesia, que era “a
principal divisão eclesiástica e abrangia várias Capelas, além do Vigário, várias autoridades
constituídas, sendo a mais destacada o Juiz de Paz” (SAMPAIO, [200-], p. 20).
Este povoado que pertence ao atual município de Elísio Medrado, em 03 de
agosto de 1892 passou a ser sede do município de Tapera. No dia 05 de abril de 1893 ocorre a
solenidade onde é “[...] empossado como seu Intendente o Cel. Ápio Vaz Medrado”
(SAMPAIO, [200-], p. 37). A partir desta data a povoação que antes era chamada de Jibóia,
passa a ser a sede do município de Tapera e em 1º de agosto de 1899 através da Lei estadual
nº 321 passa a ser intitulado de Monte Cruzeiro.
No ano de 1908 a freguesia de Monte Cruzeiro já se destacava entre as mais
importantes do estado. Mas desde a data em que Tapera deixou de ser sede do município
proporcionou fortes revoltas dos líderes políticos da povoação. “Não mais suportando a
39
humilhação, os líderes de Tapera lutam por retornar a sede para a sua povoação” (SAMPAIO,
[200-], p. 42). Esses líderes políticos marcaram um encontro com Macionílio Souza, que era
famoso líder político e chefe de jagunços no sertão da Bahia.
No dia 02 de fevereiro de 1920, o Pe. Gustavo Adolfo Marinho das Neves,
que era Presidente da Câmara de Monte Cruzeiro, além de ser senador do Estado, e dominava
a política do município, celebrava a festa de Nossa Senhora de Brotas de Milagres, quando o
povoado de Milagres é cercado pela tropa de jagunços sob o comando de Macionílio Souza
(SAMPAIO, [200-], p. 43). “Macionílio se dirige ao Padre e lhe apresenta documento através
do qual a sede do município deixará de ser Monte Cruzeiro (Jibóia), passando para o povoado
de Tapera” (SAMPAIO, [200-], p. 43).
Temendo sofrer violência por parte do chefe dos jagunços o padre não teve
alternativa e assinou o documento. Com isso, no dia 29 de julho de 1921, Tapera passou a ser
novamente sede do município.
No Diário Oficial do Estado da Bahia, do ano de 1923 (apud SAMPAIO,
[200-], p. 46), o município de Monte Cruzeiro é descrito como
[...] Município, na sua maior extensão territorial, possuidor de um clima salubérrimo, cuja sede é a Vila de Tapera, admirável sanatório, onde rara e perfunctoriamente se registra um óbito, está situada entre os municípios de Amargosa, São Miguel e Castro Alves. Sua área se aproxima de 108 quilômetros de extensão, cujo terreno adapta-se, com ótimos resultados, à agricultura e à pecuária .
Completa ainda que o município de Monte Cruzeiro, no ano de 1923, tinha
cerca de 350 fazendas que se dedicavam à pecuária com a criação de gado bovino, suíno,
caprino, ovino e eqüino, além da prática da agricultura que era destinada à cultura do fumo,
mandioca, café, aipim, milho, feijão e cana-de-açúcar.
A exportação de café, fumo em folha e em rolo, cereais, gado em geral, peles, couros, etc., é considerável. Existem vários curtumes e salgadeiras, aparelhos modernos para descascar café, destiladores, engenhocas para o fabrico de açúcar e raspadura, etc (O DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DA BAHIA apud SAMPAIO, [200-], p. 46).
Com essas informações percebe-se que o município de Monte Cruzeiro era
dominado por um poder religioso, porém o poder político sobressaia na tomada de decisões
do município, beneficiando sempre um grupo de interessados, geralmente quem tinha maior
poder aquisitivo. Nas entrevistas com os moradores do atual povoado de Monte Cruzeiro, hoje
40
pertencente ao município de Elísio Medrado, os entrevistados comentaram se lembrar quando
a vila era sede de município com prefeitura, escolas e cartório funcionando na localidade.
Hoje o povoado possui construções antigas, do início do século XX, e atuais
(figuras 3 a 6) pequenos proprietários de terra, que cultivam principalmente a uva (figura 7) e
alguns produzem vinhos de forma artesanal (figuras 8 e 9).
Figuras 3 e 4: Casas antigas e novas - lado à lado. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
Figuras 5 e 6: Casas antigas e novas – lado à lado. Autor: Eduardo de Oliveira, 20010.
41
Figura 7: Plantação de uva. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
Figuras 8 e 9: Produção artesanal de vinho. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
No povoado ainda se encontra uma antiga igreja do século XIX (figuras 10 a
14), que segundo moradores foi tombada pelo Patrimônio Histórico da Bahia. É uma obra
bem rudimentar, nas paredes foram usadas adobes2 na sua construção e se encontra bem
deteriorada devido a má conservação. Percebe-se que ali se concentrava o poder religioso da
região no século XIX. Moradores mais antigos relatam que havia várias fazendas com 2 Espécie de tijolos usados nas construções antigas da região, feito manualmente com barro amassado e depois exposto ao sol para secar.
42
engenho de cana-de-açúcar na região. Porém, muitas delas foram demolidas pelos atuais
donos, restando apenas a fazenda Estiva situada nas proximidades do povoado.
Nos levantamentos de campo, feitos através de observações nas construções,
entrevistas, conclui-se que esse povoado pertencente ao atual município de Elísio Medrado é
o mais antigo do município, sendo possível afirmar que a região foi colonizada pelo lado
norte do município, onde predominavam as grandes fazendas com o cultivo da cana-de-açúcar
e engenhos tendo como mão-de-obra a escravatura de negros e índios.
Já na primeira metade do século XX predominavam as fazendas de café na
região. Atualmente, com a decadência dessas fazendas, predominam os pequenos produtores
que em grande parte são descendentes de escravos e índios.
Figura 10: Vista da Igreja de Monte Cruzeiro (Nossa Senhora de Sant’Ana). Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
43
Figuras 11 e 12: Aspecto interno da Igreja de Monte Cruzeiro (Nossa Senhora de Sant’Ana). Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
Figuras 13 e 14: Aspecto interno da Igreja de Monte Cruzeiro (Nossa Senhora de Sant’Ana). Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
3.2 SURGIMENTO DO POVOADO DE SOUZA PEIXOTO
Na segunda metade do século XIX surgiu no atual município outro povoado
ao sul, conhecido por São Francisco do Cajueiro, Cajueiro, Acaju e denominado atualmente
de Souza Peixoto (figura 15), provavelmente pela proximidade da linha férrea que ligava
Amargosa a Nazaré. “Na região já se destacam várias propriedades como boas fazendas. Já o
povoado é dotado de Capela e de Cartório, tendo como tabelião o sr. Manoel Francisco da
Silva Peixoto” (SAMPAIO, [200-], p. 34). Nessa região já se destacavam como grandes
fazendeiros o Sr. João Félix da Silva Andrade, Antônio Félix da Silva Andrade, Francisco
Félix de Souza que possuíam alambique para produção de rapadura e cachaça.
Inicialmente, o povoado pertencia ao atual município de Amargosa e além de
cartório, tinha casas comerciais como açougue e sapateiro, além de feira semanal.
44
Segundo relatos de moradores, o local onde fica o Cajueiro, oficialmente
povoado de Souza Peixoto, era habitado pelos índios Cariris e Sabujás. O povoamento branco
ocorreu com a chegada de agricultores que ali se fixaram em virtude da fertilidade das terras,
vindos da região de Santo Antônio de Jesus. Com o estabelecimento da Estrada de Ferro de
Nazaré, a estação de trem de Acaju foi construída logo abaixo do morro onde fica o vilarejo, o
que deu ânimo novo ao lugar. Posteriormente, na década de 1960, a vila foi desmembrada de
Amargosa e passou a integrar o recém-criado município de Elísio Medrado. Na mesma época,
houve a desativação da estrada de ferro e o cartório existente foi transferido para a sede do
município (antigo Paraíso), condenando o Cajueiro à decadência.
Figura 15: Povoado de Souza Peixoto. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010. Hoje o povoado tem uma igreja (figura 16), um cemitério aos fundos da
igreja com túmulos das famílias dos fazendeiros citados anteriormente e outro cemitério onde
existem túmulos de outros moradores da região. As construções são antigas e muitas delas
estão sendo substituídas por outras mais recentes (figuras 17 a 20).
Percebeu-se também que na parte mais afastada do povoado, há construções
recentes nas proximidades da rodovia sentido Amargosa (figura 21 e 22).
45
Figura 16: Igreja do Povoado de Souza Peixoto (São Francisco do Cajueiro). Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
Figuras 17 e 18: Aspecto das construções: antiga e mais recente. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
Figuras 19 e 20: Aspectos das construções: antiga e mais recente. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
46
Figuras 21 e 22: Construção antiga passando por transformação na atualidade. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
Estão acabando com as pastagens para serem substituídas pela cultura da
mandioca (figura 23), pois as sementes anteriores de capim não eram boas, sem contar que
boa parte das propriedades não tinha gado e os proprietários alugavam por mês para outros
sitiantes deixarem seu gado se alimentar.
Figura 23: Plantação de mandioca. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
Presença de elementos como cemitério e igreja demonstram que o povoado
tinha uma maior dinâmica, principalmente pela proximidade com a estrada de ferro no
47
passado e hoje moram apenas alguns pequenos proprietários, é um lugar pacato, sem
movimento algum. Diferentemente do que relataram alguns moradores sobre o passado em
que havia uma escola primária com muitos alunos, grandes fazendas de cana-de-açúcar e
posteriormente de café, aonde iam muitos “panhadores”3 de café. Nas estradas seguiam as
tropas de burros carregados de cachaça, rapadura e posteriormente café. Porém pela
proximidade de alambiques era tido como um lugar violento no passado, pois muitos
trabalhadores desse povoado se embriagavam no final do expediente e ficavam nos bares do
povoado procurando briga. Mas hoje o local é, segundo moradores, muito parado e tranqüilo.
Devido sua proximidade com a cidade de Amargosa, os moradores do povoado sempre
fizeram suas compras em Amargosa e essa realidade não é diferente na atualidade.
3.3 SURGIMENTO DO POVOADO PARAÍSO
Até o início do século XX, a região que é hoje o município de Elísio
Medrado tinha povoações como Monte Cruzeiro (ao norte) e São Francisco do Cajueiro (ao
sul). Já o terceiro povoado, onde é a atual sede do município de Elísio Medrado, teve sua
gênese em um planalto na área central, que provavelmente era algum ponto de parada dos
tropeiros que ligava o sul ao norte da região.
Foi na área central do município que “[...] veio surgir a primeira casa como
embrião da futura cidade, residência do sr. Vitorino Peixoto” (SAMPAIO, [200-], p. 38). Este
cidadão adquiriu uma propriedade e por volta de 1906 construiu sua residência e casa
comercial (figuras 24 a 26), além da casa de farinha com rodão. “O Sr. Pedro Alves dos
Santos que em 2002 alcançou a idade de 93 anos de idade, dotado de boa memória, revela ter
conhecido, quando tinha apenas 12 anos, Elísio Medrado (outrora Paraíso) com apenas 3
casas [...]” (SAMPAIO, [200-], p. 39), sendo uma na área onde é o centro da cidade que
pertencia a Vitorino Peixoto, as outras duas ficavam afastadas: uma ficava no Lagedo Batista
(figura 27) e a outra na Baixa do Paraíso (povoações rurais do atual município).
3 Trabalhadores que colhem café.
48
Figuras 24 e 25: Residência e casa comercial do Sr. Vitorino Peixoto. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
Figura 26: Casa Santana em destaque – residência e casa comercial do Sr. Vitorino Peixoto. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
49
Figura 27: Residência no Lagedo Batista. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
No ano de 1927 chegou o primeiro carro ao povoado de Paraíso, tendo como
proprietário Bonifácio Pereira dos Santos, filho de Luciano Pereira dos Santos e irmão de
João Santos (proprietário comercial do povoado). “Veio de Amargosa através da estrada
carroçável que passava por São Roque posteriormente Diógenes Sampaio” (SAMPAIO, [200-
], p. 49).
Bonifácio Pereira dos Santos tornou-se o primeiro proprietário de veículo do
povoado Paraíso, durante certo tempo passou a circular na região indo a Castro Alves
transportando café e fumo. Como relata uma moradora: “naquele tempo eu era pequena e
lembro das tropas de burro que levava café, raspadura e cachaça para Nazaré ou para o
Cajueiro, na frente ia um burro com um sino balançando puxando toda a tropa”. Essas
informações mostram a precariedade que apresentavam as estradas da região no início do
século, sendo em sua maioria usados animais como burro e cavalo para o transporte de
mercadorias até a estação de trem que ficava mais próxima, que nesse caso era a do Cajueiro
(ponto sul da cidade). Já no ano de 1929 o povoado “Paraíso” era dotado de várias
residências e algumas casas comerciais.
50
No mês de janeiro de 1928 iniciou em frente a “Cesta do Povo”4 (figura 28)
uma feira. O Sr. Gil Procônio Lapa vindo de Jequié estabeleceu-se com açougue e secos e
molhados.
A feira, iniciada por Gil Procônio Lapa, caminhou lentamente em virtude de existir, nas proximidades do hoje entroncamento da entrada de São Miguel, um próspero comércio, na fazenda do major Francisco Inácio Souza Peixoto, pessoa de destaque, tendo sido até intendente na Jibóia (SAMPAIO, [200-], p. 49).
Figura 28: “Cesta do Povo” – proximidade do local de início da feira do município
de Elísio Medrado, no ano de 1928. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
O comércio do proprietário Francisco Inácio Souza Peixoto “[...] possuía
forte loja de tecidos, venda, armazém de compra de café e fumo, açougue, e a pequena
distância da residência, alambique” (SAMPAIO, [200-], p. 49). Com forte movimentação
comercial nessa fazenda segundo alguns depoimentos de moradores. Nesse período o
povoado do Paraíso contava com apenas 30 casas.
Mas foram os catingueiros que deram novo ânimo a feira de Paraíso. Estes
traziam tropas de produtos do sertão, principalmente milho e feijão, além de carne do sol e
compravam dos produtores locais os produtos como café, rapadura e farinha. Com o 4 Comércio que vende produtos de primeira necessidade mantido pelo Governo Estadual.
51
surgimento da feira outros comércios foram surgindo no povoado, um deles foi o do
comerciante Luciano Pereira dos Santos que “ia sempre a Salvador, através do trem que
passava na Estação do Cajueiro, hoje Acaju, onde adquiria produtos variados que aguçavam o
interesse da freguesia, indo na sua volta, uma tropa até a estação para conduzi-la até o seu
estabelecimento comercial” (SAMPAIO, [200-], p. 49).
Esses fatos mostram as primeiras ligações do povoado Paraíso com outras
localidades, como Salvador, e outros povoados do sertão baiano. Mostrando com isso a
dificuldade que era na época para se deslocar até essas localidades, necessitando de tropas de
animais e o trem que fazia ligação entre Amargosa e Nazaré. Segundo relatos de Sampaio
([200-], p. 50), um dos produtos mais procurados era o relógio de parede que era difícil
encontrar nas lojas da região.
Mesmo com as precárias condições de transportes e estradas, outros
comerciantes foram se estabelecendo na região, visto que os moradores também tinham
muitas dificuldades para se dirigir até outros povoados e cidades e conseqüentemente os
comerciantes aproveitavam para cobrar altos preços pelas mercadorias comercializadas e essa
é uma das versões que levou o povoado a ter o apelido de “Raspa Bolso” (SAMPAIO, [200-],
p. 50). Essa realidade da cidade apresentar altos preços não muda muito em relação aos dias
atuais, assunto que será comentado com maior detalhe no decorrer deste trabalho. Mas
segundo (SAMPAIO, [200-], p. 50) há três versões para o apelido:
A primeira versão foi essa citada acima, pois o comércio era pequeno e
apresentava preços altos em suas mercadorias, com isso os comerciantes limpavam o bolso
dos fregueses. A outra versão é que na ocasião havia uma casa com mulheres prostitutas que
exploravam de modo particular os catingueiros que vinham para a feira, deixando-os com os
bolsos raspados. Uma outra versão para o apelido é que “na pequena feira havia um jogo de
Roleta, Jaburu, que atraia a criançada que vinha à feira com seus pais” (SAMPAIO, [200-], p.
50) Nesse jogo as crianças gastavam todo o dinheiro dos pais buscando ganhar os prêmios
oferecidos que eram galinha, peru, doces e brinquedos.
Dentre as três versões apresentadas acima, a primeira e a segunda foram
citadas por vários moradores do município, que provavelmente juntando com a terceira levou
o povoado a ter tal apelido de “Raspa Bolso”.
Com o surgimento de outras benfeitorias nas proximidades do povoado, entre
elas a estrada de rodagem ligando Santa Terezinha (antiga Tapera) a São Roque, passando por
Paraíso (atual Elísio Medrado), construída na gestão do prefeito de Santa Terezinha, José
Isidoro Santos, no ano de 1930, o local foi atraindo novos moradores e comerciantes.
52
Com isso, o povoado Paraíso foi elevado à categoria de Distrito, no dia 30 de
outubro de 1953, através do Decreto Estadual de 30 de Outubro de 1953. A partir daí o
povoado de São Francisco do Cajueiro passa a ser chamado de Souza Peixoto e perde a
condição de sede de Distrito para o novo povoado com o nome de “Novo Paraíso”. Segundo
(SAMPAIO, [200-], p. 52), “[...] Distrito era uma Unidade política do Município que tinha um
Juiz de Paz eleito por 4 anos. Normalmente era um funcionário graduado autorizado a
executar as ordens da Província”.
Com o crescimento do povoado e posteriormente Distrito Novo Paraíso,
pertencente ao município de Santa Terezinha (antiga Tapera), em 20 de julho de 1962 o
Distrito foi emancipado tornando-se município independente, através da lei nº 1741 da mesma
data, sancionada pelo Governador do Estado da Bahia, Juracy Montenegro Magalhães,
deixando de ser Novo Paraíso e passando a se chamar Elísio Medrado. O Distrito de Monte
Cruzeiro (antiga cidade de Jibóia) e o povoado de Souza Peixoto (antigo Distrito de São
Francisco do Cajueiro) que outrora tiveram um dinamismo bem maior na região, hoje se
encontram estagnados sendo apenas núcleos rurais pertencentes ao atual município de Elísio
Medrado.
A figura 28a sintetiza o quadro evolutivo do município de Elísio Medrado.
Figura 28a: Quadro evolutivo mostrando a qual município pertenceu o território do atual município de Elísio Medrado. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
53
3.4 MARCAS DO PASSADO E ALGUMAS CARACTERÍSTICAS ATUAIS DO
MUNICÍPIO
A história de uma cidade não está só registrada em documentos e arquitetura
da localidade, mas em muitas das memórias de seus moradores mais antigos que viveram a
história passada e acompanharam as transformações da localidade ao longo do tempo. Como
Elísio Medrado tem poucas fontes de pesquisas para resgatar sua história, fez-se necessário
uma observação mais detalhada de todos os resíduos do passado, seja na zona rural como na
zona urbana, além de um resgate de sua história contada por seus moradores.
A sede municipal, conhecida antigamente por Paraíso, ainda apresenta em
sua área central algumas construções feitas no início do povoamento. São construções
simples, de adobe, com portas e janelas rentes as calçadas dando acesso à rua, servindo como
residência ou comércio (figuras 29 a 32). Outras já foram substituídas por uma arquitetura
mais moderna, porém em sua maioria são construções simples, seguindo os padrões das casas
da região, sendo poucas que apresentam um melhor padrão arquitetônico. Estas residências
em sua maioria não possuem garagem, mesmo aquelas no padrão superior, os poucos carros
existentes são estacionados nas ruas, sendo poucos do município e outros de outras
localidades como Salvador, Feira de Santana e de localidades mais distantes como São Paulo
e Curitiba (figuras 33 e 34).
Figuras 29 e 30: Construção antiga feita de adobe. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
54
Figuras 31 e 32: Construções antigas que servem como moradia e comércio. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
Figuras 33 e 34: Carros estacionados na calçada e na rua, devido à ausência de garagem; e
uma das casas com um melhor padrão arquitetônico contendo garagem. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010. A tabela 1 mostra a pequena quantidade de veículos no município,
certamente esse fato ocorre devido à baixa renda da população local, que não teria condições
de comprá-los e muito menos de mantê-los em funcionamento. Os dados da tabela mostram
um índice elevado de motocicletas. Esse fato ocorre devido ao serviço de moto taxistas
presente no município, conforme figura 35. Esse transporte é utilizado principalmente pelas as
pessoas para se deslocarem da zona rural até a sede do município onde é mais difícil outro
tipo de transporte.
55
Tabela 1 – Frota de veículos em 2009.
Veículos Número
Automóveis de passeio 269
Caminhão 20
Caminhonete 36
Microônibus 6
Motocicletas 365
Motoneta 17
Ônibus 9
Fonte: IBGE – Frota 2009. Disponível em: <http://www.ibge.com.br/cidadesat/topwindow.htm?1>. Acesso em: 29 ago. 2010. Organização: Eduardo de Oliveira, 2010.
Figura 35: Serviço de moto táxi oferecido a população do município de Elísio Medrado. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
Outro fato relevante encontrado nos dados do SIDRA – Sistema IBGE de
Recuperação Automática5, é de que dos 1.336 estabelecimentos agrícolas existentes no
município apenas seis (0,45%) possuem tratores, dois (0,15%) possuem roçadeiras e apenas
5 Disponível em: <http://www.sidra.ibge.gov.br>. Acesso em: 11 nov. 2010.
56
um (0,07%) estabelecimento possui colheitadeira. Esta pouca presença de máquinas
agrícolas, como tratores, colheitadeiras, entre outros, ocorre porque grande parte dos
proprietários rurais são pequenos produtores que ainda usam instrumentos como enxada para
o plantio e a colheita é feita com as mãos, demonstrando com isso o baixo índice de
desenvolvimento agrícola do município.
Já na parte urbana do município, há também o baixo desenvolvimento com
apenas duas fábricas de beneficiamento de café e alguns pequenos comércios. Já no final da
rua principal (Rua XV de Novembro), dando acesso a Santa Terezinha, foi construído na
década de 2000 um conjunto de casas populares (figuras 36 e 37). Conforme um dos
moradores da cidade de Elísio Medrado, a construção dessas casas tem trazido ao município
o êxodo rural. Visto que essas casas deveriam ser construídas na zona rural para que a
população permanecesse no campo, sendo que na zona urbana não há trabalho para essas
pessoas. Alguns moradores revelaram que as casas populares, em sua maioria, foram
ocupadas por moradores que viviam na área urbana pagando aluguel, mas houve outros
moradores que viviam na zona rural do próprio município e alguns obtiveram acesso às casas
na administração passada. O prefeito na época oferecia casas para pessoas de cidades vizinhas
e para quem já possuía casa na cidade. Ou seja, não teve um parâmetro na oferta das casas
populares. O mais grave é que esses moradores obtiveram as casas sem a intenção de morar
ali, mas com o objetivo de vendê-las posteriormente. Observa-se que tais atitudes do prefeito
têm um caráter eleitoreiro, sendo que a população favorecida se compromete a apoiá-lo nas
eleições posteriores.
57
Figura 36: Casas populares. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
Vale ressaltar que as entrevistas realizadas foram feitas com pessoas dos
vários segmentos da sociedade e os comentários mais repetidos foram discutidos aqui. Como
o foco dessa pesquisa não é apenas o estudo das casas populares, não se fez necessário um
estudo mais aprofundado na comunidade, mas foi verificado o que foi mais relevante na
pesquisa. A grande maioria dos moradores são de pessoas que viviam na cidade e não tinham
moradia própria, porém houve casos de pessoas que deixaram a zona rural e foram morar na
cidade com a oferta das casas. E teve os casos de pessoas que obtiveram as casas com o
objetivo apenas de vender.
58
Figura 37: Casas populares. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
A cidade é toda coberta por calçamento com paralelepípedo (figura 38), até
mesmo as ruas construídas recentemente. Conta com alguns comércios simples e sem muitas
variedades como lanchonetes, minimercado, sorveteria, salão de beleza, lan house, lojas de
móveis e eletrodomésticos, roupas e comércio de construção (39 a 46).
59
Figura 38: Calçamento com paralelepípedo. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
Figura 39: Comércio da área central do Município de Elísio Medrado. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
60
Figura 40: Comércio da área central do Município de Elísio Medrado. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
Figura 41: Comércio da área central do Município de Elísio Medrado. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
61
Figura 42: Comércio da área central do Município de Elísio Medrado. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
Figura 43: Comércio da área central do Município de Elísio Medrado. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
62
Figura 44: Comércio da área central do Município de Elísio Medrado. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
Figura 45: Comércio da área central do Município de Elísio Medrado. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
63
Figura 46: Comércio da área central do Município de Elísio Medrado. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
Não existem faculdade, agência bancária, aeroporto, rodoviária, fórum,
serviços especializados, lojas de nome reconhecido regionalmente, sapatos e roupas de marcas
nacionais, concessionárias, entre outros. Esse fato ocorre principalmente porque a população
local tem um baixo poder aquisitivo, prevalecendo assim comércio simples, pequenos e com
produtos populares.
No serviço de transporte há três empresas que atuam no âmbito
intermunicipal (quadro 1). Já como serviço interestadual entra na cidade semanalmente um
ônibus da empresa EMTRAM – Empresa de Transportes Macaubense Ltda. que vai até São
Paulo, Capital. Mostrando com isso dentro da rede urbana hierárquica que há transporte
suficiente para levar a população local aos centros maiores e de maior procura, de acordo com
a demanda.
Na área da educação e cultura, a cidade tem duas escolas particulares, uma
creche, uma escola estadual que funciona com ensino fundamental de 5ª a 8ª Séries e ensino
médio com opção de Magistério ou Formação Geral. No âmbito municipal há trinta e cinco
estabelecimentos de ensino, abrangendo toda zona rural. Há grupo teatral, banda musical,
poeta, porém faltam teatro, biblioteca, museu, entre outros para incentivar os jovens a
valorizarem a cultura regional, e fazer com que a população tenha identidade com o local
64
resgatando sua auto-estima e consequentemente buscando inovações para resolver os
problemas locais.
Empresa Origem Destino Km Horário Camurugipe Elísio Medrado Salvador 224 05h30min; 08hs;
15h30min Camurugipe Elísio Medrado Santa Terezinha 34 05h30min; 08hs;
15h30min Cidade do Sol Elísio Medrado Varzedo 20 08hs Cidade do Sol Elísio Medrado São Miguel das Matas 16 08hs Cidade do Sol Elísio Medrado Santo Antônio de Jesus 38 8hs Cidade do Sol Elísio Medrado Bom Despacho 08hs José Peixoto Elísio Medrado Amargosa 30 7hs; 8hs Fonte: ELÍSIO MEDRADO, ([2009?], p. 2) Organização: Eduardo de Oliveira, 2010.
Quadro 1 – Linhas de ônibus intermunicipal. No âmbito da saúde, o município conta com pequeno hospital que funciona
como pronto-socorro, pré-natal, laboratório e consultório. Porém é importante ressaltar que o
hospital não tem centro cirúrgico e o atendimento feito na localidade é só para os casos mais
simples. Nos casos mais graves os pacientes são encaminhados para Santo Antônio de Jesus
ou Salvador, onde acabam enfrentando grandes filas à espera de um atendimento
especializado. O município conta ainda com dois laboratórios particulares para exame de
rotina, sete postos de saúde municipais, sendo que seis são distribuídos na zona rural.
Vale ressaltar que esta situação também está presente na periferia das grandes
cidades, como ausência de muitos itens mencionados anteriormente, com isso a população de
baixa renda enfrenta problemas em todas as localidades que se estabelecem, seja nas pequenas
cidades ou nos centros maiores, ficando sempre na periferia. Portanto,
com diferença de grau e de intensidade, todas as cidades brasileiras exibem problemáticas parecidas. Seu tamanho, tipo de atividade, região em que se inserem etc. são elementos de diferenciação, mas, em todas elas problemas como os do emprego, da habitação, dos transportes, do lazer, da água, dos esgotos, da educação e saúde são genéricos e revelam enormes carências (SANTOS, 2008b, p. 105).
Porém nas pequenas cidades essas problemáticas não são tão visíveis, pois a
população tem uma condição social semelhante, não havendo uma disparidade muito grande
65
entre as condições sociais das classes existentes. “Quanto maior a cidade, mais visíveis se
tornam essas mazelas” (SANTOS, 2008b, p. 105).
3.4.1 Presença de Escravidão no Município
A presença da escravidão na região que hoje abrange o município de Elísio
Medrado foi constatada através de algumas edificações presentes como grandes fazendas de
engenho, com resíduos de senzalas, mas muitos depoimentos realizados em dezembro e
janeiro (2009/2010) confirmam esse fato.
“Mamãe contava em vida que meu avô tinha um casal de escravo que
trabalhavam com eles e que com a liberdade dos negros eles não quiseram sair da fazenda, aí
meu avô passou a pagar para eles, mas continuava na fazenda morando ali.”
“Meu bisavô Chico Peixoto era o dono de todas essas terras daqui, tinha
escravo e com o tempo foi vendendo as terra da Boa Vista, ele tinha posse e poder de
influência, se ele mandasse prender alguém, esse alguém era preso até no Rio de Janeiro”.
“Aqui nessa porta era a senzala que foi destruída há muitos ano, ficou só a
porta de entrada...”
“Meu pai morreu com 102 faz um mês, ele contava muitas coisa sobre a vida
dos escravo, ele contava que teve familiar que trabalhou como escravo para fazer essa igreja e
na fazenda de Dotor Kamal. Ali na fazenda tinha corrente para prender os escravo, tinha
tronco e um quarto que era armadilha, ali morreram muito escravo e pessoa que o fazendeiro
não gostava. O fazendeiro chamava a pessoa que ele queria matar, a pessoa entrava e na
entrada do quarto tinha uma armadilha, a pessoa pisava no assoalho e caia em um buraco
fundo e cheio de lança e ali o corpo ficava. O dono de agora tampou o buraco para evitar
acidentes, mas tiraram muito osso de gente de lá de dentro do buraco”.
“A fazenda mais antiga daqui dessa região acho que era a de Augusto
Medrado, lá tinha corrente, senzala e tronco, mas o dono destruiu tudo depois que ganhou na
loteria”.
“Meu pai contava que para fazer essa igreja cada escravo carregava um adobe
de tão grande que é”.
66
Os depoimentos descritos acima foram de moradores do município de Elísio
Medrado, dos povoados de Monte Cruzeiro, Boa Vista, Limoeiro, entre outros.
3.4.2 O Cultivo do Café
Segundo alguns vestígios observados na região, percebe-se que havia
algumas grandes propriedades de café, que foi substituindo a cultura da cana-de-açúcar, mas
já existiam pequenos proprietários na região. Porém, era Amargosa que comandava a
produção cafeeira na região e que, naquela época, era chamada de “Pequena São Paulo”,
devido a grande produção de café. Alguns vestígios como terreiro de café ainda são
encontrados na região, mas os depoimentos vêm reforçar essa evidência:
“Aqui era só café, as mulher saia para apanhar o café era aquela cantoria: ‘eu
vou prantar café, pra depois colher, no final do verão eu vô vender’. Outra cantoria era assim:
‘A tropa vem de cima, a cabeçada já bateu, meu coração tá de luto foi meu benzinho que
morreu’. A gente apanhava o café e cantava o dia todo, tem outra que também dizia: ‘ café é
bem de raiz, pasto é bem feitoria, quem tem café tem dinheiro e quem não tem pasto não cria’.
Lembrei de outra música: ‘eu queria ser balaio para apanhar o café e andar dependurado na
cintura da mulher’...”.
“Aqui tinha as fazenda grande de café, mais o pobre também prantava sua
moitinha e no dia de sábado ia meus irmão, eu, minha mãe e meu pai, cada um levava um
pouco de café no saco e vendia em Castro Alves, a gente ia a pé e levava um burro com mais
coisa”.
“As veis as pessoa se juntava para pegar o café de um vizinho, a gente fala
‘robo’, quando chegava na prantação de café as pessoa sortava um fuguete para avisar o dono.
O proprietário preparava o armoço, matava galinha, porco e todo mundo ia comer no fim da
colheta, aí a festa começava e ia até artas horas da noite”.
67
4 FORMAÇÃO DA REDE URBANA E O MUNICÍPIO DE ELÍSIO MEDRADO
Este capítulo busca caracterizar o espaço do município de Elísio Medrado
dentro da região do Recôncavo Sul da Bahia (figura 47). Para tanto, em uma primeira
abordagem, foi necessário entender como ocorreu a formação da rede urbana na espacialidade
do município, no início de sua colonização. Num segundo momento, buscou-se compreender
a dinâmica funcional na atualidade, com o objetivo de compreender sua importância na rede
urbana regional, analisando sua influência na região. Para isso fez-se necessário o estudo
sobre a problemática dos comerciantes, a feira da cidade, entre outros.
Figura 47: Mapa da Região Econômica do Recôncavo Sul da Bahia. Fonte: SANTOS (2005, p. 10).
68
4.1 INÍCIO DA FORMAÇÃO DA REDE URBANA E/OU O MUNICÍPIO DE ELÍSIO
MEDRADO
O município de Elísio Medrado fica localizado na Região Administrativa do
Recôncavo Sul. Foi nessa região onde ocorreu o início da rede urbana aqui no Brasil. Como
coloca Milton Santos (1959) apud (HENRIQUE, 2009, p. 188), “[...] foi no Recôncavo Baiano que se constituiu a primeira rede urbana no Brasil, impulsionada pelo papel de
destaque na economia colonial e mesmo durante o período imperial.”
Com isso ela foi pioneira na formação econômica baiana e brasileira, foi a
fertilidade de suas terras e ajuda dos elementos naturais, principalmente do Rio Paraguaçu,
que fez com que a sociedade mercantil portuguesa formasse o primeiro complexo de
exportação do país. “A organização territorial e a distribuição espacial dos habitantes na
região tiveram como base uma atividade eminentemente rural, sendo o engenho de açúcar o
aglutinador de pessoas em seu entorno” (LINS, 2007, p. 51).
A atividade ligada aos engenhos de açúcar era de cunho agrário exportadora,
a produção de açúcar foi iniciada com o cultivo nas áreas mais próximas do litoral para que a
produção fosse escoada pelo porto de Salvador e em seguida foi expandindo para o interior
(LINS, 2007, p. 51).
A região teve um passado com um dinamismo atuante, porém vive em
período de estagnação econômica. Fonseca (apud LINS, 2007, p. 51) faz um resumo da
trajetória econômica da região em estudo:
1) o sistema escravista agrícola, com alto grau de eficiência no uso do capital até o século XVI e seu declínio no século seguinte pontuado por ocorrências de recuperações parciais. agravando-se, todavia, pela opção portuguesa em relação ao Rio de Janeiro.
2) o desgaste da produção agro-mercantil. em decorrência de influências internacionais, resultantes do enfraquecimento de Portugal no cenário europeu, aliadas à rigidez da estrutura escravista, à monocultura e à perda de posição estratégica em relação à região do ouro. 3) a introdução da cultura do fumo e a diversificação do sistema produtivo com a implantação das primeiras plantas industriais na segunda metade do século XIX. Tudo isso aliado à saída do capital da região dirigido ao extrativismo, à industrialização e a outros interesses fora de suas fronteiras. 4) a decadência da região em seu conjunto já no início do século XX. Com a quebra definitiva da produção açucareiro e fumegueira, aliadas aos investimentos subsequentes no petróleo e nos seus derivativos.
69
A ocupação do estado da Bahia começou, inicialmente, com a chegada dos
portugueses em 1500. Pela facilidade de navegação, as regiões próximas a Bahia de Todos os
Santos foi sendo ocupada, inicialmente em busca de pedras preciosas, exploração do pau-
brasil, mas foi com o plantio da cana-de-açúcar que o processo de ocupação se intensificou.
A ocupação da então área que hoje pertence ao município de Elísio Medrado
iniciou-se com a chegada dos bandeirantes chefiada por Gabriel Soares de Souza, no final do
século XVI. A navegação via Rio Paraguaçu facilitou a entrada do homem branco na região,
embora esse rio não banhe as terras do município em estudo, mas corta o atual município de
Santa Terezinha, o qual faz limite com Elísio Medrado. “Os armazéns localizados nas
margens do Paraguaçu eram marcantes na paisagem urbana e simbolizavam o papel
econômico da cidade como o entreposto comercial entre o litoral e o ‘sertão’ brasileiro”
(HENRIQUE, 2009, p. 188).
O atual município de Elísio Medrado teve sua organização espacial
estruturada numa economia baseada nos engenhos de cana-de-açúcar, no café e no fumo, até
os meados do século XX. O Recôncavo até a primeira metade do século XX tinha uma
importância econômica, desempenhava um papel de integração entre o litoral baiano e o
sertão, tendo o sistema de ferrovia que lhe permitia essa articulação.
O Ramal da Estrada de Ferro Nazaré serviu para dinamizar a comercialização
e exportação do café. Período que se iniciou no final do século XIX e perdurou até a década
de 1930 (LINS, 2007, p. 66). A tabela 2 mostra uma queda no lucro da ferrovia, sendo que a
partir de 1945 a empresa que administrava a estrada de ferro passou a acumular saldo
negativo em suas operações.
Foi com a construção da BR-101 e BR-116 e a falência da ferrovia que
municípios como Elísio Medrado, Amargosa e São Miguel das Matas ficaram relativamente
isolados, pois ficam fora do entroncamento rodoviário. “A esta fase é definida como ‘ilha
inércia’, denominação dada pelo Prof. Milton Santos no ano de 1963, devido a sua estagnação
econômica e social” (LINS, 2007, p. 66).
70
Tabela 2 – Movimentação financeira da empresa Estrada de Ferro de Nazaré/1931-1969 (em réis, entre 1931-1945; 1946-1969, em cruzeiros).
Fonte: LINS (2007, p. 99).
Com a decadência do café, a falência da estrada de ferro e a criação de
rodovias fizeram com que toda a região ficasse estagnada, com isso, municípios como Elísio
Medrado, Amargosa, entre outros ficaram em uma ilha cercada por rodovias federais, como
mostra a figura 48.
71
Figura 48: Estrutura viária da Região de Amargosa Bahia – 1960. Fonte: LINS (2007, p. 101). Adaptação: Eduardo de Oliveira, 2010.
Atualmente a economia do município de Elísio Medrado é baseada na
agricultura e na pecuária, a maioria da população está inserida nas culturas de subsistência,
sendo a mandioca a mais importante.
Grande parte dessas pessoas são descendentes de africanos e índios e por isso
vale ressaltar a importância desses povos, sendo que os africanos chegaram à região na
condição de escravos para trabalhar nas fazendas de cana-de-açúcar e na cultura do café. “As
marcas desse povo estão em toda parte, seja na religiosidade, ritmos musicais e na forma de
produção das culturas de subsistências, principalmente na cultura da mandioca” (LINS, 2007,
p. 71).
Toda essa região foi sendo ocupada por fazendeiros donos de engenhos, que
cultivavam principalmente a cana-de-açúcar, tendo como mão-de-obra os índios escravizados
e principalmente os negros vindos da África, evidências ainda são possíveis de serem
encontradas no território de Elísio Medrado, entre elas estão algumas fazendas que nas suas
estruturas mostram sua funcionalidade por volta do século XIX.
72
Uma delas, a do atual proprietário Kamal Elílio Chaoul, fica situada numa
área plana, tendo a sua frente (lado leste) gramado com árvores como jenipapo e flamboyants,
sendo possível a observação de toda a Serra da Jibóia e o povoado de Monte Cruzeiro, ao
sopé da serra (figuras 49 e 50). Essa casa, segundo relatos de moradores, foi construída na
segunda metade do século XIX, havia plantações de café na primeira metade do século XX e
no seu interior há vestígios do período da escravidão, com porões, área de castigo para os
escravos, entre outros relatados pelos moradores de Monte Cruzeiro.
Figura 49: Fazenda Estiva do Sr. Kamal Elílio Chaoul. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
73
Figura 50: Árvores de Flamboyants e ao fundo a Serra da Jibóia (Fazenda Estiva). Autor: Eduardo de Oliveira, 2010. Muitos dos moradores revelaram que seus avós eram escravos da Fazenda
Estiva e até de outras existentes na localidade, porém já haviam sido demolidas. “O mais
antigo proprietário de que se tem notícia foi o Pe. Gustavo, vindo a seguir uma viúva de nome
D. Virgínia e a fazenda fica para seu genro Ramiro Sales, que por sua vez a vendeu a Odilon
Sampaio. Posteriormente é adquirida por Pedro Costa 1973 – Neste ano, Kamal Emílio
Chaoul, atual proprietário, adquire a fazenda [...]” (SAMPAIO, [200-], p. 95).
Uma outra propriedade fica localizada no povoado Limoeiro, nas
proximidades do povoado Souza Peixoto (antigo Cajueiro ou Acaju), a antiga fazenda foi
construída em 1912 (figura 51), porém relatos de antigos moradores revelam que antes dessa
construção havia uma outra que funcionava como engenho e havia escravos. Nessa
propriedade, no início do século XX, funcionava uma loja e armazém para compra de café e
fumo dos proprietários rurais da região, além de um terreiro para secagem de café e uma
antiga casa de farinha. Apesar da casa se encontrar em ruína, mostra que era de alto padrão
para a época, pois apresenta decorações artísticas nas paredes internas e amplos espaços com
piso de lajotas feito de barro cozido (figuras 52 e 53).
74
Figura 51: Fazenda do povoado Limoeiro do ano de 1912. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
Figuras 52 e 53: Decoração artística na parede interna da fazenda do povoado Limoeiro do
ano de 1912, e piso de lajota feito de barro cozido. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
Já a fazenda Rio Vermelho (figura 54) fica localizada nas proximidades do
entroncamento de Elísio Medrado, quase fazendo limite com o atual município de São Miguel
das Matas. A casa da Fazenda Rio Vermelho fica localizada em um terreno plano. Com ampla
varanda onde é possível visualizar a Serra da Jibóia, atualmente grande parte da propriedade é
recoberta com pastagem para gado. Ao sul da casa há uma plantação de cana e ao fundo do
vale, o Rio Vermelho que serve de limite entre os atuais municípios de Elísio Medrado e São
75
Miguel das Matas. Ao lado norte da casa encontra-se um engenho de cana, ainda em
funcionamento e mantém todo seu equipamento original da segunda metade do século XIX
(figura 55). Na chaminé do engenho indica o ano de sua construção que é de 1861, na fachada
principal da casa indica que sua construção foi posterior ao engenho, 20 de abril de 1866. Não
foi possível levantar dados dos seus primeiros proprietários, porém no seu interior há indícios
de escravidão, como lugar para aprisionar os escravos. O atual proprietário é Leonel Souza
Argolo que adquiriu a fazenda em 1973.
Figura 54: Fazenda Rio Vermelho. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
76
Figura 55: Equipamento para moagem da cana pertencente à Fazenda Rio Vermelho. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
Construções como essas revelam que no século XIX havia grande demanda
de cana-de-açúcar, rapadura e aguardente na região, porém era precário o sistema de
transportes, sendo usado tropas de animais para transportar os produtos que eram levados até
o trem na estação do Cajueiro (atual Souza Peixoto). Outra opção era ir até a cidade de Nazaré
e de lá era transportado até Salvador. Já com o fim da escravidão houve a decadência desses
engenhos e os cafezais dominaram a região, o que certamente impulsionou o crescimento do
povoado Paraíso.
No contexto da expansão territorial dos canaviais, os povoados da região
também se expandiram, além da cafeicultura que veio posteriormente ocupar o lugar dos
canaviais. Por exemplo, no ano de 1870 o estado da Bahia contava com 75 municípios, e no
ano de 1889 (ano da Proclamação da República) na Bahia havia 98 municípios (SAMPAIO,
[200-], p. 33).
Com a implantação da ferrovia e o fim da escravidão,
a medida que a economia cafeeira se expandia, criava-se as condições para sua própria transformação. Aumentava cada dia a população rural, o número de cidades, a população urbana, a extensão da rede ferroviária que no conjunto passava a dar sinais de transformação (FRESCA, 1994, p. 8).
77
Com isso, a agricultura tende, no início do século XX, a se diversificar cada
vez mais, visto que a demanda de matéria-prima aumentava cada vez mais devido ao aumento
de cidades e povoados, “além disto, a agricultura passava a produzir matéria-prima para a
indústria que se intensificava [...]” (FRESCA, 1994, p. 8).
Nesse período a estrutura regional montada teve como base econômica a
exploração das atividades primárias, voltadas para o mercado externo, culturas como cana-de-
açúcar, café e fumo. Milton Santos (1963) coloca que (apud LINS, 2007, p. 72)
algumas culturas tradicionais do Recôncavo ali se instalaram: em pequena escala, a mandioca e a cana de açúcar. O fumo, a mais antiga dessas lavouras, é mais intensamente cultivado; parece que, recuou para o litoral na segunda metade do século XVIII, atingindo o município de Castro Alves, depois Amargosa. O café sombreado veio de Maragogipe e espalhou-se, largamente, pelas encostas íngremes, que foram plantadas como culturas de subsistência e para alimentar pequenas casas de farinha, alambiques e engenhocas de fraca produção [...].
Foi com a libertação dos escravos em 1888 que o café tornou-se o produto-
base da economia da região. Vários foram os fatores que favoreceram o seu cultivo como
coloca Lins (2007, p. 72):
1- Os fatores naturais – o cafeeiro se adaptou bem ao clima e relevo da
região, sobretudo nas zonas de terras altas de topos aplainados.
2- Alto valor econômico no mercado – a alta cotação do café no mercado
internacional estimulou os fazendeiros a investir na lavoura cafeeira.
3- Tipo de povoamento da região – os imigrantes europeus que ali se
estabeleceram tinham experiência na cultura do café, além disso, os
africanos libertos e os retirantes nordestinos eram mão-de-obra barata e
estavam habituados a trabalhar na terra.
Nesse período os municípios do Recôncavo intensificaram as relações
espaciais dentro da economia cafeicultora. “Desta forma, a região se insere dentro da
economia hegemônica vigente no país no começo do século XX” (LINS, 2007, p. 73).
O café era sinônimo de prosperidade e progresso e “[...] onde se estabelecia
gerava riqueza e estimulava o surgimento de infra-estruturas” (LINS, 2007, p. 73). No caso da
região em estudo, percebe-se que houve investimentos em relação ao sistema viário para
78
escoamento da produção do café, além de surgimento de bancos e armazéns para compra do
café.
Vale lembrar que o território que é o atual município de Elísio Medrado, teve
seu primeiro núcleo denominado de Jibóia, que é o atual povoado de Monte Cruzeiro e o
escoamento da produção das fazendas de engenhos eram feitos pelo lado norte do município,
passando por Castro Alves. Este se formou devido a produção da cana-de-açúcar e os
engenhos. Já o segundo povoado denominado de Cajueiro se formou, como já foi comentado
anteriormente devido a construção da ferrovia que ligava Amargosa a Nazaré. Nesse segundo
momento da história, percebe-se que foi a cultura do café que impulsionou o surgimento do
povoado, hoje denominado de Souza Peixoto, sendo que os proprietários das fazendas
cafeeiras faziam o escoamento da produção via ferrovia.
Contudo, percebe-se que nos dois momentos da história do ciclo agrícola
brasileiro, houve dois períodos distintos: o primeiro povoado se desenvolveu bem, chegando
ao auge da região, porém no segundo momento da história percebe-se que o povoado de
Cajueiro que chegou a ser Distrito de Amargosa, sempre esteve ligado a Amargosa.
Já no outro povoado de Paraíso, que deu origem ao município de Elísio
Medrado, nota-se que se desenvolveu principalmente motivado pelo comércio local, mas em
nenhum momento chegou a estar no topo da hierarquia urbana. É notório por suas construções
urbanas que as pessoas que ali residiam tinham baixo poder aquisitivo, até mesmo as casas
comerciais.
Diferentemente da cidade de Amargosa que tem suas casas antigas,
localizadas no centro da cidade, próximas a Igreja Matriz (Catedral Nossa Senhora da
Conceição, datada no ano de 1917) e são de alto padrão para a época: com eira, beira, frente
decorada, com estátuas entre outros. Assim, sendo superior as casas do centro de Elísio
Medrado, o que faz entender que a elite morava na área urbana de Amargosa e em Elísio
ficava a população de baixa renda. As casas seguem uma datação que vai de 1917 a 1954,
localizadas da igreja até a Praça do Cristo, não havendo vazio urbano, ou seja é possível que
não houvesse uma preocupação com a valorização do local. Vale ressaltar que não mais
existem todas as casas de 1917 até 1954, mas a sequência hierárquica faz pensar assim de que
um dia elas existiram.
Afastando-se da área central de Amargosa, encontra-se uma antiga estação
ferroviária e em sua proximidade algumas residências as margens da antiga linha do trem,
estas residências são bem semelhantes as do centro de Elísio Medrado. Com essas
observações feitas percebe-se que Elísio Medrado fazia parte da periferia da cidade de
79
Amargosa e que na época já havia segregação espacial, mostrando com isso que a elite
regional concentrava-se na área central da cidade de Amargosa. Esse comentário baseia-se em
uma observação preliminar dos aspectos físicos da cidade de Amargosa, cabendo um estudo
mais aprofundado para se confirmar ou não esta hipótese levantada.
Contudo na, zona rural do município de Elísio Medrado ainda se encontram,
como foi citado anteriormente, grandes fazendas, mostrando que no passado foram de grande
importância para a região. Porém, seu sistema viário sempre foi precário, dificultando o
escoamento da produção, sendo necessário usar animais em tropas para levar a produção até a
estação mais próxima que nesse caso era a do Cajueiro.
4.2 A REDE URBANA E A DINÂMICA FUNCIONAL DE ELÍSIO MEDRADO NA
ATUALIDADE
Este ítem busca caracterizar o município de Elísio Medrado dentro do espaço
regional econômico do Recôncavo Sul da Bahia. Dentre as 15 regiões econômicas (figura 56),
a região do Recôncavo Sul é uma das principais regiões econômicas do estado, sendo uma das
primeiras a ser colonizada, servindo como acesso dos portugueses no período do
descobrimento do Brasil. “A herança desta época pode ser constatada através das diversas
cidades seculares de grande importância histórica num contexto nacional, a exemplo de
Cachoeira, Nazaré [...]” (LINS, 2007, p. 49-50).
80
Figura 56: Regiões Econômicas do estado da Bahia e seu desenvolvimento Fonte: LINS (2007, p. 47).
Atualmente a região compreende 33 municípios. Amargosa, Aratuípe,
Brejões, Cabaceiras do Paraguaçu, Cachoeira, Cruz das Almas, Castro Alves, Conceição do
Almeida, Dom Macedo Costa, Elísio Medrado, Governador Mangabeira, Itatim,
Jaguaripe, Jiquiriçá, Laje, Maragogipe, Milagres, Muniz Ferreira, Muritiba, Mutuipe,
Nazaré, Nova Itarana, Salinas da Margarida, Santa Terezinha, Santo Amaro, Santo Antônio
de Jesus, São Felipe, São Félix, São Miguel das Matas, Sapeaçu, Saubara, Ubaíra e
Varzedo.
4.2.1 Alguns Dados Econômicos e Sociais de Elísio Medrado
Entre estes 33 municípios, que formam a região do Recôncavo Sul, o ponto
de partida para o presente estudo é Elísio Medrado. Este está ligado aos seus limites dispondo
de estradas asfaltadas. Da sede do município ao entroncamento são 6 km de distância, o qual
está ligado a BA-046 que liga Santo Antônio de Jesus (Leste) a Amargosa (Oeste). Esta é a
81
principal via de acesso que liga Elísio Medrado a vários Municípios, além da BR-101. É um
dos menores municípios do Estado da Bahia em extensão territorial. Sua área abrange, cerca
de 199,54 km².
O quadro 2 mostra alguns dados geográficos do município de Elísio
Medrado.
Latitude 12º 56’ 45,60” Sul
Longitude 39º 31’ 19,20” Oeste
Área 199,54 km2
Distância da capital (Salvador) 224 km (Salvador)
Distância de Amargosa 22 km
Distância de Santo Antônio de Jesus 38 km
Fonte: IBGE (2009, p. 5). Organização: Eduardo de Oliveira, 2010. Quadro 2 – Dados geográficos do município de Elísio Medrado.
Segundo o sítio do IBGE, o município possuía em 2007 o total de 62
empresas, ocupando a posição de nº 362 entre os 417 municípios existentes no estado da
Bahia.
No que se refere à renda, no Censo Demográfico de 2000 é apresentado um
percentual de 42,93% das famílias que ganham até meio salário mínimo, sendo maior que o
percentual do estado e do país (IBGE, 2009, p. 4), mostrando assim que é um município com
alto índice de pobreza. No sítio do IBGE, no ano de 2003, no mapa de pobreza e
desigualdade entre os municípios brasileiros, o município de Elísio Medrado apresentava um
índice de Gini de 0,37, sendo que o limite inferior e superior do estado é apresentado os
valores de 0,33 e 0,41 respectivamente.
Entre os anos de 1980 a 2000 a população economicamente ativa do
município em estudo melhorou seu rendimento (tabela 3), visto que caiu o número de pessoas
sem rendimentos, aumentando nos demais. Mas dos 6.492 ativos grande parte estão sem
rendimentos ou ganham até um salário mínimo. Estes dados revelam uma população
economicamente pobre em sua grande maioria.
82
Tabela 3 – Rendimento médio mensal da população economicamente ativa: 1980 e 2000
Rendimento médio mensal 1980 2000 Nº % Nº %
Até 1 salário mínimo 2030 37,03 2773 42,72De 1 a 2 salários mínimos 282 5,15 847 13,05De 2 a 5 salários mínimos 175 3,20 264 4,07De 5 a 10 salários mínimos 33 0,60 86 1,32De 10 a 20 salários mínimos 3 0,05 32 0,49Mais de 20 salários mínimos 3 0,05 13 0,20Sem rendimentos 2915 53,17 2477 38,15Sem declaração 41 0,75 - 0,00Total 5482 100,00 6492 100,00Fonte: IBGE (1994, p. 240); IBGE – Censo Demográfico. Disponível em: (http://www.ibge.com.br/cidadesat/topwindow.htm?1). Acesso em: 29 ago. 2010. Organização: Eduardo de Oliveira, 2010. O município possui apenas dezesseis propriedades com mais de 200 hectares
(ha). Grande parte do território é ocupado por pequenos agricultores, com isso o município
tem uma densidade demográfica alta que é de 39,63 habitantes/km² (IBGE, 2009, p. 5), sendo
que a média baiana é de 23,16 habitantes/km² (LINS, 2007, p. 52). A tabela 4 a seguir mostra
que há predominância de pequenos estabelecimentos, sendo que sua maioria tem menos de 1
ha, totalizando 36,08%. Outro dado relevante é que 81,31% dos estabelecimentos tem menos
de 10 ha, esse dado mostra que o município é formado de pequenos produores rurais. Porém,
é importante ressaltar que segundo os dados do IBGE há alguns grandes estabelecimentos,
sendo que dois estão acima de 500 ha, porém os valores da área não são identificados porque
há menos de três informantes conforme sítio do IBGE.
Em pesquisa de campo fica evidente as pequenas propriedades administradas
pelos próprios proprietários rurais, porém há algumas propriedades, destinadas a criação de
gado para corte, que os donos não residem no município. Muitos deles são medradenses6 que
tem comércio em cidades maiores e com reserva de dinheiro compram propriedades e
promovem a concentração de terra, embora em pequena escala. Ou seja, a tabela abaixo
confirma que apesar do predomínio dos pequenos produtores, que possuem 1.317
estabelecimentos com até 200 ha, perfazendo um percentual de 62%, a terra é concentrada,
pois os 16 estabelecimentos com mais de 200 ha concentram 38% das terras.
6 Designação dada aos nascidos no município de Elísio Medrado.
83
Tabela 4 – Estrutura fundiária do município de Elísio Medrado – 2006
Faixas de Área (ha) Estab. % Área %
Mais de 0 a menos de 1 ha 481 36,08 271 1,31
De 1 a menos de 5 ha 472 35,40 1.071 5,18
De 5 a menos de 10 ha 131 9,83 924 4,47
De 10 a menos de 100 ha 201 15,08 6.131 29,66
De 100 a menos de 200 ha 32 2,40 4.459 21,57
De 200 a menos de 500 ha 14 1,05 4.245 20,53
De 500 ha e mais 2 0,16 X 17,28
Total 1.333 100,00 17.101 100,00
Fonte: IBGE – Censo Agropecuário. Disponível em: <http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?c=854&z=t&o=11&i=P>. Acesso em 05 set. 2010. Obs.: A letra X representa dados ausentes na tabela do IBGE. Organização: Eduardo de Oliveira, 2010. Conforme informações do Censo Agropecuário de 2006, no sítio do IBGE, a
maioria da população ativa do município em sua maioria trabalha nas atividades de
agropecuária, sendo 1.096 mulheres e 2.064 homens. Totalizando 3.160 trabalhadores rurais,
o que representa 38,62% da população geral residente no município.
As características econômicas, tanto na agricultura quanto na pecuária; as
produções e criações são voltadas mais para o consumo interno.
A população total estimada para o ano de 2009 era de 8.183 habitantes e, de
acordo com a tabela 5, nota-se que a população total do município teve um decréscimo no ano
de 1980 em relação a 1970. Outro dado observado na tabela é o aumento da população urbana
em todas as décadas, muito embora a população rural ainda seja superior a população urbana.
Tabela 5 - População Urbana e Rural nos períodos de 1970 a 2000
Ano Urbana % Rural % Total %1970 912 10,57 7716 89,43 8628 100,001980 1038 13,45 6675 86,55 7713 100,001991 1995 25,46 5840 74,54 7835 100,002000 2514 31,99 5346 68,01 7860 100,002009* - - - - 8183 100,00Fonte: IBGE (1994, p. 238); IBGE (2009, p. 2); IBGE – Estimativa da População 2009. Disponível em: <http://www.ibge.com.br/cidadesat/topwindow.htm?1>. Acesso em: 29 ago. 2010. (*): População estimada. Organização: Eduardo de Oliveira, 2010.
84
Na parte educacional, o município apresentava 94,88% de pessoas
freqüentando curso de nível fundamental (população entre 7 e 14 anos de idade), colocando o
município em situação superior à estadual e à nacional, porém 25,97% da população acima
de 25 anos apresenta sem instrução ou tem menos de um ano de estudo. Mas a maioria da
população acima de 25 anos (52,52%) tem de 1 a 4 anos de estudo (IBGE, 2009, p. 4). Esses
dados mostram pouca instrução para grande parte da população, porém quanto às crianças e
adolescentes os dados mostram que a freqüência escolar tem melhorado no município. Os
dados atuais do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), constantes na tabela
6, mostram que o município atingiu o terceiro melhor índice (4ª série ou 5º ano) da região,
ficando a frente de cidades mais desenvolvidas como Amargosa, Santo Antonio, Cruz das
Almas, Castro Alves, entre outras; atingindo uma média de 4.1 para o ensino de 4ª série ou 5º
ano, e para o ensino de 8ª série ou 9º ano atingiu a média de 3.1, ocupando ao lado do
município de São Miguel das Matas a sétima posição, ficando novamente a frente das cidades
citadas, exceto Santo Antonio de Jesus que obteve 3.2. Esses dados mostram que o ensino das
séries iniciais, do ensino fundamental, tem melhorado muito no município se sobressaindo em
relação às demais cidades circunvizinhas.
O maior peso na economia municipal está associado à administração pública
devido ao elevado número de pessoas ocupadas neste setor (IBGE, 2009, p. 4). Porém, este
setor possui uma diversidade muito baixa na oferta de atividades. há muita gente trabalhando
em uma só área, abrangendo mais a educação e serviços gerais. Outro setor relevante,
observado nos dados do IBGE de 2000, que coloca o município acima da média nacional, é a
iluminação elétrica (99%), pavimentação (90%) e abastecimento de água (96%) na área
urbana (IBGE, 2009, p. 4). A iluminação elétrica e o abastecimento de água abrangem
também grande parte da área rural. A área central do município, caracteriza-se pelo uso
intensivo do solo, com maior concentração de atividades econômicas, com uma escala
horizontal.
Esses dados acima mostram dois pontos contraditórios. Se por um lado o
município é abastecido com água, energia elétrica e pavimentação, que são elementos
essenciais para o desenvolvimento social, por outro lado percebe-se a existência de uma
população pobre e analfabeta ou com baixa escolaridade.
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Tabela 6 – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) – 2009 MUNICÍPIO 4ª SÉRIE OU 5º ANO 8ª SÉRIE OU 9º ANO Amargosa 3.7 2.3 Aratuípe 3.6 3.2 Brejões 3.4 3.0 Cabaceiras do Paraguaçu 2.9 2.7 Cachoeira 3.3 2.5 Cruz das Almas 3.8 2.8 Castro Alves 3.3 2.9 Conceição do Almeida 4.0 2.7 Dom Macedo Costa 4.6 3.3 Elísio Medrado 4.1 3.1 Governador Mangabeira 3.7 2.7 Itatim 3.3 1.8 Jaguaripe 4.8 --- Jiquiriçá 3.1 3.4 Laje 3.5 2.6 Maragogipe 3.3 2.6 Milagres 3.4 2.9 Muniz Ferreira 3.3 3.2 Muritiba 3.9 2.7 Mutuipe 3.7 2.9 Nazaré 3.5 2.6 Nova Itarana 3.2 2.5 Salinas das Margaridas 3.6 2.9 Santa Terezinha 3.2 3.8 Santo Amaro 3.3 3.0 Santo Antônio de Jesus 3.9 3.2 São Felipe 3.1 2.3 São Félix 3.0 2.6 São Miguel das Matas 3.7 3.1 Sapeaçu 3.0 2.5 Saubara 3.8 2.6 Ubaíra 3.8 2.9 Varzedo 2.6 2.2 Fonte: BRASIL (2010). Organização: Eduardo de Oliveira, 2010.
Com os dados citados acima, dentro dessa pesquisa, considera-se o município
como pequeno. Pois “segundo o tamanho as cidades diferenciam-se de acordo com o número
de seus habitantes ou segundo agregados econômicos distintos, com base, por exemplo, no
valor da produção industrial e da receita do comércio e serviços e a renda de seus habitantes”
(CORRÊA, 2003, p. 135), e Elísio Medrado apresenta estas características citadas pelo autor.
Segundo relatório do IBGE sobre a Divisão do Brasil em Regiões Funcionais
Urbanas, que pretende mostrar as relações que as cidades mantêm através de bens e serviços.
86
O município de Elísio Medrado encontrava-se na rede urbana de Amargosa (IBGE, 1972, p.
53). Nesta localidade, os produtores rurais e a população local poderiam vender parte de sua
produção e adquirir outros bens e serviços na cidade de Amargosa, conforme suas
necessidades. No entanto, na atualidade, é fácil perceber que o município de Amargosa não é
o único a fazer parte desta rede urbana, pois a população de Elísio Medrado também se
desloca com mais freqüência para o município de Santo Antônio de Jesus, tendo em vista que
neste município o comércio é mais dinâmico e é possível encontrar grandes redes do comércio
nordestino instalados nesta localidade.
O estudo mais recente do IBGE (2008, p. 55) - Região de Influência das
Cidades, confirma o que foi constatado em campo; de que o município de Elísio Medrado
(Centro Local) está inserido na rede urbana do município de Santo Antônio de Jesus (Centro
Sub Regional A).
Santo Antônio de Jesus está apenas a 38 km distante de Elísio Medrado.
Amargosa fica mais próxima, com apenas 30 km de distância. O acesso a ambos os
municípios se dá através da rodovia BA-046. Na atualidade há várias opções de transportes
rodoviários para ambas as cidades como ônibus, carros para fretes, moto táxis, vans que
fazem linha, entre outros. Têm todas estas opções diariamente e conforme a necessidade de
busca de bens e serviços a população sempre se desloca para uma das duas cidades.
Percebe-se que devido a grande variedade da feira de Amargosa,
principalmente aos sábados, a população se desloca para fazer compras semanais nessa cidade
pois, com a facilidade de transporte e o preço acessível da passagem, os moradores preferem
ir até Amargosa, visto que o comércio de Elísio Medrado ainda tem pouca opção de produtos,
além da crença de que é tudo mais caro.
A feira de Amargosa fica localizada no centro da cidade, sua origem é antiga
e tem a ver com o surgimento do núcleo urbano, ganhando mais importância com a
construção da estrada de ferro. De acordo com Weber (apud LINS, 2007, p. 86) “o
aparecimento das cidades está relacionado estreitamente com as feiras, que representavam o
embrião de uma nova aglomeração humana a partir da atividade comercial”. Essa feira tem
uma importante concentração de fluxo de pessoas e mercadorias, intensificando as relações
comerciais e sociais de Amargosa com outros municípios, entre eles está Elísio Medrado.
Pode-se afirmar que a feira livre de Amargosa, é um dos principais elementos que coloca o
município como um centro com mais dinamismo que o seu entorno.
87
Embora a feira de Amargosa tenha opções muito variadas, além do maior
número de supermercados, o município não se destaca como grande produtor agrícola da
região do Recôncavo Sul, sendo que no ano de 2005,
Brejões, com seus mais de 23 milhões de reais gerados pelas plantações, é a maior economia agrícola regional, respondendo por mais de um terço das divisas criadas pelo setor. São Miguel das Matas vem em segundo lugar, com um quarto da geração de riqueza agrícola regional, ou seja, 17 milhões de reais. Amargosa e Santo Antônio de Jesus são o terceiro e quarto lugar, com 10 milhões e 7 milhões, respectivamente, sendo que este último tem praticamente a mesma área plantada de Brejões, mesmo tendo uma produção mais diversificada (LINS, 2007, p. 125).
Com isso, é possível afirmar que muitos feirantes vêm de outros centros
urbanos da região para comercializar seus produtos na feira de Amargosa, mas é importante
destacar que grande parte dos moradores de Elísio Medrado se deslocam até Amargosa para
consumir produtos principalmente de primeira necessidade. Muitos desses consumidores são
aposentados e aproveitam para sacar a aposentadoria mensal nos bancos de Amargosa e
conseqüentemente aproveitam a ocasião para fazer compras na cidade.
Atualmente, dentro dessa hierarquia urbana regional também acontece um
grande deslocamento da população de Elísio Medrado para o centro maior que é Santo
Antônio de Jesus, embora com uma finalidade um pouco diversificada, buscando produtos
como eletrodomésticos, móveis, especialidades no serviço de saúde, vestimentas, entre outros.
Milton Santos em seu trabalho A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo,
Razão e Emoção, menciona sobre o passado e o presente das redes. Para o autor a “[...]
sucessão não é aleatória. Cada movimento se opera na data adequada, isto é, quando o
movimento social exige uma mudança [...]” (SANTOS, 2004, p. 263). Milton Santos (apud
CUNHA, 2002, p. 266) complementa que “ mediante as redes, há uma criação paralela e
eficaz da ordem e da desordem no território, já que as redes integram e desintegram, destroem
velhos recortes espaciais e criam outros”.
Numa primeira análise, é possível entender que no ano de 1972 a população
de Elísio Medrado, tinha em Amargosa o seu ponto de referência para realização das
demandas diárias de trabalho, estudo e outras demandas sociais e econômicas.
O ponto mais positivo para aquela época, deveria ser a distância e as vias de
acesso. É de se imaginar que naquela época as estradas eram precárias e que ir para
localidades mais próximas era a melhor opção. Hoje, com o avanço tecnológico e os meios de
88
transportes mais difundidos, contribuem para que a população de Elísio Medrado busquem
novas localidades para realização das demandas diárias.
Essa facilidade de transporte permitindo o deslocamento da população de
Elísio Medrado para Amargosa e Santo Antônio de Jesus, em primeira instância, parece
favorável ao município, como colocam alguns moradores do município ao afirmarem que hoje
o lugar está bom para morar porque tem transporte para várias localidades como Amargosa,
Santo Antônio de Jesus, Salvador, entre outros. Mas é importante frisar que tal benefício é
apenas aparente, pois os moradores de Elísio Medrado são vistos apenas como consumidores,
levando a renda obtida na cidade para outros municípios, com isso há estagnação do comércio
local, dificultando que o mesmo se desenvolva dando ao consumidor outras opções de
produtos e pagamentos. Essa realidade é presente na hierarquia urbana, como coloca Milton
Santos (apud CUNHA, 2002, p. 266) que
quando ele é visto pelo lado exclusivo da produção da ordem, da integração e da constituição de solidariedades espaciais que interessam a certos agentes, esse fenômeno é como um processo de homogeneização. Sua outra face, a heterogeneização, é ocultada. Mas ela é igualmente presente.
Essa heterogeneização é presente na região, sendo que Elísio Medrado fica na
periferia hierárquica, sendo que ainda possui um modo de produção tradicional, onde
acontecem em grande escala o uso da enxada para “preparar” o terreno para plantio (figura
57). Este é feito usando os pés e as mãos do pequeno produtor. No município há ausência de
técnicas modernas, como colheitadeiras, tratores, arados mecânico e até utilização de um
animal para arar o terreno, entre outros.
Se cada modo de produção se constitui uma etapa da produção da história e
se manifesta pelo aparecimento de novas técnicas (SANTOS, 1999, p. 6), o município mostra
que a ausência destas novas técnicas mantém o espaço geográfico com pouca alteração
econômica desde o início de sua criação.
Segundo Santos (1999, p. 6), “modos de produção e espaço geográfico
evoluem juntos, movido por uma lógica unitária”. Ainda segundo Santos (1999, p. 6-7), no
início da história a ação dos modos de produção sobre o espaço se dava praticamente sem
mediações. A partir do século XVI, isso mudou com a expansão capitalista.
O capitalismo avança no território e o modo de produção tende a ser único,
sendo que “[...] em nenhuma outra época, o modo de produção teve uma difusão tão
89
generalizada e uma presença tão profunda e eficaz, em todos os recantos da terra” (SANTOS,
1999, p. 7).
Figura 57: Preparo do terreno de forma manual para plantio de mandioca. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
No município em estudo, percebe-se a presença mesmo que pontual do
capitalismo globalizado como a venda de produtos como a Coca-Cola, Nestlé, Philips,
serviços como internet, celular, entre outros, que são oferecidos para a população. Nessa
perspectiva
os investimentos, pensados e programados segundo uma perspectiva global, criaram e reestruturaram inúmeras e complexas redes geográficas das quais a rede urbana é a expressão mais contundente. Trata-se, em toda parte, de uma rede urbana que sofreu o impacto da globalização, na qual cada centro, por minúsculo que seja, participa, ainda que não exclusivamente, de um ou mais circuitos espaciais de produção (SANTOS apud CORRÊA, 1999, p. 44).
Como a globalização é incompleta, ela se dá de forma desigual, ela é
perversa, não constitui um período novo, mas apenas um prolongamento da fase anterior. Por
isso ela não é um paradigma. As épocas se sucedem umas às outras sem interrupção e ao
mesmo tempo guarda vestígio do passado (SANTOS, 1999, p. 7).
90
Como exemplo desta globalização perversa, comentada por Milton Santos,
têm-se no município em estudo que apresenta baixos índices sociais e econômicos citados
anteriormente.
Como “[...] existem lugares que tendem a tornar-se especializados, tanto no
campo como na cidade, e essa especialização se deve mais às condições técnicas e sociais que
aos recursos naturais” (SANTOS, 1999, p. 11), o município de Elísio Medrado é o oposto
desses lugares especializados, certamente não por falta de recursos naturais existentes na
localidade, mas pelo baixo índice de estudo da população local dificultando o
desenvolvimento do meio técnico científico na localidade.
Com base nesses estudos percebe-se em primeira instância que o município
precisaria avançar na escolaridade da população e mudar o cenário do campo, modernizando
com técnicas que melhore a produtividade, conseqüentemente essa melhora rural mudaria
também o cenário urbano.
4.2.2 A Problemática dos Comerciantes Locais
Devido a essa hierarquia urbana, colocando Elísio Medrado como cidade
local dentro de uma zona periférica desta hierarquia, os comerciantes locais enfrentam muitas
dificuldades financeiras para manter os estabelecimentos em funcionamento. Dentre estas
dificuldades estão um grande número de inadimplentes e os que chegam a pagar levam meses.
Segundo um comerciante que trabalha com açougue uma vez por semana, nas tradicionais
festas juninas do corrente ano, teve uma boa venda de seus produtos, conforme seus
comentários. Porém, grande parte ficou no chamado “fiado”, que certamente pagarão com
alguns meses de atraso, esvaindo todo lucro.
Outro comerciante proprietário de uma mercearia e bar, relatou que abastece
seu comércio comprando no cheque, porém vende quase tudo “fiado” e quando vai cobrir o
cheque não tem dinheiro, então toma emprestado de familiares. Nessa conversa, ele relata que
um freguês estava devendo cem reais (R$ 100,00), mas não pagava porque perdeu o emprego
na Prefeitura, com a mudança de Prefeito. Cobrou a dívida e o freguês não tendo como pagar
ofereceu dois filhotes de porco para quitar sua dívida, acabou aceitando a proposta, por não
haver outra opção. Durante a semana vende entre dois a três reais (R$ 2,00 a R$ 3,00) por dia,
e às vezes prefere deixar fechado e só abrir aos sábados, que devido a feira tem um melhor
91
movimento, mas a maioria compra “fiado”. Segundo ele, não fecha o comércio porque não
tem outra opção de trabalho, mas o lucro é quase inexistente.
Já uma outra comerciante, que possui um estabelecimento de venda de
roupas, e que trabalha neste ramo há mais de quinze anos, comentou que o maior problema
são os “fiados”, além de terem caído as vendas. Isto está acontecendo devido aos empréstimos
oferecidos aos aposentados, que ao final do mês ao receberem suas aposentadorias pouco lhe
sobra deste benefício para que possam adquirir produtos de segunda necessidade. Na década
de 1990 a comerciante abastecia cerca de duas vezes ao mês comprando em Feira de Santana,
“hoje em dia não compensa mais” e prefere fazer as compras para abastecer o seu
estabelecimento em Santo Antônio de Jesus por ser mais perto, além da facilidade com os
meios de transportes, por haver várias opções e horários.
Em uma outra entrevista realizada com outra comerciante local, dona de um a
loja de variedades, tem as mesmas reclamações feitas por outros comerciantes: muito “fiado”,
pouco movimento durante a semana, tendo uma venda diária de no máximo cinco reais (R$
5,00) por dia, sendo que há dias que não há venda de um único produto; havendo uma
melhora nos dias de feira. Segundo ela, as pessoas compram muito “fiado” e demoram em
pagar, todo comércio tem sentido os efeitos negativos neste tipo de compra. Demoram em
pagar e quando ocorre é sempre em partes e vindos de uma nova compra “fiado”. Ela abastece
o seu comércio comprando os seus produtos nas lojas de Santo Antonio de Jesus e Amargosa,
nada direto do fabricante e sim de lojistas. Uma outra reclamação da comerciante é com o
surgimento da BV Financeira que, aparentemente, seria bom para a cidade, mas isto fez com
que os aposentados entrassem em dívida, recebendo muito pouco da aposentadoria e estão
passando dificuldades, isso fez com que as vendas no comércio local diminuíssem.
Foi constatado que no comércio local de Elísio Medrado existem muitas
placas com a seguinte frase: “Não vendemos fiado”, porém como é uma cidade pequena e
todos se conhecem, esse aviso é ignorado pelos fregueses, e os comerciantes para não
perderem os clientes acabam cedendo.
Com as observações feitas e pelas entrevistas, percebe-se que a população
local quando tem dinheiro em mãos prefere deslocar-se para outros centros comerciais como
Amargosa e Santo Antônio de Jesus. Pois há diariamente oito veículos entre ônibus e carros
particulares que fazem linha entre o município de Elísio Medrado a Amargosa, cobrando em
torno de seis reais (R$ 6,00) incluindo ida e volta. Já para Santo Antônio de Jesus, há quatro
veículos entre ônibus e carros particulares que saem diariamente cobrando aproximadamente
dez reais (R$ 10,00) ida e volta. Essa facilidade de transporte faz com que a população se
92
desloque para esses outros centros urbanos, levando o dinheiro adquirido no município para
outros municípios. Sendo assim, o comércio local enfraquece e fica como segunda opção
quando lhes faltam dinheiro. Também se percebe que na cidade há ausência de agências
bancárias, pois só existem postos de atendimento que funcionam dentro de redes comerciais,
com a finalidade apenas para saque e depósito. Como exemplo, um posto de atendimento da
Caixa Econômica, que funciona juntamente com os serviços oferecidos por uma Casa
Lotérica que se encontra dentro de um mini-mercado. Vale ressaltar que estes postos estão
atrelados as agências localizadas no município de Amargosa, mostrando esta dependência
financeira dentro da rede urbana.
Uma outra pessoa entrevistada mencionou que houve uma tentativa de
melhorar o comércio local, formando uma associação comercial no município. No início, a
associação contava com cerca de trinta membros que pagavam mensalidade de quinze reais
(R$ 15,00), porém a associação durou apenas cerca de dez meses, e tinha como objetivo
combater o “fiado” e acabar com a feira de roupas (figura 58) que acontece no mercado
municipal uma vez por mês. São comerciantes vindos de Itatim e Feira de Santana, que
concorrem com o comércio local e não pagam impostos e nem aluguel pelo espaço utilizado.
Percebe-se que esta feira acontece no período em que ocorre o pagamento de aposentadorias.
Estes dois objetivos não foram alcançados pela associação, e com relação aos
fiados os resultados esperados não foram alcançados porque não podiam colocar os
inadimplentes no SPC (Sistema de Proteção ao Crédito), sendo que os estabelecimentos locais
só tinham um alvará simples cedido pela Prefeitura. Na primeira reunião, houve uma
participação grande, que foi diminuindo com o passar do tempo. Estes associados eram donos
de estabelecimentos comerciais da cidade de Elísio Medrado, que foram se desvinculado
porque não viram resultado algum, levando à falência da associação.
93
Figura 58: Feira de roupas. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
4.2.3 A Feira Semanal
A feira da cidade de Elísio Medrado teve seu início no povoamento de
Paraíso por volta do ano de 1928, quando Gil Procônio Lapa vindo de Jequié se estabeleceu
com açougue e alguns produtos. Esta iniciou-se em frente da casa onde na última década do
século XX funcionou a Cesta do Povo (figura 59).
Atualmente a feira (figura 60) conta com produtores locais e muitas pessoas
vindas de fora, principalmente de Itatim e Santa Terezinha. Estes feirantes provindos de
outras cidades chegam à sexta feira a tarde e montam suas barracas, dormem no próprio local,
acordando de madrugada (sábado) para dar início às vendas. Outros produtores locais saem de
suas casas pela madrugada transportando suas mercadorias em animais (figura 60). São
comercializadas frutas, legumes, hortaliças, produtos alimentícios feitos de forma artesanal
como beiju, requeijão, bolos, e uma variedade de outros produtos, porém em pequenas
quantidades (figuras 62 a 65).
94
Figura 59: Cesta do Povo (portas e janelas na cor azul) – local próximo de onde se iniciou a feira do município de Elísio Medrado no ano de 1928. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
Figura 60: Centro de Abastecimento Governador César Borges,
onde acontece a feira do município de Elísio Medrado. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
95
Figura 61: Feirante do município de Elísio Medrado, transportando suas
mercadorias no lombo de um jegue. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
Figura 62: Barraca de um dos feirantes expondo seus produtos aos consumidores
da feira. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
96
Figura 63: Barraca de um dos feirantes expondo seus produtos aos Consumidores da feira. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
Figura 64: Barraca de um dos feirantes expondo seus produtos aos Consumidores da feira. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
97
Figura 65: Vista de algumas barracas dos diversos feirantes da feira expondo seus produtos aos consumidores. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
O preço das mercadorias comercializadas na feira é determinado pela lei de
oferta e procura. Geralmente o comerciante pede um preço e se não conseguir vender vai
abaixando. Por exemplo, uma dúzia de ovos de galinha caipira, o produtor pedia na época da
pesquisa ao iniciar a feira cerca de três reais (R$ 3,00), mas como não conseguia vender toda
a produção, o preço foi caindo até chegar a dois reais (R$ 2,00) ao final da feira. Ou seja, o
cliente tem a oportunidade de comprar no final da feira produtos por menor preço, porém
corre o risco de não encontrar mais ou em menor qualidade.
Em relação aos açougues há dois tipos de cortes, classificando a carne como:
com osso que custa dez reais (R$ 10,00) e sem osso que custa doze reais (R$ 12,00) - (que são
carnes mais nobres como picanha, maminha, entre outros). Segundo um dos açougueiros, se
fossem classificar as carnes, como é feito nas grandes cidades, a população não teria
condições de pagar o preço real de uma carne nobre.
Observou-se que por volta das 4h45min da manhã já chegavam os primeiros
fregueses, que foram se intensificando com a chegada dos transportes vindos da área rural
(figura 66) oferecidos pela Prefeitura, por volta das 7hs da manhã. Mas nesse mesmo horário
verificou-se muitos veículos pegando passageiros, que chegavam à cidade, para irem
principalmente com destino para a feira de Amargosa. Um dos entrevistados que sempre vai
até Amargosa para fazer a feira semanal explicou que “muitas pessoas de Elísio preferem
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fazer compras em Amargosa, pois a feira oferece de tudo e em variedades, isso faz com que a
feira de Elísio Medrado se torne fraca, sem contar que em Amargosa é mais barato”. Após as
11 horas da manhã já se percebe o início do término da feira que se concretiza por volta das
12 horas.
Grande parte dos feirantes, moradores do município, vendem sua produção
provinda de sua propriedade, são pequenos produtores que geralmente vendem algumas
frutas, legumes e hortaliças, além de pequena produção de ovos, entre outros. Já os feirantes
que se deslocam de outras cidades, geralmente adquirem os produtos de terceiros e participam
de outras feiras nas cidades circunvizinhas que acontecem em outros dias da semana, como:
Santa Terezinha (domingo), Itatim (segunda-feira), Milagres (domingo), entre outros.
Figura 66: Transporte oferecido aos moradores da zona rural, trazendo a população do campo
para consumir produtos da feira. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
Em entrevista realizada com onze (11) dos feirantes, com o objetivo de
descobrir de onde vieram para comercializar os produtos, apurou-se que 45% são do próprio
município, 36% são de Itatim e outras cidades somam 19%. Com isso percebe-se que em sua
maioria são feirantes de Elísio Medrado e de Itatim totalizando 81% dos feirantes. Dos 55%
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dos feirantes que não são do município, apenas 9,5% declararam que são consumidores do
comércio local. Esse dado mostra um agravante para o município que tem o dinheiro escoado
para outros municípios da região.
Com relação aos feirantes do próprio município, percebe-se que predominam
os produtos como banana, mandioca e seus derivados, carne bovina, entre outros; enquanto
que os feirantes de Itatim oferecem outras variedades de produtos como tomate, verduras,
legumes, entre outros. Esse fato se dá devido a proximidade de Itatim com o Rio Paraguaçu,
onde o mesmo facilita a irrigação das hortas. Mas alguns consumidores entrevistados
comentaram que isso se dá devido a comodidade dos trabalhadores rurais de Elísio Medrado
que preferem viver de bolsa família e comprar produtos vindos de outros municípios. Como
coloca um dos entrevistados que “o povo aqui não gosta de trabalhar prefere comprar tomate
que vem de longe do que ter sua própria plantação”. Porém, vale lembrar que esses
trabalhadores em sua grande maioria são pessoas idosas que não tem nenhum incentivo por
parte do Estado e não tem mais força para trabalhar no campo. Como coloca um dos
trabalhadores que possui vaca leiteira em sua propriedade, mas não faz mais a ordenha por
não ter mais força para o serviço, pois seus filhos moram todos na capital baiana.
Outro dado pesquisado é que os feirantes residentes do município em estudo,
no final da feira, doam a sobra para pessoas conhecidas, já os provindos de outros municípios
guardam para comercializar nas demais feiras de outras localidades.
Nesse dia, de feira, a cidade de Elísio Medrado passa a ser um ponto de
dinamismo comercial com compra e venda de produtos de gênero de alimentação e higiene.
Nesse dia é que os comerciantes locais tem um melhor fluxo de clientes, em sua grande
maioria vindos da zona rural que vendem seus produtos cultivados no sítio e compram outros
industrializados. Outro fato que acontece também nas feiras semanais são os eventos culturais
e políticos, como foi presenciado o sorteio de brindes (figura 67) ofertado pelos comerciantes
locais para seus clientes, em que participavam autoridades como Prefeito e Vice-Prefeito.
A feira também conta com um mercado municipal contendo 46 boxes (figura
68), sendo que dez encontravam-se fechados e 36 em funcionamento com produtos variados
como açougue, produtos de limpeza, derivados da mandioca (beiju, farinha, tapioca), sucos e
café, produtos de alimentação industrializados, entre outros. Outra parte dos feirantes monta
sua própria barraca, com estrutura de madeira, porém os pequenos produtores preferem
espalhar seus produtos sobre a rua coberta de paralelepípedo (figura 69). A Prefeitura cobra
uma pequena quantia que pode variar dependendo do tamanho da barraca, do espaço ocupado
100
e do produto comercializado. Este valor pode variar entre um a dez reais (R$ 1,00 a R$
10,00).
Figura 67: Sorteio de brindes, realizado no dia 31 de dezembro de 2009. Autor: Eduardo de Oliveira, 2009.
Figura 68: Mercado Municipal. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010.
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Figura 69: Produtor expondo seus produtos na rua. Autor: Eduardo de Oliveira, 2010. 4.3 UM OLHAR GEOGRÁFICO SOBRE O MUNICÍPIO DE ELÍSIO MEDRADO:
ALGUMAS SUGESTÕES
Na problemática do município em estudo, percebe-se que falta incentivo por
parte do Estado (Poder Público) em vários âmbitos, tanto educacional, cultural e econômico.
Isso faz com que a população jovem deixe o município em direção aos centros maiores em
busca de melhores condições de vida. Como o município apresenta pequenas propriedades
rurais onde estão estabelecidos pequenos produtores, em sua maioria pessoas idosas, pois os
filhos destes produtores quando alcançam a idade economicamente ativa não tem perspectiva
no município, grande parte vai trabalhar no comércio em Salvador ou outras cidades. Este fato
foi verificado em conversa com os moradores locais, como coloca uma moradora do Distrito
de Monte Cruzeiro de que
todo lugar cresce, mas Elísio Medrado não sai disso. Só fica os mais velhos aqui, porque não acostumam na cidade grande. Toda minha família trabalha em Salvador como dono de comércio: vai filho, sobrinho, primo. Começa trabalhando de empregado com os parentes, depois já quer ter seu próprio ponto. Lá se casa e não quer mais saber daqui. Eu gosto daqui. Lá eu passo oito dias e fico zonza para vir embora, não gosto de zuada e ficar presa dentro de casa. Aqui crio minhas criações, planto minha roça para distrair,
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tem transporte para todo lugar: Amargosa, Santo Antônio de Jesus, Santa Terezinha e Salvador; tenho minha aposentadoria e tá tudo bom (sic).
Essa realidade é presente na vida de muitos proprietários rurais do município.
Percebe-se que os mais velhos ficam por estarem acostumados a vida calma do campo e
cultivam apenas pelo prazer em trabalhar, ocupando o tempo ocioso que tem, mas a renda é
apenas um complemento da aposentadoria que muitos deles adquiriram por serem proprietário
rural e já se encontrarem na idade que garante este benefício. Em muitos casos, essa opção de
ficar no município é devido a tranqüilidade do local. Muitos políticos no auge de suas
campanhas prometem atração de indústrias para o município. Mas vale ressaltar que essa
opção como geração de emprego não será benéfica para o município, visto que atrairá para a
cidade novos desempregados vindos de outras localidades, acarretando o aumento da pobreza
urbana.
Pensando em dinamizar a economia do município, o que parece mais viável
deveria partir da área rural, incentivando os produtores e dando todo apoio técnico de um
Agrônomo, Geógrafo, Administrador, entre outros.
Esses profissionais poderiam ser das universidades regionais, em que estes
alunos ainda em formação poderiam colocar em prática os seus conhecimentos teóricos,
aprendendo mais e ajudando os produtores rurais. A Prefeitura do município poderia, junto ao
Governo Estadual ou Federal, solicitar um recurso financeiro para custear bolsas a estes
alunos universitários pelo tempo em que estiverem prestando serviço à comunidade. Dentro
deste projeto seria possível desenvolver uma agricultura orgânica, visto que com a
modernização da agricultura e a utilização de insumos e inseticidas agrícolas na atualidade,
há uma tendência para valorização desse tipo de alimento. Para a comercialização desse
produto, seria necessária a formação de uma Cooperativa formada pelos pequenos produtores
rurais que levariam os produtos e escoariam a produção que levariam para o comércio
regional e até mesmo Salvador, tendo em vista que há vários filhos do município que
trabalham na capital. Para garantir a boa procedência orgânica dos alimentos, será necessário
adquirir junto aos órgãos competentes um selo de garantia de produto orgânico. Outra
possível atividade que poderia ser desenvolvida no município junto a cooperativa seria a de
pequenas fábricas administradas pelos próprios cooperados, como fábrica de doces, suco de
polpa de frutas, laticínio, beiju, vinho, entre outros.
Partindo da zona rural, melhorando o dinamismo da mesma, sem grandes
capitalistas, faz com que a área urbana viabilize a dinâmica comercial. Tendo em vista que a
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cooperativa vai gerar renda ao município e aos moradores, melhorando a vida dos moradores
do campo e da cidade, permitindo assim que os mais jovens permaneçam no município pela
perspectiva que passariam a ter, se engajando no novo ramo de trabalho. Dentro deste projeto
poderia se pensar na criação de um curso a nível médio com formação técnica em Orientação
Comunitária a ser oferecido aos jovens da localidade, como o que ocorre no município de
Matinhos, localizado no litoral paranaense.
Conforme o sítio da UFPR, este curso é
dividido em 3 etapas, todas direcionadas para o desenvolvimento local do litoral do Paraná a partir do diálogo com os movimentos sociais. Desde a primeira etapa, estimula-se a autonomia e o protagonismo do aluno na construção do seu conhecimento. Dessa maneira, os estudantes refletem sobre a realidade e, nesse fazer, se sensibilizam para perceber seu meio social e ambiental, relacionando o mundo que os cerca com os conhecimentos e saberes das comunidades do litoral. Numa segunda etapa, a partir dos problemas levantados pelos estudantes e da sua observação da realidade litorânea, ao mesmo tempo em que aprofundam e problematizam os temas trabalhados, os alunos são estimulados a elaborar projetos de investigação que versem sobre as atividades das organizações locais. Finalmente, na terceira etapa, os futuros técnicos em orientação comunitária propõem ações alternativas e interativas no litoral, por meio dos projetos problematizados anteriormente (ORIENTAÇÃO..., 2010).
Como é um curso voltado para a realidade local torna-se válido, pois o aluno
tem a oportunidade de vivenciar a problemática local compreendendo e buscando possíveis
soluções para diminuir os problemas da comunidade de uma forma geral. Problemas estes
ligados à saúde da população, degradação ambiental, ausência de empregos, entre outros.
Neste momento, o município conta com um filho ilustre na Câmara Estadual,
que poderia estar agilizando junto aos órgãos públicos muitas etapas do projeto.
A região é extremamente propícia às atividades turísticas, sua grande
diversidade, tanto histórica, como natural e cultural, revelam uma grande potencialidade, ou
seja, é uma região de múltiplas possibilidades, com paisagens belíssimas e diferentes.
Portanto, o turismo nesta região não só seria uma fonte de renda como também geradora de
empregos, já que dinamiza a economia local.
Dentro desta potencialidade percebe-se no município a capacidade para
desenvolver o turismo ecológico, como mostra Lins (2007, p. 163) na figura 70. Visto que o
município possui em seu lado leste a Serra da Jibóia que conta com uma vegetação rica e
variada, além de algumas cachoeiras como a denominada Pancada.
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A figura 70 demonstra que o município de Elísio Medrado tem duas
principais potencialidades econômicas, sendo o turismo ecológico e o potencial agrícola com
o cultivo da mandioca (aipim) que poderia ser vendida para outras cidades já descascadas.
Dentro de um plano de turismo rural, a cultura da mandioca poderá ser aproveitada para
inserir como mais uma opção para o pequeno produtor aumentar sua renda. Como no Estado
do Paraná existe a Festa da Mandioca, sugere também essa alternativa econômica. Nessa festa
pode-se aproveitar os cantores/grupos musicais locais para animá-la. Onde seriam vendidos
vários derivados da mandioca como beiju, tapioca, bolos, doces, sucos, salgados, entre outros;
com apresentação folclóricas mostrando a cultura local.
Figura 70: Potencialidades econômicas de alguns municípios do Recôncavo Sul. Fonte: LINS (2007, p. 163).
Além dessas possibilidades de turismo, poderia estar ampliando junto a
sociedade local o turismo histórico, cultural, entre outros, aproveitando as sedes das fazendas
centenárias como receptora para o turismo rural, tendo como opção para o turista: passeio a
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cavalo, caminhada ecológica em trilhas, turismo de aventura, café colonial, além de pousada
na propriedade, visita a engenhos, igrejas (sendo que o município apresenta uma igreja
centenária localizada no Distrito de Monte Cruzeiro). Assim,
os objetivos do turismo rural estariam ligados: à participação ativa da população local; à ocorrência de maneira não concentrada e em pequena escala; à valorização e conservação do patrimônio cultural e natural; e à inversão no processo de concentração fundiária e de desigual e injusta distribuição de renda (ZANGIROLI; CASAGRANDE; GONÇALVES, 2004, p. 9).
Mas é importante ressaltar que alguns turistas que buscam este tipo de lazer
preferem o silêncio, porém tem aqueles que buscam conhecer ou relembrar a vida no campo
com sanfoneiros, fogueira, conversa ao ar livre, entre outros. É importante que atividades
como essas sejam ofertadas pelas propriedades rurais. Assim o proprietário estará agradando
os dois tipos de turistas.
Outros potenciais turísticos como jegadas, cavalgadas, festa junina, festa de
Santo Antônio, poderão ser melhorados e, como já são conhecidos, servirão como porta de
propaganda para os novos empreendimentos turísticos implementados na cidade. Outros
meios de divulgação seriam a internet, rádios locais, outdoor, jornais, entre outros. Num
segundo ponto importante será a preparação da população para receber bem o turista, para
isso será necessário oferecer cursos para proprietários rurais, donos de comércio, sanfoneiros,
artistas, entre outros. Esses cursos oferecidos à população local, devem ser rápidos, com o
objetivo de ensinar a conquistar o turista e sensibilizá-los quanto aos cuidados ambientais que
deverão ter para minimizar os impactos negativos que o turismo possivelmente trará.
Com a população local preparada para receber o turista, este se sentirá
satisfeito recomendando para seus amigos e familiares como uma boa opção de lazer, pois a
melhor propaganda é de “boca a boca”.
É importante ressaltar que para a população local ser beneficiada e não os
grandes empreendedores, é preciso que o poder público estabeleça metas, programas e
projetos voltados para esta questão.
A criação de um museu seria mais uma opção para o turista, além de resgatar
a história regional (indígena, escravidão, engenho, ciclo da cana-de-açúcar e café, entre
outros). Esse resgate histórico faz com que a população local resgate sua auto-estima e
valorize hábitos culturais que estão sendo esquecidos pela população mais jovem. Vale
lembrar que o turismo em pequena escala, como o turismo ecológico e rural, trazem apenas
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mínimas consequências para a população local e sim mais uma alternativa de renda para
esses pequenos produtores que poderão oferecer seus produtos artesanais como beiju,
cachaça, vinho, requeijão, tapioca, entre outros, para os turistas que visitam a região. Ou seja
o turismo ecológico e rural traz vários benefícios para a população local como coloca
(ZANGIROLI; CASAGRANDE; GONÇALVES, 2004, p. 10-11):
auxilia o desenvolvimento do artesanato de produtos alimentícios ; exige uma melhoria na infra-estrutura básica e em outros serviços que beneficiam a população local; por ser em pequena escala, permite evitar muitos dos problemas ligados ao turismo massificado (depredação, prostituição, crescimento da utilização de drogas, de doenças transmissíveis e de insegurança); significa uma diversificação necessário nas atividades econômicas do meio rural; valoriza os elementos da cultura rural (festas, brincadeiras, jogos, trabalho artesanal e formas de trabalho tradicionais); estimula o reflorestamento e a manutenção da flora local; valoriza as paisagens naturais, estimulando a conservação; permite a interação social e cultural dos moradores das grandes cidades com os agricultores (e vice-versa); tem também uma função didática ou educativa.
É evidente que alguns problemas sempre irão surgir, mas cabe ao poder
público junto a população local buscar alternativas para minimizar esses impactos.
Além destas potencialidades, poderão ser implantados novos meios de
atrativos, dentre eles: pesque-pague, restaurantes rurais (ofertando comida típica local:
galinha caipira ao molho pardo, feijão andu, feijão mangalô, xinxim de galinha, sarapatel,
entre outros; além das variedades de sobremesas como frutas naturais, doces e bebidas como
vinhos artesanais, licores e cachaça, entre outros com sabores de frutas). Estes restaurantes e
fazendas rurais, poderão aproveitar a mão-de-obra local ofertando aos visitantes atrativos
diferentes, como sanfoneiro, agricultores contando lendas locais, teatro, entre outros. Este tipo
de atividade, além de divertir o turista, é uma forma de gerar emprego para a população local,
mantendo-os no município, e isso faz com que parte do dinheiro deixado pelos turistas circule
na própria cidade contribuindo para a economia local.
Pela proximidade do município a capital baiana e a outras cidades mais
desenvolvidas do Recôncavo, se bem implantado este tipo de turismo, contando com o apoio
da população local e poder público certamente trará dinamismo para o município, visto que
Elísio Medrado ainda apresenta a tranqüilidade tão almejada pela população urbana que se
encontra estressada com o corre-corre do dia-a-dia nas grandes cidades.
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Assim, poderemos ter uma contribuição para melhoria de vida da população
local, mas é preciso saber que essas atividades e projetos devem estar dirigidas a população
pobre que certamente compõem grande parte da população medradense. Muitos jovens “[...]
mesmo que não consigam emprego, passam a ter atividades quando há visitantes na cidade e
aumenta a auto estima – a valorização da cultura e de locais do município por pessoas de fora
pode levar a que os jovens moradores também passem a valorizá-lo” (CALVENTE;
FUSCALDO, 2002, p. 206).
Contudo, é importante salientar que o poder público e sociedade local devem
trabalhar juntos, com um único objetivo de gerar renda para o município, melhorando o
dinamismo local e consequentemente a qualidade de vida dos moradores. Pois se a população
estiver engajada, sabendo da importância das atividades desenvolvidas no município quando
houver mudança de governantes, esta exigirá continuação e até melhoria do projeto.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através das observações e pesquisas feitas conclui-se que o município de
Elísio Medrado apresenta três pequenos núcleos urbanos, porém os três apresentam gêneses
distintas formados em épocas diferentes. Sendo o distrito de Monte Cruzeiro o núcleo mais
antigo do município, formado no ciclo da cana-de-açúcar, com a decadência dos engenhos, o
núcleo, que já chegou a ser sede de município, hoje é apenas um distrito do município em
estudo.
Outro povoado, conhecido atualmente como Souza Peixoto, que surgiu no
final do século XIX, já teve uma dinâmica maior, principalmente na primeira metade do
século XX, devido à proximidade com a ferrovia que ligava Amargosa a Nazaré e o plantio do
café na região, atualmente é um povoado do município.
Já a atual sede do município teve sua gênese no início do século XX com o
surgimento de uma casa comercial pertencente ao Sr. Vitorino Peixoto, ponto estratégico para
a construção de um comércio, pois ligava o povoado de Souza Peixoto (sul do atual
município) a Monte Cruzeiro (norte do atual município), provavelmente era ponto de parada
dos tropeiros da região.
Outro ponto observado no município foi a mudança da rede urbana ao longo
da história da região. Inicialmente com o surgimento de Monte Cruzeiro a região tinha uma
forte ligação com Cachoeira e Nazaré, usando o Rio Paraguaçu como via para escoamento da
produção. Com o ciclo do café e a construção da ferrovia, que passava ao sul do município,
houve uma mudança de rota e uma forte ligação com Amargosa, muito embora continuasse
sendo Nazaré o município que ficava no topo hierárquico da rede urbana da região. Com a
expansão das rodovias, o município passou a pertencer a rede urbana de Santo Antônio de
Jesus, porém há um grande deslocamento para cidades mais dinâmicas como Salvador.
Amargosa que outrora fazia parte da hierarquia urbana de Elísio Medrado, agora só recebe a
população medradense em momentos de feira que ocorrem aos sábados ou quando os
aposentados vão até o município para retirar suas aposentadorias.
Quanto à produção agrícola, no decorrer da história houve a predominância
de produtos distintos, há vestígios na região de fazendas de cana-de-açúcar com engenhos e
utilização da mão-de-obra escrava. Após a abolição da escravatura inicia-se uma nova
produção que era a de fazendas de café. Atualmente há uma agricultura de subsistência
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diversificada, mas há um destaque maior para o cultivo da mandioca e produção da farinha
que é escoada para feiras como de Itatim e para Salvador.
Com esses pontos observados, conclui-se que Elísio Medrado fica na
periferia hierárquica da rede urbana, tendo uma forte dependência econômica e social de
cidades como Amargosa, Santo Antonio de Jesus e Salvador. Porém, vale lembrar que o
município fica em uma “ilha inércia” ficando isolado das rodovias federais que cortam a
região e as rodovias estaduais que ligam o município a outras localidades são pistas simples e
que muitas vezes são mal conservadas. Isso vem dificultando o desenvolvimento do
município, além da população ter baixo índice de conhecimento e escolaridade.
Cabe à população jovem buscar novos conhecimentos, para fazer com que se
descubra novos meios de fazer com que o município deixe de ser mercado de mão-de-obra
barata e não especializadas para outros municípios e regiões.
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REFERÊNCIAS
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112
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APÊNDICE A
Entrevista aplicada com os comerciantes do município de Elísio Medrado-BA.
1) Qual o teu nome?
2) Qual a tua idade?
3) Que tipo de comércio você possui?
4) Desde quando trabalha nesse ramo?
5) De qual cidade adquire os produtos para o seu estabelecimento?
6) Vêm pessoas de outras cidades fazerem compras em seu estabelecimento?
7) Percebe-se que muitas pessoas da cidade deslocam-se para Amargosa e Santo Antônio
de Jesus. Em sua opinião, por que isso acontece?
8) Sua família sempre trabalhou com comércio?
9) O que você sabe sobre a história da fundação de Elísio Medrado?
Obs.: O questionário foi aplicado de forma aberta, permitindo ao entrevistado responder
com as suas próprias palavras, permitindo deste modo a liberdade de expressão, pois o
trabalho num todo foi de caráter investigativo. Embora algumas perguntas necessárias
para tabulação de dados tenham sido feitas de forma padrão para todos os entrevistados.
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APÊNDICE B
Entrevista aplicada com os feirantes do município de Elísio Medrado-BA.
1) Qual o teu nome?
2) Qual a tua idade?
3) Cidade onde mora?
4) Quais os produtos que você vende na feira?`Preço?
5) Todos os produtos são de sua propriedade?
6) Vende toda a produção? O que faz com a sobra?
7) Há quanto tempo atua nessa feira?
8) Paga para usar o espaço da feira?
9) Além de Elísio Medrado, vai vender em outras feiras?
10) Faz compras aqui na cidade? O que compra?
11) O que você sabe sobre a história da fundação de Elísio Medrado?
Obs.: O questionário foi aplicado de forma aberta, permitindo ao entrevistado responder
com as suas próprias palavras, permitindo deste modo a liberdade de expressão, pois o
trabalho num todo foi de caráter investigativo. Embora algumas perguntas necessárias
para tabulação de dados tenham sido feitas de forma padrão para todos os entrevistados.
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APÊNDICE C
Entrevista aplicada com os moradores da área urbana e rural do município de Elísio Medrado-
BA.
1) Qual o teu nome?
2) Qual a tua idade?
3) Há quanto tempo reside em Elísio Medrado?
4) Faz compras no comércio local?
5) Faz compras no município de Amargosa?
6) Faz compras no município de Santo Antônio de Jesus?
7) O que você sabe sobre a história da fundação de Elísio Medrado?
Obs.: O questionário foi aplicado de forma aberta, permitindo ao entrevistado responder
com as suas próprias palavras, permitindo deste modo a liberdade de expressão, pois o
trabalho num todo foi de caráter investigativo. Embora algumas perguntas necessárias
para tabulação de dados tenham sido feitas de forma padrão para todos os entrevistados.
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APÊNDICE D
Relação das pessoas entrevistadas
01 - Cesar, 38 anos – Taxista. Data: 24/12/2009.
02 - Maria Alice, 70 anos – Agricultora. Data: 24/12/2009.
03 - Aristides, 80 anos – Agricultor. Data: 25/12/2009.
04 - Silvinho, 30 anos – Agricultor. Data: 25/12/2009.
05 - Dona Dil, 62 anos – Agricultora (aposentada). Data: 25/12/2009.
06 - Edite, 63 anos – Dona do lar (aposentada). Data: 25/12/2009.
07 - Leni, 53 anos – Agricultora. Data: 25/12/2009.
08 - Cleisson, 13 anos – Estudante (Oitava Série). Data: 25/12/2009.
09 - Seo Jóia (Josué), 45 anos – Taxista. Data: 26/12/2009.
10 - Genival, 30 anos – Funcionário Rural. Data: 26/12/2009.
11 - Dona Maria, 72 anos – Agricultora (aposentada). Data: 26/12/2009.
12 - Joaquim da Farinha (Joaquim), 57 anos – Agricultor. 27/12/2009.
13 - Maria Peixoto, 74 anos – Funcionária Rural (aposentada). Data: 28/12/2009.
14 - José, 70 anos – Funcionário Rural (aposentado). Data: 28/12/009.
15 - Neca, 79 anos – Funcionário Rural (aposentado). Data: 28/12/2009.
16 - Jossiel – Funcionário da Prefeitura. Data: 29/12/2009.
17 - Jozineide, 34 anos – Comerciante. Data: 29/12/2009.
18 - Raimundo, 50 anos – Data: 29/12/2009.
19 - José dos Reis, 60 anos – Agricultor e proprietário de uma fábrica artesanal de vinho.
Data: 29/12/2009.
20 – Solange, 35 anos – Caseira. Data: 29/12/2009.
21 – Angelina, 64 anos – Zeladora. Data: 29/12/2009.
22 – Manu, 64 anos – Funcionário Rural (aposentado). Data: 30/12/2009.
23 – Miguel, 79 anos – Funcionário Rural (aposentado). Data: 30/12/2009.
24 – Nair, 45 – Feirante (Elísio Medrado). Data: 31/12/2009
25 – Zé, 47 anos – Feirante (Santa Terezinha). Data: 31/12/2009.
26 – Eunice, 64 anos – Feirante (Elísio Medrado). Data: 31/12/2009.
27 – Adriano, 31 anos – Feirante (Itatim). Data: 31/12/2009.
28 – Edivaldo, 45 anos – Feirante (Amargosa). Data: 31/12/2009.
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29 – Jair, 40 anos – Feirante (Elísio Medrado). Data: 31/12/2009.
30 – Águida, 24 anos – Feirante (Elísio Medrado). Data: 31/12/2009.
31 – Roberval, 16 anos – Feirante (Itatim). Data: 31/12/2009.
32 – Maria Madalena, 43 anos – Feirante (Itatim). Data: 31/12/2009.
33 – Railda, 40 anos – Feirante (Elísio Medrado). Data: 31/12/2009.
34 – Roque, 45 anos – Feirante (Amargosa). Data: 31/12/2009.
35 - Edvan, 28 anos – Funcionário de uma fábrica de beneficiamento de café. Data:
03/01/2010.