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FACULDADE DE CASTANHAL - FCAT CURSO DE DIREITO DISCIPLINA: ECONOMIA POLÍTICA PROFESSOR: NAIRO RILDO DOS SANTOS APOSTILA II MÓDULO 4: CRÍTICAS À ECONOMIA POLÍTICA CLÁSSICA: MARX E KEYNES O pensamento econômico clássico opõe-se aos fisiocratas franceses, na medida em que preconizavam que não apenas a agricultura era produtora de excedentes e de valor, mas também a indústria criaria valor. A economia clássica é pautada pelo individualismo, liberdade pessoal, tanto econômica quanto política, e crença no comportamento racional dos agentes econômicos. Defendiam a propriedade privada, a iniciativa individual e o controle individual da empresa. Estes seriam princípios básicos capazes de harmonizar interesses individuais e coletivos e gerar o progresso social. O Estado, tal qual na teoria fisiocrata, deveria atuar somente na defesa, na justiça e na manutenção de algumas obras públicas, sem intervir significativamente na atividade econômica nem no funcionamento do mercado. Mantém-se aqui a visão de um mundo regido por leis naturais e harmônicas, que se refletia na economia, a qual deveria ser deixada livre de intervenções, a fim de chegar a um equilíbrio que proporcionaria o bem-estar de todos. O pensamento clássico surge em meio à revolução industrial, onde a economia apresenta um avanço significativo de produtividade, refletindo-se numa mudança na estrutura política e social do mundo. Há um crescimento estrondoso da urbanização, um amplo êxodo rural, a consolidação dos Estados nacionais e da democracia representativa como sistema político. A partir da contribuição dos economistas clássicos, a economia passa a formar um corpo teórico próprio e a desenvolver um instrumental de análise específico para as questões econômicas. Busca-se, sobretudo encontrar leis gerais e regularidades no comportamento econômico, e o interesse primordial passa a ser a análise abstrata das relações

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Page 1: Economia politica 2

FACULDADE DE CASTANHAL - FCAT CURSO DE DIREITO DISCIPLINA: ECONOMIA POLÍTICA PROFESSOR: NAIRO RILDO DOS SANTOS

APOSTILA II

MÓDULO 4: CRÍTICAS À ECONOMIA POLÍTICA CLÁSSICA: MARX E

KEYNES

O pensamento econômico clássico opõe-se aos fisiocratas franceses, na medida

em que preconizavam que não apenas a agricultura era produtora de excedentes e de

valor, mas também a indústria criaria valor. A economia clássica é pautada pelo

individualismo, liberdade pessoal, tanto econômica quanto política, e crença no

comportamento racional dos agentes econômicos. Defendiam a propriedade privada, a

iniciativa individual e o controle individual da empresa. Estes seriam princípios básicos

capazes de harmonizar interesses individuais e coletivos e gerar o progresso social.

O Estado, tal qual na teoria fisiocrata, deveria atuar somente na defesa, na justiça

e na manutenção de algumas obras públicas, sem intervir significativamente na

atividade econômica nem no funcionamento do mercado.

Mantém-se aqui a visão de um mundo regido por leis naturais e harmônicas, que

se refletia na economia, a qual deveria ser deixada livre de intervenções, a fim de chegar

a um equilíbrio que proporcionaria o bem-estar de todos.

O pensamento clássico surge em meio à revolução industrial, onde a economia

apresenta um avanço significativo de produtividade, refletindo-se numa mudança na

estrutura política e social do mundo. Há um crescimento estrondoso da urbanização, um

amplo êxodo rural, a consolidação dos Estados nacionais e da democracia representativa

como sistema político. A partir da contribuição dos economistas clássicos, a economia

passa a formar um corpo teórico próprio e a desenvolver um instrumental de análise

específico para as questões econômicas.

Busca-se, sobretudo encontrar leis gerais e regularidades no comportamento

econômico, e o interesse primordial passa a ser a análise abstrata das relações

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econômicas. Não mais são priorizados os pressupostos morais e as conseqüências

sociais das atividades econômicas, como antes.

Os clássicos acreditam que o valor dos bens é determinado pela quantidade de

trabalho neles incorporada, e assim, o elemento crucial para a determinação dos preços

seria o custo de produção. A análise é centrada, portanto, na oferta. A grande

preocupação destes primeiros economistas é a determinação das causas do

desenvolvimento da riqueza.

É preciso ter em mente que o liberalismo econômico característico da escola

clássica se manteve muito mais no plano da retórica, pois na prática houve muito

dirigismo estatal na sociedade capitalista desde o seu surgimento.

A economia política clássica pressupõe uma (ou diversas) ontologia(s) do ser

social. As concepções de natureza humanas presentes no empirismo naturalista dos

fisiocratas, nos moralistas escoceses (Hume e Smith), no utilitarismo de John Stuart

Mill, projetam suas sombras nas respectivas teorias do valor e do capital. A teoria do

valor trabalho, em particular, foi uma herdeira direta do jusnaturalismo, capaz de

atravessar o pragmatismo da teoria ricardiana dos custos de produção e se projetar até

Marx. Em suma, os principais sistemas econômicos clássicos pressupõem concepções

filosóficas do homem e da sociedade econômica.

Os economistas clássicos estão preocupados, fundamentalmente, com as “leis de

movimento”, descritas por meio das relações entres grandes agregados e categorias

econômicas, como lucros, salários, renda da terra. Não se trata de uma simples

coincidência Smith, Ricardo e Marx terem-se preocupado com a tendência declinante da

taxa de lucro, assim como não é ocasional a inserção da dinâmica da renda da terra no

centro da teoria ricardiana dos lucros. A preocupação com as leis de movimento

transforma as principais teorias clássicas em grandiosas macrodinâmicas. Por sua vez,

existe relação entre as macrodinâmicas clássicas e a idéia de que a sociedade capitalista

pode ser descrita por uma estrutura básica de classes sociais economicamente definidas,

uma visão codificada por Adam Smith. A noção de classes sociais (grupos sociais

definidos pela posição econômica dos indivíduos) é indissociável da economia política

clássica.

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Os economistas clássicos têm como horizonte a acumulação do capital. Isso

significa que não é a utilidade, a demanda ou as preferências dos consumidores o ponto

de referência da teoria econômica. Mais ainda, embora ter como horizonte a acumulação

não leve a uma rejeição à micro-racionalidade, implica a adoção de uma micro-

racionalidade própria, compatível com as concepções de acumulação e classes sociais

adotadas pelas teorias. A micro-racionalidade clássica é bastante distinta da que viria a

caracterizar a economia neoclássica.

4.1 CRÍTICAS À ECONOMIA POLÍTICA CLÁSSICA: MARX

O pensamento socialista surge em meio à revolução industrial, com suas grandes

fábricas. Os trabalhadores possuíam condições precárias de trabalho e de vida, com

salários de subsistência, sem direitos políticos nem sociais, em condições de miséria e

abandono. Deste contexto histórico surge a necessidade de despertar a consciência da

sociedade para a situação econômica das classes desfavorecidas.

Os socialistas rejeitam a idéia de livre mercado e de harmonia de interesses entre

as diferentes classes sociais. Não acreditam que a busca egoísta e desenfreada dos

indivíduos pelos seus próprios interesses levará a sociedade à maximização de seu bem-

estar.

O grande teórico desta corrente de pensamento econômico é Karl Marx (1818-

1883). Tal como Stuart Mill, Marx se preocupa com as conseqüências sociais da

industrialização e do desenvolvimento capitalista. O objetivo de Marx era descobrir a

estrutura e o funcionamento da economia capitalista e suas leis de movimento. Seu

objetivo era demonstrar que o capitalismo explorava a classe trabalhadora, e como essa

exploração conduziria necessariamente à destruição desse sistema econômico.

Assim como Smith e Ricardo, Marx também acreditava no trabalho como

determinante do valor, e que a origem da riqueza estava no trabalho humano produtivo.

A apropriação do excedente econômico produtivo era a origem da acumulação de

capital e riqueza.

O excedente econômico no capitalismo surge do fato do capitalista pagar ao

trabalhador uma quantidade igual ao valor de sua força de trabalho (insumos necessários

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à subsistência e reprodução do trabalhador), mas esse pagamento equivale somente a

uma parte daquilo que o trabalhador produz para o capitalista em sua jornada de

trabalho. O valor das mercadorias produzidas pelos trabalhadores em um dado período

de tempo é superior ao valor da força de trabalho vendida aos capitalistas que a

contratam. A diferença destes valores é a chamada mais-valia – o valor que excede o

valor da força de trabalho e que é apropriado pelos capitalistas. Seria esta, para Marx, a

origem dos lucros, juros e aluguéis neste sistema econômico.

Isto ocorre porque os trabalhadores só possuem sua força de trabalho para

vender, não possuindo outra fonte de renda alternativa, sendo obrigados a aceitar as

condições impostas pelos capitalistas, detentores não apenas dos meios de produção,

mas também dos meios de subsistência. A propriedade privada dos meios de produção

seria então a chave para compreender a exploração no capitalismo.

Para Marx a economia política clássica teria nascido com as obras do inglês

Petty e do francês Boisguillebert e teria sua conclusão-realização com as obras do inglês

Ricardo e do "francês" Sismondi. Cento e cinqüenta anos de história — da consolidação

da revolução burguesa na Inglaterra à Revolução Industrial, passando pela Revolução

Francesa.

A crítica de Marx à elisão da história nos diversos sistemas econômicos e

filosóficos passa por ao menos duas dimensões. Por um lado, Marx pretendia criticar a

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“naturalização” das categorias econômicas, efetuada pelos economistas. Para ele, a

concepção de natureza humana da economia política, a despeito de sua atemporalidade

e aspiração à generalidade, representaria nada mais do que uma condensação da visão

de mundo burguesa, historicamente datada. A elisão das relações sociais burguesas

provocaria uma mistificação das categorias econômicas, em particular da noção de

capital. Marx entende que o capital é uma relação social historicamente determinada, e

não um simples instrumento ou meio de produção. A diferença fundamental entre o arco

e flecha do selvagem primitivo e o equipamento industrial moderno reside em ser este

último fruto do trabalho assalariado.

Em contraposição aos clássicos, Marx afirmava que erraram ao afirmar que a

estabilidade e o crescimento econômico seria efeito da atuação da ordem natural. E

explica, dizendo que “as forças que criaram essa ordem procuram estabilizá-la,

sufocando o crescimento de novas forças que ameaçam solapá-la, até que essas novas

forças finalmente se afirmem e realizem suas aspirações”.

4.2 CRÍTICAS À ECONOMIA POLÍTICA CLÁSSICA: KEYNES

John Maynard Keynes, Primeiro Barão de Keynes (1946), foi um economista

britânico. Suas idéias inovadoras chocaram-se com as doutrinas econômicas vigentes

em sua época, além de ter enorme impacto sobre a teoria política e a política fiscal de

muitos governos. Foi um dos mais influentes economistas do século XX.

Keynes defendeu o papel regulatório do Estado na economia, através de medidas

de política monetária e fiscal, para mitigar os efeitos adversos dos ciclos econômicos -

recessão, depressão e booms econômicos. Keynes é considerado um dos pais da

moderna teoria macroeconômica.

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Segundo este pensador, um dos principais fatores responsáveis pelo nível de

emprego é explicado pelo nível de produção nacional de uma economia, o qual seria

determinado pela demanda agregada. Keynes vai assim refutar a teoria de um dos

pensadores clássicos consagrados, Jean Baptiste Say, que acreditava que a oferta cria

sua própria procura, onde o aumento da produção se transformaria em renda de

trabalhadores e empresários, a qual seria gasta na compra de outras mercadorias e

serviços. Para Keynes, a oferta é determinada pela demanda e não o contrário.

Para Keynes, os principais determinantes da renda e do emprego são os gastos

com consumo e investimento, sendo o gasto público uma importante variável

componente do gasto total. Para cada nível de renda, o gasto em consumo é uma

proporção dada da renda, proporção esta que cai quando a renda aumenta. O nível de

consumo varia então com a renda. E a renda varia porque o investimento ou o gasto

público varia. O gasto com investimento seria por sua vez determinado pela taxa de

juros e pela taxa de retorno esperada sobre o custo dos novos investimentos (a que

Keynes chamava eficiência marginal do capital).

Keynes acaba mostrando que não existem forças de auto-ajustamento da

economia, sendo necessária a intervenção governamental através de uma política de

gastos públicos para garantir melhores níveis de emprego, colocando em xeque o

princípio do laissez-faire, consagrado pelo pensamento econômico clássico e

neoclássico. Isto porque quando os gastos com consumo e investimento são

insuficientes para manter o pleno emprego, o Estado deve estar disposto a aumentar o

fluxo de renda por meio de gastos financeiros.

A teoria de Keynes influenciou sobremaneira a política econômica dos países

capitalistas no período pós-guerra e estas políticas mostraram-se eficientes a ponto de se

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considerar este período os “anos dourados” do capitalismo, que se encerra com a crise

do sistema monetário no início da década de 1970.

O impacto da Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda nos meios

acadêmicos e na formulação de políticas públicas excedeu o que normalmente seria

esperado, até mesmo de pensadores tão destacados como John Maynard Keynes. A

razão para seu extraordinário sucesso, frente à defesa de longo tempo da "doutrina

herdada" e à recepção geralmente negativa nos círculos não-acadêmicos na época de sua

publicação, em 1936, é que a obra tinha alguma coisa para todos.

Ter-se-ia que volver ao tempo de Adam Smith para encontrar um grau

comparável de persuasão com respeito a política pública; ter-se-ia que volver a David

Ricardo para a espécie de análise rigorosa que inspira o pensador dedutivo; e a Karl

Marx para alguém que atraísse seguidores capazes e suficientemente zelosos a fim de

levar sua mensagem ao mundo. Parece que a hereditariedade havia destinado a Keynes a

fazer uma valiosa contribuição para o mundo.

4.2.1 Keynes e política econômica

J. M. Keynes discordou da lei de Say (que Keynes resumiu como : "a oferta cria

sua própria demanda"). Assim como Thomas Malthus, não acreditava que a produção

de mercadorias gerariam, sempre e obrigatoriamente, demanda suficiente para outras

mercadorias. Poderiam ocorrer crises de superprodução, como ocorreu na década de

1930. Para ele o livre mercado pode, durante os períodos recessivos, não gerar demanda

bastante para garantir o pleno emprego dos fatores de produção devido ao

"entesouramento" das poupanças. Nessa ocasião seria aconselhável que o Estado criasse

déficits fiscais para aumentar a demanda efetiva e instituir uma situação de pleno

emprego.

A teoria dos ciclos comerciais seja ela monetária ou não em sua maneira de

apreciar a questão, interessa-se primordialmente pelos problemas das rendas e empregos

flutuantes; esses problemas preocuparam os economistas por muitos anos. Os estudos

primitivos sobre os ciclos comerciais raramente empregaram muita evidência empírica,

mas pelo menos nos Estados Unidos da América a macro análise existiu durante meio

século. Keynes fez a ênfase recair inteiramente sobre os níveis de renda, que segundo

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ele, afetavam os níveis de emprego, o que constitui, naturalmente, uma ênfase diferente

da encontrada nos estudos anteriores.

É provavelmente verídico que toda a economia keynesiana tenha-se destinado a

encontrar as causas e curas para o desemprego periódico. Keynes não encontrou solução

alguma para o problema em quaisquer trabalhos sobre Economia Política então

existentes, sendo os seus esforços, portanto, grandemente exploratórios. Desviou-se

claramente da maioria das teorias econômicas anteriores, até mesmo da de seu

professor, Alfred Marshall, a qual era considerada pela maior parte dos eruditos, quase

sacrossanta. É verdade que muitas de suas idéias combinaram com as dos economistas

anteriores, como Lauderdale, Malthus, Rae, Sismondi, Say, Quesnay e outros. Keynes

combinou suas próprias teorias e os desenvolvimentos anteriores em uma análise que

ocasionou transformações na Economia aceita em grau que raiou pela revolução.

O objetivo de Keynes, ao defender a intervenção do Estado na economia não é,

de modo algum, destruir o sistema capitalista de produção. Muito pelo contrário,

segundo o autor, o capitalismo é o sistema mais eficiente que a humanidade já conheceu

(incluindo aí o socialismo). O objetivo é o aperfeiçoamento do sistema, de modo que se

una o altruísmo social (através do Estado) com os instintos do ganho individual (através

da livre iniciativa privada). Segundo o autor, a intervenção estatal na economia é

necessária porque essa união não ocorre por vias naturais, graças a problemas do livre

mercado (desproporcionalidade entre a poupança e o investimento e o "Estado de

Ânimo" ou, como se diz no Brasil, o "Espírito Animal", dos empresários).

Como um homem prático e intuitivo, Keynes também tem sua curiosidade

intelectual aguçada pelos eventos econômicos da época. Na década de 20, a economia

inglesa atravessa sucessivas crises que culminam na grande Depressão dos anos 30. Em

1932, por exemplo, se observa desemprego em massa nas principais economias

capitalistas. Nessa mesma data, a produção industrial americana correspondia a 58%, a

alemã a 65% e a inglesa a 90% da verificada em 1913.

Diante dessa realidade, Keynes intuitivamente começa a se afastar da ortodoxia

como representada pela “Lei de Say”. De acordo com essa “Lei”, não poderia ocorrer

“escassez de poder de compra” no sistema econômico, primeiramente porque o processo

de produção capitalista é também o de geração de renda (salário, lucros, aluguéis etc.) e,

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portanto, de criação da fonte de financiamento da demanda; e, segundo, porque dada a

existência dos mecanismos automáticos dos mercados livres, os movimentos corretivos

e espontâneos de salários, preços e juros garantiriam que os níveis de demanda não

ficassem permanentemente aquém dos níveis de produção de pleno emprego.

Da crítica à “Lei de Say” Keynes caminha em busca de uma explicação analítica

para o desemprego e tenta dar fundamento teórico às sugestões de intervenção estatal

como geradora de demanda para garantir níveis elevados do emprego. É importante

notar que inúmeros economistas de orientação ortodoxa também advogaram gastos

públicos para combater o desemprego, a exemplo de Pigou e Robertson. A crítica de

Keynes se concentra na inconsistência entre os fundamentos teóricos desses autores, de

um lado, e suas recomendações práticas, de outro.

A sua primeira tentativa de superar a teoria clássica resulta na publicação de A

Treatise on Money em 1930. Infelizmente foi uma tentativa frustrada. Ainda que não

tenha encontrado uma explicação analítica para o problema do desemprego, nesse livro

Keynes reafirma seu prestígio profissional como conhecedor dos intrincados problemas

monetários da economia capitalista. Não faltaram críticas, também. Hayek e Robertson,

em particular, apontaram um grave equívoco no que Keynes pretendia ser à base do

livro. Este, seguindo as idéias de Robertson, pretendia explicar as flutuações de preço e

produção a partir dos desequilíbrios entre investimento e poupança.

Tanto Hayek quanto Robertson detectaram uma inconsistência entre a

explicação dessa relação e a equação escrita por Keynes no corpo do livro. Também os

discípulos de Keynes em Cambridge (Joan e Austin Robinson, Richard Kahn, James

Mead, Piero Sraffa e outros) anotaram várias críticas ao seu trabalho. A mais severa

dizia respeito ao fato de que Keynes havia desenvolvido uma teoria de flutuações de

nível geral de preços que pressupunha, a exemplo dos clássicos, a hipótese de produto

constante em nível de pleno emprego. Ou seja, não explicava o que se propunha

explicar: as flutuações de emprego e produção.

Essas avaliações críticas imediatamente induzem Keynes a tentar uma nova

explicação. Do trabalho que se segue entre 1930 e 1935, resulta a publicação da Teoria

Geral em 1936. De imediato se estabeleceu uma ampla controvérsia entre Keynes e seus

discípulos, de um lado, e Pigou, Hayek, Robertson, Hawtrey e outros, de outro. O

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debate entre convertidos e não-convertidos também empolga imediatamente os

economistas do outro lado do Atlântico. Samuelson expressa com elegância o

significado da obra, naqueles negros dias de recessão: “Para o estudante moderno é

totalmente impossível entender o pleno efeito do que foi convenientemente denominado

‘A Revolução keynesiana’, sobre aqueles que, como nós, foram educados dentro da

tradição ortodoxa.

Teoria Clássica x Teoria keynesiana

Clássicos Keynes

A crise só pode ser setorial A crise pode ser generalizada

Pleno emprego é uma situação normal Pleno emprego é uma situação especial

A produção (oferta) determina o emprego

(lei dos mercados)

A despesa (procura global) determina o

emprego e a produção.

Toda a poupança vai para o investimento Não existe relação entre poupança e

Investimento

A taxa de juro determinava a poupança O determinante da poupança é o

rendimento e não a taxa de juro.

O investimento era determinado pela taxa

de juro.

O investimento é determinado pelos

lucros esperados e pela taxa de juro

A moeda só tem função de troca A moeda tem una função especulativa e a

sua procura depende da taxa de juro