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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: ZOOLOGIA Ecologia e biodiversidade de cupins (Insecta, Isoptera) em remanescentes de Mata Atlântica do Nordeste Brasileiro ALEXANDRE VASCONCELLOS JOÃO PESSOA - PB

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Page 1: Ecologia e biodiversidade de cupins (Insecta, Isoptera) em ... · Isoptera) em remanescentes de Mata Atlântica do Nordeste Brasileiro ALEXANDRE VASCONCELLOS JOÃO PESSOA - PB . ii

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: ZOOLOGIA

Ecologia e biodiversidade de cupins (Insecta,

Isoptera) em remanescentes de Mata Atlântica do

Nordeste Brasileiro

ALEXANDRE VASCONCELLOS

JOÃO PESSOA - PB

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ALEXANDRE VASCONCELLOS

Ecologia e biodiversidade de cupins (Insecta, Isoptera)

em remanescentes de Mata Atlântica do Nordeste

Brasileiro

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação

em Ciências Biológicas (Zoologia) da Universi-

dade Federal da Paraíba, em cumprimento às exi-

gências para obtenção do título de Doutor.

ORIENTADOR: ADELMAR GOMES BANDEIRA

João Pessoa-PB

2003

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V331e Vasconcellos, Alexandre. Ecologia e biodiversidade de cupins (Insecta,

Isoptera) em remanescentes de Mata Atlântica do nordeste brasileiro / Alexandre Vasconcellos.- João Pessoa, 2003.

144f. Orientador: Adelmar Gomes Bandeira Tese (Doutorado) – UFPP/CCEN 1. Zoologia. 2. Isoptera. 3. Região neotropical.

4. Mata Atlântica. 5. Biodiversidade. 6. Influência estacional e ninhos.

UFPB/BC CDU:

59(043)

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ALEXANDRE VASCONCELLOS

Ecologia e biodiversidade de cupins (Insecta, Isoptera) em

remanescentes de Mata Atlântica do Nordeste Brasileiro

Tese apresentada à banca composta pelo (a):

Titulares:

Prof. Dr. Adelmar Gomes Bandeira

_____________________________________ Assinatura

Prof. Dr. Reginaldo Constantino

_____________________________________ Assinatura

Prof. Dr. Og Francisco F. de Souza

_____________________________________ Assinatura

Profa. Dra. Inara Roberta Leal

_____________________________________ Assinatura

Prof. Dr. Antônio Creão Duarte

_____________________________________ Assinatura

Suplentes

Dra. Malva Isabel Hernández Medina

_____________________________________ Assinatura

Dr. Douglas Zappeline Filho

_____________________________________ Assinatura

João Pessoa – PB

2003

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PARA MINHAS FILHINHAS

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Agradecimentos

Ao meu amigo e mestre Adelmar Gomes Bandeira, pelos dez anos de orientação e pelo apoio

contínuo e incondicional.

À CAPES pela concessão da bolsa de estudo.

Ao Dr. Reginaldo Constantino pela identificação de parte dos espécimes e pelas sugestões

apontadas durante a aula de qualificação.

Ao IBAMA pela atenção durante o processo de liberação das autorizações de coleta.

À Dra Anita Studer pela atenção e suporte durante as coletas realizadas na Reserva Biológica de

Pedra Talhada, Alagoas.

À Dra Eliana Marques Cancello e ao Dr. Carlos Roberto Brandão, por todo apoio e atenção

durante o desenvolvimento do projeto “Biodiversity of Hymenoptera and Isoptera: richness and

diversity along a latitudinal gradient in the Mata Atlântica – the eastern Brazilian rain forest”

(Biota/FAPESP).

Ao Dr. Alfredo R. Langguth Bonino e ao projeto “Recuperação e manejo de ecossistemas

naturais de brejos de altitude de Pernambuco e Paraíba” (Ministério de Meio

Ambiente/PROBIO), pela facilitação do transporte para as áreas de coleta.

À Ana Cerilza S. Melo, Waltécio O. Almeida, Moabe P. Silva, Celina Cláudia G. M.

Vasconcellos, Elaine Christinne C. Eloy, Gindomar G. Santana, Marcos Antônio, Josilene M.

Sena, Sidclay Dias, Eduardo F. Medeiros, Maria Avany B. Gusmão, pelo valoroso auxílio nas

coletas de campo, pois sem o mesmo seria impossível a conclusão desta tese.

Ao M.Sc. Marcelo Marcelino de Oliveira pelo apoio durante o período de coleta na Reserva

Biológica Guaribas, Paraíba.

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Ao governo do Estado de Pernambuco e aos administradores do Horto Dois Irmãos pelo suporte

durante as coletas de campo.

Ao atual e ex-coordenadores do Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas-UFPB, Dr.

Martin L. Christoffersen, Dra. Ierecê de Lucena Rosa e Dr. Adelmar Gomes Bandeira, pela

atenção, cooperação e apoio para a execução do projeto de tese.

Aos irmãos da SOCIEDADE DOS QUATRO ELEMENTOS: Dr. Waltécio de Oliveira Almeida,

Dr. Eduardo R. F. Medeiros e Dr. Carlos Emmerson, pelas discussões fervorosas e apaixonadas

sobre ciência e filosofia.

A todos os termitólogos que estão ou que já passaram pelo Laboratório de Entomologia-UFPB,

Moabe Pina da Silva, Everaldo G. Silva, Ana Cerilza S. Mélo, Lucilene Medeiros, Carmélia

Sales de Miranda, Josilene M. Sena, Flávia Moura, Eusébio M. Vasconcelos Segundo, pelas

discussões termíticas e pela amizade.

A todos os professores do Departamento de Sistemática e Ecologia, especialmente aos Drs.

Antônio José Creão-Duarte, Celso Feitosa Martins e Alfredo R. Langguth Bonino, pela difusão

dos ensinamentos ao longo da minha jornada acadêmica.

Ao Dr. Breno Grisi pelas sugestões e confecção do abstract.

À Prof. Dra. Malva I. Medina Hernández pelo auxílio na utilização dos programas estatísticos.

A Celina Cláudia G. M. Vasconcellos pelo auxílio na confecção da versão final da tese.

Aos companheiros do Death Garden pela compreensão de minha ausência nos ensaios.

À Dra. Ilza Montenegro pelo suporte técnico ao longo dos anos do doutorado.

Aos companheiros de jornada acadêmica, Akemi Shibuya, Ana Aline Endres, Michelle G.

Santos, Rômulo Romeu da Nóbrega, Alysson Kennedy, Fátima Camarotti, Cristina Madeira,

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Carla Quijada, Katharine Raquel do Santos, Cristiane F. Costa, Francisca Edna, Cláudio

Sampaio, Francisco de Oliveira e Orlando Petreschi.

Por fim, a todos aqueles que, por falha de minha memória, não foram citados, mas que de alguma

forma contribuíram para o desenvolvimento desta tese.

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Conteúdo

Preâmbulo ......................................................................................................................................... x

Resumo ............................................................................................................................................. xi

Abstract .......................................................................................................................................... xiii

Estado da Arte ................................................................................................................................ 01

Organização social ....................................................................................................................... 01

Nidificação e inquilinismo ............................................................................................................ 09

Hábitos alimentares e simbiose .................................................................................................... 04

Diversidade e sazonalidade .......................................................................................................... 06

Importância funcional nos ecossistemas e produção de metano ................................................. 07

Cupins como bioindicadores ....................................................................................................... 09

Importância como pragas ............................................................................................................ 10

A Mata Atlântica e uma breve revisão dos estudos desenvolvidos sobre os cupins deste bioma 11

CAPÍTULO I (Cupins em remanescentes de Mata Atlântica do Nordeste Brasileiro: estrutura da

comunidade e influência estacional)

Resumo ............................................................................................................................................ 13

Introdução ....................................................................................................................................... 14

Área de estudo ................................................................................................................................ 15

Reserva Biológica de Pedra Talhada ........................................................................................... 15

Horto Dois Irmãos ........................................................................................................................ 16

Reserva Biológica Guaribas ........................................................................................................ 16

Mata do Buraquinho .................................................................................................................... 16

Material e Métodos ......................................................................................................................... 17

Protocolo de levantamento de biodiversidade termítica .............................................................. 17

Identificação do material termítico .............................................................................................. 17

Grupos alimentares ...................................................................................................................... 17

Hábitos de nidificação .................................................................................................................. 18

Análises ........................................................................................................................................ 20

Resultados ....................................................................................................................................... 20

Estrutura da comunidade ............................................................................................................. 20

Comunidade da Reserva Biológica de Pedra Talhada ................................................................ 21

Comunidade do Horto Dois Irmãos ............................................................................................. 22

Comunidade da Reserva Biológica Guaribas .............................................................................. 22

Comunidade da Mata do Buraquinho .......................................................................................... 23

Discussão ......................................................................................................................................... 24

Considerações sobre o protocolo de coleta ................................................................................. 24

Composição dos grupos alimentares e dos grandes grupos taxonômicos ................................... 25

Riqueza de espécies ..................................................................................................................... 26

Similaridade da fauna da Mata Atlântica com a de outros biomas Brasileiros .......................... 28

Influência estacional sobre a estrutura taxonômica e funcional das comunidades ..................... 30

CAPÍTULO II (Abundância e biomassa de cupins em três remanescentes de Mata Atlântica do

Nordeste Brasileiro) ......................................................................................................................... 60

Resumo ............................................................................................................................................ 60

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Introdução ....................................................................................................................................... 61

Material e Métodos ......................................................................................................................... 62

Estimativa de abundância e biomassa por microhabitat ........................................................... 62

Resultados ....................................................................................................................................... 64

Discussão ......................................................................................................................................... 65

Abundância e biomassa ................................................................................................................ 65

Considerações sobre os métodos de amostragens ....................................................................... 68

CAPÍTULO III (Participação de três espécies de Nasutitermes (Isoptera, Termitidae) no consumo

de madeira da necromassa em Mata Atlântica do Nordeste Brasileiro).

Resumo ............................................................................................................................................ 83

Introdução ....................................................................................................................................... 84

Material e Métodos ......................................................................................................................... 85

Quantificação do consumo de madeira em laboratório ............................................................... 85

Resultados e Discussão ................................................................................................................... 86

CAPÍTULO IV (Influência estacional sobre a abundância, biomassa e distribuição de cupins em

um remanescente de Mata Atlântica do Nordeste Brasileiro).

Resumo ............................................................................................................................................ 92

Introdução ....................................................................................................................................... 93

Material e Métodos ......................................................................................................................... 94

Análises ........................................................................................................................................ 95

Resultados ....................................................................................................................................... 95

Discussão ......................................................................................................................................... 97

CAPÍTULO V (Abundância e distribuição espacial de ninhos conspícuos de cupins em duas

áreas de Mata Atlântica com diferentes estádios de sucessão da vegetação)

Resumo .......................................................................................................................................... 106

Introdução ..................................................................................................................................... 107

Material e Métodos ....................................................................................................................... 108

Mapeamento das áreas ............................................................................................................... 108

Volume dos ninhos ...................................................................................................................... 108

Abundância e distribuição espacial dos ninhos ......................................................................... 109

Resultados ..................................................................................................................................... 110

Discussão ....................................................................................................................................... 111

Referências bibliográficas ............................................................................................................ 123

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Preâmbulo

A Mata Atlântica localizada ao Norte do Rio São Francisco é biologicamente pouco

conhecida e bem distinta das outras seções do bioma, localizadas mais ao Sul do país.

Atualmente restam apenas 2% de sua vegetação original e ainda é evidente a forte pressão

antrópica sobre os remanescentes existentes, até mesmo sobre aqueles que já estão protegidos em

áreas de conservação.

Os invertebrados deste trecho da Mata Atlântica são, para maioria dos grupos,

praticamente desconhecidos. A fauna de cupins não foge à regra. São poucas as espécies

conhecidas e ainda muitas por serem descritas. No entanto, uma rápida análise da composição da

fauna destes insetos revela uma sobreposição relativamente grande com os táxons amazônicos.

A tese que se segue foi elaborada com intuito de estudar vários aspectos da história

natural e ecologia dos cupins de Mata Atlântica do Nordeste Brasileiro, em remanescentes

localizados ao Norte do Rio São Francisco. Os tópicos estão divididos em capítulos

confeccionados em formato relativamente próximo a um manuscrito preste a ser submetido para

uma revista científica. No entanto, antes do início dos capítulos foi elaborada uma breve

exposição sobre os aspectos mais relevantes da termitologia, como sistemática, relações de

simbiose, ecologia, biodiversidade e importância como praga. O objetivo desta exposição foi

convidar os leitores, não especialistas na ordem, a embarcarem em uma viagem rumo ao mundo

fascinante dos cupins.

Logo após o término dos capítulos foram adicionados, em forma de anexo, todos os

trabalhos, publicados ou que ainda estão no prelo, produzidos durante o período do curso de

doutorado. Os trabalhos, em sua maioria, estão relacionados com a biologia e a ecologia dos

cupins, mas existem alguns que não necessariamente estão ligados a termitologia, um sobre

Formicidae e outro sobre Onychophora.

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Resumo

As comunidades de cupins de Mata Atlântica do Nordeste Brasileiro foram estudadas em quatro

remanescentes localizados ao Norte do Rio São Francisco: Reserva Biológica de Pedra Talhada

(RPT), Alagoas; Horto Dois Irmãos (HDI), Pernambuco; Reserva Biológica Guaribas (RBG),

Paraíba e Mata do Buraquinho (MAB), Paraíba. Vários aspectos da ecologia e história natural

destes insetos foram analisados, entre eles destacam-se: (i) as estruturas taxonômicas e funcionais

e a influência da sazonalidade sobre a diversidade e riqueza de espécies na RPT, RBG, HDI e

MAB; (ii) a abundância e biomassa das populações na RPT, HDI e MAB; (iii) a participação de

três espécies de Nasutitermes na remoção de madeira da necromassa no HDI e MAB; (iv) os

efeitos estacionais sobre a abundância e biomassa de cupins do folhiço, madeira, solo e troncos

na RBG; e (v) a abundância e distribuição espacial de ninhos conspícuos em duas áreas com

diferentes estádios de sucessão da vegetação na RBG. No total, 61 espécies de cupins foram

encontradas, sendo a maioria da família Termitidae (78,7%), seguida pelas famílias

Kalotermitidae (14,7) e Rhinotermitidae (6,6%). Dez espécies representaram novas ocorrências

para a Mata Atlântica. Entre as espécies identificadas, 23 também ocorrem na Floresta

Amazônica, evidenciando a similaridade da fauna de cupins desses biomas. As estruturas

taxonômicas e funcionais das comunidades coletadas nas estações seca e chuvosa foram bastante

similares, sugerindo que os protocolos de levantamento de biodiversidade termítica podem ser

aplicados em qualquer período do ano sem alterar drasticamente a estrutura da comunidade. A

abundância variou de 4950,9 a 5662,5 cupins/m2

e a biomassa de 8,05 a 10,64g (peso fresco)/m2.

Os cupins foram encontrados principalmente no solo, entre 0-20cm de profundidade, e em

madeira morta. Duas espécies destacaram-se pela abundância: Embiratermes parvirostris e

Nasutitermes corniger. O consumo médio de madeiras em laboratório por Nasutitermes corniger,

N. ephratae e N. macrocephalus foi 9,43 mg (peso seco) g de cupim (peso fresco)-1

dia-1

.

Apenas essas três espécies removem no HDI e MAB 66,92 e 72,85 kg madeira ha-1

ano-1

,

respectivamente, correspondendo a 2,9 e 3,3% do total da produção anual de madeira da

necromassa. No entanto, 25 espécies de cupins na MAB e 21 no HDI utilizam a madeira como

fonte de nutriente, sugerindo que a participação dos cupins na remoção de madeira pode ser

superior a 15% da produção anual. As amostragens quantitativas no folhiço, ninhos, solo e

troncos revelam a grande abundância e biomassa da subfamília Nasutitermitinae e do grupo

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alimentar dos consumidores de húmus. A influência estacional sobre a fauna de cupins só foi

perceptível nos ninhos e nos troncos, e esteve aparentemente relacionada com os efeitos de

determinada estação sobre a produção da ninhada de alados, atividade de forrageamento e

produção da necromassa vegetal. Oito espécies de cupins são construtoras de ninhos conspícuos

nas áreas estudadas, mas destacam-se, pela abundância de suas construções, Microcerotermes

exiguus e N. corniger. A distribuição espacial dos ninhos por espécies e grupos alimentares foi,

na maioria dos casos, aleatória, sugerindo que a competição não representa um fator importante

na determinação do padrão de distribuição espacial dos ninhos. As análises de abundância,

composição taxonômica e grupos alimentares das espécies construtoras de ninhos mostrou-se

como ferramenta adicional na avaliação da qualidade do habitat, indicando um estádio mais

maturo no processo sucessional.

Palavras-chave: Isoptera, Região Neotropical, Mata Atlântica, Biodiversidade, Abundância,

Biomassa, Influência Estacional e Ninhos.

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Abstract

Ecology and biodiversity of termites in remnants of the Atlantic Forest in Northeast Brazil.

Communities of termites in the Atlantic forest of Northeast Brazil were studied at four forest

remnants, northern of the River São Francisco, namely: Reserva Biológica de Pedra Talhada

(RPT), State of Alagoas; Horto Dois Irmãos (HDI), State of Pernambuco; Reserva Biológica

Guaribas (RBG) and Mata do Buraquinho (MAB), both in the State of Paraíba. Several aspects of

the ecology and natural history of these insects were analysed, with emphases on (i) their

taxonomic and functional structures and seasonal influence on the diversity and richness of

species at all localities (RPT, HDI, RGB, MAB); (ii) the abundance and biomass of populations

in the RPT, HDI, and MAB; (iii) the participation of three species of Nasutitermes on removal of

wood from the necromass in the HDI and MAB; (iv) the seasonal effects on abundance and

biomass of termites on leaf litter, wood, soil, and tree trunks in the RBG; and (v) the abundance

and spatial distribution of conspicuous nests at two sites with different successional stages in the

RBG. In total, 61 species of termites were found, most of them of the family Termitidae (78,7%),

followed by the families Kalotermitidae (14,7%) and Rhinotermitidae (6,6%). Ten species are

reported here for the first time as occurring in the Atlantic forest. Among the identified species,

23 also occur in the Amazonian forest, showing that both biomes have similar termite fauna. The

taxonomic and functional structures of the communities collected throughout the dry and rain

seasons were quite similar, suggesting that the survey protocolo of termite biodiversity can be

applied at any period of the year without altering drastically the communities structure. The

abundance varied from 4951 to 5663 termites/m2 and biomas varied from 8,05 to 10,64g (fresh

weight)/ m2. The termites were found mainly in the soil, 0-20 cm depth, and in dead wood. Two

species were most abundant, Embiratermes parvirostris and Nasutitermes corniger. The average

of wood consumption in laboratory of N. corniger, N. ephratae and N. macrocephalus was 9,43

mg (dry weight) g of termite (fresh weight) -1

day-1

. These three species alone remove from the

HDI and MAB areas ca.67 and 73 g of wood ha-1

year-1

, respectively, which mean 2,9% and

3,3% of the total animal production of dead wood, respectively. However, 25 species of termites

in the MAB and 21 in the HDI utilize wood as their nutrient source, suggesting that termites

participation on removal of wood could be higher than 15% of the annual production. The

quantitative sampling performed in the leaf litter, nests, soil, and tree trunks revealed large

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abundance and biomass of specimens of the subfamily Nasutitermitinae and of individuals of

humus feeding group. The seasonal influence on the fauna of termites was only perceptible in

nests and tree trunks, which appears to be related to the effects of one season on the production

of wringed brood, foraging activity, and production of plant necromass. Eight termite species are

conspicuous nest-builders in the studied areas, noticeably the abundant constructions built

Microcerotermes exiguus and N. corniger. The spatial distribution of nests by each species and

feeding groups was in the most cases at random, suggesting that competition does not represent

an important determining factor of the spatial distribution pattern of nests. The analyses of

abundance, taxonomic composition, and feeding groups of nest-builders species showed to be an

additional tool for the evaluation of the habitat quality, indicating a more mature stage in the

successional process.

Keywords: Isoptera, Neotropical Region, Atlantic Forest, Biodiversity, Abundance, Biomass,

Seasonal Influence, Nests.

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Lista de figuras

CAPÍTULO I

Figura 1.1. Mapa com a localização dos pontos de coletas nos Estados de Alagoas, Pernambuco e

Paraíba. ........................................................................................................................ 31

Figura 1.2. Esquema do transecto utilizado em cada sítio para amostragem da riqueza de espécies

de cupins. Em cada área foram utilizados seis transectos como este por estação. ...... 32

Figura 1.3. Análise de agrupamento geral UPGMA (“unweighted pair-group average”) utilizando

a matriz gerada a partir do coeficiente de Sorensen. ................................................... 33

Figura 1.4. Esquema geral da distribuição dos ninhos de cupins em remanescentes de Mata

Atlântica do Nordeste Brasileiro. Ninhos: 1, Anoplotermes banksi; 2, Armitermes

holmgreni; 3, Embiratermes neotenicus; 4, Labiotermes labralis; 5, Microcerotermes

exiguus; 6, M. strunckii; 7, Nasutitermes corniger; 8, N. ephratae; 9, N.

macrocephalus; 10, Nasutitermes sp. ......................................................................... 34

Figura 1.5. Ninho de Anoplotermes banksi, com cerca de 2,3 dm3, fixo à base de uma árvore. O

ninho possui um formato irregular, mas outros podem assumir um formato próximo

ao esférico. Geralmente são encontrados até 1,5 m de altura do solo. A população dos

ninhos em Mata Atlântica varia de 3.003 a 58.391 indivíduos e em um hectare pode

ocorrer de 0 a 16 construções. ..................................................................................... 35

Figura 1.6. Montículo de Embiratermes neotenicus encontrado exclusivamente na RPT. O ninho,

com cerca de 110 dm3, possui várias manchas escuras que representam áreas de

expansão da construção, que geralmente são observadas durante a estação chuvosa.

As construções desta espécie na Mata Atlântica só são vistas em áreas acima de 400

metros de altitude. A densidade de ninhos varia de 3 a 11/ha e a população média e de

298.347 indivíduos. .................................................................................................... 36

Figura 1.7. Ninho de Microcerotermes exiguus, com cerca de 1,3 dm3, construído sobre um toco

de um arbusto. Suas construções são bastante comuns em Mata Atlântica próxima ao

litoral, mas podem ser escassas ou ausentes em áreas de Brejo de Altitude. A maioria

de seus ninhos é construída até 7 metros de altura do solo, porém em algumas

ocasiões podem ser visto acima de 15 m de altura. A densidade pode variar de 13 a

mais de 50 ninhos/ha e a população de 3.538 a 98.531 indivíduos/ninho. ................. 37

Figura 1.8. Ninho de Nasutitermes ephratae, com cerca de 42 dm3, preso a um arbusto a uma

altura de 1,2 m para o solo. Seus ninhos geralmente são esféricos e construídos a uma

altura máxima de 2,5 m de altura para o solo. Em Mata Atlântica, seus ninhos

possuem de 48.679 a 803.600 indivíduos e uma densidade de 2 a 11 ninhos/ha. ....... 38

Figura 1.9. Ninho de Nasutitermes sp., com cerca de 38 dm3, construído preso a lianas a uma

altura de 4 metros para o solo. Este ninho foi uma exceção, pois a maioria de suas

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construções só foi observada a mais de 10 m de altura. Os ninhos desta espécie

aparentemente tendem a possuir uma distribuição agregada, pois só são vistos em

manchas de dois a quatro ninhos, porém estas manchas são distantes umas das outras.

A densidade de suas construções varia de zero a dois ninhos/ha e não há estimativa

para a população de seu ninho. ................................................................................... 39

Figura 1.10. Riqueza de espécies e proporção (%) entre os grandes grupos taxonômicos de cupins

em quatro remanescentes de Mata Atlântica do Nordeste Brasileiro: Reserva

Biológica de Pedra Talhada (RPT), Horto Dois Irmão (HDI), Reserva Biológica

Guaribas (RBG), Mata do Buraquinho (MAB) ........................................................... 40

Figura 1.11. Abundância (número de encontros) e proporção (%) entre os grandes grupos

taxonômicos de cupins em quatro remanescentes de Mata Atlântica do Nordeste

Brasileiro: Reserva biológica de Pedra Talhada (RPT), Horto Dois Irmão (HDI),

Reserva Biológica Guaribas (RBG), Mata do Buraquinho (MAB). ........................... 41

Figura 1.12. Riqueza de espécies e proporção (%) entre os grupos alimentares de cupins de

cupins em quatro remanescentes de Mata Atlântica do Nordeste Brasileiro: Reserva

Biológica de Pedra Talhada (RPT), Horto Dois Irmão (HDI), Reserva Biológica

Guaribas (RBG), Mata do Buraquinho (MAB). .......................................................... 42

Figura 1.13. Abundância (número de encontros) e proporção (%) entre os grupos alimentares de

cupins em quatro remanescentes de Mata Atlântica do Nordeste Brasileiro: Reserva

Biológica de Pedra Talhada (RPT), Horto Dois Irmão (HDI), Reserva Biológica

Guaribas (RBG), Mata do Buraquinho (MAB). .......................................................... 43

Figura 1.14. Comparação dos quatro grupos alimentares mais abundantes nas estações seca e

chuvosa na Reserva Biológica de Pedra Talhada. De acordo com o teste-t, ao nível de

5%, não houve diferença entre as médias dos grupos das estações. ........................... 44

Figura 1.15. Número de colônias por grandes grupos taxonômicos para as estações chuvosa (em

cima) e seca da Reserva Biológica de Pedra Talhada-AL. .......................................... 45

Figura 1.16. Comparação dos quatro grupos alimentares mais abundantes nas estações seca e

chuvosa no Horto Dois Irmãos. De acordo com o teste-t, ao nível de 5%, não houve

diferença entre as médias dos grupos das estações. .................................................... 46

Figura 1.17. Número de colônias por grandes grupos taxonômicos para as estações chuvosa (em

cima) e seca do Horto Dois Irmãos-PE. ...................................................................... 47

Figura 1.18. Comparação dos quatro grupos alimentares mais abundantes nas estações seca e

chuvosa na Reserva Biológica Guaribas. De acordo com o teste-t, ao nível de 5%, não

houve diferença entre as médias dos grupos das estações. .......................................... 48

Figura 1.19. Número de colônias por grandes grupos taxonômicos para as estações chuvosa (em

cima) e seca da Reserva Biológica de Guaribas-PB. ................................................... 49

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Figura 1.20. Comparação dos quatro grupos alimentares mais abundantes nas estações seca e

chuvosa na Mata do Buraquinho. De acordo com o teste-t, ao nível de 5%, não houve

diferença entre as médias dos grupos das estações. .................................................... 50

Figura 1.21. Número de colônias por grandes grupos taxonômicos para as estações chuvosa (em

cima) e seca na Mata do Buraquinho-PB. ................................................................... 51

Figura 1.22. Riqueza de espécies estimada pelo Jackknife, com intervalo de confiança de 95%,

para as estações seca e chuvosa. Os pequenos círculos no centro dos intervalos de

confiança marcam as estações chuvosas de cada área, enquanto os pequenos

triângulos marcam as estações secas. ......................................................................... 52

Figura 1.23. Análise de agrupamento UPGMA (“unweighted pair-group average”) utilizando a

matriz gerada a partir do coeficiente quantitativo de Morisita. .................................. 53

Figura 1.24. Análise de agrupamento UPGMA (“unweighted pair-group average”) utilizando a

matriz gerada a partir do coeficiente qualitativo de Sorensen. ................................... 54

CAPÍTULO II

Figura 2.1. Esquema geral mostrando os procedimentos de coleta dos cupins de solo. A: inserção

da placa no solo; B: retirada do solo adjacente ao monolito; C: separação do solo em

camadas; D: fragmentação manual do solo em bandejas plásticas e coleta dos cupins.

..................................................................................................................................... 72

Figura 2.2. Pesagem com balança manual dos troncos encontrados nas parcelas de 30 m2. ........ 73

Figura 2.3. Extração em campo dos cupins das amostras de 5 Kg retiradas das parcelas. ........... 74

Figura 2.4. Abundância e biomassa de cupins por grupo alimentar em três remanescentes de Mata

Atlântica do Nordeste Brasileiro: Reserva Biológica de Pedra talhada (RPT); Horto

Dois Irmãos (HDI); e Mata do Buraquinho (MAB). ................................................... 75

Figura 2.5. Abundância e biomassa de cupins por microhabitat em três remanescentes de Mata

Atlântica do Nordeste Brasileiro: Reserva Biológica de Pedra talhada (RPT); Horto

Dois Irmãos (HDI); e Mata do Buraquinho (MAB). ................................................... 76

Figura 2.6. Abundância e biomassa de cupins (m2) por camada de solo em três remanescentes de

Mata Atlântica do Nordeste Brasileiro: Reserva Biológica de Pedra talhada (RPT);

Horto Dois Irmãos (HDI); e Mata do Buraquinho (MAB). ........................................ 77

CAPÍTULO IV

Figura 4.1. Abundância e biomassa dos cupins de folhiço em amostragens realizadas durante o

período diurno e noturno na Reserva Biológica Guaribas, Paraíba Brasil. As colunas

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xix

escuras representam a estação chuvosa. As barras representam o erro padrão da

média. ........................................................................................................................ 100

Figura 4.2. Abundância e biomassa dos cupins ninhos na estação seca e chuvosa na Reserva

Biológica Guaribas, Paraíba, Brasil. As barras representam o erro padrão da média.

................................................................................................................................... 101

Figura 4.3. Abundância e biomassa dos cupins em troncos na estação seca e chuvosa na Reserva

Biológica Guaribas, Paraíba, Brasil. As barras representam o erro padrão da média.

................................................................................................................................... 102

Figura 4.4. Abundância e biomassa dos cupins de solo na estação seca e chuvosa na Reserva

Biológica Guaribas, Paraíba Brasil. As colunas mais escuras representam a estação

chuvosa. As barras representam o erro padrão da média. ......................................... 103

CAPÍTULO V

Figura 5.1. Distribuição espacial das espécies construtoras de ninhos conspícuos na área de Mata

Atlântica com 17 anos de regeneração na Reserva Biológica Guaribas, Paraíba. .... 117

Figura 5.2. Distribuição espacial das espécies construtoras de ninhos conspícuos na área de Mata

Atlântica com 30 anos de regeneração na Reserva Biológica Guaribas, Paraíba ..... 118

Figura 5.3. Distribuição espacial das espécies de três grupos alimentares nas áreas de Mata

Atlântica com 17 anos de regeneração na Reserva Biológica Guaribas, Paraíba ..... 119

Figura 5.4. Distribuição espacial das espécies de três grupos alimentares nas áreas de Mata

Atlântica com 30 anos de regeneração na Reserva Biológica Guaribas, Paraíba ..... 120

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xx

Lista de Tabelas

CAPÍTULO I

Tabela 1.1. Riqueza de espécies de cupins nas estações chuvosa (E. C.) e seca (E. S.) em quatro

remanescentes de Mata Atlântica do Nordeste Brasileiro. Nidificação: Ma, ninho em

madeira; Fo, ninho no perfil do folhiço; Su, subterrâneo; Mo, montículo; Ar,

arborícola; In, inquilino de ninhos de outras espécies de cupins. Alimentação: Ma,

madeira; Hu, húmus; Fo, Folhas; Int (Ma/Hu), consumo intermediário entre madeira e

húmus; In (Ma/Fo), consumo intermediário entre madeira/folha. Microhabitats: Ma,

madeira; Ni, ninho; Fo, liteira; So, solo. Os números representam o número de

encontros; “-”, significa ausência da espécie na área de estudo; “?”, incerteza; “??”,

desconhecido. .............................................................................................................. 55

Tabela 1.2. Riqueza de espécies e gêneros de cupins em fragmentos de floresta úmida do

complexo Mata Atlântica do Nordeste Brasileiro. ...................................................... 58

Tabela 1.3. Similaridade entre as espécies de cupins identificadas para a área de Mata Atlântica

típica do Nordeste Brasileiro (MA) com as que ocorrem na Restinga (MAre), Brejo de

Altitude (MAba), Floresta Amazônica (terra firme e várzea) (FA), Cerrado (CE),

enclaves de florestas no domínio do Cerrado (Cefl) e Caatinga dos Cariris Paraibanos

(CA). ........................................................................................................................... 59

CAPÍTULO II

Tabela 2.1. Abundância (cupins/m2) e biomassa (g. peso vivo/m

2) dos cupins em três

remanescentes de Mata Atlântica do Nordeste Brasileiro. Nidificação: Ma, ninho em

madeira; Fo, ninho no perfil do folhiço; Su, subterrâneo; Mo, montículo; Ar,

arborícola. Grupos alimentares: Cma, consumidor de madeira; Chu, consumidor de

húmus; Cfo, consumidor de folhas; Cin (M/H), consumidor intermediário entre

madeira e húmus; Cin (M/F), consumidor intermediário entre madeira e folha.

Microhabitats: Mad, madeira; Nin, ninho; Fol, folhiço; Sol, solo. ............................ 78

Tabela 2.2. População de ninhos, abundância (cupins/m2) e biomassa (g. cupins vivo/m

2) de

cupins construtores de ninhos conspícuos em três remanescentes de Mata Atlântica do

Nordeste Brasileiro. .................................................................................................... 80

Tabela 2.3. Dados disponíveis sobre a abundância e populações de ninhos de cupins em florestas

úmidas da região Neotropical. .................................................................................... 82

CAPÍTULO III

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Tabela 3.1. Abundância de Nasutitermes corniger, N. ephratae e N. macrocephalus em ninhos e

troncos em duas áreas de Mata Atlântica ao norte do Rio São Francisco. .................. 90

Tabela 3.2 Consumo (mg g de cupim vivo-1

dia-1

) de madeira por Nasutitermes corniger, N.

ephratae e N. macrocephalus em duas áreas de Mata Atlântica ao norte do Rio São91

Francisco. .................................................................................................................... 90

Tabela 3.3. Participação de N. corniger, N. ephratae e N. macrocephalus no consumo de madeira

da necromassa vegetal em dois remanescentes de Mata Atlântica do Nordeste

Brasileiro. .................................................................................................................... 91

CAPÍTULO IV

Tabela 4.1. Abundância (cupins/m2) por microhabitat nas estações chuvosa e seca na Reserva

Biológica Guaribas, Paraíba, Brasil. Os valores de biomassa (g- cupim vivo) entre

parênteses. Nidificação: Ma, ninho em madeira; Fo, ninho no perfil do folhiço; Su,

subterrâneo; Mo, montículo; Ar, arborícola; In, espécie inquilina de ninhos ativos e

abandonados de cupins. Grupos alimentares: Cma, consumidor de madeira; Chu,

consumidor de húmus; Cfo, consumidor de folhas; Cin (M/H), consumidor

intermediário entre madeira e húmus; Cin (M/F), consumidor intermediário entre

madeira e folha. ......................................................................................................... 104

CAPÍTULO V

Tabela 5.1. Abundância e valores do índice “R” por espécies e por grupo alimentar em duas áreas

de Mata Atlântica em diferentes estágios de sucessão da vegetação na Reserva

Biológica Guaribas, Paraíba. O índice “R” só foi calculado para as espécies que

possuíram mais de sete ninhos em cada área estudada. ............................................ 121

Tabela 5.2. Comparação dos volumes (dm3) dos ninhos ativos e conspícuos em duas áreas de

Mata Atlântica com diferentes estágios de sucessão da vegetação na Reserva

Biológica Guaribas, Paraíba. ..................................................................................... 122

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Estado da Arte

Os cupins são insetos eussociais que compõem a ordem Isoptera. Entre as principais

características que conferem a eussocialidade a esses insetos estão a presença de adultos

coespecíficos vivendo juntos, formando um grupo chamado de colônia, e o comportamento

cooperativo entre eles em prol do sucesso reprodutivo de um ou poucos indivíduos adultos da

colônia (WILSON, 1971).

Algumas características morfológicas dos cupins, como a genitália das fêmeas aladas, a

venação das asas e a estrutura da cápsula cefálica, relacionam esses insetos aos louva-a-deus

(Mantodea) e às baratas (Blattaria), formando um táxon denominado de Dictyoptera

(KRISTENSEN, 1981; THORNE & CARPENTER, 1992). A organização social dos cupins apresenta

características semelhantes a alguns representantes da ordem Hymenoptera, mostrando,

provavelmente, uma convergência evolutiva entre as duas ordens que são filogeneticamente

independentes. No entanto, algumas das características sociais dos Isoptera são dissimilares ao

estilo social dos Hymenoptera, como a presença de machos e fêmeas diplóides, de reprodutor

macho que permanece com a fêmea ao longo da vida da colônia e do cuidado com a prole

executada concomitantemente por machos e fêmeas (HIGASHI et al., 2000).

Organização social

A sociedade dos cupins é constituída por indivíduos morfologicamente distintos,

agrupados em castas, que desempenham funções específicas dentro da colônia (WILSON, 1971).

Há basicamente três tipos de castas: (i) os operários representam a casta mais numerosa da

colônia. São responsáveis pela construção, reparo e limpeza dos ninhos, cuidados com os ovos e

recém-nascidos, forrageamento e até pela defesa da colônia. Além disso, são incumbidos da

alimentação das outras castas, através da trofalaxia (GRASSÉ, 1982). Este fenômeno consiste na

troca de fluidos corporais, de origem estomodeal (transferência pela boca) ou proctodeal

(transferência pelo ânus), entre os indivíduos de uma mesma espécie. Os fluidos podem ser

compostos basicamente por substâncias nutritivas e feromônios, que auxiliam no equilíbrio social

da colônia; (ii) os soldados são incumbidos basicamente da defesa do ninho e proteção dos

operários durante o forrageamento, mas também podem atuar como agentes de recrutamento de

operários quando um recurso alimentar é encontrado (TRANIELLO, 1981). As armas utilizadas na

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

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defesa são basicamente as mandíbulas e/ou substâncias químicas produzidas principalmente pela

glândula frontal, localizada na cápsula cefálica. A presença de uma ou de outra arma de defesa,

ou até mesmo de ambas, vai depender da espécie. As mandíbulas são utilizadas para cortar ou

desmembrar os opositores, enquanto as substâncias químicas são tóxicas e/ou pegajosas

(PRESTWICK, 1979; COLES, 1980). Nem todas as espécies de cupins possuem soldados. Algumas

utilizam apenas os operários como agentes de defesa da colônia; (iii) os alados possuem dois

pares de asas membranosas, sendo popularmente conhecidos como siriris ou aleluias, e serão os

futuros reprodutores da colônia, também chamados de reis e rainhas. Os alados são geralmente

liberados durante a estação chuvosa. Neste período, é comum encontrá-los pelo chão durante o

dia, depois de uma chuva, ou voando ao redor de pontos de iluminação à noite (KRISHNA, 1969;

NUTTING, 1969).

O ciclo de vida de uma espécie de cupim geralmente inicia quando os alados, machos e

fêmeas, deixam o ninho paterno. Após aterrissarem e perderem as asas, as fêmeas tentam atrair os

machos, lançando no ar feromônios específicos de atração, peculiares a cada espécie (NUTTING,

1969; STUART, 1969). Em seguida, o casal inicia a procura por um orifício para estabelecer uma

nova colônia, que pode ser no solo, em madeira morta, em árvores, sob cascas de árvores, etc. Só

a partir de então ocorre a cópula, que se repete várias vezes durante a vida do casal real. Os

primeiros ovos são postos após alguns dias ou semanas depois de se estabelecerem. Os cupins

recém-nascidos, chamados de ninfas, são alimentados pelos pais até se tornarem operários ou

soldados adultos. Após alguns anos de existência da colônia, quando esta já se encontra madura

e, em algumas espécies, contendo milhares de indivíduos, ela estará pronta para produzir nova

prole de indivíduos alados.

Nidificação e inquilinismo

Uma das conseqüências da vida colonial dos cupins foi a construção de ninhos para

abrigar os reprodutores e sua prole. Os ninhos são classificados de acordo com as suas

características estruturais, incluindo tipo de material utilizado e local da construção (NOIROT,

1970), podendo ser: (i) ninho em madeira (“one-piece nests”, segundo ABE (1987)), onde os

cupins vivem confinados no interior da sua fonte nutricional. Neste caso, o tamanho e a

longevidade da colônia são severamente afetadas pelo tamanho do pedaço de madeira; (ii)

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

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arborícolas, construídos sobre árvores vivas ou mortas, não mantêm contato direto com a

superfície do solo; (iii) epígeos ou montículos, iniciados geralmente abaixo da superfície do solo,

mas, com o passar do tempo, ficam com uma porção aérea; (iv) hipógeos ou subterrâneos, com

estrutura inserida completamente no interior do solo. Para esta última categoria é pertinente

salientar a diferença entre os cupins que constroem ninhos com estrutura bem definida no interior

do solo (p. ex. Syntermes praecellens (CONSTANTINO, 1998)) daqueles que formam uma rede de

galerias difusas no seu perfil (p. ex. a maioria das espécies de Anoplotermes). O tipo e a estrutura

interna das construções são peculiares a cada espécie, servindo, muitas vezes, como um

importante caráter para a identificação do cupim.

A maioria das espécies de cupins constrói ninhos constituídos por uma estrutura única. No

entanto, algumas espécies de cupins das famílias Rhinotermitidae e Termitidae possuem o hábito

de construir ninhos com várias partes (também conhecidas como cálies) interligadas, que são

comumente chamados de ninhos compostos ou policálicos (NOIROT, 1970). Nestes casos, há um

ninho primário, com reprodutores, interligado a várias cálies, geralmente desprovidas de

reprodutores, formando uma verdadeira malha de ninhos (LEVINGS & ADAMS, 1984; HOLT &

EASEY, 1985; ROISIN & PASTEELS, 1986).

O número de cupins de um ninho pode variar de algumas dezenas a até alguns milhões de

indivíduos (EMERSON, 1938). Além dos próprios cupins, os ninhos podem abrigar outros animais,

conhecidos como inquilinos (termitófilos e termitariófilos). Entre eles, estão formigas, abelhas,

aranhas, lacraias, besouros, escorpiões e percevejos (KISTNER, 1969; DOMINGOS, 1985). É

possível encontrar até mesmo alguns vertebrados, como lagartos, cobras, ratos e aves. Além

disso, algumas espécies de cupins são especializadas em viver no interior de ninhos de outros

cupins. Isso ocorre, por exemplo, em Constrictotermes cyphergaster, uma espécie construtora de

ninho arborícola muito comum em áreas de Caatinga e Cerrado (VASCONCELLOS et al., 2003;

CONSTANTINO, no prelo). Os seus ninhos freqüentemente são habitados por colônias das espécies

Inquilinitermes fur ou I. microcerus, que nunca são encontrados em outro microhabitat

(MATHEWS, 1977). A relação destas espécies com C. cyphergaster é bastante discutida, mas é

possível que haja uma relação de comensalismo ou mutualismo.

Além dos ninhos, os cupins, ao longo da evolução, conseguiram ocupar uma enorme

variedade de microhabitats (HIGASHI & ABE, 1997). Dentro dos ambientes de florestas tropicais,

por exemplo, pode-se encontrar a termitofauna distribuída dentre os mais diversos substratos

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

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como no folhiço (folhas caídas sobre solo da floresta), dossel, solo, dentro de troncos vivos e em

madeira nos mais variados estágios de decomposição (ABE, 1978; WOOD & SANDS, 1978;

BANDEIRA & TORRES, 1985).

Hábitos alimentares e simbiose

O consumo de madeira da necromassa, geralmente troncos e galhos, representa a principal

fonte de nutrientes para a maioria das espécies de cupins (WOOD, 1978; NOIROT & NOIROT-

TIMOTHEÉ, 1969). No entanto, o consumo de madeira pelos cupins é caracterizado pela presença

de um gradiente de preferência alimentar que varia desde madeira viva até em estágio avançado

de decomposição misturada com solo (húmus) (MATHEWS, 1977; DONOVAN et al., 2001).

Algumas espécies podem ainda consumir gramíneas, folhas mortas da necromassa, fezes de

herbívoros, liquens, microepífitas, carcaças de animais, enquanto outras cultivam fungos no

interior dos seus ninhos (subfamília Macrotermitinae). Por essa variedade de hábitos alimentares,

os cupins são considerados, em alguns casos, como herbívoros e, em outros, como

decompositores (WOOD & SANDS, 1978).

A madeira consumida pelos cupins é relativamente pobre em nitrogênio, contendo apenas

0,03-0,1% do total de seus constituintes (LA FAGE & NUTTING, 1978). Por outro lado, o tecido

dos cupins consumidores de madeira possui cerca de 10% de nitrogênio (MATSUMOTO, 1976).

Para manter o nível de nitrogênio no corpo, indispensável para síntese de proteínas e ácidos

nucléicos, alimentando-se de madeira com baixa concentração deste elemento, os cupins

desenvolveram várias estratégias para sua obtenção e conservação. Entre eles destacam-se a

preferência alimentar por madeira e folhas ricas em nitrogênio e liquens, o cultivo de fungos

pelas espécies de Macrotermitinae, o consumo de madeira infectada por fungos, a fixação

(realizado por bactérias do seu trato digestivo) e assimilação do nitrogênio atmosférico,

canibalismo, necrofagia, trofalaxia e reaproveitamento de ácido úrico, devido a atividade de

bactérias uricolíticas intestinais (MACHIDA et al., 2001). Tendo em vista a sua grande biomassa e

posição trófica nos trópicos (ver logo abaixo), principalmente a fixação de nitrogênio representa

uma importante fonte adicional de entrada deste elemento nos ecossistemas tropicais

(SYLVESTER-BRADLEY et al., 1978; TAYASU, 1994).

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

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A importância funcional de uma espécie de cupim está ligada diretamente a sua ecologia

nutricional, comportamentos de forrageamento e construção de ninhos e a sua abundância e

biomassa no ecossistema. Por isso, o refinamento na determinação do tipo de alimentação sempre

foi um desafio para os termitólogos, por representar parte fundamental na identificação do papel

ecológico de uma espécie. Tendo em vista a grande variedade de itens alimentares consumidos

por uma comunidade de cupins, por exemplo, numa floresta tropical, a categorização das espécies

em grupos alimentares ou guildas tradicionalmente tem se mostrado a forma mais adequada para

conhecer a estrutura funcional de uma comunidade. No entanto, não há um consenso sobre a

forma mais adequada para classificar os hábitos alimentares.

A relação entre a morfologia das mandíbulas dos operários e a observação de sua

alimentação no campo representou um das primeiras ferramentas para determinar os grupos

alimentares (SANDS, 1965; DELIGNE, 1966; MATHEWS, 1977). Todavia, devido às semelhanças

morfológicas das mandíbulas de espécies que possuíam hábitos alimentares diferentes, constatou-

se que a análise isolada desta característica era insatisfatória. Como também a análise isolada da

presença ou ausência de grânulos de areia ou silte no trato digestivo dos operários (BANDEIRA,

1989). SLEAFORD et al. (1996) tentaram, utilizando baterias de corantes, marcar os itens

alimentares presentes na pança dos operários como uma nova ferramenta para determinar o

“status” alimentar das espécies, porém devido a grande sobreposição dos itens alimentares

presentes nas diferentes espécies, além da falta de praticidade, evidenciou-se a pouca utilidade do

método. TAYASU et al. (1997) observaram que através do estudo da razão entre os isótopos

estáveis de nitrogênio e carbono, presentes nos tecidos do corpo, nos materiais dos ninhos e nos

recursos alimentares dos cupins consumidores de madeira, madeira/húmus e húmus, pode-se ter

uma idéia sobre a ecologia nutricional das espécies. Mais recentemente, DONOVAN et al. (2001)

utilizaram um mix entre características morfológicas externas e internas e o conteúdo intestinal

dos operários para propor uma nova classificação dos grupos alimentares, mas a presença de

alguns erros de interpretação e a ausência do devido aprofundamento na avaliação de alguns

táxons, acabaram por gerar uma insegurança na utilização do método, pelo menos com relação à

fauna Neotropical, (BANDEIRA et al., 2003). Aparentemente, a observação in situ dos hábitos de

forrageamento e dos microhabitats preferidos pelas espécies talvez seja a forma mais prática de

categorizar os cupins em grupos alimentes. No entanto, para espécies difíceis de serem

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

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observadas alimentando-se no campo, como Constrictotermes cyphergaster, métodos alternativos

devem ser elaborados.

A ecologia nutricional dos cupins é marcada pelas associações mutualísticas com vários

microorganismos, como protozoários, bactérias e fungos. Essas associações, na maioria dos

casos, permitem que os cupins possam digerir e assimilar adequadamente os nutrientes do meio,

principalmente a celulose. Não há evidências que comprovem em definitivo que exista alguma

espécie de cupim que possa degradar a celulose de forma adequada sem a assistência dos seus

simbiontes intestinais (BIGNELL, 2000). Em grande parte, a diversidade trófica dos cupins é fruto

do sucesso evolutivo das associações com esses microorganismos, que levaram esses insetos a

explorarem os mais variados microhabitats dentro de um ecossistema.

Diversidade e sazonalidade

A ordem Isoptera possui cerca de 2600 espécies, acomodadas em 281 gêneros, 14

subfamílias e sete famílias (KAMBHANPATI & EGGLETON, 2000). Distribuem-se principalmente

nas regiões tropicais do planeta, com poucas espécies estendendo-se até as regiões temperadas

(WOOD, 1975; ABE, 1978). Para a região Neotropical são conhecidas as famílias Kalotermitidae,

Rhinotermitidae, Serritermitidae, Termitidae e Termopsidae, com cerca de 80 gêneros e 500

espécies (CONSTANTINO, 1998; KAMBHANPATI & EGGLETON, 2000). No Brasil, apenas as quatro

primeiras famílias são registradas, compreendendo juntas 68 gêneros e cerca de 300 espécies.

Seguramente estes números subestimam a grande quantidade de espécies ainda desconhecidas,

pois só na região Nordeste do Brasil estima-se que mais de 50% das espécies sejam novas para a

ciência (BANDEIRA & VASCONCELLOS, 1999).

A distribuição, abundância e diversidade de cupins em escala local e regional podem ser

influenciadas por vários fatores naturais e antropogênicos. Entre os fatores naturais destacam-se

(i) a latitude (BIGNELL & EGGLETON, 2000); (ii) os fatores históricos (EGGLETON et al., 1994);

(iii) o clima, principalmente pluviosidade e temperatura (FERRY, 1992; GATHORNE-HARAY et al.,

2001); (iv) a altitude (JONES, 2000; BANDEIRA et al., 2003); a composição química e física do

solo (LEE & WOOD, 1971); (vi) o tipo e estágio de sucessão da vegetação; (vii) a competição intra

e interespecífica (SPAIN et al., 1986); e (viii) a predação (ABE & DARLINGTON, 1985). Entre os

fatores antropogênicos estão (i) a fragmentação de habitat (DESOUZA & BROWN, 1994); (ii) o

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

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corte seletivo de árvores (EGGLETON et al., 1995; BANDEIRA et al., 2003); e (iii) o clareamento

total para conversão em monocultura e pastagem (BANDEIRA, 1979; MIRANDA et al., submetido).

A sazonalidade anual e interanual aparentemente também podem influenciar a

composição de espécies, distribuição e abundância de cupins. Grande parte dos estudos sobre

esse assunto foi desenvolvida em ambientes tropicais, mas com clima seco, onde a diferença

entre as estações era marcante (BOUILON, 1970; LEE & WOOD, 1971; USHER, 1975; OHIAGU &

WOOD, 1979; BUXTON, 1981; DESHMUKH, 1989). Por outro lado, é temerosa a extrapolação dos

resultados obtidos nesses ecossistemas para as florestas tropicais úmidas, tendo em vista a

diferença climática, principalmente da temperatura e regime de chuvas. Talvez os únicos aspectos

parecidos entre estes ambientes sejam a produção e a revoada sazonal dos alados da colônia, que

parecem ser moduladas por fatores ambientais (NUTTING, 1969). Mesmo com poucos estudos em

florestas tropicais úmidas, alguns resultados mostraram haver influência estacional sobre a

abundância (BIGNELL & EGGLETON, 2000), atividade de forrageamento (LUIZÃO & SCHUBART,

1987) e migração vertical no solo (BANDEIRA & HARADA, 1998; SILVA & BANDEIRA, 1999).

Importância funcional nos ecossistemas e produção de metano

Os cupins exercem uma considerável influência na fertilidade dos solos das regiões

tropicais, agindo principalmente como mediadores dos processos de decomposição da

necromassa vegetal (WOOD & SANDS, 1978; LAWTON et al., 1996). Esse processo grosseiramente

pode ser dividido em duas etapas: (i) fragmentação mecânica, realizada principalmente por

cupins e besouros comedores de madeira; e (ii) mineralização química, realizada por fungos e

bactérias, que tornam os nutrientes presentes na necromassa vegetal disponíveis para serem

reabsorvidos pelas plantas. A ausência da fragmentação mecânica pode alterar toda a dinâmica

deste processo, dificultando a ação dos fungos e das bactérias e, por conseguinte, podendo

diminuir a produtividade de um ecossistema com o retardamento da liberação dos nutrientes para

o meio (HOLT, 1987; HOLT & COVENTRY, 1990; MARTIUS, 1997).

A magnitude do papel dos cupins na ciclagem dos nutrientes fica ainda mais evidente

quando se avalia a quantidade desses insetos nos ecossistemas tropicais. Em florestas tropicais

úmidas a abundância de cupins pode variar entre 40 a 10.400 indivíduos/m2 (EGGLETON &

BIGNELL, 1995; EGGLETON et al., 1996). Nas florestas neotropicais, a abundância desses insetos

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

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pode variar de 1008 a 4850 indivíduos/m2 (MARTIUS, 1994a; BANDEIRA et al., 1998, BANDEIRA &

VASCONCELLOS, 2002). Em termos de biomassa viva, os cupins representam uma porção

significativa, principalmente nos ecossistemas tropicais, sendo um dos principais artrópodes que

compõem a fauna de invertebrados terrestres em áreas florestadas (FITTKAU & KLINGE, 1973;

GARNIER-SILLAM & HARRAY, 1995). Segundo WILSON (1993), os cupins representam cerca de

10% de toda a biomassa animal terrestre do planeta. Estimativas da biomassa viva desses insetos

em florestas tropicais úmidas variam de 01 a 120 g de indivíduos/ m2, o que representa de 10 a

1.200 quilos de cupins por hectare (EGGLETON & BIGNELL, 1995; EGGLETON et al., 1996). No

interior do solo, os cupins representam cerca de 95% de toda a biomassa de insetos (WATT et al.,

1997) e, na madeira, mais de 80% da biomassa total de invertebrados (BANDEIRA & TORRES,

1985). Dessa forma, os cupins podem ser responsáveis pela decomposição de mais de 50% dos

detritos orgânicos de origem vegetal nos trópicos (BIGNELL & EGGLETON, 2000).

Além da importância no processo de decomposição, a intensa atividade dos cupins no

interior dos solos altera sua composição química e estrutural. O seu comportamento construtor e

de forrageamento transfere material pedológico profundo para a superfície e material orgânico da

superfície para camadas mais profundas do solo. Essa atividade tem como conseqüência um

aumento considerável da porosidade e aeração, mantendo os solos descompactados, e com

capacidade para reter água (LEE & WOOD, 1971; BLACK & OKWACOL, 1997). Além disso, as

alterações na estrutura física dos solos influenciam na disponibilidade de recursos para

organismos de outros grupos funcionais. Isto demonstra que os cupins, juntamente com as

minhocas, representam bons exemplos de organismos “engenheiros” de ecossistemas (LEVELLE

et al., 1997; DANGERFIELD, 1998). Em alguns ambientes áridos e semi-áridos, a influência dos

cupins na ciclagem de nutrientes e disponibilidade de água é refletida na produtividade primária e

na estrutura da vegetação, sendo, por isso, considerados organismos-chave para a manutenção da

integridade estrutural e funcional desses ecossistemas (HOLT & COVENTRY, 1990; WHITFORD,

1991).

Devido à elevada biomassa nos ecossistemas tropicais, os cupins podem participar

ativamente do fluxo de carbono, inclusive emitindo gases que contribuem para o efeito estufa,

como o dióxido de carbono e o metano (SUGIMOTO et al., 2000). O metano, em particular, é

produzido durante a degradação anaeróbica da matéria orgânica por bactérias metanogênicas que

se localizam no intestino posterior dos cupins. As primeiras estimativas de emissão deste gás

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

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demonstraram que os cupins produziam 150 Mt/ano (40% da emissão global) (ZIMMERMAN et

al., 1982). Com o aumento dos estudos sobre a abundância e biomassa de suas populações, as

estimativas de emissão foram relativamente refinadas. Atualmente a emissão de metano por

cupins foi estimada em 20 Mt/ano (4% da emissão global) (SANDERSON, 1996). Mesmo havendo

uma redução significativa em relação à estimativa anterior, este valor ainda é bastante expressivo

para um único táxon animal.

Os cupins ocupam uma importante posição na cadeia alimentar dentro das florestas, por

constituírem parte da dieta de muitos outros animais. Neste sentido, destacam-se as formigas

como as mais importantes predadoras destes insetos (HOLLDOBLER & WILSON, 1990). Ninhos

inteiros de cupins podem ser invadidos por formigas, ocorrendo uma verdadeira batalha pela

vida. No entanto, podem-se destacar também outros artrópodes (libélulas, centopéias, aranhas,

louva-a-deus, besouros, percevejos, vespas, etc.) e alguns vertebrados (tatus, tamanduás, aves,

sapos, lagartos, cobras e peixes) como predadores de cupins (NUTTING, 1969; REDFORD, 1984;

LAPAGE, 1991; TRANIELLO & LEUTHOLD, 2000). Na Amazônia, algumas espécies do gênero

Syntermes, possivelmente por serem cupins conspícuos, são utilizadas por algumas tribos

indígenas como fonte de nutrientes, especialmente durante a estação chuvosa, quando os peixes e

a caça estão escassos ou difíceis de serem capturados (PAEOLETTI et al., 2000).

Cupins como bioindicadores

Além de sua importância funcional, os cupins também são tratados como um táxon

indicador de qualidade ambiental, adequados para monitoramentos ecológicos. Entre os

principais atributos que justificam sua categorização como bioindicadores, estão: hábitos

sedentários, indivíduos presentes ao longo de todo o ano, importância funcional nos ecossistemas

e o seu curto tempo de resposta a perturbações antrópicas (BROWN, 1991). É possível que

atualmente o maior obstáculo para consolidação dos cupins como bioindicadores ecológicos e de

qualidade ambiental, na região Neotropical, seja a dificuldade de identificação de alguns de seus

táxons, especialmente as espécies da subfamília Apicotermitinae e da família Kalotermitidae.

A comunidade de cupins sofre uma redução drástica na riqueza de espécies, abundância e

biomassa quando são impostas perturbações em seus habitats, tanto por conseqüência das

modificações microclimáticas como pela redução dos sítios de nidificação e da oferta de alimento

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

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(WOOD, 1975; BANDEIRA, 1989; EGGLETON et al., 1995; EGGLETON et al., 1996). Isso foi

evidenciado em um Brejo de Altitude em Pernambuco, que teve toda a estrutura da comunidade

de cupins alterada devido ao corte seletivo e clareamento da floresta para o cultivo de árvores

frutíferas (BANDEIRA & VASCONCELLOS, 2002; BANDEIRA et al., 2003). Em habitats

artificialmente fragmentados e isolados de floresta tropical na Amazônia Central, a fauna de

cupins sofreu uma redução drástica de diversidade de acordo com a redução do tamanho do

fragmento, sendo as espécies da guilda dos comedores de húmus as mais afetadas (DESOUZA &

BROWN, 1994)

Mesmo mostrando grande potencial como bioindicador, a utilização isolada dos cupins,

ou de qualquer outro táxon de inseto, nos programas de biomonitoramento certamente é

inadequada, pois a funcionalidade dos cupins é restrita nos ecossistemas. Neste sentido, o

emprego de vários grupos de insetos de categorias funcionais distintas, como libélulas,

borboletas, formigas e cupins, parece ser a melhor alternativa para o acompanhamento mais

aprofundado de um ecossistema ao longo do tempo.

Importância como pragas

Para os leigos, os cupins em geral são tratados como pragas ou como insetos sem

nenhuma utilidade para os seres humanos. Na realidade, apenas cerca de 9% das espécies podem

ser consideradas como pragas e responsáveis pela má fama dos Isoptera. A voracidade dessas

espécies levou alguns pesquisadores a classificarem os cupins como os insetos mais destruidores

entre os que atacam produtos derivados de madeira no ambiente urbano (EDWARDS & MILL,

1986; SU & SCHEFFRAHN, 2000). Na agricultura, há registro de danos causados por cupins em

plantações tais como milho, inhame, cana-de-açúcar, mandioca, eucalipto, amendoim, arroz e

algodão (SANDS, 1973; FOWLER & FORTI, 1990; CONSTANTINO, 2002; ROULAND & MORA, 2002).

A Mata Atlântica e uma breve revisão dos estudos desenvolvidos sobre os cupins deste bioma

Apesar da importância ecológica e econômica, poucos trabalhos sobre os cupins foram

desenvolvidos no Brasil, especialmente na região Nordeste (BANDEIRA & VASCONCELLOS, 1999).

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

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Isso é facialmente perceptível para alguns biomas, como Mata Atlântica e Caatinga, pelo número

baixo de estudos publicados.

A Mata Atlântica cobria originalmente 1.360.000 km2 (ca. 15% do território nacional),

estendendo-se do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul (MMA, 2000). Desde o início da

colonização européia, esse bioma foi severamente desmatado ao longo de sua extensão para

extração de madeira, produção de carvão vegetal, agricultura, pastagem e construção de cidades

(MORELLATO & HADDAD, 2000).

Atualmente mais de 100 milhões de brasileiros vivem em cidades construídas em áreas

onde havia vegetação do Complexo Mata Atlântica (SOS MATA ATLÂNTICA, 1999). Mais de 500

anos de forte pressão antrópica reduziu a Mata Atlântica a apenas 7,5 % (96.800 km2) da sua

cobertura original (MMA, 2000). A situação ainda é mais alarmante ao Norte do Rio São

Francisco (Estados de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte), onde grande parte

da vegetação foi convertida em monocultura de cana-de-açúcar, restando apenas 2% da cobertura

original. Neste setor, a composição da fauna e flora é bastante diferente das outras partes da Mata

Atlântica (PRANCE, 1982 apud SILVA & TABARELLI, 2000).

A Mata Atlântica representa um dos biomas com maior diversidade do planeta, possuindo

um grande número de espécies endêmicas tanto de vegetais como de vertebrados. No entanto, por

causa do seu grande significado ecológico e ritmo de devastação, foi categorizada como o quarto

“hotspot”, numa lista de 24 biomas mundiais, em prioridade para conservação da biodiversidade

(MYERS et al., 2000).

Há algumas evidências atuais que reforçam a hipótese da conexão pretérita da Amazônia

com a Mata Atlântica, possivelmente antes do Pleistoceno. Entre elas, destacam-se (i) as grandes

semelhanças entre a biota da Floresta Amazônica com a encontrada desde a região Nordeste até o

Norte do Estado do Espírito Santo (ANDRADE-LIMA, 1966; VANZOLINE, 1981; BANDEIRA et al.,

2003); e (ii) a presença de pequenos enclaves de florestas úmidas sobre o planalto da Borborema,

inseridos na região semi-árida nordestina (SALES et al., 1998).

Segundo COIMBRA-FILHO (1996), há forte evidência que, no período do descobrimento do

Brasil, a costa da Mata Atlântica estendia-se até a foz do Rio Amazonas, formando um vasto

bioma Atlântico, que também incluía as formações ripárias que se adentravam para o interior.

Desta forma, é possível que relativamente há bem pouco tempo houvesse uma certa continuidade

da distribuição da fauna e flora entre estes dois biomas.

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

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A fauna de cupins da Mata Atlântica é uma das menos conhecidas do Brasil, sendo os

primeiros registros oriundos de coletas ocasionais realizadas ao longo de sua extensão. Somente a

partir do final dos anos 90 que os estudos, especificamente sobre estes insetos, começaram a ser

periodicamente publicados. As duas primeiras listas de espécies foram publicadas por BANDEIRA

et al. (1998) e BRANDÃO (1998), para Mata do Buraquinho (João Pessoa-PB) e Floresta de

Linhares (Linhares-ES), respectivamente. Até então, vários outros estudos foram publicados

enfatizando vários aspectos da biologia e ecologia dos cupins do Complexo Mata Atlântica,

incluindo os Brejos de Altitude (florestas úmidas serranas localizadas no domínio da Caatinga) e

as Restingas.

SILVA & BANDEIRA (1999) investigaram a abundância e a distribuição dos cupins no solo

e encontraram uma elevada quantidade de indivíduos e espécies até 20 cm de profundidade e uma

tendência de migração vertical da fauna para o solo mineral durante a estação seca. No mesmo

ano, MEDEIROS et al, estudando a periodicidade do vôo dos cupins, evidenciaram que os

indivíduos revoam praticamente durante todo o ano, mas com maior freqüência no início da

estação chuvosa (março-maio).

BANDEIRA & VASCONCELLOS (1999) realizaram uma síntese sobre a ecologia e

sistemática dos cupins no Nordeste Brasileiro, incluindo informações taxonômicas e dados ainda

não publicados. Eles estimaram, até aquele momento, a existência de 60 espécies e 26 gêneros de

cupins para Mata Atlântica, sendo que, do total de espécies, entre 65 e 84% eram novas para a

ciência. Logo depois, VASCONCELLOS & BANDEIRA (2000) avaliaram o consumo de madeira por

três espécies de cupins de Mata Atlântica e evidenciaram um maior consumo das madeiras já em

início de decomposição, em relação à madeira sã e manufaturada.

CONSTANTINO (2000) e VASCONCELLOS (2000) descreveram duas espécies de cupins para

o bioma, Heterotermes assu e Ibitermes inflatus, para Restinga do Estados do Espírito Santo e

Mata Atlântica da Paraíba, respectivamente. Logo depois, BANDEIRA & VASCONCELLOS (2002),

em um estudo quantitativo sobre a fauna de cupins de um Brejo de Altitude de Pernambuco,

estimaram para as áreas de floresta a maior abundância já registrada para uma floresta úmida da

região Neotropical. Neste mesmo ecossistema, BANDEIRA et al. (2003), estudando os efeitos do

distúrbio florestal sobre a comunidade de cupins, verificaram que a diversidade foi drasticamente

reduzida de acordo com o nível do distúrbio, sendo os cupins consumidores de húmus e os

consumidores intermediários entre madeira/húmus os mais afetados.

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CAPÍTULO I

Cupins em remanescentes de Mata Atlântica do

Nordeste brasileiro: estrutura da comunidade e

influência estacional

Resumo

As estruturas taxonômicas e funcionais das comunidades de cupins foram estudadas nas estações

seca e chuvosa em quatro remanescentes de Mata Atlântica do Nordeste Brasileiro, localizados

ao norte do Rio São Francisco: Reserva Biológica de Pedra Talhada (RPT), Horto Dois Irmãos

(HDI), Reserva Biológica Guaribas (RBG) e Mata do Buraquinho (MAB). Em cada estação foi

aplicado um protocolo padronizado de levantamento de riqueza termítica consistindo de 30

parcelas de 5 X 2 m distribuídas em seis transectos com cinco parcelas cada. No geral, 61

espécies de cupins foram encontradas. Dez espécies representaram novas ocorrências para a Mata

Atlântica. A área com maior riqueza de espécies foi a MAB, com 41 espécies, representando o

remanescente com maior riqueza de espécie do bioma. Em praticamente todas as áreas, a

subfamília Nasutitermitinae foi dominante em riqueza de espécies e em abundância, exceto na

RPT onde as espécies de Apicotermitinae foram dominantes. O grupo alimentar dos

consumidores de madeira foi dominante no HDI e na RGB. Este grupo alimentar também foi

dominante em riqueza de espécies na MAB, mas, em abundância, os consumidores de húmus

foram dominantes nesta área. Na RPT, o grupo alimentar dos consumidores de húmus foi o mais

abundante e rico em espécies. Entre as espécies identificadas, 23 também ocorrem na Floresta

Amazônica, evidenciando, mais uma vez, a similaridades da fauna de cupins entre esses dois

biomas. No geral, as estruturas taxonômicas e funcionais das comunidades de cupins

mantiveram-se, tanto em número de espécies como em abundância, similares entre as estações

seca e chuvosa. Desta forma, os protocolos de amostragens de biodiversidade termítica, pelo

menos nas florestas tropicais úmidas, podem ser aplicados em qualquer período do ano sem haver

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

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riscos de alterações drásticas na estrutura das comunidades, evidenciando ainda mais os cupins

como um táxon adequado para os programas de biomonitoramento.

Palavras-chave: Isoptera, Biodiversidade, Região Neotropical, Mata Atlântica, Brasil.

Introdução

Os cupins das florestas tropicais são elementos importantes para manutenção da dinâmica

dos processos de decomposição da matéria orgânica vegetal e para constituição da estrutura dos

solos (LEE & WOOD, 1971; WOOD & SANDS, 1978; BIGNELL & EGGLETON, 2000). Seu grande

significado ecológico nesses ecossistemas deve-se, entre outras coisas, a diversidade de seus

grupos alimentares (guildas) e a sua elevada abundância e biomassa (ABE & MATSUMOTO, 1979;

MARTIUS, 1994a; EGGLETON et al., 1996; INOUE et al., 2001; BANDEIRA & VASCONCELLOS 2002).

A fauna de cupins Neotropical é uma das mais diversificadas do mundo com cerca de 80

gêneros e 500 espécies descritas (CONSTANTINO, 1998; KAMBHANPATI & EGGLETON, 2000). A

maioria dos trabalhos ecológicos sobre os cupins desta região biogeográfica foram desenvolvidos

no domínio da Floresta Amazônica (florestas de terra firme e várzea) e Cerrado (FITTKAU &

KLINGE, 1973; MATHEWS, 1977; BANDEIRA, 1979; MILL, 1982; DOMINGOS et al., 1986;

BANDEIRA, 1989; GONTIJO & DOMINGOS, 1991; CONSTANTINO, 1992; MARTIUS, 1994a; DESOUZA

& BROWN, 1994; BRANDÃO & SOUZA, 1998). Alguns biomas brasileiros, como a Mata Atlântica e

Caatinga (vegetação do semi-árido nordestino), só tiveram a sua diversidade investigada a partir

do final dos anos 90 (BANDEIRA et al., 1998; BRANDÃO, 1998; MARTIUS et al., 1999; SILVA &

BANDEIRA, 1999), mas ainda possuem a fauna de cupins pouco conhecida (BANDEIRA &

VASCONCELLOS, 1999).

Em Mata Atlântica, há pouca informação sobre a composição das comunidades de cupins,

incluindo riqueza de espécies, grupos alimentares, hábitos de nidificação, e sobre a abundância e

biomassa das populações, tornando muito difícil a identificação da importância funcional e o

estudo dos padrões de diversidade e de endemismo destes insetos no bioma e na região

Neotropical.

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

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A Mata Atlântica sul-americana está desde 1500 sob constante pressão antrópica.

Originalmente a vegetação primária possuía uma área de 1.360.600 km2 e atualmente está

reduzida a apenas 7,5% do total (MMA, 2000). Devido ao número de espécies endêmicas e

tamanho da perda do habitat original é considerada a quarta “biodiversity hotspots” (em um

“ranking” de 25 biomas) (MYERS et al., 2000). A situação do setor da Mata Atlântica ao norte do

Rio São Francisco ainda é mais preocupante, pois restam apenas 2% da cobertura original. Além

disso, a fauna e flora deste setor são bastante diferentes dos outros setores da Mata Atlântica

(RANTA et al., 1998 apud SILVA & TABARELLI, 2000)

Neste capítulo foram analisadas as estruturas taxonômicas e funcionais das comunidades

de cupins em quatro remanescentes de Mata Atlântica do Nordeste Brasileiro, localizados ao

norte do Rio São Francisco. Além disso, as comunidades amostradas nas estações chuvosa e seca

de cada área foram comparadas com intuito de avaliar o período mais adequado para a utilização

dos protocolos de amostragens de biodiversidade de cupins em florestas tropicais úmidas.

Áreas de estudo

O estudo foi desenvolvido em quatro remanescentes de Mata Atlântica de três Estados do

Nordeste Brasileiro: Alagoas, Paraíba e Pernambuco (Figura 1.1). Em geral, a estação chuvosa

nas áreas estende-se de março a agosto, com maiores precipitações em maio, junho e julho. A

estação seca vai de setembro a fevereiro, sendo os meses de maior estiagem outubro, novembro

e dezembro (NIMER, 1979; SUDENE, 1963; GOVERNO DO ESTADO DA PARAÍBA, 1985; COUTINHO

et al., 1998).

Reserva Biológica de Pedra Talhada-AL/PE (RPT)

A Reserva Biológica de Pedra Talhada (9o15’ S; 36

o25’ W) localiza-se entre os

municípios de Quebrangulo-AL e Lagoa do Ouro-PE. A Reserva possui uma área de 4.636 ha,

predominando a Floresta Estacional Subperenefólia de Altitude, com cotas de altitude variando

de 450 a 883 m. O relevo é ondulado. O solo é do tipo podzólico amarelado mineralogicamente

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

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pobre e com textura argilosa. As médias anuais de temperatura e umidade são 23oC e 84%,

respectivamente. A precipitação anual fica em torno de 1650 mm (SUDENE, 1963).

Horto Dois Irmãos-PE (HDI)

O Horto Dois Irmãos (8o02’ S; 34

o54’ W) localiza-se na região noroeste da cidade de

Recife e conta com uma área de 387 ha de Mata Atlântica, classificada como Floresta Estacional

Perenifólia Costeira. O relevo é suavemente ondulado, com cotas de altitude que variam de 30 a

90 m. O solo é do tipo podzólico amarelado mineralogicamente pobre e com textura arenosa. As

médias anuais de temperatura e umidade são 26oC e 82,3%, respectivamente. A precipitação

anual fica em torno de 2200 mm (COUTINHO et al., 1998).

Reserva Biológica Guaribas-PB (RBG)

A Reserva Biológica Guaribas (06o44’ S; 35

o08’ W) ocupa parte dos municípios de

Mamanguape e Rio Tinto. Possui uma área de 4.321 ha, relevo suavemente ondulado com cotas

de altitude que variam de 60 a 200 m. A vegetação de Mata Atlântica é classificada como

Floresta Estacional Semidecidual. O solo é do tipo podzólico vermelho-amarelado

mineralogicamente pobre com textura arenosa. As médias de temperatura e umidade são 25o C

e 80%, respectivamente. A precipitação média anual fica em torno de 1470 mm (GOVERNO DO

ESTADO DA PARAÍBA, 1985).

Mata do Buraquinho-PB (MAB)

A Mata do Buraquinho (07o 07’S; 34

o 51’W) está situada no perímetro urbano do

município de João Pessoa. Possui uma área de 471 ha com relevo ligeiramente ondulado com

cotas de altitude que oscilam entre 35 e 85 m. A Mata Atlântica é classificada como Floresta

Estacional Perenifólia Costeira. O solo é do tipo podzólico vermelho-amarelado

mineralogicamente pobre e com textura arenosa. As médias de temperatura e umidade são 27o C

e 80%, respectivamente. A precipitação média anual fica em torno de 1750 mm (GOVERNO DO

ESTADO DA PARAÍBA, 1985).

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

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Material e Métodos

Protocolo de levantamento da biodiversidade termítica

O protocolo utilizado para o levantamento de riqueza de espécies de cupins foi o proposto

por CANCELLO et al. (2002). Este protocolo consiste de seis transectos de 65 X 2 m estabelecidos

aleatoriamente dentro da área a ser estuda, em pontos com ausência aparente de distúrbios

antrópicos recentes. Ao longo de cada transecto são marcadas cinco parcelas de 5 X 2 m com

espaçamento de 10 m uma da outra (Figura 1.2). O delineamento do protocolo com seis

transectos constituídos por parcelas espaçadas umas das outras foi elaborado para evitar

pseudoreplicações das colônias de cupins. O tempo de coleta em cada parcela foi de

1hora/pessoa. Os cupins foram procurados em diversos microhabitats, como em ninhos epígeos e

arborícolas, solo (até cerca de 15 cm de profundidade), em túneis, em troncos de árvores vivas,

no interior e sob troncos caídos, no folhiço, sob casca de árvores. Os espécimes coletados foram

acondicionados em vidros com álcool 75% e etiquetados. Em cada área esse protocolo foi

aplicado duas vezes, sendo uma na estação chuvosa e outra na estação seca.

Identificação do material termítico

A identificação das espécies foi feita com base nos trabalhos taxonômicos listados em

CONSTANTINO (1998) e por comparação com espécimes da coleção do Departamento de

Sistemática e Ecologia da Universidade Federal da Paraíba. Além disso, alguns gêneros da

subfamília Nasutitermitinae, como Nasutitermes e Embiratermes, foram enviados para o Dr.

Reginaldo Constantino (UnB) para confirmação das identificações.

Grupos alimentares

As espécies foram classificadas em cinco grupos alimentares, de acordo principalmente

com as observações dos hábitos alimentares in situ e com base na literatura sobre a fauna de

cupins das florestas úmidas da região Neotropical (BANDEIRA, 1989; CONSTANTINO, 1992;

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

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MARTIUS, 1994a; DESOUZA & BROWN, 1994; DONOVAN et al., 2001; BANDEIRA &

VASCONCELLOS, 2002; BANDEIRA et al., 2003). Os cinco grupos alimentares identificados foram:

1) Consumidores de madeira: cupins que se alimentam de madeira morta em qualquer estágio de

decomposição, excluindo-se as espécies que comem madeira extremamente decomposta

misturada com solo. O conteúdo intestinal dos espécimes é desprovido de partículas minerais. Na

região Neotropical todas as espécies descritas das famílias Kalotermitidae e Rhinotermitidae são

consideradas como representantes deste grupo.

2) Consumidores de húmus: cupins que comem predominantemente partículas orgânicas, pouco

antes da conclusão do processo de mineralização, misturada com solo. O conteúdo intestinal dos

espécimes possui grande quantidade de partículas de silte e areia misturadas ao húmus ingerido.

A maioria das espécies é estritamente dependente do solo para alimentação, sendo incapazes de

ingerir madeira mesmo quando em decomposição. A grande maioria das espécies de

Apicotermitinae, exceto as do gênero Ruptitermes, pertencem a esse grupo.

3) Consumidores de madeira/húmus: cupins que se alimentam de madeira em estágio avançado

de decomposição, geralmente misturada com solo mineral. Seus representantes geralmente

costumam transportar solo para o interior do tronco que estão consumindo.

4) Consumidores de folha: cupins que se alimentam de folhas, principalmente já secas,

encontradas na necromassa.

5) Consumidores de madeira/folha: cupins que comem tanto madeira em estágio avançado de

decomposição, como também folhas da necromassa.

Hábitos de nidificação

Os ninhos de cupins são classificados de acordo com as características estruturais da

construção (NOIROT, 1970). Nas áreas estudadas, os ninhos podem ser divididos em duas

categorias bem distintas, os crípticos e os conspícuos.

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

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Ninhos crípticos

São os ninhos que não apresentam estrutura visível na paisagem, podendo ser:

1) Em madeira (“one-piece nests”, segundo ABE (1987)): considerado uma condição primitiva

entre os cupins, são construídos no interior da madeira, seja ela viva ou morta, local onde os

indivíduos estão confinados dentro da sua própria fonte nutricional. Neste caso, o tamanho e a

longevidade da colônia são severamente afetados pelo tamanho do pedaço de madeira. A maioria

das espécies de cupins que constroem esse tipo de ninho é da família Kalotermitidae.

2) No folhiço: ninhos construídos no perfil do folhiço. Esse tipo de ninho é construído geralmente

por espécies consumidoras de folhas e consumidoras de madeira/folha.

3) Subterrâneos: possuem estrutura inserida no interior do solo, consistindo de uma única

câmara, como, por exemplo, Syntermes praecellens (CONSTANTINO, 1995), ou de uma rede difusa

de túneis interligados, como acontece para maioria das espécies de Apicotermitinae.

Ninhos conspícuos

Ninhos que possuem estrutura visível e bem evidente na paisagem, podendo ser:

1) Arborícolas: construídos sobre árvores vivas ou mortas. São ninhos que possuem toda sua

superfície externa em contato com o ar. Ninhos deste tipo podem ser construídos principalmente

por espécies de Microcerotermes e Nasutitermes. Os ninhos construídos aderidos na região basal

dos troncos de árvores vivas ou mortas, mas mantendo, em geral, parte de sua estrutura sobre o

solo, também foram considerados como pertencente a esta categoria. Estes ninhos são geralmente

construídos por Labiotermes labralis, porém Armitermes holmgreni também costuma construí-

los.

2) Montículo: São construídos inicialmente abaixo da superfície do solo, mas com o crescimento

ficam com uma porção aérea, em forma de um talude proeminente.

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

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Análises

A estimativa da riqueza de espécie foi calculada utilizando o teste jackknife, considerado

o mais acurado estimador não-paramétrico de riqueza de espécie por PALMER (1990).

O sistema de transectos com subdivisões permite uma medida indireta de abundância,

através do número de encontros (freqüência) em que a espécie foi registrada nas parcelas

(BRANDÃO, 1998; BRANDÃO & SOUZA, 1998; JONES, 2000; JONES et al., 2003). A presença da

espécie em uma parcela foi definida como um encontro, sendo o total de encontros por espécie

tratada como a medida de abundância. Desta forma, foi possível calcular a diversidade a partir do

índice de Shannon-Wiener (logaritmo na base 2) (KREBS, 1998).

A comparação da estrutura dos grupos funcionais foi testada entre as estações, a partir do

teste-t, após considerar cada transecto como uma réplica da comunidade de cupins, sendo, então,

comparadas as médias do número de encontros por transecto.

A similaridade da estrutura da comunidade de cupins de cada área foi avaliada utilizando-

se o coeficiente qualitativo de Sorensen e o coeficiente quantitativo de Morisita. Para o cálculo

do último coeficiente, mais uma vez a freqüência de encontro de cada espécie por transecto foi

utilizada como medida de abundância. As matrizes de similaridade construídas foram submetidas

à análise de agrupamento utilizando o método do UPGMA (unweighted pair-group method using

arithmetric average) (KREBS, 1998).

Resultados

Estrutura das comunidades

A lista das espécies coletadas com seus respectivos hábitos alimentares e tipos de ninhos

construídos está presente na Tabela 1.1. No total, foram encontradas 61 espécies de cupins,

excluindo-se Syntermes nanus e Neocapritermes guyana, que foram casualmente encontradas

fora das parcelas em RPT. A família Termitidae foi a dominante com 48 espécies (78,7%), sendo

seguida por Kalotermitidae com nove (14,7%) e Rhinotermitidae com quatro (6,6%). A

subfamília e o gênero com maior número de espécies foi Nasutitermitinae com 18 espécies

(28,6%) e Nasutitermes com oito espécies (12,7%). Os grupos alimentares dos consumidores de

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

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madeira e dos consumidores de húmus foram dominantes em número de espécies com 25

(39,7%) e 24 (38,1%), respectivamente.

Na análise de agrupamento houve a formação de um grande grupo, composto pelo HDI,

MAB e RGB, que representa os remanescentes de Mata Atlântica mais próximos ao litoral, com

cotas de altitude que não ultrapassam 200 m e solos com textura arenosa (Figura 1.3). A RPT,

que representa uma área com mais de 50 km de distância do litoral, com cotas de altitude que

variam de 450 a 880 m e solo argilosos, foi excluída deste grande grupo.

Entre os cupins identificados, as espécies Rhinotermes hispidus, Anoplotermes banksi,

Nasutitermes macrocephalus, Subulitermes microsoma, Cavitermes tuberosus, Dihoplotermes

inusitatus, Microcerotermes exiguus, M. strunckii, Termes medioculatus e T. hispaniolae

representam novas ocorrências para o bioma Mata Atlântica.

No geral, dez espécies de cupins constroem ninhos conspícuos (Figura 1.4): Anoplotermes

banksi (Figura 1.5), Armitermes holmgreni, Embiratermes neotenicus (Figura 1.6), Labiotermes

labralis, Microcerotermes exiguus (Figura 1.7), M. strunckii, Nasutitermes corniger, N. ephratae

(Figura 1.8), N. macrocephalus e Nasutitermes sp. (Figura 1.9). No entanto, os ninhos de E.

neotenicus só foram encontrados na RPT. A grande maioria dos ninhos é arborícola, exceto de E.

neotenicus, que é do tipo montículo. A abundância dos ninhos conspícuos variou de 32 a 92/ha,

com nítida dominância das espécies de Nasutitermitinae e do grupo alimentar dos consumidores

de madeira. Na RPT, devido aos ninhos de E. neotenicus, a dominância dos consumidores de

madeira não foi tão marcante.

Onze espécies (18 %) foram encontradas habitando, como inquilinas, o interior de ninhos

habitados e abandonados por outras espécies de cupins. Os ninhos de L. labralis, E. neotenicus e

de N. corniger (geralmente abandonados no solo) foram os mais freqüentemente habitados, com

destaque para os ninhos das duas primeiras espécies. Algumas espécies, como C. tuberosus, D.

inusitatus e Termes cf. ayri, só foram encontradas em ninhos habitados e abandonados de L.

labralis.

Comunidade da Reserva Biológica Pedra Talha-PE/AL (RPT)

No total, 35 espécies de cupins foram encontradas no interior das parcelas. No entanto,

outras três espécies, Amitermes amifer, Syntermes nanus e Neocapritermes guyanae, foram

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

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encontradas casualmente fora das parcelas, aumentando para 38 o total de espécies da RPT. Dez

espécies foram exclusivas para esta área. Para ambas as estações, a riqueza potencial de espécies

estimada foi J (Jackknife)= 47,8 + 3,3.

A maioria das espécies foi da subfamília Apicotermitinae, mas em número de encontros

Nasutitermitinae foi a dominante (Figuras 1.10 e 1.11). O gênero Nasutitermes apresentou maior

número de espécies, mas Anoplotermes teve suas espécies mais freqüentemente encontradas.

Quanto ao grupo alimentar, os consumidores de húmus foram dominantes em riqueza de espécies

e abundância (Figuras 1.12 e 1.13).

As estruturas dos grupos alimentares não se mostraram estatisticamente diferentes entre as

estações (Figura 1.14): consumidores de madeira t=0,92, g.l.=10 e P=0,37; consumidores de

húmus t=0,82, g.l.=10 e P=0,43; intermediários (madeira/solo) t=0,64, g.l.=10 e P=0,53;

intermediários (madeira/folhiço) t=1,0, g.l.=10 e P=0,34. A proporção entre os grandes grupos

taxonômicos também foi similar entre as estações (Figura 1.15).

Comunidade do Horto Dois Irmãos-PE (HDI)

Foram encontradas 36 espécies no HDI, excluindo Termes medioculatus que foi

encontrada casualmente fora das parcelas. Quatro espécies foram exclusivas desta área. Para

ambas as estações, a riqueza potencial de espécies foi estimada em J= 43,9 + 2,4. A subfamília

Nasutitermitinae e o grupo alimentar dos consumidores de madeira foram dominantes em riqueza

de espécies e abundância.

A estrutura funcional da fauna de cupins também não foi estatisticamente diferente entre

as estações (Figura 1.16): consumidores de madeira t=0,94, g.l.=10 e P=0,37; consumidores de

húmus t=-1,42, g.l.=10 e P=0,18; intermediários (madeira/solo) t=0, g.l.=10 e P=1; intermediários

(madeira/folhiço) t=-0,36, g.l.=10 e P=0,72. O número de encontros por grandes grupos

taxonômicos também foi praticamente similar entre as estações (Figura 1.17).

Comunidade da Reserva Biológica Guaribas-PB (RGB)

Um total de 32 espécies foi encontrado nesta área, com Atlantitermes sp. sendo a única

espécies encontrada casualmente fora das parcelas. Seis espécies foram exclusivas desta área.

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

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Para as estações, a riqueza potencial de espécies foi estimada em J= 49,7 + 4,92. A subfamília

Nasutitermitinae e grupo alimentar dos consumidores de madeira foram dominantes em riqueza

de espécies e abundância.

A estrutura dos grupos alimentares não foi estatisticamente diferente entre as estações

(Figura 1.18): consumidores de madeira t=-0,21, g.l.=10 e P=0,83; consumidoras de húmus t=1,5,

g.l.=10 e P=0,16; intermediários (madeira/solo) t=-0,15 g.l.=10 e P=0,88; intermediários

(madeira/folhiço) t=-0,27, g.l.=10 e P=0,78. A proporção entre os grandes grupos taxonômicos

foi bastante similar entre as estações (Figura 1.19).

Comunidade da Mata do Buraquinho-PB (MAB)

No geral, 41 espécies de cupins foram encontradas na MAB, sendo cinco espécies

exclusivas desta área. Para as estações, a riqueza potencial de espécies foi estimada em J=48,9 +

3,28. A subfamília Nasutitermitinae foi dominante em riqueza de espécies e abundância. A MAB

foi à única área de Mata Atlântica em que a riqueza de espécies e a abundância da subfamília

Termitinae foram maiores que de Apicotermitinae. Em número de espécies, o grupo dos

consumidores de madeira foi dominante, mas os consumidores de húmus foram mais abundantes.

Como nas outras áreas, a estrutura funcional da fauna de cupins não foi estatisticamente

diferente entre as estações (Figura 1.25): consumidores de madeira t=-0,5, g.l.=10 e P=0,63;

consumidores de húmus t=0,47, g.l.=10 e P=0,64; intermediários (madeira/solo) t=-0,17, g.l.=10

e P=0,86; intermediários (madeira/folhiço) t=-0,42, g.l.=10 e P=0,68. A proporção entre os

grandes grupos taxonômicos foi bastante semelhante (Figura 1.26).

Influência estacional sobre as comunidades

Na HDI e RBG o número de espécies amostradas foi igual para as duas estações,

enquanto que na RPT e MBA um maior número de espécies foi coletada na estação chuvosa. Em

termos de número de encontros por estação, os valores dentro de cada área foram relativamente

parecidos, exceto HDI onde o número de encontros foi bem maior na estação seca. No entanto,

não houve diferença significativa na diversidade e riqueza de espécies entre as estações chuvosa e

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

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seca, de acordo com o índice de Shannon-Wiener (H’) (Tabela 1.1) e o Jackknife (Figura 1.27),

respectivamente. Além disso, no geral, as análises de agrupamentos (UPGMA) mostraram, dentro

de cada área, grande similaridade entre as amostras realizadas nas estações chuvosa e seca

(Figura 1.28 e 1.29). O mesmo padrão observado na análise de agrupamento entre as áreas

também foi observado por estação. Nos dendrogramas houve a formação de dois grupos bem

distintos, um formado pelas estações da RPT e um outro grande formado pelas estações do HDI,

RGB e MAB. Dentro deste último grupo, HDI e MAB foram os remanescentes mais similares.

Discussão

Considerações sobre o protocolo de coleta

O protocolo proposto por CANCELLO et al. (2002) mostrou-se adequado para o

levantamento de biodiversidade termítica, pelo menos, em remanescentes de Mata Atlântica do

Nordeste Brasileiro. A redução da área amostrada e o aumento proporcional do esforço de coleta,

aparentemente contribuem para o encontro de mais espécies que possuem populações pequenas

ou que vivem no interior do solo.

Na Mata do Buraquinho, BANDEIRA et al. (1998) encontraram em uma área de 0,4 ha um

total de 43 espécies. Nesta mesma área, utilizando o protocolo (0,03 ha), que corresponde a

apenas 7,5% da área amostrada, foi encontrado na estação chuvosa 38 espécies e na estação seca

36 espécies, correspondendo, respectivamente, a 88,3 % e 83,7 % do total de espécies encontrada

por BANDEIRA et al. (1998).

Há um outro protocolo de levantamento de diversidade termítica proposto por DESOUZA

& BROWN (1994) e posteriormente aprimorado pela equipe de pesquisadores do Museu Britânico

de História Natural (DAVIES, 1997; JONES et al., 1998; JONES & EGGLETON, 2000). A utilização

deste protocolo impulsionou significativamente os estudos sobre os cupins de florestas tropicais

úmidas, principalmente no oeste da África e no Sul da Ásia. No entanto, o desenho deste

protocolo com um único transecto de 100 X 2 m, subdividido em 20 parcelas de 5 X 2 m, e

esforço de coleta de 1 h/pessoa por parcela, é passivo de críticas. Neste sentido, dois são os

pontos que podem ser apontados. O primeiro é devido à utilização de um único transecto por

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

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localidade de floresta. Especialmente no interior das florestas tropicais há uma grande

heterogeneidade espacial de habitats que é conseqüência dos fatores históricos locais, variações

químicas e físicas do solo, estrutura da vegetação e topografia. Essa heterogeneidade pode refletir

também na distribuição espaço-temporal da fauna de cupins. Desta forma, um único transecto

com 200 m2 pode ser bastante influenciado por esses fatores. Essa característica do protocolo está

sendo, em alguns estudos, atenuada pelos termitólogos do Museu de Londres, que passaram a

aplica-lo, não mais uma única vez, mas duas em cada localidade (JONES & EGGLETON, 2000;

EGGLETON et al., 2002).

O segundo ponto é o tratamento das parcelas adjacentes de 5 X 2 m como réplicas para as

análises estatísticas. A inexistência de espaçamento entre as parcelas aumenta consideravelmente

a probabilidade da presença de pseudoréplicas, causando um “ruído” experimental e uma

insegurança na utilização de índices de diversidade e riqueza de espécies. Em algumas situações,

como por exemplo, um grande tronco com mais de 15 m de comprimento disposto

longitudinalmente no interior do transecto, pode estar presente em até quatro parcelas

consecutivas. Neste caso, a probabilidade de se coletar as mesmas espécies nessas parcelas é

relativamente alta. Fato semelhante e mais comum é encontrar um montículo ou um ninho

arborícola presente concomitantemente em duas parcelas. Por tudo isso, o desenho do protocolo

proposto por CANCELLO et al. (2002) representa um avanço e uma alternativa ao protocolo da

equipe de termitólogos do Museu Britânico de História Natural.

Composição dos grupos alimentares e dos grandes táxons

No grande grupo formado por HDI, RGB e MAB, as espécies consumidoras de madeira

foram as dominantes. No entanto, na RPT houve um predomínio das espécies humívoras. Os

demais grupos alimentares permaneceram relativamente semelhantes entre as áreas. Em relação

aos grandes grupos taxonômicos, novamente HDI, RGB e MAB foram parecidas em dominância

de espécies Nasutitermitinae, mas em RPT o domínio foi das espécies de Apicotermitinae.

Aparentemente, três fatores podem influenciar a proporção entre os grandes táxons e entre os

grupos alimentares encontrados em uma determinada área: (i) as peculiaridades naturais do

ecossistema; (ii) o método de coleta; e (iii) o nível de distúrbio da área.

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

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Entre as peculiaridades do ecossistema, algumas parecem exercer forte influência primária

sobre a descrição da fauna de cupins e conseqüentemente sobre a composição dos seus grupos.

Entre eles, destacam-se o posicionamento latitudinal (BIGNELL & EGGLETON, 2000), as

características físicas e químicas do solo (LEE & WOOD, 1971; SALICK & PONG 1984), a altitude

(JONES 2000; BANDEIRA et al., 2003), os eventos históricos (EGGLETON, et al., 1994) e a

pluviosidade (GATHORNE-HARDY et al., 2001).

O método de coleta pode também exerce forte influência sobre a constituição dos grupos

alimentares e taxonômicos. Quando os protocolos visam apenas alguns microhábitats do

ecossistema, como, por exemplo, madeira morta ou solo, isso pode “mascarar” a real composição

da fauna. No caso de amostragens realizadas apenas em madeira, haverá uma tendência para

captura de cupins principalmente das famílias Kalotermitidae e Rhinotermitidae e da subfamília

Nasutitermitinae e do grupo alimentar dos consumidores de madeira. Por outro lado, utilizando-

se apenas amostragens de solo, haverá uma tendência para coleta de espécies de Apicotermitinae

e Termitinae e do grupo alimentar dos consumidores de húmus.

Em áreas com distúrbio antrópico, os consumidores de húmus e os de hábito intermediário

entre madeira e húmus aparentemente são os mais afetados e, por conseqüência, poucas espécies

destes grupos serão coletadas nestas localidades (DESOUZA & BROWN, 1994; EGGLETON et al.,

1995; JONES et al., 2003; BANDEIRA et al., 2003). Por outro lado, os consumidores de madeira,

principalmente os Kalotermitidae e os Nasutitermes, são geralmente mais abundantes em áreas

com distúrbio moderado (BANDEIRA, 1989; EGGLETON et al., 1995; BANDEIRA et al., 2003).

Riqueza de espécies

Apenas três trabalhos completos de levantamento de riqueza de espécies foram publicados

em área de floresta úmida do complexo Mata Atlântica, incluindo os Brejos de Altitude do

Nordeste do Brasil (Tabela 1.2). Nestes estudos, a riqueza de espécies de cupins variou de 12 a

43 por localidade, incluindo áreas com crescimento secundário da vegetação após corte seletivo.

Entre as localidades listadas, a Mata Atlântica de Linhares possui a menor riqueza de espécies, e

a Mata do Buraquinho, a maior.

A Reserva Florestal de Linhares representa um dos maiores fragmentos de Mata Atlântica

do Brasil, com cerca de 22.000 ha, estando localizada na região Sudeste. Por outro lado, a Mata

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

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do Buraquinho possui apenas 471 ha e representa um dos remanescentes mais ao norte do bioma.

Em grande escala, aparentemente não há relação entre o tamanho do fragmento e a riqueza de

espécies de cupins em Mata Atlântica. No entanto, fatores históricos, como a variação da

influência da conexão pretérita com a Floresta Amazônica e os efeitos da variação da latitude

sobre o clima, especialmente sobre a amplitude térmica, podem representar provavelmente os

principais fatores que explicam a diversidade de cupins ao longo do bioma.

A estrutura da comunidade do HDI foi bastante próxima a da MAB. Segundo BARBOSA

(1996) estas áreas possuem praticamente a mesma composição florística, levando a crer que

ambas fazem parte da mesma formação vegetal de Mata Atlântica. No grande grupo formado

pelo HDI, RGB e MAB, a RGB possui algumas peculiaridades que aparentemente podem tornar

sua comunidade um pouco diferente das outras duas, como o caráter semidecidual de sua

vegetação e o distúrbio sobre o ecossistema causado pelo corte seletivo realizado há cerca de três

décadas.

A fauna de cupins da RPT foi a mais diferente em relação às outras áreas estudadas. Na

composição de suas espécies há várias que só foram encontradas anteriormente em Brejo de

Altitude com mais de 450 m de altitude. As cotas de altitude da RPT variam de 450 a 883 m e

isso pode representar um fator de influência sobre a diversidade de espécie e sobre a composição

dos grupos alimentares (JONES, 2000; GATHORNE-HARDY et al., 2001; BANDEIRA et al., 2003).

Entre as espécies da RPT que só foram encontradas anteriormente no Nordeste brasileiro em

Brejo de Altitude, estão Glyptotermes sp., Nasutitermes rotundatus e Neocapritermes guyana

(SILVA, 2000; BANDEIRA & VASCONCELLOS, 2002). A presença destas espécies apenas em áreas

de floresta de altitude e o isolamento dos fragmentos localizados no domínio do semi-árido

salientam a importância da implantação de um plano de manejo e de conservação para

manutenção da biota destas áreas.

Das 61 espécies registradas neste estudo, mais de 40% podem ser novas para a ciência,

incluindo as espécies que pertencem possivelmente a vários gêneros novos da subfamília

Apicotermitinae. BANDEIRA & VASCONCELLOS (1999) já haviam destacado o elevado percentual

de espécies novas para os remanescentes de Mata Atlântica do Nordeste Brasileiro, o que mais

uma vez reforça a importância destes remanescentes para a conservação da biodiversidade do

bioma.

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

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Similaridade da fauna de Mata Atlântica com a de outros biomas Brasileiros

No total, 33 espécies de cupins foram identificadas em nível específico, incluindo aquelas

que ainda necessitam ser confirmadas. Destas, 22 (66,6%) também ocorrem na Floresta

Amazônica (CONSTANTINO & CANCELLO, 1992; CONSTANTINO, 1998), 13 (39,4%) ocorrem no

Cerrado (CONSTANTINO, no prelo) e 6 (18,2%) ocorrem na Caatinga (VASCONCELLOS et al.,

2003) (Tabela 1.3).

Atualmente três biomas com vegetação savânica separam a Mata Atlântica da Floresta

Amazônica, o Chaco argentino e paraguaio, o Cerrado do Brasil Central e a Caatinga do Nordeste

brasileiro (AB’SABER, 1977). A ocorrência destas áreas com vegetação aberta é considerada como

uma importante barreira para migração de espécies entre os dois biomas. No entanto, a presença

de matas de galeria e de vários fragmentos de mata aparentemente compõem uma rede

interconectada de pequenas florestas inseridas dentro do Cerrado e da Caatinga (OLIVEIRA-FILHO

& RATHER, 1995; VIVO, 1997). Outras formações vegetais do Complexo Mata Atlântica, como

restingas e manguezais, também podem representar, para algumas espécies, um corredor

litorâneo de conexão com a Amazônia.

Mesmo havendo semelhanças entre as faunas de cupins da Mata Atlântica e da Floresta

Amazônica, é provável que algumas populações estejam isoladas, por não conseguirem se

distribuir pela Caatinga, Restingas e Cerrado até a Amazônia. Isso pode ser verdade para as

espécies aparentemente mais sensíveis à perturbação ambiental, como Anoplotermes banksi,

Embiratermes parvirostris, E. neotenicus, Cavitermes tuberosos, Neocapritermes talpoides e N.

guyana. Por outro lado, algumas espécies que foram encontradas em Restingas (VASCONCELLOS,

em preparação), na Caatinga (VASCONCELLOS et al., 2003), em Brejos de Altitude (BANDEIRA et

al., 2003), no Cerrado (CONSTANTINO, no prelo) e em manguezais (obs. pessoal) podem possuir

uma distribuição contínua até a Amazônia, como Nasutitermes corniger, N. gagei, N.

macrocephalus, Subulitermes microsoma, Microceroteremes exiguus e M. strunckii. A ocorrência

de espécies tanto em florestas decíduas como em florestas úmidas já foi observado na Índia

(FERRY, 1992). Além disso, a presença de espécies típicas da Floresta Amazônica e da Mata

Atlântica em fragmentos de florestas no interior do Cerrado e da Caatinga sugere que mesmo as

espécies mais adaptadas aos ecossistemas florestados podem também possuir uma continuidade

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

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de distribuição. No entanto, só com inventários intensivos em matas de galeria e em fragmentos

de florestas do Cerrado e da Caatinga isso poderá ser testado.

Neste sentido, um estudo molecular utilizando populações de espécies bem estabelecidas

taxonomicamente pode, sem dúvida, acrescentar muitas informações sobre os padrões de

distribuição da fauna de cupins na América do Sul.

As espécies que provavelmente estão com distribuição contínua até a Floresta Amazônica

aparentam ser menos exigentes quanto às condições bióticas e abióticas do habitat, sendo que

algumas são consideradas, inclusive, como pragas no meio urbano de cidades das regiões Norte,

Centro-Oeste e Nordeste (BANDEIRA, 1998; CONSTANTINO & DIANESE, 2001; CONSTANTINO,

2002; VASCONCELLOS et al., 2002; FONTES & MILANO, 2003). Por isso, é provável que haja uma

relação entre a amplitude da distribuição geográfica e o potencial da espécie como praga.

Em floresta de terra firme da Amazônia, o grupo dominante em espécies tem sido os

consumidores de madeira (BANDEIRA & MACAMBIRA, 1988; BANDEIRA, 1989; CONSTANTINO,

1992). Em Brejo de Altitude, as espécies do grupo alimentar dos consumidores de húmus

geralmente estão em igual ou maior proporção em relação aos consumidores de madeira (SILVA,

2000; BANDEIRA et al., 2003). Em Cerrado do Brasil Central, o grupo dos consumidores de

húmus também são dominantes em espécies (GONTIJO & DOMINGOS, 1991; CONSTANTINO, no

prelo). Há pouca informação publicada sobre a constituição dos grupos alimentares dos cupins da

Caatinga, mas aparentemente as espécies do grupo dos consumidores de madeira são dominantes

(VASCONCELLOS et al., 2003).

No geral, a densidade de ninhos encontrada em Mata Atlântica ficou dentro da amplitude

registrada para as florestas úmidas da região Neotropical (MARTIUS, 1994a; BANDEIRA et al.,

1998; APOLINÁRIO, 2000). Por outro lado, a diversidade de espécies construtoras de ninhos é

menor do que a encontrada na Floresta Amazônica (CONSTANTINO, 1992; MARTIUS, 1994a;

APOLINÁRIO, 2000) e no Cerrado (GONTIJO & DOMINGO, 1991; DOMINGOS & GONTIJO, 1996),

mas aparentemente é maior do que a da Caatinga (MARTIUS et al., 1999; MÉLO, 2002).

A ocorrência de inquilinismo na Mata Atlântica aparentemente também é menos freqüente

do que na Floresta Amazônica e no Cerrado (BANDEIRA & MACAMBIRA, 1988; DOMINGOS &

GONTIJO, 1996). No Cerrado, apenas em montículos de Cornitermes spp. foram encontradas 17

espécies de cupins inquilinas, pertencentes a 14 gêneros (REDFORD, 1984b). Na Floresta

Amazônica, APOLINÁRIO (1993) verificou que 31,7% do total de ninhos estavam coabitados por

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

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outras espécies de cupins, sendo os montículos os ninhos com maior número de inquilinos. A

quantidade reduzida de ninhos epígeos em Mata Atlântica aparentemente é a responsável pela

baixa freqüência de ocorrências de inquilinismo.

Influência estacional sobre a estrutura taxonômica e funcional das comunidades

A grande similaridade taxonômica e funcional das faunas de cupins entre as estações seca

e chuvosa sugere que o período estacional exerce pouca influência sobre as estruturas das

comunidades amostradas, mesmo já sendo conhecido haver uma tendência para um aumento ou

diminuição da abundância de cupins no período chuvoso das florestas tropicais (BANDEIRA &

HARADA, 1998; SILVA & BANDEIRA, 1999; SILVA, 2000; EGGLETON & BIGNELL, 2000; INOUE et

al., 2001). Para os levantamentos de biodiversidade termítica, isso significa que os protocolos de

amostragem podem ser executados em qualquer período do ano sem afetar significativamente a

estrutura da comunidade amostrada, pelo menos, para as florestas tropicais úmidas com período

estacional seco não ultrapassando quatro meses de duração. Essa pouca influência da

sazonalidade sobre a riqueza de espécies amostradas utilizando transectos, evidencia ainda mais a

funcionalidade deste táxon para os programas de biomonitoramento de florestas tropicais. Por

outro lado, os protocolos de amostragem quantitativa devem ser planejados levando sempre em

consideração a influência estacional sobre as populações, pois coletas pontuais, dependendo do

período do ano, podem superestimar ou subestimar a abundância e biomassa dos cupins nos

vários microhabitats.

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Figura 1.5. Ninho de Anoplotermes banksi, com cerca de 2,3 dm3, fixo a base de uma árvore. O

ninho possui um formato irregular, mas outros podem assumir um formato próximo ao esférico.

Geralmente são encontrados até 1,5 m de altura do solo. A população dos ninhos em Mata

Atlântica varia de 3.003 a 58.391 indivíduos e em um hectare pode ocorrer de 0 a 16 construções.

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Figura 1.6. Montículo de Embiratermes neotenicus encontrado exclusivamente na RPT. O ninho,

com cerca de 110 dm3, possui vária manchas escuras que representam áreas de expansão da

construção que geralmente são observadas durante a estação chuvosa. As construções desta

espécie na Mata Atlântica só são vistas em áreas acima de 400 metros de altitude. A densidade de

ninhos varia de 3 a 11/ha e a população média e de 298.347 indivíduos.

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Figura 1.7. Ninho de Microcerotermes exiguus, com cerca de 1,3 dm3, construído sobre um toco

de um arbusto. Suas construções são bastante comuns em Mata Atlântica próxima ao litoral, mas

podem ser escassas ou ausentes em áreas de Brejo de Altitude. A maioria de seus ninhos é

construída até 7 metros de altura do solo, porém em algumas ocasiões podem ser visto acima de

15 m de altura. A densidade pode variar de 13 a mais de 50 ninhos/ha e a população de 3.538 a

98.531 indivíduos/ninho.

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Figura 1.8. Ninho de Nasutitermes ephratae, com cerca de 42 dm3, preso a um arbusto a uma

altura de 1,2 m para o solo. Seus ninhos geralmente são esféricos e construídos a uma altura

máxima de 2,5 m de altura para o solo. Em Mata Atlântica, seus ninhos possuem de 48.679 a

803.600 indivíduos e uma densidade de 2 a 11 ninhos/ha.

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Figura 1.14. Ninho de Nasutitermes sp., com cerca de 38 dm3, construído preso a lianas a uma

altura de 4 metros para o solo. Este ninho foi uma exceção, pois a maioria de suas construções só

observada a mais de 10 m de altura. Os ninhos desta espécie aparentemente tendem a possuir uma

distribuição agregada, pois só são vistos em manchas de dois a quatro ninhos, porém estas

manchas são distantes umas das outras. A densidade de sua construções varia de zero a dois

ninhos/ha e não há estimativa para a população de seu ninho.

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

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Figura 1.1. Mapa com a localização dos pontos de coleta nos Estados de Alagoas, Pernambuco e Paraíba.

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Figura 1.4. Esquema geral da distribuição dos ninhos de cupins em remanescentes de Mata Atlântica do Nordeste Brasileiro. Ninhos: 1,

Anoplotermes banksi; 2, Armitermes holmgreni; 3, Embiratermes neotenicus; 4, Labiotermes labralis; 5, Microcerotermes exiguus; 6,

M. strunckii; 7, Nasutitermes corniger; 8, N. ephratae; 9, N. macrocephalus; 10, Nasutitermes sp.

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55

Tabela 1.1. Riqueza de espécies de cupins nas estações chuvosa (E. C.) e seca (E. S.) em quatro remanescentes de Mata Atlântica do

Nordeste Brasileiro. Nidificação: Ma, ninho em madeira; Fo, ninho no perfil do folhiço; Su, subterrâneo; Mo, montículo; Ar, arborícola;

In, inquilino de ninhos de outras espécies de cupins. Alimentação: Ma, madeira; Hu, húmus; Fo, Folhas; Int (Ma/Hu), consumo

intermediário entre madeira e húmus; In (Ma/Fo), consumo intermediário entre madeira/folha. Microhabitats: Ma, madeira; Ni, ninho; Fo,

liteira; So, solo. Os números representam o número de encontros; “-”, significa ausência da espécie na área de estudo; “?”, incerteza; “??”,

desconhecido.

Pedra Talhada Horto Dois

Irmãos

Reserva

Guaribas

Mata do

Buraquinho

Nidificação/

Alimentação

Microhabitat

Táxons E. C. E. S. E. C. E. S. E. C. E. S. E. C. E. S.

KALOTERMITIDAE

Calcaritermes sp. - - - - - - 1 1 Ma/Ma Ma

Cryptotermes dudleyi - - - - - - 0 1 Ma/Ma Ma

Cryptotermes sp. - - 0 1 - - - - Ma/Ma Ma

Glyptotermes sp. 2 0 - - - - - - Ma/Ma Ma

Neotermes sp. a - - 1 1 - - - - Ma/Ma Ma

Neotermes sp. b - - 2 2 - - - - Ma/Ma Ma

Rugitermes sp. a 0 3 1 0 4 3 1 0 Ma/Ma Ma

Tauritermes sp. a - - - - 1 0 - - Ma/Ma Ma

Tauritermes sp. b - - - - 1 1 - - Ma/Ma Ma

RHINOTERMITIDAE

Coptotermes testaceus - - 1 1 1 1 4 6 Su/Ma Ma

Heterotermes longiceps 0 1 9 10 14 7 9 8 Su/Ma Ma

Rhinotermes hispidus 1 3 - - - - - - Su/Ma Ma

Rhinotermes marginalis - - - - 0 1 - - Su/Ma Ma

TERMITIDAE

APICOTERMITINAE

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Aparatermes sp. a 1 2 1 0 1 2 1 3 Su?/Hu So/Ma

Aparatermes sp. b - - - - 1 1 - - Su/Hu So

Anoplotermes banksi 10 6 4 6 15 11 1 4 Ar/Hu So/Ma

Anoplotermes sp. a 1 1 1 1 0 1 1 0 Su?/Hu So

Anoplotermes sp. b 0 2 0 1 1 2 8 4 Su?/Hu So

Anoplotermes sp. c 3 9 2 0 - - 10 8 Su?/Hu So/Ma

Anoplotermes sp. d - - - - 0 1 7 4 Su/Hu So

Grigiotermes sp. 1 0 1 2 - - - - Su?/Hu So

Ruptitermes sp. 1 1 0 1 - - 1 1 Su/Fo Fo

Apicotermitinae gen. n. a 1 0 1 3 1 1 1 0 ??/Hu Fo

Apicotermitinae gen. n. b 1 0 - - - - 0 1 Su?/Hu So

Apicotermitinae gen. n. c 1 0 - - - - - - Su?/Hu So

Apicotermitinae gen. n. d 1 0 - - - - - - Su?/Hu So

Apicotermitinae gen. n. e 1 0 - - - - - - Su?/Hu So

Apicotermitinae gen. n. f 0 2 - - - - - - Su?/Hu So

NASUTITERMITINAE

Armitermes holmgreni 2 2 7 4 7 8 3 7 Ar/Int(Ma/Hu) Ma

Atlantitermes sp. - - 7 5 - - - - ??/Int(Ma/Hu) Ma

Diversitermes cf. castaniceps 7 2 1 3 5 3 1 2 Fo/Int(Ma/Fo) Ma/Fo

Embiratermes neotenicus 5 6 - - 0 1 4 2 Mo/Int(Ma/Hu) Ma/So

Embiratermes parvirostris 1 3 5 14 - - 11 15 Su/Hu So

Ibitermes inflatus - - - - 1 0 - - Su/Hu So

Labiotermes labralis 1 1 2 2 1 0 3 1 Ar/Hu Ni

Nasutitermes corniger 2 2 6 6 7 5 1 2 Ar/Ma Ma/Ni

Nasutitermes ephratae 0 1 14 5 1 0 2 3 Ar/Ma Ma/Ni

Nasutitermes gagei 3 1 3 9 1 5 6 3 Ma?/Ma Ma

Nasutitermes jaraguae 4 7 2 4 2 1 4 2 ??/Ma Ma

Nasutitermes macrocephalus - - 0 1 - - 0 2 Ar/Ma Ma

Nasutitermes rotundatus - 2 - - - - - - ??/Ma Ma

Nasutitermes cf. minor - - 2 11 9 13 8 6 Fo?/Ma Fo

Nasutitermes sp. a - - 1 6 1 2 1 2 Ar/Ma Ma/Ni

Subulitermes microsoma 3 1 1 1 1 0 1 1 Ma?/Int(Ma/Hu) Ma/Fo

Velocitermes cf. velox 3 4 3 1 0 3 1 2 Fo?/Int(Ma/Fo) Ma/Fo

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TERMITINAE

Amitermes amifer - - 9 12 10 9 12 10 Ma?/Int(Ma/Hu) Ma/Fo

Cavitermes tuberosus 0 1 1 1 - - 1 3 In/Hu Ni

Cylindrotermes sp. - - - - 0 1 4 6 Su?/Ma Ma

Dentispicotermes cf. conjunctus - - 1 0 - - 1 1 Su/Hu So

Dihoplotermes inusitatus 1 0 - - - - - - In/Hu Ni

Microcerotermes exiguus - - 5 4 11 12 5 5 Ar/Ma Ma/Ni

Microcerotermes strunkii 2 1 2 2 1 0 1 2 Ar/Ma Ma

Microcerotermes sp. - - - - - - 1 0 ??/Ma Ma

Neocapritermes opacus - - 0 3 - - 2 4 Su/Inte(Ma/Hu) Ma

Neocapritermes talpoides - - 1 3 - - 3 2 Su/Hu So

Neocapritermes cf. talpa 1 0 - - - - - - Su/Int(Ma/Hu) So

Neocapritermes sp. - - - - - - 1 0 Su/Hu So

Orthognathotermes sp. - - 1 0 - - 3 2 Su/Hu So

Termes cf. ayri - - - - 1 0 - - In/Int(Ma/Hu) Ni

Termes hispaniolae - - - - - - 0 1 Ar?/Int(Ma/Hu) So

Termes medioculatus 2 1 - - 0 1 3 2 Ma?/Int(Ma/Hu) Ma

Espécies por estação 28 25 31 31 25 25 38 36

Gêneros por estação 22 17 22 21 16 16 23 22

Colônias por estação 62 65 98 126 99 96 128 129

H’ por estação 2,99a 2,94

a 3,04

b 3,09

b 2,63

c 2,74

c 3,24

d 3,30

d

Total de espécies 35 36 32 41

Total de gêneros 26 24 21 25

Total de colônias 127 224 195 257

a t=0,40, g.l.= 125, P>0,05;

b t=0,47; g.l.=199; P>0,05,

c t=0,96, g. l.=190, P>0,05;

dt=0,63, g.l.=255, P>0,05.

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Tabela 1.2. Riqueza de espécies e gêneros de cupins em fragmentos de floresta úmida do complexo

Mata Atlântica do Nordeste Brasileiro.

Mata Atlântica Localidade Área amos-

trada (ha)

No gê-

neros

No de es-

pécies

Fonte

Floresta primária Linhares – ES 0,16 10 15 Brandão, 1998

Floresta primária baixa

(mussununga)

Linhares – ES 0,16 07 12 Brandão, 1998

Floresta próxima à primária João Pessoa - PB 0,4 22 43 Bandeira et al., 1998

Floresta secundária (brejo

de altitude)

Areia – PB 0,6 17 22 Silva 2000*

Floresta próxima à primária

(brejo de altitude)

Caruaru - PE 0,4 13 19 Bandeira et al., 2003

Floresta secundária (brejo

de altitude)

Caruaru - PE 0,4 11 16 Bandeira et al., 2003

Floresta primária (brejo de

altitude?)

Quebrangulo - AL 0,06 26 35 Presente estudo

Floresta próxima à primária Recife – PE 0,06 24 36 Presente estudo Floresta secundária Mamanguape - PB 0,06 21 32 Presente estudo Floresta próxima à primária João Pessoa - PB 0,06 25 41 Presente estudo

*Dissertação de mestrado ainda não publicada.

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59

Tabela 1.3. Similaridade entre as faunas de cupins identificadas para a área de Mata Atlântica

típica do Nordeste Brasileiro (MA) com as que ocorrem na Restinga (MAre), Brejo de Altitude

(MAba), Floresta Amazônica (terra firme e várzea) (FA), Cerrado (CE), enclaves de florestas no

domínio do Cerrado (Cefl) e Caatinga dos Cariris Paraibanos (CA).

Táxons presentes em MA MAba MAre FA CE CEfl CA

KALOTERMITIDAE

Cryptotermes dudleyi

RHINOTERMITIDAE

Coptotermes testaceus X X X X?

Heterotermes longiceps X X X X

Rhinotermes hispidus X

Rhinoterms marginalis X X X

TERMITIDAE:

Apicotermitnae

Anoplotermes banksi X

Nasutitermitinae

Armitermes holmgreni X X X

Diversitermes cf. castaniceps X

Embiratermes neotenicus X X

Embiratermes parvirostris X X

Ibitermes inflatus

Labiotermes labralis X X X

Nasutitermes corniger X X X X

Nasutitermes ephratae X X X

Nasutitermes gagei X X X

Nasutitermes jaraguae X

Nasutitermes macrocephalus X X X X

Nasutitermes rotundatus X

Nasutitermes cf. minor

Subulitermes microsoma X X

Velocitermes cf. velox X

TERMITINAE

Amitermes amifer X X X?

Cavitermes tuberosus X

Dentispicotermes cf. conjunctus

Dihoplotermes inusitatus X

Microcerotermes exiguus X X X X?

Microcerotermes strunckii X X

Neocapritermes opacus X X

Neocapritermes talpoides X

Neocapritermes cf. talpa X X

Termes cf. ayri X X

Termes hispaniolae X

Termes medioculatus X X X

Similaridade 11 10 22 13 3 6

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60

CAPÍTULO II

Abundância e biomassa de cupins em três

remanescentes de Mata Atlântica do Nordeste

Brasileiro

Resumo

A abundância e biomassa de cupins foram estimadas em três remanescentes de Mata

Atlântica do Nordeste Brasileiro: Reserva Biológica de Pedra Talhada-AL, Horto Dois Irmãos-

PE e Mata do Buraquinho. Amostragens quantitativas foram realizadas em troncos, folhiço, ninho

e solo nos meses de Junho e Julho (estação chuvosa) e novembro e dezembro (estação seca) de

2000. Trinta e sete espécies de cupins foram encontradas nos três remanescentes. A abundância

de cupins variou de 4.950,9 a 5.662,5 cupins/m2 e a biomassa de 8,05 a 10,64 g de cupins

vivos/m2. A subfamília Nasutitermitinae foi dominante em número de espécies, abundância e

biomassa. O grupo dos consumidores de húmus foi o dominante, exceto na Mata do Buraquinho,

onde a biomassa dos consumidores de madeira foi levemente maior. Entre os microhabitats, os

cupins foram encontrados principalmente no solo, concentrando-se entre 0-20 cm de

profundidade, e em madeira morta. Duas espécies destacaram-se pela abundância: Embiratermes

parvirostris, no solo, e Nasutitermes corniger, nos troncos em decomposição e em ninhos. As

estimativas de abundância e biomassa sugerem que os cupins desempenham uma importante

função como mediadores do processo de decomposição da necromassa vegetal nos remanescentes

de Mata Atlântica do Nordeste Brasileiro.

Palavras-chave: Isoptera, Região Neotropical, Levantamento quantitativo, Microhabitat,

Distribuição vertical.

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

61

Introdução

Os cupins estão entre os invertebrados de maior abundância nas florestas tropicais úmidas

(WOOD & SANDS, 1978; MARTIUS, 1994; BIGNELL & EGGLETON, 2000). Nesses ecossistemas os

cupins estão distribuídos em uma grande variedade de microhabitats, como solo, galhos e

troncos, folhiço, ninhos abandonados ou ativos, interior de árvores vivas, dossel. Por causa desta

diversidade de estilos de vida, as populações destes insetos são muito difíceis de serem avaliadas

quantitativamente (EGGLETON & BIGNELL, 1995).

A abundância e biomassa dos cupins em florestas tropicias podem ultrapassar 10.000

indivíduos e 100g/m2, respectivamente (EGGLETON et al., 1996). Na Amazônia Central, apenas os

cupins e as formigas representam cerca de 30% da biomassa animal, incluindo os vertebrados e

invertebrados (FITTKAU & KLINGE, 1973). No interior dos solos, os cupins chegam a responder

por até 95% de toda a biomassa de insetos (WATT et al., 1997) e em troncos e galhos em

decomposição por até 82% da biomassa de invertebrados (BANDEIRA & TORRES, 1985).

As quantificações de abundância e biomassa representam um dos mais importantes pré-

requisitos para avaliação do papel funcional de uma espécie ou de uma comunidade de cupins em

um determinado ecossistema. Apesar disso, estudos quantitativos sobre a fauna de cupins são

escassos em florestas tropicais úmidas (MATSUMOTO, 1976; ABE & MATSUMOTO, 1979;

BANDEIRA, 1979; WOOD et al., 1982; COLLINS et al., 1984; BANDEIRA & TORRES, 1985;

MARTIUS, 1994; EGGLETON et al., 1996; BANDEIRA & VASCONCELLOS, 2002). A determinação

especificamente da biomassa de uma população animal permite avaliar de forma mais realista sua

importância relativa para o ecossistema do que qualquer outro indicador quantitativo (MARTIUS,

1998).

Na região Neotropical, a grande maioria dos levantamentos de abundância e biomassa de

cupins foram realizados na Amazônia Brasileira (BANDEIRA & TORRES, 1985; MARTIUS, 1989;

MARTIUS & RIBEIRO, 1996; BANDEIRA & HARADA, 1998; MARTIUS, 1998). No entanto, dois

levantamentos quantitativos foram realizados em Mata Atlântica. SILVA & BANDEIRA (1999)

estimaram em 1.862 ind./m2

a abundância de cupins especificamente no solo. Em estimativas em

ninhos, madeira e solo, realizadas em um Brejo de Altitude do Nordeste Brasileiro, BANDEIRA &

VASCONCELLOS (2002) encontraram uma elevada abundância e biomassa destes insetos, sendo os

valores considerados entre os maiores já estimados para a região Neotropical.

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

62

No presente capítulo, são apresentados dados sobre a abundância e biomassa de cupins em

ninhos, madeira, solo e folhiço para três remanescentes de Mata Atlântica do Nordeste do Brasil,

localizados ao norte do Rio São Francisco.

Material e Métodos

Estimativas de abundância e biomassa por microhabitat

O estudo foi desenvolvido no ano de 2000, nos meses de junho e julho (estação chuvosa)

e novembro e dezembro (estação seca). As coletas quantitativas foram realizadas em cinco pontos

de cada área de estudo por estação, entre 07 e 15:00h, como segue:

1) Folhiço: Cinco parcelas de 1 m2 por estação foram demarcadas e todo o folhiço presente no

seu interior foi recolhido e transportado para o laboratório, onde os cupins foram coletados

manualmente e depois contados e pesados. A biomassa, tanto para este microhabitat como para

os outros, foi calculada depois da estimativa do número médio de indivíduos (peso fresco) por

grama para as espécies encontradas nas áreas de estudo. Para tanto, cinco sub-amostras com os

cupins, soldados e operários, ainda vivos, foram pesadas em balança analítica e os valores

extrapolados para 1g. Em alguns casos, por dificuldades em se conseguir indivíduos para as

pesagens, o peso obtido para os cupins de uma espécie foi extrapolado para as outras do mesmo

gênero.

2) Ninhos: Duas parcelas de 100 X 10 m foram demarcadas em cada área de estudo por estação.

Todos os ninhos encontrados nas parcelas foram contados. No entanto, para cada espécie foi

quantificada a população de no máximo quatro ninhos. Para tanto, os ninhos foram sorteados

abertos sobre uma lona plástica e três fragmentos (com pesos conhecidos) foram recolhidos para

extração dos cupins. Estes fragmentos possuíam de 2 a 15% do peso total do ninho e foram

retirados, quando possível, em forma de fatias na parte basal, no meio e na parte superior dos

ninhos. Quando o ninho possuía um grande volume, este foi fragmentado da forma mais

conveniente para a retirada das sub-amostras. Com base na média dos dados quantitativos destes

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fragmentos, a população do ninho foi estimada. A determinação da população média dos ninhos

permitiu, juntamente com os valores de densidade destas construções nas parcelas, estimar a

abundância e biomassa dos cupins neste microhabitat.

3) Solos: O método utilizado para captura dos cupins no solo foi baseado no protocolo proposto

pelo “Tropical Soil Biology and Fertility Programme (TSBF)” (ANDERSON & INGRAM, 1987) e

adaptado por BANDEIRA & VASCONCELLOS (2002). Cinco monolitos com 20 X 20 X 30 cm (12,5

dm3) foram feitos em cada área por estação. Cada monolito foi dividido em três camadas de 20 X

20 X 10 cm, onde os cupins foram contados e posteriormente pesados (Figura 2.1).

2) Troncos: Foram demarcadas aleatoriamente em cada área de estudo por estação cinco parcelas

de 6 X 5 m (30 m2). Nestas parcelas toda a madeira, com mais de 1 cm de diâmetro, caída sobre o

solo foi coletada e pesada no campo com balança manual (Figura 2.2). Em seguida, uma amostra

de cinco quilos de toda a madeira presente em cada parcela foi retirada com auxílio de moto-serra

e todos os cupins do seu interior foram coletados manualmente ainda no campo (Figura 2.3). A

abundância dos cupins estimada em laboratório para os cinco quilos de madeira foi transferida

proporcionalmente ao peso total da madeira encontrada na parcela.

Embora as coletas tenham sido realizadas durante as estações seca e chuvosa, o baixo

número de réplicas por microhabitat, a forte distribuição binominal negativa dos dados de

abundância e biomassa e o número reduzido de amostras sem cupins, impossibilitaram uma

comparação entre as estações. Mesmo após a transformação dos dados de log (x+1), não foi

possível utilizar testes paramétricos e tampouco não-paramétricos. Por isso, os dados de

abundância e biomassa apresentados neste capítulo foram expressos em médias aritméticas, após

junção dos valores encontrados em ambas as estações. Em estudos sobre a ecologia dos cupins, a

média aritmética é corriqueiramente utilizada para expressar valores quantitativos da população

(WOOD & SANDS, 1978; EGGLETON et al., 1996; BANDEIRA & HARADA, 1998; INOUE et al., 2001;

BANDEIRA & VASCONCELLOS, 2002).

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

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Resultados

Os dados das estimativas de abundância e biomassa de cupins no folhiço, ninhos, solo e

troncos estão na Tabela 2.1. Trinta e sete espécies de cupins, pertencentes a 23 gêneros e a três

famílias, foram encontradas nos três remanescentes de Mata Atlântica. Os maiores valores de

abundância e biomassa foram estimados para a RPT. Nos três remanescentes, a proporção (%) da

abundância entre as famílias Kalotermitidae/Rhinotermintidae/Termitidae variou de 0,01 a 0,04 /

0,02 a 4,45 / 95,51 a 99,97, respectivamente.

A subfamília Nasutermitinae foi a dominante em riqueza de espécies, abundância e

biomassa de cupins, principalmente na RPT. O grupo alimentar dos consumidores de húmus foi

também dominante em abundância e biomassa, exceto na MAB, onde especificamente a

biomassa dos consumidores de madeira foi maior (Figura 2.4).

Quinze espécies de cupins foram encontradas no solo, sendo que nove foram exclusivas

deste microhabitat. O solo também foi o microhabitat que apresentou a maior abundância e

biomassa de cupins (Figura 2.5). A espécie Embiratermes parvirostris foi a dominante nos solos

das três áreas de Mata Atlântica.

No geral, de 80 a 100% das espécies foram encontradas até 20 cm de profundidade. Na

RPT, todas as espécies foram encontradas até esta profundidade, enquanto Aparatermes sp., no

HDI, e Anoplotermes sp. b e Anoplotermes sp. c, na MAB, estavam entre 20-30 cm. Na RPT, os

cupins de solo estavam concentrados entre 10-20 cm de profundidade, mas no HDI e na MAB

eles estavam principalmente entre 0-10cm de profundidade (Figura 2.6). Para as três áreas, cerca

de 83 a 90,2 % da abundância e biomassa dos cupins de solo estavam entre 0-20 cm de

profundidade.

Vinte e seis espécies de cupins apresentaram algum grau de associação ou dependência

em relação a madeira, sendo que destas, apenas dez foram encontradas exclusivamente neste

microhabitat. Entre as espécies consumidoras de madeira, Nasutitermes corniger foi a dominante.

Até mesmo os cupins consumidores de húmus, como Anoplotermes banksi e L. labralis, foram

encontradas em túneis, sobre ou no interior da madeira. Seis espécies foram encontradas no

folhiço, mas apenas Velocitermes cf. velox foi exclusiva deste microhabitat e dominante em

termos de abundância e biomassa.

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

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As populações de seis espécies foram quantificadas no interior dos ninhos na RPT, sete no

HDI e oito na MAB (Tabela 2.2). Por serem construídos acima de 10 m de altura do solo e

geralmente presos a lianas, a população dos ninhos de Nasutitermes sp. não foi quantificada,

sendo apenas estimada a densidade de suas construções. A baixa densidade de ninhos na RPT foi

devido a ausência na parcela das espécies de Microcerotermes, principalmente M. exiguus,

bastante comuns nos outros remanescentes. As construções de N. corniger também foram

escassas neste remanescente. Por outro lado, os ninhos de Embiratermes neotenicus foram

exclusivos da RPT, com população média chegando próxima a 300.000 indivíduos/ninho.

As estruturas das comunidades de cupins construtores foram similares no HDI e MAB,

mas, neste último remanescente, a estimativa da abundância de ninhos foi maior. Nestas áreas,

devido à abundância dos seus ninhos, M. exiguus, Nasutitermes corniger, N. ephratae e

Labiotermes labralis foram as espécies dominantes.

Discussão

Levantamentos quantitativos das comunidades de cupins foram desenvolvidos em maior

número em ecossistemas de savana, sendo os ninhos conspícuos o microhabitat mais explorado

(LEE & WOOD, 1971; LAPAGE & DARLINGTON, 2000). Em florestas tropicais as informações

quantitativas sobre a fauna de cupins são relativamente escassas. (MATSUMOTO, 1976; MARTIUS,

1989; MARTIUS & RIBEIRO, 1996).

Abundância e biomassa

As estimativas de abundância e biomassa dos cupins em Mata Atlântica do Nordeste

Brasileiro estão dentro da amplitude registrada para outras florestas tropicais do mundo (revisão

em BIGNELL & EGGLETON, 2000). A RPT, o HDI e a MAB, juntamente com o Brejo dos Cavalos-

PE, representam as áreas de floresta tropical onde foram encontrados os maiores valores de

abundância de cupins na região Neotropical (BANDEIRA & TORRES, 1985; MARTIUS, 1994;

BANDEIRA & HARADA, 1998; SILVA & BANDEIRA, 1999; SILVA 2000; BANDEIRA &

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

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VASCONCELLOS, 2002). No entanto, em termos de biomassa, os maiores valores foram estimados

para a floresta de terra firme da Amazônia Central com 14 a 17 g/m2, devido principalmente à

ocorrência de grandes cupins consumidores de folhas, como Syntermes spinosus e Syntermes

molestus, considerados entre os maiores da região Neotropical (MARTIUS, 1998). Em florestas do

Complexo Mata Atlântica do Nordeste Brasileiro, até o presente, nenhuma espécie deste gênero

foi encontrada consumindo folhas no interior das florestas. Uma outra espécie do gênero,

chamada de Syntermes nanus, ocorre em ambientes próximos da floresta, geralmente em locais

abertos onde a vegetação primária foi removida totalmente. Nestes locais a vegetação geralmente

encontra-se em início de regeneração e há uma nítida dominância de espécies herbáceas, como

gramíneas. Todavia, em fragmentos isolados de Cerrado próximos ao litoral e em plantações de

cana-de-açúcar, S. nanus é facilmente observado forrageando no crepúsculo ou durante a noite

(SENA et al., 2003; MIRANDA et al., submetido). Os valores máximos de abundância e biomassa

para uma floresta tropical primária foram estimados por EGGLETON et al. (1996) com 6.957

cupins/m2 e 123,2 g (peso vivo)/m

2, na Reserva Florestal de Mbalmayo, África. Estes valores

correspondem a cerca de 69.570.000 cupins/ha e a 1,2 ton. (peso vivo)/ha.

Há pouca informação sobre estimativas de abundância e biomassa de cupins em floresta

do Complexo Mata Atlântica. SILVA & BANDEIRA (1999) estudaram a abundância de cupins ao

longo de um ano e estimaram 1573 e 2150,8 cupins/m2, para as estações seca e chuvosa,

respectivamente. Em Brejo de Altitude da Paraíba, SILVA (2000) encontrou uma abundância

média de 4241,1 cupins/m2, especificamente para o solo e folhiço, o que pode ser considerada

uma estimativa relativamente alta para apenas dois microhabitats. Em um levantamento

quantitativo da fauna de cupins em um gradiente de distúrbio antrópico (floresta próxima a

primária/ floresta secundária/ plantação de banana) em um Brejo de Altitude de Pernambuco,

BANDEIRA & VASCONCELLOS (2002) evidenciaram que a diversidade, abundância e biomassa de

cupins diminuíram da floresta primária para a plantação de banana. Nestas áreas, a abundância

variou de 445,5 (2,39g) a 4845,5 (13,18 g) cupins/m2.

Neste estudo, o solo foi o microhabitat que apresentou a maior abundância (79% do total)

e biomassa (77% do total). No entanto foi na madeira onde a maioria das espécies foi encontrada.

A alta riqueza de espécies em um microhabitat, como, por exemplo, nos troncos, geralmente foi

associada a uma abundância elevada (MARTIUS, 1994a). No entanto, os resultados deste estudo

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

67

sugerem que nem sempre uma alta riqueza de espécies em algum microhabitat está diretamente

associada a uma elevada abundância e biomassa.

A RPT foi a área que possuiu a maior abundância e biomassa de cupins no solo. O grande

número de indivíduos neste microhabitat também já foi registrado para duas outras áreas do

Complexo Mata Atlântica com mais de 450 metros de altitude (SILVA, 2000; BANDEIRA &

VASCONCELLOS, 2002). Além da altitude, é provável que a textura argilosa do solo represente um

outro fator de influência sobre a abundância de cupins nestas áreas. Segundo LEE & WOOD

(1971), os cupins geralmente são mais abundantes em solos argilosos de que em solos arenosos,

pois a estabilidade dos túneis e ninhos depende da proporção entre areia, silte e argila.

O grupo alimentar dos consumidores de húmus foi o dominante em termos de abundância

e biomassa, com destaque para Embiratermes parvirostris. Esse padrão também se repetiu no

Brejo dos Cavalos, Pernambuco (BANDEIRA & VASCONCELLOS, 2002) e na Mata do Pau Ferro,

Paraíba (SILVA, 2000). Além disso, SILVA & BANDEIRA (1999) consideraram E. parvirostris (esta

espécie no artigo está como Embiratermes sp. b) como a mais abundante entre as 25 espécies

encontradas no solo da MAB. Desta forma, E. parvirostris pode ser considerada a espécie mais

comum nos solos de Mata Atlântica do Nordeste brasileiro, ao norte do Rio São Francisco.

No geral a fauna de solo estava concentrada entre 0-20 cm de profundidade. BANDEIRA &

VASCONCELLOS (2002) também encontraram maior abundância e representantes de todas as

espécies de cupins até 20 cm, chegando a sugerirem esta profundidade como ideal para

levantamentos qualitativos. Isso propiciaria um aumento do número de réplicas com a

manutenção do esforço de coleta manual. Os outros estudos desenvolvidos em florestas do

Complexo Mata Atlântica também registraram uma maior abundância e diversidade de cupins

entre 0-20 cm de profundidade (SILVA & BANDEIRA, 1999; SILVA, 2000).

Não há estudos publicados sobre a representatividade da abundância e biomassa dos

cupins em relação aos demais grupos de invertebrados do solo em Mata Atlântica. No entanto, na

Amazônia, mesmo havendo variação na proporção entre os grupos de acordo com os métodos de

coleta, os ácaros, colêmbolos, cupins, formigas e minhocas são os grupos dominantes em número

de indivíduos (BANDEIRA & TORRES, 1985; ADIS et al., 1989; BANDEIRA & HARADA, 1998).

Todavia, em termos de biomassa, os cupins, as minhocas e as formigas são os táxons dominantes

(BANDEIRA & TORRES, 1985; LAVELLE et al., 1997).

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68

A abundância e biomassa também foram relativamente altas nos troncos. Na Amazônia

Oriental, os cupins encontrados em troncos e galhos em decomposição foram muito mais

abundantes do que qualquer outro grupo de animais na floresta primária, representando 76 e 82%,

respectivamente, da abundância e biomassa total, entre mais de 20 grupos encontrados (Bandeira

& Torres, 1985). Estes autores salientaram que a ausência de levantamentos quantitativos em

troncos e galhos em decomposição pode subestimar significativamente as populações de cupins

nos ecossistemas.

As informações disponíveis sobre as populações de cupins em ninhos e sua

representatividade em termos de densidade são escassas para as florestas da região Neotropical.

As poucas estimativas existentes estão resumidas na Tabela 2.3. Grande parte da

representatividade das espécies de Nasutitermes nas estimativas de abundância e biomassa em

florestas tropicais deve-se a população e densidade de seus ninhos.

Algumas espécies possuem em seu estilo de vida a capacidade de habitar vários

microhabitats, entre elas E. neotenicus e A. banksi. Na MAB, apenas 13,7 % dos indivíduos de A.

banksi estavam presentes em ninhos, o restante estava no solo (40,2 %) e nos troncos em estado

avançado de decomposição (46,1%). Por isso, estimativas desenvolvidas especificamente em

ninhos podem mascarar a verdadeira abundância destas espécies no ecossistema.

A biomassa dos cupins estimada para os remanescentes de Mata Atlântica do Nordeste

brasileiro sugere que estes insetos são elementos importantes para a dinâmica dos processos

ecológicos relacionados com a decomposição da necromassa vegetal e, por conseqüência, com o

fluxo de carbono.

Considerações sobre os métodos de amostragens

Poucas estimativas da diversidade e abundância de cupins foram realizadas no folhiço

(WILLIS, 1976; SILVA 2000). Além disso, o tamanho das parcelas utilizadas nas coletas varia

consideravelmente de acordo com o estudo. Parcelas de 1m2, como utilizadas neste estudo, são

muito trabalhosas para serem analisadas manualmente, pois a inspeção e a coleta dos cupins de

uma única amostra por uma pessoa pode durar até três horas. Isto impossibilitou o aumento do

número de réplicas por localidade, sugerindo, neste caso, que a redução do tamanho da parcela

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

69

em prol do aumento do número de réplicas seja adequado. Um outro possível problema que pode

ter interferido nas estimativas populacionais neste microhabitat foi o período de coleta. JANZEN

(1972) sugere uma diferença marcante na composição da fauna do folhiço entre o dia e a noite,

principalmente durante a estação seca, em áreas com forte variação sazonal, quando as espécies

saem de seus sítios de refúgio durante a noite. Este comportamento foi interpretado como uma

estratégia da fauna para minimizar os efeitos estacionais. Embora nenhuma das áreas possua uma

marcante estação seca, não se sabe a influência do período estacional sobre o comportamento de

forrageamento de toda uma comunidade de cupins. Desta forma, como recomendado por

CONSTANTINO (com. pessoal), pelo menos no folhiço, as amostragens durante o período noturno

mostram-se necessárias neste microhabitat.

Para amostragens das populações dos ninhos conspícuos há basicamente três métodos: (i)

contagem direta de toda a população (p. ex. MARTIUS & RIBEIRO, 1996); (ii) retirada de sub-

amostras do ninho utilizando sondas com volume conhecido (p. ex. RIBEIRO, 1997); (iii) e

retirada aleatória de diversos fragmentos dos ninhos com peso e volume variáveis (p. ex.

MATSUMOTO, 1976). Sem dúvida, o primeiro método é o mais preciso dos três. No entanto,

alguns ninhos de cupins podem conter mais de 1.000.000 de indivíduos (LAPAGE &

DARLINGTON, 2000), o que torna praticamente impossível uma amostragem direta de todos os

ninhos de uma comunidade termítica. O segundo método talvez seja o mais prático, porém só

pode ser utilizado em ninhos com superfície “mole”, como os de Labiotermes labralis. O último

método citado aparentemente é o mais conveniente quando se pretende trabalhar com toda a

comunidade de cupins construtores de ninhos, mas também, entre os três, é o mais susceptível a

erros amostrais.

A extração de monolitos para avaliação da fauna de solo é amplamente utilizada em

ecossistemas tropicais, tanto de florestas como de savanas, sendo recomendada para cupins e

minhocas por ANDERSON & INGRAM (1987). Para a extração dos cupins do solo amostrado podem

ser utilizados vários métodos. Neste sentido, a coleta manual dos cupins é recomendada, porém

aparentemente existe uma tendência para ocorrer uma subestimativa dos indivíduos com menos

de 2 mm de comprimento, estando incluídas as ninfas de cupins. Uma alternativa é a utilização

do funil de Berlese-Tullgren (SOUTHWOOD, 1978) ou do extrator de Kempson (ADIS, 1987; SILVA

& MARTIUS, 2000). O primeiro já foi utilizado por vários autores na extração dos cupins de solo,

mas, segundo SILVA & MARTIUS (2000), este não é um método adequado para coleta destes

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

70

insetos, uma vez que muitos indivíduos morrem no interior da amostra (BANDEIRA, 1979). Por

outro lado, o extrator de Kempson produz resultados muito parecidos, se não melhores, ao

método de coleta manual. No entanto, para utilização destes métodos torna-se necessária a

utilização de equipamentos adequados e uma infraestrutura mínima, tornando impraticável a sua

utilização quando as coletas são realizadas em localidades distantes.

Um outro aspecto que sempre gerou discussões entre os termitólogos está relacionado

com a área e profundidade dos monolitos, possivelmente devido à tendência natural dos cupins à

agregação e a sua capacidade de forrageamento acima de 1 metro de profundidade do solo (LEE

& WOOD, 1971). Em diferentes estudos desenvolvidos em florestas tropicais, a área superficial do

monólito pode variar de 10 X 10 cm (0,01m2) a 20 X 20 cm (0,04 m

2) e a profundidade de 5 a 50

cm. Nesses ecossistemas, a maior abundância e riqueza de espécies geralmente estão

concentradas até 20 cm de profundidade, tornando relativamente dispensável amostragens com

mais de 30 cm. O emprego de monolitos de 10 X 10 X 30 cm de profundidade gera facilidades na

extração manual dos cupins (INOUE et al., 2002), por haver uma quantidade menor de solo, e

propicia o aumento do número de réplicas, mantendo um esforço amostral comparável ao

despendido no método TSBF. Por outro lado, provavelmente haverá muitas amostras sem ou com

poucos cupins, tornando as análises estatísticas muito difíceis de serem empregadas de forma

adequada, mesmo utilizando testes não-paramétricos.

Neste estudo, por estação, foram realizadas cinco réplicas utilizando monolitos com 20 X

20 X 30 cm (ca. 12 litros). Mesmo sendo um monolito maior, a utilização de poucas réplicas

também gerou dificuldades estatísticas para testar a influência estacional sobre a fauna de cupins,

apesar deste número de réplica ter sido sugerido por ANDERSON & INGRAM (1987). Uma solução

seria a utilização de 15 ou mais réplicas por localidade ou estação, o que pode tornar os dados de

abundância mais tratáveis do ponto de vista estatístico após sua transformação em log (x+1)

(Capítulo IV desta tese).

A abundância e biomassa dos cupins em madeira e galhos da necromassa foram

escassamente amostradas em florestas tropicais (BANDEIRA & TORRES, 1985; EGGLETON et al.,

1996). Isto possivelmente porque, entre todos os outros microhabitats, os troncos são os mais

difíceis de serem amostrados e de terem sua população termítica extraída, sendo necessários

vários auxiliares de campo.

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

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Nas parcelas de 6 X 5 m (30 m2) utilizadas neste estudo podem haver mais de 150 kg de

madeira caída, dificultando consideravelmente a extração dos cupins de seu interior. A retirada

alternativa de amostras de cinco quilos, utilizando moto-serra, causa a morte e perda de muitos

indivíduos. Talvez a forma mais prática seja diminuir as parcelas para 2 X 2 m ou para 3 X 3 m,

para que todos os troncos e galhos do seu interior tenham sua fauna de cupins extraída.

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Figura 2.1. Esquema geral mostrando os procedimentos de coleta dos cupins de solo. A: inserção

da placa no solo; B: retirada do solo adjacente ao monolito; C: separação do solo em camadas; D:

fragmentação manual do solo em bandejas plásticas e coleta dos cupins.

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Figura 2.2. Pesagem com balança manual dos troncos encontrados nas parcelas de 30 m2.

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Figura 2.3. Extração em campo dos cupins das amostras de 5 Kg retiradas das parcelas.

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Abundância

(cupin

s m

2)

0

500

1000

1500

2000

2500

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3500

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4500

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RPT HDI MAB

Cons. madeira

Cons. húmus

Cons. folhas

Cons. mad/húm

Cons. mad/fol

Bio

massa (

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upim

viv

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2)

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

RPT HDI MAB

Figura 2.4. Abundância e biomassa de cupins por grupo alimentar em três remanescentes de Mata

Atlântica do Nordeste Brasileiro: Reserva Biológica de Pedra talhada (RPT); Horto Dois Irmãos

(HDI); e Mata do Buraquinho (MAB).

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un

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ia (

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pin

s/m

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0

500

1000

1500

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3000

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5000

RPT HDI MAB

Folhiço

Ninho

Madeira

Solo

Bio

ma

ss

a (

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im v

ivo

/m2)

0

1

2

3

4

5

6

7

8

RPT HDI MAB

Figura 2.5. Abundância e biomassa de cupins por microhabitat em três remanescentes de Mata

Atlântica do Nordeste Brasileiro: Reserva Biológica de Pedra talhada (RPT); Horto Dois Irmãos

(HDI); e Mata do Buraquinho (MAB).

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77

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o d

as

ab

un

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olo

0

10

20

30

40

50

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70

80

90

100

RPT HDI MAB

Pro

po

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en

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ca

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olo

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

RPT HDI MAB

Camada 0-10 cm

Camada 10-20 cm

Camada 20-30 cm

Figura 2.6. Abundância e biomassa de cupins (m2) por camada de solo em três remanescentes de

Mata Atlântica do Nordeste Brasileiro: Reserva Biológica de Pedra talhada (RPT); Horto Dois

Irmãos (HDI); e Mata do Buraquinho (MAB).

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Tabela 2.1. Abundância (cupins/m2) e biomassa (g. peso vivo/m

2) dos cupins em três remanescentes de Mata Atlântica do Nordeste

Brasileiro. Nidificação: Ma, ninho em madeira; Fo, ninho no perfil do folhiço; Su, subterrâneo; Mo, montículo; Ar, arborícola.

Grupos alimentares: Cma, consumidor de madeira; Chu, consumidor de húmus; Cfo, consumidor de folhas; Cin (M/H), consumidor

intermediário entre madeira e húmus; Cin (M/F), consumidor intermediário entre madeira e folha. Microhabitats: Mad, madeira; Nin,

ninho; Fol, folhiço; Sol, solo.

Pedra Talhada Horto Dois

Irmãos

Mata do

Buraquinho

Nidificação/

Alimentação

Microhabitat

Abun. Biom. Abun. Biom. Abun. Biom.

KALOTERMITIDAE

Calcaritermes sp. 1,75 0,06 Ma/Cma Mad

Glyptotermes sp. 0,6 0* Ma/Cma Mad

Rugitermes sp. 0,4 0* Ma/Cma Mad

Subtotal 0,6 0* 0,4 0* 1,75 0,06

RHINOTERMITIDAE

Coptotermes testaceus 45,75 0,14 Su/Cma Mad/Sol

Heterotermes longiceps 254,95 0,52 157,60 0,33 Su/Cma Mad/Sol

Rhinotermes hispidus 1,30 0* Su/Cma Mad

Subtotal 1,3 0* 254,95 0,52 203,35 0,47

TERMITIDAE: Apicotemitinae

Aparatermes sp. 112,65 0,28 32,85 0,08 Su/Chu Sol

Anoplotermes banksi 34,25 0,04 40,51 0,05 216,65 0,27 Ar/Chu Mad/Sol/Nin

Anoplotermes sp.a 426,10 0,97 397,55 0,91 Su?/Chu Sol

Anoplotermes sp. b 188,70 0,38 Su?/Chu Sol

Anoplotermes sp. c 652,25 0,43 Su?/Chu Sol

Ruptitermes sp. 11,55 0* 44,15 0,11 75,75 0,18 Su/Cfo Fol/Sol

Subtotal 584,55 1,29 515,06 1,15 923,35 1,26

TERMITIDAE: Nasutitermitinae

Armitermes holmgreni 196,89 0,54 125,85 0,34 59,9 0,18 Ar/Cin (M/H) Mad/Nin

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Diversitermes cf. castaniceps 34,85 0,08 25,20 0,06 87,10 0,21 Fo/Cin (M/F) Mad/Fol

Embiratermes neotenicus 248,15 0,97 29,60 0,18 Mo/Cin (M/H) Mad/Nin/Sol

Embiratermes parvirostris 3552,01 5,46 1740,75 2,67 1184,40 1,82 Su/Chu Sol

Labiotermes labralis 80,41 0,39 135,9 0,67 199,82 0,98 Ar/Chu Nin/Sol/Mad

Nasutitermes corniger 413,65 1,08 462,15 1,18 587,45 1,50 Ar/Cma Mad/Nin

Nasutitermes ephratae 124,85 0,32 316,15 0,80 151,55 0,38 Ar/Cma Mad/Nin

Nasutitermes gaigei 205,4 0,42 170,60 0,35 Ma?/Cma Mad

Nasutitermes jaraguae 181,35 0,46 30,15 0,08 119,85 0,29 Ma?/Cma Mad

Nasutitermes cf. minor 30,5 0,06 96,30 0,19 Fo?/Cin (M/F) Mad/Fol

Nasutitermes macrocephalus 40,8 0,14 173,25 0,63 Ar/Cma Mad/Nin

Nasutitermes rotundatus 20,65 0,08 Ma?/Cma Mad

Nasutitermes sp. 28,5 0,07 52,40 0,13 Ar/Cma Mad/Nin

Subulitermes microsoma 4,10 0* Ma?/Cma Mad

Velocitermes cf. velox 65,40 0,15 93,2 0,12 75,00 0,13 Fo/Cfo Fol

Subtotal 4918,2 9,53 3238,65 6,61 3237,22 6,97

TERMITIDAE: Termitinae

Amitermes amifer 591,70 1,27 168,55 0,31 Ma/Cin (M/H) Mad/Sol/Fo

Cylindrotermes sp. 90,60 0,14 Ma/Cma Mad

Dentispicotermes cf. conjunctus 292,61 0,83 7,85 0,02 Su/Chu Sol

Microcerotermes exiguus 419,20 0,82 173,60 0,53 Ar/Cma Mad/Nin/Fo

Microcerotermes strunckii 10,11 0,02 70,45 0,16 Ar/Cma Mad/Nin

Neocapritermes guyanensis 147,60 0,46 Su/Chu Sol

Neocapritermes opacus 2,61 0,015 1,65 0* Su/Cin (M/H) Mad/Sol

Neocapritermes talpoides 65,45 0,215 45,05 0,13 Su/Chu Sol

Orthognathotermes sp. 1,05 0* Su/Chu Sol

Termes medioculatus 0,17 0* 3,10 0* 26,45 0,04 Ma?/Cin (M/H) Mad

Subtotal 157,88 0,48 1374,67 3,15 585,25 1,14

Total 5662,54 11,30 5383,73 11,43 4910,92 10,09

Número de espécies 19 25 29

*Valores de biomassa menores do que 0,01g.

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Tabela 2.2. População de ninhos, abundância (cupins/m2) e biomassa (g. cupins vivo/m

2) de cupins construtores de ninhos conspícuos

em três remanescentes de Mata Atlântica do Nordeste Brasileiro.

Áreas/Espécies Ninhos

quantificados

Ninhos/ha Amplitude População

média

Amplitude Abundância

(m2)

Biomassa

(m2)

RPT

Anoplotermes banksi 4 2 0-10 27.330 8.297-58.391 5,46 0,007

Armitermes holmgreni 3 5 1-8 83.431 35.410-102.301 41,7 0,11

Embiratermes neotenicus 4 5 3-11 298.347 57.388-645.442 148,17 0,58

Labiotermes labralis 3 4 2-8 69.538 53.535-99.878 27,8 0,13

Nasutitermes corniger 3 4 1-12 175.522 27.781-398.150 70,2 0,18

Nasutitermes ephratae 4 4 2-9 187.531 61.397-462.301 75,0 0,21

Total 21 24 9-58 841.699 243.808-1.766.463 368,33 1,217

HDI

Anoplotermes banksi 6 10 5-16 32.510 3.003-41.230 32.51 0,04

Armitermes holmgreni 4 7 4-11 55.781 47.889-93.447 39 0,10

Labiotermes labralis 4 9 5-13 85.496 36.385-120.236 76,9 0,38

Microcerotermes exiguus 5 24 15-33 37.199 3.538-63450 89,3 0,17

Nasutitermes corniger 8 12 8-31 294.030 43.002-682.500 352,8 0,93

Nasutitermes ephratae 8 6 4-11 288.410 48.670-702.550 173,0 0,49

Nasutitermes macrocephalus 3 0,6 0-3 680.101 175.440-803.600 40,8 0,14

Nasutitermes sp. 0 0,4 0-2 - - - -

Total 38 69 41-120 1.473.527 357.927-2.507.013 804,31 2,25

MAB

Anoplotermes banksi 6 8 3-14 37.112 4.120-48.530 29,68 0,037

Armitermes holmgreni 6 11 5-15 75.638 27.596-156.378 83,2 0,23

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Labiotermes labralis 6 13 5-18 98.839 39.358-162.535 128,4 0,63

Microcerotermes exiguus 6 29 13-38 47.389 6.788-98.531 137,4 0,27

Microceroterems strunckii 2 0,5 0-2 28.784 15.236-42.333 2,8 0,006

Nasutitermes corniger 8 15 10-26 242.785 52.232-951.102 364,17 0,96

Nasutitermes ephratae 8 4 2-8 201.244 59.300-610.800 80,5 0,23

Nasutitermes macrocephalus 4 0,3 0-2 514.760 200.510-1.100.510 15,44 0,056

Nasutitermes sp. 0 0,7 0-4 - - - -

Total 46 81,5 38-127 1.246.551 405.140-3.170.719 841,59 2,419

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Tabela 2.3. Dados disponíveis sobre a abundância e populações de ninhos de cupins em florestas úmidas da região Neotropical.

Espécies Ninhos/

ha

Ampl. População

média

Amplitude Abun.

(ind./m2)

Biom.

(g/m2)

Local Autores

Anoplotermes banksi - - 55.864 - - - Amazônia Oriental Bandeira & Torres, 1985

Anoplotermes banksi 12-18 18.440 2.593-39.256 25-38 0,045-0,069 Amazônia Central Martius & Ribero, 1996

Labiotermes labralis 10 - 135.000 - - - Amazônia Central Martius & Ribeiro, 1996;

Martius, 1997

Nasutitermes corniger - - 202.097 40.092-435.890 - - América Central Thorne, 1982

Nasutitermes corniger - 31,6-47,1 - - - - Amazônia Central: várzea Martius, 1994b.

Nasutitermes costalis - - - - 87-104 0,3 América Central Wiegert 1970

N. ephratae - 0-2,7 - - - - Amazônia Central: várzea Martius, 1994b.

N. ephratae 25 - - - - - Brejo de Altitude Bandeira et al., 2003

Nasutitermes macrocephalus - 0-4 1.375.000 150.000-1.500.000 544 1,8 Amazônia Central: várzea Martius, 1994b

Nasutitermes surinamensis - 1,7-3 - - - - Amazônia Central: várzea Martius, 1994b

Nasutitermes tatarendae - 3,3-11 - - - - Amazônia Central: várzea Martius, 1994b

Rotunditermes bragantinus - - 77.336 - - - Amazônia Oriental Bandeira & Torres, 1985

Syntermes molestus 11,2 - 30.000 - - - Amazônia Central Mill, 1984

Syntermes spinosus 3,8 - 37.000 - - - Amazônia Central Mill, 1984

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CAPÍTULO III

Participação de três espécies de Nasutitermes

(Isoptera, Termitidae) no consumo de madeira da

necromassa em Mata Atlântica do Nordeste Brasileiro

Resumo

Os cupins representam uma considerável porção da biomassa animal nas florestas tropicais. Nesses

ecossistemas, apesar da abundância desses insetos, há poucos dados quantitativos sobre a sua

importância nos processos de decomposição da madeira. Este capítulo tem por objetivo avaliar a

participação de Nasutitermes corniger, N. ephratae e N. macrocephalus no consumo de madeira da

necromassa em dois remanescentes de Mata Atlântica do Nordeste Brasileiro: Horto Dois

Irmãos-PE (HDI) e Mata do Buraquinho-PB (MAB). Para tanto, as populações destas espécies

foram quantificadas em ninhos e em troncos em decomposição e a taxa de consumo de madeira foi

determinada em laboratório utilizando blocos-testes de Clitoria fairchildiana, recém cortada e em

decomposição, Cecropia sp. e Protium sp., ambas em início de decomposição. O consumo médio

de madeira seca para as três espécies foi 9,43 mg g de cupim (peso fresco)-1

dia-1

, sendo N.

macrocephalus a espécie que apresentou a maior taxa de consumo, com 12,1 mg g de cupim (peso

fresco)-1

dia-1

. As estimativas populacionais demonstraram que a abundância média das três

espécies pode variar de 253,16 a 273,0 ind./m2. No geral, N. corniger foi a espécies que apresentou

a maior abundância. De acordo com os testes de laboratório e estimativas populacionais, as três

espécies de Nasutitermes removem no HDI e na MAB 66,92 e 72,85 kg de madeira seca ha-1

ano-1

, respectivamente, correspondendo a 2,9 e 3,3% do total da produção anual de madeira da

necromassa. Em ambas as áreas, 28 espécies utilizam a madeira como fonte de nutrientes, sendo

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que destas, 19 são consumidoras exclusivas de madeira, sugerindo que a fauna de cupins destas

áreas provavelmente pode remover mais de 15% da produção anual de madeira.

Palavras-chave: Isoptera, Importância ecológica, Consumo de madeira, População, Biomassa

Introdução

As florestas e as savanas tropicais estão entre as áreas que possuem a maior diversidade e

abundância de cupins do mundo (LEE & WOOD, 1971; MARTIUS, 1994a; BIGNELL & EGGLETON,

2000). A biomassa dos cupins nestes ecossistemas pode superar 100kg (peso vivo) por hectare

(WOOD & SANDS, 1978; ABE & MATSUMOTO, 1979), sendo bem superior à biomassa de alguns

grupos de vertebrados na Floresta Amazônica (FITTKAU & KLINGE, 1973) e Savanas Africanas

(DESHMUKH, 1989).

A alimentação dos cupins é composta basicamente por material vegetal vivo e em

decomposição, embora alguns consumam húmus, carcaças de animais, fezes de herbívoros e

líquens. Além disso, as espécies da subfamília Macrotermitinae cultivam fungos no interior dos

seus ninhos (WOOD, 1978). O consumo de madeira por estes insetos é regido aparentemente por

propriedades que propiciem sua melhor mastigação, digestão e assimilação. Estas propriedades

podem variar consideravelmente de acordo com a madeira, como densidade, concentração de

nitrogênio, presença de fenóis e quinonas, e estágio de decomposição depois de morta (BECKER,

1969; NOIROT & NOIROT-TIMOTHEÉ, 1969; LEE & WOOD, 1971; LA FAGE & NUTTING, 1978;

BUSTAMENTE & MARTIUS, 2000).

Estimativas do consumo de necromassa vegetal demonstraram que os cupins são

importantes para a dinâmica dos processos de decomposição e ciclagem de nutrientes (ADAMSON,

1943; LA FAGE & NUTTING, 1978; ABE & MATSUMOTO, 1979; MARTIUS, 1994a). Em diferentes

ecossistemas tropicais, estes insetos podem consumir de 14 a 50 % da produção anual de

necromassa vegetal (MATSUMOTO & ABE, 1979; HOLT, 1987; BIGNELL & EGGLETON, 2000). Em

alguns desertos, os cupins podem consumir até 100% da necromassa vegetal produzida (BODINE &

UECKER, 1975; WHITFORD, 1991).

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Levantamentos quantitativos da abundância e biomassa de cupins são fundamentais para

identificar a função destes insetos nos ecossistemas naturais. No entanto, quando avaliados

isoladamente, são insuficientes para determinar com mais precisão o papel funcional de um táxon.

Neste sentido, há uma clara necessidade da mensuração do consumo do material vegetal produzido

e, se possível, da taxa efetiva de sua assimilação.

O objetivo deste capítulo foi avaliar a participação das populações de Nasutitermes

corniger, N. ephratae e N. macrocephalus na remoção de madeira da necromassa produzida em

dois remanescentes de Mata Atlântica do Nordeste Brasileiro. Para tanto, o consumo de madeira e

o tamanho das populações destas espécies foram primeiramente estimados.

Material e Métodos

O estudo foi conduzido em dois remanescentes de Mata Atlântica localizados na cidade de

João Pessoa-PB (Mata do Buraquinho-MAB) e Recife-PE (Horto Dois Irmãos-HDI). As

descrições destas áreas estão no tópico área de estudo do capítulo I, e os métodos para estimar

quantitativamente a abundância de cupins em ninhos e troncos estão descritos no capítulo II desta

tese.

Quantificação do consumo de madeira em laboratório

As madeiras utilizadas para avaliar o consumo das três espécies de cupins foram: Clitoria

fairchildiana Howard (Fabaceae), cortada recentemente (ca. três meses) e há aproximadamente

quatro anos; Cecropia sp. (Cecropiaceae) cortada há aproximadamente dois anos; Protium sp.

(Burseraceae) cortada há cerca de seis meses. A oferta das madeiras aos cupins foi feita mediante a

confecção de pequenos blocos com 2 X 2 X 1 cm. Os blocos foram colocados para secar em estufa

a 105 oC durante 72 horas e, um pouco antes de serem ofertados aos cupins, foram umedecidos com

água destilada.

Vinte sub-colônias de cada espécie foram acondicionadas em recipientes de plástico

atóxico de 1,5 litro de capacidade, com o substrato formado por 2 cm de areia esterilizada,

recoberta com 1 cm de vermiculita expandida (LENZ et al., 1976). As sub-colônias foram

compostas por 200 operários e 50 soldados, razão próxima à encontrada em ninhos maduros de

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Nasutitermes spp. em área de Mata Atlântica. Cada recipiente recebeu um bloco de cada madeira

testada. Os recipientes foram mantidos em laboratório sob total escuridão por 20 dias. A

temperatura dos recipientes permaneceu em torno de 26oC. Oito recipientes com blocos de

madeira, mas sem cupins, foram utilizados como controle. Os testes foram realizados em quatro

etapas, sendo em cada uma montados cinco recipientes por espécies e dois como controle.

O consumo de madeira foi obtido pela diferença entre o peso inicial e final dos blocos,

corrigida, eventualmente, pela perda de peso no controle (BUSTAMENTE, 1993; VASCONCELLOS &

BANDEIRA, 2000). Os valores de consumo obtidos em cada recipiente foram transformados em mg

de madeira seca consumida g. de cupim vivo-1

dia-1

.

A participação de N. corniger, N. ephratae e N. macrocephalus no consumo de necromassa

foi baseado em um estudo sobre a produção anual de necromassa realizado no HDI por SAMPAIO et

al. (1988). Não há dados sobre a produção de necromassa vegetal na Mata do Buraquinho. No

entanto, BARBOSA (1996) considerou que ambas fazem parte da mesma formação vegetal que

caracteriza a grande maioria da vegetação de Mata Atlântica dos Estados da Paraíba, Pernambuco e

Alagoas, devido a grande similaridade florística destas áreas. Além disso, as vegetações da MAB e

do HDI possuem estados de conservação parecidos, sendo também áreas de proteção dos governos

estaduais. Tendo isso em vista, a participação das espécies de Nasutitermes no consumo de madeira

para MAB foi estimada com base na produção de necromassa do HDI.

Resultados e Discussão

Os valores das estimativas de abundância de N. corniger, N. ephratae e N. macrocephalus

em ninhos e troncos estão na Tabela 3.1. Os ninhos de N. macrocephalus foram os mais populosos

nas duas áreas, alcançando volume superior a 280 dm3 e uma população de até 1.100.510

indivíduos, mas suas construções foram relativamente escassos nas duas áreas, com menos de 1

ninho/ha. Por outro lado, N. corniger e N. ephratae estão entre as espécies mais comuns de

Nasutitermes em Mata Atlântica do Nordeste Brasileiro. Os seus ninhos são fáceis de serem

encontrados e podem ser também relativamente fáceis de serem identificados pela morfologia

externa e local de nidificação.

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Na Floresta Amazônica (várzea), os ninhos de N. macrocephalus possuem uma densidade

de 4 ninhos/ha e uma população entre 150.000 a 1.500.000 ind./ninho, podendo ultrapassar os 1000

dm3. Nesse mesmo ecossistema, as densidades dos ninhos de N. corniger e N. ephratae foram

estimadas em até 2,7 e 47,1/ha, respectivamente (MARTIUS, 1994b).

A proporção (%) entre a abundância de cupins em madeira e em ninhos variou de acordo

com a espécie e área de estudo. No HDI, a proporção entre madeira/ninho foi 23,7/76,3; 45,3/54,7;

0/100, para N. corniger, N. ephratae e N. macrocephalus, respectivamente. Na MAB, na mesma

seqüência, as proporções foram 38,1/61,9; 46,8/53,2; 84/15,4.

Os blocos de Clitoria fairchildiana em decomposição foram os mais consumidos por todas

as espécies testadas (Tabela 3.2). VASCONCELLOS & BANDEIRA (2000) também registraram um

maior consumo desta madeira em estágio de decomposição por três espécies de cupins de Mata

Atlântica, incluindo Nasutitermes corniger. BUSTAMATE & MARTIUS (1998) estudaram a

preferência alimentar de cinco espécies de Nasutitermes de várzea da Amazônia Central e também

detectaram maior preferência dos cupins por madeira em decomposição em relação à madeira

sadia.

Nos testes em laboratório, o maior consumo médio foi obtido para N. macrocephalus com

12,1 mg g cupim vivo-1

dia-1

. No entanto, o consumo máximo de madeira estimado para esta

espécie foi 16,3 mg g cupim vivo-1

dia-1

, obtido por MARTIUS (1989).

O consumo estimado das três espécies de Nasutitermes foi 66,92 kg de madeira seca ha-1

ano-1 para o HDI e 76,85 kg de madeira seca ha-1 ano-1 para a MAB (Tabela 3.3). Segundo

SAMPAIO et al. (1988), a média da produção anual de necromassa de três anos consecutivos no HDI

foi de 11,29 ton./ha, incluindo folhas, inflorescências, frutos, ramos e galhos. Apenas a produção

de ramos e galhos foi estimada em 1,7 e 2,93 ton./ha, respectivamente. Em relação ao total de

necromassa produzida, a participação das três espécies na remoção deste material foi de 0,7 e 0,6%,

para o HDI e MAB, respectivamente. No entanto, em relação à produção de necromassa apenas de

ramos e galhos, que representam o principal alimento das espécies de Nasutitermes em Mata

Atlântica, as três espécies podem participar removendo de 2,9 e 3,3% do total.

Em florestas tropicais, a participação dos cupins nos processos de decomposição da

necromassa parece ser menos expressiva do que em algumas regiões áridas e semi-áridas. Em

algumas áreas com vegetação de savana a comunidade de cupins pode consumir de 5 a mais de 80

% da produção primária (OHIAGU, 1979; BANIGE, 1982; WOOD & SANDS, 1978). No Parque

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Nacional de Tsavo, África, BUXTON (1981) evidenciou que praticamente toda a madeira morta foi

removida por cupins. Nestes ecossistemas, nenhum grupo de cupins participa tão ativamente do

consumo de matéria orgânica vegetal quanto Macrotermitinae, especialmente Macrotermes spp. A

participação desta subfamília e de seus fungos simbiontes no processo de decomposição fica ainda

mais evidente devido a grande assimilação do material recolhido e processado em seus ninhos,

chegando a aproximar-se de 100% (WOOD & SANDS, 1978).

No Novo Mundo e na Austrália, Macrotermitinae está ausente. Segundo BIGNELL &

EGGLETON (2000), nestas áreas, aparentemente a participação das espécies das outras subfamílias

de Termitidae nos processos de decomposição não se equivale ao papel funcional desempenhado

por Macrotermitinae nas regiões de sua ocorrência.

Em uma floresta tropical úmida da Malásia, COLLINS (1988) estimou o consumo de

necromassa para a comunidade de cupins entre 1554 e 1732 kg ha-1 ano-1, correspondendo de 14,7

a 16,3 % da produção total deste material. Nestas florestas, também há espécies de

Macrotermitinae, com destaque para Macrotermes carbonarius pela sua intensa participação no

consumo de folhas da necromassa (MATSUMOTO & ABE, 1979).

Na região Neotropical, há pouca informação sobre a participação dos cupins no consumo de

necromassa. SALICK et al. (1983) estimaram indiretamente de 210 a 590 kg ha-1 ano-1 o consumo

da necromassa pela fauna de cupins em uma floresta, estabelecida sobre solos oligotróficos da

Venezuela, correspondendo a apenas de 3 a 5% do total de necromassa produzida. MARTIUS

(1994a) considerou estes valores relativamente baixos e atribuiu como possíveis fontes de erros

nesta estimativa, o tamanho reduzido da área amostral e o fator de conversão consumo/biomassa

utilizado.

Em floresta de várzea da Amazônia Central, o consumo de madeira por N. macrocephalus e

N. corniger foi estimado em 100 e 290 kg/ha/ano, correspondendo a 1,4 e 4,0%, respectivamente,

da produção anual de madeira (MARTIUS, 1994a). Quando somado ao consumo das outras três

espécies do gênero e das espécies de Kalotermitidae e Rhinotermitidae que ocorrem na área, o

autor estima que a remoção real de necromassa de madeira pode alcançar, pelo menos, 20 % da

produção anual.

Na MAB, existem pelo menos 25 espécies que utilizam a madeira como fonte de nutriente,

sendo que, destas, 16 alimentam-se praticamente só de madeira. No HDI, são 21 espécies, sendo 15

de hábito exclusivamente xilófago (ver capítulo I desta tese). Além disso, algumas espécies que se

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

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alimentam de madeira ainda possuem uma elevada abundância nestas áreas, como Heterotermes

longiceps, Nasutitermes gaigei, Amitermes amifer e Microcerotermes exiguus, sugerindo que, no

geral, a fauna de cupins da MAB e HDI provavelmente consome mais de 15% do total de madeira

produzida.

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

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Tabela 3.1. Abundância de Nasutitermes corniger, N. ephratae e N. macrocephalus em ninhos e troncos em duas áreas de Mata

Atlântica ao norte do Rio São Francisco.

Áreas População dos ninhos Abundância de

ninhos

Abundância em

troncos (m2)

Cupins por m2

(ninhos + troncos)

n Média Amplitude Nin./ha Amplitude

Horto Dois Irmãos

N. corniger 8 294030 43.000 – 682.500 12 8-31 109,35 462,15

N. ephratae 8 288410 48.670 – 702.550 6 4-11 143,15 316,15

N. macrocephalus 4 680101 175.440 – 803.600 0,6 0-3 0 40,8

Mata do Buraquinho

N. corniger 8 242785 42.200 – 951.100 15 10-26 223,28 587,45

N. ephratae 8 201244 59.300 – 610.800 4 2-8 71,05 151,55

N. macrocephalus 5 514760 200.510 – 1.100.510 0,3 0-2 84,66 100,10

Tabela 3.2 Consumo (mg g de cupim vivo-1

dia-1

) de madeira por Nasutitermes corniger, N. ephratae e N. macrocephalus em

duas áreas de Mata Atlântica ao norte do Rio São Francisco.

Nasutitermes corniger Nasutitermes ephratae Nasutitermes macrocephalus

N Média + DP Amplitude N Média + DP Amplitude n Média + DP Amplitude

Clitoria fairchildiana (dec.) 20 4,4 + 1,3 3,1 – 8,1 20 3,5 + 1,4 1,9 – 6,8 20 5,2 + 2,6 2,3 – 9,4

Clitoria fairchildiana (sã) 20 0,8 + 0,4 0,2 – 2,5 20 1,3 + 0,7 0,1 – 3,2 20 0,9 + 0,4 0,3 – 2,9

Cecropia sp. 20 2,2 + 0,6 0,9 – 4,3 20 0,9 + 0,3 0,1 – 2,5 20 1,9 + 1,1 2,4 – 5,8

Protium heptaphyllum 20 1,9 + 0,6 0,3 – 4,8 20 1,2 + 0,9 0,7 – 2,9 20 4,1 + 2,1 1,7 – 6,7

Consumo total médio 9,3 6,9 12,1

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Tabela 3.3. Participação de N. corniger, N. ephratae e N. macrocephalus no consumo de madeira

da necromassa vegetal em dois remanescentes de Mata Atlântica do Nordeste Brasileiro.

Ecossistemas/espécies Consumo

g/m2/ano

Consumo

kg/ha/ano

Participação (%) na

remoção anual da

madeira da necromassa

Média Média Média

Horto dois Irmãos

N. corniger 4,02 40,22 1,74

N. ephratae 2,01 20,14 0,87

N. macrocephalus 0,65 6,56 0,28

Mata do Buraquinho

N. corniger 5,11 51,12 2,22

N. ephratae 0,96 9,66 0,42

N. macrocephalus 1,6 16,07 0,70

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CAPÍTULO IV

Influência estacional sobre a abundância, biomassa e

distribuição de cupins em um remanescente de Mata

Atlântica do Nordeste Brasileiro

Resumo

A abundância e biomassa de cupins foram investigadas nas estações chuvosa e seca em Mata

Atlântica localizada na Reserva Biológica Guaribas, Nordeste do Brasil. Amostragens

quantitativas foram realizadas no folhiço, ninhos, troncos e solo. Trinta e duas espécies de cupins

foram encontradas, sendo os troncos o microhabitat com maior riqueza de espécies.

Nasutitermitinae foi a subfamília dominante em número de espécies, enquanto o grupo alimentar

dos consumidores de húmus foi o dominante em número de indivíduos e biomassa. A influência

estacional sobre a fauna de cupins só foi perceptível nos ninhos e nos troncos. No solo e no

folhiço as diferenças da abundância e biomassa não foram significativas entre as estações. Na

estação chuvosa os cupins do solo estavam mais concentrados entre 0-10 cm de profundidade do

que entre 20-30 cm, sugerindo que há migração vertical da fauna entre as estações. No folhiço,

houve uma tendência para um aumento da captura de cupins durante o período noturno da estação

seca. A diferença da população dos ninhos e troncos entre as estações aparentemente está

relacionada à produção de alados, atividade de forrageamento da colônia e produção de

necromassa vegetal.

Palavras-chave: Isoptera, Região Neotropical, Mata Atlântica, Microhabitat, Sazonalidade.

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Introdução

Os cupins estão entre os invertebrados de maior abundância nas regiões tropicais, sendo

importantes para a dinâmica dos processos de decomposição da necromassa vegetal e para os

fluxos de carbono e nitrogênio (ABE & MATSUMOTO, 1979; BIGNEL & EGGLETON, 2000;

BANDEIRA & VASCONCELLOS 2002). Seu comportamento construtor causa modificações na

estrutura dos solos, promovendo um aumento de porosidade e do transporte de partículas

minerais para a superfície e vice-versa (LEE & WOOD, 1971; WOOD & SANDS, 1978; DONOVAN et

al., 2001). As alterações na estrutura física dos ecossistemas causadas pela atividade dos cupins

podem influenciar a disponibilidade de recursos para outros organismos de categorias tróficas

diferentes. Por isso esses insetos são considerados como “engenheiros” de ecossistemas

(LAVELLE et al., 1997).

Apesar da importância funcional dos cupins nos ecossistemas, há poucos estudos que

relacionam os efeitos da mudança estacional sobre as comunidades desses insetos em florestas

tropicais. Nestes ecossistemas, a sazonalidade aparentemente pode afetar a abundância, biomassa,

atividade de forrageamento e distribuição espacial dos cupins (WOOD et al., 1982; LUIZÃO &

SCHUBART, 1987; BANDEIRA & HARADA, 1998; DIBOG et al., 1999; INOUE et al., 2001).

EGGLETON & BIGNELL (1995) sugerem que em florestas tropicais úmidas os valores da

abundância e biomassa são maiores na estação chuvosa do que na estação seca, mesmo havendo

poucos estudos publicados sobre o assunto. Pelo menos para a fauna de cupins do solo, os dados

sobre a abundância e biomassa mostram tendências opostas, sugerindo uma maior abundância na

estação seca (BANDEIRA & HARADA, 1998; DIBOG et al., 1999) ou na estação chuvosa (SILVA &

BANDEIRA, 1999; SILVA, 2000; INOUE et al., 2001). Segundo BIGNELL & EGGLETON (2000),

geralmente os cupins são menos abundantes na camada superficial do solo quando o substrato

está muito seco ou muito úmido, neste último caso, possivelmente depois de chuva intensa.

DIBOG et al. (1999) evideciaram que a abundância e a riqueza de espécies de cupins podem ser

fortemente influenciadas pelo padrão sazonal da pluviosidade, e que este fato deve ser levado em

consideração na elaboração do arranjo amostral das comunidades de cupins em florestas

tropicais.

Na Floresta Amazônica, durante a estação chuvosa, os cupins do gênero Syntermes

aumentam sua atividade e passam a desempenhar um papel importante na dinâmica da matéria

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orgânica, removendo até 40 % do folhiço da superfície do solo para os horizontes inferiores

(LUIZÃO & SCHUBART, 1987). Ainda na Amazônia, BANDEIRA & HARADA (1998) verificaram que

os cupins e minhocas concentram-se mais na camada orgânica superficial na estação chuvosa e

tendem a descer para a camada mineral do solo na estação seca.

O objetivo deste capítulo foi avaliar a influência das estações seca e chuvosa sobre a

abundância, biomassa e distribuição de cupins que vivem no solo, ninhos, troncos e folhiço em

um remanescente de Mata Atlântica do Nordeste Brasileiro.

Material e métodos

O estudo foi desenvolvido na Reserva Biológica Guaribas (RBG), Paraíba, Brasil, nos

meses de junho/julho (estação chuvosa) e novembro/dezembro (estação seca) do ano de 2002

(detalhes sobre a área de estudo ver no Capítulo I). Na média dos últimos 20 anos, a precipitação

para a área ficou em 1470 + 574 mm, com 500 mm para junho e julho e 50 mm para novembro e

dezembro (SILVA et al., 1987). No ano em que este estudo foi desenvolvido, a precipitação anual

foi de 1600 mm, com 438,9 mm para junho e julho e 40,4 mm para novembro e dezembro.

Em ambas as estações, as coletas nunca foram realizadas sob chuva intensa, tendo em

vista seu possível efeito sobre a abundância e distribuição dos cupins. Geralmente foi aguardado

um período mínimo de 24 horas sem chuva intensa para que as coletas fossem retomadas.

Durante este período, os cupins foram extraídos e contados no laboratório da própria Reserva.

Em cada estação os cupins foram coletados no folhiço, nos ninhos, no solo e nos troncos

utilizando-se os seguintes métodos:

Folhiço: Cinqüenta parcelas de 50 X 50 cm foram demarcadas e todo o folhiço presente,

inclusive os pequenos fragmentos de folhas já bem misturados com raízes, foram recolhidos do

seu interior para posterior triagem dos cupins em laboratório. Destas 50 parcelas, 25 foram

coletadas de 08 às 12:00h e 25 das 20 às 24:00h. Após a coleta manual dos cupins, estes foram

contados e pesados em balança analítica. Alguns cupins foram pesados ainda vivos, outros

tiveram que ser mortos imersos em álcool 75% e só depois pesados, sendo, neste caso, retirado o

excesso do álcool dos indivíduos antes das pesagens.

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2) Solo: Quinze monolitos com 20 X 20 X 30 cm (12,5 dm3) foram feitos em cada área por

estação. Cada monolito foi dividido em três camadas de 20 X 20 X 10 cm, de onde os cupins

foram retirados para contagem e pesagem.

3) Ninhos: Inicialmente uma área de 100 X 100 m foi demarcada e todos os ninhos do seu

interior foram mapeados e numerados. Por estação, três ninhos de cada espécie foram sorteados

para terem suas populações estimadas. Uma amostra de 1,5 kg do ninho de cada espécie,

consistindo de um ou vários fragmentos, foi retirada de cada ninho sorteado. Para algumas

espécies, como Anoplotermes banksi e Microceortermes exiguus, praticamente todo o ninho foi

quantificado. As amostras foram levadas para o laboratório onde todos os cupins foram extraídos

por flutuação (BANDEIRA & VASCONCELLOS, 2002). Os ovos e as ninfas das castas estéreis nos

primeiros ínstares de desenvolvimento não foram coletados devido ao seu tamanho reduzido. A

sub-população do ninho encontrada na amostra de 1,5 kg foi extrapolada para o peso total do

ninho com intuito de estimar a densidade de indivíduos.

4) Troncos: Um transecto de 170 m com 10 parcelas de 2,5 X 2,5 m (6,25 m2), espaçada uma da

outra por 10 m, foi demarcado em cada estação. A distância entre os transectos de cada estação

foi de aproximadamente 100 m. Nas parcelas toda a madeira, com mais de 1 cm de diâmetro,

caída sobre o solo, foi coletada e os cupins do seu interior foram extraídos em laboratório.

Análises

Os valores de abundância e biomassa por microhabitats foram analisados com testes

paramétricos após a transformação dos dados em log (x+1) (EGGLETON et al., 1996; KREBs,

1998). Para comparar a abundância de cupins em cada microhabitat entre as estações, foi

utilizado o teste-t. A preferência dos cupins pelas camadas de solo foi avaliada através da

ANOVA-one way, sendo utilizado a posteriori o teste de Tukey.

Resultados

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Trinta e duas espécies de cupins tiveram a abundância de suas populações estimadas para

a Mata Atlântica da Reserva Biológica Guaribas, sendo 28 encontradas na estação chuvosa e 27

na estação seca. A subfamília Nasutitermitinae foi a dominante em número de espécies,

abundância e biomassa, com destaque para Embiratermes parvirostris, Nasutitermes corniger e

N. ephratae. A maioria das espécies pertencia ao grupo dos consumidores de madeira, mas os

consumidores de húmus foram dominantes em abundância e biomassa (Tabela 4.1).

No total, oito espécies de cupins foram encontradas no folhiço nas duas estações, sendo

seis na estação chuvosa e sete na estação seca. Velocitermes sp. e Ruptitermes sp. foram as

espécies dominantes neste microhabitat. Entre as espécies encontradas no folhiço, apenas

Velocitermes sp., Ruptitermes sp., Diversitermes sp. e Nasutitermes cf. minor consomem folhas

tanto recém caídas como em decomposição, o restante utilizam o perfil do folhiço apenas para

construir túneis de conexão com suas fontes de alimento.

A abundância e biomassa de cupins por parcela de folhiço foram maiores na estação seca,

mas a diferença não foi estatisticamente significativa (tabundância=-0,5 g.l.=98, P=0,61; tbiomassa=-

0,36 g.l.=98, P=0,71) (Figura 4.1). Na estação chuvosa, houve um maior número de indivíduos

capturados no período diurno, porém a diferença não foi significativa (tabundância=-0,13, g.l.=48,

P=0,80; tbiomassa=0,88, g.l.=48, P=0,38). Por outro lado, na estação seca, houve um maior número

de indivíduos capturados no período noturno, mas desta vez, apenas para a abundância, os valores

ficaram próximos ao limite de significância estatística (tabundância=-1,98, g.l.=48, P=0,052;

tbiomassa=-1,09, g.l.=48, P=0,27). No período noturno foi encontrado um maior número de espécies

(7 spp.) em relação ao diurno (5 spp.).

Nove espécies de cupins constroem ninhos conspícuos na RBG: Armitermes holmgreni,

Anoplotermes banksi, Labiotermes labralis, Microcerotermes exiguus, M. strunckii, Nasutitermes

corniger, N. ephratae, N. macrocephalus e Nasutitermes sp. A abundância e biomassa de cupins

nos ninhos foram maiores na estação seca (tabundância=-2,29, g.l.=34, P<0,05); tbiomassa=-2,32,

g.l.=34, P<0,05), devido a presença das ninfas de alados (Figura 4.2). A quantidade de ninhos de

N. corniger (20 ninhos/ha), N. ephratae (8 ninhos/ha) e M. exiguus (28 ninhos/ha) foi a

responsável pela quantidade elevada dos indivíduos destas espécies em ambas as estações.

Nos troncos, em ambas as estações, foram encontradas 19 espécies de cupins,

representando o microhabitat com maior riqueza de espécies. A média da abundância de cupins

foi maior na estação chuvosa do que na estação seca (tabundância=2,09, g.l.=28, P<0,05), mas em

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termos de biomassa, não houve diferença entre as estações (tbiomassa=1,28, g.l.=28, P=0,20)

(Figura 4.3).

As médias gerais da abundância e biomassa dos cupins no solo foram maiores na estação

chuvosa, mas as diferenças não foram significativas (tabundância=0,25, g.l.=28, P=0,80;

tbiomassa=0,90, g.l.=28, P=0,37). Também não houve diferença entre as médias da abundância e

biomassa por camada na estação seca (Fabundância=1,01, g.l.=2,42, P= 0,37; Fbiomassa=0,44; g.l.=

2,42, P=0,64). No entanto, na estação chuvosa as médias por camada não foram iguais

(Fabundância=3,25, g.l.=2,42, P< 0,05; Fbiomassa=6,01; g.l.= 2,42, P<0,01), possuindo a camada 0-10

cm uma maior abundância (Tukey, P<0,05) e biomassa (Tukey, P<0,01) do que a camada de 20-

30 cm (Figura 4.4).

Discussão

A abundância dos cupins na RBG foi uma das menores registradas para uma floresta do

Complexo Mata Atlântica do Nordeste Brasileiro (SILVA, 2000; BANDEIRA & VASCONCELLOS,

2002; Capítulo II desta tese). Os efeitos estacionais sobre a comunidade de cupins foram

evidentes apenas em relação à abundância e à biomassa dos indivíduos dos ninhos e troncos. A

influência sobre a população dos ninhos pode estar relacionada com o êxodo dos indivíduos para

o forrageamento e com a produção e revoada de alados. A maior abundância e biomassa nos

ninhos durante a estação seca foi uma conseqüência da presença de ninfas de alados. O total de

alados de um ninho pode variar de 1 a 43 % do total da população (NUTTING, 1969; OHIAGU,

1979). Em Mata Atlântica, a revoada dos alados, capturados com armadilhas luminosas, inicia-se

em novembro e finaliza em julho, com alta incidência de vôos no início da estação chuvosa

(MEDEIROS et al., 1999). Para Termitidae, a maior freqüência de revoadas ocorre entre março e

maio. Nos meses de setembro e outubro, vários cupins de Mata Atlântica já possuem em seus

ninhos ninfas de alados, como N. corniger, L. labralis e N. ephratae (obs. pessoal).

Especificamente para N. corniger, as ninfas já estão em abundância em outubro e a revoada de

seus alados ocorre principalmente no mês de março, com o aumento da freqüência das chuvas

(VASCONCELLOS, 1999). Desta forma, no final da estação chuvosa (junho/julho) a grande maioria

dos alados já deixou os ninhos, diminuindo a abundância e biomassa total. Tendo em vista o

período de coleta deste estudo, isto explica por que a abundância dos cupins foi maior na estação

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

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seca, que já estava no seu final. Neste caso, coletas em ninhos que forem conduzidas no início

das estações provavelmente mostrarão resultados diferentes, com maior abundância de cupins na

estação chuvosa do que na seca. Além disso, na estação chuvosa foi registrado um maior número

de cupins nos troncos, sugerindo que também há uma migração de parte da população dos ninhos,

principalmente dos cupins consumidores de madeira, para este microhabitat.

A maior abundância dos cupins nos troncos na estação chuvosa pode estar relacionada

também com as condições da madeira e a maior disponibilidade deste recurso. A presença de

umidade na necromasa proporciona condições mais favoráveis a uma intensa atividade dos

microrganismos decompositores, principalmente fungos e bactérias (WALLWORK, 1970). Pelo

menos para as espécies de Nasutitermes, a presença de fungos na madeira parece agir como um

fator de influência no consumo e na preferência alimentar, sendo inclusive um possível fator de

separação de nicho entre as espécies deste gênero (BUSTAMANTE & MARTIUS, 2000).

A presença de fungos na madeira também pode representar uma fonte adicional de

nitrogênio (SPEAKS & UECKERT, 1979) e vitaminas (SANDS, 1969) para a dieta dos cupins, além

de aparentemente facilitar a mastigação e a degradação dos compostos celulósicos (BECKER,

1969). É provável que também ocorra uma relação entre a produção de necromassa de madeira e

a atividade dos cupins xilófagos, uma vez que a maior produção de ramos e galhos em Mata

Atlântica ocorre na estação chuvosa, entre os meses de junho e julho (SAMPAIO et al., 1988). Com

o aumento da disponibilidade de recursos, pode ocorrer um maior recrutamento das castas

estéreis dos ninhos. Em savanas do Quênia, a maior parte da madeira consumida foi atribuída aos

cupins durante a estação chuvosa, ocorrendo uma intensa atividade de forrageamento,

declinando, em seguida, ao longo da estação seca (BUXTON, 1981).

A fauna de cupins no solo não foi estatisticamente diferente entre as estações, mesmo

havendo um pequeno aumento da abundância e biomassa de indivíduos durante a estação

chuvosa. Em outros estudos quantitativos, os resultados mostraram uma tendência para maior

abundância de cupins na estação seca (BANDEIRA & HARADA, 1998; DIBOG et al., 1999). A

divergência entre os resultados mostra aparentemente que a sazonalidade exerce pouca influência

sobre a abundância destes insetos em solos de florestas tropicais. Entre os microhabitats, exceto

os ninhos, o solo talvez seja o que propicie maior conservação das condições abióticas entre as

estações, principalmente naqueles ecossistemas que possuem uma curta estação seca. Por outro

lado, os troncos, especialmente os de porte pequeno e médio, e o folhiço estão mais expostos e

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também mais sujeitos às variações das condições climáticas entre as estações. SILVA & BANDEIRA

(1999) evidenciaram, ao longo de um ano, uma variação da abundância de cupins até 30 cm de

profundidade. Neste mesmo período o pH, a temperatura e a matéria orgânica permaneceram

praticamente inalterados, ocorrendo apenas uma pequena variação na umidade do solo. Por isso,

não houve relação entre a abundância e os fatores analisados. SILVA (2000) também não

encontrou relação entre os fatores abióticos do solo e a abundância dos cupins em um Brejo de

Altitude do Nordeste Brasileiro. No entanto, a distribuição vertical dos cupins foi influenciada

pelos efeitos da estação, havendo uma maior concentração de indivíduos entre 0-10 cm de

profundidade na estação chuvosa. Uma tendência para migração vertical da fauna de cupins para

camadas superficiais do solo durante a estação chuvosa foi observada por BANDEIRA & HARADA

(1998) E SILVA & BANDEIRA (1999). É válido salientar que coletas no solo realizadas durante ou

imediatamente após chuvas intensas podem mostrar uma tendência exatamente contrária, ou seja,

uma maior abundância nas camadas mais profundas do solo. Isto ocorre porque o enxarcamento

do solo representa um fator de mortalidade para a fauna de cupins, que então desce em busca de

abrigo.

A abundância dos cupins do folhiço não foi estatisticamente diferente entre as estações,

mas, como nos ninhos, ocorreu um maior número de indivíduos na estação seca. No geral, este

resultado difere do que se conhece para floresta úmida em relação a abundância de artrópodes do

folhiço. Geralmente há um considerável aumento do número de animais durante a estação

chuvosa (WILLIS, 1976). Diferente desta tendência geral, JANZEN (1973) encontrou em uma

floresta tropical com crescimento secundário um maior número de indivíduos no folhiço durante

a estação seca. Especificamente para a fauna de cupins do folhiço, as informações são escassas.

Na Amazônia, as espécies do gênero Syntermes são ávidas consumidoras do folhiço e sua

atividade de forrageamento aparentemente é mais intensa durante o período noturno da estação

chuvosa (LUIZÃO & SCHUBART, 1986). A maior abundância dos cupins do folhiço no período

noturno da estação seca pode representar uma estratégia das populações para amenizar os efeitos

dos elementos climáticos. JANZEN (1973) também encontrou resultados semelhantes para a fauna

de insetos, em geral, mas salientou que isso foi mais evidente em áreas cuja estação seca possuía

de quatro a seis meses de duração.

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0,02

0,04

0,06

0,08

0,10

0,12

0,14

Noite Dia Total

Figura 4.1. Abundância e biomassa dos cupins de folhiço em amostragens realizadas

durante o período diurno e noturno na Reserva Biológica Guaribas, Paraíba Brasil. As

colunas escuras representam a estação chuvosa. As barras representam o erro padrão da

média.

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80

Est. chuvosa Est. seca

Figura 4.2. Abundância e biomassa dos cupins ninhos na estação seca e chuvosa na Reserva

Biológica Guaribas, Paraíba Brasil. As barras representam o erro padrão da média.

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4,0

Est. chuvosa Est. seca

Figura 4.3. Abundância e biomassa dos cupins em troncos na estação seca e chuvosa na

Reserva Biológica Guaribas, Paraíba Brasil. As barras representam o erro padrão da média.

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Figura 4.4. Abundância e biomassa dos cupins de solo na estação seca e chuvosa na

Reserva Biológica Guaribas, Paraíba Brasil. As colunas mais escuras representam a estação

chuvosa. As barras representam o erro padrão da média.

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

104

Tabela 4.1. Abundância (cupins/m2) por microhabitat nas estações chuvosa e seca na Reserva Biológica Guaribas, Paraíba, Brasil. Os valores de

biomassa (g- cupim vivo) entre parênteses. Nidificação: Ma, ninho em madeira; Fo, ninho no perfil do folhiço; Su, subterrâneo; Mo, montículo; Ar,

arborícola; In, espécie inquilina de ninhos ativos e abandonados de cupins. Grupos alimentares: Cma, consumidor de madeira; Chu, consumidor de

húmus; Cfo, consumidor de folhas; Cin (M/H), consumidor intermediário entre madeira e húmus; Cin (M/F), consumidor intermediário entre

madeira e folha.

ESPÉCIES ESTAÇÃO CHUVOSA ESTAÇÃO SECA Nidificação/

Alimentação

Folhiço Ninho Solo Troncos Folhiço Ninho Solo Troncos

Kalotermitidae

Rugitermes sp. 0,7 (0*) 0,2 (0*) Ma/Cma

Rhinotermitidae

Coptotermes testaceus 2,1 (0*) Su/Cma

Heterotermes longiceps 20,1 (0,03) 20,6 (0,03) 16,8 (0,03) 12,6 (0,02) Su/Cma

Subtotal 20,1 (0,03 22,7 (0,03) 16,8 (0,03) 12,8 (0,02)

Termitidae: Apicotermitinae

Aparatermes sp. a 381,1 (0,96) 388,3 (0,97) Su?/Chu

Aparatermes sp. b 16,6 (0,04) 291,6 (0,57) Su/Chu

Anoplotermes banksi 32,1 (0,03) 25,3 (0,03) 18,4 (0,02) 52,3 (0,05) 2,8 (0*) Ar/Chu

Anoplotermes sp. a 25,1 (0,05) Su/Chu

Anoplotermes sp. c 468,1 (0,46) Su/Chu

Grigiotermes sp. 293,3 (0,77) 0,6 (0*) 41,6 (0,09) Su/Chu

Ruptitermes sp. 29,5 (0,06) Fo/Cfo

Subtotal 29,5 (0,06) 32,1 (0,03) 1184,4 (2,26) 18,4 (0,02) 0,6 (0*) 52,3 (0,05) 746,6 (1,68) 2,8 (0*)

Termitidae: Nasutitermitinae

Armitermes holmgreni 31,3 (0,08) 66,6 (0,16) 8,3 (0,02) 17,1 (0,04) 8,3 (0,02) 13,2 (0,03) Ar/Cin (M/H)

Diversitermes sp. 19,5 (0,04) 1,3 (0*) 5,7 (0*) Fo/Cin (M/F)

Embiratermes parvirostris 655,1 (1,23) 283,3 (0,48) Su/Chu

Ibitermes inflatus 178,3 (0,45) 58,3 (0,11) Su/Chu

Labiotermes labralis 12,2 (0,06) 7,8 (0,03) 43,3 (0,21) Su/Chu

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

105

Nasutitermes corniger

3,28 (0*)

432,4 (1,05)

10,3 (0,02)

0,9(0*)

635,1 (1,54)

26,2 (0,06)

Ar/Cma

Nasutitermes ephratae 6,96 (0,01) 198,1 (0,48) 5,4 (0,01) 286,3 (0,69) 8,3 (0,02) Ar/Cma

Nasutitermes gagei 3,3 (0*) 7,2 (0,01) Ma?/Cma

Nasutitermes jaraguae 4,4 (0,01) ??/Cma

Nasutitermes macrocephalus 68,3 (0,24) 11,7 (0,04) 42,1 (0,15) Ar/Cma

Nasutitermes cf. minor 10,6 (0,01) 83,3 (0,15) Fo?/Cma

Nasutitermes sp. a 18,2 (0,04) 29,3 (0,07) 53,2 (0,13) Ar/Cma

Subulitermes microsoma 21,6 (0,01) 1,1 (0*) 3,7 (0*) Ma?/Cin (M/H)

Velocitermes sp. 68,8 (0,1) 5,5 (0,01) 69,6 (0,01) Fo?/Cin (M/F)

Subtotal 54,62 (0,10) 760,5 (1,95) 921,6 (1,85) 51,3 (0,11) 116,1 (0,09) 1041,6 (2,58) 476,5 (0,97) 58,6 (0,12)

Termitidae: Termitinae

Amitermes amifer 58,3 (0,09) 16,9 (0,03) 25,1 (0,04) 23,7 (0,04) Ma?/Cin (M/H)

Cylindrotermes sp. 9,6 (0,02) 7,3 (0,01) Ma?/Cin (M/H)

Dentispicotermes cf. conjunctus 170,2 (0,49) 135,1 (0,35) Su/Chu

Microcerotermes exiguus 0,7 (0*) 170,1 (0,33) 35,8 (0,07) 2,4 (0*) 95,5 (0,18) 5,88 (0,01) Ar/Cma

Microcerotermes stunckii 3,1 (0*) 1,8 (0*) 9,1 (0,01) Ar/Cma

Neocapriterms talpoides 166,6 (0,53) 516 (0,14) Su/Chu

Termes medioculatus 0,75 (0*) In/Cin (M/H)

Termes ayri 0,14 (0*) In/Cin (M/H)

Subtotal 0,7 (0*) 173,1 (0,33) 395,1 (1,11) 64,1 (0,12) 2,4 (0*) 104,6 (0,19) 676,2 (0,53) 37,7 (0.06)

Abundância por microhabitat 84,8 (0,15) 965,8 (2,32) 2521,1 (5,25) 154,2 (0,28) 119,6 (0,10) 1198,5 (2,82) 1916,3 (3,21) 111,9 (0,20)

Espécies por microhabitat 9 9 13 17 7 9 13 13

Abundância por estação 3813,2 (8,14) 3270,6 (6,29)

Espécies por estação 29 27

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

106

CAPÍTULO V

Abundância e distribuição espacial de ninhos

conspícuos de cupins em duas áreas de Mata

Atlântica com diferentes estádios de sucessão da

vegetação

Resumo

A comunidade dos cupins construtores de ninhos conspícuos foi estuda em duas áreas de Mata

Atlântica com diferentes estádios de sucessão da vegetação. As áreas sofreram corte seletivo de

sua vegetação e possuem 30 e 17 anos de regeneração, respectivamente. A abundância e a

distribuição espacial dos ninhos conspícuos da comunidade foi avaliada em uma parcela de 100

X 100 demarcada em cada área. No geral, oito espécies de cupins constroem ninhos conspícuos

nas áreas, mas destacam-se pela abundância de suas construções, Microcerotermes exiguus e

Nasutitermes corniger. A abundância, a composição e os grupos alimentares das espécies

construtoras de ninhos variaram entre as áreas. Na mata 17 houve uma menor riqueza de espécies

de cupins construtores de ninhos e uma razão de 1:12 entre os ninhos das espécies consumidoras

de húmus e as consumidoras de madeira, enquanto na mata 30 a riqueza de espécie foi maior e a

razão entre estes grupos alimentares foi de apenas 1:3, sugerindo que o estudo da comunidade de

cupins que constroem ninhos conspícuos pode ser uma ferramenta adicional na avaliação da

qualidade do habitat. A distribuição espacial dos ninhos por espécie e grupos alimentares foi na

maioria dos casos aleatória, sugerindo que a competição não representa um fator importante na

determinação do padrão de distribuição espacial dos ninhos. No entanto, os ninhos de N.corniger

e M. exiguus estavam agregados na mata 30 e na mata 17, respectivamente. A heterogeneidade do

habitat e a presença de policalismos podem ser as causas dessas agregações.

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

107

Palavras chave: Isoptera, Região Neotropical, Ninho, Distúrbio, Grupo Alimentar.

Introdução

A construção de ninhos para abrigar a colônia representa uma das características dos

insetos sociais. Nos trópicos, os ninhos conspícuos dos cupins apresentam-se como elementos

marcantes da composição estrutural dos ecossistemas (NOIROT, 1970; WOOD & LEE, 1971; HOLT

& EASEY, 1985; SPAIN et al., 1986; POMEROY, 1989; MARTIUS, 1994b). Nas florestas

neotropicais, várias espécies de cupins são construtoras de ninhos conspícuos, mas destacam-se

pela abundância, as espécies da subfamília Nasutitermitinae, principalmente as do gênero

Nasutitermes (MARTIUS, 1994b)

A abundância, a sobrevivência e o padrão de distribuição espacial dos ninhos de cupins

são regulados por vários fatores bióticos e abióticos, como a disponibilidade de alimento e sítios

de nidificação, interações competitivas intra e interespecíficas, predação por formigas,

mecanismos reprodutivos, altitude, razão entre argila e areia e umidade do solo, heterogeneidade

de habitats e distúrbios estocásticos (LEE & WOOD, 1971; LEVINGS & ADAMS, 1981; ABE &

DARLINGTON, 1985; DOMINGOS, 1985; HOLT & EASEY, 1985; SPAIN et al., 1986; POMEROY, 1989;

BRANDÃO, 1991; LEPONCE et al., 1995; LEPONCE et al., 1997; SCHUURMAN & DANGERFIELD,

1997; KORB & LINSENMAIR, 2001).

A distribuição horizontal dos indivíduos de uma população ou das espécies de uma

comunidade pode ser dividida em três tipos básicos: aleatória, regular e agregada. Em cupins, a

resposta para a hipótese da distribuição aleatória dos ninhos geralmente é negativa, havendo uma

tendência para a distribuição agregada ou principalmente regular. A distribuição agregada é, na

maioria dos casos, interpretada como o resultado da presença de um ou vários fatores, como

policalismo (HOLT & EASEY, 1985), habilidade limitada de dispersão dos alados (KORB &

LINSENMAIR, 2001) e condições pontuais mais apropriadas para nidificação (SPAIN et al., 1986;

BRANDÃO, 1991). Por outro lado, a distribuição regular dos ninhos está geralmente relacionada

com a competição intra e interespecífica por recursos (WOOD & LEE, 1971; ABE & DARLINGTON,

1985; KORB & LINSENMAIR, 2001). Neste caso, o tamanho do território de forrageamento pode

ser delimitado a partir do comportamento agonístico entre indivíduos de colônias distintas

(LEVINGS & ADAMS, 1984; DARLINGTON, 1982; JONES, 1990; JONES & TROSSET, 1991). Indícios

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

108

da ocorrência de interações competitivas entre cupins podem ser constatadas observando-se a

relação entre o tamanho do ninho e a distância para o seu vizinho mais próximo (WOOD & LEE,

1971; LAPAGE, 1984; POMEROY, 1989), que pode sugerir a presença de uma zona de exclusão de

colônias incipientes ao redor dos ninhos (DARLINGTON, 1982).

Neste Capítulo a abundância e distribuição espacial dos ninhos de cupins foram avaliadas

por espécie e por grupo alimentar em duas áreas de Mata Atlântica com diferentes períodos de

regeneração da vegetação, objetivando avaliar se a estrutura da comunidade de cupins

construtores de ninhos conspícuos modifica-se com a mudança no estágio de sucessão da

vegetação.

Material e métodos

O estudo foi desenvolvido em duas áreas de Mata Atlântica na Reserva Biológica

Guaribas, na parte do município de Mamanguape, Paraíba. Ambas as áreas sofreram corte

seletivo, mas a primeira, denominada aqui de mata 30, está em regeneração há mais de 30 anos e

a segunda, chamada aqui de mata 17, também passou pelo corte seletivo, mas sua vegetação só

está há 17 anos em regeneração. Detalhes sobre o tipo de vegetação, tipo de solo e outras

informações sobre a Mata da Reserva Biológica Guaribas, ver Capítulo I, desta tese.

Mapeamento das áreas

Em cada área foi demarcada uma parcela de 100 X 100 m (1 ha). Nesta parcela foi feito

uma grade com sub-parcelas de 10 X 10 m. Todos os ninhos conspícuos no interior dessa área

foram etiquetados e adequadamente mapeados em papel milimetrado.

Volume dos ninhos

Os volumes de todos os ninhos mapeados foram calculados como uma medida indireta do

tamanho da colônia. Uma boa correlação entre o volume do ninho e o tamanho da colônia para

Nasutitermes corniger e N. ephratae foi encontrada por THORNE (1985). Para os cupins

construtores de montículos, a relação entre esses dois fatores é geralmente tratada como um

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

109

índice indireto do tamanho da colônia e como forma de avaliar o estado de sobrevivência da

colônia (DARLINGTON, 1982; KORB & LINSENMAIR, 2001).

De acordo com o formato do ninho de cada espécie foram utilizadas as fórmulas de

volume do cilindro, elipse ou do hemielipsóide. Para obtenção de maior precisão nas estimativas

dos volumes dos ninhos, o volume dos troncos onde os mesmos estavam presos foi calculado e

subtraído do total encontrado para o ninho. Os ninhos de uma mesma espécie construídos sobre

uma mesma árvore e que estavam conectados por galerias foram tratados como fazendo parte de

uma mesma colônia, sendo, então, seus volumes somados.

Abundância e distribuição espacial dos ninhos

O padrão de distribuição espacial dos ninhos foi determinado a partir do método do

“vizinho mais próximo”, índice de agregação (R) de CLARK & EVANS (1954), incluindo uma

zona marginal ao redor da área demarcada, de acordo com a sugestão de DONNELY (1978). O

índice “R” representa a razão entre a distância média observada para o ninho vizinho mais

próximo (RA) e a distância média esperada (RE). O valor de R=0 indica uma distribuição

agregada; R= 1 corresponde a distribuição aleatória; e R=2,15 indica uma distribuição

considerada uniforme perfeita. Para testar a hipótese nula da distribuição aleatória dos ninhos, foi

aplicado o teste z (KREBS, 1998). O índice “R” é o método mais utilizado para avaliar a

distribuição horizontal dos ninhos de cupins. No entanto, boa parte dos estudos sobre este assunto

negligenciou o efeito marginal, não adotando a correção sugerida por DONELLY (1978),

induzindo a interpretações inadequadas dos padrões de distribuição dos ninhos (SHURMAN &

DANGERFIELD, 1997).

O índice R foi calculado em cada área para toda as espécies construtoras de ninhos

conspícuos e para os grupos alimentares dos consumidores de madeira, consumidores de húmus e

para os consumidores intermediários entre madeira e húmus. A parcela de 100 X 100 m

demarcada em cada área foi dividida em dez parcelas de 100 X 10 m para estimar a variação da

abundância de ninhos em cada área e para comparar as médias das abundâncias entre as áreas por

espécie e por grupo alimentar utilizando o teste-t. Para comparar as médias dos grupos

alimentares dentro de cada área foi empregado a ANOVA (one-way), utilizando o teste de Tukey

a posteriori com o nível de significância de 5%.

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

110

Resultados

No geral, os ninhos conspícuos foram construídos por nove espécies de cupins,

destacando-se Microcerotermes exiguus e Nasutitermes corniger como as principais espécies

construtoras (Tabela 5.1). Todas as espécies da mata 17 estavam presentes na mata 30, mas

algumas espécies foram exclusivas desta última área, como M. strunckii e N. macrocephalus.

Na mata 17 houve uma densidade de 108 ninhos/ha, com uma ampla dominância (81,5%)

de ninhos das espécies consumidoras de madeira, principalmente M. exiguus (48,1%) e N.

corniger (21,3%), seguidos dos consumidores intermediários (12%) e dos consumidores de

húmus (6,5%). Na mata 30, a densidade foi um pouco menor, com 96 ninhos/ha, sendo a

dominância dos consumidores de madeira (65,6%), seguidos pelos consumidores de húmus

(19,8%) e consumidores intermediários (14,6%).

A abundância média de ninhos conspícuos por subparcelas de 100 X 10m (1.000 m2) na

mata 17 (média+desvio padrão, 10,5+3,5 ninhos; n=108) não foi estatisticamente diferente em

relação a mata 30 (9,4+3,2; n=96) (teste t=-0,71; gl.=18; p=0,48). No entanto, houve uma

distribuição mais eqüitativa dos ninhos por espécie na mata 30 do que na mata 17. Como um

parâmetro adicional para avaliar conjuntamente a riqueza e a proporção de ninhos construídas

pelas espécies, o índice de Shannon-Winer foi calculado para mata 17 (H’=1,48) e para mata 30

(H’=1,9), mostrando uma maior diversidade para a última área.

A abundância de ninhos conspícuos das espécies consumidoras de madeira foi

significativamente maior na mata 17 do que na mata 30 (teste t=2,78; gl.=18; P<0,01). Em

relação à abundância de ninhos dos consumidores de húmus, esta foi significativamente maior na

mata 30 (teste t=-2,48; gl.=18; P<0,01). A abundância dos ninhos dos cupins intermediários não

foi diferente entre as áreas (teste t=-0,93; gl.=18; P=0,36).

Houve maior abundância de ninhos inativos na mata 17 do que na mata 30 (Tabela 5.1).

Avaliando esta abundância por sub-parcelas, a média da mata 17 (1,5+1,1) foi significativamente

maior em relação a mata 30 (0,6+0,7) (teste t=2,21; gl.= 18; P<0,05).

Em ambas as áreas, as espécies consumidoras de madeira foram as mais abundantes,

sendo seguidas pelas consumidoras de húmus na mata 30 e intermediárias na mata 17. Avaliando

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

111

por subparcelas dentro de cada área, a média da abundância de ninhos por grupo alimentar variou

significativamente (mata 17, F=51, 44; gl.=2,27;P<0,01) (mata 30, F=42,63; gl.=2,27;P<0,01).

Na mata 17, a média de ninhos dos consumidores de madeira (9+3,4 ninhos; n=90) foi

significativamente maior que as observadas para os consumidores de húmus (0,7+0,82 ninhos,

n=7) (Tukey, P<0,01) e os intermediários (11+0,56 ninhos, n=15) (Tukey, P<0,01), mas entre os

consumidores de húmus e os intermediários as médias não foram estatisticamente diferentes

(Tukey, P=0,90). Por subparcelas da mata 30, também foi observado o mesmo padrão, a média

dos consumidores de madeira (5,2+2,6 ninhos, n=52) foi significativamente maior que a média

dos consumidores de húmus (1,9+1,28 ninhos, n=19) (Tukey, P<0,01) e dos intermediários

(1,4+0,84 ninhos; n=14) (Tukey, P<0,01) e também não houve diferença significativa entre os

consumidores de húmus e os intermediários (Tukey, P=0,80).

A comparação dos volumes dos ninhos por espécies entre as áreas está na Tabela 5.2.

Todos os ninhos foram mais volumosos na mata 30 do que na mata 17, mas apenas as médias dos

volumes dos ninhos de M. exiguus e N. ephratae foram significativamente maiores para mata 30.

A distribuição espacial dos ninhos para a maioria das espécies foi aleatória (Tabela 5.1)

(Figuras 5.1, 5.2). No entanto, os ninhos de N. ephratae apresentaram uma distribuição regular na

mata 17 e mata 30, enquanto os ninhos de N. corniger estavam distribuídos de forma agregada na

mata 30. Nesta mesma área, M. exiguus mostrou apenas uma tendência à agregação. Em ambas as

áreas, a distribuição dos ninhos por grupo alimentar foi geralmente aleatória, apenas os

consumidores de madeira apresentaram uma distribuição regular dos ninhos na mata 17 (Figuras

5.3 e 5.4).

Discussão

No geral, a estrutura da comunidade dos cupins construtores de ninhos conspícuos

mostrou-se diferente de acordo com o estádios de sucessão da vegetação de Mata Atlântica,

especialmente no que se refere a riqueza de espécies e proporção entre os grupos alimentares. Em

outras florestas tropicais úmidas, com diferentes estágios de sucessão da vegetação e níveis de

distúrbio antrópico, a riqueza total de espécies de cupins também foi marcantemente afetada,

mostrando uma relação positiva com o estádio de sucessão da vegetação e negativa com o

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

112

distúrbio antrópico (WOOD, 1975; EGGLETON et al., 1995; BANDEIRA et al., 2003). JONES et al.

(2003) evidenciaram que a abundância e a riqueza de cupins mostrou-se fortemente relacionada à

área basal das árvores, sugerindo que a simplificação da estrutura do habitat, causada pelo corte

seletivo das árvores, por exemplo, pode reduzir a cobertura vegetal causando alterações

microclimáticas e perda de sítios alimentares e de nidificação.

A maior riqueza de espécies e a diminuição da proporção entre os grupos alimentares dos

cupins construtores de ninhos conspícuos na mata 30, sugerem que avaliações da estrutura e

quantidade de ninhos em floresta tropical úmida podem representar mais uma ferramenta na

análise da qualidade do habitat. No entanto, há necessidade que estudos semelhantes sejam

executados em outras florestas úmidas, de preferência utilizando-se mais áreas com históricos

diferentes de distúrbios e que a área mais conservada seja a mais próxima possível de uma

vegetação primária.

Os grupos alimentares dos consumidores de madeira e consumidores de húmus reagiram

de foram diferente em relação ao estádio de sucessão da vegetação, havendo uma tendência para

a área com vegetação mais madura apresentar proporcionalmente maior abundância de ninhos

das espécies humívoras e menor abundância de ninhos das espécies consumidores de madeira.

Esse mesmo padrão já foi observado em outros estudos com toda a comunidade de cupins. A

menor resistência dos cupins consumidores de húmus à perturbação antrópica já foi observada em

várias florestas úmidas tropicais (DESOUZA & BROWN, 1994; EGGLETON et al., 1995), como

também maior diversidade de cupins consumidores de madeira em áreas de crescimento

secundário da vegetação em relação à floresta primária (BANDEIRA et al., 2003).

Os cupins são tratados como um táxon indicador de qualidade ambiental, adequados para

monitoramentos ecológicos. Entre os principais atributos que justificam sua categorização como

bioindicadores, estão: hábitos sedentários, indivíduos presentes ao longo de todo o ano,

importância funcional nos ecossistemas e o seu curto tempo de resposta a perturbações antrópicas

(BROWN, 1991). Na região Neotropical, é possível que o maior obstáculo para consolidação dos

cupins como bioindicadores ecológicos e de qualidade ambiental seja a dificuldade de

identificação de alguns de seus táxons, como, por exemplo, as espécies da subfamília

Apicotermitinae e da família Kalotermitidae.

Há duas vantagens evidentes em se trabalhar com a fauna de cupins construtores de

ninhos. A primeira é a rapidez de coleta dos espécimes e, a segunda, refere-se a facilidade de

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

113

identificação das espécies construtoras. Todas as espécies construtoras de ninhos nas áreas

estudadas foram identificadas, exceto uma espécie de Nasutitermes já reconhecidamente tratada

como uma espécie nova (R. Constantino, comunicação pessoal). Na coleta tradicional em

florestas úmidas, utilizando-se transectos ou parcelas, geralmente muitas espécies da subfamília

Apicotermitinae são amostradas e esses cupins atualmente são muito difíceis de serem

identificados, o que, de certa forma, dificulta a interpretação dos resultados.

Nove espécies de cupins são construtoras de ninhos conspícuos na Reserva

Biológica Guaribas, representando quase a totalidade de espécies que constroem ninhos em

ecossistemas de floresta úmida do Complexo Mata Atlântica do Nordeste. Apenas os ninhos de

Embiratermes neotenicus não foram encontrados. Mesmo sendo comumente coletada nos

remanescentes de Mata Atlântica próximos ao litoral (BANDEIRA et al., 1998; SILVA &

BANDEIRA, 1999), seus ninhos só são encontrados em áreas de Brejos com mais de 400 m de

altitude (SILVA, 2000; BANDEIRA et al., 2003).

A riqueza de espécies construtoras de ninhos conspícuos foi relativamente baixa, pois na

Amazônia, incluindo floresta de terra firme e várzea, pelo menos 30 espécies são construtoras de

ninhos conspícuos (BANDEIRA et al., 1989; CONSTANTINO, 1992; MARTIUS, 1994; APOLINÁRIO,

2000). Os eventos históricos peculiares a cada área, a grande heterogeneidade do habitat e a

presença de extensas áreas de floresta ainda pouco perturbadas na Amazônia podem ser as

possíveis causas dessa diferença.

A maior abundância de ninhos mortos na mata 17 pode ser conseqüência dos efeitos das

condições microclimáticas sobre a estrutura da comunidade dos cupins construtores. Na Nova

Guiné, um estudo sobre termorregulação dos ninhos de Microcerotermes biroi, sugeriu que a

exposição ao sol representa um fator limitante para sobrevivência de seus ninhos (LEPONCE et al.,

1995). Por outro lado, a presença de grande número de ninhos mortos na mata 17 representa

microhabitats livres e pode funcionar como um importante fator de resiliência das espécies mais

sensíveis a distúrbios antrópicos. Embora a termitosfera do ninho não esteja mais sendo

controlada pela espécie construtora, a simples presença do ninho abandonado pode atuar como

um agente de proteção ao casal real no momento da fundação de uma colônia. No cerrado, os

ninhos de Cornitermes spp., ativos e abandonados, são chave para manutenção da biodiversidade

do ecossistema pois representam microhabitat para 17 espécies e 14 gêneros de cupins

(REDFORD, 1984b).

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

114

O maior volume dos ninhos na mata 30 pode estar relacionado com o tempo de

regeneração da vegetação, maior estabilidade climática e quantidade de alimento disponível.

LEPONCE et al. (1997) verificaram que os volumes dos ninhos de N. princeps e M. biroi foram

maiores na plantação de coco com grande densidade de árvores. A densidade de árvores na mata

30 não foi diferente da encontrada na mata 17, mas aparentemente havia uma maior cobertura

vegetal na mata 30, sugerindo um microclima mais ameno. Na mata 30 e mata 17 havia grande

quantidade de madeira morta sobre o solo. No entanto, boa parte desta madeira na mata 17

aparentava estar seca e inacessível para os cupins consumidores de madeira e intermediários. A

maior cobertura da vegetação na mata 30 pode proteger a madeira morta da dessecação e

favorecer a atuação de microorganismos no processo de decomposição. Várias espécies de cupins

preferem consumir madeira em algum estágio de decomposição. BUSTAMANTE & MARTIUS

(1998) verificaram que cinco espécies de Nasutitermes preferiram madeira em decomposição em

relação à madeira sã. A preferência dos cupins por madeira em decomposição pode ser causada

pela presença de microrganismos (fungos e bactérias) e pela maior facilidade na mastigação em

relação a uma madeira ressecada ou viva. Por tudo isso, a capacidade suporte da mata 30

aparentava ser maior, propiciando o desenvolvimento de colônias mais populosas.

A avaliação do padrão de distribuição espacial dos ninhos de cupins em florestas com a

riqueza de espécies relativamente alta, pode favorecer a erros de interpretação, pois os cupins

construtores de ninhos representam apenas uma fração do total de espécies. Isso pode ser ainda

mais acentuado para as espécies consumidoras de húmus e consumidores intermediários, pois

poucas espécies destes grupos, pelo menos em Mata Atlântica, constroem ninhos conspícuos. Por

exemplo, Embiratermes parvirostris, que é a espécie comedora de húmus mais abundante no

interior do solo de Mata Atlântica, com 1200 a 3500 indivíduos/m2, não constrói ninhos. Por

outro lado, as espécies consumidoras de madeira que constroem ninhos são geralmente mais

abundantes que as espécies que não os constroem. Por isso, a análise da distribuição dos ninhos

dessas espécies pode fornecer informações relevantes e mais seguras sobre as interações

competitivas.

O padrão de distribuição aleatório para os ninhos das espécies humívoras e intermediárias

na mata 17 e mata 30 pode ter sido causado pela ausência de informações sobre a distribuição das

outras espécies mais abundantes no interior dos solos. No entanto, uma distribuição regular do

grupo das espécies consumidoras de madeira foi observado na mata 17 e de N. ephratae na mata

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

115

30 e mata 17. A distribuição regular geralmente é interpretada para cupins como um resultado da

competição intra-interespecífica ou da maior probabilidade de estabelecimento de ninhos em

áreas com baixa intensidade de forrageamento (WOOD & LEE, 1971; SPAIN et al., 1986).

A distribuição regular de N. ephratae na mata 17 e mata 30, sugere que a interação

intraespecífica representa o fator mais importante para a determinação do arranjo espacial de seus

ninhos. Mesmo entre espécies consumidoras de madeira pode haver preferência por madeiras que

apresentam estágios distintos de decomposição, sendo essa preferência aparentemente um fator

separador de nicho entre espécies coexistentes (BUSTAMANTE & MARTIUS, 1999).

Pela maior influência no padrão de distribuição dos ninhos das espécies consumidoras de

madeira na mata 17, é provável que M. exiguus e N. corniger possuam uma maior sobreposição

de nicho, sendo ávidas competidoras por recursos. Nunca foi observado ninhos dessas espécies

em uma mesma árvore ou seus indivíduos no interior do mesmo tronco morto, sugerindo a

presença de exclusão competitiva. A manutenção do território da colônia pode envolver

encontros agonísticos entre as castas estéreis e eliminação de colônias incipientes. Na Nova

Guiné, N. princeps e M. biroi excluem outras colônias que ultrapassam os limites de seu território

podendo acontecer a invasão do ninho e a destruição de colônias inteiras de M. biroi por N.

princeps (LEPONCE et al, 1997). Essa mesma interação já foi observada entre N. corniger e M.

exiguus em uma outra localidade de Mata Atlântica com vegetação fortemente degradada.

A ausência de distribuição regular dos consumidores de madeira na mata 30 pode ter sido

influenciada pela forte agregação dos ninhos de N. corniger. A agregação de ninhos em cupins

pode acontecer pela presença de policalismo e/ou heterogeneidade do habitat, e, neste último

caso, está relacionada com a distribuição dos recursos alimentares e dos sítios de nidificação

(SPAIN et al., 1986).

A presença de policalismo em N. corniger já foi observada por vários autores. THORNE

(1982) observou que próximo à colônias maduras de N. corniger existiam ninhos satélites

localizados a uma distância de 2m. LEVINGS & ADAMS (1984) observaram em área de manguezal

no Panamá um ninho policálico de N. corniger formado por 37 cálies interligadas.

VASCONCELLOS (1999) estudou um ninho policálico de N. corniger com 12 cálies constituído por

uma população de 4.700.000 indivíduos estéreis em uma área de Mata Atlântica do Nordeste

Brasileiro. A presença de ninhos policálicos em N. corniger pode favorecer um aumento da

capacidade de forrageamento da colônia, inclusive diminuindo o gasto energético na coleta de

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

116

recursos, e a manutenção de um grande território. Por isso, a distribuição agregada dos ninhos de

N. corniger pode ser comparável à distribuição do tipo mosaico descrito para algumas formigas

tropicais (HOLDOBLER & WILSON,1991; MAJER, 1993).

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VASCONCELLOS, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

117

A. banksi

A. holmgreni

L. labralis

M. exiguus

N. corniger

N. ephratae

Nasutitermes sp.

Figura 5.1. Distribuição espacial das espécies construtoras de ninhos conspícuos na área de Mata

Atlântica com 17 anos de regeneração na Reserva Biológica Guaribas, Paraíba.

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VASCONCELLOS, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

118

A. banksi

A. holmgreni

L. labralis

M. exiguus

M. struncki

N. corniger

N. ephratae

N. macrocephalus

Nasutitermes sp.

Figura 5.2. Distribuição espacial das espécies construtoras de ninhos conspícuos na área de Mata

Atlântica com 30 anos de regeneração na Reserva Biológica Guaribas, Paraíba

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VASCONCELLOS, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

119

Comedores de madeira

Comedores de húmus

Comedores Int.(m/h)

Figura 5.3. Distribuição espacial das espécies de três grupos alimentares nas áreas de Mata

Atlântica com 17 anos de regeneração na Reserva Biológica Guaribas, Paraíba

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VASCONCELLOS, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

120

Comedores de madeira

Comedores de húmus

Comedores int. (m/h)

Figura 5.4. Distribuição espacial das espécies de três grupos alimentares nas áreas de Mata

Atlântica com 30 anos de regeneração na Reserva Biológica Guaribas, Paraíba

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

121

Tabela 5.1. Abundância e valores do índice “R” por espécies e por grupo alimentar em duas áreas de Mata Atlântica em diferentes

estágios de sucessão da vegetação na Reserva Biológica Guaribas, Paraíba. O índice “R” só foi calculado para as espécies que

possuíram mais de sete ninhos em cada área estudada.

Espécies/grupos alimentares Ninhos

ativos/ha

Ninhos

inativos/ha

Média da Ra Índice “R” Teste-z Padrão

espacial

Alimentação

MATA 17 anos

Anoplotermes banksi 3 0 49,3 - - - Humívoro

Armitermes holmgrenia 13 2 16,16 1,12 0,80

ns Aleatório Intermediário

Labiotermes labralis 4 3 15,7 - - - Humívoro

Microcerotermes exiguus 52 6 6,14 0,89 1,57 Aleatório Xilófago

Nasutitermes corniger 23 4 10,4 1,01 0,01 ns

Aleatório Xilófago

Nasutitermes ephratae 10 0 21,1 1,3 2,02* Regular Xilófago

Nasutitermes sp. 3 0 2,1 - - - Xilófago

Comedores de madeira 88 10 5,1 1,3 3,29* Regular

Comedores de húmus 7 3 17,9 0,95 -0,26 Aleatório

MATA 30 anos

Anoplotermes banksi 11 0 14,1 0,94 0,40 ns

Aleatório Humívoro

Armitermes holmgrenia 14 1 13,3 0,96 -0,30

ns Aleatório Intermediário

Labiotermes labralis 8 1 21,0 1,19 1,02 Aleatorio Humívoro

Microcerotermes exiguus 28 2 7,8 0,85 -1,75 ns

Aleatório Xilófago

Microcerotermes strunckii 3 1 40,0 - - - Xilófago

Nasutitermes corniger 20 1 7,8 0,7 -2,53* Agregado Xilófago

Nasutitermes ephratae 8 0 30,0 1,7 3,77* Regular Xilófago

N. macrocephalus 2 0 79,0 - - - Xilófago

Nasutitermes sp. 2 0 11,5 - - - Xilófago

Comedores de madeira 63 4 6,6 1,06 0,85 ns

Aleatório

Comedores de húmus 19 1 13,9 1,22 1,80 ns

Aleatório ns

: não significativo para o nível de significância de 5%; * nível de significância menor que 5%.a Como essa espécie é a única com

hábito alimentar intermediário (m/h) o valor de “R” também corresponde a esse grupo alimentar.

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Vasconcellos, A. 2003 – Ecologia e biodiversidade de cupins em Mata Atlântica.

122

Tabela 5.2. Comparação dos volumes (dm3) dos ninhos ativos e conspícuos em duas áreas de Mata Atlântica com diferentes estágios

de sucessão da vegetação na Reserva Biológica Guaribas, Paraíba.

Espécies MATA 17 anos MATA 30 anos Teste -t Nível de

significância

n média + dp amplitude n média + dp amplitude

Anoplotermes banksi 3 1,1 + 0,5 0,7 – 1,7 11 1,4 + 1,3 0,2 – 4,1 -0,35 ns

Armitermes holmgreni 13 10,1 + 6,7 1,5 – 21,5 14 13,4 + 7,7 2,8 – 28,3 -1,2 ns

Labiotermes labralis 4 34,9 + 5,3 29,1 – 41,1 8 45,9 + 20,5 15,2 – 72,3 -1,1 ns

Microcerotermes exiguus 52 2,8 + 2,9 0,2 – 13,3 28 4,8 + 4,4 0,4 – 17,3 -2,38 *

Microcerotermes struncki - - - 3 7,2 + 6,3 2,1 – 14,3 - -

Nasutitermes corniger 23 22,1 + 19,8 2,2 – 72,5 20 25,1 + 16,7 4,6 – 69,1 -0,51 ns

Nasutitermes ephratae 10 15,2 + 7,9 4,9 – 31,2 7 29,3 + 11,7 15,2 – 49,1 -3,1 **

N. macrocephalus - - - 2 79,3 + 26,8 60,3 – 98,3 - -

Nasutitermes sp. 3 54,1 + 18,2 42,2 – 75,1 2 29,6 + 19,6 15,7 – 43,5 - -

ns diferença entre as médias não significativa para 5% de significância; * P<0,05; **P<0,01.

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