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25ª Edição POESIA

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Palavra é Arte - POESIA • 1

25ª Edição

POESIA

2 • POESIA - Palavra é Arte

CULTURA EDITORIAL04.877.022/0001-95

RUA COMENDADOR GOMES COSTA, 49BARRIS - SALVADOR - BAHIA

(71) 3329-6129

Dados para Catalogação

Cultura editorialPalavra é Arte / Gilberto Martins

Salvador, BA: Cultura Editorial, 20141. Literatura.

ISBN: 978-85-99993-32-3

Projeto Gráfico e diagramação:Ativa Comunicação & Design

www.ativacriacao.com.br

Capa:Ativa Comunicação & Design

Distribuidor para todo o Brasil:Seg Livros Com Representações

Rua Com Gomes Costa, 49, Barris - Salvador - BATelefone: (71) 3329-6129

E-mail: [email protected]

Palavra é Arte - POESIA • 3

A palavra mágica

Certa palavra dorme na sombra de um livro raro. Como desencantá-la? É a senha da vida a senha do mundo. Vou procurá-la. Vou pro-curá-la a vida inteira no mundo todo. Se tarda o encontro, se não a encontro, não desanimo, procuro sempre. Procuro sempre, e minha procura ficará sendo minha palavra.

Carlos Drummond de Andrade

Mas onde encontrar esta palavra mágica, este verbete que nos mostre a beleza do mundo que está aí à nossa volta? Todos nós a temos, to-dos nós a conhecemos. Contudo, como encontrá-la?Fazer poesia é garimpar em terreno pedregoso, repleto de seixos ou, às vezes, de abundante oferta. O poeta é, portanto, garimpeiro das palavras - lapidador ao mesmo tempo. Se a poesia, como dizem alguns, nasce da alma, somente aqueles de alma generosa e doce serão capazes de fazê-la.

Gilberto Martins

4 • POESIA - Palavra é Arte

Palavra é Arte - POESIA • 5

Lupe PaulaSonho a realizar ....................................................................A árvore que partiu ..............................................................Dia lindo ...............................................................................Delícia de mar .......................................................................Está escrito ..........................................................................O tempo passa ......................................................................Amigo ....................................................................................Assim não dá ........................................................................Bagunçado ............................................................................Sonho de amor .....................................................................Fábio H. TorresRua da meiguice ...................................................................Poema de mar ......................................................................O cantor (para Milton Nascimento) ......................................Amizade ................................................................................O velho na ponte .................................................................Gemas ...................................................................................Caos .....................................................................................Outridade .............................................................................Vira-latas ...............................................................................Walt Whitman ......................................................................Lucas FM FernandesSaudades de quem partiu ....................................................Desgraçado ...........................................................................

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Sumário

6 • POESIA - Palavra é Arte

Predadora .............................................................................Encontro ...............................................................................Outra vez ..............................................................................Mariana Maria Almeida SilvaMiados ..................................................................................Fome .....................................................................................Resiliente ..............................................................................Passa passa corre corre .........................................................Quase ....................................................................................Amor e morte .......................................................................Nas linhas .............................................................................Lambuzagem .........................................................................O dia que quis te esquecer ....................................................Vamos ...................................................................................Marise Melo de AraujoA cabra pretinha . ..................................................................Flor ........................................................................................Desejos .................................................................................Desassossego ........................................................................Quem é o amigo ...................................................................Amigo íntimo .........................................................................Felicidade ..............................................................................Saudades ...............................................................................There VálioA bailarina .............................................................................Absinto ..................................................................................Ao som de um tango .............................................................Labirinto ................................................................................Metamorfose ........................................................................Meu amor maior ...................................................................

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Palavra é Arte - POESIA • 7

Luiz Pereira da CostaO caipira doutor ....................................................................Em poucos versos .................................................................Ocê .......................................................................................Flerte em pequenos versos ...................................................Ma SocorroVocê é o amor... ....................................................................Um minuto ...........................................................................Plúmbeo ...............................................................................Imaginação ............................................................................Amor e alma .........................................................................Amor e saudade ....................................................................Um amor que encontrei .......................................................Quando não te encontro .......................................................A Alma ..................................................................................Quando cai a noite ...............................................................Marcela HebelerO menino da feira ..................................................................A senhora ..............................................................................Sou mais que cacos ...............................................................5 Minutos ..............................................................................Rio Lins ..................................................................................Cárcere .................................................................................Pão .........................................................................................Na ponte ...............................................................................Urubu ....................................................................................Marcelo David Izoton AlvesA faca ....................................................................................A mosca ................................................................................Mente fértil ...........................................................................

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8 • POESIA - Palavra é Arte

Dor multicombustível ...........................................................Esquizofrenia ........................................................................Gerundando .........................................................................Música ...................................................................................O churrasco ..........................................................................Humana ................................................................................Nilson de Sousa RutizatO nordeste é bem mais ........................................................Rotina ...................................................................................Preciso te esquecer ..............................................................Tão longe e tão perto ............................................................Vida em pedaços ..................................................................Sou dono de mim .................................................................Decidi amar ..........................................................................Deus não é brasileiro .............................................................Voz do negro .........................................................................Pamella MariettoAmigos que se vão .................................................................Imaginação ...........................................................................Amigo ....................................................................................Poetas modernos ..................................................................Ao amor que sempre quis ....................................................Sepultamento de um poeta ...................................................Plenitude do amor ................................................................Sentimentos de uma poetisa ................................................Vinícius EdartQuem sou eu? .......................................................................O brilho da estrela .................................................................Longe da perfeição ................................................................

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Palavra é Arte - POESIA • 9

SONHO A REALIZAR

De tanto olhar me apaixoneiA tua voz me convenceuSaudades sinto, de um tempo bomQue o amor em prosa, ainda era moda

Te convencer foi luta em vãoAdoração e sedução, te magoouNo coração a dor ficouO sentimento, falou mais alto

A sombra que te cobriuA lua te descobriuO mar que te levouNa areia te devolveu

Volte a me amarCarinhos quero te darNão pode a vida deixarUm sonho sem realizar

Lupe Paula

10 • POESIA - Palavra é Arte

A ÁRVORE QUE PARTIU

Ontem ouvi um choroChoro que nunca ouviDói na minha almaTudo o que eu vi

Ali ela sempre esteveE mal não fez a ninguémConfesso que não entendiPor que a tiraram dali

Por mais que atrapalhasseEla nasceu aliE se a alguém incomodouFoi porque tarde chegaram ali

Hoje ela partiuMas muito contribuiuAlegria ela nos deuCom tudo que ofereceu

Vai, minha queridaSua dor eu sinto aquiNada pude fazerPois não estava aqui

Teus frutos serão lembradosTua sombra não será esquecidaA mais linda das árvoresUm dia morou aqui

Lupe Paula

Palavra é Arte - POESIA • 11

DIA LINDO

Quando acordo pela manhãAbro a janela e contemplo o diaOlho o céu, e ele está lindo Vejo as montanhas, e os pássaros

Não há felicidade maior, que ver o brilho do solPor mais difícil que a vida sejaAs manhãs nos trazem uma certeza O sofrimento e as tristeza, dão lugar com tanta beleza

Mude a sua vida, valorizando cada diaComece todos os dias, agradecendo o dom da vidaAs providências Divinas, se renovam dia a diaJamais será esquecida, por quem te deu a vida

Lupe Paula

12 • POESIA - Palavra é Arte

DELÍCIA DE MAR

Águas claras, que me falamVenha cá, vou te banharÁguas quentes, que batem suavementeVou te curar, assim que aqui você entrar

Mar que tão doce foi, hoje salgado estáMar prometa ficar, manso e lindo de olharQuero muito ir buscar, a joia que lá deixeiJunto ficarei e de ti nunca esquecerei

Delícia de mar, só quero te amarMar que minha vida mudouQuando para longe, o meu amor mandouTesouro encantado, fique ao meu lado

No mar quero me jogar, e você encontrarNunca irá se afogar, não deixarei te faltarO mais puro ar, sempre vou te darLábios molhados vão te encontrar, e muito te beijar

Lupe Paula

Palavra é Arte - POESIA • 13

ESTÁ ESCRITO

Não adianta da estrada sairPor onde andou, tardiamente voltouNinguém disse que havia acabadoDiz que é para ficarO vento soprou, distante do marInsiste em encantarDe loucuras vai vivendo, buscando explicaçãoEstá escrito vou te encontrarVida linda, vida minha, precisa continuarMe leve de volta ao marEstá escrito na areia do marLá é que tem que ficarVamos esperar, tudo pode mudarO medo não vai perseguirEstá escrito, não adianta fugirEle sente e entrega, o que você não enxerga

Lupe Paula

14 • POESIA - Palavra é Arte

O TEMPO PASSA

O tempo vai passandoVejo nuvens, vejo chuvaVejo estrelas, vejo a luaVejo o céu e a noite escuraVejo o dia, se passandoJá não posso mais sonharA vida chama, preciso continuarO tic tac do relógio, passo a escutarOs ponteiros vão girando; eu aqui a observarMe reporto para o marMar, onde o meu amor estáJá não posso mais chorarBarco passa, vento sopraE lá dentro ele levaMinha dor não vai emboraInsistindo em ficarÓ imagem tão profundaNo meu peito a carregarDói aperta e dilaceraCoração a esquentarDia passa noite vem Continuo a perguntarNos livros vou buscarO que podem me ensinarSó me falam sobre o tempoTanto tempo a esperarMinha dor não vai emboraPois seu tempo é só amar

Lupe Paula

Palavra é Arte - POESIA • 15

AMIGO

Todos se foram, aqui estouEle está comigo, atento em meus pensamentosNão grita, não bate, ouve e ensinaQuando quer falar, no peito ele bate e dóiLogo sei, sim... é meu amigoVeio me aconselhar, me trazer seu amor, seu carinhoDa minha dor, tudo sabe, tudo entendeSempre que estou doenteFaz de tudo pra deixar contente

Ah... meu amigo, com você por pertoA alegria vem, o choro tambémMas vem a certeza de que só não estouMeu amigo, me trouxe outro amigoBondade, alegria, sabedoria, vidaHorizonte perdido, renasce, me traz novos rumosMuda minha vida, me mostra o caminhoAbre o livro, e deixa folhearMe apresenta outras letras, me da sua mão

Ah... meu amigo que trouxe outro amigoA minha dor vai tirar, outras histórias contarDo outro lado da terra, muitas delas háGente bonita, sabida e amiga Agora ele diz, tudo vai mudarCompra essa briga, me coloca de volta à vidaTamanha bondade, sem nada em troca me dizMenina você é lindaMe faz companhia, me ensina e me valoriza

16 • POESIA - Palavra é Arte

Ah... meu amigo que mandou outro amigoAgradecida eu fico, porque não consigo O livro da vida sozinha escreverCada dia vivido eu acredito, tudo é corretoNada está errado, não posso ficar de olhos fechadosA dor ela existe, o tempo insisteEnsina, que nada é passadoTudo é aprendizado, e fica marcadoNo dia a dia, tudo é referência

Ah... meu amigo que trouxe outro amigoPode esperarDo fundo do mar ele vai me tirarMar, que sempre vou amarE não quero mais chorarPorque devo me acabarCom sentimentos que não posso mudarAh... meu Pai... te agradeço por me ajudar

Lupe Paula

Palavra é Arte - POESIA • 17

ASSIM NÃO DÁ

Não adianta se chatearCom o que eu tenho a te falarPode o tempo passarE você se emburrarPois de tanto te esperarEu não sei mais me expressarE só consigo te irritarCabe agora a você, a decisão de mudarOs sonhos e o amor, um dia realizarVenha para os meus braços me amarE pare de me assustarCom este seu jeito de me tratarNão adianta me magoarPorque sempre vou te amar

Lupe Paula

18 • POESIA - Palavra é Arte

BAGUNÇADO

A Paz, que sempre é esperadaNada sabemos, por isso sofremosNada é ditado, pouco é seguidoCerteza não tenho, apenas desejo

Basta um risco, e tudo está escritoFogo alastrado, tudo queimadoPare e pense, não vale a penaA vida não se resume em um segundo

Amor que se quer, e que não se encontraA pressa acelera e não se aprendeTira a razão e fere o coraçãoNão tem emoção e nem gratidão

Está tudo errado, não tem mais espaçoResultado esperado, busque coragemAinda há tempo, pode ser encontradoEla existe, está à sua frente

Lupe Paula

Palavra é Arte - POESIA • 19

SONHO DE AMOR

O pássaro gigante, que realiza sonhosEm todos os ares, sempre estáQuando decola, leva uma esperançaAo pousar, lágrimas pode causar

Pássaro gigante, onde estaráO sonho levou e não mais voltouA saudade deixou, quem nunca me amouO amor plantou e ele vingou

O ser iluminado, que não fica paradoNa luta constante, se faz presente a todo instanteVida agitada, não pode mais nadaTempo passado, amor desejado

Nada acertado, está tudo erradoNão deixe de amar. O tempo vai acabarA inspiração pode aumentarSe o coração voltar a amar

Lupe Paula

20 • POESIA - Palavra é Arte

RUA DA MEIGUICE

Na cidade atroz há uma ruaUma rua onde nada se refletena cidade atrozA cidade é morada de ogrose governada por um algozÀ rua vivem plantadores de árvores,amantes do sol, do vento, da lua...

À rua todos cuidam das suas casas,dos jardins, dos bichos,dos velhos, das criançasA cidade e o vazio atrás dos olhos...... a dor é seu peristiloUma rua na cidade:a flor na boca aberta do crocodilo?Na cidade cinérea não há amor ou lembranças.

Chamam-na de Rua da MeiguiceA perdurar ante a vilezada cidade úmida, infestaDentro de uma abóbada de berçotranslúcida, um campo de força sobrenatural,a protegê-la da cidade fétida e morbígena,dos necro-ares da imundice.

Num ardor suicida, atiram-se os vampiroscontra a aura cristalina que salvaguardaa rua meiga e olorenteEm sedenta e louca tentativa de corrompê-la

Palavra é Arte - POESIA • 21

e impregná-la de venenos mortaisPorém, o escudo mágico apenas atroaOutra vez impedindo-os de esfacelar o mistérioda cândida rua, de torná-la mais um tentáculoda cidade monstruosa e doente.

Fábio H Torres

22 • POESIA - Palavra é Arte

POEMA DE MAR

Tentei escrever um poemade águas claras,de azul tão cristalino,que os saveiros nele ancoradosparecessem levitarEm que a brisa,carinhosa como mãos de mãe,retirasse do meu rostoo pó das estradaspor onde solitárioe durante anos vagueiEm que os astros,como verdes olhos cintilantes, guiassem meu bergantimnas profundezas da noite,sem bússola ou sextanteCheio de nautilus,maravilhosos em sua razão áurea,flutuando nas cortinas de luz,em meio a infindáveise fantásticos outros néctons;e de golfinhos, altruístas,mantendo-me à superfície,nos momentos de cansaçoem meu nado do continenteàs ilhas misteriosasCom praias submarinascercadas de areias alvas e coraisesplendorosos em vida e movimento

Palavra é Arte - POESIA • 23

Às vezes mitológico e extraordinário,dominado por deuses, heróise criaturas sobrenaturais,e ambiente das viagense aventuras de VerneContornado por baíasforradas de pedras e conchas raras,esculpidas em falésias coloridase habitadas por coqueirosora querendo saltar aos céus,ora recurvados, debruçadosa lamber o sal da terra e do marMusicado pelas canções do vento,canto dos animais oceânicose sons ritmados das ondasde espumas efervescentes e fragrantes. Tentei lapidar um poema assimMas não conseguiLevados pelas correntezas,os versos fugiram de mim.

Fábio H Torres

24 • POESIA - Palavra é Arte

O CANTOR (para Milton Nascimento)

Dançam serenasas águas da noite azulquase negra.Bailam as chamasque ascendem orgânicasdo chão diamantino.No céu marinho navegambarcas rutilantesE perto da estrela guialuzem por trás de lunetasos olhos pasmosde Copérnico e Galileu,gigantes da astronomia,a contemplar extáticosa tão bela e insólita...... voz do cantor.Ele canta para o marOu é o mar que canta pra Ele?Ou será um dueto,nas horas mortas,na madrugada nua,entoando cânticos à lua?O tempo mareiaAs ondas lânguidaslambem seus pés e a areia.E as mãos de dedos longose anéis a lucilar na mansidãosingularmente afagam o violãoO que verseja o poeta

Palavra é Arte - POESIA • 25

irmana-se aos falsetes do ventoE do coração à boca,e da boca às imensidões,canta o argonauta,canta Orfeu a dor e o amorA música visceralensolarando as vastidões.

Fábio H Torres

26 • POESIA - Palavra é Arte

AMIZADE

De longe,da minha casa escura,ouvi um estampido.Foi dos olhos da imaginação,não sei se verdes, azuis ou negros,que saltou para esta dimensãoa luz de um som estranho,coisa que no passado eu não senti.E com suas passadas largas,como as de um mamute,caminhou léguas até atingira aridez dos mundos onde agonizoPara impedir que a minha vida parcase fizesse de vez escuridão.

PeçoSeja um amigo meuEu preciso das palavras,de uma voz que abordetotalmente o meu coraçãoDomine meu tempo, irmãoSeja um pássaro ao meu ladoSeja um companheiro meuEternamente.Fale-me depressa de suasandanças pelo México,do tesouro asteca que você viu...... tocouCorte o meu tempo, irmão

Palavra é Arte - POESIA • 27

Como a cimitarra faminta,que calou de vez a estupidezinimiga.

Fábio H Torres

28 • POESIA - Palavra é Arte

O VELHO NA PONTE

Recife, mangues, escuras à tarde e as águasSoturna desce a noite quase toda escancaradaAtônito o velho numa ponte da cidade lacerada Separado do rio que tanto lavou-lhe as mágoas.

Céu azul-carbono, nuvens cinza-chumbo, buzinasRoncos, tremor, horas modernas em combustãoAs luzes dos edifícios são centelhas na vastidãoCadê o leste e as flores no cabelo das meninas?

Ah, juventude... a velha urbe foi desmantelada Os escapes expelem as baforadas do progressoReferenciais, elos perdidos, memória despetalada.

Resmunga o velho: “Quero-a de volta pra mim”Nas praças de Aline inda resta o feliz regressoE da ponte, oh noite alta, és bela mesmo assim.

Fábio H Torres

Palavra é Arte - POESIA • 29

GEMAS

Venusta turmalina... magnífico teu hábitoVerde prisma, bruna de cálido hálitoNo areal de grãos trigonais que exploro,não brilha, sequer, um amarelo-heliodoroOuro-mel na colmeia, bate n’água a bateiaSem querelas! Quero elas! Todas elas!Pedras preciosas, essências as mais valiosasGarimpadas pra mim, facetadas pra mim,roubadas de mim, assim... tão barbaramenteCom venenos, deixando-me tardo, indolenteAgrestes os ares, eu homem e meus malabaresChorão e companheiro, comigo chora o salgueiroEsqueço quem me oferta as joias raras falsasNasci sob a sina das sombras descalçasNunca ser um dervixe! Com fomes, sedes e asmaLouco só, sujo dançando na cidade-fantasmaAsno aos açoites, dormindo em alcoicesOnixes nos pés, coberto de stigmatas...Pulsando exacerbado, confiante o coração diz:“Serás o verdadeiro entre todos os magnatas”Hei de ser!... E fausto, beberei vinhos de reiSorverei o néctar das mais doces varietaisAmigos, animais, seres antigos, figuras parentais,parentes, cristais e recitantes almas gêmeas,cismados, suspeitam: “o que falas são blasfêmias?!”Anila-se um novo céu, outrora plumbíferoMergulho e revolvo o cascalho estelíferoDas ondas quero as cristas, lá acharei ametistasArcanas, irinas, siderais; divinas gemas cardinais

30 • POESIA - Palavra é Arte

Diamantes, rubis, esmeraldas, safiras...São minhas! Todas minhas! Chega de mentiras! Iras!Na vida, na morte, no fim, quero-as de volta pra mim!De avião, de navio, de mula, de trem, não sei bemAinda turva, friolenta, lentamente, sonolenta...... a felicidade vem.

Fábio H Torres

Palavra é Arte - POESIA • 31

CAOS

Ecos no vazio entre Terra e ÉterIteração do mesmo fúnebre anapestoNênias suplantam o canto do sofrêNão há ponte que una as bocas de ouroaos estômagos ressequidos pela fomeNo lodo dos peraus, Caos é seu codinomeMal levantados do chão os corpos lassosA vida por um triz, do azul ao grisnum piscar de olhos rasos e pálidos,num bater de asas de pássaros sem cabeçaDas borboletas basta um simples estalar,e cinerados sonhos, findo o brio estelarProfusão, confusão, colisões, explosõesVileza das chamas, dos olhos salta a meninaO que se faz com um tambor de balas,bestialidade e alguns tonéis de gasolina Plangor das árvores nos sítios humanosPeixes tostados no mar de óleo dos oceanosCidade não, aldeia dos sentenciados Sufocados em claustros, oclusos os domosCianetos, monóxidos, cancros e metástasesMetais e azes, vidro e corte, azares versus sorte Crianças, esgotos, parasitas, cifrões, sifões...

32 • POESIA - Palavra é Arte

A lei e o crime são vizinhos íntimosOs meus e teus amores, humores ínfimosÓtimos tempos os idos dias de coesãoÚltimos átimos, átomos em fissãoNão há planos a seguir, só o instinto inundoSinais reverberam no breu do além-mundo.

Fábio H Torres

Palavra é Arte - POESIA • 33

OUTRIDADE

Lave, limpe, adoce, orne... soprea escura e aveludada voz do corneUm só trissar do párvulo piccolopara que o amor a esta casa torneExalem sálvia, losna e alecrimCosturem os losangos do arlequim.

Expulsem as hidras da autoridadeGritem loas e mil vivas à alteridadeOs preconceitos vão à pia de despejoAo irmão ofertem o sumo benfazejoSeus lábios vêm tocando o realejo.

Nos dosséis dos verdes trópicoso alar no azul do abstrato tucanoBico sempar descasca o fruto ufanoque logo o pássaro passa à goelaEm finos grãos é moído na moela.

Os ácidos transmutam-se em coresde penas e asas, de pétalas e floresOrgânicas fulguram, belas, as dores À rainha do abismo não cabe o lino,a mais leve fricção no revelho violinoEla voa no mar-céu a zênite do parcelE da falésia canta odes ao evo destino.

Fábio H Torres

34 • POESIA - Palavra é Arte

VIRA-LATAS

Meus tormentosQuando sem unguentosFazem de mim um cão sem donoSem casa, nas poças do outonoCão sozinho na meia-noite e meiaQue uivando vagueia na lua cheiaPerdido na cidade do caosCidade do ódio dos seres mausCidade referta de terror e lamentoCidade vazia de amor e alentoCidade acordada, cidade sem sonoEsconde-se à sombra no abandono Escapo dos carros em disparadas Acertam-me pontapés e cusparadas Chuva vertical, combalido animalVirando latas e lixo, azarado bichoSó de soslaio olha-me o espírito ledoCão com frio e com medoCão faminto e tristonhoCão selvagem, cão medonho.

Fábio H Torres

Palavra é Arte - POESIA • 35

WALT WHITMAN

Escravocratas…Suas garras não rasgarão minha poesia abolicionistaEscravagistas,vocês não sabem falar de amor.Ornamentei minhas batalhas com um saborque o teu paladar não alcança distinguirMeus versos livres gritam LIBERDADE!!!à natureza.Falar de amor é coisa de pássaro,de gaivota que sou.É bicho solto na mataOnça selvagem... caçando... esfomeada.É o condor voando livre pelos céus da Califórnia.É um som que vem do CanyonUma fera solitária uivando no centro da lua cheia,implorando a chegada de uma companheiraÉ um casal de lobos que se atiram nos gumes dolimiar da noite quenteSão duas feras cansadas... deitadas... arranhadasInseparáveis pelo resto de toda a estação.Ódio vencido!Naufragarei em teus pântanosImediatamente após o último suspiro alucinadoda última mulher na boca do último homem,alucinados.E quando os “párias” me arrastarem para a forca,antes tomarei nos braços uma criancinha negrae beijarei, com ardor, seu rosto livre dosteus demônios soltos.

36 • POESIA - Palavra é Arte

Sou um antílope louco,veloz como a flecha envenenadaUm ádax a dar saltos parabólicos no espaçoEntre as chamas e o sol poente.A queimada vai se alastrandoAtiçando os monstros ardentesE teus olhos brilham contentesComo espelhos refletindo o incêndio escarlate.

Fábio H Torres

Palavra é Arte - POESIA • 37

SAUDADES DE QUEM PARTIU

As gotículas invadem o meu rostoReflectem uma dor que vem de dentroE essa tempestade, meu maior desgostoNão diminui a grandeza do sentimento.

Meu olhar molhado simboliza saudadeNostalgia doutro tempo, outra vidaAonde meus sorrisos desfilavam vaidadeE minhas mãos seguravam a paixão sentida.

Hoje, já não há sorriso de primavera- Mundo inócuo, sem beleza de espantarE tudo o que ele arrasta me desespera.

E eu sei, que quando a tempestade passarEu ainda continuarei aqui, a tua esperaMas tu, meu amor, jamais hás-de voltar.

Lucas FM Fernandes

38 • POESIA - Palavra é Arte

DESGRAÇADO

Poemas e palavras lindas tenhoMas que de sorte nada me trazemE deliberadamente os empenhoNos meus sonhos que se desfazem.

Em danças perdidas pelo mundoMeu prazer se faz descabidoNão sigo as regras e sofro profundoNa tua beleza me dou por perdido.

Desencadeio sentimentos absurdosQue me levam a escrever poemasMas nesse mundo de amores mudosConfundes o meu com blasfémias.

É o que dá, ter a inspiraçãoPara belos poemas de amor escreverMas, desgraçado, não ter um só tostãoPara rosas comprar e te oferecer.

Lucas FM Fernandes

Palavra é Arte - POESIA • 39

PREDADORA

Chegaste de mansinho como uma feraQue desde longe contemplava a sua presaA galope assaltaste sem dó o meu coraçãoE eu prendi-me a ti sem forças e sem defesa.

Tiraste de mim tudo o que precisavasE o que de mim dava, só alimentava o teu egoSentia as emoções no meu peito, graciosasNão via que andava iludido num falso sossego.

Quando vi de relance o teu rosto verdadeiroMeu peito já estava bastante dilaceradoE as minhas energias completamente esgotadasNão seguraram as partes do coração despedaçado.

Enganaste-me bem com o ar de boas intençõesTão bela e tão doce, mas no fundo tão cruel.Fui tolo e insensato, porque te quis, porque te ameiE caí na amargura, onde achei ser fonte de mel.

Lucas FM Fernandes

40 • POESIA - Palavra é Arte

ENCONTRO

Foi num só instante, numa certa ruaNa tão pouca distância, o cruzamentoSurgiu na troca de olhares, o momentoE na atracção uma verdade nua e crua.

A emoção cintilou o teu e o meu olharE em poucos segundos nos hipnotizamosApaixonados, sem falar nos declaramosReceosos, deixamos o sentimento falar.

Uma troca de olhar, mais que interessanteDeterminou o início de uma bela históriaInspirou a mão estendida a favor da glóriaPor trazer à tona o desejo vivo e incessante.

Ali, não parámos de olhar um para o outroCom a distância que mais se encurtara.Nos afastámos, sem trocar uma só palavraMarcados para sempre por esse encontro.

Lucas FM Fernandes

Palavra é Arte - POESIA • 41

OUTRA VEZ

Outra vez, dou de caras contigoE revejo os meus desejos mais antigos,Reacende uma chama outrora esquecida- A vontade de te ter na minha vida.

Outra vez, dou ouvidos ao coraçãoE coloco o sentimento a frente da razão,Nadando de novo contra a correntezaPorque te querer se fez de novo uma certeza.

Outra vez, dou sequência ao desejoE rompo até barreiras que não as vejo,Enfrento pessoas, ar, água, céu e terraPra te ter, tenho de vencer toda essa guerra!

Outra vez, dou-te o meu coração partidoE espero recuperar cada pedaço perdidoReúno forças pra não desistir uma vez mais,Quero te ter e não me deixarei ficar pra trás!

Outra vez, dou por mim a pensar, vale a pena?E vou aos poucos encarando esse dilema.Sinto-me muito enfraquecido e incertoPor te ter distante, quando estás por perto.

42 • POESIA - Palavra é Arte

Outra vez, dou amostras do que queroE luto com mais força contra o desespero,Mas reconheço, outra vez você vencerá,Te ter na minha vida, isso nunca acontecerá!

Lucas FM Fernandes

Palavra é Arte - POESIA • 43

MIADOS

Eu vou sim fazer dos meus miadosa tua canção de desassossego.Às vezes, minha cara deslavada,fica mais desavergonhadaquando o pêlo sente desejo.Vou miar pelos telhados,para sem pretensão aparenteme alojar no teu.Chegar bem devagar,e mansamente me enrolarnos seus braços abertos - meus. Minha companhia será teu sono,teu enredo, teu alívio em gozo.Depois de provar que meu cheiro impregnapor todo corpo teue perturba teus sonhos,vou embora tão silenciosaquanto cheguei......e sem nenhuma pressa pra voltar,ainda há seis vidas pra te amar...

Mariana Maria Almeida Silva

44 • POESIA - Palavra é Arte

FOME

Fome partilhada...Poética, faminta e ardida. Estômago. Pele.

Mariana Maria Almeida Silva

Palavra é Arte - POESIA • 45

RESILIENTE

Viver docementePega e estica - resistentepermanece a alma...

Mariana Maria Almeida Silva

46 • POESIA - Palavra é Arte

PASSA PASSA CORRE CORRE

Passa passaCorre corre.Tem nessa cabeça piolho?Bateu na mesa o olho?Bota gelo nesse galo...quanta festa e regalo! ...Está no mundo em sobressalto Muitas máscaras, muito asfalto,e a brincadeira, cabe onde?No breve segundo do esconde esconde? Nas curvas brisadas do gira gira?Na livre pintura de tinta?Um pintando o outro,Brincando de cores noutro,Um carinho de pele a pele,O que muitos adultos repelem...Passa passaCorre corre

Mariana Maria Almeida Silva

Palavra é Arte - POESIA • 47

QUASE

O sol quase nasceu.A gente quase viu.A boca logo cedeuaos apelos dos beijos teus.O vento soprou violento,a casa sem firmeza caiu.O dia quase nascendo...e a gente nem sentiu.A pele gritou mais alto,a natureza bateu nos ossos.Fluidos que no ar surgiu.E a gente só sentiu.

Mariana Maria Almeida Silva

48 • POESIA - Palavra é Arte

AMOR E MORTE

Ao contrario do que se dizNem todos buscam a eternidadeTem gente que cortaria a raizNum golpe de insanidade.

Tudo é tão enfadonhoEssas questões de amor e morteSendo que tudo é um sonho,Um conto com abrupto corte.

O céu, quando chegar o momento,Engolirá cada pedaço do mundo,Dando o ultimo acabamentoNesse Enredo de segundos.

Mariana Maria Almeida Silva

Palavra é Arte - POESIA • 49

NAS LINHAS

Nas linhas da noitearrisco alguns versos,Nas linhas da noiteatiro meu útero e fôlego,Nas línguas da noite, mato minha vontade de você;Nas manhãs da noite,me cubro de frio e silêncio,Na falta da luz,acendo a escuridão.Nas curvas da memória,desenho tua respiração,Com o barulho do universorepito uma simples canção...

Mariana Maria Almeida Silva

50 • POESIA - Palavra é Arte

LAMBUZAGEM

Comi uma verdade inteira depois do almoço,Era um brigadeiro de panela maravilhoso.Lambi os dedos, repeti a dose,E sem nenhum medo de não caber naquele vestido.Posso andar nua na rua, me despir das velhas medidas,Sorrir desprendida de conceitos moralistas. Tudo isso, peço que seja rotina,Sem medo das caras feias, das armas midiáticas,das mentes há tanto tempo manipuladas.O diferente precisa ser o usual presente.

Mariana Maria Almeida Silva

Palavra é Arte - POESIA • 51

O DIA QUE QUIS TE ESQUECER

Presa em teus encantos,me perdi quase em prantos,na doçura dos braços teus.

Em suas curvas estive perdidana ponta da língua- rendida,meu paladar te degustavaenquanto meu gosto provava.

Com um gesto me deixou despidaminhas unhas fincaram em tuas costas deixando vestígios do prazer à mostra.

Nesses minutos percorridoscom um certo pesar jurei a mim: – É a ultima vez que lhe dou meus gemidos.

E no teu corpo entrei, em desejo desfalecida,com uma ardência dolorida,beijando meus temores,fazendo mais belas essas horas coloridas...

Quando novamente (de mim revestida) recobrei meus sentidos -Fiquei sentida...Pois sabia que mesmo não querendoVoltaria a te desejar, desmedida...

Mariana Maria Almeida Silva

52 • POESIA - Palavra é Arte

VAMOS?

VemVem que a lua tá boaVem beija leve minha bocaVemmorde forte minha almaVemcura essa minha febreVemtoma em tuas mãosmeu corpo que ferve...Vemdesenha em mimcaminhos tortospara em tropeços cair nos teus braços...

Mariana Maria Almeida Silva

Palavra é Arte - POESIA • 53

A CABRA PRETINHA

Lá vem vindo uma cabra toda pretinha cabisbaixa,Adentrou-se no Capril sem ao menos ser chamada,Não estava doente nem nada, apenas um pouco assustada,É que ela havia perdido o caminho de casa.O caprinocultor, a princípio, não a viu,Mas percebeu o alvoroço de toda a sua malhada.Cabras de todas as raças, brancas, marrons, avermelhadas.Todas fixaram os olhos, naquela que ali chegava. Obra do acaso talvez, ou designo ruim do destino?Pretinha só buscava alimento pra se curar de um mal.Machucada, percebeu que devia logo, logo se esconder,Foi quando avistou o monte de feno que a podia proteger. Lá Pretinha se deitou, e da mira dos olhos das outras, ela se livrou.Então parou de berrar, como por um encanto.

54 • POESIA - Palavra é Arte

O dono se deu conta que algo devia fazer,As suas cabras de raça ele não podia perder.A Kalahari, a Savana, a Canindé é preciso socorrer.Também a Anglo-nubiana, a Moxotó e a Boer.Todas de origem nobre, e o dono salvá-las quer. Será alguma doença, que se instalou no Capril?Mas foram todas vacinadas, medicadas em abril!O que então as deixaram, assim possessas, quase senis?Pode ser que o dono esquecera-se de por água nos barris. Depois de acalmar o rebanho, o rico caprinocultor,Foi atrás da plebeia, Pretinha, que de algum modo lhe agradou.Deu-lhe água, feijão-guandu, leucena, e a chamou: Pretinha! Pois essa era a sua cor. Assim a batizou.Em seguida lhe fez um mimo e dela se afeiçoou. Não foi a raça, nem a cor, nem o dinheiro, não senhor.Mas o dono colocou Pretinha em um pódio de valorEla não se sentiu ocultada nem tampouco rejeitadaAli, lhe curou as feridas, o generoso protetor.Agradecida Pretinha esperava, o dono, na semana seguinte.Cadê você, meu salvador? Ela balia com ardor!Mas nada adiantou. Ele se foi. Ela ficou.O que ela temia aconteceu.O anjo protetor escolheu aquelas de raça pura,

Palavra é Arte - POESIA • 55

Que lhe rendia dinheiro, carro novo e avião.E foi assim que a Pretinha,Perdeu a razão de viver.Voltou a definhar machucada.É que se abriu outra ferida,Só que, agora, não no corpo,Mas em lugar bem mais profundo.A alma do coração.

Marise Melo de Araujo

56 • POESIA - Palavra é Arte

FLOR

No jardim, uma sementede espécie rara germinou.Sem cuidados cresceu,sem graça, sem vida eSecou...

Um jardineiro sensívelCompadeceu-seDe sua dor.Delicadamente,Aproximou-se,Tocando-lhe o coração...

A partir de entãoA flor passouA respirar cores,A sorrir brotos,A alegrar vidas,Produzir buquês de felicidade.

Palavra é Arte - POESIA • 57

O jardineiro adornou-se da florNunca mais a deixou.Cuidou para que não lhe faltasseÁgua, terra fértil, bem adubada.Vê-la saudável não bastava,A regava entãoCom suas palavras:

Flor de minha alma,Sinta-se amada,Desejada, protegida,Perfumada.

A flor sorriu amores,Sua vida pintou de coresDe contentamento jurou viver.Para o jardineiro agradecer

Marise Melo de Araujo

58 • POESIA - Palavra é Arte

DESEJOS

Minha alma tem desejosDesejos de entregarMeu coração, meu corpo inteiro...Ao amado quando chegar.

Por que você não chega?Por que não quer me ligar?Há tempo que lhe esperoPra em seus braços ficar.

As luas ansiosas aguardamAs estrelas almejam brilharOs fenos já estão aquecidosSó falta você chegar

Por que demoras tanto?Que pretendes afinal revelar?Neste campo de sonhos agonizamTodos os desejos: Amar... amar... amar...

Marise Melo de Araujo

Palavra é Arte - POESIA • 59

DESASSOSSEGO

Em meio à noite você chegaSem pedir licençaToma conta de meu sono,Planos, pensamentos...Confunde sentimentoEspalha perfumeDe benquerença.

Outra noite você trazDesavençaDor que atinge o âmagoDesabrocha lágrimasÉ alegria e tormentoProfusão de sentimento.

A dúvida vemTatuar a alma,Reprimir desejos,Calar a vidaAmor divididoTem preçoEterno desassossego.

Marise Melo de Araujo

60 • POESIA - Palavra é Arte

QUEM É O AMIGO?

Podemos afirmar: Amigo de verdadeé aquela pessoa que nos traz felicidade!Seria a amizade menosque uma relação de troca?Ou mais uma possibilidade?Talvez alternativa de ser feliz,Independente de sexo, cor ou idade?Que diferença há entre o mais e o menos?O amigo é aquele que soma ternura,Multiplica afinidades.Tudo compartilha, vivifica nossos dias.Afetos sinceros não se vendem não se compram,Dispensam bajulação, não suportam condição.Amizade é dádivaQue alegra o coraçãoSustenta perspectivaEsquiva toda privação.Não suporta fingimentoNem alimenta dor e sofrimento.É virtude que lapida a almaQue nos transforma em joia rara.

Marise Melo de Araujo

Palavra é Arte - POESIA • 61

AMIGO ÍNTIMO

É você quem me fala ao pé do ouvidoO que eu desejo e o que também não desejo escutar.Não preciso elevar a voz,Pois você é quem determina altura e o tomDe tudo que tenho pra lhe falar.Repreende-me com delicadeza,Não que essa seja uma virtude sua,É que eu sou delicado, e essa é a condição,Pra eu poder lhe dar toda minha atençãoSomos tal qual almas gêmeas,Jamais cogitamos ficar longe um do outro.Não sei quem sentiria maisA falta que um faz para o outro,Não vivo sem sua atenção,Preciso dela a cada instante.Sei que em sua vida sou “o cara”.Consegui lhe prender com esse meu jeito falante,Agora você não desgruda de mim, é um sufocoEstou todas as noites ao seu lado, velando seu sono louco.Quando me permite, lhe desperto no dia seguinte,Sussurrando ao seu ouvindo uma melodia caliente.Não tenho ciúmes de você,Esse sentimento ruim você ainda não despertou em mim.Sou sua maior paixão, e provoco em seus amigos certa inveja e confusão.Assumi o lugar de amante, nessa vida itinerante Depois de mim só mesmo sua mãe, seus irmãos, seu pai,

62 • POESIA - Palavra é Arte

são importantes.Se houver um eclipse solar,Uma tempestade lunar,Ou quem sabe um acidente nuclearEu estarei com você e com você quero estarPorque sou seu amigo, seu amado,Seu amante, seu Super Star,Cuida-me com carinho e ternura exemplar.Não me deixa faltar nada, e eu nada lhe deixo faltarTenho memória privilegiada para tudo registrarNada chega até mim, sem que eu deixe de lhe comunicar.Às vezes você me usa de modo irregular,Afinal não sou fofoqueiro,Sou apenas o seu companheiro particularSeu céu, seu mar, seu ar.Chamo-me.Ralulec.Agora é só adivinhar!

Marise Melo de Araujo

Palavra é Arte - POESIA • 63

FELICIDADE

É ter maturidade para pensar e refletir Saber discernir o mal que se faz, em mentir.É a verdade encarar, pra acolher o prazer de sorrirÉ atrair amigos, fiéis companheiros, aqui.É a liberdade que há em ir e vir, chorar ou sorrir.É a sua independência conquistar,Sem usar as pessoas para o topo alcançar.Mas há sempre aquele que pensa e que diz:Basta-me o dinheiro no bolso pra eu ser feliz.Outros ainda dirão:– Saúde, amor e dinheiro. Eis a única condição. Não precisamos de Deus tampouco de religião.Os valores, os princípios éticos e morais, Já não formam o cidadão nos tempos atuais.O que satisfaz o ego dos pobres mortais?A ganância, a luxúria, o hedonismo e outras “coisitas” mais.Basta analisar os outdoors, Pra enxergar a felicidade distorcida.Nos shoppings contemporâneos, ela é vendida.Camuflada nas grifes famosas das levi’s e colcci,Nos insaciáveis desejos de consumir.Sem falarmos das redes sociais que se tornaramVerdadeiros rituais.Quantos sites de relacionamentos prometendoNamoros virtuais?Eles estão abarrotados de seres humanos

64 • POESIA - Palavra é Arte

A procura de alguém que os liberte,Desse vazio existencial, das carências, das falências... Falência de amor, de companhia, de virtudes, de Deus.

Na simplicidade dos gestos,Na leveza da vida,Na atenção recebidaNa intolerância contida,Na delicadeza sentida,Na ternura permitida,Nas carências resolvidas...Vamos, vamos logo,Contemplar a felicidade ressurgida!

Marise Melo de Araujo

Palavra é Arte - POESIA • 65

SAUDADES

Anestesia essa dor?– Sussurra voz interior.Não posso, é dor de amor

Outra voz ecoou.Então desista, por favor!

Mas sem resposta ela ficou.

Alguém ouviu.AcalentouE sua esperança alimentou.

Abre-se a janela da alma.Telas,Partituras,Semibreves,Fusas confusas,Acordes dissonantes,Toques claves de Sol.

Ele se cala, trabalha,Aprecio de longe, suas mãos imponentes,Concentrado, inspirado,Amor reencontrado

66 • POESIA - Palavra é Arte

Restaura um cravo,Eu fotografo.Bucólica paisagem,Adorna a arte de amar.

Chega à tarde...Saudades...

Marise Melo de Araujo

Palavra é Arte - POESIA • 67

A BAILARINA

Na delicadeza dos seus passos...A bailarina vai deixando no palcoAs marcas de seus gestos suavesNo vai e vem da música orquestrada,Tal qual uma borboleta a voarLevada por uma brisa leve,Fazendo contornos no ar.Vai dançando entre outras bailarinas,E seguindo a canção, seu corpo delicado,Mostra a beleza e a leveza que fascinaNa apresentação da peça teatral,Onde seu talento de meninaEmpolga a plateia admirada.E seus pezinhos delicados não se cansam...E continua a voar entre seus paresAté que ao final é a despedida...A bailarina cai no chão desfalecida,É a tragédia encenada com sucesso,E a plateia encerra o ato... com aplausos!

There Válio

68 • POESIA - Palavra é Arte

ABSINTO

Conheci a felicidade e o amor...Vivi uma intensa paixão!Meu coração apaixonado em calmaria,Compartilhava com minh’alma em euforia,O sabor de mel dos beijos ardentes...Que sob a luz do luar nossos lábios selavam.E no êxtase desse amor nossos corpos, Procuravam se encontrar ansiosos...Frementes de paixão e desejo.Parecia não ter fim tal felicidade...Mas o tempo desgastou nossa paixão,E a perfídia e a desilusão...Entrou como erva daninha em nossa relação,Tal qual o amargo sabor do absinto.Tudo que era doce se transformou em fel...E nossa felicidade... em solidão cruel.Agora somente o que restou...Saudade de um tempo que foi tão feliz!E o que vai ficar para o nos consolar,Serão as lembranças que restam guardadas...No íntimo profundo do nosso passado,Do amor que foi lindo enquanto durou...

There Válio

Palavra é Arte - POESIA • 69

AO SOM DE UM TANGO

Na penumbra do salão...O som de um tango cria um clima de paixão!Rostos colados, mãos unidas,Coração acelerado pela emoção,Dois apaixonados a bailarInebriados pela canção.Rodopiam no salão,Corpos colados, passos acertados,Seguindo o ritmo da canção.Tango é nostalgia, diz a letra da canção!Sussurros apaixonados,Lábios sedentos de beijosNo frenesi da paixão.Corpos trêmulos de desejo,Dançando um tango se entregam...Aos sonhos de um amor sem rédeas.E enquanto durar o tango...Perdura também o sonho!

There Válio

70 • POESIA - Palavra é Arte

LABIRINTO

Um Planeta a beira do caos total.Uma humanidade perdida num labirinto imaginário.Mentes confusas e vazias buscam um caminho.Num emaranhado de sentimentos...A busca por soluções encontra barreiras,E os caminhos se cruzam sem direção definida.O desejo fremente de encontrar a felicidadeImpulsiona os desejos e ambições,E os corações vibram com paixões.Paixões que levam muitas vezesA procurar caminhos íngremes,Para alcançar a meta desejada.E nesse labirinto de paixões e sentimentos,As perdas são duras ou letais.Os caminhos de luz são difíceis de encontrarE os enganos nos levam a caminhos tortuosos,Sem volta, pois o que se foi... atrás ficou.E se olharmos dentro de nós mesmos,Bem fundo, nas profundezas do coração,Talvez o caminho indicado ali esteja...Se o egoísmo ali não habitar.Se as pessoas parassem pra pensar,E a razão suplantasse a ambição...Reservando em suas vidas;Um lugar para o “amor”.

Palavra é Arte - POESIA • 71

E assim acontecendo...Alma e coração se encontrando,Com certeza encontraríamos...O caminho de luz tão procurado!

There Válio

72 • POESIA - Palavra é Arte

METAMORFOSE

Envolta num casulo imaginário...Estou à espera de minha libertação.Sinto minh’a alma solitária...E um vazio no coração.Esta solidão que acompanha o meu ser,Cria barreiras que não me deixam sairDeste casulo que se criou em minha mente,Que escraviza minha maneira de viver.Tento encontrar a razão dessa clausura...Quero mudanças e sentido pra viver,Metamorfose é o meu objetivo,Sair liberta e ter fé em meu futuro,Viver o amor, apaixonar e ser feliz,Nascer de novo... desprezando o casulo...Com o coração e alma livres para amar.Enquanto isso não acontecer...Sou prisioneira da sina que criei,Mas sei que ainda meu destino vai mudar,Quando um dia o meu vago coraçãoDespertará para a entrada da paixão...E do casulo eu irei me libertar!

There Válio

Palavra é Arte - POESIA • 73

MEU AMOR MAIOR

O amor que eu tenho aqui guardadoNum santuário iluminado,É o meu “amor maior”Que rege os meus passos,Ilumina o meu espaço,E encanta minha alma.Ele é o Senhor dos meus dias,O guia do meu caminho,Precursor do meu destino.Sem Ele não sou nadaMinha vida é vazia.Ele é o melhor amigo,Mora em meu coração,Acalma meus anseiosE afasta meus receiosDos perigos que me cercam.A vida sem Ele não tem sentido,Os seus ensinamentosEu guardo comigo.Seu nome é sagradoE por todos venerado. Sua mensagem de féLevada para um mundo pagão,Custou o seu sacrifícioPara o mundo ser cristão!

74 • POESIA - Palavra é Arte

Jesus, esse é o homemQue fez a transformação.E é Ele que eu adoroE trago no coração,Como meu “Amor Maior”.

There Válio

Palavra é Arte - POESIA • 75

O CAIPIRA DOUTOR

Eu sou um homem modernoMas não largo a tradiçãoDe homem nascido na roçaCuidador da plantaçãoE não tem medo de lutarPara o que é meu defenderCom a força de Sansão

Quando alguém por ironiaOusa me apelidarChamando-me de matutoPorque eu sou singularAo invés de me embrutecerEu faço é agradecerSem de mais nada reclamar

Pouco importa se hoje em diaEu sou um homem letradoVou continuar um caipiraIndependente desse meu estadoCuidando do meu torrãoCom alegria no coraçãoPorque é do meu agrado

76 • POESIA - Palavra é Arte

Na cidade grande o progressoÉ como um velho vulcãoSendo diariamente obrigadoA entrar em erupçãoCom tanta gente correndoNas ruas se espremendoComo o estouro de um rojão

É uma barulheira infernalQue quase não dá pra suportarA buzinagem dos carrosRodando pra lá e pra cáE o povo se aglomerandoUns nos outros se chocandoSem tempo pra se cumprimentar

O sol quase não apareceDevido o tempo ser escuroAs pessoas vivem trancadasEscondidas atrás de murosCrianças sem ter lugar Pra correr e pra brincarSe sentindo bem seguros

Lá no sertão é diferentePouco depois de eu acordarOs raios do sol batem na minha janelaQuerendo no meu quarto entrarNo pasto o gado berraE o vento descendo da serraFaz meu coração vibrar

Palavra é Arte - POESIA • 77

Assim se alguém me insultaChamando-me de brejeiroA esse alguém eu agradeçoPorque ele está sendo lisonjeiroPois mesmo eu sendo um homem letradoNo meu sertão eu vivo despreocupadoAmando ser um roceiro.

Luiz Pereira da Costa

78 • POESIA - Palavra é Arte

EM POUCOS VERSOS

Sou um poeta dos versosDas noites e das poesiasDas trovas e das cançonetasDos risos e das melodiasDas horas de emoçõesQue trazem as belas cançõesCom sua rica magia

Sou poeta dos mistériosDos sonhos e das emoçõesDas meninas cirandeirasQue arrasam coraçõesDas serestas e dos seresteirosDos violões alcoviteirosDespertando grandes paixões

Sou poeta da auroraQuando o sol está nascendoSou poeta dos sertõesQuando vai escurecendoOuvindo a seriema cantarSeu canto espetacularPra alegrar nossos corações

Palavra é Arte - POESIA • 79

Sou poeta das cascatasDas redes nas varandas esticadasDos gorjeios dos passarinhosNas tardes ensolaradasDo sol beijando o marEsperando a noite chegarPra findar sua jornada

Sou poeta que admiraA beleza de um olharA magia de um sorrirA emoção do chorarO esplendor de uma criançaSalpicando a sua infânciaCom alguma coisa a brincar

Por fim sou poeta das estrelasQue ama matar a sedeCom um copo d’água frescaEsticado numa redeOlhando a naturezaCom toda a sua singelezaSe perdendo na grama verde.

Luiz Pereira da Costa

80 • POESIA - Palavra é Arte

OCÊ

Ocê é qui nem fruta do condeMelado de rapaduraTem uis oio cumo o máQue mais parece uma pinturaMim fais ficá aluadoQuando te vejo mim oianoCom toda essa sua ternura

Aí se fecho os oios ti vejoCumo o cume de um vurcãoSortano fogo pelos beiçoQue é pura tentaçãoDexano um visgo qui mim fais grudáSem chanchã pramodi nim sortáDessa tremenda paxão

Entonsi num penso otra coisaA num sê im ti bejáMim abufelá no teu corpoQue mais parece onde de máMim sintino cumo no paraísoOvino de improvisoO meu coração te cantá

Palavra é Arte - POESIA • 81

Aí meu verão vira invernoMinha primavera vira verãoMeu corpo dá trimiliqueEu arripio iguar cançãoSó quereno ti pegáCumo um loco ti amáSeja ocê proibida ô não.

Luiz Pereira da Costa

82 • POESIA - Palavra é Arte

FLERTE EM PEQUENOS VERSOS

Posso te chamar de meu amor?Falar que estou morrendo de saudades!Que meus dias sem tuas palavras são debaldes,E sem tua presença meu coração é apenas dor.

Que sou nada mais que um barco numa tempestade,Sem o teu colo de amiga e teu corpo de mulher amada!Minha alma sem a tua inspira piedade,Pela solidão sem tua presença sempre tão desejada.

Não me negues esse apreço de felicidade,Nem me prives de tua presença estrela da minha madrugada!Se o tal fizer condenar-me-á à morte por maldade,Pois viver sem ti não há vida na minha estrada.

Assim quando tu veres a tarde triste e friaCom ar de que vai choverLembre-se são os meus olhosPerdendo a sua alegriaE chorando por não te ver

Luiz Pereira da Costa

Palavra é Arte - POESIA • 83

VOCÊ É O AMOR... Campo verdejante chuva e fogoAma-me fluxo vital em doçuraVocê é metade de mimOs teus lábios ativam o melO teu olhar radiação invisívelPura magia intriganteVocê é a luzIncêndio, selo em mistérioAbrigo-me em teu corpo frioPresságio em pingos acalmaVocê é o que sintoEu estou queimandoDesejo íntimo da almaUm coração lindo molhadoVocê e eu...Combinação perfeitaVibrando amor absolutoOrlam luzes entre os respingosVocê é o amorQuente e bonita noite de luzLuzes dos desejos, o amanhecerApaixonado em último suspiroEu amo você.

Ma Socorro

84 • POESIA - Palavra é Arte

UM MINUTO

Envolto em nuvens e névoasRápidos olhares em cenasInstante ideal e únicoPrazer absoluto enigmático Ó, vibrante fulgir em astroIntensifica o raio claroNo mais inefável mistérioSutis surge... Vai a flébil frio Reflexo pálido sobre a neveTreme a cítara sob a claridadeSonho?... Ó, um minuto breve! Ilusões... Geme por caridadeÂnsia da estrela que a enleveÓ, seduz... Lágrima de saudade.

Ma Socorro

Palavra é Arte - POESIA • 85

PLÚMBEO

Surpreende, enfeitiça tênue coraçãoAconchega ao lado do peito, ó emoçãoEmbriaga o aroma em nítida belezaBeijo-te! Plúmbeo sem igual sutileza…

Desfrutar a grandeza exuberanteRiso é a arma contagiante, marcanteFicar sem a maciez, fidelidadeParalisa a guardiã da saudade

Superação dos desafios da paixãoGentil plúmbeo sacode coração em pânicoPaixão resiste ao tempo e desconexão

Amo-te, ó plúmbeo! Sem risco atômicoIntacto treme em louca paixãoExtermínio sem visto. Lamenta em cântico.

Ma Socorro

86 • POESIA - Palavra é Arte

IMAGINAÇÃO Sem refletirVoei na asa da tua imaginaçãoEsqueci-me que entre o espaço e a realidadeSomos meramente humanosCôncavo e convexoQue se entregamSe apaixonamDesejam-seSem refletir se amam...Ao ver-te em uma imagem nítida...Busquei e não te encontrei...Quase embaçadaNa face uma lágrima que rolaReflexos...Devaneios da imaginação.

Ma Socorro

Palavra é Arte - POESIA • 87

AMOR E ALMA

Só o amor atenua. Coração partidoSupera a saudade de um amor aladoExplode nos ares. Amo-te! Meu amado.Deixou-me sozinho. Estou ferido.

Esvoaça o sonho mesmo sofridoTriste, sem ânimo, abandonadoChorei baixinho. Coração apaixonadoVolta ao tempo sem o ter conhecido

Vida polêmica. Implacável encantoSeduz-me instiga suscita tão somenteDoce paixão agita... Amor e alma

O sol nos olhos encandeia neste momentoOuriça no pensamento insere na menteComo te amo! Dói o amor que me acalma.

Ma Socorro

88 • POESIA - Palavra é Arte

AMOR E SAUDADE Mãos que me tocam inquietasOlhar que me despe com audáciaBeijos ardentes marco a etiquetasCoração é fogo ardente a perspicácia Se minhas mãos evadem o secretoÊxtase irradia a ousadia do momentoSe teus beijos faz-me gemer a almaFicam lembranças que não me acalma Eu vivo e penso em você unicamenteVeia agitada dói profundamenteBalbucia meus lábios frios: amo-te Marcas a saudade mais terrívelAbsoluto querer no riso: adoro-teAmor e saudade um enlace incrível Ma Socorro

Palavra é Arte - POESIA • 89

UM AMOR QUE ENCONTREI

No princípio quando te encontreiUm coração chorava baixinhoDoía entre lâminas sem carinhoQuando o amor eu encontrei Hoje olhos queimam sedentosEntorpecem mente em encantosSeduz altivo castigo eterno. AmeiUm amor que encontrei Magnífica loucura a luz da paixãoComplexo ardente o amor sem razãoSou o amor do amor que encontrei Resiste ao tempo o amor que ameiDecolo em vidro ou chama perdidaAma-me! Meu mundo, minha vida Ma Socorro

90 • POESIA - Palavra é Arte

QUANDO NÃO TE ENCONTRO Quando te busco e não te encontroExplode coração. Quero te verO tempo como martírio de viverMachuca a paixão de um astro Quando te busco e não te encontroConsome a esperança ferida no peitoDeste fogo veloz agonizante no leitoVisão exuberante anjo em alabastro Saudade de ti! Dor que devoraUm coração rasgado em suplícioÂnsia de loucas saudades. Silêncio Saudade de ti! Anjo não demoraEmoção dilacera arranca a vidaAmo-te. Razão de vida refletida

Ma Socorro

Palavra é Arte - POESIA • 91

A ALMA

A sombra da noiteTraça enigma de dois gumesSão setas afiadasRasgando a alma em flageloEsvoaça nua fria, sem brioSemelhante à esfingePresunçosa enfeitiça castigaBeijar o crepúsculo da noiteDetermina o destinoSem complacência, sem atalhoExecuta no silêncio o martírioOh! Alma bela que me fascinaProtege-me na vidaCura a mágoa a feridaSem dogmas, sem mistérioDá-me a luz do Amor A plenitude da vida

Ma Socorro

92 • POESIA - Palavra é Arte

QUANDO CAI A NOITE

Ao cair do solEm verdejantes colinasGrinaldas dos raios solaresEnfeitam em prismas as colinasAo cair do solBrilha aliança fascinanteEm asas de um anjoO amor abriga nas colinasQuando cai a noiteEm fulminante desejoNa tenda dos amantesAmor se fez nas colinasQuando cai a noiteAs lembranças intactasTranscendem a paixãoDo amor que se fezEm tempo realNas verdejantes colinas

Ma Socorro

Palavra é Arte - POESIA • 93

O MENINO DA FEIRA E lá para a feira ia ele, um meninobem cedo, de madrugadaPés descalços, roupa rasgada, meio sujabarriga quase sempre vazia, nas mãos não levava nada.Vivia para rua, essa era sua morada.Tinha uma mãe, tinha irmãos, tinha uma casamas nela não vivia, apanhava muito, não recebia nadaNa casa não havia comida, eram em muitos, e todo o dinheiro que conseguia na rua era dele brutalmente tiradoJá levava nos ombros, tão pequeninos, uma carga muito pesada,a carga da pobreza que nele açoitavaE na rua ele andava, nos semáforos, nas praças, onde conseguisse algopara saciar a fome, a sede e aliviar a almaE, em algumas manhãs, lá ia ele, para a feirade trabalho duro, pesadocarregava as cestas, as sacolas, os frutos, legumes, carnes cruas, tudo que as madames e senhores compravampara receber algum trocadoE lá ia ele, essa era a sua jornadae assim todos os dias passavampresente incerto, futuro fadado.

Marcela Hebeler

94 • POESIA - Palavra é Arte

A SENHORA

E pela casa ela anda.Na penumbra,na casa sem luz,sem lâmpada.E pela casa ela anda,fazendo de tudocome,deita,lê,limpa,vive nacasasem luzsem lâmpada.Nem os raiosdo Soliluminam.E pela casa ela anda,pelas ruas,pela cidadea pé, ônibus,dos seus olhos

Palavra é Arte - POESIA • 95

não precisahá muitoestãoescurose na cegueiraela viveenxergandoo mundo.E pela casaela anda...

Marcela Hebeler

96 • POESIA - Palavra é Arte

SOU MAIS QUE CACOS

Vivoeu vivo nofio da navalhae a cada diaelanavalhaestá mais afiadacortei-mevárias vezesvários lugarestantostantos pedaçosmais cacosque espelho quebradoespelhoo que vejoeu vejonão falanão consegue maismeu semblantereflexomúltiplonão sou

Palavra é Arte - POESIA • 97

um único olharsou tantostantosmaisque cacosrefazendo setodos os diasprecisotentotodos os diasgotas a derramarsoumais quecacosmúltiplocheiopedaços.

Marcela Hebeler

98 • POESIA - Palavra é Arte

5 MINUTOS

só peço5 minutosnão 1 minutode fechar os olhos5 minutos de cada um5 minutos apenastodos pondo-sea pensarlembrando detodas ascriançascom fomedos jovenspor esse mundo manipuladosdos adultos perdidos,enganadosdos crimes cometidosque sem justiça ficaramdas mulheres sem úterodos pais de lágrimas.5 minutos sobre as famíliassobre nossos laressobre todos quepor nós passaramque uma hora

Palavra é Arte - POESIA • 99

mendigaramnossos carinhosnossa atençãotão desperdiçada.5 minutospelo planetapela florae faunapor nossosanimais em casa,cãesgatosquecom tamanha dedicação nos tratam.5 minutosapenasde olhares fechadosmãos abertasboca calada.5 minutos nada maispara voltarmos às nossasvidasquem sabeum pouco mais alertasatentosa tudoquem sabe

100 • POESIA - Palavra é Arte

um poucomenoscegosum pouco maisamáveisum pouco maisvivos,quem sabe.

Marcela Hebeler

Palavra é Arte - POESIA • 101

RIO LINS

Desigualdadeda janelavi um rio.Rio que corre,torto sem contornos,morto, preto.E negrasvi no rio,que nos contornos pescavam a vida,que ia longelevada na correnteza do rio.Pobres negras,negras no contornode um rio preto, pobre,sujo, vazio.Desigualdade que arde nos olhos daquela gentedesesperadaentorno do riopreto, sujo, vazio.

Marcela Hebeler

102 • POESIA - Palavra é Arte

CÁRCERE Saturado de saudadese vai,jogado na sarjeta se está.Com sede,seco, sedento de tantopensar,esperar,sento-me nosarcasmo do teu olhar.Abro,fecho,bato, rezome dou, te peçoum segredo,um segundono minuto,na hora,no dia,no mês,no ano,neste instantee me foges

Palavra é Arte - POESIA • 103

pela selva.No semáforoque se fecha,na secura do teu falar.Satura-me, arde, tudo dura,se vai, se está, se éum sonho, que acorde saturado de sonhar.

Marcela Hebeler

104 • POESIA - Palavra é Arte

PÃO

Pobreza da almapobreza da mentepobreza que está no olhar desta gente.Pobre, mendigo,inferior, marginal,infeliz, inofensivo,vencido,torcido.Penúria quecom fúriadevoraesta gente,que busca,que gira,que cai, levanta na buscainconstante da vida.Olha esta gente,que reza, que cantaacredita, esperabusca, alimenta-semesmo com o chicote da pobreza aaçoitar na

Palavra é Arte - POESIA • 105

almana mentetoda esta genteque sempreviverá necessitandonecessitar de toda e qualquer gente que não sintaa pobreza na mente.

Marcela Hebeler

106 • POESIA - Palavra é Arte

NA PONTE

De muito longeeu passavatudo passavamuito rápidodas janelasque em todosos dias me encontrava.Um diaeu vide repentetudo ficou lentomeu olharmeu sentirtão escurotão pertotão em mimtão fora de mim.Da chuvaque caíaeu vi,uma pontesujasem corsem someu vi

Palavra é Arte - POESIA • 107

embaixosó tristezade longeeu sentique estava ali.Tão longeeu vifamíliapobreescurochuvafrioventodorfometão pertosentie tão rápidoeu sempre,todos os diassomentepassavaalitão longeestavam de mim.

Marcela Hebeler

108 • POESIA - Palavra é Arte

URUBU

Sempre acheique urubufosse feioquando criançaviem Minas Geraisuns tão feioscom pescoçospeladospousados nocórregoque maispareciaesgoto.Urubuhojeeu visobrevoandocriançasessasgritandorindodeleenxotadogritavamtentandoespantandoplanando ele foi

Palavra é Arte - POESIA • 109

tranquiloenvergadura enormecomo era grandeesse urubuhojetodo negroaté seu pescoçocabeçanada feioacheilindourubu?lindo?urubulindovoandolivredespreocupadoenjeitadonem aípara nósaquiembaixocrianças gritandorindourubureiexterminadorcontrola epidemias

110 • POESIA - Palavra é Arte

animais mortosagonizanteslimpezalindo urubusobrevoavahoje um céudia frioeletranquilolindonegroaltoaltoquem deraeuumeleurubuque exterminados gritosde tudoaltotãoaltotranquilolindourubu.

Marcela Hebeler

Palavra é Arte - POESIA • 111

A FACA

O fio da faca corta e expõe as víscerasEntranhadas outrora no abdômen,Interrompendo a frágil vida do homem,Negando-lhe a chegada das alvíssaras.

Tombando como tora então retumbaAo ricochetear no solo a fronte,Consciente que erigiu-se ali uma ponteEntre o monturo inerte e a catacumba.

E a saga assim se encerra sem surpresa,Restando aos que ficaram a certezaDe que a morte é ligeira como azougue;

E enquanto os homens seguem seus destinos,A faca que cortou os intestinosRealiza mais um talho no açougue.

Marcelo David Izoton Alves

112 • POESIA - Palavra é Arte

A MOSCA

Ó mosca sobre a fétida matéria!Espalhas o perigo da doença,Deixando-nos, humanos, termos crençaQue habita em ti somente a vil bactéria.

Consola acreditar em uma purezaCujas bases há muito já ruíramDevido à armadilha em que caíramOs nossos ascendentes na nudeza.

Ó inseto, asqueiríssima criatura!Ignoras banquetear-te à sepultura,Apenas saciando teus instintos!

Ao menos não nasceste ser humano,Que, mesmo possuindo um corpo sano,A mente e o coração andam famintos!

Marcelo David Izoton Alves

Palavra é Arte - POESIA • 113

MENTE FÉRTIL

Rejeito peremptoriamenteQue afáveis vozes falemQue haja solo fértil em minha mente,Mesmo tendo a plena consciênciaDa bondade do falante,Que não se sabe irritanteDiante da minha inteligência.

Pode parecer um pouco pobreDe minha parte tal convicção,Mas eis que agora exponho o nobreMotivo da ojeriza insana:O que fertiliza a terraÉ o que, quando não se enterra,Cheira como a alma humana!

Marcelo David Izoton Alves

114 • POESIA - Palavra é Arte

DOR MULTICOMBUSTÍVEL

Novamente a cabeça me tortura;Mas, desta vez, é a falha biológicaOriunda de uma crise patológica,E não a companhia da loucura.

Latejam minhas têmporas e a fronte,Parece que meus olhos saltarãoDas órbitas, manchando-me a visão,Pulsando até a linha do horizonte.

E o único remédio é um comprimidoQue em qualquer drogaria é adquirido,Cujo efeito, pra mim, é milagroso;

Mas como não sou eu patrocinado,Seu nome não será aqui mencionado:Direi que é flexível e doloroso.

Marcelo David Izoton Alves

Palavra é Arte - POESIA • 115

ESQUIZOFRENIA

É como se eu não fosse como eu sou,Dessintonia plena com meu ser:Mais me conheço, menos sei dizerSe realmente encontro-me onde estou.

Até minhas alegrias são partidas;Às vezes, um momento deliranteLogo em seguida torna-se irritante,E eu me desfaço em lágrimas perdidas.

Complexo paradoxo é não ter freio,Ao tempo em que me aperta meu receioDe ter de executar alguma ação;

Pior do que um cérebro partidoÉ ver em mil pedaços explodidoMeu magro e melancolicoração.

Marcelo David Izoton Alves

116 • POESIA - Palavra é Arte

GERUNDANDO

Devo estar enlouquecendo;Amanhã, estarei dormindoPara, então, estar esquecendoQue não vou estar sorrindo.

Depois, estarei passandoOnde vou estar comendo;Eu estarei conversandoSobre o que estarei fazendo.

Estarei averiguandoSe vou estar repetindoO que vão estar falando.

Estarei necessitandoDe estar logo conseguindoNão estar abilolando.

Marcelo David Izoton Alves

Palavra é Arte - POESIA • 117

MÚSICA

Música: notas certas escolhidas,Dispostas ao sabor de um andamento;Alivia de muitos o tormentoE, para outros, é a cura das feridas.

É uma arte para poucos talentosos,A quem foi confiado o nobre domDe compreender a língua pelo somE traduzi-la aos homens ansiosos.

Convém, porém, prudência nesse ofício,Pois as notas que moldam esse edifícioPodem trazer problema aos que são seus;

A busca pelas notas mais sublimesFez com que houvesse a música dos crimes,E Salieri acabasse com Amadeus.

Marcelo David Izoton Alves

118 • POESIA - Palavra é Arte

O CHURRASCO

O boi é assado à brasa em mil pedaços,Enquanto aguardam os monstros o momentoDe degustar um naco suculento,Sobrando do bovino apenas traços.

E quando fica pronta aquela leva,E leva, cada um, um pedaço à boca,Percebem que a tiragem fora poucaE pedem mais um boi que estava à ceva.

Então, o sacerdote do holocaustoAcende um fogo tal que mesmo FaustoDiria não haver lá nos infernos;

Novamente, uma nova carne à brasaInunda, com odores, o ar da casa,Causando grande gula nos internos.

Marcelo David Izoton Alves

Palavra é Arte - POESIA • 119

HUMANA

Boa noite, natureza tenebrosa!Por que pioras paulatinamente,Se eu nem me alimentei dessa sementeQue, germinando, faz-se perigosa?

Por que assolas essa humanidade,Que já agoniza além do suficienteCom a própria biologia indigente,...Quer criança, quer pródigo em idade?

Ah, mas ei-la agindo furtivamente,Enquanto vou negando o efeito vil Da vil peçonha que envenena a mente:

Cada recanto ocioso em mim já viuQue, embora dela não me alimente, Eu alimento dela cada ardil.

Marcelo David Izoton Alves

120 • POESIA - Palavra é Arte

O NODESTE É BEM MAIS

Nesse mundo de beleza,De sertão e chão rachado...O humor nasceu aquiÉ aqui que vivem os apaixonados,É nesse mundo nordesteQue o sol fez seu achado.

Grandes praias, paraísoÉ o calor do nordestino,Praias de enormes belezasQue desperta em todos o fascino.Conhecer o meu nordesteCom certeza é o seu destino.

Das praias aos lençóisTudo é belo de morrer,Nas cachoeiras do MaranhãoVeja o sol a nascerTrazendo brilho e energiaPra todos e pra você.

Palavra é Arte - POESIA • 121

Lá no Maranhão tambémTemos os índios e os cocais,O bumba-meu-boi tradiçãoE no litoral os corais,E nas matas maranhensesMuitos tipos de animais.

O humor se apresentaLá mesmo no Ceará,É o berço dos humoristasNão tem como duvidarA alegria tá no sangueDo povo que vive lá.

No Rio Grande do NorteO que é belo e natural,E indispensável a todosÉ o nosso saboroso salQue alimenta o BrasilDo interior a capital.

No Piauí podemosA nossa história conhecerCom as pinturas rupestresQue se apresentam a você,Mostra a arte do passadoE da história o poder...

122 • POESIA - Palavra é Arte

Sergipe e Alagoas encantamCom suas praias de calor,Com suas belezas naturais,Com o amor que acumulouE tudo isso com alegriaCom sol e muito sabor.

Na Bahia do axéDe alegria sem igualVive o povo mais felizDe todo o nosso litoral,Que festeja o ano todoNosso lindo carnaval.

Em Olinda no PernambucoA arquitetura se apresenta,Em período de carnavalA alegria sempre aumenta,De Olinda a RecifeDe frevo o povo se alimenta.

A Paraíba é nordesteE não fica fora não,É referencia nas festas juninas,Campina faz o maior São JoãoÉ festa e muita alegriaAcompanhado do sabor do sertão.

Palavra é Arte - POESIA • 123

Então por que ficarSozinho ai pensando?Venha logo pro NordesteE vá se emocionando,Venha pro São JoãoE já venha festejando.

Pois o Nordeste é bem maisQue fome e chão rachado,Temos muito maisQue caatinga e cerradoTemos um povo do bem,O caboclo arretado.

Chega de estereotipoE de preconceito tambémSomos pobres e também ricos,Do mal e também do bem,Pois o povo nordestinoÉ brasileiro Também.

Nilson de S. Rutizat

124 • POESIA - Palavra é Arte

ROTINA

Como é que esqueciSeus olhos, o seu calor?Seu sorriso radiante,Essa boca que me beijou?Como é que esqueci,A quem me fez juras de amor?

Num passado tão próximo Vivemos e fomos casados,Hoje estamos distantesE não mais apaixonados.Como é que vivemos juntos,Assim tão separados?

Onde foi, minha querida, Que o nosso amor se perdeu?Como nos afastamos,Como foi que aconteceu?Eu te amava tanto,E o seu amor era meu.

Palavra é Arte - POESIA • 125

O que foi mesmo, amor!Que arranhou nossa paixão?O que matou o sentimentoQue tínhamos no coração?Onde foi que se perdeuToda a nossa relação?

Não sinto mais emoção, Que antes sempre sentiaQuando você se aproximavaE carinho em mim fazia.Será que nosso amor se perdeuNa rotina do dia a dia?

Nilson de S. Rutizat

126 • POESIA - Palavra é Arte

PRECISO TE ESQUECER

Decidi pensar em não mais pensar em você,Há coisas na vida que não é pra ser revividaE lembrar o passado é esquecer o presente É tentar reviver algo que não existe mais.

Decidi não mais te amar.Pois quando se ama sozinho sofre-se em dobroE o amor não foi feito para ser sentido individualmente E sim, para ser compartilhado, Se não posso mais compartilhar meu amor com vocêO ideal é que ele deixe de existir, Que desapareça assim como você.

Hoje decidi pôr rédeas em meu coração, Não posso mais ser escravo desse sentimentoQue tanto me fez sofrer e que me decepciona.

Não posso ser o amor de quem não ama, A paixão de um além.Eu quero existir para alguém, Ser concreto, apalpável,Não apenas um amor distanteQue só se encontra em sonhos...

Palavra é Arte - POESIA • 127

Preciso de um amor real,Longe da poesia amargurada,Distante da melancolia intensa De um amor não correspondido.

Eu quero um amor,Simplesmente um amor. Cansei de viver filmes sem finais felizes.Eu preciso viver a realidadeE para isso tenho que te esquecer

Nilson de S. Rutizat

128 • POESIA - Palavra é Arte

TÃO LONGE E TÃO PERTO Ainda não sei o que é paixão. Mas, estou enlouquecendo com esse sentimento que me consome dia após dia. Eu era centrado, tinha planos bem sucedidos para minha vida, foi quando uma rede social nos uniu e o mais absurdo e inesperado caso aconteceu. Passei a te desejar, a querer ter você do meu lado, e tudo que pensava da vida passou a não ter mais sentido.A distância que nos separa é a vilã que me mantém longe de você, o desejo que tenho de te encontrar é tão intenso que acabo te encontrando em meus sonhos. Quando penso em você minhas pernas tremem, meu coração dispara e meu corpo aquece, sinto sensações que até então desconhecia e a vontade de estar ao teu lado me enche de felicidades. No entanto, o medo me faz sofrer, a insegurança bagunça a minha cabeça... A verdade é que nem sei se vou te tocar um dia, mas já me sinto seu, sinto que você faz parte da minha vida. Mesmo que uma distância continental nos separe, sinto você cada vez mais próxima de mim. Não sei se estou louco ou apaixonado. A única coisa que sei é que não quero mais viver sem sentir o que estou sentindo, pois isso me enche de vida e faz a minha ex-istência ter sentido. Eu quero ter você, agora esse é o meu único desejo!

Nilson de S. Rutizat

Palavra é Arte - POESIA • 129

VIDA EM PEDAÇOS

Quando o dia amanhece,Começo juntar os cacos que sobraram da minha vida.

E quando o dia termina,Esses cacos se multiplicam em pedaços cada vez menores. Às vezes chego a pensarQue não é mais possível montar esse quebra-cabeça,A minha vida.

E penso que juntar os cacos que sobraram Não é o suficiente, Que o melhor seria construir uma nova vida,Deixando os velhos cacos para traz.

Mas, o peso do viver afadiga-me.O desconforto do comodismo me incomoda E a ditadura do capitalismo me sufoca.

E novamente encontro minha vida em pedaços.

Nilson de S. Rutizat

130 • POESIA - Palavra é Arte

SOU DONO DE MIM

Sei bem o que você quer....São minhas lágrimas jorrando,Meu rosto molhando De mágoa e desgosto

Quer meu peito rasgadoCom um coração dilaceradoChorando de emoção,Implorando a seu egoísmoUma pitada de perdão

Quer vê-me seu escravoMendigando seu carinho,Prefere-me sofrendo ao seu ladoQue feliz sozinho,Como um homem apaixonado.

Sei qual é seu desejoQual a sua pretensão,

Porém,

Palavra é Arte - POESIA • 131

Engana-se vocêDe achar que ainda queroO seu beijo, Seu amor,Ou o seu perdão.

Nilson de S. Rutizat

132 • POESIA - Palavra é Arte

DECIDI AMAR

Corri em estradas difíceis de andarVoei em espaços inacessíveis ao homemPerdoei culpas e aceitei perdões impossíveis Destilei a água que bebia apenas para sentir sedeE morri de sede, afogado

Fui buscar o amor nas estradas por onde corriE no espaço, voei em busca da felicidade.As culpas que perdoei foram da pessoa amadaE o perdão que recebi foi do amor que encontreiA água que bebi foi o desejoE me afoguei na multidão, morrendo de solidão

Descobri que o homem não precisa ser felizQue a tal felicidade nos deixa ressacasE somente o amor é suficiente para a vidaAs demais coisas são apenas extensões desse sentimento

Não descobri nas estradas como entender o amorNem encontrei no espaço explicação Não encontrei ninguém que soubesse explicar

Palavra é Arte - POESIA • 133

O que acontecem com o homem quando ele ama.Nem mesmo quem ama sabe dizer como se sente,

Decidi então amar...Apenas amar, sem explicar!

Nilson de S. Rutizat

134 • POESIA - Palavra é Arte

DEUS NÃO É BRASILEIRO

Não adianta discutir,Brasileiro Deus não é.Não que eu seja parecidoCom aquele profeta Tomé.Deus não é brasileiroNem é filho de José.

Apareceu nos cinemasE também na televisão.Diziam que Deus eraBrasileiro, nosso irmãoE todos aceitaram o fatoSem nenhuma contestação.

Se Deus é brasileiro,Em que estado ele nasceu?Que sobrenome ele tem?Silva, Pereira ou Abreu? Se Deus é brasileiro Que comida ele comeu?

Nasceu na Bahia,Ou foi no Maranhão?Ele é da Paraíba,Ou de outra região?Ou será que Deus é Um fruto do sertão?

Palavra é Arte - POESIA • 135

Não tem cabimentoDeus ser brasileiro,Você vai me dizerQue ele é do Rio de Janeiro?Então ele é o Cristo,O Cristo do Rio herdeiro!

Nilson de S. Rutizat

136 • POESIA - Palavra é Arte

VOZ DO NEGRO

Eu sou negroE não moreno,Minha pele é pretaE não queimada

Eu sou negroE não me envergonho disso.Minha pele é peleComo a sua

Eu sou negroE sofro preconceito.Para os outrosMinha pele define quem sou.

Eu sou negroE não me intimido, O racismo só mostraO quanto às pessoas são superficiais

Nilson de S. Rutizat

Palavra é Arte - POESIA • 137

AMIGOS QUE SE VÃO

Meu coração dói,Minha alma chora.Não consigo entender,Porque grandes amigos vão embora.

Não será como antes,Não sei como viver,Pois como será a minha vida,Sem estar ao lado de vocês?

Sei que não é um adeus...Sei que um dia irão voltar.Mas até lá como fica,Meu coração que não pára de sangrar?

Meu peito se aperta,Quando começo a lembrar,Dos nossos momentos felizes,E me desabo a chorar.

Ninguém vai preencher,Este espaço, aqui vazio,E meu coração de tanto sangrar,Começa a ficar frio.

138 • POESIA - Palavra é Arte

Mas eu sei que não é um adeus,Sei que um dia irão voltar,Mas até lá como fica,Meu coração cansado de sangrar?

Pamella Marietto

Palavra é Arte - POESIA • 139

IMAGINAÇÃO

Tudo é melhor com imaginação.Com ela pode-se ir longe,Viajar por mundos desconhecidos.Como é bom ter imaginação.

Com ela você pode viver uma linda paixão,Escrever uma bela canção.Tudo com ela é uma grande emoção,Que deixa feliz o mais amargo coração.

Imagine-se em um lugar feliz,Com a pessoa que você sempre quis.Diga se não é tudo o que você queria.Transforme sua raiva em uma inexplicável alegria.

Tolos podem sonhar,É somente questão de tentar,Para vários sonhos se teletransportar...Tente! E irá amar...

Pamella Marietto

140 • POESIA - Palavra é Arte

AMIGO

Na amizade não existe fronteiras.Não existe preconceito nem orgulho.Amizade não é para muitos,Mas sim para os que a conservam.

Não é uma coisa para mostrar a todos,E sim, uma coisa particular.É uma comunicação mútua,Uma coisa para se conservar.

Não sei se posso chamá-la de “coisa”,Pois é um forte sentimento.Com uma aprovação da Lua, das estrelas,Que é selada aos sete ventos.

Não importa se longe está,Você sabe que é sincera,De uma amizade nada se espera,Pois a cada dia uma surpresa supera.

Enfrenta barreiras, desafios e dores.Pois a amizade, não é um campo de flores.As flores murcham, morrem...A amizade cresce, e a cada dia,Só se torna mais viva.

Palavra é Arte - POESIA • 141

Amigo é uma extensão do universo,Um mundo complexo.Amigo enxuga suas tristes lágrimas,Mas não pede nada em troca.

Amigo é um anjo enviado por DeusQue aceita os defeitos seus;Um anjo que não tem sexo;Um anjo que se fere por você;Um anjo que te ajuda na hora do sofrer;Um anjo que precisa do teu abraço;Um anjo que contigo tem um eterno laço.

Não te julga por sua aparênciaTolera seus defeitos,Te ajuda como pode.E é por isso, amigos...Que os tenho bem guardados em meu peito!

Pamella Marietto

142 • POESIA - Palavra é Arte

POETAS MODERNOS

Não se encontram mais tinteiros,Muito menos penas para se escrever.Não há mais romance,Nem ao menos paixão.Uso uma simples caneta para escrever.

Aqueles poemas charmosos, com traços leves, sutis,Foram aniquilados.Não existe mais pergaminho e sim máquinas.Mas não as simples máquinas de escrever.

Agora existem redes mundiais em computadores,Cadernos rabiscados.Não tem mais aquela mesinha no canto,Com velas acesas e uma pena descansando em um tint-eiro, com pergaminhos enrolados.

Não mereço estar nesta época moderna,Onde o amor ao próximo foi extinto.Nem os bêbados são os mesmos.Não ha mais boêmios sentados à janela,escrevendo seus singelos versos.

Palavra é Arte - POESIA • 143

Ninguém pensa mais em amar,As pessoas querem sexo, não amor.No fim da noite nem o nome da amada,Ninguém lembra.“Foi apenas mais uma.”

As serestas, onde estão?Os buquês de flores, as cores, os amores.Para onde foi tudo isso?Hoje não existe mais compromisso.

Não sou dessa época,Não eu.Não consigo estar neste lugar,Onde o amor morreu.

Beleza interna? Esquece.Hoje você tem que ser a melhor,Mesmo que não tenha nada na cabeça.Os rapazes de hoje não se importam.

Você vira um troféu aos olhos dos outros.“Olha, aquela gostosa é minha!”.De que adianta ser bonita,Se por dentro é mesquinha?

144 • POESIA - Palavra é Arte

Não sou dessa época,Não eu.Não me sinto à vontade,Onde o amor morreu.

Pamella Marietto

Palavra é Arte - POESIA • 145

AO AMOR QUE SEMPRE QUIS

Diante de infinitas estrelas,Achei o brilho mais bonito em seu olhar.Tudo estava tão perfeito,A Lua a nos observar.

Quebramos barreiras,Destruímos preconceitos,Pois não existe nada mais bonito,Do que é simples e verdadeiro.

Como posso ter certeza,De que ontem realmente existiu?Meu sorriso persiste em minha face,Desde o fatídico momento em que você partiu.

Sou uma eterna romântica,Que pensava em desistir do amor.Mas ao acaso encontrei você,E com seu jeito especial me salvou!

Não me importo com imagens ou clichês.Não preciso destas formalidades,O que importa é que te encontrei,E o que sentimos sei que é verdade.

À minha “Louca Paixão”

Pamella Marietto

146 • POESIA - Palavra é Arte

SEPULTAMENTO DE UM POETA

“Não faça isso...”Estava feito...Acabara de cravar uma faca em seu peito.A morte foi o caminho mais fácil,Para a dor curá-lo.Morreu como um tolo,Um tolo por amar.Agora ele não mais verá seus olhos,Aqueles olhos que tanto o desprezaram.Sua macia pele não mais irá tocar,Pois foi um tolo, tolo por amar.Nem uma só lágrima, ela sequer derramou,Não ficou chocada, tampouco hesitou.Foi apenas mais um romântico para a sepultura.Porém, um poeta que não aguentou sua amargura.Um doce boêmio da noite, ele era.Mas estragou sua vida ao se apaixonar por ela.Apenas uma meretriz de amor fingido,Que não tinha coração e seus sentimentos eram oprimidos.

Palavra é Arte - POESIA • 147

Adeus, meu bom homem.Espero que descanse em paz.Adeus homem sortudo,Que não tornará a amar jamais!

Pamella Marietto

148 • POESIA - Palavra é Arte

PLENITUDE DO AMOR

Amar com toda a plenitude do amor,Quando um se divide em dois,E duas almas selam-se como uma só.O amor é um jogo, onde nenhuma das partes competem,Onde dois ganham e ninguém perde,Um sentimento gostoso de sentir,Algo sincero, indestrutível,Que a cada dia se renova,Em constante fortalecimento...Como se fosse a primeira vez,Me apaixono a cada olhar seu.Sinto o gosto do seu beijo,Que ilumina os lábios meus.As estrelas tem inveja,A lua ri de nós.Pois somos juntas, o maior brilho do Universo.Ofuscamos toda e qualquer luz,Que possa aparecer no meio do caminho.Te amo loucamente,Por ti exalo todo meu carinho.Nem todas as palavras deste mundo,Em quaisquer línguas poderiam descrever,Tudo o que sinto...Tudo o que penso...Quando o assunto é você!

Pamella Marietto

Palavra é Arte - POESIA • 149

SENTIMENTOS DE UMA POETISA

Os sentimentos de uma poetisa,São extremamente complicados.Amam sem querer algo em troca,Mesmo que saibam que não são amados.

Não quero algo de retribuição,Só quero saber que o que faço é bom.Não quero que sintas, não quero sentir,Não quero que partas, não quero partir.

Quero somente te fazer bem,Assim já me sinto melhor.Se gostas de mim e recusas meu amor,Aí sim! Já me sinto pior.

Sei que se sente como se deixasse a vida para trás,O que é seu é seu!Ninguém conseguirá tirar.E além do mais, não se pode escolher,Quem o coração de uma poetisa escolhe amar.

Pamella Marietto

150 • POESIA - Palavra é Arte

QUEM SOU EU?

Sou um peixe fora do aquário, vivendo em um oceano de pensamentos que voam como aves de rapina em minha cabeça de elefante. Sou preguiçoso como um panda e determinado igual a um leão dando saltos de felicidade, como um sapo cantando alegremente igual a um canário. Sou amigo como um cão e fiel igual a um labrador. Às vezes sou trabalhador e prevenido como uma formiga. De vez em quando, sou extremamente importante, como uma vaca, no entanto, posso ser inútil como um rato. Às vezes tenho orelhas de asno e cérebro de galinha. Às vezes fico belo como uma borboleta, outras vezes, ajo igual a um camaleão: me escondo. Muitas vezes, meu coração é duro como uma pedra, já outras vezes, ele é mole como um pudim.Às vezes chego sem avisar, como chuvas de verão e, às vezes ando bem devagar, igual a uma lesma, que rasteja pelo chão.Às vezes, tenho um pescoço igual ao de uma girafa, sou bisbilhoteiro como uma mosca e incomodo como um mosquito. Muitas vezes, fico confuso igual a uma zebra e um leopardo.

Palavra é Arte - POESIA • 151

Diversas vezes ajo como decompositor e sou ignorado como microrganismo.Muitas vezes sou muito interessante, como dragões e dinossauros, porém às vezes sou tão insignificante quanto um fio de cabelo.Às vezes vivo em um lugar tenebroso e, às vezes vivo em um local igual à Terra do Nunca.Às vezes sou tão sonhador que me sinto uma criança e, às vezes, vivo sem sonhos, como adulto.

Às vezes sou tudo,Às vezes sou nada,Eu vivo a vidaSempre na estrada.

Sou um pensadorPonho emoções no papelAinda sou amadorMas um dia eu pretendoAlcançar o céu.

Sou um aprendiz,Um aprendiz da vida,Estou sempre felizCom a sabedoria retida.

Vinícius Edart

152 • POESIA - Palavra é Arte

O BRILHO DA ESTRELA

Um dia ensolaradoAlguém pra conversarSe sentir amadoLogo ao despertar. No silêncio à noiteEscrevo esta poesiaSe fosse possívelEu dariaEsta cançãoSem melodiaA uma constelação. Chuva de madrugadaUma canção boaEstrela bonitaAbraço de ursoCalor humanoO risco das estrelas. No céu da imensa escuridãoA mais bonita estrelaQue nunca se apagouFaz tremer meu chão.

Palavra é Arte - POESIA • 153

As estrelas na noiteBrilham sem pararNa imensa escuridãoDe meu céuObservo seu olharSeu brilhante sorriso.

Vinícius Edart

154 • POESIA - Palavra é Arte

LONGE DA PERFEIÇÃO

Estou bem longe de encontrar,Um verdadeiro amor,Que sempre vou presentear,Nem que seja com uma flor.

Estou bem longe de encontrar,Uma verdadeira amizade,Alguém para me alegrar,E me dar à verdadeira felicidade.

Estou bem longe de encontrar,A verdadeira sabedoria,E alguém para amar,É o que eu mais gostaria.

Vinícius Edart

Palavra é Arte - POESIA • 155