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DISTRIBUIÇÃO GRATUITA AOS SÓCIOS IV SÉRIE - EDIÇÃO ESPECIAL OUTUBRO DE 2005 TRABALHADORES LUTAM POR AUMENTO DE 5,5% NOS SALÁRIOS E PENSÕES PÁGINA 3 E 8 EFEITO DA PROPOSTA DO GOVERNO REDUÇÃO DAS PENSÕES A 448 MIL TRABALHADORES PÁGINA 5 Nós, TFP´s, vivemos tempos di- fíceis. Tempos que são ditados pela maior ofensiva de sempre contra as funções sociais do Estado e que erige os trabalhadores da Adminis- tração Pública como os responsáveis pelos problemas do país. De quase tudo os TFP’s são acusados: De serem demais, de usufruí- rem de privilégios, de trabalharem em serviços sem funções válidas, de terem férias a mais, de desequilibrarem o Orçamento de Estado. Esta é a triste e vil imagem que aqueles que nos últimos trinta anos têm governado Portugal fazem passar dos TFP’s, acolitados por colunistas com assento cativo na comunicação social. Incute-se na opinião pública uma autêntica anestesia psi- cológica: No mesmo jornal ou no mesmo telejornal em que os TFP´s são acusados das maiores diatribes encontramos notícias que retratam que quer por falta de meios humanos quer materiais existem deficiências em todos os sectores da Administração Pública: são escolas sem o mínimo de condições, são hospitais com falta de profissionais, sistemas informáticos da Segurança Social que não dão resposta às necessidades, é a falta de fisca- lização na protecção do ambiente ou na qualidade alimentar, é a falta de prevenção na protecção dos recursos florestais. São tantos casos que melhor que quaisquer outros os TFP’s tão bem conhecem! Daríamos um prémio quando um membro do Governo ou um colunista encartado diga verdades tão evidentes como estas: São os Governos que criam serviços, institutos, fundações e outras entidades e que nomeiam os seus dirigentes; São os Governos que publicam quadros de pessoal que em regra depois não autorizam serem preenchidos e fomentam o trabalho precário para satisfazer necessidades permanentes; São os sucessivos Governos que têm privatizado mais e mais funções sociais do Estado sem que os resultados positivos se vislumbrem; São os mesmos que exigem mais e mais sacrifícios aos trabalhadores portugueses em geral e aos TFP’s em particular que passados alguns meses concluem que o défice continua a au- mentar e que por isso é preciso insistir em “mais do mesmo”; Mais sacrifícios para os mesmos de sempre e mais bolsos cheios para os detentores dos grandes grupos económicos. Como é possível passar como “cão em vinha vindimada” sobre o facto de grupos financeiros terem visto os seus lucros crescerem em 86% e se considerar excessiva uma reivindicação salarial de 5,5% com a garantia de ninguém ter menos de 50 euros? É por isso que os TFP’s vão fazer greve e manifestar-se em Lisboa no próximo dia 20 de Outubro e irão recorrer posterior- mente às formas de luta que forem necessárias. Porque estão fartos de serem considerados os bodes expia- tórios das erradas e injustas políticas de direita de sucessivos Governos. Porque não aceitam dois pesos e duas medidas. Porque não se calam e não se vergam em defesa da sua dig- nidade pessoal e profissional. Porque quando entraram na Função Pública lhes impuseram regras para a aposentação ou para a progressão e agora o detentor do Poder Executivo – os responsáveis por um Estado dito “pessoa de bem” – as querem unilateralmente alterar. Porque o Governo quer fazer votar no dia 21 de manhã na Assembleia da República as gravosas alterações ao Estatuto de Aposentação, visando dificultar assim nesse momento a possibilidade de os trabalhadores, principalmente de fora de Lisboa, manifestarem o seu descontentamento vamos fazer greve no dia 20 e engrossar a manifestação da Frente Comum para que os senhores deputados sintam bem o volume da nossa indignação. É por tudo isto que dia 20 vamos dizer a certos senhores que “A luta continua”! PAULO TRINDADE EDITORIAL A MODERNIZAÇÃO PRETENDIDA PRIVATIZAR E DIMINUIR PESSOAL E SERVIÇOS PÁGINA 2 GREVE NACIONAL E MANIFESTAÇÃO EM LISBOA NO DIA 20

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Page 1: eDitorial - Página inicial · Tinha como objectivo elaborar propostas legislativas e operacionais para a organização da Administração Pública. Acabou por elaborar um anteprojecto

Distribuição gratuita aos sóciosiV série - eDição especial outubro De 2005

Trabalhadores luTam

por aumenTo de 5,5%

nos salários e pensões

Página 3 e 8

efeito Da proposta Do goVerno

reDução Das pensõesa 448 mil trabalhaDores

Página 5

Nós, TFP´s, vivemos tempos di-fíceis. Tempos que são ditados pela maior ofensiva de sempre contra as funções sociais do Estado e que erige os trabalhadores da Adminis-tração Pública como os responsáveis pelos problemas do país.

De quase tudo os TFP’s são acusados:

De serem demais, de usufruí-rem de privilégios, de trabalharem em serviços sem funções válidas, de terem férias a mais, de desequilibrarem o Orçamento de Estado.

Esta é a triste e vil imagem que aqueles que nos últimos trinta anos têm governado Portugal fazem passar dos TFP’s, acolitados por colunistas com assento cativo na comunicação social.

Incute-se na opinião pública uma autêntica anestesia psi-cológica: No mesmo jornal ou no mesmo telejornal em que os TFP´s são acusados das maiores diatribes encontramos notícias que retratam que quer por falta de meios humanos quer materiais existem deficiências em todos os sectores da Administração Pública: são escolas sem o mínimo de condições, são hospitais com falta de profissionais, sistemas informáticos da Segurança Social que não dão resposta às necessidades, é a falta de fisca-lização na protecção do ambiente ou na qualidade alimentar, é a falta de prevenção na protecção dos recursos florestais.

São tantos casos que melhor que quaisquer outros os TFP’s tão bem conhecem!

Daríamos um prémio quando um membro do Governo ou um colunista encartado diga verdades tão evidentes como estas:

São os Governos que criam serviços, institutos, fundações e outras entidades e que nomeiam os seus dirigentes;

São os Governos que publicam quadros de pessoal que em regra depois não autorizam serem preenchidos e fomentam o trabalho precário para satisfazer necessidades permanentes;

São os sucessivos Governos que têm privatizado mais e mais funções sociais do Estado sem que os resultados positivos se vislumbrem;

São os mesmos que exigem mais e mais sacrifícios aos trabalhadores portugueses em geral e aos TFP’s em particular que passados alguns meses concluem que o défice continua a au-mentar e que por isso é preciso insistir em “mais do mesmo”;

Mais sacrifícios para os mesmos de sempre e mais bolsos cheios para os detentores dos grandes grupos económicos.

Como é possível passar como “cão em vinha vindimada” sobre o facto de grupos financeiros terem visto os seus lucros crescerem em 86% e se considerar excessiva uma reivindicação salarial de 5,5% com a garantia de ninguém ter menos de 50 euros?

É por isso que os TFP’s vão fazer greve e manifestar-se em Lisboa no próximo dia 20 de Outubro e irão recorrer posterior-mente às formas de luta que forem necessárias.

Porque estão fartos de serem considerados os bodes expia-tórios das erradas e injustas políticas de direita de sucessivos Governos. Porque não aceitam dois pesos e duas medidas. Porque não se calam e não se vergam em defesa da sua dig-nidade pessoal e profissional. Porque quando entraram na Função Pública lhes impuseram regras para a aposentação ou para a progressão e agora o detentor do Poder Executivo – os responsáveis por um Estado dito “pessoa de bem” – as querem unilateralmente alterar.

Porque o Governo quer fazer votar no dia 21 de manhã na Assembleia da República as gravosas alterações ao Estatuto de Aposentação, visando dificultar assim nesse momento a possibilidade de os trabalhadores, principalmente de fora de Lisboa, manifestarem o seu descontentamento vamos fazer greve no dia 20 e engrossar a manifestação da Frente Comum para que os senhores deputados sintam bem o volume da nossa indignação.

É por tudo isto que dia 20 vamos dizer a certos senhores que

“A luta continua”!

Paulo Trindade

eDitorial

a moDernização pretenDiDa

priVatizar e Diminuirpessoal e serViços

Página 2

greVe nacional e manifestação em lisboa no Dia 20

Page 2: eDitorial - Página inicial · Tinha como objectivo elaborar propostas legislativas e operacionais para a organização da Administração Pública. Acabou por elaborar um anteprojecto

ouTubro 2005 . Fp2

Ficha Técnicadirector: paulo trindade

coordenador de redação: rui raposo

conselho de redacção: ana avoila, artur monteiro, José manuel Dias, manuel ramos, natália carvalho e paulo trindade

redacção: regimprensa, crl

Fotografia: gabinete de informação da federação

propriedade: federação nacional dos sindicatos da função públicarua rodrigues sampaio, 138-3º, 1150-282 lisboatel: 21 317 24 80. fax: 21 317 24 89 / 21 315 28 20email: [email protected]

design e pré-impressão: regimprensa, crl

impressão: impresse 4 – sociedade de edições

e impressão, lda

periodicidade: número especial

Tiragem: 42.200 exemplares.

distribuição gratuita aos sócios dos sindicatos da Federação

depósito legal: 3063/89

moDernização é campanha mistificaDora

goVerno quer acabar com serViços públicos

Duas DécaDas De comissões

Ao longo dos últimos 20 anos foram criadas várias comissões e estruturas para desencadear a reforma dos serviços públicos. A Comissão para a Qualidade e Racionalização da Administração Pública foi criada em 1993 e teve como presidenta Isabel Corte-Real. Tinha como objectivo caracterizar a Admi-nistração Pública, qualitativamente e quantitativamente, e fazer recomenda-ções no sentido de melhorar o serviço prestado. Produziu o relatório «Renovar a Administração: uma aposta, um desa-fio» em 1994.

Entretanto foi extinta e foi criada, em 2001, a Equipa de Missão para a Organização e Funcionamento da Administração do Estado. Tinha como objectivo elaborar propostas legislativas e operacionais para a organização da Administração Pública. Acabou por elaborar um anteprojecto de decreto-lei «Organização dos Serviços da Adminis-tração Directa do Estado».

Dois anos depois o governo de Du-rão Barroso cria a Estrutura de Missão para o Acompanhamento da Adminis-tração Pública. João de Deus Pinheiro e Manuel de Lencastre foram nomeados para acompanhar a execução da reforma e promover o cumprimento das linhas de orientação definidas anteriormente.

Este ano o Governo de José Sócrates extingue a missão e cria a Comissão Técnica do Programa de Reestruturação da Administração Central do Estado presidida por João Bilhim, com a missão de avaliar e elaborar propostas para a redefinição organizacional de estruturas e recursos da administração central.

A reestruturação da Administra-ção Pública do Governo de José Só-crates é uma campanha mistificadora que tem como objectivo primordial entregar os vários serviços públicos ao sector privado, pondo em causa direitos dos trabalhadores consagra-dos na Constituição da República e a qualidade dos serviços prestados à população. O governo «nunca es-condeu as suas intenções ao defender que o Estado pode ter única e exclu-sivamente funções de representação externa, de administração judicial e segurança interna. Tudo o resto podia e devia, no entender do executivo governamental, ser privatizado», acusa Paulo Trindade, da Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública.

A reforma da máquina do Es-tado tem sido uma bandeira dos sucessivos governos. Começou a ser delineada em 1993, durante a maioria absoluta de Cavaco Silva, mas nunca chegou a ser executada na totalidade. «Só a partir de 2004 é que começou a ser mais falada e divulgada» com a aprovação pelo Governo do PSD-CDS/PP da lei que estabelece os princípios e as normas por que são regidos os institutos públicos (Lei 3/2004, de 15 de Janeiro), a lei que estabelece o princípio e normas a que deve obedecer a organização administrativa directa do Estado (Lei 4/2004, de 15 de Janeiro), da legisla-ção referente ao contrato individual de trabalho (Lei 23/2004, de 22 de Junho) e a alteração ao estatuto do pessoal dirigente.

Um processo legislativo que, na opinião de Paulo Trindade, foi desen-volvido para actuar em quatro ver-tentes distintas e «com a finalidade de reduzir a Administração Pública à sua expressão mínima e acabar com direitos que são fundamentais para os trabalhadores».

A Federação «estava descontente com os processos e procedimentos dos concursos públicos para chefes de divisão e directores de serviços», mas a nova legislação «acaba pura e simplesmente com os concursos. Os trabalhadores para estes cargos pas-sam a ser nomeados com base num fundamento político. É um passo atrás muito grande que em nada con-tribui para agilizar os serviços».

As eleições legislativas de 20 de Fevereiro deste ano «criaram alguma expectativa de que o actual governo alterasse esta legislação penalizadora

para os trabalhadores da função pú-blica e para os cidadãos». No entanto, o executivo de José Sócrates optou por reafirmar os quatro diplomas aprovados pelo governo de direita e por concordar também com a Lei dos Supranumerários (Decreto-lei nº193/2002), que «é muito gravosa para os trabalhadores, na medida em que permite a colocação de pessoas no quadro supranumerário com um vencimento mais reduzido».

Mas, «como esta não era a for-ma mais adequada de entregar os trabalhadores com vínculo público ao sector privado, foi criada a lei do contrato individual de trabalho, que José Sócrates pretende que seja o vín-culo genérico para os trabalhadores da função pública». Segundo Paulo Trindade, esta medida «facilita em muito a passagem dos trabalhadores com os respectivos serviços para o sector privado».

A este quadro o governante asso-ciou o Sistema Integrado de Avalia-ção de Desempenho da Administra-ção Pública que é «penalizadora para os trabalhadores. As quotas impostas no processo vão criar muitas injus-tiças». No entanto, o sistema «deixa de fora os dirigentes nomeados pelo governo, aos quais nunca poderão ser atribuídas responsabilidades pelos seus actos nem ser avaliados pelas suas decisões».

revogação urgenTe

A Federação Nacional dos Sin-dicatos da Função Pública exige a revogação urgente desta legislação que classifica de penalizadora. Se as medidas do governo forem con-cretizadas, a par da privatização dos serviços, «poderemos vir a ter, em última análise, super-secretarias gerais em cada um dos Ministérios controladas pelo poder político e na dependência directa dos membros do governo».

A política de modernização da Administração Pública, de acordo com o programa do governo, deve ser conduzida de forma a ajustá-la aos recursos financeiros do país e a melhorar a qualidade do serviço a prestar a cidadãos, empresas e comu-nidades por via da descentralização, desconcentração, fusão ou extinção dos serviços. Salienta que o seu ob-jectivo está associado à necessidade de reduzir o volume de despesas pú-

blicas para o qual contribui de forma relevante a Administração Pública com as suas dimensões actuais.

Paulo Trindade opina que «há uma intenção muito clara de entregar a empresas privadas e aos grupos económicos serviços da competência do Estado». Nos últimos anos os governantes «criaram a ilusão, junto da opinião pública e da população, de que os trabalhadores e os serviços estão a contribuir para aumentar a despesa pública e é necessário re-correr a cortes».

Mas «nunca se fala dos exces-sivos encargos com os processo de privatização directa ou indirecta ou com os custos das sucessivas comissões nomeadas para fazer a suposta reforma». O dirigente dá como exemplos o Hospital Fernan-do Fonseca e os hospitais S.A onde «os resultados são negativos para o Estado e para os utentes».

Os governos «encomendam muitos estudos sobre a reforma pre-tendida, mas ainda não se fez uma avaliação de quanto custa ao Estado e aos contribuintes estas novas formas de empresarialização dos serviços públicos. Era fundamental que as pessoas soubessem os seus custos para poderem avaliar». No caso dos institutos públicos, a nova legislação cria «a possibilidade de uma parte ou do instituto por inteiro ser entregue a grupos económicos privados. Tra-ta-se de uma privatização directa da generalidade dos institutos sem ga-rantias da manutenção da qualidade dos serviços».

diagnosTicar a realidade

A Federação concorda com a modernização da Administração Pública. Porém, adverte que «são necessárias alterações profundas ao nível da orgânica como pretende o governo, mas também são funda-mentais mudanças ao nível da des-partidarização dos cargos dirigentes e da desburocratização e agilização dos procedimentos». Acima de tudo, salienta Paulo Trindade, a reforma passa «pela realização de um diag-nóstico em cada um dos sectores para, posteriormente, ser confron-tado com a realidade. A partir deste confronto é que se podem identificar as causas das deficiências e encon-trar os meios para as combater e superar». Esta análise «não foi feita

por nenhum dos governos. Não há vontade porque o único objectivo é privatizar e diminuir o número de trabalhadores, recorrendo a medidas inconstitucionais e a argumentos inválidos».

Este processo «está a ser conduzi-do sem o envolvimento dos recursos humanos e com muita hostilização aos trabalhadores. Trata-se de uma campanha para denegrir a imagem dos trabalhadores e para criar um clima de grande crispação que é necessário combater com o esclare-cimento da população».

A Federação já desafiou o go-verno, por diversas vezes, a divulgar

em concreto quais são os sectores e os serviços que têm trabalhadores a mais. «Admitimos que nos gabinetes ministeriais e nos núcleos mais che-gados aos titulares do governo tenha havido um aumento de pessoal nos quadros. Em todos os governos são nomeados assessores que acabam por ficar nos Ministérios quando o executivo é substituído». Mas nos serviços operacionais «não creio que haja trabalhadores a mais. As defici-ências ao nível de recursos humanos são do conhecimento público».

A saúde é o sector da Adminis-tração Pública que emprega mais trabalhadores e «aí as carências de

pessoal, quer de médicos e enfermeiros quer de técnicos de diagnóstico e terapêutica, são visíveis. Administrativos e auxiliares também não exis-tem a mais e a prova disso é o grande número de trabalha-dores com vínculo precário no Ministério. Se não fossem necessários, o Estado não os ia contratar a prazo ou recorrer aos recibos verdes».

A educação é o segundo sector que emprega mais pes-soas e «também não creio que haja excesso. Existem 14 mil trabalhadores não docentes em situação de contrato ad-ministrativo de provimento que estão há mais de dez anos nesta situação e que desempenham funções essen-ciais». Os Ministérios estão a reduzir, de ano para ano, o seu número de efectivos, o que «conduz à exterminação de serviços, nomeadamente nas áreas de inspecção e protec-ção ambiental. Esta redução está a ser feita através do congelamento de admissões. As pessoas são reformadas e não são substituídas por novos trabalhadores».

Em 1997 foi criado um organismo para manter actu-alizado o recenseamento da Administração Pública, mas o seu último levantamento re-porta-se a 1999. «Passaram-se seis anos. Há meios técnicos capazes de dar resposta, mas o governo não tem interesse em que os dados sejam actu-alizados e revelados porque podem contradizer os seus argumentos».

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ouTubro 2005 . Fp �

A Federação Nacional dos Sin-dicatos da Função Pública exige que o Governo de José Sócrates inicie o processo negocial para 2006 e acusa-o de protelar o processo para depois da aprovação do Orçamento de Es-tado. A estrutura já apresentou a sua proposta reivindicativa no passado mês de Setembro, mas o governo ainda nem sequer divulgou a data para dar início ao processo.

Este adiamento «é um indício de que o governo não tem vontade de negociar com os sindicatos. Estão em causa questões fundamentais para os trabalhadores da Administração Pública, mas que de uma forma indirecta também vão afectar os que trabalham no sector privado», sustenta Paulo Trindade, dirigente da Federação. O processo negocial pode começar a partir de 1 de Setembro desde que uma das partes envolvidas apresente proposta. De acordo com a lei, deve estar concluído por altura da votação final global do Orçamento de Estado. Mas nos últimos anos, os governantes «não tem respeitado este prazo e dão-se ao desplante de fazer a primeira reunião depois da data em que o processo negocial deveria estar concluído».

Uma situação que «já se está a repetir este ano» com a agravante «das políticas do governo para rees-truturar a Administração Pública já terem começado a congelar tudo o que seja suplementos, entre eles, o tempo para progressão na carreira e a actualização dos suplementos. Para muitos trabalhadores é uma grande machadada nas suas remu-nerações».

A lei que regula o direito de ne-gociação colectiva e de participação dos trabalhadores da Administração Pública foi aprovada em 1998 sem o acordo da Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública. O di-ploma «deixou de fora matérias que deveriam ser objecto da negociação, como por exemplo, a avaliação de desempenho ou a alteração ao esta-tuto de aposentação. Mesmo antes da lei existir estas matérias eram negociadas com o governo».

A actual legislação confere ao executivo o poder de «dar o processo negocial por findo a qualquer mo-mento, mesmo que não haja acordo de nenhuma organização sindical. Na prática, os governantes podem impor

sempre a sua vontade». Paulo Trindade realça que a

inexistência de uma entidade im-parcial «para dirimir os conflitos que surjam durante as negociações também causa vários entraves e possibilita ao governo assumir uma posição de hostilidade. Não estamos perante uma efectiva e verdadeira negociação».

O processo negocial é uma fer-ramenta importante para todos os trabalhadores da Administração Pública, que são cerca de 700 mil pessoas, mas que também tem influ-ências no sector privado. A «maioria dos patrões ficam sempre a aguardar o desfecho das negociações na Admi-nistração Pública para as usar como referência nas suas actualizações salariais e contratações. São raros os casos de aumentos acima da média prevista para a Função Pública». O desenrolar deste processo «afecta quase toda a população activa».

aumenTo de 5,5 por cenTo

A Federação reivindica para todos os trabalhadores da Adminis-tração Pública, independentemente

da natureza jurídica do seu vínculo laboral, a actualização dos salários e pensões em 5,5 por cento, incidin-do nos índices 100 e com a garan-tia de um aumento mínimo de 50 euros e a actualização do subsídio de refeição para seis euros diários. O Governo de José Sócrates «fala num aumento de dois por cento» quando o Banco de Portugal prevê que a subida da inflação atinja os três por cento. Perante este quadro, os trabalhadores «vão continuar a perder poder de compra».

Nos últimos cinco anos os trabalhadores da Administração Pública perderam em termos mé-dios cerca de cinco por cento do seu poder de compra. Em 2000 o aumento médio de salários rondou os 2,5 por cento e o aumento dos preços 2,8 por cento. Este ano, as remunerações aumentaram dois por cento e os preços 2,2 por cento.

O índice cem, fixado em 1989, está actualmente 15,36 por cento abaixo do salário mínimo nacional. Este valor «nunca deveria ser infe-rior ao salário mínimo. Tal situação tem levado os últimos governos a criar expedientes para colocar vários trabalhadores em índices fic-

tícios para não violar a legislação referente ao salário mínimo nacio-nal», afirma Paulo Trindade. Mas «acaba por ter reflexos em todas as remunerações salariais, desde a mais alta à mais baixa».

A política de rendimentos e salários em Portugal «está refém, há muitos anos, da forte restrição orçamental decorrente das opções políticas dos governos com o ob-jectivo de cumprir o programa de estabilidade e crescimento». As estatísticas oficiais evidenciam que em Portugal a parte que as remu-nerações representam na riqueza criada no país está muito abaixo da média da União Europeia e a tendência tem sido de diminuição contínua. Em 2002, ela representa-va 39 por cento quando a média dos 25 Estados da União Europeia era de 51,3 por cento. Um ano depois a média portuguesa é de 38,8 por cento e a europeia estava acima dos 50 por cento.

A política de rendimentos, em particular a política de remunera-ções, é um importante instrumento de política de repartição de riqueza e de justiça social e, segundo a Federação, não pode ser encarada

somente na óptica da redução de custos e de equilíbrio orçamental como está a ser feito. A redução das taxas de crescimento económico em Portugal tem sido acompanhada pelo aumento da desigualdade na repartição da riqueza.

De acordo com dados do Euros-tat referentes a este ano, Portugal é o país da União Europeia a Quinze onde esta desigualdade é mais elevada e aquele onde mais se tem agravado nos últimos anos. Em 1999, a média europeia era de 4,6 por cento e, em Portugal, era de 6,4 por cento. Mas enquanto esta média se tem mantido estável no quadro da União Europeia, no nosso país ela aumentou até atingir, em 2003, os 7,4 por cento.

A proposta reivindicativa es-tipula que, para além de garantir um aumento real dos salários, é necessário dar atenção particular à política fiscal no que se refere a tributação dos rendimentos de pessoas singulares. Neste campo é preciso assumir claramente a necessidade de um ajustamento dos escalões do IRS para evitar que os aumentos salariais não sejam absorvidos pela tributação.

reiVinDica aumento De 5,5 por cento

feDeração exige início Do processo negocial

proposta reiVinDicatiVa para 2006

— Actualização dos salários e pensões em 5,5 por cento, incidindo nos índices cem e com a garantia de um aumento mínimo de 50 euros

— Actualização do subsídio de refeição para seis euros

— Actualização das restantes prestações pecuniárias incluindo as da ADSE em 5,5 por cento

— Actualização gradual dos

valores das prestações da ADSE no sentido da aproximação dos custos dos encargos com cuidados de saúde

— Actualização dos escalões do IRS acima da inflação

— Abertura de um processo ne-gocial sobre carreiras que garanta a todos os trabalhadores o acesso ao topo da carreira

— Revogação da Lei 23/2004 que aprova o regime de contrato individual de trabalho da Adminis-tração Pública, da Lei dos Institutos Públicos e da Lei da Administração Directa do Estado

— Revogação da Lei nº 10/2004 e demais legislação complementar que cria o sistema integrado de avaliação de desempenho da Admi-nistração Pública

— Abandono do processo legis-lativo referente ao Estatuto de Apo-sentação e revogação da legislação lesiva dos direitos e expectativas em matéria de aposentação e carreiras contributivas mais longas

— Revogação das medidas mais gravosas do Código de Trabalho e do Decreto-Lei nº 193/2002

— Revogação da Lei nº 43/2005 que estabelece a não contagem do

tempo de serviço para efeitos de progressão e o congelamento do montante dos suplementos remu-neratórios

— Integração nos quadros com vínculo de emprego público dos trabalhadores em regime de contrato individual de trabalho e integração dos trabalhadores da Administração Pública nos quadros de pessoal em vínculo de emprego público nos serviços em que se encontrem a de-sempenhar funções permanentes

— Garantia de que os trabalha-dores em regime de contrato admi-nistrativo de provimento tenham

direito ao pagamento integral do período de licença de maternidade e paternidade

— Dedução em sede de IRS das despesas com formação profissional e equipamento para o exercício de funções

— Aplicação dos decretos-leis 404-A/98 e 412-A/98 e da Lei Qua-dro das Inspecções às carreiras em que tal ainda não se efectuou

— Definição de um estatuto de estágios e de bolsas e definição e aplicação de medidas que contribu-am para uma política de igualdade na Administração Pública.

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ouTubro 2005 . Fp�

generalização Do contrato inDiViDual De trabalho

reVisão De carreiras rouba tempo De serViço

A revisão do sistema de carreiras e remunerações dos funcionários públicos pretendida pelo governo congela a regra de progressão, rouba tempo de serviço aos trabalhadores e limita o direito à carreira em articula-ção com o SIADAP (Sistema Integra-do de Avaliação do Desempenho da Administração Pública). Um sistema que não melhora o funcionamento e qualidade dos serviços públicos, mas que contribui para a redução dos custos com o pessoal.

A Federação Nacional dos Sin-dicatos da Função Pública alega que este governo pretende pôr em causa o regime de carreiras, congelando as admissões e determinando que as no-vas entradas de trabalhadores sejam feitas através do regime de contrato individual de trabalho. Uma medida que vai contribuir fortemente para generalizar esta forma de contrato, subverter todo o regime de emprego na função pública e restringir o regi-me público de carreiras.

A resolução do Conselho de Ministros, publicada em «Diário da República», em 30 de Junho deste ano, pretende ainda reservar tenden-cialmente o regime público de carrei-ra para as funções relacionadas com o exercício de poderes soberanos e de poderes de autoridade.

As progressões segundo o tempo de serviço e uma determinada classi-ficação podem ter os dias contados. Os trabalhadores podem estar pe-rante a criação de um sistema mais recuado do que o que vigorou até 1 de Outubro de 1989. Este previa a atribuição de uma diuturnidade ao fim de cinco anos de serviço efectivo até ao máximo de cinco ao longo da carreira.

A intenção do governo diminuir o número de carreiras na Administração Pública requer uma análise exaustiva das funções exercidas actualmente nas carreiras existentes. Mas a Fede-ração adverte que deve ser recusada qualquer tentativa de introduzir a po-livalência na Administração Pública

através da jun-ção de carreiras numa só, ainda que com conte-údos funcionais diferentes.

Salienta ain-da que a preten-são de reforçar as condições de mobilidade dos trabalhadores en-tre o sector pú-blico e o privado nada tem a ver com os sistemas retributivo e de carreira. Trata-se de um prin-cípio que visa, essencialmente, permitir que os trabalhadores da Administração Pública passem a prestar serviço em entidades privadas em condições menos vantajosas para eles e com mais aliciantes para o sector privado, designadamente a diminuição dos custos com pessoal. Esta mobilidade poderá ser utilizada em situações como as das parcerias público-priva-das através da realização de contratos programa.

siadap não melhora serviços

O SIADAP não vai melhorar os serviços públicos como alega o governo de José Sócrates, mas sim reduzir custos com pessoal re-forçando o congelamento da regra da progressão na carreira e relegar para segundo plano a avaliação dos serviços.

O actual governo, à semelhança do executivo do PSD-CDS/PP, con-tinua a insistir na prioridade dada à avaliação do desempenho dos trabalhadores da Administração Pú-blica antes da avaliação dos serviços,

dando a entender à opinião pública que a maioria das deficiências dos serviços se devem ao desempenho dos trabalhadores.

Portugal continua a não dar a me-lhor aplicação à Estrutura Comum de Avaliação da Administração Pública da União Europeia (CAF), pondo em causa o indispensável envolvi-mento da hierarquia, trabalhadores e utentes. A avaliação destes três componentes deveria contribuir para diagnosticar as medidas con-ducentes à permanente melhoria dos serviços. Os trabalhadores e os seus representantes têm demasiadas razões para discordar da prioridade dada à avaliação do seu desempenho antes da apreciação dos serviços, de conhecerem a sua planificação e de terem confiança em avaliadores de reconhecida competência.

O governo reconheceu que a aplicação do SIADAP tem deficiên-cias e que é fundamental encontrar uma solução realista e exequível para 2004, 2005 e 2006 que permita salvaguardar as situações dos servi-ços e organismos que já aplicaram o sistema. Salienta ainda que a entrada em vigor do sistema se revelou pre-

cipitada e sustenta que a sua revisão deve ser articulada com a revisão do sistema de carreiras e remunera-ções e com o sistema de avaliação dos serviços, que está programado para 1 de Janeiro de 2007. A opção legislativa de 2004 de fazer aplicar imediatamente o SIADAP criou uma situação de desigualdade.

Sustenta que quem não foi ava-liado em 2004 vai ter a mesma clas-sificação que venha a ser atribuída relativamente a 2005. Refere ainda que os trabalhadores avaliados no ano passado pelo SIADAP podem, por opção própria, pedir a substitui-ção pela avaliação que venha a ser atribuída relativamente ao serviço prestado durante este ano.

Para a Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública esta so-lução não passa de um remendo num fato que não serve à Administração Pública e não defende os interesses dos seus trabalhadores. O governo preocupa-se com a avaliação dos trabalhadores, mas não existe uma avaliação da qualidade dos serviços nem das condições garantidas para o seu funcionamento. Os processos de avaliação que existem nalguns secto-

res revelam enormes debilidades proces-suais e conceptu-ais que afectam a funcionalidade dos serviços.

conTagem congelada

Para culminar este edifício legisla-tivo, a Lei 43/2005, de 29 de Agosto, de-termina que o tempo de serviço prestado pelos funcionários, agentes e outros tra-balhadores da Ad-ministração Pública central, regional e local e pelos demais

servidores do Estado entre a entrada em vigor da presente lei e 31 de De-zembro de 2006 não é contado, para efeitos de progressão em todas as car-reiras, cargos e categorias, incluindo as integradas em corpos especiais.

O governo congelou ainda o montante de todos os suplementos remuneratórios de todos os funcio-nários, agentes e demais servidores do Estado entre a entrada em vigor da presente lei e 31 de Dezembro de 2006. Uma vez mais as medidas são justificadas pela necessidade de suster o crescimento da despesa pública. De acordo com a Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública, as car-reiras horizontais ficam sem qualquer tipo de evolução até 2007 e nas verti-cais a situação acaba por ser igual, já que não será autorizada a abertura de concursos de promoção.

Durante o ano de 2006, os su-plementos como subsídio de turno, trabalho nocturno e trabalho em dias de descanso semanal, entre outros, serão pagos em valores que têm como referência os vencimentos de 2005, o que se traduz em mais uma redução da remuneração real.

goVerno extingue subsistemas De saúDe

meDiDa abrange 1,8 milhões De beneficiáriosO governo vai extinguir os seis

subsistemas de saúde públicos que abrangem mais de 1,8 milhões de beneficiários e integrá-los na ADSE (Direcção-Geral de Protecção Social dos Funcionários e Agentes da Ad-ministração Pública) sem atender às especificidades dos profissionais e familiares dos militares e das forças de segurança.

A Federação Nacional dos Sin-dicatos da Função Pública considera que esta medida carece de uma análise mais profunda na medida em que vai afectar milhares de trabalhadores e familiares. Considera ainda que a su-gestão do ministro da Administração Interna, António Costa, de criar uma mútua para gerir estes subsistemas ou para substituir a ADSE deve ser devidamente analisada.

A unificação dos subsistemas de saúde foi uma decisão tomada no âmbito da proposta de lei da protecção social dos trabalhadores da Adminis-tração Pública e abrange a ADME (Assistência na Doença aos Militares no Exército), a ADMA (Assistência na Doença aos Militares na Armada), a ADMF (Assistência na Doença aos Militares da Força Aérea), a ADMG (Assistência na Doença à GNR), a SAD PSP (Serviços de Assistência na Doença da Polícia de Segurança Pública) e os SSMJ (Serviços Sociais do Ministério da Justiça).

O Conselho de Ministros já apro-vou, no passado dia 6 deste mês, o decreto-lei que revê o regime de assis-tência na doença dos funcionários do Ministério da Justiça e o decreto-lei que fixa as condições em que os fun-

cionários e agentes que sejam familia-res ou equiparados de beneficiários de subsistemas de saúde podem exercer o direito de opção relativamente ao sistema ou subsistema de saúde em que pretendem ser inscritos.

O pessoal admitido a partir do passado dia 1 de Julho, indepen-dentemente dos serviços e funções, tiveram de se inscrever na ADSE. O decreto-lei que procedeu à uniformi-zação dos sub-sistemas foi aprovado na generalidade na reunião de 2 de Junho do Conselho de Ministros, para produzir efeitos a partir de dia 1 de Outubro do corrente ano.

A proposta de lei do governo sobre a protecção social dos funcionários e agentes da Administração Pública visa a unificação dos sistemas de protec-ção social, acção social complementar

e os subsistemas de saúde existentes do âmbito da Administração Pública num único regime de protecção so-cial, tendo por base a Lei de Bases da Segurança Social aprovada pelo Governo de Durão Barroso.

A intenção do executivo de José Sócrates reveste-se de uma enorme complexidade, desde logo porque a protecção social dos funcionários e agentes da Administração Pública engloba a segurança social e saúde, que nos outros sectores de actividade se separaram em 1977 para dar origem ao Serviço Nacional de Saúde. Além disso, os funcionários e agentes da Administração Pública têm ainda uma relação de trabalho especial em que a entidade empregadora assume uma dupla responsabilidade, quer em termos de emprego quer na protecção

social. O novo regime introduz na Ad-

ministração Pública os conceitos de beneficiário (o trabalhador) e con-tribuinte (a entidade empregadora) e faz depender o direito à protecção na doença, maternidade, desemprego e acidentes de trabalho dum prazo de garantia. Por sua vez, a protecção na invalidez, velhice e morte continua a depender da inscrição na Caixa Geral de Aposentações.

Por saber, porque o Governo o omite, fica qual a participação da entidade empregadora para o sistema de protecção social sendo certo que os trabalhadores continuarão a contribuir com 11% (10% para CGA e 1% para a ADSE) como quaisquer outros trabalhadores.

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mais iDaDe e tempo De serViço para a aposentação

goVerno quer reDuzir pensão a 448 mil trabalhaDores

Direitos postos em causaA proposta de lei de aposentação do Governo de José Sócrates

põe em causa os direitos e expectativas jurídicas dos trabalhadores da função pública, segundo se salienta no abaixo-assinado da Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública, que pode ser subscrito em www.fnsfp.pt.

A «idade legal de aposentação é aumentada seis meses em cada ano, durante um período de dez anos, para os que não têm 60 anos de idade e 36 anos de serviço em 31 de Dezembro de 2005». Simultaneamente, «são acrescidos seis meses por cada ano aos 36 de serviço, até atingir os 40 anos em 2013, o que representa a redução da taxa de formação da pensão de 2,5 por cento ao ano para dois por cento».

A medida conduz à «redução da pensão de aposentação para valores que podem atingir os 80 por cento de toda a carreira contributiva», mesmo que trabalhem muitos mais anos. A Frente Comum considera que «a certeza e a segurança jurídicas, os princípios da boa-fé, da pro-tecção da confiança, da justiça, da igualdade, os direitos e os interesses dos trabalhadores» não estão a ser cumpridos.

A proposta de lei, aprovada pelo Conselho de Ministros em 1 de Setembro e admitida na Assembleia da República em 15 de Setembro, será votada pelos deputados no próximo dia 21 de Outubro. A maioria absoluta do PS poderá garantir a sua aprovação, daí que os subscritores se dirijam ao Presidente da República e lhe solicitem que promova «a fiscalização preventiva da lei» por «ser de constitucionalidade duvidosa».

Os requisitos legalmente estabelecidos quando ingressaram na Administração Pública eram de 60 anos de idade e 36 anos de serviço e a pensão de aposentação era igual ao vencimento (líquido e ilíquido). Condições que vigoram desde 27 de Março de 1929, ano em que foi criada a Caixa Geral de Aposentações, para a qual os trabalhadores descontam dez por cento da remuneração base mensal. Como contra-partida dos seus descontos, os trabalhadores têm direito a receber 2,5 por cento da remuneração base por cada ano.

A iniciativa legislativa do governo ignora os requisitos e as expec-tativas jurídicas tuteladas pelo direito.

A proposta de lei de aposentação do Governo de José Sócrates tem como efeito reduzir o valor da pen-são a cerca de 448 mil trabalhadores que se inscreveram na Caixa Geral de Aposentações (CGA) antes de 1993, mas que se aposentarão depois de 2005.

Esta a conclusão do estudo a que procedeu o economista Eugé-nio Rosa, que se baseou em dados fornecidos pela CGA relativos aos inscritos até 1993 (ver quadro) e que representam 60 por cento de todos os trabalhadores da Administração Pú-bica. Destes 448 mil trabalhadores, 376 mil (aqueles que têm 55 anos ou idade inferior) só se poderiam aposentar sem penalização de idade quando completassem 65 anos.

Mas a proposta não afecta apenas estes 448 mil trabalhadores. Traduz-se no aumento do tempo de serviço e da idade de aposentação para todos os trabalhadores da Administração Pública. Caso a proposta de lei seja aprovada na Assembleia da Repúbli-ca e promulgada pelo Presidente da República, a idade de aposentação voluntária passa de 60 anos para 65, num período de dez anos, e o tempo de serviço passa de 36 anos para 40 até 2013.

A sua aplicação implica para a maioria dos trabalhadores inscritos na CGA antes de 1 de Setembro de 1993 carreiras extremamente longas (superiores a 40 anos de serviço) e valores das pensões inferiores aos actuais 90 por cento da remuneração à data de aposentação. A fórmula de

cálculo da pensão concebida pelo governo tem também esse efeito.

Actualmente, a taxa de formação anual da pensão é de 2,5 por cento por ano de serviço. Multiplicado este índice por 36 anos de serviço, obtém-se a pensão correspondente aos 90 por cento de remuneração do trabalhador. Na proposta do governo, a taxa de formação da pensão seria reduzida para apenas 2,25 por cento por ano para o tempo de serviço realizado pelo trabalhador até 2005. Depois dessa data passaria apenas para dois por cento por ano, podendo haver mesmo anos de serviço que não sejam considerados para cálculo da pensão.

Eugénio Rosa salienta que a redu-ção da taxa tanto se aplica à aposen-tação ordinária como à aposentação antecipada. O seu estudo incide sobre a terceira e última versão da proposta de lei de aposentação. As alterações introduzidas pelo governo limita-ram-se a corrigir erros de natureza técnica, não tendo acolhido nenhuma das várias propostas apresentadas pelos sindicatos, no decurso de três reuniões.

reduzir o déFice

Interpelado pelos representantes sindicais, o governo reconheceu que não fez nenhum estudo para avaliar as consequências para os trabalha-dores da aplicação da sua proposta. O seu objectivo é tão-só reduzir o défice do orçamento do Estado.

Determinado por esse objectivo, procedeu a uma engenharia que visa apropriar-se de parte da pensão acu-mulada pelos trabalhadores ao longo da sua vida retributiva. E procura alterar retroactivamente as condições contratadas pelas partes, em violação de um direito já formado.

A presunção do Governo de José Sócrates é a de que os trabalhadores se reformem com a idade de 60 anos e 36 anos de serviço, tal como era a sua expectativa, e abdiquem da parcela que lhes quer retirar. Essa lógica está implícita no cálculo da taxa de formação anual da pensão referente ao período até 2005, a qual será tanto menor quanto mais tarde o trabalhador se aposentar. A pensão final daqueles que entraram antes de 1993, mas que se aposentem depois de 2005, será sempre inferior a 90 por cento.

No caso da aposentação ordinária, um trabalhador pode aposentar-se até

2014 com 36 anos de ser-viço, mas seria penalizado com uma redução na pensão correspondente à taxa de formação anual respectiva (2% por ano). Taxa esta que seria multiplicada pelos anos em falta até atingir o novo tempo de serviço (36 anos e meio a partir de 1 de Janeiro de 2006, a qual seria aumentada seis meses por cada ano até atingir 40 anos de serviço). Si-multaneamente aumentaria todos os anos a idade legal de aposentação (60 anos e

meio a partir de 1 de Janeiro de 2006, aumentando seis meses por cada ano até atingir os 65 anos).

Quanto à aposentação anteci-pada, o trabalhador sofreria uma redução de 4,5 por cento na pensão por cada ano em falta, não apenas em relação aos 60 anos, mas também à nova idade legal de aposentação que o governo pretende impor (60 anos e meio a partir de 1 de Janeiro de 2006, aumentando seis meses por cada ano até atingir os 65 anos.

Eugénio Rosa salienta que só no caso em que o trabalhador tenha mais anos de serviço do que o novo tempo mínimo (36 anos e meio a partir de 1 de Janeiro de 2006, aumentando seis meses por cada ano) é que poderia trocar cada ano de serviço a mais pela redução de meio ano na idade de aposentação. No entanto, como esta disposição só vigoraria até 2014, isso significaria que 385 mil trabalhado-

res, que só se aposentariam depois desta data, não podem fazer tal troca mesmo que tenham muitos mais anos de serviço.

Um trabalhador para se poder aposentar sem uma redução ainda maior da sua pensão, do que aquela que já é determinada pela diminuição da taxa de formação da pensão, teria de cumprir simultaneamente duas condições: ter a nova idade legal de aposentação e o novo tempo de serviço. Caso essa coincidência não se verifique, o que é o mais frequen-te, muitos trabalhadores teriam de cumprir muitos mais anos de serviço o que determinaria carreiras extrema-mente longas.

Com esta medida o governo não pretende apenas reduzir o défice orçamental, mas também precipitar uma corrida antecipada às reformas, reduzindo dessa forma os efectivos da função pública. Mesmo que au-mente de forma não expectável os encargos da CGA, reconfigura os serviços com vista à sua intenção de os privatizar.

Se a estratégia do governo não funcionar no sentido da saída, o trabalhador vê reduzida a pensão e aumentado o tempo legal de aposen-tação e de serviço. Um trabalhador admitido em 1974 terá de trabalhar até 2014 para atingir 40 anos de ser-viço, faltando-lhe nove anos (a taxa de formação da pensão será de 2%). Quem tiver entrado na Administra-ção Pública em 1993 terá de trabalhar até ao ano 2033, faltando-lhe cumprir 28 anos de serviço.

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institutos superiores politécnicos

goVerno continua a traVar solução

O Governo e a Direcção-Geral da Administração Pública (DGAP) continuam a travar a solução para o velho problema dos trabalhadores não docentes dos Institutos Superiores Poli-técnicos. O impasse tem já uma década e, além de se traduzir em prejuízo para os trabalhadores, representa um total desrespeito pelo cumprimento da lei.

A legislação impôs em 1990 a aprovação dos estatutos dos diferentes Institutos Superiores Politécnicos, com a posterior aprovação dos quadros de pessoal. A partir de 1994 foram ela-borados e aprovados os quadros do pessoal docente, mas os do pessoal não docente não foram sequer apresentados.

A Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública salienta que continuam por apresentar os projectos com vista à negociação entre as partes. O Governo de José Sócrates

mantém o mesmo desprezo pelos trabalhadores, tal como os seus antecessores.

Os representantes sindicais questionaram o ministro Ma-riano Gago no passado dia 10 de Maio. O ministro não deu resposta por não ter conhecimento do assunto. Passados quatro meses continua a não responder, quer a esta matéria quer a outras, como por exemplo o regime de protecção social dos trabalhadores dos ex-Serviços Sociais.

A Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública também oficiou a DGAP, em 7 de Junho do corrente ano, tanto mais que este processo dos quadros dos não docentes chegou a conhecer uma fase avançada de elaboração no anterior go-verno.

No passado mês de Agosto, a DGAP informou os repre-sentantes sindicais que «se encontram em curso reuniões de trabalho entre esta Direcção-Geral e representantes da Direc-ção-Geral do Ensino Superior e dos Institutos Politécnicos, no sentido de serem ultrapassadas as questões pendentes sobre a transição do pessoal e a elaboração dos respectivos quadros».

A Federação disponibilizou-se desde logo para reunir, mas a solução continua protelada. O governo só é célere quando se trata de retirar direitos aos trabalhadores.

29 centros e cerca De cinco mil trabalhaDores

iefp nega regulamentona gestão participaDa

protelamento também na DgV

Também permanece protelada a situação referente aos traba-lhadores de fiscalização e inspecção da Direcção-Geral de Viação (DGV). O governo continua sem proceder à aplicação do regime de carreiras de inspecção da Administração Pública, em vigor desde 2001.

Em Julho passado, o secretário de Estado da Administração Interna comunicou à Federação Nacional dos Sindicatos da Fun-ção Pública que o projecto de diploma de aplicação do decreto-lei 112/2001 tinha sido enviado para parecer do secretário de Estado da Administração Pública. Todavia, decorridos estes meses tudo permanece na mesma.

Os trabalhadores com funções de inspecção, fiscalização e instrução de contra-ordenações responderam com o recurso à greve às horas extraordinárias, dias de descanso semanal e descanso com-plementar e feriados. A greve está a pôr em causa diversas operações de inspecção e fiscalização que se realizam ou prolongam para além do horário normal.

Em 17 de Setembro, por exemplo, uma operação que deveria ter sido realizada no Algarve, em conjunto com a GNR, junto de carros “tunning”, terá sido anulada, segundo afirmam os representantes sindicais.

O Instituto de Emprego e Forma-ção Profissional (IEFP) nega a regu-lamentação laboral aos trabalhadores dos centros de formação profissional de gestão participada. A Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública solicitou uma reunião ao conselho directivo do instituto, já na presidência de Francisco Madelino, mas ainda não obtiveram resposta.

Manuel Ramos, da Federação sindical, reafirmou a intenção de insistir junto IEFP para debater esta matéria que se arrasta há anos. Estão em causa as condições de trabalho, carreiras e matéria salarial de cerca de cinco mil trabalhadores que prestam serviço em 29 centros de gestão par-ticipada, que dispõem de cerca de 75 locais de trabalho, nas cinco regiões do continente.

O IEFP, criado em 1979, gere uma rede de centros de formação profissional, com cobertura nacional, que integra os centros de formação e de reabilita-ção profissional de gestão directa e os centros de formação profissional de gestão participada.

Estes têm uma voca-ção marcadamente pro-fissional e foram criados ao abrigo de protocolos celebrados entre o IEFP e parceiros sociais, entre eles associações patronais, sindicais e profissionais. Complementam a acção dos centros de gestão di-recta e os seus órgãos de direcção, administração, fiscalização e técnico-pe-dagógico são igualmente presididos por represen-tantes do IEFP.

Manuel Ramos con-sidera que os centros de gestão participada desem-penham funções que cor-respondem às atribuições do IEFP. Além disso e apesar de possuírem au-tonomia administrativa e financeira, os respectivos orçamentos são na quase totalidade suportados pelo instituto. É essa relação de

natureza tutelar, reguladora e de financiamento que lhe confere a prorrogativa de os orientar e dirigir.

Razão que fundamenta a posição dos representantes sin-dicais. Após reuniões e contactos com os trabalhadores reivindi-cam a aplicação dos regulamen-tos internos do IEFP ao pessoal dos centros de gestão participa-da. Manuel Ramos salienta que é necessário clarificar a relação de trabalho, pondo termo às disparidades que se verificam e assegurando a uniformização de condições.

Actualmente há trabalhado-res que não dispõem de regula-mentação nenhuma, há centros que têm regulamentos próprios, outros que aplicam os regula-mentos do IEFP, com excepção das tabelas salariais, e outros

ainda que se regem por regulamentos originários das en-tidades parceiras. Também existe uma profusão de víncu-los, quer de pessoal que pertence aos quadros quer ou-tros de contratação externa.

A Federação sindical considera urgente dar resposta e satisfação às aspi-rações destes traba-lhadores, parte dos quais se inscreve-ram nos sindicatos filiados, para colec-tivamente defende-rem os seus direitos e interesses.

Aliás, o próprio IEFP deveria ser, pela natureza dos seus objectivos e atribuições, parte interessada numa solução. Compete, designadamente, ao instituto promover a organização do

mercado de emprego como parte es-sencial dos programas de actividade, tendo em vista a procura do pleno em-prego, livremente escolhido de acordo com as preferências e qualificações, enquanto factor de valorização cultu-ral e técnico-profissional dos recursos humanos do País.

Também são suas atribuições apoiar iniciativas que conduzam à criação de novos postos de trabalho e colaborar na concepção, elaboração, definição e avaliação da política glo-bal de emprego. Daí que o IEFP deva desde logo arrumar a sua própria casa e assegurar a estabilidade e qualifica-ção do pessoal ao seu serviço, o qual é fundamental para a concretização dos objectivos.

Formação proFis-sional

Aos centros de formação profissio-nal de gestão participada estão cometi-das acções formativas que abarcam um espectro amplo (ver quadro) e que são fundamentais para a modernização e qualificação do pessoal e quadros das empresas. Formação particularmente necessária para o desenvolvimento das empresas de pequena e média dimen-são, que não dispõem de meios para

promover a sua própria formação. Mas também para qualificar a mão-de-obra que as empresas procuram.

A oferta de formação profissional dos centros de gestão participada está concentrada, sobretudo, nas regiões Norte, Lisboa e Vale do Tejo e Centro. A sede dos centros, os seus pólos ou unidade operacionais estão instaladas em zonas urbanas e industrializadas, designadamente em locais onde exis-tem actividades económicas especiali-zadas, quer em novos segmentos quer em áreas de produção tradicional. Nas regiões do Alentejo e Algarve quase não têm expressão.

Os trabalhadores dos centros de formação são parte interessada nos resultados que o seu trabalho induz nas actividades económicas e no desenvol-vimento dos locais e regiões em que se inserem. Num encontro nacional de trabalhadores dos centros de gestão participada, que se realizou em 15 de Novembro de 2003, em Coimbra, foram abordadas matérias como a formação e o futuro dos centros.

Mas sobrelevaram no debate os problemas não resolvidos que os trabalhadores enfrentam. Problemas respeitantes aos locais de trabalho, às relações de trabalho e ao vínculo laboral. Manifestaram igualmente a disposição de se organizarem.

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trabalham nas ipps cerca De 50 mil

salários congelaDos DesDe 2001

segurança social entraVa negociação Os trabalhadores do Instituto

de Segurança Social-IP estão a ser lesados pelo actual governo, que desde a sua tomada de posse ainda não resolveu os problemas que os afectam nem recebeu a Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública e os sindicatos nela filiados. O próprio instituto protagonizou mais uma manobra dilatória.

Os problemas são vários e a sua resolução é urgente. A estagnação de toda a carreira administrativa resulta da falta de cumprimento do próprio regulamento de dirigentes e chefias e de não serem abertos concursos para

chefes de equipa, e à não reposição da legalidade no que se refere aos trabalhadores do extinto Instituto de Desenvolvimento Social (IDS) quando todos sabem que a atitude do conselho directivo foi ilegal ao retirar de forma abusiva todos os direitos que os trabalhadores tinham. Mas faltam também meios humanos em praticamente todos os serviços, a que acresce a situação criada aos trabalhadores em regime de contrato administrativo de provimento con-cursados e não nomeados, e a falta de regulamentação laboral para todos os trabalhadores em regime de contrato

individual de trabalho, que abrange cerca de três mil pessoas.

Este último problema levou a Federação a reunir recentemente com os grupos parlamentares do Partido Comunista Português (PCP), do Partido Socialista (PS), do Partido Social Democrata (PSD) e do Bloco de Esquerda. Todos eles se compro-meteram a questionar o Governo de José Sócrates sobre a falta de regulamentação laboral para os tra-balhadores abrangidos pelo contrato individual de trabalho e as soluções previstas para alterar a situação.

De acordo com a Federação, este

problema não pode continuar a ser adiado. Em Abril de 2002, a estrutura sindical e o então conselho directivo do instituto aprovaram um acordo sobre o regulamento aplicável a estes trabalhadores, mas este nunca chegou a ser posto em prática e nem sequer foram aplicadas as matérias que não careciam da aprovação da tutela.

A Federação apresentou re-centemente ao conselho directivo do Instituto de Segurança Social uma proposta de acordo colectivo de trabalho, ao abrigo do Código de Trabalho. Todavia, o conselho

directivo optou pela elaboração de um regulamento que diz ter enviado aos conselhos directivos do Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social e Instituto de Informática e Estatística da Solidariedade com o objectivo de verificar se é possível apresentar uma proposta conjunta para ser posteriormente negociado com os sindicatos.

A Federação contesta esta dispo-nibilidade de negociar, considerada uma manobra dilatória. Sustenta que o conselho directivo deveria ter enviado uma contraproposta para dar início ao processo negocial.

A tabela salarial dos cerca de 50 mil trabalhadores das instituições particulares de solidariedade social (IPSS) não é revista há quatro anos, apesar de anualmente o Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social actualizar os valores das compartições do Estado para as diferentes valências. Os salários dos trabalhadores estão congelados desde 2001.

Os acordos de cooperação exis-tentes entre o Ministério tutelado por Vieira da Silva e a Confederação Nacional das Instituições de Solida-riedade (CNIS) «são revistos todos os anos com vista a actualizar as comparticipações. Mas não existe a mesma preocupação em relação à actualização dos salários dos traba-lhadores», sustenta Manuel Ramos, dirigente da Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública.

No passado dia 22 de Setembro, a Federação reuniu com represen-tantes do Ministério para tentar «chegar a um acordo sobre esta ma-téria e sobre o contrato colectivo de trabalho». As sucessivas propostas apresentadas pela estrutura sindical ao longo dos últimos quatro anos «não tem obtido resposta por parte da CNIS que sempre protelou o processo negocial para a actualiza-ção dos salários». Recentemente o Ministério do Trabalho e da Solida-riedade Social publicou uma «tabela actualizada, mas a federação não fez parte do processo de negociações e desconhecia a sua realização. Tive-mos conhecimento apenas através de uma publicação do próprio Mi-nistério».

As cerca de cinco mil IPSS que têm protocolo com o Estado não praticam a mesma tabela salarial. Uma grande parte delas paga apenas o salário mínimo nacional, o que releva como injustiça e que provoca a perda de poder de compra por parte dos trabalhadores.

No âmbito dos acordos de co-operação, as comparticipações do Estado para as IPSS registaram, entre 1992 e 2004, as seguintes taxas de crescimento: 227,12 por cento na valência da infância e juventude; mais de 498 por cento na valência da família e comunidade; mais de 818 por cento na área da invalidez e reabilitação; e mais de 333,5 por cento para a terceira idade.

Este ano o Estado vai atribuir, por mês e por utente, 214,98 euros

na valência de creche, 164,96 euros na valência de creche familiar, 69,14 euros para os centros de actividades e tempos livres com almoço, 55,45 euros para os centros de actividades e tempos livres sem almoço, 420,47 euros na valência de lar de crianças e jovens, 598,62 euros na área de lar de apoio, 423,06 euros na valência de centro de actividades ocupacionais, 834,40 euros para a valência de lar

residencial, 311,29 euros na área de lar idosos, 91,92 euros para os cen-tros de dia, 44,71 para os centros de convívio e 211,67 euros para o apoio domiciliário.

A Federação não contesta a actualização das verbas para cada uma das valências, mas defende que paralelamente a este processo se «faça uma avaliação ao desempenho do protocolo de cooperação do ano

anterior. Até porque no protocolo de 2004 foi introduzida a novidade da diferenciação positiva e a even-tual alteração da comparticipação financeira depender dessa avaliação a partir do mês seguinte ao da data de revisão do acordo». Estes acordos têm definido ratios vinculativos dos recursos humanos que, no caso de não serem cumpridos, «colocarão em causa a qualidade dos serviços pres-

tados pelas instituições». Os ratios vinculativos

para as creches estipulam um educador para cada sala, um auxiliar de acção educativa por cada grupo etário dos 12 aos 36 meses, dois ajudantes de acção educativa por sala até aos 12 meses, dois ajudantes de acção educativa para asse-gurar as entradas e saídas quando a creche funciona isolada e um ajudante para quando funciona acopla-da.

Nos lares de idosos os ratios estipulam um direc-

tor técnico nas insti-tuições com menos de 30 utentes, um assistente social/psicólogo a funcio-nar a 25 por cento para 60 utentes, um técnico de reabi-litação/ animador no mínimo cinco horas por semana, um encarregado de serviços gerais para um lar com 40 ou mais utentes, um ajudante de lar para cada oito utentes autónomos e um ajudante de lar para cada 30 utentes para assegurar a vigilân-cia nocturna, um auxiliar de serviços gerais por cada 15 utentes autónomos e um porteiro/ re-cepcionista/ telefo-nista por lar.

Nos recursos humanos a acres-centar para situa-ções de dependên-cia os ratios prevê-em um médico no mínimo seis horas

por semana para cada 12 dependen-tes, um enfermeiro no mínimo 12 ho-ras por semana para cada 12 utentes, um ajudante de lar para cada quatro utentes dependentes e um auxiliar de serviços gerais para cada dez utentes dependentes.

A Federação defende também a qualidade dos serviços prestados e, por isso, exige melhores condições de trabalho que a alteração do conte-údo funcional de algumas categorias, nomeadamente a que conduz à fusão de carreiras, não possibilita. Reivin-dica também que as IPSS cumpram os ratios vinculativos para as creches e para os lares de idosos, os quais estipulam o número de trabalhado-res por cada número declarado de utentes e que não são cumpridos pela maioria das instituições.

Esta situação, segundo afirma Manuel Ramos, deveria ser alvo de uma maior vigilância do Ministério do Trabalho e da Segurança Social «que pode cruzar dados referentes ao pessoal com o número de utentes por cada instituição e que sustentam os subsídios atribuídos anualmente».

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manifestação nacional em lisboa

função pública em greVe no Dia 20

Os trabalhadores da Função Pública fazem greve no próximo dia 20 de Outubro em defesa dos seus interesses e direitos, ameaçados por um conjunto de medidas que o Governo de José Sócrates quer pôr em prática desde que assumiu funções.

Além da greve nacional, pelo período de 24 horas, convocada pela Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública e pelos sindica-tos nela filiados, realiza-se uma manifestação nacional de trabalhadores da Administração Pública. A Frente Comum convocou esta ma-nifestação, cujo desfile tem início às 15 horas, na rua Alexandre Herculano com destino à Assembleia da República.

As razões desta luta são claras:• Defender a aposentação com respeito

pelos direitos constitucionalmente protegidos;• Defender o direito à carreira, ao em-

prego e às condições de trabalho com respeito pela dignidade pessoal e profissional dos tra-balhadores da Administração Pública;

• Defender a estabilidade de emprego, contra a precariedade e em defesa do vínculo de emprego público;

• Defender serviços públicos de qualida-de e as funções Sociais do Estado combatendo as políticas privatizadoras;

• Lutar contra uma avaliação de desem-penho elitista e redutora do direito à carreira;

• Lutar contra a partidarização dos cargos de chefia;• Lutar por uma Administração Pública ao serviço dos

cidadãos com respeito pela dignidade profissional dos seus

trabalhadores;• Estancar a escalada na ofensiva contra os direitos dos

trabalhadores da Administração Publica, a pretexto do combate ao défice, exigindo respeito pelo direito de negociação sem prévias limitações.

Os Sindicatos preparam já a participação dos trabalhadores da Função Pública na manifestação, com a organização de transportes provenientes dos diversos distritos do País.

cronologia Dos acontecimentosO Governo de José Sócrates foi

empossado em 12 de Março de 2005. E não perdeu tempo em encetar uma ofensiva generalizada contra todos os trabalhadores da administração central, regional e local. Beneficiou do trabalho iniciado pelos governos de António Guterres, Durão Barroso e Santana Lopes. José Sócrates as-sumiu o desígnio de fazer a síntese dessas medidas e aplicá-las sem restrições.

Decorridos dois meses e meio desde a sua entrada em funções, em 30 de Maio, o Conselho de Mi-nistros aprovou uma resolução que visava combater «o desequilíbrio das contas públicas». Num pacote de combate à fraude, evasão fiscal e requalificação dos benefícios fis-cais, José Sócrates anuncia o maior ataque aos trabalhadores da função pública, quer no domínio protecção social quer no do emprego, carreiras, remunerações, subsistemas de saúde e supranumerários.

Na reunião seguinte do Conse-lho de Ministros, a 2 de Junho, O Governo clarifica as suas medidas, que prosseguem decisões e orienta-

ções dos executivos anteriores. Esta segunda resolução visa rever o sis-tema de carreiras e remunerações da administração pública, determinando a sua entrada em vigor até 31 de De-zembro de 2006. Até lá fica congela-da a progressão nas carreiras.

Determinou também a revisão do sistema de avaliação e desempenho durante o ano de 2006, anunciou a preparação de diploma legal que agilize os mecanismos de afectação e desvinculação dos funcionários e agentes aos quadros de supranumerá-rios e reafirmou o objectivo governa-mental de admitir um funcionário por cada dois que saiam, nas situações onde não estejam congeladas as admissões.

Parte substantiva da produção legislativa do Governo e das suas me-didas têm como alvo os trabalhadores da administração pública. A 8 de Ju-lho, o Conselho de Ministros aprovou mais uma resolução, esta destinada a reestruturar a administração central do Estado, com o objectivo último de diminuir o número de efectivos em exercício de funções.

O primeiro-ministro, José Sócra-

tes, o ministro de Estado e da Admi-nistração Interna, António Costa, e o ministro de Estado e das Finanças, Teixeira dos Santos, orientam o programa de reestruturação, tendo sido criada mais uma comissão que procederá a auditorias a cada Minis-tério e deverá apresentar conclusões até ao final de 2006.

Todas as medidas são justifica-das pela necessidade de garantir a equidade entre os trabalhadores da função pública e os do sector pri-vado. Uma equidade que se traduz em retirar direitos adquiridos pelos trabalhadores da função pública. Em vez de melhorar a protecção social dos trabalhadores do sector privado, o Governo comporta-se como um parceiro das confederações patro-nais. Iguala por baixo, tendo em vista agravar ainda mais as condições de trabalho no futuro.

A medida seguinte atinge todos os trabalhadores da função pública e os novos funcionários. Sob a forma de proposta de lei, o Conselho de Ministros, na sua reunião de 29 de Julho, aprovou um diploma que visa a reforma dos sistemas de protecção

social. Os novos funcionários inscre-vem-se no regime geral de segurança social, enquanto o Governo pretende alterar as condições de aposentação e regras de cálculo das pensões dos subscritores da Caixa Geral de Apo-sentações.

O Conselho de Ministros prece-deu, na sua reunião de 25 de Agosto, à aprovação final da proposta de lei que procede à revisão do estatuto da aposentação, para que produza efeitos a partir de 1 de Janeiro de 2006. Mas abandonou o vocábulo equidade, substituindo-o pelo de convergência. A alteração do dis-curso não tem qualquer efeito já que traduz o mesmo objectivo: aumentar, simultaneamente, a idade de reforma e o tempo de serviço.

Reafirma a natureza da medida, que visa a sustentabilidade finan-ceira dos regimes de aposentação e sobrevivência da função pública. Isto é, obriga os trabalhadores a fazerem um novo sacrifício para remediar a má gestão, a falta de entrega de contribuições por parte do Estado e a manutenção de escandalosas pen-sões, essas sim configurando privilé-

gios, atribuídas a altos funcionários, a gestores públicos e a titulares de cargos políticos.

O Governo aprovou ainda no decurso destes meses um conjunto de alterações à legislação em vigor e outros diplomas novos que visam pôr em prática estas e outras medi-das. No Conselho de Ministros de 2 de Junho foi também aprovado o decreto-lei que procede à uniformi-zação dos subsistemas de saúde da administração pública e a proposta de lei que reorganiza, sistematiza e autonomiza o regime de protecção social da administração pública, prevendo, designadamente, para a função pública a protecção social no desemprego.

É um quadro legislativo vasto que retira ou reduz direitos e que protela ou congela outros, como é o caso da progressão na carreira ou do pagamento dos suplementos remuneratórios. Uma política que mereceu já a condenação das orga-nização sindicais e dos trabalhadores em geral.

greVe nacional Da função pública20 De outubro

manifestação Da aDministração pública20 De outubro – 15.00 horas – r. alexanDre herculano – assembleia Da república

(inscrição para transportes, nos sinDicatos, até 18.10.05)