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fanzine | edição 01 | novembro 2011 cAfEínA literatura | quadrinhos | ilustras e o que mais der na telha

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Literatura, Ilustração, Quadrinhos e o que mais der na telha

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Page 1: Edição 01 Fanzine Cafeína

fanzine | edição 01 | novembro 2011

cafeína

literatura | quadrinhos | ilustrase o que mais der na telha

Page 2: Edição 01 Fanzine Cafeína

Quem faz “a” Cafeína:Textos - Sanção Maia (@sancaomaia) Ilustrações e quadrinhos - Lila Cruz (@colorlilas)Cafeína é um zine bimestral. Quer saber onde encontrar? Entre em contato pelo facebook!

Era só uma ideia na cabeça sem câ-mera na mão. Numa conversa a base de café – bebida que nos acompanha desde os nossos primeiros encontros – é que resolvemos trabalhar juntos. O Cafeína é uma extensão de desejos individuais que se tornaram mútuos: o meu, de publicar minhas “crianças textuais”, e o da Lila, de publicar as ilustras “inquietantes” dela. Nesta edição inaugural - regada à David Bowie, White Stripes, Foo Fighters e um bocado de rock - você encontra quadrinhos, ilustrações, poesias e prosas. Agora é sentar, encher uma xícara de café e “se ligar” (péssimo publici-tário) “na” Cafeína!

Sanção Maia

aluga-se!

editorial

Você estava procurando um lugar pra publicar o seu trabalho? Quer mostrar

suas poesias, seus desenhos, seus textos para o mundo (mentira, para Salvador,

por enquanto)? Você pode estar no lugar certo! Entre em contato com a gente pelo

twitter ou facebook, mostre o que você faz e venha, que é di grátis!

Hoje é dia de rock, bebê!

Lila Cruz

Page 3: Edição 01 Fanzine Cafeína

Música,

magia,

café

O local era um pouco abafado, mas bonito. Havia variedades na forma pre-parar chás, cafés, sucos, bolos, biscoitos, rosquinhas; mesas pequenas, circulares e de cor escura; aquelas cadeiras e sofás acolchoados com forros de cor vermelha e almofadas de diversos tons. O lugar era pequeno, mas o clima era o melhor: músicas gostosas, ornamentos bem feitos, atendimento excelente. Nesse altar de be-lezuras, tudo era perfeito para aquele dia. Era um final de tarde de uma sexta-feira fria e agitada. Todos querendo ir para suas casas deitar em suas camas cheias de edredons, TVs com bons fil-mes e um gostoso chocolate quente. No café pouco movimento. Em dias como esse quase ninguém aparece. As mesas estavam vazias com garçons e garçonetes parados e o balcão sem fregueses jogando charme para a linda atendente. BLÉM, BLÉM! – O sino tocou por causa da porta aberta. Um jovem, molhado pela forte chuva entra encharcado e pendura o ca-saco no suporte na parede – BLÉM, BLÉM! – mais alguém entra no local. Uma jovem, tão molhada como o rapaz que entrou, sa-cudia o corpo enquanto retirava o sobre-tudo. Eles se sentaram em mesas opostas: ele se debruçou sobre seus papéis e ela ficou entretida com seus livros. Foram servidos e cada um pegou suas xícaras; eles iam bebendo e se entreolharam. Em minutos, uma torta e um sal-gado de queijo e presunto foram servidos nas mesas. Como num toque de mágica, a garçonete ligou o som e ampliou os sentidos dos fregueses: ele passava a mão no cabelo ainda molhado e ela ajeitava uma mexa do cabelo atrás da orelha. Ao som de Me and Mrs.Jones, na voz de Billy Paul, um papel chega na mesa do rapaz com os dizeres “bonito cabelo e bonita música. Rsrsrs”. Com um sorriso tímido e aos melismas do cantor norte-americano, ele levantou e foi até a mesa daquela moça bonita. A doçura do ambiente

ditava as regras daquele simplório flerte. A bossa-nova entre em cena; encostados num sofá o papo fluía; ele é escritor, ela é cineasta; Carta ao Tom, na voz de Vinícius e Tom Jobim, com Toquinho no violão, aproximam o café, os povilhos e as mãos. Uma seleção com as melhores de Piaf: um clichê que conquista qualquer casal. Para que trocar telefones? Um beijo de cinema francês resolveu tudo. Assim, os aplausos dos que assistiam aquilo se estendeu. A magia de um café, a magia açucarada regada a música boa. Eles le-vantaram e deram as mãos ao som de Mi-nha Namorada, num dueto entre Vinícius de Moraes e Odete Lara. BLÉM, BLÉM! - A porta foi aberta. A chuva caia fraca; o ra-paz abraçou e beijou a testa da moça; um aceno para platéia que respondeu com gritos e aplausos. BLÉM, BLÉM – a porta se fecha.

Page 4: Edição 01 Fanzine Cafeína

quadrinhos

na mão grande

estereótipos

não acho

que essa roupa

seja ideal

por quevocê não

alisaseu

cabelo?

eu achoseu traçomal-feito,você não

sabedesenhar

azoada!

atrapalhada

desastrada

fala aaaaaaaalto

olhos lindos...ops, esse nãoé o quadrinhode elogios?

só faz tudoerrado!

fala peloscotovelos

maluquinha!ela fala

rápido, né?

Apresento ofuturo da música

brasileira

Vem cá,devorar suaazeitona,TCHURURU

Eu sou uma mulher natural, toda

trabalhada no azeite. Minha música é

urbana, é complexa,é arte. Ah, e sou

ex-bbb.

a mulher azeitona!

com o hit:

Page 5: Edição 01 Fanzine Cafeína

Sábado, 22 de março de 2007. São 21h40. A noite está quente, afinal, é verão. Na rua atrás do shopping Iguatemi, há um homem deitado na calçada. Jogado ao chão, cabelos despenteados e embaraça-dos, só de bermuda, completamente sujo e fedorento, o indivíduo sente dor de fome e suas entranhas se contorcem. Há dias que ele não sabe o que é o sabor delicioso de comida. Deitado no chão, ele se vira de um lado para o outro com dor, com o gosto amargo da fome em sua seca boca. Uma barata passa por seus pés. Ele não tem ação; ele está faminto. Sábado, 22 de março de 2007. São 21h46. Uma família está no 3º piso de sho-pping Iguatemi, exatamente na praça de alimentação; dois adultos e seis crianças; 6 kits de Mc LancheFeliz. As crianças mal dão atenção à comida: hambúrgueres, refrigerantes e batatas fritas são trocados por bonecos do Bob Esponja. Afinal, para quê se alimentar? É importante ver quase 65 reais em comida jogados fora? As crianças mordiscam alguns hambúrgue-res, bebem pequenos goles de refrigerante e vão embora sem comer as batatas: 6 Bob Esponjas saem felizes do shopping. Um funcionário olha todo aquele desperdício de comida e joga tudo no lixo; baratas e ratos estarão bem servidos hoje.

Sábado, 22 de março de 2007. São 22h05. O shopping Iguatemi está de por-tas fechadas. Os funcionários da limpeza levam o lixo para fora - vários sacos de lixo entupidos de comida. Os funcionários olham toda aquela comida, balançam a cabeça negativamente e saem falando da eliminação de alguém do Big Brother. Uma pilha de comida toda apodrecendo no lixo. Um homem que está ali próximo jogado no chão, olha aquilo como uma mina de ouro. Seu corpo mau se mexe por causa nas dores no abdômem. Na sua mente um único objetivo: comer! Ao tentar se levantar vê uma barata passan-do por seu pé e pega a barata; ele não se importa com as doenças que podem ser passadas; ele só se importacom o ban-quete. Ele mastiga a barata como se fosse uma torrada cheia de manteiga. O som dele mastigando a armadura da barata é crocante. Crouch, crouch, crouh e glup! Ele engole a barata e bate na barriga. Agora ele vai ao encontro de seu manjar dos deuses. Sábado, 22 de março de 2007. São 22h32. Os sacos de lixo do shopping Igua-temi estão sendo rasgados. Um mendigo se alimenta da comida podre do lixo. Ele acaba de comer um Big Mac cheio de lar-vas de mosca e baba enquanto mastiga - uma baba sedenta por comida; seu corpo magro e ossudo sente-se forte ao comer

Prelúdio do

desperdício

e da loucura.

Ninguém

mais respeita

a fome

Page 6: Edição 01 Fanzine Cafeína

aquela porcaria. Um rato grande, vindo dos esgotos da Avenida ACM, passa e olha toda aquela comida e vai de encontro a ela. O homem olha o rato e o espanta, mas este continua a investir em cima do monte de podridão. Então, o homem toma uma decisão: seu rosto maléfico diz algo. Ele pega a ratazana e essa por sua vez, o morde; ele não largou o bicho; chega perto do rato, abre a bocarra e com uma mor-dida tira um pedaço das costas do rato. O rato se debate na mão do homem. Este ri e, com a boca toda ensangüentada, morde outra vez o rato. O bicho é largado morto no chão pelo homem. O morador de rua, todo sujo de sangue, olha o rato e pisa em cima: suas tripas explodem, tamanha a força usada pelo indivíduo. Nada vai tirar daquele ser humano o direito de ter uma comida só dele. Nada. Sábado, 22 de março de 2007. São 23h10. O homem ainda come a comida do saco de lixo. Uma viatura da polícia procura um vagabundo comedor de lixo. Os garis da Limpurb denunciaram que um maluco comedor de ratos estava no lixo do shopping Iguatemi avançando em qualquer um que tentasse chegar perto. A polícia logo identificou o “elemento”. Eles olham com desprezo e raiva para aquele homem. " Meu turno vai começar com uma disgraça dessa!", pensa um policial. Os guardas descem da viatura, um Che-vrolet Meriva 2005, 1.8, e olham o homem e este devolve o olhar. Desconfiado, o mendigo começa a se afastar: os policiais vão chegando mais perto; o homem vai se afastando ainda mais. Quando um dos policiais estende a mão para falar com o faminto, este o morde e saí correndo. O parceiro da vítima abocanhada vai atrás do meliante. O homem corre desespera-do para o Caminho das Árvores; o poli-cial, tendo em média seus 25 anos, bem alimentado e frequentador de academia, corre atrás dele. O meliante corre. Corre como uma flecha! Corre como uma bala!

CRASH! O homem é jogado para longe pelo carro que acabou de atropelá-lo. Ele sai rolando no chão e cai sentindo mui-ta dor. Sua perna direita está quebrada. Fratura exposta. O sangue escorre pelo asfalto. Na perna machucada, o osso da canela está quase todo para fora.; ele não tem forças para gritar por tamanha dor que sente.

Domingo, 23 de março de 2007. São 00h10. No lixão de Salvador, no CIA/Aeroporto, uma viatura da polícia acaba de chegar; os policiais descem do carro, abrem o porta-malas e tiram um corpo. Um homem com uma fratura na perna direita é jogado para fora do porta-malas do Meriva e colocado em cima de um monte de lixo. Os policiais se deliciam em começar a chutar um mendigo indefeso. O guarda que levou a mordida do me-liante chuta bem na perna quebrada. - HaHaHaHa! - riem os policias ouvindo os gritos de socorro do homem magro e com a perna ensanguentada. E então, num ato de extrema crueldade, os dois polícias sacam as suas armas, duas pistolas calibre 38 e disparam todas as balas no homem indefeso e machucado. "Queijo suíço", pensou um deles. Ao terminar as balas, os políciais entram no carro e vão embora como se nada tivesse acontecido. Domingo, 23 de março de 2007. São 07h00. O cheiro do cadáver chama os urubus. Eles hoje tem o que comer. Um manjar dos deuses. O manjar da injusti-ça, da fome e da desigualdade.

Page 7: Edição 01 Fanzine Cafeína

Estes dias assisti uns filmes sensa-cionais na Saladearte. O que mais me chamou atenção foi “A Chave de Sarah”. O longa conta a história de uma jorna-lista que, ao fazer uma matéria sobre a concentração no Vélodrome d’Hiver - um estádio no qual dezenas de milhares de judeus ficaram presos antes de serem enviados para Auschwitz - descobre que seu apartamento era de uma família de judeus que foi deportada. Uma série de fatos se desenrola daí: todos muito bem descritos, arredondados em uma trama perfeita, que se fecha completamente. O mais importante a se observar ali - além das histórias intercaladas das persona-gens - é a crueldade dos fatos e o modo como uma ideia tomou conta da Europa, da força de uma ideia. E invariavelmente fazemos associações à Palestina, à Faixa de Gaza, ao Iraque. E tem gente que acha que isso não é atual. Assista!

o quê

mais?Rapaz que ri peladochupando uma manga e mostra seus dentes cheios de fiapos para a câmera

dicas para você aparecer na web

Menina de 16 anos cantandofunk proibidão depois decomer farofa

jovem de 14 anos quepõe pelo do sovaco nofeijão da mãe

A geração y e os vídeosde internet

Page 8: Edição 01 Fanzine Cafeína

Para um momento de recomeço

FinFoi exaltante ouvir

Aquelas palavras brutais, anima-

lescasque chegavam até mim ser de

inocênciacomo deleite de liberdade

Ah, coração libertário

livre como pássaro,

voo de falcão, magnífica sensa-

çãode voar por linhas e cores,

de planar por semblantes e

formas...Emancipação!

Respira, flutuamergulha desimpedido

Liberta, desatasegue o destinoResgata, renovao ar dos pulmõesRecria, reinventanum voo cheio de emoções

Ínfimo afago,ser calado.

Seus pés,enterrados em poços de amar-

gura,enraízam nessa terra molesta,

duraraízes erméticas, cadáver

Mundo vão,mundo ermitão.

Deixe a carne deste funesto corpo,

dorso profano,apodrecer nas entranhas,

medonhasdesse errante solo

Ínfimo suspiro,chuva de lágrimas.

Água que molha a terra,terra que seca água.

….….….….

Fim dos dias,sete palmos no chão.