edson silva - povos indígenas e ensino de história

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POVOS INDÍGENAS E ENSINO DE HISTÓRIA: SUBSÍDIOS PARA A ABORDAGEM DA TEMÁTICA INDÍGENA EM SALA DE AULA' Edson Silva" RESUMO: Este artigo discute visões estereotipadas, falta de informações, erros e preconceitos que normalmente acontecem em relação aos índios, e propõe um enfoque alternativo, fontes bibliográficas, e um esboço pedagógico para o ensino de assuntos indígenas em História. P ALAVRAS-CHA VES: Índio (Aborígine, Indígena, Nativo), Ensino de História, Historiografia. o que sabemos sobre os índios no Brasil? A dúvida ou a resposta negativa a essa pergunta é ouvida da imensa maioria da população, na escola e até mesmo na universidade. Porém, estima-se que no Brasil existem 225 povos indígenas que falam 180 línguas distintas, contabilizando uma população com 550.438 indivíduos (PREZIA ; HOORNAERT, 2000), que habitam todas as regiões do Brasil. Essa totalização , Versão revisada e ampliada do texto discutido em sala de aula na disciplina História das Relações Sociais, da Cultura e do Trabalho, no Curso de Especialização em Ensino de História (UFRPE) , e apresentado como subsídio para discussões no Minicurso Povos indígenas e Ensino de História, durante o V Encontro Nacional de Pesquisadores do Ensino de História, realizado em João Pessoa-PB, de 08 a 11/1O/200l. "Mestre em História pela UFPE. Leciona História no Colégio de Aplicação e Prática de Ensino de História junto ao Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino -DMTE no CENTRO DE EDUCAÇÃO/UFPE. História & Ensino, Londrina, v. 8, p. 45-62, out. 2002 45

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  • POVOS INDGENAS E ENSINO DE HISTRIA:

    SUBSDIOS PARA A ABORDAGEM DA TEMTICA

    INDGENA EM SALA DE AULA'

    Edson Silva"

    RESUMO: Este artigo discute vises estereotipadas, falta de informaes, erros e preconceitos que normalmente acontecem em relao aos ndios, e prope um enfoque alternativo, fontes bibliogrficas, e um esboo pedaggico para o ensino de assuntos indgenas em Histria.

    PALAVRAS-CHAVES: ndio (Aborgine, Indgena, Nativo), Ensino de Histria, Historiografia.

    o que sabemos sobre os ndios no Brasil?

    A dvida ou a resposta negativa a essa pergunta ouvida da imensa maioria da populao, na escola e at mesmo na universidade. Porm, estima-se que no Brasil existem 225 povos indgenas que falam 180 lnguas distintas, contabilizando uma populao com 550.438 indivduos (PREZIA ; HOORNAERT, 2000), que habitam todas as regies do Brasil. Essa totalizao

    , Verso revisada e ampliada do texto discutido em sala de aula na disciplina Histria das Relaes Sociais, da Cultura e do Trabalho, no Curso de Especializao em Ensino de Histria (UFRPE) , e apresentado como subsdio para discusses no Minicurso Povos indgenas e Ensino de Histria, durante o V Encontro Nacional de Pesquisadores do Ensino de Histria, realizado em Joo Pessoa-PB, de 08 a 11/1O/200l.

    "Mestre em Histria pela UFPE. Leciona Histria no Colgio de Aplicao e Prtica de Ensino de Histria junto ao Departamento de Mtodos e Tcnicas de Ensino -DMTE no CENTRO DE EDUCAO/UFPE.

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    inclui, segundo dados do IBGE/99, cerca de 900 indgenas que so pertencentes a povos no contactados habitantes principalmente em algumas localidades da Regio Norte.

    De acordo ainda com as mesmas estimativas oficiais (FUNAI/96), no Nordeste moram 59.481 ndios, cerca de 19% da populao indgena no pas.

    O desconhecimento sobre a situao atual dos povos indgenas, est associado basicamente imagem do ndio que tradicionalmente veiculada pela mdia: um ndio genrico com um biotipo formado por caractersticas correspondentes aos indivduos de povos nativos habitantes na Regio Amaznica e no Xingu, com cabelos lisos, pinturas corporais e abundantes adereos de penas, nus, moradores das florestas, de culturas exticas etc. Ou tambm imortalizados pela literatura romntica produzida no Sculo XIX, como nos livros de Jos de Alencar, onde so apresentados ndios belos e ingnuos, ou valentes guerreiros e ameaadores canibais, ou seja "brbaros, bons selvagens e heris" (Silva, 1994).

    J na Escola, de um modo geral, o ndio lembrado, afora o primeiro momento do "Descobrimento" em 1500, no incio da Colonizao e no rosrio das datas comemorativas no "Dia do ndio", quando comumente as crianas das primeiras sries do Ensino Fundamental so enfeitadas a semelhana de indgenas que habitam os Estados Unidos, e estimuladas a reproduzirem seus gritos de guerra!

    At recentemente nos estudos da Histria do Brasil, o lugar do ndio era na "formao" da chamada nacionalidade brasileira. Depois de desaparecer nos textos dos livros didticos, o ndio voltaria a ser lembrado nos estudos da Literatura da poca do Romantismo no Brasil. O ndio at bem pouco tempo estudado na Histria do Brasil ou em Estudos Sociais era nico, "Tupi-Guarani" em todas as "tribos", morava em "ocas" e

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  • "tabas", era antropfago, preguioso e existente apenas no Xingu ou em remotas regies do Norte do pas.

    A desinformao, os equvocos e os pr-conceitos que motivam a violncia cultural contra os povos indgenas, resultam das idias eurocntricas de "civilizao", do etnocentrismo cultural e da concepo evolucionista da Histria, onde, no presente, os indgenas so classificados como "primitivos", possuidores de expresses culturais exticas ou folclricas ainda preservadas, mas que determinadas a serem engolidas pelo "progresso" da nossa sociedade capitalista.

    500 anos, outras histrias: a histria indgena

    Como nos ltimos anos os estudos histricos tm passado por uma ampla renovao, o lugar dos povos indgenas na Histria tambm est sendo revisto. O "Descobrimento" passou a ser discutido como resultado do processo de expansionismo europeu no sculo XVI, atravs da Colonizao do chamado "Novo Mundo", onde os muitos diferentes povos e culturas das consideradas "terras descobertas", se confrontaram com o violento processo das invases dos seus territrios e da imposio cultural do colonizador.

    Os atuais estudos sobre os povos indgenas tm revelado, alm da antigidade da presena desses povos, a grande diversidade e pluralidade das sociedades nativas encontradas pelos colonizadores. Tendo sido superado o etnocentrismo que condicionava as informaes e referncias anteriores, as pesquisas atuais vm descobrindo a complexidade e a especificidade dos povos indgenas, seus projetos polticos, as relaes decorrentes com a Colonizao, as estratgias da resistncia indgena etc..

    A Colonizao deixou de ser vista como um movimento

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    nico, linear, de puro e simplesmente extermnio dos povos considerados passivos, submissos, impotentes, mas sim como um complexo jogo de relaes, embates, negociaes e conflitos, desde a chegada dos primeiros europeus no sculo XVI at os dias atuais, onde povos foram exterminados brutalmente, e outros elaboraram diferentes estratgias para sobreviverem at os dias de hoje.

    o "desaparecimento" dos povos indgenas

    No sculo XIX, nas regies mais antigas da colonizao portuguesa a exemplo do Nordeste, agravam-se os conflitos entre as Cmaras Municipais, onde encastelavam-se os vereadores latifundi2rios e fazendeiros contra os indgenas. O Estado Brasileiro favoreceu esses grandes proprietrios, chefes politicos locais, que passaram a negar a presena indgena em terras dos antigos aldeamentos, com argumentos da ausncia da pureza racial, afirman.do que os ndios estavam "confundidos com a massa populao" (Silva, , solicitando a extino dos aldeamentos como forma de resolver os tradicionais conflitos com as invases dos territrios indgenas. Assumindo o discurso dos grandes proprietrios, entre 1860 -1880, o Governo Imperial decreta oficialmente a extino dos aldeamentos em vrias regies do pas.

    Pela legislao da poca, as terras dos aldeamentos deveriam ser medidas, demarcadas e loteadas em tamanhos diferentes, destinados a parte das famlias indgenas existentes no local. Nesse processo, alm de serem reconhecidas as posses em domnio dos grandes proprietrios invasores, a lei previa ainda a remoo de famlias indgenas que ficassem fora da partilha dos lotes, para outras aldeias. No caso de Pernambuco,

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    a semelhana de outros lugares, na documentao da poca encontram-se diversos registros de indgenas reclamando que no receberam seus lotes a que tinham direito, ou que a medio favorecia o latifundirio invasor das terras dos aldeamentos.

    Denncias de violncias, presses e espancamentos contra os ndios, multiplicaram-se em documentos da poca. Muitas famlias se dispersaram, sem terras, fugindo s perseguies, vaga"am nas estradas ou eram empregadas como trabalhadoras nas fazendas e engenhos. Outras deslocaram-se para locais de difcil acesso, onde sobrc"iveram e mantiveram vivas a conscincia tnica e suas tradics. Oficialmente, eram tidos como "caboclos", ou "remanescentes" de indgenas que tinham "desaparecidos", como referiam-se os livros e foi incorporado pelo senso comum.

    o ressurgimento dos povos indgenas

    No incio do sculo XX, esses povos que oficialmente eram considerados "extintos", mas que de fato existiam e resistiam, iniciam a mobiliza~() contempornea pelo reconhecimento tnico oficial e garantia mnima de terras para sobreviverem diante das constantes perseguies dos latifundirios. No Nordeste foram reconhecidos os Xukuru-Kariri em Alagoas, e em Pernambuco os Fulni-, os Pankararu, os Xukuru, com a instalao de postos do Servio de Proteo ao ndio - SPI, entre os anos de 1920 - 1950, em suas reas indgenas,

    Com o "milagre brasileiro" na dcada de 1970 e o avano dos projetos agro-industriais, as presses sobre as terras indgenas aumentaram, tanto as dos grupos reconhecidos oficialmente como as dos grupos ainda no reconhecidos. Os povos indgenas no Nordeste, pressionam a FUNAI para obterem a garantia de

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    seus direitos histricos, como est registrado por toda a partir da dcada de 1980 com o ressurgimento dos grupos tnicos como os Pitaguary, os lenipapo-Canind, os Tabajara no Cear; os Pipip em Pernambuco, os Kalanc e os Karuazu em Alagoas; os Tumbalal e os TuPinamb na Bahia. Fenmeno que vem ocorrendo tambm na Regio Norte e chamado de etnognese pela reflexo antropolgica atual.

    A participao nas mobilizaes e na vitoriosa campanha da Constituinte e para a elaborao da Constituio Federal aprovada em 1988, onde pela primeira vez na Histria do Brasil o Estado brasileiro reconheceu os povos indgenas com seus costumes, tradies e a demarcao e garantia de suas terras, por um lado, fortaleceu as lutas e reivindicaes dos direitos histricos desses povos, acirrando por outro lado, os antigos conflitos, as violncias e mortes provocadas pelos invasores das reas indgenas.

    Resistncia indgena nos 500 anos das violncias da colnia

    Diante das reaes indgenas s invases de suas terras, as imposies coloniais, as diversas formas de violncia contra os povos indgenas, so marcas nesses 500 anos de Colonizao. Ao longo da Histria do Brasil, foram cometidas diversas formas de violncias contra os povos indgenas. Desde guerras, doenas transmitidas pelos colonizadores que exterminaram aldeias inteiras, a escravido, ameaas e perseguies, os preconceitos, a violncia cultural etc.

    Ainda que pese a falta de um maior nmero de informaes, em virtude de muitas aldeias indgenas estarem localizadas em regies de difceis comunicaes, no perodo de ianeiro a setembro de 2001, foram contabilizados vrios casos

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  • de agresses fsicas, com invases de domiclios, abuso de autoridade, detenes ilegais, enfim diversas formas de violaes dos direitos dos povos indgenas. Alm disso foram registradas 09 ameaas de morte, contra comunidades inteiras ou a indgenas, totalizando mais de trs mil vtimas. Nesse perodo o CIMI registrou ainda nove casos de assassinatos de indgenas, totalizando 10 vtimas, onde pelo menos em dois casos (Xukuru/PE e Guarani-Kaiow/MS), as mortes esto estritamente relacionadas a conflitos de terras. Nesses crimes esto envolvidos alm de policiais militares, jagunos a mando de fazendeiros e at autoridades municipais como um viceprefeito. (LACERDA, 2001, p.133-141).

    Nas reas mais antigas da Colonizao, como o caso do Nordeste, nos conflitos provocados pelas invases s terras das aldeias, nos ltimos anos, vrios ndios foram assassinados, na "guerra" movida pelos grandes latifundirios para manterem seus privilgios no campo. Em muitas localidades, apesar dos povos indgenas serem reconhecidos pelo Estado, as terras indgenas no esto totalmente regularizada, e em todas elas ocorrem conflitos por causa de invases por terceiros. Em todas as reas indgenas predomina o clima de tenso, em umas mais que em outras, os conflitos fundirios so mais violentos onde j ocorreram mortes indgenas.

    Alm disso, a grande maioria da populao indgena, tanto no Nordeste como em outras reas mais antigas da colonizao, vive em estado de misria. As precrias condies de vida em razo de boa parte das terras mais frteis estarem invadidas por fazendeiros, so agravadas em pocas de longas estiagens quando a seca, que provoca a migrao de contingentes indgenas para os grandes centros humanos como So Paulo, onde vo em busca de melhores oportunidades de vida, passando a habitarem em favelas das periferias, sujeitos a

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    violncias urbanas. Recebendo a assistncia governamental de forma deficiente, constata-se entre os povos indgenas no Nordeste, casos de tuberculose e doenas de chagas em adultos. A desidratao e a desnutrio so as principais causas da mortalidade infantil em Pernambuco (JORNAL DO COMRCIO, 1995, 2-3).

    No ano de 1997, o Brasil ficou marcado pelo cruel assassinato do ndio Galdino Patax, morto queimado, enquanto dormia em um banco numa parada de nibus, no "Dia do ndio", em Braslia, onde tinha ido cobrar das autoridades providncias para a demarcao das terras do seu povo no Sul da Bahia. Vtima de "uma brincadeira" de 4 adolescentes da classe mdia do Distrito Federal que jogaram combustvel e atearam fogo no corpo de Galdino. O ato brutal de violncia colocou outra vez em debate as questes dos direitos, os preconceitos e as omisses da poltica indigenista do Governo diante das agresses contra os povos indgenas no pas.

    Se o pas escandalizou-se com a crueldade do assassinato de Galdino Patax, outro assassinato em tempos mais recentes provocou grandes repercusses no Brasil e no exterior. Em 20 de maio de 1998, Francisco de Assis o Cacique Xico foi assassinado em Pesqueira, com 6 tiros por um desconhecido que fugiu. Xico tornara-se, nos ltimos anos, uma expressiva liderana do povo Xukuru nas exigncias para demarcao das terras do seu povo, nas lutas pelas e garantias dos direitos indgenas. Reconhecido pela liderana na organizao dos povos indgenas no Nordeste e no movimento indgena no Brasil. Xico, h mais de 10 anos, recebia ameaas de morte, denunciadas s autoridades pblicas, tendo escapado de diversas emboscadas e tentativas de assassinato, cujos suspeitos so os fazendeiros invasores na rea indgena, contrrios demarcao das terras Xukuru.

    At o momento, apesar das investigaes policiais, das

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  • presses dos Xukuru e da sociedade civil organizada sobre as autoridades, nada de concreto foi apurado sobre o assassinato do Cacique Xico.

    A impunidade dos mandantes e executores dos crimes, favorece as continuadas violncias contra os povos indgenas. As omisses do Governo Brasileiro em garantir, como prevista em lei, a proteo aos indgenas e ao seu patrimnio, a vagareza nas apuraes e condenaes da Justia que, quando consegue concluir um processo, o julgamento de um acusado demora anos, sendo ele comumente absolvido. Uma realidade inconcebvel confrontada com o marketing dos discursos polticos oficiais sobre solues para a questo indgena no pas.

    O Brasil, comemorou no final de 1998, os 50 Anos da Declarao Universal Direitos Humanos da qual o pas signatrio. Alm disso os governantes patrocinaram os festejos triunfalistas dos 500 anos da Colonizao em abril/2000, quando em Porto Seguro na Bahia, a polcia reprimiu com vigor onde muitos ficaram feridos - o que foi mostrado pelos meios de comunicao - uma pacfica manifestao dos povos indgenas contrrios as comemoraes oficiais. Cabe ento a pergunta que debatiam telogos e juristas espanhis no incio da Colonizao, no sculo XVI: e os ndios so humanos?

    Nos ltimos anos, os povos indgenas no Nordeste, assim como em todo o Brasil fortaleceram suas organizaes, intensificaram as mobilizaes pelo reconhecimento tnico enquanto povos diferenciados, pela demarcao e retirada dos invasores de suas terras, pelas conquistas e garantia dos seus direitos a uma assistncia de sade e educao diferenciadas, ocupando um inegvel lugar no cenrio poltico, obrigandonos a rever a Histria, superar equvocos, preconceitos e omisses e a tradicional idia errnea de uma homogeneidade cultural no Brasil.

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    Superando equvocos, preconceitos e omisses: propostas para abordar a temtica indgena na escola

    A seguir esto elencadas sugestes a serem discutidas e implementadas no mbito da escola, no sentido de contribuir de forma efetiva com o fim dos equvocos, preconceitos e omisses sobre a temtica indgena. Essas propostas devem estar baseadas antes de tudo nos esforos do conhecimento da situao em que vivem e a superao de toda e qualquer forma de discriminaes contra os povos indgenas, bem como e pelo reconhecimento de seus direitos histricos: Incluir a temtica indgena nas capacitaes, estudos e

    treinamentos peridicos do professorado, a ser abordada na perspectiva da pluralidade cultural historicamente existente no Brasil e na sociedade em que vivemos.

    Estimular o conhecimento sobre os povos indgenas, atravs de cursos, seminrios, encontros de estudos especficos c interdisciplinares destinados ao professorado e demais trabalhadores/as em educao na escola, com assessoria de especialistas.

    Intensificar a produo, com assessoria de pesquisadores/as especialistas, de vdeos, cartilhas, subsdios didticos sobre os povos indgenas para serem utilizados em sala de aula.

    Promover estudos especficos para que o professorado de Histria possa conhecer os povos indgenas no Brasil, possibilitando uma melhor abordagem ao tratar da temtica indgena em sala de aula, particularmente nos municpios onde atualmente habitam povos indgenas.

    Estimular e apoiar professores/as que possuam interesses em aprofundar atravs de Cursos de Ps-Graduao os estudos sobre os povos indgenas.

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  • Promover momentos de intercmbios entre os povos indgenas e as escolas durante o calendrio letivo, atravs de visitas previamente preparadas do alunado s aldeias, bem como de indgenas s escolas. IMPORTANTE: ao a ser desenvolvida principalmente nos municpios onde atualmente moram os povos indgenas, como forma de buscar a superao dos preconceitos e as discriminaes.

    Ampliar () "Dia do ndio" para uma "Semana dos Povos Indgenas" a ser promovida nas escolas com exposies de trabalhos e pesquisas interdisciplinares realizadas pelo alunado, exibio de vdeos, fotografia, debates com a participao de indgenas, especialistas, instituies indigenistas, etc., como forma de proporcionar maior conhecimento sobre a situao e diversidade sociocultural dos povos indgenas.

    Proporcionar o acesso a publicaes: livros, peridicos, etc., como fonte de informao e pesquisa sobre os povos indgenas.

    Discutir e propor o apoio aos povos indgenas, atravs do estmulo ao alunado, com a realizao de abaixo-assinados, cartas s autoridades com denncias e exigncias de providncias para as violncias contra os povos indgenas, assassinatos de suas lideranas, etc.

    Estimular atravs de manifestaes coletivas na sala de aula, o apoio s campanhas de demarcao das terras e garantia dos direitos dos povos indgenas.

    Enfim, promover aes pautadas na perspectiva da diversidade cultural e dos direitos dos povos indgenas, bem como do reconhecimento de que o Brasil um pas pluritnico.

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    ANEXO I

    Estudando os povos indgenas: leituras bsicas mnima e outras fontes

    LIVROS BRUIT, Hctor H. Bartolom de Las Casas e a simulao dos vencidos. So Paulo: Unicamp, 1995.

    CONSELHO INDICJENISTA MISSIONRIO. Outros 500: construindo uma nova histria. So Paulo: Salesiana, 2001.

    CUNHA, Manuela Carneiro da. (Org.). Histria dos ndios no Brasil. 2. ed. So Paulo: Cia. das Letras, 1998.

    GOMES, Mrcio. 05 ndios e o Brasil. Petrpolis: Vozes, 1985. GRUPIONI, Lus Donizete Benzi. (Org.). ndios no Brasil. Braslia: MEC, 1994. (existe outra edio por uma editora comercial). MARTIN, Gabriela. Pr-Histria do Nordeste do Brasil. 3. ed. ver. e atuaL Recife: Editora Universitria da UFPE, 2000.

    MEC. ndios no BrasiL Cadernos da TV Escola. Braslia, 1999. (v. 1,2 e 3). MELA f TI, J!io Csar. ndios do Brasil. 7. ed. So Paulo: Hucitec, 1987. MONTEIRO, John M. Negros da terra: ndios e bandeirantes nas origens de So Paulo. So Paulo: Cia. das Letras, 1994.

    OLIVEIRA., Joo Pacheco de. (Org.). A viagem da volta: etnicidade, poltica e reelaborao cultural no Nordeste indgena. Rio de Janeiro: Contra Capa, 1999.

    PREZIA, Bendito; HOORNAER1; Eduardo. Brasil indgena: 500 anos de resistncia. So Paulo: FTD, 2000.

    RICARDO, Carlos Alberto. (Ed.). Povos indgenas no Brasil 1996-2000. So Paulo: Instituto Socioambiental, 2001.

    SILVA, Aracy Lopes da. A questo indgena na sala de aula: subsdios para professores de 10 e 2 graus. 2. ed. So Paulo: Brasiliense, 1995.

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  • SILVA, Aracy Lopes da. GRUPIONI, Lus Donizete Benzi. (Orgs.). A temtica indgena na escola: novos subsdios para professores de 10 e 2 graus. Braslia: Mari/UniccflUnesco, 1995. SILVA, Aracy Lopes da ; FERREIRA, Maria Kawall Leal. (Orgs.). Antropologia, Histria e Educao: a questo indgena e a escola. So Paulo: Global Editora!Fapesp/Mari-USp, 200l.

    VAINFAS, Ronaldo. Heresia dos ndios. So Paulo: Cia. das Letras, 1995.

    JORNAIS PORANTIM . Braslia, Conselho Indigenista Missionrio-CIMI/CNBB.

    TUPARI. Cuiab, Grupo de Trabalho Missionrio Evanglico-GTME

    E-mail: gtme()zaz.com.br

    MENSAGEIRO. Belm, CIMI-Norte I

    E-mail: dmiblm(cQamazon.com.br

    BOLETIM PARABLICAS. So Paulo, Instituto Socioambiental-ISA.

    www.socioambiental.org.br

    FILMES (disponveis em locadoras)

    Rapa-Nui (120 minutos)

    Avaet, semente de vingana (90 minutos)

    Amerndia (70 minutos)

    Xingu (90 minutos)

    Dana com os lobos (180 minutos)

    Gernimo (100 Minutos)

    Filho da estrela nascente (180 minutos)

    Pequeno grande homem (100 minutos)

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    Aguirre, a clera dos deuses (100 minutos) Hbito negro (93 minutos) Repblica Guarani (100 minutos) A misso (100 minutos) Brincando nos campos do senhor (180 minutos) 1492, o Descobrimento da Amrica (120 minutos), Cristvo Colombo- a aventura do Descobrimento (100 minutos) Corao de trovo (115 minutos) Esprito gucrrciru (93 minutos)

    OBS.: v na pgina do CIMI www.cimi.org.broutrosendereos na Internet sobre os povos indgenas.

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  • ANEXO li

    Um roteiro para o estudo dos povos indgenas no Ensino de Histria

    1. Os povos indgenas no Brasil atual: uma opo terica-metodolgica: iniciar o estudo a partir do conhecimento sobre a atua] situao dos POYOS indgenas existentes no pas. Utilizar mapas, quadros com a localizao e distribuio pelas Regies dos povos l indgenas no Brasil.

    2. A diversidade indgena no Brasil: enfocar a atual diversidade sociocultural dos povos indgenas no Brasil; estudar enfocando a diversidade histrica do Brasil indgena, nos perodos anterior e logo aps o incio da colonizao em 1500, superando a tradicional e simplista dicotomia de "tupi x tapuia". Utilizar fotografias para demonstrar a diversidade dos povos indgenas no BrasiL

    3. A antigidade da presena indgena no Brasil: discutir as teorias do povoamento da Amrica e no Brasil, enfatizando as descobertas mais recentes das pesquisas arqueolgicas realizadas em So Raimundo Nonato-FI. Estudar os diferentes grupos humanos, os antepassados dos atuais povos indgenas no BrasiL

    4. A histria indgena no Brasil, uma histria de resistncia: estudar as permanentes e diferentes estratgias de resistncia indgena na Histria do Brasil, superando as vises da colonizao como tragdia histrica com uma suposta assimilao, a integrao e o "desaparecimento" dos povos indgenas. Estudar o fenmeno do ressurgimento de povos indgenas nas reas mais antigas da colonizao portuguesa no Brasil.

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    5. 500 anos, qual o significado? Discutir o sentido dos 500 anos na Histria do Brasil, do ponto de vista oficial e do ponto de vista indgena de resistncia a colonizao, com as reivindicaes para o reconhecimento e garantias de seus direitos violados.

    Referncias Bibliogrficas

    ATLAS DAS TERRAS INDGENAS DO NORDESTE. Rio de Janeiro: PETI, PPGAS/Muc;eu NacionaJ;UFR], 1993. BRASIL. FUNAl. Sociedades indgenas e ao do Governo. Braslia: 1996.

    CONSELHO INDIGENISTA MISSIONRIO. A violncia contra os povos indgcnus no Brasil. Braslia: CIMI/CNBB, 1997.

    INSTITUTO SOCIOAMBIENT AL. Povos indgenas no Brasil: 1961-2000. So Paulo: Instituto Socioambiental, 2000.

    LACERDA, Rosanc F. Mais pedras no caminho dos povos indgenas para outros 500. In: DlREITOS HUMANOS NO BRASIL 200 I.Relatrio da Rede Social de Justia e Diretos Humanos em parceria com Global Exchange. So Paulo, dezembro de 2001, p.129-141.

    SANTILLI, Mrcio. Os brasileiros eos ndios. So Paulo: SENAC, 2000.

    SILVA, Edson. Brbaros, bons selvagens, heris: imagens de ndios no Brasil. CLIO - Revista de Pesquisa Histrica da Universidade Federal de Pernambuco (Srie Histria do Nordeste n. 15). Recife: Editora Universitria, 1994, p53-71.

    SILVA, Edson. Povos indgenas, violncia e educao. Cadernos da Extenso n. 2, jun ../99. Recife: Pr - Reitoria de Extenso da UFPE, 1999, p.111117.

    SILVA, Edson. Resistncia indgena nos 500 anos de Colonizao. In: BRANDO, Silvana.(Org.). Brasil 500 anos: reflexes. Recife: Editora Universitria da UFPE, 2000, p.99-129.

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  • ABSTRACT: This article discusses stereotypical views, lack of infonnation, crrors and prejudices that usually occur in rclation to lndian peple, and suggcsts an alterna tive approach, bibliographical sources, and a pedagogical oudine for the teaching ofaboriginal issues in History.

    KEY-WORDS: lndian (Aboriginal, Indigenous, Native) Peoples, Teaching of History, Bibliographies."

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