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© 2017 Antonio Carlos Bastos GomesTodos os direitos desta ediçãoreservados à Editora Bestiáriowww.bestiario.com.brRua Marquês do Pombal, 788/20490540-000 - Porto Alegre, RS.Telefone: (51) 3779.5784 | 99491.3223

Editora:Elaine LernerProjeto gráfico e diagramação:e-design

Bastos Gomes, Antonio Carlos

Notas históricas sobre a Dermatologia no Rio Grande do Sul / Antonio Carlos Bastos Gomes.

- Porto Alegre: Editora Bestiário, 2017. 96 p. ISBN 9788598802800 1. Medicina. 2. Dermatologia. 3. História. I Título

CDD-617.008

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Impresso no Brasil

B297n

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Sumário

Prefácio 7

Apresentação 11

Origens prováveis e primeiras observaçõesda hanseníase no Rio Grande do Sul 13

Cem anos da Dermatologia no Rio Grande do Sul 32

Professor Ulysses Pereira de NonohayPrimeiro catedrático concursado de Dermatologia 40

A cátedra de Dermatologiada Faculdade de Medicina da UFRGS 42

Dr. Ernest von BassewitzUm barão na Dermatologia rio-grandense 45

Dr. João Batista LusardoUm caudilho dermatologista 49

Professor Hugo Pinto RibeiroEnsinar está no DNA dos descendentes 51

Professor Clóvis BoppCentenário do símbolo da Dermatologia gaúcha 55

Professor José GerbaseO mais notável dermatologista de seu tempo 64

Professor Ênio Candiota de CamposPrimeira observação da paracoccidioidomicose 68

Dr. Dardo de MenezesO dermatologista da fronteira 71

Professor Rubens Valeriano Furtado Fabrício da SilvaCampanha histórica pela eliminação da hanseníase 73

Professor César BernardiUm líder da Dermatologia 76

A Sala Ramos e Silva da Santa Casa 79

As Enfermarias de Dermatologiada Santa Casa de Misericórdia De Porto Alegre 82

Breve História do Ambulatório de Dermatologia Sanitária 85

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Notas históricas sobre a Dermatologia no Rio Grande do Sul

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Prefácio

Dr. Antonio Carlos Bastos Gomes, por intermédio deste livro, garante, de maneira inestimável, a manutenção da memória de nossa especialidade. Conhecer a história permite não apenas entender as informações técnicas, mas também o impacto das doenças e como elas podem influenciar nossa formação social.

A investigação cuidadosa dos fatos e sua sedi-mentação, possível pela vasta bagagem cultural, experiência e entusiasmo do Dr. Antonio Carlos, só poderia produzir uma excelente obra.

Notas Históricas sobre a Dermatologia no Rio Grande do Sul é um livro que recomendo sem re-servas. Leitura não só informativa como cativante, pois o leitor pode acompanhar os passos traçados por nossos antecessores e suas dificuldades.

A estrutura do livro, apresentando a cronolo-gia da Dermatologia no RS, permite compreender como se desenvolveu nossa especialidade e deduzir as dificuldades que nossos antecessores enfrentaram. Inicia-se com a história de uma das doenças mais

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Antonio Carlos Bastos Gomes

aflitivas da raça humana, a hanseníase, informando sobre como os escravos e trabalhadores itinerantes eram tratados e sobre a influência do fator migra-tório como disseminador de doenças. Ao apresen-tar a biografia dos grandes vultos da Dermatologia gaúcha, ressalta que, desde seus primórdios, já havia uma busca pelo conhecimento acadêmico sistemati-zado, por publicações e pela necessidade de aperfei-çoamento permanente. Cuidado que permitiu desde a organização do atendimento à população até a descrição de novas doenças e a proposição de novos tratamentos.

Os registros, tão cuidadosamente levantados pelo Dr. Antonio Carlos Bastos Gomes, mostram que a Dermatologia, praticada como especialidade primá-ria, já existia em nosso Estado, desde as últimas dé-cadas do século XIX, com ênfase especial às doenças infecciosas. Por muito tempo, esse foi um domínio dos dermatologistas. Com a ampliação dos conheci-mentos e esclarecimentos dos mecanismos patogêni-cos envolvidos em diferentes manifestações cutâneas, a Dermatologia passou a ser das especialidades mais abrangentes, incluindo desde infecções, doenças sis-têmicas, genodermatoses, neoplasias e dermatoses que ainda necessitam ser mais bem esclarecidas até o cuidado estético da pele, também importante para o bem-estar do indivíduo.

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Notas históricas sobre a Dermatologia no Rio Grande do Sul

Conhecendo o Dr. Antonio Carlos Bastos Go-mes, sua extensa cultura médica e erudição, estou certa de que esta obra será uma fonte de consulta e de entendimento, além de induzir uma justa reflexão sobre nossa especialidade.

Parabéns aos editores pela relevância do tema e pela qualidade da apresentação. Aceitem meus agra-decimentos pessoais pela oportunidade de associar meu nome a esta iniciativa e minha satisfação ao ser convidada para prefaciar este livro.

Tania Ferreira CestariProfessora Titular de Dermatologia, Hospital de

Clínicas de Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

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Notas históricas sobre a Dermatologia no Rio Grande do Sul

Apresentação

Meus dois interesses de estudo são a Dermatologia e a História. Nesse último dedico-me em investigar a História da Dermatologia e, em especial, a dessa especialidade em nosso Estado, o que faço há mais de 30 anos.

O resultado dessas pesquisas é esta modesta obra que agora apresento que vem a recordar eventos, fa-tos e pessoas que participaram, em mais de um sécu-lo, na formação e no desenvolvimento da Dermato-logia no Rio Grande do Sul.

Espero que outros autores me sucedam e venham a preencher lacunas que porventura tenha deixado.

Para encerrar, quero dedicar este livro à memó-ria do Prof. Clóvis Bopp, meu amigo, mestre e com-panheiro de várias jornadas dermatológicas pelo mundo.

Antonio Carlos Bastos GomesPorto Alegre, abril 2017.

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Origens prováveis e primeiras observações da hanseníase no Rio Grande do Sul1

Origens ProváveisA falta de dados mais exatos impede uma fixação mais precisa da época da introdução da hanseníase em nosso Estado. Parece fora de qualquer dúvida, entretanto, a inexistência da mesma entre nossa po-pulação aborígene, sendo creditada, portanto, sua provável penetração inicial através de colonizadores lusos ou já nascidos no Brasil ou pelo tráfico de es-cravos negros.

Na história dos Sete Povos das Missões não existe nenhum relato acerca de hansenianos que porventu-ra ali vivessem. Dentre os escritos do padre Antônio Sepp, S. J., considerado com muita justiça “o gênio das reduções guaranis”, encontram-se diversos textos que tratam da assistência física e espiritual aos índios enfermos. Fala ele sobre a organização de hospitais para os habitantes das reduções, nos quais era fei-ta a divisão dos doentes em diversas categorias, sem nenhuma menção a portadores de hanseníase. Enu-mera ele igualmente algumas moléstias observadas,

1 Estudo publicado na Revista Amrigs, Porto Alegre, 26 (3):231-5, jul./set. 1982

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inclusive uma “epidemia de peste”, mas não faz ne-nhuma referência, por mais remota que seja à doen-ça acima citada. Deve ser lembrado, contudo, que os Sete Povos das Missões, por terem sido um dos primeiros pontos de penetração e de intercâmbio de nosso Estado, pode ter servido como área de intro-dução e passagem de doentes.

Um outro argumento que reforça a afirmação da inexistência dessa patologia entre os indígenas é o fato de os mesmos não possuírem, entre os seus idiomas, uma palavra que designasse especificamente o Mal de Hansen. No Paraguai, país onde ainda é empre-gado o idioma guarani, a hanseníase é chamada mbá asy vai, o que literalmente significa “doença feia” não caracterizando, portanto, a moléstia. Seria, isso sim, um neologismo criado para designar uma doença an-teriormente desconhecida pelos índios.

A primeira indagação a respeito das origens da hanseníase no Rio Grande do Sul foi feita por Lou-renço de Magalhães, em 1882, quando lançou a se-guinte questão: “acaso teria a lepra sido levada de São Paulo para o Rio Grande pela estrada que há longos anos serve de comunicação entre as duas províncias?”.

H.C. de Souza Araújo traçou o provável cami-nho da disseminação da moléstia em nosso Estado. Segundo ele, tal fato deveu-se aos tropeiros que co-merciavam com mulas, adquirindo-as no Rio Gran-de do Sul ou na Banda Oriental, conduzindo-as ao

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Paraná para engorde e daí para Sorocaba (SP), onde realizavam-se grandes feiras anuais e para onde con-corriam compradores de todo o país. A principal estrada percorrida pelos tropeiros era a que, pene-trando o território paranaense em Itararé, passava por Jaguariaiva, Piraí, Conchas, Castro, Ponta Gros-sa, Palmeira, Lapa e Rio Negro, penetrando no Rio Grande do Sul pela região serrana, através do Passo de Goio-En. Segundo observações desse autor, todas as povoações acima citadas, com exceção de Castro, são focos antigos de hanseníase. Eram esses comer-ciantes de animais bastante generosos com os hanse-nianos, pois os bons negócios que realizavam favore-ciam a maiores liberalidades nas esmolas.

Devido a esse fato, abundavam os doentes na ci-dade de Sorocaba e seus arredores, em grupos mais ou menos grandes, buscando toda sorte de auxílio que pudesse minorar suas necessidades, atraídos que eram pela notícia de ali obterem ajuda e doações. É interessante notar que esses enfermos andavam quase sempre a cavalo, por força de suas dilatadas deslocações. Passavam de uns a outros lugares, atraí-dos pela maior facilidade do ajutório, conforme as circunstâncias da ocasião. As montarias lhes eram dadas pelos tropeiros, sendo essa uma das formas assumidas pelas suas esmolas. E curioso mencionar que os cavalos fornecidos aos lazarentos eram, quase

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sempre, gateados1, o que representaria, talvez, um meio de os tornar reconhecidos, desde longe, uma vez avistados nas estradas ou nas vizinhanças de fa-zendas. Os doentes dispunham, em certas fazendas dos Campos Gerais do Paraná, de choças construí-das a respeitável distância das casas, as quais eram destinadas a proporcionar-lhes abrigo adequado quando eles, de passagem, o solicitavam. Essas cho-ças eram mesmo aparelhadas com louças e outros utensílios de cozinha, dos quais ninguém mais, além dos próprios enfermos, podia servir-se.

Rapone diz ser o foco mais antigo de hansenía-se no RGS o município de Vacaria, baseando-se nas observações de Pessoa Mendes e Mangeon que afir-mam ter sido a doença por ali difundida por desbra-vadores paulistas nos primórdios do século XVIII.

O primeiro autor a realizar um estudo mais aprofundado acerca das origens da endemia hansê-nica em nosso Estado foi E. von Bassewitz2 (ver pág. 45) Em sua obra “A Questão da Lepra no Rio Gran-de do Sul” (um relatório apresentado à Sociedade de Medicina de Porto Alegre em setembro de 1927),

1 Gateado: diz-se de cavalo baio avermelhado, de olhos amarelo esverdeado como os do gato.

2 Barão Ernest Wolfgang von Bassewitz. Nasceu em 15/08/1868 em Mecklenburg (Alemanha). Médico e escritor. Casou em 20/04/1903, em Porto Alegre, com a Dra. Maria da Gloria Pavão, também médica e escritora. Pais da Dra. Maria von Bassewitz, ad-vogada.

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iniciava dizendo que a inexistência de elementos pre-cisos impedia a fixação da época do aparecimento da hanseníase em terras rio-grandenses. Afirmando a inexistência da moléstia entre os indígenas, atribuiu ele a responsabilidade da introdução da mesma aos colonizadores lusos e ao tráfico de escravos negros, portadores esses últimos, segundo o autor, de hanse-níase em proporção bastante acentuada.

As participações dos elementos lusitano e mesmo do ibérico, em sentido mais amplo, têm bastante fun-damento, uma vez que os mesmos levaram a doença para os Açores e a Ilha da Madeira e esses ilhéus, bem como os canários, que em número considerável contribuíram para a colonização do território rio-grandense, vieram de focos insulares intensamente flagelados, a essa época, pelo Mal de Hansen. Quan-to aos negros, introduzidos em nosso Estado sob o regime da escravidão, a importância atribuída aos mesmos na penetração da enfermidade, merece al-guns reparos. Maurano afirma que teria sido difícil a aceitação, pelos compradores, de escravos doentes, particularmente os portadores de moléstias de pele. Segundo esse autor, os compradores de escravos ti-nham bastante experiência a respeito da qualidade dos mesmos, como hoje ocorre com os negociantes de animais. Examinavam-os nos locais em que eram expostos à venda, parte por parte e rigorosamente a

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pele, para verificar se estavam eles atacados ou não de males incuráveis.

Tal como hoje existem manuais para o tratamen-to de moléstias do gado ou das aves, havia para as en-fermidades dos escravos. Por eles podia-se conhecer os defeitos dos negros de todas as nações africanas, a fim de os recusar. Entre os predicados, a pele deveria ser lisa, não oleosa, de uma bela cor preta, isenta de manchas, de cicatrizes e de odor demasiadamente forte. Mesmo a bordo dos navios negreiros, mesmo antes de seu desembarque, eram os escravos exami-nados por médicos militares, para que somente de-pois disso fossem permitidas a sua descida a terra. O que pode ter acontecido, isso sim, é que os negros, forçados que eram a rigorosos trabalhos e submeti-dos muitas vezes a condições precárias de existência ficassem predispostos a um maior alastramento da doença. Uma vez verificada a existência de hanse-níase, era o escravo abandonado a sua sorte, pois não podia mais permanecer em contato com os demais. O fato de então perambularem pelas estradas a es-molar, sendo observados por todos, pode ter dado a impressão de que o mal era comum entre eles.

Von Bassewitz, ainda em seu relatório de 1927, dizia também que outra fonte de penetração de doentes seria o contato ininterrupto com os habitan-tes dos países limítrofes do Prata, o que teria repre-sentado fator de relativa importância na introdução

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e permuta de hansenianos.No tocante às outras e mais recentes correntes

migratórias, afirmava Von Bassewitz que os colonos alemães, vindos diretamente da Europa para nosso Estado, não seriam responsáveis pelo incremento dos casos de hanseníase, uma vez que originavam-se de regiões praticamente indenes; todavia, entre os alemães e seus descendentes que se deslocaram de Santa Catarina e do Paraná para o RGS, a propor-ção de enfermos, segundo esse autor, era “assusta-dora”. Os italianos teriam contribuído com alguns doentes, especialmente entre os colonos oriundos do sul da Península Itálica (Calábria e Sicília). Já den-tre os emigrantes sírios haveria um razoável número de hansenianos, outras nacionalidades pouco teriam influído em razão de pequeno volume de seu fluxo migratório.

Primeiras observaçõesAs primeiras observações sobre casos de hanseníase no RGS foram realizadas em 1882 quando Lourenço Magalhães, em sua obra “A Morféa do Brasil”, reali-zou uma investigação sobre a situação da enfermida-de entre as diversas províncias que então formavam o império brasileiro. Na parte referente à Província de São Pedro do Rio Grande, colheu ele dados de médicos que exerciam suas atividades nas localida-des de Rio Grande, Jaguarão, Canguçu e Piratini.

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De um modo geral, era informada a existência de alguns poucos casos esparsos, afirmando outros que, em suas regiões de trabalho, ignoravam a presença dos referidos enfermos, não tendo nunca deparado com algum deles.

Um dos profissionais questionados, o Dr. José Xavier da Costa, o mais antigo dentre esse grupo e que já havia residido em diversos pontos da provín-cia, confirmava a ocorrência da hanseníase em casos isolados, declarando, entretanto, que não a havia ob-servado entre os habitantes das praias, não sabendo a que causa atribuir essa ausência. Contudo, esse mesmo facultativo acrescentava a sua observação es-sas palavras: “Pode ser que o número de doentes seja maior do que se supõe geralmente, visto que eles não só não procuram medicar-se com os profissionais, como ocultam-se às vistas de pessoas estranhas”. Ba-seado nas informações colhidas, concluía Lourenço Magalhães que a hanseníase era doença rara na pro-víncia do Rio Grande do Sul.

A primeira e detalhada observação de um enfer-mo de hanseníase em nosso Estado deve-se a Von Bassewitz. Em artigo publicado no Münchener Medi-zinischen Wochenschrift, em 1905, indagava este der-matologista (provavelmente o primeiro em nosso Es-tado) se representariam as larvas do Sarcoptes scabiei algum papel na propagação e contágio da referida doença. Essa questão tinha-lhe sido suscitada pela

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observação de dois pacientes, “R” e “P”, os quais ti-vera a oportunidade de acompanhar quando exercia suas atividades no Hospital de Caridade de Alegrete, entre os anos 1897 e 1902.

O primeiro desses enfermos, “R” encontrava-se ali internado desde o ano de 1894, tendo vivido an-teriormente por muitos anos em distritos do Paraná, onde a hanseníase era endêmica, para, por fim, che-gar como soldado ao Rio Grande do Sul, onde tor-nou definitiva a sua permanência, após ter cumprido sua obrigação contratual com o serviço militar. Após notar os primeiros sintomas da enfermidade em 1888 e sendo homem solteiro e sem recursos, buscou aco-lhida no hospital antes mencionado, permanecendo internado na enfermaria de doenças de pele de 1894 a 1900, quando veio a falecer. Em seus últimos meses de existência, contaminou-se com escabiose e, devi-do a seu estado geral bastante comprometido, de-senvolveu essa parasitose em sua forma crostosa (ou “norueguesa”), vindo a contagiar com a mesma um enfermeiro, “P”, que lhe prestava assistência. Tendo “P” sido demitido no hospital um mês e meio após tal evento, perdeu-o Von Bassewitz de vista, não sem antes tê-lo curado da escabiose.

Em meados de 1902, retornou “P” ao consultório do referido médico, buscando auxílio para curar-se de uma, por ele suposta, “doença sifilítica da pele”, acerca do qual referiu-se Von Bassewitz: “para meu

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maior espanto reconheci o tipo de lepra nodosa, achado bastante raro nesse Estado, onde não exis-tem focos endêmicos da mesma e só de quando em vez tem o médico visão de um ou outro caso isolado que foi trazido para dentro”. Baseando-se na conta-minação de “P” pelos ácaros da sarna norueguesa que havia afligido “R” em seus últimos dias de vida, na inexistência de casos familiares de “P” e também no fato de o mesmo jamais ter ido além dos limites municipais de Alegrete e que levantou o referido au-tor a possibilidade dos citados parasitas terem fun-cionado como vetores do Mycobacterium leprae.

A descrição das lesões e dos sintomas de “P” é detalhadíssima, mas muito extensa para ser aqui ex-posta. Merecem, contudo, citação de dois tópicos: o primeiro deles é de que um outro médico que an-teriormente havia atendido “P”; tendo confundido suas lesões cutâneas com alguma forma de sífilis, prescreveu-lhe fricções com pomada mercurial e io-deto de potássio por via oral, o que muito contribuiu para agravar o estado do paciente ou, nas próprias palavras desse, foi comparado o efeito dos tais medi-camentos sobre as rapidamente alastradas erupções locais “como aquele de um bom adubo para as plan-tas” (sic); o segundo é que, tendo Von Bassewitz co-municado “da forma mais poupada” seu diagnóstico a esse doente, a consequência dessa sua maneira de

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agir causou um efeito tão arrasador sobre “P” que o mesmo veio a falecer poucas horas depois pela inges-tão de um ácido, caso esse que foi considerado pelo médico “bastante incomum entre os leprosos, porque costumeiramente existe uma marcante apatia física e moral entre os mesmos.

Baltazar de Bem (1905) em sua “Geografia Mé-dica”, considerava a hanseníase raríssima entre os habitantes de nosso Estado.

Athayde da Silva (1915), abordou, em sua tese inaugural, o tema “A Propósito de alguns Casos de Lepra”.

Em 1923, o Serviço Federal de Profilaxia da Le-pra e Doenças Venéreas no Rio Grande do Sul, diri-gido pelo Dr. Ulysses de Nonohay, também professor catedrático da Cadeira de Dermatologia e Sifilogra-fia da Faculdade de Medicina de Porto Alegre (ver pág. 40), realizou um censo dos hansenianos existen-tes em nosso Estado. Esse levantamento, apresentado em relatório pelo Dr. Nonohay, em 1924, acusava um total de 164 doentes identificados, dos quais 27 em Porto Alegre, 23 em São Francisco de Paula, 16 em Bom Jesus, 12 em Santa Cruz e nove em Ca-choeira, que eram então as cinco localidades mais acometidas pela doença, conforme o referido recen-seamento. Era igualmente assinalada a presença de hansenianos em mais de 30 municípios, enquanto

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que os 48 outros eram considerados indenes, até aquela data.

A primeira análise mais abrangente sobre a si-tuação da hanseníase em nosso Estado foi realizada pelo Dr. J. S. Sarmento Barata em sua tese inaugural: “Diagnóstico Laboratorial da Lepra e sua Distribui-ção no Rio Grande do Sul”, apresentada no ano de 1923. Neste trabalho efetuou o autor a observação e o acompanhamento de 18 casos de hanseníase e realizou um minucioso levantamento da situação da doença na cidade de Porto Alegre, bem como com-pilou informações em praticamente todos os muni-cípios então existentes em nosso Estado (para o que valeu-se, em parte, do censo anteriormente citado). As conclusões a que chegou foram as seguintes:

— A hanseníase estava aumentando no municí-pio de Porto Alegre. Casos autóctones (sic) estavam surgindo com relativa frequência nos consultórios.

— Havia informações médicas positivas sobre a existência de doentes nos municípios de Palmeira, Passo Fundo, Vacaria, São Francisco de Paula, San-to Antônio da Patrulha, São Leopoldo, Montenegro, Triunfo, São Sebastião do Caí, Santa Maria, Cruz Alta, São Borja, Itaqui, Taquari, Alegrete, Uru-guaiana, São Jerônimo, São Gabriel, Dom Pedrito, Encruzilhada, Piratini, Canguçu, Pelotas, Rio Gran-de, Bom Jesus e Gravataí.

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— Nos municípios de Erechim, Lagoa Verme-lha, Viamão, Taquara, Estrela, Garibaldi, Bento Goncalves, Alfredo Chaves, São João de Camaquan, Dores de Camaquan, Ijuí, Júlio de Castilhos, Encan-tado, Jaguari e Lavras não eram conhecidos casos da doença.

— A hanseníase no RGS teria sido importada de estados vizinhos, pois consoante a observação de clínicos de nomeada, a mesma não existia em nosso Estado. No município de Porto Alegre, os casos eram mais numerosos nos pontos onde havia mais mosquitos.

— Urgia o estabelecimento de um leprosário modelo no Estado “para que se evite a invasão de nossos lares pelo terrível flagelo” (sic).

Em 1926, a Diretoria de Higiene do Estado rea-lizou um outro censo de hansenianos, mostrando o resultado final a soma de 102 enfermos, sendo 20 em Vacaria, 18 em Porto Alegre, 14 em Pinheiro Ma-chado, 10 em Cachoeira, oito em Santa Cruz, cinco em Santo Antônio da Patrulha, “duas famílias” em São Francisco de Assis, três em Uruguaiana e outros casos isolados ou aos pares em mais oito municípios; 62 outras localidades estavam, conforme esse levan-tamento, livres da moléstia.

Cabe mencionar, porém, que esses dois recen-seamentos (de 1923 a 1926), tiveram seus trabalhos

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limitados quase exclusivamente a breves inquéritos efetuados entre os médicos que então clinicavam nas cidades investigadas ou a informações sumárias obti-das das intendências municipais, carecendo, portan-to, de elementos para estudos epidemiológicos dos casos assinalados e produzindo estatísticas incomple-tas e deficientes.

No relatório apresentado por Von Bassewitz à Sociedade de Medicina de Porto Alegre em 1927, enumerava ele em sua casuística até essa data 116 hansenianos, 65 do sexo masculino e 51 do feminino, cujas idades oscilavam entre 11 e 83 anos. Dentre es-ses, 32 tinham origem extracontinental (em suas pa-lavras), incluindo-se aí portugueses, espanhóis, sírios, alemães, italianos, um francês, um russo, um grego e até mesmo um chinês. Os demais casos restantes eram autóctones o que confirmava, a seu ver, que a hanseníase já era, de longa data, entidade mórbida arraigada no Rio Grande do Sul.

Em fins de 1927, Piaguaçu Garcia Corrêa, da Diretoria de Higiene do Estado, percorreu alguns distritos rurais dos municípios de Venâncio Aires e Santa Cruz do Sul, localidades essas apontadas épo-ca pela opinião pública como dois grandes focos do Mal de Hansen em nosso Estado. Nessa observação, identificou ele, 11 doentes em Santa Cruz e oito em Venâncio Aires, todos esses casos confirmados bac-terioscopicamente e em franca evolução. Constatou

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igualmente que, em 1926, haviam falecido nove en-fermos no segundo distrito de Santa Cruz e cinco no quinto distrito do mesmo município, chegando dessa forma à conclusão de que, nesse munícipio, existiam, até esse ano, pelo menos 25 pessoas acome-tidas de hanseníase. Verificou também que os focos de maior número de doentes eram os de Vila Tere-sa, Linha Henrique Ávila (ambos de Santa Cruz do Sul) e Linhas Cachoeira e Isabela (Venâncio Aires), regiões habitadas, sobretudo, pelo elemento colonial teuto-brasileiro. Quase todos esses hansenianos eram naturais das localidades acima citadas, de onde rara-mente costumavam deslocar-se.

Em 29 de julho de 1928 uma comissão da So-ciedade de Medicina de Porto Alegre, apresentou ao então presidente do Estado, Dr. Getúlio Vargas, seu parecer sobre o problema da hanseníase no Rio Grande do Sul. Compunham essa comissão os se-guintes médicos: Ulysses de Nonohay (professor de Dermatologia e Sifiligrafia da Faculdade de Medi-cina de Porto Alegre e Chefe do Serviço Federal de Profilaxia da Lepra e Moléstias Venéreas), Pereira Fi-lho (professor de Microbiologia), Brasil Stefon (pro-fessor de Moléstias Tropicais), Annes Dias (professor de Clínica Médica) e Travassos da Rocha (bacterio-logista de Serviço de Higiene do Estado).

Esse mesmo parecer tinha sido submetido uma semana antes (em 22.07.1928) à apreciação da Socie-

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dade de Medicina, tendo sido aprovado por unanimi-dade. Seu relator, nessa ocasião, foi o Dr. Ulysses de Nonohay, o qual afirmou que a hanseníase tornava-se, cada vez mais, um terrível pesadelo social. Sendo bem pouco conhecida no Estado até o início do sécu-lo, quando, a seu dizer, os raros casos que apareciam quase sempre importados, havia o quadro, em 20 e poucos anos, transmudando-se de maneira dramáti-ca com o surgimento de novos focos da doença em regiões insuspeitas de até então abrigarem enfermos. Censos imperfeitos, dizia, já somavam para o Rio Grande cerca de 200 casos, mas esses deveriam, a seu ver, ser multiplicados por dois, assim mesmo deixan-do grande parte ainda em princípio ou dissimulados, a ponto de serem desconhecidos.

Baseada nesses dados perturbadores e no sentido de encarar o problema relativo à assistência aos han-senianos e à defesa social, chegou a referida comis-são a conclusão de que era necessário e inadiável que se estabelecesse, sob os auspícios governamentais, uma colônia agrícola para o isolamento dos doentes, atendendo à necessidade de rodeá-los de cuidados médicos e de conforto que lhes suavizasse a amar-gura de seu infortúnio. Era solicitada ao Presidente do Estado a aquisição de uma área não superior a 600 hectares, nas proximidades da capital, em terre-no salubre e fértil, com bastante e boa água potável,

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para atender a finalidade acima exposta. Cabe ainda mencionar que a referida comissão aceitava, excep-cionalmente, o isolamento familiar “com o rigorismo dos preceitos higiênicos modernos” (sic).

Encerrava-se assim a era das observações e inicia-tivas isoladas no que se referia à hanseníase no Rio Grande do Sul. Despertava-se então, de maneira ob-jetiva, a assistência governamental para o problema da moléstia, em nosso Estado, conjugando esforços que viriam culminar em 1940, com a inauguração do hospital Colônia Itapuã.

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Bibliografia

1 ARTUR RABUSKE, S.J.; P. ANTÔNIO SEPP, S. J.. O Gênio das Reduções Guaranis, 2º. Edição, São Leopoldo, Ed. Unisinos, 1979. pág. 43.

2 PESSOA MENDES. Problema Atual da Lepra no Rio Grande do Sul (Comunicação de Higiene do Rio Grande do Sul) - Arquivos do Departamento Estadual da Saúde. 1948/49. Vols. 9/10. p. 174.

3 FLÁVIO MAURANO. Tratado de Leprologia. História da Lepra no Brasil e sua Distribuição Geográfica. Ministério da Educação e Saúde. Departamento Nacional de Saúde. Serviço Nacional de Lepra, Rio de Janeiro, 1944. Vol. 1, Cap. I, págs. 16-19.

4 JOSÉ LOURENÇO DE MAGALHÃES. A Mor-féa no Brasil. Rio de Janeiro, Tipographia Nacional, 1882, Cap. II, págs. 40-2.

5 H.C. de SOUZA ARAÚJO. História da Lepra no Bra-sil. Imprensa Nacional. Rio de Janeiro, 1946. Vol. 1, Cap.VII, págs. 429-30.

6 TÚLIO RAPONE. Combate à Hanseníase no Estado do Rio Grande do Sul. Boletim da Saúde, Secretaria de Estado dos Negócios da Saúde no Rio Grande do Sul, Vol. 2, nº. 9-10, pág. 3, set/out. 1970.

7 G. MANGEON e J. PESSOA MENDES. Profilaxia da Lepra no RS. Arquivos do D.E.S. Vol. 1. pág. 81, Porto Alegre, 1940.

8 ERNST VON BASSEWITZ. A Questão da Lepra no Rio Grande do Sul. Relatório apresentado à Sociedade de Medicina de Porto Alegre, em setembro de 1927, págs. 2-3, Typographia do Centro. Porto Alegre, 1927.

9 ERNST VON BASSEWITZ. Spielen die Kratzmilbem eine Rolle bei der Verbreitung der Lepra? Ein kasuistis cher Beitrag

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zur Aetiologie des Aussatzes. Separatabdruck aus der Mún-chener medizinischen Wochenschrift, nº. 41, Munchen, Alemanha, 1905.

10 BALTAZAR DE BEM. Geografia Médica (1905). Ci-tado por JANDYR MAIA FAILLACE. Arquivos do De-partamento Estadual da Saúde, Porto Alegre, 1940, Vol. 1. pág.233.

11 ATHAYDE DA SILVA. A Propósito de Alguns Casos de Lepra. Tese Inaugural. Porto Alegre, 1915, citado por JANDYR MAIA FAILLACE In: Do Conceito Atual da Profilaxia da Lepra. Of. Graf. da Livraria do Globo. Porto Alegre, 1933, pág. 159.

12 J. S. SARMENTO BARATA. Diagnóstico Laborato-rial da Lepra e sua Distribuição no Rio Grande do Sul. Tese Inau-gural. Livraria do Globo. Porto Alegre, 1923. págs.122-3.

13. PIAGUAÇU GARCIA CORRÊA. Estatística do Número de Leprosos em Santa Cruz e Venâncio Aires. Relatório à Diretoria de Higiene. Porto Alegre, janeiro de 1928, ci-tado por JANDYR MAIA FAILLACE In: Do Conceito Atual da Profilaxia da Lepra. Of. Graf. da Livraria do Globo. Porto Alegre, 1933. Cap. VI, pág. 127.

14 ARCHIVOS RIO-GRANDENSES DE MEDI-CINA (Órgão da Sociedade de Medicina de Porto Ale-gre), agosto e setembro de 1928, Porto Alegre. Ano VII, nºs. 8 e 9, págs.1-6.

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Cem anos da Dermatologia no Rio Grande do Sul1

O primeiro dermatologista a exercer sua especia-lidade no Estado foi o Dr. Ernst von Bassewitz, na-tural de Mecklemburgo e diplomado em 1890 pela Universidade de Berlim (ver pág. 45). Emigrou para o Brasil em 1892, fixando-se primeiramente em São Paulo e transferindo-se em 1894 para o Rio Grande do Sul, onde exerceu a Medicina em diversas e dis-

1 Monografia publicada por meio da Associação Médica do Rio Grande do Sul/1992

Em 1952 é celebrado convênio entre a AMRIGS (fundada um ano antes), e a Sociedade Dermatologia e Sifilografia. Surge o Departamento de Dermatologia e Sifilografia, filiado ao Departamento Científico da entidade. Entre os presentes estão na foto os médicos Clóvis Bopp, José Pessoa-Mendes, Armin Bernhard e Bruno Marsiaj

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tantes localidades, tais como Santa Vitória do Palmar (na região do Litoral Sul) e Alegrete (na região da Campanha)

Interessou-se especialmente pela hanseníase (des-crição de caso clínico e proposta de possível via de contágio em artigo publicado em 1905 no Deutscher Mediziniscer Wochenschift). Publicou, em 1927, nos Anais Sul-Rio-grandense de Medicina relatório sobre  “A Questão da Lepra no Rio Grande do Sul”. Investigou a incidência dessa enfermidade sobre os colonos ale-mães e seus descendentes.

A Faculdade de Medicina de Porto Alegre, criada em 1898, teve como seu primeiro professor de Der-matologia e Sifiligrafia o Dr. Modesto José de Souza. A informação consta da primeira relação de profes-sores da então Faculdade de Medicina e Pharmacia de Porto Alegre, publicada em 1900 pelo jornal “A Federação”. Posteriormente (em 1905), era lente de Clínica Dermatológica e Sifiligráfica o Dr. Rodolpho Machado Masson. Em sequência, por concurso, tor-nou-se catedrático dessa disciplina o  Dr. Ulysses de Nonohay (ver pág. 40), o qual exercia conjuntamente o cargo de Inspetor Federal de Lepra e Doenças Ve-néreas.

Tendo chefiado o serviço médico da Coluna Re-volucionária Gaúcha na revolução de 1930, transfe-riu residência para a cidade do Rio de Janeiro, onde

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recebeu de Getúlio Vargas a titularidade de um car-tório como recompensa por seus serviços prestados ao movimento revolucionário. Com seu licencia-mento, assumiu como professor titular interino o Dr. Carlos Leite Pereira da Silva que havia sido nomea-do, por concurso, professor substituto da disciplina.

Em 1942, criou-se na Faculdade de Medicina de Porto Alegre o  Curso Equiparado de Clínica Der-matológica e Sifiligráfica, regido pelo Dr. José Ger-base (ver pág. 64), natural de Maceió (AL), discípulo do professor Ramos e Silva (ver pág. 79), diplomado no Rio de Janeiro em 1936 e que tinha se transferido em 1938 para o Rio Grande do Sul para trabalhar no Serviço Anti-Venéreo das Fronteiras, criado na-quele ano pelo diretor do Departamento Estadual de Saúde, o sanitarista Dr. Bonifácio da Costa.

Em 1946, integrou-se na então cadeira de Der-matologia e Sifilografia da Faculdade de Medicina de Porto Alegre o Dr. Clóvis Bopp (ver pág. 55). Cabe mencionar que esta cadeira e o curso equiparado funcionavam simultânea e separadamente na mes-ma faculdade, existindo séria rivalidade entre ambos serviços.

O  Dr. Bopp  reorganizou e revitalizou um ser-viço letárgico e anquilosado, galgando sempre por concurso todos os degraus da carreira universitária: auxiliar de ensino em 1952, livre-docente em 1954, defendendo a tese  “Poroqueratose de Mibelli” e

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finalmente catedrático em 1959, com a tese “Cro-moblastomicose – Contribuição para seu Estudo”.

Em 1992, assumiu, igualmente por concurso, como titular de Dermatologia da Universidade Fe-deral do Rio Grande do Sul, o Prof. Dr. Lucio Bakos. A Prof. Tania Ferreira Cestari, a partir de dezembro de 2014, assumiu a vaga de titular de Dermatologia na mesma Universidade.

O Rio Grande do Sul mantém seis Serviços de Dermatologia de qualidade excepcional, todos com residência médica na especialidade. Localizado no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, o Serviço de Dermatologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul foi criado em 1984, com a chefia do Dr. Lucio Bakos, auxiliado pelos professores Luís Fernando Bopp Müller e Bernardo Kosminsky, esta-belecendo-se uma renomada residência médica que formou inúmeros dermatologistas. Hoje, a chefia é do Prof. Dr. Renato Marchiori Bakos, filho de Lucio Bakos.

No Serviço de Dermatologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, a coordenação é da Profª. Magda Blessmann Weber. O Prof. Ernani Siegmann Düvelius é o atual chefe do Serviço de Dermatologia da Santa Casa de Mi-sericórdia de Porto Alegre. No Ambulatório de Der-matologia Sanitária (ver pág. 85), a Dra. Letícia Maria Eidt responde pela Coordenação de Ensino e Pes-

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quisa e a Dra. Cecília Cassal, pela coordenação do Programa de Residência Médica.

Na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, o Serviço de Dermatologia, com residência médica, é chefiado pelo Dr. Luís Carlos Campos, auxiliado pelo Dr. Sérgio Célia e pela Drª. Dóris Hexsel. Criou-se, também, através da iniciati-va do Dr. Walter Neumaier, a residência médica em Dermatologia no Hospital Universitário da Univer-sidade Federal de Santa Maria, cuja chefia de servi-ços foi assumida pelo Prof. Dr. André Beber.

Nos últimos anos, foram criadas cátedras de Dermatologia em universidades de várias cidades. Na Universidade Federal de Pelotas, o Prof. Hiram Larangeira de Almeida Júnior substituiu o Prof. Ma-nuel Moraes. Na Faculdade Católica de Pelotas, o titular é o Prof. Paulo Roberto D’Elia. A Profª. Ma-rilene Ughini é a titular na Universidade de Passo Fundo. Em Rio Grande, o Prof. Fábio Cunha de An-drade é o titular em Dermatologia da Universidade Federal de Rio Grande.

Os serviços estaduais de saúde pública (o antigo Departamento Estadual de Saúde e sua sucessora, a Secretaria Estadual da Saúde e Meio Ambiente) também desempenharam papel de grande impor-tância no desenvolvimento da especialidade, espe-cialmente no que se referia à hanseníase.

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Em 1923, o Dr. Sarmento Barata apresentou tese versando sobre “O Diagnóstico Laboratorial da Le-pra e sua Distribuição no Rio Grande do Sul”– e, em 1933, Jandyr Maia Faillace publicou “Do Conceito Atual da Profilaxia da Lepra”.

Em 1938, tendo o tenente-coronel  Oswaldo Cordeiro de Farias  sido nomeado para interventor no Estado, convidou este o sanitarista Dr. Bonifácio da Costa  para reorganizar os serviços estaduais de saúde, tendo o mesmo criado o Serviço Anti-Vené-reo das Fronteiras e o Núcleo de Profilaxia da Lepra, atraindo jovens dermatologistas do centro do país para trabalharem nessas divisões recém criadas.

Enriqueceu-se a Dermatologia gaúcha então com a chegada dos Drs. José Gerbase, José Pessoa-Mendes (que chegou a docente-livre por concurso da Faculdade de Medicina de Porto Alegre, transferin-do-se, posteriormente, para São Paulo, onde assumiu a chefia do Serviço de Dermatologia do Hospital dos Servidores do Estado) e  Antônio Harry Pacheco, bem como estimulou-se a especialidade no interior, destacando-se em Uruguaiana o Dr. Dardo Menezes (ver pág. 71), natural daquela cidade fronteiriça, mas diplomado em 1936 na Faculdade de Medicina de Niterói, onde fez sua formação dermatológica com o Prof. Dr. Parreiras Horta.

Em 1940, diplomou-se pela Faculdade de Medi-

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cina de Porto Alegre o Dr. Ênio Candiota de Campos (ver pág. 68), o qual fez sua especialização com o Dr. Hugo Pinto Ribeiro (ver pág. 51), o qual, embora não  desempenhando nenhum cargo universitário, che-fiava a enfermaria de Dermatologia da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, tendo publicado di-versos artigos versando sobre o  granuloma venéreo e micologia médica, tendo descrito um dermatófito designado pelo Prof. Dr. Parreiras Horta, em sua ho-menagem, como Trichosporon ribeiroi.

Seu discípulo, o Dr. Ênio Campos, integrou, logo após a sua graduação, o serviço de Dermatologia do Departamento Estadual de Saúde, manifestan-do especial interesse pela paracoccidioidomicose, enfermidade que, em 1960, foi tema de sua tese de concurso para livre-docência da cadeira de Derma-tologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul “Micose de Lutz” (Blastomicose Sul-americana).

Quando da criação da Faculdade Católica de Medicina (atual Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre), em 1960, o  Dr. Ênio Campos assumiu a chefia da cadeira de Dermato-logia da referida escola médica, bem como poste-riormente a chefia da mesma disciplina nas também novas faculdades de Medicina das cidades do Rio Grande e Caxias do Sul. Desempenhou também o

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cargo de chefe do Serviço de Profilaxia da Lepra da Secretaria Estadual de Saúde. Sua brilhante e pro-fícua atividade foi precoce e tragicamente cerceada por um acidente automobilístico em 1974, quando se dirigia à cidade de Caxias do Sul, para lecionar naquela faculdade.

Caberia ainda mencionar, o Dr. Armin Nieme-yer, diplomado em 1920 pela Faculdade de Medici-na de Porto Alegre, com especialização em Berlim e Paris. Em 1952, foi editado o único tratado da espe-cialidade no Rio Grande do Sul “Dermatologia Prá-tica” (Sul-americana), de sua autoria.

Em 1970, aconteceu a reorganização dos serviços de Dermatologia da Secretaria Estadual da Saúde, sob a chefia do Dr. César Bernardi (ver pág. 76), com o auxílio do Dr. Jair Ferreira, criando-se o Serviço de Dermatologia Sanitária, que depois transformou-se no Ambulatório de Dermatologia Sanitária (ADS), excelente centro de atendimento, ensino e pesquisa no Rio Grande do Sul (ver pág. 85). Destacou-se o mesmo pela adoção da informatização para o con-trole da hanseníase, programas audiovisuais de edu-cação e prevenção em DST e SIDA e investigação terapêutica nas enfermidades acima mencionadas.

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Professor Ulysses Pereira de Nonohay

Primeiro catedrático concursadode Dermatologia

O Prof. Ulysses Pereira de No-nohay foi o primeiro catedrático con-cursado de Dermatologia da Faculda-de de Medicina de Porto Alegre. Foi antecedido pelo Prof. Rodolpho Mas-son, mas este havia sido nomeado.

Nascido em Porto Alegre, em 09 de julho de 1882, fez o curso primário em Santa Maria e o secundário em

Porto Alegre. Diplomado pela Faculdade de Medi-cina de Porto Alegre em 1906, especializou-se em Clínica Dermatológica e Sifiligráfica, conquistan-do, anos depois, por concurso, a Cátedra de Clínica Dermatológica e Sifilográfica da Faculdade Porto-alegrense, onde lecionou por muitos anos.

Participou de diversas assembleias científicas no país e no estrangeiro. Publicou inúmeros artigos e trabalhos científicos versando especialmente sobre a sífilis, a hanseníase e a tuberculose (enfermidade sobre a qual dedicava também grande interesse, che-

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gando a fazer parte da Sociedade Brasileira de Tisio-logia e a frequentar congressos dessa especialidade).

Foi diretor do Posto Experimental do Ministério da Agricultura de Porto Alegre, chefe do serviço da Profilaxia de Lepra e Doenças Venéreas do Depar-tamento Nacional de Saúde Pública do Rio Grande do Sul, membro efetivo da Sociedade Brasileira de Dermatologia, editor associado dos Anais Brasileiros de Dermatologia, membro da Academia Nacional de Medicina.

Um fato marcante de sua carreira ocorreu du-rante a Revolução de 1930, quando chefiou o cor-po médico da Coluna Revolucionária Gaúcha que amarrou seu cavalo no Obelisco da Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro. Por esses seus serviços, foi agraciado com a titularidade de um cartório na então capital federal do país.

Faleceu no Rio de Janeiro em 24 de julho de 1959, após uma vida profícua e digna.

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A cátedra de Dermatologiada Faculdade de Medicina da Ufrgs1

A Faculdade de Medicina de Porto Alegre, criada em 1898, teve como seu primeiro professor de Der-matologia e Sifiligrafia o Dr. Modesto José de Souza, como consta da primeira relação de professores da então Faculdade de Medicina e Pharmacia de Porto Alegre, publicada em 1900 pelo jornal “A Federa-ção”. Posteriormente (em 1905), era lente de Clínica Dermatológica e Sifiligráfica o Dr. Rodolpho Ma-chado Masson.

Em sequência, por concurso, tornou-se catedrá-tico dessa disciplina o Dr. Ulysses de Nonohay, o qual exercia conjuntamente o cargo de inspetor federal de Lepra e Doenças Venéreas. Tendo chefiado o serviço médico da Coluna Revolucionária Gaúcha na Re-volução de 1930, transferiu residência para a cidade do Rio de Janeiro, onde recebeu de Getúlio Vargas a titularidade de um cartório como recompensa por seus serviços prestados ao movimento revolucioná-rio. Com seu licenciamento, assumiu como professor titular interino o Dr. Carlos Leite Pereira da Silva,

1 Publicado no Boletim Informativo da Sociedade Brasileira de Dermatologia – Secção RS, nº 91, abr/mai/jun 2014, pág.5

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Notas históricas sobre a Dermatologia no Rio Grande do Sul

que havia sido nomeado, por concurso, professor substituto da disciplina.

Em 1942, criou-se na Faculdade de Medicina de Porto Alegre o Curso Equiparado de Clínica Der-matológica e Sifiligráfica, regido pelo Dr. José Ger-base, natural de Maceió (AL), discípulo do professor Ramos e Silva, diplomado no Rio de Janeiro, em 1936, e que tinha se transferido, em 1938, para o Rio Grande do Sul. Veio trabalhar no Serviço Anti-Vené-reo das Fronteiras, criado naquele ano pelo direto do Departamento Estadual de Saúde, o sanitarista Dr. Bonifácio da Costa. Em 1946, integrou-se na então cadeira de Dermatologia e Sifilografia da Faculdade de Medicina de Porto Alegre o Dr. Clóvis Bopp (cabe mencionar que essa cadeira e o curso equiparado funcionavam simultânea e separadamente na mesma faculdade, existindo séria rivalidade entre ambos os serviços) (ver pág. 55).

O Dr. Bopp reorganizou e revitalizou um ser-viço letárgico e anquilosado, galgando sempre por concurso todos os degraus da carreira universitária: auxiliar de ensino em 1952, livre-docente em 1954 (defendendo a tese “Poroqueratose de Mibelli” e fi-nalmente catedrático em 1959, com a tese “Cromo-blastomicose – contribuição para seu estudo”). Em 1992, o Dr. Lucio Bakos tornou-se professor titular de Dermatologia da Universidade Federal do Rio

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Grande do Sul, igualmente por concurso. Em de-zembro de 2014, a Prof. Dra. Tania Ferreira Cestari assumiu o posto de Professora Titular de Dermatolo-gia da Faculdade de Medicina da UFRGS.

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Dr. Ernest von Bassewitz

Um barão na Dermatologia rio-grandense1

Ernest von Bassewitz nasceu em 1861, na cidade de Gunstow, no Grão-Ducado de Mecklem-burg-Schwgrin, que poucos anos depois veio a fazer parte do Impé-rio Alemão. De família nobre, en-tre seus parentes encontravam-se condes, embaixadores, generais. Recebeu o título nobiliárquico de barão. Formou-se em Medicina pela Universidade de Rostock e chegou ao Brasil com aproximadamen-te 25 anos, tendo participado como médico de cam-panha nas tropas castilhistas, na Revolução Federa-lista de 1893-1895.

Em nosso Estado exerceu a Medicina em locali-dades tão distantes como Alegrete e Santa Vitória do Palmar, onde anunciava-se como “médico operador e parteiro formado pela Universidade de Berlim”. Já na cidade da Campanha, fez sua primeira obser-vação clínica que resultou em publicação científica,

1 Publicado no Boletim Informativo da Sociedade Brasileira de Dermatologia – Secção RS, nº 91, abr/mai/jun 2014, pág.5

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Münchener Medizinischen Wochenschrift, periódico médi-co alemão, no qual lançou a hipótese de que os áca-ros Sarcoptes scabiie poderiam funcionar como vetores para o bacilo da hanseníase.

Sua tese foi baseada na observação de dois pa-cientes, acomodados lado a lado, na enfermaria da Santa Casa de Caridade de Alegrete, onde um de-les, acometido de sarna crostosa e hanseníase, teria contaminado o vizinho com as duas patologias, daí a procedência de sua teoria.

Na primeira década do século XX, estabeleceu-se em Porto Alegre, vindo a casar-se em 1903, com a filha de uma tradicional família local, Maria da Gló-ria Pavão. Da união, nasceu a primeira filha, tam-bém chamada de Maria. Esteve perfeitamente inte-grado à vida política e social da capital. Quando o senador Pinheiro Machado foi assassinado em 1915, Von Bassewitz apareceu como uma das pessoas de destaque presentes na cerimônia fúnebre.

Anunciava-se como especialista em doenças sifi-líticas e de pele. Embora nunca tenha revalidado seu diploma, amparava-se na liberdade profissional que a doutrina positivista vigente no Estado lhe garantia para exercer a Medicina.

Em 1915, quando do surgimento da Escola Mé-dica Cirúrgica, paralelamente à tradicional Facul-dade de Medicina de Porto Alegre, foi seu primeiro diretor e professor de Clínica Dermato-Sifilográfica.

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Notas históricas sobre a Dermatologia no Rio Grande do Sul

Foi membro ativo da Sociedade de Medicina de Por-to Alegre, participando de suas reuniões e publican-do artigos sobre sua especialidade, a Dermatologia.

Entre esses, citamos: “Calor de Figo”, contri-buição ao estudo das dermatomicoses brasileiras, e vários outros ligados ao estudo da hanseníase, tais como “O Fator Alimentar na Patogênia e Evolução da Lepra” e outro mais completo e aprofundado, “A Questão da Lepra no Rio Grande do Sul”, em que faz um estudo sobre a história e a origem da moléstia em nosso Estado e sua etiopatogenia e apresenta pro-posta para seu controle. No Tratado de Leprologia, editado pelo Serviço Nacional de Lepra, em 1950, seu nome é citado como especialista no assunto.

Em 1928, durante um Congresso Municipal de Saúde Pública, na cidade de Rio Grande, embora não comparecesse ao evento, enviou duas teses: uma delas sobre o “Carbúnculo Hemático no RS”, que não levou a discussões. Mas a seguinte, “Cogitações sobre a Necessidade de Reorganização dos Serviços de Higiene e Saúde Pública no RS”, provocou gran-de polêmica, tendo o autor recebido elogios de pro-fessores da Faculdade de Medicina de Porto Alegre, além de muitas referências desabonatórias, que o tra-tavam de truculento barão, retrógrado prussiano e ruivo julgador. Essa tese proposta por Von Bassewitz gerou intensos e violentos debates na classe médica estadual por cerca de três meses, ocorrendo até desa-

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fios para duelos entre médicos envolvidos. Após esses fatos, afastou-se das atividades político-associativas e, alguns anos depois, aposentou-se.

Ernst von Bassewitz, falecido em 17 de junho de 1951, está sepultado, juntamente com sua esposa Maria da Glória, no cemitério São Miguel e Almas, em Porto Alegre.

Agradecimentos:Prof. Dr. René E. Gertz, professor do Departamento de

História/Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Av. Ipiranga, 6681 - CEP 90620-260 - Porto Alegre - Brasil [email protected]

Dr. Ronaldo M. Bastos, médico, formado pela antiga Faculdade Católica de Medicina de Porto Alegre. Pesquisa-dor fotográfico há 50 anos.

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Notas históricas sobre a Dermatologia no Rio Grande do Sul

Dr. João Batista Lusardo Um caudilho dermatologista1

É fato conhecido que os médicos destacam-se em outras áreas, espe-cialmente na política. Tivemos um urologista de renome: o presidente da República Juscelino Kubitschek e a Dermatologia não poderia deixar de fornecer a sua contribuição.

No campo da hanseníase, sabe-se que Ernesto Che Guevara trabalhou como hansenologista em um hospital colônia na Amazônia Peruana, destacando-se ali com um trabalho marcante e humanitário.

Em nosso Estado a figura relacionada à especiali-dade é o embaixador João Batista Lusardo, cognomi-nado pelo biógrafo Glauco Carneiro como “o último caudilho”.

Nascido em Uruguaiana, em 1898, graduou-se na Faculdade Nacional de Medicina, na Praia Ver-melha, Rio de Janeiro, então capital federal, onde também formou-se em Direito. Fez sua especializa-

1 Publicado no Boletim Informativo da Sociedade Brasileira de Dermatologia – Secção RS, nº 92, jul/ago/set 2014, pág.7

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ção em dermato-sifiligrafia, na Santa Casa de Mise-ricórdia do Rio de Janeiro, com o professor Eduardo Rabello (pai).

Retornando à Uruguaiana, em 1921, fundou uma policlínica onde atendia “nervos-pele e sífilis”. Em 1922, dirigiu os trabalhos de combate a uma epidemia de peste bubônica que assolou a cidade. À parte de sua labuta médica, desenvolveu intensa ação política, participando como um dos líderes do movimento maragato de 1923 contra o governo de Borges de Medeiros.

Em 1924, elegeu-se deputado para o Congresso Nacional. Foi conspirador ativo e uns dos líderes re-volucionários de 1930. Com a vitória do movimen-to, assumiu diversos cargos no governo de Getúlio Vargas, entre os quais o de embaixador brasileiro em Montevidéu e Buenos Aires.

Em que pese tudo isso, nunca abandonou de todo a especialidade, sempre se interessando por te-mas pertinentes à mesma, até o seu falecimento, em 1982, em Porto Alegre.

Honrou sua cidade, seu Estado e a Dermatologia.

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Professor Hugo Pinto Ribeiro

Ensinar está no DNA dos descendentes1

Hugo Pinto Ribeiro nasceu em Porto Alegre, em 13 de maio de 1894. O mais novo dos quatro filhos de João Pinto Ribeiro Filho, funcionário do Banco da Província, e de Maria Olívia (Yayá) Gomes Ribeiro, exímia doceira, autora de livros de receitas. Seu avô materno foi o Prof. Fernando Gomes, que tinha um prestigiado internato masculino na Rua Duque de Caxias, próximo do Solar dos Câmara. O avô paterno foi João Pinto Ribeiro, nascido na cidade do Porto (Portugal). Veio para Rio Pardo, onde se casou com Cândida Souza e Silva, e foi residir em Porto Alegre, como cônsul emérito de seu país no Rio Grande do Sul.

Hugo Ribeiro teve três médicos na família. O bisavô paterno, Dr. José de Souza e Silva, que, antes

1 Escrito pela jornalista Célia Ribeiro, filha do dermatologista Hugo Pinto Ribeiro, e publicado no Boletim Informativo da So-ciedade Brasileira de Dermatologia – Secção RS, nº 99, abr/mai/jun 2016, pág. 7

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de se estabelecer como cirurgião em Rio Pardo, trabalhou em Porto Alegre. O tio, Dr. Emílio Gomes, que formou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e fez parte da equipe de Osvaldo Cruz. Os dois irmãos de Hugo foram engenheiros, e a irmã casou-se com o Dr. Plínio da Costa Gama.

Hugo formou-se na Faculdade de Medicina de Porto Alegre, aos 24 anos, na turma de 1918. Já era namorado de Maria Krieger quando foi trabalhar no hospital de Cachoeira do Sul e abriu consultório na Rua Sete de Setembro daquela cidade, logo fa-zendo uma boa clientela. A fonte da informação é o Dr. Eduardo Florence, que encontrou seu registro naquele hospital. Lá ficou por dois anos, voltando a Porto Alegre para contratar casamento com Maria Krieger, em 1920, e casar no dia 27 de outubro do mesmo ano.

Seu sogro, Emílio Krieger, tinha uma loja na Rua da Praia, bem em frente da Galeria Chaves — a Casa Krieger —, num edifício de quatro andares, o primeiro reservado para consultórios médicos. Bem instalado no espaço, com sacada de frente, e com economias amealhadas em Cachoeira, fez concurso para médico auxiliar na Diretoria de Higiene, che-gando a trabalhar no combate à epidemia de peste que assolava o Rio Grande do Sul.

Roberto nasceu em 1922, quando o pai já pen-sava fazer especialização em Dermatologia e doen-

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ças venéreas na Europa. Comentou o assunto com o sogro, Emílio Krieger, que lhe prometeu um em-préstimo para realizar esse importante desejo para sua carreira. Hugo e Maria aguardaram que o filho fizesse um ano e viajaram para Paris. Hugo Ribeiro estagiou por um ano no Hospital Saint Louis. Depois foi para Viena, onde permaneceu mais seis meses, terminando os estudos em Berlim.

Durante 20 anos, até sua morte em 1941, foi di-retor do Instituto Pasteur e médico da companhia de seguros A Equitativa. Seu trabalho estendeu-se à pesquisa. Hugo Ribeiro caracterizou uma nova mo-dalidade clínica de Piedra, um tipo de micose que afeta os pelos do cabelo e da barba. Por isso a doença foi denominada Tricomicose nodular de Ribeiro e o fungo por ele identificado e agente casual, Trichospo-rum riberoi.

Hugo e Maria, em 1929, tiveram uma filha, Cé-lia Ribeiro, que se tornou jornalista. O filho, Rober-to, foi médico psicanalista e professor catedrático na Faculdade de Medicina da UFRGS. De seus quatro netos homens — Hugo, Luiz, Jorge e Sérgio —, dois foram médicos e professores: Jorge, falecido em 2012, era cardiologista e pesquisador; Sérgio, pneu-mologista, trabalha no Hospital de Clínicas.

Aos 38 anos, Hugo descobriu que tinha hiper-tensão. Numa época, sem medicamentos adequados, apenas um tipo de cirurgia baixava a pressão, dei-

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xando sérias sequelas. Ele sabia que teria só mais dez anos de vida. Morreu na sua residência, dia 21 de agosto de 1941, em Porto Alegre.

Ensinar está no DNA dos descendentes de Hugo Ribeiro. Os cursos de extensão em Dermatologia que o avô Hugo Ribeiro ministrava na Faculdade de Medicina da UFRGS eram muito concorridos, e sua enfermaria na Santa Casa de Misericórdia atraía os estudantes de Medicina em fase de estágio. O emi-nente Prof. Rubens Maciel assistiu àqueles cursos de Dermatologia. Passados muitos anos, ainda mencio-nava a grande facilidade de expressão e simpatia do Dr. Hugo Ribeiro.

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Professor Clóvis Bopp

Centenário do símbolo da Dermatologia gaúcha1

Completaram-se em 2013 cem anos do nascimento do Prof. Cló-vis Bopp, símbolo da Dermato-logia gaúcha. Nascido em Santa Maria, em 17 de outubro de 1913, realizou seu estudos primários e secundários nesta cidade, ingres-sando na então Faculdade de Me-dicina de Porto Alegre, no ano de 1930.

Em 1935, ainda durante o curso, embarcou num navio cargueiro no Rio de Janeiro rumo a Yokohama (Japão), onde seu irmão Raul era cônsul do Brasil. Dali dirigiu-se a Coreia e depois a Vladivostok, no extremo da Sibéria russa, tomando um trem da ferro-via transiberiana em direção a Moscou. Durante essa longa viagem passou por inúmeras peripécias, en-frentando inclusive um ataque de bandoleiros mon-góis até chegar ao seu destino. De Moscou foi para

1 Publicado no Boletim Informativo da Sociedade Brasileira de Dermatologia – Secção RS, nº 87, abr/mai/jun 2013, pág. 3

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Berlim, Paris e Le Havre, quando retornou ao Brasil.

Graduado em 1936 pela Faculdade de Medi-cina de Porto Alegre, foi nomeado para o Serviço Anti-Venéreo das Frontei-ras do Departamento Es-tadual de Saúde para atuar em Santana do Livramen-to. Casou-se então com Ilka Muller. Do casamento nasceram as filhas Miriam e Lilian. Durante sua ativi-dade naquela cidade, apre-sentou seu primeiro trabalho científico, “Coleções Purulentas e Sífilis”, relatado na I Jornada Médica da Fronteira, realizada em Santana do Livramento, em 1941.

Em 1942, transferiu-se para Porto Alegre. No ano de 1944, diplomou-se no I Curso Intensivo de Saúde Pública do Departamento Estadual de Saúde, ganhando após bolsa de estudos para estudar Derma-tologia com o professor Aguiar Pupo, em São Paulo.

Ingressou como auxiliar de ensino voluntário na cadeira de Dermatologia da Faculdade de Medicina de Porto Alegre, em 1946, tornando-se efetivo em 1952. Em 1954, com a tese “Poroqueratose de Mi-

Prof. Bopp, notável mestre e grande amigo, durante palestra no I Congresso Argentino de Dermatologia, em outubro de 1972

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belli”, tornou-se docente livre de Clínica Dermato-lógica e Sifilográfica e em 1959, com a tese “Cromo-blastomicose”, atingiu a cátedra de Dermatologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Dedicou grande parte de seus estudos à pesquisa pela cura da cromomico-se, tendo publicado em 1957 “Tratamentos da Cro-moblastomicose pelo Calciferol”. Estudou também as porfírias e as dermatoses ocupacionais.

Seu serviço, a 5ª Enfermaria da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, tornou-se o grande centro de ensino e pesquisa da Dermatologia do Rio Grande do Sul.

Foi membro honorário e correspondente de várias sociedades dermatológicas internacionais: americana, alemã, mexicana, peruana, argentina, francesa e portuguesa. Foi presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia; Cidadão Honorário da cidade de Puebla, no México; protetor beneméri-to da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre; membro efetivo da Academia Brasileira de Medicina Militar; e comendador (título que muito o honrava) da Ordem do Sol Nascente do Império do Japão.

Dermatologistas Bastos Gomes e Boppno antiplano mexicano, em 1980

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Organizou e presidiu os Congressos Brasileiros de Dermatologia, realizados em Porto Alegre, em 1963 e 1971. Fez parte da primeira comissão examinadora do exame do Título de Especialista em Dermatolo-gia ocorrido em 1967.

Pela sua 5ª Enfermaria da Santa Casa de Por-to Alegre, formou-se praticamente a totalidade dos dermatologistas de seu tempo. Jubilou-se na univer-sidade, em 1983, vindo a falecer em 26 de julho de 1984.

Foi um notável mestre e um grande amigo.

As teses do Prof. Dr. Clóvis Bopp

O Prof. Clóvis Bopp, em sua profícua brilhante car-reira universitária, elaborou duas teses da docência que lhe permitiram galgar os degraus da carreira acadêmica até seu posto máximo de professor cate-drático de Clínica Dermatológica e Sifilográfica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

A primeira delas, redigida em 1954, para o con-curso de livre docência da referida Faculdade, teve por título “Poroceratose de Mibelli”. Nele o autor fez um estudo sobre a história, a clínica e a morfologia da referida genodermatose, seguida de uma obser-vação pessoal de 16 pacientes, pertencentes todos a duas famílias. Em cada caso foi feita a anamne-

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se atual e remota, o exame dermatológico, o exame objetivo dos sistemas, os exames complementares, os exames radiológicos, a prova de sudação e a perqui-rição do desenvolvimento mental e o exame anato-mopatológico de lesão cutânea. Concluiu dizendo que a afecção, embora relativamente rara, não se constituía de descoberta excepcional no Estado. Su-geriu o tratamento pela vitamina A.

Em 1959, para o concurso de Cátedra, foi escri-ta a tese “Cromoblastomicose”. Nela, o Prof. Bopp fez uma descrição completa da enfermidade, desde a denominação, primeiras observações nos diversos países do mundo e no Brasil, passando pela enume-ração dos casos no Rio Grande do Sul, a classificação das formas clínicas, a evolução, as complicações, a incidência segundo o sexo e o estado atual do tra-

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tamento da moléstia, enfatizando o tratamento da mesma pelo calciferol.

Em sequência, relatou a observação de 35 pa-cientes portadores de micose, em seus aspectos der-matológicos, clínicos, anatomopatológicos e a evolu-ção da doença após a instituição do tratamento pelo calciferol. Complementou o trabalho com a descri-ção de anatomia patológica de cromoblastomicose.

Em seus comentários finais e conclusões, o Prof. Clóvis Bopp escreveu que o Rio Grande do Sul era um dos estados do Brasil onde tinham sido identifi-cados maior número de casos da enfermidade, pre-dominantemente na metade norte do Estado e que considerava o tratamento da mesma pelo calciferol o mais adequado.

Com essa tese, alcançou o Prof. Clóvis Bopp, o posto de catedrático da Clínica Dermatológica e Sifilográfica da Faculdade de Medicina da UFRGS, que iria exercer até 1983, formando várias gerações de dermatologistas e aprimorando o ensino e a prá-tica de Dermatologia em nosso Estado.

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Tratamento da cromoblastomicose pelo calciferol1

O Prof. Dr. Clóvis Bopp, além de notável mestre, foi um pesquisador emérito. A sua principal linha de investigação focou-se no tratamento da cromoblasto-micose, tema para o qual dedicou muitos anos de sua profícua carreira e diversas experiências terapêuticas.

Uma dessas foi o emprego do calciferol, motivo de uma monografia em 1957, na qual eram relatados a evolução clínica e o controle histológico dos casos estudados.

Constituíram material da observação, 20 pacien-tes, chegando o autor às conclusões de que o calcife-rol, coadjuvado pelos iodetos e tópicos oclusivos, re-presentava na cromoblastomicose o tratamento mais eficaz, rápido e seguro de todos os tipos conhecidos até o momento. As regressões das lesões processa-ram-se num período de seis meses e embora capaz de provocar sintomas de superdosagem, o medica-mento, quando bem conduzido, seria inócuo.

Concluía dizendo que esses resultados somente seriam valorizados após confrontação com as obser-vações anteriores.

Esse recurso medicamentoso foi posteriormente abandonado por métodos mais modernos, mas sem-

1 Publicado no Boletim Informativo da Sociedade Brasileira de Dermatologia – Secção RS, nº 96, jul/ago/set 2015, pág. 6

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pre cabe a menção histórica.

Lava-pés1

A 5ª enfermaria da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre era a sede da Cátedra de Dermatolo-gia da Faculdade de Medicina da UFRGS. Em sua sala de reuniões, realizavam-se, diariamente, às 10h, reuniões clínicas, das quais participavam os internos, os residentes e os assistentes, e eram presididas pelo Professor Clóvis Bopp, que era o catedrático.

Nesses encontros eram apresentados e discutidos casos dos pacientes atendidos previamente nos am-bulatórios matinais cujas patologias mereciam aten-ção pela complexidade ou pelo valor didático.

Em certo dia, estando toda a equipe reunida, foi introduzido na sala um paciente já idoso, de cor es-cura, maltrapilho, apresentando lesões ulceradas em ambos os pés, as quais estavam cobertas por crostas purulentas que exalavam odor fétido; tais crostas im-pediam um exame acurado da situação. O doente foi colocado num banco no meio da sala, entre os médicos, mas ninguém tomava a iniciativa no senti-do de examiná-lo, permanecendo o quadro estático e inalterado.

1 Publicado no livro Histórias e Estórias da Medicina. Ed. Unimed. Vol. IX, 2012, págs. 87-88

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Diante da situação, ocorreu um fato insólito: o professor Bopp mandou que fosse trazida uma bacia com solução antisséptica e compressas de gaze; tão logo elas chegaram, ajoelhou-se aos pés do enfermo e procedeu a uma cuidadosa e acurada limpeza das lesões de seus pés.

Todos que assistiram a essa atitude do professor, o qual pontificava por seu comportamento rígido e severo, ficaram impressionados pelo gesto de humil-dade e de caridade, comparável mesmo à passagem bíblica do lava-pés de Cristo.

Para mim, então jovem residente, a passagem fez aumentar ainda mais a admiração que já tinha pelo Professor Bopp e me fez lembrar que ainda devemos exercer a Medicina não somente com capacidade técnica, mas também com caridade e amor ao próximo.

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Professor José Gerbase

O mais notável dermatologista de seu tempo1

O Prof. José Gerbase foi o mais notável dermatologista clínico de seu tempo. Nascido em Maceió, Alagoas, em 1910, cursou seus estudos primários e preparatórios no Colégio Ma-ceió e no Liceu Alagoano, in-gressando, após, na Faculdade

de Medicina de Recife, onde, após um ano, transfe-riu-se para a Faculdade de Medicina do Rio de Ja-neiro.

Em 1933, ainda estudante, fez uma excursão ao Rio Grande do Sul, visitando Porto Alegre (de navio) e Santana do Livramento. Essa visita chamou muito sua atenção sobre o nosso Estado.

Graduou-se em 1934, especializando-se em Der-matologia com o Prof. Ramos e Silva. Após um breve retorno à sua terra natal alagoana, onde recebeu di-versas e efusivas homenagens, voltou ao Rio de Ja-neiro, onde trabalhou em consultório próprio e na

1 Publicado no Boletim Informativo da Sociedade Brasileira de Der-matologia – Secção RS, nº 101, out/nov/dez 2016, pág.7

Foto: Álbum

de família

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Santa Casa de Misericórdia como assistente do Prof. Armínio Fraga.

Em 1938, com a criação do Serviço Anti-Vené-reo de Fronteiras do Estado do Rio Grande do Sul, transferiu-se para o nosso Estado e integrou-se ao Departamento Estadual de Saúde como médico der-matologista. Tornou-se membro ativo e participante da Sociedade de Medicina de Porto Alegre, passando a residir no Grande Hotel.

Em 1939, inaugurou seu consultório na Rua Ma-rechal Floriano, informando à classe médica de que dispunha de toda a aparelhagem moderna para um bom atendimento às moléstias de pele. Esse consultó-rio manteve-se até a aposentadoria e depois foi ocu-pado por seu filho Antonio Carlos Gerbase, também dermatologista.

Em abril de 1940, foi nomeado professor da Fa-culdade de Medicina de Porto Alegre, cargo ao qual renunciou após um ano por discordar da orientação político-administrativa da faculdade.

Em 1942, criou o Curso Equiparado de Der-mato-Sifilografia na 3ª Enfermaria da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre — “pele e sífilis de mulheres” — cognominada “Enfermaria Caldas Jú-nior”. O Curso Equiparado foi incluído no currículo da Faculdade de Medicina de Porto Alegre.

Foi homenageado pelas turmas médico-douto-randas de 1942, 1944, 1947 e 1953. Em 1943, in-

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gressou no Instituto de Previdência do Estado, aten-dendo preferencialmente os internos do Hospital São Pedro. Em 11 de março de 1944, casou-se com Léa Barth. Da união nasceram seis filhos, sendo três médicos (Maria, Antonio Carlos e Andrea, dois der-matologistas), dois engenheiros (José Filho e Luiz) e um cineasta (Carlos).

No ano de 1946, ocorreu em sua carreira um fato inédito e marcante: foi eleito presidente do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, clube que estava em uma fase de derrotas após seu arquirrival, o Sport Club Internacional, ter conquistado o hexacampeonato gaúcho. Enfrentando tanta desmoralização, o Prof. Gerbase renovou a equipe e restaurou o orgulho tri-color. Resultado: o Grêmio foi campeão gaúcho de

Em 1942, Dr. Gerbase criou o Curso Equiparado de Dermato-Sifilo-grafia na 3ª Enfermaria da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre

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1946, sendo, inclusive presidente da Sociedade de Medicina de Porto Alegre.

Presidiu o congresso comemorativo dos 150 anos da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, na qual foi sucessivamente irmão, irmão benemérito, grande irmão benemérito. Participou da Comissão de Apoio aos Flagelados de Alagoas, tendo sido homenageado com a nomeação de uma rua em Maceió.

Faleceu em 1982. Foi sucedido por seu filho, An-tonio Carlos, também dermatologista e médico da OMS (Organização Mundial da Saúde), de 1994 a 2013. Hoje é consultor internacional em Saúde Pú-blica.

Sua vida foi um exemplo de trabalho, dedicação e dignidade.

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Professor Ênio Candiota de Campos

Primeira observação da paracoccidioidomicose1

O Prof. Dr. Ênio Candiota de Campos, nascido em 4 de janeiro de 1919, diplomou-se em 1940 pela Faculdade de Medicina de Porto Alegre. Fez sua especiali-zação em Dermatologia na San-

ta Casa de Misericórdia de Porto Alegre, com o Dr. Hugo Pinto Ribeiro, chefe do Serviço.

Ingressando como dermatologista no então De-partamento Estadual de Saúde (DES), manifestou desde cedo interesse na paracoccidioidomicose, fa-zendo em 1942 a primeira observação de tal pato-logia no Estado. Relatou nos arquivos do DES dois casos de granuloma paracoccidioide no Rio Grande do Sul. Chamou a atenção do emprego da sulfa-metoxipiridazina no tratamento dos pacientes, com bom resultado em um deles.

Em 1945, juntamente com Neves da Silva, publi-cou um trabalho mais intenso, no qual foram estuda-

1 Publicado no Boletim Informativo da Sociedade Brasileira de Dermatologia – Secção RS, nº 90, jan/fev/mar 2014, pág.7

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dos 12 novos pacientes portadores da mesma micose. Em 1947, apresentou, na reunião da Secção do

Rio Grande do Sul da Sociedade de Dermatologia e Sifilografia, o primeiro caso do sexo feminino obser-vado no Estado da mesma patologia.

Em 1960, em sua tese de concurso à livre-docência da cadeira de Clínica Dermatológica e Sifilográfica da Faculdade de Medicina de Porto Alegre (UFRGS), relatou com o tema “Micose de Lutz”, obtendo aprovação com láurea, chegando, entre outras conclusões, às seguintes: que a paraccocidiodomicose era uma micose de achado recente em nosso Estado, mas que o número de casos havia aumentado com o passar dos anos, com predomínio em indivíduos do sexo masculino de zonas rurais. O diagnóstico precoce era de alta importância para que fossem evitadas, pela instituição de uma terapêutica precoce, as formas mais avançadas, graves, mutilantes e fatais da moléstia. A terapêutica era por sulfamidoterapia e anfotericina B.

No mesmo ano, com a criação da Faculdade Católica de Medicina (atual Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre), o Dr. Ênio Campos assumiu a chefia da cadeira de Dermatolo-gia da referida escola médica. Posteriormente, assu-miu a chefia da mesma disciplina também nas novas faculdades de Medicina de Rio Grande e de Caxias

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do Sul. Desempenhou também o cargo de chefe do Serviço de Profilaxia da Lepra da Secretaria Esta-dual de Saúde.

Certamente teria muito mais a produzir, cientifi-ca e didaticamente, não fosse sua brilhante carreira tragicamente cerceada em 1974, num acidente auto-mobilístico, quando se dirigia à Caxias do Sul, para lecionar na faculdade. Seu filho, Luís Carlos Elejal-de de Campos, seguiu os passos do pai, tornando-se dermatologista, sendo chefe do Serviço de Dermato-logia do Hospital São Lucas da PUCRS.

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Notas históricas sobre a Dermatologia no Rio Grande do Sul

Dr. Dardo de Menezes

O dermatologista da fronteira1

O Dr. Dardo de Menezes foi o pri-meiro médico a exercer a Dermatolo-gia no interior do Rio Grande do Sul. Nascido em Uruguaiana, em 17 de abril de 1914, após completar os es-tudos secundários no Colégio Rosário, em Porto Alegre, graduou-se na Fa-culdade Fluminense de Medicina, em Niterói/RJ, em 1937.

Foi assistente do Professor Parreira Horta, no Serviço de Dermatologia dessa faculdade, onde fez sua especialização. Também fez curso de aperfeiçoa-mento no Serviço de Dermatologia da Universidade de São Paulo, com o Professor Aguiar Pupo.

Em 1940, retornou à Uruguaiana, onde organi-zou e dirigiu o Serviço de Moléstias da Pele da Santa Casa de Caridade daquela cidade e assumiu o dis-pensário de Lepra e Doenças Venéreas do Centro de Saúde Modelo do município. Exerceu a chefia do posto de saúde por 30 anos.

1 Publicado no Boletim Informativo da Sociedade Brasileira de Dermatologia – Secção RS, nº 94, jan/fev/mar 2015, pág.7

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Realizou o curso sobre tracoma em São Paulo, onde também fez treinamento em venereologia e especialização em Buenos Aires. Publicou vários ar-tigos científicos sobre temas dermatológicos e han-senológicos, dois dos quais no International Journal of Leprosy.

Teve duas filhas médicas, Vânia, psiquiatra, e Cláudia, dermatologista. Após uma profícua ativi-dade médica científica e sanitária faleceu em Uru-guaiana em 20 de outubro de 1972.

Agradecemos a colaboração da dermatologista Cláudia Meyer, filha do Dr. Dardo de Menezes.

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Notas históricas sobre a Dermatologia no Rio Grande do Sul

Professor Rubens Valeriano Furtado Fabrício da Silva

Campanha histórica pela eliminação da hanseníase1

O Prof. Rubens Valeriano Furta-do Fabrício da Silva, natural de São Luís Gonzaga (RS) no antigo distri-to, atualmente município de Bosso-roca, nasceu no dia 24 de fevereiro de 1928. Em sua formação superior, cursou alguns anos de Medicina na Universidade de La República (Montevidéu – Uruguai), mas gra-duou-se na primeira turma da Faculdade de Santa Maria, em 1961, fundada como extensão da UFRGS em 1954.

Na sequência, especializou-se em Dermatologia em Buenos Aires e concluiu com louvor o segundo curso de Pós-graduação em Medicina Tropical, pelo renomado Instituto de Medicina Tropical de São Paulo. De volta a Santa Maria, assumiu a cátedra de Dermatologia na UFSM onde ajudou a formar mais de 4 mil profissionais.

1 Publicado no Boletim Informativo da Sociedade Brasileira de Dermatologia – Secção RS, nº 100, jul/ago/set 2016, pág. 6

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Na década de 1970, como médico responsável pelo Dispensário da Casa de Saúde, e a frente do se-tor de controle da hanseníase da 4ª Delegacia Regio-nal de Saúde do Estado, promoveu uma campanha histórica pela erradicação da hanseníase no centro-oeste do Estado, atingindo a meta de eliminação da doença no ano de 1994 na sua área de abrangência, sendo condecorado pelo então secretário Estadual de Saúde Germano Bonow.

Nos anos de 1969/70, fez parte do primeiro gru-po do Projeto Rondon, instalando o campus avan-çado da UFSM em Boa Vista (Roraima), embrião da atual Universidade Federal de Roraima. Exerceu atividades como médico dermatologista no Hospital Universitário da UFSM, Hospital da Brigada Mili-tar, Hospital de Caridade Astrogildo de Azevedo e na Casa de Saúde de Santa Maria. Manteve ativida-des em seu consultório particular até o ano de 2007, vindo a se aposentar de fato neste ano, em virtude de problemas de saúde.

Além de uma vida profissional exemplar e um amor irrestrito à Medicina, foi, antes de tudo, um ser humano íntegro e apaixonado pela vida. Profundo apreciador das artes, sobretudo da literatura, decla-mava versos inteiros de Antônio Chimango, Martin Fierro e poemas de Manuel Bandeira. Apaixonado pela li-teratura, conhecia a fundo a história gaúcha, espe-

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Notas históricas sobre a Dermatologia no Rio Grande do Sul

cialmente a saga missioneira e as várias revoluções que eclodiram no Estado.

Seu amor pelas coisas do Rio Grande, levou-o, já com idade avançada, cursar a disciplina de Fito-geografia na UFSM, como aluno especial e com ex-cepcional aproveitamento. Como homem verdadei-ramente sábio, apreciava o convívio com os jovens colegas de turma; para estes, com toda certeza, ficou um exemplo concreto da necessária e permanente busca pelo conhecimento, da valorização da alta cul-tura e da própria vida como bem maior.

Faleceu em 14 de junho de 2012, aos 84 anos, em Santa Maria (RS). Foi casado com Marnice de Castro Fabrício da Silva e teve três filhos, Mirella, Marcos e Valéria e quatro netos, Julia, Leon, Flávia e Rubens.

Agradecemos a colaboração de Marcos de Castro Fabrício.

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Professor César Bernardi

Um líder da Dermatologia12

O Dr. César Duílio Varejão Ber-nardi, nasceu em Porto Alegre, em 27 de dezembro de 1934, filho de Duílio Bernardi e Rafaela Varejão Bernardi. Formou-se na Faculdade de Medicina da UFRGS em 1961. Médico dermatologista pela Socie-dade Brasileira de Dermatologia (vários anos dedicados ao atendi-

mento dermatológico). Dentre suas titulações, ao longo de sua carreira, destacaram-se as seguintes:

— Professor Adjunto da Faculdade de Medicina da UFRGS

— Chefe do Serviço de Dermatologia /UFRGS da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre

— Presidente da Sociedade Brasileira de Derma-tologia/RS no período de 1981/1982

— Presidente da Sociedade Brasileira de Derma-tologia no período de 1987–1988, tendo sido presi-

1 Colaboração da Dra. Célia Luiza Kalil

2 Publicado no Boletim Informativo da Sociedade Brasileira de Dermatologia – Secção RS, nº 89, out/nov/dez 2013, pág. 8

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dente do 44º Congresso de Dermatologia da SBD, em Porto Alegre

— Presidente da Radla no período de 1993–1994, tendo sido organizador e presidente em 1994 desta reunião em Porto Alegre

— Membro fundador da Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina, demonstrando, assim, o reconhecimento por todas as suas contribuições, não somente para a Dermatologia, como também para a Medicina.

Por muitos anos, durante as décadas de 60 e parte da de 70, dedicou-se ao ensino no Serviço de Dermatologia da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, atuando junto com Prof. Clóvis Bopp, além de outros dermatologistas e orientando residentes da área.

Na Dermatologia Sanitária, muito auxiliou o seu desenvolvimento, contando com o apoio e re-conhecimento de diversos colegas dermatologistas. Em meados dos anos 70 até os anos 80, exerceu suas atividades como Chefe do Serviço de Dermatologia Sanitária da Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul, dando especial atenção à hanseníase e outras doenças dermatológicas infectocontagiosas, tanto no Ambulatório de Dermatologia Sanitária (ADS), como na Unidade de Internação em Dermatologia Sanitária (UIDS), no Hospital Sanatório Partenon

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(POA/RS), que recebia diversos pacientes oriundos do interior de nosso Estado, como os vindos do ADS.

Em meados dos anos 80, retornou ao Serviço de Dermatologia da Santa Casa/POA, assumindo sua chefia, até, aproximadamente, o início dos anos 2000.

Grupo de dermatologistas gaúchos. Sentados, os professores Roberto Gervini (falecido), Lucio Bakos, César Bernardi (falecido) e Luiz Fernando Bopp Müller

Diversos residentes tiveram oportunidade de conviver com sua pessoa e seu imenso conhecimento intelectual e científico. Foi autor de diversos artigos e publicações nacionais e internacionais sendo, por vezes, homenageado em trabalhos de dissertação de mestrado e teses de doutorado.

O Dr. César possuía uma personalidade serena e de inúmeras atribuições científicas que o faziam um líder na Dermatologia brasileira e internacional. Fa-leceu em 8 de setembro de 2013.

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A Sala Ramos e Silva da Santa Casa1

A Sala Ramos e Silva, assim denominada em home-nagem ao Prof. Dr. João Ramos e Silva, do Rio de Janeiro (Policlínica Geral e Faculdade de Medicina e Cirurgia, atual Uni-Rio), fazia parte da 3ª Enfer-maria de Pele e Sífilis de Mulheres — “Enfermaria Caldas Júnior” —, chefiada pelo Prof. José Gerbase. Seu nome deveu-se a uma homenagem prestada pelo Prof. Gerbase a seu mestre Ramos e Silva, mentor de

1 Publicado no Boletim Informativo da Sociedade Brasileira de Dermatologia – Secção RS, nº 98, jan/fev/mar 2016, pág. 4

No dia da inauguração, presentes os médicos Lucio Bakos, Gisela Del Pino, Humberto Ponzio. Ao fundo, o autor do texto, Antonio Carlos Bastos Gomes (foto cedida pelo Prof. Lucio Bakos)

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sua formação dermatológica no Rio de Janeiro.O referido local serviu como sala de aula do curso Equiparado de Dermatologia e Sifiligrafia ministra-do pelo Prof. José Gerbase e para parte dos estudan-tes do quarto ano médico da Faculdade de Medicina da UFRGS paralelamente à cadeira de Dermatolo-gia do Prof. Clóvis Bopp. Tal curso durou cerca de 25 anos. A sala também servia de local para as reuniões mensais da secção Sul-Rio-Grandense da Sociedade Brasileira de Dermatologia e do Departamento de Dermatologia da Amrigs.

Sua inauguração oficial com o novo nome ocor-reu em 15 de março de 1974, com a presença do homenageado que, na ocasião, proferiu a palestra

Prof. Gerbase (à esquerda) prestou homenagem ao seu mestre, Prof. Ramos e Silva (no centro)

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Notas históricas sobre a Dermatologia no Rio Grande do Sul

“Diagnóstico da Hanseníase”.A Sala Ramos e Silva permaneceu como local

de reuniões da SBD-RS até 1984, quando a 3ª en-fermaria foi desativada devido à reestruturação da Santa Casa.

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As Enfermarias de Dermatologia daSanta Casa de Misericórdia

de Porto Alegre

A Santa Casa de Porto Alegre, no século XX, contava com quatro enfermarias de Dermatologia: uma chefiada pelo Dr. Hugo Pinto Ribeiro, outra, a 3ª Enfermaria de Pele e Sífilis de Mulheres (Enfer-maria Caldas Júnior), pelo Prof. José Gerbase, a 6ª Enfermaria, pelo Prof. Ênio Candiota de Campos, como enfermaria-escola da Faculdade Católica de Medicina. A 5ª Enfermaria, sede de ensino da então Faculdade de Medicina de Porto Alegre, que mais tarde integrou-se à Universidade Federal do Rio Grande do Sul, teve como chefe o Prof. Carlos Leite. Em 1959 assumiu a chefia o Prof. Clóvis Bopp, que se tornou por concurso, Catedrático da Dermatolo-gia da Faculdade de Medicina da UFRGS.

A 5ª Enfermaria foi então inteiramente reforma-da. Criaram-se os departamentos de Dermatopato-logia (a cargo do Dr. Lucio Bakos), Micologia Mé-dica (Dr. Edison Vetoretto) e cirurgia dermatológica (Dr. Pedro Stefani Ferreira).

O atendimento às consultas era feito, a princí-pio, no ambulatório 20 pelo Dr. Raul Muller, sob a

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coordenação do Dr. César Bernardi. Posteriormente foi também anexado o ambulatório 30, cedido pelo Prof. Gerbase. O atendimento ali era feito pelo Dr. Luiz Fernando Bopp Muller. O atendimento na en-fermaria para os pacientes baixados era feito pelo Dr. Roberto Gervini, conjuntamente com os residen-tes do Serviço.

Cabe mencionar que também participaram des-sa fase da 5ª Enfermaria o Dr. Ênio Candiota de Campos, que posteriormente afastou-se para dirigir a cadeira de Dermatologia da Faculdade Católica de Medicina de Porto Alegre, então criada, e o Dr. Dietrich Frank. Depois, agregaram-se ao Serviço os Drs. Maria da Graça Busko, Humberto Ponzio e Joel Schwarz. Nessa enfermaria, foi criada a primeira re-sidência médica em Dermatologia no Estado, para a qual acorreram jovens médicos de todas as faculda-des médicas do Rio Grande do Sul e de outras partes do Brasil, sequiosos de aprendizado e especialização com o Prof. Clóvis Bopp. O Prof. Lucio Bakos trans-feriu-se para o Hospital de Clínicas, onde criou o Serviço de Dermatologia e alcançou o cargo de Prof. Titular.

A Faculdade Católica de Medicina, atual Univer-sidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, teve a chefia de sua unidade dermatológica assumida pelo Prof. Armin Bernhard, após o trágico e prema-

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turo falecimento do Prof. Ênio Campos, em 1974. Também organizou os serviços de residência com os professores Cláudio Bartelli, Walmor Bonetto, Irene Menezes e Erika Geyer.

As Enfermarias de Dermatologia da Santa Casa mantiveram-se até 1985 quando, com a reforma do hospital, deixaram de existir, encerrando seu ciclo

histórico.

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Breve História do Ambulatóriode Dermatologia Sanitária1

O início das atividades do Ambulatório de Dermatolo-gia Sanitária (ADS) da Se-cretaria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul, lo-calizado na cidade de Por-to Alegre, na Avenida João Pessoa, nº 1327, foi no ano de 1926.

O primeiro imóvel que sediou o ADS foi um ca-sarão antigo de alvenaria de dois andares, construído nos finais do século 19, cujas paredes internas eram de estuque com palha de coqueiro. Havia espaço para estacionamento de carruagens ao lado da casa. O prédio foi primeiramente alugado e, posterior-mente, adquirido pelo Estado em 1946.

Inicialmente conhecido como Serviço de Saú-de de Fronteiras, o atual ADS tinha como objetivo o tratamento de doenças venéreas. Havia controle

1 Dra. Letícia Maria Eidt, coordenadora de Ensino e Pesquisa e preceptora da Residência Médica do Ambulatório de Dermatolo-gia Sanitária

Primeira sede do ADS. Desenho foi criado a partir da memória da bioquímica Joice Valente, que trabalhou no prédio

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sanitário semanal para sífilis e gonorreia nos profis-sionais do sexo e seus contatos. No ADS realizava-se Gram de secreção endocervical e uretral. A Reação de Wassermann, para diagnóstico de Lues, era rea-lizada no antigo Laboratório do Departamento de Higiene do Rio Grande do Sul, posteriormente cha-mado de Instituto de Pesquisas Biológicas, também conhecido como LACEN (Laboratório Central).

A partir de 1938, tendo o controle da hanseníase passado para a responsabilidade dos órgãos gover-namentais, o ADS torna-se um Dispensário de Pro-filaxia da Lepra no Rio Grande do Sul, realizando o tratamento e acompanhamento de doentes isolados em domicílio, bem como sua profilaxia e o exame dos comunicantes.

Em 1954, com o fim do isolamento compulsó-rio dos doentes de lepra no Hospital Colônia Itapuã, conforme política nacional de término da internação obrigatória, o ADS tornou-se referência no atendi-

Placa da antiga Secção Doenças Venéreas. Foi resgatada do tele-entulho quando da demolição do antigo casarão pelo ex-bioquímico do ADS, Bruno Bertschinger

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mento desses doentes no Rio Grande do Sul, perma-necendo assim até os dias atuais. Cerca de 70% dos pacientes atendidos pela equipe de Hanseníase do ADS são provenientes da Grande Porto Alegre e do interior do Estado.

Em 1970, aconteceu a reorganização dos servi-ços de Dermatologia da Secretaria Estadual da Saú-de (SES), sob a chefia do Dr. César Bernardi, crian-do-se o Serviço de Dermatologia Sanitária no prédio da João Pessoa, nº 1327, que realizava as atividades de assistência médica, vigilância e administração.

Em 1976, houve a separação do serviço de aten-dimento clínico dos setores administrativo e de vi-gilância sanitária, tanto para a hanseníase quanto

Sede atual na Avenida João Pessoa

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para as doenças sexualmente transmissíveis. Os seto-res administrativo e de vigilância foram transferidos para o 18º andar do Edifício Fronteira (Av. Borges de Medeiros esquina Rua José Montauri) e após três anos para o 5º andar do Centro Administrativo do Estado, na Av. Borges de Medeiros, nº 1501. Já o atendimento clínico continuou na Av. João Pessoa. A partir de então, o Ambulatório passou a ser chamado e conhecido como é na atualidade: Ambulatório de Dermatologia Sanitária (ADS).

Esse veio a tornar-se um serviço de referência da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e da Organização Mundial de Saúde (OMS) em hanseníase, doenças sexualmente transmissíveis e, posteriormente, AIDS. Destacou-se pela adoção da informatização para o controle dos pacientes com hanseníase e seus contatos.

Em 1971, além de atender doenças venéreas e lepra, foram iniciados os atendimentos de Dermato-logia geral. O Dr. Antônio Harry Pacheco trabalhou por um ou dois meses e o Dr. Jair Ferreira foi o pri-meiro médico contratado para Dermatologia, em 18 de agosto desse ano. Outros nomes da época foram Dr. Breno Gasparri, Dr. Humberto Antônio Ponzio, Dra. Gisela Del Pino, Dr. Lucio Bakos, Dr. Luiz Fer-nando Bopp Muller, Dr. José Carlos Cale� Fauri e Dr. Roberto Lopes Gervini.

Em 1974, foi cedido ao Serviço de Dermatologia

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Sanitária um pavilhão desativado, junto ao Hospital Sanatório Partenon, onde foi criada a Unidade de Internação de Dermatologia Sanitária (UIDS), que começou a funcionar em março de 1975. Teve como primeiro e único diretor o Dr. Roberto Lopes Ger-vini. A UIDS tinha por finalidade internar casos de hanseníase com intercorrências clínicas, conforme determinava o decreto estadual nº 23.430, de 24 de outubro de 1974, no seu art. 20: “A hospitalização de pacientes de lepra será efetuada levando-se em conta formas graves da doença, intercorrências de outros estados mórbidos e condições socioeconômicas que não permitam o tratamento ambulatorial”.

Em 1975, coordenada pelo Dr. César Duílio Va-rejão Bernardi, tem início a primeira fase da resi-dência médica no ADS e na UIDS, que se manteve até o ano de 1987. O modelo da residência médica, conjugando atendimento ambulatorial e internação hospitalar, estava de acordo com a orientação vigen-te do Ministério da Educação para a formação de especialistas na área da Dermatologia.

Documento da então Secretaria de Saúde e do Meio Ambiente (SSMA), redigido pelo Dr. César Bernardi no início dos anos 80, refere que “duran-te mais de 50 anos (de 1926 a 1981), com diversas denominações, porém sempre com as mesmas ativi-dades básicas, essa unidade funcionou em um prédio

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adaptado, localizado à Av. João Pessoa, nº 1327. Esse prédio, construído em fins do século passado, foi ini-cialmente alugado e, posteriormente (1946), adquiri-do pelo Estado; embora tenha recebido diversas ben-feitorias, principalmente durante a década de 1970, atingiu tal grau de deterioração no início dos anos 80 que não houve outra solução senão desativá-lo em maio de 1981 e, posteriormente, demoli-lo”.

Portanto, em 1981, as atividades do Ambulatório de Dermatologia Sanitária (ADS) foram transferidas para uma casa alugada e adaptada, localizada à Rua Luiz Afonso, nº 234. Até setembro de 1990, esse foi o endereço do ADS, no Bairro Cidade Baixa – Porto Alegre. Na atualidade, é a sede do GAPA (Grupo de Apoio à Prevenção da AIDS).

Nesse local adaptado foram mantidos os aten-dimentos para pessoas com dermatoses de interesse sanitário, hanseníase e doenças sexualmente trans-missíveis (DST). No Serviço de DST, atuaram os pro-fissionais: Dr. Anis Kurban, Dr. Ronaldo Torresini e Dr. Jaime Luiz Pieta. O Programa Estadual de DST/AIDS teve suas atividades também no prédio, coor-denadas pelos profissionais: Dr. Antônio Gerbase, Dr. Mauro Cunha Ramos e a Dra. Nêmora Barcellos. Em 1986, o ADS inicia o atendimento aos pacientes de AIDS com a Dra. Célia Luiza Petersen Vitello Kalil.

De 1986 até meados de 1992, foi sendo orga-

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nizado um ambulatório de AIDS dentro da rotina do ADS. Além da Dra. Célia Kalil, participavam da equipe o Dr. Jair Ferreira, com seu domínio em estatística, e o Dr. Antônio Carlos Gerbase, que contribuía com seus conhecimentos em doenças se-xualmente transmissíveis (DST) e sua ligação com o Ministério da Saúde (MS) e Organização Mundial da Saúde (OMS).

Em 1987, com o fechamento da Unidade de Internação de Dermatologia Sanitária (UIDS) e de seus 16 leitos, tem fim a primeira fase da residência médica em Dermatologia do ADS e da UIDS.

Em dezembro de 1988, foi criado no ADS, o primeiro Centro de Orientação e Apoio Sorológico (COAS) do Brasil, através da iniciativa dos dermato-logistas Dr. Mauro Cunha Ramos, Dr. Jair Ferreira, Dr. Antônio Gerbase, Dra. Célia Kalil, Dra. Vera Bauer da Silveira e da psiquiatra Dra. Maria Cristi-na Torres. A proposta de atendimento aos pacientes soropositivos pelo vírus HIV serviu de modelo para sua implantação em outros Estados brasileiros.

Com os atendimentos sendo realizados no pré-dio provisório é que foi lançada a pedra fundamen-tal do atual (2017) prédio do ADS no terreno da Av. João Pessoa, nº 1327, em 1º de dezembro de 1988, no primeiro dia de Luta contra a AIDS.

O atual prédio do ADS foi inaugurado em 1º de

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outubro de 1990. a placa de inauguração encontra-se fixada na parede do setor de recepção do ADS. É uma placa de bronze, com dimensão de 34 cm x 25 cm, com os seguintes dizeres: “sendo governador do Estado o Dr. Sinval Guazzelli e da secretaria de Estado da Saúde e do Meio Ambiente, Dr. Nelson Carvalho de Nonohay, foi inaugurado a 01.10.1990 o prédio do Ambulatório de Dermatologia Sanitária em benefício da saúde da população gaúcha”.

Quando da inauguração, era Diretor do ADS o Dr. Marcos da Cunha Lopes Virmond, cirurgião plástico que atuava tanto no ADS quanto na UIDS, realizando pequenas cirurgias dermatológicas, tais como: ressecção de tumores benignos e malignos de pele, enxertos e tratamento de úlceras plantares.

Em julho de 1992, o Rio Grande do Sul foi o último estado brasileiro a adotar a Poliquimioterapia (PQT) como tratamento da hanseníase, tendo o ADS tornado-se o Centro de Referência de Poliquimiote-rapia para todo o nosso Estado. As responsáveis pelo Ambulatório de hanseníase, na época, eram Dra. Miriam Pargendler Peres, Dra. Miriam Janz Gutier-rez e Dra. Maria da Graça Busko.

No ano de 1997, em um momento de reorga-nização da Secretaria Estadual da Saúde, reinicia o Programa de Residência Médica em Dermatologia no ADS, com o apoio do Secretário da Saúde Dr.

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Germano Bonow e com a coordenação da Dra. Ce-cília Cassal e do ginecologista Dr. João Tadeu Cos-ta. O Programa de Residência tem credenciamentos com a Escola de Saúde Pública do RS, com o Minis-tério da Educação e Cultura e com a Sociedade Bra-sileira de Dermatologia, mantidos até os dias atuais (2017). Nomes que compunham a equipe de pre-ceptores desta segunda fase da Residência Médica de Dermatologia, além da Dra. Cecília Cassal: Dra. Cristiane Almeida Soares Cattani, Dra. Vera Lúcia Bauer Silveira, Dra. Letícia Maria Eidt, Dr. Sérgio Ivan Torres Dornelles, Dr. Milton Gorelik, Dr. Re-nan Rangel Bonamigo, Dr. Luís Carlos Elejalde de Campos, Dr. Gustavo Gonçalves Costa Pinto Correa e Dr. Antônio Joaquim Fernandes (cirurgião plástico, preceptor no bloco cirúrgico no Hospital Partenon).

Em 1999, foi criada a Residência Integrada em Saúde Multiprofissional (RIS – Multi) no ADS, atra-vés da portaria 16/1999 da Secretaria de Saúde do Estado do Rio Grande do Sul. Nesse ano tiveram origem a Residência em Enfermagem e em Psico-logia. Em 2003, a Residência de Serviço Social, em 2004, a de Nutrição e em 2015, a de Farmácia.

Convém ainda destacar que os Ambulatórios de Dermatologia Geral e Especializados que compõem o Serviço de Residência Médica do ADS são campo de estágio para alunos de internato de diferentes fa-

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culdades de Medicina e para residentes do Programa de Medicina de Família e Comunidade da Secretaria Estadual da Saúde (SES/RS), do Grupo Hospitalar Conceição (GHC) e do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). No Serviço de Hanseníase do ADS, além dos residentes do Ambulatório, são capacitados residentes de Programas de Residência Médica de Dermatologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), da Universidade Faculdade de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e do Complexo Hospitalar Santa Casa de Porto Alegre. Esses ambulatórios também são campo para coleta de dados de pesquisas de mestrado e dou-torado de diferentes Programas de Pós-Graduação de Universidades gaúchas.

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Notas históricas sobre a Dermatologia no Rio Grande do Sul

Referências

Ambulatório de Dermatologia Sanitária. Dispo-nível em: www.muhm.org.br. Acesso em 10/07/2014.

Bastos Gomes AC. A história da Dermatologia Gaúcha. Disponível em: http://www.sbdrs.org.br/historia. Acesso em 04/07/2014.

Bernardi CDV. Resumo histórico e das atividades do Ambulatório de Dermatologia Sanitária da Se-cretaria da Saúde e do Meio Ambiente do Rio Gran-de do Sul. Documento datilografado, 23/05/1983.

Decreto nº 7.481 de 14 de setembro de 1938. Re-gulamento do Departamento Estadual de Saúde do Estado do Rio Grande do Sul.

Decreto Estadual nº 23.430, de 24 de outubro de 1974. Aprova Regulamento que dispõe sobre a pro-moção, proteção e recuperação da Saúde Pública.

Eidt LM. Ambulatório de Dermatologia Sanitá-ria: uma história de assistência, ensino e superação. Boletim Trimestral da Sociedade Brasileira de Der-matologia – Secção RS. 2013;23(87):7.

Rio Grande do Sul. Secretaria da Saúde. Depar-tamento de Coordenação dos Hospitais Estaduais. Ambulatório de Dermatologia Sanitária. Recortes Históricos do Ambulatório de Dermatologia Sanitá-ria. Organizado por Letícia Maria Eidt. Porto Ale-gre, 2016. 178p. il. Disponível em: https://hospitai-sestaduais.blogspot.com.br

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Este livro foi impresso em Porto Alegre,no outono de 2017,

para Editora Bestiário,em papel o�white, Pólen Soft,

elaborado com fibras de eucalipto replantado.O miolo foi composto em Baskerville,

fonte desenhada em 1757por John Baskerville em Birmingham.

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