É mais fácil, para quem tem um encontro verdadeiro, acabar ficando triste pela certeza da fluidez...

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É mais fácil, para quem tem um encontro verdadeiro, acabar ficando triste pela certeza da fluidez da felicidade vivida do que sair cantando a alegria da felicidade trocada. Texto: Arthur da Távola

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Page 1: É mais fácil, para quem tem um encontro verdadeiro, acabar ficando triste pela certeza da fluidez da felicidade vivida do que sair cantando a alegria

É mais fácil, para quem tem um encontro verdadeiro, acabar ficando

triste pela certeza da fluidez da felicidade vivida do que sair cantando

a alegria da felicidade trocada.

Texto: Arthur da Távola

Page 2: É mais fácil, para quem tem um encontro verdadeiro, acabar ficando triste pela certeza da fluidez da felicidade vivida do que sair cantando a alegria

Cada encontro está carregado de perda.

Ou de perdas.

As vezes duas pessoas que se amam (amigos, casados,

solteiros, amantes, namorados) se encontram e

são felizes.

Page 3: É mais fácil, para quem tem um encontro verdadeiro, acabar ficando triste pela certeza da fluidez da felicidade vivida do que sair cantando a alegria

Ao fim da felicidade, um deles chora. Ou fica triste. Ou baixa os olhos. Ou é invadido por uma inexplicável

melancolia.

É a perda que está escondida no deslumbramento de cada encontro.

Page 4: É mais fácil, para quem tem um encontro verdadeiro, acabar ficando triste pela certeza da fluidez da felicidade vivida do que sair cantando a alegria

O encontro humano é tão raro que mesmo quando ocorre, vem carregado de todas as experiências de desencontros anteriores.

Quando você está perto de alguém e não consegue expressar tudo o que está claro e simples na sua

cabeça, você está tendo um desencontro.

Page 5: É mais fácil, para quem tem um encontro verdadeiro, acabar ficando triste pela certeza da fluidez da felicidade vivida do que sair cantando a alegria

Aquela pessoa que lhe dá um extremo cansaço de explicar as coisas é alguém

com quem você se desencontra.

Page 6: É mais fácil, para quem tem um encontro verdadeiro, acabar ficando triste pela certeza da fluidez da felicidade vivida do que sair cantando a alegria

Aquela a quem você admira tanto, que lhe impede de falar, também é um agente de desencontro, por mais encontros que você tenha com as causas da sua admiração por ele.

Page 7: É mais fácil, para quem tem um encontro verdadeiro, acabar ficando triste pela certeza da fluidez da felicidade vivida do que sair cantando a alegria

A pessoa que só pensa naquilo em que vai falar e não naquilo que você está dizendo para ela é

alguém com quem você se desencontra.

Alguém que o ama ou o detesta, sem nunca ter sofrido a seu lado, é alguém desencontrado de você.

Page 8: É mais fácil, para quem tem um encontro verdadeiro, acabar ficando triste pela certeza da fluidez da felicidade vivida do que sair cantando a alegria

Cada desencontro é perda porque é a irrealização do que teria sido uma possibilidade de afeto.

É a experiência de desencontros que ensina o valor dos raros encontros que a vida permite. A própria vida é uma espécie de ante-sala do grande encontro (com o

todo? o nada?).

Page 9: É mais fácil, para quem tem um encontro verdadeiro, acabar ficando triste pela certeza da fluidez da felicidade vivida do que sair cantando a alegria

Por isso talvez ele nada mais seja do que uma provocação de desencontros preparatórios da

penetração na essência do Ser.

Page 10: É mais fácil, para quem tem um encontro verdadeiro, acabar ficando triste pela certeza da fluidez da felicidade vivida do que sair cantando a alegria

Mas por isso ou por aquilo, cada encontro está carregado de perda.

E no ato de sentir-se feliz associa-se a idéia do passageiro que é tudo, do amanhã cheio de

interrogações, da exceção que aquilo significa.

A partir daí, uma tristeza muito particular se instala.

Page 11: É mais fácil, para quem tem um encontro verdadeiro, acabar ficando triste pela certeza da fluidez da felicidade vivida do que sair cantando a alegria

A tristeza feliz. Tristeza feliz é a que só surge depois dos encontros

verdadeiros, tão raros hoje em dia.

Encontros verdadeiros são os que se realizam de ser para ser e não de inteligência para inteligência ou de

interesse para interesse.

Os encontros verdadeiros prescindem de palavras, eles realizam em cada pessoa, a parte delas que se sublimou,

ficou pura, melhor, louca, mas a parte que responde a carências e às certezas anteriores aos fatos.

Page 12: É mais fácil, para quem tem um encontro verdadeiro, acabar ficando triste pela certeza da fluidez da felicidade vivida do que sair cantando a alegria

É mais fácil, para quem tem um encontro verdadeiro, acabar triste pela certeza da fluidez da felicidade vivida, do que sair

cantando a alegria da felicidade vivida ou trocada.

Quem se alegra demais se distancia da felicidade.

Page 13: É mais fácil, para quem tem um encontro verdadeiro, acabar ficando triste pela certeza da fluidez da felicidade vivida do que sair cantando a alegria

Felicidade está mais próxima da paz que da alegria, do silêncio do que da festa. Felicidade está perto da

tristeza, porque a certeza da perda se instala a cada vez que estamos felizes.

É esta certeza - a da perda - que provoca aquela lágrima ou aquela angústia que se instala após os verdadeiros

encontros.

Page 14: É mais fácil, para quem tem um encontro verdadeiro, acabar ficando triste pela certeza da fluidez da felicidade vivida do que sair cantando a alegria

Há sempre uma despedida em cada alegria.

Há sempre um depois após cada felicidade.

Page 15: É mais fácil, para quem tem um encontro verdadeiro, acabar ficando triste pela certeza da fluidez da felicidade vivida do que sair cantando a alegria

Há sempre uma saudade antecipada na hora de cada encontro.

Disso só se salva quem se cura, quem deixa de estar feliz para ser feliz, ou seja, quem passa do estar

para o ser.

Page 16: É mais fácil, para quem tem um encontro verdadeiro, acabar ficando triste pela certeza da fluidez da felicidade vivida do que sair cantando a alegria

Elaborado por DisantyParticipação de Ruth Jacobsen

Musica: Edgar W Froese - Dome of the Yellow Turtles

Imagens: Arquivo próprioTexto: Arthur da TávolaSão Bernardo do Campo

São PauloBrasil