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Princípio da Insignificância no Direito Penal brasileiro MÁRCIO ANDRÉ LOPES CAVALCANTE 1ª Ed. (atualizada até 22/07/2014)

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Princípio da Insignificância no

Direito Penal brasileiro

MÁRCIO ANDRÉ LOPES CAVALCANTE

1ª Ed. (atualizada até 22/07/2014)

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PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

Márcio André Lopes Cavalcante Professor. Juiz Federal.

Editor do site Dizer o Direito. Foi Defensor Público, Promotor de Justiça e Procurador do Estado.

1. NOÇÕES GERAIS

Origem

Quem primeiro tratou sobre o princípio da insignificância no direito penal foi Claus Roxin, em 1964.

Esse princípio busca raízes no brocardo civil minimis non curat praetor (algo como “o pretor – magistrado à época – não cuida de coisas sem importância).

Terminologia

Também é chamado de “princípio da bagatela” ou “infração bagatelar própria”.

Previsão legal

O princípio da insignificância não tem previsão legal no direito brasileiro.

Trata-se de uma criação da doutrina e da jurisprudência.

Natureza jurídica

O princípio da insignificância é uma causa supralegal de exclusão da tipicidade material.

É um postulado hermenêutico voltado à descriminalização de condutas formalmente típicas (Min. Gilmar Mendes).

“O princípio da insignificância – que deve ser analisado em conexão com os postulados da fragmentariedade e da intervenção mínima do Estado em matéria penal – tem o sentido de excluir ou de afastar a própria tipicidade penal, examinada na perspectiva de seu caráter material.” (Min. Celso de Mello).

Tipicidade material

A tipicidade penal divide-se em:

a) Tipicidade formal (ou legal): é a adequação (conformidade) entre a conduta praticada pelo agente e a conduta descrita abstratamente na lei penal incriminadora.

b) Tipicidade material (ou substancial): é a lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico protegido pelo tipo penal.

Verificar se há tipicidade formal significa examinar se a conduta praticada pelo agente amolda-se ao que está previsto como crime na lei penal.

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Verificar se há tipicidade material consiste em examinar se essa conduta praticada pelo agente e prevista como crime produziu efetivamente lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico protegido pelo tipo penal.

Primeiro se verifica se a conduta praticada pelo agente se enquadra em algum crime descrito pela lei penal.

Se não se amoldar, o fato é formalmente atípico.

Se houver essa correspondência, o fato é formalmente típico.

Sendo formalmente típico, é analisado se a conduta produziu lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico que este tipo penal protege.

Se houver lesão ou perigo de lesão, o fato é também materialmente típico.

Se não houver lesão ou perigo de lesão, o fato é, então, materialmente atípico.

Princípio da insignificância e tipicidade material

Se o fato for penalmente insignificante significa que não lesou nem causou perigo de lesão ao bem jurídico. Logo, aplica-se o princípio da insignificância e o réu é absolvido por atipicidade material, com fundamento no art. 386, III do CPP.

O princípio da insignificância atua, então, como um instrumento de interpretação restritiva do tipo penal.

Exemplo de aplicação do princípio da insignificância

João subtrai para si um pacote de biscoitos do supermercado, avaliado em 8 reais. A conduta do agente amolda-se perfeitamente ao tipo previsto no art. 155 do CP. Ocorre que houve inexpressiva lesão ao patrimônio do supermercado.

Aplica-se não apenas para infrações de menor potencial ofensivo

O princípio da insignificância somente pode ser aplicado para as infrações de menor potencial ofensivo?

NÃO. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. O princípio da insignificância pode, em tese, ser aplicado para delitos de menor, médio ou alto potencial ofensivo, a depender da situação em concreto e do crime a que se refere.

Critério não é apenas patrimonial

O princípio da insignificância é baseado apenas no valor patrimonial do bem?

NÃO. Além do valor econômico, existem outros fatores que devem ser analisados e que podem servir para IMPEDIR a aplicação do princípio. Veja:

Valor sentimental do bem. Ex: furto de uma bijuteria de baixo valor econômico, mas que pertenceu a importante familiar falecido da vítima.

Condição econômica da vítima. Ex: furto de bicicleta velha de uma vítima muito pobre que a utilizava como único meio de transporte (STJ. 6ª Turma. HC 217.666/MT, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/11/2013).

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Condições pessoais do agente. Ex: o STF já decidiu que, se a conduta criminosa é praticada por policial militar, ela é revestida de maior reprovabilidade, de modo que isso poderá ser levado em consideração para negar a aplicação do princípio da insignificância (HC 108884/RS, rel. Min. Rosa Weber, 12/6/2012).

Circunstâncias do delito. Ex.1: furto mediante ingresso sub-reptício na residência da vítima, com violação da privacidade e tranquilidade pessoal desta. Ex.2: estelionato praticado por meio de saques irregulares de contas do FGTS. A referida conduta é dotada de acentuado grau de desaprovação pelo fato de ter sido praticada mediante fraude contra programa social do governo que beneficia inúmeros trabalhadores (STF. 1ª Turma. HC 110845/GO, julgado em 10/4/2012). Ex.3: o modus operandi da prática delitiva - em que o denunciado quebrou o vidro da janela e a grade do estabelecimento da vítima - demonstra um maior grau de sofisticação da conduta a impedir o princípio (STJ. 6ª Turma. AgRg nos EDcl no REsp 1377345/MG, julgado em 03/12/2013, DJe 13/12/2013).

Consequências do delito. Ex.: furto de bicicleta que era o único meio de locomoção da vítima. Ex.2: não se aplica o princípio da insignificância ao delito de receptação qualificada no qual foi encontrado, na farmácia do réu, exposto à venda, medicamento que deveria ser destinado ao fundo municipal de saúde. Isso porque as consequências do delito atingirão inúmeros pacientes que precisavam do medicamento (STF. 2ª Turma. HC 105963/PE, julgado em 24/4/2012).

Requisitos OBJETIVOS (VETORES) para a aplicação do princípio:

O Min. Celso de Mello (HC 84.412-0/SP) idealizou quatro requisitos objetivos para a aplicação do princípio da insignificância, sendo eles adotados pela jurisprudência do STF e do STJ.

Segundo a jurisprudência, somente se aplica o princípio da insignificância se estiverem presentes os seguintes requisitos cumulativos:

a) mínima ofensividade da conduta;

b) nenhuma periculosidade social da ação;

c) reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; e

d) inexpressividade da lesão jurídica provocada.

Qual é a diferença entre cada um desses requisitos?

Não sei. Acho que ninguém sabe ao certo. Os julgados que mencionam esses requisitos não explicam o que seja cada um deles, até porque alguns parecem se confundir. A doutrina critica esses critérios. Paulo Queiroz, por exemplo, afirma que esses requisitos são claramente tautológicos e apenas dizem a mesma coisa com palavras diferentes, argumentando em círculo (Curso de Direito Penal. Salvador: Juspodivm, 2014, p. 89).

Desse modo, não se preocupe em diferenciá-los, mas é importante ter uma noção dos quatro para fins de concurso.

Princípio da insignificância e outras ações penais

É possível a aplicação do princípio da insignificância para réus reincidentes ou que respondam a outros inquéritos ou ações penais?

NÃO. É a posição que atualmente prevalece, sendo adotada pela 5ª Turma do STJ e pelo STF.

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STF:

(...) A reiteração delitiva, comprovada pela certidão de antecedentes criminais do paciente, impossibilita a aplicação do princípio da insignificância. (...) STF. 1ª Turma. HC 109705, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 22/04/2014. (...) Sentenciados reincidentes na prática de crimes contra o patrimônio. Precedentes do STF no sentido de afastar a aplicação do princípio da insignificância aos acusados reincidentes ou de habitualidade delitiva comprovada. (...) (STF. 2° Turma. HC 117083, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 25/02/2014). "o princípio da insignificância não foi estruturado para resguardar e legitimar constantes condutas desvirtuadas, mas para impedir que desvios de condutas ínfimas, isoladas, sejam sancionados pelo direito penal, fazendo-se justiça no caso concreto. Comportamentos contrários à lei penal, mesmo que insignificantes, quando constantes, devido a sua reprovabilidade, perdem a característica de bagatela e devem se submeter ao direito penal" (STF. 1ª Turma. HC 102.088/RS, Rel. Min. Cármen Lúcia, DJe de 21/05/2010).

STJ (5ª Turma):

(...) Apesar de não configurar reincidência, a existência de outras ações penais ou inquéritos policiais em curso é suficiente para caracterizar a habitualidade delitiva e, consequentemente, afastar a incidência do princípio da insignificância. No caso, há comprovação da existência de outros inquéritos policiais em seu desfavor, inclusive da mesma atividade criminosa. (...) (AgRg no AREsp 332.960/PR, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 22/10/2013) (...) A reincidência específica é prognóstico de risco social, recaindo sobre a conduta do acusado elevado grau de reprovabilidade, o que impede a aplicação do princípio da insignificância. (...) (STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 487.623/ES, julgado em 18/06/2014).

Esse tem sido o entendimento da banca CESPE:

(Promotor MPAC 2014 CESPE) No que se refere à aplicação do princípio da insignificância, o STF tem afastado a tipicidade material dos fatos em que a lesão jurídica seja inexpressiva, sem levar em consideração os antecedentes penais do agente. (ERRADO)

(Promotor MPAC 2014 CESPE) A reiteração delitiva impede a aplicação do princípio da insignificância em razão do alto grau de reprovabilidade do comportamento do agente. (CERTO)

(DPE/TO 2013 CESPE) A existência de condenações criminais pretéritas imputadas a um indivíduo impede a posterior aplicação do princípio da insignificância, consoante a jurisprudência do STF. (CERTO)

(Promotor MPAC 2014 CESPE) É atípica a conduta infracional análoga ao crime de furto simples de uma lâmpada, cujo valor é ínfimo, em razão do princípio da insignificância, aplicável ainda que se trate de adolescente contumaz na prática de atos infracionais contra o patrimônio. (ERRADO)

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Diferença no caso de concursos da Defensoria ou MP:

Se você estiver fazendo uma prova prática (ex.: alegações finais, recurso) ou oral da Defensoria ou do Ministério Público, pode optar por expor a divergência existente na jurisprudência e posicionar-se defendendo a “tese institucional”. Para isso precisará apresentar argumentos. Ei-los:

É possível a aplicação do princípio da insignificância em favor de réus reincidentes

ou que respondam a outros inquéritos ou ações penais?

Defensoria: SIM Ministério Público: NÃO

Se o fato é insignificante, é porque não há tipicidade material. Ora, não pode um fato ser considerado atípico para o réu se ele for primário e esse mesmo fato ser reputado como típico se o acusado for reincidente. Ou o fato é típico, ou não é, não importando as condições pessoais do agente, considerando que estamos analisando o “fato” criminoso. Assim, para a incidência do princípio da insignificância, devem ser examinadas as circunstâncias objetivas em que se deu a prática delituosa, o fato em si, e não os atributos inerentes ao agente. Se forem analisadas as condições subjetivas do réu para se aplicar ou não o princípio da insignificância, estará sendo dada prioridade ao direito penal do autor em detrimento do direito penal do fato. As condições pessoais do autor somente devem ser aferidas quando da fixação da eventual e futura pena. Há julgados da 6ª Turma do STJ nesse sentido.

Se o réu é reincidente em práticas delituosas essa circunstância revela clara demonstração de que ele é um infrator contumaz e com personalidade voltada à prática delitiva. A lei seria inócua se fosse tolerada a reiteração do mesmo delito, seguidas vezes, em frações que, isoladamente, não superassem certo valor tido por insignificante, mas o excedesse na soma. E mais: seria um verdadeiro incentivo ao descumprimento da norma legal, mormente tendo em conta aqueles que fazem da criminalidade um meio de vida. O princípio da insignificância não pode ser acolhido para resguardar e legitimar constantes condutas desvirtuadas, mas para impedir que desvios de conduta ínfimos, isolados, sejam sancionados pelo direito penal, fazendo-se justiça no caso concreto. O fato de haver outras condenações, ações penais ou inquéritos revela, assim, a reprovabilidade e ofensividade da conduta, vedando a aplicação da insignificância. É a posição da 5ª Turma do STJ e do STF.

Requisito SUBJETIVO para a aplicação do princípio

A 5ª Turma do STJ construiu a tese de que, para a aplicação do princípio da insignificância, além do aspecto objetivo, deve estar presente também o requisito subjetivo.

Para o requisito subjetivo estar presente, o réu não poderá ser um criminoso habitual.

Caso o agente responda por outros inquéritos policiais, ações penais ou tenha contra si condenações criminais, ele não ser beneficiado com a aplicação do princípio da insignificância por lhe faltar o requisito subjetivo. Nesse sentido: HC 260.375/SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, Quinta Turma, julgado em 17/09/2013.

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Princípio da insignificância e atos infracionais

É possível a aplicação do princípio da insignificância para atos infracionais?

SIM. Trata-se de posição pacífica no STF e STJ.

Como regra, o Estado é obrigado a aplicar as medidas previstas no ECA, considerando que elas possuem caráter educativo, preventivo e protetor. No entanto, excepcionalmente, diante de peculiaridades do caso concreto, é possível que o Estado deixe de aplicar essas medidas quando for verificado que o ato infracional praticado é insignificante (princípio da insignificância).

Não é razoável que o direito penal (ou infracional) e todo o aparelho do Estado-polícia e do Estado-juiz se movimentem no sentido de atribuir relevância típica a situações insignificantes.

Conclusão: o princípio da insignificância é aplicável aos atos infracionais, desde que verificados os requisitos necessários para a configuração do delito de bagatela (STF HC 112400/RS).

Princípio da insignificância e trânsito em julgado

O princípio da insignificância pode ser reconhecido mesmo após o trânsito em julgado da sentença condenatória?

SIM. HC 95570, Relator Min. Dias Toffoli, 1ª Turma, julgado em 01/06/2010.

Princípio da insignificância e prisão em flagrante

Situação que é muito comum na prática e que gera enorme polêmica: a autoridade policial pode deixar de lavrar a prisão em flagrante sob o argumento de que a conduta praticada é formalmente típica, mas se revela penalmente insignificante (atipicidade material)?

1ª corrente: SIM. O princípio da insignificância, como vimos, afasta a tipicidade material. Logo, se o fato é atípico, a autoridade policial pode deixar de lavrar o flagrante. Nesse sentido: Cleber Masson (Direito Penal esquematizado. Vol. 1. São Paulo: Método, 2014, p. 37).

2ª corrente: NÃO. A avaliação sobre a presença ou não do princípio da insignificância, no caso concreto, deve ser feita pelo Poder Judiciário (e não pela autoridade policial). É a posição da doutrina tradicional.

Não existe, ainda, uma posição consolidada sobre o tema na jurisprudência, razão pela qual, em concursos públicos, o tema somente deve ser explorado em provas discursivas ou práticas, quando deverá ser explicada a discussão acima.

Na prática, o Delegado de Polícia deverá ter extrema cautela ao aplicar o princípio em caso de prisão em flagrante, somente decidindo não lavrar o auto em situações nas quais esteja patente a insignificância. Mesmo assim, é recomendável que seja instaurado um procedimento formal, certificando-se tudo o ocorreu, sendo, então, encaminhando ao Ministério Público a documentação pertinente.

Em situações nas quais haja dúvida, uma providência salutar é acionar o plantão do Ministério Público, colhendo a opinião do Parquet, devendo ser certificado nos autos esse contato.

Princípio da insignificância e infração bagatelar imprópria

Não se pode confundir o princípio da insignificância com a chamada “infração bagatelar imprópria”.

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Infração bagatelar imprópria é aquela que nasce relevante para o Direito penal, mas depois se verifica que a aplicação de qualquer pena no caso concreto apresenta-se totalmente desnecessária (GOMES, Luiz Flávio; Antonio Garcia-Pablos de Molina. Direito Penal Vol. 2, São Paulo: RT, 2009, p.305)”. Em outras palavras, o fato é típico, tanto do ponto de vista formal como material. No entanto, em um momento posterior à sua prática, percebe-se que não é necessária a aplicação da pena. Logo, a reprimenda não deve ser imposta, deve ser relevada (assim como ocorre nos casos de perdão judicial).

Segundo LFG, a infração bagatelar imprópria possui um fundamento legal no direito brasileiro. Trata-se do art. 59 do CP que prevê que o juiz deverá aplicar a pena “conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime”. Dessa forma, se a pena não for mais necessária, ela não deverá ser imposta (princípio da desnecessidade da pena conjugado com o princípio da irrelevância penal do fato).

Ainda de acordo com LFG, no direito legislado já contamos com vários exemplos de infração bagatelar imprópria:

No crime de peculato culposo, a reparação dos danos antes da sentença irrecorrível extingue a punibilidade. Assim, havendo a reparação, a infração torna-se bagatelar (em sentido impróprio) e a pena desnecessária. No princípio havia desvalor da ação e do resultado. Mas depois, em razão da reparação dos danos (circunstância post-factum), torna-se desnecessária a pena.

Pagamento do tributo nos crimes tributários; Colaboradores da justiça (delator etc.) quando o juiz deixa de aplicar a pena.

Infração bagatelar própria = princípio da insignificância

Infração bagatelar imprópria = princípio da irrelevância penal do fato

A situação já nasce atípica. O fato é atípico por atipicidade material.

A situação nasce penalmente relevante. O fato é típico do ponto vista formal e material. Em virtude de circunstâncias envolvendo o fato e o seu autor, consta-se que a pena se tornou desnecessária.

O agente não deveria nem mesmo ser processado já que o fato é atípico.

O agente tem que ser processado (a ação penal deve ser iniciada) e somente após a análise das peculiaridades do caso concreto, o juiz poderia reconhecer a desnecessidade da pena.

Não tem previsão legal no direito brasileiro. Está previsto no art. 59 do CP.

2. CRIMES NOS QUAIS A JURISPRUDÊNCIA RECONHECE A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO

2.1 Furto

Algumas observações importantes sobre a insignificância no crime de furto:

No caso do furto, o princípio da insignificância não pode ter como parâmetro apenas o valor da res furtiva (coisa subtraída), devendo ser analisadas as circunstâncias do fato e o reflexo da conduta do agente no âmbito da sociedade, para então se decidir sobre seu efetivo enquadramento na hipótese de crime de bagatela.

Em casos de pequenos furtos, deve-se avaliar a incidência ou não do princípio a partir não só do valor do bem subtraído, mas também de outros aspectos relevantes da conduta imputada (STF. 1ª Turma. HC 120016, julgado em 03/12/2013).

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A 1ª Turma do STF já aplicou o princípio da insignificância em favor de réu que tentou furtar um cartucho de tinta de impressora no presídio onde cumpria pena (RHC 106731/DF, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em 4/9/2012).

Não se aplica o princípio da insignificância se o crime de furto é praticado mediante ingresso sub-reptício na residência da vítima, com violação da privacidade e tranquilidade pessoal desta (STF HC 106045).

A circunstância de o crime de furto ter sido perpetrado durante o repouso noturno denota maior reprovabilidade, o que afasta o reconhecimento da atipicidade material da conduta pela aplicação do princípio da insignificância (STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 463.487/MT, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 01/04/2014).

Não se aplica o princípio no caso de furto de água potável mediante ligação clandestina (REsp 984.723-RS).

Em regra, a jurisprudência NÃO aplica o princípio da insignificância no caso do agente que furta coisas para trocá-las por droga (STJ. 6ª Turma. HC 211.177/SP, julgado em 03/12/2013).

O fato de o réu ter restituído os bens furtados à vítima não serve como justificativa, por si só, para aplicar o princípio da insignificância, especialmente se o valor do objeto tem expressividade econômica (STJ. 6ª Turma. HC 213.943/MT, julgado em 05/12/2013).

Furto qualificado:

Em regra, NÃO se aplica o princípio da insignificância para o furto qualificado. Confira:

Art. 155, § 4º, I do CP (furto com rompimento de obstáculo): decidiu-se que, no caso de rompimento de obstáculo, há uma maior reprovabilidade do comportamento do réu (STJ. 6ª Turma. HC 277.214/RS, julgado em 05/12/2013).

Art. 155, § 4º, II do CP (furto com abuso de confiança): em determinado caso concreto, foi negada a aplicação do princípio para o réu que tentou furtar 5 rolos de fio cobre da empresa na qual era funcionário, avaliados em R$ 36,00, uma vez que a reprovabilidade se mostrou acentuada já que ele era funcionário da loja, de forma que traiu a confiança de seus empregadores (STJ. 6ª Turma. HC 216.826/RS, julgado em 26/11/2013).

Art. 155, § 4º, II do CP (furto mediante escalada): o STJ entende que há uma maior reprovabilidade do comportamento do réu (STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1438176/MG, julgado em 18/06/2014).

É firme nesta Corte o entendimento segundo o qual a prática do delito de furto qualificado por escalada, destreza, rompimento de obstáculo ou concurso de agentes indica a reprovabilidade do comportamento do réu, sendo inaplicável o princípio da insignificância. (STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1432283/MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 10/06/2014).

Qual é a diferença entre o furto insignificante e o furto de pequeno valor?

O delito do art. 155 do CP prevê a figura do furto privilegiado ou mínimo no § 2º, com a seguinte redação:

§

Art. 155 (...) § 2º Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.

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Ao se referir ao pequeno valor da coisa furtada, esse dispositivo prevê uma causa de redução de pena (critério de fixação da pena), e não uma hipótese de exclusão da tipicidade.

A jurisprudência afirma que “pequeno valor”, para os fins do § 2º do art. 155, ocorre quando a coisa subtraída não ultrapassa a importância de um salário mínimo.

Desse modo, se a coisa subtraída é inferior a um salário mínimo, esta conduta poderá receber dois tipos de valoração pelo julgador:

a) O juiz poderá considerar o fato penalmente insignificante e absolver o réu por atipicidade material. Isso ocorre quando o bem subtraído é muito inferior a um salário mínimo, sendo o valor ínfimo.

b) O juiz poderá considerar que o fato não é insignificante, mas como a coisa furtada é de pequeno valor, condenar o réu, mas aplicar os benefícios do § 2º do art. 155 do CP. Isso ocorre quando a coisa subtraída é inferior a um salário mínimo, mas não é ínfima, chegando perto do valor do salário mínimo.

Pela análise dos julgados, percebe-se que, se o bem for igual ou superior a 25% (1/4) do valor do salário mínimo, o STF e o STJ negam a aplicação do princípio afirmando que o valor não é insignificante. Trata-se, contudo, de uma diferenciação que, na prática, acaba sendo muito subjetiva, variando de acordo com o caso concreto. O importante é que você saiba que, para a jurisprudência, pequeno valor e valor insignificante não são sinônimos.

Pequeno valor do bem subtraído (art. 155, § 2º) Valor insignificante do bem subtraído

Até um salário mínimo Não há um parâmetro objetivo, mas, por óbvio, deve ser menor que um salário mínimo.

Se a coisa furtada é de pequeno valor e o condenado é primário, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de 1/3 a 2/3, ou aplicar somente a pena de multa.

Se o valor da coisa furtada é insignificante, o juiz irá absolver o réu por falta de tipicidade material.

Ex: furto de um relógio que custa 500 reais. Ex: furto de um relógio que custa 90 reais.

2.2 Crimes contra a ordem tributária

O princípio da insignificância pode ser aplicado no caso de crimes tributários?

SIM. É plenamente possível que incida o princípio da insignificância tanto nos crimes contra a ordem tributária previstos na Lei n. 8.137/90 como também no caso do descaminho (art. 334 do CP).

Existe algum limite máximo de valor para que possa ser aplicado o princípio da insignificância nos crimes tributários?

SIM. A jurisprudência criou a tese de que nos crimes tributários, para decidir se incide ou não o princípio da insignificância, será necessário analisar, no caso concreto, o valor dos tributos que deixaram de ser pagos.

E qual é, então, o valor máximo considerado insignificante no caso de crimes tributários?

Tradicionalmente, esse valor era de 10 mil reais.

Assim, se o montante do tributo que deixou de ser pago era igual ou inferior a 10 mil reais, não havia crime tributário, aplicando-se o princípio da insignificância.

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Qual era o parâmetro para se chegar a esse valor?

Esse valor foi fixado pela jurisprudência tendo como base o art. 20 da Lei n. 10.522/2002, que determina o arquivamento das execuções fiscais cujo valor consolidado for igual ou inferior a R$ 10.000,00. Em outros termos, a Lei determina que, até o valor de 10 mil reais, os débitos inscritos como Dívida Ativa da União não serão executados.

Segundo a jurisprudência, não há sentido lógico permitir que alguém seja processado criminalmente pela falta de recolhimento de um tributo que nem sequer será cobrado no âmbito administrativo-tributário.

Nesse caso, o direito penal deixaria de ser a ultima ratio.

Esse valor de 10 mil reais permanece ainda hoje?

Aqui reside a polêmica.

Recentemente, foi publicada a Portaria MF nº 75, de 29/03/2012, na qual o Ministro da Fazenda determinou, em seu art. 1º, inciso II, “o não ajuizamento de execuções fiscais de débitos com a Fazenda Nacional, cujo valor consolidado seja igual ou inferior a R$ 20.000,00 (vinte mil reais).” Desse modo, o Poder Executivo “atualizou” o valor previsto no art. 20 da Lei n. 10.522/2002 e passou a dizer que não mais deveriam ser executadas as dívidas de até 20 mil reais.

Em outras palavras, a Portaria MF 75/2012 “aumentou” o valor considerado insignificante para fins de execução fiscal. Agora, abaixo de 20 mil reais, não interessa à Fazenda Nacional executar (antes esse valor era 10 mil reais).

Diante desse aumento produzido pela Portaria, começou a ser defendida a tese de que o novo parâmetro para análise da insignificância penal nos crimes tributários passou de 10 mil reais (de acordo com o art. 20 da Lei n. 10.522/2002) para 20 mil reais (com base na Portaria MF 75).

A jurisprudência acolheu essa tese?

STJ: NÃO STF: SIM

O STJ tem decidido que o valor de 20 mil reais, estabelecido pela Portaria MF n. 75/12 como limite mínimo para a execução de débitos contra a União, NÃO pode ser considerado para efeitos penais (não deve ser utilizado como novo patamar de insignificância). São apontados dois argumentos principais: i) a opção da autoridade fazendária sobre o que deve ou não ser objeto de execução fiscal não pode ter a força de subordinar o exercício da jurisdição penal; ii) não é possível majorar o parâmetro previsto no art. 20 da Lei n. 10.522/2002 por meio de uma portaria do Ministro da Fazenda. A portaria emanada do Poder Executivo não possui força normativa passível de revogar ou modificar lei em sentido estrito.

Para o STF, o fato de as Portarias 75 e 130/2012 do Ministério da Fazenda terem aumentado o patamar de 10 mil reais para 20 mil reais produz efeitos penais. Logo, o novo valor máximo para fins de aplicação do princípio da insignificância nos crimes tributários passou a ser de 20 mil reais. Precedente: STF. 1ª Turma. HC 120617, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 04/02/2014. Vale ressaltar que o limite imposto por esa portaria pode ser aplicado de forma retroativa para fatos anteriores à sua edição considerando que se trata de norma mais benéfica (STF. 2ª Turma. HC 122213, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Segunda Turma, julgado em 27/05/2014).

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Em suma, para o STJ, o valor máximo para aplicação do princípio da insignificância no caso de crimes contra a ordem tributária (incluindo o descaminho) continua sendo de 10 mil reais. Precedentes: AgRg no AREsp 331.852/PR, j. em 11/02/2014. AgRg no AREsp 303.906/RS, j. em 06/02/2014.

Em suma, qual é o valor máximo considerado insignificante no caso de crimes tributários?

Para o STJ: 10 mil reais (art. 20 da Lei n. 10.522/2002). Para o STF: 20 mil reais (art. 1º, II, da Portaria MF n. 75/2012).

Esse valor é considerado insignificante tanto no caso de crimes envolvendo tributos federais, como também estaduais e municipais?

NÃO. Esse parâmetro vale, a princípio, apenas para os crimes que se relacionam a tributos federais, considerando que é baseado no art. 20 da Lei n. 10.522/2002, que trata dos tributos federais. Assim, esse é o valor que a União considera insignificante.

Para fins de crimes de sonegação fiscal que envolvam tributos estaduais ou municipais, deve ser analisado se há lei estadual ou municipal dispensando a execução fiscal no caso de tributos abaixo de determinado valor. Esse será o parâmetro para a insignificância. Veja como decidiu o STJ:

“(...) 4. Para a aplicação do referido entendimento aos tributos que não sejam da competência da União, seria necessária a existência de lei estadual no mesmo sentido, até porque à arrecadação da Fazenda Nacional não se equipara a das Fazendas estaduais. Precedentes e doutrina. 5. Inviável a aplicação do referido entendimento ao caso em análise, no qual o paciente foi denunciado por, em tese, suprimir o valor de R$ 819,00 (oitocentos e dezenove reais) de Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), de competência dos estados, de acordo com o art. 155, II, da Constituição Federal. 6. Um dos requisitos indispensáveis à aplicação do princípio da insignificância é a inexpressividade da lesão jurídica provocada, que pode se alterar de acordo com o sujeito passivo, situação que reforça a impossibilidade de se aplicar referido entendimento de forma indiscriminada à sonegação dos tributos de competência dos diversos entes federativos da União. (...) STJ. 6ª Turma. HC 165003/SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 20/03/2014.

2.3 Descaminho

O descaminho é também considerado um crime contra a ordem tributária, apesar de estar previsto no art. 334 do Código Penal e não na Lei n. 8.137/90.

Desse modo, aplica-se o princípio da insignificância ao crime de descaminho, valendo as mesmas explicações acima mencionadas quanto ao valor que pode ser considerado insignificante.

Vale ressaltar, no entanto, que, para a aplicação do princípio da insignificância aos crimes de descaminho, a 5ª Turma do STJ afirma que devem ser preenchidos dois requisitos:

a) objetivo: valor inferior a 10 mil reais (ou 20 mil, no caso do STF);

b) subjetivo: o agente não pode se tratar de criminoso habitual.

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Importante: no cálculo do valor do crédito tributário (que deve ser inferior a 10/20 mil reais), não se leva em consideração os valores correspondentes às contribuições do PIS e da COFINS, já que tais tributos não incidem sobre bens estrangeiros que tenham sido objeto de pena de perdimento, conforme dicção do art. 2º, III da Lei nº 10.865/04 (STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1351919/SC, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 03/10/2013).

Também não devem ser incluídos os valores de juros e multa: “(...) O valor a ser considerado para fins de aplicação do princípio da insignificância é aquele fixado no momento da consumação do crime, vale dizer, da constituição definitiva do crédito tributário, e não aquele posteriormente alcançado com a inclusão de juros e multa por ocasião da inscrição desse crédito na dívida ativa.” (STJ. 6ª Turma. REsp 1306425/RS, Rel. Min. Maria Thereza De Assis Moura, julgado em 10/06/2014).

2.4 Crimes ambientais

Admite-se o princípio da insignificância no caso de crimes ambientais, devendo, no entanto, ser feita uma análise rigorosa, considerando que o bem jurídico protegido é de natureza difusa e protegido constitucionalmente. Veja:

(...) A aplicação do princípio da insignificância nos crimes contra o meio ambiente, reconhecendo-se a atipicidade material do fato, é restrita aos casos onde a conduta do agente expressa pequena reprovabilidade e irrelevante periculosidade social. Afinal, o bem jurídico tutelado é a proteção ao meio ambiente, direito de natureza difusa assegurado pela Constituição Federal, que conferiu especial relevo à questão ambiental. (...) (STJ. 5ª Turma. RHC 35.122/RS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 26/11/2013) (...) Não obstante seja possível a aplicação do princípio da insignificância aos tipos penais que tutelam a proteção do meio ambiente, a depender do grau de reprovabilidade, relevância da periculosidade social e ofensividade da conduta cometida pelo agente, tal aferição deve ser realizada com cautela, dada a fundamentalidade do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, inerente às presentes e futuras gerações (princípio da equidade intergeracional). (...) Em se tratando de crime ambiental, em que não se tutela o patrimônio, no sentido financeiro da palavra, mas o meio ambiente ecologicamente equilibrado, um dos direitos fundamentais da pessoa humana, para concluir no sentido da ausência de tipicidade material da conduta, tais requisitos devem se apresentar ainda mais latentes. (...) (STJ. 6ª Turma. HC 238.344/PA, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 15/08/2013)

No STF também são encontrados precedentes aplicando o princípio, v.g., HC 112563/SC, julgado em 21/08/2012.

Apesar disso, alguns doutrinadores (especialmente autores de Direito Ambiental) criticam a aplicação do princípio da insignificância aos crimes ambientais.

2.5 “Flanelinha” e exercício da profissão sem registro no órgão competente

Segundo o art. 1º da Lei n. 6.242/75, o exercício da profissão de guardador e lavador autônomo de veículos automotores (“flanelinha”) depende de registro na Delegacia Regional do Trabalho competente.

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Diante disso, caso a pessoa exerça a profissão de “flanelinha” sem estar registrado na Superintendência Regional do Trabalho, ela poderá ser denunciada pela prática da contravenção prevista no art. 47 da Lei de Contravenções Penais?

NÃO. O STF entende que se aplica, à hipótese, o princípio da insignificância, devendo ser reconhecida a atipicidade material do comportamento do agente. Há mínima ofensividade e reduzida reprovabilidade da conduta e a falta de registro no órgão competente não atinge, de forma significativa, o bem jurídico penalmente protegido. Se há algum ilícito, este não é penal, mas apenas de caráter administrativo.

STF. 2ª Turma. HC 115046/MG, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 19/3/2013 (Info 699).

3. CRIMES NOS QUAIS A JURISPRUDÊNCIA REJEITA A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO

3.1 Lesão corporal

Em um julgado recente, o STJ negou aplicação ao princípio da insignificância em um caso envolvendo lesões corporais em ambiente familiar. Afirmou-se que a violência física é incompatível com os vetores da insignificância (STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 19.042/DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 14/02/2012).

3.2 Roubo

Não se aplica ao crime de roubo porque se trata de delito complexo que envolve patrimônio, grave ameaça e a integridade física e psicológica da vítima, havendo, portanto, interesse estatal na sua repressão (STF RHC 111433) (STJ AgRg no AREsp 348.330/SP, julgado em 19/11/2013).

3.3 Tráfico de drogas

Não se aplica ao tráfico de drogas, visto se tratar de crime de perigo abstrato ou presumido, sendo, portanto, irrelevante a quantidade de droga apreendida (STJ. 5ª Turma. HC 240.258/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 06/08/2013).

3.4 Moeda falsa

Ainda que seja apenas uma nota e de pequeno valor, não se aplica o princípio por tratar-se de delito contra a fé pública, havendo interesse estatal na sua repressão.

O bem violado é a fé pública, a qual é um bem intangível e que corresponde à confiança que a população deposita em sua moeda, não se tratando, assim, da simples análise do valor material por ela representado.

Nesse sentido: STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1168376/RS, julgado em 11/06/2013.

3.5 Outros crimes envolvendo a fé pública

Não se aplica o princípio da insignificância para crimes contra a fé pública, como é o caso do delito de falsificação de documento público. STF. 2ª Turma. HC 117638, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/03/2014.

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3.6 Contrabando

É inaplicável o princípio da insignificância ao crime de contrabando, uma vez que o bem juridicamente tutelado vai além do mero valor pecuniário do imposto elidido, alcançando também o interesse estatal de impedir a entrada e a comercialização de produtos proibidos em território nacional (STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 342.598/PR, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 05/11/2013).

O caso mais comum e que pode cair na sua prova é o de contrabando de cigarros.

Não confunda os delitos de contrabando com descaminho:

CONTRABANDO DESCAMINHO

Previsto no art. 334-A do CP. Previsto no art. 334 do CP.

“Importar ou exportar mercadoria proibida” “Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria”

Corresponde à conduta de importar ou exportar mercadoria PROIBIDA.

Obs: essa proibição pode ser absoluta ou relativa.

Corresponde à entrada ou à saída de produtos PERMITIDOS, todavia elidindo o pagamento do imposto devido.

É a fraude utilizada para iludir o pagamento de impostos relacionados com a importação ou exportação de produtos.

NÃO é uma espécie de crime tributário. É uma espécie de crime tributário.

É INAPLICÁVEL o princípio da insignificância. APLICA-SE o princípio da insignificância se o valor do tributo cujo pagamento foi iludido não superar 10 mil reais (STJ) ou 20 mil reais (STF).

NÃO admite suspensão condicional do processo (a pena é de 2 a 5 anos).

Admite suspensão condicional do processo (a pena é de 1 a 4 anos).

Por que se aplica o princípio da insignificância para o descaminho, mas não para o contrabando?

No delito de contrabando, o objeto material sobre o qual recai a conduta criminosa é a mercadoria PROIBIDA (proibição absoluta ou relativa). Em outras palavras, o objetivo precípuo dessa tipificação legal é evitar o fomento de transporte e comercialização de produtos proibidos por lei.

No contrabando não se cuida, tão somente, de sopesar o caráter pecuniário do imposto sonegado, mas principalmente, de tutelar, entre outros bens jurídicos, a saúde pública.

Em suma, no contrabando, o desvalor da conduta é maior, razão pela qual se deve afastar a aplicação do princípio da insignificância. Veja:

O princípio da insignificância não incide na hipótese de contrabando de cigarros, tendo em vista que “não é o valor material que se considera na espécie, mas os valores ético-jurídicos que o sistema normativo-penal resguarda” (STF. 2ª Turma. HC 118.359, Min. Cármen Lúcia, DJ 11/11/13). (...) Em sede de contrabando, ou seja, importação ou exportação de mercadoria proibida, em que, para além da sonegação tributária há lesão à moral, higiene, segurança e saúde pública, não há como excluir a tipicidade material tão-somente à vista do valor da evasão

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fiscal, ainda que eventualmente possível, em tese, a exclusão do crime, mas em face da mínima lesão provocada ao bem jurídico ali tutelado, gize-se, a moral, saúde, higiene e segurança pública. (...) (STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1418011/PR, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 03/12/2013).

3.7 Estelionato contra o INSS (estelionato previdenciário)

A jurisprudência NÃO aplica o princípio sob o argumento de que esse tipo de conduta contribui negativamente com o déficit da Previdência. Defende-se que, não obstante ser ínfimo o valor obtido com o estelionato praticado, se a prática de tal crime se tornar comum, sem qualquer repressão penal da conduta, certamente se agravará a situação da Previdência, responsável pelos pagamentos das aposentadorias e dos demais benefícios dos trabalhadores brasileiros. Daí porque se conclui que é elevado o grau de reprovabilidade da conduta praticada. Desse modo, o princípio da insignificância não pode ser aplicado para abrigar conduta cuja lesividade transcende o âmbito individual e abala a esfera coletiva (STF. 1ª Turma. HC 111918, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 29/05/2012).

É também o entendimento do STJ:

(...) Não se aplica, em regra, o princípio da insignificância ao delito do art. 171, § 3º, do Código Penal, porquanto a conduta delituosa tipificada no aludido dispositivo - estelionato praticado contra a entidade de direito público - ofende o patrimônio público, a moral administrativa e a fé pública, sendo altamente reprovável. (...) STJ. 5° Turma. AgRg no AREsp 463.149/RJ, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 05/06/2014.

3.8 Estelionato envolvendo FGTS

O STF já decidiu que não deve ser aplicado o princípio da insignificância em caso de estelionato envolvendo o FGTS porque a conduta do agente é dotada de acentuado grau de reprovabilidade, “na medida em que a fraude foi perpetrada contra programa social do governo que beneficia inúmeros trabalhadores”. Essa circunstância, aliada à expressividade financeira do valor auferido pela paciente à época dos fatos, inibe a aplicabilidade do postulado da insignificância ao caso concreto. (HC 110845, Relator Min. Dias Toffoli, 1ª Turma, julgado em 10/04/2012).

3.9 Estelionato envolvendo o seguro-desemprego

Não se aplica o princípio da insignificância para estelionato envolvendo o seguro-desemprego considerando que se trata de bem protegido a partir do interesse público (HC 108674, Relator Min. Marco Aurélio, 1ª Turma, julgado em 28/08/2012).

3.10 Violação de direito autoral

Segundo o STJ, não se aplica o princípio da insignificância ao crime de violação de direito autoral (§ 2º do art. 184 do CP). Em que pese a aceitação popular à pirataria de CDs e DVDs, com certa tolerância das autoridades públicas em relação à tal prática, a conduta, que causa sérios prejuízos à indústria fonográfica brasileira, aos comerciantes legalmente instituídos e ao Fisco, não escapa à sanção penal, mostrando-se formal e materialmente típica (AgRg no REsp 1380149/RS, Rel. Min. Og Fernandes, Sexta Turma, julgado em 27/08/2013).

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3.11 Posse ou porte de arma ou munição

Não é possível a aplicação do princípio da insignificância à posse ilegal de 48 (quarenta e oito) munições de revólver calibre 38 e um recipiente contendo pólvora, por se tratar de crime de perigo abstrato, que visa a proteger a segurança pública e a paz coletiva (STJ. 5ª Turma. RHC 43.756/AL, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 08/04/2014).

3.12 Crime militar

Prevalece que o princípio da insignificância NÃO é aplicável no âmbito da Justiça Militar, sob pena de afronta à autoridade, hierarquia e disciplina, bens jurídicos cuja preservação é importante para o regular funcionamento das instituições militares. Nesse sentido:

(...) É relevante e reprovável a conduta de um militar que abandona o serviço militar, apesar do dever de cumpri-lo até seu desligamento na forma legalmente estabelecida, o que demonstra desrespeito às leis e às instituições castrenses de seu País. III – O crime de deserção ofende aos princípios da hierarquia e da disciplina, preceitos constitucionais sobre os quais se fundam as Forças Armadas, constituindo a ausência injustificada de militares ilícito penal, na medida em que a ofensa ao bem jurídico tem impacto direto sobre o efetivo militar e as bases de organização das Forças Armadas. IV – A aplicação do referido instituto, na espécie, poderia representar um verdadeiro estímulo à prática deste delito, já bastante comum na Justiça Militar, o que contribuiria para frustrar o interesse da instituição castrense em contar com o efetivo previsto em lei. (...) STF. 2ª Turma. HC 118255, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 19/11/2013 (não divulgado em Info). (...) A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal – ressalvada a posição pessoal do relator – não admite a aplicabilidade, aos crimes militares, do princípio da insignificância, mesmo que se trate do crime de posse de substância entorpecente, em quantidade ínfima, para uso próprio, cometido no interior de Organização Militar. Precedentes. STF. 2ª Turma. HC 114194 AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 06/08/2013 (não divulgado em Info).

4. CRIMES NOS QUAIS EXISTE DIVERGÊNCIA NA JURISPRUDÊNCIA

4.1 Crimes cometidos por Prefeitos

STF: possibilidade

Ex-prefeito condenado pela prática do crime previsto no art. 1º, II do Decreto-Lei 201/1967, por ter utilizado máquinas e caminhões de propriedade da Prefeitura para efetuar terraplanagem no terreno de sua residência. 3. Aplicação do princípio da insignificância. Possibilidade. (...) (HC 104286, Rel. Min. Gilmar Mendes, 2ª Turma, julgado em 03/05/2011)

STJ: não pode ser aplicado

Não é possível a aplicação do princípio da insignificância a prefeito, em razão mesmo da própria condição que ostenta, devendo pautar sua conduta, à frente da municipalidade, pela ética e pela moral, não havendo espaço para quaisquer desvios de conduta. (...) (HC 148.765/SP, Rel. Min. Maria Thereza De Assis Moura, 6ª Turma, julgado em 11/05/2010)

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Obs: esse tema não deveria ser cobrado em uma prova objetiva, mas se for exigido, penso que a melhor resposta é no sentido de NÃO ser possível a aplicação do princípio.

4.2 Porte de droga para consumo pessoal

Se a pessoa for encontrada com alguns poucos gramas de droga para consumo próprio, é possível aplicar o princípio da insignificância?

STJ: não é possível aplicar o princípio da insignificância

A jurisprudência de ambas as turmas do STJ firmou entendimento de que o crime de posse de drogas para consumo pessoal (art. 28 da Lei n. 11.343/06) é de perigo presumido ou abstrato e a pequena quantidade de droga faz parte da própria essência do delito em questão, não lhe sendo aplicável o princípio da insignificância (RHC 34.466/DF, Rel. Min. Og Fernandes, Sexta Turma, julgado em 14/05/2013).

STF: possui um precedente isolado, da 1ª Turma, aplicando o princípio: HC 110475, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 14/02/2012.

Obs: esse tema não deveria ser cobrado em uma prova objetiva, mas se for exigido, penso que a melhor resposta é no sentido de NÃO ser possível a aplicação do princípio, uma vez que esse precedente da 1ª Turma do STF não formou jurisprudência.

4.3 Apropriação indébita previdenciária

1ª) NÃO se aplica o princípio da insignificância. Posição do STF

2ª) PODE ser aplicado o princípio da insignificância. Posição do STJ

O bem jurídico tutelado pelo delito de apropriação indébita previdenciária é a subsistência financeira da Previdência Social. Logo, não há como afirmar-se que a reprovabilidade da conduta atribuída ao paciente é de grau reduzido, considerando que esta conduta causa prejuízo à arrecadação já deficitária da Previdência Social, configurando nítida lesão a bem jurídico supraindividual.

O reconhecimento da atipicidade material nesses casos implicaria ignorar esse preocupante quadro.

STF. 1ª Turma. HC 102550, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 20/09/2011.

STF. 2ª Turma. HC 107331, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 28/05/2013.

O STJ já firmou o entendimento de que é possível a aplicação do princípio da insignificância ao delito de apropriação indébita previdenciária, desde que o total dos valores retidos não ultrapasse o patamar de R$ 10.000,00 (dez mil reais) previstos no art. 20 da Lei n.º 10.522/2002.

STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1241697/PR, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 06/08/2013.

4.4 Crimes contra a Administração Pública

No STJ prevalece que não se aplica, em regra, o princípio da insignificância aos crimes contra a Administração Pública, ainda que o valor da lesão possa ser considerado ínfimo, uma vez que a norma visa resguardar não apenas o aspecto patrimonial, mas, principalmente, a moral administrativa.

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Nesse sentido: STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 342.908/DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 18/06/2014.

Há, contudo, uma exceção: admite-se o princípio da insignificância ao crime de descaminho (art. 334 do CP), que, topograficamente, está inserido no Título XI do Código Penal, que trata sobre os crimes contra a administração pública. Segundo o STJ, “a insignificância nos crimes de descaminho tem colorido próprio, diante das disposições trazidas na Lei n. 10.522/2002”, o que não ocorre com outros delitos, como o peculato etc. (AgRg no REsp 1346879/SC, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/11/2013).

No STF, há julgados mais antigos da 2ª Turma admitindo a aplicação do princípio, como foi o caso do HC 107370, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 26/04/2011.

4.5 Manter rádio comunitária clandestina

A conduta de manter rádio comunitária clandestina pode configurar, em tese, o delito previsto no art. 183 da Lei n. 9.472/97 ou o crime do art. 70 da Lei n. 4.117/62:

§

Lei n. 9.472/97

Art. 183. Desenvolver clandestinamente atividades de telecomunicação:

Pena - detenção de dois a quatro anos, aumentada da metade se houver dano a terceiro, e multa

de R$ 10.000,00 (dez mil reais).

§

Lei n. 4.117/62

Art. 70. Constitui crime punível com a pena de detenção de 1 (um) a 2 (dois) anos, aumentada da

metade se houver dano a terceiro, a instalação ou utilização de telecomunicações, sem

observância do disposto nesta Lei e nos regulamentos.

Qual é a diferença entre os dois delitos?

De acordo com o STF, o crime do art. 183 da Lei n. 9.472/97 somente ocorre quando houver habitualidade. Se esta estiver ausente, ou seja, quando o acusado vier a instalar ou se utilizar de telecomunicações clandestinamente, mas apenas uma vez ou de modo não rotineiro, a conduta fica subsumida no art. 70 da Lei 4.117/62, pois não haverá aí um meio ou estilo de vida, um comportamento reiterado ao longo do tempo, que seria punido de modo mais severo pelo art. 183 da Lei 9.472/97 (STF. HC 93870/SP, rel. Min. Joaquim Barbosa, 20.4.2010).

Art. 70 da Lei n. 4.117/62 Art. 183 da Lei n. 9.472/97

Não exige habitualidade. Exige habitualidade.

O STJ possui precedentes adotando outro critério de distinção:

Art. 70 da Lei n. 4.117/62 Art. 183 da Lei n. 9.472/97

Pune-se o agente que, apesar de autorizado anteriormente pelo órgão competente, age de forma contrária aos preceitos legais e regulamentos que regem a matéria.

Pune o agente que desenvolve atividades de telecomunicações de forma clandestina, ou seja, sem qualquer autorização prévia do Poder Público.

Tinha uma autorização prévia e extrapolou. Nunca teve uma autorização prévia (a atividade é clandestina).

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Seja um crime ou outro, é possível aplicar o princípio da insignificância para a conduta de manter rádio comunitária clandestina?

A jurisprudência do STJ é firme no sentido de que NÃO se aplica o princípio da insignificância:

(...) Prevalece no Superior Tribunal de Justiça entendimento no sentido de não ser possível a

incidência do principio da insignificância nos casos de prática do delito descrito no art. 183 da Lei

n.9.472/1997. De fato, a instalação de estação clandestina de radiofrequência, sem autorização

dos órgãos e entes com atribuições para tanto - Ministério das Comunicações e ANATEL -, já é, por

si, suficiente para comprometer a segurança, a regularidade e a operabilidade do sistema de

telecomunicações do país, não podendo, portanto, ser vista como uma lesão inexpressiva. (...)

STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1336203/PR, Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 19/11/2013.

O STF, em regra, também nega a aplicação do princípio. No entanto, possui alguns precedentes admitindo, em casos excepcionais, o reconhecimento do postulado desde que a rádio clandestina opere em baixa frequência e em localidades afastadas dos grandes centros:

(...) Consta dos autos que o serviço de radiodifusão utilizado pela emissora é considerado de baixa

potência, não tendo, deste modo, capacidade de causar interferência relevante nos demais meios

de comunicação.

II – Rádio comunitária localizada em pequeno município do interior gaúcho, distante de outras

emissoras de rádio e televisão, bem como de aeroportos, o que demonstra que o bem jurídico

tutelado pela norma – segurança dos meios de telecomunicações – permaneceu incólume. (...)

STJ. 1ª Turma. HC 104530, Relator Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 28/09/2010.

(...) Rádio comunitária que era operada no KM 180 da BR 230 (Rodovia Transamazônica),

comunidade de Santo Antônio do Matupi, Município de Manicoré/AM, distante,

aproximadamente, 332 km de Manaus/AM, o que demonstra ser remota a possibilidade de que

pudesse causar algum prejuízo para outros meios de comunicação.

IV – Segundo a decisão que rejeitou a denúncia, o transmissor utilizado pela emissora operava

com potência de 20 watts e o funcionamento de tal transmissor não tinha aptidão para causar

problemas ou interferências prejudiciais em serviços de emergência. (...)

STJ. 2ª Turma. RHC 118014, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 06/08/2013.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

Julgue os itens a seguir: 1) (Promotor MPMT 2014 – adaptada) No que concerne ao princípio da insignificância, seu

reconhecimento exclui a tipicidade material da conduta. ( ) 2) (Promotor MPMG 2014) De acordo com o chamado princípio da insignificância o Direito Penal

não deve se ocupar com assuntos irrelevantes. A aplicação de tal princípio exclui a tipicidade material da conduta. ( )

3) (Delegado/RJ – 2009) O princípio da insignificância releva uma hipótese de atipicidade material da

conduta. ( )

4) (Promotor MPAC 2014 CESPE) Conforme o entendimento da doutrina majoritária, o princípio da insignificância afeta a tipicidade formal. ( )

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Márcio André Lopes Cavalcante | 20

5) (Promotor MPDF 2013) Os princípios da insignificância penal e da adequação social se identificam, ambos caracterizados pela ausência de preenchimento formal do tipo penal. ( )

6) (Juiz/TJMG -2009) A tipicidade material surgiu para limitar a larga abrangência formal dos tipos

penais, impondo que, além da adequação formal, a conduta do agente gere também relevante lesão ou perigo concreto de lesão ao bem jurídico tutelado. ( )

7) (Promotor MPAC 2014 CESPE) Para a aplicação do princípio da insignificância, exige-se a

satisfação de um único requisito: ausência de periculosidade social da ação. ( )

8) (Promotor/GO – 2010) A tipicidade material do fato depende, dentre outros requisitos, da existência de resultado jurídico relevante e da imputação objetiva da conduta. ( )

9) (DPE/TO 2013 CESPE) A aplicação do princípio da insignificância de modo a tornar a ação atípica

exige a satisfação, de forma concomitante, de certos requisitos estabelecidos pelo STF, os quais têm relação, apenas, com o desvalor da conduta do agente, e não com o resultado por ele ocasionado. ( )

10) (OAB – set/2012) Em relação ao princípio da insignificância, assinale a afirmativa correta.

a) O princípio da insignificância funciona como causa de exclusão da culpabilidade. A conduta do agente, embora típica e ilícita, não é culpável. b) A mínima ofensividade da conduta, a ausência de periculosidade social da ação, o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica constituem, para o Supremo Tribunal Federal, requisitos de ordem objetiva autorizadores da aplicação do princípio da insignificância. c) A jurisprudência predominante dos tribunais superiores é acorde em admitir a aplicação do princípio da insignificância em crimes praticados com emprego de violência ou grave ameaça à pessoa (a exemplo do roubo). d) O princípio da insignificância funciona como causa de diminuição de pena.

11) (PGDF 2013 CESPE) Segundo a jurisprudência do STF e do STJ, a aplicação do princípio da

insignificância no direito penal está condicionada ao atendimento, concomitante, dos seguintes requisitos: primariedade do agente, valor do objeto material da infração inferior a um salário mínimo, não contribuição da vítima para a deflagração da ação criminosa, ausência de violência ou grave ameaça à pessoa. ( )

12) (Promotor MP/MS 2013) O princípio da insignificância pode ser aplicado no plano abstrato. ( ) 13) (Promotor MP/MG 2007) O princípio da insignificância atua como:

a) instrumento de mensuração da ilicitude da conduta; b) interpretação restritiva do tipo penal; c) limitação da culpabilidade do agente; d) extinção da punibilidade; e) diminuição da pena.

14) (Promotor MP/MS 2013) O princípio da insignificância atua como instrumento de interpretação

restritiva do tipo penal. ( )

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Princípio da insignificância | 21

15) (Promotor MPAC 2014 CESPE) No que se refere à aplicação do princípio da insignificância, o STF tem afastado a tipicidade material dos fatos em que a lesão jurídica seja inexpressiva, sem levar em consideração os antecedentes penais do agente. ( )

16) (Promotor MPAC 2014 CESPE) A reiteração delitiva impede a aplicação do princípio da insignificância em razão do alto grau de reprovabilidade do comportamento do agente. ( )

17) (DPE/TO 2013 CESPE) A existência de condenações criminais pretéritas imputadas a um indivíduo

impede a posterior aplicação do princípio da insignificância, consoante a jurisprudência do STF. ( )

18) (Promotor MPAC 2014 CESPE) É atípica a conduta infracional análoga ao crime de furto simples de uma lâmpada, cujo valor é ínfimo, em razão do princípio da insignificância, aplicável ainda que se trate de adolescente contumaz na prática de atos infracionais contra o patrimônio. ( )

19) (Juiz Federal/TRF1 – 2011) O princípio da insignificância tem incidência, apenas, nas condutas tipificadas como infração penal de menor potencial ofensivo, que, por si só, possuem valoração legislativa acerca do desvalor da ação e do resultado, por meio da proporcional e adequada reprimenda à lesão ao bem jurídico protegido, sendo este o substrato legal na aplicação do princípio. Os demais crimes, por serem social e penalmente relevantes, afastam a incidência do referido princípio. ( )

20) (Promotor MPMT 2014 – adaptada) No que concerne ao princípio da insignificância, só é

admissível em crimes de menor potencial ofensivo. ( )

21) (Juiz/TJTO – CESPE – 2007) O pequeno valor da res furtiva, por si só, autoriza a aplicação do princípio da insignificância. ( )

22) (Juiz TJDFT 2012) Nos termos do entendimento atualmente pacificado pelos Tribunais Superiores,

o princípio da insignificância deve ter como parâmetro apenas o valor da res furtiva, sendo prescindível a análise das circunstâncias do fato e o reflexo da conduta do agente no âmbito da sociedade para decidir sobre seu efetivo enquadramento na hipótese de crime de bagatela. ( )

23) São sinônimas as expressões “bem de pequeno valor” e “bem de valor insignificante”, sendo a

consequência jurídica, em ambos os casos, a aplicação do princípio da insignificância, que exclui a tipicidade penal. ( )

24) (DPDF 2014 – prova oral) Jorge, réu reincidente, foi condenado em primeiro grau à pena de dois

anos de reclusão em regime fechado por furto consumado de uma garrafa de vodka de dentro de um supermercado, avaliada em R$ 80,00. Toda a ação de Jorge foi acompanhada por agentes de segurança que monitoravam seus movimentos por câmeras de circuito interno de vídeo. Imediatamente ao sair do supermercado sem pagar a garrafa de vodka, Jorge foi preso em flagrante delito pelos agentes de segurança do estabelecimento comercial. Considerando-se as circunstâncias do furto, seria possível alegar-se na defesa de Jorge o princípio da insignificância?

25) (Analista STF – CESPE – 2008) É cabível a aplicação do princípio da insignificância para fins de trancamento de ação penal em que se imputa ao acusado a prática de crime de descaminho. ( )

26) (Promotor MPAC 2014 CESPE) Independentemente do valor do tributo sonegado em decorrência

de crime de descaminho, é possível a aplicação do princípio da insignificância. ( )

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Márcio André Lopes Cavalcante | 22

27) (Juiz Federal TRF2 2013 CESPE) No crime de descaminho, não se admite a incidência do princípio

da insignificância, sob pena de isso facilitar a sonegação fiscal. ( )

28) (Analista STF – CESPE – 2008) Uma vez aplicado o princípio da insignificância, que deve ser analisado conjuntamente com os postulados da fragmentariedade e da intervenção mínima do Estado, a própria tipicidade penal, examinada na perspectiva de seu caráter material, é afastada ou excluída. ( )

29) (Analista MPU – CESPE – 2010) De acordo com entendimento jurisprudencial, não se aplica o

princípio da insignificância aos crimes ambientais, ainda que a conduta do agente se revista da mínima ofensividade e inexista periculosidade social na ação, visto que, nesse caso, o bem jurídico tutelado pertence a toda a coletividade, sendo, portanto, indisponível. ( )

30) (Promotor MPAC 2014 CESPE) Segundo entendimento consolidado do STJ, não é possível a

aplicação do princípio da insignificância aos tipos penais que tutelam a proteção ao meio ambiente, em razão da necessidade de proteção ao direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. ( )

31) (Juiz Federal/TRF2 – 2009) Em decisões recentes, o STJ tem entendido inaplicável o princípio da

insignificância nos crimes contra a administração pública, ainda que o valor econômico da lesão possa ser considerado ínfimo, porque a norma busca resguardar não somente o aspecto patrimonial, mas a moral administrativa. ( )

32) (DPU – CESPE – 2010) Considere a situação hipotética em que Ricardo, brasileiro, primário, sem

antecedentes, 22 anos de idade, e Bernardo, brasileiro, 17 anos de idade, de comum acordo e em unidade de desígnios, tenham colocado em circulação, no comércio local de Taguatinga/DF, seis cédulas falsas de R$ 50,00, com as quais compraram produtos alimentícios, de higiene pessoal e dois pares de tênis, em estabelecimentos comerciais diversos. Considere, ainda, que, ao ser acionada, a polícia, rapidamente, tenha localizado os agentes em um ponto de ônibus e, além dos produtos, tenha encontrado, na posse de Ricardo, duas notas falsas de R$ 50,00 e, na de Bernardo, uma nota falsa de mesmo valor, além de R$ 20,00 em cédulas verdadeiras. Na delegacia, os produtos foram restituídos aos legítimos proprietários, e as cédulas, apreendidas. Nos termos da situação hipotética descrita e com base na jurisprudência dos tribunais superiores, admite-se a prisão em flagrante dos agentes, considera-se a infração praticada em concurso de pessoas e, pelas circunstâncias descritas e ante a ausência de prejuízo, deve-se aplicar o princípio da insignificância. ( )

33) (Juiz Federal/TRF1 – 2009) Ainda que seja a nota falsificada de pequeno valor, descabe, em princípio, aplicar ao crime de moeda falsa o princípio da insignificância, pois, tratando-se de delito contra a fé pública, é inviável a afirmação do desinteresse estatal na sua repressão. ( )

34) (Procurador BACEN 2013 CESPE) Ao delito de emissão de vinte e cinco moedas falsas nos valores

de dois reais é aplicável o princípio da insignificância, em face da inexistência de grave prejuízo ao sistema financeiro e da observância de princípios constitucionais aplicáveis aos crimes. ( )

35) (Juiz Federal TRF2 2013 CESPE) Aquele que fabricar uma nota de cinco reais similar à verdadeira

não poderá ser beneficiado pela incidência do princípio da insignificância, ainda que seja primário e de bons antecedentes. ( )

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Princípio da insignificância | 23

36) (Promotor/PI – CESPE – 2012) Tratando-se de crime de contrabando, aplica-se, conforme o montante do imposto sonegado, o princípio da insignificância. ( )

37) (Juiz Federal/TRF2 – 2011) O crime de contrabando não se caracteriza enquanto não houver decisão definitiva no processo administrativo fiscal acerca da constituição do tributo devido, admitindo-se, em juízo, a incidência do princípio da insignificância. ( )

38) (Promotor MPAC 2014 CESPE) Em se tratando do crime de contrabando, é possível a aplicação do princípio da insignificância. ( )

39) (Juiz/TJPA – 2012) Aplica-se o princípio da insignificância ao crime de estelionato, ainda que cometido em detrimento de entidade de direito público. ( )

40) (Juiz/TJPA – 2012) A tentativa de furto de bens avaliados em R$ 400,00 sempre enseja a aplicação do princípio da insignificância ante o inexpressivo valor da res furtiva. ( )

41) (Juiz/TJES – CESPE – 2012) A jurisprudência do STJ é firme no sentido da aplicabilidade do princípio da insignificância ao delito de moeda falsa, caso o valor das cédulas falsificadas não ultrapasse a quantia correspondente a um salário mínimo. ( )

42) (Juiz/TJES – CESPE – 2012) A aplicação do princípio da insignificância, que deve ser analisado em conexão com os postulados da fragmentariedade e da intervenção mínima do Estado, objetiva excluir ou afastar a própria tipicidade penal, examinada na perspectiva de seu caráter material. ( )

43) Segundo a jurisprudência do STJ, é aplicável o princípio da insignificância ao peculato, desde que o prejuízo causado ao erário não ultrapasse um salário mínimo e o agente seja primário. ( )

44) (Juiz Federal TRF5 CESPE – 2011) O comércio de cópias grosseiras de CDs e DVDs em centros urbanos, para o sustento próprio do agente e de sua família, impõe a aplicação dos princípios da insignificância e da adequação social e conduz à atipicidade da conduta, em tese violadora de tipo penal protetivo da propriedade imaterial. ( )

45) (Juiz TRT1 2010) Conforme iterativa jurisprudência do STJ, o fato de se tratar de furto qualificado constitui motivação suficiente para impedir a aplicação do princípio da insignificância. ( )

46) (Promotor MP/MS 2013) Segundo o STJ, em caso de apreensão de quantidade ínfima de cocaína é possível o trancamento da ação penal, com base no princípio da insignificância. ( )

47) (DPE/TO 2013 CESPE) Os princípios da insignificância e da irrelevância penal do fato não contam com previsão expressa no direito penal brasileiro. ( )

48) (DPE/TO 2013 CESPE) Infração bagatelar imprópria é a que surge sem nenhuma relevância penal, porque não há desvalor da ação ou um relevante desvalor do resultado que mereça a incidência do direito penal. ( )

Gabarito

1. C

2. C

3. C

4. E

5. E

6. C

7. E

8. C

9. E

10. B

11. E

12. E

13. B

14. C

15. E

16. C

17. C

18. E

19. E

20. E

21. E

22. E

23. E

24. -

25. C

26. E

27. E

28. C

29. E

30. E

31. C

32. E

33. C

34. E

35. C

36. E

37. E

38. 3

39. E

40. E

41. E

42. C

43. E

44. E

45. E

46. E

47. E

48. E