ecumenismo e identidade

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Artigo Aluno: Edson Ronaldo Tressmann As Confissões Luteranas e o Ecumenismo Se com a graça de Deus conseguir concluir o curso de mestrado, pretendo, conforme pesquisa já iniciada, escrever sobre: Identidade e Identificação. Entre os possíveis capítulos a serem desenvolvidos, um é justamente sobre ecumenismo, ao qual via Revista Igreja Luterana apresentarei resumidamente. Agradeço aos professores Dr. Paulo Moisés Nerbas e Dr. Paulo Willi Buss pela oportunidade de fazer essa apreciação. Tivemos uma semana maravilhosa, dias 9 – 13 de janeiro de 2012, no curso de mestrado no seminário Concórdia em São Leopoldo, RS, e de lá veio a nossa proposta de explanar brevemente o tema: As Confissões Luteranas e o Ecumenismo. Quando pensamos sobre Identidade e Identificação, em especial quanto ao ecumenismo nos vem à mente a seguinte pergunta: É possível identificar-se no meio eclesiástico através de uma ação ecumênica? Tentaremos esclarecer a possibilidade de uma prática ecumênica de acordo com as confissões luteranas, para isso, abordaremos as seguintes diretrizes: 1) – A década de 1960 na IELB; 2) – Até onde podemos ser ecumênicos; 3) – Uma olhada nas Confissões; 4) – Conclusão. 1) – A década de 1960 na IELB; Talvez o querido leitor esteja se perguntando, mas qual é o motivo de abordar a década de 1960 na IELB ao se falar sobre ecumenismo? A razão, assim como aborda o Prof. 1

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Muito se fala em ecumenismo. Mas, há limites para o ecumenismo? Quais são as barreiras a serem ultrapassadas? Esse artigo, visa esclarecer essas questões fundamentais sobre o ecumenismo.

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ArtigoAluno: Edson Ronaldo TressmannAs Confisses Luteranas e o Ecumenismo

Se com a graa de Deus conseguir concluir o curso de mestrado, pretendo, conforme pesquisa j iniciada, escrever sobre: Identidade e Identificao. Entre os possveis captulos a serem desenvolvidos, um justamente sobre ecumenismo, ao qual via Revista Igreja Luterana apresentarei resumidamente. Agradeo aos professores Dr. Paulo Moiss Nerbas e Dr. Paulo Willi Buss pela oportunidade de fazer essa apreciao. Tivemos uma semana maravilhosa, dias 9 13 de janeiro de 2012, no curso de mestrado no seminrio Concrdia em So Leopoldo, RS, e de l veio a nossa proposta de explanar brevemente o tema: As Confisses Luteranas e o Ecumenismo.

Quando pensamos sobre Identidade e Identificao, em especial quanto ao ecumenismo nos vem mente a seguinte pergunta: possvel identificar-se no meio eclesistico atravs de uma ao ecumnica? Tentaremos esclarecer a possibilidade de uma prtica ecumnica de acordo com as confisses luteranas, para isso, abordaremos as seguintes diretrizes: 1) A dcada de 1960 na IELB; 2) At onde podemos ser ecumnicos; 3) Uma olhada nas Confisses; 4) Concluso.

1) A dcada de 1960 na IELB;

Talvez o querido leitor esteja se perguntando, mas qual o motivo de abordar a dcada de 1960 na IELB ao se falar sobre ecumenismo? A razo, assim como aborda o Prof. Dr. Paulo Willi Buss em seu livro, Gro de Mostarda, vol, II, pp. 116 121, um dos temas que merece pronunciada ateno ao longo dessa dcada, 1960, justamente o relacionamento com outras igrejas. (BUSS, Paulo Willi, p. 116).

No havia e nem h desejo de isolamento por parte da IELB quanto a igrejas com posio doutrinria idntica. A identidade da igreja era e afirmada atravs da condenao do unionismo.

Na conveno de 1962, o Dr. Johannes Rottmann apresentou um trabalho que levava em considerao a Federao Luterana Mundial, que desejava uma unio entre todas as igrejas luteranas. Destacou-se que a verdadeira unidade do Esprito legitima uma unio entre grupos religiosos diferentes em si, no entanto, no h unidade de f. (BUSS, Paulo Willi, p. 116). A IELB no se filiou a FLM devido a tolerncia de unionismo e pela participao da FLM em grandes movimentos ecumnicos. Para que fosse possvel filiao da IELB com a FLM, seria necessrio que o mesmo cessasse todas as atividades unionisticas e procurasse a verdadeira unidade na Palavra de Deus e nas Confisses Luteranas.

Em 1965, o ento presidente da IELB, Pr. Arnaldo J. Schmidt, trouxe um novo enfoque na questo ecumnica. Apontou os perigos do mesmo, mas por outro lado indicou a oportunidade que a IELB tinha em assumir a liderana teolgica luterana no Brasil. Em 1966, o Pr. Martinho L. Hasse falou sobre a nossa posio em face das tendncias ecumnicas em igrejas do Brasil. Foi denunciado o falso ecumenismo, onde se prope unidade exterior sem unidade doutrinria. Foi denunciado que alguns estariam agindo contrariamente a posio oficial da IELB na questo ecumnica. Tanto que em 1968, o Pr. Presidente Elmer Reimnitz, clamou a todos para a continuao da luta pela preservao da doutrina pura. Para isso, dilogos com outras igrejas podem ser realizadas base da Bblia.

A unidade crist um nobre objetivo, assim como abordaremos no prximo tpico, mas o vinculo da paz no pode ser obtido com sacrifcio da unidade de Esprito. Desprezar a doutrina gera enfraquecimento e no fortalecimento.

Ao longo da dcada de 1960, a LCMS comeou a adotar outra postura frente as igrejas. Tanto que pressionava a IELB, sua filha missionria, a abandonar o isolamento e ter cooperao intereclesistica. Em 1962, o representante da LCMS, Dr. Oliver Harms, pronunciou-se contra o isolamento da igreja diante das outras no mundo. Defendeu o contato e as conversas, prevenindo-se contra o idiferentismo. Vale lembrar que a comunho de plpito e altar com a ALC levou a tendncias teolgicas liberais na LCMS.

A IELB no deixou de dialogar com outras igrejas e organizaes. Tanto que junto a IECLB h publicaes conjuntas, bem como dialogo sobre trabalhos sociais.

2) At onde podemos ser ecumnicos;

Fazemos parte de uma igreja confessional. E o que isso significa? Significa que estamos vinculados ao contedo doutrinrio, em nosso caso, das Confisses Luteranas. E s estamos vinculados a esse contedo, pois, o mesmo extrado da Escritura Sagrada. Assim, ns entendemos as Confisses como exposio bblica. Tendo as Confisses Luteranas, dizemos que como igreja essa a nossa exposio da Bblia. E todas as questes relacionadas nas Confisses Luteranas, so formulaes doutrinrias pelas quais a igreja responsvel, e que est confiada igreja a sua proclamao. Proclamar algo diferente do que ali est expresso dizer-se contrrio a igreja e por assim dizer, a Bblia. Ento nossa ao ecumnica estar voltada quilo que dizem as Confisses, ou melhor, a Bblia.

Sujeitar-se as Confisses confirma o fato de que as Confisses escritas no apenas smbolo de f, mas tambm, regula a vida da Igreja; seu lugar na sociedade, bem como seu lugar no contexto religioso. Para as Confisses Luteranas, o cenrio dentro do qual acontecem os esforos ecumnicos, nada menos do que a busca de total unanimidade confessional na cristandade com respeito aos artigos de f. Pois, os artigos de f esto relacionados ao evangelho, qualquer erro nos artigos de f, acarreta num falso entendimento do evangelho. 3) Uma olhada nas Confisses;

Se dissermos que as Confisses perderam sua atualidade, dizemos que a Bblia tambm perdeu, pois as Confisses so os culos pelos quais se lem as Escrituras Sagradas. Assim, elas tm muito a nos dizer sobre ecumenismo.

Para Lutero o ser confessional no apenas aceitar o contedo das Confisses, mas confess-lo junto ao povo. Esse confessar inclui condenar o erro. A condenao do erro se deve ao amor ao prximo e a verdade. Condenar o erro desejar salvar os errantes. A condenao tem em si carter pedaggico, pois a verdade s revelada aps a condenao do erro.

Assim sendo, queremos agir confessionalmente em meio a esse mundo eclesistico. E parte desse mundo eclesistico est impregnada com idias e aes ecumnicas. E eu, Ielbiano, um confessional, como posso agir? Como adquirir conhecimento para agir dentro de uma poca ecumnica?

Olhemos o texto de Romanos 12.1: no vos conformeis com este sculo.... Segundo as Confisses esse texto diz que no devemos entrar na forma deste sculo. No podemos pensar como este sculo pensa. Eu preciso ouvir o mundo, mas no para agir como ele age, mas para diante disso apresentar a minha posio. Outro texto, Joo 17.17: santifica-os na verdade; a tua palavra a verdade. Que palavra essa? Afinal de contas, vivendo no ps-modernismo, muitos afirmam que cada ser humano tem a sua verdade, no podendo a mesma ser contestada por outro. O esprito ps-modernista uma verdadeira festa no inferno. Tudo relativo, todos esto certos e cada um na sua. Por isso, no podemos nos conformar com este sculo, e orar para que Deus nos santifique na sua palavra.

Nossa identidade confessional nos indica por onde iniciar a nossa discusso quanto ao ecumenismo. Diante do ecumenismo a pergunta, o que a Bblia? muito importante. A resposta que se d a mesma, em si revela uma profunda diferena. Diferena essa que faz toda DIFERENA. No tendo a mesma viso bblica, pode-se at ler e estud-la, mas fica se a dvida sobre o crer na mesma. No se pode saber se h santificao na verdade por parte de todos. Como Igreja Confessional, confessamos que temos a mensagem que une, mas, infelizmente por falsas distores acabam desunindo. E se a prpria interpretao desune, com qual esprito se pretende unir?

As Confisses Luteranas observam dois aspectos na palavra UNIDADE. O primeiro aspecto a questo de f. De acordo com a f a unidade j existe em Jesus Cristo. Nesse ponto, olhamos o movimento ecumnico ao dizer que a unidade deve ser buscada atravs da realizao humana. Ao referi-se ao termo Concrdia, as Confisses Luteranas dizem que no h concrdia entre as igrejas, h diviso. Como confessionais no encaramos essa verdade como uma verdade luterana, mas sim, uma verdade de Cristo e da sua Igreja, expressa de forma clara nas Confisses Luteranas, que so os culos pelos quais se l a Bblia.

Concrdia significa com o corao, ou seja, estar unido pelo corao a algum. Assim, definimos que no h concrdia entre as igrejas, porque no estamos todos com o corao no mesmo lugar. s pararmos para dialogar sobre: Bblia, Batismo, Santa Ceia, Purgatrio, Missa pelos mortos, etc. No dizemos em nenhum lugar que catlicos ou de outras igrejas iro ao inferno, mas dizemos com todas as letras que no esto com o corao no mesmo lugar que ns.

Descrevendo a palavra Unidade, o segundo aspecto o de vista. Pelas confisses entendemos unidade de maneira diferente dos demais. Por isso, antes de qualquer aproximao ecumnica precisamos definir os termos, sendo esses: unidade, graa e concrdia.

J que unidade uma caracterstica permanente na igreja, a Concrdia, todavia, no . As Confisses expressam sincero e forte desejo pela concrdia, pela paz e harmonia na igreja. As divises que infelizmente existem, so deploradas pelas Confisses. As divises existem por causa do inimigo que anda em derredor e procurando algum para devorar, e com isso, deseja impedir o curso do evangelho.

As Confisses Luteranas buscam o acordo entre todos os cristos. Luteranos, como muitas vezes so acusados, de acordo com as Confisses no so separatistas. Os luteranos desejam preservar o correto ensinamento do evangelho. Sendo assim, s h ecumenismo com quem deseja a mesma coisa, estando de acordo com todos os artigos de f. A proposta dos confessores para se chegar a concrdia entre as igrejas, no pode em hiptese alguma, dispensar a concordncia na f confessada. E a prtica da f confessada : apresentar corretamente em todos seus pontos a pura e s doutrina. No pode haver dilogo onde no h o mesmo mtodo de interpretao da Bblia. No somos separatistas, mas no podemos colocar em cheque aquilo que mais precioso, o evangelho. Pelo evangelho, a separao uma marca do ministrio do apostolo Paulo. Tambm h textos bblicos como Mt 7.15; Gl 1.6 9; Rm 16. 16 - 18 (Teologia para Hoje, Ecumenismo, p. 12, 14).

O movimento ecumnico sempre se deixou levar pelo reducionismo. Iniciou-se com o reducionismo: Jesus salva. No entanto, surgiu a questo quantos aos que no pregam isso, tais como, Islamismo, Judasmo. Reduziu-se: o importante crer em Deus. Vivemos dias de macro-ecumenismo. E reduzindo e enfraquecendo termos se busca pela paz mundial. A preocupao ecumnica o aqui e agora. A religio se tornou antropocntrica, sendo assim, no h necessidade de misso. Concluso

Olhando para os tpicos acima, at onde possvel uma comemorao dos 500 anos da Reforma em conjunto com a IECLB? No vejo razo para isso. Poderamos, como fiis herdeiros da Reforma comemorarmos sozinhos esses 500 anos, no para apresentar isolamento, mas para justamente identificar nossa verdadeira identidade, confessionalismo. Pois, no pode haver unidade externis, se no h unidade de esprito. Conforme as palavras do Pr. Winterlle, com a IECLB namorar sempre, mas casar nunca.

S h verdadeiro ecumenismo quando h unidade de esprito. Sem essa unidade, temos falsos ecumenismos. No entanto, estamos abertos ao ecumenismo, pois o ecumenismo sadio faz parte da nossa santificao, como bem disse o prof. Dr. Acir Raymann.

A IELB no antiecumnica, pois atravs dos credos testemunha a sua ecumenicidade. No entanto, vale relembrar que os escritos ecumnicos enfatizam a unidade no por causa da igreja e do evangelho, mas sim, por causa do mundo. (CTRE, Ecumenismo, p. 35).

Antes de querermos nos identificar atravs de aes ecumnicas, precisamos verdadeiramente reaver nossa identidade. Pois, estamos assim quando somos pegos em uma blitz de trnsito. O guarda pede nossa identidade. Sabemos que temos, mas no sabemos onde est e ficamos a procura da mesma para podermos apresentar.

Em questes ecumnicas no acertaremos sempre e tambm no erraremos sempre, mas, se no colocarmos em cheque a f confessada, a verdade do evangelho, j teremos em si um bom equilbrio entre Identidade e Identificao. O no participar das muitas ocasies ecumnicas em si j um protestatio, ou seja, um testemunho publico. Assim estaremos apresentando a nossa Identidade protestante confessional. Bibliografia

Anotaes em sala de aula, curso de mestrado. Dias 9 13 de janeiro de 2012.

Gro de Mostarda II. PP. 116 121.Teologia para Hoje. Ecumenismo: Teologia, prtica e desafios.PAGE 1