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30 | ECONOMIA SEXTA, 02 DE DEZEMBRO DE 2016 [email protected] - Tel.: 3321-8520 ECONOMIA CAPIXABA Angelo Passos A indústria deveria estar a todo vapor para atender à demanda do Natal. Mas as horas trabalhadas caíram 1,7% em outubro, diz a CNI. Queda na arrecadação do Simples mostra a gravidade da recessão Montar um negócio, por modesto que seja, é saída contra o desem- prego. Mas, os resultados são incer- tos. No Espírito Santo, o total de mi- cro e pequenos empreendimentos, portanto optantes pelo Simples Na- cional (sistema tributário simplifica- do), saltou neste ano de 239.248 em janeiro para 263.947 em outubro. Teoricamente, o volume de impostos deveria crescer, mas não foi o que aconteceu. O ICMS arrecadado no Es- tado por meio do Simples Nacional caiu de R$ 31,8 milhões para R$ 25,4 milhões entre janeiro e outubro, se- gundo dados da Receita Federal. O recuo reflete redução de faturamento, fechamento de empresas sem dar baixa formal (continuam constando dos re- gistros oficiais) e inadimplência tribu- tária. Mostra a gravidade da recessão. O consumo está fortemente retraído. Este quadro também jogou para baixo o montante do ISS gerado em várias cidades. É o caso de Vitória, de R$ 3,60 milhões em janeiro para R$ 2,43 milhões em outubro; de Ca- riacica, R$ 796,2 mil para R$ 775 mil; da Serra, de R$ 1,27 milhão para R$ 1,28 milhão; de Colatina, de R$ 470 mil para R$ 412 mil. Ufa! Finalmente, alguma coisa dá espe- rança de melhora a curto prazo na economia capixaba. É o pagamento pela exploração do petróleo. Mais dinheiro A redução da produção mundial, de 33,6 milhões de barris diários de pe- tróleo para 32,5 milhões (queda de 3,2%), decidida pelo cartel do setor, alcançou seu objetivo no primeiro mo- mento. O preço da commodity subiu. Então, os repasses de royalties e de participação especial vão engordar. Royalties O Espírito Santo recebeu R$ 525,3 mi- lhões referentes a royalties no acumu- lado de janeiro a outubro do ano pas- sado. Em 2016, no mesmo período, o valor recuou para R$ 413,2 milhões. Participação Já a participação especial (paga em áreas com alto potencial de produção e rentabilidade) rendeu ao Espírito Santo, em 2015, até outubro, R$ 165,9 milhões. Em 2016, apenas R$ 158 milhões, segundo a Agência Nacional de Petróleo. Mas... Até que ponto a alta do petróleo (o barril está em torno de US$ 50) é um movimento volátil? A dúvida faz sen- tido em função dos altos estoques mundiais, o que pode derrubar os preços da matéria-prima. Investimentos Por falar em petróleo, é muito boa para o Espírito Santo e para o Brasil a perspectiva de a Petrobras retomar investimentos. Mas tenhamos calma. Implantação e retorno de novos pro- jetos nessa área são lentos. Vai demorar Também o recuo de 20,2% acumulado em 12 meses na produção industrial capixaba (veja infográfico acima) dá certeza de que a recuperação da eco- nomia do Estado vai demorar. Pode começar em 2017, mas a reversão do quadro recessivo, talvez não. Campo Além da indústria deprimida, a queda na produção rural também não vai se recompor da noite para o dia. 12,7% é a taxa de desemprego no ES O avanço do desemprego é o lado mais preocupante da recessão. A média entre os Estados é 11,8%, a mais alta já constatada pela pes- quisa do IBGE. No Espírito Santo, chega a 12,7%. Outubro é um mês em que o mercado de trabalho ga- nha fôlego, em função dos con- tratos temporários do clima nata- lino, mas neste ano as coisas estão piores. 2017 começará com nuvens pesadas sobre a economia. “Instabilidade política reflete fraqueza das instituições. Incertezas geram desinvestimento. Estamos na contramão do crescimento” DANILO SOARES MONTE-MOR PROFESSOR E DOUTOR EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS E ADMINISTRAÇÃO EFEITOS DA RECESSÃO EM TODAS AS ATIVIDADES

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30 | ECONOMIA SEXTA, 02 DE DEZEMBRO DE 2016

[email protected] - Tel.: 3321-8520

ECONOMIA CAPIXABAAngelo Passos

A indústria deveria estar a todovapor para atender à demanda doNatal. Mas as horas trabalhadascaíram 1,7% em outubro, diz a CNI.

Queda naarrecadaçãodo Simplesmostra agravidade darecessão

Montar um negócio, por modestoque seja, é saída contra o desem-prego. Mas, os resultados são incer-tos. No Espírito Santo, o total de mi-cro e pequenos empreendimentos,portanto optantes pelo Simples Na-cional (sistema tributário simplifica-do), saltou neste ano de 239.248 emjaneiro para 263.947 em outubro.

Teoricamente, o volume de impostosdeveria crescer, mas não foi o queaconteceu. O ICMS arrecadado no Es-tado por meio do Simples Nacionalcaiu de R$ 31,8 milhões para R$ 25,4milhões entre janeiro e outubro, se-gundo dados da Receita Federal. Orecuo reflete redução de faturamento,fechamento de empresas sem dar baixaformal (continuam constando dos re-gistros oficiais) e inadimplência tribu-tária. Mostra a gravidade da recessão.O consumo está fortemente retraído.

Este quadro também jogou parabaixo o montante do ISS gerado emvárias cidades. É o caso de Vitória, deR$ 3,60 milhões em janeiro paraR$ 2,43 milhões em outubro; de Ca-riacica, R$ 796,2 mil para R$ 775mil; da Serra, de R$ 1,27 milhão paraR$ 1,28 milhão; de Colatina, deR$ 470 mil para R$ 412 mil.

Ufa!Finalmente, alguma coisa dá espe-rança de melhora a curto prazo naeconomia capixaba. É o pagamentopela exploração do petróleo.

Mais dinheiroA redução da produção mundial, de33,6 milhões de barris diários de pe-

tróleo para 32,5 milhões (queda de3,2%), decidida pelo cartel do setor,alcançou seu objetivo no primeiro mo-mento. O preço da commodity subiu.Então, os repasses de royalties e departicipação especial vão engordar.

RoyaltiesO Espírito Santo recebeu R$ 525,3 mi-lhões referentes a royalties no acumu-lado de janeiro a outubro do ano pas-sado. Em 2016, no mesmo período, ovalor recuou para R$ 413,2 milhões.

ParticipaçãoJá a participação especial (paga emáreas com alto potencial de produçãoe rentabilidade) rendeu ao EspíritoSanto, em 2015, até outubro,R$ 165,9 milhões. Em 2016, apenasR$ 158 milhões, segundo a AgênciaNacional de Petróleo.

Mas...Até que ponto a alta do petróleo (obarril está em torno de US$ 50) é um

movimento volátil? A dúvida faz sen-tido em função dos altos estoquesmundiais, o que pode derrubar ospreços da matéria-prima.

InvestimentosPor falar em petróleo, é muito boapara o Espírito Santo e para o Brasil aperspectiva de a Petrobras retomarinvestimentos. Mas tenhamos calma.Implantação e retorno de novos pro-jetos nessa área são lentos.

Vai demorarTambém o recuo de 20,2% acumuladoem 12 meses na produção industrialcapixaba (veja infográfico acima) dácerteza de que a recuperação da eco-nomia do Estado vai demorar. Podecomeçar em 2017, mas a reversão doquadro recessivo, talvez não.

CampoAlém da indústria deprimida, a quedana produção rural também não vai serecompor da noite para o dia.

12,7%é a taxa de desemprego no ESO avanço do desemprego é o ladomais preocupante da recessão. Amédia entre os Estados é 11,8%, amais alta já constatada pela pes-quisa do IBGE. No Espírito Santo,chega a 12,7%. Outubro é um mêsem que o mercado de trabalho ga-nha fôlego, em função dos con-tratos temporários do clima nata-lino, mas neste ano as coisas estãopiores. 2017 começará com nuvenspesadas sobre a economia.

“Instabilidade políticareflete fraqueza dasinstituições. Incertezasgeram desinvestimento.Estamos na contramãodo crescimento”—DANILO SOARES MONTE-MORPROFESSOR E DOUTOR EM CIÊNCIASCONTÁBEIS E ADMINISTRAÇÃO

EFEITOS DA RECESSÃO EM TODAS AS ATIVIDADES