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Edificações: ampla sustentabilidade Otema sustentabilidade vem sendo alvo de estudos e pesquisas em volume crescente, principalmente na última década. O conceito de sustentabilidade hoje é encarado de forma mais ampla, de maneira a tratar o ambiente físico, o econômico e o social, de forma equilibrada. Porém, observa- se que, em edificações, a maior parte das pesquisas realizadas, mesmo as de cunho essencialmente tecnológico, não têm conseguido abordar a questão com a desejada abrangência. O presente artigo expressa uma reflexão sobre o vasto campo tecnológico da busca da sustentabilidade no edifício.Parte dos pressupostos de que o projeto é uma das peças-chave na articulação da referida busca e de que não dispomos de informações sobre sustentabilidade na edificação adequadamente tratadas e sistematizadas, prontas para a aplicação pelos projetistas. Parte também do reconhecimento de que, no Brasil,muitos esforços genuínos estão sendo despendidos na busca da sustentabilidade na edificação. Mas, assim como alguns resultados positivos relevantes vêm sendo efetivamente alcançados, percebe-se a ausência de um divisor comum, de uma matriz geral capaz de explicitar, entre os muitos elos das extensas cadeias produtivas que desembocam no edifício, os diversos pontos passíveis de melhorias quanto à sustentabilidade. Muitas vezes, o que hoje consideramos como "edifício sustentável" decorre de um entendimento apenas parcial do problema. Ainda que este breve trabalho pretenda abordar apenas questões inerentes à construção formal, precedida de projeto, cabe, de imediato, um comentário. É sabido que grande parte das áreas edificadas, pelo menos nas metrópoles brasileiras, são de cunho informal e, na maioria das vezes, não seguem um projeto.As opiniões variam, mas já houve quem afirmasse que 70% das construções, em São Paulo, são informais. Para trabalharmos na realidade atual cabe, pelo menos, ter a consciência de que deveremos também estender instrumentos de busca da sustentabilidade para os que constroem sem projeto formal, informando-os, na medida do possível, sobre os prejuízos ambientais que se associam à edificação. É desejável,por exemplo,que de alguma maneira, a informação de caráter técnico-ambiental chegue à obra irregular, seja por meio de folhetos, cartilhas e demais meios, seja pela incorporação, às embalagens de produtos de construção, de dados ambienartigo tais. Atacadistas e depósitos de materiais de construção seriam pontos de divulgação bastante favoráveis para esse tipo de informação. Sustentabilidade no edifício: algumas visões parciais O grande volume de informação que hoje circula faz chegar até nós tanto bons conhecimentos quanto afirmações imprecisas, incompletas ou até mesmo equivocadas. Aos poucos, conceitos parciais ou mesmo errôneos podem virar 09/11/2009 Revista Téchne revistatechne.com.br/…/imprime2289… 1/8

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Edificações: ampla sustentabilidade

Otema sustentabilidade vem sendo alvo de estudos e pesquisas em volumecrescente, principalmente na última década. O conceito de sustentabilidadehoje é encarado de forma mais ampla, de maneira a tratar o ambiente físico, oeconômico e o social, de forma equilibrada. Porém, observa- se que, emedificações, a maior parte das pesquisas realizadas, mesmo as de cunhoessencialmente tecnológico, não têm conseguido abordar a questão com adesejada abrangência.

O presente artigo expressa uma reflexão sobre o vasto campo tecnológico dabusca da sustentabilidade no edifício.Parte dos pressupostos de que o projetoé uma das peças-chave na articulação da referida busca e de que nãodispomos de informações sobre sustentabilidade na edificação adequadamentetratadas e sistematizadas, prontas para a aplicação pelos projetistas. Partetambém do reconhecimento de que, no Brasil,muitos esforços genuínos estãosendo despendidos na busca da sustentabilidade na edificação. Mas, assimcomo alguns resultados positivos relevantes vêm sendo efetivamentealcançados, percebe-se a ausência de um divisor comum, de uma matriz geralcapaz de explicitar, entre os muitos elos das extensas cadeias produtivas quedesembocam no edifício, os diversos pontos passíveis de melhorias quanto àsustentabilidade. Muitas vezes, o que hoje consideramos como "edifíciosustentável" decorre de um entendimento apenas parcial do problema.

Ainda que este breve trabalho pretenda abordar apenas questões inerentes àconstrução formal, precedida de projeto, cabe, de imediato, um comentário. Ésabido que grande parte das áreas edificadas, pelo menos nas metrópolesbrasileiras, são de cunho informal e, na maioria das vezes, não seguem umprojeto.As opiniões variam, mas já houve quem afirmasse que 70% dasconstruções, em São Paulo, são informais. Para trabalharmos na realidadeatual cabe, pelo menos, ter a consciência de que deveremos também estenderinstrumentos de busca da sustentabilidade para os que constroem sem projetoformal, informando-os, na medida do possível, sobre os prejuízos ambientaisque se associam à edificação. É desejável,por exemplo,que de alguma maneira,a informação de caráter técnico-ambiental chegue à obra irregular, seja pormeio de folhetos, cartilhas e demais meios, seja pela incorporação, àsembalagens de produtos de construção, de dados ambienartigo tais.Atacadistas e depósitos de materiais de construção seriam pontos dedivulgação bastante favoráveis para esse tipo de informação.

Sustentabilidade no edifício: algumas visões parciais

O grande volume de informação que hoje circula faz chegar até nós tanto bonsconhecimentos quanto afirmações imprecisas, incompletas ou até mesmoequivocadas. Aos poucos, conceitos parciais ou mesmo errôneos podem virar

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verdades absolutas para alguns, uma vez que leram alguma coisa a respeito nainternet ou em uma propaganda confundida com matéria técnica. No que dizrespeito a edificações e sustentabilidade, o fato é notório.Ainda que, noperíodo recente, alguns novos edifícios venham, de fato, incorporandorecursos nitidamente favoráveis à sustentabilidade, incluindo cuidadosambientais na construção, ou sistemas de economia de água ou de energiaelétrica, de utilização da água de chuva e de fontes alternativas de energia, oprocesso geral da produção do edifício continua envolvendo enormes prejuízosacumulados à natureza. Isso fica evidente se consideramos todas ascomplexas cadeias produtivas associadas à construção civil, que incluemdesde a extração de diversas matérias-primas, passando pela fabricação demateriais e componentes construtivos e estendendose por sua reunião noedifício. Ao longo de todo esse complexo processo, áreas às vezes distantesforam degradadas,muita energia foi gasta em produção e transporte, muitosefluentes danosos foram lançados e, não raro, alguma mão-de-obra passou poralgum tipo de utilização predatória.

Além desse primeiro desvio conceitual, hoje fortemente presente, há umasegunda variante de informação incompleta, que tem ganhado raízes, eredunda no conceito vigente de materiais naturais como materiaissustentáveis. Se uma casa é construída com madeira, tende automaticamentea ser denominada de sustentável ou ambientalmente correta, não importandose a madeira utilizada tenha sido utilizada, por exemplo, em São Paulo, vindado Pará, acumulando grande energia no transporte e, eventualmente,passando por algum tipo de imunização que pode envolver produtos prejudiciaisà saúde.Nessa óptica mais ampla, até mesmo alguma madeira certificada podefacilmente ser considerada como não sustentável. O mesmo se aplica acomponentes cerâmicos para alvenarias ou para coberturas, largamenteentendidos como materiais naturais, pois provêm do barro, esquecendo-se daenorme quantidade de energia gasta em sua produção e transporte, ou dascrateras nas regiões de extração de argila.

É sabido que a maior parte dos materiais e componentes utilizados naconstrução, entre diversos fatores desfavoráveis, do ponto de vista ambiental,demandam, entre outros insumos, grandes quantidades de energia para suaprodução (e gastar muita energia significa ter que produzi-la, o que envolve,via de regra, sérios prejuízos ambientais, mesmo em se tratando dehidrelétricas). Acumulamse, ainda, prejuízos nas áreas e regiões de extraçãodas matérias-primas, envolvendo desde a simples retirada de materiais - com aconseqüente criação de buracos em cavas ou túneis, a contaminação de solose de cursos d'água por efluentes industriais, a criação de pilhas de rejeitosetc. Esse fato, em parte, se repete nos processos de produção de algunsmateriais e componentes construtivos.

O cimento, a brita, o aço, o alumínio, o cobre, o latão, o vidro e oscomponentes cerâmicos, tradicionais constituintes do menu básico daconstrução, dão claros exemplos do ponto de vista do consumo de energia ede impactos ambientais.Mas se temos certa consciência dos prejuízos ànatureza associados à indústria de materiais e componentes de construção, étambém necessário admitir que não temos ainda sucedâneos convincentespara a maioria dos produtos mencionados e que, provavelmente, seu uso deveainda se prolongar por muito tempo.

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Não devemos, porém, de forma alguma, deixar de tentar compreender, emdetalhe, o que ocorre no macrocomplexo da construção civil, no que dizrespeito à sustentabilidade. Somente pesquisas abrangentes, com a leituradesapaixonada dos danos ambientais acumulados ao longo dos processosenvolvidos, podem encaminhar ações responsáveis e balizadas, a médio elongo prazo.Com certeza, estamos falando de trabalhos de longa duração, quepodem demandar esforços por extenso período, mas que devem ser iniciadosde imediato, para que esforços mais direcionados e consistentes passem apautar a genuína busca da sustentabilidade. Tais esforços devem abrangerdesde a origem dos materiais e componentes construtivos, passando pelaconcepção, construção, uso,manutenção e reforma do edifício e alcançandosua desativação e demolição, aí incluindo a destinação final do entulho ou suareciclagem.

Não se trata de guerra contra determinados produtos, com visão maniqueístaou de cunho meramente acadêmico nem, tampouco, da busca de maisentraves e regulamentações para o já onerado setor da construção deedifícios, nem da proposição de soluções fantasiosas, pois o desenvolvimentosustentável não deve negar os benefícios e conquistas que a tecnologia vemtrazendo para o conforto do homem. Trata-se aqui, isto sim, de tentarimaginar um mundo futuro onde ainda seja possível construir habitaçõesadequadas, onde o simples fato de morar não requeira tão grande prejuízo aoambiente, como um todo, como hoje ocorre.

A preocupação central é a de que não nos prendamos apenas a uma dasfacetas do problema. Se determinado edifício consegue economizarsignificativamente energia e água em seu funcionamento, não há dúvida quetrabalha a favor da sustentabilidade. Porém, não devemos nos esquecer detodo seu histórico anterior. A preocupação é a de que nos preocupemos, defato, com o meio ambiente, e não com "meio" ambiente.

A sustentabilidade do edifício exige estudos com ramificações bem maisprofundas que a do simples universo do próprio edifício e de seu entornoimediato.Mas assim como mencionamos distantes ramificações da genealogiados edifícios, pintando com cores fortes o quadro do desastre ambientalassociado, vale abordar, provisoriamente, alguns aspectos positivos dasconstatações apresentadas. Elas apontam que a busca da sustentabilidadedeve ser baseada, entre outros aspectos, em aperfeiçoamentos contínuos nascadeias produtivas envolvidas, com a melhoria do desempenho ambiental dosseus diversos elos. A identificação de disfunções, entre outros resultados,apontará alguns elos cujo aperfeiçoamento ambiental mostra-se comonecessário, convidando,a médio ou longo prazo, até mesmo o desenvolvimentode novos materiais ou componentes, com menores impactos associados. Massó com uma visão global, contemplando de forma completa a questão de ciclode vida, de macrocomplexo do setor de produção de edifícios, poderemostrabalhar na genuína busca da sustentabilidade no setor.

O que considerar, enfim, no projeto do edifício sustentável? Como já se disse,a sustentabilidade em edifícios, no Brasil, tem sido entendida, principalmente,de forma pouco sistêmica. Prevalecem, num panorama geral, trabalhos nadireção da economia de energia (e de fontes alternativas para sua obtenção),da economia de água e da captação e utilização de água de chuva, além de

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mecanismos de atenuação de impactos na fase da construção, principalmenteno gerenciamento de resíduos de obras. Além desses, há uma série deexpedientes utilizados em partes do edifício, tais como os telhados verdes edetalhes de concepção do edifício que propiciem melhor desempenho térmico,diminuindo a necessidade de condicionamento ativo de ar, com conseqüenteeconomia de energia, e assim por diante.

Alguns métodos de avaliação de sustentabilidade de projetos e de edifíciosestão também sendo desenvolvidos no País. Ainda que tenham, às vezes,inspiração em trabalhos estrangeiros, tais métodos têm, no geral, conseguidoobservar adequadamente as condicionantes específicas do Brasil, pelo menosno que diz respeito ao clima. Porém, guardam ainda uma complexidade deaplicação muito pronunciada, inviabilizando muitas vezes, na prática, suautilização pelos projetistas.

A falta de um instrumento balizador comum, capaz de melhor distribuir osesforços, na busca de melhores resultados na sustentabilidade levou o IPT adelinear uma primeira aproximação a um quadro geral da vida dos edifícios - daextração de matéria-prima à demolição, procurando possibilitar,preliminarmente, a identificação de pontos passíveis de atuação para melhorianas questões de sustentabilidade. Utilizando nomenclatura ainda provisória, oreferido quadro, apresentado na figura 1, considera que a materialização dosedifícios abrange duas principais vertentes de questões: as físicas e assituadas no plano das idéias, das informações.

Na figura 1, as etapas físicas são destacadas em quadros com borda azul e amovimentação (transporte) de produtos com linhas pretas. As atividadessituadas no plano das idéias, das informações, são destacadas em quadroscom borda verde e a circulação de informações com linhas amarelas.

Do ponto de vista físico, a composição e a vida do edifício abrangem asprincipais etapas a seguir. A extração e beneficiamento de matérias-primas (na figura 1 destacada comoFonte de Matéria-Prima) O transporte de matérias-primas (na figura 1 destacando setas com a letraT), diretamente à obra ou a atacadistas ou a lojas e depósitos de materiais deconstrução ou à Indústria de Materiais e Componentes A fabricação de materiais e de componentes (na figura 1, destacada comoIndústria) O transporte de materiais e componentes (na figura 1 destacando setas coma letra T), diretamente à obra ou a atacadistas (atacadistas, na figura 1) ouàs lojas e depósitos de materiais de construção (lojas/depósitos, na figura 1) A reunião de materiais e componentes num terreno (na figura 1 destacadacomo Obra) O uso, a manutenção e a eventual reforma do edifício (na figura 1 destacadoscomo Edifício), incluindo consumo de energia e de energéticos, consumo deágua, geração de efluentes líquidos e de lixo, eventual geração de entulhos emreformas etc. A demolição e a destinação do material demolição (na figura 1 destacadacomo Demolição) Do ponto de vista das informações, a produção do edifícioabrange, por excelência, a elaboração do projeto (na figura 1 destacada comoProjeto), para a qual se observam, pelo menos num plano ideal: A disponibilidade de materiais e componentes construtivos em condições

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técnicas e econômicas adequadas O atendimento a expectativas de desempenho do edifício associadas adiversos requisitos humanos, técnicos e econômicos O atendimento à legislação O atendimento às normas técnicas Ainda no que diz respeito à informação,raramente, no Brasil, dispõese de instrumentos de planejamento da produção,intermediários entre o projeto e a obra, com conseqüente prejuízo àsustentabilidade, potencializando- se perdas mais elevadas de materiais ecomponentes e gerando- se desnecessariamente entulho, e abrindo-se flancospara problemas de qualidade na construção. Introduz- se então, na figura 1, oque aqui denominamos, preliminarmente, de Projeto de produção, sugerindosua inclusão como instrumento específico, complementar ao projeto.

Se os principais impactos e disfunções se manifestam apenas na parte físicado processo, é na sua parte de informações que se definirão as principaiscaracterísticas do edifício quanto à sustentabilidade.O projeto é, enfim, oinstrumento crucial para os bons resultados.

Aportes e impactos nas principais etapas da vida do edifícioA informação é a matéria-prima para a elaboração do projeto. Se quisermosedifícios sustentáveis, devemos conhecer, seja pelos dados gerais ouespecíficos, seja por índices ou valores previamente calculados e definidos (oque seria mais desejável) os principais aportes e impactos associados àsprincipais etapas da vida do edifício. Utilizando- se a notação adotada nafigura 1, precisaríamos então conhecer os aportes e impactos associados.

Às fontes de matéria-prima Às indústrias de materiais e componentesÀs obras (à construção)Aos edifíciosÀs demolições

Entende-se aqui por aportes tudo o que alimenta a execução da atividadeprodutiva. São aportes típicos a água, a energia elétrica e os energéticos(combustíveis), a mão-de-obra, insumos e equipamentos diversos provenientesde outras cadeias produtivas (produtos químicos, maquinário entre outros),embalagens de insumos, entre outros. Note-se que, nos aportes podem se

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incluir produtos e equipamentos que,em estágios anteriores, já incluem algunsprejuízos ambientais para sua produção, que também devem ser consideradosnuma eventual classificação ou indexação. Por impactos, entende-se toda asérie de perturbações ambientais locais (e, às vezes, regionais) que seassociam ao processo, tais como a poluição do ar, a poluição sonora, apoluição de recursos hídricos, a supressão do capeamento vegetal e os danosà vegetação, a degradação do solo, a destinação de resíduos e embalagensetc.

Respeitadas as particularidades das etapas, mostra-se importante conhecer deforma mais precisa os aportes e impactos que se associam aos momentos jámencionados da vida do edifício, o que enseja a realização de pesquisasespecíficas. O conhecimento que hoje dispomos é fragmentado epredominantemente não sistematizado, quantificado ou indexado, o quedificulta sobremaneira sua ponderação na atividade do projeto.

Projeto, sustentabilidade, materiais e componentes Ainda que tenhamos uma noção, mesmo que imprecisa - e carente desistematização - dos aportes e impactos que se associam, às obras (deconstrução de edifícios), aos edifícios (durante o uso e a manutenção ou emreformas) e às demolições,enquanto atividades mais diretamente afeitas àconstrução civil, é extremamente vago o nosso conhecimento sobre osimpactos ambientais associados à obtenção dos diversos produtos queespecificamos no projeto para a construção, que se acumulam das jazidas àsobras. Nosso conhecimento não é suficiente, por exemplo, para optarmos porum entre dois materiais ou componentes similares, tendo por basepreocupações genuínas com a sustentabilidade.

Percebe-se então, inicialmente, a clara necessidade de se dispor de dadosmais precisos sobre materiais e componentes quanto à sustentabilidade, o que,a nosso ver, deve ensejar a realização de amplas pesquisas de âmbitonacional, que confluam na criação de um sistema nacional de informação eclassificação de materiais e componentes construtivos, indexando- os, paraaplicação ao projeto. Para materiais e componentes, além das análises deaportes e de impactos associados à produção, anteriormente mencionados,devem ser considerados, ainda, aspectos sobre a disponibilidade de seusconstituintes primários em jazidas, sobre a eventual renovabilidade das fontesde matéria-prima e de características e eventuais cuidados especiais para ouso em obra e o descarte. Passar-se-ia então à fase de classificação e/ouindexação dos materiais, permitindo, mais adiante, ao projetista, visualizar eponderar, no projeto, os impactos inerentes, como parte de processo maisamplo de análise de sustentabilidade do edifício. Um último fator para aavaliação de materiais e componentes, após a indexação, seria ditado por umaúltima variável - o transporte -, cuja inclusão deve ser referenciada àparticular localização do edifício a construir, a reformar ou a demolir.

Se os levantamentos propostos parecem extensos e intermináveis, nem porisso devemos deixar de fazêlos. Longe de constituírem tarefa para umainstituição de pesquisa isolada, devem resultar de trabalho contando cominúmeras instituições, no âmbito nacional. Além disso, algumas das informaçõesnecessárias já estão disponíveis, restando localizá-las e sistematizá- lasadequadamente. Imagina-se, ainda, que o aperfeiçoamento de um sistemanacional de classificação ou indexação de materiais e componentes

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construtivos quanto à sustentabilidade deva ser um processo lento mascontínuo, com a criação de uma base de dados cada vez mais aperfeiçoada econstantemente atualizada.

Avaliação de projetos quanto à sustentabilidade No projeto, na construção, nouso/manutenção/reforma e na demolição do edifício dispõe-se de muitosrecursos atenuantes de aportes e de impactos para favorecimento dasustentabilidade. Para avaliação de projetos, percebe-se a necessidade dedesenvolvimento de novos métodos de avaliação. Neste campo, o que se podedizer, pelo momento, é que os pesquisadores têm pela frente uma tarefabastante árdua: a de produzir um método de avaliação tão eficiente quantosimples.

Além de atender aos requisitos usuais de desempenho (segurança estrutural,segurança ao fogo, estanqueidade, conforto acústico, térmico e lumínico etc.)a concepção do edifício deve agora contemplar mecanismos de atenuaçãodireta ou indireta de impactos ambientais. Isto inclui a escolha de materiais ecomponentes menos impactantes (da extração de matéria-prima à deposiçãoenquanto entulho ou na destinação para reciclagem), e a agregação derecursos atenuantes de impactos, tais como a incorporação de cuidados deprojeto que, com economia de energia, permitam melhor controle datemperatura dos ambientes, da ventilação e da umidade, valorizando-se ossistemas passivos de condicionamento. O desempenho lumínico também devese mostrar favorável à economia de energia. Além disso, os edifícios devempassar a incorporar dispositivos que favoreçam o baixo consumo de água e/ouo aproveitamento da água de chuva para consumos específicos (como lavagemde pisos e descargas em vasos sanitários). Esperase também um desempenhoadequado quanto à salubridade (ambientes desfavoráveis à proliferação demofo e fungos, com revestimentos e pinturas que não propiciem vaporesquímicos perniciosos) e a crescente previsão de equipamentos para captaçãoe uso de formas alternativas de energia. Com o tempo, tais requisitos devemser incorporados à legislação e à normalização.

Os maiores entraves à desejável consolidação de método para avaliação deprojetos, de obras e de edifícios, quanto à sustentabilidade, residem naausência de informações sistematizadas e em certa complexidade de algunsdos aspectos a serem analisados.Muitas vezes esses fatores transcendem opróprio nível usual de conhecimento dos projetistas e acabam por requerer aatuação de especialistas. Como exemplo, vale mencionar a análise do prováveldesempenho, quanto ao conforto ambiental, de um edifício, em projeto.

Os maiores entraves à desejável consolidação de método para avaliação deprojetos, de obras e de edifícios, quanto à sustentabilidade, residem naausência de informações sistematizadas e em certa complexidade de algunsdos aspectos a serem analisados.Muitas vezes esses fatores transcendem opróprio nível usual de conhecimento dos projetistas e acabam por requerer aatuação de especialistas. Como exemplo, vale mencionar a análise do prováveldesempenho, quanto ao conforto ambiental, de um edifício, em projeto.

Um outro entrave à avaliação reside na dificuldade de se estabelecerponderações confiáveis e consistentes para as diversas questões desustentabilidade envolvidas no projeto. Um método eficaz deveria incluir taisponderações, com a associação de valores ou índices mais precisos, sem tanto

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espaço para a subjetividade, permitindo até mesmo a verificação facilitada doque a substituição de um material ou de um componente ou de um detalhe dearquitetura acarretaria. Em muitos casos essa verificação exigiria mecanismosmais complexos de processamento, contemplando o cruzamento deinformações. Exemplificando-se, a adoção de um sistema de aquecimento deágua com coletores solares e tanque de armazenamento, para ser avaliada eindexada num método, deve considerar alguns fatores hoje esquecidos.Inicialmente, devem ser computados os impactos associados à produção, quepodem envolver a extração de minérios, produção de alumínio, ferro (para oaço), cobre, vidro, a produção de chapas, tubos, lã de vidro e a fabricação dotanque e dos próprios coletores. Deve ser também incluído, de alguma forma, otransporte ao longo dos processos.No final deve ser possível avaliar acontribuição que efetivamente terá o sistema, apontando-se mais claramentea relação entre o custo ambiental do produto e seu retorno em economia deenergia.

Percebe-se que a complexidade do assunto transcende, em muito, aspossibilidades do projetista isolado e que só um aplicativo complexo, em seuinterior, mas com interface amigável para o usuário possibilitaria avaliações edecisões mais balizadas, pelo próprio projetista. A construção de tal aplicativo,capaz de avaliar os aspectos de sustentabilidade do edifício e que, a partir dopróprio projeto identifique o nível de sustentabilidade alcançado, por meio daqualidade e quantidade dos materiais e componentes adotados e daarquitetura assumida, é também tarefa de enorme porte, que exige aparticipação de muitas instituições mas, a nosso ver, deve ser realizada com amaior brevidade possível.

Envie artigo para: [email protected]. O texto não deve ultrapassar o limitede 15 mil caracteres (com espaço). Fotos devem ser encaminhadasseparadamente em JPG.

Flavio Farah arquitetoe-mail: [email protected]

Fulvio Vittorino engenheiro e-mail: [email protected]

Pesquisadores do Cetac (Centro Tecnológico do Ambiente Construído) do IPT(Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo)

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Sustentabilidade em obras de Aracaju

Este texto tem como objetivo avaliar a sustentabilidade, considerando-se as dimensõeseconômicas, sociais e ambientais de uma obra de condomínio vertical, com finsresidenciais, em alvenaria estrutural, tipologia executada com frequencia em Aracaju parao público com renda de até cinco salários mínimos, pelos diversos tipos de financiamentoda Caixa Econômica Federal.

O levantamento de informações foi realizado pelo acompanhamento da obra no períodode janeiro de 2007 a janeiro de 2008; entrevistas semiestruturadas; e observaçõessimples e sistemáticas, com o uso de formulários. A análise e interpretação dosresultados de ações sustentáveis desenvolvidas no empreendimento foram feitas pormeio da comparação das informações levantadas na obra com as pesquisadas naliteratura.

Obra sustentável

Baseado nas sugestões de Cardoso (2006) para avaliação de sustentabilidade deedifícios, as recomendações analisadas neste trabalho para execução de obrasustentável adotam os critérios ambientais, sociais e gerenciais. Observa-se, no entanto,que as diretrizes gerenciais estão fortemente ligadas às outras duas, sendo o suportepara que as ações planejadas sejam realizadas e acompanhadas.

Patrícia Menezes CarvalhoMsc. em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Departamento

de Engenharia Civil da Universidade Federal [email protected]

José Daltro FilhoDr. em Hidráulica/Saneamento, Departamento de

Engenharia Civil da Universidade Federal de [email protected]

Débora de Góis SantosDra. em Engenharia de Produção, Departamento deEngenharia Civil da Universidade Federal de Sergipe

[email protected]

As recomendações ambientais para o processo produtivo desenvolvido no canteiro deobra estão baseadas nos três R's: reduzir, reutilizar e reciclar. Como preocupaçõesambientais quanto ao canteiro de obra, podem ser citados redução da geração deresíduos do canteiro, gerenciamento dos resíduos do canteiro, valorização da reciclagem

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e reúso, limitação dos incômodos e poluições causadas pelo canteiro, bem como limitaçãodo consumo de recursos demandados (água e energia) (Cardoso, 2006). O planejamentoda obra e a redução de perdas de materiais também são fatores imprescindíveis para aredução dos impactos ambientais do canteiro de obra.

Para a minimização dos impactos sociais do canteiro de obra, algumas ações sãoprevistas, como: melhoria das condições de hospedagem e alimentação nos canteiros deobras, segurança do trabalho e treinamento dos trabalhadores (Moretti, 2005);reparação imediata de danos causados ao bem comum, como calçadas e vias decirculação de veículos; cuidados para evitar a perfuração de redes enterradas e paraimpedir que as rodas de máquinas e equipamentos sujem as vias externas; fornecimentode equipamentos de proteção adequados ao trabalhador; e busca pela diminuição deincômodos à vizinhança por ruídos, vibrações e poluição do ar (Araújo & Cardoso, 2007).

As preocupações gerenciais no canteiro de obra podem ser tratadas com a criação deinstrumentos gerenciais que minimizem os impactos ambientais, sociais, bem comoeconômicos (Cardoso, 2006). Assim, são escolhidos critérios de sustentabilidade quedevem ser alcançados pela implementação de ferramentas de gestão.

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O SGQ (Sistema de Gestão pela Qualidade), com base nos requisitos do PBQP-H(Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat) e da NBR ISO 9001, bemcomo o gerenciamento de resíduos, também podem ser disseminadores das açõessustentáveis no canteiro de obra.

Características das empresas e obras pesquisadas

O empreendimento pesquisado é composto por 24 prédios, com quatro pavimentos e 16apartamentos cada, além de salão de festas, parque infantil, quadra de esportes, casade lixo, guarita, vagas de garagem, estacionamento para visitantes e infraestruturainterna completa, totalizando uma área construída de 23.290,47 m2, tendo sidoconstruído por duas empresas construtoras, com canteiros independentes (Carvalho,2008).

As principais características das empresas, denominadas pelas letras "A" e "B", estãoapresentadas no quadro 1.

Os processos produtivos desenvolvidos nos canteiros de obras, de acordo com as etapasda obra, e os principais materiais especificados e empregados na execução da obra sãodescritos no quadro 2.

Redução, reutilização e reciclagem de RCC nos dois canteiros de obraspesquisados

O projeto de gerenciamento de resíduos da construção civil (PGRCC) foi elaborado, deacordo com a Resolução Conama 307/02 (Brasil, 2002), para todo o empreendimento eapresentado à Adema (Administração Estadual do Meio Ambiente). (figuras 1 a 4.)

Elaboração de procedimento de execução de serviço, cuidados na seleção de pessoalpara a obra, treinamento dos envolvidos, e acompanhamento dos serviços, por meio deformulário de verificação de serviço, foram as ações citadas pelas empresas para a nãogeração e redução da geração de RCC. Além dessas iniciativas, verificou-se que uso deescoramento metálico; uso de bisnaga para argamassa na execução da alvenaria; uso debloco com furação vertical permitindo a passagem de tubulação; cuidados com oarmazenamento dos materiais; e recebimento de aço já cortado e dobrado tambémcontribuíram.

Observou-se que as ferramentas utilizadas serviram para a elaboração do cronogramafísico-financeiro e para o acompanhamento de faturas, não cumprindo seu papel deplanejar a programação de serviços, de forma que respeitasse as antecedências eprecedências de atividades. Tal fato pode ser exemplificado pelas eventuais faltas dematerial na obra (bloco cerâmico, gesso e placa de revestimento cerâmico) e pelaexecução de revestimento interno em gesso nos apartamentos, sem ter sido realizado ochapisco externo e a cobertura do prédio, provocando infiltração e a necessidade derealização de retrabalho, resultando em perdas de material.

O SGQ não foi efetivamente aplicado no canteiro "B" e, no "A", o mesmo foiimplementado, contribuindo para o controle de materiais e serviços, porém ainda não foirealizado de forma sistêmica. Essas carências de planejamento e de efetivação do SGQcontribuíram para os resultados dos índices de geração de resíduo por metro quadrado,apresentados na tabela 1.

Esses valores também podem ser comparados com o adotado por Pinto (1999), de 150kg/m2 para edificações executadas por processos convencionais, com os valores

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levantados por Pucci (2006), em duas obras da mesma construtora, executadas em SãoPaulo, sendo prédios residenciais multifamiliares de alto padrão, um, com 20 pavimentos(5.453 m2), aplicando plano de gestão de resíduos, gerou 156,70 kg/m2 e o outro, com16 pavimentos (4.307 m2), sem aplicar a gestão de resíduos, gerou 238,50 kg/m2. Acomparação faz-se também com os levantamentos de Silva & Simões (2007) em trêscanteiros de obra de pequeno porte, no setor comercial, industrial e de reforma, ondeforam implantadas as recomendações da Resolução Conama, obtendo 95,20 kg/m2,100,50 kg/m2 e 684,00 kg/m2, respectivamente.

A reutilização de RCC, acompanhada durante a execução da obra pesquisada, foireferente a fôrmas de madeira para as lajes dos diversos blocos; uso do resíduo classe Acomo aterro das vias do condomínio, apesar da necessidade de retirada de parte dessematerial quando do nivelamento das vias para a pavimentação; reutilização de materialproveniente de escavação; reutilização de placas cerâmicas para marcação do nível derevestimento; reutilização de embalagens de tinta, saco de cimento e pó de serra para avedação de fôrma e passagem de tubulações, respectivamente, na execução de lajes;reutilização de saco de cimento também para armazenamento de peças pré-moldadasnas obras; sacaria em geral (cimento e gesso). Madeira e pó de serra segregados apenasno canteiro da empresa "A" foram reutilizados como fonte energética nos fornos de umacerâmica.

A reciclagem de RCC, que foi verificada, refere-se aos resíduos de papelão, plástico emetal, que foram segregados apenas no canteiro da empresa "A" e doados à Care(Cooperativa dos Agentes Autônomos de Reciclagem de Aracaju).

O volume de resíduos classe B, provenientes do canteiro "A", reutilizado ou reciclado foi

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de 31.101,30 kg, de um total de 2.811.950,90 kg de resíduos gerados, sendo, portanto,1,11% do resíduo gerado no canteiro "A" destinado para reutilização ou reciclagem. Essevalor é inferior ao de 6,9% apresentado por Daltro Filho et al. (2005) como o percentualde resíduo classe B gerado em canteiros de obras de empresa de médio porte emAracaju.

Foi verificado que o baixo índice de reutilização e reciclagem externas aponta para odesperdício da oportunidade de contribuição dos canteiros "A" e "B" com a melhoriaambiental da cidade.

Sendo assim, constatou-se que a elaboração do PGRCC pouco contribuiu para a nãogeração, redução da geração e reutilização de resíduos nos canteiros de obraspesquisados. Com relação à reciclagem, o PGRCC trouxe informações que foram seguidaspelo canteiro "A".

Sustentabilidade da obra pesquisada

Com relação à fase inicial, cita-se a característica positiva de localização cominfraestrutura, porém precisa ser avaliado o benefício da diminuição do valor da taxa decondomínio à custa do elevado número de edifícios que foi implantado, inclusive fora dopadrão normal da Caixa de 12 blocos. Há de se considerar, também, a realização dotrabalho social promovido pela Caixa com os futuros condôminos, preparando-os para aconvivência em grupo, podendo gerar uma melhor qualidade de vida dos usuários. Outrofator a ser ressaltado é a impossibilidade de adaptação futura de layout, uma vez que asparedes dos apartamentos fazem parte da estrutura do prédio, não podendo sermodificadas.

Além disso, o projeto arquitetônico precisa atender às exigências internas da Caixa e dalegislação municipal. Com relação ao uso eficiente de energia, foram citadas pelaarquiteta e pelas construtoras ações implementadas, como aproveitamento máximo dailuminação e ventilação naturais e uso de cores claras nas fachadas. Para o uso eficienteda água, as iniciativas mais significativas foram o uso de medidor individual de água,apesar de o gás ser único para cada três prédios, e a disponibilização de poço artesianocom bomba para regar gramas e árvores.

A qualidade ambiental, interna e externa, foi promovida pela elaboração de projeto depaisagismo, sendo exigido pela Caixa o índice de uma árvore para cada seis unidadeshabitacionais e grama na parte frontal dos prédios; previsão de local para a coletaseletiva a ser efetivada pelos usuários; elaboração do projeto de gerenciamento de RCC;previsão de áreas comuns, como quadra de esportes, salão de festas e parque infantil;promoção de segurança por guarita e cerca elétrica; previsão de rampas e banheiro paradeficientes nas áreas de uso comum e vagas de garagem para visitantes; opções deplanta com dois ou três quartos; e entrega do Manual do Proprietário.

Para a fase de execução da obra, as recomendações ambientais de reduzir, reutilizar ereciclar, além das ligadas ao gerenciamento de RCC, já apresentadas, ressaltam que asempresas pesquisadas não possuem objetivos estratégicos ou projetos específicos parainclusão de critérios de sustentabilidade na execução de suas obras e na gestão doscanteiros de obras.

As ações sociais que podem contribuir para a sustentabilidade das obras, citadas pelasempresas, foram: preferência pela contratação de serviços e materiais a fornecedoresformais; uso de cadastro das concessionárias para evitar a perfuração de redesexistentes; execução dos serviços mais incômodos durante o horário normal de trabalho,

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apesar de não terem sido desenvolvidas ações mais efetivas para a diminuição doincômodo à vizinhança; cuidados e atendimento à legislação sobre segurança do trabalhoe desenvolvimento de treinamentos, sendo esse último aspecto mais desenvolvido eestruturado no canteiro "A".

A comparação das ações, levantadas na literatura e as efetivadas no empreendimentopesquisado mostra que muito ficou por se fazer para a conquista da construçãosustentável, apesar de os dois empresários e a arquiteta ratificarem a ideia de existênciade mercado para esse tipo de obra. Na visão deles, o caminho para a sustentabilidade naconstrução popular passa pelo dever de não repassar para o cliente o aumento do custoda obra sustentável. Isso pode ser conseguido por subsídios temporários do GovernoFederal, de forma que os materiais e produtos sustentáveis comecem a ser produzidosem série e tenham condições de se adequarem ao preço daqueles usados atualmente.

Conclusão

Para os dois canteiros de obras pesquisados em Aracaju, desenvolvidos por empresas demédio porte e possuidoras de certificação de sistema de gestão pela qualidade, PBQP-H,verificouse que a elaboração do projeto de gerenciamento de RCC da obra e a existênciado SGQ nas empresas não foram suficientes para atender às exigências da ResoluçãoConama 307/02 e aos critérios ambientais da sustentabilidade.

Os canteiros pesquisados geraram RCC em excesso numa cidade com opções restritas dedestinação, reforçando a conclusão da contribuição dos canteiros pesquisados paraexistência de bota-fora e aterros sem autorização.

Em suma, pode-se concluir que os canteiros pesquisados não atenderam aos critériosambientais, sociais e gerenciais de sustentabilidade e que o caminho para que se alcanceesse objetivo, em Aracaju, ainda é longo, sendo necessárias ações integradas dosenvolvidos com o setor produtivo, sociedade, setor público e de pesquisa.

Leia Mais

Diretrizes para Gestão Ambiental em Canteiros de Obras. In: V Simpósio Brasileiro deGestão e Economia da Construção, 2007, Campinas, SP. Araújo V. M. & Cardoso F.F. Anais do V Simpósio Brasileiro de Gestão e Economia da Construção, 2007, CD-ROM.Resolução Conama 307. Brasil. 2002. Dispõe sobre gestão dos resíduos daconstrução civil. Disponível na internet em www.mma.gov.br.Redução de Impactos Ambientais dos Canteiros de Obras: Exigências dasMetodologias de Avaliação e Sustentabilidadede Edifícios. In: XI Encontro Nacionalde Tecnologia no Ambiente Construído, 2006, Florianópolis, SC. Cardoso, F. F. Anaisdo XI Encontro Nacional de Tecnologia no Ambiente Construído, 2006, p. 3560-3569.Gerenciamento de Resíduos de Construção Civil e Sustentabilidade em Canteiros deObras de Aracaju. Carvalho, P. M. São Cristóvão (SE): Universidade Federal deSergipe, 2008. 178 p. Dissertação de Mestrado.Perfil Sócio-econômico do Setor da Construção Civil no Brasil. CBIC (CâmaraBrasileira da Indústria da Construção). Belo Horizonte: Comissão de Economia eEstatística da Câmara Brasileira da Indústria da Construção.www.cbicdados.com.br/files/ textos/016.pdf. 10 nov. 2007.Resíduos Sólidos da Construção Civil em Aracaju: Diagnóstico. Daltro Filho, J. et al.Aracaju: Sinduscon/SE, Projeto Competir-Sebrae/Senai/GTZ, Emsurb, Sema, 2005.

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CD-ROM.O Advento das Construções Sustentáveis. In: Laporta, M. Z. et al. (org). Espinoza,F. et al. Gestão de resíduos sólidos: dilemas atuais, Santo André: CentroUniversitário Fundação Santo André, 2006, p. 36 - 39.Reciclagem de Resíduos na Construção Civil: Contribuição para Cetodologia dePesquisa e Desenvolvimento. John, V. M. São Paulo: Departamento de Engenharia deConstrução Civil, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 2000. 113p. TeseLivre Docência.Habitação Popular e Sustentabilidade. Moretti, R. de S. Revista Téchne, São Paulo,no 95, p. 44-47, 2005. Metodologia para Gestão Diferenciada de Resíduos Sólidos daConstrução Urbana. Pinto, T. De P. São Paulo: Escola Politécnica da Universidade deSão Paulo, 1999. 189 p. Tese Doutorado.Logística de Resíduos da Construção Civil atendendo à Resolução Conama 307.Pucci, R. B. São Paulo: Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 2006. 137p. Dissertação Mestrado.Avaliação do Gerenciamento de Resíduos na Construção Civil de Acordo com aResolução Conama no 307/02. Silva, A. F. F. & Simões, G. F In: 24o CongressoBrasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, 2007, Belo Horizonte, MG. Anais do24o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental - III-297, 2007, CD-ROM.

Envie artigo para: [email protected]. O texto não deve ultrapassar o limite de 15 mil caracteres (com

espaço). Fotos devem ser encaminhadas separadamente em JPG

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Telhados verdes

Coberturas verdes projetadas no Brasil oferecem sistemas diferenciados paraproporcionar conforto térmico colaborando com o meio ambiente

Renata D'Elia

Na era do aquecimento global, em que o planeta corre sérios riscos ambientais, nada maisacertado do que investir no uso de tecnologias sustentáveis, principalmente na construçãocivil. Criados na Alemanha, os telhados verdes ganharam espaço em toda a Europa a partirda década de 1960 e viraram sinônimo de requinte e bem-estar no topo de cidades comoNova York. Aliando paisagismo à redução das temperaturas internas das edificações, osgreen roofs - também conhecidos como telhados vivos - podem ajudar a controlar o efeitoestufa, melhorar a qualidade do ar por meio da fotossíntese, reduzir o escoamento deáguas pluviais para as vias públicas e atenuar efeitos dos bolsões de calor das metrópoles.

Para o arquiteto alemão Jörg Spangenberg, doutorando pela Bauhaus em convênio com aUSP (Universidade de São Paulo), o custo- benefício da solução compensa. De acordo comsua pesquisa aplicada no Laboratório de Conforto Ambiental e Eficiência Energética daFaculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, a utilização em larga escala dos telhadosverdes poderia reduzir 1oC ou 2oC a temperatura nas grandes cidades. "O cálculo depende

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da direção e intensidade do vento, entre outros fatores. Mas essa redução já é suficientepara impactar na qualidade de vida da população e das pessoas que habitam essesambientes", afirma.

Segundo Spangenberg, a redução da temperatura da superfície das lajes após a instalaçãodas coberturas diminui cerca de 15°C, o que influencia na sensação de conforto térmicodos ambientes. A diferença também é sentida no consumo de energia elétrica. Dependendodo tipo de telhado, capacidade de área, vegetação utilizada e do sombreamento, estima-seque, no andar de cobertura, a redução da carga térmica para o condicionador de ar seja deaproximadamente 240 kWh/m², proporcionado pela evapotranspiração.

No Brasil, embora a oferta específica de tecnologias tenha aumentado na última década,existem ainda poucas opções no mercado. "No Brasil, a solução precisa ainda serpopularizada. Creio que as prefeituras devam pensar em estratégias de incentivo", dizSpangenberg. A busca pelas certificações LEED (Leadership in Energy and EnvironmentalDesign), concedida para edifícios sustentáveis, deve aumentar expressivamente essademanda. De olho nesse mercado, empresas especializadas oferecem coberturas verdesinteligentes e adequadas para diferentes tipos de lajes e estruturas.

Biotelhado PremiumA instalação do Biotelhado Premium consiste em encaixar os módulos já montados eplantados na superfície da laje. Acompanhe as etapas

1- Grelhas de drenagem

2- Instalação dos módulos de grama

3- Biotelhado recém-instalado

4- Biotelhado após dois meses

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Sistema Alveolar EcotelhadoAs fotos ao lado mostram a visão geral do sistema desmontado, antes da instalação, comcada uma das camadas do módulo:

1- Membrana Ecotelhado antirraízes (preta200 micras)2- Membrana Alveolar Ecotelhado (2 cm)para drenagem e retenção de água3- Membrana Filtrante Ecotelhado4- Módulo Ecotelhado (8 cm) que evitaerosão, a compactação e aeração5- Substrato Leve Ecotelhado (1 cm ou mais,dependendo da análise)

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1- O primeiro passo é colocara membrana de retençãosobre a membrana antirraízes

2- A seguir, vemos acolocação da membrana deretenção

3- A membrana alveolar écortada e aplicada

4- Ecotelhado recém-colocadoem Niterói (RJ)

Vantagens ecuidados especiaisPara o arquiteto Fred Seigneur, consultor em conforto ambiental, as coberturas verdespodem garantir a longevidade das camadas de impermeabilização, contanto que hajacuidados especiais nessa etapa da implantação. A proteção pode ser feita com manta dePEAD (polietileno de alta densidade), cimento polimérico ou manta geotêxtil, para citaralguns exemplos. E, ao contrário do que se imagina, a solução pode funcionar comocamada de isolamento, prevenindo o rompimento da impermeabilização ao se eliminarem osefeitos destrutivos da constante dilatação e contração das superfícies, dadas as mudançasde temperatura e à insolação.

Mas para que a água da chuva não se acumule, provocando infiltrações,transbordamentos, trincas estruturais ou até o colapso da estrutura, a resistência da lajedeve ser equivalente ao acúmulo de água e ao peso total da cobertura verde, incluindo osubstrato das plantas e o sistema de drenagem. De acordo com Seigneur, as estruturassubjacentes, como vigas e pilares, também precisam ser estudadas em edifícios tanto emfase de projeto quanto de reformas, respeitando a sobrecarga a ser acrescentada à laje decobertura e ao sistema específico que se pretende inserir, providenciando-se reforçoestrutural caso necessário.

Telhados verdes podem ser extensivos ou intensivos. Os extensivos são mais leves, comespessura do substrato de 5 cm a 15 cm. De manutenção mais baixa, são compostos deespécies vegetais herbáceas e gramíneas, na maioria dos casos. De acordo com a Igra(International Green Roof Association), a sobrecarga total da cobertura pode variar de 60kgf a 150 kgf/m2. Já os intensivos funcionam como jardins suspensos. São coberturas maispesadas, cuja espessura do substrato fica entre 15 cm e 50 cm, em que se utilizam plantasgramíneas, arbustivas e arbóreas. Nesse caso, a Igra recomenda que a sobrecargaconsiderada se situe entre 180 kg/m2 e 500 kg/m2, incluindo o sistema saturado de água.

"O sistema de drenagem pode ser diferente de acordo com o porte da vegetação", afirma

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Adriana Brito, arquiteta do Laboratório de Componentes e Sistemas Construtivos do IPT(Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo). Segundo ela, o mecanismode drenagem, em contato com o substrato, onde os vegetais se desenvolvem, deve filtrara água e promover a aeração do sistema. Também deve funcionar como barreira mecânicaàs raízes e escoar a água através das instalações de águas pluviais do edifício, sempre deacordo com as normas vigentes.

Sistemas diferenciadosSistemas modulares, alveolares, laminares e projetos especiais fazem parte do hall detecnologias mais modernas de coberturas verdes disponíveis no mercado. Duas dasprincipais empresas do ramo - a Ecotelhado, de Porto Alegre (mas com representantes emvárias cidades brasileiras), e o Instituto Cidade Jardim, de Itu (SP) - já realizaram centenasde obras e oferecem opções customizadas para diferentes edifícios.

Um desses sistemas é o Biotelhado I Cidade Jardim, sistema modular composto por materialbiodegradável, que pode ser usado em coberturas planas ou inclinadas. A versão Premiumdo produto conta com reservatório interno de água, implicando menor necessidade deirrigação para manutenção, com peso saturado de 80 kg/m2, dimensões de 0,40 m x 0,50 mx 0,05 m e capacidade de armazenamento de 16 l/m2 por módulo. Segundo o engenheiroagrônomo Sérgio Rocha, diretor do Instituto Cidade Jardim, o reservatório internodisponibiliza o dobro da água que um sistema similar sem reservatório consegue manter,eliminando a necessidade de irrigação complementar durante os meses de seca(estimativas aplicáveis à região Sudeste).

Rocha diz que os módulos são fabricados com fibra de coco, que se decompõenaturalmente após a instalação e se incorpora ao substrato de baixo teor orgânico, ondeas mudas são plantadas. As espécies disponíveis são as suculentas herbáceas do tipoforração, que não formam raízes lenhosas, consomem pouca água, não precisam de podase demandam pouca adubação complementar. As plantas não podem ser pisadas. O preçodo produto é de R$ 173,13/m2, mais os custos de instalação."O Biotelhado garante oferta de água reservada durante até 44 dias nos meses de inverno,considerandose estimativas da região Sudeste. Algumas plantas suculentas suportam até88 dias sem irrigação. Essas ocasiões são raras, por isso praticamente não há necessidadede irrigação artificial", diz Sérgio Rocha. Em regiões áridas, como Brasília (com mais decinco meses consecutivos sem chuva), irão sempre demandar irrigação complementar edevem receber orientações específicas. A manutenção recomendada pelo Cidade Jardimdeve ocorrer a cada seis meses e inclui adubação de reforço, retirada de eventuais plantasinvasoras, e limpeza das caixas de drenagem. O custo da visita em São Paulo é de cercade R$ 1.500 para cada 100 m2 de Biotelhado.

A empresa trabalha também com projetos especiais de coberturas intensivas. Nesse caso,Rocha afirma que é possível utilizar praticamente qualquer tipo de planta. "Podemostrabalhar tanto com uma maior diversidade de plantas suculentas, se o objetivo forestética e baixa manutenção, como também com um gramado, e praticamente qualquerárvore ou arbusto. Tudo depende do objetivo de uso e do quanto o cliente quer investir emseu telhado", esclarece. O volume de substrato é maior e as plantas são mais pesadas, porisso é preciso definir caso a caso qual será a sobrecarga e então pensar nodimensionamento estrutural necessário para esses projetos.

Tanto nos projetos especiais quanto na instalação dos módulos de Biotelhado, Rochaenfatiza cuidados para evitar a compactação do substrato, e assim evitar a formação depontos alagados ou lamacentos no telhado. "Devemos manter o substrato elevado,afastado da estrutura base. Por isso os sistemas possuem espaço livre para escoamento

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interno da água, bem como um fluxo constante de ar para a aeração do sistema." Quandose tratarem de arbóreas, com raízes lenhosas, será necessário avaliar a necessidade deutilização de uma membrana antirraízes sem herbicidas sintéticos, que comprometem aqualidade da água efluente do telhado. "Caso se deseje um jardim suspenso com espécieslenhosas, optamos pela utilização de uma camada de proteção mecânica contra raízes -utilizamos chapas metálicas ou plásticas, dependendo da agressividade da planta e da suavelocidade de crescimento", explica o agrônomo.

Sistema Modular BiotelhadoAs fotos detalham sequência de instalação de um jardim suspenso, uma coberturaintensiva. Os projetos de telhados verdes intensivos são mais complexos e costumam serplanejados com exclusividade.

1- Impermeabilização e proteção mecânica

2- Elementos de drenagem

3- Camada de filtragem e separação

4- Caixa de proteção para drenos

5- Substrato de argila expandida

6- Bordas de drenagem com acabamento empedra São Tomé

7- Plantio de mudas "in loco"

8- Mudas recém-plantadas

9- Jardim suspenso com seis meses apósplantio

10- Jardim suspenso um ano após plantio

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Sistema Laminar Ecotelhado1- Os módulos de piso elevado são colocados sobre laje impermeabilizada

2- Em seguida, a membrana de retenção é colocada

3- Colocação de substrato leve fibroso

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4- Leivas de grama sãoencaixadas

5- Detalhe da lâmina de águasubterrânea com dreno lateral

6- Sistema instalado. A fotocompara o sistema laminar e olote testemunha após 30 diasde seca

7- Sistema recém-colocadonuma residência em PortoAlegre (RS)

Reúso de águaOs módulos 1 são posicionados sobre a lajeimpermeabilizada com os vasos para baixo, edepois cobertos com uma manta que ossepara das raízes, sobre a qual se dispõeuma camada de substrato fibroso 2 . Ali seplanta a grama. Porosos, eles são feitos deum material rígido que retém a umidade e osnutrientes e permite a passagem da água.Regulada por um ladrão 3 , a lâmina de águamantém-se em 4 cm. Para facilitar amanutenção, que deve ocorrer duas vezes aoano, o ralo sifonado fica dentro de uma caixade inspeção 4 . A água dos chuveiros e daspias é filtrada num reservatório e entãobombeada até o telhado para a rega dagrama, responsável por uma nova filtragem.Então, escoa para o sistema laminar, que aredireciona para as descargas.

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Colocação de bordas de acabamento com pedrasSão Tomé e jardim suspenso com forração herbácea

Alvéolos e lâminasA Ecotelhado, por sua vez, apresenta comodiferenciais os sistemas alveolar e laminar.Segundo um dos sócios da empresa, oengenheiro agrônomo João Manuel Lick Feijó,o valor do investimento nos produtos vai deR$ 90,00 a R$ 160,00/m2, dependendo dacomplexidade do paisagismo a ser adotado,sem contar o plantio de leivas em grama,forração e instalação. A empresa fornece serviços de manutenção e oferece orientaçãoespecífica sobre a irrigação em caso de seca prolongada.

O sistema alveolar também consiste em módulos, com dimensões externas de 70 cm decomprimento x 35 cm de largura e 7 cm de espessura, subdivididos em oito compartimentosde 11 cm x 11 cm e 4 cm de profundidade. Feitos de resíduos de EVA (etil vinil acetato)moídos e aglutinados com cimento, são preenchidos com substrato nutritivo e funcionamcomo um xaxim artificial. A diferença é que vêm acrescidos de três membranas: antirraízesde polietileno de alta densidade, alveolar e filtrante. Retém 12 l/m2, boa parte em seusalvéolos. "Quando saturada a planta, ela deixa vazar o excedente pelas laterais da placa,que possui espaços vazios na parte inferior, conduzindo esse excedente em toda aextensão da laje até o ralo de drenagem. Assim, a laje se mantém sem umidade ficando aágua toda retida na parte superior da placa", afirma Feijó.

Os módulos podem ser plantados com grama ou forrações de baixo porte, proporcionando apossibilidade de paisagismo. O sistema é recomendado para laje plana e telhados compequena declividade e pesa de 60 kg a 80 kg, dependendo do tipo de planta empregado,em geral, vegetação xerófila, de forração. Existem aqueles projetados para baixamanutenção, perenes, rústicos, com aspecto natural e outros bastante sofisticados comtopiagem, plantas anuais, corte de grama e outras opções. "Apesar da membrana,procuramos evitar as que podem ocasionar problemas como bambu, fícus e plantas demaior porte", afirma Feijó.

O Sistema Laminar Ecotelhado caracteriza-se por utilizar uma lâmina d'água sob um pisoelevado feito de módulos de sustentação, e só pode ser instalado sobre telhadoscompletamente planos. Vem acompanhado de membrana antirraízes e de retenção denutrientes. A capacidade de retenção de água é de 40 l/m2, além do volume no substratoe nas plantas, somando até 65 l/m2. O peso, porém, é de 120 kg/m2, variando de acordocom a vegetação escolhida. Ideal para grama, que mantém a umidade para conservaçãodas lâminas, o sistema suporta grande diversidade de plantas arbóreas. "Esse sistema érecomendado para obras novas, em regiões sujeitas a longos períodos de estiagem. Seusarmos água cinza para irrigação acaba sendo muito prático por manter o reservatórioembaixo da planta, que é irrigada por evaporação", explica Feijó (ver figura).

O arquiteto Fred Seigneur, no entanto, ressalta que para qualquer cobertura verde, aimpermeabilização deve ser checada a cada cinco anos. Já o manejo de massa devegetação, para qualquer sistema e fabricante, requer manutenção a cada 12 meses, nomáximo, para manter a eficiência dos sistemas.

SERVIÇOInstituto Cidade Jardim: www.institutocidadejardim.com.brEcotelhado: www.ecotelhado.com.br

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>>> Veja mais fotos de projetos com cobertura verde09/11/2009 Revista Téchne

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Canteiro racional

Experiência aliada a método são importantes para a concepção de umcanteiro que otimize a produtividade da obra. Veja como projetá-lo

Por Renato Faria

Muitos construtores jáperceberam que um canteiro deobras bem planejado e organizadocontribui para otimizar osprocessos construtivos e,consequentemente, reduzir ocusto de construção doempreendimento. A elaboração dolayout do local de execução daobra normalmente fica a cargo deum engenheiro experiente,conhecedor dos atalhos dessetipo de projeto. Há casos, porém,em que o profissional nãoconsegue sistematizar seu conhecimento e transmiti-lo para outros engenheiros, equando sai da empresa leva consigo esse expertise, deixando-a de mãos vazias. Porisso, já existem trabalhos que procuram consolidar esse conhecimento e mostram aoconstrutor métodos de concepção de canteiros racionais, que minimizem desperdíciosde materiais e de tempo de execução de mão de obra.

O transporte, principalmente horizontal, de materiais não agrega valor algum aoproduto final. Quanto maiores as distâncias percorridas, maior o tempo perdido namovimentação, que poderia estar sendo empregado em atividades mais produtivas.Além disso, também é maior o risco de quebras e perda de material com as oscilaçõesnaturais no deslocamento sobre superfícies irregulares. Portanto, um bom projeto decanteiro procura dispor próximas entre si as diversas instalações correlatas, de modo aminimizar ao máximo a necessidade de movimentações.

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Em canteiro na adensada região da avenida Paulista, em SãoPaulo, construtora Adolpho Lindenberg recorreu a instalarescritório de engenharia em contêineres em balanço noestágio inicial da obra

Canteiro de obras da Trisul: empresa implantou em 15 deseus 22 canteiros conjunto de medidas que procura diminuir oimpacto das obras no meio ambiente

Responsável

Para Carlos Torres Formoso,professor do Norie-UFRS (NúcleoOrientado para a Inovação daEdificação, da UniversidadeFederal do Rio Grande do Sul), oideal é que a concepção docanteiro seja feita em grupo."Esse planejamento deve ser feitopelas pessoas diretamenteenvolvidas com a produção. Oengenheiro residente devecoordenar, mas também devemparticipar o mestre de obras e ossubempreiteiros", acredita Formoso. Um erro comum, em sua opinião, é chamar umapessoa externa para fazer o serviço. "Ela pode ter o tempo de que o engenheiro deobra não dispõe muito, mas ela não costuma ter informações suficientes a respeito doprocesso de produção da obra."

Ubiraci Espinelli Lemes de Souza, professor da Escola Politécnica da USP (Universidadede São Paulo) e diretor técnico da Produtime, diz haver vantagens e desvantagens aose optar por um projetista interno e um externo. Ele concorda que o conhecimento doengenheiro a respeito dos métodos construtivos tradicionalmente empregados pelaempresa é uma vantagem do planejamento interno do canteiro. Entretanto, pondera, oplanejamento externo pode trazer algo novo para a obra, já que ele trabalha comprojetos de diversas construtoras. "Teoricamente, se o construtor tem várias obras,talvez valha a pena ter um departamento interno dedicado ao assunto. Um menorvolume de obras, por outro lado, pode justificar a terceirização", explica.

Ubiraci acredita que a concepção do canteiro às vésperas do início da obra é umapostura pouco produtiva. "O projeto do canteiro é um instrumento poderoso paradiscutir as fases anteriores do empreendimento. Ele ajuda a aprimorar os projetos deprodução e do produto", afirma. Formoso concorda e complementa: "É muitoimportante vincular o planejamento de layout ao planejamento e controle da produção.Por isso, o projeto do início do empreendimento também não é definitivo, isso vai sendorevisado e alterado conforme o andamento da obra".

Sustentabilidade

Os sistemas de certificação desustentabilidade na ConstruçãoCivil são eficientes ao avaliar aeconomia no consumo derecursos pela edificação na fasede utilização do produto, masainda dão pouca atenção à faseconstrutiva do empreendimento,critica Espinelli. Em sua opinião,poderia haver um rigor maior noque diz respeito à redução dedesperdício de materiais. "Issonão está contemplado nem no Leed (Leadership in Energy and Environmental Design),

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Árvore, que ficava no centrodo terreno que seriaescavado, foi transplantadapara região "segura" docanteiro de obras da AdolphoLindenberg, em São Paulo

que fala apenas em dar um destino adequado aos resíduos gerados", lembra. "Épossível pensar a produção de modo a preservar árvores, manter as regiões comdeterminada permeabilidade", acrescenta.

A Trisul está procurando implementar em seus canteirosmedidas para minimizar os impactos de suas obras noambiente. Entre as soluções viabilizadas, estão a instalaçãode sistema de reúso da água usada na lavagem das rodasdos caminhões na fase de movimentação de terra; o sistemade captação provisório de águas pluviais parareaproveitamento na limpeza do canteiro; reserva de baiaspara materiais recicláveis, como papel e vidro.

Até meados de 2008, conta William Vitor, gerente geral deobras da Trisul, a venda dos recicláveis gerava até algumareceita para a obra. Mas a situação mudou com a criseeconômica mundial, quando a empresa chegou a registrar atéalgum prejuízo com o descarte. Hoje, porém, ele garante quehouve uma melhora no cenário e as receitas advindas davenda dos reciclados são suficientes para pagar seutransporte.

Outra solução que ainda não foi possível de ser aplicada,informa Vitor, é a instalação de sistema de aquecimento solar da água dos chuveirosdas instalações provisórias. "Não sabemos se o equipamento vai durar três obras",admite, justificando que a obra é um ambiente hostil para as placas solares. "Qualquerpedrinha que caia vai danificá-las."

Definições preliminares

Antes de elaborar os projetos para as diversas fases do canteiro, são necessáriasinformações preliminares relativas ao planejamento da obra. Elas vão determinar, juntocom o espaço disponível no terreno, as áreas necessárias para escritórios, alojamentose estoques. Dependendo da situação, pode valer a pena alugar terrenos vizinhos paraacomodar algumas dessas instalações.

Projetos e tempo de execução

A duração da obra é um aspecto que influenciadiretamente o processo de concepção docanteiro. Diferentes períodos de execução dosserviços da obra correspondem a diferentesdemandas por materiais, mão de obra eequipamentos. É desejável, para dar início aosestudos do layout do canteiro, ter à mão plantasde topografia e de subsolos, térreo e tipo dastorres (arquitetura e estrutura), sempre com delimitação do terreno. Também são úteisinformações sobre o entorno da obra, como as características das construçõesvizinhas, condições e disponibilidade de vias de acesso, localização das redes de águae energia elétrica.

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Plano de ataque

Trata-se da sequência de serviços planejadapara a execução da obra. São informaçõesfundamentais para a elaboração do cronogramafísico de construção do empreendimento. Aqui,por exemplo, é definido se a torre seráexecutada num primeiro momento e a periferianuma etapa posterior, se serão executadas aomesmo tempo etc. Elas ajudam o projetista docanteiro a ter alguma noção a respeito dasáreas que estarão disponíveis para as instalações em cada fase da construção.

Cronograma físico

De posse das informações anteriores, elabora-se o cronograma físico da obra.Para algumas atividades, sugere-se fazer um detalhamento semanal daprogramação; para outras, basta indicar os momentos de início e conclusão. Noprimeiro grupo - que inclui serviços como armação, concretagem, alvenaria erevestimentos de argamassa - estão os materiais que exigem maior cuidadoquanto ao planejamento de transporte e de espaços para estocagem. O segundogrupo - onde estão as instalações hidráulicas e elétricas, execução de azulejos episos cerâmicos, por exemplo - contém insumos para os quais se pode preveráreas de estocagem sem passar necessariamente por quantificação de consumossemanais.

Períodos de utilização dos equipamentos

Face à tecnologia construtiva adotada, ao ritmo que se querimprimir à execução do empreendimento e à demanda da obrapor insumos, faz-se o dimensionamento dos equipamentos detransporte. É o momento de decidir se a obra vai empregarapenas cremalheira ou se necessita também de grua, se oacesso à fachada se dará por meio de andaimes fachadeirosou balancins etc. O cronograma físico deve fornecer, comprecisão, os momentos em que os equipamentos entram edepois deixam o canteiro.

Demanda por materiais

Com os dados registrados no cronograma físico ede indicadores de consumo usuais do mercado,faz-se o cálculo das quantidades de insumosnecessárias para cada atividade executada nocanteiro. Como o andamento físico da obra,também a quantificação dos insumos é feitasemana a semana. Essas quantidades semanais,

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multiplicadas por fatores que considerem incertezas (1,5, por exemplo), sãocomparadas com os lotes usuais de compra pela empresa. Assim, determina-se a cadaetapa o estoque máximo em obra e as áreas necessárias.

Demanda por mão de obra

Outro aspecto que se pode calcular a partir dos dados docronograma físico é a quantidade de operários que circularáno canteiro nas diversas etapas da obra. Essa informação éfundamental para determinar as dimensões das instalaçõestemporárias, quantidade de chuveiros, armários, áreas dosvestiários, necessidade de alojamentos etc. O pico depessoal na obra costuma ocorrer nas fases intermediárias,quando da execução da estrutura e das alvenarias, no casode empreendimentos verticais.

Fonte: adaptado do livro Projeto e Implantação do Canteiro, de Ubiraci Espinelli Lemes de Souza

Layout do canteiro

Quando se tem ideia sobre as áreas necessárias para estocagem de materiais em cadaetapa da obra, sobre os equipamentos que serão utilizados na obra e sobre asdimensões das instalações provisórias, pode-se partir para a concepção do desenho docanteiro. Os croquis são feitos com base nas plantas de topografia e arquitetura dospavimentos do edifício. Fluxogramas dos processos de execução do empreendimentotambém são importantes nessa etapa criativa. A disposição dos elementos é pensadaconsiderando as diversas fases da obra; portanto, deve-se buscar a compatibilizaçãodo posicionamento de cada instalação com a evolução dos estágios de execução. Aqui,pode-se pensar em executar primeiro o layout da fase da obra considerada crítica, commaior fluxo de pessoas e materiais, e a partir dele conceber os demais desenhos. Ouainda elaborar os projetos de forma sequencial, partindo da configuração inicial daobra. Uma alternativa mista também é possível. Podem ser feitas algumas propostas delayout diferentes para serem avaliadas por um grupo de engenheiros da construtora. Oimportante é que, conforme a obra evolui, o planejamento e o projeto do canteirosejam constantemente revistos e adaptados às realidades que vão surgindo.

Como começar:

Elaboração do macro layout: definição aproximada do arranjo físico geral, com oestabelecimento do local no canteiro em que ficará cada instalação ou grupo deinstalações (áreas de vivência, áreas de apoio, áreas de produção, por exemplo).Deve-se estudar o posicionamento relativo entre essas áreas.

Elaboração do micro layout: estabelecimento da localização de cada equipamento ouinstalação dentro de cada área do canteiro. Também aqui é necessário estudarposições relativas entre os elementos.

Detalhamento das instalações: etapa de planejamento da infraestrutura necessária aofuncionamento das instalações. Estabelecem-se, por exemplo, quantidade e tipos decadeiras nos refeitórios, de armários nos vestiários, técnicas de armazenamento decada tipo de material, tipo de pavimentação das vias de circulação etc.

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Cronograma de implantação: representação gráfica do sequenciamento das fases delayout. Devem estar explicitadas as fases ou eventos da execução da obra(concretagem de uma laje, por exemplo) que determinem alterações no layout.

Sequência de elaboração sugerida:� Posição do estande de vendas� Escolha do local de acesso� Posição da guarita� Posição de cremalheiras, guinchos, gruas� Posição de alojamento e sanitários� Posição dos almoxarifados� Posição das centrais de processamentos (argamassa, corte e dobra de aço etc.)associados a seus respectivos estoques� Posição do escritório técnico

Fontes: Projeto e Implantação do Canteiro, de Ubiraci Espinelli Lemes de Souza; Boletim técnico do

departamento de Engenharia de Construção Civil da Poli-USP BT/PCC/338; Planejamento de Canteiros

de Obra e Gestão de Processos, de Tarcísio Abreu Saurin e Carlos Torres Formoso

Evolução do canteiro

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Fonte: Produtime e REM Construtora

Mapa estratégico

A carta de interligações preferenciais auxilia o projetista do canteiro a visualizar asrelações de proximidade entre os diversos elementos do canteiro. Cada obra tem suaprópria carta, mas o exemplo abaixo dá uma ideia de como devem ser as conexõesentre as instalações.

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LegendaVeja como ler a carta:

1) Procure dois elementos do canteiro na coluna à esquerda e memorize os respectivosnúmeros.

2) Nos lados perpendiculares do triângulo isósceles, procure os númeroscorrespondentes aos elementos escolhidos e siga as linhas até a célula em que elas secruzam.

3) Dentro da célula você encontra uma letra, que aponta o grau de importância daproximidade entre os elementos. A classificação, disponível na tabela 1, varia entre"indesejável" e "absolutamente necessária".

4) Na mesma célula, você também encontra números separados por vírgulas. Cada umdesses números indica uma justificativa para a classificação feita. Eles podem serconsultados na tabela 2.

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Fonte: Planejamento do Layout de Canteiros de Obras: aplicação do SLP (Systematic Layout Planning).

Sérgio J. B. Elias, Madalena O. Leite, Regis R. T. da Silva, da Universidade Federal do Ceará e Luís C.

A. Lopes, da Construtora Porto Freire

Conteúdo online exclusivo:

>>> Confira arquivo fornecido pelo Habitare (Programa de Tecnologia deHabitação), da Finep, com as recomendações técnicas contidas no livro"Planejamento de canteiros de obra e gestão de processos".

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Madeira

Light wood frame

Seculares na América do Norte, as casas de estrutura leve de madeira ganhamespaço com construtoras especializadas. Rapidez e sustentabilidade sãoprincipais argumentos dos defensores do light wood frame

Embora a madeira esteja entre os materiais para construção mais antigos em todo omundo, o aproveitamento desse material como elemento estrutural no Brasil ainda écercado de muito desconhecimento. Nos últimos anos, porém, iniciativas para introduzir olight wood frame como mais uma alternativa para a construção industrializada tembuscado romper com essa limitação e mostrar que é possível erguer edificações dequalidade, de forma veloz e sem desperdício.

"A madeira foi muito utilizada pelos nossos arquitetos em meados do século XX, quandoforam erguidas diversas estruturas em arcos lamelares e pórticos. Mas, a partir dadécada de 1970, essa tecnologia começou a se perder por aqui, enquanto que no restodo mundo as estruturas de madeira continuaram evoluindo", lamenta Guilherme CorrêaStamato, diretor da Stamade Projetos e Consultoria em Madeira.

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Com estrutura de madeira, casa em Sorocaba (SP) tem linhas modernas e foge ao estilo americano

A dificuldade de visualizar a madeira como solução interessante para a construção deresidências nas cidades brasileiras não deixa de ser paradoxal. A indústria dereflorestamento nacional é uma das mais competitivas no mundo. Além disso, hádisponibilidade de áreas para reflorestamento praticamente do Oiapoque ao Chuí.

"Se somarmos o déficit habitacional à capacidade de industrializar as construções levesem madeira, esse sistema é bastante competitivo, pois permite a pré-fabricação emambiente industrial", defende Stamato. Segundo ele, o desempenho das edificações podeser dimensionado de acordo com os parâmetros pretendidos, inserindose isolantestérmicos e acústicos, aumentando- se ou diminuindo-se a espessura de paredes, ou como uso de revestimentos externos e internos mais adequados, por exemplo.

Não é à toa que essa solução é tão difundida em países onde a mão de obra é muitocara. A produtividade de uma obra com frames leves de madeira está inevitavelmenteatrelada ao nível de industrialização incorporada ao sistema. Porém, é factível aconstrução de uma casa completa de 200 m² em apenas 60 dias, conforme dados dasconstrutoras.

Tal ritmo construtivo deve-se à otimização da gestão da produção, que possibilita, porexemplo, que diferentes atividades sejam executadas simultaneamente. Adicionalmente,em comparação com as estruturas de concreto e a alvenaria, a construção com framesde madeira é menos afetada pelas condições climáticas. Isso significa que em caso dechuvas ou de falta de energia, os operários podem continuar pregando e montando.

A produtividade pode ser atribuída também à dinâmica de obra limpa e seca e à facilidadede manuseio dos elementos estruturais (frames de madeira) e de fechamento (chapas deOSB ou placas cimentícias, na maior parte das vezes), que demandam menos esforçosdos trabalhadores e, ainda, têm processo de montagem quase que instintivo. Oengenheiro José Franco Moraes Neto, diretor da Shintech, destaca, primeiro, que não épreciso muito treinamento para formar um carpinteiro capaz de trabalhar com os framesde madeira. Segundo, porque os brasileiros estão mais acostumados com esse tipo de

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técnica e material.

"Outra vantagem competitiva do wood frame é a maior estabilidade do preço da matéria-prima", destaca Franco, lembrando que o preço do aço está sempre flutuando em funçãoda valorização e desvalorização das commodities.

A concepção do sistema construtivo em ambiente industrial poderia, ainda, reduzirsignificativamente desperdícios, altamente impactantes nos sistemas de construçãotradicionais. "Em média, o índice de perdas no wood frame é inferior a 10%, valor quepode ser ainda menor conforme a experiência adquirida", revela Franco.

Madeira tratada

No Brasil, os projetos com estruturas baseadas em frames de madeira têmutilizado como matéria-prima principal o pínus e, em menor volume, o eucalipto. Apreferência pelo pínus, que também é muito utilizado na América do Norte,devese, principalmente, ao rápido crescimento desse tipo de árvore e à suaelevada permeabilidade ao tratamento em autoclave, fundamental para evitarataques de organismos xilófagos.

No Brasil, o tratamento mais recomendado utiliza produtos hidrossolúveis, emespecial o CCA (arseniato de cobre cromatado). Como ainda não há normabrasileira para o wood frame, os construtores têm utilizado como referênciaprincipal normas canadenses e norte-americanas que recomendam retençãomínima de 4,0 kg de ingrediente ativo/metro cúbico, para as madeiras utilizadasem aplicações gerais.

A exceção são as peças sujeitas ao contato direto com a fundação de concretoou em contato com umidade. Nesse caso, a recomendação de norma é de nomínimo 6,5 kg I. A./m³.

O engenheiro Guilherme Stamato explica que, tecnicamente, não há impedimentopara o uso de outras espécies, mas adaptações podem ser necessáriasprincipalmente em relação à fixação e ao transporte. Ele ressalta, ainda, que ouso em sistemas wood frame requer seleção bastante criteriosa da madeira, poispodem apresentar defeitos naturais, como nós, medula e bolsa de resina, quecomprometem sua resistência.

Outro importante aspecto a ser observado é a geometria das peças, pois peçascom defeitos de secagem e tortas podem representar problemas na montagemdas paredes, consumindo tempo para serem solucionados.

Daí a importância de se incorporar à produção da madeira tecnologias comosecagem em estufa, desdobro em máquinas bem reguladas, além de cuidados notransporte e no armazenamento. "Quanto mais tecnologia aplicada, melhor tendea ser a matéria-prima aplicável à construção leve e, consequentemente, oresultado obtido", ressalta Stamato.

Balanço energético

A implementação do wood frame no Brasil depende diretamente da quebra de algunsestereótipos associados a esse tipo de construção e à diferenciação do sistema leve emrelação a modelos anteriormente adotados em casas de madeira, sobretudo as de

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veraneio, com estruturas mais pesadas.

Uma barreira a ser transposta é a ideia de que construir com esse tipo de materialimplica, necessariamente, desmatamento de áreas verdes preservadas. "É importantefrisar que quando falamos em construção leve de madeira, nos referimos a um sistemaconstrutivo baseado exclusivamente no uso de madeiras de reflorestamento e que éextremamente racionalizado", ressalta José Franco, lembrando que a madeira é o únicomaterial de construção renovável que demanda quase que unicamente energia solar paraser produzida, enquanto o cimento, o aço e os blocos cerâmicos, por exemplo, utilizam-se de outras matrizes energéticas menos sustentáveis. Para completar, durante o seuprocesso de crescimento, as árvores reflorestadas sequestram carbono, colaborandopara a redução do efeito estufa, em vez de agravá-lo. Dados obtidos em obras daShintech indicam que para construir 10 m² utiliza-se cerca de 1 m³ de madeirareflorestada que, para ser produzida, capta 1,8 m³ de carbono na atmosfera. "Aconstrução em madeira também colabora para reduzir a emissão de poluentes porpossibilitar o aproveitamento de matérias-primas regionais, enquanto a fabricação demateriais de construção, como o aço, as cerâmicas e o concreto, acabam sendolimitadas às regiões onde estão as jazidas minerais", compara Guilherme Stamato.

Há, também, outros dois preconceitos a serem combatidos. O primeiro deles é o de queconstruir com madeira e pregos é um processo primitivo e, por isso, de baixa qualidade.Nos países onde os frames de madeira se consagraram, o prego é considerado um ótimorecurso de fixação, especialmente quando pregado de forma não-perpendicular àsuperfície, tornando a ligação mais resistente ao arrancamento. No wood frame sãoutilizados pregos tipo ardox ou tipo anelado que também dificultam o arrancamento,especialmente em madeiras macias como o pínus.

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Uso de pregos tipo ardox dificulta o arrancamento

em madeiras macias

Outra necessidade é a de desvincular a imagem de sistema industrializado comconstrução padronizada. Prova da atenção a esse aspecto é a diversidade deconstruções já levantadas no Brasil a partir desse conceito. Os exemplos vão desdeescritórios e salas de aula a edifícios institucionais e construções multifamiliares com altopadrão de acabamento e pé-direito elevado, e também habitações populares.

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Casas no Paraná: pioneirismo na

introdução do wood frame no

Brasil

"Ao contrário do que ocorreu com a introdução de outros sistemas construtivosindustrializados, o wood frame não está sendo disponibilizado como um kit fechado, massim como opção construtiva que permite a execução de qualquer tipologia de projeto",diz Franco. A maior limitação fica por conta da altura das construções, já que no Brasil,assim como em todo o mundo, essa tecnologia construtiva só pode ser utilizada paraprédios com, no máximo, cinco pavimentos.

Baixo custo

Um dos primeiros empreendimentos estruturadoscom frames de madeira no Brasil foi o condomínioPorto Primavera, em Curitiba. Com 440 m² de áreaconstruída, a obra, concluída em 2001 pelaconstrutora Malacon custou cerca de R$ 250/m².

O empreendimento é composto por dois móduloscom oito apartamentos de 50 m², divididos emdois dormitórios, sala, cozinha, banheiro e área deserviço. Os sobrados foram erguidos sobre umradier com 10 cm de espessura e baldrames com30 cm de largura concretados sobre lona vinílica,que atua como barreira de umidade, e umacamada de pedra britada.

Erguida em apenas quatro dias, a estrutura écomposta por frames de araucária com barreirasde fogo entre os montantes. Já para osfechamentos externos foram utilizadas chapas de compensado de pínus e OSBtratadas em autoclave. O contraventamento é realizado por chapas de OSBpregadas na parte externa dos montantes e por fitas de aço galvanizadoconstituindo tirantes em forma de "x".

Para impermeabilização das paredes externas optou-se pelo papelão alcatroado,grampeado sobre a chapa de OSB antes do revestimento final. Nas laterais,externamente aos frames, alvenaria aparente de tijolos apenas para efeitoestético.

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Nos EUA, sistema é utilizado para construção de prédios de até cinco pavimentos

Estratégias de crescimento

Diante da necessidade de racionalizar os processos construtivos e com a entradaem vigor da norma de desempenho, que define parâmetros mínimos de qualidadepara edificações de até cinco pavimentos, a expectativa das empresas que lidamcom esse tipo de sistema é a de que o uso dessa tecnologia seja impulsionado.

Para isso, construtores e fabricantes de materiais envolvidos na divulgação dowood frame atualmente trabalham em três frentes principais. A primeira visa criar,a partir de 2010, um curso oficial de nível pós-médio, a ser inicialmente ministradonas escolas do Centro Paula Souza aos alunos dos cursos técnicos em edificaçõesdo Estado de São Paulo. A segunda, também em andamento, é a negociação coma Caixa Econômica Federal para a homologação do light wood frame como sistemafinanciável para habitações.

Atrelado a isso está a assinatura de um contrato com o IPT (Instituto dePesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo) para a construção de umprotótipo para a realização de testes diversos ainda este ano. O engenheiro JoséFranco Moraes Neto, diretor da Shintech, empresa que fará o gerenciamentodesse processo junto ao IPT, explica que o plano é construir um sobradogeminado para avaliar materiais e testar técnicas distintas associadas ao woodframe.

Tropicalização

O comportamento estrutural das construções em frames de madeira se assemelha ao daalvenaria estrutural, com painéis de paredes e de laje, além de montantes exercendo opapel de colunas grauteadas. Em função da leveza dos materiais, as medidas decontraventamento acabam se tornando um aspecto de alta criticidade. "Osconhecimentos sobre esse tipo de projeto são de domínio público em diversos idiomas. Oque não existe, por enquanto, é uma grande quantidade de especialistas porque aindanão existe demanda para tanto", diz Guilherme Stamato.

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Em casas de alto padrão, madeira

está presente na estrutura e nos

acabamentos

Mas a adaptação do light wood frame para o uso no Brasil requer algumas alterações nomodelo utilizado em outros países. O maior exemplo é na utilização da madeira tratada emtoda a estrutura, obrigatório no Brasil devido principalmente ao ataque de cupins, e quegeralmente se restringe ao subsolo nas casas norte-americanas.

O fato de utilizar madeira tratada resulta na necessidadede galvanizar a quente todos os conectores metálicos,como pregos e parafusos. Isso provoca, contudo, certoprejuízo ecológico em relação ao wood frame construídoem outros países, já que a madeira tratada em autoclaveé considerada resíduo industrial que, por isso, não podeser reutilizada.

Hoje, se fosse iniciada uma produção sequencial de casasde madeira, algumas adequações no parque industrialdeveriam ser feitas para se ganhar em eficiência.Componentes como conectores metálicos precisariam serfabricados em série, o que atualmente é feito sobencomenda. Além disso, embora disponha de condiçõestécnicas para isso, ainda não são produzidos no Paíspregos anelados ou ardox galvanizados em pentes parautilização em marteletes pneumáticos, tampoucoparafusadeiras elétricas com pentes de parafuso.

"Mas, independentemente disso, podemos construir casasnesse sistema com as nossas ferramentas simples decarpintaria, como já foi feito", assegura Stamato, listando uma série de empreendimentosjá em uso, como as salas de aula erguidas no campus da Unesp em Itapeva (SP) comfechamentos em OSB (chapas de fibras orientadas, na tradução do inglês). "O resultadodessa experiência é que podemos desenvolver esses sistemas a partir do que temos emmãos, e os pontos críticos não impedem o desenvolvimento, mas podem melhorar aeficiência do sistema assim que forem resolvidos", acredita o engenheiro.

Juliana Nakamura

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O gerenciamento de resíduos deve ter início no localgerado

Gestão de resíduos via web site

O interesse por políticas públicaspara os resíduos gerados pelosetor da construção civil tem seacirrado com a discussão dequestões ambientais (Souza etal., 2004). Dados levantados porSchneider (2004) sobre ageração dos resíduos daconstrução civil mostram queessa questão é mundialmentereconhecida. O setor tem odesafio de conciliar umaatividade produtiva dessamagnitude com as condições que conduzam a um desenvolvimento sustentável(Pinto, 2005). Nesse contexto, verifica-se a necessidade de implantação dediretrizes para a efetiva redução dos impactos ambientais gerados pelosresíduos de construção e demolição (RCD). A implantação de um sistema degestão de resíduos não só contribuirá para o avanço técnico-gerencial dosmunicípios como também para o uso racional dos recursos naturais. Assim,este trabalho tem por objetivo apresentar uma ferramenta computacional paragestão de resíduos da construção civil, servindo de auxílio para aadministração municipal.

Resíduo de construção e demolição da indústria da construção civilConstrói-se a sustentabilidade ambiental e social na gestão dos resíduossólidos por meio de modelos e sistemas integrados, que possibilitam a reduçãodos resíduos e proporcionam a implantação de programas que permitem areutilização desse material. Assim como pela reciclagem, os resíduos servem dematéria-prima para a indústria, diminuindo o desperdício e gerando renda(Galbiati, 2005).

Com base nas afirmações de Pinto (2000), a gestão dos resíduos deconstrução e demolição inicia-se no canteiro de obras, com o confinamento damaior parte dos resíduos no seu local de origem evitando, dessa forma, que aremoção da obra gere problemas e gastos públicos. Salienta-se, ainda, que autilização da reciclagem pelo construtor expressa sua responsabilidadeambiental e atuação correta como gerador, além de ser economicamentevantajoso, pois possibilita um avanço na qualidade de seus processos eprodutos.

O gerenciamento dos resíduos de construção e demolição no local de geraçãorepresenta uma importante ferramenta para que a indústria da construçãoassuma sua responsabilidade com o resíduo gerado no ambiente urbano

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(Rampazzo, 2002).

De acordo com Souza et al. (2004), o interesse em conhecer a quantidade deresíduos gerados pela indústria da construção civil remete-se às discussõessobre a redução de desperdícios. Em 1986, o arquiteto Tarcísio de Paula Pintoiniciou uma discussão ampla sobre o assunto, e sua pesquisa teve comoobjetivo estudar o uso do material reciclado para produção de argamassas.

No âmbito municipal foi introduzida uma nova regulamentação para o setor daconstrução civil, por meio da resolução 307/02 do Conama (Conselho Nacionaldo Meio Ambiente) a qual disciplina a destinação dos resíduos de construção.A orientação principal dessa resolução é disciplinar o segmento de forma aestimular a não-geração de resíduos, inicialmente classificando os geradoresde resíduos em "grandes geradores" (construtoras) e "pequenos geradores"(particulares).

Estrutura metodológica do trabalhoA área de referência para o presente estudo foi a cidade de Passo Fundo (RS),um município de médio porte localizado no Planalto Médio, na região Norte doEstado do Rio Grande do Sul. Tem uma população aproximada de 180 milhabitantes e apresenta um clima temperado subtropical úmido e temperaturamédia anual de 17,5ºC. Tem um comércio expressivo e aperfeiçoamentoconstante de sua infraestrutura. Passo Fundo é considerado um dos maisimportantes municípios do Rio Grande do Sul, destacando-se como um dosfatores predominantes em sua economia a indústria da construção civil, tendocom média de 180.000 m² de área em construção no ano de 2005 (PassoFundo, 2006).

As etapas de desenvolvimento dessa pesquisa acompanham uma sequência, naqual o estudo divide-se em duas fases: a primeira refere-se à sistematizaçãode um modelo de gestão de resíduos de construção civil e a segunda, àcriação de uma ferramenta computacional com aplicação em website,embasada no referido modelo.

Para a elaboração do modelo, analisou-se o Plano Integrado de Gerenciamentode Resíduos da Construção Civil de Passo Fundo, no qual são apresentadasalgumas definições e itens relevantes para esse trabalho, como o ProgramaMunicipal de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil e o Projeto deGerenciamento de Resíduos da Construção Civil, entre outros processos ediretrizes. Esse plano foi fornecido pela Secretaria Municipal de ServiçosUrbanos de Passo Fundo.

Usando como referência o Plano Integrado de Gerenciamento de Resíduos daConstrução Civil foi elaborado o modelo de gestão de resíduos da construçãocivil para o município de Passo Fundo, o qual apresenta uma sequência deatividades a serem realizadas, cumprindo diretrizes, critérios e procedimentospara a gestão dos resíduos da construção civil, de acordo com a legislaçãovigente.

Finalizado o modelo, elaborou-se uma ferramenta computacional para servir deauxílio na gestão municipal dos resíduos de construção civil com aplicação emwebsite.

Considerações finaisNos testes preliminares realizados, a ferramenta computacional mostrou-se

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adequada ao seu propósito, constituindo-se, assim, em uma importante eatualizada fonte de consulta, com informações reais que contribuem para atomada de decisões.

O modelo e o programa desenvolvidos podem ser aplicados em outrosmunicípios, com as adequações que se fizerem necessárias, devido àsespecificidades locais. Assim como é possível, por sua interface amigável, aadaptação da ferramenta computacional para empresas particularesinteressadas em proceder à gestão de resíduos de construção e demolição.

Apresentação dos resultadosO modelo de gestão de resíduos de construção civil para o município de PassoFundo é apresentado em 11 fases, as quais são apresentadas na figura aolado.

Fase 1: Implantar o PMGRCC (Programa Municipal de Gerenciamento deResíduos de Construção Civil) - O poder público municipal deverá definir umórgão da administração municipal responsável pela gestão do resíduo deconstrução civil do município.

Fase 2: Desenvolver os Projetos de Gerenciamento de Resíduos da ConstruçãoCivil - Os grandes geradores e transportadores de RCD devem realizar osPGRCC (Projetos de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil). Essasempresas devem apresentar ao órgão responsável pelo RCD da PrefeituraMunicipal os procedimentos necessários para transporte, manejo,transformação e destinação do resíduo da construção e demolição.

Fase 3: Fornecer informações sobre o licenciamento para as áreas debeneficiamento e de disposição final de RCD - O órgão municipal responsávelpela gestão e o gerenciamento do resíduo de construção e demolição temcomo objetivo informar aos interessados sobre os procedimentos e parâmetrosa serem adotados para licenciar áreas de beneficiamento e de disposição finalde RCD.

Fase 4: Não permitir a disposição dos resíduos de construção em áreas nãolicenciadas - O poder público municipal deverá formular uma lei municipal quenão permita a disposição dos RCD em áreas não licenciadas. Essa lei deveráprever multas às empresas que não a cumprirem, e ao proprietário do terreno.

Fase 5: Cadastrar áreas possíveis de recebimento, triagem e armazenamento -As possíveis áreas podem ser cadastradas com auxílio de planilhas, nas quaisconstem área, endereço e bairro.

Fase 6: Incentivar a reinserção dos resíduos reutilizáveis ou reciclados -Realizar ações no tratamento e destinação dos resíduos da construção civilcom o objetivo de minimização da geração dos RCD, reinserindo esse materialno ciclo produtivo.

Fase 7: Definir critérios para o cadastramento de empresas coletoras - Sãoexemplos de critérios para o cadastramento das empresas coletoras: Nome daempresa, endereço, telefone, veículos utilizados, equipamentos utilizados, horae frequência da coleta.

Fase 8: Orientar e educar os agentes envolvidos no processo de coleta e

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transporte de RCD - Sugere-se a adoção de algumas atividades, como porexemplo: definir grupos de trabalho, orientar agentes envolvidos, realizarreuniões e desenvolver atividades de educação ambiental.

Fase 9: Programar atividades de fiscalização e de controle dos agentesenvolvidos - Quando definido o número de fiscais, o município pode ser divididoem áreas. Cada fiscal será responsável pela fiscalização de uma área,controlando os agentes coletores e os transportadores.

Fase 10: Programar atividades educativas - Trata-se de atividades desensibilização, mobilização e educação ambiental para os trabalhadores daconstrução civil e comunidade, visando atingir as metas de minimização,reutilização e segregação dos resíduos sólidos na origem, seu corretoacondicionamento, armazenamento e transporte, elaborando assim o Plano deComunicação e Educação Ambiental.

Fase 11: Implantar áreas de manejo de RCD - Nas áreas de manejo, osespaços devem ser diferenciados, com locais para a recepção dos resíduos quetenham de ser triados como os resíduos da construção, resíduos volumosos,resíduos secos da coleta seletiva e outros, para que a remoção seja realizadapor circuitos de coleta, com equipamentos adequados a cada tipo de resíduo.

Ferramenta computacional com aplicação em websitePara desenvolvimento da ferramenta computacional foi utilizado o banco dedados Access 2002, da Microsoft, assim como o Microsoft Visual Basic v. 6.3para a programação.

Com auxílio do Modelo de gestão de resíduos da construção civil para o

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Figura 1 - Portal de acesso para o website

Figura 3 - Apresentação e explicações sobre comorealizar o PMGRCC

município de Passo Fundo, foi criado um caminho, baseado na sistematizaçãode tarefas. A partir do caminho traçado, foi montada cada página do website.

A primeira interação com o programa realizado por procedimentos decadastramento, a digitação das informações adquiridas é realizada conforme asolicitação das telas. Os dados são armazenados para consultas e análisesfuturas.

O website foi desenvolvido tendo em sua página principal, além de uma breveapresentação, os principais links que remetem às suas páginas específicas.São eles: resíduos, Programa Municipal de Gerenciamento de Resíduos daConstrução Civil, áreas de deposição, cadastros de empresas de coleta etransportes de RCD e um link "fale conosco" para troca de informações erealimentação.

Nas figuras a seguir são apresentadas e brevemente descritas as páginasintegrantes do website.

A figura 1 apresenta o portal de acesso para o website, que auxilia o poderpúblico a proceder com a gestão dos resíduos de construção e demoliçãooriundos do município.

A figura 2 apresenta o link "Resíduo" aberto, com a discriminação dos resíduosClasse A. Tratamento e destinação dos resíduos da Classe A (há telas tambémdas classes B, C e Classe D).

Figura 2 - Tratamento e destinação dos resíduos daClasse A

Figura 4 - Etapas para desenvolver o PMGRCC

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Figura 5 - Como proibir a disposição dos resíduos deconstrução em áreas não licenciadas

Figura 7 - Cadastramento de áreas para futura

As figuras 3, 4 e 5 mostram alguns itens importantes do link "programamunicipal de gerenciamento de resíduos da construção civil" dentre asfuncionalidades do site relacionadas ao tema estão:

breve explicação e etapas e serem seguidas para os "projetos degerenciamento de resíduos da construção civil".

"procedimentos" que os pequenos e grandes geradores devem seguirpara elaborar o PMGRCC.

link "licenciamento" para as áreas de beneficiamento e de disposiçãofinal dos resíduos.

link "disposição irregular", com a opção de preenchimento de umformulário aos interessados.

preenchimento do formulário, com cadastro de uma área hipotética. link "Plano de ação", que apresenta ações educativas com o objetivo

de reduzir a geração de resíduos.

A figura 6 mostra o link "Áreas de deposição" do link "Aterro da Pedreira", emque apresenta a localização desta área e mostra por onde passa o rio PassoFundo.

A figura 7 mostra o link "cadastramento de áreas", onde há a possibilidade decadastrar uma possível área de recebimento de resíduo de construção edemolição (RCD)

Existe um link "áreas de manejo de RCD", onde há uma breve definição sobrepequenos e grandes volumes de resíduos.

Figura 6 - Vista aérea do Aterro da Pedreira e do rioPasso Fundo, próximo ao aterro

Figura 8 - Cadastro das empresas geradoras de RCD

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análise a fim de escolher um novo aterro de RCD

A figura 8 mostra o cadastro a ser preenchido pelas empresas geradoras deresíduos de construção e demolição, no link "empresas geradoras".

Há também a possibilidade de: cadastramento de empresas coletoras de resíduos de construção e

demolição. cadastramento de proprietários que têm interesse em disponibilizar

áreas para receber aterro, no link "áreas de recebimento". cadastramento de agentes de fiscalização das áreas de deposição

irregulares, no link "agentes ` de fiscalização".

Luisete A. Karpinski, engenheira Civil, Engenheira de Segurança do Trabalho, Mestre emEngenharia, professora da faculdade de agronomia, do Instituto de DesenvolvimentoEducacional do Alto Uruguai - Ideau, [email protected]

Adalberto Pandolfo, doutor em Engenharia de Produção, Professor e titular do Programa dePós-Graduação em Engenharia, Universidade de Passo Fundo, [email protected]

Aguida G. Abreu, doutora em Engenharia Civil, Professora-assistente do Programa de Pós-Graduação em Engenharia, Universidade de Passo Fundo, [email protected]

Amauri G. Moraes, mestre em Engenharia, Professor de Informática, Fundação Universidadede Passo Fundo, [email protected]

Luciana M. Pandolfo, doutoranda em Engenharia Civil pela UFRGS, Professora-adjunta daFaculdade de Engenharia e Arquitetura, Universidade de Passo Fundo, [email protected]

Renata Reinehr, bolsista CNPq, Acadêmica do Curso de Engenharia Civil, Universidade dePasso Fundo, [email protected]

Leia maisO Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos e a Reciclagem. Educação ambientalpara o Pantanal. A. F. Galbiati. Disponível em www.redeaguape.org.br/desc_artigo.php?cod=92. Acesso em: 06 dez. 2005.

Reciclagem no Canteiro de Obras - Responsabilidade Ambiental e Redução de Custos.T. de P. Pinto. Revista de Tecnologia da Construção - Téchne, ano 9, no 49, p. 64-68,2000.

Gestão Ambiental de Resíduos da Construção Civil: a Experiência do SindusCon-SP,São Paulo. T. P. Pinto, (Coord.) Obra Limpa: I&T: SindusCon-SP, 2005.

A Questão Ambiental no Contexto do Desenvolvimento Econômico. In:Desenvolvimento Sustentável necessidade e/ou possibilidade? S.E. Rampazzo. 4. ed.Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2002. 161 - 190.

Public Management of Construction and Demolition Waste in the City of São Paulo. D. M. Schneider e Philippi, A. JR. Ambiente construído, Porto Alegre, 2004.

Diagnóstico e Combate à Geração de Resíduos na Produção de Obras de Construçãode Edifícios: uma Abordagem Progressiva. U. E. L. de Souza, et al. Ambiente Construído, v.4, no 4, p.33-46, 2004.

Passo Fundo. Prefeitura Municipal. Mapas. Disponível em: www.pmpf.rs.gov.br. Acesso em: 13 fev. 2006. Passo Fundo. Prefeitura Municipal. Secretaria de TransporteModalidade Urbana e Segurança. Disponível em: www.pmpf.rs.gov.br. Acesso em: 13fev. 2006.

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Bahrain World Trade Center, do escritóriobritânico Atkins, incorporou três turbinaseólicas, que geram 15% da energiaconsumida pelo edifício

Sustentabilidade high tech

Extravagantes, edifícios como os de Dubai e China tentam provar que sãosustentáveis. Por isso, transformaram-se em grandes geradores eólicos ecaptadores fotovoltaicos. Mas isso é viável?

Por Maurício Horta

Nos parques de diversões da arquiteturacontemporânea, a corrida tecnológica flerta agora odiscurso ecológico. Turbinas eólicas incorporadas emarranha-céus em Bahrain, grandes painéisfotovoltaicos em Dubai, sistemas geotérmicos naChina e imensas coberturas vivas na Califórnia vãobem além das exigências de certificações ambientais.Mas quanto esses recursos podem de fato contribuirpara melhorar a eficiência das edificações - e mais, oquão próximo da realidade esses sonhos nas alturaschegam?

Os fortes ventos trocados entre o Golfo Pérsico e odeserto levaram a uma escolha óbvia em países daPenínsula Arábica: turbinas eólicas incorporadas naedificação. "No caso de arranha-céus, pode haverum potencial de aproveitamento. Estamos falando de mais de 100 m de altura, onde avelocidade do vento tende a ser mais alta do que no solo", diz o engenheiro FernandoWestphal, gerente de eficiência energética do Centro de Tecnologia de Edificações.

Desde abril de 2008 três turbinas unidirecionais de 29 m de diâmetro giram entre as duastorres gêmeas de 240 m de altura e em forma de vela do Bahrain World Trade Center,criado pelo escritório britânico Atkins. O objetivo é que a brisa do Golfo Pérsico suprisse até15% da energia consumida pelo prédio. Isso representaria 1,3 mil MWh por ano, suficientespara iluminar 300 casas e deixar de emitir 55 t de carbono anuais.

Segundo a Atkins, o custo de até 30% do valor do projeto tornaria inviável a integração deturbinas de larga escala, tanto por conta da adaptação do projeto do prédio quanto daspesquisas de turbinas especiais. A solução foi usar turbinas convencionais sustentadascada uma por um eixo horizontal de 50 t.

A solução não foi a ideal - melhor seria que tivessem eixo vertical. "As turbinas eólicas deeixo vertical têm a vantagem da facilidade de manutenção, normalmente funcionam comvento vindo de todas as direções, sem a necessidade de possuírem mecanismos como lemepara colocarem as pás na direção dos ventos", diz a professora Eliane Fadigas, doDepartamento de Engenharia e Automação Elétricas da Escola Politécnica da Universidade

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de São Paulo. Mas o balde de realismo no deserto de fantasias fez com que suaincorporação custasse menos de 3% do projeto, segundo o escritório.

Para resolver o fato de a turbina ser fixa, a Atkins projetou para as torres um perfil elípticoque afunila o vento. Testes em túnel de vento mostraram que o desenho não apenas formapressão negativa na parte de trás do prédio, o que acelera o vento entre as torres em até30%, como também o desvia num percurso em formato de "S" cujo centro permanecequase perpendicular à turbina dentro de um azimute de 45º. Embora a idéia do BWTC tenha sido diminuir a dependência de reservas energéticas fósseisnum clima desértico, seu projeto não tem estratégias de baixa emissão de carbono dospadrões europeus. Caro demais para o Brasil? Por enquanto, sim. Embora algumas regiões brasileiras como olitoral do Nordeste e o Rio Grande do Sul tenham um potencial eólico grande, "o preço daeletricidade praticada no Brasil em todos os setores consumidores faz ainda inviáveleconomicamente a instalação tanto da tecnologia fotovoltaica quanto eólica emedificações nas áreas urbanas", diz Eliane.

Mas, segundo Westphal, não faltam recursos e razões para investidores bancarem essastecnologias em empreendimentos de alto nível. "Certamente, o investidor vai tirar proveitocomo uma estratégia de marketing, mas a sociedade vai sair ganhando com o alívioproporcionado ao parque gerador de energia, o que diminui os impactos ambientais. Essealívio pode ser ínfimo, se pensarmos em um ou dez prédios. Mas se a tecnologia fordisseminada, o custo tende a baixar, mais empreendimentos passam a adquirir o sistema eaí começamos a ter benefícios significativos para todos."

Tecnologia dez, emissões zeroA China, onde ficam 16 das 20 cidades mais poluídas do mundo, está correndo atrás paranão sobrar como a vilã ecológica do século 21. Além de construções com certificação Leeddo Green Building Council na Vila Olímpica de Pequim e da ecocidade Dongtan, emconstrução para servir de modelo de sustentabilidade na Expo-Xangai de 2010, estáprevisto para esse mesmo ano o primeiro arranha-céu com emissão zero de carbono do país- e do mundo. A americana Skidmore Owings & Merrill espera que o vento e o sol sejamcapazes de abastecer toda a energia consumida pelo prédio projetado para a GuangdongTobacco, em Cantão, iniciado em 2006.

Com as estratégias de redução e absorção de energia, o prédio deve consumir 65% menosque o previsto pelas leis chinesas.

Nas orientações Norte e Sul foi feito duplo fechamento em vidro low-E, com ventilaçãoentre as duas lâminas, e instalada persiana automatizada; a Leste e Oeste, o fechamentofoi triplo, protegido por brise soleil.

Contrariando o senso comum sobre prédios altos, a face mais larga da torre é a que recebemaior carga de vento. A estrutura curvilínea da torre ajuda a forçar o ar por quatro fendasna fachada, cravadas em dois andares mecânicos, onde estão instaladas turbinas eólicasde eixo vertical. Segundo a Skidmore, esse design deve forçar a velocidade em 2,5 vezes -compensando o fato de turbinas de eixo vertical serem, segundo Eliane, menos eficientesque as de eixo horizontal.

Um sistema baseado na inércia térmica do solo resfria a 25ºC no subterrâneo a águaaquecida a 38ºC nas torres de resfriamento do prédio. No Brasil, embora haja poucainformação sobre o potencial geotérmico para a geração de energia, também é possível,segundo Westphal, usar a inércia térmica do solo para a climatização de ambientesinternos. "Em São Paulo, se cavarmos um buraco de 6 m de profundidade, a temperatura do

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Academia de Ciências da Califórnia, querecebeu certificado Leed Platina do GreenBuilding Council americano; seus 10 mil m²de cobertura vegetal absorvem 14 milhõesde litros de chuva por ano e contribuem como isolamento térmico

, p , psolo estará praticamente a 20ºC o ano inteiro. Esse potencial pode ser utilizado por meiode um sistema de tubos enterrados", diz. Tal sistema consiste de uma série de tubos que,quando adequadamente dimensionados a uma certa profundidade, podem resfriar o arexterno que passa em seu interior quando estiver acima de 20ºC antes de introduzi-lo noambiente interno para a renovação de ar. Embora exija um consumo para ventilação, este éainda bem menor que o de condicionadores.

Para tornar o arranha-céu energeticamente independente, a Skidmore incluiu ainda painéisfotovoltaicos no projeto. Embora vários prédios comecem a adotar esses painéis, seu usoem áreas urbanas, servidas por rede elétrica, ainda não é viável, segundo Eliane. "Suaeficiência está em torno de 13%. Porém, geram energia em corrente contínua, enquantonossas cargas funcionam em corrente alternada, necessitando de outros componentes nosistema, entre eles os inversores. Assim, a eficiência total fica em torno de 10%." Mas,para a professora, esses módulos já são viáveis em áreas remotas onde não há viabilidadede estender a rede da concessionária.

Torres de ventoO arquiteto alemão Eckhard Gerber e os engenheirosambientais da DS-Plan também entraram na corridada emissão zero, desta vez com um sistema derefrigeração da arquitetura persa: as torres de vento(veja ilustração). Na Burj al-Taqa, aberturas nafachada a cada cinco andares permitirão que apressão negativa criada na face oposta à querecebe a carga de vento retire o ar quente dassalas. Num poço subterrâneo com água do mar, o arseco do deserto será refrigerado pela evaporação.Com o diferencial de pressão entre o interior doprédio e o poço causado pelos ventos, não seránecessária nenhuma ventilação mecânica para trazer o ar fresco até os corredores eescritórios por meio de cinco átrios perimetrais transparentes e um central, nos quais serãoinstalados jardins suspensos.

Para evitar o aquecimento por radiação, um escudo solar cobrindo um segmento de 60ºgirará em torno do prédio entre as camadas da fachada dupla de acordo com o percurso dosol. Diferentemente de brises soleil estacionários, o escudo ficará somente onde e quandofor necessário.

Segundo Gerber, esses e outros sistemas devem reduzir em 40% o consumo energético doprédio em comparação a semelhantes. Para torná-lo 100% auto-suficiente, foram previstosuma turbina eólica de eixo vertical tipo Darrieus de 60 m de altura no topo da torre, doisconjuntos de painéis fotovoltaicos no total de 15 mil m² e uma ilha flutuante de painéissolares de 17 mil m² sobre o mar. O excedente deve ser usado na eletrólise de água paraobter hidrogênio, utilizado na geração de eletricidade à noite.

Rodas gigantesNa gincana tecnológica não basta mais que hélices girem. O prédio inteiro precisa fazermalabarismos. O arquiteto florentino David Fischer criou a Dynamic Tower - um projeto deedifícios de uso misto cujos andares giram independentemente numa velocidade de umarotação por 1,5 hora em volta de um eixo central, onde estão instalados elevadores etubulações elétrico-hidráulicas. Escondida entre cada andar está instalada uma turbinaeólica horizontal que gira nesse mesmo eixo. Fischer espera que elas gerem toda a energiado edifício-carrossel, junto a células fotovoltaicas instaladas nas lajes de cada andar, que

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terão 20% da superfície exposta ao sol.

A primeira torre, com 80 andares espalhados em 420 m, está prevista para Dubai - ondeapartamentos já podem ser reservados. A segunda deve ser construída em Moscou, com 70andares e 400 m de altura.

Somente o eixo central deve ser construído no canteiro de obras. Já os apartamentosserão como um grande Lego, compostos de módulos em formato de fatias com acabamentoe sistema elétrico-hidráulico prontos, industrializados na Itália. Os gastos com transporteestão muito longe de qualquer parâmetro de sustentabilidade, mas, por outro lado, amontagem in situ dos módulos por meio de guindastes é extremamente limpa.

Segundo Fischer, cada andar poderá ser completado em sete dias, com tempo deconstrução reduzido em aproximadamente 30%. De acordo com o arquiteto, a construçãoda Dynamic Tower precisaria de 600 operários e 80 técnicos no canteiro, comparados a2.000 num projeto de mesma escala não pré-fabricado.

Os objetivos da pré-fabricação não são apenas reduzir o tempo de montagem e diminuirgastos na escala, mas também replicar o modelo e espalhar torres giratórias pelo mundo.

Alcir Moro, presidente da construtora curitibana Moro, não se mostra eufórico diante daidéia de David Fischer. "Esse projeto é apenas publicidade. Não há nada construído. Aprimeira verdadeira torre giratória construída no mundo está aqui, no Brasil", diz Moro.

Após dez anos de projeto e construção, foi concluído em 2004 em Curitiba seu SuíteVollard. São duas torres interligadas de 11 andares: uma circular em que cada pavimentogira independentemente, propulsionado por um motor de ¾ de HP, na velocidade de umarotação por hora, e outra fixa onde estão instaladas a circulação vertical e a partehidráulica, como cozinha.

Até hoje, a rotação dos apartamentos não resultou em moradores. "Trata-se de um prédioconceitual, de um laboratório. Foram decorados quatro apartamentos para uma feira e,depois, desmontados", diz Moro. Hoje, passa por uma reforma que deve ser concluída emabril de 2009. Cada apartamento de 287 m² custará R$ 1,5 milhão - sem turbinas eólicas.

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Corte da praça

Jardins suspensos da CalifórniaQuem visita o parque Golden Gate, São Francisco, nos Estados Unidos, encontra 10 mil m²de sua vegetação suspensa sobre colinas artificiais pontuadas por clarabóias. Abaixodessas 1.200 toneladas de solo e plantas nativas foi inaugurado em setembro de 2008 onovo edifício da Academia de Ciências da Califórnia - complexo que reúne aquário,planetário e museu de História Natural. O prédio, que consome 35% menos energia do queo prescrito pelas leis da Califórnia, recebeu o certificado Leed Platina do Green BuildingCouncil americano.

Mas o quão longe vai o benefício proporcionado por esse tipo de cobertura? Neste caso,além de absorver 14 milhões de litros de água pluvial por ano, ela substituiu o isolamentotérmico, ajudando a diminuir o uso de ar-condicionado. Os gastos com manutenção comoirrigação, podas e reposição foram reduzidos com a escolha de plantas nativas, que melhorse adaptam ao clima da região.

Já em edifícios com áreas menores de cobertura, a contribuição é pequena. "Mas se amaioria dos prédios passar a adotar esse tipo de solução, o benefício para o ambienteurbano vale a pena, pois diminui o efeito de ilha de calor", diz Westphal.

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Sede da empresa de biotecnologia Genzyme; escritório BehnischArchitekten empregou heliostatos, espelhos fixos e coberturaprismática para direcionar raios solares até o átrio central do prédio,onde são redistribuídos por espelhos suspensos

Casa dos espelhosO escritório Behnisch Architekten recebeu da empresa de biotecnologia Genzyme umquebra-cabeça: encaixar 920 escritórios em 33 mil m² usando o mínimo de energia tantopara circulação vertical quanto para iluminação e climatização.

A resposta foi uma microcidade espalhada em 12 andares ao redor de um enorme átriocentral, iluminada completamente com luz natural.Para isso, foram adotadas duas estratégias. No perímetro do prédio, venezianasmotorizadas direcionam a luz natural para forros refletores das salas. Já no átrio, a luzentra e é dispersa por meio de uma cobertura de anteparos prismáticos móveis. Paraaproveitar o máximo de iluminação durante o dia, heliostatos instalados na cobertura doátrio acompanham o movimento do sol para redirecionar os raios para espelhos fixos que,

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Edifício Suíte Vollard, concluído em 2004; suaconstrutora, a curitibana Moro, afirma ser o primeirono mundo a girar. O recurso, que não tem propósitoambiental, elevou o custo das unidades a R$ 1,5

por sua vez, projetam os raios para o átrio. Dentro do prédio, candelabros de espelhosredirecionam os raios para as salas. O átrio central serve também para receber o ar quente dos escritórios, que sobe e sai porsua cobertura. Esse fluxo constante mantém os ambientes frescos e ventilados nasestações quentes. O prédio também recebeu o certificado Leed Platina.

Um projeto assim, no entanto, não pode ser transferido automaticamente ao Brasil, em cujalatitude o céu possui muito mais luminância. "Enquanto em países de clima temperado asgrandes áreas envidraçadas se justificam pelo aproveitamento de luz natural, no Brasil elasapenas trazem problemas de ofuscamento de difícil controle", diz Westphal. "Não tem porque usar um peitoril transparente aqui, pois não há ganhos significativos em termos de luznatural. Há, sim, o aumento de carga térmica e desconforto por assimetria de radiação."

Para o engenheiro, mesmo os caros vidros de alto desempenho que permitem a execuçãode grandes áreas envidraçadas sem prejuízo ao conforto térmico não se justificam."Aumentar custos não é a melhor solução do ponto de vista da engenharia. Não ésustentável."

Portanto, o melhor aqui seria diminuir a área de janelas e projetar proteções solaresexternas como brises, que permitem o bloqueio da radiação solar direta quando forindesejável no interior da edificação.

Seriam necessárias soluções mirabolantes dignas dos quadrinhos do professor Pardal paraatingir a sustentabilidade? Não, segundo o engenheiro Nelson Kawakami, diretor-executivodo Green Building Council Brasil, organização gestora da certificação de sustentabilidadeLeed (Leadership in Energy and Environmental Design), que já tem 79 construçõesregistradas no País, a maioria - mas não todas - no eixo Rio-São Paulo.

"A tecnologia ajuda, mas não é essencial", diz Kawakami. "O principal para fazer um projetosustentável é a vontade de fazê-lo, e não a sofisticação tecnológica. O prédio do BancoSul Americano (1960/63) de Rino Levi, na Avenida Paulista, já era um prédio com conceitode sustentabilidade."

Kawakami cita como exemplo de construção sustentável brasileira o Cenpes (Centro dePesquisas da Petrobras) no Rio de Janeiro, de Siegbert Zanettini e José Wagner Garcia, quedeve ser concluído em 2010. "Ele traz tudo de interessante do ponto de vista de umprojeto sustentável e sem grandes tecnologias", diz. Essencial para o projeto foi aintegração de todas as disciplinas - arquitetura, sistemas de ecoeficiência, paisagismo,planejamento e produção da obra. Para Kawakami, não existe mais espaço para o arquitetoformalista na era da sustentabilidade.

Estatal verdeO conjunto de 160 mil m² abrigará o maiorcentro tecnológico da América Latina, com4.500 cientistas. Seu desenho,predominantemente horizontal, prevê umedifício central de escritórios com 300 m decomprimento e 50 m de largura do qualpartirão prédios laterais, onde se abrigarãolaboratórios, orientados a Norte e Sul paraevitar a radiação direta.

O projeto foi fortemente influenciado peloclima quente-úmido, detalhadamente

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milhãoanalisado a partir de um banco de dadosclimáticos feito pelo Labaut FAUUSP de cada uma das 8.760 horas de um ano, incluindotemperatura, umidade, direção e velocidade do vento, radiação solar e precipitação. Suasplantas estreitas com fachadas sombreadas favorecerão ventilação e iluminação naturais ea vista para o mar. Os edifícios serão conectados por espaços de transição entre interior eexterior, com jardins implantados no terraço do edifício central, entre os prédioslaboratórios, nas áreas de convivência e nas passagens entre edifícios, criandomicroclimas.

Outro ponto positivo é a industrialização de seus componentes - ponto em que, segundoKawakami, o Brasil ainda precisa evoluir, mas que grandes lideranças como o arquiteto JoãoFilgueiras Lima, o Lelé, já desenvolveram sistematicamente.

O canteiro do Cenpes foi pensado como um local de montagem, e não construção. Comexceção de alguns pilares de apoio e fundações de concreto, privilegiou-se o uso do açonas estruturas, enquanto o fechamento externo foi feito com painéis pré-moldados deconcreto e as vedações internas, em drywall.

Além de um canteiro de obras limpo, isso permite uma grande flexibilidade para desmontar,transportar e montar as peças caso seja necessário reconfigurar o layout do prédio.

Outra unidade da Petrobras - um conjunto de 110 mil m² numa área arborizada da praia doCanto, Vitória (ES) - foi projetada pelo escritório de Sidonio Porto com estratégiasambientais.

Além de levar em consideração a orientação solar e usar um cinturão verde de árvoresantigas, Sidonio Porto prevê microclimas mantidos por espelhos d'água e vegetação, brisesde chapas perfuradas em branco, aletas que formam uma espécie de veneziana externa evidros com pigmentação verde-claro. Isso não apenas protege da insolação como nãoimpede a circulação do ar junto às fachadas. A previsão é que o ganho solar fique abaixode 0,35.

Estudos de vento foram feitos a partir de dados do Ministério da Aeronáutica relativos aoaeroporto de Vitória. A combinação do arranjo dos edifícios e a topografia do terrenopermitirão a incidência dos ventos sobre todo o conjunto. Nos edifícios que precisarem dear-condicionado, a ventilação natural sobre as fachadas removerá parte do calor absorvidoda radiação solar.

A maioria de seus prédios terá na laje um piso técnico aberto, como um hiato entre ovolume construído e sua cobertura. Isso formará um espaço intermediário ventilado quecancelará ganhos advindos da radiação solar. Já a cobertura do auditório terá um terraço-jardim.Mas não são necessários os investimentos de uma megaestatal para construir verde.

Na capital paulista, o Eldorado Business Tower, do escritório Aflalo & Gasperini Arquitetos,obteve a pré-certificação Leed Platina do GBC-Brasil. Para isso, atingiu 50% de economiade água, 30% de energia e 75% de resíduos desviados de aterros sanitários.

Canarinho ecológicoA Copa de 2014 deve botar em prática no Brasil maisestratégias simples a favor do meio ambiente. A Fifaexigiu que o estádio do Maracanã recebesse umestacionamento para pelo menos cinco mil carros nadepredada região dividida entre o Maracanã e São

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Cristóvão pela linha de trem. O escritório ArtetecArquitetura propôs a transformação do lugar em umaestação multimodal ecologicamente correta,combinando as estações existentes de trem, metrô eônibus, um estacionamento de carros sobre a linhade trem e outro para bicicletas. Todos os estacionamentos em volta do estádio devem sertransformados em parques para aumentar a permeabilidade do solo, freqüentementeinundado no verão. Também um reservatório subterrâneo será construído para armazenaras águas da chuva coletadas pela cobertura da estação, que depois devem ser usadaspara irrigação.

Aberturas na cobertura da nova estação liberarão o ar quente, enquanto um jardim internoimenso abaixo do nível térreo contribuirá para o microclima e painéis solares na cobertura eno estacionamento gerarão energia. O projeto deve começar a ser realizado em agosto de2009, mas já rendeu uma menção honrosa no prêmio Holcim de 2008 para a América Latina.

Com o pé mais no chão, estratégias podem ser adotadas nas mais simples construções. É oque mostrou um time do Laboratório de Eficiência Energética em Edificações daUniversidade Federal de Santa Catarina liderado pela arquiteta Maria Andréa Triana e pelosengenheiros Roberto Lamberts e Marcio Antonio Andrade ao desenvolver uma torre dearmazenamento, tratamento e aquecimento solar de água pluvial que pode ser incorporadatanto por moradias novas quanto existentes, mesmo em regiões onde predominamautoconstruções de grande adensamento. O projeto ganhou menção honrosa na premiaçãoda Holcim.

Em uma porção inferior da torre de ferrocimento há uma cisterna que armazena água dechuva coletada pelo telhado da casa. Ela é utilizada, por exemplo, nas descargas. Umcoletor solar aquece essa água, que é mantida quente em um tambor, para ser utilizada nobanho. Ao substituir o chuveiro elétrico, um quarto do consumo de energia da casa podeser reduzido. Já na parte superior é armazenada água tratada e potável, para as torneirasde pias.

Eliane considera os coletores solares para aquecimento de água uma das alternativas maisinteressantes. "Infelizmente, seu uso no Brasil ainda é muito tímido. Agora que estãosurgindo leis municipais e políticas de incentivos para essa tecnologia. Porém há muito porfazer pois não basta exigir seu uso. As edificações têm que estar preparadas para recebê-las", diz a professora.

Seja de alta ou baixa complexidade, disseminar tecnologias energeticamente eficientes éimportante para que futuramente seus custos caiam. "Foi o que aconteceu com aslâmpadas fluorescentes compactas", exemplifica Westphal. "No início, eram caras e aeconomia não pagava o investimento em curto prazo." Com seu incentivo, ganharamcredibilidade, seu uso cresceu, e sua oferta também. Resultado: hoje há lâmpadascompactas de qualidade por R$ 9,00 contra incandescentes comuns a R$ 2,00. "O custo équatro vezes maior e a eficiência também. Ou seja, ela se paga."

E esse é o papel de certificações como o Leed - ou dos experimentos de "professoresPardais". Empresas que têm recursos instalam tecnologias inovadoras. Isso impulsiona aintrodução dessas inovações no mercado, populariza os produtos e reduz os custos. Nofim, todos saem ganhando.

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Dubai International Financial Centre LighthouseDubai, Emirados Árabes UnidosAtkins> Altura: 400 m (66 andares)> Três turbinas eólicas de eixo horizontal de 29 m de diâmetro e 225kW máximos com ventos entre 15 e 20 m/s> 4.000 painéis fotovoltaicos> Projeto conceitual

Burj al-Taqa, BahrainBahrainGerber Architekten, DS Plan> Altura 322 m (68 andares)> Sistema de "torres de vento"> Turbina eólica de eixo vertical Darrieus de 60 m de altura notopo do edifício> 32 mil m² de painéis fotovoltaicos> Estação de hidrólise para produção de H2> Brise giratório que acompanha o sol> Formato cilíndrico para diminuir a área exposta ao sol forte doGolfo Pérsico> Custo: US$ 406 milhões> Status: projeto

Academia de Ciências da CalifórniaSão Francisco, Califórnia, EUA Renzo Piano Building Workshop, Stantec Architecture, Arup, SWAGroup> 10 mil m² de cobertura viva absorvem 14 milhões de litros deágua pluvial por ano> 213 mil kWh gerados por ano por 60 mil células fotovoltaicas(5% a 10% do consumo do prédio)> 90% do entulho dos prédios antigos reutilizados na construçãode uma estrada> 12 mil toneladas de aço recicladas e usadas na estruturametálica do novo prédio> 50% de madeira certificada> 90% de espaços de ocupação intensa iluminados naturalmente> Isolamento termoacústico feito com algodão de jeans reciclado> Custo: US$ 429 milhões> Status: inaugurado (2008)

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Genzyme CenterCambridge, Massachussetts, EUABehnisch Architekten> 33 mil m² em 12 andares> Iluminação interna natural mantida por heliostato no teto queacompanha o sol e reflete raios sobre espelho, que por sua vez osprojeta para o átrio do prédio> Redirecionamento de raios no átrio por meio de candelabros deespelhos> Venezianas motorizadas que direcionam automaticamente luznatural no perímetro do edifício de acordo com movimento do sol> 30 mil pontos de automatização controlados por um sistema central> Cobertura viva> 1/3 de fachadas duplas, separadas em 1,2 m com vão ventilado durante o verão> 18 jardins internos> Painéis fotovoltaicos> Status: inaugurado (2004)

Cenpes da Petrobras-RJ Rio de Janeiro (RJ)Siegert Zanettini, José Wagner Garcia (co-autor), Centro dePesquisas da Petrobras, Labaut-FAU-USPStatus: Projeto

Dez estratégias de sustentabilidade do Centro de Pesquisas da Petrobras1 - Orientação solar adequada2 - Forma arquitetônica adequada aos condicionantes climáticoslocais3 - Materiais construtivos das superfícies termicamente eficientes4 - Superfícies envidraçadas com taxa de WWR (Window Wall Ratio) adequada5 - Proteções solares externas adequadas às fachadas6 - Ventilação natural7 - Iluminação natural8 - Uso da vegetação9 - Sistema para uso racional e reúso de água10 - Materiais de baixo impacto ambiental

Eldorado Business TowerSão Paulo (SP)Aflalo & Gasperini Arquitetos > Resíduos destinados à reciclagem> Materiais utilizados na construção produzidos na região> Vagas no estacionamento destinadas a bicicletas e a veículos decombustível menos poluente> Água captada da chuva e da condensação do sistema de ar-condicionado usada na irrigação de áreas verdes permeáveis, noespelho d'água, em vasos sanitários do térreo e dos subsolos e nalavagem dos pisos das garagens

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> Janelas com vidros de alta transmissão luminosa e baixa emissividade (0,30)> Ar-condicionado com volume de ar variável (VAV)> Elevadores com ADC e frenagem regenerativa, que recupera para outros elevadoresenergia dissipada quando um pára numa descida> Luminotécnica noturna com lâmpadas fluorescentes atrás de fachada de vidro, evitandoholofotes

PetrobrasVitória (ES) Sidonio Porto Arquitetos Associados> Áreas verdes e espelhos d'água entre os prédios,para manter microclimas> Relação janela-parede de 0,42 e aproveitamentode iluminação natural em 2/3 da profundidade dassalas> Coletores solares para aquecimento de água para restaurante> Painéis fotovoltaicos> Uso de painéis em concreto pré-fabricado> Água pluvial armazenada em lagos para ser reutilizada em irrigação> Tratamento de esgoto para reúso em instalações sanitárias

Dynamic TowerDubai, Emirados Árabes UnidosDynamic Architecture (David Fischer)> Altura: 420 m (80 andares)> 79 turbinas eólicas de eixo vertical> Células fotovoltaicas> Montagem modular com pré-fabricados> Projeto conceitual, apartamentos sob encomendaDetalhamento: 20 primeiros andares: escritórios 21º ao 35º: hotel de luxo36º ao 70º: apartamentos residenciais71º ao 80º: mansões verticais

Nas entradas das mansões serão instaladas garagens, que os moradores mais afortunadosacessarão por meio de elevadores para carros.

Cada unidade, de 124 m2 a 1.200 m2, deverá custar entre US$ 4 milhões e US$ 40 milhões.

Pearl River TowerCantão, Guangdong, ChinaSkidmore, Owings & Merrill> Altura: 309 m (71 andares)> Turbinas elólicas de eixo vertical (Darrieus)> Painéis fotovoltaicos> Base larga e estreita para captar mais vento> Torres d'água com resfriamento geotérmico> Em construção

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Bahrain World Trade CenterBahrainAtkins> Altura: 240 m (50 andares)> Três turbinas eólicas de eixo horizontal de 29 m de diâmetro e 225 kW máximoscom ventos entre 15 e 20 m/s> Status: construído> Geração: 1,3 mil MWh por ano

Melhores estratégias para um prédio energeticamente eficiente no Brasil> Uso de brises para promover a proteção solar nas horas mais críticas> Peitoris opacos, com tratamento térmico> Uso de vidros com baixo fator solar> Integração entre luz natural e artificial, por meio de sensores e controles que promovamo desligamento do sistema artificial quando a luz natural for suficiente> Sistemas de ar-condicionado com alta eficiência e adequadamente dimensionados> Ciclos economizadores integrados aos sistemas de ar-condicionado, quando o clima forpropício> Sistemas de distribuição de ar e controle mais individualizados> Ventilação natural, quando o uso da edificação permitir> Simulação computacional do desempenho térmico e energético da edificação para definiras estratégias mais adequadas ao clima e dimensionar adequadamente os sistemas de ar-condicionado

Conteúdo online exclusivo: >>> Confira mais imagens e plantas dos empreendimentos publicados nestareportagem

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Figura 1 - Empreendimento imobiliário em fase deterraplenagem, em zona de expansão urbana dacidade de Guayaquil, Equador, em abr/08, comfragmentos remanescentes de pedreira recém-encerrada no local

Urbanização, agregados minerais esustentabilidadePor Omar Yazbek Bitar, geólogo

A perspectiva de se alcançar umcenário de desenvolvimentosustentável no universo daconstrução civil pressupõeanalisar as dimensõeseconômica, social, ambiental einstitucional envolvidas em todaa cadeia produtiva, desde ofornecimento de insumos básicosaté o tratamento e a destinaçãodos resíduos gerados. Para tal,convém incluir, nessa análise, aavaliação do panorama atual efuturo em relação ao setor deextração de agregados minerais, sobretudo areia e brita, materiais largamenteempregados na preparação de argamassas, concreto, artefatos de cimento epavimentos, e ainda fundamentais em obras de engenharia.

De fato, em que pese o conjunto de esforços e avanços tecnológicos recentesem relação ao aproveitamento de RCDs (resíduos de construção e demolição),passíveis de reciclagem e emprego como materiais alternativos, emsubstituição a insumos tradicionais, aqueles bens minerais permanecem napauta de itens básicos requeridos na maior parte dos projetos e obras deconstrução civil. A adoção de normas de estímulo ao incremento da reciclagemde RCDs (como o decreto municipal em vigor na cidade de São Paulo desdejulho de 2007, sobre o uso de agregados reciclados em obras de pavimentaçãode vias públicas), aparentemente não tem sido ainda suficiente para inverterou mesmo atenuar significativamente o consumo de materiais produzidos apartir de fontes primárias.

Talvez se possa atribuir esse quadro a uma conjunção de fatores diversosainda não plenamente equacionados, que limitam a intensificação do uso deRCDs, como logística, desempenho ou até certa falta de cultura técnica paraaprimorá-los e aos poucos ampliar sua utilização. Certamente, muito ainda seavançará nesse caminho, conforme já se vê em países mais desenvolvidos.Todavia, enquanto isso, a dinâmica produtiva atual continua notavelmentedemandante de agregados de origem mineral, com valores crescentes a cadaano em todo o País, razão pela qual os problemas associados àsustentabilidade de sua produção em áreas urbanas, em todas as suas

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dimensões fundamentais, devem ser considerados.

Características do setor produtivoOs agregados são materiais granulares, com dimensões e propriedades físico-químicas variadas. Tanto em argamassas quanto na fabricação de concreto eartefatos de cimento, os agregados (areia e brita) entram geralmente nacomposição com 70% a 80% do volume total e sua qualidade deve estarcompatível com as normas técnicas pertinentes a cada finalidade. Osagregados também constituem a base do material utilizado na pavimentaçãoasfáltica de boa parte de vias urbanas e estradas, onde a areia e a britacorrespondem geralmente a 95% do material empregado, sendo o restantecomposto de emulsão asfáltica. Nesse caso, o uso de agregados recicladostem crescido e já chega, em algumas aplicações, a cerca de 50% do volumede material empregado.

Dados compilados dos últimos anuários do DNPM (Departamento Nacional daProdução Mineral), acerca da evolução do setor mineral no País na últimadécada, ilustram a significância da participação dos agregados minerais noquadro do produto mineral brasileiro. Excetuando-se gás e petróleo, estima-seque o setor de agregados (areia, cascalho e pedras britadas) tem respondidopor cerca de 30% do volume total gerado nas minas brasileiras. A relevânciadessa presença é ilustrada também quando se verifica que esse volume superao do montante de minério de ferro produzido no País, este como bem mineralde maior expressão na pauta atual de exportações. Contabilizam-se nissoapenas as estatísticas oficiais, pois se sabe que o setor abriga ainda umaparcela considerável de pequenos empreendimentos na chamada economiainformal.

Segundo a Anepac (Associação Nacional das Entidades de Produtores deAgregados para Construção Civil), o consumo de agregados pela populaçãobrasileira se situa atualmente em cerca de 2 t/hab/ano, ou seja, em patamarmuito inferior quando comparado ao de países mais industrializados, comoCanadá (13), Estados Unidos (9) e Europa Ocidental (variável entre 5 e 8t/hab/ano) - (disponível em www.anepac.org.br. Acesso em jun/2008). Seconfirmadas as expectativas atuais em relação às taxas de crescimento daeconomia brasileira medida pelo PIB (Produto Interno Bruto), em torno de 4% a5% ao ano, essa diferença certamente tende a ser reduzida nos próximosanos.

Essa tendência é percebida por meio de dados coletados pelo Sindipedras-SP(Sindicato da Indústria de Mineração de Pedra Britada do Estado de São Paulo)em relação à demanda de brita na Região Metropolitana de São Paulo, quecresceu 15% no período de 2005-2007. Quanto aos preços médios praticadosatualmente no mercado varejista, dados do IBGE (Instituto Brasileiro deGeografia e Estatística) mostravam que, em março de 2008, o metro cúbico depedra britada no 2 variava muito ao longo do território brasileiro (que possuicerca de 700 pedreiras), oscilando entre o mínimo de R$ 36 no Estado da Bahiae o máximo de R$ 148 no Acre, passando por valores da ordem de R$ 56 e R$41 no Rio de Janeiro e em São Paulo, respectivamente. Além da relativaescassez de rochas adequadas ao uso como agregados nas proximidades dealguns centros consumidores, como nos Estados da região Norte, asdisparidades de preços se correlacionam também com o tipo de rocha lavrada,visto que rochas calcárias e basálticas apresentam em alguns casos custos de

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produção mais baixos quando comparados aos de granitos e gnaisses, estesmais comuns, por exemplo, no Sudeste (Areia & Brita, 2008).

Assim, para lidar com essa tendência de crescimento, em um contexto deevidentes distinções regionais, emerge a necessidade de buscar respostas aalgumas questões fundamentais: de onde virão esses materiais? Em quecondições sociais, ambientais e institucionais serão produzidos? Como serãotransportados e a que preços chegarão ao mercado consumidor? Comoassegurar para que sejam extraídos em bases sustentáveis? Pode-se tentarresponder a essas e outras questões a partir de uma análise das relaçõeshistóricas que se estabeleceram entre o processo de urbanização e a extraçãode agregados minerais em áreas urbanas, mirando as conseqüências atuais eas perspectivas futuras em relação à sustentabilidade das cidades.

Pressão continuadaNa origem do problema parece estar o crescimento descontrolado das cidades,fenômeno observado em diversas partes do mundo, especialmente em paísesem desenvolvimento, a partir da segunda metade do século passado (períodopós-segunda grande guerra) e que segue exercendo forte pressão sobre osrecursos naturais outrora situados em áreas circunvizinhas e distantes doscentros urbanos. A expansão acelerada das cidades tem repercutido em perdatanto de qualidade desses recursos (o que se nota, por exemplo, em relaçãoaos recursos hídricos, em decorrência da poluição de mananciais ocasionadapelo lançamento in natura de resíduos e efluentes diversos) quanto dequantidade ou disponibilidade, condição essa particularmente afeita ao casodos recursos minerais em áreas urbanas.

O processo de urbanização tem avançado progressivamente e de formainapelável sobre áreas de extração e produção de agregados minerais.Geralmente situadas nas zonas periféricas das cidades, essas áreas tendem aser constrangidas pela urbanização que se aproxima, gerando conflitosambientais e disputas pelo uso do solo. Esses conflitos normalmente arrefecemou se extinguem com o encerramento das atividades extrativas e atransferência da atividade mineira para áreas cada vez mais remotas.

Retratos desse processo podem ser observados ainda hoje no País ecertamente em muitas outras médias e grandes cidades do mundo. Casonotável se constata, por exemplo, na cidade de Guayaquil, maior aglomeradourbano do Equador, com quase três milhões de habitantes e cujo crescimentopopulacional mais do que dobrou na última década do século XX. Aliado àcaracterística local de baixos índices históricos de verticalização (por conta deriscos sísmicos, mas também por razões culturais), bem como devido alimitações geográficas (oceano ao Oeste e manguezais ao Sul), a cidadeconcentra sua expansão urbana especialmente no rumo Oeste e Norte, comevidentes efeitos em relação a pedreiras preexistentes. Ganham cada vez maisespaço os empreendimentos imobiliários de grande porte, extremamenteafastados do centro urbano do município (em um contexto notavelmentedesprovido de infra-estrutura de transporte público), com a construção deextensos condomínios residenciais horizontais e o conseqüente remanejamentoda extração de agregados minerais para áreas mais distantes (figura 1).

Além desse caso, muitos outros certamente poderiam ser mencionados,particularmente em países da América Latina e Caribe e também na Ásia. Como

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Figura 2 - Areeiras (círculos, em vermelho)localizadas na frente de expansão sul da cidade deSão Paulo, sob notável pressão exercida pelaurbanização

Figura 3 - Pedreiras (em vermelho)localizadas na frente de expansão norte dacidade de São Paulo, sob notável pressãoexercida pela urbanização. Em verde, áreade antiga pedreira atualmente utilizadapara tratamento de resíduos

na China, considerada hoje como centro industrial mundial e que tem a maiorparte de suas instalações fabris situadas dentro ou em áreas próximas dascidades (UNFPA, 2007), inclusas as de produção de agregados paraconstrução, as quais evidenciam os primeiros sinais de problemas e conflitosambientais.

Com algumas diferenças em seuprocesso evolutivo, a dependerdo tipo de agregado mineralextraído, o caso da RMSPenvolve situações similares.Notabiliza-se o caminhamento ea atual concentração de areeirasno rumo da zona Sul da região(figura 2), em que ocorre odomínio de morros cobertos porsolos de alteração de rochascristalinas (os solos saprolíticos,correspondentes ao horizontepedológico C), muito suscetíveisa processos erosivos e, por isso, passíveis de desmonte hidráulicorelativamente simples, bem como situados em condições topográficasfavoráveis à separação da areia (removida em meio à polpa, por métodosessencialmente gravitacionais).

Cabe mencionar que, no passado, essas areeiras se encontravam instaladasmais ao núcleo da metrópole, no campo denominado de centro expandido, emáreas de planícies aluviais dos rios Pinheiros e Tietê, hoje totalmente ocupadaspela urbanização e seu sistema viário. Com o tempo, as atividades migraramnão apenas sob o ponto de vista geográfico, mas também no que se refere aosmateriais lavrados, que mudaram para os mencionados solos de alteração.

Por sua vez, ao Norte do município, sobo domínio de rochas cristalinas decomposição predominantementegranítica ou gnáissica, encontram-sediversas pedreiras, como na região daserra da Cantareira (figura 3), comcaracterísticas propícias à produção debrita.

Tanto as areeiras quanto as pedreirasencontram-se hoje sob forte pressão daexpansão urbana. Não se pode deixar deconsiderar certa contradição nesseprocesso. Em síntese, observa-se que amesma urbanização atualmenteviabilizada pela indústria da construçãocivil acaba, mais cedo ou mais tarde,expulsando ou eliminando uma dasatividades que a alimenta, ou seja, a extração e produção de agregadosminerais, o que remete à reflexão sobre as perspectivas futuras nas relaçõesentre mineração e cidades.

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Conseqüências à sustentabilidadeOs efeitos decorrentes desse processo se fazem sentir no plano econômico etambém no âmbito socioambiental, ou seja, repercutem nos pilares desustentabilidade das cidades, a partir da perda de recursos mineraisaproveitáveis, pela indisponibilidade de jazidas devido à ocupação do solo.Perde-se, de maneira praticamente irreparável, a possibilidade deaproveitamento de bens minerais importantes ao desenvolvimento sustentáveldas próprias cidades.

Com isso, transferem-se instalações e abrem-se novas minas em outraslocalidades mais longínquas (em relação à cidade em questão, emboracertamente próximas a outros centros consumidores). Muda-se o endereço,mas os problemas, como os de natureza ambiental, por exemplo, podem nãoapenas se repetir, mas evoluir para situações até mais preocupantes. Porconta de deficiências institucionais associadas a essas novas localidades, bemcomo de práticas rudimentares por parte de alguns produtores, configuram-secenários de impactos ambientais com magnitudes e intensidades ampliadas.Exemplo disso se observou, por exemplo, na região do Vale do Paraíba noEstado de São Paulo, bem como em outras localidades próximas à metrópole,que abrigou diversas minas destinadas a atender às demandas de areia daRMSP, mas que gerou degradação e conflitos no próprio Vale.

Também se nota o aumento do custo do transporte, pelo fator distância e,portanto, resultando em aumento significativo no preço ao consumidor. É ocaso da areia para abastecer a RMSP, que advém de localidades a distânciasque chegam a 150 km, com inevitáveis aumentos no custo final e quealcançam até 70% de acréscimo. Em muitos casos, o preço ao consumidorchega a triplicar ou quadruplicar em relação ao valor que se pode obterdiretamente no local da mina.

Perspectivas futurasEmbora em ritmo mais lento em comparação às décadas passadas e, ainda, demodo desigual na superfície do planeta, o crescimento da população urbana nomundo continua avançando em todos os continentes (figura 4). Essasconstatações se encontram em estudos recentes da ONU (Organização dasNações Unidas) sobre a situação da população no mundo (UNFPA, 2007) edenotam uma grande preocupação com a evolução e o futuro das cidades, emparticular com as chamadas megalópoles (figura 5).

De acordo com o relatório da ONU, pela primeira vez na história a populaçãourbana supera a rural. A marca de 50% de pessoas morando em cidades estásendo atingida neste ano (2008) e a população mundial se concentraráirreversivelmente em áreas urbanas, alcançando 60% em 2030. Na AméricaLatina e Caribe esse índice chega hoje a 75% da população (patamar inferiorapenas ao da América do Norte). No caso brasileiro, de acordo com o IBGE, em2005 a população urbana já alcançava 84,20% (disponível emwww.ibge.gov.br/paisesat/. Acesso em jun/2008) e continuará crescendo. AONU adverte os governos a levar em conta a sustentabilidade das metrópoles,porque são nelas que o "futuro do mundo" irá ocorrer.

O relatório da ONU diz ainda que a população do mundo cresce a umavelocidade assombrosa e não seria apenas inútil, como equivocado, tentar

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reverter essa tendência. Em 2030, regiões como Ásia ou África terão o dobrode população e será grande também o crescimento na América Latina e Caribe.Mudar o caminho das coisas seria inútil, adverte o relatório, segundo o qual émelhor seguir essas tendências de perto, conscientes do fato de que apossibilidade ao menos de um futuro sustentável das cidades depende dedecisões que em grande parte devem ser tomadas agora. O relatório define ofuturo como "a alvorada de um milênio urbano" e aponta que os problemasgerados são a falta de planejamento dessas cidades, que se reflete em umademanda não satisfeita por serviços básicos: água, esgotos e lixo. No caso daAmérica Latina e Caribe, segundo o relatório, agora o problema central é aregularização das propriedades e o serviço de estrutura das nossas cidades.

É nesse contexto que se impõe hoje a discussão e a decisão necessárias emrelação à abordagem da produção de agregados minerais em regiões urbanas,vitais para a infra-estrutura das cidades brasileiras.

Figura 4 - Porcentagem da população residente em áreas urbanas, por região(1950-2030). Fonte: UNFPA, 2007

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Figura 5 - Evolução do crescimento da população urbana no mundo (1950-2030) eas dez maiores metrópoles (2005-2015). Fonte: UNFPA, 2007

Alguns desafios atuaisDiante desse cenário, sempre sob a égide da busca da sustentabilidade denossas próprias cidades, podem-se destacar alguns temas e desafios aenfrentar, com urgência.

O primeiro deles diz respeito à conservação de recursos minerais associadosaos agregados, visando assegurar o suprimento futuro. O conceito deve ser omesmo empregado em relação, por exemplo, à água (passível também dereúso) e que corresponde ao que se pode chamar de bom senso comum, ouseja, usar bem hoje para poder ter amanhã. A conservação dos recursosminerais existentes em regiões urbanas pode ser efetuada mediante proteçãolegal das reservas conhecidas e previsão das áreas potenciais, estabelecendo-se o necessário cinturão para limitar o avanço da ocupação.

Evidentemente, há um debate a ser travado diante dessa questão, em face deoutros usos igualmente definidos pela sociedade como relevantes para fins depreservação, conservação e uso. Porém, assim como as águas, o ar e abiodiversidade, essenciais à vida e à sustentabilidade das cidades, osagregados minerais (igualmente relevantes sob a ótica da sustentabilidade dascidades, pelo seu papel no suprimento de insumos necessários à manutenção eampliação da infra-estrutura das mesmas) também têm sido afetados pelocrescimento desordenado delas (a ponto de, na maior parte dos casos,

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tornarem-se inexploráveis em face da ocupação do solo superficial) e suaoferta deve ser protegida visando seu aproveitamento futuro, em basessustentáveis.

Outro grande desafio a enfrentar refere-se ao prolongamento da vida útil dasminas urbanas em operação, visando estender ao máximo a duração dasextrações atuais e manter ao menos uma parte do suprimento atual, mediantemétodos e práticas adequadas e o aprimoramento da gestão ambiental nessesempreendimentos. Como se pode fazer isso? Distinguem-se, ao menos, duaslinhas de possibilidades de atuação.

Uma refere-se à necessária melhoria na gestão ambiental de minas urbanasativas, dado que, de maneira geral, as práticas atuais ainda geram muitosconflitos. Casos como os do uso de novas técnicas de desmonte de rocha porexplosivos, com controle furo a furo e mapeamento da face das bancadas (quereduzem vibrações e o risco de ultralançamento de fragmentos de rocha), bemcomo a eliminação do emprego do cordel detonante (reduzindo a sobrepressãoacústica) e as inovações na britagem de rochas em pedreiras (com adoção debritador de impacto de eixo vertical), propiciando a produção de areia artificial(gerada a partir da britagem de rochas cristalinas) e a conseqüente reduçãoda quantidade de rejeitos (finos de pedreiras) nas minas, prenunciam avançosrelevantes, conforme salientado em Sánchez (2007). Essas medidas incluem-seentre as que tendem a favorecer melhor convivência entre pedreiras e acircunvizinhança. Agregação de sistemas de gestão ambiental e o emprego denovos instrumentos, como os métodos de produção mais limpa (P+L),ecoeficiência, responsabilidade social, entre outros, tendem a auxiliar nessatarefa.

Outra linha de possibilidades diz respeito à integração de áreas exauridas aotecido urbano, visando gerir a reabilitação progressiva de áreas degradadaspela mineração. Opções de usos pós-mineração devem considerar a integraçãocom a circunvizinhança e, ainda, ser produtivos, gerenciáveis e sustentáveis.Os parques públicos e recreativos encontram-se entre as soluções que melhortêm se adaptado a esses condicionantes. Usos pouco freqüentes, como os deantigas cavas utilizadas como "piscinões" (estruturas hidráulicas destinadas aocontrole de enchentes urbanas), carecem de melhor avaliação, menos em faceda alternativa pós-mineração proporcionada e mais pelas dificuldadesdetectadas em relação à destinação do lixo acumulado durante sua operação.

Usos seqüenciais também se mostram viáveis, como demonstra o caso daPedreira Itaquera na cidade de São Paulo, em que se priorizou a instalação deum aterro de inertes no interior da cava exaurida e a posterior destinação dolocal para fins de empreendimento imobiliário (Areia & Brita, 2007). Há,contudo, questões a considerar em torno da eventual adoção de tal modelo,dada a alternativa perdida em relação ao pleno reaproveitamento dos materiaisinertes provenientes de RCDs lançados nesse tipo de aterro, que poderiam emparte ser reciclados e utilizados novamente como agregados. Todavia, trata-se de uma opção relevante e o tema chama a atenção para outra alternativa:a viabilidade de instalações mistas, com triagem dos materiais (além daquelautilizada no caso), em que parte dos materiais poderia ser destinada àreciclagem e parte lançada em aterro.

Estimular o desenvolvimento da reciclagem de RCDs se constitui também em

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um dos principais desafios a enfrentar, visando à substituição de parte dademanda projetada e a administração da conseqüente redução do ritmo decrescimento da produção de agregados naturais. Promover a reciclagem e oreúso de RCDs, aproveitando-se as instalações existentes e a produçãosimultânea à de brita primária em pedreiras urbanas existentes, tem sidoapontado como um caminho necessário, embora de logística relativamentecomplexa, em razão das grandes dimensões de volumes e equipamentosenvolvidas.

Na cidade de São Paulo, por exemplo, a geração de entulhos equivale àprodução de resíduos domiciliares (cerca de 17 mil t/dia de RCDs contraaproximadamente 15 mil t/dia de lixo doméstico). Cerca de 50% das caçambasde entulho são consideradas clandestinas (ao todo, estimam-se cerca de 25mil), havendo muitos pontos de lançamento irregular de RCDs. Presume-se queo gerenciamento dos resíduos urbanos tende a interagir cada vez mais com aatividade mineral, para aumentar a cooperação e reduzir as pressões sobre osrecursos naturais. O aproveitamento de finos de pedreiras e a demolição degrandes obras também devem merecer atenção especial.

Para atingir os desafios mencionados, há outros correlatos e estruturais aenfrentar, como o do processo mais geral de planificação do uso do solo,incluindo as áreas de produção de agregados, ou seja, atribuir novos usos àsáreas em harmonia com o contexto territorial e funcional da cidade na regiãoem que se situam. O ordenamento territorial almejado na elaboração dosplanos diretores municipais (PDMs) e regionais deve assegurar a identificação eproteção de áreas potenciais e áreas exclusivas para mineração de agregados(Castillo, 2001), podendo resultar na recomendação de três tipos básicos nozoneamento mineral: áreas preferenciais; áreas controladas; e áreasbloqueadas (Tanno e Sintoni, 2003; Sintoni, 2007).

As bases para isso têm sido dadas em diversas normas constitucionais efederais, como o Estatuto da Cidade, bem como em leis estaduais e municipais.Constituições estaduais, como as de Goiás e de São Paulo contêm diretrizespara que o disciplinamento do uso do solo leve em conta a atividade mineral.Não obstante, a inserção em planos diretores requer participação pró-ativa porparte dos setores envolvidos, como bem se mostrou, entre outros, na revisãode planos diretores nos municípios de São Paulo e Embu, que contemplaram,em seus zoneamentos, áreas especiais para a atividade de produção deagregados. O mesmo se verificou no zoneamento ecológico-econômico daregião do litoral Norte do Estado de São Paulo, estabelecido por lei estadualem 2004, que prevê a atividade mineral entre os usos do solo permitidos,desde que realizada sob plano diretor específico e em consonância com osPDMs dos municípios da região.

O momento parece ser favorável a essa discussão, pois se nota progressivatendência de aproximação entre as políticas mineral, urbana e ambiental noPaís, com reformas em curso, representando excelente oportunidade para otratamento e a solução integrada dos problemas.

ConclusãoAs perspectivas de sustentabilidade no universo da construção civil ressaltama importância dos agregados minerais no contexto de áreas urbanas, moradaatual e futura da maior parte da humanidade. Embora de modo desigual, as

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cidades continuam crescendo e se expandindo, e os conflitos com áreas deprodução de agregados tendem a continuar ocorrendo.

Nesse contexto, a gestão das relações entre urbanização e agregados requero enfrentamento de alguns desafios básicos, entre os quais se destacam: aconservação de recursos minerais, o prolongamento da vida útil das minasurbanas em operação (com a melhoria na gestão ambiental de minas ativas e aintegração progressiva de áreas exauridas ao tecido urbano), odesenvolvimento da reciclagem de RCDs e, ainda, em um plano institucional, aplanificação do uso do solo, com a inclusão de áreas destinadas à produção deagregados.

Omar Yazbek Bitar, geólogo

IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo) e-mail: [email protected]

Agradecimentos

Aos colegas do IPT, pela permanente reflexão e discussão sobre o assunto, em especial a Tânia de

Oliveira Braga, pela leitura crítica e sugestões ao texto, e a Nivaldo Paulon, pelo geoprocessamento e

edição das figuras.

Leia Mais

Itaquera: de pedreira a área reurbanizada. Areia & Brita, 2007. Revista Areia & Brita,

São Paulo: Anepac, abr/mai/jun, 38, p.6-12.

Demanda por Brita na Região Metropolitana de São Paulo. Areia & Brita, 2008. Revista

Areia & Brita, São Paulo: Anepac, jan/fev/mar, 41, p.32-33.

Ordenación Minero-ambiental de Los Recursos no Renovables. El Caso de Guayaquil

(Ecuador). In: Jornadas Iberoamericanas sobre Caracterización e Normalización de

Materiales de Construcción 1. J. R. H. Castillo, 2001. Madrid: Cyted, 2001, 9p.

Imagens de Satélite Ikonos. Fundação de Ciência, Aplicações e Tecnologias

Espaciais/Secretaria de Estado do Meio Ambiente. 2003. São Paulo: Funcate/SMA, CD-

ROM.

Situação da População Mundial - Desencadeando o Potencial do Crescimento Urbano.

Fundo de População das Nações Unidas - UNFPA. 2007. Washington: UNFPA/ONU,

108p.

Mineração e Meio Ambiente. In: Tendências Tecnológicas Brasil 2015: Geociências e

Tecnologia Mineral. Sánchez, L.E. 2007. Rio de Janeiro: Cetem/MCT, p.191-208.

Ordenamento Territorial da Mineração de Agregados. A. Sintoni, 2007. Areia & Brita.

São Paulo: Anepac, 40, p.26-30.

Mineração e Município. Base para Planejamento e Gestão dos Recursos Minerais. L.C.

Tanno; A. Sintoni (coordenadores). São Paulo: IPT, 178p. 2003.

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Residência modelo de alta qualidade ambiental

Hoje, a construção civil é umdos setores que mais geramimpactos ambientais, e a cadeiaprodutiva do setor éresponsável pelo consumo degrande parte dos recursosnaturais e pela geração de umvolume de resíduos sólidossignificativo. A RegiãoMetropolitana de São Paulo geraaproximadamente 14 mil t/dia deentulho, com um consumo diáriode água potável ao redor de 1,5 bilhão de litros (Fonte: Sabesp) e deaproximadamente 4,6 GW de energia elétrica (Fonte: Seade). Boa parte dosresíduos gerados na construção civil pode ser evitada empregando-se técnicasracionalizadas de construção, e o uso racional de água e energia nasedificações pode contribuir sensivelmente para a redução do aquecimentoglobal e racionamento de água.

As construções residenciais são responsáveis por 34% do consumo de energiaelétrica nas grandes metrópoles. As construções de alta qualidade ambiental(ou construções sustentáveis) são uma necessidade para otimizar o uso derecursos naturais que se tornam cada vez mais escassos.

Tendo em vista estimular no Brasil o desenvolvimento de práticas deconstrução sustentáveis e o uso de materiais que gerem menor impactoambiental, a Fundação Carlos Alberto Vanzolini assinou, em 2007, um contratode cooperação com o CSTB (Centre Scientifique et Téchnique du Bâtimant) ecom o Certivéa, da França, para adaptação do Referencial Técnico DémarcheHQE (Haute Qualité Environnementale) para o Brasil. O resultado dessacooperação é o nascimento do referencial Processo Aqua (Alta QualidadeAmbiental), uma adaptação à realidade brasileira do referencial francêsDemarche HQE®, elaborado por uma equipe multidisciplinar envolvendo aFundação Vanzolini, professores dos departamentos de Engenharia deConstrução Civil e Engenharia de Produção da Escola Politécnica daUniversidade de São Paulo e a Inovatech Engenharia.

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Foto 1 - Vista geral daCasa Aqua construídapara a Feicon 2009

Foto 2 - Guarda-corpo daCasa Aqua comresfriamento evaporativo

Figura 2 - Vista superior da Casa Aqua com as asaslaterais e indicação do vento passando pela casa

Figura 1 - Efeitos dailuminação natural eventilação nas fachadas

Foto 3 - Divisóriasinternas em chapas deeucalipto certificado

O Projeto da Casa Aqua

A fim de promover a certificação Aqua e divulgar soluções de sustentabilidadede alto, médio e baixo custo, a Fundação Carlos Alberto Vanzolini, a InovatechEngenharia, a Reed Exhibitions e a Missão Econômica da França no Brasillançaram, na Feicon 2009, a Casa Aqua.

Concebido a partir dos requisitos de desempenho ambiental do referencialAqua, o projeto de Rodrigo Mindlin Loeb procurou incorporar materiais deconstrução de baixo impacto ambiental e soluções construtivas queaumentassem o conforto dos usuários e diminuíssem o impacto da construçãosobre o meio ambiente externo.

A implantação da casa sempre deve privilegiar ailuminação natural e aproveitar a ventilação natural dolocal. Cada uma das fachadas foi desenhada paramaximizar os efeitos positivos da iluminação natural eventilação, porém, protegendo o envelope da irradiaçãosolar direta (figura 1).

Considerando uma implantação na cidade de São Paulo,a fachada norte apresenta grandes aberturas paraentrada de iluminação natural, porém, com diversosanteparos em posições distintas, de modo a promover osombreamento das áreas internas ao longo de todo oano, conforme as diferentes angulações de incidênciade radiação solar.

O paisagismo e o guarda-corpocom argila expandida umidificadaforam empregados paradesempenhar uma função demoderação climática devido aosombreamento e ao conceito deresfriamento evaporativo, queconsiste na transferência de calordo ar para a água por meio dofenômeno de evaporação. Opotencial de resfriamentoevaporativo é estimado peladiferença de temperatura de bulbo úmido e seco do ar que circula pela CasaAqua e sua envoltória. Dependendo da temperatura da água no guarda-corpo,das condições de vento e da umidade relativa do ar da Casa Aqua, a redução

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Figura 3 - Corte esquemático do telhado comdemonstração do efeito Venturi

de temperatura do ar nas proximidades do guarda-corpo pode variar de 1,5oC

a 5oC (foto 2).

As fachadas leste e oeste (mais suscetíveis à radiação solar direta) possuempoucas aberturas, e a aba leste é descolada do envelope principal,proporcionando sombreamento permanente e um colchão de ar paramoderação climática.

Para evitar os ganhos de calor, os corredores e sacadas foram dispostos juntoàs fachadas e o telhado foi "descolado" da cobertura, avançando sobre oslimites da casa para sombrear as fachadas. A cobertura em duas águasinvertidas proporciona a captação de água de chuva em um único ponto e aventilação natural por efeito Venturi. O efeito Venturi consiste na redução depressão devido ao aumento da velocidade de um fluido quando conduzido poruma redução de seção transversal. Considerando a implantação na regiãoSudeste com ventos predominantemente do Sul, a cobertura da casa possuiuma abertura voltada para o Sul que capta o vento e o conduz para uma zonade menor seção transversal na região central da casa, que possui aberturaspara a parte interna da construção, proporcionando uma retirada de ar quentedo interior. O sistema de cobertura pode reduzir a temperatura interna em

1,7oC, de acordo com a direção predominante dos ventos e carga térmicainterna da edificação.

O sistema estrutural proposto é uma estrutura autoportante sem pilares ouvigas, proporcionando a flexibilidade para qualquer tipo de revestimento(interno e externo), além de uma construção com alto nível de industrialização.

O protótipo foi projetado paraproporcionar a máxima eficiênciano consumo de água e energiaelétrica. Pensando em facilidadede manutenção e menor custode implantação, optou-se porum sistema de captação deágua de chuva comercial, que pode ser encontrado nas melhores lojas demateriais de construção do mercado. A água de chuva pode ser utilizada pararega de jardins, lavagem de áreas externas e - após tratamento específico -no resfriamento evaporativo dos guarda-corpos. Todas as torneiras e vasossanitários são de baixo consumo (torneiras de fechamento automático eválvulas de descarga de duplo fluxo) e a redução no consumo de água da casapode chegar a 50%.

Todas as lâmpadas e eletrodomésticos devem atender à regulamentaçãomáxima do Procel, e para o aquecimento de água foi projetado um sistema depainéis térmicos e acústicos também encontrados em lojas de materiais deconstrução, pois mesmo os equipamentos comerciais têm elevada eficiência,garantia e fácil manutenção. Um sistema de aquecimento de água com painéistermossolares reduz o consumo de energia elétrica da casa em até 50%,proporcionando ao usuário um período de retorno sobre o investimento deaproximadamente dois anos.

Os materiais escolhidos e o sistema construtivo

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Os materiais escolhidos para o protótipo seguiram a metodologia do ProcessoAqua, na qual uma elevada proporção dos materiais e sistemas construtivosdevem atender a requisitos de sustentabilidade.

Todo o sistema de vedação vertical foi especificado para atender aos critériosde construção seca, ou seja, sem utilização de água e argamassa. As soluçõespara vedações internas podem ser painéis de eucalipto reciclado, chapascompostas de embalagens Tetra Pack prensadas, chapas de OSB (OrientedStrenght Board), tijolos de solo-cimento, entre outros (foto 3).

O sistema de chapeamento confere rapidez à execução e flexibilidade paraexecução de instalações elétricas e hidráulicas e, se bem empregado,excelentes propriedades térmicas e acústicas ao envelope da casa, bem comocaracterísticas de desmontabilidade e reutilização de elementos construtivos,requisitos fundamentais para o atendimento aos critérios de sustentabilidadepropostos. Entretanto, esse sistema demanda alguns cuidados principalmentenos itens relacionados a propriedades higroscópicas dos materiais empregados,coeficientes de dilatação conhecidos e compatíveis com o sistema estruturalproposto, determinação de pontos de alívio de tensões em fachadas eparâmetros de desempenho térmico e acústico corretamente definidos. Para acorreta execução de um sistema de vedação com chapeamento devem serobservados os seguintes critérios:

Superfícies niveladas e esquadrejadas, para evitar recortes nas placas (foto4)

Fechamento de todas as frestas. Uma abertura de 1% em área podesignificar uma perda de até 50% na atenuação acústica de uma vedaçãovertical (foto 5)

Isolamento térmico e acústico integrado com o sistema chapeado. A maioriados sistemas chapeados tem como premissa o sistema massa-mola-massa paraabsorção de ruídos e aumento da isolação térmica. A escolha dos materiais deisolamento térmico deve ser efetuada com bastante critério, observando osparâmetros de descarte, energia consumida na fabricação, emissão decompostos orgânicos voláteis, entre outros

As alvenarias em tijolos de solo-cimento conferem rapidez à execução dosfechamentos devido à modulação dimensional das peças, redução da cargasobre as fundações devido ao seu menor peso e bom desempenho térmico eacústico, devido à inércia térmica de seu material. Outra grande vantagem dosistema é a não utilização de argamassas de assentamento e a drásticaredução do momento de transporte, pois dependendo das condições degranulometria e composição do solo, os tijolos podem ser fabricados na obrasem qualquer tipo de queima, reduzindo as emissões de carbono tanto na suafabricação quanto no transporte (foto 6). A execução das alvenarias em solo-cimento deve obedecer aos seguintes critérios:

Projeto racionalizado de fechamento vertical

Projeto de instalações integrado com projeto de alvenarias

Revestimento de áreas molháveis

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Foto 5 - Fechamento defrestas

Foto 4 - Marcação degabaritos no piso parasaída da vedação vertical

A cobertura é executada em telhas de celulose reciclada, que possuemexcelente desempenho térmico aliado a um baixo peso, que reduzsignificativamente sua carga sobre as fundações. O projeto da cobertura levaem conta cargas de vento e a inclinação desejada para o telhado, para que setenha uma otimização do tamanho das telhas, reduzindo perdas e geração deresíduos devido aos recortes. As telhas são constituídas por uma monocamadade fibras orgânicas (vegetais) impregnadas com asfalto, ligadas por uma resinade proteção contra raios UV, que impede a escamação da superfície (figura 4).

Além do baixo impacto ambiental, as telhas de celulose reciclada são flexíveis ecom alta resistência mecânica, contando ainda com bom isolamento térmico e

baixo peso. O baixo peso (3,9 kg/m2) reflete em economia de estrutura demadeiramento de telhado, bem como alívio nas fundações. O custo de umsistema de cobertura com telhas recicladas é bastante similar a um sistemacom telhas de fibrocimento, porém, com desempenho bastante superior. Umsistema de cobertura convencional com telhas de barro consome 154% maismadeira do que o sistema com telhas de celulose reciclada, além de custar emmédia 58% mais caro.

A montagem do sistema de cobertura com telhas de celulose reciclada develevar em consideração alguns cuidados principais:

Correto dimensionamento do madeiramento do telhado e seu espaçamento,de modo a evitar perda de geometria do telhado ao longo do tempo (figura 5)

Compatibilização da inclinação do telhado com dimensão das telhas e suarespectiva sobreposição, de modo a evitar recortes nas chapas

Perfeito alinhamento das telhas

Correta fixação das telhas utilizando o sistema de fixação específico

Colocação das telhas no sentido oposto aos ventos predominantes (figura 6)

Foto 6 - Execução daalvenaria de solo-cimento

Controle da qualidade e manutenção

Por se tratar de uma construção que integra diversos sistemas construtivos,os principais cuidados no controle de qualidade de uma Casa Aqua são asinterfaces entre as diversas soluções adotadas, principalmente nos aspectosde desempenho de médio e longo prazo. Um dos principais cuidados a seremtomados na construção de uma casa é o sistema de impermeabilização eproteção das chapas de OSB e eucalipto que ficarem sujeitas ao tempo, sejacom revestimento de argamassa flexível, seja com vernizes à base de água

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Figura 4 - Telhas decelulose reciclada

Figura 5 - Espaçamento do telhado

com alto teor de proteção contra raios UV. Outro ponto relevante no controlede qualidade é a correta execução dos sistemas de isolamento térmico eacústico, que são vitais para garantir o desempenho necessário para atenderao referencial Processo Aqua.

Outro ponto importante a ser considerado é a facilidade de manutenção doprotótipo, uma vez que o sistema construtivo chapeado permite acessopraticamente imediato à infraestrutura (instalações elétricas, hidráulicas, gás,TV, telefone) embutida nas paredes, sem geração de entulho ou grandesdemolições. Além do sistema chapeado, a casa foi projetada para serconstruída com materiais que podem ser encontrados nas grandes revendas demateriais de construção, garantindo fácil acesso a materiais de reposiçãoquando necessários.

Figura 6 - Correta colocação dastelhas

Colaboradores:

Arquiteto Rodrigo Mindlin Loeb, autor do projeto arquitetônico da Casa Aqua e titular da

ULAB, Laboratório Urbano, [email protected]

Camila Del Gaudio Orlando, unidade de Negócios de Sustentabilidade da Inovatech

Engenharia, [email protected]

Leia Mais

Sol, Vento & Luz. Resfriamento Evaporativo e Condicionamento de Ar Convencional:

Estudo Experimental Comparativo. G. Z. Brown, E. Mark Dekay Masiero, 2006

Catálogo Técnico Onduline para Telhas de Celulose. www.onduline.com.br

Catálogo Técnico Lafarge para Fechamento em Gesso Acartonado. www.lafarge.com.br

Catálogo Técnico Tijoleco Tijolos de Solo-cimento. www.tijoleco.com.br

Sites

www.seade.gov.br

www.sabesp.com.br

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Fachadas respirantes

Fachadas ventiladas combinam funções estéticas com bomdesempenho térmico, além de contribuir para reduzir cargas docondicionamento de ar

Por Eride Moura

Ainda em processo de introduçãono Brasil, a fachada ventiladatem sua eficiência comprovadahá mais de 30 anos nos paísesdo hemisfério Norte. Por aqui,vem suscitando interesse tantopelos efeitos estéticos quantopelo desempenho térmicoprometidos. Em tempos deexigência de menor consumoenergético, o sistema podecontribuir para reduzir as cargasde condicionamento artificial dear. Pode também, como uma"capa" protetora, preservar aestrutura e prolongar a vida útilda edificação.

Empregando materiaisespecíficos e utilizando-se deprincípios físicos simples, a fachada ventilada não deve, em hipótese alguma,ser confundida com a chamada fachada cortina. Ambos distinguem-se, éverdade, das fachadas convencionais, mas têm em comum apenas o fato decriarem um invólucro separado e independente da estrutura do edifício. Asubestrutura que suporta o revestimento é de aço inoxidável ou alumínio epode ser ajustada.

No caso da fachada ventilada, a cavidade formada entre os dois paramentos -de 10 cm a 15 cm de largura, mas podendo ser maior para possibilitar apassagem de instalações - é determinante para o sucesso do sistema,funcionando como colchão de ar renovável. A troca de ar é permanente nacâmara e maior o conforto ambiental dentro do edifício.

No hemisfério Norte, onde essas fachadas foram desenvolvidas, como oinverno é rigoroso e a manutenção do calor nos ambientes internos é

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Colocação da peça cerâmica extrudada nasubestrutura em obra na Alemanha

fundamental, parte dessa cavidade é preenchida por uma camada de materialisolante, geralmente painéis de lã de vidro ou de rocha. Exemplos muito antigos desse conceito de fachada dupla podem ser vistos nosEstados Unidos e na Inglaterra, em edifícios históricos, que apresentam umasegunda fachada em alvenaria de tijolos, trabalhada independentemente daparede estrutural.

Com a evolução dos materiais, esse paramento externo pôde receber, além devidros altamente sofisticados, placas de revestimento de materiais queagregam valor e beleza aos edifícios. Granito, mármore, porcelanatos,cerâmicas (extrudadas, esmaltadas, grés, cotto) e placas compósitas demetais ou laminados melamínicos são de uso corrente nesses países.

Sistema de juntas abertas Nas últimas décadas, os estudosrealizados em laboratórioseuropeus, visando reduzir custoscom energia para calefação erefrigeração, levaram aodesenvolvimento da fachadaventilada, cujo princípiofundamental - e que a distingueda curtain wall - é o fato depossuir juntas abertas. O espaçoentre as placas do invólucro (asjuntas) não recebem vedaçãocompleta nas aberturas inferiorese superiores, possibilitando, assim, a criação da lâmina de ar na cavidade entreas duas paredes (ver figuras abaixo).

Essa lâmina de ar é a característica dominante do sistema de fachadaventilada, uma vez que é responsável pelo desencadeamento do efeitochaminé - um sistema eficaz e natural de ventilação.

O fenômeno fundamenta-se em um princípio simples da física: o ar mais quentesobe e, pela diferença de pressão, suga para dentro da cavidade o ar maisfresco. O ar da cavidade é continuamente renovado e não chega a aquecer aface do corpo da edificação, que permanece protegida.

Estanqueidade à águaDimensionado corretamente,mesmo com as juntas abertas, osistema controla a entrada deágua da chuva incidente eelimina uma das causas mais

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Encaixes na peça extrudada facilitam a montagem.O espaço entre os dois paramentos funciona comouma câmara de circulação e renovação de ar

Fachada de porcelanato com proteção de fibra devidro, na Itália

frequentes da deterioração dasfachadas - as infiltraçõescausadas por fadiga secante ou mástique.

A água que consegue penetrarno interior da cavidade éextremamente reduzida. Estudos realizados na Alemanha demonstram quemenos de 1% da água que consegue penetrar atinge o paramento, o que podeser controlado por uma camada impermeabilizante.

O afastamento entre o paramento externo e a abertura das juntas dos painéisdeve ser dimensionado de tal forma que equilibre a pressão no interior dacavidade, fazendo com que a água, se penetrar, escorra por trás do painel. Naprática, o espaçamento das juntas deve ser de 4 mm a 10 mm (em função dadimensão das placas), o suficiente para absorver os desvios geométricos dospainéis e eventuais imprecisões da montagem.

Sistema respiranteO sistema que permite aventilação natural possibilita,também, a dispersão do vaporpresente no interior das paredes,eliminando a umidade dosedifícios novos ou recuperados.Por outro lado, o vapor de águaque se forma no interior doedifício pode sair parcialmentepela parede, sem nenhumimpedimento, contribuindo para aconservação da estrutura. Afachada ventilada oferece, ainda, proteção acústica, pois as placas e a lâminade ar (e o possível uso de proteção isolante) agem como barreira atenuandoruídos do exterior.

A fachada ventilada apresenta, ainda, melhor capacidade de adaptação àsvariações de temperatura ocorridas na estrutura do edifício. As placas derevestimento, fixadas na subestrutura independentes umas das outras, ficamlivres para se dilatar de acordo com seu próprio coeficiente, graças ao grau deelasticidade da ancoragem. Assim, o revestimento não sofre esforçosadicionais relevantes que possam provocar efeitos de degradação na fachadae que demandariam intervenções de manutenção, como ocorre com asfachadas convencionais.

RevestimentoGraças ao desenvolvimento demateriais de revestimento de altodesempenho técnico e estético, épossível criar fachadas ventiladasde grande eficiência e deexcelente resistência às variaçõeshigrotérmicas e aos agentesatmosféricos em geral. Sobre a

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Detalhe do tardoz do "biscoito" extrudado, comfrisos para encaixe dos grampos

Porcelanato com ancoragem aparente em fachada deprédio na Espanha

Os grampos são encaixados nas ranhuras nasextremidades das placas deslocando-os pelos frisosda cerâmica

recente popularização, em todo omundo, do uso de placascerâmicas nesse tipo de fachada,o consultor Jonas Silvestre Medeiros, da Inovatec Consultores Associados,explica: "A beleza e a qualidade desses produtos caíram no gosto dosarquitetos, por oferecerem uma infinidade de possibilidades de criaçãoarquitetônica, sendo muito utilizados, inclusive, em combinação com outrosmateriais".

De acordo com Medeiros, esse sistema não se consolidou ainda no Brasilporque as placas cerâmicas produzidas aqui têm pequenas espessuras edimensões limitadas, o que aumenta o consumo de metal para o projeto dasubestrutura. O granito, usado largamente nas fachadas tipo cortina, têmplacas com, pelo menos, 25 mm de espessura, o que permite a colocaçãosegura dos insertos pontuais.

Por outro lado, os painéiscerâmicos de maior dimensão,apesar de requereremsubestrutura mais leve parainstalação e montagem,"precisam ser mais espessos parauso de ancoragens ocultas,devido à necessária segurançaestrutural, o que encarece osistema", esclarece o consultor.

Um tipo de painel cerâmico quevem obtendo muito sucesso emvários países é o extrudado, queequilibra as questões de espessura e resistência, e pode ser fabricado já comos encaixes necessários à montagem.

Apesar de não produzida ainda no Brasil, essa cerâmica pode ser adquirida soba forma de sistema construtivo. No momento, fabricantes europeus decerâmica, levando em conta o potencial de crescimento da construção civil noPaís, estão trazendo esse produto das matrizes européias, e programam aabertura de unidades específicas para a produção da cerâmica extrudada.

Cuidados"Não é aconselhável, no caso defachadas ventiladas, o uso depainéis muito delgados, porquefica difícil a execução segura defuros ou cortes para asancoragens que ligam a placa àsubestrutura", alerta JonasMedeiros. Por essa razão, naEuropa, os porcelanatos sãousados comumente com ossistemas de ancoragemaparentes.

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A escolha do metal deve ser criteriosa, e osmateriais compatíveis, para que não se crie um pargalvânico entre o material mais nobre e o menosnobre

E em sua face posterior, é exigido um reforço de tela de fibra de vidro, coladacom resina epóxi ou poliéster resistente ao envelhecimento natural. "Assim,caso haja a quebra eventual de um painel, os fragmentos permanecem presosaté a substituição da peça, o que pode ser feito facilmente, por se tratar deuma solução industrializada", explica Medeiros.

Quanto à subestrutura metálica, o consultor chama a atenção para aqualidade do metal - aço inoxidável austenítico e ligas especiais de alumínio -e não recomenda acessórios de aço galvanizado, que podem enferrujar e pôrem risco toda a estrutura.

O fornecedor do sistema - explica o consultor - "deve oferecer a soluçãocompleta: projeto executivo, dimensionamento estrutural, painéis,componentes, acessórios, chumbadores, rufos e pingadeiras, serviço deinstalação e equipe de engenharia responsável pela obra". Os projetosexecutivo e estrutural da fachada, segundo o consultor, devem ter um únicoresponsável, para que a responsabilidade não fique diluída, no caso de ocorreralgum problema. A montagem industrializada permite o controle total doprocesso, o que é imprescindível à segurança desse sistema. "Esse tipo defachada não pode admitir improvisações", conclui.

Faltam normasSobre a inexistência de normasbrasileiras específicas para aexecução desse tipo de fachada,Jonas Medeiros acredita que issopossa ser resolvido, em parte,com a adaptação das normas eensaios para esquadrias, pois asexigências são semelhantes. Etambém com as normasinternacionais de projeto edesempenho. No Brasil, não hánormas específicas para fachadacortina nem para fachadaventilada, e mesmo para a fixação de cerâmicas e mármores com argamassa,as normas atuais são incipientes. Os ensaios necessários para essas fachadas- estanqueidade à água, pressão de vento positiva e negativa, impacto decorpo mole e duro, dimensionamento da estrutura, isolamento térmico eacústico - são fundamentais para validar a comercialização de qualquersistema.

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Edifício Zuiderhof II, em Amsterdã,Holanda

VantagensApesar de apresentar custos bem superioresaos sistemas convencionais, a fachadaventilada oferece grandes vantagens, desdeque dimensionada e calculada racionalmentee não utilize metais que sofrem significativacorrosão. No que diz respeito à redução doconsumo de energia em climatização, avantagem é indiscutível. Além de ter seudesempenho testado e aprovado emrigorosos laboratórios europeus e norte-americanos, a fachada ventilada comrevestimento cerâmico foi avaliada, em SãoPaulo, pelo professor Alberto Hernandez Neto(ver boxe), do Laboratório de EngenhariaMecânica da Poli-USP (Escola Politécnica daUniversidade de São Paulo).

A fachada ventilada não necessita de intervenções frequentes de restauração,e os riscos de fissuras e descolamentos de placas são reduzidos. No caso deuma placa vir eventualmente a se estragar, pode ser facilmente substituída,pois é possível intervir sobre cada peça, separadamente. O sistema, inclusive,permite uma rápida e completa renovação do edifício, com a troca erepaginação das placas, modificando inteiramente seu aspecto exterior.

Mercado abertoComo se trata de uma construção não destrutiva, limpa e rápida, a fachadaventilada vem sendo largamente usada em obras de retrofit na Europa,inclusive em edifícios residenciais. O engenheiro Jonas Medeiros alerta para ofato de que, ao projetar esse tipo de fachada em retrofit, o projetista develevar em conta que o recuo do imóvel será reduzido e, para isso, precisaráconsultar a legislação local. O consultor, no entanto, acredita que o retrofitnão é o grande mercado potencial para esse tipo de fachada, mas sim osgrandes edifícios comerciais, sedes corporativas e institucionais, shoppingscenters, hospitais e faculdades que usam intensivamente a energia elétrica eque têm um orçamento mais adequado para fazer face aos custos do sistema.

Empresas apostam emshoppings e edifícioscorporativosA crise parece não ter atingido oânimo do setor cerâmico de altatecnologia. Pelo menos duasempresas desembarcaram noPaís sistemas de fachadasventiladas.

A KeraGail buscou, por meio deuma parceria com a alemã Buchtal, a transferência, para o País, de sua expertise de produção da cerâmica extrudada. Uma unidade industrial exclusivadessa cerâmica para fachadas será construída no Brasil nos próximos quatro

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anos. As peças podem receber, na superfície, uma camada de dióxido detitânio, produto que dificulta a aderência da sujeira e facilita a limpeza."Sempre tivemos interesse no produto", diz o arquiteto João Paulo Ulrich deAlencastro, gerente de negócios e outsourcing da KeraGail. "Agora o mercadoestá preparado."

A holandesa Hunter Douglas, porsua vez, adquiriu a empresaalemã NBK Ceramic, pioneira nafabricação de cerâmica terracotanatural extrudada de grandestamanhos para fachadaventilada. No Brasil, o produto jáé anunciado com grandesperspectivas e, por enquanto,será importado.

De acordo com Dennis Squilante, gerente comercial da Hunter Douglas, aempresa está lançando os produtos NBK com grandes dimensões, específicospara as fachadas ventiladas, que podem receber tratamento antipichação.

As duas empresas têm projetos em andamento no País mas nenhuma obraainda foi executada. A primeira obra de fachada ventilada na América do Sulcom a cerâmica NBK da Hunter Douglas foi inaugurada recentemente, no Chile.

Fachada racionalizada Por reduzir significativamente o consumo de energia, utilizar sistemaindustrializado e materiais recicláveis (pode ser desmontada e montadafacilmente em outro local), a fachada ventilada é um elemento que facilita aobtenção da certificação de sustentabilidade. O consultor Jonas Medeiroschama a atenção, no entanto, para o fato de que, enquanto questões dasustentabilidade estão sendo exaustivamente discutidas - como a captação eo reaproveitamento de águas usadas ou das chuvas e a disseminação daenergia solar -, a construção brasileira ainda enfrenta no seu dia a dia altosíndices de desperdício. E explica: "Dependendo do tipo de material, essedesperdício pode ser de 5%, 25% e até 40%, o que poderia ser evitado, casohouvesse um esforço concentrado para a redução do problema na construçãoconvencional, principalmente pelo investimento em projetos executivos parauso mais racional de materiais, na alvenaria e nos revestimentos, porexemplo". E argumenta: "Não seria uma mudança de paradigma, como é o

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caso do uso da tecnologia de fachada ventilada, mas um esforço-chave nosentido da sustentabilidade e que resultaria em economia de escalasignificativa para as empresas".

Eficiência térmica comprovada Como o Brasil não dispõe ainda de normas para a instalação e funcionamentode fachadas ventiladas, algumas empresas utilizam normas estabelecidas paraesquadrias e recorrem a conceituadas instituições para avaliar a eficiência deseus produtos. No ano passado, a KeraGail do Brasil solicitou ao professorAlberto Hernandez Neto, do Laboratório de Engenharia Mecânica da EscolaPolitécnica da USP (Universidade de São Paulo), uma avaliação da eficiênciatermoenergética do sistema desenvolvido pela empresa, que utiliza cerâmicaextrudada, em comparação com uma fachada em pele de vidro.

Especializado na avaliação do desempenho de sistemas de refrigeração eclimatização, o Laboratório desenvolve estudos para redução de consumo deenergia em edificações climatizadas, utilizando como uma das ferramentas oprograma de simulação Energy Plus. O EnergyPlus é um software de simulaçãode carga térmica e análise energética que possibilita simulações confiáveis dediversas tipologias arquitetônicas, sistemas construtivos e condicionamento dear. O professor tem a certificação EnergyPlus consultant, outorgada pelo grupoque desenvolveu o software, o Departamento de Energia dos Estados Unidos,a partir de dois outros softwares, o Blast e o DOE-2.

ConclusõesO case de simulação de desempenho térmico tomou como exemplo um centroempresarial, composto por duas torres de 28 pavimentos, cada uma delas comuma área total de 22 mil m² de fachadas, com envoltório de pele de vidroduplo translúcido e serigrafado branco. O envoltório proposto era de pele devidro duplo translúcido, e 4.410 m² de sistema KeraGail de fachada ventilada.A simulação levou em conta um dia de verão, em que a temperatura internadesejada era de 24°C.

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Fachadas respirantes

Fachadas ventiladas combinam funções estéticas com bomdesempenho térmico, além de contribuir para reduzir cargas docondicionamento de ar

Por Eride Moura

Ainda em processo de introduçãono Brasil, a fachada ventiladatem sua eficiência comprovadahá mais de 30 anos nos paísesdo hemisfério Norte. Por aqui,vem suscitando interesse tantopelos efeitos estéticos quantopelo desempenho térmicoprometidos. Em tempos deexigência de menor consumoenergético, o sistema podecontribuir para reduzir as cargasde condicionamento artificial dear. Pode também, como uma"capa" protetora, preservar aestrutura e prolongar a vida útilda edificação.

Empregando materiaisespecíficos e utilizando-se deprincípios físicos simples, a fachada ventilada não deve, em hipótese alguma,ser confundida com a chamada fachada cortina. Ambos distinguem-se, éverdade, das fachadas convencionais, mas têm em comum apenas o fato decriarem um invólucro separado e independente da estrutura do edifício. Asubestrutura que suporta o revestimento é de aço inoxidável ou alumínio epode ser ajustada.

No caso da fachada ventilada, a cavidade formada entre os dois paramentos -de 10 cm a 15 cm de largura, mas podendo ser maior para possibilitar apassagem de instalações - é determinante para o sucesso do sistema,funcionando como colchão de ar renovável. A troca de ar é permanente nacâmara e maior o conforto ambiental dentro do edifício.

No hemisfério Norte, onde essas fachadas foram desenvolvidas, como oinverno é rigoroso e a manutenção do calor nos ambientes internos é

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Colocação da peça cerâmica extrudada nasubestrutura em obra na Alemanha

fundamental, parte dessa cavidade é preenchida por uma camada de materialisolante, geralmente painéis de lã de vidro ou de rocha. Exemplos muito antigos desse conceito de fachada dupla podem ser vistos nosEstados Unidos e na Inglaterra, em edifícios históricos, que apresentam umasegunda fachada em alvenaria de tijolos, trabalhada independentemente daparede estrutural.

Com a evolução dos materiais, esse paramento externo pôde receber, além devidros altamente sofisticados, placas de revestimento de materiais queagregam valor e beleza aos edifícios. Granito, mármore, porcelanatos,cerâmicas (extrudadas, esmaltadas, grés, cotto) e placas compósitas demetais ou laminados melamínicos são de uso corrente nesses países.

Sistema de juntas abertas Nas últimas décadas, os estudosrealizados em laboratórioseuropeus, visando reduzir custoscom energia para calefação erefrigeração, levaram aodesenvolvimento da fachadaventilada, cujo princípiofundamental - e que a distingueda curtain wall - é o fato depossuir juntas abertas. O espaçoentre as placas do invólucro (asjuntas) não recebem vedaçãocompleta nas aberturas inferiorese superiores, possibilitando, assim, a criação da lâmina de ar na cavidade entreas duas paredes (ver figuras abaixo).

Essa lâmina de ar é a característica dominante do sistema de fachadaventilada, uma vez que é responsável pelo desencadeamento do efeitochaminé - um sistema eficaz e natural de ventilação.

O fenômeno fundamenta-se em um princípio simples da física: o ar mais quentesobe e, pela diferença de pressão, suga para dentro da cavidade o ar maisfresco. O ar da cavidade é continuamente renovado e não chega a aquecer aface do corpo da edificação, que permanece protegida.

Estanqueidade à águaDimensionado corretamente,mesmo com as juntas abertas, osistema controla a entrada deágua da chuva incidente eelimina uma das causas mais

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Encaixes na peça extrudada facilitam a montagem.O espaço entre os dois paramentos funciona comouma câmara de circulação e renovação de ar

Fachada de porcelanato com proteção de fibra devidro, na Itália

frequentes da deterioração dasfachadas - as infiltraçõescausadas por fadiga secante ou mástique.

A água que consegue penetrarno interior da cavidade éextremamente reduzida. Estudos realizados na Alemanha demonstram quemenos de 1% da água que consegue penetrar atinge o paramento, o que podeser controlado por uma camada impermeabilizante.

O afastamento entre o paramento externo e a abertura das juntas dos painéisdeve ser dimensionado de tal forma que equilibre a pressão no interior dacavidade, fazendo com que a água, se penetrar, escorra por trás do painel. Naprática, o espaçamento das juntas deve ser de 4 mm a 10 mm (em função dadimensão das placas), o suficiente para absorver os desvios geométricos dospainéis e eventuais imprecisões da montagem.

Sistema respiranteO sistema que permite aventilação natural possibilita,também, a dispersão do vaporpresente no interior das paredes,eliminando a umidade dosedifícios novos ou recuperados.Por outro lado, o vapor de águaque se forma no interior doedifício pode sair parcialmentepela parede, sem nenhumimpedimento, contribuindo para aconservação da estrutura. Afachada ventilada oferece, ainda, proteção acústica, pois as placas e a lâminade ar (e o possível uso de proteção isolante) agem como barreira atenuandoruídos do exterior.

A fachada ventilada apresenta, ainda, melhor capacidade de adaptação àsvariações de temperatura ocorridas na estrutura do edifício. As placas derevestimento, fixadas na subestrutura independentes umas das outras, ficamlivres para se dilatar de acordo com seu próprio coeficiente, graças ao grau deelasticidade da ancoragem. Assim, o revestimento não sofre esforçosadicionais relevantes que possam provocar efeitos de degradação na fachadae que demandariam intervenções de manutenção, como ocorre com asfachadas convencionais.

RevestimentoGraças ao desenvolvimento demateriais de revestimento de altodesempenho técnico e estético, épossível criar fachadas ventiladasde grande eficiência e deexcelente resistência às variaçõeshigrotérmicas e aos agentesatmosféricos em geral. Sobre a

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Detalhe do tardoz do "biscoito" extrudado, comfrisos para encaixe dos grampos

Porcelanato com ancoragem aparente em fachada deprédio na Espanha

Os grampos são encaixados nas ranhuras nasextremidades das placas deslocando-os pelos frisosda cerâmica

recente popularização, em todo omundo, do uso de placascerâmicas nesse tipo de fachada,o consultor Jonas Silvestre Medeiros, da Inovatec Consultores Associados,explica: "A beleza e a qualidade desses produtos caíram no gosto dosarquitetos, por oferecerem uma infinidade de possibilidades de criaçãoarquitetônica, sendo muito utilizados, inclusive, em combinação com outrosmateriais".

De acordo com Medeiros, esse sistema não se consolidou ainda no Brasilporque as placas cerâmicas produzidas aqui têm pequenas espessuras edimensões limitadas, o que aumenta o consumo de metal para o projeto dasubestrutura. O granito, usado largamente nas fachadas tipo cortina, têmplacas com, pelo menos, 25 mm de espessura, o que permite a colocaçãosegura dos insertos pontuais.

Por outro lado, os painéiscerâmicos de maior dimensão,apesar de requereremsubestrutura mais leve parainstalação e montagem,"precisam ser mais espessos parauso de ancoragens ocultas,devido à necessária segurançaestrutural, o que encarece osistema", esclarece o consultor.

Um tipo de painel cerâmico quevem obtendo muito sucesso emvários países é o extrudado, queequilibra as questões de espessura e resistência, e pode ser fabricado já comos encaixes necessários à montagem.

Apesar de não produzida ainda no Brasil, essa cerâmica pode ser adquirida soba forma de sistema construtivo. No momento, fabricantes europeus decerâmica, levando em conta o potencial de crescimento da construção civil noPaís, estão trazendo esse produto das matrizes européias, e programam aabertura de unidades específicas para a produção da cerâmica extrudada.

Cuidados"Não é aconselhável, no caso defachadas ventiladas, o uso depainéis muito delgados, porquefica difícil a execução segura defuros ou cortes para asancoragens que ligam a placa àsubestrutura", alerta JonasMedeiros. Por essa razão, naEuropa, os porcelanatos sãousados comumente com ossistemas de ancoragemaparentes.

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A escolha do metal deve ser criteriosa, e osmateriais compatíveis, para que não se crie um pargalvânico entre o material mais nobre e o menosnobre

E em sua face posterior, é exigido um reforço de tela de fibra de vidro, coladacom resina epóxi ou poliéster resistente ao envelhecimento natural. "Assim,caso haja a quebra eventual de um painel, os fragmentos permanecem presosaté a substituição da peça, o que pode ser feito facilmente, por se tratar deuma solução industrializada", explica Medeiros.

Quanto à subestrutura metálica, o consultor chama a atenção para aqualidade do metal - aço inoxidável austenítico e ligas especiais de alumínio -e não recomenda acessórios de aço galvanizado, que podem enferrujar e pôrem risco toda a estrutura.

O fornecedor do sistema - explica o consultor - "deve oferecer a soluçãocompleta: projeto executivo, dimensionamento estrutural, painéis,componentes, acessórios, chumbadores, rufos e pingadeiras, serviço deinstalação e equipe de engenharia responsável pela obra". Os projetosexecutivo e estrutural da fachada, segundo o consultor, devem ter um únicoresponsável, para que a responsabilidade não fique diluída, no caso de ocorreralgum problema. A montagem industrializada permite o controle total doprocesso, o que é imprescindível à segurança desse sistema. "Esse tipo defachada não pode admitir improvisações", conclui.

Faltam normasSobre a inexistência de normasbrasileiras específicas para aexecução desse tipo de fachada,Jonas Medeiros acredita que issopossa ser resolvido, em parte,com a adaptação das normas eensaios para esquadrias, pois asexigências são semelhantes. Etambém com as normasinternacionais de projeto edesempenho. No Brasil, não hánormas específicas para fachadacortina nem para fachadaventilada, e mesmo para a fixação de cerâmicas e mármores com argamassa,as normas atuais são incipientes. Os ensaios necessários para essas fachadas- estanqueidade à água, pressão de vento positiva e negativa, impacto decorpo mole e duro, dimensionamento da estrutura, isolamento térmico eacústico - são fundamentais para validar a comercialização de qualquersistema.

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Edifício Zuiderhof II, em Amsterdã,Holanda

VantagensApesar de apresentar custos bem superioresaos sistemas convencionais, a fachadaventilada oferece grandes vantagens, desdeque dimensionada e calculada racionalmentee não utilize metais que sofrem significativacorrosão. No que diz respeito à redução doconsumo de energia em climatização, avantagem é indiscutível. Além de ter seudesempenho testado e aprovado emrigorosos laboratórios europeus e norte-americanos, a fachada ventilada comrevestimento cerâmico foi avaliada, em SãoPaulo, pelo professor Alberto Hernandez Neto(ver boxe), do Laboratório de EngenhariaMecânica da Poli-USP (Escola Politécnica daUniversidade de São Paulo).

A fachada ventilada não necessita de intervenções frequentes de restauração,e os riscos de fissuras e descolamentos de placas são reduzidos. No caso deuma placa vir eventualmente a se estragar, pode ser facilmente substituída,pois é possível intervir sobre cada peça, separadamente. O sistema, inclusive,permite uma rápida e completa renovação do edifício, com a troca erepaginação das placas, modificando inteiramente seu aspecto exterior.

Mercado abertoComo se trata de uma construção não destrutiva, limpa e rápida, a fachadaventilada vem sendo largamente usada em obras de retrofit na Europa,inclusive em edifícios residenciais. O engenheiro Jonas Medeiros alerta para ofato de que, ao projetar esse tipo de fachada em retrofit, o projetista develevar em conta que o recuo do imóvel será reduzido e, para isso, precisaráconsultar a legislação local. O consultor, no entanto, acredita que o retrofitnão é o grande mercado potencial para esse tipo de fachada, mas sim osgrandes edifícios comerciais, sedes corporativas e institucionais, shoppingscenters, hospitais e faculdades que usam intensivamente a energia elétrica eque têm um orçamento mais adequado para fazer face aos custos do sistema.

Empresas apostam emshoppings e edifícioscorporativosA crise parece não ter atingido oânimo do setor cerâmico de altatecnologia. Pelo menos duasempresas desembarcaram noPaís sistemas de fachadasventiladas.

A KeraGail buscou, por meio deuma parceria com a alemã Buchtal, a transferência, para o País, de sua expertise de produção da cerâmica extrudada. Uma unidade industrial exclusivadessa cerâmica para fachadas será construída no Brasil nos próximos quatro

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anos. As peças podem receber, na superfície, uma camada de dióxido detitânio, produto que dificulta a aderência da sujeira e facilita a limpeza."Sempre tivemos interesse no produto", diz o arquiteto João Paulo Ulrich deAlencastro, gerente de negócios e outsourcing da KeraGail. "Agora o mercadoestá preparado."

A holandesa Hunter Douglas, porsua vez, adquiriu a empresaalemã NBK Ceramic, pioneira nafabricação de cerâmica terracotanatural extrudada de grandestamanhos para fachadaventilada. No Brasil, o produto jáé anunciado com grandesperspectivas e, por enquanto,será importado.

De acordo com Dennis Squilante, gerente comercial da Hunter Douglas, aempresa está lançando os produtos NBK com grandes dimensões, específicospara as fachadas ventiladas, que podem receber tratamento antipichação.

As duas empresas têm projetos em andamento no País mas nenhuma obraainda foi executada. A primeira obra de fachada ventilada na América do Sulcom a cerâmica NBK da Hunter Douglas foi inaugurada recentemente, no Chile.

Fachada racionalizada Por reduzir significativamente o consumo de energia, utilizar sistemaindustrializado e materiais recicláveis (pode ser desmontada e montadafacilmente em outro local), a fachada ventilada é um elemento que facilita aobtenção da certificação de sustentabilidade. O consultor Jonas Medeiroschama a atenção, no entanto, para o fato de que, enquanto questões dasustentabilidade estão sendo exaustivamente discutidas - como a captação eo reaproveitamento de águas usadas ou das chuvas e a disseminação daenergia solar -, a construção brasileira ainda enfrenta no seu dia a dia altosíndices de desperdício. E explica: "Dependendo do tipo de material, essedesperdício pode ser de 5%, 25% e até 40%, o que poderia ser evitado, casohouvesse um esforço concentrado para a redução do problema na construçãoconvencional, principalmente pelo investimento em projetos executivos parauso mais racional de materiais, na alvenaria e nos revestimentos, porexemplo". E argumenta: "Não seria uma mudança de paradigma, como é o

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caso do uso da tecnologia de fachada ventilada, mas um esforço-chave nosentido da sustentabilidade e que resultaria em economia de escalasignificativa para as empresas".

Eficiência térmica comprovada Como o Brasil não dispõe ainda de normas para a instalação e funcionamentode fachadas ventiladas, algumas empresas utilizam normas estabelecidas paraesquadrias e recorrem a conceituadas instituições para avaliar a eficiência deseus produtos. No ano passado, a KeraGail do Brasil solicitou ao professorAlberto Hernandez Neto, do Laboratório de Engenharia Mecânica da EscolaPolitécnica da USP (Universidade de São Paulo), uma avaliação da eficiênciatermoenergética do sistema desenvolvido pela empresa, que utiliza cerâmicaextrudada, em comparação com uma fachada em pele de vidro.

Especializado na avaliação do desempenho de sistemas de refrigeração eclimatização, o Laboratório desenvolve estudos para redução de consumo deenergia em edificações climatizadas, utilizando como uma das ferramentas oprograma de simulação Energy Plus. O EnergyPlus é um software de simulaçãode carga térmica e análise energética que possibilita simulações confiáveis dediversas tipologias arquitetônicas, sistemas construtivos e condicionamento dear. O professor tem a certificação EnergyPlus consultant, outorgada pelo grupoque desenvolveu o software, o Departamento de Energia dos Estados Unidos,a partir de dois outros softwares, o Blast e o DOE-2.

ConclusõesO case de simulação de desempenho térmico tomou como exemplo um centroempresarial, composto por duas torres de 28 pavimentos, cada uma delas comuma área total de 22 mil m² de fachadas, com envoltório de pele de vidroduplo translúcido e serigrafado branco. O envoltório proposto era de pele devidro duplo translúcido, e 4.410 m² de sistema KeraGail de fachada ventilada.A simulação levou em conta um dia de verão, em que a temperatura internadesejada era de 24°C.

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Devido ao desempenho térmico da fachada ventilada, observou-se umasensível redução na temperatura superficial interna e, por consequência, datemperatura média do ar na Zona 1 (ver gráficos).

Analisando o consumo do sistema de climatização do pavimento-tipo, chega-sea uma redução de 8,5%. A redução foi sensível no consumo do sistema declimatização na Zona 1 (em média 64%).

É preciso levar em conta que o sistema KeraGail compôs apenas 20% da áreade fachadas do pavimento-tipo, sendo que, dessa área, 1/3 do sistema estálocalizado em regiões onde não há climatização (banheiros), não contribuindoassim para redução de consumo.

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