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DESATANDO OS NÓS DO CAPITALISMO VÍRUS PLANETÁRIO Porque neutro nem sabonete, nem a Suíça R$ 2 edição digital nº 29 janeiro 2013 Com conteúdo do MEDIA FAZENDO Rolezinhos nos shoppings derrubam um muro invisível e revela o preconceito contra a periferia e juventude negra ISSN 2236-7969 nº29 R$ 5,00 “Esse é um momento histórico, muito mais que quando os caras pintadas que tiraram o Collor.” ENTREVISTA INCLUSIVA: Marcelo D2 Rolezinho: Quem tem medo da periferia?

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Edição 29 (janeiro 2014) da revista Vírus Planetário completa

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desatando os nós do capitalismo

Vírus PlanetárioPorque neutro nem sabonete, nem a Suíça

R$2edição digital

nº 29janeiro

2013

Com conteúdo do

MEDIAFAZEN

DO

Rolezinhos nos shoppings derrubam um muro invisível e

revela o preconceito contra a periferia e juventude negra

ISS

N

2236

-796

9

nº29 R$ 5,00

“Esse é um momento histórico, muito mais que quando os caras pintadas que tiraram o Collor.”EntrEvista INclusiva: Marcelo D2

Rolezinho: Quem tem medo da periferia?

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Em defesa do projeto dos movimentos sociais para o petróleo, com monopólio estatal, Petrobrás 100% pública e investimento em energias

limpas.

Vamos barrar os leilões do petróleo!

www.sindipetro.org.br

Notícias da campanha:www.apn.org.br | www.tvpetroleira.tv

organização:

Page 3: Edição 29

traço livre

Por Gustavo Morais | Veja mais em: www.gusmorais.com

CONTINUA >>>>

Page 4: Edição 29
Page 5: Edição 29
Page 6: Edição 29

ExPEdIENTE:Rio de Janeiro: Alexandre Kubrusly, Ana Chagas, André Camilo, Artur Romeu, Bruna Barlach, Bruno Costa, Caio Amorim, Camille Perrisé, Catherine Lira, Chico Motta, Débora Nunes, Eduardo Sá, Joyce Abbade, Julia Campos, Julia Maria Ferreira, Livia Valle, Marcelo Araújo, Mariana Gomes, Mariana Moraes, Miguel Tiriba, Pedro Campos, Raquel Junia , Rodrigo Noel e Seiji Nomura | São Paulo: Ana Carolina Gomes, Duna Rodríguez, Gustavo Morais, Jamille Nunes, Jéssica Ipólito e Luka Franca | Brasília: Alina Freitas, Edemilson Paraná, Luana Luizy, Mariane Sanches e Thiago Vilela | Minas Gerais: Ana Malaco, Laura Ralola e Paulo Dias | Ceará: Iorran Aquino, Joana Vidal, Livino Neto, Lucas Moreira e Rodrigo Santaella | Piauí: Nadja Carvalho, André Café, Sarah Fontenelle, Mariana Duarte e Diego Barbosa | Bahia: Mariana Ferreira | Paraíba: Mariana Sales | Mato Grosso do Sul: Marina Duarte, Tainá Jara, Jones Mário, Fernanda Palheta, Eva Cruz e

Juliane Garcez diagramação: Caio Amorim | Foto capa: Elvert Barnes

Conselho Editorial: Adriana Facina, Amanda Gurgel, Ana Enne, André Guimarães, Claudia Santiago, Dênis de Moraes, Eduardo Sá, Gizele Martins, Gustavo Barreto, Henrique Carneiro, João Roberto Pinto, João Tancredo, Larissa Dahmer, Leon Diniz, MC Leonardo, Marcelo Yuka, Marcos Alvito, Mauro Iasi, Michael Löwy, Miguel Baldez, Orlando Zaccone, Oswaldo Munteal, Paulo Passarinho, Repper Fiell, Sandra Quintela, Tarcisio Carvalho, Virginia Fontes, Vito Gianotti e Diretoria de Imprensa do

Sindicato Estadual dos Profissionais de Edução do Rio de Janeiro (SEPE-RJ)

Muitos não entendem o que é a Vírus Planetário, principal-

mente o nome. Então, fazemos essa explicação maçante, mas

necessária para os virgens de Vírus Planetário:

Jornalismo pela diferença, não pela desigualdade. Esse é

nosso lema. Em nosso primeiro editorial, anunciamos nosso

estilo; usar primeira pessoa do singular, assumir nossa parcia-

lidade, afinal “Neutro nem sabonete, nem a Suíça.” Somos, sim,

parciais, com orgulho de darmos visibilidade a pessoas exclu-

ídas, de batalharmos contra as mais diversas formas de opres-

são. Rimos de nossa própria desgraça e sempre que possível

gozamos com a cara de alguns algozes do povo. O bom humor

é necessário para enfrentarmos com alegria as mais árduas

batalhas do cotidiano.

Afinal, o que é a Vírus Planetário?

Curta nossa página! facebook.com/virusplanetario

A Revista Vírus Planetário - ISSN 2236-7969 é uma publicação da Malungo Comunicação e Editora com sede no Rio de Janeiro. Telefone: 3164-3716#Impressão: SmartPrinter

www.virusplanetario.com.br

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Siga-nos: twitter.com/virusplanetario

ComuniCação e editora

O homem é o vírus do homem e do planeta. Daí, vem

o nome da revista, que faz a provocação de que mesmo a

humanidade destruindo a Terra e sua própria espécie, acredi-

tamos que com mobilização social, uma sociedade em que

haja felicidade para todos e todas é possível.

Recentemente, unificamos os esforços com o jornal alternativo Fazendo Media (www.fazendome-dia.com) e nos tornamos um único coletivo e uma única publicação impressa. Seguimos, assim, mais fortes na luta pela democratização da comunicação para a construção de um jornalismo pela diferença, contra a desigualdade.

Correio

>Envie colaborações (textos, desenhos, fotos), críticas, dúvidas, sugestões, opiniões gerais e sobre nossas reportagens para

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Queremos sua participação!

Viral

Page 7: Edição 29

editorial

2014 chega arrebentando os tapumes

O período que se abriu após as jornadas de junho tem sido, desde então, estudado e discutido. As esperanças e anseios para o ano de 2014 chegaram tão fortes como há tempos não se via. Esse ano em que o Brasil sediará a Copa do mundo, a repressão aos movimentos sociais já começou forte, assim como a violência contra os segmentos mais pobres, oprimidos e explorados da nossa sociedade.

Com assassinatos, remoções e novas leis para aumentar a repres-são, a primeira edição do ano da Vírus nos lembra que os ataques contra a população não vem de hoje. Relembrando o golpe militar e a deposição do presidente Jango, acompanhamos a exumação do seu corpo que, décadas depois, finalmente aconteceu para verificar se houve ou não assassinato.

De Jango até os rolezinhos, muitos anos se passaram, mas a de-sigualdade social não passou. Mexendo com as estruturas da socie-dade, os rolezinhos tem trazido à tona uma realidade muito tris-te: a segregação racial e social. Os shoppings centers, palco desses eventos, estão no centro do debate. Se por um lado são a meca do consumo, por outro, o consumo, ali, não é para todos. Com portas fechadas, seguranças por todas as partes e auxílio policial, os empresários donos de shoppings e lojistas têm feito de tudo para conseguir excluir e garantir que tudo continue como deveria ser pra eles.

Felizmente vivemos tempo onde “o que é, exatamente por ser como é, não vai ficar tal como está”, como diria o poeta alemão Bertolt Brecht. Os rolezinhos não devem parar tão cedo, aliás, prometem fazer parte de um cenário onde as manifestações, de todos os tipos, prometem varrer o país. Se a luta contra a copa é a bandeira que se expressa de forma mais veemente em todos os protestos, a luta contra as más condições de vida é que está por trás desse movimento.

Se outros junhos virão, só o tempo dirá. Mas é importante que comecemos o ano firmes na luta, sem nos esquecer que “nada deve parecer natural, nada de parecer impossível de mudar”, como diria novamente Brecht. Que 2014 entre pra história não só como o ano que sucedeu 2013 e as jornadas de junho, mas como o ano que as lutas tomaram o país permanentemente.

Venha dar um rolezinho pelas lutas Brasil afora com a Vírus

sumário

8 Jango Vive

10 Hamilton Octavio de

Souza_2013 foi apenas o ensaio de

2014?

14 CAPA_Quem tem medo da

periferia?

18 DIreitos Humanos_Esse tal

Chópi Centis

20 MS_QUando vendemos todas as

almas dos nossos índios num leilão

24 CE_Greve Geral, interior e capital

28 Inculsiva_Marcelo D2

32 Fazendo Media_Mandela além da

mídia grande

34 Bula Cultural

38 Sórdidos Detalhes

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jango vive40 anos depois, restos mortais do ex-presidente

João Goulart estão sendo examinados. Suspeita-se de que ele fora assassinado.

Caixão de João Goulart sendo retirado | foto: Thiago Vilela

Com quase quatro décadas de atraso, foi realizada, no final do ano passado (14/11), a exumação do ex-presidente João Goulart. De-posto no golpe civil-militar de 1964, Jango morreu durante o exílio, em 1976, e a família acredita que ele possa ter sido envenenado. Desde 2007, os familiares já haviam solici-tado ao Ministério Público Federal que investigasse o caso.

A exumação, coordenada pela Comissão Nacional da Verdade e Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, começou às 8h da manhã e só terminou por vol-ta das 2h do dia seguinte. Jango foi sepultado no jazigo da família Goulart, com outras nove pessoas, dentre elas Leonel Brizola. Realiza-da por peritos brasileiros e estran-geiros, a operação foi inspecionada pela Cruz Vermelha Internacional.

Até o fechamento desta edição os restos mortais de Jango ainda estavam no Instituto de Crimina-lística da Polícia Federal, em Brasí-lia, e ainda não há prazos para os resultados da investigação.

De acordo com a versão oficial da época, Jango teria sido vítima de um ataque cardíaco. O corpo do ex-presidente, entretanto, nun-ca passou por uma autópsia. As suspeitas aumentaram depois que Enrique Foch Diaz, amigo do ex-presidente e autor do livro “João Goulart, el Crimen Perfecto”, des-cobriu que 18 pessoas diretamente envolvidas no caso morreram – 15 de ataque cardíaco. As demais também morreram em circus-tâncias obscuras. “O médico que atestou a morte de Jango e pedira

uma autópsia, por exemplo, mor-reu num ‘estranho acidente de carro’. Um piloto de Jango, quando se encaminhava para prestar de-poimento sobre o caso, perdeu a vida numa viagem de barco. Sua pasta com documentos desapa-receu”, afirma em seu livro. Diaz faleceu em 2005, vítima de um ataque cardíaco.

Mário Neira Barreiro, uruguaio detido desde 2003 na Penitenci-ária de Alta Segurança de Char-queadas, por assalto a banco e tráfico de armas no Brasil, é um dos protagonistas desta história. Sob o codinome Tenente Tamuz, ele pertenceu ao serviço de inte-ligência uruguaio. Segundo depoi-mento gravado em 2006, de 1973 até a morte do ex-presidente foi ele quem teria vigiado Jango, 24 horas por dia.

Assassinato?

Por Thiago Vilela

comissão da verdade

vírus planetário - janeiro 20148

Page 9: Edição 29

Enterro de João Goulart em São Borja (RS) - 07/12/1976 foto: reprodução

“ O corpo do ex-presidente,

entretanto, nunca passou por uma

autópsia”

Goulart fazia uso de medica-mentos importados da França, e segundo Neira Barreiro foi assim que ele fora envenenado. “Nós colocamos uma pessoa para tra-balhar no hotel [em que chega-vam os remédios], que se chama-va Heitor Rodríguez, que roubou os remédios de uma caixa que tinha uma trava, uma espécie de cofre forte do hotel. (...) Ele pe-gou da gerência e deu para nós, e o doutor Carlos Milles fez a colocação de um comprimido em cada êmbolo, com um hiperten-sor, que continha, em sua fórmu-la, potássio e um cloreto desidra-tado”, disse. Milles teria sido um legista uruguaio com outros ca-sos de envenenamento em seu currículo, e foi morto, conforme conta Barreiro, numa espécie de queima de arquivo.

Envenenado ou não, em de-zembro o professor Luiz Antonio Dias, chefe do Departamento de História da PUC-SP, descobriu os responsáveis por outro crime: o assassinato político do ex-presi-dente.

Para um estrangeiro que che-gasse no Brasil em 1964, Jango estaria isolado e divorciado da opinião pública, e as reformas propostas pelo governo eram ex-

Aprovação popular

tremamente impopulares. Grande parte da imprensa, inclusive, jul-gava ser necessário uma intervenção militar para pôr fim “à ameaça comunista”. O famoso editorial do Globo, apoiando o golpe, traduz bem o sentimento da mídia grande sobre o momento político do país.

As pesquisas de opinião encomendadas na época, entretanto, provam o contrário. O historiador analisou uma série de pesquisas feitas pelo Ibope às vésperas do golpe e, de acordo com Luiz An-tonio, 72% da população aprovava o governo Goulart em São Paulo. Entre os mais pobres, a popularidade chegava a 86%. Segundo o Ibope, as pesquisas contaram com procedimentos metodológicos e estatísticos bastante semelhantes aos atuais, e foram mantidas ocultas até 2003, quando foram doadas ao acervo do Arquivo Ed-gard Leuenroth, da Unicamp.

A ideia de um presidente popular, que tentava aplicar reformas que afetavam diretamente as classes mais abastadas foi mais do que o suficiente para descontentar o empresariado e parte das For-ças Armadas. Será que os militares teriam dado o golpe se as pes-quisas de opinião tivessem sido divulgadas? Ou eles deram o golpe exatamente por saber dos resultados das pesquisas? Como afirmou Victor Leonardo, da Carta Maior, há alguns dias atrás: “Depois de Jango, falta exumar as reformas de base”.

>>As Reformas de Base foram um conjunto de propostas que tinham como objetivo a diminuição das de-sigualdades sociais no Brasil. Dentre as principais estava a Reforma Agrá-ria, num modelo inspirado em paí-ses como a Itália e o Estados Unidos, onde terras foram distribuídas a pe-quenos produtores rurais

Jango em atividade com amplo apoio popular | foto: reprodução

vírus planetário - janeiro 2014 9

Page 10: Edição 29

hamilton octávio de souza

2013 foi apenaso ensaio de 2014?

O descontentamento da sociedade indica que os protestos populares e os confrontos sociais serão mais agudos neste

ano de Copa do Mundo e eleições gerais no País.

Hamilton é jornalista e profes-sor na Pontifícia Univerdade

Católica de São Paulo (PUC-SP) e membro da equipe da Revis-

ta Vírus Planetário

vírus planetário - janeiro 201410

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Sob o coro ruidoso das multi-dões que ocuparam as ruas das principais cidades brasileiras, ao longo de 2013, movidas pela ex-plosão de protestos e demandas represadas durante muito tempo, ficaram as marcas de uma nova conjuntura política e social, na qual, o povo, acordado, se dá con-ta de que o Brasil ainda precisa mudar muito para se tornar um lugar minimamente decente para se viver com dignidade, respeito aos direitos e menos desigualda-de, injustiça e impunidade.

Tanto é que as últimas pes-quisas de opinião, realizadas em novembro, sobre a perspectiva das pessoas nas eleições de 2014, atestam que a maioria clama por mudanças profundas – mesmo quando no leque das candidatu-

ras colocadas até o momento não tenha nenhuma claramente identi-ficada com um programa sério de mudanças. Mas vale registrar que o anseio por novos tempos esteve presente nas manifestações que sacudiram o País nos últimos me-ses.

Se a luta contra o aumento nos transportes públicos ser-viu de estopim para as primeiras mobilizações nas principais capi-tais, muitos outros fatores con-tribuíram para colocar milhares de pessoas em movimento, entre os quais antigas demandas populares por melhores serviços públicos de educação e saúde, investimentos em moradia e mobilidade urbana – tudo aquilo que tem a ver com o eterno descaso dos governos em relação às precárias condições de vida dos trabalhadores.

Ao lado de reivindicações bá-sicas e fundamentais, sempre adiadas pelas desculpas dos tec-nocratas e a insensibilidade dos políticos subordinados ao receitu-

ário neoliberal (Estado mínimo, pri-vatizações, prioridade para a eco-nomia e o ganho dos mercados), as ruas engrossaram os protestos contra a violência policial (prati-camente inalterada nos governos pós Ditadura Militar), por liberda-des democráticas e contra a des-carada corrupção que contamina os vários escalões da República.

Está cada vez mais claro – para boa parte da sociedade – que o modelo atual favorece a concen-tração da renda e da riqueza, transfere recursos do Estado para beneficiar o capital financeiro (Se-lic com juros a 10% a.a.) e o em-presariado (BNDES, PAC, Copa do Mundo). A farra se estende com “desonerações” (isenções e redu-ções de impostos) de vários se-tores industriais, incentivos ao agronegócio (sem contar o novo Código Florestal e a invasão de reservas indígenas), privatizações de rodovias e aeropostos e anistia do Banco do Brasil nas dívidas dos ruralistas.

Do outro lado, continua a “fle-xibilização” da legislação trabalhis-ta, a ameaça de novo processo de terceirização e precarização (PL 4330), a ausência de fiscalização e de proteção ao trabalhador, o au-mento das situações de trabalho escravo (no campo e na cidade), o aumento da informalidade e do “precariado” (milhões de jovens es-tudantes explorados como estagi-

“ O anseio por novos tempos esteve presente nas manifestações que

sacudiram o país nos últimos meses”

Em cima: manifestação do dia 7 de setembro em São Paulo Foto: Marcelo Carmargo/ABr

Em baixo: manifestação do dia 8 de outubro em apoio aos professores em greve no Rio de Janeiro | Foto: Erick dau / Oilo

vírus planetário - janeiro 2014 11

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ários e outros mecanismos de rebaixamento salarial) – tudo com a conivência dos poderes do Estado e a cumplicidade da grande mídia.

Após as grandes manifestações de junho, que conseguiram reverter – pelo menos – os aumentos nas tarifas dos transportes públi-cos em várias cidades, alguns governos en-saiaram medidas mais sintonizadas com o grito das ruas. Mas logo em seguida, após o período do pânico, recolocaram as promes-sas no fundo do baú e trataram de reforçar o esquema repressivo com a brutal escalada da violência policial contra o direito de ma-nifestação.

Assistimos, no segundo semestre, por todo o Brasil, os mais sórdidos métodos do “Estado Democrático de Direito” para enfren-tar os protestos de estudantes, professores, trabalhadores, desempregados, sem terra e sem teto, entre outros que ousaram con-quistar as ruas. O sistema repressivo usou agentes infiltrados, provocadores e todo tipo de armamento (bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral, balas de borracha, casse-tetes, pistolas de choque etc) para conter o descontentamento popular. Além disso, a repressão executou milhares de prisões arbi-trárias pelo País afora, com acusações falsas, inquéritos forjados, especialmente para dis-criminar os manifestantes que não se intimi-daram diante da brutalidade policial.

O Brasil chega a 2014 – na visão dos grupos dirigentes – com o quadro político, econômi-co e social praticamente inalterado. Não há

2013 foi um ano marcante para

diversas lutas. Acima, e ao lado, imagens

da marcha das vadias no Rio de Janeiro (27/7/13). Acima, à

direita, ação de black blocs em repúdio

à repressão policial praticada contra os professores no dia 7 de outubro nos

arredores da Câmara Municipal do Rio de

janeiro

Fotos: Erick dau / Oilo

Manifestantes enfrentam forte repressão no dia 7 de setembro no grito dos excluídos no RioFoto: Fernando Frazão/Abr

Promessas vazias

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Page 13: Edição 29

periência própria, que o caminho e a força das ruas representam possibilidades reais de conquistas e transformações. Isso, evidente-mente, dá uma nova qualidade ao movimento social. Quem viver, verá.

À direita, ativistas ocupam câmara municipal do Rio no dia 31 de julho. A ocupação,

que depois passou para o lado de fora, resistiu até o dia 15 de

outubro, quando, no dia d@ Professor(a), foi expulsa pela

mais brutal repressão da polícia desde o início das jornadas de junho que acabou prendendo

mais de 200 pessoas aleatoriamente.

Logo abaixo, o manifestante Bruno Telles sendo preso sob

a alegação de porte de um molotov que foi provado ser de

um Policial infiltrado.

nenhuma proposta de mudança substancial no modelo vigente. Os casos de corrupção abundam nos noticiários. Os partidos e as lide-ranças políticas estão alvoroçados em articulações para o pleito de outubro. O empresariado se posi-ciona no leilão de quem oferece mais. Está interessado nos gran-des negócios que o Estado tem proporcionado. Todos comemo-ram os lucros da Copa do Mun-do e a vitória nas urnas. O que importa, para eles, é abocanhar as

máquinas públicas para o butim dos amigos e aliados. As priorida-des do povo ficam para depois.

É nesse contexto que a grande maioria da população vai enfren-tar o novo ano. Certamente com as mesmas migalhas dos progra-mas sociais que enganam a fome, mas sem demandas transforma-das em direitos. A diferença agora é que muita gente já sabe, por ex-

Na esquerda inferior, o ato do dia 2/7 na Maré em protesto contra a chacina de mais de 12 pessoas assassinadas pela Polícia no dia 24/6 na Favela Nova Holanda. Por ser em meio às jornadas de junho, a população conseguiu um fato inédito de expulsar o caveirão (que continuava a ocupar a favela no dia seguinte) com palavras de ordem e apoio de manifestantes de diversas partes da cidade do Rio. Dificilmente, isso seria possível em outra conjuntura.

Na direita inferior, o ato do dia 30/6 na final da Copa das Confederações que protestava também contra a privatização do Maracanã, onde ocorria o jogo. Fotos: Erick dau / Oilo

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Quando adolescentes da periferia de São Paulo fazem grandes encontros nos shoppings para nada mais do que se divertir, o racismo e preconceito de uma

sociedade gerida pelos valores do capital são exposto

“Vamos dar um rolê?”, esse ter-mo cotidiano da vida da juventude paulistana de todas as classes so-ciais tem, nas últimas semanas, to-mado uma proporção que ninguém poderia antes imaginar. Quando um grupo de jovens de 14, 15, 16 anos da periferia de São Paulo marcou o seu rolezinho no shopping, o objeti-vo era “encontrar a galera, conhe-cer gente, beijar na boca, comer um lanche”, é o que diz T.S., 15 anos, que participou do segundo rolezi-nho no shopping Itaquera no dia 11 de janeiro. Assim como os outros participantes, T.S. queria fazer aqui-lo que qualquer jovem tem vonta-de de fazer em qualquer parte do mundo, certamente eles não pode-riam imaginar o que viria a seguir.

Quando os muros reais e ima-ginários do shopping deixam de cumprir a sua função que é de se-parar a classe média dos pobres a

realidade entra em colapso e a face mais brutal do capitalismo se revela. Longe de querer se manifestar ou lutar por alguma coisa, conversando com os meninos que participaram e participam dos rolezinhos fica mui-to claro quais os interesses deles. O interesse é ser um adolescente normal e se divertir acima de tudo. E isso, no capitalismo, também en-globa consumir e ostentar, como demonstram os Mcs do funk os-tentação, que são os ídolos da gale-ra que começou com essa onda de rolezinhos.

“O ato de ir ao shopping é um ato político: porque esses jovens estão se apropriando de coisas e espaços que a sociedade lhes nega dia a dia.” diz a antropóloga e professora de Antropologia do De-

Por Bruna Barlach e Caio Amorim

quem tem medo da periferia?

senvolvimento na Universidade de Oxford, Inglaterra Rosana Pinheiro-Machado. Rosana, que estuda o consumo das camadas populares desde antes dos rolezinhos, afirma que sente certo prazer em ver a apropriação que esses jovens têm feito do espaço. Mas entre apro-priação e resistência há um abismo significativo.

É certo que há contestação po-lítica nesse evento, mesmo que de forma não tão clara para aqueles que estão organizando e indo aos rolezinhos, mas também há cama-das muito mais profundas por trás disso. “Adorar os símbolos de poder – no caso, as marcas – dificilmente remete à ideia de resistência que tanta gente procura encontrar nes-se ato”, alerta a antropóloga.

A reação dos frequentes e cos-tumeiros fregueses do shopping,

Quando o consumo vira contra o consumo

direitos humanos

vírus planetário - janeiro 201414

Page 15: Edição 29

“ Esses jovens estão se apropriando de coisas e espaços que a sociedade lhes nega dia a dia.”

16/1 - Entrada do Shopping Jardim Sul, em São Paulo, bloqueada por seguranças impedindo a manifestação do Movimentos dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) a favor dos rolezinho e contra a discriminação. No vidro da porta automática, o preconceito estampado e adesivado: cachorro pode entrar, mas negros e pobres não. | Foto: Gabriel Gallindo

assim como dos lojistas e donos de shopping, demonstra que há camadas de problemas na nossa sociedade que costumam ficar escondidas, mas que vem sendo escancarado com esse fenômeno. “Eu tive que ver um moleque de 8 anos sendo impedido de sentar na praça de alimentação”, escreve o MC Ph Lima, de São Gonçalo, RJ, um dos organizadores do rolezinho no Shopping Plaza, em Niterói (RJ).

Entre escoltas policiais aos sho-ppings, cassetetes e balas de bor-racha nos participantes dos rolês, vimos a dinâmica dos templos de consumo ser modificada e, ainda que de forma não tão consciente ou clara, contestada.

Diversos shoppings entraram a justiça no mês de janeiro contra a realização dos rolezinhos em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde rolezinhos foram organizados em solidariedade à repressão que os jovens de São Paulo sofreram. Só que, sendo o shopping um local de uso público e livre acesso a todos, como diferenciar quem está parti-cipando do rolezinho de um clien-te comum?

Para os shoppings em São Pau-lo foi muito simples: passaram a revistar e interpelar todas as pessoas negras. Para a pesquisa-dora Rosana Pinheiro-Machado, “o tema é complexo não apenas porque desvela a segregação de classe brasileira, mas porque des-cortina a tensão da desigualdade entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, entre o Norte e o Sul. E enquanto esses símbo-los globais forem venerados entre os mais fracos, a liberdade nunca será plena e a pior das dependên-cias será eterna: a ideológica”.

A reação violenta contra algo que deveria ser totalmente banal – passear no shopping – acabou por chamar a atenção dos movi-

mentos sociais que lutam contra o racismo e pelos direitos das pessoas pobres das periferias e favelas de existirem e transitarem pela cidade como e onde quiserem.

“Vou arrebentar vocês, vou arrebentar vocês”, gritava um policial - enquanto chutava um garoto que estava passando - aos jovens par-ticipantes do rolezinho no shopping Itaquera (região periférica de São Paulo). Cenas como essas não seriam facilmente aceitas.

Domingo, 19 de janeiro, havia sido marcado um rolezinho do shopping Leblon que acabou fechando suas portas “pela segurança”, preferindo não lucrar num domingo do que ter pobres andando lá dentro. Um jovem morador da favela da Rocinha deu entrevista a dezenas de jor-nalistas do Brasil e do mundo que se aglomeravam para cobrir uma

Quem pode, pode

Roteiro & arte: Renato Limawww.facebook.com/pocketscomics

vírus planetário - janeiro 2014 15

Page 16: Edição 29

Por Chico Motta

De um lado a elite horrorizada com os ado-lescentes da periferia se divertindo no shopping, a PM reprimindo a garotada como se fossem criminosos ainda que não houvesse prova de qualquer crime, a justiça proibindo os encon-tros de ocorrer. Do outro lado os movimentos sociais, a Anistia Internacional, entre outros, acusando o absurdo de violação dos direitos humanos, de racismo e segregação que está permeada nessa proibição para os adolescentes da periferia de curtir com a galera. Até aí nada de novo, todo o desespero e criminalização diante das intervenções dos meninos caem por água ao se notar que só estavam se divertindo e que as acusações de furtos, porte de armas, quebra-quebra não passam de me-dos produzidos por um imaginário racista e pela incursão violenta da Policia Militar.

Ao percorrer minha linha do tempo no facebook me de-paro com essa imagem ao lado. Na legenda, em que um reaça compartilhava, algo como: “Vão continuar defenden-do esses delinquentes?” seguido de diversos comentários pedindo a cabeça do menino, e dizendo que ele deveria ser preso, e até mesmo morto.

Ao ver a imagem sendo espalhada, a primeira coisa que me passou foi que se tratava de uma montagem. Como que alguém teria roubado tantos tênis no meio do sho-pping e passaria despercebido? Quem seria tão idiota de logo após o furto tirar uma foto e postar no Facebook, as-sumindo a culpa?

Fui apurar, encontrei o perfil do garoto da imagem. Um moleque de 16 anos, gosta de Funk, de Rap, fotos de mo-tos, e mulheres, bonés de marca, toda uma cultura que tem permeado os rolezinhos até agora. G. me contou que foi a somente um rolezinho, que os encontros são mar-cados pelo facebook, que teria ido com a sua namorada, para encontrar amigos e conhecer pessoas, indo embora logo que a Polícia chegou.

Não sabia que a foto que ele postou estava circulan-do, ficou assustado, tinha copiado da postagem de outra pessoa, não sabia que geraria polêmica, havia várias pa-recidas no evento do rolêzinho. De acordo com o garo-to, estavam “zombando” das pessoas que os criticavam e diziam que era arrastão, todo mundo sabia que não era sério. Na própria foto pode-se reparar que seu colega comenta ao final: “Nosso bonde nao preciso roba nin-guem pra Tumutua e chamar a atenção”.

Estava desvendado o enigma, pessoas intolerantes usando uma bricandeira como se prova de crime fosse, pra justificar o seu racismo. Isso não seria grave se na internet as coisas não se espalhassem com uma pro-porção absurda. A imagem com a postagem do menino já teve milhares de visuzalições. Perfis reaças tem espa-lhado a torto e a direito acusando de um crime que G. não fez. Alguns minutos de apuração e evitaria-se uma enorme injustiça.

ruptura do tecido imaculado do Leblon, um dos bairros mais ricos do Brasil e do mundo. Esse jovem, estudante de Geografia, chama-va atenção para o fato de que as desculpas dos shoppings contra os rolezinhos eram to-das incoerentes. Lembrando como na Jornada Mundial da Juventude (católica) milhares de pessoas ocuparem diversos espaços da cidade sem que houvesse nenhum impedimento, sem que nenhum shopping ou agente de segurança pública colocasse em questão o risco deste acontecimento.

As reações preconceituosas e racistas de diversos setores da sociedade teve apoio nas medidas tomadas pelas administrações dos shoppings. No dia 18/01, o Shopping JK Iguate-mi, estabelecimento nobre na zona sul de São Paulo, fechou as portas para que não ocorres-se a manifestação “Rolé contra o racismo”, que contou com mais de 200 ativistas que ficaram mais de três horas em frente a porta do sho-pping. Um grupo foi à delegacia para registrar um boletim de ocorrência por racismo contra o Shopping.

Sobre a reação desigual quando adoles-centes pobres estão “à toa”, se divertindo, a antropóloga Rosana aponta: “A frase dirigida aos rolezinhos “por que não vão trabalhar va-gabundo, pega numa enxada!?” tem sido am-plamente expressa no Brasil. Ora, eu pergunto, então: quando os jovens de 15 anos das elites estão passeando no shopping ou mesmo em bando em um festival, alguém vai dizer que eles deveriam estar trabalhando?”.

O rolezinho do shopping Leblon, assim como vários outros que aconteceram ao longo do mês de janeiro e estão marcados para as pró-

Quando a internet transforma brincadeiras de adolescentes em “provas de crimes”

Rolês de resistência

direitos humanos

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ximas semanas surgiram como uma forma de marcar posição diante das cenas absurdas que os primeiros rolezinhos suscitaram. No Leblon, militantes de diversos movimentos sociais e partidos de esquerda, jun-tamente com moradores das fave-las, moradores de rua e gente que nunca tinha nem participado nem de rolezinho, nem de manifestação estavam lá para denunciar que há algo de errado na ordem mundial.

“Não adianta não gostar de ver a periferia no shopping” – alerta Ro-sana – “Se há poesia da política do rolezinho é que ela é um ato fruto da violência estrutural (aquela que é fruto da negação dos direitos hu-manos e fundamentais): ela bate e volta. Toda essa violência cotidiana produzida em deboches e recusa do Outro e, claro também por meio de cacetes da polícia, voltará a assom-brar quando menos se esperar.”

Depois das jornadas de junho de 2013 e com a proximidade da Copa, parece que os governantes estão dispostos a tudo para coi-bir qualquer manifestação, seja ela declaradamente política ou só uma manifestação da vontade de jovens pobres, afinal, o mais importante

para a Copa é que tudo esteja no seu lugar: os shoppings disponíveis para os turistas que em breve vão começar a desembarcar e os po-bres, periféricos e favelados bem escondidos e longe da vista dos tu-ristas e das câmeras de TV. Nem que para isso toda força policial seja deslocada para proteger a proprie-dade privada e remover os pobres da vista, como está sendo feito na favela Metrô Mangueira, que fica em frente ao estádio do Maracanã.

Temendo o pior, a prefeitura de São Paulo criou um comitê pra ne-gociar com os organizadores do ro-lezinho, encabeçado por Netinho de Paula (famoso pela música e por ser agressor de mulheres). A proposta

de prefeitura é tirar os rolezinhos do shopping e levá-los pras parques e praças públicas ou até mesmo para o estacionamento dos shoppings. Só se esqueceram de levar em con-sideração que estacionamento não tem loja, não tem ninguém pra ver e que as praças e parques públicos são raros nas regiões periféricas e os que existem estão sucateados.

Ademais, por que a prefeitura deveria determinar onde os jovens pobres devem se divertir, uma vez que os jovens de classe média e das elites são livres para determinarem onde serão seus rolezinhos?

“ Quando os jovens de 15 anos das elites estão passeando no shopping alguém vai dizer que eles deveriam estar trabalhando?

16/1 - Seguranças bloqueam entrada do Shopping Jardim Sul, em São Paulo e impedem manifestação do Movimentos dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) de entrar no centro comercial | Foto: Gabriel Gallindo

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Não, não são “protestos” por justiça-social. São flashmobs, encon-tros de jovens onde a vida no Brasil, por várias razões, passou a determi-nar que jovens devem se encontrar: nos shoppings. O Funk Ostentação, trilha sonora dos eventos, não tem no seu conteúdo (ainda que ironica-mente o tenha na sua forma, sobre-tudo por conta do “choque estético” que produz em certos setores) nada de flagrantemente contra-hegemôni-co do ponto de vista político – assim como hip-hop bling-bling (estilo de rap norte-americano cantado por 50 cent e Puff Daddy) nunca teve.

Apesar de não ser deliberada-mente contestador em seu aspec-

Por Edemilson Paraná e Bruna Barlach

Iniciativa de jovens da periferia de São Paulo, os Rolezinhos chegam nos shoppings, derrubando um muro invisível e revela o preconceito

da classe média

direitos humanos

to político, o fenômeno guarda uma contradição gritante: desejando acesso à sociedade do consumo, sem querer, esses jovens a denun-ciam de forma didática, abrindo um debate importante. A pane na fron-teira entre querer/poder consumir em uma sociedade de consumo que os vê como subclasse de consumi-dores é em parte responsável pelo curto-circuito nas elites ao lidar com o fenômeno. Racismo e classismo se encontram na contraditória ne-gação da “igualdade pelo consumo”, a utopia capitalista fundamental. Quer dizer, “pode consumir, mas só da forma que eu permitir, e onde eu permitir”.

Não é por acaso que os shoppings são espaço de encontro dos rolezi-nhos. A centralidade do consumo na nossa sociedade repercute nas nos-sas cidades com a desvalorização dos espaços públicos como locais de encontro e criação. Ano a ano mais shoppings são levantados em áreas urbanas. Símbolo da cidade segrega-da, formam ilhas de segurança em relação ao seu exterior. Além disso, são responsáveis por aumento no tráfego de veículos e pela falência dos pequenos comerciantes ao seu redor. A falta de direito à cultura, acesso a espaços públicos e equi-pamentos de lazer para vivências

“esse tal chópi centsé mucho legalzinho

e dar uns rolezinho”

pra levar as

namorada

Esse tal chópi cents

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Week com as tendências do Funk Ostentação. Foi o que tentaram fazer em Junho de 2013 com as manifestações. Isso pode, em certa medida, ajudar a pacificar momentaneamente as coisas (já que há indí-cios de que seja uma demonstração de algo mais profundo acontecendo e que, portanto, pode voltar a se expressar de outras formas em breve).

Tudo somado, é parte de um interessante fenômeno do “Brasil de Lula”. Uma demonstração de que o consu-mo, de certa forma (muitas vezes sustentado por traba-lho precarizado e extenuante), chegou, mas a cidadania de direitos ainda está a léguas. Esse consumo que promete a todos igualar, sustentáculo da “esfera pública neoliberal”, ironicamente vê cor, raça e local de origem ao barrar a en-trada nos shoppings de jovens que não fazem nada além de ocupar um espaço simbólico que a todo momento essa sociedade os vende, encanta e apresenta como índice de “cidadania” e reconhecimento social.

Dificilmente esses jovens aceitarão um não como res-posta a seus anseios – ainda que tais anseios sejam pas-sear no shopping ou comprar um tênis de marca (e não há que se moralizar isso com a pecha simplista de “consu-mismo”). A negação, em especial a violenta, produzirá mais frustração, o que servirá apenas para ampliar a instabili-dade do cenário.

Ilustrações: Tiago Silva - www.facebook.com/quadrinhosimpossiveis

coletivas joga, portanto, um papel importante, mas sozinho não é capaz de explicar o fenô-meno. Padecendo da mesma falta, as “tribos” da classe média (emos, góticos, etc) já ocupam shoppings e suas entradas há um bom tempo. Parece bastante óbvio que, nessa sociedade, jovens prefiram se encontrar onde há lojas, lan houses, cinemas e praça de alimentação.

As forças da ordem têm, portanto, instru-mentos de sobra para tentar enquadrar e do-mesticar, ao menos temporariamente, esse processo. Se as elites empre-sariais e governamentais pen-sarem racionalmente (e não por meio de seus sentimentos coloniais e racistas mais primá-rios) perceberão o quanto a ta-refa é simples. Basta para isso se apropriarem do movimento com propagandas, quadros do Fantástico e programas como os de Regina Casé, na Globo, louvando sua “espontaneidade” e “excentricidades”. Antevejo shoppings fazendo “promoções do rolezinho”, promovendo gran-des eventos, e até desfile de moda no São Paulo Fashion

“ Desejando acesso à sociedade do consumo, esses jovens a

denunciam abrindo um debate importante”

Consumo e significação

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“Quando vendermos todas as almas dos

nossos índios num leilão”

Quem dá mais? Quem dá mais para o extermínio indígena no mato grosso do sul?

mato grosso do sul

Por Fernanda Palheta, Rafael de Abreu, Tainá Jara

Mato Grosso do Sul possui a segunda maior população indíge-na do Brasil e o menor número de terras demarcadas. Contexto mais que propício para sangrentos con-flitos fundiários, que acabaram o colocando também como o Esta-do com maior índice de lideranças indígenas assassinadas. Apesar da condição desfavorável, os índios persistem em retomar seus terri-tórios tradicionais. A iniciativa des-perta cada vez mais o ódio dos latifundiários, levando a disputa por terras até as últimas consequ-ências.

Diante da inércia do governo do PT em solucionar os conflitos a situação se agravou. A ocupação da Terra Indígena Buriti, em Si-drolândia, distante 72 km de Cam-po Grande, em maio deste ano e a reintegração desastrosa feita pela Polícia Federal, que culminou na morte do Terena Oziel Gabriel, acirraram os ânimos.

Calculando 80 propriedades ru-rais ocupadas no Estado, os fazen-deiros não conseguiram mascarar as práticas arcaicas utilizadas para calar a voz indígena. Preocupados com os lucros, eles encontraram uma maneira rápida e promissora de arrecadar fundos para se “pro-tegerem” contra a onda de ocupa-ções. A solução não poderia deixar de ser tão característica de latifun-diários: um leilão. Ironicamente, no-meado de “Leilão da Resistência”.

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rança privada na verdade é pistolagem. São empresas de fachada, que pegam pessoas que são capazes de matar por qualquer dinheiro e são contratados como se fossem legais. Não só isso, o leilão mostra tam-bém o quanto os ruralistas sofisticaram suas ações”, afirma a liderança Terena, Lindomar Ferreira.

Antigamente a organização dos fazendeiros, além de velada, se dava de maneira individual, ou seja, cada um contratava seu jagunço para “proteger” sua propriedade. Hoje, o diferencial é a transparência e a organização conjunta.

Para o professor de antropologia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Antônio Hilário, a junção de um grupo de proprietários para este fim específico caracteriza a formação de uma milícia. “Só o Estado tem a prerrogativa do uso de força. Se o Estado falha, segundo os interesses dos proprietários, eles não podem criar seu próprio exér-cito”, explica.

Conforme Hilário, a prática de contratar empresas de segurança pri-vadas para o extermínio de indígenas se tornou comum em Mato Gros-so do Sul, principalmente, após o assassinato do líder Guarani, Marçal de Souza, no dia 25 de novembro de 1983. Posteriormente, houve a eliminação calculada de outras lideranças.

Para o advogado Terena, Luiz Henrique Eloy, a ideia do leilão surgiu diante da omissão do próprio Estado em demarcar as terras indígenas e de executar as reintegrações de posse. “Eles viam o Estado brasileiro como incapaz de fazer a decisão judicial ter força. Então, pensaram em contratar homens armados para enfrentar os povos indígenas”, explica.

Eloy afirma que nos últimos anos empresas de segurança privada ou algum tipo de serviço de pistolagem estavam ligados aos assassi-natos de lideranças indígenas. A empresa mais conhecida no ramo é a Gaspem, com sede na cidade de Dourados, distante 235 km da capital Campo Grande.

Conforme carta divulgada em novembro pelo conselho Aty Guasu Guarani Kaiowá, a Gaspem atua na dizimação dos povos indígenas do Estado há mais de dez anos, sendo responsáveis pelos assassinatos dos líderes da etnia, Dorvalino Rocha, em 26 de dezembro de 2005, e Nísio Gomes, em 18 de novembro de 2011. O corpo do último não foi encontrado até hoje. “Está desaparecido faz mais de dois anos. Durante a ação o mataram e levaram o corpo. O processo está parado na Jus-tiça”, afirma Genito Gomes, filho do cacique morto.

Encabeçados por suas princi-pais entidades representativas, a Federação da Agricultura e Pecuá-ria de Mato Grosso do Sul (Fama-sul) e a Associação de Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul), os fazendeiros tiveram a ideia do leilão em reuniões realizadas nos dias 7 e 8 de novembro, em Campo Grande. A discussão tinha o objetivo de definir ações para pressionar o governo Federal por soluções até 30 novembro, pra-zo dado pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Porém, a intenção em realizar o leilão ficou evidente em poucos minutos de discussão, quando uma das pro-prietárias rurais soltou que “para o enfrentamento temos que con-tratar gente especializada”. Após a declaração, outra produtora suge-riu que a imprensa se retirasse do local da reunião.

A proposta do leilão foi condu-zida pelo presidente da Acrissul, Chico Maia. Animais, que incluem de corte e de elite, e grãos seriam doados por produtores para reali-zação do certame. A arrecadação seria depositada em um fundo, depois aplicada nas causas dos fazendeiros, a principal delas, a contratação de empresas de se-gurança. Na semana anterior, o vice-presidente da Acrissul, Jona-than Barbosa, foi ao Senado, em Brasília, e indiretamente antecipou a posição dos fazendeiros diante da situação, declarando que pode-ria “haver derramamento de san-gue”.

A principal destinação do dinhei-ro do leilão evidencia o aperfeiço-amento do método retrógrado de contração de jagunços na tentati-va de fazê-lo ganhar ares legais. A iniciativa do evento tornou pública a formação de um exército parti-cular a disposição dos fazendeiros.

Para os indígenas, o leilão é mais uma forma dos ruralistas atentarem contra suas vidas. “O anúncio da contratação de segu-

“ Para os indígenas, o leilão é mais uma forma dos ruralistas atentarem

contra suas vidas”

Ocupação da Terra Indígena Yvy Katu, no município de Japorã-MS. Neste local, em outubro, os produtores rurais ocuparam uma ponte e fizeram um encontro para se articularem contra a ocupação de terra. Posteriormente, surgiu a idéia do leilão. O local tem aproximadamente 14 propriedades ocupadas. | Foto: diogo Gonçalves

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de parlamentar e também vários funcionários, fato que contraria a cultura de impunidade do Estado.

Apesar das ações, outras em-presas de Mato Grosso do Sul estão sujeitas a prestar o mes-mo tipo de serviço, principal-mente diante de valores altos como os arrecadados em lei-lões. O certame para combater as ocupações ficou marcado para o dia 7 de dezembro. No-mes da bancada ruralista do Estado como os deputados es-taduais Mara Caseiro (PTdoB) e Zé Teixeira (DEM) apoiavam abertamente o evento.

A três dias de sua realização, o Conselho do Povo Terena e Conselho Aty Guasu Guarani e Kaiowá insurgiram contra o “Leilão da Resistência” e con-seguiram uma liminar favo-rável da Justiça Federal, que suspendeu este instrumento financiador do genocídio. No entanto, Famasul e Acrissul, valendo-se de manobra pro-cessual sórdida, conseguiram,

Luiz Henrique Eloy lembra que a Gaspem está presente em todas as áreas de conflito, não só nas dos Guarani-Kaiowá. “A encontramos também nas áreas Terena, Kadiwéu, onde tem conflito fundiário ela está”, destaca. A atuação intensa fez com que no mês de outubro o Ministério Público Federal ingressasse com uma ação para acabar com essa empresa que, segundo depoimentos, chegava a receber R$30 mil por desocupação violenta.

A Justiça classificou a Gaspem como uma milícia privada por conta das acusações de executar vários ataques contra comunidades indíge-nas. Entre as irregularidades apontadas estavam também, desvio de fi-nalidade, contratação de vigilantes sem formação, porte ilegal de arma, além de fraudes administrativas. A investigação resultou na prisão de várias pessoas, entre advogados, presidente de sindicato rural, assessor

mato grosso do sul

“ No mesmo dia em que saiu a decisão

suspendendo o leilão, o indígena

foi atacado em sua aldeia: homens

encapuzados incendiaram seu carro, mas

Paulino conseguiu escapar. ”

Ocupação da Terra Indígena Yvy Katu | Foto: diogo Gonçalves

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no calar da noite, uma decisão libe-rando o evento.

A curta vitória da suspensão do leilão foi histórica. Pela primeira vez, os povos indígenas de Mato Grosso do Sul foram para o embate jurídico direto por meio de advogados cons-tituídos para isso, com fundamento no artigo 232 da Constituição Federal Brasileira, que garante que os indíge-nas e suas organizações possam, em nome e direito próprio, defenderem seus direitos na Justiça.

Em carta do Conselho do Povo Te-rena denunciaram também o atenta-do de morte contra a liderança Pau-

lino, da aldeia Moreira, integrante do Conselho do Povo Terena. No mesmo dia em que saiu a decisão suspen-dendo o leilão, o indígena foi atacado em sua aldeia: homens encapuzados incendiaram seu carro, mas Paulino conseguiu escapar. No dia 8 de de-zembro sua casa foi arrombada.

Regado a cerveja gelada e espeti-nho o leilão aconteceu e arrecadou cerca de R$1 milhão. As mais de 800 cabeças de gado arrecadadas se misturaram a produtores e inúme-ras autoridades políticas. Entre elas, os senadores Kátia Abreu (ex-DEM- PSD e atual PMDB-TO) e Waldemir Moka (PMDB-MS) e os deputados federais Ronaldo Caiado (DEM-GO), Paulo Cesar Quartiero (DEM-RR), Luiz Henrique Mandetta (DEM), Rei-naldo Azambuja (PSDB) e Fábio Trad

(PMDB), além dos deputados estadu-ais já citados.

Diante da manobra que permi-tiu a realização do evento, o advo-gado Luiz Henrique Eloy, em nome dos Conselhos Aty Guasu e do Povo Terena, impetrou mandato de segu-rança e a Justiça decidiu que todo o dinheiro arrecadado no “Leilão da Re-sistência” deveria ser depositado em juízo, assim como o nome de cada doador e valor individual doado, sob pena de multa do dobro de todo o valor arrecadado.

Pela primeira vez os povos indíge-nas, por meio do Conselho Aty Guasu e do Conselho Terena, se uniram de fato contra a organização de fazen-deiros, tornando-se protagonistas na sua luta. Porém, é cada vez mais des-carada a intenção do agronegócio em “acabar” com seu problema, tirando quem estiver em seu caminho.

Leilão de arrecadação para formação de milícias dos latifundiários.

À esquerda, a senadora Kátia Abreu (PMdB-TO), uma das principais

lideranças dos pecuaristas no congresso (de pé) participa do leilão.

Foto: reprodução

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ceará

Por Joana Vidal e Livino Neto

Em assembleia geral convocada pelo conselho de entidades de base do Diretório Central de Estudantes da UECE, os estudantes, no dia 29 de outubro, deflagraram greve geral da categoria. No mesmo dia, os profes-sores também optaram pela greve, assim como os servidores que, pela primeira vez, fazem greve na univer-sidade.

A pauta de reivindicações é ba-sicamente a mesma apresentada ao governo em 2011, composta por pontos que dizem respeito à defesa da UECE como um bem público, um patrimônio da sociedade cearense e um direito dos que nela estudam e trabalham. “Esta greve foi, inicial-mente, puxada pelos estudantes, mas ela acabou sendo puxada, tam-bém, pelos professores e servidores e a maior conquista disso é que a gente está com três universidades

Quando o governo não dialoga, a greve se torna a alternativa possível para vitórias

estaduais em greve: a UECE, UEVA e URCA”, destacou Marília, estudante do curso de história da UECE.

Estudantes, professores e servi-dores prometem não dar descanso para o governo estadual, ocupando as ruas e todos os espaços onde possam fazer suas vozes serem ou-vidas; a reação governamental, no entanto, tem se restringido à tradi-cional truculência da oligarquia Fer-reira Gomes.

No dia 1º de outubro, por exem-plo, enquanto estudantes e profes-sores se manifestavam no aeroporto de Iguatu e exigia abertura de ne-gociação para tratar das pautas da greve e das condições do campus da URCA, o secretário de saúde do estado e irmão do governador, Ciro Gomes, tomou o cartaz de uma ma-nifestante, rasgando-o e, em segui-

greve geral interior e capital

da, xingando o grupo de “babacas”.

Milhares nas Ruas por melhorias nas universidades estaduais

No dia 6 de novembro, estudan-tes, servidores e professores se uniram em uma manifestação de aproximadamente cinco mil pessoas pelas ruas da Aldeota, o bairro onde fica localizado o palácio da Abolição, sede do governo estadual. Desde a concentração do ato, na Praça da Imprensa, a repressão era visível: vários policiais já se posicionavam naquele local tentando prender ma-nifestantes e impedir que o grupo iniciasse a caminhada.

Ao tomar as ruas, os milhares que protestavam tinham seus passos vi-giados por um helicóptero enquanto as vias que davam acesso ao palácio do governo eram fechadas com um forte aparato repressor. Dois quar-

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teirões antes da sede do executivo estadual, professores, servidores e estudantes não eram recebidos por secretários ou pelo governador, mas por um efetivo de centenas de policiais.

Enquanto se negociava para que uma comissão entrasse no palácio para abrir uma mesa de diálogo com algum representante do go-verno, bastou que uma grade de contenção caísse no chão para que inúmeras bombas de efeito (i)moral papocassem no meio dos manifes-tantes. Ainda assim, eles permane-ceram firmes até serem recebidos pelo representante do governo que, como digno de uma ditadura, naquele dia foi um coronel militar.

Na quarta-feira, 27/11, um grupo de aproximadamente 100 pessoas formado por professores, estudan-tes e servidores das universidades estaduais ocupou o plenário da As-sembleia Legislativa do Ceará.

“Fizemos reuniões com os depu-tados, fomos recebidos pelo líder do governo na Assembleia, quando pedimos uma mediação para uma reunião com o governador, até hoje isso não foi atendido. Essa reunião era para ter acontecido na terça-feira; a reunião foi cancelada e, por conta disso, estudantes, profes-sores e servidores decidiram ocu-par a Assembleia Legislativa, para pressionar o governo ao mínimo, que é negociar, dialogar com um movimento legítimo em defesa das universidades estaduais”, afirmou Marcelo Ramos, estudante de His-tória da UECE.

O professor Célio Coutinho, da Faculdade de Educação de Itapi-poca (UECE), também destacou a urgência em o Governador Cid Gomes abrir uma mesa de nego-ciação com o movimento “A ação da ocupação, pacífica, é para que possamos forçar que o governador abra de imediato a mesa de nego-ciação”, destacou o professor.

“ As universidades estaduais encontram-se em uma visível situação de

sucateamento”

durante ocupação na Assembleia Legislativa do estado do Ceará, militante exibe camisa do comando de greve das universidades estaduais | Foto: Livino Neto

Assembleia Ocupada!

Avanços

greve geral interior e capital

No dia 6 de dezembro, a ocupação teve fim. A nota do movimento escrita na ocasião observava que o acampamento havia conquistado algumas vitórias: a visibilidade do movimento e a simpatia da sociedade; a realização de uma audiência pública no dia 4/12 que encaminhou a intermediação da mesa diretora junto ao governador solicitando a aber-tura de negociações com o movimento, a apresentação, por parte dos deputados presentes no evento, de emenda coletiva à Lei Orçamentária Anual prevendo verbas para cobrir gastos da implantação de itens da pauta de reivindicações e a formação de uma frente parlamentar em defesa das universidades estaduais.

Na segunda-feira seguinte, 9/12, o comando de greve foi recebido, pela primeira vez desde o início do movimento, pelo governador Cid Gomes. Nessa reunião, foram conversados cinco pontos de pauta dos quais para três o governador acenou positivamente: o governador considera possí-veis a regulamentação do Plano de Cargos, Carreiras e Vencimentos dos professores e a reformulação da tabela salarial dos servidores e propõe 10 milhões de reais para assistência estudantil em cada universidade estadual (UECE, UVA e URCA).

Esse primeiro momento, porém, não deu nenhuma sinalização, po-rém, quanto à realização de concurso público para suprir a demanda de mais de 700 professores efetivos na Universidade. Nem mesmo foi dada alguma garantia oficial, por parte do governador, em relação aos pontos de acordo.

Professores, estudantes e servidores seguiram mobilizados, acompa-nhando a agenda do governador e conversando com a sociedade. O início do ano foi marcado por diversas ações do movimento, como a distribuição de uma nota trilíngue para os turistas e uma caminhada silenciosa na Av. Beira Mar.

Na segunda-feira, 13 de janeiro, chegou mais uma conquista. Recuando em sua posição que foi, inclusive, anunciada nos jornais, de não negociar com categorias em greve, o governador Cid Gomes recebeu o movimen-to das universidades estaduais. Na pauta, foram discutidos principalmen-te os pontos que ainda estavam pendentes: a realização de concurso público para professor e a questão estrutural na Faculdade de Educação de Itapipoca (um dos campi da UECE no interior). Mais uma vez, vitórias.

Em assembleia histórica realizada na manhã da quinta-feira, 16 de janeiro, mais de 150 professores votam pela suspensão da greve e manu-tenção do estado de greve e do calendário de mobilização, mas com

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ceará

Professores, servidores e estudantes da capital e do interior formaram, em fevereiro de 2011, um movimen-to unificado que entregou uma pauta de reivindicação ao governo. Nos meses seguintes, sucessivos cortejos e manifestações foram realizados para tentar abrir uma mesa de diálogo com o governador Cid Gomes, mas os manifestantes, recebidos sempre por secretários ou pelo líder do governo na Assembleia Legislativa, tinham sempre a resposta que qualquer decisão em relação a pauta dependia da aprovação do governador.

Em novembro de 2011, as reitorias das universida-des estaduais apresentaram dados que comprovaram a necessidade de contratação de 640 docentes. De novembro de 2011 a fevereiro de 2012, por solicitação da Procuradoria Geral do Estado (PGE) e da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Educação Superior do Ceará (Secitece), formou-se uma comissão mista com repre-sentantes do executivo e do movimento sindical das universidades para a reelaboração das minutas de leis e decretos que regulamentam o Plano de Cargos, Car-reira e Vencimentos (PCCV) dos docentes; no entanto, após o encerramento dos trabalhos, o plano não foi en-caminhado pelo executivo para que fosse aprovado pelo legislativo.

A única audiência com Cid Gomes só veio a acontecer em novembro de 2012, quando o governador defendeu a tese que a responsabilidade da educação superior deve-ria ser toda do governo federal e que, por isso, o seu go-verno não autorizaria a contratação de professores para preencher a vagas geradas pelas aposentadorias e rea-justes curriculares. Naquela ocasião, o governador se re-

>>>Entenda a greve Militante exige melhorias nas universidades estaduais durante manifestação no dia 06/11/2013 | Foto: Livino Neto

Manifestante encara cordão policial durante a manifestação em defesa das universidades estaduais do Ceará | Foto: Livino Neto

cusou a atender também as pautas que co-bravam estrutura para as universidades e tampouco deu encaminhamento ao PCCV dos professores.

“Desde a ultima greve, realizada em 2007 e 2008, nós tentamos estabelecer um canal de dialogo com o governador para efetuar o plano de cargo e carreiras; é um tema que já tentamos discutir com o governador há bastante tempo. Outro tema que está na pauta há alguns anos é a abertura de concurso para professores efetivos”, alertou Raquel Dias, professora da UECE e militante da Conlutas.

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“ Se os Ferreira Gomes agem como coronéis se indispondo ao

dialogo, não terão sossego em suas fantasias megalomaníacas”

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reinício do ano letivo. Assembleias realizadas no dia anterior na UVA e na URCA aprovaram posições similares, mantendo a unida-de do movimento.

As avaliações dos professores grevistas são convergentes: há vitórias concretas para a categoria e para as universidades. O grande ganho, porém, foi ter tirado o ensino superior estadual do ostracismo ao qual estava relegado, ganhado o apoio e a simpatia da sociedade. Ainda, conforme o professor Eudes Bai-ma destaca, “é o movimento organizado de trabalhadores e estudantes que traz conquistas”.

A constituição brasileira prevê que a educação pública deve ser entendida como um direito social, demandando políticas públicas efetivas e com um aporte de recursos que garanta da qualidade da política. No seu artigo 206, o documento destaca a necessidade da valorização profissional através de concurso público e plano de carreira, bem como observa a garantia da qualidade de ensino. A Constituição também estabelece um valor mínimo a ser aplicado na educação: os estados e municípios devem repassar para a pasta pelo menos 25% da receita resultante de impostos, cabendo para o ensino superior - no caso do Ceará - um quinto deste percentual. Longe disso, o investimento no ensino superior foi, em média, de 0,33% do PIB do estado, ainda que este tivesse um contínuo crescimento no governo Cid Gomes.

Segundo relatório do ANDES-SN (Sindicato Nacional dos Docentes do Ensino Superior), o investimento em edu-cação no estado Ceará caiu de 23,45% do total do orça-mento em 2003 para 18,6% em 2012. Entre 2011 para 2012, o quadro é ainda mais assustador: mais de 1,5 bilhões deixaram de ser alocados em educação de um ano para o outro. Enquanto o orçamento em educação foi brusca-mente reduzido, o estado arrecadou R$ 18.727.170.354,55, tendo uma leve queda de 0,42% em relação ao ano an-terior, o que jamais justificaria o corte de orçamento para a promoção de um direito básico da população.

O governo é contra a lei

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EntrEvista INclusiva:

marcelo d2Suas músicas têm a alma do

Rio de Janeiro, as letras trans-piram as ruas da cidade. Cario-ca da gema, ao completar vinte anos de estrada nos palcos do Brasil e do mundo Marcelo D2 diz que ainda tem muitos proje-tos pela frente. Marcelo Maldo-nado Gomes Peixoto nasceu no subúrbio, viveu boa parte de sua vida no Catete em torno da Lapa, núcleo da boemia e berço cultural do Rio, mas já andou por todo canto da cidade. No meio da malandragem se tornou um expoente do rap nacional, mas nunca deixou de beber nas raízes no samba.

Na entrevista a Eduardo Sá, D2 fala sobre a importância do rap, e qual papel esse gênero vai representar na história da música nacional. Em relação às drogas, reconhece as dificuldades de um país continental mas propõe a legalização em alguns estados.

Na defesa dos black blocs, critica o governo do Rio de Janei-ro e a mídia tradicional. Segundo ele, essa onda de protestos que está ocorrendo na cidade é histó-rica e possibilita alguns avanços contra as injustiças num território extremamente desigual. “Esse é um momento histórico, muito mais que os caras pintadas que tiraram o Collor”, afirmou.

Fotos: Eduardo Sá

Por Eduardo Sá

São vinte anos de travessia na música, como você avalia sua carrei-ra hoje e os caminhos que o levaram até aqui?

Se você me perguntasse há vinte anos como estaria daqui a vinte anos, eu ia falar na cadeia, morto, na cadeira de roda, que nem vários amigos. A grande coisa foi tomar decisões certas, o final do Planet Hemp foi uma delas, mesmo que todos os fãs tenham ficado bolados. Se tivesse seguido, teria virado um cover de mim mesmo com vinte anos de uma banda. Não gosto muito da palavra revolucionária porque soa um pouco comercial de Coca-cola, mas era uma banda que reivindicava para caramba, era muito política.

Mas esse discurso político tem um momento que perde a força, se fi-cássemos vinte anos falando nisso ia virar meio que uma comédia. O Bernardo queria sair, eu já não tinha mais força para tocar, já tínhamos ido pra cadeia, saído na porrada com todo mundo, todas as bandas, polí-ticos e delegados do Brasil. O trabalho estava feito, não dava mais, então foi uma decisão importante.

A minha escolha de ir lá dentro do samba, de buscar as raízes, e pro-curar nelas o meu som, foi certa para caramba. Porque quando resolvi fazer a minha carreira solo em 1998, antes do final do Planet, não foi por questão de ego e sim de caminho artístico. Queria fazer rap com samba, rap com música brasileira, e não tinha a ver com o Formigão que era um cara punk, o Rafael que é um roqueiro, o Bernardo, então resolvi fazer solo. Essas escolhas estão refletindo hoje, tenho 20 anos de uma carreira sólida, nunca fui a música da moda do verão mas também nunca deixei de tocar. Me orgulho muito disso, agora vai ser difícil eu não viver mais de música. E ainda sinto que tem muita coisa para fazer, muitos projetos que estão na gaveta, e totalmente novos, de vanguarda, diferentes.

Como o rap está se encaixando, do ponto de vista histórico, na mú-sica brasileira?

Dentro dessa galera do rap tem duas coisas. Uma é dentro do mercado de entretenimento, aí você vê uma porrada de banda que tem um milhão de fãs no facebook, twitter, instagram, mas que é só mais uma onda como são todas. Não acho ruim não, tem lugar para todo mundo. O moleque hoje que está ouvindo uma banda dessa vai ouvir outro tipo de som, é melhor ouvir uma banda de rap boba do que uma porrada de merda que toca por aí.

Acho que o “Eu tiro é onda” foi uma sementinha, mas o “A procura da batida perfeita” mostrou um caminho para todo mundo e até para

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“ A polícia do Rio de Janeiro é sádica

e violenta pra caralho e o governo é complacente!”

EntrEvista INclusiva_marcelo d2

mim mesmo de que dá para fazer rap popular sem ser populista, babaca, e balançar a bundinha no programa de domingo. Dá para fazer um rap popular de raiz brasileira. O caminho de pesquisa da música brasileira é para o rap se tornar uma música brasileira, como o funk carioca e vários estilos se tornaram.

O rap envolve vários valores e dialoga muito com a juventude. Mas a nossa sociedade é muito conservadora, rotula como alienação, a questão das drogas, noitadas, etc. Dizem que não querem nada e não têm mensagem. Depois que o baile funk parou na favela ficou maior ainda esse grupo nas ruas do Rio. Como é essa identidade?

Se ainda tem um movimento musical que fala alguma coisa que preste é o rap. Desculpe todos os outros, com todo o respeito, mas qual outro movimento que vai lá e xinga a polícia, que é contra o governo, a grande mídia, que forma de maneira independente suas gravadoras? Na verdade a galera que curte rap deve olhar para o resto do mundo e dizer porrada de alienado que não gosta de rap.

Mas mudou muito, quando eu comecei a fazer rap tinha eu, Mv Bill e mais meia dúzia, e hoje tem seis bandas de rap num quarteirão no Rio de Janeiro. O lance do rap é que de certa maneira é fácil de você se expressar. O cara pode ter o talento de escrever um som, mas se não for cantor e tiver uma voz foda tá fodido.

Em relação a essa juventude que se identifica, eu já viajei 25 países cantando e mais uns quatro, e em todos tem uma ação de rap no gueto. Nessa coisa da globalização, o rap foi a melhor coisa, virou a música e voz do gueto dos anos 2000 no mundo inteiro. É a voz da molecada que quer falar de política, mesmo quando faz o rap de amor tem um lado político. Tirando o funk dos anos 70, poucas músicas cantam a mulher da favela ou do gueto, é sempre a burguesa.

A questão das drogas tá meio batida contigo, mas legalizaram no Uruguai e o debate tá rolando...

Tá batido mas não mudou nada, né. Um problema grande no Brasil é ser um país continental, se você falar vamos legalizar no Rio e São Paulo, talvez Santa Catarina… Vai falar isso lá em Sergipe ou Maceió, é uma pa-rada bem cultural. Eu ouço até hoje gente falando que seus filhos estão cheirando maconha por minha culpa, sabe? Tão usando tóxico.

Falta muita informação, o tabu atrapalha. Tu viu o documentário Que-brando o tabu? Droga é um problema de saúde, não é de polícia. Se o cara

quer beber até cair vira um proble-ma de polícia pegar um carro, se ele ficar violento, mas basicamente é um problema de saúde. Tem que cuidar do drogado e dar educação para as pessoas, cuidado que o ci-garro, a bebida, e a cocaína em ex-cesso fazem mal. Tudo em excesso faz mal. E de todas essas drogas a única que não faz mal é a maco-nha, que é fumada de uma forma natural. Até hoje o único mal que ela faz é ser pego com ela. É ina-creditável! Quando ficamos presos, 70% da cadeia era moleque com menos de 25 anos, preto ou nordes-tino, preso por tráfico. A ilegalidade só é boa para quem trafica ou ga-nha dinheiro com isso, e só gera po-lícia e deputado corruptos, alimen-ta o mercado de tráfico de armas. Nos anos 90, a cidade era perigosa demais, um cano de descarga dava aquele pah e nego já se jogava no chão.

Era uma das cidades mais violen-tas do mundo, Baixada Fluminen-se foi considerada um dos lugares onde mais se matava no mundo, São Gonçalo também, e ainda é por causa do tráfico. E as pessoas puta reaças e ignorantes falam que os usuários de drogas alimentam o tráfico, mas o que alimenta é a ile-galidade. Não vai deixar de existir usuário porque é ilegal, isso é fato e ponto.

No prêmio de música da Mul-tishow você entrou com a camisa na cara em defesa dos black blocs e rolou um protesto. Qual sua opinião sobre os protestos que se iniciaram em junho e se mantive-ram no Rio de Janeiro?

Primeiro eu vejo uma manipu-lação fodida da grande mídia de tachar os caras de vândalos e ba-derneiros. Estive em umas quatro manifestações e vi in loco que a polícia incita a violência, puxa os moleques para esse confronto e depois sai na mídia que vândalos quebraram. O que eles chamam de patrimônio público não é, ne-

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“gente, amanhã tem show lá em não sei aonde”. Meu irmão, em que mun-do você está vivendo? Eu cancelei dois shows porque eram ali na Augusta e a porra-da estava comendo na Paulista, sabe qual é? Até o cara da casa me deu razão. Vamos can-celar essa porra meu irmão, não dá para ficar bebendo champanhe aqui e a porrada comen-do lá em cima. Fecha essa porra e vamos para a Paulista jogar pedra na polícia.

guinho tá quebrando banco, ônibus, concessionária de carro. E se tiver quebrando patrimônio público, já pagamos tanto imposto, que se foda. Eu topo, quebra essa porra e a gente reconstrói.

Vi um caso de uma mulher que fi-cou esperando ambulância e morreu no hospital. São várias assim, minha avó morreu na fila do hospital há cinco anos. Ponto de ônibus a gente faz de novo, mas a vida das pessoas não tem volta. A grande mídia está transformando esses moleques em vândalos e baderneiros, mas na ver-dade eles são uma resistência fodi-da.

A polícia do Rio de Janeiro é sádi-ca e violenta pra caralho e o gover-no é complacente. O governo do Rio não só atirou bala de borracha, mas sem licitação comprou bombas pra caralho. Os meus amigos das mani-festações estão falando que cada dia os caras vêm com um material novo, mais pesado, colete, másca-ra nova, igual o robocop.

E agora lá em São Paulo enqua-draram manifestantes com a Lei de Segurança Nacional que remete à ditadura.

Exatamente. Acontece que eles formam uma opinião pública, botam aquelas tiazinhas pra dizer que é horrível eles quebrarem o patrimô-nio público, de que é contra o povo brasileiro. Mas, para mim, esses moleques são heróis. Lá no come-ço das primeiras manifestações eu falei “agora o povo brasileiro sabe que tem a possibilidade de fazer e mudar, pode ir e cobrar”. Esse é um momento histórico, muito mais que quando os caras pintadas que tiraram o Collor. As pessoas fala-ram: “quer saber, vamos para a rua meu irmão.” Isso é o que o PT tinha que ter feito lá atrás.

Você acredita que esses protes-tos têm conteúdo, passam alguma mensagem?

Tem conteúdo para caralho, todos têm consciência política formada para caramba. Uns são anarquistas, outros comunistas ou socialistas, todos têm posição política forte. A maioria é filho de classe operária, pobre, acho que 90%.

A classe artística tem que parti-cipar e se posicionar mais do pro-cesso político do país? Teve a sua fase na ditadura, vários ícones às vezes até ainda botam a cara, mas poucos…

Não é uma coisa de cobrar do ar-tista só porque o cara tem exposição. Mas é muito estranho você ver o coro comendo, bombas para cima do povo, e o cara falando pelo twitter:

Foto: Silvio Tanakavírus planetário - janeiro 2014 31

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Novembro de 2013 | Ano 10 | Número 111 | www.fazendomedia.com | [email protected]

MEDIAFAZEN

DO

a média que a mídia faz

Mandela além da mídia grande

Entre a luta socialista e a cooptação capitalista, um revolucionário que mudou o

mundo, mas poderia tê-lo transformado

A morte de Mandela foi capa e destaque em centenas de

mídias por todo o planeta. Mas poucas relembram o real espírito

revolucionário do sul-africano

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das. Após várias prisões motivadas pelo perigo que representava para o sistema do Aphartheid, Mandela é condenado à prisão perpétua.

Vinte sete anos se seguiram e a figura do militante questionador e perigoso, passo a passo foi se reconstruindo na imagem mais bem aceita pelo mundo. O homem que lutou pacificamente e numa com-preensão coletiva, pela liberdade de um povo e o fim de um sistema segregacionista e opressor. Mesmo preso, ele conseguiu dar base para fundamentar lutas contra o racismo em diversas partes do mundo.

Mas talvez aí também se iniciou a construção do ícone Mandela. A sensibilização e o ‘espetáculo criado’ na soltura de Nelson Mandela, a primeira vista é despercebido.

O líder alardeado pela grande parte da população negra foi liberta-do sobre as condições de se perpetuar de forma mais contundente as disparidades. O sentido do Aphartheid se esvaziou, mas a sua atuação não. Os miseráveis se tornavam cada vez mais miseráveis. E a elite branca alcançava as casas dos bilhões. O sentimento criado pela soltura de Mandela deu conta de apaziguar as insurgências e revoltas de greves iniciadas na década de 80 que tomavam conta da África do Sul.

O maior golpe expresso em contradição certamente foi a sua ca-minhada a Presidência do país. Embora tenha se colocado pra trans-formar a realidade da maioria negra, por outro lado fortaleceu a elite econômica do país, aumentou consideravelmente as distâncias entre ricos e pobres, permitiu-se ao diálogo e a construção de um governo reformista ao lado de quem antes o perseguia e principalmente, per-deu a oportunidade de provocar uma revolução, quando certamente, algumas condições se colocaram a favor disso.

Mandela foi um homem de contradições, e pode ser uma referên-cia positiva ou negativa para embasar as lutas por um mundo real-mente horizontal e circular. Não há como desconsiderar os momentos históricos discrepantes, como também não há como desconsiderar as contribuições que movimentam frentes e organizações no embate diário à opressão do sistema do capital.

Nelson Rolihlahla Mandela. O falecimento do líder sul-africano foi, logicamente, abordado exaus-tivamente nos canais de mídia grande. Variados discursos se propuseram a manifestar o que Mandela representou, colocando como uma personalidade ímpar de sua história. Nações e socie-dades que outrora alimentaram (e alimentam) sistemas como o do Apartheid (expressão do capital na opressão de raça) endossaram o coro de uma quase beatificação de Mandela. Um homem santo, de paz (e de Nobel) que tinha a sua atuação política marcada pelo diálogo, discursos humanizadores em Conferências Internacionais e o seu sorriso.

Nada disso deixa de ser ver-dade. Mandela foi sim, em alguns aspectos, uma referência para as gerações que o acompanharam e as que estão por vir.

A figura pública construída so-bre os preceitos de paz foi o lado mais bem construído pela mídia grande. Também é verdade que sua historicidade traz contribui-ções para lutas organizadas, em especial, no enfrentamento das opressões racistas.

O Congresso Nacional Africa-no mantinha-se subserviente ao regime governado por brancos. Embora fosse constituído pela população negra, essa parcela de população também poderia se considerar uma elite. O período de entrada de Mandela, trou-xe agitação e questionamentos dentro da CNA. A criação da Liga Jovem e do Manifesto “Um ho-mem, um voto” (que denunciava a subjugação da maioria do povo negro, à minoria povo branco). O militante se colocou a frente das ações de embate direto ao siste-ma do Apartheid.

A luta armada era uma das al-ternativas de ação direta defendi-

Por André Café

“ A figura do militante questionador e perigoso, passo a passo foi se

reconstruindo na imagem mais bem aceita pelo mundo”

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Bula cultural algumas recomendações médico-artísticas

Por Laura Ralola

A capital mineira vive uma efer-vescência cultural política em res-posta às atitudes de seus gover-nantes. Diversos coletivos se organi-zam para discutir a importância de uma luta que agregue a discussão da tomada de um espaço público. Várias intervenções criativas e polí-ticas vêm acontecendo nas ruas da cidade desde 2009.

O casarão escolhido para se tor-nar um espaço comum completa em 2013 seu centenário. Nesse mes-mo ano foi firmado para uma enti-dade privada um termo de cessão do prédio, sem licitação ou conheci-mento popular.

A entidade não cumpriu os pra-zos previstos na concessão para

realizar as reformas emergenciais no imóvel. O prédio está comple-tamente abandonado desde 1994, e em 26 de outubro de 2013 agentes culturais e sociais ocupam e devol-vem à sociedade o casarão público. Surge assim o Espaço Comum Luiz Estrela.

Um animado grupo caminha pe-las ruas do bairro Santa Efigênia em Belo Horizonte. O destino é sabi-do: o imponente casarão que há 17 anos não sente o sol entrar. Passa da hora de escancarar as portas de madeiras do imóvel público. E, se o Estado não faz, que faça então a sociedade civil.

O grupo para em frente ao pré-dio, é necessário olhar mais pro-

fundamente para ele. As paredes descascadas e cobertas de racha-duras sentem o tato de uns. Ou-tros dependuram nas janelas mais baixas e, com ajuda de lanternas, tentam enxergar o lado de dentro, quase uma briga com a escuridão. Coloca-se então uma escada, da-quelas bem grandes, que consegue alcançar o andar de cima.

Enquanto dois poetas ativistas, com os rostos pintados, roupas co-loridas e uma mala bem grande, so-bem devagar as escadas, o restan-te do grupo dança e encena numa espécie de ritual de preparação do prédio... Como se estivessem preo-cupados em não assusta-lo.

A dupla entra pela janela. Lá em-

População ocupa e transforma em Centro Cultural prédio abandonado pelo Estado em Belo Horizonte

em Belo horizonte,

brilha uma estrela queresiste!

Foto

: Laura R

alola

vírus planetário - janeiro 201434

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“ O Espaço se desenvolve a partir do diálogo de quem acredita em uma nova lógica da política e da cultura”

baixo a apresentação cênica se en-cerra e a escada é retirada. Inicia-se, aí, o processo de tomada do casarão. Uma estrela brilha mais forte no céu de Belo Horizonte!

Os dois primeiros ocupantes permanecem por alguns dias den-tro do casarão. Durante esse tem-po, mapeiam o local. Uma série de problemas na estrutura do imóvel é detectada, e se torna necessário isolar algumas áreas. Na primeira chuva descobre-se que o telhado não anda cumprindo muito bem sua função, e uma lona improvisa a solução do problema. Com as pendências, na medida do possível, resolvidas, chega a hora de ocupar de fato o casarão da Rua Manaus.

As portas são abertas, não há mais a necessidade de entrar pela janela. A convocação é massiva nesses primeiros dias. As pessoas vão chegando para ajudar a tor-nar o espaço habitável. Água, sa-bão, tinta e poesia. Agora ocupado. Agora frequentado. Um Espaço Co-mum, como deve ser! E que nome escolheram para ele? Luiz Estrela. Moço batuta, conhecido pelas ruas da capital mineira. Conhecido por ocupar, figurinha carimbada nas intervenções políticas na cidade, artista, morador da rua, militante do movimento LGBT. Luiz Estrela faleceu nas ruas de Belo Horizonte durante as jornadas de junho de 2013 e as causas de sua morte per-manecem confusas.

Não demorou muito para a po-lícia chegar à ocupação. Encontrou os poetas ativistas, com panos co-loridos e batons nos lábios, mui-tíssimos bem preparados para o diálogo. Bons mineiros, que baixi-nho e na calma, explicaram para a PM que o dever de proteção do patrimônio público é do Estado e também da população.

A ordem de reintegração de posse veio da Fundação Hospi-

Primeira Assembleia do Espaço Comum Luiz Estrela, realizada no dia 16 de novembro em frente ao casarão ocupado | Foto: Laura Ralola

A arte a serviço do (i)lícito

O contramovimento

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Bula cultural algumas recomendações médico-artísticas

talar de Minas Gerais (FHEMIG), (ir)responsável pela preservação do prédio. A fundação é uma entidade Pública ligada à Secretaria Estadual de Saúde e é mantenedora de diversas instituições de saúde em Minas Gerais. A FHEMIG firmou, em julho de 2013, sem licitação ou conheci-mento popular, um termo de cessão do imóvel para a Fundação Edu-cacional Lucas Machado (FELUMA), uma entidade privada responsável pela manutenção da Faculdade de Ciências Médicas.

A FELUMA, que não cumpriu os prazos previstos na concessão para realizar as reformas no imóvel, pretende construir no local um memo-rial ao ex-presidente Juscelino Kubitschek, que, quando médico, em 1933, prestou serviços ao Hospital Militar da Força Pública, primeira instituição a funcionar no casarão.

A ordem de reintegração de posse foi derrubada pelos ativistas, mas esses temem que ela volte a qualquer momento. O projeto de escora-mento apresentado pelo Espaço Comum Luiz Estrela, a fim de garantir a preservação do casarão, foi aprovado pela Diretoria de Patrimônio Histórico de Belo Horizonte. Agora é necessária a autorização do Go-

verno de Minas para a sociedade civil iniciar as obras e, é claro, que o Governo atenda as solicitações, como a suspensão da concessão para a FELUMA.

Gerido sob os princípios da hori-zontalidade, o Espaço Comum Luiz Estrela se desenvolve a partir do diálogo de quem acredita em uma nova lógica da política e da cultu-ra. Em pouco mais de um mês de existência o Espaço já sediou inú-meras rodas de conversas, oficinas, espetáculos cênicos, apresenta-ções musicais dentre outras ativi-dades culturais gratuitas. O espaço resiste! A cidade Resiste!

*durante o fechamento dessa edi-ção os integrantes da ocupação Espaço Comum Luiz Estrela con-seguiram a concessão do casarão. O acordo foi firmado em reunião com representantes do Governo de Minas e o Ministério Público no dia 18 de dezembro. A concessão para a FELUMA foi suspensa.

Na Rua Manaus número 348, no bairro Santa Efi-gênia em Belo Horizonte, vive um prédio calado... Fe-chado há anos, pouco é notado pelos transeuntes que passam apressados. Foi construído em 1913 para re-ceber o Hospital Militar da Força Pública, atual Polícia Militar.

No ano de 1947 o casarão passa a abrigar o Hos-pital de NeuroPsiquiatria Infantil. Entre as paredes descascadas, as maiores atrocidades cometidas pela política manicomial que operou no país nas décadas de 50, 60 e 70. De acordo com Joviano Mayer, advo-gado e integrante do Coletivo Margarida Alves, que presta assessoria jurídica para o Espaço Comum Luiz Estrela, foram encontrados no imóvel instrumentos de eletrochoque. Ainda segundo o advogado, no fundo do prédio tem um calabouço onde é possível enxergar, nas pare-des, desenhos feitos, possivelmente, por essas crianças.

“O calabouço está interditado por conta do potencial arqueológico que ainda não foi devidamente estudado”, diz Joviano. O advogado com-pleta que o hospital psiquiátrico recebeu os remanescentes do Hospício de Barbacena, famoso pela violência e tortura. Em Barbacena, Zona da Mata mineira, foram cerca de 60 mil mortos. O genocídio foi relatado no livro recém-lançado ‘Holocausto Brasileiro’, de Daniela Arbex.

Em 1979 o casarão se torna uma escola para crianças com necessida-des especiais. Em 1994, foi tombado pela Diretoria de Patrimônio Históri-co de Belo Horizonte. No mesmo ano o imóvel foi abandonado.

Hoje o prédio antigo e rachado destoa com as casas modernas em sua volta. O casarão calado é triste, seu passado é cheio de traumas. Quem ousaria imaginar que um dia a música sairia de suas portas assim como flores, murais coloridos e muitos sorrisos?

A história do casarão

Intervenção do Grupo Sinos de TeatroFoto: Rafaela Fontenele

Foto: Laura Ralola

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Contraindicações

Rachel Sheherazade

Depois de suas mais recentes de-clarações sobre o “rolezinho”, chega a hora de a jornalista Rachel Sheheraza-de estrear por aqui. A musa da reaçada soltou o verbo com falas hipócritas, acusando o fenôme-no de ser um perigo iminente às pessoas de bem, que bus-cam nos shoppings o refúgio e a segurança que não encontram nos espaços públicos. Rachel, seus colegas do SBT sentem vergonha de você. Não temos espaço para exprimir a nossa.

IndicaçõesCasamento IgualitárioBruno Bimbi

Em 2007, um pequeno grupo de ativistas LGBT lançou uma campanha pelo casamento igualitário na Argentina. Eles não tinham grana nem apoio político, mas tinham um plano e acreditavam que daria certo.

“Isso é impossível, vocês são malucos?” todo mundo dizia - mas eles conseguiram.

Este livro conta como.

Porta dos fundosSim! Contraindicamos o canal do youtube mais famoso

do Brasil na edição 27 e, dessa vez, estamos indicando o

canal (repare que com só um comprimido). Mas por que estamos

fazendo isso? Somos indecisos? Mudamos de opinião a cada

minuto? Na verdade, não. São cinco roteiristas no canal, e, entre

eles, há os mais progressistas e os

que reproduzem opressões - o que

também não é determinante -

mesmo o mais progressista deles

pode reproduzir um preconceito

em um de seus roteiros. Isso porque, em geral, eles

não estão preocupados em

fazer um humor que sempre

incomode os poderosos. Não são militantes de direitos humanos ou coisa do tipo. Como muitas vezes falam em entrevistas, querem fazer rir e fazer o humor que a tv aberta não comporta – com mais palavrões e mais escrachado. Por isso, o grupo pode apresentar tanto joias raras do humor, contestando o status quo, como os vídeos “Bala de Borracha” -www.tinyurl.com/baladeborracha e “Xingó Kaiapu” -

www.tinyurl.com/xingopdf, como também vídeos que

reproduzem velhos estereótipos. De nada adianta criticar

instituições poderosas como a polícia, a igreja católica,

evangélicos neo-pentecostais, se não combatermos nossos

preconceitos opressores internalizados.

ingerir em caso de marasmo

ingerir em caso de repetição cultural

ingerir em caso de alienação

POSOLOGIA

manter fora do alcance das crianças

nocivo, ingerir apenas com acompanhamento médico

extremamente nocivo, não ingerir nem com prescrição médica

Bula cultural algumas recomendações médico-artísticas

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sórdidos detalhes...

A verdade varrida pra debaixo do tapete

Negro, gay... 16 anos. Torturado, espancado, sua vida e sua dignidade destruídas por agressores que continuam incógnitos. E continuarão, no que depender da polícia de São Paulo. Encontrado com o rosto desfigura-do, sem dentes e com uma barra de ferro atravessada em sua perna, sua morte foi registrada como suicídio! Diversas manifestações estão sendo marcadas pelo país para que sua morte seja investigada e não engavetada como suicídio e para lutar contra a homofobia, que infelizmente ainda não é crime, graças à bancada religiosa que está com as mãos tão sujas de san-gue quanto os agressores. Até o fechamento da edição 18 pessoas foram assassinadas neste ano em crimes de ódio contra pessoas LGBTT. Quantos mais precisaram morrer para que a sociedade de conjunto encampe a luta contra as opressões?

suícidio???? “vende-se negro para todos os serviços”

Algo parecido com isso era o anúncio encontra-do em um portal de venda onde as pessoas vendem, bem, qualquer coisa. Qualquer coisa que estiver à venda. Logo o anúncio foi denunciado e retirado do site, que lavou as mãos de qualquer responsabilidade, lembrando que os anúncios são feitos pelos usuários. O responsável pelo anúncio, um jovem de 15 anos do Rio de Janeiro diz que foi motivado pelo fato de não ter conseguido ingressar num curso técnico por causa das cotas. Não, caro jovem, sua motivação foi o seu ra-cismo, claro e escancarado. Pelo jeito ainda temos um longo trabalho pela frente na luta contra o racismo e na afirmação da necessidade da políticas de cotas... Esse caso demonstra que as cotas, longe de “criar” o racis-mo só faz com ele seja escancarado. Pelo menos dessa vez o caso foi a julgamento, mas sendo o réu menor de idade, foi registrado como ato infracional no Artigo 20 da Lei 7.716, por ‘praticar, induzir ou incitar a discri-minação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”

Ato contra a homofobia em protesto pela morte do garoto Kaíque reu-niu cerca de 500, no Largo do Arouche em São Paulo. O cartunista Laerte Coutinho marca presença. Os ativistas fizeram uma caminhada até o local onde o corpo do garoto foi encontrado. Revoltados, ecoa-ram os gritos de:

“Kaique, eu vou lutar/a sua morte o Estado vai pagar!” “Ei, PM, não foi suicídio!” “Ô Dilma pisou na bola / homofobia continua nas escolas!”Fotos: PSTU

Abaixo, o ilustrador Paulo Marcelo Oz ( www.facebook.com/tirinhasoz ) expressa sua revolta em tirinha

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Agora tá liberado chamar manifestantes de “forças oponentes”. Tá liberado também usar de violências e métodos extremos para garantir que os manifestantes, desculpe, forças oponentes, não se manifestem, ou melhor, não cometam ameaças contra a lei e a ordem. Lei e ordem de quem, seria bom nos perguntarmos.

Fecharam a rua? Não tem problema, só dar um toque nas forças armadas e rapidamente a manifestação será contida e os manifes-tantes identificados e presos. Claro, presos, pra garantir que não aconteça de novo.

Parece ditadura militar mas é uma realidade que iremos enfren-tar ao longo de 2014. A presidenta Dilma assinou a portaria que permite essa e outras peripécias às forças armadas. Afinal, garantir que a Copa aconteça, e que aconteça de preferência sem que apa-reçam nas redes internacionais de TV nenhuma manifestação, é o maior objetivo do governo do PT para esse ano.

Além de lutar contra a Copa, será preciso lutar novamente pelo direito à livre manifestação, assim como as gerações anteriores fizeram.

Na África do Sul o pastor Daniel Lesego líder do Ministério Centro Rabone, em Garankuwa, ao norte da Pretória, incen-tivou, de maneira bastante enfática, podemos dizer, os seus fiéis a comerem grama.

Guiados pelo discurso do pastor os fiéis se ajoelharam no chão e começaram a comer grama. Para o pastor essa forma de imitar os animais faz com que os homens estejam mais próximos de Deus. Tão próximos que comendo grama até mesmo seria possível conseguir milagres! Uma fiel afirma que teria voltado a andar depois de comer grama como o pastor mandou.

Criticado pelos seus próprios pares religiosos, a atitude do pastor parece que de fato não agradou. Outros pastores di-zem que de forma alguma nenhum fiel deve ser tratado dessa forma e nem degradado.

Só vamos esperar que esse tipo de atitude não vire moda. Seja qual for a religião, respeito pelas pessoas deveria ser condição básica para qualquer sacerdote. Infelizmente não é isso que temos visto por aí.

lei e ordem

“Quer estar mais perto de deus? coma grama!”

no calor do maranhão, as coisas vão muito bem

Pelo menos é isso que diz a queridíssima Ro-seana Sarney. Depois de ter caído na internet, na boca do povo e em todos os jornais a situação escandalosa que acontece nos presídios, onde presos foram assassinados por facções rivais e sofreram degolação (e que isso foi filmado) a si-tuação da governadora, que já não vinha conse-guindo segurar mais as pontas há tempos, ficou insustentável.

Para tentar tirar o foco do problema que são os presídios do estado do Maranhão, Roseana disse que a violência do estado tinha aumentado porque o estado estava mais rico e mais riqueza, é claro, quer dizer mais criminalidade. Só esque-ceram de contar dessa lógica muito louca para o presidente da Suíça. Foi pedido o impeachment da governadora, mas é claro que o pedido foi ar-quivado, afinal, a justiça certamente não é para todos.

Após comer grama, fiéis passaram mal. | Foto: reprodução

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A Educação Pública nunca esteve tão na pauta como em 2013. As greves e paralisações realizadas por

diversas redes municipais e pela rede estadual, com assembleias e passeatas massivas que ocupa-

ram o espaço dos diferentes municípios onde elas se realizaram e a pauta de discussão da população que deu amplo apoio à mobilização por uma escola

pública e de qualidade foram uma prova de que nossas reivindicações são justas.

Uma greve que entra para a história da rede mu-nicipal do Rio de Janeiro, considerando o nível de

adesão, além da greve da rede estadual no mesmo período, unificando as lutas, além das greves rea-

lizadas em diferentes redes municipais ao longo do ano, com conquistas para nossas pautas de reivin-

dicações são uma prova de que é possível mudar a realidade e garantir a educação pública de qualida-

de por que tanto lutamos.

Em 2014, o Sepe convoca os profissionais de edu-cação para a luta. No ano da Copa do Mundo no

Brasil, vamos exigir dos governos federal, estadual e municipal a valorização que a escola pública

merece. Queremos uma escola “padrão Fifa”! Veja o calendário de mobilização:

Educação Estadual na luta!

36 anos

Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro

Redes estadual e municipais irãoà luta em 2014

Calendário de mobilização:

>>>15/02: Assembleia unificada das redes estadual e municipal do Rio de

Janeiro, 14h, em local a confirmar.

>>>24/02: Aula pública inaugural – com a participação das redes

estadual, municipal do Rio e demais redes municipais, no Centro do Rio, para marcar o início da mobilização

da educação pública em 2014.