edição 24: abril/ maio/ junho

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Ano 9 . nº 24 . Abril / Maio / Junho / 2014 René Ariel Dotti . Rogéria Dotti . Julio Brotto Patrícia Nymberg . Alexandre Knopfholz Fernanda Pederneiras . Francisco Zardo . Vanessa Scheremeta José Roberto Trautwein . Fernando Welter Gustavo Scandelari . Rafael de Melo . Vanessa Cani Cícero Luvizotto . Luis Otávio Sales . Guilherme Alonso Thais Guimarães . Laís Bergstein . André Meerholz Renata Steiner . Diana Geara . Emilly Crepaldi . Bruno Correia Boletim Trimestral do Escritório Professor René Dotti Áreas de Atuação: Direito Administrativo, Ambiental, Civil, Constitucional, Criminal, Desportivo, Eleitoral, Família e Sucessões. A Lei Anticorrupção e a responsabilidade objetiva da pessoa jurídica Julio Brotto As mudanças que virão com o novo Código de Processo Civil Rogéria Dotti Acidente causado por veículo sem condutor: crime de trânsito? Bruno Correia Indenização por morte: forma de pagamento da pensão Emilly Crepaldi Desconsideração inversa da pessoa jurídica: um instrumento de proteção ao patrimônio do cônjuge/companheiro Diana Geara “Nas questões de família o Advogado é o primeiro juiz da causa quando toma conhecimento do assunto”. (Prof. René Ariel Dotti)

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Page 1: Edição 24: Abril/ Maio/ Junho

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Ano 9 . nº 24 . Abril / Maio / Junho / 2014

René Ariel Dotti . Rogéria Dotti . Julio BrottoPatrícia Nymberg . Alexandre Knopfholz

Fernanda Pederneiras . Francisco Zardo . Vanessa Scheremeta José Roberto Trautwein . Fernando Welter

Gustavo Scandelari . Rafael de Melo . Vanessa CaniCícero Luvizotto . Luis Otávio Sales . Guilherme Alonso

Thais Guimarães . Laís Bergstein . André MeerholzRenata Steiner . Diana Geara . Emilly Crepaldi . Bruno Correia

Boletim Trimestral do Escritório Professor René DottiÁreas de Atuação: Direito Administrativo, Ambiental, Civil, Constitucional, Criminal, Desportivo, Eleitoral, Família e Sucessões.

A Lei Anticorrupção e a responsabilidade objetiva da pessoa

jurídica Julio Brotto

As mudanças que virão com o novo Código de

Processo Civil Rogéria Dotti

Acidente causado por veículo sem condutor: crime

de trânsito? Bruno Correia

Indenização por morte: forma de pagamento da

pensão Emilly Crepaldi

Desconsideração inversa da pessoa jurídica: um instrumento

de proteção ao patrimônio do cônjuge/companheiro

Diana Geara

“Nas questões de família o Advogado é o primeiro

juiz da causa quando toma conhecimento do assunto”.

(Prof. René Ariel Dotti)

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EDITORIAL

Advocacia em causas de família (René Ariel Dotti) ..................................................................................................................................................... 3

SEÇÃO INFORMATIVA

Participação em eventos............................................................................................................................................................................................. 450 anos do golpe militar e uma dupla homenagem......................................................................................................................................... 4Capacitação sobre a nova Lei Anticorrupção....................................................................................................................................................... 4Inovações da Lei Anticorrupção e as medidas preventivas para empresas .............................................................................................. 5

LEGISLAÇÃO

Mudanças relevantes................................................................................................................................................................................................... 5

DIREITO CRIMINAL

Habeas Corpus: remédio para todos os males? (Alexandre Knopfholz) .................................................................................................................. 6A duradoura discussão sobre a natureza do crime de descaminho (Gustavo Scandelari) .............................................................................. 6Uma decisão de respeito e o respeito à dignidade humana (Rafael de Melo) ................................................................................................... 7Lei Anticorrupção: a confissão de prática de crime e acordo de leniência (Luis Otávio Sales) ...................................................................... 7A reiteração criminosa insignificante (Guilherme Alonso) ......................................................................................................................................... 8Acidente causado por veículo sem condutor: crime de trânsito? (Bruno Correia) .......................................................................................... 8

DIREITO CIVIL

A Lei Anticorrupção e a responsabilidade objetiva da pessoa jurídica (Julio Brotto) ................................................................................... 9STJ fixa prazo para armazenamento de dados pela Google (Patrícia Nymberg) ............................................................................................... 9A fiança prestada por apenas um dos companheiros na constância da união estável (Vanessa Scheremeta) ....................................... 10O pagamento do seguro não depende de emissão da apólice (José Roberto Trautwein) .............................................................................. 10O prévio contraditório na desconsideração da personalidade jurídica (Fernando Welter) ........................................................................ 11Erro no resultado de exame (Vanessa Cani) ............................................................................................................................................................... 11Imagina na copa! (Cícero Luvizotto) ............................................................................................................................................................................... 12Dia mundial do consumidor (e os serviços de telecomunicações brasileiros) (Laís Bergstein) ................................................................ 12Contratos internacionais e Convenção de Viena (Renata Steiner) ...................................................................................................................... 13Indenização por morte: forma de pagamento da pensão (Emilly Crepaldi) .................................................................................................... 13

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

As mudanças que virão com o novo Código de Processo Civil (Rogéria Dotti) ............................................................................................. 14

DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

Dever do espólio de pagar alimentos (Fernanda Pederneiras) ................................................................................................................................ 14Aplicação da Lei Maria da Penha em relações homoafetivas entre mulheres (Thais Guimarães) ............................................................ 15Desconsideração inversa da Pessoa Jurídica: um instrumento de proteção ao patrimônio do cônjuge/companheiro (Diana Geara) ......................................................................................................................................................................... 15

DIREITO ADMINISTRATIVO

Pessoa Jurídica de direito público não tem direito à indenização por danos morais (Francisco Zardo) ................................................ 16A conclusão de curso superior autoriza a inscrição em conselho de classe profissional (André Meerholz) .......................................... 16

ESPAÇO LIVRE DOS ESTAGIÁRIOS

O compliance e a responsabilidade penal dos gestores (Vinícius Cim) ........................................................................................................... 17O princípio da insignificância (Hevelin Quintão) ........................................................................................................................................................ 17O casamento e a aplicabilidade da Lei Maria da Penha na proteção de vítimas de crimes de violênciapatrimonial (Antonella Cequinel Thá) ............................................................................................................................................................................... 18O Marco Civil da internet (Willyam Guilherme Sandri Junior) ......................................................................................................................................... 18Mandado de segurança coletivo: legitimidade e objeto (Willian Felipe Brandão) ............................................................................................ 19

ÍNDICE

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De todas as especialidades da advocacia, uma das mais sensíveis e com-plexas é a relativa ao Direito de Família. A incompatibilidade de gênios é uma das causas rotineiras da separação dos casais, além da intolerância nas rela-ções domésticas que compromete a boa formação psicológica e moral dos filhos e o diálogo indispensável com os pais. O Código Civil estabelece moti-vos que podem caracterizar a impossibilidade da comunhão de vida, como adultério, tentativa de morte, sevícia ou injúria grave, abandono voluntário do lar conjugal, durante um ano contínuo, condenação por crime infamante e conduta desonrosa (art. 1.573). Mas o juiz poderá considerar outros fatos, a exemplo da incompatibilidade acima referida e que tornem impossível a vida em comum.

Mas, além das hipóteses de separação (litigiosa ou amigável), a Justiça é chamada também para resolver o problema da guarda dos filhos menores quando não houver acordo dos pais em tal sentido. Esse é um aspecto de extrema delicadeza e que exige do magistrado especial cuidado ao aplicar a lei, após ter esgotado as possibilidades de uma conciliação. Mas antes, du-rante e depois da intervenção do Judiciário, compete ao Advogado o dever de orientar seu cliente em busca da solução mais razoável para o caso. Com efeito, uma das obrigações éticas imposta à nobre profissão consiste no es-tímulo da conciliação entre os litigantes, prevenindo, sempre que possível, a instauração de litígios.

Nas questões de família, assim como em todos os casos, o Advogado é o primeiro juiz da causa quando toma conhecimento do assunto. Além da rigorosa explicação legal sobre direitos e deveres da parte que o procurou, o profissional deve rejeitar o patrocínio se as suas prudentes recomendações não forem atendidas. É oportuno lembrar a frase do imortal RUY BARBOSA, em sua antológica “Oração aos moços”, pronunciada na colação de grau dos bacharéis de Direito pela USP (1920): “Não proceder, nas consultas, senão com a imparcialidade real do juiz nas sentenças”.

E assim também deve ser em toda a orientação da causa.

RENÉ ARIEL DOTTI

Advocacia em causas de família

EDITORIAL

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SEÇÃO INFORMATIVA

O Advogado RENÉ ARIEL DOTTI foi homenageado pela defesa intransigente da liberdade e demais direitos fundamentais dos presos e perseguidos políticos durante a ditadura militar. As homenagens, em sessões públicas, foram presta-das pelos seguintes órgãos: Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara dos Deputados; Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil e Comissão da Verdade da OAB-PR.

50 anos do golpe militar e uma dupla homenagem

Capacitação sobre a nova Lei Anticorrupção

Há homens que lutam um dia e são bons,há outros que lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis”.(Bertold Brecht)

Curitiba, 31 de Março de 2014.

Texto no troféu entregue pela OAB-PR em homenagem aos advogados que atuaram na defesa de presos políticos durante o ato público “50 Anos do Golpe Civil Militar – Para que não se esqueça, para que não mais aconteça”.

No dia 31 de março de 2014, os Advogados JULIO BROT-TO, FRANCISCO ZARDO e MARIANA GUIMARÃES ministraram curso de capacitação sobre a Lei Anticorrupção (12.846/2013) para a equipe de vendas públicas da Editora Positivo. Na ima-gem, da esquerda para a direita, HUMBERTO GODOY JUNIOR, Gerente Nacional de Negócios da Editora Positivo, STELA MA-COHIN, Diretora Comercial da Editora Positivo, FRANCISCO ZARDO, SELMA AZEVEDO, Gerente Jurídica do Grupo Positi-vo, JULIO BROTTO, MARIANA GUIMARÃES e ACEDRIANA SAN-DI, Diretora Pedagógica da Editora Positivo.

Participação em eventos

- No dia 12 /02/2014 o Professor RENÉ DOTTI, a convite do Professor ROBERTO DI BENEDETTO, proferiu aula magna na Universidade Positivo com o tema “Formei-me em Direito, e agora?” No dia 24/04, em evento realizado pelo Centro Acadêmi-co Ubaldino do Amaral em parceria com a Comissão da Verdade da Ordem dos Advogados do Brasil, o Professor participou de debates junto ao Professor OZIAS PAESE NEVES. O evento aconteceu na Universidade Positivo.

- A palestra de abertura do VIII Congresso Jurídico Integrado, CONJURI, realizada no dia 06/05, no auditório do Colégio Marista de Maringá, foi ministrada pelo Professor RENÉ DOTTI que abordou o tema: Lições Práticas da Advocacia.

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LEGISLAÇÃO

* O presente espaço foi criado por sugestão do Advogado João Carlos de AlmeidaMudanças relevantes

» IDENTIFICAÇÃO DE TORCEDORES NOS ESTÁDIOS DE FUTEBOL DO PARANÁLei Estadual nº 17.951, de 10/01/2014 (Publicada no DOE de 10/01/2014)

Em 10/04/2014entrou em vigor a legislação que determinou que os clubes e entidades mantenedoras dos estádios de fu-tebol deverão realizar a identificação dos respectivos compra-dores de ingressos em todos os jogos para partidas oficiais, em locais com a capacidade maior que 15 mil espectadores.O banco de dados dos compradores deverá ficar à disposi-ção das autoridades pelo prazo mínimo de 12 meses. Além disso, todos os funcionários e colaboradores presentes no local do evento deverão estar devidamente identificados com nome, função e foto.

Na hipótese de descumprimento da legislação, as penalida-

des aplicadas aos clubes serão: a) advertência por escrito; b) multa de R$ 5.000,00; c) multa de R$ 10.000,00; d) cassação de alvará de localização e funcionamento do estádio de futebol.Os torcedores que participarem ou incitarem distúrbios nos estádios ou fora deles também estarão sujeitos ao impedi-mento de adquirir ingressos ou frequentarem partidas de 3 meses a 5 anos e pagamento de multa.

» PRIORIDADE DE TRAMITAÇÃO NOS PROCESSOS DE ADOÇÃOLei nº 12.955/2014, de 05/02/2014 (Publicada no DOU de 06/02/2014)

Acrescentou o § 9º ao art. 47 da Lei nº 8.069/1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), determinando que “terão priorida-de de tramitação os processos de adoção em que o adotando for criança ou adolescente com deficiência ou com doença crônica”.

Inovações da Lei Anticorrupção e as medidas preventivas para empresas

Embora o Direito brasileiro já conte com diversas normas de combate à corrupção, a Lei 12.846/2013 – a chamada Lei Anticor-rupção -, com vigência a partir de janeiro de 2014, exige amplo e detalhado conhecimento pela sociedade e, em especial, por empresários e operadores jurídicos.

Os professores da UNIVERSIDADE POSITIVO e do CENTRO DE ESTUDOS PROFESSOR DOTTI, com o valioso apoio da ASSO-CIAÇÃO COMERCIAL DO PARANÁ, na pessoa de seu presidente, EDSON JOSÉ RAMON, promoveram, nos dias 25 e 27 de março, curso com o objetivo de analisar criticamente o aludido diplo-ma, revelando a atualidade e principais aspectos do tema.

As inscrições para o evento, ministrado pelos Professores

ROGÉRIA DOTTI, JULIO BROTTO, FRANCISCO ZARDO, EDUAR-DO SANZ e GUSTAVO VILLATORE, foram encerradas devido a lotação do auditório.

Diante da grande procura, uma segunda edição do curso está prevista para o mês de abril, no campus da Universidade Positivo, em Curitiba (PR).

Os temas foram abordados na seguinte ordem:

- O contexto do surgimento da lei. Os destinatários da lei. A responsabilidade objetiva. A subsistência da res-ponsabilidade mesmo na hipótese de alteração socie-tária.

- Os atos lesivos à Administração Pública. As definições legais. As sanções administrativas. A gradação das san-ções. O processo administrativo.

- O processo judicial. As sanções judiciais. O prazo pres-cricional.

- Os acordos de leniência – uma nova forma de delação premiada.

- Os códigos de conduta. A (in)dependência em relação aos demais microssistemas legislativos e o princípio do ne bis in idem. O cadastro nacional das empresas punidas.

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Habeas Corpus: remédio para todos os males?

A duradoura discussão sobre a natureza do crime de descaminho

Dentre todos os institutos de natu-reza processual penal, o mais famoso é o Habeas Corpus. De origem remota (em 1215, com a Magna Carta), sua história confunde-se com a própria história do Processo Penal. No Brasil, surgiu no Códi-go de Processo Penal do Império (1832) e alcançou status constitucional com a Constituição republicana de 1891.

O remédio heroico será concedido “sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ile-galidade ou abuso de poder” (CF/88, art. 5º, LXVIII). Segundo a moderna doutrina, é possível a sua utilização não apenas quando a violência ou ameaça à liber-dade é imediata (como a prisão ilegal), mas também quando é mediata (para

discutir ilegalidades que não guardam, num primeiro momento, relação direta com a liberdade de locomoção). Neste último caso, estariam inseridas as hipó-teses de trancamento de ação penal ou reconhecimento de nulidades.

Contudo, nos últimos anos, nota-se uma resistência em aceitar o cabimento de habeas corpus para discutir ilegalida-des que não têm relação imediata com a liberdade. Trata-se de uma interpreta-ção restritiva do instituto, ao argumen-to de que, a prevalecer o alargamento de sua incidência, os Tribunais ficariam abarrotados de procedimentos desta natureza. Trata-se de entendimento casuístico, que desnatura a essência da mais importante garantia do cidadão contra o Estado.

A discussão está longe do fim. Em dezembro iniciou, no STF, o julgamento do HC nº 113.198/PI, que aborda, justa-mente, a extensão da incidência do Ha-beas Corpus. O Relator – Ministro DIAS TOFFOLI – destacou que “a ação de habe-as corpus mereceria amplo conhecimento por parte do STF, mesmo em hipóteses que não envolvessem direta e imediatamente a liberdade de ir e vir.” Contudo, instaurou divergência o segundo julgador – Minis-tro ROBERTO BARROSO -, que sustentou que “quanto mais expandida a competên-cia para conhecimento deste tipo de ação, menor o tempo que se poderia dedicar para cada uma delas e maior a demora para julgamento.” Após, pediu vista o Mi-nistro TEORI ZAVASCKI.

Em outubro de 2013 e fevereiro de 2014, foram publicados os acórdãos, respectivamente, do Habeas Corpus nº 218961 e do Recurso Especial nº 1376031 – ambos relatados pela Ministra LAURITA VAZ e oriundos da 5ª Turma do STJ – no sentido de que o crime de descaminho seria formal (quando dispensa a produ-ção de dano real para se consumar) e que tutelaria primordialmente o interesse econômico-estatal nas relações de mer-cado. Por isso, não se poderia equipará-lo ao delito de sonegação fiscal. Mas, além de serem contrárias a vários outros pre-cedentes igualmente recentes das cortes superiores sobre a matéria, tais decisões ainda estão na contramão da evolução

acadêmica da literatura específica.

Quanto à jurisprudência, tanto o STF (1ª Turma – HC 85942) quanto o próprio STJ, por ambas as suas turmas criminais (5ª Turma – RHC 31321; RHC 31368; HC 139998; 6ª Turma – HC 137628; HC 48805; HC 67415) já decidiram que o descami-nho tem, sim, a natureza de crime tri-butário. Quanto à doutrina, para citar apenas alguns autores que classificam o descaminho como crime material de sonegação fiscal: AUGUSTO OLYMPIO VI-VEIROS DE CASTRO, HECTOR VILLEGAS, FRANCISCO DE ASSIS TOLEDO, MAGA-LHÃES NORONHA, HELENO FRAGOSO, ARAÇARI LEITE CAVALCANTI, RENÉ DOTTI, WALTER NUNES DA SILVA JR., EDMAR OLI-

VEIRA ANDRADE FILHO, CARLOS EDUAR-DO ADRIANO JAPIASSÚ, JUARY C. SILVA, ANDREI ZENKNER SCHMIDT, ALEXANDRE KERN, IGOR TENÓRIO, FÁBIO MACHADO DE ALMEIDA DELMANTO, ADRIANA PA-ZINI DE BARROS, JOSÉ LENCE CARLUCI e FÁBIO FANUCCHI. No final de 2013 foi lan-çada, ainda, a obra O Crime Tributário de Descaminho (Editora Lex Magister), que trata da questão em detalhes.

É tempo de uniformizar o enten-dimento dos tribunais, já que “não há razão lógica para se tratar o crime de des-caminho de maneira distinta daquela dis-pensada aos crimes tributários em geral” (STJ, HC 48805, Rel. Min. MARIA THEREZA R. DE ASSIS MOURA).

ALEXANDRE KNOPFHOLZ

GUSTAVO SCANDELARI

DIREITO CRIMINAL

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Uma decisão de respeito e o respeito à dignidade humana

Lei Anticorrupção: a confissão de prática de crime e acordo de leniência

Em fevereiro último, o TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SANTA CATARINA, através do julgamento do Recurso de Apelação n° 2013.057402-4, deu um importante pas-so no sentido de que a justiça só ocorre se observado o princípio da dignidade da pessoa humana, preceito o qual, deve se sobrepor à estrita adequação formal do comportamento à lei.

Em linhas gerais, a decisão proferida partiu de uma reflexão muito feliz que aplicou o princípio da insignificância em um caso que, se analisado sob uma visão pura e simples do enquadramento do fato à lei, fatalmente o resultado seria a injustiça.

O fato ocorrido em pequena cidade de interior gerou uma acusação de es-tupro de vulnerável (menor de 14 anos), crime que causa extrema repulsa da opi-nião pública.

A Quarta Câmara Criminal do TRIBU-NAL DE JUSTIÇA DE SANTA CATARINA, ao analisar as provas e partindo de premis-sas relacionadas ao princípio da insigni-ficância firmadas pelo Supremo Tribunal Federal, na sua mais plena consciência da responsabilidade social, não obstan-te autoria e materialidade comprovadas, permitiu-se absolver o réu. Da decisão extrai-se:

“Ora, é inconteste que a vítima quando era menor de 14 anos de idade viveu com o réu em união estável, marital-mente e mantiveram relações sexuais que frutificou uma criança, I. M. de O. (fl. 54). Por outro lado, não há negar constituíram família. Negacear este fato seria o mesmo que fechar os olhos para a realidade. Assim, a condenação do réu perde a sua finalidade social porque não houve ofensa ao bem ju-rídico tutelado, in casu, a dignidade

sexual da suposta vítima que tinha pleno conhecimento e consciência dos atos praticados, prejudicando não só o sustento desta família bem como o crescimento e desenvolvimento sau-dável e psicológico da criança sem a presença do pai.[...]Construíram uma casa e nela vivem em harmonia. Ou melhor, viviam em harmonia, até a inoportuna interven-ção estatal.”

Analisando os dizeres do voto do Desembargador Relator, a absolvição era tão merecida que sequer parece re-levante motivo para a presente discus-são. O raciocínio estaria certo não fosse a sentença de primeiro grau que conde-nou o acusado a uma pena de 12 anos em regime fechado, considerando, inclu-sive para aumento na fixação desta pena o nascimento do seu filho com a vítima.

Em 29 de janeiro passado, entrou em vigor a Lei nº 12.846/13 (Lei Anticorrup-ção), que responsabiliza e permite a pu-nição de pessoas jurídicas envolvidas em atos de corrupção contra a administra-ção pública nacional ou estrangeira. A lei designa acordo de leniência (arts. 16 e 17) o procedimento formal de colaboração entre o representante legal da empresa (art. 26) e o órgão ou entidade pública responsável pelo processo de elucidação de ilícitos administrativos. Com ele, as sanções administrativas aplicáveis a em-presas são atenuadas ou excluídas (arts. 16, §2º e 17). Isenta-se a pessoa jurídica das sanções de publicação da condena-ção em “meios de comunicação de grande

circulação” e de proibição de recebimen-to de subsídios, reduz-se a multa em até 2/3, e isentam-se ou atenuam-se as san-ções administrativas relativas a infrações de licitação (advertências, multas e sus-pensão temporária do direito de licitar).

Embora tal acordo se apresente como um estímulo ao combate à corrup-ção, dado o regime de colaboração entre particular e ente público, é controvertida sua vantagem, à vista de eventuais efei-tos penais decorrentes desse acordo. A Lei Anticorrupção estabelece como re-quisito para sua celebração a confissão da prática do ilícito (art. 16, §1º, III). Ao contrário do acordo de colaboração pre-

miada, o acordo de leniência não prevê o perdão judicial da prática de crimes, a redução da pena privativa de liberdade ou a sua conversão em restritiva de direi-tos, como consequência da cooperação com o Estado. Considerando que as es-feras de responsabilidade penal e admi-nistrativa são independentes (ou seja, a sanção no âmbito administrativo não ex-clui a de natureza criminal, ainda que os fatos sejam os mesmos), é questionável a conveniência do acordo de leniência quando isso implicar confissão direta de crime, pois, em teoria, pode significar, a um só tempo, o endosso de uma futura sentença penal condenatória do delator.

RAFAEL DE MELO

LUIS OTÁVIO SALES

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Acidente causado por veículo sem condutor: crime de trânsito?

A reiteração criminosa insignificante

Uma conduta que preencha os requi-sitos legais de crime descrito no Código Penal somente pode ser punida a partir da demonstração de sua significância jurídica e social. Em termos técnicos, a conduta é típica quando possui ofensi-vidade relevante, seja para a vítima, seja para a sociedade. Com efeito, é atípico o “crime de bagatela”, no qual, por exem-plo, o agente furta objeto ou quantia insignificante ou sonega tributo infe-rior ao valor que a Fazenda formalmen-te se dispõe a executar – atualmente, R$ 20.000,00. Basicamente, a lógica do princípio da insignificância volta-se à “injustiça” que uma pena privativa de

liberdade pode causar àquele indivíduo que furta um pacote de pão ou à despro-porção de uma punição por valores que o próprio Estado não tem interesse em reaver. Como não há violência e o dano é irrisório (o que se soma, muitas vezes, à efetiva carência do agente ou empresa), torna-se desnecessária a punição penal e a movimentação do aparato judiciário.

Recentemente, porém, o SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL instituiu novo re-quisito ao reconhecimento da “bagate-la”. No julgamento do HC 114.462, no qual se discutia a atipicidade do furto de duas tábuas de construção de valor

ínfimo, entendeu a Ministra CÁRMEN LÚCIA – que desempatou o julgamen-to – que não seria aplicável a insigni-ficância porque o paciente já havia sido “beneficiado” duas vezes por esse princípio e responderia a outras três ações penais por furto. O voto encer-rou uma discussão que contou com o acertado e vencido fundamento do Mi-nistro CELSO DE MELLO de que deveria prevalecer a presunção de inocência porque, ainda que tenha cometido pe-quenos furtos, a prévia aplicação do “benefício” resultou em absolvições – não sendo, portanto, possível a verifi-cação formal de uma reincidência.

BRUNO CORREIA

GUILHERME ALONSO

Suponha-se a seguinte situação: um veículo é estacionado em declive e o motorista, por negligência, não aciona o freio de estacionamento (o chamado freio de mão); o automóvel, en-tão, movimenta-se e atinge um pedestre, causando-lhe lesões corporais graves.

A peculiaridade do fato gera dúvidas sobre a configuração ou não de “crime de trânsito”. Isso porque o tipo penal descrito no art. 303 do Código de Trânsito Brasileiro prevê a prática de lesão corporal culposa “na direção de veículo automotor”, o que pode-ria caracterizar, no caso, a ocorrência do delito de lesão corporal comum, previsto no art. 129 do Código Penal.

Se, de um lado, possa-se entender pela exigência de “estar na direção do veículo” como elemento normativo do

art. 303, o próprio CTB define, no seu art. 1º, que é “trânsito a utilização das vias por (...) veículos (...) conduzidos ou não, para fins de circulação, parada, estacionamento

(...)”. Assim, o fato de o condutor deixar de acionar o freio de mão e, no momento do resultado (colisão), estar fora do veículo, não afasta a aplicação da lei de trânsito.

A jurisprudência reproduz vários casos

em que a conduta configurou crime de trânsito: “se o responsável pelo veículo não toma as providências que lhe são obriga-tórias, afasta-se do veículo e este vem a

ser objeto de acidente, evidente que infringiu norma relativa ao Código de Trânsito Brasileiro” (TJSP, ACR 990102829626, Rel. Des. MARCO NAHUM); “estando o veículo estacionado (...), tendo disparado [sic] atingindo a vítima configura uma situação regulada pelo Código de Trânsito, segundo expressas disposições legais, eis que não importa se o veículo seja con-duzido ou não” (TJRJ, EIN 64/2009, Rel. Des. ANGELO GLIOCHE).

Diante da interpretação que os tri-bunais têm conferido aos dispositivos mencionados, o acidente causado por veículo, ainda que sem condutor, pode estar sujeito à aplicação do CTB.

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No último dia 29 de janeiro passou a viger no país a nova Lei Anticorrupção (Lei n° 12.846/2013), que dispõe sobre a responsabilização administrativa e civil de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública.

Dentre as diversas inovações, talvez a maior delas resida na possibilidade de se responsabilizar objetivamente a pes-soa jurídica pelos atos lesivos praticados em seu interesse ou benefício. Isto é, a pessoa jurídica responderá pelos atos de seus funcionários ou representantes independentemente de culpa, ciência ou de ter, de qualquer modo, concorrido para a prática do ilícito.

A redação original do projeto de

lei abraçava o consagrado conceito de culpa (“lato sensu”), ao estabelecer que dependeria da comprovação de dolo ou culpa a aplicação das sanções. No entanto, ela foi vetada justamente ao argumento de que o dispositivo “contra-ria a lógica norteadora do projeto de lei, centrado na responsabilidade objetiva de pessoas jurídicas”. Restou assim reafirma-do o propósito moralizador da norma, a despeito de todas as críticas que está re-cebendo e dos questionamentos quanto à constitucionalidade de seus dispositi-vos – especialmente este, que atribui a responsabilidade objetiva à empresa.

Considerando-se a gravidade das sanções previstas na nova lei, dentre as

quais multa que pode chegar a 20% do faturamento bruto; publicação da deci-são condenatória, às expensas da em-presa, e até mesmo a sua dissolução, há, realmente, muito com o que se preocu-par. O controle absoluto das ações de todos os colaboradores, mesmo pelas empresas que primam pela legalidade e pela ética na condução de seus negó-cios, é tarefa virtualmente impossível. No entanto, a adoção de mecanismos e procedimentos internos de auditoria, além de códigos de ética e de conduta, pode vir a atenuar a pena, pelo que, do-ravante, devem passar a constituir ferra-mentas imprescindíveis ao exercício de suas atividades.

STJ fixa prazo para armazenamento de dados pela Google

A Lei Anticorrupção e a responsabilidade objetiva da pessoa jurídica

JULIO BROTTO

PATRÍCIA NYMBERG

A tese da provedora Google, de que não está obrigada por lei a armazenar os dados dos usuários, como justificativa para o não cumprimento das decisões judiciais que a obrigam a fornecer a identificação não prospera no Judiciário.

Já está pacificado no STJ o enten-dimento de que o oferecimento de um serviço por meio do qual se possibilita a livre divulgação de opiniões obriga o provedor a ter o cuidado de propiciar meios para que se possa identificar cada um desses usuários, coibindo o anoni-mato e atribuindo a cada imagem uma autoria certa e determinada.

Quanto ao tempo de conservação

dessas informações, decidiu-se recen-temente que “considerando que sua ob-tenção visa a possibilitar o exercício da pretensão de reparação civil por danos materiais e morais, deve ficar, como regra, o prazo de 03 anos previsto no art. 206, § 3º, V, do CC/02, contado do dia em que o usuário cancelar o serviço.” (Recurso Es-pecial nº 1.417.641/RJ, Relatora Ministra NANCY ANDRIGHI).

Sobre o argumento de que o prove-dor não teria capacidade técnica para armazenamento dos dados por tal perí-odo, diante do enorme número de usu-ários, a Ministra rebate: “Não há como conceber que provedores de serviços de

Internet, cuja própria atividade pressupõe a utilização das mais modernas e avança-das tecnologias em matéria digital, res-ponsáveis pelo tráfego e armazenamento de um volume brutal de informações, não tenham espaço em seus servidores para manter o registro dos dados pessoais de seus usuários”.

Por fim, vale mencionar que, não for-necendo os dados, responde o provedor por sua omissão.

DIREITO CIVIL

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A fiança prestada por apenas um dos companheiros na constância da união estável

Segundo a Súmula 332 do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA “a fiança prestada sem autorização de um dos cônjuges im-plica a ineficácia total da garantia.” Re-centemente aquela Corte, no julgamen-to do Recurso Especial nº 1.299.866/DF, analisou se tal verbete poderia ser apli-cado também à união estável, ou seja, se seria nula a fiança dada por apenas um dos companheiros.

A conclusão a que chegou foi a de validade da garantia, pois embora não haja qualquer superioridade familiar do casamento sobre a união estável – sen-do ambos acolhidos pela Constituição

Federal – aquele é um ato jurídico for-mal e solene, com efeitos tipificados no ordenamento jurídico. Além disso, o ca-samento gera publicidade quanto a alte-ração do estado civil dos nubentes e es-pecialmente do regime de bens por eles escolhido, informação primordial para que terceiros possam avaliar o impacto de eventual negociação no patrimônio do cônjuge do contratante.

Tal segurança não se verificaria na união estável, na medida em que ela não exige qualquer solenidade e, além disso, não altera o estado civil dos companhei-ros. Este entendimento, segundo aquele

Tribunal, aplicar-se-ia mesmo na hipóte-se de a união estável constar de escritura pública, que valeria apenas como prova relativa da união. Além disso, não se po-deria exigir do contratante que percor-resse todos os cartórios de notas do país para se certificar da existência de união estável da pessoa com quem negocia.

De qualquer sorte, entende-se que a fiança prestada por apenas um dos companheiros durante a união estável, embora válida, dá ao outro o direito de defender sua meação na hipótese de eventual cobrança judicial e constrição do patrimônio comum.

VANESSA SCHEREMETA

O pagamento do seguro não depende de emissão da apólice

O site do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA veiculou que referida Corte teria recentemente analisado o Recurso Especial nº 1.306.367, na qual um segu-rado teria firmado um contrato de segu-ro e 13 (treze) dias mais tarde teve o seu veículo furtado.

O segurado acionou a seguradora, que recusou a cobertura contratual di-zendo que o contrato não havia sido concretizado em razão de irregularidade no CPF de um dos condutores. Na sequ-ência, logo depois da correção do equí-voco, recusou a cobertura dizendo que se tratava de sinistro preexistente.

A seguradora, que foi derrotada em 1º (primeiro) e em 2º (segundo) grau de jurisdição, recorreu ao SUPERIOR TRIBU-NAL DE JUSTIÇA dizendo que somente estaria obrigada ao pagamento do segu-ro com a formalização do contrato, o que dependeria da emissão da apólice ou da

comprovação do pagamento do prêmio.

O relator do Recurso Especial, Minis-tro LUIS FELIPE SALOMÃO, entendeu que as decisões anteriormente proferidas deveriam ser mantidas, já que o seguro é contrato consensual que se aperfeiçoa com manifestação de vontade, indepen-dentemente da emissão da apólice.

Esclareceu ainda que o ar-tigo 758 do Código Civil não confere à emissão da apólice a condição de requisito de exis-tência do contrato de seguro, tampouco eleva tal documento ao degrau de prova tarifada ou única capaz de atestar a celebra-ção do contrato.

Ao final concluiu-se que a inércia da seguradora em acei-tar expressamente a contrata-ção e, só depois, recusá-la em virtude da notícia da ocorrên-

cia do sinistro, vulnera os deveres da boa-fé contratual.

Como se vê, o entendimento do SU-PERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA visa pro-teger os direitos da parte mais fraca na relação e, principalmente, assegurar o cumprimento do princípio da boa-fé, que deve sempre estar presente nas re-lações contratuais.

JOSÉ ROBERTO TRAUTWEIN

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Caracterizada a falha na prestação do serviço decorrente da emissão de resul-tado errado de exame laboratorial, capaz de mascarar a existência, retardar o diag-nóstico ou até mesmo levar à prescrição de tratamento diverso daquele que seria ministrado para debelar a doença, o la-boratório deve ser responsabilizado pe-los danos morais causados ao paciente.

Referida responsabilidade é objetiva, isto é, independe de culpa, satisfazendo--se apenas com o dano e o nexo causal, nos termos do Código de Defesa do Consumidor, salvo na hipótese de culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro (art. 14, § 3º, da Lei nº 8.078/1990).

O diagnóstico equivocado configu-ra cerceamento ao direito à saúde, por-quanto prejudica a cura da doença e vio-la direito de personalidade, na medida em que causa sofrimento e angústia que foge à normalidade e constitui em agres-são à dignidade da pessoa humana, con-forme entendimento consolidado pelo SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA: “O diagnóstico inexato fornecido por labora-tório radiológico levando a paciente a so-frimento que poderia ter sido evitado, dá direito à indenização. A obrigação da ré é de resultado, de natureza objetiva” (Recur-so Especial nº 594.962/RJ).

Em excelente artigo publicado na Re-vista Magister Direito Empresarial, Con-correncial e do Consumidor (volume 37, p. 5/17, ano 2011), o colega ALEXANDRE KNOPFHOLZ tratou, em sede criminal, daquilo que chamou de vilanização do empresário, fenômeno muito presente na atual realidade social e que inapela-velmente se reflete na criação e interpre-tação do Direito como um todo.

Com o recrudescimento dessa ide-ologia, que impõe controle e fiscaliza-ção absoluta da atividade empresarial, tornaram-se frequentes os pedidos de responsabilização pessoal dos sócios e administradores, com seus patrimônios particulares, por obrigações contraídas pela pessoa jurídica. De medida excep-cionalíssima, a assim chamada descon-

sideração da personalidade jurídica tor-nou-se quase regra.

Atualmente, casos existem em que a autonomia patrimonial entre sócios e pessoa jurídica é afastada com a mera demonstração do estado de inadim-plência da empresa, sem quaisquer ele-mentos que indiquem o desvirtuamento dos seus fins ou abuso na sua utilização, hipóteses restritas para as quais a des-consideração foi legalmente concebida.

Vale ressaltar que a garantia da se-paração entre o patrimônio dos sócios e da empresa constitui a mola propulsora da atividade empresarial, um verdadeiro estímulo da ordem jurídica com vistas ao progresso industrial e comercial. Assim que, fora das situações referidas – abu-so da pessoa jurídica ou desvirtuamento

dos seus fins -, é de se rechaçar a respon-sabilização pessoal dos sócios.

Nesse aspecto, andou bem o pro-jeto do novo Código de Processo Civil, em discussão no Congresso Nacional. O principal mérito da nova lei processual é estabelecer um prévio contraditório: os sócios que se pretende trazer ao proces-so serão citados para apresentar defesa em 15 (quinze) dias, oportunidade na qual poderão demonstrar o descabi-mento do pedido de desconsideração da personalidade jurídica. Assim, fica salvaguardada a ampla defesa e garan-te-se, por via indireta, maior segurança aos empresários e às atividades por eles exercidas em benefício da sociedade.

Erro no resultado de exame

O prévio contraditório na desconsideração da personalidade jurídica

VANESSA CANI

FERNANDO WELTER

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Desde 2007, quando o Brasil foi es-colhido para sediar a Copa do Mundo de Futebol, a frase que intitula o artigo é usualmente ouvida quando os brasilei-ros reclamam dos problemas que asso-lam o seu cotidiano.

Com a proximidade do evento, o que era um mero receio tornou-se uma preo-cupação palpável, na medida em que as “previsões” começaram a se concretizar.

Naquela época, uma das maiores preocupações era o aumento súbito dos preços de bens e serviços no período do mundial, o que se comprovou por meio das inúmeras matérias jornalísticas que vêm noticiando que hotéis, companhias aéreas e restaurantes ignoram suas anti-gas tabelas de preços, passando, injustifi-cadamente, a cobrar valores exorbitantes.

Ciosa de sua responsabilidade, a Secre-taria Nacional do Consumidor recentemen-te reuniu representantes das 12 cidades-

-sede para deliberar acerca das ações que deverão ser tomadas para evitar a prolifera-ção dos atos lesivos aos consumidores.

Segundo a secretária, Sra. JULIANA PEREIRA, serão disponibilizados meios para a rápida solução dos conflitos e “Quem apostar na ineficiência do estado vai se dar mal, pois as abusividades co-

metidas durante a Copa serão muito bem registradas e nenhum evento vai criar um benefício de isenção de cumprimento das normas” (Disponível em: http://agencia-brasil.ebc.com.br/geral/noticia/2014-03/acoes-de-defesa-do-consumidor-na-co-pa-sao-apresentadas-ao-ministerio-da).

Além da torcida pela seleção, será necessário torcer – e muito – para que a promessa de controle efetivo por par-te dos órgãos de defesa do consumidor não caia na mesma vala comum em que hoje se encontram sepultados os inúme-ros aeroportos, estradas, trens-bala que nasceram com a escolha do Brasil como país-sede da copa e morreram antes da realização do evento.

Caso contrário, as inúmeras ações distribuídas pelos consumidores lesados nos próximos 5 anos – prazo prescricio-nal previsto pelo CDC – serão o único legado da copa.

Imagina na copa!

Dia mundial do consumidor (e os serviços de telecomunicações brasileiros)

O dia 15 de março há anos foi re-conhecido pela Assembleia Geral das Nações Unidas como o “Dia Mundial do Consumidor”. A data remete ao discurso proferido por JOHN F. KENNEDY peran-te o Congresso dos Estados Unidos da América em 1962, no qual o então presi-dente suplicou pelo reconhecimento de direitos aos consumidores com a anto-lógica frase de abertura: “Consumers, by definition, include us all”.

Dentre os oito principais direi-tos dos consumidores elencados em 1985 nas Diretrizes para a Proteção do Consumidor da ONU, está o direito de escolha, compreendido como a possi-bilidade de “selecionar a partir de uma

gama de produtos e serviços, oferecidos a preços competitivos com a garantia de qualidade satisfatória”.

No âmbito das telecomunicações brasileiras não há verdadeiramente uma escolha (senão uma escolha de Sofia), já que em todos os serviços a qualidade é precária e os preços não são justos.

Como medida paliativa, em fevereiro deste ano a ANATEL aprovou o “Regula-mento Geral de Direitos do Consumidor de Serviços Telecomunicações (RGC)”, objetivando ampliar os direitos de quem utiliza telefonia fixa e móvel, internet e televisão por assinatura.

O documento publicado no Diário

Oficial em 10/03/2014 estabelece, por exemplo, a possibilidade de cancela-mento automático do serviço sem ne-cessidade de se falar com um atendente da operadora, assim como o direito ao não recebimento de mensagem de texto de cunho publicitário em seu aparelho celular, salvo consentimento prévio, livre e expresso.

Dentro de oito meses o consumidor também passará a ter acesso, sem ônus e no prazo máximo de 72 (setenta e duas) horas, ao histórico de suas demandas, o qual deverá ser arquivado pela prestado-ra por um período mínimo de três anos.

A iniciativa ajuda, mas está longe, muito longe, de resolver.

CÍCERO LUVIZOTTO

LAÍS BERGSTEIN

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Conforme redação do artigo 927 do Código Civil, “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”, sendo que a indenização a ser fixada se mede pela extensão do dano (art. 944 do CC).

Nesse raciocínio, nos casos de morte, além do pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família, o artigo 948 do referi-do diploma legal prevê a “prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração pro-vável da vida da vítima”.

Igualmente, quando “da ofensa resul-tar defeito pelo qual o ofendido não possa

exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a in-denização, (...) incluirá pensão correspon-dente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu”. (art. 950 do CC).

Nesta última hipótese, o Código Civil concede ao prejudicado a faculdade de exi-gir o pagamento da indenização de uma só vez (art. 950, parágrafo único do CC).

Diante disso, questiona-se: esse di-reito de requerer o pagamento único da indenização se estenderia também ao pensionamento decorrente da morte?

A resposta dada pelo SUPERIOR TRI-BUNAL DE JUSTIÇA no julgamento do

Recurso Especial nº 1.393.577/PR é ne-gativa. Nas palavras do Relator Ministro HERMAN BENJAMIN, “o pagamento de uma só vez da pensão por indenização é faculdade estabelecida para a hipótese do caput do art. 950 do CC, que se refere ape-nas a defeito que diminua a capacidade laborativa, não se estendendo aos casos de falecimento”.

No caso discutido, o STJ deu pro-vimento ao Recurso do ESTADO DO PARANÁ para afastar o pagamento de indenização única fixada pelo Tribunal de origem em razão da morte da vítima causada por disparos de arma de fogo por policiais militares que abordaram o veículo em que ela estava.

Indenização por morte: forma de pagamento da pensão

Contratos internacionais e Convenção de Viena

A Convenção das Nações Unidas sobre Contratos de Compra e Venda In-ternacional de Mercadorias (CISG) entra em vigor no Brasil, com status de lei fe-deral, a partir de 1º de abril de 2014. A Convenção, também referenciada como Convenção de Viena, passará a ser lei aplicável aos contratos internacionais de comercialização de mercadorias, excluí-dos aqueles de consumo, que continu-arão regidos pelo Código de Defesa do Consumidor.

A adesão do Brasil à CISG merece aplausos e a euforia com sua entrada em vigor pode ser justificada pelo seu sucesso no cenário do comércio interna-

cional. Assinada em 1980 e entrada em vigor em 1988, a CISG conta atualmente com 80 países signatários, dentre eles grandes potências do comércio mundial, como os Estados Unidos e a Alemanha. Ao adotar uma legislação comum para regência de relações entre partes situ-adas em distintos países, a CISG possi-bilita relevantes ganhos em segurança jurídica e previsibilidade da lei aplicável, reduzindo os custos de transação.

Questão primordial tratada pela Con-venção é a uniformidade na sua aplica-ção. Os desafios lançados são muitos, especialmente porque a CISG já vem sendo competentemente aplicada na

experiência estrangeira, havendo uma sólida jurisprudência internacional fir-mada acerca de sua interpretação.

Como lei brasileira, a CISG lança aos advogados, ao Poder Judiciário, bem como às Cortes arbitrais, a necessidade de aplicação regida em prol de seu cará-ter uniforme, o que perpassa um estudo aprofundado das construções edifica-das ao longo de sua vigência. Caberá às empresas brasileiras a adaptação à nova legislação que, em grande medida, substitui as disposições do Código Civil aplicáveis à compra e venda quando se estiver diante de contratos de caráter in-ternacional.

RENATA STEINER

EMILLY CREPALDI

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A inovação trazida pelo Código Civil de 2002 quanto à transmissão da obriga-ção alimentar no caso de falecimento do alimentante vem sendo constantemente debatida em nossos Tribunais.

A questão, inicialmente tratada pelo art. 402 do Código Civil de 1916, não ensejava maiores debates, uma vez que tal dispositivo enunciava expressamen-te que a obrigação de prestar alimentos não se transmitia aos herdeiros do de-vedor. Assim, o caráter personalíssimo e intransmissível da obrigação era questão pacífica e consolidada em nosso ordena-mento jurídico.

Com o advento da Lei do Divórcio (Lei nº 6.515/77), cujo art. 23 prevê a transmis-são da obrigação aos herdeiros do deve-dor, limitada às forças da herança, o tema passou a dividir opiniões entre doutrina-dores e operadores do direito. A entrada em vigor do Código Civil atual (2002) não foi capaz de pacificar os entendimentos, haja vista a possibilidade de interpre-tações distintas em razão do texto final aprovado: “art. 1.700. A obrigação de pres-tar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor, na forma do art. 1.694”.

Atento aos princípios norteadores do direito de família e das sucessões, o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, em

recente julgado, (Recurso Especial nº 1337862/SP. DJ 20/03/2014), entendeu, em harmonia com a doutrina majoritá-ria, que a transmissão a que se refere o referido art. 1.700 diz respeito à obriga-ção e não ao direito.

Assim, nos termos do acórdão da la-vra do Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, o espólio apenas responde como réu em ação de alimentos se houver obrigação alimentar do de cujus preestabelecida por acordo ou sentença, pois, em razão do caráter personalíssimo da obrigação, não se pode falar em transmissão do de-ver jurídico aos herdeiros.

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No final do mês de março, foi aprova-da na Câmara dos Deputados a redação final do projeto de lei nº 8.046/2010 que institui o novo Código de Processo Civil. Embora o texto siga para o Senado, ao que tudo indica em pouco tempo tere-mos uma nova lei processual.

Ainda que surja uma esperança no combate à lentidão e à ineficiência do sistema judicial, sabe-se que a lei é ape-nas um dos fatores da mudança. Isto porque o grande problema reside na fal-ta de estrutura física, tecnológica e hu-mana nos fóruns e tribunais espalhados pelo país. Gabinetes com pouco espaço, falta de assessores e um volume cres-cente de demandas explicam, em parte,

a ineficiência do sistema.

Mas é inegável que o novo Código trará alterações positivas. Dentre elas, a ordem cronológica de julgamentos. Funcionários de cartório ou magistrados não poderão mais escolher aleatoria-mente os processos que serão senten-ciados. Deverão ser julgados, em primei-ro lugar, aqueles que estiverem há mais tempo aguardando a decisão. Embora pareça óbvia, a regra até então não exis-tia, o que permitia desigualdades.

Outra novidade relevante é a simplifi-cação da tutela antecipada, a qual passa agora a ser vista como uma técnica de jul-gamento, autorizando decisões cautelares e satisfativas. Dispensa-se assim a neces-

sidade de uma ação cautelar e uma ação principal para tratar do mesmo assunto. E, no caso da tutela satisfativa de urgên-cia, será possível que a decisão liminar se torne definitiva, caso a parte contrária não apresente impugnação. É a chamada esta-bilização da tutela antecipada. Isso trará, certamente, maior celeridade.

Vale ainda destacar a regra que esta-belece novos honorários advocatícios na fase recursal, criando deste modo um im-portante desestímulo à interposição de recursos manifestamente infundados.

Há, enfim, várias novidades. Mas to-das elas deverão ser vistas apenas como uma contribuição a mais na luta por uma Justiça mais eficiente.

As mudanças que virão com o novo Código de Processo Civil

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

FERNANDA PEDERNEIRAS

ROGÉRIA DOTTI

Dever do espólio de pagar alimentos

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A Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Pe-nha) configura como violência domés-tica qualquer ação ou omissão contra mulher que lhe cause dano moral ou pa-trimonial, morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico (art. 5º), protegen-do, desta forma, os direitos humanos (art. 6º da referida lei).

Em recente decisão na Apelação Cri-minal nº 1.0024.13.125196-9/001, o TRI-BUNAL DE JUSTIÇA DE MINAS GERAIS reconheceu a aplicação da Lei Maria da Penha para relacionamentos homoafeti-vos entre duas mulheres.

Uma das companheiras, motivada pelo término do relacionamento, em-pregou violência física. O Relator, De-sembargador RENATO MARTINS JACOB, salientou que, tendo em vista o reconhe-cimento de uniões homoafetivas pelo Judiciário brasileiro, as conviventes des-

tes também deverão ser amparadas nos casos de agressão.

Salientou, ainda, que o sujeito passi-vo do crime (vítima) deverá ser mulher, mas que a lei não limitou que o sujeito ativo (agressor) fosse exclusivamente homem, bastando, apenas, que esteja caracterizada a relação doméstica, fa-miliar ou afetiva entre os envolvidos. In-clusive o próprio parágrafo único do art. 5º da referida lei dispõe que: “as relações pessoais enunciadas neste artigo indepen-dem de orientação sexual”.

Nesse sentido é o entendimento da doutrinadora MARIA BERENICE DIAS: “Lés-bicas, transexuais, travestis e transgêneros, que tenham identidade social com o sexo feminino estão ao abrigo da Lei Maria da Penha. A agressão contra elas no âmbito familiar constitui violência doméstica” (A Lei Maria da Penha na Justiça, 2. ed, São

Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p. 58).

Desta forma, a aplicabilidade da Lei Maria da Penha foi mais uma conquista dos casais homoafetivos, que agora tam-bém estarão assistidos juridicamente em casos de violência doméstica.

Aplicação da Lei Maria da Penha em relações homoafetivas entre mulheres

THAIS GUIMARÃES

É crescente o número de tentativas de fraude entre os cônjuges e compa-nheiros, no sentido de subtrair bens que deveriam integrar a partilha, objetivan-do prejudicar a meação do outro consor-te. Muitas vezes, o desvio patrimonial é realizado através de pessoa jurídica da qual um dos cônjuges/companheiros é sócio.

Em atenção a esta prática irregular, tanto a doutrina como a jurisprudência têm aplicado a teoria da desconsidera-ção da personalidade jurídica, chamada também de “disregard theory”. No âmbi-to do direito de família. A aplicação da

“disregard”, de maneira inversa, importa somar ao patrimônio pessoal do cônju-ge/sócio os bens fraudulentamente des-viados à pessoa jurídica, impondo obri-gações à empresa que se locupletou de forma indevida.

O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, inclusive, aplicou recentemente a teo-ria da desconsideração inversa da per-sonalidade jurídica (Recurso Especial nº 1.236.916), afirmando que: “a desconsi-deração inversa da personalidade ju-rídica caracteriza-se pelo afastamento da autonomia patrimonial da socieda-de para, contrariamente do que ocorre

na desconsideração da personalidade propriamente dita, atingir o ente cole-tivo e seu patrimônio social, de modo a responsabilizar a pessoa jurídica por obrigações do sócio controlador”.

Em que pese a desconsideração in-versa ainda tratar-se de inovação, em atenção ao que já ocorre com a descon-sideração regular da personalidade ju-rídica, entende-se que a “disregard” no direito de família deve ser aplicada não só quando o cônjuge/companheiro age culposamente, mas também, quando há indícios de abuso de direito e/ou de con-fusão patrimonial.

Desconsideração inversa da pessoa jurídica: um instrumento de proteção ao patrimônio do cônjuge/companheiro

DIANA GEARA

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A conclusão de curso superior autoriza a inscrição em conselho de classe profissional

ANDRÉ MEERHOLZ

A Constituição Federal assegura a todos o direito ao livre exercício da pro-fissão, desde que atendidos os requisitos de qualificação estabelecidos em lei (art. 5º, XIII). O dispositivo legitima o contro-le do exercício das profissões pelos seus respectivos conselhos de classe, o que se faz essencialmente pela exigência de registro. A medida visa assegurar que somente profissionais tecnicamente habilitados exerçam a profissão regula-mentada, o que, no momento do pedido de inscrição, se comprovaria pela apre-sentação de diploma do curso superior.

Contudo, é inegável que a expedi-ção do diploma é mera decorrência da conclusão do curso superior, o que ver-dadeiramente confere ao profissional a aptidão técnica necessária ao exercício de sua profissão. Não há, portanto, fun-

damento para se restringir o registro à apresentação do diploma. A finalidade da norma será igualmente atendida mediante apresentação de documento comprobatório da conclusão do curso superior no ato de inscrição.

Com respaldo nestes fundamentos, o TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO tem relativizado a exigência da apresentação do diploma para fins de registro, admitindo a prova da conclusão do curso superior como suficiente para tal finalidade: “apesar da exigência legal determinando a apresentação do diploma para a devida inscrição no órgão de classe, em observância ao princípio da razoabili-dade deve-se possibilitar a comprovação da condição de graduado em Medicina Ve-terinária, ainda que por outro documento, também oficial - certificado de conclusão

do curso, permitindo-se, assim, a inscrição provisória no Conselho Regional.” (TRF4 5004377-88.2012.404.7200, Quarta Tur-ma, Relator p/ Acórdão JORGE ANTONIO MAURIQUE, D.E. 12/07/2012).

Pessoa jurídica de direito público não tem direito à indenização por danos morais

FRANCISCO ZARDO

Ao promover ações por ato de impro-bidade administrativa, com frequência o Ministério Público pleiteia a condenação dos acusados ao pagamento de dano moral ao ente público lesado, além do ressarcimento dos prejuízos materiais e da aplicação de multa civil. O acolhimen-to de todos esses pleitos pode propiciar um proveito econômico muito superior ao dano efetivo, configurando enrique-cimento sem causa.

Entretanto, recentemente a Quar-ta Turma do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA decidiu no Recurso Especial nº

1.258.389 que a pessoa jurídica de direi-to público não tem direito à indenização por danos morais relacionados à viola-ção da honra ou da imagem.

De acordo com o Ministro Relator, LUIS FELIPE SALOMÃO, o direito à honra e à imagem são direitos fundamentais. Para que alguém possa sofrer dano mo-ral indenizável é necessário que seja titu-lar de direitos fundamentais. Ocorre que, em regra, os direitos fundamentais são titularizados pela pessoa humana, sen-do oponíveis ao Estado. Não se cogita de direitos fundamentais de natureza ma-

terial do Estado oponíveis ao particular.

O fato da Súmula 227 do STJ preco-nizar que “a pessoa jurídica pode sofrer dano moral” constitui solução pragmáti-ca de recomposição de danos materiais de difícil liquidação, em situações nas quais a ofensa atinge a credibilidade mercadológica da empresa, prejudican-do seus negócios. Como esses riscos não se fazem presentes nas relações manti-das pelas pessoas de direito público, não há fundamento para o pagamento de in-denização por dano moral em seu favor.

DIREITO ADMINISTRATIVO

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O compliance e a responsabilidade penal dos gestores

O princípio da insignificância

VINÍCIUS CIMAcadêmico do 4º ano da Pontifícia Universidade Católica do Paraná

HEVELIN QUINTÃOAcadêmica do 4º ano da Faculdade de Direito de Curitiba

Os grandes escândalos corporativos ocorridos nas últimas duas décadas – casos Enron, Parmalat, Siemens – provo-caram a criação de programas internos de prevenção e cumprimento à lei. Do inglês To Comply (fazer cumprir), o Com-pliance é o conjunto de medidas adota-das na esfera empresarial para assegurar o cumprimento da legislação, bem como dos códigos de conduta internos, pela empresa e seus empregados, garantindo a apuração interna de infrações pratica-das nesse contexto.

O chamado Criminal Compliance são as medidas adotadas especificamente

quanto à prevenção de crimes no âmbi-to corporativo. No Brasil, o tema ganhou especial relevo com a Lei da Lavagem de Dinheiro (Lei nº 9.613/98, recentemente alterada pela Lei nº 12.683/12), que atri-bui aos dirigentes das instituições finan-ceiras e empresas a obrigação de adotar medidas preventivas no combate à lava-gem, podendo ser responsabilizados pe-nalmente pela prática do delito em caso de descumprimento (Dever de Garantia). Também, a nova Lei Anticorrupção (Lei nº 12.846/13) estabelece sanções à pes-soa jurídica considerada responsável por atos lesivos à administração pública. Vale lembrar que, no notório caso do Mensa-

lão, houve condenações pelo crime de Lavagem de Dinheiro fundamentadas na ausência de adoção de medidas de Compliance.

Assim, impõe-se às empresas a ado-ção de programas de prevenção, como a criação da posição de Compliance Offi-cer, por exemplo, pessoa responsável por assegurar o cumprimento das nor-mas pertinentes. Neste caso, importante destacar a possibilidade da responsabi-lidade penal pessoal deste agente, per-sonificando o dever de garantia imposto, via de regra, aos gestores, ou, ainda, à empresa (no caso de crimes ambientais).

Nos estudos de Direito Penal há a máxima em latim que diz ser ele a ultima ratio, o que significa que deve ser consi-derado o último recurso do Estado para determinados fatos. Sua aplicação, por-tanto, deve ser sempre para os casos de ilegalidades que realmente mereçam as penas que a lei impõe.

De tal modo, no contexto criminal, surge o Princípio da Insignificância, um dos mais importantes a serem utilizados pelo julgador quando está diante de fato que, ainda que possa ser avaliado negati-vamente, não pode atrair as graves con-sequências penais. Exemplo disto são os

furtos de objetos/produtos de pouco va-lor que, em geral, são praticados por pes-soas das classes mais baixas. A situação social que vivenciam, por vezes, determi-na atitudes, impelidas pela necessidade, como o furto de alimentos, remédios, produtos de limpeza, dentre outros.

Importante salientar que este prin-cípio, em nenhuma hipótese, provoca a impunidade ou o perdão destes delitos. O objetivo é destacar a importância do Direito Penal para questões de maior re-levância, bem como não infligir sanções em situações em que teria caráter muito mais negativo do que pedagógico, com

sérios danos futuros em relação ao autor do delito. Porém, para este princípio ser considerado, há requisitos listados pelo STF que devem ser preenchidos: mínima ofensividade da conduta; ausência de periculosidade social; baixo nível de sua reprovabilidade; inexpressiva lesão jurí-dica gerada com a mesma.

Deste modo, vê-se, em casos como estes, que a criminalidade pode ser fru-to, em grande parte, dos problemas de desigualdade e que o Direito Penal, apli-cado de forma responsável, não se pres-ta somente à punição, mas deve guardar importante feição social.

ESPAÇO LIVRE DOS ESTAGIÁRIOS

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O Marco Civil da internet WILLYAM GUILHERME SANDRI JUNIORAcadêmico do 2º Ano da Universidade Positivo

O projeto de lei do Marco Civil da Internet (PL nº 2126/2011) foi aprovado recentemente na Câmara dos Deputa-dos. Se sancionada, a lei será a “consti-tuição” da rede mundial de computado-res no Brasil.

A aprovação dessa lei trará para os usuários da internet direitos como: a in-violabilidade e sigilo de suas comunica-ções, exceto por investigação criminal, in-violabilidade da intimidade e vida privada do usuário; a não suspensão da conexão de internet, salvo por não pagamento; qualidade da conexão contratada, etc.

A responsabilidade pelos conteúdos

postados na rede será dos usuários que publicam. Os provedores de acesso não poderão ser responsabilizados por danos gerados pelos seus usuários. No entanto, os provedores de conteúdo serão respon-sabilizados caso não acatem os prazos judiciais de retirada de conteúdos do ar.

Um dos grandes pilares do projeto é a neutralidade da rede. O texto proíbe que os provedores de internet discrimi-nem certos serviços em detrimento de outros. Isso na prática significa que as empresas não poderão diminuir a veloci-dade da conexão após o uso de serviços como download de torrents, por exemplo.

O projeto ainda prevê que a guarda de todos os registros seja feita de forma anônima, ou seja, os provedores poderão guardar o IP do usuário e jamais as suas informações. As retiradas dos conteúdos postados só podem ser feitas mediante decisão judicial, exceto aqueles que in-frinjam matéria penal que poderão ser retirados de imediato.

A lei do Marco Civil será um grande avanço de adaptação do legislador à re-alidade social. Além de prever os direitos e deveres dos usuários, ele define o pa-pel do Estado para a concretização des-ses direitos.

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Mandado de segurança coletivo: legitimidade e objeto

O casamento e a aplicabilidade da Lei Maria da Penha na proteção de vítimas de crimes de violência patrimonial

WILLIAN FELIPE BRANDÃOAcadêmico do 4º ano da Faculdade de Direito de Curitiba

ANTONELLA CEQUINEL THÁAcadêmica do 2º ano da Faculdade de Direito de Curitiba

O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por partido polí-tico com representação no Congresso Nacional, por organização sindical, en-tidade de classe ou associação legal-mente constituída e em funcionamento há pelo menos 1 (um) ano, na defesa de interesses líquidos e certos de seus membros ou associados, desde que pertinentes às suas finalidades (art. 5º, LXX, ‘a’ e ‘b’ da CF, c/c art. 21 da Lei nº 12.016/09).

O mandamus será admitido para proteger direito líquido e certo sempre que, ilegalmente ou com abuso de po-der, qualquer pessoa física ou jurídica

sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-la por parte de autoridade no exercício de atribuições do poder públi-co, no que disser respeito a essas atri-buições e desde que essa violação não seja amparada por habeas corpus ou ha-beas data (art. 5º, LXIX da CF, c/c art. 1º, caput e § 1º da Lei nº 12.016/09).

Delineadas as legitimidades ativa e passiva, sucintamente conceituadas a partir dos textos da Constituição e da Lei nº 12.016/09, o mandado de segu-rança coletivo tem por objeto a defesa de direitos difusos, coletivos e individu-ais homogêneos.

Como exemplo de possibilidade

de sua aplicação, em tese, um partido político com representatividade no Congresso Nacional teria legitimidade para impetrar mandado de seguran-ça coletivo contra ato de autoridade que autorize a instalação de indústria com potencial de poluir mananciais. Estando a proteção ao meio ambiente dentre as suas finalidades partidárias, se configuraria o interesse legítimo do partido a pleitear a defesa deste im-portante direito, cujos prejuízos não podem ser calculados individualmente em caso de dano.

A Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006) prevê uma série de me-didas protetivas em casos de violência doméstica ou familiar contra a mulher. De acordo com seu artigo 7º, uma das vias pelas quais ela se realiza é a vio-lência patrimonial, entendida, em seu inciso IV, como “qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instru-mentos de trabalho, documentos pesso-ais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades”. Essa vio-lência acaba sendo negligenciada nos

primeiros atendimentos nas delegacias, ocasionando pouca punição por parte do Direito Penal nos crimes de cunho patrimonial contra a mulher.

Muito disso deve-se à isenção de pena a quem comete crimes contra o patrimônio de seu cônjuge na constân-cia da sociedade matrimonial (exclui-se união estável) estabelecida pelo art. 181 do Código Penal. Já nos casos de o agressor ser divorciado ou judicial-mente separado da agredida, não só há punição pelo crime, como há a incidên-cia da Lei Maria da Penha. Entretanto, somente pode-se proceder mediante

queixa formal da vítima (art. 182, CP). Por fim, por determinação do art. 183, CP, quando os crimes forem de roubo, de extorsão, ou delitos com emprego de grave ameaça ou violência à pessoa, ou ainda, contra vítima de 60 anos ou mais, não se aplicam os arts. 181 e 182, CP, tornando-se tais condutas puníveis pela ótica do Direito Penal e a mulher protegida pela Lei nº 11.340/2006. Nes-ses casos não haverá necessidade de re-presentação por se tratar de uma ação pública incondicionada, bastando ape-nas a denúncia do Ministério Público.

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Artigo 1° Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade. Artigo 2° Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a alguma limitação de soberania. Artigo 3° Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Artigo 4° Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos. Artigo 5° Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. Artigo 6° Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento, em todos os lugares, da sua personalidade jurídica. Artigo 7° Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual protecção da lei. Todos têm direito a protecção igual contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação. Artigo 8° Toda a pessoa tem direito a recurso efectivo para as jurisdições nacionais competentes contra os actos que violem os direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição ou pela lei. Artigo 9° Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado. Artigo 10° Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e publicamente julgada por um tribunal independente e imparcial que decida dos seus direitos e obrigações ou das razões de qualquer acusação em matéria penal que contra ela seja deduzida. Artigo 11° 1. Toda a pessoa acusada de um acto delituoso presume-se inocente até que a sua culpabilidade fique legalmente provada no decurso de um processo público em que todas as garantias necessárias de defesa lhe sejam asseguradas. 2. Ninguém será condenado por acções ou omissões que, no momento da sua prática, não constituíam acto delituoso à face do direito interno ou internacional. Do mesmo modo, não será infligida pena mais grave do que a que era aplicável no momento em que o acto delituoso foi cometido. Artigo 12° Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a protecção da lei. Artigo 13° 1. Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residência no interior de um Estado. 2. Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar ao seu país. Artigo 14° 1. Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e de beneficiar de asilo em outros países. 2. Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de processo realmente existente por crime de direito comum ou por actividades contrárias aos fins e aos princípios das Nações Unidas. Artigo 15° 1. Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade. 2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do direito de mudar de nacionalidade. Artigo 16° 1. A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar e de constituir família, sem restrição alguma de raça, nacionalidade ou religião. Durante o casamento e na altura da sua dissolução, ambos têm direitos iguais. 2. O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno consentimento dos futuros esposos. 3. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à protecção desta e do Estado. Artigo 17° 1. Toda a pessoa, individual ou colectivamente, tem direito à propriedade. 2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade. Artigo 18° Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos. Artigo 19° Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e idéias por qualquer meio de expressão. Artigo 20° 1. Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas. 2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação. Artigo 21° 1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direcção dos negócios, públicos do seu país, quer directamente, quer por intermédio de representantes livremente escolhidos. 2. Toda a pessoa tem direito de acesso, em condições de igualdade, às funções públicas do seu país. 3. A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes públicos: e deve exprimir-se através de eleições honestas a realizar periodicamente por sufrágio universal e igual, com voto secreto ou segundo processo equivalente que salvaguarde a liberdade de voto. Artigo 22° Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode legitimamente exigir a satisfação dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis, graças ao esforço nacional e à cooperação internacional, de harmonia com a organização e os recursos de cada país. Artigo 23° 1. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições equitativas e satisfatórias de trabalho e à protecção contra o desemprego. 2. Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual. 3. Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que lhe permita e à sua família uma existência conforme com a dignidade humana, e completada, se possível, por todos os outros meios de protecção social. 4. Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas sindicatos e de se filiar em sindicatos para defesa dos seus interesses. Artigo 24° Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres, especialmente, a uma limitação razoável da duração do trabalho e as férias periódicas pagas. Artigo 25° 1. Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bemestar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade. 2. A maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozam da mesma protecção social. Artigo 26° 1. Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e profissional dever ser generalizado; o acesso aos estudos superiores deve estar aberto a todos em plena igualdade, em função do seu mérito. 2. A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos do homem e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das actividades das Nações Unidas para a manutenção da paz. 3. Aos pais pertence a prioridade do direito de escholher o género de educação a dar aos filhos. Artigo 27° 1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios que deste resultam. 2. Todos têm direito à protecção dos interesses morais e materiais ligados a qualquer produção científica, literária ou artística da sua autoria. Artigo 28° Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e no plano internacional, uma ordem capaz de tornar plenamente efectivos os direitos e as liberdades enunciadas na presente Declaração. Artigo 29° 1. O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível o livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade. 2. No exercício destes direitos e no gozo destas liberdades ninguém está sujeito senão às limitações estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a promover o reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e a fim de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar numa sociedade democrática. 3. Em caso algum estes direitos e liberdades poderão ser exercidos contrariamente aos fins e aos princípios das Nações Unidas. Artigo 30° Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada de maneira a envolver para qualquer Estado, agrupamento ou indivíduo o direito de se entregar a alguma actividade ou de praticar algum acto destinado a destruir os direitos e liberdades aqui enunciados.

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Abril / Maio / Junho / 2014Ano 9 | Número 24

Tiragem: 2.000 exemplares Foto da capa: Guilherme Alonso

Impressão e acabamento: Maxi Gráfica

Boletim Trimestral do Escritório Professor René Dotti

Projeto gráfico e diagramação:IEME Comunicação | www.iemecomunicacao.com.br

Jornalista Responsável: Taís Mainardes DRT-PR 6380

Publicação periódica de caráter informativo com circulação dirigida e gratuita.

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