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IndústrIa 3

E

Editorial

Está a nascer um associativismo novo

Estão a chegar às Associações novos líderes. Percebe-se que está a nascer uma nova forma de organi-zar o associativismo, de pensar as causas e de as transmitir.Quando fui eleito Presidente da CIP, propus aos meus pares um programa baseado na defesa de 4 cau-sas: o primado da economia de mercado, a aposta na indústria transformadora e nos bens transaccioná-veis, a defesa das empresas e, por fim, a dignificação dos empreendedores e empresários.São causas que obviamente nos motivam e envolvem, nas quais nos reconhecemos e pelas quais vamos combater. O programa de candidatura, que esta Revista publica na íntegra, é claro a esse respeito, embora se trate de causas de tal modo evidentes que nem seria necessário enunciá-las, porque resultam e decorrem da nossa própria natureza.Mas não foi esse o meu entendimento. Defendi que deveríamos tornar claro o nosso pensamento e organizar a partir dessa identificação de valores as acções concretas e as iniciativas específicas a levar a cabo para concretizar esse programa.Este ponto de vista – que exprimo com mais detalhe no artigo desta revista sobre a intervenção que fiz no acto de posse da nova Direcção da Associação Comercial do Porto, em que fiz um discurso sobre Associativismo e Sociedade Civil – assenta na ideia básica de que só teremos capacidade para não cair na tentação de exercer o poder pelo poder se tivermos causas fortes e bandeiras bem identificadas.Defendo também que as organizações associativas empresariais têm não só de ser verdadeiramente livres como também de procurar disseminar nos seus representados uma cultura de liberdade.Esse caminho somente poderá ser seguido se for defendido que o Estado serve apenas para regular e fiscalizar a economia e não para a subsidiar; que as empresas e as suas associações devem contar em primeira linha consigo mesmas; que devem libertar-se da tentação de correr para a manjedoura do Esta-do; e que têm o direito de exigir em contrapartida que o Estado assuma todas as suas responsabilidades e obrigações aos mais variados níveis. O associativismo que está a nascer deve perceber com nitidez qual é o seu espaço e qual é o papel do Estado. Ao Associativismo cabe defender de forma organizada e sistemática os interesses da economia e das empresas. Ao Estado cabe, no respeito pelos cidadãos, criar leis reflectidas e exequíveis, fazer a Justiça funcionar; pagar pontualmente o que deve às empresas; proteger a inovação e a propriedade in-dustrial; reduzir a burocracia; criar sistemas fiscais competitivos com os países concorrentes. Numa palavra: contribuir com a sua quota-parte no esforço que a todos é exigido no sentido de se aumentar a produtividade em Portugal e melhorar a competiti-vidade.

antónio saraivaPresidente da CiP

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SUMÁrio

IndústrIarEVIsta dE EMPrEsÁrIOs E nEGÓCIOs

SUMÁrioEditorial

informação Económica

Entrevista António Saraiva entrevistado por vários jornalistas

Novos Corpos Sociais Organograma da CIP para o triénio 2010-2012

tomada de Posse Cerimónia oficial dos novos Corpos Sociais da CIP

PEC Apreciação da CIP ao PEC

dossiê: Plano de actividades 2010-2012 Reinventar a CIP, ajudar a mudar o país

oE 2010 CIP apresenta ideias, metas e propostas

CiP: relatório e Contas 2009 Crise afectou gravemente a economia e as empresas

associativismo e Sociedade Civil António Saraiva discursa na Associação Comercial do Porto

indústria Química

telecomunicações

indústria alimentar

indústria Metalomecânica

notícias

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DirectorAntónio Saraiva

Director AdjuntoDaniel Soares de Oliveira

Conselho EditorialArmindo MonteiroJoão Mendes de AlmeidaGregório Rocha NovoManuela GameiroJaime BragaSofia Baião Horta

SecretariadoFrancisco CarreraFilomena Mendes

Administração e PropriedadeCIP - Confederação da Indústria PortuguesaAv. 5 de Outubro, 35 - 1º 1069-193 LisboaTel.: 213 164 700 Fax: 213 579 986E-mail: [email protected]: 500 835 934

N.º de registo na ERCS - 108372Depósito Legal 0870 - 9602

Produção e EdiçãoBleed - Sociedade Editorial e Organização de EventosCampo Grande, 30 - 9.º C1700-093 Lisboa

Tel.: 21 795 70 45/6Fax: 21 795 70 [email protected]

Director EditorialMiguel [email protected]

Director ComercialMário [email protected]

Gestora de MeiosSusana Ramos

Editor FotográficoSérgio Saavedra

Design e PaginaçãoJosé Santos

ImpressãoInprintAlameda das Linhas de Torres, 1791750-142 Lisboa

PeriodicidadeBimestral

Tiragem10.000 exemplares

N.º 79-80 Janeiro/AbrilAno XXX

4 IndústrIa

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6 IndústrIa

CoNjUNtUra

PorTuGAlSegundo as Contas Nacionais Trimestrais (Esti-mativa Rápida) do INE, a economia portuguesa cresceu, em termos homólogos, no 1.º trimestre de 2010, 1.7% (-1.1% no 4.º trimestre de 2009). Entre o 4.º trimestre de 2009 e o 1.º trimestre de 2010, o PIB registou um aumento de 1% (ver fi-gura II).Independentemente da forma como é quantifica-da, a taxa de inflação média anual encontra-se em terreno negativo desde Setembro/2009; em Abril/2010, a taxa de inflação média anual medi-da pelo Índice de Preços no Consumidor (IPC) ou pelo Índice Harmonizado de Preços no Con-

Em valores médios, o euro tem vindo a depreciar-se face ao dólar dos EUA: se, em Janeiro/2010, a taxa de câmbio era de 1.4272 dólares dos EUA por 1 euro, em Abril/2010 foi de 1.3406 dólares dos EUA por 1 euro.

MATérIAS-PrIMASEm Março/2010, o preço spot médio do barril de petróleo aumentou para 78.83 dó-lares dos EUA, o valor mais elevado desde Outubro/2008. Há um ano atrás, o preço era de USD 46.54 e, há dois anos atrás, o preço situava-se em USD 103.64.

Informação económica

Quadrimestre

de 2010

ESTADoS uNIDoS DA AMérICANo 1.º trimestre de 2010, em termos homólogos:• A produção industrial aumentou 2.4% (-4.7% no 4.º trimestre de 2010);• A taxa de utilização da capacidade produtiva da indústria progrediu para 73% (71.4% no 4.º trimestre de 2009).Nos três primeiros meses de 2010, a taxa de de-semprego manteve-se inalterada em 9.7%; em Abril/2010 aumentou para 9.9%.

ChINAA economia chinesa cresceu, no 1.º trimestre de 2010, em termos homólogos, 11.9% (10.7% no 4.º trimestre de 2009); esta evolução ficou a dever-se, sobretudo, ao fortalecimento do inves-timento e da procura externa. Neste mesmo pe-ríodo, as exportações aumentaram 30.3% (em termos homólogos nominais) depois de, no 4.º trimestre de 2009, terem registado uma variação de 0.9%.

uNIão EuroPEIANo 1.º trimestre de 2010, o PIB da área do euro registou um aumento, em termos homólogos, de 0.5%; na UE, o PIB cresceu 0.3% (ver figura I).Em Março/2010, a taxa de desemprego na área do euro foi de 10%, o mesmo valor do mês ante-rior; na UE foi de 9.6%, também o mesmo valor de Fevereiro/2010.Na reunião de 06/05/2010, que teve lugar em Lisboa, o Conselho do BCE decidiu que a taxa de juro aplicável às operações principais de re-financiamento e as taxas de juro aplicáveis à facilidade permanente de cedência de liquidez e à facilidade permanente de depósito perma-neceriam inalteradas em 1%, 1.75% e 0.25%, respectivamente.

1.o FIGUra IÁrea do euro e UE - PiB (dados Eurostat)(taxa de crescimento real; variação homóloga; %)

dEsEMPrEGO na UE E nOs EUa

De acordo com o Eurostat, a taxa de desemprego na UE tem aumentado desde o 1.º tri-mestre de 2008 em resultado da crise económica. No entanto, esse aumento foi menor que o verificado nos EUA, onde a taxa ultrapassou a da UE (apesar de se encontrar num nível inferior no início da crise).No 1.º trimestre de 2010, a taxa de desemprego foi de 9.6% na UE e de 9.7% nos EUA.A taxa de desemprego nos EUA, antes da crise, situava-se no seu nível mais baixo no 2.º tri-mestre de 2007 (4.5%) e alcançou o seu ponto mais elevado no 4.º trimestre de 2009 (10%). Na UE, a taxa de desemprego no 1.º trimestre de 2008 foi de 6.7%; a partir daí aumentou até atingir 9.6% no 1.º trimestre de 2010. No 1.º trimestre de 2010, a taxa de desemprego, na UE, continuou a agravar-se, enquanto que diminuiu nos EUA.

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rito aos bancos de Abril/2010 sobre o mercado de crédito, os critérios de concessão de emprés-timos às empresas tornaram-se mais exigentes no 1.º trimestre de 2010. O aumento do grau de restritividade foi mais intenso do que no trimestre anterior e concentrou se, por um lado, no crédi-to a longo prazo e, por outro, no segmento das PME. No caso dos particulares, também se ve-rificou um aumento da restritividade nos critérios de concessão de empréstimos. A procura de empréstimos ou linhas de crédito por parte das empresas não se terá alterado significativamen-te durante o 1.º trimestre de 2010. A redução das necessidades de financiamento de investimento foi o factor que mais terá contribuído para uma redução da procura de crédito neste segmento.Para o segundo trimestre de 2010, os bancos inquiridos perspectivam, em média, manter pra-ticamente inalterados os critérios de concessão de empréstimos a empresas, pese embora al-guns bancos tenham indicado intenções de au-mentar a exigência dos critérios aplicados, por um lado, aos empréstimos a longo prazo e, por outro, aos empréstimos a PMEs. No que respei-ta aos critérios de aprovação de empréstimos a particulares, os bancos inquiridos antecipam (i) uma ligeira diminuição, para a aquisição de habitação, e (ii) uma manutenção, no caso dos empréstimos para consumo e outros fins. Para o mesmo período, é esperado um ligeiro aumen-to da procura de empréstimos quer por parte de empresas quer de particulares.O volume de negócios na indústria registou, em Março/2010, em termos nominais, uma variação homóloga de 16.2% (9.5% em Fevereiro). As vendas com destino ao mercado nacional au-mentaram 9.1% (7.8% em Fevereiro). Por sua vez, as vendas com destino ao mercado exter-no registaram uma aceleração significativa que se traduziu no aumento da respectiva variação homóloga de 12.8%, em Fevereiro/2010, para 30.4%, em Março/2010.

CIP/DAEM

CoNjUNtUra

FIGUra IIIPortugal - taxa de inflação (dados iNE)

(taxa de variação média dos últimos doze meses; %)

FIGUra IIPortugal - PiB (dados iNE)(taxa de crescimento real; %)

IndústrIa 7

sumidor (IHPC) fixou-se em -0.7% (ver figura III).A taxa de desemprego atingiu, em Março/2010, 10.5% (10.3% quer em Janeiro/2010 quer em Fevereiro/2010), valor acima do registado quer na área do euro (10%) quer na UE (9.6%). No escalão etário abaixo dos 25 anos de idade, a taxa de desemprego foi de 21.4% (área do euro: 19.9%; UE: 20.6%).Em termos homólogos, e no que ao comércio in-

ternacional diz respeito, as saídas e as entradas de bens registaram, no 1.º trimestre de 2010, aumentos de 14.6% e 7.6%, respectivamente, o que levou a um desagravamento de 168.3 mi-lhões de euros do défice da balança comercial. A taxa de cobertura melhorou de 61.8%, no 1.º trimestre de 2009, para 65.8%, no 1.º trimestre de 2010.Segundo os resultados para Portugal do inqué-

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8 IndústrIa8 IndústrIa8 IndústrIa

ENtrEviSta

jornalistas entrevistam antónio SaraivaA eleição de António Saraiva para Presidente da CIP suscitou um grande interesse por parte da Comunicação Social. Nas primeiras semanas do seu mandato, foram inúmeras as entrevistas publicadas, transmitindo a opinião do Presidente da CIP e, também, a opinião da Imprensa sobre António Saraiva, a situação económica e as pers-pectivas de futuro. Bruno Proença (Diário Económico), Carla Aguiar (DN), Catarina Craveiro (JN), Celso Filipe (Jor-nal de Negócios), Cláudia Baptista (Homem), Cristina Oliveira e Silva (Diário Económico), Ilídia Pinto (DN), Joana Madeira Pereira (Exame), Marta Araújo (Focus) ou Rui Neves (Jornal de Negócios) são alguns dos Jornalistas que entrevistaram António Saraiva. Publicamos de seguida excertos de algumas das entrevistas, com a autorização dos jornalistas cujos textos são aqui reproduzidos

FFoi recentemente eleito Presidente da CIP. Quais são as suas prioridades para os pró-ximos anos?Reinventar a CIP, ajudar a mudar o País – este o lema da nova Direcção da CIP, de acor-do com o programa da candidatura. Elegemos 4 grandes causas para o mandato.O primado da economia de mercado, antes de todas as causas. A defesa da livre concorrên-cia, a transparência nos apoios concedidos às empresas, o combate à corrupção.Em segundo lugar, a aposta na indústria transformadora e nos bens transaccionáveis, para reduzir o desequilíbrio externo, sustentar

o crescimento económico e criar empregos duradourosEm terceiro lugar, a defesa das empresas: queremos que o Estado honre os seus com-promissos, pagando a tempo e horas, somos contra práticas arbitrárias das autoridades inspectivas, a carga burocrática asfixiante, a legislação abundante, mal enquadrada e sem qualidade. Pretendemos uma justiça eficien-te – a tempo e horas – e um sistema fiscal competitivo.Por últimos, a dignificação dos empreendedo-res e empresários, porque sem empresas não há crescimento e emprego, não há riqueza.

Toda a nossa acção será centrada nestes ob-jectivos estratégicos essenciais.

o Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) responde às suas expectativas?Reconhecemos que é o documento possível, mas gostaríamos de ter visto mais coragem e rigor na redução da despesa.

Como?Congelar salários aos funcionários públicos e aumentar a carga fiscal à classe média não nos parece suficiente. Era preciso continuar a reforma da Administração, extinguindo servi-

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ENtrEviSta

ços e dar sinais de que se está a equilibrar as contas. A nossa dívida pública e a dívida externa são insustentáveis e têm de ser to-madas medidas corajosas para as reduzir. Os esforços que se pedem aos portugueses têm de ser comunicados com credibilidade, inter-na e externa.

A externa todos conhecemos as razões. E a interna?Quem lidera tem de dar bons exemplos. E há aqui alguns desperdícios, ineficiências, enfim, alguma gordura gelatinosa do Estado em que ele deveria também dar o exemplo.

Diz que as medidas são insuficientes. Mas os esforços pedidos aos cidadãos são muitos...E em especial à classe média. Daí dizer que o líder quando exige tem de explicar porquê e dar o exemplo. Um país sem indústria di-ficilmente sobreviverá, um país sem classe média gera desigualdades complicadas. Fi-camos apenas com extremos. Mas temo que, a prazo, atendendo ao enorme desequilíbrio das nossas contas públicas, o Estado tenha de vir exigir mais.

Mais impostos?Continuamos com gastos supérfluos e inefici-ências que podem ser melhoradas. Gostaria que começasse por aí. Mas receio que, se o Governo não conseguir atingir os objectivos a que este plano se propõe, terá de enveredar pelo agravamento dos impostos. O que eu não desejaria que acontecesse.

o PEC não traz os sinais de moralização que pedia?As pessoas mobilizam-se quando acreditam que é um esforço nacional. Mas não se peça a uns esquecendo-se outros. Não me peça exemplos porque, como imagina, não vou particularizar. Mas a classe dirigente continua, lamentavelmente, a induzir sinais que têm de ser alterados.

o que gera crispação social...Há um excesso de crispação na sociedade. Os sindicatos desconfiam dos patrões, as as-sociações patronais desconfiam dos sindica-tos, todos desconfiam dos Governo e assim sucessivamente. Em termos de cidadania, permitimos que as mesmas pessoas perma-

necessem nos mesmos cargos durante mui-tos anos e isso gerou vícios. Precisamos de trazer agentes novos à execução das políti-cas, talvez se quebre alguma desta crispação.

Como?Precisamos de novas formas de fazer as coi-sas. Eu defendo que os parceiros na Concer-tação Social têm de ser audazes, estabelecer metas, objectivos mensuráveis, monitoriza-dos. Negociados com lealdade e transparên-cia. Sei que é quase uma utopia, mas temos de fazer diferente porque o que fizemos até hoje não nos levou a lado nenhum. Os sindi-catos têm toda a legitimidade para mobilizar os trabalhadores, mas o que é que a greve lhes trouxe até hoje? Deixámos de ter desem-prego? E não me digam que sem greves se-ria maior porque só o crescimento económico combate o desemprego.

há áreas prioritárias em que falta investi-mento?A regeneração urbana não está na agenda e é um tema que abordo sempre em cada reunião que tenho seja com o primeiro-ministro ou os ministros das Obras Públicas e da Economia. Ao intervir-se num apartamento mete-se qua-tro ou cinco pessoas lá dentro, entre canali-zador, pedreiro, carpinteiro, etc. Veja o que a intervenção num quarteirão traz de melhoria ao emprego, ao consumo dos materiais e à atractividade das cidades. Com as rendas que há, não posso pedir ao senhorio que faça as obras e a lei das rendas foi um flop, tem de ser mexida.

E que reacções tem tido?O senhor primeiro-ministro está sensibili-zado para a reabilitação. O problema é que esta matéria interage com um conjunto de outras áreas e não é fácil. Mas tem de ser f e i t o corajosamen-te. Veja-se o caso do Parque das Na-ções. Porque não se decalca aquela boa prática para outras zonas da cidade?

As sociedades de reabilitação ur-bana não funcionam?

Há excesso de legislação e excesso de buro-cracia e elas batem nas barreiras burocráticas em que o País está atolado.

“Vamos fazer um acordo para

o emprego na concertação”

As centrais sindicais também precisam de rejuvenescimento?Está na altura, há muito tempo, em todas as associações. E o que eu gostava era de ver o associativismo ter a lucidez de contemplar nos seus estatutos a saudável prática de li-mitação de mandatos como eu o próprio o fiz.

Defende uma nova forma de estar na con-certação. Qual?Gostava que se seguisse o exemplo de Es-panha, onde acabaram de assinar um acordo para o emprego. Durante três anos, creio, vão concertadamente definir regras práticas para aumentos salariais sustentados, acompanha-dos.

Acredita que isso possa ser feito em Por-tugal?Vamos dar passos nesse sentido. Esse acor-do é fundamental para que encontrem vál-vulas de escape. É da física, o balão enche e acaba por explodir. Há que o evitar. O ser humano, quando não muda por inteligência, muda por necessidade. É bom que mudemos movidos pela inteligência e com planeamento.

Tem dito que defende ajudas às empresas como estabilizadores e não flutuadores. Como assim?Uma coisa é estabilizar os desajustamentos da empresa ou sector, outra é atirar dinheiro para os problemas e manter as empresas à tona, a boiar. Isso distorce inclusivamente a concorrência. As empresas precisam de uma envolvente melhor, a começar pela justiça. Se tiver uma dívida para cobrar quando chegar a julgamento já o devedor alienou tudo. E

precisam que as

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ENtrEviSta

linhas de apoio funcionem porque estão com graves problemas de tesouraria, porque o Es-tado paga, em média, a mais de 700 dias.

os problemas com a banca mantêm-se?As PME Invest eram para apoiar a tesoura-ria. O que a banca fez, em muitos casos, foi trocar financiamentos que estavam contratu-alizados por estas novas linhas, reduzindo o risco. Para a banca foi óptimo, as empresas é que ficaram ainda em pior situação. Já pe-dimos ao ministro Vieira da Silva que retome as reuniões com a banca. Se pensam que as empresas suportam tudo estão enganados. Qualquer dia, acabam com a galinha dos ovos de ouro e quando não houver empresas vão vender dinheiro a quem?

“não aceitamos hegemonia

da CEP ou outra”

Como está a Confederação Empresarial de Portugal (CEP)?A CEP é a agregação da parte institucional da Associação Industrial de Portugal e da Asso-ciação Empresarial de Portugal, já que ambas criaram fundações para os seus activos. Só depois dessa arrumação é que se saberá qual é o elemento sobrante, o que é, exactamente, a AIP e a AEP institucional. Há uma comissão instaladora da CEP que está a tratar dessa arrumação, dos estatutos para depois serem eleitos os órgãos sociais.

E a CIP, entra na CEP?Há hoje cinco confederações. Agricultura, Co-mércio, Turismo, Construção, recentemente cria-da, e Indústria. E perspectiva-se ainda a CEP. Eu defendo que se encontre uma voz coesa para o movimento associativo, não uma voz única.

Em que moldes?A justiça, a educação, a formação profissional e o ambiente são problemas transversais a to-das as actividades económicas. Defendo uma plataforma de confederações, chamemos-lhe agrupamento complementar de confedera-ções, como um ACE, para defesa dos pontos de vista comuns. Não se tenha a arrogância de pensar que a CIP ou a CEP vai absorver as outras. Não vai, é um erro crasso.

Mas a CEP quis fazê-lo.As restantes confederações não o subscre-vem. Os movimentos têm de ser agregadores e não divisores. É preciso agregar vontades, com sensatez e moderação, não se podem criar movimentos que gerem anticorpos, que levantem poeira que já está assente ou que tirem esqueletos dos armários como aconte-ceu com a CEP quando foi anunciada. Vamos deixar assentar alguma da poeira sobre os sinais errados que a CEP deu quando apa-receu, e que despertou reacções adversas, precisamente porque não teve a sensatez de, humildemente, dizer ao que vinha. A CIP será um elemento agregador.

Nessa lógica de plataforma, a CIP não fará mesmo parte da CEP.Não lhe consigo responder já com rigor. Ima-gine que a figura que resulta da arrumação da AIP e AEP é casável com o modelo actual da CIP e criamos aqui uma dimensão maior que facilite um encontro da tal plataforma com os restantes? Se isso ocorrer, admito que seja miscível essa realidade CIP/CEP. Mas se o resultado final que está a ser trabalhado tiver a pretensão de ser um pólo gravitacional de todas as outras confederações, isso não vai acontecer. Diremos não a hegemonias ve-nham de onde vierem.

olhando para trás, um dos dossiers mais importantes para a CIP foi a discussão do Código contributivo. o adiamento foi uma vitória para a CIP?Para nós, era fundamental que o Código não entrasse em vigor a 1 de Janeiro de 2010. Obviamente, ficámos agradados. Mas mais importante do que adiar uma má decisão, é alterar a decisão em si.

Mas as questões fundamentais já tinham sido acordadas por altura da discussão do Código do Trabalho e a CIP deu o seu aval…A CIP deu o aval como o deu ao salário míni-mo, num conjunto de soluções.Mas as questões que levantam mais críticas à CIP - como o alargamento da base de inci-dência contributiva - tinham sido acordadas. A questão que a CIP levantava agora tem a ver com o momento de aplicação devido à crise mas, nesse caso, o adiamento salvaguardaria essa questão…Acautelaria para já porque quando negoci-ámos este modelo - e por isso faço a com-paração com o salário mínimo - o Governo anunciou que a economia cresceu 2,5%. Adivinhávamos alguma crise, mas ninguém adivinhou a real dimensão. Se as coisas se al-teraram substancialmente, temos de adaptar à realidade. O facto de termos negociado um clausulado em determinadas condições, não dá ao Governo a legitimidade de, alterando substancialmente essas condições, querer de igual forma impor aquilo que foi aceite.

Portanto, quer alterar a questão da base sobre a qual incidem os descontos?Sim, e há outras questões. Nas quotas do

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IndústrIa 11

ENtrEviSta

subsídio de desemprego no caso de rescisões amigáveis, o Governo também vem dizer isso. Na questão do acesso mais fácil à reforma com 40 anos de desconto, porque é que não se aceita discutir?

Acha que a concertação social funciona mesmo? é que, no caso do Parlamento, os deputados podem unir esforços e fazer avançar leis. Na concertação, a opinião dos parceiros não é vinculativa…Reconheço que a concertação social, aqui e ali não tem funcionado. É uma saudável prá-tica da qual não se tem tirado os melhores resultados.

A demora na transformação do nosso teci-do empresarial é culpa do trabalhador ou do patrão?Quando há divórcio, a culpa é das duas par-tes. Tem de se gerar rapidamente confiança entre as partes. Este divórcio entre trabalha-dores e patrões tem levado a posições dema-siado rígidas porque não há confiança. Nos contratos colectivos, os sindicatos só querem discutir salários. E as outras questões? E porque é que o Governo, no salário mínimo, apenas refere o aumento escalonado quando o acordo tinha outros pontos? É uma atitude de alguma maneira como a dos sindicatos... como agora, sendo justo que se queira repor poder de compra pelos valores da inflação, então quando a inflação é negativa devíamos reduzir - por absurdo - os salários. E vamos manter? Não, os sindicatos pedem valores na ordem de 3 e 4%... e o resto? A flexibilidade é um termo que ainda os assusta muito. Se calhar porque também não têm encontrado do outro lado motivos de abertura para a constru-ção deste edifício.

o Código do Trabalho foi uma das mais fortes “batalhas” que a CIP travou nos últimos anos. Está contente com o resultado final?A revisão do Código do Tra-balho (CT), aprovada pelo Lei n.º 7/2009, de 12 de Fe-vereiro, embora contenha aspectos úteis, não foi, todavia, a revisão ne-cessária. Por exemplo, e desde logo, nada de significa-

tivo se fez no capítulo da flexibilidade externa, na vertente da cessação do contrato de traba-lho e, ao invés, muito de extremamente res-tritivo foi introduzido na contratação a termo. É seguro que a revisão do CT não consubs-tanciou, nem de perto nem de longe, a res-posta que se torna absolutamente essencial ao relançamento da economia e ganhos de produtividade que hão-de contribuir e alicer-çar uma maior competitividade.Mas é igualmente certo que muitas das solu-ções aí integradas ainda não têm tempo de vigência suficiente para poder aquilatar-se de todas as suas reais virtualidades - o que só uma razoável maturação permitirá avaliar de modo sustentado.

Que avaliação faz ao estado actual da in-dústria portuguesa?Atravessa uma fase complicada. Ressentiu-se fortemente da crise económico-financeira, que ainda não terminou, sublinhe-se.A indústria enfrenta uma redução séria da procura, quer interna quer externa, está a adiar investimentos, continua a ter dificulda-de na obtenção de crédito e em ver pagas as dívidas do que vendeu ao Estado; tem um enquadramento fiscal e parafiscal complexo, injusto e pesado; debate-se, muitas vezes, por conseguir cumprir as suas obrigações legais: a inexistência de seguros no caso da responsabilidade por danos ambientais é um bom exemplo; suporta custos elevados, como os energéticos.Mas importa referir que quando se fala de indústria, também se fala de empresários; e nestes, impera o espírito combativo, da não resignação. Seria bom que se soubesse va-lorizar mais o que é conseguir, mensalmente, pagar salários e cumprir com as obrigações legais em vigor.

De qualquer maneira, qualquer empresário sabe que, após um período menos bom, virá outro melhor; é cíclico. É por isso que vemos hoje, apesar de tudo, muitas empresas a in-vestir, a inovar, a melhorar a qualidade dos seus produtos, a procurar novos mercados. E a terem sucesso! Qualidade e inovação são hoje palavras-chave no léxico empresa-rial; é este o caminho, e os resultados estão à vista em muitas empresas industriais em Portugal.

Atendendo ao actual cenário económico, que conselhos, enquanto empresário, da-ria aos jovens empresários que iniciam agora a sua actividade?Não se desmotivem com as adversidades ini-ciais e não desistam. Ser empresário em Portugal, sobretudo na actual conjuntura económica e financeira, é uma tarefa árdua, de mérito insuficientemente reconhecido e por vezes frustrante. Porém, em muitos casos, pode ser extrema-mente gratificante, quer ao nível profissional quer ao nível pessoal.Não obstante a crise económica e financeira permanecer real, entende-se que o momento presente deve ser enfrentado na certeza de que há futuro para a economia portuguesa, o que supõe, também, perspectivar os anos vindouros num quadro de crescimento da eco-nomia, das empresas e do emprego. Aos jovens empresários que agora iniciam a sua actividade recomendo, na minha quali-dade de empresário, uma boa dose de con-fiança no futuro, perseverança e a realização de uma análise prévia e maturada a alguns elementos-chave, comuns a qualquer negó-cio, a saber: i) concepção de uma ideia; ii) análise do mercado; iii) plano de negócios; e iv) financiamento.

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ASSEMBLEIA GERAL

VOGAL

Daniel Ferreira BatistaASSIMAGRA

Mármores e Granitos

VICE-PRESIDENTE

António Escaja GonçalvesFIOVDE

Óleos Vegetais

PRESIDENTE

Gonçalo Lobo XavierRECET

Centros Tecnológicos

CONSELHO FISCAL

António Almeida HenriquesCEC-CCI

Cons. Emp. Centro

Jorge Manuel Tomás Henriques*

Carlos CardosoANIMEE

Electricidade e Electrónica

Luís Mira Amaral*

João Gomes Esteves

APIFARMA Indústria Farmacêutica

Armindo MonteiroANETIE

Tecnologias de Informação e Electrónica

DIRECÇÃO

VICE-PRESIDENTES

PRESIDENTE

Francisco van ZellerBrisa

VICE-PRESIDENTE

Rui Moreira*

SECRETÁRIO

Pedro Serra RamosANEFA - Emp. Florestais,

Agrícolas e do Ambiente

PRESIDENTE

António Manuel Frade Saraiva

NOTA:* Membro indicado por escolha do Presidente da Direcção, artº 14º nº 2 dos Estatutos

12 IndústrIa

NovoS CorPoS SoCiaiS

Posse Corpos SociaisTriénio 2010-2012

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João Castro Guimarães*

Gregório Rocha Novo*

João Mendes de Almeida*

António Neto da Silva*

João T. CraveiroAPMI

Manutenção Industrial

Fortunato FredericoAPICCAPS

Calçado

Beatriz ImperatoriCENTROMARCA

Produtos de Marca

José HonórioCELPA

Indústria Papeleira

Barahona de AlmeidaANIRSF

Refrigerantes e Sumos

Jaime R. VelascoANIVEC/APIV

Vestuário e Confecção

Francisco M. BalsemãoANJE

Jovens Empresários

Bruno BoboneACL/CCIP

Associação Comercial Lisboa

Valdemar CoutinhoAIDA

Assoc. Ind. Aveiro

Frederico SprangerAIM

Indústrias Marítimas

Rúben MaiaANICP

Conservas de Peixe

Jaime Baptista CostaAPIGRAF

Indústrias Gráficas

Teresa Ramos PintoAICE

Construção de Edifícios

José de Oliveira GuiaANEMM

Metalurgia e Electromecânica

Fernando RolinAIMMP

Madeiras e Mobiliário

António MarquesAIMINHO

Assoc. Ind. Minho

DIRECTORES

SUPLENTES

Rafael Campos Pereira

AIMMAPMetalurgia e Metalomecânica

João CostaATP

Têxtil e Vestuário

DIRECÇÃO

VICE-PRESIDENTES

João Fernandes FugasAPEQ

Empresas Químicas

IndústrIa 13

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14 IndústrIa

Novos Corpos Sociais da CiPOs novos Corpos Sociais da CIP para o triénio 2010-2012 tomaram posse em 21 de Janeiro, no Museu da Electri-cidade, em Lisboa. A cerimónia, que teve lugar no Museu da Electricidade, foi presidida pelo Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações (discurso aqui), em representação do Primeiro-Ministro, contou com a presença de cerca de 200 convidados, entre os quais os Secretários de Estado da Presidência do Conselho de Ministros; da Modernização Administrativa; Adjunto, da Indústria e do Desenvolvimento; Adjunto, das Obras Públi-cas e das Comunicações; do Ordenamento do Território e das Cidades; e do Emprego e da Formação Profissional. Presentes também os Presidentes da CAP, CCP, CPCI, CTP, AIP, AEP, UGT e CGTP, além dos Presidentes de vários organismos reguladores, institutos e serviços públicos

aAntónio Saraiva traçou as grandes linhas do mandato: ajudar a resolver os problemas difí-ceis com que a economia portuguesa se de-fronta e acrescentar valor ao trabalho de reor-ganização do movimento associativo patronal.Queremos uma CIP ao serviço das empresas e dos empresários portugueses, que advogue as causas dos seus representados, onde os empreendedores se sintam bem acolhidos, que se empenhe na defesa dos legítimos

toMada dE PoSSE

interesses de todas as empresas industriais - grandes empresas, pequenas e médias em-presas e também micro-empresas – todas, sem excepção – afirmou hoje António Saraiva ao ser empossado como Presidente da CIP.No seu discurso, que publicamos na íntegra neste artigo, o novo Presidente da CIP disse que “seremos firmes na defesa das nossas causas”, enunciando o primado da economia de mercado como a primeira dessas causas.

Referindo que a forma como se estigma-tizou a iniciativa privada, depois da crise que ainda se vive, procurando deixar-se legitimada uma crescente intervenção dos Estados na economia, deve merecer da CIP uma postura vigilante em tal domínio, defendendo, pública e energicamente, o primado da economia de mercado. E terá de ser a consciência moral do Estado por-tuguês nesse domínio.

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toMada dE PoSSE

somos empresários,

empreendedores

e empregadores

Somos empresários, somos empreendedores e somos empregadores - sem nós não há empre-sas, não há empreendedorismo, não há empre-go, disse António Saraiva, acrescentando que a dignificação dos empresários portugueses terá de ser um dos principais motes do nosso trabalho e mesmo uma das nossas primeiras bandeiras.Sem a pretensão de emitir receitas, prosseguiu António Saraiva, entendemos que os principais desafios que se deparam à CIP são o de con-tribuir, com a nossa quota parte de esforço, na responsabilidade colectiva de ajudar a resol-ver os problemas difíceis com que a economia portuguesa se defronta e acrescentar valor ao trabalho de reorganização do movimento asso-ciativo patronal.O Presidente da CIP disse que se propõe es-timular a criação de sinergias entre todas as Confederações patronais portuguesas, incenti-vando a criação da já citada voz única patronal na abordagem a questões estratégicas e com incidência directa no quotidiano e nas opções das empresas de todos os sectores.Depois de elogiar Francisco van Zeller e o tra-balho que desenvolveu durante 8 anos na CIP, o novo Presidente da Confederação disse que o Governo terá na CIP um interlocutor aberto ao diálogo e disponível para criar consensos, um interlocutor profundamente empenhado em par-ticipar na procura das melhores soluções para os problemas que afectam o nosso país.Disse também que a CIP quer ser colaborante e dialogante com todos os demais órgãos de so-berania bem como com a oposição parlamentar, com os sindicatos e com as outras instituições de representação social. Enunciou depois a questão da justiça como uma questão de primordial importância e propôs uma mobilização da sociedade que proporcionasse um pacto duradouro, corresponsabilizante para além da actual legislatura, que incorpore medi-das pragmáticas para a obtenção da credibilida-de, da operacionalidade e da eficácia da justiça.Sobre a carga fiscal e para-fiscal, considerou que as empresas estão exauridas e não pode-rão suportar qualquer agravamento dessa carga - nem de impostos, nem de contribuições para a Segurança Social.Quanto à internacionalização das empresas,

matéria que constitui um vector fundamental para a criação de riqueza do país, disse que só através do aumento das exportações será possível conceber um futuro sustentável para a

IndústrIa 15

economia nacional, com verdadeira criação de riqueza que permita elevar a qualidade de vida dos portugueses para patamares idênticos aos dos nossos congéneres europeus.

FraNCiSCo vaN ZEllEr:

a iniciativa privada deve servir os interesses de PortugalNo seu discurso, Francisco van Zeller fez um balanço do seu mandato como Presidente da CIP.“Há quase 8 anos no seguimento do triste falecimento do Presidente da CIP – o Engº Rui No-gueira Simões – fui escolhido para lhe suceder pelos meus colegas de Direcção – seguindo as normas dos Estatutos” – disse Francisco van Zeller, acrescentando: “aceitei com alguma relutância e alguns colegas aqui presentes ainda se lembrarão que eu me havia reformado havia pouco tempo e tinha a minha vida organizada noutro sentido”.“Não me queixo, prosseguiu o Presidente da Mesa da Assembleia Geral da CIP, assinalando que “foram anos de grande pressão sobre a CIP – relembro que passei por 4 Governos, 3 Primeiro Ministros e muitos mais Ministros das diversas pastas que tive que conhecer, com quem tive que negociar”.Enunciando as principais acções do seu mandato, referiu as duas negociações do Código do Trabalho (“e teremos que manter a negociação porque ainda está muito insatisfatório” - su-blinhou) e “o novo e moderno acordo, convertido depois em lei, da Segurança Social”. Disse também que “fizemos acordos bi e tripartidos sobre Formação Profissional e sobre o Empre-go, revimos e intervimos em todas as GOP e em todas as iniciativas do Conselho Económi-co e Social, nas comissões especializadas, nos grupos de trabalho e nos plenários, fomos parceiros activos nos programas de simplificação administrativa, do SIMPLEX e Informação Empresarial Simplificada (fenomenais sistemas em que Portugal é pioneiro)”.“Trabalhámos com conselhos, comissões, grupos de trabalho relacionados com energia e com o seu vastíssimo leque de problemas técnicos e económicos. Colaborámos e criticámos transposições da legislação Europeia do ambiente” – disse, resumindo numa ideia principal: “podia estar aqui muito tempo a relatar a parte submersa e desconhecida do nosso imenso trabalho e da defesa dos interesses não só dos nossos associados, que nos suportam e orientam, como de todo o sector privado”.Segundo Francisco van Zeller, “esta função que agora transmito ao meu colega da Direcção anterior, António Saraiva, é demasiado absorvente e nunca conseguirá cumprir totalmente os seus desígnios porque a ambição de fazer mais e melhor não esmorece: como em todas as instituições ambiciosas, falta-nos tempo, dinheiro e pessoas e embora saibamos qual o ca-minho a seguir para colmatar estas insuficiências – a união de esforços com outras organiza-ções, igualmente ambiciosas e carentes dos nossos recursos – até agora não o conseguimos completar”. “Esforcei-me por consegui-lo – vi a sua realização próxima, tirando proveito da amizade e confiança nos meus colegas das duas grandes Associações Nacionais – e falhei com a meta à vista!” – concluiu o anterior Presidente da CIP.A concluir, Francisco van Zeller disse ter orgulho de não ter falhado nem na manutenção do prestígio da CIP, que recebi de direcções anteriores e que muito se deve ao Dr. Pedro Ferraz da Costa – nem nas responsabilidades sociais e éticas que promovi durante estes 8 anos” e, depois de agradecer “a todos os Directores da CIP, actuais e anteriores, bem como aos nossos colaboradores o apoio que me deram nestes 8 anos”, passou “ao Presidente Antó-nio Saraiva a enorme responsabilidade de continuar o trabalho de defesa dos interesses da iniciativa privada, começado heroicamente há quase 36 anos – sem esquecer que ela – a iniciativa privada – deve servir acima de tudo os interesses de Portugal.”

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T

16 IndústrIa

toMada dE PoSSE

Tenho hoje a honra de ser empossado nas fun-ções de Presidente da Direcção da CIP e de passar, assim, a ser o quinto empresário portu-guês a ocupar tão prestigiante cargo. Confesso que não estava nas minhas expec-tativas assumir esta responsabilidade e que, inclusivamente, comecei por resistir ao desafio que me foi lançado nesse sentido.Não obstante, sensível ao consenso que se verificou em torno do meu nome e convicto de que, com o meu trabalho, terei condições para contribuir positivamente no sentido de dignifi-car o associativismo, a indústria, as empresas, os empresários e o país, é com o maior entu-siasmo que me proponho abraçar esta causa superior.Mas não estou sozinho.Por isso, saúdo, desde já, os meus caros Co-legas, acabados de empossar, que, para além do desenvolvimento da sua própria actividade profissional, aceitaram integrar a minha lista de candidatura aos órgãos sociais da CIP, agra-decendo-lhes terem decidido partilhar comigo a liderança dos destinos da Confederação da Indústria Portuguesa durante os próximos 3 anos. E agradeço também aos membros dos órgãos sociais que agora cessaram o mandato toda a dedicação, empenho, entusiasmo e compe-tência que dedicaram à CIP, e que eu próprio testemunhei e tive a honra de com eles com-partilhar. De modo particular, gostaria, em meu nome pessoal e, agora, como Presidente da CIP, de saudar de forma muito especial o Senhor En-genheiro Francisco van Zeller que, ao longo de mais de oito anos, deu o melhor do seu esforço e dedicação para a realização dos objectivos e dos ideais da Confederação da Indústria Por-tuguesa.Um agradecimento e um bem haja!

O papel histórico da CIP

À CIP deve a indústria nacional um vasto con-junto de relevantes serviços em diversos mo-mentos históricos.

discurso do Presidente da direcção, antónio Saraiva

• António Saraiva nasceu em Novembro de 1953 em Ervidel.

• Director da Metalúrgica Luso-Italiana desde 1989 e Administrador a partir de 1992, adquiriu a empresa ao Grupo Mello em 1996, sendo actualmente Presidente do Conselho de Administração.

• Começou a sua carreira na Lisnave, aos 17 anos.• Completou o Curso da Escola Industrial e frequentou

o Instituto Superior Técnico.• Membro da Direcção da Associação dos Industriais

Metalúrgicos, Metalomecânicos de Afins de Portugal (AIMMAP), de 2001 a 2003, Vice-Presidente de 2004 a 2006 e Presidente de 2007 a 2009.

• Membro da Direcção da CIP – Confederação da Indústria Portuguesa de 2004 a 2006 e Vice-Presidente de 2007 a 2009.

• É Presidente da CIP desde Janeiro de 2010.

PErFil do PrESidENtE

À CIP deve a democracia portuguesa um papel inestimável na sua própria construção ao longo dos últimos 35 anos.E à CIP é o país devedor do enorme e meritó-rio esforço desempenhado na consolidação de uma verdadeira economia de mercado.Estou, pois, a assumir-me hoje como fiel depo-sitário desse tão importante legado que são a CIP e a sua própria História.E com o sentido de responsabilidade que o car-go de Presidente desta Confederação impõe, estou pronto e disponível, em conjunto com

toda a equipa que me dá o gosto e a honra de me acompanhar, para enfrentar os desafios que o presente e o futuro nos colocam.

Vivemos tempos difíceis

Vivemos tempos difíceis. No associativismo e no país.Sem a pretensão de emitir receitas, entende-mos que os principais desafios que se nos de-param são o de contribuir, com a nossa quota parte de esforço, na responsabilidade colecti-va de ajudar a resolver os problemas difíceis com que a economia portuguesa se defronta e acrescentar valor ao trabalho de reorganização do movimento associativo patronal.Essas serão as vertentes essenciais do nos-so trabalho. Tenho perfeita consciência de que aqueles dois desafios estão profundamente re-lacionados entre si.Quanto à reorganização do movimento asso-ciativo patronal, gostaria de deixar vincado o nosso ponto de partida: a CIP é legítima repre-sentante da indústria em Portugal.Nessa qualidade e com esse estatuto, a CIP tem constituído um pólo agregador, de contor-nos e atribuições bem definidas, assumindo a promoção e defesa dos seus representados

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IndústrIa 17

toMada dE PoSSE

com a relevância por todos reconhecida.É este património da CIP, caracterizado pela in-dependência, isenção e competência, e é esta realidade juridicamente bem identificável que pretendemos não só preservar como valorizar, tornando-a ainda mais influente e interventora.

Há dinâmicas associativas

que devem ser

aperfeiçoadas

Reconhecemos que há dinâmicas associativas que devem ser aperfeiçoadas, no sentido de potenciar a consolidação de uma voz única das empresas portuguesas em matérias verdadei-ramente estratégicas para o país.Matérias que não podem nem devem ser assu-midas isoladamente por cada Confederação e que, ao invés, terão de ser suportadas a uma só voz por todo o movimento associativo pa-tronal.Propomo-nos estimular a criação de sinergias entre todas as Confederações patronais por-tuguesas, incentivando a criação da já citada voz única patronal na abordagem a questões estratégicas e com incidência directa no quo-tidiano e nas opções das empresas de todos os sectores.Como já tive oportunidade de sublinhar pu-blicamente, julgo haver condições singulares para que esse objectivo seja materializado, em primeira instância, pela constituição de uma estrutura que agregue todas as Confederações portuguesas em pé de igualdade. Uma estru-tura na qual, independentemente do modelo

jurídico, se sintam bem acolhidos os interesses específicos de cada Confederação e, funda-mentalmente, as expectativas de cada um dos sectores de actividade por elas representados.As estruturas de representação patronal, tal como, aliás, todas as outras estruturas de re-presentação, não podem nem devem ser en-caradas como um fim em si mesmas.Pelo contrário, e sem prejuízo de toda a sua importância institucional, a CIP assume-se como o resultado final da soma das legítimas expectativas das empresas industriais.

as causas

Queremos, pois, uma CIP ao serviço das em-presas e dos empresários portugueses. Uma CIP que advogue as causas dos seus repre-sentados. Uma CIP onde os empreendedores se sintam bem acolhidos. Uma CIP que se em-penhe na defesa dos legítimos interesses de todas as empresas industriais. Grandes em-presas, pequenas e médias empresas e tam-bém micro-empresas – todas, sem excepção.Nesse sentido, seremos firmes na defesa das nossas causas.A primeira é, seguramente, o primado da eco-nomia de mercado.É verdade que damos hoje por adquirido o modelo económico em que, de forma mais ou menos tranquila, vamos vivendo.Raramente nos sentimos interpelados por dúvi-das a esse respeito.Porém, essa é uma conclusão perigosa que a CIP jamais aceitará de forma acrítica.

Todas as convulsões que resultaram da crise financeira subsequente a 16 de Setembro de 2008 tiveram efeitos perversos na economia mundial. O mais grave foi, indiscutivelmente, a forma como se estigmatizou a iniciativa priva-da, procurando deixar-se legitimada uma cres-cente intervenção dos Estados na economia.A CIP deverá manter uma postura vigilante em tal domínio, defendendo, pública e energica-mente, o primado da economia de mercado. E terá de ser a consciência moral do Estado português nesse domínio.Para tal efeito, é fundamental que se assuma com coragem a defesa dos legítimos interes-ses das empresas, que tantas vezes se mos-tram desconsiderados pelo Estado e seus agentes.E igual relevo reveste a necessidade de tudo fazer no sentido de se dignificar os empresá-rios e os empreendedores portugueses.

a única via para gerar

riqueza e postos de trabalho

são as empresas

A única via sustentável para gerar riqueza e, consequentemente, postos de trabalho são as empresas, pelo que só através da preservação da viabilidade destas e da criação de novas ou do desenvolvimento das existentes, será pos-sível alcançar aquele objectivo. Somos empresários, somos empreendedo-res e somos empregadores. Sem nós não há empresas, não há empreendedorismo, não há emprego.Há alguns sectores na sociedade portuguesa – decerto minoritários, mas que frequentemente merecem uma projecção desproporcionada -, que insistem em iludir essa evidência e procu-ram empenhadamente difundir desconfianças e preconceitos contra os empreendedores.Não podemos aceitar que, pela sua inércia, o Estado português incorra no erro histórico de caucionar os estigmas contra os empresários nacionais, tratando-os como portugueses de segunda.A dignificação dos empresários portugueses terá, assim, de ser um dos principais motes do nosso trabalho e mesmo uma das nossas pri-meiras bandeiras.Ainda neste âmbito, iremos deixar bem vincado o espaço vital que a indústria transformadora ocupa na economia nacional.Para além do seu papel na criação de postos

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18 IndústrIa

toMada dE PoSSE

de trabalho e de riqueza, a indústria nacional é hoje absolutamente incontornável para a res-posta ao principal desafio com que o país se confronta.Portugal precisa urgentemente de combater o seu défice externo, o que apenas será exequí-vel através de um incremento das exportações.Esse objectivo só será viável com maior produ-tividade, ganhos de competitividade, esforço e criatividade da nossa indústria.Incumbe ao poder político reflectir nessa evi-dência, acarinhando os interesses da indústria e criando as condições indispensáveis para que venha a ser possível reduzir os constran-gimentos com que a actividade industrial se confronta permanentemente.

CIP: IntErlOCUtOr

abErtO aO dIÁlOGO

Excelentíssimos Senhores Membros do Go-verno:Estou certo de que compreenderão que não iremos transigir na defesa dos nossos valores matriciais.Mas afianço-lhes que poderão contar com a le-aldade e a colaboração séria e construtiva dos órgãos sociais da CIP hoje empossados.O Governo terá na CIP um interlocutor aberto ao diálogo e disponível para criar consensos, um interlocutor profundamente empenhado em participar na procura das melhores soluções para os problemas que afectam o nosso país.De igual modo, queremos ser colaborantes e dialogantes com todos os demais órgãos de soberania bem como com a oposição parla-mentar, com os sindicatos e com as outras ins-tituições de representação social. As graves dificuldades que o país atravessa interpelam a nossa consciência e o nosso sen-tido de responsabilidade.Urge que tenhamos a noção clara de que os problemas apenas poderão ser combatidos se, por uma vez, nos empenharmos em remar conjuntamente no mesmo sentido.

a justiça

Sem minimizar a importância real de outros problemas delicados para a sociedade por-tuguesa, gostaria, desde já, de enfatizar uma questão que entendemos ser de primordial im-portância: a Justiça.É absolutamente urgente que se criem con-

dições para que o sistema judicial português recupere um estatuto de verdadeira credibili-dade.Apenas uma grande e abrangente mobilização da sociedade em torno desta problemática pro-piciará o cumprimento desse objectivo.A CIP, como representante de uma componen-te social do maior relevo, não só não se furtará a esse esforço como tudo fará no sentido de o valorizar.Iremos encorajar um pacto duradouro, corres-ponsabilizante para além da actual legislatura, que incorpore medidas pragmáticas para a ob-tenção da credibilidade, da operacionalidade e da eficácia da justiça.As empresas industriais são, naturalmente, um dos principais grupos de utentes do sistema ju-dicial. E precisam, com toda a premência, de uma justiça mais célere e eficaz.Os atrasos dos processos judiciais causam às empresas constrangimentos insuportáveis na tesouraria e geram um sentimento de impuni-dade com consequências catastróficas na flui-dez dos negócios, constituindo um dos maiores obstáculos à concretização de projectos de in-vestimento no nosso país.Há que simplificar a tramitação processual. Aperfeiçoar a reforma da acção executiva. Diagnosticar os problemas que afectam os Tri-bunais do Comércio de Lisboa e Vila Nova de Gaia e que os impedem de funcionar ao ser-viço da economia. Rever os critérios de distri-buição processual. Impulsionar de uma forma mais consistente os meios alternativos de re-solução de conflitos. Dotar o sistema em geral

dos meios indispensáveis para a prossecução do respectivo trabalho. E acabar de uma vez por todas com as intermináveis querelas entre todos os agentes da Justiça.

a carga fiscal e para-fiscal

Permitam-me ainda que dedique algumas pa-lavras à pressão exercida pela carga fiscal e para-fiscal sobre as empresas industriais.As nossas empresas estão hoje exauridas e não poderão suportar qualquer agravamento dessa carga.Nem de impostos, nem de contribuições para a Segurança Social.Mais do que o já consumado adiamento da en-trada em vigor do Código Contributivo, é fun-damental que seja revisto e reequacionado o quadro em que as contribuições, seja de que natureza forem, são exigidas ao tecido produ-tivo.Naturalmente, não terei agora oportunidade de elencar todo o nosso caderno de encargos.Em todo o caso, a par de outras matérias que tive oportunidade de enfatizar, quero retomar, pelo seu alcance e relevo, a questão da inter-nacionalização das empresas.Esta matéria constitui, por si só, um vector fun-damental para a criação de riqueza do país.Só através do aumento das exportações, será possível conceber um futuro sustentável para a economia nacional, com verdadeira criação de riqueza que permita elevar a qualidade de vida dos portugueses para patamares idênticos aos dos nossos congéneres europeus.Temos a consciência de que o Governo portu-guês está atento a esta matéria e que a encara como uma verdadeira prioridade.Mas esperamos que, independentemente das medidas instrumentais cuja implementação é indispensável ao fomento das exportações, seja definida, de uma vez por todas, uma es-tratégia consolidada do país para a internacio-nalização da sua economia.Como já disse, queremos ser uma CIP ao ser-viço das empresas e dos empresários. Uma CIP que advogue e ganhe as causas dos seus representados. Uma CIP onde os empreende-dores, os empresários e os empregadores se sintam bem acolhidos. Uma CIP empenhada na defesa dos legítimos interesses de todas as empresas industriais, independentemente da sua dimensão. Todas, sem excepção!Muito obrigado.

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IndústrIa 19

toMada dE PoSSE

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António Mendonça, Ministro das Obras Públicas, e António SaraivaJorge Rocha de Matos, António Saraiva e António Vasco de MelloAntónio Saraiva e Paulo PortasDaniel Bessa, José Lamego, António Neto da Silva e António SaraivaCentenas de personalidades testemunharam a tomada de posseReis Campos, José António Barros, Paulo Nunes de Almeida e António Saraiva

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20 IndústrIa

A política económico-financeira deverá estar norteada por 4 grandes objectivos: Sustentabilidade das contas pú-blicas; Dinamização do mercado de trabalho; Reforço da competitividade; e Melhoria do acesso ao financiamento

nNa apreciação ao Plano de Estabilidade e Crescimento aprovado pelo Governo, a CIP considerou que se trata de um progra-ma de estabilidade só na despesa pública e no peso do Estado e de crescimento só na pressão fiscal.Deveria ser a verdade que todos temos que saber, mas não é nada dis-so. Deveria ser um Programa de Redução da Despesa Pública. Não é. Deveria ser um Programa de Repartição do esforço e dos sacrifícios. Não é.O PEC proposto pelo Governo não tem me-didas audazes para reduzir o peso do Es-tado na economia – considera ainda a CIP, sublinhando que é apenas um Plano de re-

toque da situação actual, que não gera con-fiança e não atrai o investimento.Segundo a CIP, o PEC deveria ser a linha de rumo de que as empresas necessitam para orientarem os seus investimentos e se prepa-rarem para o crescimento; um instrumento para a consolidação das contas públicas; um “caderno de encargos” para a redução do dé-fice. Mas não é nada disso.A CIP considera ainda que o PEC deveria conter a visão do Governo para resolver o nosso grave problema de crescimento econó-mico, que tem sido agravado pelo crescimen-to do desequilíbrio externo e pelo peso muito elevado da dívida pública.

A concluir, a CIP diz recear que a falta de au-dácia agora possa vir a custar mais aos por-tugueses e que seja preciso cortar mais antes do final do ano.O PEC deveria ser:• a linha de rumo de que as empresas neces-sitam para orientarem os seus investimentos e se prepararem para o crescimento• um instrumento para a consolidação das contas públicas• um “caderno de encargos” para a redução do défice• a visão do Governo para resolver o nosso grave problema de crescimento económico, que tem sido agravado pelo crescimento do

PEC

Programa de Estabilidade só na despesa pública

Crescimento só na pressão fiscal

PrograMa dE EStaBilidadE E CrESCiMENto 2010-2013

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IndústrIa 21

desequilíbrio externo e pelo peso muito eleva-do da dívida pública.

APrECIAÇão NA GENErAlIDADE

O PEC tem em vista a diminuição do défice público em percentagem do PIB, o que torna o exercício particularmente complexo numa situação de défice público elevado e de cres-cimento económico muito reduzido. É sobre-tudo um elencar de áreas onde se prevê, por um lado, diminuir a despesa corrente e a des-pesa de capital e de investimento e, por outro, aumentar as receitas, fiscais e outras.O PEC, como Programa de Ajustamento das Finanças Públicas, conta fundamentalmente com: • Um programa de privatizações feito com um único objectivo: angariar receitas que redu-zam a dívida pública.O seu objectivo não é a redução do peso do Estado na economia. Além das incertezas de mercado quanto ao valor dessas privatiza-ções, já se percebeu que nem no Partido do Governo este tema é consensual.• Um forte aumento da carga fiscal para a classe média, através da supressão das isen-ções fiscais relativas às despesas de saúde e de educação, como forma de angariar recei-tas que reduzam o défice.• Um não aumento dos impostos directos para a actividade empresarial, o que a CIP regista como positivo, face às gravíssimas dificulda-des da economia portuguesa.• Um congelamento salarial na função pública, como forma de controlar a evolução da despe-sa pública.• O adiamento, por dois anos, das linhas fer-roviárias de alta velocidade Lisboa-Porto e Porto-Vigo. Neste contexto, o PEC poderá conseguir reduzir, até 2013, o défice para valores infe-riores a 3%, mas voltaremos a ter problemas sérios a partir de 2013, pois que:• A partir daí, começarão a ter que ser pagos os compromissos públicos com as parcerias público-privadas.• Não se enunciam as reformas estruturais nem se redefine o papel do Estado na eco-nomia e, por via disso, continuaremos uma trajectória económica de morte lenta e de em-pobrecimento colectivo.• Não será possível continuar a controlar a despesa pública, pois os congelamentos não

se podem manter eternamente. Era neces-sário implementar o PRACE – Programa de Reestruturação da Administração Central do Estado – matéria em que o PEC é omisso, para reduzir e racionalizar a Administração Pública, única forma de controlar a evolução da despesa pública corrente.Em resumo:poderemos chegar a 2013 com o problema do défice público aparentemente resolvido mas, como as “máquinas” de despesismo público e do empobrecimento económico se mante-rão intactas, voltaremos a ter gravíssimos problemas a partir de então, sem crescimento económico que angarie receitas fiscais e com a despesa pública intacta, ao que haverá a acrescentar as responsabilidades com as par-cerias público-privadas. Deve reconhecer-se que a evolução do PIB em Portugal, em 2009, foi menos negativa do que a da área do euro ou da UE 15, mas também é de salientar que, em 2008, o cresci-mento do PIB português foi nulo.Por outro lado, não tem existido, da parte do Estado, uma preocupação efectiva com a re-dução e o controlo da despesa de uma forma sustentada, donde resulta que se tem assisti-do à alternância entre ciclos de contenção do défice e ciclos de aumento da despesa, jus-tamente porque a redução do défice foi feita mais pelo lado do aumento da receita do que pela redução e controlo da despesa pública. No entendimento da CIP, os sucessivos go-vernos têm falhado no controle da despesa pública, razão porque esta se encontra actu-almente em níveis muito elevados.A este propósito, continua a desconhecer-se a avaliação do resultado da actuação do “controladores financeiros”, figura criada há 4 anos.Não se concorda, por isso, com a ideia de ter havido sucesso na consolidação orçamental desde 2005, pois tal não se pode resumir, apenas, à redução do défice em percentagem do PIB. Neste contexto, a redução do défice de 3,5 pontos percentuais (p.p.) entre 2005 e 2008 (6,1% do PIB em 2005 para 2,6% do PIB em 2008) deveu-se fundamentalmente a:- Aumento da carga fiscal: 1,5 p.p.- Redução do investimento público: 0,7 p.p.- Receitas extraordinárias (barragens e con-cessões de auto-estradas): 1,1 p.p.As despesas públicas devem ser orientadas

para o aumento do crescimento da economia e a melhoria da competitividade externa do país.Neste sentido, uma das preocupações que deveria ser claramente assumida é a da mo-ralização e boas práticas. É preciso que o Estado honre os seus compromissos, pagan-do o que deve e não se atrasando nos seus pagamentos. Nada é dito no PEC sobre este importante assunto.Concorda-se com o objectivo de promover uma programação financeira e material plu-rianual e sustentar a definição e aplicação de regras e tectos de despesa. Aguarda-se que esta medida seja implementada rapidamente e com determinação, pois entendemos que esta via é claramente preferível à da cativação de despesas. Aliás, a instituição do enquadra-mento orçamental plurianual com limites anu-ais de despesa já é referida, pelo menos, no PEC 2007-2011.Esta é uma matéria essencial, à qual o actual PEC procura, uma vez mais, dar resposta. A CIP está de acordo que o Governo pretenda manter um quadro geral de estabilidade da es-trutura fiscal a favor da retoma do dinamismo económico, da competitividade das empresas e da sustentabilidade do emprego, sem que isso, no entender da Confederação, invalide a necessidade de melhorar o sistema fiscal. No entanto, considera-se que o Governo se de-via abster de afirmar e repetir que não haverá aumento de impostos, isto porque as taxas de imposto não são aumentadas, com excepção da tributação extraordinária em sede de IRS dos rendimentos colectáveis superiores a 150 mil euros.

APrECIAÇão NA ESPECIAlIDADE

I. Enquadramento MacroeconómicoA conjugação da crise económico-financeira com as debilidades estruturais da economia portuguesa, aliás amplamente reconhecidas (baixa produtividade, fraca competitividade, elevado défice externo) e o crescente peso do Estado na economia, teve como consequên-cias, nomeadamente:- a contracção da actividade económica;- o aumento do desemprego;- o agravamento das finanças públicas.O PIB português registou, em 2009, uma di-minuição de 2.7% (variação nula no ano an-terior).

PEC

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22 IndústrIa

Verificou-se uma redução acentuada do in-vestimento (-12.6%), uma redução moderada do consumo privado (-0.8%) e um aumento do consumo final das administrações públicas (+3.5%); as exportações diminuíram 11.6%. Em termos nominais, o PIB ascendeu a cerca de 163.6 mil milhões de euros ( 1.7% que em 2008).A taxa de desemprego fixou-se, em 2009, em 9.5%. É um valor preocupante e, historica-mente, muito elevado para Portugal. É preo-cupante, desde logo, pelo flagelo social que cria, para além do dispêndio de um elevado volume de recursos financeiros que envolve para minorar os problemas sociais.Em 2009, verificou-se um significativo agra-vamento das finanças públicas que ficou a dever-se, por um lado, a uma quebra das receitas fiscais superior à prevista, à execu-ção de medidas de apoio ao investimento e ao emprego e de reforço da protecção social e, por outro, à frágil consolidação orçamental que foi feita no passado recente.Continuará a existir forte pressão sobre as contas públicas (pela diminuição de receitas e pela dificuldade em conter as despesas) en-quanto a actividade económica não reanimar o suficiente.Em termos de dívida pública, a evolução tem sido “galopante”: 66.3% do PIB em 2008 e 76.6% do PIB em 2009 e o valor do défice or-çamental de 2009 foi de 9.3% do PIB.O cenário macroeconómico apresentado afi-gura-se prudente, o que é preferível a prever um crescimento do PIB irrealista, na sequên-cia do qual se obteriam, de forma quase auto-mática, receitas que levariam a uma situação mais confortável e minimizariam as necessá-rias medidas de redução e controlo da despe-sa pública.De facto, perspectivam-se taxas de cresci-mento do PIB muito modestas (só em 2013 é que a economia portuguesa deverá crescer acima de 1.5%). Até lá, prevê-se que o cresci-mento seja inferior a 1%. Será que esta evo-lução é compatível com algum crescimento, embora ténue, do emprego? Será que as me-didas previstas foram devidamente tidas em conta na previsão do consumo privado? Será que não haverá um excesso de optimismo na previsão das exportações?Para o crescimento do PIB contribuirá a me-lhoria das exportações e do investimento, nomeadamente o empresarial. Portugal tem

de aproveitar a recuperação gradual da eco-nomia mundial.Contudo, prevê-se que a evolução anual do investimento total seja sempre inferior a 2%, após um decréscimo em 2010.As taxas de desemprego manter-se-ão eleva-das (quase sempre acima de 9,5%).A dívida pública, nos próximos anos, aproxi-ma-se dos 90% do PIB.

II. Medidas de Consolidação orçamental

II.1.1 Despesas com PessoalA CIP concorda com a opção de reduzir as despesas com pessoal para 10% do PIB até 2013. Tal devia ser conseguido pela redefi-nição das funções do Estado e pela reforma da Administração Pública, a qual tem de ser objecto de um processo contínuo de avalia-ção, com vista ao seu inevitável redimensio-namento.As despesas com pessoal foram aparente-mente reduzidas de 14,4% do PIB em 2005 para 11,1% do PIB em 2008 porque foi retira-da da rubrica despesas com pessoal e passa-da para transferências correntes a contribui-ção para a CGA (1,8% do PIB) e para a ADSE (0,3% do PIB).Assim sendo, os valores de 2008 seriam 11,5%+1,8%+0,3% = 13,6% do PIB que com-parariam com os 14,4% de 2005.

II.1.2 Despesas Sociais - Regimes de Segurança SocialNo ponto dedicado aos Regimes de Seguran-ça Social, refere-se, entre as principais orien-tações a seguir no período em referência, a eliminação das medidas excepcionais criadas no âmbito do emprego e políticas sociais.A CIP considera essencial que medidas ex-cepcionais criadas no âmbito do emprego e políticas sociais sejam extintas de forma pro-gressiva, de acordo com a evolução do qua-dro macroeconómico e após ponderação a ser feita em sede de concertação social. A extinção abrupta de tais medidas revela-se inadequada e ausente de qualquer racionali-dade face a um cenário macroeconómico que ainda se revela dotado de elevado grau de incerteza.

- Alteração do Regime do Subsídio de De-sempregoNeste âmbito, apresentam-se algumas pro-

postas de alteração ao regime do subsídio de desemprego.Sem prejuízo da avaliação das propostas de alteração, que seguidamente se fará, consta-ta-se, desde logo, que é intenção do Gover-no manter a imposição de limites ao número de revogações de contratos de trabalho por mútuo acordo com acesso ao subsídio de de-semprego, prevista no n.º 4 do artigo 10.º do Decreto-Lei n.º 220/2006, de 3 de Novembro.Como a CIP vem repe-tidamente afirman-do, a imposição de tais limites conduziu e conduz, ine-vitavelmente, ao despedi-mento colectivo (ou à extinção do posto de trabalho, para números pequenos), o qual tem ínsito um estigma fortemente negativo e com os maiores reflexos, quer ao ní-vel da reputação junto do sistema bancário, quer ao nível do mercado – es-tigma que as empresas tudo farão para evitar num momento marcado por fortes dificulda-des de acesso ao crédito.Neste quadro, é necessário e urgente alterar o Decreto-Lei n.º 220/2006, de 3 de Novembro, com o objectivo de lhe conferir a necessária racionalidade e adequação, nomeadamente, à conjun-tura de crise que ainda se atravessa, o que passa, pri-mordialmente, por eliminar os referidos limites previstos para o número de revoga-ções de contratos de traba-lho com acesso ao subsídio de desemprego.No que diz respeito às medi-das apresentadas pelo PEC, pretende-se rever os meca-nismos de atribuição e ma-nutenção do subsídio de de-semprego, com a introdução dos seguintes elementos:• Revisão da relação entre

PEC

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IndústrIa 23

o subsídio de desemprego e a remuneração líquida anteriormente auferida pelo trabalha-dor;• Diminuição do nível de salários oferecidos que obrigam à aceitação do posto de trabalho.Segundo o documento, pretende-se com tais medidas motivar o beneficiário do subsídio de desemprego a encontrar mais rapidamente emprego.Sem prejuízo de se concordar, à partida, com

iniciativas que visem estimular o desem-pregado a encontrar mais rapidamente

emprego, as medidas, tal como se encontram

formuladas, não são susceptíveis de

avaliação, uma vez não se refere quais os limites a que condu-

zirão os crité-rios que serão

usados para rever os mecanis-

mos de atribuição e manutenção do subsídio de desemprego.Estranha-se que o documento não apresente os referidos limites, dado que o Governo, se-guramente, já os tem em mente, uma vez que

o impacto financeiro de tais al-terações tem de estar conta-bilizado no resultado final, i.e., reduzir o défice público para 2,8% do PIB até 2013.

II.1.3 Despesas de Consu-mo Intermédio Nesta área, a propósito da energia, a CIP não conhece os dados de execução das medidas do PNAEE – Plano Nacional de Acção para a Efi-ciência Energética, relativas ao sector Estado, onde se inclui a eficiência energética para a iluminação e edifícios públicos, o que contribuiria para a diminuição da despe-sa, nem até que ponto está a ser implementado o Acor-do Quadro para a Energia, a cargo da Agência Nacional de Compras Públicas.

- Melhoria da Gestão na Educação e na Justiça

No que diz respeito ao ponto dedicado à Me-lhoria da Gestão na Educação e na Justiça, refere-se, entre outras medidas (algumas não concretizadas), que, no âmbito da revisão do Código de Processo Penal, as sentenças pas-sem a ser produzidas oralmente, como medi-da de simplificação administrativa e judicial.A CIP defende, em geral, medidas que visem a simplificação administrativa e judicial. Porém, é necessário que as mesmas garantam um ní-vel mínimo e adequado de segurança jurídica, pelo que, no caso concreto, considera-se que as partes no processo devem ter o direito de requerer a gravação da sentença, nomeada-mente para efeito de eventuais recursos.

II.2.1 Investimento PúblicoNo âmbito do investimento público, refere-se que “no período de 2010-2013 ocorrerá o re-gresso progressivo do investimento público a níveis pré-crise”.Neste contexto, é essencial que as medidas extraordinárias de estímulo à economia, no-meadamente de apoio ao emprego, e de apoio às famílias não sejam, como já se re-feriu anteriormente, extintas abruptamente, dado que o cenário macroeconómico ainda se revela dotado de uma grande incerteza.A prudência a isso aconselha.O Governo, com vista a conferir a necessária confiança e salvaguardar expectativas quer dos agentes económicos quer das famílias, deve assumir, directa e frontalmente, tal opção. O Governo prevê ter em conta, em relação ao investimento público, “não apenas o con-tributo dos projectos para os objectivos de crescimento, competitividade, melhoria da qualidade de vida e aumento da coesão, mas também a sustentabilidade das contas públi-cas, a evolução do endividamento público e do endividamento externo da economia”, no entanto não é perceptível a forma como o irá fazer.A CIP considera muito importante que haja critérios rigorosos e avaliação do factor mul-tiplicador desses investimentos na economia nacional, sendo que o critério essencial deve ser a racionalidade económica subjacente a tais investimentos.Também seria útil ponderar a real capacidade de manutenção de equipamentos públicos ac-tualmente existentes.

II.3.1 Tributação das Mais-Valias MobiliáriasNo que concerne à tributação das mais-valias mobiliárias, de acordo com o PEC, proceder-se-á à eliminação definitiva do benefício fis-cal (actualmente estão excluídas do imposto as mais-valias resultantes da alienação de acções detidas por mais de 12 meses ou de obrigações e outros títulos de dívida) e a su-jeição à taxa de 20% de todas as mais-valias mobiliárias.Ficarão salvaguardados, porém, os investido-res que não obtenham, a título de mais-valias, um valor anual superior a 500 euros.A extinção dos benéficos fiscais e consequen-te tributação (taxa de 20%) de todas as mais-valias mobiliárias, merece a discordância da CIP, porque esta medida afastará os poten-ciais investidores do mercado de capitais, o qual, como se sabe, é importante para o finan-ciamento das empresas. Sem prejuízo do que se acabou de afirmar, o Governo, em vez extinguir os benéficos fiscais poderá, em alternativa, por exemplo, aumentar o período a partir do qual as mais-valias estão isentas de tributação (v.g: 24 meses).

II.3.2 Limitação das Deduções e Benefícios Fiscais

- Limitação global das deduções à co-lecta de IRS em função do rendimento colectávele- Limitação global dos benefícios fiscais em sede de IRS em função do rendimen-to colectável

O PEC pretende limitar o valor global das de-duções à colecta e dos benefícios fiscais em sede de IRS em função do rendimento colec-tável, mediante o estabelecimento, em ambos os casos, de limites (correspondentes a uma percentagem do rendimento colectável) para cada um dos escalões de rendimentos.O PEC refere, ainda, que, no âmbito das de-duções à colecta de IRS em função do rendi-mento colectável, ficam excluídos da limitação proposta os dois primeiros escalões de IRS, as deduções à colecta personalizantes (rela-tivas aos contribuintes, dependentes e ascen-dentes) previstas no artigo 79.º do Código, e bem assim, as relativas às pessoas com de-ficiência.Acontece que, mais uma vez, o PEC não concretiza as medidas, ou seja, não estabe-

PEC

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lece quais os limites (correspondentes a uma percentagem do rendimento colectável) para cada um dos escalões de rendimentos.Tal como já se referiu anteriormente, estra-nha-se que no PEC não se apresentem os referidos limites, dado que o Governo, segu-ramente, já os tem em mente, uma vez que o impacto financeiro de tais alterações tem de estar contabilizado no resultado final, i.e., reduzir o défice público para 2,8% do PIB até 2013.Por outro lado, é necessário ter em atenção que a limitação das deduções e benefícios fiscais acima prevista, tem um impacto no rendimento líquido disponível das famílias e, como tal, um impacto no consumo com todas as consequências que daí decorrem.

- Reforço da tributação dos benefícios acessórios em sede de IRS e IRC (fringe benefits)

No âmbito do reforço da tributação dos be-nefícios acessórios em sede de IRS e IRC

prevê-se: • a sujeição a tributação autónoma dos

salários ou quaisquer retribuições, acima de um determinado limi-

te de referência, aos admi-nistradores, sócios ou ge-

rentes de empresas que apresentem prejuízos;• um reforço da tributa-

ção autónoma aplicável a benefícios acessórios de-signadamente para as em-

presas que paguem ajudas de custo, atribuam viaturas

aos seus colaboradores, ou pratiquem outras

formas de retribui-ção em espécie

de modo a de-

sincentivar estas práticas remuneratórias e combater a fraude e evasão fiscal.A medida que prevê sujeitar a tributação au-tónoma os salários ou quaisquer retribuições, acima de um determinado limite de referência, aos administradores, sócios ou gerentes de empresas que apresentem prejuízos merece frontal oposição por parte da CIP.Tal medida demonstra, em primeiro lugar, uma total insensibilidade do Executivo quanto aos riscos inerentes ao desenvolvimento de qual-quer actividade empresarial.Em segundo lugar, a mesma medida eviden-cia um claro ataque às empresas: se estas tiverem lucro, são tributadas em sede de IRC; se não tiverem, os seus administradores, só-cios ou gerentes serão sujeitos a tributação autónoma acima de um determinado limite de referência. Por outras palavras, o Estado, com esta me-dida, independentemente de as empresas te-rem ou não lucro, sai sempre a ganhar.Por outro lado, o PEC continua a não concreti-zar as medidas pois não estabelece a taxa da tributação autónoma e o limite de referência que, pelas razões anteriormente apontadas, já foram seguramente fixados. No que se refere ao reforço da tributação au-tónoma aplicável a benefícios acessórios, de-signadamente para as empresas que paguem ajudas de custo, atribuam viaturas aos seus colaboradores, ou pratiquem outras formas de retribuição em espécie de modo a desincenti-var estas práticas remuneratórias e combater a fraude e evasão fiscal, o PEC também não concretiza.Tal como já se referiu anteriormente, estra-nha-se que o PEC não explicite como é que se irá efectuar o referido reforço da tributação dos benefícios acessórios, dado que o Gover-no, seguramente, já o sabe, uma vez que o impacto financeiro de tal reforço tem de estar contabilizado no resultado final, i.e., reduzir o défice público para 2,8% do PIB até 2013. Uma coisa é certa: também neste caso, serão as empresas a suportar o esforço do combate

ao défice.II.4.2 Alargamento e Controlo da Base Contributiva da Segurança Social- Entrada em vigor do Código Contribu-tivoSegundo o PEC, em 2011, será prossegui-do o reforço de sustentabilidade da Segu-

rança Social, nomeadamente através

de medidas que promovem o aumento de receita, como a entrada em vigor do Código Contributivo.Uma palavra, quanto ao Código Contributi-vo. A apresentação deste Código visava dar cumprimento ao disposto nos Acordos Tripar-tidos sobre a Reforma da Segurança Social, celebrados em meados de 2006. Todavia, a sua aplicação teria lugar em 2010 – ou seja, mais de três anos após a celebração dos ditos Acordos – num momento em que se encon-tram profundamente alteradas, para pior, as circunstâncias que os rodearam.A Lei n.º 119/2009, de 30 de Dezembro, pro-cedeu à primeira alteração do Código Con-tributivo, estabelecendo uma nova data para a entrada em vigor do mesmo, precedida de uma avaliação efectuada em reunião da CPCS.Na perspectiva da CIP, essa avaliação passa, necessariamente, por reequacionar, entre ou-tros, os seguintes aspectos: (i) Forma de de-limitação da Base de Incidência Contributiva (BIC); (ii) Componentes resultantes da forma de delimitação constante do Código Contribu-tivo aprovado pela citada Lei n.º 110/2009; (iii) Algumas componentes no objectivo de con-vergência da BIC com a base de incidência do IRS; (iv) Agravamento da taxa contributiva a cargo da entidade empregadora em função da duração do contrato de trabalho; (v) O quadro sancionatório.Verifica-se, no entanto, que o Governo nem sequer equaciona, na medida respectiva que consta do PEC, avaliar o dito Código com os Parceiros Sociais.

II.5. Medidas de Correcção do Crescimento da Dívida Pública e do Endividamento

II.5.1 PrivatizaçõesEm relação ao programa de privatizações previsto, a CIP considera que o mesmo não está enquadrado numa estratégia política, co-erente e fundamentada, de redução do peso do Estado na economia, o que se impunha.Fica-se, assim, pelo único objectivo de tentar obter 6.000 milhões de euros de receitas, uma parte substancial das quais a aplicar na redu-ção da dívida pública.Além disto, há grandes incertezas ao nível do mercado quanto ao valor dessas privatiza-ções.II.5.2 Empresas e Participações Públicas

PEC

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IndústrIa 25

O Sector Empresarial do Estado necessita, imperiosamente, de reorganização e de re-estruturação, visando a melhoria da sua efi-ciência. Todavia, nesta fase, o Estado apenas propõe, no prazo de 6 meses, emitir orientações neste sentido. Ora, mais do que meras orientações, é fundamental equacionar um modelo de ges-tão eficaz do Sector Empresarial do Estado (SEE). Saliente-se, a este propósito que o PEC an-terior referia a criação de um novo modelo de governo do Sector Empresarial do Estado.

III. Competitividade e Crescimento Sustentado

III.1 Diversificação e melhoria tecnológica das exportaçõesO PEC conclui que o reforço da competitivi-dade e o contributo da procura externa para o crescimento deverá ocorrer de acordo com cinco vectores aí identificados.Refere, em complemento, que o contributo ex-terno positivo dos cinco vectores identificados tem de ser potenciado por políticas de reforço da competitividade e do crescimento econó-mico, nomeadamente a nível:• Do mercado de trabalho, onde a contenção salarial, a melhoria do funcionamento do mer-cado com maior flexibilização, a progressiva melhoria das qualificações, a facilitação da entrada de trabalhadores jovens e o estímulo à procura de emprego deverão ser promovi-dos;” (…) (sublinhado nosso).Neste âmbito, o PEC, mais uma vez, apresen-ta objectivos sem no entanto os concretizar.Na perspectiva da CIP, o PEC, pela sua im-portância, deve ser claro e preciso nas me-didas e objectivos a que se propõe, transmi-tindo desta forma, quer às empresas quer aos cidadãos, mensagens inequívocas so-bre futuro.

III.4 Melhoria no Ambiente de Negócios e Redução dos Custos de Con-textoA CIP tem sido sempre muito fa-vorável à aplicação de medidas para redução de custos de contexto e tem reconhecidamente desempenhado um papel activo em relação a esta matéria. Assim, pretende continuar a ter parte activa no novo ciclo de políticas de simplificação administrativa 2010-2013, nomeadamen-

te quanto aos processos de licenciamento.Deve prosseguir-se o processo de simplifica-ção legal e administrativa, tendo em conta, simultaneamente, a necessidade de estabili-zação do processo legislativo e a melhoria da qualidade da legislação.Importa, neste contexto, uma referência ao sistema judicial.O desempenho do sistema judicial nas suas diversas vertentes tem uma avaliação bastan-te negativa por parte dos empresários portu-gueses. Desse mau desempenho resultam consequências graves para o funcionamento das empresas e da economia portuguesa. A eficiência das instituições dum país e muito especialmente do seu sistema judicial, é con-dição imprescindível para o funcionamento eficiente duma economia de mercado. Há muito que tal se impõe, mas, actualmente, urge com foros de absoluta emergência. A CIP entende ser necessário a obtenção de um pacto duradouro entre os partidos políti-cos, corresponsabilizante para além dos limi-tes da actual legislatura, desde que o mesmo incorpore medidas pragmáticas para a obten-ção da credibilidade que urge recuperar e da operacionalidade e eficácia que é igualmente urgente adquirir. A morosidade, os custos, a tramitação e os resultados das execuções, o funcionamento dos tribunais de comércio, o

acesso à Justiça ou os critérios de distribuição processual, constituem exemplos de domínios que merecem especial atenção.

III.5 Promoção da InternacionalizaçãoA economia portuguesa terá, inevitavelmente, de crescer com base na dinâmica das empre-sas, i.e., pela via do investimento e das ex-portações. Um dos primeiros passos a dar é, desde logo, a retoma da confiança dos empresários.Consideramos que Portugal tem de aumentar o número de empresas que exportam; expor-tar produtos com maior valor acrescentado e exportar para mais mercados, bem como substituir importações, sem atitudes protec-cionistas.O Governo pretende, e bem, promover a inter-nacionalização, mas, na prática, as empresas constatam múltiplos entraves.Por exemplo, há atrasos significativos no en-cerramento de projectos de internacionaliza-ção relativos ao ano de 2008, no âmbito do QREN. Não sabemos se já estão criadas as condições a nível político, operacional e técni-co para o encerramento destes projectos.Também se verifica que, passados 6 meses da publicação do Código Fiscal do Investi-mento (foi publicado, em Diário da Repúbli-ca, no dia 23 de Setembro) os projectos das

empresas, nomeadamente no âmbito da internacionalização, ainda não se

podem candidatar ao regime de benefícios fiscais aprovado pelo referido Código.

Confederação da Indústria Portuguesa24 de Março de 2010

PEC

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doSSiê: PlaNo dE aCtividadES 2010-2012

26 IndústrIa

“reinventar a CiP, ajudar a mudar o país”

OOs actuais Corpos Sociais da CIP integram um conjunto significativo de pessoas com larga ex-periência no movimento associativo patronal e na própria CIP. Nesse contexto, somos legíti-mos herdeiros do que a CIP fez – de bem ou de menos bem – ao longo de toda a sua história. Em todo o caso, não querendo alijar responsa-bilidades que seguramente deverão ser parti-lhadas por todos sem excepção, gostaríamos de sublinhar que desde há muito tempo que as pessoas que compõem os Corpos Sociais têm vindo a reclamar uma actuação diferente por parte da CIP.Oportunamente, foram nesse contexto apresentadas sugestões para melho-ria efectiva desta Confederação. Como é natu-ral essas sugestões foram agora convocadas a este Programa, somando-se a um conjunto de outras que entendemos poderem contribuir para o objectivo de tornar a CIP mais forte, mais eficiente e mais coesa.

1. aposta na “marca” CIP

À CIP, deve a indústria portuguesa importan-tes serviços em diversos momentos históri-cos. À CIP, deve a democracia portuguesa um papel inestimável na sua própria construção ao longo destes últimos 35 anos. E à CIP é o país devedor do enorme esforço desenvolvido na consolidação de uma verdadeira economia de mercado.É pois na CIP que a indústria portuguesa pode e deve rever-se. E é em torno da CIP que as empresas industriais e as associações que di-rectamente as representam devem convergir na defesa e prossecução dos seus legítimos interesses.Os agentes económicos em particular e a so-ciedade civil em geral associam a “marca” CIP à história riquíssima desta Confederação.Entendemos pois que a utilização dessa de-signação é fundamental para a expressão dos

objectivos que prosseguimos enquanto em-presários e das causas em que acreditamos enquanto industriais. E estamos inclusiva-mente convictos de que poderá e deverá ser um catalisador das nossas energias.A CIP será o nosso passado, o nosso presen-te e fundamentalmente o nosso futuro.

2. representatividade

Apesar de albergar no seu seio um vasto le-que de organizações empresariais que lhe conferem uma legitimidade única para intervir em nome e representação da indústria por-tuguesa, reconhecemos que a CIP continua ainda a não integrar um conjunto significativo de associações.O nosso propósito é o de atrair para a CIP a maior parte das associações representativas da indústria em Portugal.Iremos numa primeira fase identificar todas

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aquelas que por algum motivo não integram a CIP. Subsequentemente, comprometemo-nos a visitar cada uma dessas estruturas, no sentido de as convidar a aderirem à nossa Confederação.Nesse sentido, em paralelo, iremos evidenciar à generalidade da indústria portuguesa que a participação de todos é fundamental para que essa própria Indústria, em torno da CIP, possa defender de forma assertiva os seus legítimos interesses.Quanto mais associações representar, mais credíveis e respeitadas serão as posições que a CIP vier a assumir. Pelo que esse será um passo verdadeiramente fundamental para que seja possível assegurar-se uma ainda maior representatividade.É importante sublinhar que, neste momento, estão já identificadas algumas associações em concreto que têm todas as condições para se filiarem na CIP a muito curto prazo. Nesse sentido é nosso objectivo firme o de conseguir atrair para a CIP, no próximo mandato, um conjunto de 10 novos sócios.

3. Financiamento

Estamos conscientes de que a CIP tem ele-vados constrangimentos financeiros que a impedem por vezes de ser mais assertiva e consequente no seu trabalho.Mas estamos também convictos de que con-seguiremos encontrar novas formas de finan-ciamento, susceptíveis de aumentar significa-tivamente o volume de receitas da CIP. Nos seguintes termos:• Aumentando o volume de quotizações em consequência da filiação de algumas asso-ciações; • Prestando mais serviços aos associados, às empresas e até ao Estado português, em ter-mos em que lhe seja legítimo fazer-se cobrar.• Sensibilizando algumas grandes empresas no sentido de obter destas apoios financeiros para a execução de trabalhos específicos.• Candidatando-se a projectos de financia-mento no âmbito do QREN em matérias em que a sua independência e a sua liberdade não fiquem minimamente afectadas em con-sequência da tal circunstância.• Aumentando exponencialmente as contribui-ções das empresas, através de uma aposta significativa na atracção de novos sócios contribuintes, em moldes que a seguir serão enunciados.

4. Governação

Verifica-se actualmente que na governação da CIP existe uma série de factores altamente negativos.Entre outros, constata-se que:• O poder está excessivamente concentrado na figura do Presidente da Direcção.• Na prática, os restantes membros da Direc-ção não têm competências específicas, para além das que lhes são delegadas casuistica-mente pelo respectivo Presidente.• O número de membros dos órgãos sociais é inusitadamente elevado, verificando-se que nos referidos órgãos acabam por estar repre-sentados mais de metade dos associados da CIP o que, por si só, acaba por retirar credibi-lidade à Confederação. Com efeito, uma enti-dade que se reclama como representante da indústria nacional não pode ter um número tão significativo de associados nos seus órgãos sociais, sob pena de, ao invés de parecer o que deve ser, correr o risco de dar para o ex-terior a ideia de que não é mais do que um grupo de amigos. O que é inaceitável e até desprestigiante.• As bases, ou seja, as associações, acabam por não ser tidas nem achadas nas decisões estratégicas da Confederação, o que é igual-mente inaceitável.Tendo presente o exposto, permitimo-nos su-gerir algumas medidas que poderiam transfor-mar radicalmente a actuação da CIP.

1. A Direcção não poderá ter mais de 7 ou 9 elementos, dos quais um seria o Presi-dente, dois seriam Vice-Presidentes e os restantes seriam Vogais.2. Poderá ser constituída uma Comissão Executiva, com poderes delegados pela Direcção.3. O Presidente da Direcção – ou na sua impossibilidade um dos Vice-Presidentes – deverá ser o principal rosto público da Direcção.4. Não obstante, cada um dos membros da Direcção deverá assumir a responsabilida-de directa por um ou mais pelouros.5. Nesse sentido, em quaisquer contactos com órgãos de soberania, o Presidente da Direc-ção deverá ser sempre acompanhado pelo Di-rector responsável pelo pelouro no âmbito do qual se enquadre o assunto a tratar.6. Para além disso, deverá ser nomeado um Director Geral que se responsabilizará pela gestão corrente da CIP.

7. As regras de funcionamento da Direcção deverão ser aprovadas pela Assembleia Geral.8. No que se refere às grandes questões estratégicas, sem prejuízo das competên-cias naturais nesse âmbito da Assembleia Geral, é fundamental que se enfatize o pa-pel das associações filiadas.9. Nesse sentido, terá de ser revitalizada a figura do Conselho de Presidentes ou uma estrutura orgânica similar, o qual terá de reunir com maior periodicidade e ser obri-gatoriamente consultado em matérias de cariz marcadamente estratégico.

Sublinhamos contudo que, no que se refere a este novo modelo que aqui propomos, urge previamente alterar os estatutos da CIP.Naturalmente, a composição da lista que se candidatou obedece ao modelo estatutário ainda em vigor. Aliás, não poderia ser de outra forma.Pelo que, como é óbvio, a introdução des-te novo modelo de governação terá de ser acompanhada de uma alteração aos esta-tutos, a qual nos propomos levar a efeito ao longo do mandato. Será proposto à Assem-bleia Geral um novo modelo de governação, com a constituição de uma Comissão Exe-cutiva.

5. Comunicação

Não há quaisquer dúvidas de que a CIP não tem sabido explorar o seu vasto potencial nes-te âmbito. Nem junto do seu público interno – a indústria portuguesa – nem junto do público externo – o poder político e a opinião pública.É sabido que a comunicação social revela uma especial apetência em conhecer as po-sições defendidas pela CIP aos mais diver-sos níveis. Porém, verifica-se que a CIP não tem qualquer estratégia definida nesse âmbi-to. O que evidentemente prejudica a eficácia do seu discurso e até da sua actuação.Ate ao momento, a política de comunicação da CIP cinge-se quase exclusivamente a no-tícias dispersas nos jornais com declarações do seu Presidente ou do seu Director para a área laboral e à publicação de uma revista com óbvias limitações comunicacionais e cen-trada essencialmente sobre si mesmo.A CIP deverá pois, urgentemente, conceber e implementar uma verdadeira política de co-municação. Se necessário, recorrendo a es-pecialistas na matéria.

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E deverá estar consciente de que apenas co-municando melhor – em termos de qualidade e de oportunidade na intervenção mediática – lhe será possível cumprir as suas mais ele-mentares obrigações.Se a CIP souber comunicar melhor, mais facil-mente poderá evidenciar a importância funda-mental do seu trabalho. O que, naturalmente, potenciará uma maior adesão de associações que ainda não estão filiadas, contribuindo, consequentemente, para um aumento das re-ceitas da Confederação.E, mais importante que tudo, reforçará o peso, o prestígio e a eficácia do seu trabalho.6. Mais sócios contribuintesA notoriedade e o prestígio da “marca” CIP são seguramente, como já se enunciou, um verdadeiro catalisador das nossas energias.Entendemos que a figura do sócio contribuinte deverá ser exponenciada tendo como pressu-posto aquela asserção.Nesse sentido propomos cativar um grande conjunto de empresas industriais, no intuito de lhes criar as condições para que venham a aderir directamente à CIP.Implementaremos essa estratégia com todas as cautelas e com um respeito absoluto pelas Associações que nos integram.Assim sendo, no que concerne aos sectores representados por Associações filiadas na CIP, qualquer abordagem às empresas será seguramente levada a efeito com o acordo, a cumplicidade e o apoio logístico dessas mes-mas Associações.Sabemos antecipadamente que há já alguns sectores importantes que encaram esta ideia com entusiasmo.E acreditamos que os restantes acolherão igualmente a sugestão, até porque é nosso propósito que a filiação directa na CIP apenas possa materializar-se por empresas que, em simultâneo, estejam igualmente inscritas em Associações sectoriais ou regionais.Esclarecida devidamente essa questão, será criada uma tabela de contribuições em função das especificidades de cada empresa que ve-nha a aceitar o desafio de juntar a sua à nossa força.Dessa forma, iremos não só amplificar a nos-sa representatividade, como também aumen-tar o nosso volume de receitas.Sabemos que temos condições para seduzir as empresas a acreditarem na bondade desta ideia.

Em primeiro lugar, porque saberemos explicar que, quando todos contribuímos em prol de um projecto comum, todos ficamos inequivo-camente a ganhar.Em segundo lugar, porque iremos garantir re-torno a cada contribuição que seja efectuada.7. Reestruturação dos serviçosA CIP enquanto estrutura de serviços tem não só limitações como também sérios desequi-líbrios. Entendemos que deverá ser criada a figura de um Director-Geral, embora reconhe-cendo e assumindo que essa medida apenas deverá entrar em vigor no mandato subse-quente.Para além disso, é importante levar a efeito um trabalho interno de análise e reflexão em torno do funcionamento dos diversos serviços e departamentos.No termo desse trabalho, é provável que te-nha de haver ajustamentos não só na estru-tura funcional como também na sua própria composição.Uma coisa é, porém, antecipadamente certa. Cada um dos Departamentos da CIP terá de ser liderado por profissionais de elevado nível e cuja competência seja reconhecida no exte-rior da Instituição.Por outro lado, importa racionalizar a estrutura interna da CIP, tornando-a mais operacional, sendo aliás certo que aquilo que preconiza-mos para o exterior, em termos de racionaliza-ção das estruturas do Estado, temos também de o fazer internamente dando o exemplo. 8. Representação internacionalÉ fundamental que a CIP esteja atenta ao que se passa em Bruxelas, o epicentro da activi-dade político-económica da União Europeia.A CIP terá de assegurar uma presença au-tónoma em Bruxelas, preferencialmente em articulação com algumas Associações, o que potenciará a criação de sinergias entre várias instituições com interesses obviamente co-muns.Sem prejuízo disso deverá assegurar uma presença cada vez mais activa na organiza-ção de cúpula do associativismo patronal a nível europeu – a BUSINESSEUROPE.

III – a Cúpula do movimento

associativo patronal

1. A CIP como representante legítima da indústriaA CIP é legítima representante da indústria

em Portugal. Nessa qualidade e com esse es-tatuto, tem constituído um pólo agregador de contornos bem demarcados, com atribuições definidas, assumindo a promoção e defesa dos seus representados, com relevo púbica e reiteradamente reconhecido e exemplarmente ressaltado.É este património, que as marcas da indepen-dência, isenção e competência rechearam, e esta realidade juridicamente bem identificável que pretendemos não só preservar como va-lorizar, tornando-a ainda mais operativa.Reconhecemos que é importante aperfeiçoar algumas dinâmicas no referido movimento associativo. Porém, no que concerne à indús-tria, não transigiremos na assunção das nos-sas responsabilidades e, concomitantemente, da liderança da CIP. Qualquer reorganização associativa terá pois de ser feita no seio e em torno desta Confederação.O nosso propósito será assim, conforme foi já enfatizado, o de atrair mais associações para o interior da CIP. E essa será a matriz da reorganização asso-ciativa no que à indústria concerne, embora estejamos abertos, no estrito respeito por este posicionamento, a explorar com outras organizações soluções de futuro mutuamente virtuosas.

2. Articulação com as restantes Confede-raçõesHá um conjunto de matérias com um cunho verdadeiramente estratégico para o país que não podem nem devem ser assumidas isola-damente por cada Confederação e que, pelo contrário, terão de ser sustentadas publica-mente a uma só voz por todo o movimento associativo patronal.Reportamo-nos aqui, nomeadamente, aos do-mínios da Justiça, da Legislação Laboral, da Política Energética ou da Fiscalidade.Nesse contexto, propomo-nos estimular a criação de sinergias entre todas as Confede-rações patronais portuguesas, no sentido de potenciar uma voz patronal única na aborda-gem de questões que, para além de estratégi-cas, tenham incidência na vida das empresas de todos os sectores.Esse objectivo deverá ser prosseguido atra-vés da constituição de uma estrutura que agregue todas as Confederações em pé de igualdade. Não obstante esta proposta deva ser ainda amadurecida através de reflexão in-

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terna no seio da própria CIP, entendemos que a mesma poderá ser materializada através da criação de um Agrupamento Complementar de Empresas – ou de uma figura atípica si-milar -, na qual se sintam bem acolhidos os interesses específicos de cada Confederação.Independentemente do modelo jurídico a subscrever, um dado é para nós certo e in-contornável: a constituição da nova estrutura deverá ser consequência de uma convergên-cia de vontades, cabendo a todos os parceiros obrigações e direitos iguais.Nesse sentido, a CIP pretenderá apenas es-timular o pontapé de saída, com responsabi-lidade e humildade, sem se arrogar de qual-quer espécie de supremacia.

IV – as causas

1. o primado da economia de mercadoConforme fizemos questão de enunciar na introdução a este Programa, temos o maior orgulho na história da CIP e no papel que esta desempenhou na consolidação da economia de mercado em Portugal.Provavelmente, damos hoje por adquirido o modelo económico em que vivemos e rara-mente nos sentimos interpelados por quais-quer dúvidas nesse âmbito.Essa é porém uma conclusão perigosa que uma instituição com as responsabilidades da CIP jamais poderá aceitar acriticamente.Pelo contrário, a CIP deverá manter uma pos-tura vigilante e mesmo intransigente nesse âm-bito, defendendo publicamente o primado da economia de mercado e denunciando os atro-pelos e desvios que lhe vão sendo impostos.O choque decorrente da crise financeira sub-sequente a 16 de Setembro de 2008 teve efei-tos perversos na economia mundial. Estigma-tizou-se a iniciativa privada e conferiu-se uma falsa legitimidade a uma maior intervenção do Estado na economia.Isto é verdadeiramente paradoxal. Afinal de contas, na origem da crise, mais do que quais-quer outros actores estiveram os próprios Es-tados, os quais falharam rotundamente no cumprimento das suas obrigações essenciais: regulação e fiscalização.É verdadeiramente fundamental que, no que concerne a Portugal, seja aqui efectuado um ponto de ordem. E a CIP deverá ter uma pa-lavra decisiva nesse âmbito, assumindo publi-camente os seus valores.

Assim, deverá a CIP pugnar pelo seguinte:• Defender de forma intransigente as regras de concorrência.• Exigir do Estado e das diversas autoridades reguladoras a assunção clara das suas res-ponsabilidades em defesa da concorrência e do mercado.• Propor a criação de regras de transparência absoluta nos apoios concedidos às empresas.• Apoiar o combate à corrupção, nomeada-mente através da criminalização do enriqueci-mento ilícito, sem atropelo às regras do ónus da prova e no respeito pelas normas consti-tucionais. • Denunciar energicamente os excessos de intromissão do Estado na economia.• Defender pública e assertivamente o papel incontornável de verdadeira supremacia da iniciativa privada e do empreendedorismo.

2. A aposta na indústria transformadora e nos bens transaccionáveisA indústria transformadora ocupa um espaço fundamental e mesmo vital na economia por-tuguesa. Para além do seu peso específico na criação e manutenção dos postos de trabalho indis-pensáveis ao equilíbrio da economia e da própria sociedade, a indústria nacional é ver-dadeiramente incontornável para aquilo que, sem falsos dramatismos, podemos qualificar como a sobrevivência do país.Portugal precisa urgentemente de combater o seu défice externo, o que apenas será viável através do aumento de competitividade dos bens transaccionáveis e consequente incre-mento das exportações.Ora, tal desiderato apenas será possível de atingir à custa do esforço e da criatividade da nossa indústria.O poder político não poderá ignorar essa evidência, sendo sua obrigação criar as con-dições necessárias para que venha a ser possível reduzir-se os insuportáveis constran-gimentos com que a actividade industrial se confronta permanentemente.A grande preocupação da política económica tem de ser a questão da competitividade. Só tornando o nosso país mais produtivo e mais competitivo é que poderemos melhorar a pra-zo a nossa qualidade de vida e reduzir as de-sigualdades.Sem uma aposta forte na indústria transfor-madora e nos bens transaccionáveis, não

será possível reduzir o nosso desequilíbrio externo, redução essa que é vital para a sus-tentabilidade do nosso crescimento económi-co e consequente criação de empregos dura-douros e bem remuneradosNeste domínio, em termos conceptuais, a pri-meira obrigação da CIP será a de reclamar para a indústria o reconhecimento público do seu papel estruturante e verdadeiramente estratégico para o desenvolvimento da econo-mia portuguesa.

3. A defesa das empresasA CIP terá de assumir-se como verdadeiro pa-ladino dos legítimos interesses das empresas.Como é óbvio, todas as medidas propostas neste Programa têm como pressuposto o pro-pósito assumido de defesa dos direitos das empresas.Em todo o caso, independentemente da expli-citação ulterior de diversas propostas concre-tas, não poderíamos deixar de autonomizar um sublinhado a esse respeito.Fazemo-lo aqui, enfatizando que as empresas não poderão ser desrespeitadas ou desconsi-deradas pelo Estado e seus agentes.Iremos exigir que o Estado português liquide as suas dívidas perante as empresas e se comprometa a passar a honrar os seus com-promissos futuros num prazo de 30 dias.Iremos denunciar os comportamentos arbi-trários de diversas autoridades inspectivas, muitas vezes determinados por uma evidente ignorância do que é a realidade empresarial.Iremos reclamar a redução de uma carga bu-rocrática asfixiante e castradora.Iremos exigir um sistema judicial minimamen-te compatível com as regras de um Estado de Direito e de uma economia de mercado.Iremos reclamar um sistema fiscal e para-fis-cal susceptível de promover a competitividade das empresas nacionais.

4. A dignificação dos empreendedores e empresáriosSem qualquer medo das palavras, assumimos que nos sentimos frequentemente revoltados com a forma com que alguns focos minoritá-rios na sociedade portuguesa procuram estig-matizar os empresários nacionais.Sem empresas não pode haver criação de postos de trabalho e geração de riqueza. Mas sem empresários não poderá haver criação de empresas.

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Porém, há quem persista em procurar iludir essa evidência, tentando disseminar na socie-dade desconfianças e preconceitos contra os empreendedores.A dignificação dos empresários portugueses terá seguramente de ser um dos nossos prin-cipais propósitos. E terá mesmo de se assumir como uma das nossas principais bandeiras.Não poderemos tolerar que os empresários sejam tratados como portugueses de segun-da. Nesse sentido, há uma medida que iremos imediatamente reclamar que seja adoptada, a qual se consubstancia na atribuição do subsí-dio de desemprego a empresários e gestores.Não faz sentido que estes sejam os únicos portugueses a quem o Estado não conce-de em circunstância alguma qualquer apoio numa eventualidade de desemprego.Pelo que essa é uma medida que entendemos prioritária. Quando vier a ser aprovada, contri-buir-se-á simbolicamente para a dignificação dos empresários. Concomitantemente, o pró-prio país resultará mais digno e justo.

V – as questões estratégicas

1. Sistema judicialO desempenho do sistema judicial nas suas diversas vertentes tem uma avaliação bastan-te negativa por parte dos empresários portu-gueses. Desse mau desempenho resultam consequências graves para o funcionamento das empresas e da economia portuguesa.O sistema judicial português tem um longo ca-minho a percorrer para recuperar um estatuto de verdadeira credibilidade e ganhar a opera-cionalidade e a eficácia indispensáveis para que possa ser encarado, ele mesmo, como um factor de atractividade de investimento.A eficiência das instituições dum país e muito especialmente do seu sistema judicial, é con-dição imprescindível para o funcionamento eficiente duma economia de mercado.Há muito que tal se impõe, mas ora urge com foros de absoluta emergência.Está hoje mais que comprovado que só uma grande e abrangente mobilização da socie-dade em torno desta problemática, possibili-tará aqueles resultados e encurtará o espaço temporal em que tal pode ser conseguido. A CIP, como representante de uma componente social do maior relevo, não só não se furta a esse esforço como tudo fará para o potenciar.Iremos suscitar de imediato encontros com os

Órgãos de Soberania, com os Partidos Políti-cos e com os representantes dos Agentes da Justiça, em que o enquadramento, efeitos e soluções sejam explicitados de modo vincado e analisados com perspectiva nacional. Esse será seguramente o principal contributo da CIP na arrancada para essa mobilização.Encorajaremos, nesta área, a obtenção de um pacto duradouro, corresponsabilizante para além dos limites da legislatura, desde que o mesmo incorpore medidas pragmáticas para a obtenção da credibilidade que urge recu-perar e da operacionalidade e eficácia que é igualmente urgente adquirir.A morosidade, os custos, a tramitação e os re-sultados das execuções, o funcionamento dos tribunais de comércio, o acesso à Justiça ou os critérios de distribuição processual, consti-tuem exemplos de domínios a que dedicare-mos especial relevo.O chamado Pacto de Justiça procurou en-quadrar apenas os aspectos da justiça mais mediática, aqueles que vendem jornais, mas deixou de fora a justiça económica. É preci-so não só preocuparmo-nos com os direitos fundamentais na área penal mas também com o cumprimento das leis reguladoras das tran-sacções comerciais e com a gestão do fluxo de processos, através das metodologias e ins-trumentos de “workflows”.Para além disso, iremos procurar ajudar a im-pulsionar meios alternativos de resolução de conflitos, como a arbitragem ou a mediação.

2. Autoridades de Concorrência e de regu-lação Sectorial Num Pais de brandos costumes, tradicional-mente alheado das grandes tendências da economia internacional, Portugal teve até re-centemente atrás uma relação distante com a temática da concorrência, a qual não era en-tendida como instrumento vital para a actua-ção mais eficiente das empresas no mercado. Na verdade o regime normativo da concorrên-cia surgiu apenas no ordenamento jurídico nacional em virtude da adesão à Comunida-de Económica Europeia, na década de 1980. Quase trinta anos volvidos sobre a adopção do primeiro diploma legislativo em matéria de concorrência, Portugal parece ter começado a encarar a sério a necessidade de um regime jurídico de qualidade nesta matéria, pugnando pelo aumento da eficácia da sua aplicação pe-las entidades competentes.

A legislação nacional de defesa da concor-rência foi objecto de importante reforma em 2003. Os pilares fundamentais dessa reforma assentaram na criação de uma Autoridade da Concorrência (DL nº 10/2003). A génese desta Autoridade está, para além dos condicionalis-mos externos, em factores endógenos como a necessidade de aumentar a competitividade da economia Portuguesa, dotando-a de novo enquadramento normativo e de instituições capazes de procederem à sua implementa-ção. Assim, a reforma operada, na qual a CIP participou activamente, pretendeu criar em Portugal uma verdadeira cultura de concor-rência.Importa hoje garantir que os requisitos des-tinados a assegurar a independência da(s) Autoridade(s) da Concorrência e de Regu-lação Sectorial, como sejam o regime finan-ceiro, a composição do Conselho, a duração dos respectivos mandatos, o regime de in-compatibilidades e impedimentos e o estatuto remuneratório dos mesmos, sejam mantidos, de forma a que a fundamental independência desta(s) Autoridade(s) face ao poder econó-mico e ao poder politico não seja posta em causa. A prática das autoridades em Portugal vem evidenciando uma das principais críticas fei-tas às políticas antitrust noutros países, ou seja: o seu carácter reactivo muito tardio, fa-zendo emergir o desfasamento entre o timing dos juristas e das administrações e a eco-nomia real em que vivem as empresas. Por esta razão são fundamentais por uma lado as acções preventivas e por outro a celeridade dos processos, cientes de que, quanto maior a capacidade interventiva, maior será o poder dissuasor da lei. A falta de um verdadeiro “impulso concorren-cial” na aplicação da legislação existente não poderá deixar de ter consequências nefastas sobre a competitividade internacional e a ca-pacidade concorrencial das empresas portu-guesas.Cabe também aqui fazer uma nota sobre a capacidade de auto-regulação de alguns sec-tores. A bondade destas iniciativas geradoras de um entendimento entre empresas e uma capacidade de “auto-mediação” dos conflitos, não deve ser desresponsabilizadora de actu-ações das autoridades supervenientes/ tute-lares e/ou de iniciativas politicas meritórias. A CIP deverá patrocinar estas iniciativas ga-

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rantindo a sua efectividade e real garante da defesa dos interesses dos seus Associados.

3. legislação laboralA legislação laboral portuguesa tem sido, e justamente, apontada, a par de outros cons-trangimentos, como um elemento desmobi-lizador aquando da tomada de decisões de investimento.A rigidez da legislação laboral, em que Por-tugal é o país da OCDE com maior índice de protecção de trabalho, contribui para o au-mento do peso dos contratos a termo certo.Nos três indicadores de flexibilidade laboral (protecção dos contratos individuais de tra-balho sem termo, despedimento colectivo e regulação de trabalho temporário e a termo), Portugal continua muito mal colocado em ter-mos de flexibilidade dos contratos individuais de trabalho.Os ajustamentos indispensáveis à racionali-zação de recursos humanos encontram-se, em muitas situações, verdadeiramente impos-sibilitados.Depois de tanto esforço financeiro investido em dezenas de milhares de licenciados e de qualificados que procuram inserção no mer-cado de emprego para postos de trabalho que os motivariam e a que empenhadamente se dedicariam, como justificar, no quadro actual, a continuação do preenchimento desses pos-tos de trabalho por impreparados e imbuídos de uma total desmotivação?O perdurar deste desfasamento constitui um verdadeiro contra-senso face ao estado da economia nacional.Por outro lado, experiência de décadas deixou meridianamente claro que, os termos em que a justa causa de despedimento assente em razões disciplinares tem sido entendida e apli-cada, fomenta e prolonga situações de afron-tamento à autoridade e poder de direcção do empregador facilmente contagiáveis e, assim, exponenciáveis.Para a manutenção de situações de que as descritas constituem meros exemplos, têm-se invocado fundamentos constitucionais que im-pediriam reequação por via legislativa normal e também interpretação e aplicação prática diferentes.Dispondo o Parlamento, nesta legislatura, de poderes constituintes, assumimos como ta-refa, de cunho bem prioritário, uma actuação persistente junto dos Grupos Parlamentares

com propostas concretas para alterações aos dispositivos que têm sido invocados como bloqueadores à adopção de soluções legais possibilitadoras de uma gestão racional e di-nâmica dos recursos humanos das empresas.4. Contratação colectivaComo resposta a uma legislação laboral fre-quentemente irrealista e impraticável, a con-tratação colectiva pode colmatar boa parte dessa lacuna relevando especificidades sec-toriais e empresariais que aquela raramente espelha.A evolução verificada nos últimos anos ao ní-vel do enquadramento normativo nesta maté-ria, tem ido na direcção certa.Continuamos, porém, longe de encontrar res-posta total adequada.A proliferação de instrumentos de regulamen-tação colectiva concomitante-mente aplicá-veis no mesmo sector de actividade e empre-sa, gera constrangimentos insuportáveis.Urge pôr cobro a uma tal realidade. Como urge deixar inequívoco, face aos enten-dimentos que têm vingado, que a negociação colectiva ao nível da empresa pode ser tam-bém celebrada pelas respectivas comissões de trabalhadores, no exercício de uma com-petência própria destas.A representação abrangente que as mesmas assumem, para além do conhecimento directo da realidade em que se inserem e que essa negociação se destina a disciplinar, tornam bem natural aquela competência.Persistindo-se, como tem persistido, na invo-cação de que também estas soluções encon-tram escolhos de índole constitucional, tudo faremos para evidenciar, junto dos Grupos Parlamentares, os reflexos daí decorrentes, apresentando a redacção que lhes daria res-posta em sede da já referida revisão consti-tucional que se encontra possibilitada e que incentivaremos.Nas relações entre a lei ou a contratação colectiva, por um lado, e o espaço para a in-tervenção individual, também como factor de ajustamentos que só os próprios envolvidos equacionam e adequadamente valoram, por outro, pugnaremos pela expansão deste últi-mo espaço pois o mesmo, tendo conhecido já algum alargamento, ainda se circunscreve a aspectos muito limitados.

5. Formação profissional, ensino e educaçãoO sistema português tem-se revelado incapaz

de produzir os recursos humanos qualificados de que Portugal precisa para competir em segmentos de maior valor acrescentado na economia global do século XXI.A formação profissional, assim como o ensino, devem ser objecto de forte aposta e incentivo, mormente quando se atenta nas especificida-des do contexto sócio-económico português, caracterizado por um baixo nível de qualifica-ções escolares e profissionais, associado a fenómenos de abandono precoce e insucesso escolar, fraca atractividade e desadequação dos programas formativos às necessidades do mercado, reduzidas taxas de participação na formação permanente por parte da popula-ção activa, etc.. No mundo moderno não podemos pensar apenas no ensino formal, temos que combi-nar cada vez mais o binómio ensino-formação profissional.No que diz respeito ao ensino, especialmente o superior, verifica-se que o mesmo não se mostra concebido como veículo privilegiado e indispensável para potenciar a empregabilida-de, a produtividade e, deste modo, a competi-tividade da economia. Por isso sente-se uma dinâmica preocupante de desemprego nos jovens licenciados, fruto dessa desadequação do ensino superior às necessidades activas das empresas.No que concerne à formação profissional, sem fazer uma análise exaustiva das defi-ciências que ao longo das últimas décadas têm sido registadas, diremos que não houve a indispensável preocupação de qualidade – privilegiou-se a quantidade –, perspectivou-se a formação pelo lado da oferta, e não, como se impunha, pelo lado da procura, e, também aqui, não se teve em devida conta quer as exigências de competitividade e produtividade das empresas quer as necessidades de em-pregabilidade dos trabalhadores. O nosso aparelho público de formação pro-fissional continua a formar operários para a indústria de mão de obra intensiva do século passado, não formando e actualizando para os “skills” de uma indústria de maior valor acrescentado mais consentânea com o mo-delo da Economia do Conhecimento que urge seguir em Portugal.Constata-se, em ambos os casos, uma incon-tornável necessidade de fazer corresponder as competências às exigências do mercado, com vista a potenciar elevados níveis de pro-

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dutividade e competitividade, aumentar as qualificações e, consequentemente, a empre-gabilidade da população portuguesa.E, para esse desiderato, cumpre promover uma melhor articulação entre os diferentes centros protocolares, escolas de formação e centros tecnológicos, numa óptica de com-plementaridade que fomente e incentive a criação de competências e a valorização do conhecimento.Em suma, é necessário incentivar e criar na sociedade portuguesa um sentimento global da importância capital da Aprendizagem ao Longo da Vida, tendo em conta que esta, pelo acréscimo dos índices de competência que in-duz, constitui pedra angular da produtividade e da competitividade das empresas e da em-pregabilidade dos trabalhadores.A este propósito ainda não poderemos deixar de procurar sensibilizar o poder político para os efeitos negativos susceptíveis de advir de uma aposta excessiva no modelo das “Novas Oportunidades”.Reconhecemos que esta aposta tem algumas virtualidades, consubstanciadas não só numa melhoria global das habilitações médias da população portuguesa como também num au-mento da auto-estima dos trabalhadores em geral.Entendemos porém que os excessos eviden-tes nessa aposta são contra-producentes e geradores de elevados prejuízos para a eco-nomia nacional. Em primeiro lugar pela ideia de facilitismo que tem contribuído para propa-gar na sociedade. Em segundo lugar, porque a sua promoção tem vindo a ser efectuada em detrimento de uma aposta em formação verdadeiramente substantiva e com interesse real para a actividade empresarial.

6. Fiscalidade e parafiscalidade Vivemos numa União Económica e monetária em liberdade de circulação de pessoas, bens, serviços e capitais entre os Estados Membros o que leva a uma crescente concorrência fiscal entre eles. Assim, à tradicional preocupação de equidade dos sistemas fiscais, junta-se a nova preocupação da sua competitividade no contexto internacional.Em Portugal, o sistema fiscal não é equitativo nem competitivo.A redução da carga fiscal e parafiscal que re-cai sobre as empresas mostrou-se, em con-textos históricos bem definidos, como uma

medida ambiciosa e corajosa por parte do poder político, tendo antecedido períodos de prosperidade económica.Agora, mais do que nunca, revela-se incontor-nável a sua necessidade.As empresas, mormente as empresas indus-triais, sufocam perante a pressão exercida pela carga fiscal e parafiscal bem como pela acção das entidades públicas que adminis-tram essas matérias.Isto para não falar já da instabilidade e falta de clareza que têm caracterizado o quadro legal vigente neste domínio. As empresas precisam de ser desoneradas de custos e de formalidades inúteis – que só lhes consomem tempo e recursos –, por forma a poderem canalizar esforços para funções bem mais produtivas, como sejam a investi-gação, o desenvolvimento e o investimento. Um mínimo de racionalidade na utilização dos impostos e contribuições que pagam, a tanto impele.Por outro lado, à revelia do que tem vindo a ser exigido ao nível da UE, através do agrava-mento da carga parafiscal que se antevê com a entrada em vigor do Código Contributivo, agravam-se os custos não salariais associa-dos ao trabalho, o que, aliado à fraca produti-vidade registada no nosso país, tornará ainda mais difícil alcançar o objectivo de tornar o trabalho compensador para todos.Neste contexto, mais do que adiar a entrada em vigor do Código Contributivo, a CIP tem de mobilizar forças, internas e externas, com vista a reequacionar o quadro em que se exi-gem contribuições, seja de que índole for, ao tecido produtivo.Por outro lado, há medidas práticas no âm-bito da fiscalidade pura que a CIP se propõe estimular o actual Governo a cumprir. Entre outros:• A redução dos prazos de reembolso do IVA e o aperfeiçoamento do regime de prestação de garantia;• A eliminação do pagamento especial por conta e do pagamento por conta;• A introdução de mecanismos de compensa-ção fiscal entre os diversos impostos.

7. AmbienteAs crescentes pressões que derivam das po-líticas comuns europeias em matéria de am-biente, de riscos para a saúde e de defesa dos trabalhadores, consumidores e sociedade

em geral, colocam desafios às empresas, os quais exigem soluções competitivas.Tendo em conta que muitas dessas pressões se concretizam não só ao nível da produção industrial como dos procedimentos, conside-ramos essencial tomar opções.Também aqui se deve aliviar as empresas de encargos burocráticos excessivos, que, fre-quentemente, vão muito para além do previsto nos normativos comunitários.Assim, as novas propostas legislativas nacio-nais têm de ser avaliadas atendendo ao im-pacte em termos de custos para as empresas e as alternativas possíveis, optando-se por adiar, até ao limite previsto na legislação co-munitária, a regulamentação que crie custos adicionais para as empresas, conferindo, por essa via, espaço de manobra e adaptação à capacidade financeira e produtiva do tecido produtivo.A CIP deve, consequentemente, exercer uma intervenção preponderante, alertando o Go-verno, em particular, e a sociedade civil, em geral, quanto ao impacto profundamente ne-gativo, em termos económicos e sociais, que a adopção de legislação nacional com exigên-cias substanciais e burocráticas que vão para além do previsto nos normativos comunitários, e com prazos exíguos para o seu cumprimen-to, pode provocar nas empresas. Portugal, tem sido irrealista e extremamente volunta-rista nas questões ambientais, o que afecta gravemente a nossa competitividade. Só faz sentido estarmos na liderança dos processos ambientais, quando temos capacidades tec-nológicas e industriais para aproveitar para a economia portuguesa tais oportunidades.Num outro contexto, importa estar-se atento ao comportamento assumido pelas autorida-des inspectivas em sede ambiental, como são casos paradigmáticos a IGAOT e a própria ASAE.É urgente que se distenda o tom marcada-mente crispado que caracteriza o relaciona-mento entre a indústria por um lado e aquelas autoridades pelo outro.Nesse sentido, a CIP tomará a iniciativa de abrir pontes de diálogo com as entidades que tutelam a matéria. De uma forma pedagógica e necessariamente assertiva.

8. Energia e matérias-primasPortugal é um País caracterizado por fracos recursos naturais.

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Isto condiciona, em parte, a sua própria capa-cidade de produzir energia.O nosso consumo de energia per capita é infe-rior à média europeia, o mesmo acontecendo ao nosso PIB per capita. Assim, a intensidade energética (rácio entre o consumo per capita e o PIB per capita) é elevado em termos euro-peus, não devido ao consumo mas sim devido à fraqueza do PIB per capita.O aumento dos custos de energia deveu-se, em larga medida, à grande dependência dos preços do petróleo, que influenciam, os pre-ços do carvão e do gás natural, e vai cada vez mais dever-se a um peso excessivo das ener-gias renováveis no mix-energético. O sobre-custo dessas renováveis está a implicar um crescente défice tarifário no sector eléctrico.As tarifas de electricidade aplicáveis ao sec-tor industrial são elevadas, superiores quer às da média comunitária quer, ainda, às que são praticadas em Espanha, em consequência, entre outros factores, do não funcionamento eficaz do Mercado Ibérico de Electricidade, o que leva a uma ausência de concorrência en-tre os operadores nesse mercado.A CIP tem bem presente a gravidade da situa-ção e, a menos que se tomem medidas para a corrigir, é a própria sustentabilidade do siste-ma que está em causa.Essas medidas têm de acautelar um correcto equilíbrio “energy mix”, na potência instala-da, na programação temporal entre parques eólicos, aproveitamentos hidroeléctricos e centrais de ciclo combinado a gás natural, em conjunto com o acréscimo de capacidade das interligações com países da UE que nos são próximos, como a Espanha e a França.Trata-se, em nosso entender, de condições imprescindíveis para a competitividade das tarifas e, sobretudo, para uma gestão técnica viável do sistema eléctrico nacional.Mas outras condições há, que contribuem para esse desiderato, como a eficácia e a efi-ciência em termos de custo/beneficio, das re-des de transportes e dos próprios transportes.Um melhor aproveitamento dos recursos en-dógenos, bem como o aumento da eficiência no uso da energia são igualmente preocupa-ções essenciais.Mas todas estas linhas de acção revelar-se-ão insuficientes se não for concedido um espaço privilegiado para a “opção nuclear”, pelo que se considera imprescindível a realização de um debate sério sobre a energia nuclear em Por-

tugal. Com efeito, por maior que seja o esforço no domínio das energias renováveis, o seu ele-vado sobrecusto e sobretudo a sua volatilidade e intermitência levam a que não se possa dis-pensar energias que forneçam a base de dia-grama como o carvão e o gás natural. É neste contexto, nuclear como alternativo mais limpo que o carvão e mais competitivo que a clássica energia térmica de carvão ou de gás natural, que tal opção tem de ser discutida em Portugal.Em Portugal, país da União Europeia, com um dos mais baixos consumos per capita de ener-gia e de emissão de CO2, a política energética tem-se pautado por total irrealismo, tentando que Portugal assuma a liderança em energias renováveis em áreas em que não tinha know-how nem competência e capacidade industrial para liderar o processo.

9. Inovação, Propriedade Industrial, có-pias e contrafacção.A defesa da propriedade industrial marca as economias desenvolvidas. A experiencia, a ino-vação, a qualidade e a criatividade constituem, como se sabe, factores essenciais ao sucesso das economias baseadas no conhecimento.Tem-se, como princípio, que a proliferação de có-pias parasitárias e da contrafacção constitui uma seríssima ameaça ao desenvolvimento sustentá-vel das economias, colocando em risco empre-sas, postos de trabalho e, não raro, os próprios consumidores. Portugal não foge à regra.Assim, a protecção da propriedade industrial como estímulo ao investimento na investiga-ção e desenvolvimento, a necessidade de se dotar os tribunais dos meios necessários para que possam funcionar com celeridade e a criação de um tribunal especializado com competência específica no domínio dos Direi-tos de Propriedade Industrial deverão ser me-didas propostas pela CIP.Mas cabendo às autoridades judiciais, aqui, um papel primordial, é do Associativismo que tem de vir um impulso muito claro quanto às medidas que têm de ser tomadas para com-bater este flagelo e, assim, proteger as em-presas da concorrência desleal.A CIP tem de aprofundar esta problemática, auscultando os actores que mais perto se encontram do terreno, e congregar esforços, recursos e meios – técnicos, humanos e finan-ceiros – com vista a liderar, de forma coorde-nada com as suas congéneres Europeias e Internacionais, a política de combate à contra-

facção e de defesa da propriedade industrial.

10. Factores distintivos das empresas e dos produtosA inovação e a criatividade assumem, aqui, um peso preponderante.Sabendo-se, como se sabe, que a estrutura produtiva nacional, é caracterizada por micro, pequenas e médias empresas, importa que se reúnam e aproveitem eficazmente sinergias entre os interesses das empresas, do Estado e das Universidades, com vista a alcançar pa-tamares mais elevados de desenvolvimento, em termos de inovação e criatividade e, con-sequentemente, da distinção quer das empre-sas quer dos seus produtos.Para além da inovação e da investigação e desenvolvimento – e também da já referen-ciada aposta na propriedade industrial –, im-portará também impulsionar a certificação de sistemas e de produtos. Importa sublinhar que neste âmbito o papel que se reclama à CIP é o de impulsionador de melhores práticas. Pelo que, propomo-nos essencialmente assumir a obrigação de tentar sensibilizar as empresas para a importância fundamental de uma aposta estratégica na diferenciação. Sendo certo que está ultra-passado o tempo em que as nossas empre-sas poderiam competir nos mercados globais através de políticas de preços baixos, parece-nos claro que o caminho possível é o da exce-lência e diferenciação.

11. InternacionalizaçãoA internacionalização das empresas constitui, por si só, vector fundamental para a criação de riqueza do País.Só através do aumento da competitividade nos bens transaccionáveis e consequente incre-mento das exportações é possível conceber um futuro sustentável para a economia nacional, com verdadeira criação de riqueza, que permita manter e melhorar a qualidade de vida dos por-tugueses, situando-a em patamares idênticos aos dos nossos congéneres europeus.A comunidade empresarial encontra-se cons-ciente para a concretização desta tarefa. É, no entanto, fulcral torná-la num verdadeiro desígnio nacional, o que passa por sensibili-zar a sociedade civil e a comunidade política para a convergência de esforços em prol de actividades e medidas destinadas a promover a internacionalização das empresas.

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A CIP deve ser o motor impulsionador e dina-mizador desse desígnio, dando voz às ideias dos empresários, reforçando a promoção ex-terna das exportações e reclamando a melho-ria das condições necessárias à captação e manutenção do Investimento Directo Estran-geiro que, como é consabido, contribui signifi-cativamente para as exportações.Instrumentalmente, a CIP bater-se-á pelo cumprimento de uma promessa eleitoral do Partido Socialista, consubstanciada no au-mento dos incentivos não reembolsáveis às acções de promoção no exterior de 45% para 70%.Essa medida é urgente, adquirindo especial acuidade no momento difícil em que a econo-mia nacional ainda se encontra.Iremos igualmente estimular a criação de si-nergias entre as empresas de forma a que aquelas que já possuem infra-estruturas lo-gísticas no exterior possam disponibilizá-las a outras empresas nacionais, facilitando o de-senvolvimento de negócios por parte destas.Num outro contexto, exigir-se-á uma maior articulação entre a AICEP e as Embaixadas, dando um cariz verdadeiramente substantivo e eficaz à chamada diplomacia económica.Mas independentemente de quaisquer medi-das instrumentais, é essencial que seja defini-da de uma vez por todas uma estratégia con-solidada do país para a internacionalização da sua economia. Essa é uma tarefa que cabe ao poder político mas que deve ser alicerçada num consenso que conte com o contributo de todos os actores sociais relevantes como será incontornavelmente o caso da CIP.

12. obras públicas (investimentos públicos)O investimento público revela-se como um forte impulsionador da actividade económica em momentos de crise. É inquestionável.Mas é igualmente consabido que grandes in-vestimentos acarretam vultuosas dívidas que, mais cedo ou mais tarde, terão de ser pagas com juros.Tendo em conta o grau de endividamento ex-terno assumido pelo sector público e privado em Portugal, o apoio da CIP a esses investi-mentos não pode ser prestado de forma in-condicional. Seria totalmente irresponsável.A definição de critérios rigorosos e a avalia-ção do factor multiplicador destes investimen-tos na economia nacional é fundamental que exista de forma precisa e transparente.

Neste contexto, um critério essencial deve nortear a actuação da CIP: a racionalidade económica subjacente a tais investimentos.

13. logísticaApesar de se ter verificado nos últimos anos uma grande evolução na Logística em Portu-gal, ainda existe muito por fazer de forma a termos uma Logística mais competitiva e mais eficiente.Portos e transporte MarítimoÉ genericamente reconhecido que os portos Nacionais são pouco eficientes e Competiti-vos. São múltiplas as acções que urge desenvol-ver no sentido de melhorar a eficiência ope-racional e de reduzir os custos dos portos portugueses. As operações portuárias continuam pouco eficientes e transparentes, por conciliarem vários intervenientes. Há necessidade de au-mentar a transparência da facturação, mais especificamente do THC (Terminal Handling Charge) e regular os aumentos tarifários da TUP Carga/Navio nos portos.No THC estes serviços são efectuados por entidades diferentes (operadores portuários e linhas de navegação), são negociados pelos armadores e facturados pelas linhas de nave-gação. Toda esta complexidade torna o processo pouco claro, com valores diferenciados nos portos, não nos permitindo identificar o verda-deiro custo das operações portuárias, nem tão pouco relacioná-lo com a qualidade dos ser-viços prestados. Não conhecendo o detalhe da factura portuária não podemos participar/influenciar/optimizar o seu custo. A produtividade dos portos nacionais tem de aumentar consideravelmente para que o volu-me movimentado por funcionário possa atingir os níveis médios da Europa.A pouca flexibilidade de horários das opera-ções portuárias continua a ser um entrave ao desenvolvimento do transporte marítimo. Para a maior competitividade dos portos Na-cionais é fundamental uma reforma do regime jurídico do trabalho portuário, a definição de padrões de qualidade para os serviços e for-necimentos associados a taxas com ressarci-mento de prejuízos em caso dos padrões de qualidade não serem atingidos e a abertura das operações portuárias a empresas exter-nas.

Os recentes bons resultados das diversas administrações portuárias não são reflexos de eficiências operacionais mas sim da imple-mentação de políticas tarifárias que se tradu-zem numa desvantagem competitiva para os carregadores. Devem ser criados em todos os portos siste-mas tarifários diferenciadores para os “Carre-gadores Âncora Estratégicos” dos portos. A excessiva concentração/domínio da conces-são de operações portuárias num único grupo é também motivo de grande preocupação.

Transporte RodoviárioNeste tipo de transporte, existem também desa-fios importantes que se podem traduzir em bene-fícios/reduções de custos para os carregadores.Devem ser considerados Incentivos à renova-ção de frotas (mais eficientes, menos consu-mo), o transporte Internacional deve ter apoio/suporte fiscal diferenciado (fundamental para as exportações), uma política de preços de combustível adequada capaz de fazer fren-te a outros países, qualificação e formação continua dos motoristas, desenvolvimento de sistemas de informação nas frotas rodoviárias que permitam aos carregadores uma localiza-ção on-line das suas cargas.

Transporte Ferroviário Apesar dos recentes desenvolvimentos deste tipo de transporte, ainda há muito por fazer. Continua a não existir capacidade para trans-portar, de forma eficiente, grandes volumes de carga para mercados além Pirenéus. A não existência de soluções competitivas para o transporte nacional por ferrovia para os portos que potenciaria a redução de veí-culos/ano nas estradas locais, cria dificulda-des adicionais no comprometimento com as metas de redução de impacte ambiental e de redução do tráfego de veículos pesados nas estradas nacionais e europeias.

Plataformas LogísticasO plano Nacional de Plataformas Logísticas (“Portugal Logístico”) foi elaborado sem o en-volvimento/consulta aos principais carregado-res. Todo este plano deve ser revisto.

14. SaúdeNa área da Saúde os principais vectores da política que nos propomos defender são os seguintes:

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• Desburocratização das actividades adminis-trativas na área do medicamento, nomeada-mente em sede de AIM, licenciamento indus-trial e avaliação de ensaios clínicos.• Protecção da propriedade industrial como estímulo ao investimento na investigação e desenvolvimento, indispensável para a cria-ção de novos medicamentos – adquirindo aqui especial acuidade a necessidade de se dotar os tribunais dos meios necessários para que possam funcionar com celeridade e sen-do fundamental a criação de um tribunal espe-cializado com competência específica no do-mínio dos Direitos de Propriedade Industrial.Para além do exposto, defenderemos um di-ferente paradigma na definição dos critérios subjacentes ao investimento em Saúde, cha-mando a atenção para o facto de que políticas centradas unicamente na redução dos custos e na limitação do acesso à inovação produzi-rão impactos negativos a curto prazo.Assim, defenderemos que se reconheça o va-lor do medicamento enquanto tecnologia de saúde efectiva no binómio custo-benefício e que se reconheça o papel da inovação tera-pêutica na redução dos custos da doença, nos ganhos em Saúde e na produtividade.Complementarmente, proporemos a criação de um Conselho Estratégico para as Indús-trias da Saúde com o objectivo de promover uma política global que envolva a investiga-ção, a componente industrial e as questões sociais relacionadas com as Ciências da Vida.

15. Indústria alimentar e de produtos de grande consumoÉ fundamental a adopção de uma política ali-mentar integrada, focalizada na valorização da fileira, e de uma abordagem suficiente-mente flexível e conveniente para a actividade comercial.Para além de um conjunto de medidas sus-ceptíveis de aplicação também a outras áreas e sectores de actividade – corporizadas nou-tras propostas constantes deste Programa -, consideramos ser decisiva neste âmbito espe-cífico a promoção de um acesso competitivo às matérias-primas agrícolas, à energia, aos combustíveis e aos mercados face ao papel de barreira da distribuição.Neste domínio específico assume igualmente especial acuidade a necessidade de elimina-ção de barreiras administrativas e fiscais, no-meadamente as que resultam do diferencial

do IVA entre Portugal e Espanha, assim como pugnar, num quadro de alinhamento com o posicionamento espanhol, pela atribuição consistente de escalões da taxa de IVA por forma a garantir um tratamento equilibrado das várias classes de produtos alimentares, sem permitir que eventuais reduções sejam efectuadas à custa do aumento de outras ta-xas. Por outro lado, iremos exigir neste âmbito a garantia do efectivo funcionamento dos me-canismos de regulação, supervisão e transpa-rência que visam prevenir situações de abuso de dependência económica face à distribui-ção, nomeadamente no que concerne à impo-sição de prazos de pagamento desajustados no tempo, os quais colocam em risco a sus-tentabilidade da indústria agro-alimentar no curto prazo mas, sobretudo, a nova situação concorrencial em que a distribuição se cons-titui, simultaneamente, como cliente e concor-rente, utilizando essa situação para parasitar as marcas e produtos dos fornecedores. A esse propósito será também fundamental o reconhecimento da importância do Código de Boas Práticas sobre a relação comercial.

16. Pequenas e médias empresasA classe política fala hoje em dia muito nas políticas de apoio às PME’s. Mas é preciso ter consciência de que as PME’s são mais afectadas pelos graves e pesados “custos de contexto” da economia portuguesa que as grandes empresas. Assim, a melhor forma de apoiar as PME’s será a redução desses “cus-tos de contexto” e o pagamento atempado pelo Estado às PME’s suas fornecedoras.É mais que consabido que as micro, peque-nas e médias empresas são não só o motor principal da economia portuguesa – como, aliás, sucede em toda UE e nos EUA – como também os principais empregadores deste País.Todas elas, sem excepção, são destinatárias de tudo quanto para trás ficou escrito e des-crito, pese embora o facto de reconhecermos que a prática política e, não raro, associativa, ser contrastante com o que se apregoa.Assistimos, como temos vindo a dizer, a ata-ques às empresas perpetrados com a agra-vante de nem sequer se procurar perceber se as medidas implementadas – mormente as resultantes da recente reforma da legislação laboral e/ou da segurança social – são ou não

minimamente compatíveis com as dificulda-des, limitações e características das empre-sas de menor dimensão. O que é verdadeira-mente lamentável. A reduzida dimensão das PME determina uma acrescida vulnerabilidade, especialmente em relação a um mercado de trabalho pouco fle-xível, a uma complexidade legal e administra-tiva e a uma prática bancária claramente con-servadora face ao risco. O que são factores que desincentivam a actividade empresarial. Esta vulnerabilidade acarreta, normalmente, uma menor disponibilidade de fundos, com efeitos negativos na qualificação dos recursos humanos, na inovação e na internacionaliza-ção, o que determina, na generalidade, uma menor produtividade bem como uma redução da capacidade competitiva.É à CIP, e a cada um de nós nela associado, que compete identificar, casuisticamente, os traços característicos das micro, pequenas e médias empresas, com vista a fazer valer o seu peso em cada momento concreto.

17. Países de língua portuguesaOs sistemas de desenvolvimento que estão a ser implementados nos Países de Língua Por-tuguesa contemplam modelos de desenvolvi-mento macro-económicos, baseados na eco-nomia de mercado, com vista a acompanhar o movimento de abertura à iniciativa privada e livre concorrência económica que caracteriza o Mundo actual.São disso exemplos claros, as tendências re-gistadas nestes países relativas à criação de sistemas legais e administrativos favoráveis à criação e ao desenvolvimento de empresas, à remoção de obstáculos à concorrência, e ao movimento de privatização, principalmente das grandes empresas públicas.Tais países são hoje plenamente reconheci-dos como locais de eleição para investimen-tos rentáveis, merecendo, por isso, especial atenção por parte das empresas.Cabe, aqui, um papel de destaque à CIP, como agente activo e facilitador da intervenção das empresas nos mercados de Países de Língua Portuguesa, actuando junto dos governos com vista à criação de um enquadramento favorável ao desenvolvimento das empresas e concertando estratégias com vista à defesa do desenvolvimento económico em mercado aberto, com base na iniciativa privada e, sem-pre que desejável, em parcerias.

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orçaMENto dE EStado

CiP apresenta ideias, metas e propostasO Orçamento do Estado é o instrumento através do qual o Governo anuncia e executa as políticas públicas, defi-nindo as receitas e despesas do Estado, constituindo, por isso, um indicador para os agentes económicos e uma orientação para as suas estratégias

aA CIP, como representante da indústria por-tuguesa, deu a conhecer ao Governo e à As-sembleia da República, no final de Janeiro, a sua perspectiva sobre o Orçamento do Estado para 2010.No entender da CIP, o OE 2010 deve ser o ins-trumento de realização das politicas públicas que permita a recuperação e dinamização da competitividade, do crescimento económico e do emprego em Portugal.Conhecidas as dificuldades das finanças públi-cas gregas e o facto de as agências de rating terem, na área do euro, colocado Portugal no mesmo grupo da Grécia em termos de perfil de risco, serão cruciais os sinais emitidos pelo Orçamento de Estado para 2010 em termos de um plano credível de Consolidação Orça-mental a Médio Prazo. Se tal não acontecer, corremos o grave risco do efeito de contágio dos problemas das finanças públicas da Gré-cia. Esses sinais têm assim que passar pela assumpção clara de uma estratégia de controlo e redução da despesa pública.Neste contexto, a CIP apelou veementemente aos partidos políticos democráticos para que acordem, num verdadeiro Pacto de Regime, um Plano credível de Consolidação Orçamen-tal.Por outro lado, face à situação das finanças pú-blicas, o investimento público tem que ser su-jeito aos critérios de análise custos-benefícios e a uma hierarquização pelo seu mérito relativo face às escassas disponibilidades financeiras, privilegiando os de retorno mais rápido em termos financeiros e de criação de emprego / dinamização da estrutura económica nacional / regional / local.No que respeita às PME, as mais afectadas pelos custos de contexto e pelos problemas de liquidez, é essencial o início das reformas estruturais na Justiça, Administração Pública,

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orçaMENto dE EStado

Educação e Formação Profissional, bem como o pagamento a tempo e horas pelo Estado aos seus fornecedores.

audiências da CIP com os

grupos parlamentares

A CIP foi recebida pelos grupos parlamenta-res do PS, PSD, CDS, PCP e Os Verdes, aos quais apresentou as suas propostas para o Or-çamento de Estado para 2010.As propostas da CIP foram, em geral, bem acolhidas pelos grupos parlamentares que, nalguns casos, se manifestaram disponíveis para as terem em conta nas suas intervenções durante a discussão na especialidade.Questões como o Pagamento Especial por Conta, taxas de juro de mora por dívidas fis-cais, plano extra-judicial de conciliação, res-ponsabilidade por falta de entrega ao Estado do IVA não recebido, redução do prazo de re-embolso do IVA, alargamento dos prazos de pagamento do IVA, compensação entre débi-tos e créditos do Estado, em sede de IRC e IVA, pagamento de juros de mora pelo Estado aos seus credores por atraso de pagamento, redução dos prazos de pagamento do Estado às empresas estiveram em cima da mesa du-rante os encontros.A CIP entende que o OE 2010 deve ser o ins-trumento de realização das politicas públicas que permita a recuperação e dinamização da competitividade, do crescimento económico e do emprego em Portugal.

Os grandes objectivos do OE,

segundo a CIP

Segundo a CIP, a construção do OE 2010 deve estar norteada por 4 grandes objectivos:1) Sustentabilidade das contas públicas2) Dinamização do mercado de trabalho3) Reforço da competitividade 4) Melhoria do acesso ao financiamento

Propostas da CIP

• Execução de um plano credível a médio prazo de consolidação orçamental, o que passa pela execução da reforma da Administração Pública com a consequente redução de despesa pú-blica corrente primária por forma a inverter o insustentável crescimento de divida pública• Pagar as dívidas atrasadas e cumprir os pra-

zos de pagamento acordados com as Empre-sas fornecedoras do Estado • Iniciar as reformas e reduzir os custos de con-texto, designadamente na justiça, burocracia, educação e formação profissional, particular-mente importantes para as PME, por serem as mais penalizadas com esses custos• Incentivar a internacionalização e a competiti-vidade dos bens transaccionáveis• Promover o emprego, em especial dos jovens, o que passa pela flexibilização e redução das barreiras à entrada no mercado de trabalho• Reduzir a carga fiscal, em consonância com o esforço de redução da despesa pública

Medidas preconizadas

pela CIP

1. Apesar das múltiplas incertezas, o OE para 2010 deverá apresentar um cenário macroe-conómico realista, com explicitação clara dos seus pressupostos.2. É necessário haver coerência entre as medi-das orçamentais, os objectivos de médio prazo e a sustentabilidade das finanças públicas.3. As contas públicas devem ser transparen-tes e as responsabilidades financeiras actuais e futuras assumidas pelo Estado têm que ser conhecidas.4. As despesas públicas têm de ser eficientes e orientadas para o aumento do potencial de crescimento da economia e a melhoria da com-petitividade externa do país, sendo essencial desenvolver um combate eficaz ao desperdício e aos excessos notórios que agravam a despe-sa pública (a eficiência energética é uma das questões que já foi reconhecida).5. A Reforma da Administração Pública, que apresentou um progresso insatisfatório, deve ser entendida como um processo contínuo.6. O desagravamento do défice da Balança Comercial é uma grande preocupação, pelo que deve ser dada prioridade ao apoio à com-petitividade dos bens transaccionáveis para o consequente aumento das exportações e ca-pacidade de internacionalização das empre-sas.7. É imperativa a regularização dos atrasos de pagamento por parte do Estado, sobretudo atendendo aos graves problemas de tesouraria que muitas empresas enfrentam.8. Como forma de promover a competitivida-de das empresas nacionais, é necessário re-duzir a carga fiscal e parafiscal que sobre es-

tas recai, assim como tornar o sistema fiscal mais eficiente, simples, estável e previsível, adequando-o às realidades actuais em termos de enquadramento na economia internacional e tendo em conta os seus efeitos ao nível da competitividade.9. É necessário combater a evasão fiscal, nomeadamente através da simplificação da legislação fiscal e de uma melhor fiscalização do cumprimento da legislação, assegurando o respeito pelos legítimos direitos e garantias dos contribuintes.

Propostas específicas

As medidas propostas pela CIP têm como pressuposto a necessária redução da despesa corrente primária e um compromisso entre uma esperada redução da receita e uma expectável reanimação da economia, ainda que ligeira, com consequências numa maior cobrança de impostos directos e indirectos.A CIP entende que o Orçamento do Estado para 2010 responda às seguintes preocupa-ções das empresas:

Pagamentos do Estado às empresas – me-lhorar e cumprir prazos1. Regularizar todas as dívidas da Administra-ção Pública, incluindo Autarquias, e das Em-presas Públicas cujo pagamento exceda os prazos legais ou contratualmente fixados e as-segurar o cumprimento escrupuloso da legisla-ção em vigor relativa a prazos de pagamento. Os pagamentos do Estado a fornecedores devem passar a ser efectuados num prazo de 30 dias (esta medida deve ser adoptada agora e não só no final da legislatura) ou o Estado deverá pagar uma compensação de 5% do montante devido (a taxa supletiva de juros mo-ratórios relativamente a créditos de que sejam titulares empresas comerciais, singulares ou colectivas, foi fixada em 8% para o 1º trimestre de 2010).

Alterações de âmbito fiscal2. Eliminação do Pagamento Especial por Con-ta e do pagamento por conta.3. Redução do prazo do reembolso do IVA para um mês e cumprimento desse prazo.4. Alargamento dos prazos de pagamento do IVA, até ao final do segundo mês após o final do período de liquidação.5. Possibilitar a compensação entre débitos e

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orçaMENto dE EStado

créditos do Estado, em sede de IRC e IVA, a favor do sujeito passivo.6. Eliminar a obrigatoriedade de garantias ban-cárias desproporcionadas, quer no montante prescrito, quer no tempo, designadamente em casos de processos de contestação de dívidas e de pedidos de reembolso do IVA. 7. Extinção do Imposto do Selo, começando pelo Imposto do Selo que recai sobre opera-ções financeiras como a utilização de crédito e as comissões por garantias prestadas.8. Revisão ponderada do IMI, atendendo às distorções existentes.9. Favorecimento, pela via fiscal, do reinvesti-mento dos lucros, dos aumentos de capital e dos empréstimos/suprimentos às empresas.10. Possibilidade, para efeitos fiscais, da amor-tização do goodwill apurado na aquisição de empresas ou participações sociais.11. Respeitar os prazos previstos na Lei Geral Tributária para as decisões das reclamações dos contribuintes e combater a morosidade nos processos judiciais.

Reforço do apoio ao investimento privado 12. Manter as linhas de crédito bonificado PME Investe e outras medidas de apoio às empresas, adaptando-as quando necessário, para facilitar o acesso ao financiamento e à re-estruturação empresarial, enquanto a situação o justificar.13. Reforçar os incentivos à inovação empre-sarial (produtos e processos) em todas as suas dimensões.14. Estimular o investimento em novas tecnolo-gias, investigação e desenvolvimento.15. Melhorar as medidas de incentivo ao em-preendedorismo, nomeadamente através do investimento em capital de risco.16. Apoiar a reconversão e renovação de equi-pamento industrial e de transporte para au-mento da eficiência energética.17. Fomentar as novas tecnologias “verdes” e novos processos de produção susceptíveis de reduzir encargos financeiros para as empresas e de gerar ganhos ambientais.18. As contrapartidas nacionais no âmbito do QREN deverão estar previstas no Orçamento de modo a possibilitar um pagamento célere aos beneficiários.

Fomento da Internacionalização19. Reforçar a promoção externa das exporta-ções de modo a estimular o seu crescimento e

cumprir a promessa de aumentar os incentivos não reembolsáveis às acções de promoção no exterior de 45% para 70%.20. Clarificar como é que se prevê reforçar o sistema de benefícios fiscais ao investimento na internacionalização.21. Melhorar o funcionamento dos seguros de crédito para as empresas exportadoras. Além da necessidade de uma melhor operacionali-zação, deve ser aumentado o plafond da linha OCDE II. 22. Disponibilização de soluções de crédito es-pecificamente destinadas aos adiantamentos das receitas de exportação pela via da conta corrente ou outros produtos de crédito.

Ser criterioso nas decisões de Investimento Público23. Avaliar, em relação às decisões de inves-timento, os efeitos a curto prazo sobre o em-prego, o PIB e a balança corrente e ponderar os efeitos a médio e longo prazo sobre o cres-cimento económico e sobre a competitividade.24. Definir e divulgar os critérios de decisão sobre grandes investimentos públicos. 25. Acautelar e divulgar a forma como vão ser financiados os grandes projectos de investi-mento público, dado que absorverão grande parte dos recursos disponíveis – com as ine-vitáveis consequências para o financiamento das empresas – e poderão aumentar signifi-cativamente o já elevado endividamento ex-terno.26. Dar prioridade a investimentos públicos inteligentes, privilegiando:- o investimento de proximidade, ou seja, obras públicas dispersas pelo país e investi-mentos com racionalidade económica- a reabilitação urbana, área em que tem sen-tido criar um plano de recuperação do centro das cidades e de edifícios- a recuperação de escolas- a construção de últimos troços de estradas de ligação- a requalificação de estradas nacionais e mu-nicipais e a manutenção de infra-estruturas públicas, em geral- as novas linhas de ferroviárias mistas para passageiros e mercadorias, com ligação aos nossos portos, com bitola europeia são a única forma de, por via ferroviária, reduzir os custos de transacção das nossas exportações para a Europa.27. Considera-se igualmente importante:

- acelerar a execução do plano de construção de barragens e reforço das existentes.- concretizar os investimentos necessários relacionados com os portos e as plataformas logísticas, na medida em que contribuam para facilitar as exportações.- criar mecanismos para assegurar que uma percentagem relevante das compras públicas realizadas pela Administração Central, Autar-quias e Empresas Públicas sejam adjudica-das a PME.

Apoio à criação de emprego e apoio no de-semprego28. Atribuição de subsídio de desemprego a empresários e gestores, de acordo com as contribuições efectivamente prestadas.29. Possibilitar que os trabalhadores com mais de 40 anos de descontos se possam re-formar sem penalização.

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CiP: rElatório E CoNtaS 2009

Crise afectou gravemente a economia e as empresas

OO ano de 2009 foi marcado pela desfavorável evolução da situação económica e financeira global, que afectou gravemente a economia e as empresas portuguesas.Na reunião do Conselho Nacional da CIP, re-alizado em 17 de Fevereiro, as Associações empresariais aprofundaram o conhecimento sobre as consequências previsíveis da crise e apresentaram propostas visando atenuar no mais curto prazo os seus efeitos e preparar o futuro. Foram cerca de 60 as propostas apre-sentadas pela CIP numa Conferência de Imprensa no dia 7 de Maio que teve larga cobertura mediática. Tratava-se de pro-postas divididas em 6 grandes capítulos: dinamização empresarial (apoio ao investi-mento, aumento da liquidez das empresas e da reestruturação empresarial), entraves ao investimento (melhorar o funcionamento da justiça, diminuir a burocracia e os custos das empresas), questões laborais (manter o emprego e promover a formação profis-sional), internacionalização, investimentos públicos e, por último, monitorização da efi-cácia das medidas.Estas propostas influenciaram a intervenção ao longo do ano, incluindo durante o largo período eleitoral que se estendeu por gran-de parte do ano, com as eleições europeias de Junho, legislativas de Setembro e autár-quicas de Outubro. A CIP assinalou sempre, de forma continuada e persistente, que o ca-minho a seguir não pode sofrer hesitações: importa assegurar a criação de riqueza e a sustentabilidade da economia portuguesa, sendo por isso urgente tomar em cada mo-mento as medidas estratégicas necessárias para salvaguardar o presente e permitir a recuperação da economia.

“A situação da economia portuguesa é grave e não se vislumbra qualquer recuperação da actividade económica no curto prazo: é já unânime que a contracção do PIB será significativa em 2009, e começa a ser unânime (pre-visões da Comissão Europeia e do FMI) que, em 2010, o PIB deverá voltar a contrair-se” – afirmava a CIP em Feve-reiro de 2009 no documento “Vencer a Crise e Preparar o Futuro”, elaborado tendo em conta as recomendações do Conselho Nacional da Confederação que se reuniu em Lisboa

Já no final do ano, a CIP apresentou publica-mente as suas propostas para o programa do Governo que resultou das eleições de 27 de Setembro, tendo na altura exprimido a neces-sidade de existir coerência entre as medidas orçamentais, os objectivos de mais longo pra-zo e a sustentabilidade das finanças públicas e chamado a atenção para que as despesas públicas devem ser orientadas para o aumen-to do potencial de crescimento da economia e a melhoria da competitividade externa do país.Na primeira metade do ano, prosseguiram as conversações com a AIP e a AEP para a constituição de uma nova representação do associativismo empresarial, às quais a Di-

recção da CIP decidiu não dar sequência.No último ano do seu mandato, a Direcção entende que os principais desígnios em que se envolveu foram alcançados, designada-mente em domínios em que teve intervenção relevante, como a internacionalização, os pro-gramas de incentivo à economia, a energia, o ambiente, a concorrência, a logística, os portos, a par da simplificação administrativa e dos assuntos jurídico-laborais. O relatório da Direcção referente a 2009 deta-lha todas as acções empreendidas e os resul-tados conseguidos, cabendo aos Associados fazer a sua avaliação.Para conhecer o Relatório e as Contas de 2009, visite www.cip.org.pt

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aSSoCiativiSMo E SoCiEdadE Civil

Na PoSSE doS NovoS CorPoS SoCiaiS Na aSSoCiação CoMErCial do Porto

dDepois de denunciar que a falta de cultura as-sociativa e a ausência de verdadeiros hábitos de liberdade fez com que o Estado se habitu-asse a decidir em matérias que deveriam ser da competência das pessoas, das empresas e das associações, António Saraiva disse que essa tendência asfixiante do Estado mais se enfatiza quando o seu próprio subconsciente interioriza que as empresas e as suas organi-zações associativas se encontram inutilmente dispersas e esterilmente divididas. O resultado é bem conhecido – concluiu, acrescentando que as instituições do Estado lidam por vezes com as organizações associativas como se as mesmas fossem entidades menores e acabam muitas vezes por manobrá-las a seu bel-prazer. O Presidente da CIP defendeu que as organi-zações associativas empresariais têm não só de ser verdadeiramente livres como também de procurar disseminar nos seus representa-dos uma cultura de liberdade.“Esse caminho somente poderá ser trilhado se for defendido que o Estado serve apenas para regular e fiscalizar a economia e não para a subsidiar. Que as empresas e as suas associações devem contar em primeira linha consigo mesmas. Que devem libertar-se da tentação de correr para a manjedoura do Es-tado. E que têm o direito de exigir em contra-partida que o Estado assuma todas as suas responsabilidades e obrigações aos mais va-riados níveis. Ou seja: que crie leis reflectidas e exequíveis; que faça a Justiça funcionar; que pague pontualmente o que deve às em-presas; que proteja a inovação e a proprie-dade industrial; que reduza a burocracia; que acabe com os custos de contexto; que crie sistemas fiscais competitivos com os países concorrentes; e que, numa palavra, contribua com a sua quota-parte no esforço que a todos é exigido no sentido de se aumentar a produ-tividade em Portugal” – disse, acrescentando que, além de defensoras de causas e de va-

O Presidente da CIP foi o convidado de honra da cerimónia de posse dos novos Corpos Sociais da Associação Comercial do Porto, que teve lugar no dia 21 de Abril no Palácio da Bolsa. No seu discurso, que publicamos neste artigo, António Saraiva falou do associativismo, das causas que o movem e do papel que cabe às organizações da sociedade civil

lores, entende que as organizações empresa-riais têm de ser fortes e coesas.

discurso de antónio saraiva

Ligada ao Porto e ao Norte, a Associação Co-mercial do Porto sempre manteve a sua mar-ca identitária original, agregando as vontades e as expectativas dos empresários e homens

de negócios do Norte – disse António Saraiva no início do seu discurso, acrescentando: é uma matriz expressiva e marcante, que tem de comum associar as motivações de pes-soas que são, simultaneamente, homens de negócios e têm as suas raízes e os seus inte-resses implantados no Porto.

o associativismo

Unir o que há de comum, partilhar o que nos liga, valorizar o que podemos fazer em con-junto, assumir que a soma das partes cria poder e aumenta a influência de cada um de per si - esta é a primeira razão de ser do as-sociativismo. Pouco importa se o que nos liga são os negó-cios, as profissões ou as regiões. O que importa é que se saiba o que nos move e a causa comum que temos a defender. Mas importa também saber porque nos uni-mos, porque escolhemos as causas, porque escolhemos quem as lidera.O tema sobre o qual queria propor-vos uma reflexão é precisamente o do associativismo

antónio Saraiva fala de associativismo e Sociedade Civil

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aSSoCiativiSMo E SoCiEdadE Civil

e, de entre este, o associativismo empresarial.Mas por que razão uns de nós assumem as lideranças e recebem a confiança dos seus pares? E por que razão outros de nós entendem que devem confiar nos líderes para conduzirem e representarem os seus interesses? E, finalmente, por que razão aqueles que re-presentam interesses diferentes dos nossos entendem que devem ouvir as nossas posi-ções e tê-las em conta?As explicações não são meramente filosóficas ou mesmo sociológicas. Assentam no princí-pio de que o homem é um ser social e resul-tam da própria organização das sociedades.Aristóteles dizia que “o homem é por natureza um animal social, porque, se não fizesse parte de cidade alguma, seria desprezível ou esta-ria acima da humanidade. Agora é evidente que o homem, muito mais que a abelha ou ou-tro animal gregário, é um animal social. Como costumamos dizer, a natureza não faz nada sem um propósito”.

o papel das organizações associativas empresariais

É este sentido social que nos move e nos or-ganiza em torno das Associações.Na generalidade dos países da Europa Oci-dental e em diversos outros países das mais variadas regiões do globo, as organizações associativas empresariais assumem um papel incontornável na definição da estratégia do respectivo país.Tudo o que se relaciona com a actividade económica do país, passa necessariamente pelo crivo das organizações que represen-

tam as empresas. E sempre que se discutam matérias estruturantes e verdadeiramente estratégicas, são os próprios Governos que procuram legitimar as decisões finais envol-vendo de forma substantiva as organizações de cúpula. É isto que se passa na Alemanha, na França, na Itália ou na própria Espanha.Infelizmente, o paradigma português é neste âmbito muito diferente. E permito-me sugerir que as razões de tal di-ferença estão muito bem identificadas. Para além de outras provavelmente menos importantes, há essencialmente três causas a que gostaria de fazer referência: individualis-mo, divisionismo e paternalismo.Quanto à primeira – o individualismo - é óbvio que os empresários portugueses reflectem as mesmas características que são apanágio da generalidade dos seus compatriotas. Além de terem dificuldade em cooperar uns com os ou-tros, padecem genericamente de falta de cul-tura associativa. Infelizmente, é esse o nosso código genético. Mas o certo é que, em resul-tado disso, o nosso tecido associativo acaba por ser mais fraco do que o desejável. Como se não bastasse esta nossa debilidade intrínseca, acresce ainda um outro factor que perturba claramente a força e a coesão do nosso movimento associativo: o divisionismo.Com efeito, temos uma tendência irreprimível para dispersar os nossos esforços na criação de organizações paralelas. Isto é desde logo assim ao nível das próprias Associações, onde não só se insiste em manter mais do que uma Associação em cada sector de actividade como também se persiste em fomentar sobre-posição de esforços e iniciativas, nomeada-mente em consequência de não haver uma

fronteira nítida e clarificadora entre as compe-tências das associações sectoriais e as das associações regionais. Mas mais grave ainda é, pelas suas próprias consequências, o que se passa ao nível trans-versal.O nosso país será provavelmente o único que, por razões que agora não importa dissecar, tem, a par das verdadeiras confederações, outras grandes associações multi-sectoriais com implantação nacional.Assim, em inúmeras matérias, acabamos to-dos por ficar confundidos com vozes dissonan-tes e divergentes, com as confederações e as associações multi-sectoriais a intervirem sepa-radamente a propósito do mesmo assunto.Essa imagem de divisão no movimento as-sociativo enfraquece-o ainda mais. E torna mais débil a representação dos interesses da indústria, do comércio, da agricultura ou do turismo.A par das duas causas já expostas – o indi-vidualismo e o divisionismo - ocorre ainda a questão do paternalismo. Também esta é uma questão verdadeiramen-te endémica no nosso país. O Estado português, no seu todo, é estrutural-mente paternalista. E os cidadãos portugueses, por seu turno, são habitualmente dominados pela tentação de se deixarem embalar pelo pulso forte do Estado que alegadamente tudo sabe e resolve.

A cultura associativa

Mas, neste nosso contexto, a situação é ainda mais grave. A falta de cultura associativa e a ausência de verdadeiros hábitos de liberdade fez com que o Estado se habituasse a decidir em matérias que deveriam ser da competên-cia das pessoas, das empresas e das asso-ciações. Essa tendência asfixiante do Estado mais se enfatiza quando o seu próprio sub-consciente interioriza que as empresas e as suas organizações associativas se encontram inutilmente dispersas e esterilmente divididas. O resultado é bem conhecido. As instituições do Estado lidam por vezes com as organiza-ções associativas como se as mesmas fos-sem entidades menores. E acabam muitas vezes por manobrá-las a seu bel-prazer. Infelizmente é verdade. O Estado divide para reinar. E tem um êxito assinalável na prosse-cução dessa estratégia.

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Donde decorre que aos olhos de todos – do Estado mas também da própria sociedade civil – emirja uma imagem de ainda maior fra-gilidade por parte do movimento associativo patronal e fundamentalmente das suas orga-nizações de cúpula. O que infelizmente acaba por legitimar a cultura paternalista do Estado, pelo menos aos olhos de todos aqueles que não assumiram ainda verdadeiramente a im-portância de todas as dimensões de uma so-ciedade livre e democrática.Esta espiral é verdadeiramente castradora da iniciativa privada. E tenho-me perguntado em diversas ocasiões qual a forma de a fazer in-verter.

os sinais dos tempos

Não tenho a pretensão de guardar receitas infalíveis para o que quer que seja. Humil-demente, porém, não posso deixar de ter a absoluta consciência de que os empresários em geral e os dirigentes associativos em par-ticular não têm feito o que está ao seu alcance para alterar este estado de coisas.E nesse contexto, não têm sabido sequer aproveitar os próprios sinais dos tempos.Com efeito, apesar das debilidades a que fiz referência relativamente ao movimento asso-ciativo patronal português, paradoxalmente, os tempos actuais propiciam um reforço da importância das associações de emprega-dores e das organizações empresariais em geral.É isso que sucede já na maioria dos países

desenvolvidos e é isso que entendo que terá de acontecer em Portugal.E passo a explicar porquê.Ao longo do século XX, a vida pública nas democracias estáveis esteve sempre essen-cialmente assente nas dinâmicas dos partidos políticos.Aliás, foi isso que sucedeu em Portugal a par-tir da revolução de 1974. As transformações sociais e os partidos políticos

Mal ou bem, os partidos políticos lideraram as transformações sociais, promoveram as re-formas estruturais, fixaram as doutrinas eco-nómicas e procuraram ser sempre os depo-sitários das expectativas dos diversos grupos sociais.Tendo em conta a sua legitimidade democráti-ca – que é naturalmente inequívoca e inques-tionável –, mas também o enorme leque de responsabilidades e competências que lhes passaram a estar associadas, os partidos po-líticos concentraram um poder excessivo.Como verdadeiros eucaliptos, tenderam a se-car todas as formas de poder que tentaram gravitar fora do seu espectro.Limitaram-se a tolerar a existência de orga-nizações que pudessem controlar ou instru-mentalizar. E nunca resistiram à tentação de procurar abafar o exercício livre de formas alternativas de poder.É sabido porém que este retrato está a mudar nas mais diversas vertentes.

Nos últimos anos, os partidos políticos pas-saram a ser muito mais escrutinados pela opinião pública. Deixaram manietar-se por querelas internas. Deixaram de ser motores da sociedade. Perderam dinâmica. Perderam capacidade de inovação. Abdicaram das cau-sas e da ideologia em nome do pragmatismo. Preferiram as tácticas à estratégia. E passa-ram a exercer o poder pelo poder.Em consequência, perderam genuinidade. Perderam credibilidade. Perderam prestígio. Perderam o respeito da maioria dos cidadãos. E estão a perder o poder.

os espaços vazios

É sabido que o poder tem horror ao vazio. Pelo que a questão que se coloca em termos estratégicos é a de se saber quem poderá, em nome e em prol dos cidadãos e das em-presas, ocupar na sociedade o espaço que os partidos estão a deixar livre.Na minha perspectiva, as associações de empresas e empresários têm um papel fun-damental a desempenhar neste processo de partilha do poder. Mas para tal efeito, terão de repensar a sua estratégia e a sua própria actuação, até por-que seria verdadeiramente absurdo que, nes-te momento histórico, replicassem os erros de outros.Assim, em primeiro lugar, entendo que as or-ganizações empresariais terão de assumir-se como associações de causas.

A defesa de causas

Quando fui eleito Presidente da CIP, no início do ano, propus aos meus pares um programa baseado na defesa de 4 causas: o primado da economia de mercado, a aposta na indústria transformadora e nos bens transaccionáveis, a defesa das empresas e, por fim, a dignifica-ção dos empreendedores e empresários.São causas que obviamente nos motivam, que nos envolvem, nas quais nos reconhece-mos e pelas quais vamos combater. Poderia mesmo dizer que são causas de tal modo evi-dentes que nem seria necessário enunciá-las, porque resultam e decorrem da nossa própria natureza.Mas não foi esse o meu entendimento. Defendi que deveríamos tornar claro o nosso pensamento e organizar a partir dessa identi-

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aSSoCiativiSMo E SoCiEdadE Civil

ficação de valores as acções concretas e as iniciativas específicas a levar a cabo para con-cretizar esse programa.Defendi também que a CIP deve, ao mesmo tempo, anteCIPar e partiCIPar.Porque queremos ser uma CIP que anteCIPa, promovendo a reflexão e a discussão de temas e que partiCIPa nas soluções necessárias. Estas são causas agregadoras, que geram espírito de corpo e nos motivam e envolvem.E quando digo que são causas que nos moti-vam e nos envolvem quero dizer que se trata de causas que já existiam antes de nós e que nos cabe agora assumir e valorizar.Só se tivermos causas fortes e bandeiras bem identificadas teremos capacidade para não cair na tentação de exercer o poder pelo poder.Em segundo lugar, em coerência com os seus elementos estruturantes, defendo que as or-ganizações associativas empresariais têm não só de ser verdadeiramente livres como também de procurar disseminar nos seus re-presentados uma cultura de liberdade.Esse caminho somente poderá ser trilhado se for defendido que o Estado serve apenas para regular e fiscalizar a economia e não para a subsidiar. Que as empresas e as suas associa-

ções devem contar em primeira linha consigo mesmas. Que devem libertar-se da tentação de correr para a manjedoura do Estado. E que têm o direito de exigir em contrapartida que o Estado assuma todas as suas responsabilida-des e obrigações aos mais variados níveis. Ou seja: que crie leis reflectidas e exequíveis; que faça a Justiça funcionar; que pague pontual-mente o que deve às empresas; que proteja a inovação e a propriedade industrial; que redu-za a burocracia; que acabe com os custos de contexto; que crie sistemas fiscais competitivos com os países concorrentes; e que, numa pa-lavra, contribua com a sua quota-parte no es-forço que a todos é exigido no sentido de se aumentar a produtividade em Portugal.Em terceiro lugar, para além de defensoras de causas e de serem livres, entendo que as organizações empresariais têm de ser fortes e coesas.Para tanto, todos teremos de estar norteados pelos mesmos objectivos, em torno de elos agregadores.Deveremos dispensar as pequenas guerras paroquiais, naturalmente estéreis e divisionis-tas, que tanto nos têm consumido.Precisamos sim de unidade e coesão, pois só

assim seremos respeitados e só assim tere-mos condições para exigir com transparên-cia que sejam salvaguardados os direitos de quem representamos.Finalmente, é fundamental que as organiza-ções empresariais saibam mobilizar perma-nentemente aqueles que representam. Para tanto, as palavras-chave terão de ser a inovação e a proximidade, de forma a que possamos ser ágeis e dinâmicos no sentido de procurar antecipar as soluções que se co-locam às empresas em particular e à socieda-de em geral.Sem pretensões, aqui fica o meu contributo para um debate de ideias que reputo como fun-damental e que gostaria de ver aprofundado de uma forma verdadeiramente sistemática.Sinceramente, estou convicto da bondade destas sugestões. Pelo que espero que nos ajudem a reflectir em conjunto na definição do papel que deve caber às organizações empre-sariais na sociedade portuguesa.E que contribua para que as organizações empresariais possam cumprir melhor as suas responsabilidades em prol da riqueza do país, da competitividade das empresas e do bem-estar dos cidadãos.

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EEnunciando os principais constrangimen-tos, António Saraiva referiu os atrasos nos pagamentos do Estado às empresas suas fornecedoras, comportamentos arbitrários de diversas autoridades inspectivas, muitas vezes determinados por uma evidente ig-norância do que é a realidade empresarial, excessiva carga burocrática, problemas no funcionamento do sistema judicial, concluin-do que os sistemas fiscal e parafiscal não promovem a competitividade das empresas nacionais.A indústria transformadora ocupa um espa-ço fundamental e mesmo vital na economia portuguesa. Para além do seu peso espe-cífico na criação e manutenção dos postos de trabalho, indispensáveis ao equilíbrio da economia e da própria sociedade, a indústria nacional é verdadeiramente incontornável para o desenvolvimento do país – disse o Presidente da CIP, destacando que a Confe-deração tem dialogado com o poder político para que sejam criadas as condições neces-sárias à redução dos constrangimentos com que a actividade industrial se confronta. Entre esses constrangimentos, indicou os atrasos nos pagamentos do Estado às em-presas suas fornecedoras, comportamentos arbitrários de diversas autoridades inspec-tivas, muitas vezes determinados por uma evidente ignorância do que é a realidade empresarial, excessiva carga burocrática, problemas no funcionamento do sistema ju-dicial.Referiu ainda que os sistemas fiscal e para-fiscal não promovem a competitividade das empresas nacionais.Quanto ao sistema judicial, disse que o seu desempenho nas diversas vertentes tem

A CIP tem dialogado com o poder político para que sejam criadas as condições necessárias à redução dos constrangimentos com que a actividade industrial se confronta – afirmou o Presidente da CIP na Jornada Luso-Hispana de la Industria Química realizada pela Federación Empresarial de la Indústria Química Española e pela APEQ – Associação Portuguesa das Indústrias Químicas no dia 10 de Março, em Madrid

iNdúStria QUiMiCa

CiP participa no encontro entre as associações ibéricas da indústria Química

uma avaliação bastante negativa por parte dos empresários portugueses. Desse mau desempenho resultam consequências gra-ves para o funcionamento das empresas e da economia portuguesa. A eficiência das instituições dum país e muito especialmente do seu sistema judicial, é condição impres-cindível para o funcionamento eficiente duma economia de mercado. Há muito que tal se impõe, mas, actualmente, urge com foros de absoluta emergência. Entendemos ser ne-cessário a obtenção de um pacto duradouro entre os partidos políticos, corresponsabili-zante para além dos limites da actual legisla-tura, desde que o mesmo incorpore medidas pragmáticas para a obtenção da credibilida-de que urge recuperar e da operacionalidade e eficácia que é igualmente urgente adquirir. A morosidade, os custos, a tramitação e os resultados das execuções, o funcionamento dos tribunais de comércio, o acesso à Justi-ça ou os critérios de distribuição processual, constituem exemplos de domínios que mere-cem especial atenção.

Formação e fiscalidade

Quanto à legislação portuguesa, disse que tem sido, e justamente, apontada, a par de outros constrangimentos, como um elemento desmobilizador aquando da tomada de deci-sões de investimento. A sua rigidez faz com que Portugal seja o país da OCDE com maior índice de protecção de trabalho, o que só contribui para o aumento do peso dos contra-tos a termo certo. Os ajustamentos indispen-sáveis à racionalização de recursos humanos encontram se, em muitas situações, verda-deiramente impossibilitados. Depois de tanto

esforço financeiro investido em dezenas de milhares de licenciados e de qualificados que procuram inserção no mercado de emprego para postos de trabalho que os motivariam e a que, empenhadamente, se dedicariam, como justificar, no quadro actual, que esses postos de trabalho continuem preenchidos por indivíduos menos bem preparados e des-motivados? O perdurar deste desfasamento constitui um verdadeiro contra-senso face ao estado da economia nacional.Sobre a formação profissional e ensino, o Presidente da CIP afirmou que, em geral, o sistema português não tem conseguido pro-duzir a quantidade suficiente de recursos hu-manos qualificados de que Portugal precisa para competir em segmentos de maior valor acrescentado na economia global do século XXI. A formação profissional, assim como o ensino, devem ser objecto de forte aposta e incentivo, mormente quando se atenta nas especificidades do contexto sócio-económico português, caracterizado por um baixo nível de qualificações escolares e profissionais, associado a fenómenos de abandono preco-ce e insucesso escolar, fraca atractividade e desadequação dos programas formativos às necessidades do mercado, reduzidas taxas de participação na formação permanente por parte da população activa, etc... No que diz respeito ao ensino, especialmente o supe-rior, verifica-se que o mesmo não se mostra concebido como veículo privilegiado e indis-pensável para potenciar a empregabilidade, a produtividade e, deste modo, a competiti-vidade da economia. Por isso sente-se uma dinâmica preocupante de desemprego nos jovens licenciados, fruto dessa desadequa-ção às necessidades activas das empresas.

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Centrando-se nas questões da fiscalidade e parafiscalidade, António Saraiva disse que vivemos numa União Económica e Monetária onde há liberdade de circulação de pessoas, bens, serviços e capitais entre os Estados Membros, o que leva a uma crescente con-corrência fiscal entre eles. Assim, à tradicio-nal preocupação de equidade dos sistemas fiscais, junta-se a nova preocupação da sua competitividade no contexto internacional. A redução da carga fiscal e parafiscal que re-cai sobre as empresas mostrou-se, em con-textos históricos bem definidos, como uma medida ambiciosa e corajosa por parte do poder político, tendo antecedido períodos de prosperidade económica. Agora, mais do que nunca, revela-se incontornável a sua neces-sidade. As empresas, mormente as empre-sas industriais, sufocam perante a pressão exercida pela carga fiscal e parafiscal bem como pela acção das entidades públicas que administram essas matérias. Isto para não falar já da instabilidade e falta de clareza que têm caracterizado o quadro legal vigente neste domínio.

Energia e ambiente

Acerca das questões do Ambiente, disse que temos de continuar a contribuir para que, em relação à legislação comunitária nesta área, sejam ponderadas as alternativas possíveis e as mesmas constituam objecto de avaliação do seu impacto nas empresas, de forma a não criar encargos financeiros e burocráticos excessivos. Também, a transposição para a legislação nacional não deve ir para além do previsto nos normativos comunitários. Por último, abordando as questões energé-ticas, destacou a sua extrema importância, porquanto condicionam a capacidade com-petitiva das empresas portuguesas de for-ma considerável. As tarifas de electricidade aplicáveis ao sector industrial são elevadas, superiores quer às da média comunitária quer, ainda, às que são praticadas, aqui, em Espanha. Os combustíveis são outro proble-ma: sendo caros em Portugal, os portugue-ses apreciam bastante abastecer os seus veículos automóveis em Espanha. Que con-sequências advêm desta acção? Os portu-gueses pagam os impostos inerentes a estes bens em Espanha, com a consequente perda de receita do Estado português.

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EEm Portugal, nos processos de abastecimento de matérias-primas e de escoamento dos produtos fi-nais, é assim frequente recorrer-se aos transportes rodoviário e ferroviário, o que implica custos logísti-cos mais elevados e riscos ambientais acrescidos. As principais unidades industriais localizam-se nas regi-ões de Matosinhos/Estarreja e de Sines e se tivermos em consideração de que o nível de integração destas actividades constitui um factor chave para a sua viabi-lidade, percebemos facilmente a importância que tem a inexistência das referidas infra-estruturas. Em Portugal, a actividade destas indústrias e o seu desenvolvimento têm sido assim bastante afectados por custos excessivos de natureza logística, tendo a sua posição no mercado e a sua competitividade sido preservadas por aumentos de eficiência noutras áre-as e à custa de um permanente desenvolvimento tec-nológico. Contudo, este caminho terá sempre o seu futuro limitado pela ineficiência logística já referida e pelos custos que lhe estão associados, sendo urgen-te a correcção desta situação de forma a assegurar a capacidade exportadora das indústrias e aumentar a atractividade do investimento nestes sectores. Não é efectivamente possível promover o investimento no nosso País, seja no âmbito das actuais indústrias ou em novas indústrias a instalar, através de investidores nacionais ou estrangeiros, sem que existam no nosso território as infra-estruturas necessárias. Este aspecto assume especial importância no caso particular das indústrias da Petroquímica, Química e Refinação, já que estas, não dispõem, em muitos casos, de con-dições adequadas ao transporte dos seus produtos.

Actualmente, as indústrias da Petroquímica em Portugal apresentam um grau de integração muito insuficiente quando comparadas com as suas congéneres europeias, nomeadamente no que respeita à ausência de infra-estruturas adequadas ao seu desenvolvimento e que promovam essa integração. Um exemplo que caracteriza bem esta situação é a quase inexistência de ligações por pipelines entre estas indústrias, aspecto a que os outros países europeus têm dado, desde há décadas, uma atenção especial, investindo fortemente na sua instalação

iNdúStria QUiMiCa

aS iNdúStriaS da PEtroQUíMiCa, QUíMiCa E rEFiNação

Principais obstáculos ao seu desenvolvimentoem Portugal

amaro nunesSecretário-geral da aiPQr - associação das

indústrias da Petroquímica, Química e refinação

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atrair investimento

Portugal, para desenvolver a sua economia, neces-sita de reexaminar as condições de base que o seu território oferece aos possíveis investidores indepen-dentemente do conjunto de incentivos que lhes possa oferecer. Só assim o nosso País poderá atrair de for-ma efectiva o investimento que lhe é essencial para retomar de forma sustentada, o caminho do cresci-mento económico.A AIPQR - Associação das Indústrias da Petroquími-ca, Química e Refinação iniciou a sua actividade em 2009 e conta entre os seus Associados com algumas das principais empresas que desenvolvem actividade nestes sectores. Em Junho de 2009 viu aprovada pela Autoridade Competente do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN), a sua candidatura ao reconhecimento oficial de Pólo de Competitividade e Tecnologia.O seu Plano de Acção inclui um conjunto importante

de Projectos, entre os quais figura de forma relevante a “Captação de Investimento” para o Pólo. Para poder atingir este objectivo e entre outras acções, a AIPQR promoverá a análise detalhada das necessidades infra-estruturais do Pólo de forma a ser possível apre-sentar às entidades governamentais, um conjunto de medidas de base que permitam assegurar a competi-tividade das indústrias e a atractividade dos investi-mentos que se ambicionam para estes sectores.

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tElECoMUNiCaçõES

OOs objectivos fundamentais da UIT são, em ter-mos gerais: a promoção das relações pacíficas e da cooperação internacional entre os povos, bem como o seu desenvolvimento económico e social, através do aperfeiçoamento e do empre-go racional das telecomunicações de todas as espécies; mais especificamente, a regulamen-tação das telecomunicações a nível mundial; a gestão do espectro e da órbita geoestacionária;

dia Mundial das telecomunicações e da Sociedade da informação

A 17 de Maio de 1865, na Conferência de Paris, foi criada a União Telegráfica Internacional e assinada a primeira Convenção do Telégrafo, que foi subscrita por vinte Países entre os quais Portugal. Em 1932, foi adoptada a sua nova, e actual, designação – União Internacional das Telecomunicações (UIT) -, constituindo-se, em 1947, como agência especializada das Nações Unidas

Margarida sá CostaFundação Portuguesa das Comunicações (Secretária geral)

o estabelecimento de normas de exploração de equipamentos e sistemas; a coordenação dos dados necessários à planificação e à explora-ção de serviços de telecomunicações; e, no seio do sistema das Nações Unidas, o desenvolvi-mento das telecomunicações e das infra-estru-turas conexas.Em 1973, o dia 17 de Maio foi escolhido para comemorar o Dia Internacional das Telecomu-

nicações, posteriormente designado como Dia Mundial das Telecomunicações e, mais recen-temente, em 2006, como Dia Mundial das Tele-comunicações e da Sociedade da Informação.A razão de ser desta efeméride prende-se com o papel fundamental que o sector das telecomu-nicações tem tido no desenvolvimento sustenta-do das comunidades, ao ditar novos estilos de vida e de comportamentos, influenciando todas

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as áreas, tanto nas zonas urbanas como nas mais rurais, ligando as pessoas, trazendo para perto o que estava distante, revolucionando toda a vida em sociedade.O poder da inovação potenciou o rápido cres-cimento deste sector e permitiu a democratiza-ção da informação, do conhecimento, passando ainda pela acessibilidade do entretenimento, sempre à escala mundial. Hoje em dia é difícil imaginar a nossa vida sem telecomunicações, continuando imparável a sua intervenção na sociedade, entrando em áreas como a saúde, ambiente, e até na forma de guerrear.Começamos a transmitir voz, passamos a ima-gem, dados, e já sonhamos com a matéria, quem sabe um dia realizamos o sonho do te-letransporte!Em Portugal, as primeiras experiências de tele-fone iniciaram-se em 24 de Novembro de 1877, ligando Carcavelos à Central do Cabo em Lis-boa. A primeira rede telefónica pública foi inau-gurada em Lisboa a 26 de Abril de 1882 pela, então, concessionária Edison Gower Bell Tele-phone Company of Europe Ltd. A concessão foi transferida para a The Anglo Portuguese Tele-phone Company (APT) em 1887, que a man-teve até 1968, passando depois para os Telefo-nes de Lisboa e Porto, uma das empresas que vieram a dar origem à actual Portugal Telecom. No início da I República, começou a avançar-se para as zonas mais rurais e centros urbanos de menor dimensão com a inclusão na orgânica governamental do serviço postal e de telegrafia de uma área de telefonia fixa. Paralelamente, iniciaram-se as ligações europeias e interconti-nentais, abrindo-se as portas do mundo global que se vislumbrava mas que nunca se imaginou tal como todos o conhecemos hoje. Entretanto, em 1925 foi criada a Companhia Portuguesa Rádio Marconi – CPRM, tendo os CTT – Correios e Telecomunicações de Por-tugal passado a empresa pública em 1969. A fusão da Telecom Portugal, que resultou da ci-são das actividades dos CTT operada em 1992, com os Telefones de Lisboa e Porto veio a dar origem, em 1994, à Portugal Telecom, na qual foi integrada, em 1995, a CPRM (detendo esta 100% do seu capital) e incorporada por fusão em 2002. Com a liberalização do sector e o aparecimen-to de novos serviços, como por exemplo a te-lefonia móvel, o paging, o acesso à internet, muitas outras empresas surgiram no mercado, tais como a Telecel, hoje Vodafone Portugal,

a Optimus, a Novis, a Zon, a Cabovisão, a AR Telecom entre outras. Além disso, foi criado o regulador sectorial, o ICP - Autoridade Nacional de Comunicações (ICP-ANACOM), que iniciou a sua actividade em 1989, promovendo a con-corrência e o desenvolvimento das redes e dos serviços de comunicações.Actualmente, com a globalização dos merca-dos e internacionalização das economias, po-deremos dizer que o sector das comunicações electrónicas, ou telecomunicações, constitui um mercado concorrencial e aberto ao mundo, a um admirável mundo novo!Resta salientar que, a fim de estudar, preservar e divulgar os patrimónios histórico, cultural e científico das comunicações, promovendo em simultâneo a investigação científica, histórica e antropológica do sector e a cooperação, foi criada - em 6 de Outubro de 1997 - a Fundação Portuguesa das Comunicações (FPC), que tem como Instituidores o ICP-ANACOM, os CTT - Correios de Portugal e a Portugal Telecom. No contexto da sua missão, cabe-lhe, ainda, divul-gar a evolução histórica e as novas tecnologias do sector, como contributo para o desenvolvi-mento económico-social do País e da comuni-dade.A FPC dinamiza o Museu das Comunicações (MC), que se integra no conceito de museu de ciência e tecnologia e possibilita uma visita guia-da pelos sectores das telecomunicações e dos correios, ao longo dos tempos e imaginando o futuro.Na exposição permanente, “Vencer a Distância – Cinco Séculos de Comunicações em Portu-gal”, é possível percorrer a história, desde os primórdios até ao momento presente.A presença massificada das novas tecnologias de informação e comunicação no quotidiano tem vindo a ser objecto de estudo do MC, desde a criação do espaço expositivo “Casa do Fu-turo”. Esta exposição mostra um exemplo real

de aplicação de tecnologias de comunicação avançadas aplicadas a um contexto doméstico, tendo como base noções como o conforto, se-gurança, entretenimento, acessibilidade e inclu-são, que possam contribuir para a construção de um futuro melhor.Este projecto é complementado com a área de exposição FPC - Future Labs 2.0, que surge na sequência directa do projecto iniciado em 2009, com a marca “experiências visuais de futuro”. A evolução operada nesta área expositiva apre-senta um novo ambiente expositivo, modular e evolutivo, um laboratório de experimentação visual que nos projecta para um futuro próximo na área dos processos de suporte visual de comunicação, como a realidade virtual, visão computacional, holografia, interactividade, este-reoscopia e realidade aumentada. O MC proporciona ainda visitas animadas e oficinas pedagógicas, espaços recreativos, personalizados e interactivos que privilegiam o contacto com a colecção, quer ao nível dos objectos históricos, quer das novas tecnologias, adaptado a cada nível etário e aos visitantes com necessidades especiais.E uma vez que a comunicação é um conceito lato que integra, não apenas selos e telefones, mas variadas expressões, desde a escrita às artes plásticas ou performativas, o Museu apre-senta ao seu público, num ciclo constante e renovável, várias e diversificadas exposições temporárias temáticas, assim como eventos cul-turais diversificados, ciclos de conferências, de cinema e pequenos concertos. Convido-o a visitar a Fundação Portuguesa das Comunicações e o Museu das Comunicações, onde a 17 de Maio se comemora o Dia Mundial das Telecomunicações e da Sociedade da Infor-mação, este ano em associação com a efemé-ride dos 100 anos da República, mostrando a influência do sector das telecomunicações nes-ta fase tão importante da História de Portugal.

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Precisamos de inovação mais do que nunca

“Better city, better life with ICT’s” é o tema de 2010 do Dia Mundial das Telecomunicações e da Sociedade da In-formação, que se comemora a 17 de Maio. Um dia que celebra todos os anos a criação da União Internacional das Telecomunicações, em Paris, a 17 de Maio de 1865. E em que se destaca a crescente importância das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) e o seu papel crítico e transversal à Economia e à Sociedade

diogo VasconcelosPresidente da aPdC – associação para o desenvolvimento das Comunicações

HHoje, é impensável viver-se sem as TIC. Televisão, telefone fixo, telemóvel, internet, banda larga… O sector veio mudar o mundo e a forma como todos vivemos e trabalhamos. Sem as TIC, já não é possível viver, trabalhar, aprender, interagir, conhecer e aprender. São elas que mais contri-buem para a modernização e a competitividade, que mais geram inovação, que mais induzem o desenvolvimento nas empresas, na sociedade e no sector público.

As comunicações e a Internet vieram transformar o Mundo. E trazer uma nova lógica de colaboração em escala e de poder distribuído. Vivemos cada vez mais numa sociedade em rede e num mundo globalizado, onde tudo está à dis-tância de um clique. O potencial oferecido pela evolução tecnológica, com destaque para as redes de nova gera-ção, abre um vasto potencial de novas possibilidades. De mais inovação, de mais serviços, que se assumem como críticos na conjuntura actual, de grave crise, e poderão ser a chave para uma verdadeira viragem. A banda larga tor-nou o processo de inovação global e muito mais exigente: obriga as empresas a aceder a conhecimento disperso

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por todos os continentes. A boa notícia é que, com redes de nova geração, qualquer país pode criar produtos globais, feitos por talento global, para responder a necessi-dades globais de um mercado global. Nenhum país é, à partida, demasiado pequeno ou periférico.Por isso mesmo, as TIC, como destaca aliás o secretário-geral da UIT, Hamadoun I. Touré, na sua mensagem deste ano, têm também um papel vital no desenvolvimento das cidades. Porque lhes permitem ser mais amigas do am-biente e economicamente viáveis, através do desenvolvi-mento de um conjunto inimaginável de soluções inovado-ras. Como os edifícios inteligentes, a gestão inteligente de tráfego ou a eficiência energética. Mas a tecnologia por si só não muda nada. Há que definir e avançar com estratégias e respostas para as múltiplas ne-cessidades e desafios que a Sociedade actual enfrenta. E para isso, torna-se imperativo mobilizar todos os stakehol-ders envolvidos. É essa a missão da APDC, como platafor-ma de referência para a inovação total e global das TIC e New Media. Porque há que acelerar a agenda e encontrar soluções de curto-prazo e preparar o futuro desde já. Por-que só com a conjugação de todos os esforços, públicos e privados, é que poderemos beneficiar em pleno, como País, de todas as potencialidades que as tecnologias nos permitem. Sendo um dos sectores que mais contribui para o PIB, para a modernização da economia e para a inovação, as TIC terão de se mobilizar para uma nova agenda de opor-tunidades. Porque só numa lógica de inovação total é que Portugal poderá ultrapassar a crise e entrar num período de crescimento sustentado. A APDC está a desenvolver várias iniciativas para mobilizar e conjugar esforços. Com destaque para o “Ciclo APDC: para uma Administração Pú-blica do Século XXI”, onde o objectivo é promover a inova-ção no sector público através das TIC, porque os desafios que Portugal tem pela frente – crescimento económico, combate ao desemprego e à exclusão social, serviços pú-blicos eficientes, envelhecimento da população, alterações climáticas - exigem novas respostas por parte do Estado (www.apdc.pt). A marcar este Dia Mundial das Telecomunicações e da So-ciedade da Informação, a APDC e todos os stakeholders que participaram no relatório “SMART Portugal 2020: re-dução das emissões e o aumento da eficiência energética através das TIC”, vão apresentar um ponto de situação do que está a ser feito ao nível do combate às alterações climáticas em Portugal através do recurso às TIC. E deter-minar se já se estão a retirar ganhos efectivos para a eco-nomia, especialmente numa altura em que o potencial des-ta área permitirá o crescimento económico, a criação de emprego e a dinamização da iniciativa privada. Neste âm-bito, há três áreas prioritárias que oferecem maior potencial

de redução das emissões - Gestão Energética, Edifícios e Transportes. Porque é tempo de voltar a pôr na

agenda e relançar o debate num tema que assume dimensões crescentemente

preocupantes e que tem consequências não apenas económicas, mas também sociais e culturais.No inicio dos anos 90, a Finlândia viveu um momento par-ticularmente dificil: à crise internacional juntou-se o colap-so da União Soviética (seu principal parceiro comercial) e a derrocada do sistema financeiro doméstico. Em quatro anos, o PIB desceu mais de 10% e o desemprego disparou para 17%. Para ultrapassar a crise, foram tomadas medi-das drásticas para melhorar a competitividade a consolidar as finanças públicas. O sector público foi reestruturado e o investimento público na inovação e nas tecnologias de informação duplicou. Essa aposta revelou-se acertada para o País: criou as fundações para uma forte retoma. Em pouco mais de quatro anos, a Finlândia não só recuperou, como emergiu da crise com um padrão de crescimento as-sente em sectores de conhecimento intensivo e com notá-veis ganhos de competitividade. Em todos os indicadores internacionais, é hoje dos paises mais desenvolvidos do mundo, provando que a geografia não é barreira.Portugal tem de aproveitar a crise como oportunidade para se transformar. Precisamos de inovação mais do que nun-ca. Isto implica focar o investimento público na inovação e utilizar os recursos escassos para fazer crescer novas indústrias e serviços que serão decisivos para a recupera-ção. Só a inovação garante aumentos radicais de produti-vidade, essenciais para assegurar uma retoma sustentável e duradora. Se falharmos esta oportunidade, teremos uma retoma frágil, pois as causas estruturais do nosso declínio continuarão inabaladas.

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aAs marcas pelo seu carácter distintivo tornam-se a es-sência da concorrência, que estimula a inovação, me-lhora a qualidade de vida e constrói uma sociedade com múltiplas escolhas, da qual todos nós beneficiamos. As empresas de marca inovam mais do que as que não o são, contribuindo para um maior crescimento da econo-mia e do emprego1.Para além disso, as marcas são o principal património da empresa e os alicerces do negócio. São fonte de ren-dimento e de rentabilidade e a chave da prosperidade futura. São a razão pela qual os consumidores esco-lhem uma empresa e não a concorrente e são elas que dão ao consumidor confiança e garantia, oferecendo escolha e relevância para a necessidade de cada um.Sendo a Missão da Centromarca “criar para as marcas um ambiente de concorrência leal e intensa que encora-je a inovação e que garanta um máximo de valor para os consumidores”, a comunicação directa ao consumidor é um instrumento importante na sensibilização de todos os actores nesta cadeia de valor.Durante o ano de 2009 tínhamos dois grandes objecti-vos: ter uma comunicação proactiva e criar um espaço próprio de agenda nos meios. Nesse ano a comunica-ção dirigiu-se sobretudo a empresas do sector e outras organizações que connosco interagem, fossem públicas ou privadas. Iniciamos o ano de 2010 com uma estratégia de comu-nicação directa ao consumidor, realizando um projecto totalmente inovador.Por acreditarmos no valor único das marcas e o que proporcionam de diferente e enriquecedor no nosso dia-a-dia, quisemos transmitir a mensagem ao consumidor que existem marcas, as originais, que investem, investi-gam e inovam todos os dias a pensar nele. O resultado desta vontade é a campanha “Marcas Originais”.Esta campanha é um trabalho conjunto da Centromar-

Marcas originais

beatriz Imperatoridirectora geral da Centromarca

A Centromarca, Associação Portuguesa das Empresas de Produtos de Marca, tem 53 hoje Associados que repre-sentam, 6.000 milhões de euros em Volume de Vendas (2008), 3,6% do PIB (2008), 27% do mercado publicitário (2008/2009) e contribuem aproximadamente com 6% de receitas para o Estado. O impacto económico das mar-cas ultrapassa a questão do emprego, da produção e das exportações

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iNdúStria aliMENtar

ca e dos seus Associados. Começámos a desenvolver a ideia da campanha em 2009 com a MSTF Partners que nos ajudou a “percorrer este caminho” num projecto criativo e persistente, porque o caminho nem sempre foi óbvio. O Objectivo da campanha é sensibilizar o consumidor para um valor, o das marcas. Fazemo-lo de forma posi-tiva: afirmamos o nosso valor mais forte, aquele, onde tudo se reflecte: a originalidade.Ao pedirmos ao consumidor “pense nisto na próxima vez que for às compras” lembre-se “Marcas Originais”, estamos a reforçar positivamente a nossa relação com o consumidor. A reforçar a nossa presença e implicitamen-te a dizer que o acompanhamos independentemente do seu contexto e dos seus compromissos.A campanha interpela o consumidor pedindo que se lembre do que são para si marcas originais. É o consu-midor quem decide. A campanha estará em televisão de 19 de Janeiro a 26 de Fevereiro, nos quatro canais da SIC (generalista, noticias, mulher e radical), nas publicações da Impresa, na MOPTV ( rede de televisões de metro) e em mupis nos espaços da JCDecaux e claro na internet. O apoio destas empresas na realização desta campanha, foi fun-

damental para garantir a presença e impacto da campa-nha “Marcas Originais”. Assim, foi com satisfação que em Dezembro partilhá-mos com os Associados o projecto da campanha e tendo recolhido uma reacção extremamente positiva e encorajadora.Com esta campanha temos dois grandes objectivos: o primeiro é reforçar o valor das marcas através do con-ceito “Marcas Originais”, ou seja, que o consumidor va-loriza este atributo no momento da escolha. O segundo, dar a conhecer a Centromarca como uma Associação de Marcas que une um conjunto de empresas para quem o seu activo mais valioso é a Marca.A para da campanha surgiu o novo logótipo da Centro-marca que inclui um elemento essencial: o ® de mar-ca registada. Centramos a força do nosso logótipo no principal activo das empresas Associadas: a marca, e demarcamos o ®, das marcas registadas, originais.A Centromarca com esta campanha, pioneira no seu género, demonstra que o Associativismo é também ele instrumento fundamental na construção de um caminho mais próximo do consumidor e fundamental na interven-ção para ambientes de negocio concorrenciais e leais.

1 PIMS Contributo das empresas de produtos de consumo corrente de marca para o crescimento económico: sobre Marcas e Crescimento”, Setembro 1998. Para AIM, European Brands Association

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iNdúStria MEtaloMECâNiCa

“a crescer em qualidade e competência”

aA CVA – Construções Vieira Alves dedica-se à rea-lização de obras em regime de empreitadas públi-cas e privadas no domínio da construção metálica, origem da empresa.Fundada em 1953 por Joaquim Vieira Alves, “tem vindo a adquirir ao longo de mais de meio século, um elevado grau de qualidade e competência. O investimento na aquisição de modernos equipa-mentos é contínuo, de forma a responder com maior eficiência às necessidades do mercado, à forte concorrência e falta de mão-de-obra especia-lizada no sector das estruturas metálicas”, explica Emília Alves, Administradora da CVA.Instalada em Santa Catarina da Serra, Leiria, a CVA dispõe de 12 mil metros quadrados de área coberta. Ao longo dos anos tem vindo a investir na ampliação e modernização das instalações de for-

CVA – Construções Vieira Alves S.A opera na área de estruturas metálicas há mais de meio século e tem vindo “a crescer em qualidade e competência”, fruto dos investimentos realizados em modernos equipamentos e estraté-gia de diversificação da actividade. Foi assim que, em 2004, surgiu a VAM – Vieira Alves Metalomecânica S. A. que se dedica ao fabrico de torres eólicas e é um já um caso de sucesso no nosso país

ma a acompanhar a evolução das necessidades do mercado.Encontra-se certificada segundo a norma NP EN ISO 9001:2000 no âmbito da elaboração de pro-jectos, metalomecânica, fabricação e montagem de estruturas metálicas. Com um quadro médio de 34 trabalhadores, aposta na formação dos mesmos, tanto ao nível profissional como de se-gurança.Por seu turno, a VAM – Vieira Alves Metalomecâni-ca surgiu em 2004, tal como recorda Emília Alves, “na sequência de uma estratégia de diversificação de actividade, no âmbito de uma empresa de cariz familiar do mesmo grupo, que se dedica ao fabrico de estruturas metálicas desde a década de 50”.Encontra-se implantada no Parque Industrial de Abrantes, com uma área total de 40 mil metros

quadrados, e está dotada com modernos equipa-mentos para fabrico de torres eólicas, actividade a que se dedica praticamente em exclusivo. Segundo a administradora da CVA, “a VAM nasce no sentido de acompanhar o notável crescimen-to do mercado da energia eólica em Portugal e na União Europeia, sendo esta uma das fontes renováveis com maior potencialidade dos seus produtos e serviços, tendo como principal objec-tivo proporcionar aos seus clientes uma rigorosa excelência”.

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IndústrIa 57

NotíCiaS

Presidente da república recebe CiP

A CIP foi recebida no dia 1 de Março pelo Presidente da República, a quem tinham sido enviados previamente o projecto de Plano de Actividades e o documento contendo as propos-tas da CIP sobre o Programa de Estabilidade e Crescimento.O Presidente da República saudou a nova Di-recção da CIP, manifestou agrado por verificar que o programa de actividades refere a aposta na indústria transformadora e nos bens transac-cionáveis, a par do estímulo à actividade indus-trial, a preocupação com o desequilíbrio das contas públicas, a avaliação selectiva dos inves-timentos públicos e o funcionamento da justiça.Disse entender que a CIP é uma expressão viva da sociedade civil e deve assumir publicamen-te essa expressão, dando a conhecer as suas propostas e expondo as suas ideias, com inde-pendência.

Blogue CiP, facebook e twitter

CiP aborda questão do proteccionismo

A CIP está a utilizar os seguintes instru-mentos informais de comunicação: blogue (cipindustria.blogspot.com, Twitter (cip_in-dustria) e Facebook (Cip Confederação da Indústria). Estes veículos estão a ser utilizados a título experimental, sendo muito apreciadas as críticas e sugestões que queiram formular, por e-mail para [email protected] ou nas pró-prias redes.

Na reunião de trabalho com o Ministro da Economia, Vieira da Silva e o Secretário de Es-tado Adjunto, Fernando Medina, realizada no dia 8 de Março, a CIP abordou a questão da liquidez das empresas e os problemas que con-tinuam a surgir com o QREN e os incentivos do Estado à economia (verbas não dispendidas; programas sem projectos ou com projectos in-suficientes). Referiu também que a diplomacia económica é essencial no programa de interna-cionalização das empresas portuguesas e, no que diz respeito às questões de concorrência, apontou o proteccionismo da economia espa-nhola e os impedimentos às empresas portu-guesas, quer no mercado espanhol quer, por vezes, em concursos em Portugal.

Durante a audiência, a CIP referiu que o país necessita de um novo empreendedorismo, ba-seado no conhecimento e no saber; e que a sociedade necessita de um novo diálogo e de novas práticas de concertação, como condição para um crescimento sustentado da economia.As empresas enfrentam problemas sérios com o mau funcionamento da justiça, sublinhou o Presidente da CIP, acrescentando que a legis-lação abundante, dispersa e, por vezes, desa-justada das realidades perturba e entorpece o funcionamento das empresas e a concentração nas questões essenciais.A concluir, António Saraiva sublinhou que o cres-cimento económico tem que provir da iniciativa privada e que os apoios do Estado à economia são necessários, mas têm que ser atribuídos de acordo com os méritos dos projectos e a sua contribuição para a melhoria da competitividade.

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58 IndústrIa

NotíCiaS

Formação para empresários

requalificação de jovens licenciados

a estratégia “UE 2020”

A formação para empresá-rios constitui uma ferramenta essencial para a melhoria da competitividade das empresas - considera o Presidente da CIP a propósito da assinatura do Protocolo com o Governo, as Universidades, os Poli-técnicos e as Confederações

Empresariais para realização de acções de formação para empresários.A iniciativa, que deverá entrar em vigor este ano e prolongar-se até 2011, vai abranger mais de 5000 formandos e repre-senta um investimento de 12 milhões de euros do Estado.

A CIP faz parte do grupo de trabalho constituído no âmbito da Secre-taria de Estado do Emprego e da Formação Profissional para “Requalifi-cação de 5000 jovens licenciados em áreas de baixa empregabilidade de forma a facilitar a sua adequada inserção no mercado de trabalho”.Esse grupo definiu já os objectivos a curto prazo, tendo presente que é intenção do Governo ter os programas de trabalho concluídos até ao final de Setembro de 2010.Por proposta da CIP, está a ser feita uma actualização do inquérito às necessidades das empresas em matéria de qualificação de trabalhadores a admitir, feito em Setembro de 2008.O inquérito reveste-se da maior importância, pois permitirá conhecer as necessidades actuais e previsíveis a curto prazo das empresas em maté-ria de recrutamento dos seus recursos humanos, permitindo assim definir mais adequadamente os programas de requalificação.

A CIP participou numa reunião na Direcção-Geral das Actividades Económicas – DGAE, do Ministério da Economia, na qual se discutiu o documento da Comissão Europeia sobre a Estratégia de Lisboa para o período pós-2010, intitulado Es-tratégia “UE 2020”.Como preocupações gerais, a CIP apontou: - A complexidade do documento, bem como a quantidade e disper-são de objectivos nele contidos, revela que a Comissão não teve em conta que ficaram por alcan-çar muitas das metas fixadas na

“iniciativa emprego 2010”

A CIP elaborou e enviou ao Secretário de Estado do Emprego e Formação Profissional a sua Nota crítica sobre os Projectos de Diplo-ma que concretizam a “Iniciativa Emprego 2010”. Nessa Nota crítica, a CIP tece es-peciais reparos ao Projecto de Por-taria que estabelece as normas de funcionamento e de aplicação das medidas a disponibilizar no qua-dro da nova geração de iniciativas sectoriais, no âmbito do Programa

Qualificação-Emprego, que visam combater o desemprego, promover o reforço das competências básicas dos trabalhadores e incrementar as suas qualificações.Relativamente ao citado Projecto de Portaria, a CIP, em geral, mani-festou reparo crítico quanto à cir-cunstância de o mesmo, no âmbito industrial, se mostrar destinado, só e tão-só, aos Sectores da Madeira e Mobiliário, do Têxtil e Vestuário e do Ramo Automóvel, quando, igualmente, vários outros sectores de actividade estão a ser drastica-mente afectados pela crise e pela fixação, em €475, da Retribuição Mínima Mensal Garantida para vi-gorar durante o ano de 2010.Assim, no entender da CIP, deve ficar aí expressamente prevista a possibilidade de os Sectores que o pretendam disporem de regula-mentos específicos ao abrigo desta nova iniciativa de programas.

Estratégia de Lisboa, de 2000;- O horizonte temporal previsto na nova Estratégia (de 10 anos) parece ser demasiado longo face à urgência de acções que são ne-cessárias levar a cabo para atingir objectivos mais imediatos, como sejam aqueles que se prendem com a recuperação económica da UE;- A nova Estratégia da UE deverá ter como prioridade o reforço da competitividade das empresas/empresários, pelo que é necessá-rio direccionar meios e criar condi-ções para atingir esse desiderato.

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