dureza da lei nos deixa sem graÇa - vÓl ii

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1 MEDITAÇÕES: A DUREZA DA LEI NOS DEIXA “SEM GRAÇA” – VOL II

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MEDITAÇÕES: A DUREZA DA LEI NOS

DEIXA “SEM GRAÇA” – VOL II

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2

Neli Cavalcante

Assessoria jurídica Especialista em Leis Cristãs

R. Aureliano Coutinho, 228 / 04

Embaré – Santos- Cep: 11.040- 240

Tel. 32314759- 91780437 E-mail: [email protected]

“e te restituirei os teus juízes, como eram dantes, e os teus

conselheiros, como no princípio, então serás chamada cidade

de justiça, cidade fiel”.1

1 Isaías 1:26.

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Dedicatória:

À Deus, pois justiça e juízo são a base do Seu trono.

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1. Prefácio

Querida (o) amiga (o), sedenta (o) e faminta (o) de JUSTIÇA

Deixo aqui para sua reflexão, de maneira simples, alguns retalhos

escritos, algumas sementes, para que germinem e dêem frutos ao

seu coração, certamente inconformado com a injustiça, com a

hipocrisia e o desamor. Seja cada uma dessas sementes, água de Deus para regar a sua alma.

Livres de cercas religiosas, encontramos Deus fora do status quo,

fora do padrão religioso estabelecido, que como revela o Apocalipse é uma verdadeira prisão e uma astuta armadilha anti-Cristo.

Encontramos o Poderoso fora dos dogmas, dos rituais vazios, a

exemplo de Martinho Lutero e tantos outros que ousaram questionar

o que está pré-estabelecido, como ensinou Kant, como denunciou Kierkegaard, e outros tantos filósofos, como também Sto Agostinho,

Aquino e outros, que explicaram a fé pela lógica, e aí descobrimos a

virtude, o que é santo e justo, e entendemos também o que falou

Sócrates: “Só sei que nada sei”. A exemplo de tantos mártires, nos

ocupamos em tornar os textos bíblicos populares, como é o propósito de Deus em oposição à religião, esta que é umas das maiores

desgraças da humanidade (se não for a maior), e que divide os

homens que Jesus veio para unir. É impressionante como este nome,

que é acima de todo o nome que se nomeia, provoca tempestades e escandaliza, pois veio testificar que as nossas obras são más.

Descobrimos enfim, de maneira maravilhosa, que este Jesus Bíblico,

que não pertence a nenhuma religião, mas ao que crê, este que

divide a humanidade em antes e depois, o Verbo que se fez carne, O Homem que habitou entre nós, é também Deus (o único), de

eternidade à eternidade. Jesus não é religião, mas a única

oportunidade para o relacionamento do homem com Deus. A sua

ressurreição foi o fato mais extraordinário da humanidade e é

fartamente comprovado pela história.

Eis o nosso fundamento, a nossa Fonte Primeira: “Pois ninguém pode

pôr outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus

Cristo”.2

Há outro que tenha ressuscitado?

Observemos para tirar as nossas conclusões: A Bíblia tem 40 livros que foram escritos por 66 autores. Todos estes viveram em épocas

totalmente diferentes, eram pessoas de personalidade, cultura, idade,

sexo, nações diferentes totalmente uma da outra, porém falaram

sobre as mesmas coisas; uma coisa testifica da outra, se encaixa na

2 I aos Cor 3:11.

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outra com uma exatidão espantosa. Qual o livro que demora séculos

para ser escrito? Qual livro é o best-seller do mundo? Qual livro que

termina de ser escrito hoje, sem estar já ultrapassado? Qual o livro

que fala com todos, nos quatro cantos do mundo da mesma maneira, que desperta o rico e o pobre, o sábio e o iletrado, sem fazer

acepções? Quais as leis que estão inseridas em todos os seguimentos

das sociedades, em todos os tempos? Se assim é, como poderia

alguém imaginar que estas são palavras de homem? “Pois os seus

atributos invisíveis, o seu eterno poder e divindade, são claramente

vistos desde a criação do mundo, sendo percebidos mediante as

coisas criadas, de modo que eles são inescusáveis;”.3

Escrevemos sob o comando de Deus, que certa feita me deu uma

caneta e um livro de ouro (visões espirituais), me instruindo para

escrever as coisas divinas que Ele me inspiraria. Recomendo que

antes de se expor à leitura, o leitor peça a Deus que lhe revele ao espírito4 o que Ele quer dizer, já que os textos têm as Leis de Deus

como fundamento, pois a Bíblia não se interpreta, mas se recebe

revelação do Espírito Santo de Deus. E também não há segundo a

Bíblia5 interpretações sobre os textos, mas sim revelações, pois a Palavra se renova a cada dia. Coloco aqui um trecho de um livro de

Ellen White6 para somar ao que acabamos de falar:

(p.8) A Bíblia aponta a Deus como seu autor; no entanto, foi escrita por mãos humanas e, no variado estilo de seus diferentes livros,

apresenta as características dos diversos escritores. As verdades

reveladas são oferecidas por inspiração de Deus (“16 Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para

repreender, para corrigir, para instruir em justiça;7”); acham-

se, contudo, expressas em palavras de homens. O Ser Infinito, por

meio de Seu Santo Espírito, derramou luz no entendimento e coração de Seus servos. Deu sonhos e visões, símbolos e figuras; e aqueles a

3 Romanos 1:20.

4 Se o seu espírito ainda não está recriado, leia João I e vai entender que o que crê na obra da cruz de

Cristo, se torna filho depois da confissão dos lábios (Romanos 10:9,10) e o seu nome será escrito pelo dedo de Deus no Livro da Vida (Apocalipse 21:27). Peça então perdão pelos pecados, para quebrar as maldições sobre a sua vida, renuncie a todos os outros deuses (objetos de proteção ou de sorte, imagens, ídolos, filosofias), passe a crer no único Deus e tenha então a partir daí a comunicação direta com o Senhor dos Senhores através da recriação do seu espírito que foi morto no Jardim do Éden, onde se seu a separação entre o homem e o seu Criador. Será então este, o seu novo nascimento como filho de Deus, enfrentando a partir daí a pior guerra que alguém pode enfrentar que é contra o diabo (o príncipe deste mundo). Também, a sua velha natureza que vai continuar morando dentro de você junto com a outra que acabou de nascer, vai se opor a tudo o que vem de Deus, concordando também com o mundo e todos os seus atrativos e tentações. Se perseverar e resistir até o fim, será salvo. Não podemos deixar de frisar que Jesus passará a ser o seu advogado (Ele é invicto) e completará a sua força em cada batalha (vai completar, e não fazer o que compete a você fazer). Eu oro para que você aproveite esta extraordinária oportunidade que Jesus lhe deu, não se rendendo a nenhum suborno. O preço para o seu resgate foi caríssimo e indizível, assim como a promessa de Deus para sua vida. 5 II a Pedro 1:20,21. 6 Ellen G. White; Tradução: Hélio L. grellmann; Casa Publicadora Brasileira; Tatuí/SP; 7ª Ed. 7 II Timóteo 3:16

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quem a verdade foi assim revelada concretizaram os pensamentos

em linguagem humana. Escritos em diferentes épocas, por homens

que diferiam amplamente em posição e ocupação, tanto quanto em capacitação mental e espiritual, os livros da Bíblia apresentam amplo

contraste quanto ao estilo, assim como diversidade no tocante à

natureza dos assuntos desvendados. Diferentes formas de expressão foram empregadas por distintos escritores; muitas vezes a mesma

verdade é apresentada de modo mais marcante por um escritor do

que por outro. À medida que várias escritores apresentam o mesmo

tema sob variados aspectos e relações, poderá parecer, ao leitor superficial, descuidado ou preconceituoso, que entre estes autores

existem discrepâncias ou contradições; ao mesmo tempo, porém, o

estudioso pensante e reverente. Com visão interior mais clara, discernirá aí a harmonia subjacente.

A Bíblia é a fonte primeira, é a bússola, o endereço de Deus, onde

está impressa a PALAVRA DE DEUS, que é o Verbo que se fez carne e habitou entre nós.8 Ele vai voltar para buscar os que creram: “Eu sou

o Alfa e o Ômega, diz o Senhor Deus, aquele que é, e que era, e que

há de vir, o Todo-Poderoso”.9 Seria bom que cada um colocasse em ordem os seus “documentos”

para estarem prontos para partir com Ele para eternidade a qualquer

momento. Para isso, basta crer que Ele (Jesus) é o único caminho

para se chegar a Deus, confessar isto com a boca,10 arrependido dos seus pecados e consciente que não é suficiente, mas dependente

deste que o criou (não deixe de observar que estamos falando do

Cristo Bíblico e não o das Igrejas): “Porque muitos virão em meu

nome, dizendo: Eu sou o Cristo; a muitos enganarão”.11

2. Oração:

Esta é a oração que Paulo fazia e que agora faremos por você: “17

Para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos

dê em seu conhecimento o espírito de sabedoria e de revelação; 18tendo iluminados os olhos do vosso entendimento, para que

saibais qual seja a esperança da sua vocação, e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos; 19E qual a sobre excelente

grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a

operação da força do seu poder”. 12

E que a paz de Deus, que excede todo o entendimento possa reinar

em seu coração. Com amor, Neli.

8 João 1. 9 Apocalipse 1:8. 10

Romanos 10:8/13. 11

Mateus 24:5. 12 Efésios 1:17/19.

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3. Monografia

Quero deixar aqui também, o resumo, o sumário, a introdução e a conclusão da minha monografia. São mais de 500 páginas depois de

bem resumida pelo orientador. Grifo aqui o sumário para que o leitor

possa ter uma visão geral do todo, e se sentir o desejo de lê-la na

íntegra, solicite, que terei prazer em atendê-lo. Assim o faço, primeiro pelo assunto que debato constantemente e quero sempre o

tornar público, e segundo porque neste resumo da minha trajetória

este texto monográfico é o motivo principal de Deus ter me enviado à

Faculdade de Direito.

3.a Título da Monografia

Conflitos Interpretativos Entre Direito Natural E Direito Posto Às Condutas Religiosas13

13 Monografia apresentada por Neli Cavalcante à banca examinadora da UNISANTOS

(Santos/SP), sob a orientação do Profº Ricardo Galvanese, e tendo como eExaminadora: Profª Miriam.

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3.b Resumo

Conflitos Interpretativos entre Direito Natural e Direito Posto Relativo

às Condutas Religiosas, prioriza essencialmente analisar a relação

entre a objetividade das regras jurídicas e os imperativos de

consciência gerados naquele que fundamenta sua fé nos evangelhos de Jesus Cristo, tendo como fonte de direito principal a Palavra de

Deus. Como exemplo principal, a partir do qual se evidencia esta

problemática, foi utilizando o artigo 208 do Código Penal, analisando

o que realmente pode tipificar o ultraje a culto, sem ferir princípios

básicos da fé de um fiel. Tal análise revelou então as seguintes questões centrais: Quais as possibilidades juridicamente intrínsecas e

teologicamente extrínsecas deste artigo que tipificam a conduta de

ultraje a culto? Quais as conseqüências viabilizadas por este tipo

penal, dada à inobservância de suas particularidades intrínsecas e extrínsecas? Quais são as respostas para os conflitos interpretativos

entre a Lei natural, Divina, e o Direito Posto?

A pesquisa deste trabalho atesta não ser possível compreender de forma simplista as problemáticas supramencionadas, posto que

reclama regulamentação urgente na Lei Posta. O desenvolvimento

deste estudo visa, portanto, ampliar e reivindicar o direito do “fiel”

(às leis cristãs) que é intimidado pela lei humana no momento de

expressar sua fé e segui-la acima de tudo e de todos, conforme o mandamento das Leis Sagradas. Conclui que o fiel se encontra sem o

devido amparo jurídico, necessitando o judiciário de peritos nesta

área, bem como de uma legislação especial: “O Estatuto do Fiel”,

firmando-se, assim, para este jurisdicionado, a Justiça na sua exata medida.

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3.c Sumário

INTRODUÇÃO.................................................................................15 O JULGAMENTO DE JESUS E DE PAULO...............................................29

O ENTRELAÇAMENTO DAS LEIS..........................................................39

1 –LIBERDADE DE EXPRESSÃO......................................................45

1.1 COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO......................................................48

1.2 ABUSO DE AUTORIDADE: LIBERDADE DE CULTO E LIBERDADE DE

CONSCIÊNCIA E DE CRENÇA..............................................................52 1.3 LIBERDADE DE CULTO E LITÍGIO DE CRENTES X CRENTES NO

TRIBUNAL........................................................................................56

1.4 LIBERDADE DE EXPRESSÃO.........................................................56

II. MORAL E ÉTICA........................................................................58

2.1 OS AGENTES MORAIS.................................................................60

2.2 O CARÁTER SOCIAL DA MORAL....................................................61 2.3 A FUNÇÃO SOCIAL DA MORAL......................................................62

2.4 A ATITUDE ANTIÉTICA E ILEGALIDADE.........................................62

III. RELIGIÃO E LEI: Direito Natural e Direito Divino....................64

3.1 A VISÃO DE SANTO AGOSTINHO ................................................65

3.2 A VISÃO DE SÃO TOMAZ DE AQUINO...........................................69 3.3 A VISÃO DE HUGO GRÓCIO.........................................................74

3.4 A VISÃO DE THOMAS HOBBES......................................................75

3.5 A VISÃO DE JOHN LOCKE.............................................................76

3.6 A VISÃO DE BARUCH SPINOSA.....................................................76 3.7 A ISÃO DE SAMUEL PUFFENDORF..................................................77

3.8 A VISÃO DE GOTTFRIED WILHELM LEIBINIZ.................................78

3.9 A VISÃO DE IMMANUEL KANT.......................................................79 3.10 PAUL-MICHEL FOUCAULT/ FILÓSOFO FRANCÊS.............................80

3.11 A VISÃO DE SOREN AABYE KIERKEGAARD..................................83

IV – DIREITO DIVINO COMO DIREITO NATURAL E O DIREITO

POSTO............................................................................................85

4.1 A DUALIDADE DAS LEIS: A LEI DIVINA E A LEI DOS HOMENS...........85

4.2 A NECESSÁRIA INSPIRAÇÃO DIVINA NAS LEIS DOS HOMENS...........99 4.3 É POSSÍVEL, AO HOMEM, A JUSTIÇA IDEAL?................................100

V – O JUSTO LEGAL E O JUSTO NATURAL E A INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS JURÍDICAS.....................................................................106

5.1 A PERSPECTIVA CRISTÃ.............................................................106

5.2 A INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS JURÍDICAS...............................115 5.3 CONFLITOS INTERPRETATIVOS...................................................117

5.4 INFLUÊCIA DO DIREITO NATURAL NA APLICAÇÃO DA JUSTIÇA.......125

VI – DIREITO DIVINO, DIREITO POSTO E O ARTIGO 208 DO CÓDIGO PENAL BRASILEIRO......................................................................129

6.1 O CASO DO TUPI PAULISTA........................................................139

6.2 O CÓDIGO CIVIL E AS IGREJAS..................................................154 6.3 O JUIZ, O FIEL E A CONSTITUIÇÃO FEDERAL................................177

6.4 A INTENÇÃO DO LEGISLADOR....................................................186

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CONCLUSÃO.................................................................................190

O NOVO CÓDIGO CIVIL E AS IGREJAS..............................................201 PROPOSTAS DE MUDANÇAS PARA A LEGISLAÇÃO VIGENTE................202

JULGAMENTO PRÉVIO......................................................................203

A ARBITRAGEM...............................................................................205 INVOCA-SE JUSTIÇA........................................................................209

REFERÊNCIAS BIBIOGRÁFICAS........................................................213

ANEXOS........................................................................................218 ANEXO Nº 1 (Jesus no Contrafluxo da história )..................................219

ANEXO Nº 2 (Desabafo)...................................................................232

ANEXO Nº 3 (Direito à comunicação/ Defesa fundamental) .................236 ANEXO Nº 4 (Temática Religiosa: 1º Tema: Liberdade de culto/ 2º Crentes

x crentes no Tribunal) .....................................................................241

ANEXO Nº 5 (Submissão nada bíblica) ..............................................245 ANEXO Nº 6 (Mestre invisível) .........................................................252

ANEXO Nº 7 (Bíblias na biblioteca) ...................................................257

ANEXO Nº 8 (Conflito dentro do próprio direito) .................................259

ANEXO Nº 9 (Adultério/ Crime: Violenta emoção ou torpe vingança?).....................................................................................274

ANEXO Nº 10 (Charlatanismo e a loucura do Evangelho).....................282

ANEXO Nº 11 (Casamento) ..............................................................286 ANEXO Nº 12 (Religião x Religião) ...................................................313

ANEXO Nº 13 (Estatutos Evangélicos)................................................316

ANEXO Nº 14 (O Poder Latente da Alma) ..........................................332 ANEXO Nº 15 (Escândalos no Judiciário)............................................335

ANEXO Nº 16 (Escândalos na Igreja) ................................................361

ANEXO Nº 17 (Judiciário e Direitos Humanos).....................................374

ANEXO Nº 18 (Causas da ruínas da igreja)........................................390 ANEXO Nº 19 (A Sociologia Jurídica no Brasil: O saber jurídico e os dilemas

dos anos 80 e 90) ...........................................................................397

ANEXO Nº 20 (Colapso da via judicial trabalhista)...............................405 ANEXO Nº 21 (Zelo) .......................................................................410

ANEXO Nº 22 (Igreja Evangélica) ....................................................416

ANEXO Nº 23 (Reflexão dos pensadores)...........................................421

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3.d Introdução

Temos pedido a Deus que nos guie pela vereda direita, por amor do

Seu Nome, que nos é acima de todo o nome que se nomeia, pelos

séculos dos séculos, em relação a todas as coisas, incluindo este

trabalho. Seja tudo escrito para edificação e sob a proteção de Deus,

a exemplo do comando do Preâmbulo da nossa Constituição. Este é um assunto que nos queima no peito, como outros: divórcio,

adultério, aborto, frutos da desagregação familiar, porém, tudo isso,

a nosso ver, está diretamente relacionado à inoperância da Igreja de

Cristo, aos embusteiros que se sentam na “cadeira de Moisés”, que traduzem o caráter de Deus de forma torcida aos olhos dos homens,

os ensinando a serem cada vez mais a andarem distante da justiça:

“... têm aparência de piedade, mas negando-lhe o poder”.14

“Visto que não conheceram a justiça de Deus, e procuraram

estabelecer a sua própria justiça, não se sujeitaram a que vem de Deus”.15

É muito fácil fazer cara de contrito e cumprir todos os rituais vazios,

porém o único documento eficaz serão “os frutos”: “Conhecereis

pelos frutos16”, e não por qualquer coisa outra que não sejam um

comportamento são, um coração puro, simples, que seja capaz de

amar o seu inimigo e orar por este que o persegue; que seja capaz

de suportar injustiças para que se implante o reino de Deus na terra,

para que os homens parem de sofrer sem saber porque estão sofrendo, de correr atrás de vento, de ilusão e de vaidades, porque

(...) ”tudo é vaidade”17, como disse o sábio Salomão.

Sabe-se, através das Escrituras Sagradas que a Igreja de Cristo é a que deve prestar contas a Deus, pois se Ele deu a terra aos filhos dos

homens18, estes a entregaram a satanás, e depois Jesus veio

resgatar esta terra entregando-a para a Igreja administrar até a sua

volta, é esta quem vai responder sobre o que acontece neste território ao seu dono quando aqui voltar. Porém, não é isto que

temos visto, mas sim o conchavo político da Igreja com o Estado,

perdendo-se assim a essência das leis cristãs nas mãos da “religião”

do status quo, desta que deveria refletir o caráter de Cristo, ao invés de estar “cedendo terras de possessão perpétua em troca de uma

falsa paz”, ou seja, agradando a este ou aquele com pensamentos

humanos, destruindo assim o único caminho, a única verdade e a

14 II a Timóteo 2:5 15 Romanos 10:3. 16

Mateus 7: 20 17

Eclesiastes 1: 2 18 Salmo 115:16.

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única vida que pode dar ao homem a saída do caos em que está

mergulhado:

“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida e ninguém vai ao Pai senão por mim”.19

O Pastor Ricardo Gondin da Igreja Betesda em São Paulo, em seu texto “Jesus no Contrafluxo da História”, relata a sua experiência em

uma palestra em uma universidade, onde foi argüido com

questionamentos terríveis, ferinos, advindos de corações

endurecidos, cansados de suportar a hipocrisia e o “caos” dentro das

Igrejas Cristãs (texto na íntegra no anexo nº 1). Em outra ocasião, escreve o mesmo pastor, um desabafo: não mais pode suportar a

enfadonha mesmice de uma teologia sem nenhuma criatividade, nem

os estereótipos pentecostais, as manifestações emocionais, a falta de

vitalidade espiritual, a falta de beleza artística no meio do povo que se intitula cristão, as vaidades religiosas e tantas outras situações

dentro das igrejas do status quo (texto na íntegra no anexo nº2).

Faz-se aqui, dado a complexidade do assunto, também uma parceria com Francis Schaeffer, em seu livro “A morte da Razão”, onde o autor

fala da pregação sem conteúdo que tem sido oferecido nas igrejas

ditas cristãs, tão distante da essência do que Jesus disse. O termo é

usado hoje em dia como um emblema sem conteúdo a que se convida nossa geração a seguir. Mas não se lhe empresta sentido

racional, bíblico, através do qual se possa testá-lo e, dessa forma, a

palavra está sendo empregada para ensinar exatamente o oposto

daquilo que Jesus ensinou. Se não se entende que a relação básica

do homem é para cima, o homem tem que procurar descobri-la para baixo. Em resumo, diz o autor que o homem sempre busca algo mais,

que vai além da racionalidade e da vida natural, porque isto não o

completa e não responde aos seus questionamentos, e como as

igrejas têm pregado o evangelho sem vida, sem significado, e como os cristãos em sua maioria não vivem o que pregam e os que pregam

o fazem com uma distância enorme dos princípios divinos, pois os

resumem na pequenez e nas limitações humanas. Quase ninguém

assim encontra representantes de Deus para um escape. As igrejas são assim infestadas de pessoas vazias, assim como em cada esquina

nas ruas, e para preencher esse vazio procuram o “andar de cima”,

buscam experiências sobrenaturais, além da racionalidade, e é aí que

entram as drogas, o sexo pervertido e toda forma de vícios, assim

como também vários outros recursos, contanto que os levem a sentir aquilo que um evangelho inoperante jamais vai lhes proporcionar.

Fala o autor:

19

João 14: 6

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13

O homem já morreu. Deus já morreu. A vida se tornou uma

existência sem significado, e o homem não passa de uma roda na

engrenagem. A única via de escape passa por um mundo fantástico

de experiências, drogas, absurdos, pornografia, uma “experiência final” elusiva e de loucura. Se esta mentalidade é a mentalidade do

século vinte, como aconteceu? E como podemos fazer com que a fé

cristã tenha sentido para o mundo de hoje? Dr. Schaeffer, Diretor da

Comunidad L’Abri na Suíça, mostra o histórico de como a arte e a filosofia têm sido o espelho do dualismo existente no pensamento

ocidental desde o tempo da Renascença. Hoje, este dualismo se

expressa no desespero quanto ao descobrir o racional, e no escape

para o mundo não racional que é o único que oferece alguma esperança. Esta tendência é vista na literatura, na arte e na música,

no teatro e no cinema, na televisão e na cultura popular.

As pessoas sofrem “(...) porque lhes faltam o conhecimento

daverdade”20; não de uma aparência, mas da verdade real. E o que

se tem visto nas igrejas senão o que Cristo falou? O fermento dos

fariseus, que é a hipocrisia, gerando seus filhos, os crimes

inomináveis da suposta Igreja de Cristo, onde se pode parecer, mas

nunca “ser”. A ordem é para que se seja uma deslumbrante “espuma”, esta que aparenta, porém, dificilmente alguém tem os

olhos abertos para perceber a astuta cilada do inimigo. O que limpa é

o sabão e não a espuma! A espuma leva a fama, e o sabão, como um

tipo de Cristo, não tem formosura, porém é o que resolve, é o que limpa, é o que salva.

Fala Ken Blue no seu Livro “Abuso Espiritual”21

Quando uma família disfuncional vê que não há espaço na igreja para

as imperfeições dela, acaba encobrindo-as. Todos exibem um riso e

agem com base na doutrina não-falada de que é melhor parecer do

que ser de fato uma família cristã. A dor permanece escondida e não-tratada, fazendo com que uma má situação fique ainda pior. (grifo

nosso).

Rick Joyner, autor de vários livros, profeta da atualidade comenta a

devastação da Igreja nos últimos dias, comparando-a à Guerra Civil

Americana que às vezes parecia que iria destruir a nação inteira. Fala

o Autor no livro “A Colheita“:22

Como foi que a igreja se afastou da verdadeira adoração?

Basicamente foi por adorar a Igreja do Senhor em lugar de adorar o

20

Oséias 4: 6 21

Blue, Ken.Tradução de Healin Spiritul Abuse; Abuso Espirutal, ABU ed;1ª ed; 2000; pág. 74,º3º.. 22

Joyner, Rich. “A Colheita”. RJ;2000;2ª ed; pág.90,§3º.

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14

Senhor da Igreja. A igreja é uma “criatura”, ela foi criada. E foi criada

com um glorioso propósito, o de ser a habitação do Senhor, mas

temos decaído por darmos mais atenção à casa do Senhor do que a Ele. Esta é a raiz do espírito de sectarismo que tem dividido a igreja e

que tem pervertido a adoração. Adoramos o que domina o nosso

coração, e embora todos nós devamos ter a igreja no coração, isso nunca poderia exceder a devoção dada ao Senhor, pois assim

decairíamos da verdadeira adoração para a idolatria.

Homossexualismo é ter relações com parceiro do próprio sexo.

“Homossexualismo espiritual” é também o desejo de ter relações apenas com os da nossa própria espécie. O Senhor referiu-se a isso

como “homo-sectarismo”. Não se trata apenas de um jogo de

palavras – é uma condição extremamente séria da igreja. O sectarismo é centrado em si mesmo, busca seus próprios interesses e

sua autopreservação, e isso é o resultado de uma adoração a si

mesmo.

O Apóstolo Paulo disse que a pessoa pode conhecer em parte, ou

seja, que cada pessoa conhece uma parte, e a justa operação de

cada parte fará a estatura do varão perfeito. Dentro uma visão geral

das coisas, é maravilhoso ver a parte de cada um, porém sabe-se que cada um tem uma parte para executar, e no meio desta parte

que me cabe, está este trabalho. Não se pode deixar de admirar

todos os temas e o trabalho de cada um, porém, cada um tem que

cuidar da sua parte. Seria lastimável que alguém escrevesse algo só para cumprir o programa da faculdade, porque este não iria estar

inteiro no assunto, não seria honesto, mas um feito mecânico,

desprovido da unção. Realmente isto seria muito triste. Apesar do

tema aqui apresentado não ser comum, e ter havido muita dificuldade para conseguir a orientação necessária, é um tema muito

atual e premente, pois há uma lacuna na lei e isto precisa ser

denunciado, analisado, exposto, discutido, sob pena de a sociedade

continuar sofrendo os abusos e percalços que tem ocorrido através desta brecha.

O artigo 208 do Código Penal, tipifica a conduta de ultraje a culto: Art. 208 - Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença

ou função religiosa; impedir ou perturbar Cerimônia ou prática de

culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto

religioso: Pena - detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, ou multa.

Parágrafo único - Se há emprego de violência, a pena é aumentada

de um terço, sem prejuízo da correspondente à violência.

O que vem a ser um ultraje a culto? Para um pastor poderá ser

alguém levantar e opinar sobre o tema da pregação de maneira que

contrarie os seus pensamentos, mesmo que o aparte esteja plenamente respaldado pela Constituição do Reino de Deus. Para este

que está argüindo, questionando, argumentando, pode ser que o

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ultraje seja exatamente o que está sendo dito na pregação

contrariando as Escrituras Sagradas. Formou-se o impasse. O “fiel”, o

membro, o associado como fala o Código Civil nos seus artigos 53 e

ss, que regulam as associações sem fins lucrativos, se quiser seguir o seu Estatuto Maior (A Bíblia), que foi legitimado pelo Estatuto da

Igreja registrado nos órgãos públicos, no qual de maneira unânime,

exemplificando aqui as Igrejas Evangélicas, reza que todas as suas

decisões terão que ser respaldadas pelos evangelhos de Cristo, terá que aborrecer-se a si mesmo e a quem precisar para que cumpra o

1º mandamento e mais importante: “Amar a Deus sobre todas as

coisas”23 (inclusive sobre os pastores, o Estado ou qualquer homem

na terra). (Grifo nosso)

Segundo as jurisprudências a respeito deste artigo, apesar de

estarmos cientes de que a grande maioria dos incidentes não estão

registradas, pois quem está sofrendo esta perseguição, normalmente é um cristão, e este, via de regra, sabe como resolver estas situações

sem chegar a extremos, outros porque se amedrontam e recuam,

pois a pressão e as ameaças são insanas e difíceis de suportar, ou

ainda porque, guiados pelo dedo de Deus, retrocedem e entregam

para Ele a causa: “É minha a vingança, eu retribuirei”24.

Como é fácil de prever, em vários pontos na Bíblia se podem

encontrar mandamentos exortando o fiel a não compartilhar do erro,

e o que é realmente fiel sabe que “(...) aquele que quiser seguir o

evangelho à risca enfrentará perseguições”25, e também tem

consciência que Jesus declarou: “Eu não vim trazer paz, mas a

espada!”26. E por esta e por outras razões este não hesitará em

enfrentar o “pelotão” se for preciso (parece exagero, mas é exatamente assim), pois sabe que se perder “aqui”, ganha “no alto”,

portanto não poderá recuar, com ordem e com decência, o que o

deve ser colocado. O conflito é grande, e a parte “mais fraca”, apesar

de espiritualmente nenhum cristão ser fraco, pois, como disse o

Apóstolo Paulo, “(...) o poder de Deus se aperfeiçoa na fraqueza”27,

e em Joel: “Diga o fraco: Sou forte!”28), o fiel, é bastante oprimido e

por mais que isso possa parecer absurdo, ou talvez bastante notório,

corre até risco de morte. Há um domínio insano dos mercenários com

nome de pastores que “engordam” à custa das ovelhas, e estas ignoram seus direitos e deveres, pois não meditam dia e noite nas

Escrituras como manda a Lei Divina.

23

Mateus 22: 37 24

Romanos 12: 19 25

II Timóteo 3: 12 26

Mateus 10: 34 27

II Coríntios 12: 9 28

Joel 3: 10

Page 16: DUREZA DA LEI NOS DEIXA SEM GRAÇA - VÓL II

16

Enfocando, no caso, um culto evangélico, o artigo penal dá margem a

que seja enquadrado qualquer pessoa que interrompa o culto por

qualquer motivo, e não serão possíveis aos magistrados, leigos nas

Leis Divinas, julgar com retidão e justiça o pleito que se lhe apresenta, exatamente porque esta matéria não lhe é afeta, mas aos

evangélicos, ou seja, a estes que professam a fé nas Escrituras

Sagradas e como já dito, confirmam isto nos seus Estatutos. Esta a

única religião que se respalda inteiramente nas Escrituras Sagradas, pois embora toda e qualquer religião sempre esteja de alguma

maneira se apoiando na Bíblia, via de regra, manuseiam um livro

interpretado pelos seus líderes ou fundadores. Tomando como

exemplo os católicos que seguem o Código Canônico; também os espiritualistas que seguem Evangelho segundo Alan Kardec; as

Testemunhas de Jeová que têm uma Bíblia diferenciada embora seja

impressionantemente sutil a diferença, etc.

O nome “evangélicos” tem origem como o foi no começo com a Igreja

Primitiva, onde os primeiros a serem chamados cristãos, assim foram

chamados porque eram parecidos com Cristo, falavam como ele,

amavam como Ele, agiam e eram também perseguidos, rejeitados,

desprezados, caluniados e crucificados como Ele, ou seja, como eles mesmos falavam: “Fomos julgados dignos de padecer injustamente

pelo evangelho”29. Eram evangélicos, ou seja, seguiam os

evangelhos de Cristo. Se os estatutos das Igrejas Evangélicas estão

respaldados nos evangelhos, e como reza o nosso Código Civil no seu artigo 57, nenhum membro poderá ser expulso sem que isto esteja

previsto no Estatuto da sua associação, não deveria absolutamente

ser nada fácil expulsar um fiel, até porque isto contraria totalmente o

amor que é o “cartão de visita” de qualquer cristão, porém (...) “Expulsar-vos-ão das sinagogas; vem mesmo a hora em que

qualquer que vos matar cuidará fazer um serviço a Deus. E

isto vos farão, porque não conheceram ao Pai nem a mim”.30

“Eis que eu farei aos da sinagoga de Satanás, aos que se

dizem judeus, e não são, mas mentem: eis que eu farei que venham, e adorem prostrados a teus pés, e saibam que eu te

amo”.31

As Leis Cristãs ensinam sobre o direito e o dever da correção fraterna. Jesus expressa o seguinte pensamento:

“Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e

ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão;16 Mas, se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de

29

Atos 5: 41 30

João 16:2,3. 31 Apocalipse 3:9.

Page 17: DUREZA DA LEI NOS DEIXA SEM GRAÇA - VÓL II

17

duas ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada.17

E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutar

a igreja, considera-o como um gentio e publicano”.32

O que significa falar em segredo entre dois, depois com testemunhas

e depois com a comunidade, e se não adiantar, expulsar, desligar o

cidadão rebelde do reino de Deus (“... o que desligares na terra será

desligado no céu”33 - isto é muito pesado e muito grave – não é o

mesmo que se expulsar de um clube). Expulsar significa então que se

não houve o acordo, a partir das referências de fé, a pessoa será

expulsa para “outra praia”. Qual que é a “outra praia”? É o Direito Civil, Penal, ou seja, o Direito Positivo. Expulsar da comunidade hoje

é isto; todavia Jesus coloca que “antes de expulsar, deve-se corrigir

em segredo, conversar com mais um, chamar a comunidade”, e

sendo assim, pode-se, teologicamente, dar a devida relevância ao

ponto de vista das igrejas evangélicas (nesta identidade religiosa), ou seja, isto é um fato social.

Diz o Código Civil: Art. 57. A exclusão do associado só é admissível havendo justa

causa, obedecido o disposto no estatuto; sendo este omisso, poderá

também ocorrer se for reconhecida a existência de motivos graves, em deliberação fundamentada, pela maioria absoluta dos presentes à

assembléia geral especialmente convocada para esse fim.

Parágrafo único. Da decisão do órgão que, de conformidade com o

estatuto, decretar a exclusão, caberá sempre recurso à assembléia geral. (grifos nossos)

Os estatutos destas comunidades são uma realidade sociológica e jurídica, e estão amparados nestes princípios, surgindo daí a

necessidade, quando surge um equívoco, de ir a uma 1ª instância, e

já se voltar para o Direito Positivo. Porém, na mesma proporção elas

também estão, e de uma forma anterior, sujeitas aos princípios dos seus estatutos, onde a Bíblia está incluída, e portanto legitimada pelo

direito positivo. Estas comunidades têm a fonte de Direito natural

como Direito fim, as Leis Divinas, intrínsecas, ou seja, elas têm que

esgotar esta fonte para passar para outra, que é o Direito Positivo.

Disse o Aposto Paulo, que já é uma vergonha haver contenda entre os irmãos, porém, se houver, que haja um julgamento interno tendo

como base a sua Lei. Um cristão não deveria cometer a torpeza de

levar seu irmão a litígio para ser julgado por leigos no assunto. Para

se cobrar dos fiéis, as Leis Sagradas são usadas cabalmente por estes líderes, porém, para defender o seu domínio, o seu lucro, usam o

Código humano, passando por cima das Leis Eternas a quem dizem

seguir. Infelizmente, normalmente são vitoriosos nos pleitos, pois

32 Mateus 18:15 a 17. 33

Mateus 16: 19

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18

como já foi dito, os magistrados não têm elementos para entender a

“bandidagem”, a má-fé, o ardil, que está por trás de tudo isso.

Ocorre exatamente como Jesus falou, enquanto fazia um azorrague

no templo: “Transformaram a minha casa em esconderijo de

bandidos”.34

Como socorrer esse povo que está sem justiça e que o Estado não

alcança? Quem pode defendê-los, e de que maneira? Eles se arvoram a seguir o seu Estatuto, respaldado no seu Estatuto Maior e não

conseguem por isso a termo, não podem exercer o seu direito de

crença, de consciência, de expressão, como lhes é garantido pela Lei

Comando do país, onde por sinal, se faz tudo sob a proteção do próprio Deus que rege o seu Estatuto. O artigo 208 é uma “brecha”

muito grande aberta para que se cometa incontáveis arbitrariedades.

E os crimes na igreja assim se proliferam, pois esses líderes se

sentem bastante à vontade e com bastante espaço e respaldo na lei penal para continuarem a oprimir e a vilipendiar, e, sobretudo

emporcalhar sobremaneira os Evangelhos, ou seja, torcer

diabolicamente o caráter de Deus. Esta é a Babilônia, a religião, a

prostituta do Apocalipse, de onde Deus fala peremptoriamente: “Sai

dela, povo meu!”35.

Não haveria folhas suficientes para que se pudessem registrar todos

os crimes praticados em nome de Deus. São terrivelmente sutis e satânicos; tocam em algo sagrado que é a fé de pessoas que talvez

estejam na sua última oportunidade para crer e perseverar, para

encontrar descanso para suas almas cansadas e desesperançadas.

Depois de presenciarem toda espécie de “falcatruas”, e perceberem

como disse (novamente) o Apóstolo Paulo, que dentro, a corrupção é maior do que fora, elas irão para onde? Dentro dessas igrejas

acontecem milagres e curas, porém, isto não lhes tira o título de

mercenários, pois nem todos que vivem falando Senhor, Senhor, e

sendo instrumentos para Deus fazer milagres, herdarão o reino de Deus.36 O dom é de Deus, que tem misericórdia destes que O

procuram pensando encontrá-Lo em algo com aparência visível,

exterior, ou seja, nessas igrejas (como seria o normal). A igreja não

é a criadora, mas a criada: “Pois quem te faz diferente? E que tens tu que não tenhas

recebido? E, se o recebeste, porque te glorias, como se não o

houveras recebido?”.37

Porém, apesar das pessoas se prostrarem diante desses líderes,

perplexos, porque receberam uma grande graça, não percebem que

34

Lucas 19: 46 35

Apocalipse 18: 2 a 4 36

Mateus 7:21. 37 I aos Coríntios 4:7

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19

está escrito, ou se sabem, “não lembram”, ou fingem não lembrar,

preferindo “negar Cristo”:

“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos

céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não

profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitos

milagres? Então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci.

Apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade!”.38

Deus tem um compromisso com este que o busca com sinceridade, e

muitas vezes este instrumento, este líder, já se corrompeu, é um

joio, porém ainda não está no momento maduro para ser arrancado, para que não se vá com ele o trigo, que está junto. Não se pode

enganar, de Deus não se zomba; o que faz alguém herdar o reino de

Deus é os frutos, e jamais os dons que não são da pessoa, mas de

Deus. O poder de Deus se aperfeiçoa na fraqueza, e Sócrates sabia o que estava falando quando disse que sabia que nada sabia,

esvaziando-se do seu ego. Está escrito na Lei Sagrada que o juízo de

Deus começa primeiro na sua própria casa; quando o sim do cristão

for realmente sim, e o não for realmente não, as pessoas que ainda

não crêem não terão nenhuma dificuldade em entender e se converter dos seus maus caminhos. Se há o estatuto das crianças,

dos adolescentes, dos idosos e as torcidas já estão sendo tratadas de

maneira individualizada, porque não haveria o socorro também aos

fiéis, sendo estabelecido e regularizado o “O Estatuto do Fiel”, firmando-se assim o solicitado nas Escrituras Sagradas: “julgue-se

primeiramente nas suas próprias Leis”39?

Deveria evidentemente haver uma prévia, um julgamento preliminar, como é feito com os funcionários públicos, como na Prefeitura da

cidade Cubatão, no Estado de São Paulo, no direito trabalhista, e em

vários países, onde então os evangélicos seriam julgados primeiro

pelas suas Leis internas, ou seja, pelo seu Estatuto. Poderia ser usada a arbitragem, que um socorro para atender esses fiéis

vilipendiados na exata medida da sua desigualdade, da sua fé,

segundo o imperativo de suas consciências. E também, poderia se

convocar um perito, um árbitro nas Leis Cristãs, para dar ao juiz

subsídios para um julgamento justo. Deve-se meditar sobre o preâmbulo que está posto na Constituição Federal direcionando a

todos que se façam tudo sob a proteção de Deus, questiona-se qual

seria o objetivo de tal coisa estar escrita, se falar de Deus parece

muitas vezes às pessoas, um delírio, um subjetivismo exagerado, uma utopia, ou mesmo coisa de gente ignorante. Como se obedece a

isto na prática? Quando e como isto pode acontecer? Certamente a

38 Mateus 7:21 a 23. 39

João 18: 29 a 31

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20

filosofia nos dará subsídios para se fazer à ligação entre o direito

natural e o direito posto: A Babilônia espiritual ainda está viva com

seu engodo, confundindo os eleitos, prometendo o que não pode dar

e afastando e confundindo os que buscam o Criador. “Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Fechais o reino

dos céus aos homens. Vós mesmos não entrais, nem deixais entrar aos que estão entrando. Ai de vós, escribas e fariseus,

hipócritas! Percorres o mar e a terra para fazer um prosélito, e

depois de o terdes feito, o tornais filho do inferno duas vezes

mais do que vós”.40

Sendo o homem limitado, evidentemente, a medida ideal de justiça, a

exata medida da desigualdade de cada um, só serão encontradas em algo ou alguém que esteja acima de todos os seres, acima da

natureza humana, e este algo superior é Deus e a sua Palavra, a sua

Lei, a Constituição do seu Reino. A Lei Divina existe anteriormente

aos comportamentos sociais (que são a base da lei humana), é perfeita, e pode nos conduzir à justiça ideal. A influência do

cristianismo no comportamento humano é visível, fundamental,

basilar. É como encontrarmos o nosso “diapasão”, o prumo social.

São vários exemplos de conflitos que surgem nos cultos, o abuso

espiritual que acontece nos “bastidores”, o carisma da pregação

encantando as pessoas (joio), atingindo a alma e não o espírito (o

trigo), com grandes efeitos imediatos, porém vazios quanto à

essência, como a chama que logo se apaga. Grande também é a influência do cristianismo em todas as áreas da sociedade e na lei

posta. Observa-se aqui esta avalanche de conflitos humanos em face

40 Mateus 23: 13,15.

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21

de uma lei permeada de lacunas, advindas de corações endurecidos,

sobre os conflitos interpretativos entre o Direito Positivo e o Direito

Natural, sobre todas as conseqüências da “letra morta” em ambas as

leis, sobre o grande impasse que se forma do ponto de vista teológico, onde existem imperativos que vão repercutir na

consciência do fiel para que ele fale: “Ai de mim se não falar41”.

A proposta deste estudo prioriza essencialmente analisar a relação entre a objetividade das regras jurídicas, e imperativos de

consciência gerados naquele que fundamenta sua fé nos evangelhos

de Jesus Cristo e tem como fonte de direito principal a Palavra de

Deus. Como exemplo principal, a partir do qual se evidencia esta problemática, foi utilizando o artigo 208 do Código Penal, analisando

o que realmente pode tipificar o ultraje a culto, sem ferir princípios

básicos da fé de um fiel. Tal análise revelou então como questões

centrais as seguintes: Quais são, portanto, as possibilidades juridicamente intrínsecas e teologicamente extrínsecas deste artigo

que tipificam a conduta de ultraje a culto? Quais as conseqüências

viabilizadas por este tipo penal, dada a inobservância de suas

particularidades intrínsecas e extrínsecas? Quais são as respostas

para os conflitos interpretativos entre a Lei natural, Divina, e o Direito Posto?

O desenvolvimento deste estudo visa, portanto, ampliar, reivindicar o

direito do fiel (às leis cristãs) que é intimidado pela lei posta quando se encontra no momento de expressar sua fé e segui-la acima de

tudo e de todos, conforme o mandamento das Leis Sagradas: 1.

Amar a Deus sobre todas as coisas; 2. e ao próximo como a ti

mesmo. 42 O Evangelho de Mateus no seu capítulo 6, versículo 33 diz expressamente: ”Buscai primeiro o reino de Deus e a sua Justiça

(...)”43. Mesmo que para isso tenha que contrariar a opinião do

legislador, do líder, e até da sociedade. Até aonde vai a liberdade de

expressão diante da liberdade de culto? Até aonde pode ir a liberdade

a culto diante da livre expressão? Como se dão os conflitos interpretativos entre o direito natural e o direito posto, de acordo

com a conduta dos fiéis? Diante de um conflito, quais das

Constituições estes deverão seguir: a de Deus ou a dos homens?

A Constituição Federal, diz no seu artigo 5º, inciso II que ninguém

será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em

virtude de lei. O Livro de Atos dos Apóstolos no seu capítulo 4,

versículo 19, relata:

41

I Coríntios 9: 16 42

Mateus 22: 37 a 39 43

Lucas 12:31.

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22

“Responderam, porém, Pedro e João: Julgai vós se é justo,

diante de Deus, obedecer antes a vós do que a Deus?”.

E continuando no capítulo 18, versículo 15:

“Mas, sendo Gálio procônsul da Acaia, levantaram-se os

judeus concordemente contra Paulo, e o levaram ao tribunal, dizendo: Este persuade os homens a servir a Deus contra a lei.

E, querendo Paulo abrir a boca, disse Gálio aos judeus: Se

houvesse, ó judeus, algum agravo ou crime enorme, com

razão vos sofreria, mas visto que a questão é de palavras,

de nomes e da vossa lei, disso cuidai vós mesmos. Eu não

quero ser juiz dessas coisas. E expulsou-os do Tribunal”.

Ora, estarão os fiéis, sendo atendidos na exata medida da sua

desigualdade? O julgamento de um fiel deverá, antes de ter-se

esgotado todo o seu Estatuto, ser baseado em leis diversas dos seus

costumes e crenças? Terá o fiel o direito de seguir as suas leis com liberdade e sem arbitrariedades? A Constituição Federal é exemplar na

garantia dos direitos fundamentais do ser humano:

CF, art. 5º, IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;

CF, art. 5º, VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença.

CF, art. 5º, XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos

direitos e liberdades fundamentais;

Como deverão os magistrados julgar este fiel, na medida da JUSTIÇA,

estando totalmente alheios às suas leis, aos seus costumes e aos

fatos? Seria este um julgamento justo? Poderia uma africana, com o seu costume de busto de fora, ser aqui condenada por ato obsceno?

Seria justo isso? A intenção da mulher africana neste caso seria

porventura afrontar? Pode-se fazer o Direito, direito, observando só a

parte objetiva?

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23

3.d.1 O Julgamento De Jesus e de Paulo

Tomemos como exemplo o julgamento mais terrível que já houve e jamais haverá: Jesus sendo acusado pelas criaturas que Ele mesmo

fez, enquanto Deus (“... sem Ele - o verbo que se fez carne e habitou

entre nós -, nada do que foi feito se fez ...44”). Aqui se vê o respeito,

o temor de Pilatos pela Lei daquele povo. O povo levava as causas

aos magistrados e os acusados eram julgados previamente pelas suas leis e costumes. A sociedade participava, e havia um consenso, como

vemos no relato do Livro de João a seguir:

“Então Pilatos saiu fora e disse-lhes: Que acusação trazeis contra este homem? Responderam, e disseram-lhe: Se este

não fosse malfeitor, não to entregaríamos. Disse-lhes, pois,

Pilatos: Levai-o vós, e julgai-o segundo a vossa lei. Disseram-lhe então os judeus: A nós não nos é lícito matar

pessoa alguma. Tornou, pois, a entrar Pilatos na

audiência, e chamou a Jesus, e disse-lhe: Tu és o Rei dos

Judeus? Pilatos respondeu: Porventura sou eu judeu? A tua

nação e os principais dos sacerdotes entregaram-te a mim. Que fizeste? Disse-lhe Pilatos: Que é a verdade? E,

dizendo isto, tornou a ir ter com os judeus, e disse-lhes: Não

acho nele crime algum. Mas vós tendes por costume que

eu vos solte alguém pela páscoa. Quereis, pois, que vos solte o

Rei dos Judeus? Então todos tornaram a clamar, dizendo: Este

não, mas Barrabás. E Barrabás era um salteador”.45

“Então Pilatos saiu outra vez fora, e disse-lhes: Eis aqui vo-lo trago fora, para que saibais que não acho nele crime

algum. Saiu, pois, Jesus fora, levando a coroa de espinhos e

roupa de púrpura. E disse-lhes Pilatos: Eis aqui o homem.

Vendo-o, pois, os principais dos sacerdotes e os servos,

clamaram, dizendo: Crucifica-o, crucifica-o. Disse-lhes

Pilatos: Tomai-o vós, e crucificai-o; porque eu nenhum

crime acho nele. Responderam-lhe os judeus: Nós temos

uma lei e, segundo a nossa lei, deve morrer, porque se fez

Filho de Deus. E entrou outra vez na audiência, e disse a

Jesus: De onde és tu? Mas Jesus não lhe deu resposta’.46

Também no Livro de Atos dos Apóstolos vemos, por diversas vezes o

Apóstolo Paulo em julgamento e poderemos tirar daí vários ensinamentos.

“Esse homem foi preso pelos judeus; e, estando já a ponto de

ser morto por eles, sobrevim eu com a soldadesca, e o livrei,

44

João 1:3 45

João 18:29 a 40. 46 João 19: 4 a 9.

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24

informado de que era romano. E, querendo saber a causa por

que o acusavam, o levei ao seu conselho. E achei que o

acusavam de algumas questões da sua lei; mas que nenhum

crime havia nele digno de morte ou de prisão. E, sendo-me

notificado que os judeus haviam de armar ciladas a esse

homem, logo to enviei, mandando também aos acusadores que perante ti digam o que tiverem contra ele. Passa bem”.47

A lei dos judeus era respeitada, e estes eram protegidos pela lei dos

homens. Eles buscavam o socorro da lei comum, não sem antes ter havido um consenso, uma prévia entre eles.

“Temos achado que este homem é uma peste, e promotor de

sedições entre todos os judeus, por todo o mundo; e o principal defensor da seita dos nazarenos; o qual intentou

também profanar o templo; e nós o prendemos, e conforme

a nossa lei o quisemos julgar. Mas, sobrevindo o tribuno

Lísias, no-lo tirou de entre as mãos com grande violência, mandando aos seus acusadores que viessem a ti; e dele tu

mesmo, examinando-o, poderás entender tudo o de que o

acusamos. E também os judeus o acusavam, dizendo serem

estas coisas assim”.48

Havia a ampla defesa e o contraditório.

“Paulo, porém, fazendo-lhe o presidente sinal que falasse, respondeu: Porque sei que já vai para muitos anos que desta

nação és juiz, com tanto melhor ânimo respondo por mim.

Pois bem podes saber que não há mais de doze dias que subi a Jerusalém a adorar; e não me acharam no templo falando com

alguém, nem amotinando o povo nas sinagogas, nem na

cidade. Nem tampouco podem provar as coisas de que agora me acusam. Mas confesso-te isto que, conforme aquele

caminho que chamam seita, assim sirvo ao Deus de nossos

pais, crendo tudo quanto está escrito na lei e nos profetas”.49

O julgamento era feito com ordem e com decência. A justiça humana

não tomava tudo para ela, mas reconhecia que antes do

compromisso com os homens eles teriam que ser julgados segundo o

compromisso com a sua lei, com a sua fé, com o seu Deus. “Ou digam estes mesmos, se acharam em mim alguma

iniqüidade, quando compareci perante o conselho, a não ser

estas palavras que, estando entre eles, clamei: Hoje sou julgado por vós acerca da ressurreição dos mortos. Então

Félix, havendo ouvido estas coisas, lhes pôs dilação, dizendo:

47

Atos 23: 27 a 30. 48

Atos 24:5 a 9. 49 Atos 24: 10 a 14.

Page 25: DUREZA DA LEI NOS DEIXA SEM GRAÇA - VÓL II

25

Havendo-me informado melhor deste Caminho, quando o

tribuno Lísias tiver descido, então tomarei inteiro

conhecimento dos vossos negócios”.50

Paulo argumentava. Era acusado de trair o Deus que ele adorava e

servia com tanto zelo. Os seus próprios irmãos não entendiam a Lei e

estavam completamente errados. Paulo era absoluta minoria e estava completamente certo. Félix tomou o cuidado de se informar a

respeito do assunto em debate. É a Bíblia, o best-seller do mundo

ensinando sobre essas questões, esses conflitos entre a Lei posta e a

Lei Divina.

“Mas Paulo disse: Estou perante o tribunal de César, onde

convém que seja julgado; não fiz agravo algum aos judeus,

como tu muito bem sabes. Se fiz algum agravo, ou cometi alguma coisa digna de morte, não recuso morrer; mas, se

nada há das coisas de que estes me acusam, ninguém me

pode entregar a eles; apelo para César”.51

O Tribunal insistia na justiça:

“De sorte que, chegando eles aqui juntos, no dia seguinte, sem fazer dilação alguma, assentado no tribunal, mandei que

trouxessem o homem. Acerca do qual, estando presentes os

acusadores, nenhuma coisa apontaram daquelas que eu

suspeitava.Tinham, porém, contra ele algumas questões acerca da sua superstição, e de um tal Jesus, morto, que Paulo

afirmava viver”.52

Paulo era perseguido de morte como o seu Mestre:

“E Festo disse: Rei Agripa, e todos os senhores que estais

presentes conosco; aqui vedes um homem de quem toda a multidão dos judeus me tem falado, tanto em Jerusalém como

aqui, clamando que não convém que viva mais. Mas, achando

eu que nenhuma coisa digna de morte fizera, e apelando ele mesmo também para Augusto, tenho determinado enviar-lho.

Do qual não tenho coisa alguma certa que escreva ao meu

senhor, e por isso perante vós o trouxe, principalmente

perante ti, ó rei Agripa, para que, depois de interrogado, tenha alguma coisa que escrever. Porque me parece contra a razão

enviar um preso, e não notificar contra ele as acusações”.53

E o Tribunal não via nele crime algum:

50 Atos 24: 20,21. 51

Atos 25: 10,11. 52

Atos 25: 17 a 19. 53 Atos 25: 24 a 27.

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26

“Perguntou Pilatos: Que é a verdade? Tendo dito isso, tornou

a ir ter com os judeus e lhes disse: Não acho nele crime

algum”.54

Paulo pedia o socorro para a lei comum:

“Depois Agripa disse a Paulo: É permitido que te defendas. Então Paulo, estendendo a mão em sua defesa, respondeu:

Tenho-me por feliz, ó rei Agripa, de que perante ti me haja

hoje de defender de todas as coisas de que sou acusado pelos judeus; mormente sabendo eu que tens conhecimento de

todos os costumes e questões que há entre os judeus; por isso

te rogo que me ouças com paciência”.55

Paulo dependia tremendamente de Deus, como dependerá qualquer

fiel que ousar levantar-se contra a mentira, crer na Verdade e não

negá-la.

“Por causa disto os judeus lançaram mão de mim no templo, e

procuraram matar-me. Mas, alcançando socorro de Deus,

ainda até ao dia de hoje permaneço dando testemunho tanto a pequenos como a grandes, não dizendo nada mais do que o

que os profetas e Moisés disseram que devia acontecer”.56

Podemos substituir o nome de Paulo por qualquer fiel à sua Lei e também invocar um Tribunal que dê as mesmas chances que Paulo

teve, pois este que é acusado por tantos e por uma liderança poderá

ser inocente e verdadeiramente, o fiel. E como poderão os

magistrados estar certos da justiça se não lhe são afetos, ou talvez sequer se importem em saber sobre questões religiosas, ou também,

quem sabe, talvez tenha alguma aversão a respeito desta ou daquela

religião? Tudo isso fragiliza, banaliza e desvia muito a justiça. A

abordagem do assunto deste trabalho não será partidária, pois assim seria a negação do próprio Estatuto, como alerta o Livro de Gálatas

no capítulo 5, versículos 19 a 21:

“Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria,

inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões,

heresias, facções, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias,

e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não

herdarão o reino de Deus”.

54

João 18:38. 55

Atos 26:1 a 3. 56 Atos 26:21 a 23.

Page 27: DUREZA DA LEI NOS DEIXA SEM GRAÇA - VÓL II

27

Indaga-se sobre o fato de, nos momentos das programações

estabelecidas pelo pastor, ou no momento da oração, se o fiel poderia

se manifestar neste exato instante:

“Mas faça-se tudo com ordem e com decência”.57

“Mas o que é espiritual discerne todas as coisas...”. 58.

O direito de expressão é garantido, sem ultrapassar o direito e os

bons costumes, porém, se o fiel sabe que o pastor está orando por

um casamento adúltero, o que ele deverá fazer? Se acontece uma

solenidade em que um político está no púlpito em conchavo com o pastor, o que este fiel deverá fazer nesta hora? Como o fiel poderá

ser condenado sem uma ampla defesa e o contraditório para falar das

suas íntimas convicções, do seu imperativo de consciência? Quem

poderá saber que ele teria explicações para a sua conduta? Alguém que passou em um concurso público e hoje é juiz? Que elementos

teria o magistrado para entender tal controvérsia, se estes são

assuntos da lei deles? Onde estarão as garantias constitucionais

deste fiel? Como poderá este pastor dizer que não agiu de má-fé se este não poderá escusar-se de não saber das suas próprias leis?

Como poderá ele alegar que não sabia que o magistrado não é afeto

a estas questões e que muito provavelmente não vai entender as

razões do fiel, e mesmo que entendesse, como este magistrado poderá invalidar o tipo penal do artigo 208, se o fiel teve que, sob

pena de negar sua fé, “perturbar” o culto? Fala o Livro de João no

cap. 7, vers. 51:

“Condena a nossa lei alguém sem primeiro ouvi-lo para descobrir o que faz?”.

Não se pode esquecer também os princípios basilares da Constituição Federal: Nenhuma Lei Infra-Constitucional pode se opor a um

princípio Constitucional, ou seja, nenhuma lei pode desfazer qualquer

direito constitucional. Se é garantido ao “fiel” liberdade de

consciência, de crença, de expressão, de ampla defesa, do

contraditório, isto é o que ele deverá ter. O objetivo é perseguir a justiça, e deste tema falou Salomão em Provérbios 21: 3 :

“Fazer justiça e julgar com retidão é mais agradável ao

Senhor do que oferecer-lhe sacrifício”.

O que é julgar com justiça? Qual deverá ser o parâmetro para se ter

esta medida: a lei humana mutável e imperfeita ou a Lei imutável e

Eterna de Deus?

57

I aos Coríntios 14:40. 58 I aos Coríntios 12:15.

Page 28: DUREZA DA LEI NOS DEIXA SEM GRAÇA - VÓL II

28

Disse Rui Barbosa em seu memorável, e quase divino discurso

“Oração aos Moços”59:

Tratar os desiguais com igualdade não é igualdade real, mas

desigualdade flagrante. Para que se possa alcançar a igualdade é

preciso tratar desigualmente aos desiguais na exata medida em que se desigualam.

E também, John Rawls em seu livro “Uma Teoria da Justiça”60 deixa

claro no seu contexto que esta tão sonhada justiça não está do lado de ninguém, mas dela mesma. Aquele que estiver mais perto dela

sairá sempre em vantagem. E todo aquele que crê, sabe o que reza o

Livro Sagrado no livro de Salmos 89:14: “Justiça e juízo são a base

do trono de Deus”.

Não há espaço aqui então para sectarismos ou fanatismos, ou para

cometer a torpeza de ganhar discussões, mas sim, há o objetivo de

se buscar a JUSTIÇA na sua exata medida, para saciar a fome e a sede dos fiéis. Fala Santo Agostinho que o homem legislando por

inspiração divina é uma visão cristã do direito natural. Em última

instância, na visão da filosofia cristã, o direito emanaria de Deus. A

norma teria sua origem na Lei Eterna, na lei de Deus, e só aí seria ela legítima. Qual a origem de todas as coisas? De onde veio o homem e

para onde vai? Quando o último da raça humana morrer, para onde

irão os seus bens? O primeiro homem recebeu o mundo de quem? A

dualidade das leis expressa a dualidade que há em todo ser humano criado à semelhança de Deus, que tem a essência de Deus

nele, mas a natureza humana o atrai para o pecado, para as coisas

vis. Paralela e terrivelmente, embora enfrentem os fiéis muitas vezes

o conflito dos princípios da Lei posta com os princípios das Leis

Divinas, em meio aos próprios cristãos este conflito parece ser ainda maior, quanto à aplicabilidade das Leis Sagradas:

“Geralmente se houve que há entre vós imoralidade, e imoralidade tal, como nem mesmo entre os gentios....”.61

“Não está escrito: A minha casa será chamada casa de oração

para todas as nações? Mas vós a fizestes covil de ladrões”.62

O Mestre nos revela que a sua Igreja foi transformada pelos próprios

cristãos em esconderijo de bandidos. Segundo o Perfeito, a liderança

na Igreja cristã do “status quo”, exige de todos o que não faz, haja

59 http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/aosmocos.html 60 Rawls, John: tradução Almiro Pizetta e Lenita M. R. Esteves. Uma Teoria de Justiça. Martins Fontes. 1ª ed. São Paulo. 1997. 61 I aos Coríntios 5:1. 62 Marcos 1:17.

Page 29: DUREZA DA LEI NOS DEIXA SEM GRAÇA - VÓL II

29

vista o azorrague surpreendente feito por Jesus no templo,

expulsando os cambistas com um chicote. Fica-se realmente perplexo

e maravilhado diante da explosão do Manso e Humilde Príncipe da

Paz, imagem que não se coaduna com aquela derrotada figura pregada em uma cruz, mas sim com a visão de João no Apocalipse,

quando ele caiu como morto ao contemplar o Seu resplendor:

“E no meio dos sete castiçais um semelhante ao Filho do homem, vestido até aos pés de uma roupa comprida, e cingido

pelos peitos com um cinto de ouro. E a sua cabeça e cabelos

eram brancos como lã branca, como a neve, e os seus olhos como chama de fogo; e os seus pés, semelhantes a latão

reluzente, como se tivessem sido refinados numa fornalha, e a

sua voz como a voz de muitas águas. E ele tinha na sua destra sete estrelas; e da sua boca saía uma aguda espada de dois

fios; e o seu rosto era como o sol, quando na sua força

resplandece. E eu, quando vi, caí a seus pés como morto; e ele

pôs sobre mim a sua destra, dizendo-me: Não temas; Eu sou o primeiro e o último; e o que vivo e fui morto, mas eis aqui

estou vivo para todo o sempre. Amém. E tenho as chaves da

morte e do inferno”.63

Em Mateus 23, temos um registro do Fogo Consumidor, esta Faca

Afiada de Dois Gumes, que tem no outro lado o Amor:

“Todas as coisas, pois, que vos disserem que observeis,

observai-as e fazei-as; mas não procedais em conformidade

com as suas obras, porque dizem e não fazem; pois atam

fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; eles, porém, nem com o dedo querem movê-los;

e fazem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens; ai

de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante

da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas

coisas, e não omitir aquelas. Condutores cegos! que coais um

mosquito e engolis um camelo. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que limpais o exterior do copo e do prato, mas

o interior está cheio de rapina e de iniqüidade. Fariseu cego!

limpa primeiro o interior do copo e do prato, para que também o exterior fique limpo. Ai de vós, escribas e fariseus,

hipócritas! pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados,

que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia. Assim

também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas

interiormente estais cheios de hipocrisia e de iniqüidade.

Serpentes, raça de víboras! como escapareis da condenação do inferno?”

63 Apocalipse 1:13 a 18.

Page 30: DUREZA DA LEI NOS DEIXA SEM GRAÇA - VÓL II

30

Como ensina Juan Bautista Alberdi64, o preâmbulo deve sintetizar

sumariamente os grandes fins da Constituição, servindo de fonte

interpretativa para dissipar as obscuridades das questões práticas e

de rumo para a atividade política do governo. Não é nome, mas é um verdadeiro cartão de apresentação. No Preâmbulo da nossa

Constituição Federal, está posto que esta foi promulgada por todos os

brasileiros, sob a proteção de Deus. O sobrenatural de Deus está

então posto na Lei Maior? Todas as leis então deveriam estar recebendo esta influência e esta direção? Ou seria isto só uma figura

de retórica? A Lei então contém palavras inúteis? Ou é só neste caso

que assim é?

PREÂMBULO: Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em

Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado

Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o

desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de

uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na

harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a

proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA

FEDERATIVA DO BRASIL.

É para discutir sobre esses conflitos que este estudo se direciona. O

Direito natural pode ter o respaldo no Direito Positivo? O Direito

positivo pode legitimar o Direito Natural, que se expressa pelo Direito Divino? Esta monografia tenta buscar as identificações entre o Direito

positivo e o Direito Natural, colocando o Direito Natural como

expressão do Direito divino, buscar a justiça na exata medida do fiel.

O Código não atende a este jurisdicionado que sofre com a injustiça

de ser acusado de ultrajar o culto, embora esteja sendo apenas fiel à sua fé, a estas próprias Leis que estão sendo pregadas no culto.

Estes, respaldados pela Constituição Federal têm direito à liberdade

de expressão. Os dirigentes das Igrejas se defendem porque têm

também o mesmo direito. Há uma relação entre o imperativo de consciência deste fiel e a objetividade das regras jurídicas. Este fiel

está no culto, ouve algo contrário aos seus princípios de fé e é

impelido por sua consciência e pela sua Lei a falar, a não se omitir,

porém, ao manifestar-se ele estará qualificado, enquadrado no Código Penal, em ultraje a culto. A quem obedecer então? À fé, à

sua crença, ou à lei posta? Se ele fala, está enquadrado, se ele

cala, está em choque com Deus e sua consciência. Os

incidentes dentro da Igreja Cristã deverão ser julgados por que lei?

64

Moraes, Alexandre. Direito Constitucional. Editora Atlas. 12ª ed. São Paulo. 2002. p. 48, 49.

Page 31: DUREZA DA LEI NOS DEIXA SEM GRAÇA - VÓL II

31

O Apóstolo Paulo adverte os cristãos da primitiva comunidade sobre

esta questão na sua 1ª Carta aos Coríntios, capítulo 6, versículo de 1

a 10:

“Ousa algum de vós, tendo algum negócio contra outro, ir a

juízo perante os injustos, e não perante os santos? Não sabeis

vós que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deve ser julgado por vós, sois porventura indignos de julgar as

coisas mínimas? Não sabeis vós que havemos de julgar os

anjos? Quanto mais as coisas pertencentes a esta vida? Então, se tiverdes negócios em juízo, pertencentes a esta vida,

pondes para julgá-los os que são de menos estima na igreja?

Para vos envergonhar o digo. Não há, pois, entre vós sábios,

nem mesmo um, que possa julgar entre seus irmãos? Mas o irmão vai a juízo com o irmão, e isto perante infiéis. Na

verdade é já realmente uma falta entre vós, terdes demandas

uns contra os outros. Por que não sofreis antes a injustiça? Por que não sofreis antes o dano? Mas vós mesmos fazeis a

injustiça e fazeis o dano, e isto aos irmãos. Não sabeis que os

injustos não hão de herdar o reino de Deus? Não erreis: nem

os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os

avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os

roubadores herdarão o reino de Deus”.

É preciso que se denuncie o opróbrio, sob pena da sociedade

continuar a sofrer danos irreparáveis. Aponta Livro de Malaquias no

capítulo 1, versículo 10:

“Oxalá houvesse entre vós alguém que fechasse as portas

para que não acendesse debalde o fogo no meu altar”.

No Livro de Isaías, capítulo 6, versículo 8, o homem recebe uma

convocação divina:

“Depois disso ouvi a vós do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Então disse eu: Eis-me

aqui. Envia-me a mim”.

No mesmo livro, no capítulo 1, versículo 26, a Profecia proclama: “E te restituirei os teus juízes, como foram dantes; e os teus

conselheiros, como antigamente; e então te chamarão cidade

de justiça, cidade fiel. Sião será remida com juízo, e os que voltam para ela com justiça”.

Page 32: DUREZA DA LEI NOS DEIXA SEM GRAÇA - VÓL II

32

3.d.2 O Entrelaçamento Das Leis

Quem vem primeiro, O Estado ou o indivíduo? O Estado existe por

causa da pessoa, ou vice-versa? Hitler, Stálin cuidaram bem do seu

Estado, sem sombra de dúvidas. O comunismo, embora tenha

tomado como base a proposta do cristianismo primitivo, sutilmente se enveredou pelo engano e se perdeu completamente, se tornando

uma das maiores desgraças da história. O que fazer então? Só resta

o anarquismo? Não haveria um ponto de equilíbrio? Por pregar coisas

estranhas ao contexto pré-estabelecido, morreu Sócrates, esmerou-

se sobremaneira Kierkgaard, consumiu-se Monier e tantos outros “loucos” que ousaram ir contra o sistema marcado e tiveram a

coragem para dizer que o mundo não era quadrado, mas redondo,

porque entenderam que tinham que fazer a sua parte, e esta não era

o que já havia sido posto antes deles existirem, ou seja, saíram da “tribo”, “cresceram e apareceram”, assumiram a “sua” personalidade,

pagaram o preço, alcançaram à maturidade, ousaram “ser”.

Certa feita, um juiz realmente de direito, relatou que um amigo seu, também juiz, ao verificar que não era competente para a causa,

perturbou-se, pois a sentença precisaria ser imediata para atender a

uma criança muito doente que provavelmente não resistiria se

esperasse o trâmite da burocracia do processo ser remetido à competência correta. Ele não tinha muito tempo para pensar e

seguindo então o convencimento imediato do seu coração, deu a

sentença, e ao compartilhar com seu íntimo amigo estava em paz

com a sua consciência, porém perturbado porque teve que ir contra a

lei posta que jurou honrar e afirmou com convicção: “Fiz o que era certo, embora estivesse errado!”. O seu amigo, também juiz, com

tantos anos honrados em sua brilhante carreira, emocionado,

comentou: “Fique tranqüilo, eu faria a mesma coisa”. Quem não

faria? Certamente muitos não fariam; e nesta hipótese, se a criança falecesse para que a lei fosse estabelecida, a lei então aqui esteve a

serviço de quem? Esta existe para servir ao homem, ou vice-versa?

Será que deste sacrifício em honra da lei, Deus se agradaria? Se a

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33

defesa é ampla, ela não deve ir até o fim? Onde é o fim, na lei ou na

justiça?

Jesus é o Príncipe da Paz, e ao mesmo tempo afirma: “Eu não vim

trazer paz, mas espada”65, ou seja, A Paz que habitou entre nós veio

trazer confusão, colocar um contra o outro. Diz mesmo que é bom

que aconteça o debate para que a luz apareça e quiçá não

desapareça.66 Quem diria? Porém quando existirá a possibilidade do que é santo e digno confrontar o profano e indigno sem que haja uma

confusão tremenda, e “cabeças rolando”? O que se faz então? Em

nome de uma falsa paz, desiste-se de pregar o justo, de confrontar o

que não resolve? Quem dará a “cabeça a prêmio” por ousar discordar dos poderosos e sumidades, como sugere Kant, e como fez Sócrates

e tantos outros? Onde estão os defensores do povo, estes que não

aceitam suborno e não seguem “após o seu lucro”?

João Massena Melo, um desaparecido político e verdadeiro

combatente, tinha o corpo marcado por vergões (verdadeiras

medalhas), unhas arrancadas, feitos por algozes que lutavam contra

o salário mínimo que ele defendia, e tantas outras causas sociais.

Teve nove paradas cardíacas durante as torturas, mas mesmo assim não desistiu (“... dos quais o mundo não era digno ...”) 67”, diz as

escrituras. Deu, junto com tantos outros a sua vida pela sociedade e

recebeu de volta muitas chicotadas (como aconteceu e acontece com

muitos), descritas nos relatórios sangrentos feitos nas prisões, porém, estes, não desistiram de crer, de perseverar, de lutar, de

conquistar, de se indignar, de amar... estes são os verdadeiros

intercessores... homens “sem nome” , sem a glória e a recompensa

dos homens. Jesus diz que na mesma medida que se julga este será julgado. Alguém sabendo disso não se esforçará para julgar com

misericórdia, para defender o próximo (normalmente o próximo é

uma “mala de pedra sem alça”), para que depois possa receber

também, na mesma medida, misericórdia e defesa, por mais difícil

que seja, ou que pareça ser?

Justiça é o nome de Deus, que não se desvia para a esquerda e nem

para a direita, não faz “conchavos”, não “quebra galhos” de ninguém,

não é subornado jamais e a sua escola não é com “bala de festins”, mas é dentro da mais absoluta verdade, seja ela bonita ou feia, quem

quiser queira, quem não quiser não queira. Ele diz que se agrada que

alguém suporte injustiça para que a Palavra não seja defraudada, ou

seja, para que a honra da lei não seja quebrada:

65

Mateus 10: 34 66 I aos Coríntios 11:19. 67

Hebreus 11: 38

Page 34: DUREZA DA LEI NOS DEIXA SEM GRAÇA - VÓL II

34

“Pois isso é agradável, que alguém, por causa da consciência

para com Deus, suporte tristezas, padecendo injustamente”.68

“Bem aventurados sois vós, quando vos injuriarem e

perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós por

minha causa”.69

“Portanto, é necessário que lhes estejais sujeitos, não

somente por causa do castigo, mas também por causa da

consciência”.70

Porque a “cerca” de Deus no Velho Testamento parece tão cruel?

Porque os adúlteros eram apedrejados até a morte? Antes de pegar a

espada, deve-se pensar: Naquela época havia esta imensidão de crianças desajustadas com lares destruídos? A nova lei, ou seja, a

quebra desta terrível cerca trouxe benefícios para a humanidade? O

que é mais cruel: a família destruída, pessoas desviadas da moral,

crianças infelizes, ou um juízo severo para que a nossa carne rebelde e contradizente entenda e se converta? Como se fala com cego,

surdo e de fronte obstinada, para não falar nos execráveis? Haverá

uma eficaz aplicabilidade das leis, sem a conversão do coração dos

homens? Isto se parece com Kelsen? Um positivismo exacerbado? Porém é só o outro lado da mansidão da pomba, ou seja, o

necessário “Fogo Consumidor”, o ponto de equilíbrio da “Balança

Perfeita”. Esta Lei Eterna fala também que aquele que fez um pacto,

um acordo, mesmo com dano seu, deve cumprir,71 que seja o seu

“sim”, “sim”, e o seu “não”, “não”.72 Fala também que nos últimos dias os homens seriam infiéis nos contratos,73 e que também cada

um vai prestar contas da sua vida, separadamente, no dia do juízo;74

portanto, o pacto deve ser cumprido unilateralmente,

independentemente se o outro cumpriu ou não. Fala ainda, entre incontáveis coisas, sobre o juízo severo daquele que defrauda o

trabalhador nos seus direitos e salários, ou que atrasa este. Ai dele,

diz o Todo Poderoso:

“Ai dos que decretam leis injustas, e dos escrivães que

escrevem leis de opressão, para negarem justiça aos

pobres, para arrebatarem o direito aos aflitos do meu povo; a

fim de despojarem as viúvas e roubarem os órfãos!”.75

68

I Pedro 2:19. 69 Mateus 5:10. 70 Romanos 13:5. 71 Salmo 15:4. 72 Tiago 5:12. 73

Romanos 1:31. 74

Romanos 2:6. 75 Isaías 10:1,2.

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35

“E Chegar-me-ei a vós outros para juízo; serei testemunha

veloz contra os feiticeiros, e contra os adúlteros, e contra os

que juram falsamente, e contra os que defraudam o salário do jornaleiro, e oprime a viúva e o órfão, e torcem o direito

do estrangeiro, e não me temem, diz o Senhor dos

Exércitos”.76

Quanto mais o homem se aproxima das Leis Divinas e se afina com a

Sua Justiça, mais está apto para achar o ponto de equilíbrio, para

distinguir o trigo do joio, que são tão iguais externamente, mas com

o conteúdo tão absolutamente oposto. Tem-se então que encontrar soluções muitas vezes “fora da lei”, para resolver o impasse dos

“Fernandinhos Beira-mar”, ou dos “Nicolaus”, que mesmo criminosos

continuam recebendo salários dos cofres públicos e com o seu cargo

intacto, esperando a burocracia e a lei resolver o que é fato e vergonhosamente notório. Seria insano esperar que um homem

simples, mediano, pudesse entender tal prática. Poderemos falar em

honra da lei? Que homem aceitaria, entenderia e apoiaria situação

tão estapafúrdia como esta? Evidentemente, os técnicos apoiariam,

os direitistas, os que fizeram do direito, fim em si mesmo, os que não são flexíveis como o bambu que sabe se curvar total e sabiamente no

momento da tempestade e que assiste depois, na calmaria, em pé, a

árvore frondosa e alta, que não soube se vergar e por isso está no

chão, quebrada, destruída. O que é certo e errado? Porque Salomão nos fala nas Escrituras (não qualquer escritura, mas as Sagradas):

“Não sejas demasiadamente justo, nem demasiadamente

sábio; porque te destruirias a ti mesmo?”77

Em contrapartida vemos o Presidente Jânio Quadros, depois de

renunciar, jamais buscar o seu salário, acumulado em milhões para

espanto e preocupação dos homens da lei. O que fazer com todo este dinheiro, e com esta muda resposta, que cada vez fala mais alto na

consciência dos brasileiros? Fora totalmente e absolutamente a

rebeldia, mas façam-se tudo com ordem o com decência, e abomine-

se na mesma medida o maldito comodismo, o conformismo, a covardia, diz o bom senso, baseado nos princípios das Escrituras. O

que fazer com as leis que impedem que o Livro Sagrado entre em um

país, impedindo com isso a vida com Deus de um povo? Seria insano

o “contrabando” de Bíblias, ou insano a quebra espiritual de uma multidão que é feita à semelhança de Deus? O que é mais perverso,

o crime de ação ou o da omissão? Todas as leis do Velho Testamento,

Jesus resumiu em apenas duas: 1ª (a mais importante): “Amar a

Deus sobre todas as coisas, como todo o entendimento, com toda a

alma”; 2º: “... e ao próximo como a si mesmo”.78

76

Malaquias 3:5. 77

Eclesiastes 7: 16 78 Marcos 12:28-31.

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36

Esta é a receita para se julgar um ser humano feito à semelhança de

Deus, feito por Ele, e para Ele. Certamente aí se encontrará o

discernimento para agir em um determinado momento especial, desprovidos de si mesmos, e atentando para a justiça que vem do

alto, que muitas vezes é contrária a tudo o que o homem vê,

entende, esta que no momento parece a este tão inadequada, e que

depois se encaixa e se adéqua, trazendo a paz, e uma multidão é beneficiada no efeito “ex nunc”. Quantos, depois disso, terão a

coragem de enfrentar e de “dar a cara p’ra bater”, baseados numa

atitude inusitada, e (...) porque não dizer (...) proibida. Quando o

código permite o julgamento por equidade ou princípios gerais do direito, quando assim se faz, porventura não se rompe aí o

paradigma do direito? O que é meio e o que é fim, o direito ou a

justiça? Para buscar respostas a estas questões decorrentes dos

conflitos interpretativos entre o direito natural e o direito posto relativos às condutas religiosas, o presente trabalho monográfico está

estruturado em seis capítulos, constituindo-se como um percurso, um

trajeto através do qual, pela “experiência cognitiva” dos conceitos,

como diz Miguel Reale, recolher elementos nocionais que possibilitem

a busca de respostas a tais questões.

No primeiro capítulo são evidenciados alguns conceitos referentes à

liberdade de expressão, uma vez que o direito fundamental está em

jogo no artigo 208 no Código Penal. No segundo aborda-se a moral e a ética e as suas influências no fiel que vive na sociedade comum, em

um pacto comum, que para ele não é prioridade, em confronto com

as Leis Divinas que segue por uma íntima convicção. No terceiro

discorre-se sobre o Direito Divino e o Direito Natural e a visão dos filósofos a respeito. No quarto a evidência é o Direito Divino como

Direito Natural relacionado com o Direito Posto; a necessidade da

inspiração divina nas Leis Humanas e a possibilidade da justiça ideal

na humanidade. O quinto capítulo trata do Justo Legal e o Justo

Natural e a interpretação das normas jurídicas com os seus inevitáveis conflitos; a perspectiva cristã; a influência das leis de

Cristo no cotidiano dos povos civilizados do planeta e a inovação do

Código Civil em relação às igrejas. E enfim, no sexto capítulo,

discorre-se sobre o Direito Divino, o Direito Posto e a problemática do artigo 208 do Código Penal Brasileiro em uma análise jurídica diante

do que foi fundamentado nos capítulos anteriores: o Código Civil, as

Igrejas e o Juiz, o fiel e a Constituição Federal.

Page 37: DUREZA DA LEI NOS DEIXA SEM GRAÇA - VÓL II

37

3.e Conclusão

Conclui-se então que não será possível compreender de forma

simplista as divergências de consciência do fiel nas situações que são

colocadas no presente trabalho, que prioriza analisar a relação entre

a objetividade das normas jurídicas e imperativos de consciência

advindos daquele que fundamenta a sua fé nos Evangelhos de Jesus Cristo, que tem como fonte de direito principal as Leis Sagradas, a

qual segue, não por uma coerção, mas por uma íntima convicção,

com escolha livre e particular, com responsabilidade e com

maturidade. A problemática evidenciada foi exemplificada pelo artigo 208 do Código Penal Brasileiro, que tipifica a conduta de ultraje a

culto. Ocorre que, embora o tipo penal, grosso modo, de maneira

objetiva, enquadra o que está assistindo ao culto e não o que prega,

poderá ocorrer o caso concreto de maneira inversa, ou seja, os que ultrajam o culto são os que de alguma maneira desonram o Senhor

para quem é dirigido o culto, este a quem se está cultuando.

Portanto, embora a intenção do legislador tenha sido proteger o culto

de algum arruaceiro ou blasfemo, e o artigo, a exemplo de alguns julgados, tem sido eficaz para operar neste sentido, o tipo penal,

porém, se torna uma “faca de dois gumes” quando serve para

acobertar qualquer coisa que este pregador possa dizer, incluindo

toda sorte de blasfêmias, que pode vir por uma sutileza, por algum

desvio da revelação da Palavra, com ou sem má-fé, ou seja, com dolo ou com culpa. Convém colocar que incomoda o espírito saber que

alguém foi retirado pela polícia de dentro de um templo, pois,

normalmente, quando alguém vai à igreja, via de regra, de alguma

maneira está procurando a Deus, que jamais lançará fora o “pavio que fumega”.79

79 Isaías 42:3.

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38

Toma-se como base as igrejas evangélicas, pois estas professam a

sua fé diretamente nos Evangelhos confirmando isto nos seus

estatutos internos, que unanimemente admitem uma cláusula

respaldando todas as suas decisões nos Evangelhos de Cristo. Relativo ao assunto Igreja Evangélica, segue para uma maior

elucidação, texto no anexo de nº 22, explanando o que significa ser

uma igreja evangélica, colocando a fundamentação Bíblica de que os

assuntos pertinentes às Leis Sagradas são “reveladas” aos “fiéis” e não interpretadas como comumente se diz, gerando aí infinitas

interpretações dos textos Bíblicos, e trazendo com isto muita

confusão.

Estes ditos estatutos quando aceitos pelo Estado, legitimam assim os

Evangelhos, tornando-os legalmente estabelecidos. Estabelecidos,

porém não reconhecidos e sequer mencionados. Formando-se o

impasse, os membros da igreja, hoje reconhecida pela sociedade como associações, que talvez pelos frutos que têm dado, se

enquadrem mais nesta condição, estes associados ou membros não

se detêm para examinar as suas leis, não a reconhecem como

suficiente, eficaz, porque talvez a vejam como uma mera poesia,80

como muitas vezes isto é declarado também em relação ao artigo 5º da Constituição pelos membros da sociedade brasileira. Ou seja, esta

membresia associada que se intitulam cristãos, mas que assim vê as

Leis Sagradas, não são os “fiéis”, mas meros religiosos. Estes vão ao

judiciário se valer de uma lei imperfeita, posto que seja humana, desfazendo assim os mandamentos da sua própria Lei, que ordena

que não se leve seu irmão à litígio, para serem julgados por leigos no

assunto, a exemplo do julgamento de Jesus e de Paulo, narrados no

tópico 1 da Introdução do presente trabalho, em que os que julgavam a questão apresentada pelos algozes religiosos repetiam

veementemente que não estavam afetos àquele assunto, pois isto era

uma questão interna que deveria ser julgado pela lei deles. Pilatos

disse que não havia como enquadrar Jesus, pois não via nele crime

algum. A sociedade brasileira está arraigada em um sofisma, que se atrela aos seus pensamentos e aos seus costumes de maneira

estabelecida e comum a todos, que é observar uma

inconstitucionalidade, como por exemplo, entre tantas, a que vemos

claramente no caso do salário mínimo, e fazer “vistas grossas” a isso e terminar aceitando o fato de que as garantias constitucionais do

indivíduo conquistadas em Assembléia Constituinte, não passam de

mera retórica e mera poesia. Isto é lamentável, insuportável e

inaceitável, data vênia.

O fato é que há uma classe de pessoas, no caso, os “fiéis” às Leis

Cristãs que estão absolutamente e injustamente sem nenhuma

defesa e sem o contraditório que lhes é cabido. E isto tem que ser

80 Ezequiel 33.

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39

denunciado para que se feche esta brecha, para que se repare esta

injustiça que desvia o amplo socorro desses inocentes, que burla as

ordens constitucionais, que tem deixado livre a Barrabás e manietado

o “fiel”. Seguem os mercenários com todas as prerrogativas, livres, para abusar cada vez mais diante da ignorância da sociedade. Esses

não admitem que toquem no seu “reinado”, ousam tentar passar por

cima daquilo que é sagrado, como se Deus tivesse morrido como

disse Nietzsche, esses não entram no Reino de Deus por absoluta incompatibilidade com Este e impedem muitos de entrarem com o

diabólico engodo,81 esses entulham o judiciário com questões que

teriam que ser resolvidas primeiramente pelas suas próprias leis,

como rezam os seus próprios estatutos, e que exatamente por isso, porque sabem eles que por estas Leis Perfeitas não teriam o escape,

se valem então destes que ignoram estas Leis, e, que, portanto, não

estão aptos para julgarem os conflitos internos entre cristãos. Valem-

se eles então de artifícios e cobram do Estado que julgue a questão que foi tratada sob a égide das Leis Cristãs, e, portanto, não poderia

ser julgada por outras leis que não fossem estas. São os “cambistas”

dos quais bradou Jesus enquanto os expulsava do templo sagrado,82

os que fazem comércio até com alma de homens como denuncia o

Apocalipse.83 Fala Jesus no Evangelho de João, capítulo 2, versículo 14:

“Tirai daqui estas coisas! Como ousais transformar a casa de

meu Pai em mercado!”.

O advogado Manoel Soares Cutrim Filho, comentarista da Revista

Eclécia,84 assim como tantos outros, denuncia que as igrejas

funcionam como verdadeiras empresas comerciais, e que não mais será tolerada a exploração do comércio paralelo. Muitos têm sido

agredidos e oprimidos por esta liderança insana, verdadeiramente

enquadrada nos adjetivos usados por Jesus para qualificá-los, em

Mateus 23 como já foi citado. Eles têm agido livremente, autorizados pela sociedade também hipócrita e ignorante das suas origens, do

reino espiritual, do Deus que os criou. Dificilmente não se observa a

expressão de repúdio em qualquer pessoa que é argüida por estas

questões, ou seja, as pessoas sabem o que acontece “por trás dos panos” dentro das igrejas do “status quo”, mas fingem que não

sabem, não querem se envolver com esses assuntos, talvez porque

“estejam devendo”, a culpa os domina e também porque não

entenderam ainda que Jesus já pagou o preço da dívida e que se

crerem estarão livres desta culpa.

81 Mateus 23:13. 82

Mateus 2’1:12. 83 Apocalipse 18:13. 84

Revista nº 85; E-mail: [email protected].

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40

O impasse se forma, a pregação contraria os Princípios Sagrados e o

“fiel”, este que vive na periferia e que o Estado não tem alcançado,

este que intercede pela raça humana, que segue as Leis Cristãs que

como bem falou o filósofo John Locke, não são particulares de qualquer religião, mas são o Direito Natural de toda a humanidade

(vide anexo nº6), este que cumpre apenas o que dita a sua honesta

consciência, que não foi “subornado”, que não troca “terras de

possessão perpétua” em troca de uma falsa paz, este que não vende o seu direito de primogenitura como o fez Esaú,85 este que tem sido

desprezado, humilhado, injustiçado e crucificado como o seu

Indizível e Inculpável Mestre, que tem tomado deste cálice amargo

que ninguém quer tomar, como já foi fundamentado nos capítulos do presente trabalho, este não poderá “ser educado” ou “fingir que não

vê”, mas ele se levantará na congregação, compungido por um

imperativo de consciência e denunciará o engano e a partir daí estará

enquadrado no artigo 208 do Código Penal Brasileiro, e só escapará se o pregador for também um “fiel”.

Como se pode ver, indubitavelmente, quem vai perceber o desvio,

sutil ou não, da pregação, será o “fiel” e ninguém mais. Não será o

magistrado, nem os presentes que freqüentam a igreja do status quo, não será o policial que for solicitado, não será o bem intencionado,

mas não será outro senão o que vive intimamente com o Deus que é

o Verbo, ou seja, a própria Bíblia. Este que convive pessoal,

voluntária e intimamente como um adorador deste que Ele sabe, que ele crê, ser o Criador de todas as coisas, inclusive dele mesmo. Este

que é um “embaixador” do reino de Deus na terra e, portanto não

está preso a nada deste mundo que segundo a Lei que segue, “... jaz

todo no maligno...”. Como já se demonstrou e foi fundamentado no decorrer do trabalho, este “fiel” vive aqui nesta terra unicamente

para implantar o Reino do seu Deus que fez com ele uma aliança de

sangue eterna, e, portanto, não é mais ele que vive no seu corpo,

mas Cristo vive nele:

“Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu,mas

Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a

na fé no filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim”.86

Este adorador sabe que as Santas Leis que segue não admitirá um

covarde ou um tímido,87 ou seja, um que não tenha decidido ainda a se esvaziar de si mesmo,88 a morrer para nascer de novo89 como filho

de Deus e ter assim o seu nome registrado no Livro da Vida, como

85 Livro de Gênesis, capítulo 25:31; Salmo 25:34; Hebreus 12:16. 86 Gálatas 2:20. 87

Apocalipse 21:8. 88

Filipenses 2:7 89 João 3:3.

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ordena o Apocalipse.90 Este sabe que ao denunciar alguma fraude no

reino espiritual a guerra se instala espiritualmente e vai se manifestar

no reino físico de várias maneiras, através de homens e mulheres que

lutarão contra de maneira insana, assim como foi com aqueles que gritavam desvairadamente: “Crucifica-o, crucifica-o!”91, sem ter

absolutamente nenhum motivo para o fazer, deixando solto então a

Barrabás, o salteador (o homem) e deixando preso o inculpável e

inocente (o Fiel). Este sabe o que o espera e não se detém diante de nada e nem de ninguém porque sabe que O que o chamou para a luz,

o qualifica, o fortalece, o alimenta e o salva. Ele é tomado de amor

pelo seu Deus e pelo próximo, e não vacilará, mesmo com a pouca

força que têm os “Davis” de Deus diante de qualquer gigante, pois vai executar a ordem do Comando Sagrado, que segue, não em seu

nome, ou qualquer nome que se nomeia,92 mas em nome do Senhor

dos Exércitos, este que, segundo a sua fé, habitou entre os homens,

que é Deus, e que vai voltar para arrebatá-lo. Embora ele saiba do movimento contrário, não vai “deixar nada barato”, ou indigno, mas

vai enfrentar o “pelotão de fuzilamento” se preciso for falando e

denunciando a fraude e deixará o acerto de contas a cargo do único

que tem a competência para tal:

“Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira

de Deus, porque está escrito: Minha é a vingança, eu

retribuirei, diz o Senhor”.93

As Leis Humanas não têm, à priori, a intenção de se opor ao que é

bom e justo, antes, muito pelo contrário, os homens que são feitos à

semelhança deste Deus, que promulgaram a Constituição Brasileira sob a proteção deste mesmo Deus, querem o melhor para o povo.

Porém todos sabem que no meio destes, existem as “aves de rapina”

e os que, mesmo sem nenhuma intenção erram, e às vezes erram

muito, e, portanto, será preciso “guerrear” para que a justiça se

estabeleça: insistir, denunciar, demonstrar de todas as maneiras que forem possíveis a “lacuna” da lei, pois do contrário se estaria

praticando outro crime que é o da omissão. O que se vê comumente

nos dias atuais é o positivismo exacerbado, o direito sendo fim em si

mesmo, e não o meio para se conquistar a justiça, ou seja, com um fundo disciplinar muito saudável, porém, resvalando para o

“demasiadamente justo” como indica o brocado romano e a sabedoria

salomônica impresso no Livro de Eclesiastes, capítulo 7, versículo 16.

O justo então não se estabelece, porque passou do ponto de equilíbrio, que é paradigma do direito.

90 Capítulo 20:15. 91

João 19:15. 92

Efésios 1:21. 93 Romanos 12:19.

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42

Enfim, é sabido de todos que o exemplo deveria partir exatamente da

igreja, que é a representante de Deus na terra, a noiva de Cristo,

segundo os Evangelhos, a quem Jesus deixou responsável para tomar

conta do “despedaçado” até que Ele volte, fato registrado no Evangelho de Lucas, capítulo 10, versículo 25 e seguintes. Fala o

citado acima advogado Manoel Soares Cutrim Filho, na mesma

revista: No final das contas, nenhuma lei secular vai garantir um

padrão de ética para os crentes. Estes é que devem dar o exemplo; acredita, por sua vez, o juiz Abner Apolinário, da Assembléia de Deus

de Recife, e completa: "Por exemplo, a mentira, exceto no caso de

falso testemunho, não tem importância jurídica; da mesma forma, as

relações sexuais entre adultos desimpedidos de casar, mas são contrárias à Bíblia, nossa regra de fé. Se seguirmos o que ela diz,

estaremos cumprindo a lei e dando o necessário testemunho". E é

bom que seja assim, já que a Bíblia exorta os filhos de Deus a agirem

de modo que os outros, vendo suas boas obras, glorifiquem ao Senhor.

Observa-se no Livro Sagrado,94 o exemplo dos Recabitas, um povo

fiel que estava sendo provado por Deus, que ao receberem a ordem

ou a sugestão das autoridades divinas para beberem vinho, assim não o fizeram, para não resvalarem no pacto firmado antes, pois

haviam recebido ordens do pai sobre a conduta que deveriam ter,

não só eles, mas também todos os seus descendentes. Os que lhes

falavam, eram reconhecidamente autoridades de Deus, porém, nem este fato os fez titubear para transgredir os votos que fizeram antes.

Há um princípio aqui. Deus usou este exemplo para falar sobre a

obediência que Ele espera dos Seus seguidores na terra e do quanto

esta tem sido adulterada pela conduta dos tais que deveria traduzir o Seu caráter no meio do povo. Fala o capítulo também sobre o juízo

divino sobre os desobedientes e o Seu galardão sobre os que

permanecem fiéis apesar dos percalços. As Leis Divinas enfatizam

muito sobre este assunto, de várias maneiras. Ora, fidelidade é o que

se espera dos que firmaram um pacto, como por exemplo, em um casamento, em que, na alegria, na tristeza, na vitória, na derrota, na

saúde, na doença, na riqueza ou na pobreza, os que fizeram uma

aliança, permanecem juntos. Assim como tem sido quebrado este

pacto no cotidiano dos homens como se este fato escabroso fosse lícito ou natural, e isto com a anuência dos códigos humanos,

trazendo então incontáveis danos a toda sociedade, da mesma

maneira não poderiam os que fizeram uma aliança eterna com Deus,

quebrá-la, sob pena de perderem a Promessa Divina, embora seja isso mesmo que se tem visto em profusão nos arraiais que se

intitulam cristãos.

94 Jeremias 35.

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Paul Washer,95 um jovem cristão americano que tem pregado para

multidões, afirma que são poucos os salvos dentro desses templos.

Fala mesmo que a estrutura religiosa vigente tem mandado

mais gente para o inferno que todos os bordéis juntos. Ou seja, mesmo que as autoridades constituídas entre os homens ordenem a

um cristão para transgredir o Pacto Sagrado, este antes vai sofrer a

injustiça,96 não vai economizar a sua carne,97 vai submeter-se a

entrar para a “fornalha de fogo” se preciso for,98 mas não vai tocar na Soberania do seu Senhor e Salvador, pois, como é bem sabido, toda

a Lei de Deus é resumida em apenas duas, e a principal e mais

importante é exatamente esta: “Amar a Deus, sobre todas as

coisas”. Sabe o cristão entre tantas outras coisas que: “Nenhum soldado em serviço se embaraça com negócios desta

vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra”.99

Ou seja, como diz o Livro de Samuel, capítulo 15: de nada adiantará

sacrificar, orar ou praticar quaisquer rituais, se tudo isso não for

precedido da obediência. Deus é que é Deus e não os homens. De

maneira paralela se vê a notória corrupção tanto no judiciário quanto nas igrejas do status quo, para se opor ao que é de boa fama.

Enfatizamos que o Direito Positivo, legitimou o Direito Subjetivo na

Constituição de 1988, e, portanto, o Direito Natural, o Direito Divino,

pode e deve ser “pano de fundo” para qualquer julgamento, pois são a fonte primeira sem as quais não haveria a sabedoria no homem

para saber o que é ou não certo. O texto “Adendo a Apostila

Administração Eclesiástica”, de autoria do já citado autor Manoel

Soares Cutrim Filho, registra um pronunciamento católico, por

Gregório Vivanco Lopes: A lei positiva deve também orientar-se pelos usos e costumes

legítimos de cada povo e de cada época. Os esquimós, que vivem em meio às geleiras, necessariamente terão uma legislação diferente da

dos povos sujeitos aos calores tórridos da linha do Equador. E o

homem que outrora só usava para sua higiene pessoal a água dos

rios tem obrigações diferentes daquele que dispõe de água quente encanada dentro de casa. Mas a lei positiva, por ser uma lei humana,

deve respeitar e estar subordinada à Lei natural, de origem divina.

Segundo a lapidar frase de Santo Agostinho, "é justo que todas as coisas sejam ordenadíssimas". Por isso, a lei civil não pode contrariar

a Lei divina. Mais ainda: as leis inferiores devem favorecer a prática

das leis superiores — a lei civil deve facilitar a prática da Lei divina e,

na medida do possível, impedir a sua violação. Uma lei civil só é justa

95 Vide pregação, entre tantas do jovem pregador: “Pregação chocante”. Temos incluída em vários textos, entre eles: Os Protestos de hoje”, “A besta e suas marcas”, “O Oculto do ocultismo”, etc 96 I Pedro 2:19; I aos Coríntios 6:7. 97

João 12:25. 98

Daniel 3. 99 II a Timóteo 2:4.

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enquanto deriva da Lei natural. Negar o Direito Natural é negar o

fundamento de toda a legislação positiva. Ora, o primeiro princípio da

Lei natural é que "o bem deve ser feito, e o mal evitado". Nesse sentido, o Código Civil brasileiro, em vários de seus artigos colide

com a Lei natural e a Lei divina, sendo altamente censuráveis tais

dispositivos, que deveriam por isso ser modificados.

O direito objetivo (“norma agendi”) nasceu para ser um instrumento

para se alcançar a JUSTIÇA. O homem tem a faculdade de lutar por

este direito que não o socorrerá se “dormir”. Esta luta em juízo, que se traduz pelo direito subjetivo (facultas agendi), e nascerá sempre

que alguém vai bater às portas do judiciário. O direito material ou

substancial vai então disciplinar as condutas, ou seja, vai dizer ao

indivíduo o que pode ou não fazer, enquanto o direito processual é o trilho por onde o direito material tem que passar, é a marcha

processual, o caminho que deve ser seguido. O Direito Moral é a

escolha do homem. E o direito natural? Este é anterior ao direito

posto, é a fonte. Muitas condutas que seriam naturais, como andar

nu se nasceu assim, como disse São Tomás de Aquino, foram retirados da normalidade pelas circunstâncias advindas da queda do

homem, como no caso em que Moisés teve que permitir o divórcio

pela dureza do coração do homem. Quando os religiosos hipócritas

tentaram o Mestre, perguntando por que não podiam se divorciar se Moisés havia permitido antes, Jesus explicou que Moisés não havia

instituído o divórcio, mas permitido momentaneamente, por causa da

dureza do coração deles, ou seja, Ele, o Senhor do senhores, permitiu

que Moisés, que era o advogado do povo nesta época, o promotor de justiça, usasse um direito totalmente alternativo e contrário aos seus

princípios. Hoje não se tem mais esta circunstância, pois Jesus já

ressuscitou e o Espírito de Deus está na terra capacitando quem

quiser crer, ou seja, as leis já estão escritas no coração do homem:

“Porque esta é a aliança que depois daqueles dias farei com a

casa de Israel, diz o Senhor; porei as minhas leis no seu

entendimento, e em seu coração as escreverei; e eu lhes

serei por Deus, e eles me serão por povo; e não ensinará cada um a seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo:

conhece o Senhor; porque todos me conhecerão, desde o

menor deles até ao maior”.100

Se o homem positivou: “não matarás”, é porque ele entendeu antes

que isso não se poderá fazer. E porque não se poderá fazer? Como o

homem ficou sabendo que não se pode matar? Quem ensinou isso para ele? O Direito Divino assim o instituiu sobrenaturalmente no

interior do homem, e quando isto está na sua essência, ele não mata.

Só o faz quando sai da sua natureza e entra no estado que Hobbes

descreveu: ele é um lobo que quer comer o outro lobo. Reclama-se:

100 Hebreus 8:10,11.

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quem vem primeiro, o Estado ou o indivíduo? O direito existe para

servir ao homem ou este para servir ao direito? Quando o código

admite o julgamento por equidade, ou pelos princípios gerais do

direito, não se rompe aí o paradigma do direito?

Disse Santo Agostinho que no interior do homem está a verdade, em

concordância com as Escrituras Sagradas, e que a fé é uma

experiência interior, que Deus é anterior, é interior e exterior (foge dos dedos humanos). São Tomás de Aquino disse que tudo o que

reza o direito posto que vem contrariar o direito natural não é

legítimo, pois este é a expressão do direito divino. Disse também

Spinosa que a positividade vai muito além da norma, pois mesmo que esta ainda não esteja escrita, naturalmente já contém nela uma

essência de positivação e que estas vêm de Deus; não estão

positivadas, mas são básicas. Samuel Pufendorf exorta a que o

Direito se abra para a realidade que é a parte mais importante. Kant advertiu a que o homem reflita antes de obedecer a qualquer lei e

que as normas devem preservar a liberdade e a expressão pessoal de

cada um. Wilhelm Leibiniz contribui dizendo que o homem deve

escrever a própria história, usar o seu livre arbítrio sem se desviar

dos princípios divinos. Soren kierkgaard fez dura crítica ao cristianismo burguês defendendo que a essência do cristianismo é

remar contra a maré corrompida. É o filósofo da subjetividade e

adverte que o homem teoriza muito e esquece-se da realidade das

coisas, do valor subjetivo delas. Hugo Grócio afirma que o Direito Natural é baseado na natureza humana, não tendo relação com

religião alguma e que o pacto social deve ser respeitado para que a

nação possa progredir. Michael Foucault considera que ao

dessacramentar o pensamento, o homem se viu livre para dar sua opinião. Na verdade, o filósofo falava sob a ótica dos que

presenciaram os horrores que foram cometidos pelas Igrejas em

nome de Deus.

Conta o Livro de Daniel, que por inveja tramaram e conseguiram um interdito do Rei com o intuito de tentá-lo e destruí-lo:

“Todos os presidentes do reino, os capitães e príncipes,

conselheiros e governadores, concordaram em promulgar um edito real e confirmar a proibição que qualquer que, por

espaço de trinta dias, fizer uma petição a qualquer deus, ou a

qualquer homem, e não a ti, ó rei, seja lançado na cova dos leões”.101

Porém, Daniel descumpriu a ordem do Rei e foi adorar o seu Deus

como costumava fazer, vindo daí a sanção do interdito do rei: Daniel teria que ir para a cova dos leões. Ele foi e não morreu, para espanto

101 Daniel 6:7.

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dos incrédulos. Assim como Daniel, ontem, hoje e sempre os fiéis

serão livrados da boca dos leões. Entende-se que os que resistem à

fé, via de regra, acabam sempre se dobrando diante dos argumentos

lógicos e irrefutáveis dos gigantes pensadores quando estes provam a existência de Deus, e da mesma forma às evidências advindas dos

julgamentos dos Juízes do Rio Grande do Sul, que são qualificados

como inovadores, porque criam algo novo, re-novam, e como diria o

Professor Cremoneze: não ficam presos à dogmática, necessária ao desenvolvimento, mas que engessa, que embota a mente. Eles

perseguem a Justiça e a estabelecem estando ou não positivada ou

enquadrada a causa na legislação vigente, seja de maneira mais

simples ou pelo muito bailar nas leis. O Rei Davi, como guerreiro e justiceiro não cedia diante da pressão, não esmorecia na fé, “não

largava a mão do arado”,102 antes prosseguia para o alvo103 como o

Apóstolo Paulo e tantos outros heróis relatados na Bíblia, nos livros

da história e no cotidiano de hoje; homens dos quais, o mundo não é digno.104

A doutrina cristã trazida por Jesus veio introduzir novas dimensões à

questão da justiça. A justiça humana é identificada como uma

justiça transitória. A lei humana que condenou Cristo, o que foi feito com base na própria opinião dos homens do seu tempo, é a

justiça cega e incapaz de penetrar na divindade. A justiça humana é a

ilusão daqueles que não conseguem enxergar além dos limites

materiais e a Justiça Divina aponta para valores que rompem com o imediato. Nesse sentido, um dos preceitos da justiça é aquela que é

eterna. O fiel é aquele que se faz conduzir de acordo com esses

valores, muitos dos quais desconhecidos dos homens, rompendo com

atos cristalizados, desmistificando figuras alegóricas populares, desfazendo o que é falso, introduzindo novas práticas e novos

conceitos. Cristo, sobretudo por meio de suas parábolas,

diferenciando o justo do injusto veio semear a boa-nova. Tudo no

sentido de colher o joio, separando-o do trigo, o que será feito num

futuro apocalíptico, por meio do julgamento final. O sentimento cristão identifica o mal como uma doença, de modo a dispor-se a seu

tratamento, que não se faz pelo julgamento insidioso e precipitado,

mas pelo perdão, pelo esquecimento e pela boa ação em si, para

aguardar pacientemente a reforma do novo coração. Onde reside vingança, não reside uma máxima cristã. Esta é a doutrina segundo

a qual aquele que age por suas ações, será medido: ao justo, a

justiça, ao injusto, a injustiça.

102

Lucas 9:61. 103

Filipenses 3:14. 104 Hebreus 11:38.

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47

“E eis que cedo venho; e o meu galardão está comigo,

para dar a cada um segundo a sua obra”.105

Assim, é deste conjunto que se deve extrair o que é devido e o que

não é devido, frente ao próximo, perante Deus. Todo entendimento,

todo raciocínio, toda moral e todo comportamento, que se digam

baseados nas leis de Cristo, devem pautar-se desses princípios, ou seja, devem se espelhar como um reflexo, no comportamento

daquele que morreu na cruz em nome de seus princípios, porque Ele

é “... o alfa e o Omega, o princípio e o fim”;106 o primeiro e o

derradeiro. Eis aí toda substância para arquitetura filosófica que

perdura por toda idade média, e todo este “compêndio” de conhecimento, toda esta maneira de enxergar, vai perdurar durante

toda a história. Poderá então haver a Justiça ideal para o homem?

Sim, poderá, se as leis postas estiverem respaldadas pelas leis

naturais e as leis divinas, que foram confeccionadas pelo Divino. O Justo Legal sai da pena do legislador e o Justo Natural vem então

validar esta lei. A lei divina aponta para valores que rompem com o

imediato, que é carnal, e o Direito Natural influencia a sua

interpretação. Evidencia-se também no presente trabalho os direitos fundamentais inseridos no artigo 5º da Constituição Federal, entre

eles a Liberdade de Expressão, que terá que ser conduzida pelas leis

morais e pela ética que vão repercutir na consciência do fiel. A moral

cumpre a sua função social que é muito parecida com a função social que o Direito tem. A pessoa poderá ser contaminada pelo coletivo ou

se pautar pelas suas convicções pessoais que foram geradas das suas

entranhas, com liberdade e responsabilidade. O Direito de Expressão

é nato do homem e o seu limite é a integridade do próximo. Sem o

direito a ela não haverá idéias expostas, não se poderá adquirir novos hábitos, reformular as idéias, ensinar, crescer, mudar de atitude, ou

seja, sem a expressão não haverá mundo e nem indivíduos.

Liberdade de culto e liberdade de consciência ou de crença o cidadão

as terá desde que não desrespeite a ordem, os bons costumes e não atinja Direitos indisponíveis. Observa-se aqui que há um despreparo,

não só judicial como policial, ou seja, não há uma legislação

específica e adequada para que o Estado possa solucionar a contento

os conflitos que estejam afetos a problemas religiosos.

Como se enfatiza, e como é notório em todas as Leis humanas,

exatamente por serem elas meramente humanas e nelas não estar

contida toda a justiça, precisará que o fio invisível do Direito Natural

e do Direito Divino venha completar, adequar, para que elas se ajustem com absoluta conformidade em cada caso concreto, que

nasce da multiforme e complexa natureza humana. E só isso. Não se

trata de anarquia ou rebeldia, mas da extrema necessidade que

105

Apocalipse 22:12. 106 Apocalipse 21:6.

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assim se faça para que não haja a inconstitucionalidade no Justo

Legal e no Justo Natural. No caso em tela, esse “fiel” não está sendo

atendido nos seus direitos de ampla defesa e não tem tido a

oportunidade de um contraditório, pois sequer há peritos no judiciário para interceder e dar a ele a oportunidade de um confronto para

qualquer tipo de defesa. Ele simplesmente estará enquadrado no tipo

penal todas as vezes que uma liderança “cismar” de assim o fazer.

Haverá evidentemente quantas testemunhas forem necessárias, pois os súditos do Pastor “comem na sua mão”, servem à igreja e não

praticam o 1º mandamento, que é o mais importante: “Amar a Deus

sobre todas as coisas...” inclusive acima da igreja, do pastor, e

qualquer lei que se contraponha aos Princípios Sagrados. Não haverá chance para ele, pois ele “perturbou”, “ultrajou” o culto.

Culto a quem? Ao Deus dos Evangelhos? Que Evangelhos? O de

Cristo não comportará tal atitude: o de levar o seu irmão a litígio como comandou o Apóstolo Paulo na sua primeira Carta aos

Coríntios.107 Antes haverá o amor, o concerto, a tentativa a sós,

depois com testemunhas, depois com a igreja e se assim não

adiantar então este será tratado como publicado, ou seja, será levado

para outra “praia” que é o judiciário, como já foi fundamentado no presente trabalho. Evidentemente a Casa de Oração não deveria ser

um esconderijo de bandidos como Jesus afirmou que hoje é,

portanto, os bandidos deverão ser entregues à sociedade, ao

judiciário, para que eles acertem então, como é justo, as contas dos seus feitos com os bens indisponíveis. Mas mesmo estes, deverão ter

o direito à ampla defesa e ao contraditório, ou seja, ter uma chance

para arrependimento. Como já foi dito, a má-fé da liderança corrupta,

esta casta que foi o principal problema do Ministério de Jesus, ao invés das prostitutas ou bandidos, impera com folga, diante da

brecha que há neste artigo, diante de uma legislação tímida,

insuficiente e ineficiente, dado ao afastamento do homem do seu

Criador, do medo do juízo o que faz ficar longe das coisas divinas.

Não há legislação adequada, não existe ainda o “Estatuto do Fiel”, não há sequer ainda uma consciência quanto a toda esta

problemática que não deixa um desigual ser atendido na sua exata

medida. Isto é inconstitucional, e mesmo imoral. O fato é que não dá

mais para ficar preso a este artigo penal como se ele fosse o sacrossanto, pois alternativamente, depois de bailar pelo universo

jurídico, acharemos várias oportunidades como tem acontecido em

várias partes do mundo e no Brasil, onde são estabelecidas defesas

prévias, onde legislação específica se sobrepõe para assim atender com especialidade as demandas. Poderemos também nos valer da

Arbitragem, como foi exposto no capítulo 7.

107 Capítulo 6.

Page 49: DUREZA DA LEI NOS DEIXA SEM GRAÇA - VÓL II

49

3.e.1 O Novo Código Civil e as igrejas

Um casal que vive em união estável (na Bíblia, fornicação) poderá

participar das decisões na Associação? O Código humano diz que sim

e a Bíblia diz que não, pois estes ainda não tomaram uma decisão a

respeito da sua fé. Devem sim, a qualquer tempo, serem aceitos

como amados, tratados e respeitados, até que reconheçam o reino e o ame acima de todas as coisas. Gilberto Garcia108, no seu livro “O

Novo Código Civil e as Igrejas”, menciona que estas deixam de ser

sociedades religiosas para se tornarem associações, e qualquer

estatuto de Igreja ensejará a intervenção de um advogado. Comenta o autor que o artigo 1723 do Código Civil reconhece a relação estável

como familiar, e, portanto, devem ser aceitos como se casados

fossem, e o artigo 1513 proíbe qualquer pessoa de direito público ou

privado, interferir na comunhão de vida instituída pela família. Outra situação que se forma, conforme o autor é em relação ao artigo 55

que fala de direitos iguais a todos os associados. O menor poderá

votar? A Assembléia aí não poderia ser anulada, segundo os artigos

3º e 4º, 166 e 171 do CC, que proíbem a participação desses? Poderá

a garotada votar e decidir sobre convenções, e congresso deliberativo? O Código Civil diz que não, mas a Bíblia diz que sim.

Antes da “igualdade feminina” ser aclamada, as mulheres eram mais

protegidas pela lei em caso de separação, agora elas cada vez mais

pagam pensão aos homens, e estes cada vez mais conseguem na justiça escusar-se de cumprir com os seus compromissos.

108

GARCIA, Gilberto. O Novo Código Civil e as Igrejas. SP. Ed. Vida, 2003.

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50

3.e.2 Propostas de mudanças para a legislação vigente

As leis internas desta Associação/Igreja, na verdade não teriam que

ser mais do que algumas anotações de ordem administrativa, locais, pois toda a regulamentação necessária para que as pessoas convivam

está absolutamente expresso nas Escrituras Sagradas. Se eles se

propõem a seguir esta fonte teológica que são os Evangelhos, a

fundamentar as suas atitudes, a vida que levam e tudo o que falam, segundo essas Leis, eles têm que se colocar a partir daí. O fiel sabe

que o único regimento que necessita será o Estatuto Sagrado. Se os

órgãos públicos aceitam e registram esses estatutos com a dita

cláusula (vide anexo nº13/ modelos de estatuto), os Evangelhos, as

Leis Cristãs já estão inseridas neste contexto, já estão legitimadas. É então um conflito “aparente”, pois tudo isso é muito simples de ser

equacionado. Assim, que sejam julgados pela lei específica deles,

como seria o óbvio não fosse o impropério humano. Quando se

esgotarem as tentativas para o conserto, aí sim o Direito Positivo será invocado. É visível então a necessidade urgente de uma

regulamentação, uma complementação nesta área, direcionando a

que se resolvam anteriormente, previamente, através das leis

internas das Associações, como ordena a Lei Sagrada que estes dizem seguir. O artigo 57 do Código Civil acende uma luz no final do

túnel e não se pode parar de caminhar nesta direção, até que se

consiga ver estabelecido secularmente com ordem e com decência,

este plenário invocado pelo Ap. Paulo em 1ª aos Coríntios, bem como

os juízes de Deus, novamente, como proclama Isaías 1. Art. 57. A exclusão do associado só é admissível havendo justa

causa, assim reconhecida em procedimento que assegure direito de defesa e de recurso, nos termos previstos no estatuto.

A sociedade não pode mais acobertar, passar de largo e conviver com

esta impunidade. Como já foi dito, a demora, a alienação das autoridades quanto a este assunto religião se dá pelo temor, pelo

medo, pela ignorância. Isto é inusitado, surpreendente, inadmissível

e inesperado, porém já acontece e não se pode mais aceitar a

inoperância da justiça. Os fiéis estão sem justiça, e o Estado lhes

deve isto, na sua exata medida. “Eu, a sabedoria, habito com a prudência, e acho o

conhecimento dos conselhos. Ouvi a instrução, e sede sábios, não a rejeiteis. Bem-aventurado o homem que me dá ouvidos,

velando às minhas portas cada dia, esperando às ombreiras da

minha entrada. Porque o que me achar, achará a vida, e

alcançará o favor do Senhor. Mas o que pecar contra mim violentará a sua própria alma; todos os que me odeiam amam

a morte”.109

109 Provérbios 8:12,33 a 36.

Page 51: DUREZA DA LEI NOS DEIXA SEM GRAÇA - VÓL II

51

3.e.3 Julgamento Prévio

A necessidade de se economizar a máquina judiciária, estar atento ao

princípio da economia processual é cada vez crescente na pauta da Justiça. As soluções terão que brotar urgente das autoridades neste

sentido, pois a situação é caótica. Surge então uma variedade de

sugestões neste sentido, e entre esses projetos estão as prévias, os

processos administrativos, muitos dos quais solucionam, direcionam ou pelo menos tentam solucionar os conflitos antes das partes

baterem às portas do judiciário. Muitos são os projetos e os trabalhos

apresentados neste sentido, como já exposto no capítulo 6, como o

Conselho Nacional de Trânsito110 (Contran) padronizou e regulamentou o direito de defesa da pessoa multada. Quem dirige

agora ganhou o direito de fazer uma "defesa prévia" ou "defesa de

autuação", a cada vez que for informado pelo órgão gestor de

trânsito de que cometeu uma infração. O que se pretende com esta medida é dar amplo direito de defesa ao motorista, e a transparência

ao processo de aplicação de multas.

Observa-se o princípio da primazia da realidade efetivamente

considerado no Direito do Trabalho, e também o da celeridade processual e o da conciliação, tendo assim este ramo do direito,

servido de exemplo e de guia para outros ramos. Referente à Lei

11.343/06, a nova lei de drogas, registra-se que a defesa prévia ou

preliminar que oferece esta lei, é semelhante aquela existente no rito de responsabilidade do Funcionário Público e no rito de competência

dos Tribunais Superiores. Quando o funcionário é processado, antes

do juiz receber a denúncia, dado a relevância do cargo da pessoa

pública, ele tem direito a apresentar uma defesa objetivando o não recebimento da denúncia. Podemos denominar isto de um

“contraditório prévio”. Esta lei está prestigiando o princípio da ampla

defesa. Este é um dos poucos ritos em que se discute antes de se

instaurar a ação penal, isto é, ele concede uma chance a mais para o

réu. Esta defesa prévia serve para argüir eventuais exceções de suspeição e de impedimento, para argüir nulidades, e,

substancialmente, para abordar questões de mérito (documentos,

testemunhas, notificações) onde o acusado vai alegar que na

realidade não praticou o delito e que a denúncia é inepta, ou seja, que não há justa causa para o seu recebimento. Ela é a oportunidade

de dizer que o promotor está equivocado ao fazer tal acusação. Com

esta defesa prévia o juiz vai analisar se recebe ou não a denúncia, se

instaura ou não a ação penal.

110

Mais páginas de radiobras.gov.br.

Page 52: DUREZA DA LEI NOS DEIXA SEM GRAÇA - VÓL II

52

Como se pode ver, o assunto é entusiasmante, confortante,

estimulante e muito presente. A história nos impulsiona a prosseguir,

a conquistar territórios. Percebe-se várias tentativas de avanço,

verdadeiras exceções diferenciando assim classe desigual, atendendo à sua desigualdade flagrante. Entende-se certamente que o direito

deve ser dado a cada um, e se há alguém que não o está alcançando

por uma lacuna na lei, prontamente esta grave falta deverá ser

restabelecida para que o ideal de JUSTIÇA se estabeleça. Há um ditado popular que diz que “pimenta nos olhos dos outros é refresco”.

É exatamente isto. A pimenta está ardendo nos olhos dos “fiéis” e

alguns ou alguém terá que denunciar isto e as autoridades

constituídas, que haverão de prestar contas do que lhes forem apresentados, sob pena de estarem descumprindo a sua função.

3.e.4 Arbitragem

Esta tendência atual se expressa também pela arbitragem, onde as

partes decidem de comum acordo encaminhar o julgamento para um

juiz leigo. Chegando as partes a um consenso, transcreve-se o dito, o

acordado, o qual será endossado por ambas as partes. Este

procedimento tem peso de petição inicial. As partes individualmente escolhem seus advogados e escolhem alguém que vai fazer a

arbitragem, e desta forma evitam-se os custos processuais. Neste

ano de 2006 esta maneira alternativa de se buscar a justiça está

completando 10 anos. Ela existia anteriormente no CPC de 1989, mas não funcionava, até porque não existia nada que obrigasse a se usar

esta Lei. O CPC de 1973 abriga este juízo arbitral, cujos artigos (1072

a 1102) foram revogados pela Lei Especial de nº 9.307/ 1996.

Percebe-se como saldo um interesse e um conhecimento maior em relação ao assunto. Caso o acordo não seja possível, passa-se então

o impasse ao Judiciário, assim como o foi no julgamento de Jesus e

de Paulo, como já foi descrito anteriormente, no capítulo 1 (3) deste

trabalho.

Os artigos 1º e 2º da Lei nº 9207 determinam que as pessoas

capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para dirimir

litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis, e que a

arbitragem poderá ser de direito ou de eqüidade, a critério das partes. Também poderão as partes escolher, livremente, as regras de

direito que serão aplicadas na arbitragem, desde que não haja

violação aos bons costumes e à ordem pública e também poderão as

partes convencionar que a arbitragem se realize com base nos princípios gerais de direito, nos usos e costumes e nas regras

internacionais de comércio. Em caso de discordância, como já foi dito,

parte-se para o Direito Positivo, e neste caso o juiz deverá se pautar

pelo resultado deste confronto, pela análise, pela ajuda de um perito no assunto, que será alguém insuspeito, ou seja, sem estar afeto à

qualquer religião, com frutos visíveis de observador da Lei Cristã.

Page 53: DUREZA DA LEI NOS DEIXA SEM GRAÇA - VÓL II

53

Este será o juiz que Deus prometeu estabelecer nos últimos dias da

terra, como era a regra divina antes do povo pedir um rei, rejeitando

assim como já exposto, o Rei dos Reis no anexo de nº 18. Observa-

se, porém, que embora esta seja uma solução prática, coerente, rápida e inteligente, as partes aqui dificilmente entrariam em um

acordo quanto à escolha do árbitro, pois a liderança da igreja do

status quo, não quer qualquer tipo de acordo com o “fiel”. Esta

liderança mercenária se embrenha nos conchavos políticos e perdem assim a essência, o “fio da meada”, estando em absoluta oposição a

este que é movido por esta essência. Diz a Bíblia que estes fiéis

deveriam ser julgados primeiro pela lei deles, como deve ser, sem

sombra de dúvidas, se o objetivo for se fazer a justiça: “Mas, sendo Gálio procônsul da Acaia, levantaram-se os

judeus concordemente contra Paulo, e o levaram ao tribunal,

dizendo: Este persuade os homens a servir a Deus contra a lei. E, querendo Paulo abrir a boca, disse Gálio aos judeus: Se

houvesse, ó judeus, algum agravo ou crime enorme, com

razão vos sofreria, mas visto que a questão é de palavras, de nomes e da vossa lei, disso cuidai vós mesmos. Eu não quero

ser juiz dessas coisas. E expulsou-os do Tribunal”.111

3.e.5 Invoca-se justiça

Na exposição do presente trabalho, percebe-se que a liderança

mercenária tem estado impune e que os “fiéis” não estão sendo

atendidos na sua exata medida. Como se pode ver, a verdade dos fatos tem sido alterada, e o Estado não pode ficar alheio a esta

“falcatrua”, a esta bandidagem, a esse abuso de autoridade, de

poder, a este estelionato, a essa denunciação caluniosa, a este crime

contra o consumidor, a este crime de racismo, sob pena de estar descumprindo a sua função de dar a cada jurisdicionado a sua cota

de JUSTIÇA, contra tudo e contra todos. O Estado não poderá

continuar a consentir com esses mercenários, continuar recuando

como vem fazendo. Falava o Professor Cremoneze nas aulas de Direito Constitucional da UNISANTOS que é melhor correr o risco do

que não avançar, pois é sabendo que as pessoas têm medo do risco,

que as pessoas que dominam o mundo continuam dominando,

porque m um determinado momento eles não tiveram medo do risco.

É um conflito. A Igreja do status quo se adapta tranquilamente a estas situações, porém, o fiel, o que faz “confusão” não vai aceitar

suborno.112 Ele sabe a quem serve. É necessário que os homens re-

conheçam a simplicidade e voltem às veredas antigas:

“Assim diz o SENHOR: Ponde-vos nos caminhos, e vede, e

perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho, e

111

Atos 18:15. 112 Isaías 45:13.

Page 54: DUREZA DA LEI NOS DEIXA SEM GRAÇA - VÓL II

54

andai por ele; e achareis descanso para as vossas almas; mas

eles dizem: Não andaremos nele”.113

Disse Albert Camus114, um autor francês, que o homem vive em um

vazio existencial muito grande. Isto se enquadra no que vivemos no

modelo atual, porque prioristicamente Deus respondia a todas as

questões, depois o homem veio a ser centro de tudo e resolvia tudo. Veio então o iluminismo e a razão para responder a tudo, começando

assim a era da tecnologia, onde o homem criou uma expectativa tão

grande em relação a estas descobertas que pensou que enfim seria

independente de Deus. Tudo ele iria poder, fazendo em paralelo com

o dito de Lúcifer enquanto era um Querubim da Guarda Real: “Subirei acima das mais altas nuvens; serei semelhante ao

Altíssimo”.115

As invenções, a tecnologia, o fariam voar alto. No entanto, esta

ciência foi usada para as guerras, e a sensação pós-guerra, é o vazio

total do sentido humano, da existência humana, pois aí nada tem

valor. Estes estão totalmente desrelativisados. Não se tem mais consciência do que é realmente um valor para sociedade. Hugo

Grócio, o filósofo, fala das guerras públicas travadas entre o coletivo,

as guerras privadas travadas entre os particulares, como

assassinatos, duelos, raptos e todas as formas de violências. Fala das guerras mistas entre os particulares e o Estado, como por exemplo os

conflitos religiosos. Tudo isso leva o homem à condição de pós-

guerra constante. Solucionar o problema das guerras é não só

discipliná-las quando ocorrem, mas, antes, remover as suas causas e impedir o seu advento, entender o motivo da determinada guerra e

tentar resolver a desavença de uma maneira justa. Precisa-se da

medicina preventiva antes da curativa, pois a que previne, conserva

sem deixar quebrar. O homem, por não querer pensar, é imediatista: quando sente dor na cabeça não pensa nas causas que a originaram

para erradicar o problema, que poderá ser indisciplina,

irresponsabilidade no comer, etc, mas vai buscar na farmácia algo

para retirar a dor momentânea e não procurar um meio para

erradicá-la. A medicina preventiva ensina a prevenir para não ter que remediar, ou seja, a ter uma vida regrada, disciplinada, para depois

de alguém nadar e nadar, não tenha muitas vezes que “morrer na

praia”, ou seja, ganhar, mas não levar. Paralelamente, as Leis Cristãs

ensinam ao homem a fazer tudo com ordem e com decência,116 a esmerar-se na disciplina, como nos alerta Paulo:

113 Jeremias 6:16. 114

Livro: O Estrangeiro; Camus, Albert; 26ª ed; Ed Record; Trad: Valerie Rumjanek (L’étranger); RJ/SP;2005. 115 Isaías 14:14. 116 I aos Coríntios 14:40.

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55

“Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à submissão, para

que, depois de pregar a outros, eu mesmo não venha a ficar

reprovado”.117

Percebe-se então, que tudo o que está acontecendo na sociedade

atual é resultado de tudo o que vem acontecendo na história, é a

conseqüência, é o que o homem colhe da semeadura inconseqüente e impensada. O homem está vivendo esta fase sem sentido, sem

essência, sem conteúdo, sem saber o caminho que vai seguir. Prefere

então alienar-se, não pensar mais. Hobbes fala de uma lei fria, seca,

dura, necessária para normatizar pessoas frias, secas e duras, para

que um lobo não coma o outro. O que ele viu é real e este homem tem que saber colocar esta parte no cabresto:

“Porque o que faço não o aprovo; pois o que quero isso não

faço, mas o que aborreço isso faço”.118

“Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão (...)”.119

“Eu protesto que cada dia morro, gloriando-me em vós,

irmãos, por Cristo Jesus nosso Senhor”.120

“Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a

carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais

o que quereis”.121

A sociedade fala que é proibido proibir, conquista a sua liberdade e não sabe o que fazer com ela, pois esta implica em responsabilidade

que neste momento de caos não se quer pensar nela. O ECA, o

Código Penal inibe a responsabilidade dos pais corrigirem de maneira

mais efetiva, porém, cada vez mais as crianças e os adolescentes se perdem na rebeldia, no crime e na prostituição e os homens não se

perguntam se tem algo errado nisto. Eis o que a Bíblia fala sobre a

correção de uma criança:

“O que não faz uso da vara odeia seu filho, mas o que o ama,

desde cedo o castiga”.122

“Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele. A estultícia está ligada ao

coração da criança, mas a vara da correção a afugentará

dela”.123

117 I aos Coríntios 9: 27. 118 Romanos 7:15. 119 I aos Coríntios 9:27. 120 I aos Coríntios 15:31. 121

Gálatas 5:17. 122

Provérbios 13:24. 123 Provérbios 22:6,15.

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56

“Não retires a disciplina da criança; pois se a fustigares com

a vara, nem por isso morrerá”.124

“A vara e a repreensão dão sabedoria, mas a criança

entregue a si mesma, envergonha a sua mãe. Castiga o

teu filho, e te dará descanso; e dará delícias à tua alma”.125

“Melhor é a criança pobre e sábia do que o rei velho e

insensato, que não se deixa mais admoestar”.126

Os jovens são capazes de ficar muitas horas escutando “músicas”,

apenas por um motivo: a fuga de pensar na existência humana. Qual

o seu intuito? Para que se faz uma faculdade de Direito? Para onde se

está indo? Essas perguntas, essenciais para serem respondidas, para que o ser humano adquira sua personalidade, sua moral, não são

feitas. Eles vivem em “tribos”, a tribo pensa por eles. Fazem tudo

igual. Pensar traz uma angústia muito grande, então fogem. É uma

fuga de pensar na vida. O homem pode e deve escrever a sua própria história, como disse Leibniz, porém sem se evadir dos princípios

Divinos. E muitas vezes poderão e deverão ultrapassar a lei humana

em todas as oportunidades em que ela ferir esses princípios, como o

exemplo que já foi citado em que os exemplares da Bíblia, que contêm a Palavra de Deus que não poderá ficar presa,127 e por isso

são transportadas a alguns países que proíbem a leitura do Livro

Sagrado, trabalho este, feito pelos “contrabandistas de Deus”, os

santos, os “fortes”, que embora sendo fracos, afirmam como o seu

Mestre em João 4, verso 34: “Jesus disse-lhes: A minha comida é fazer a vontade daquele

que me enviou, e realizar a sua obra.”

Não se pode esquecer que a humanidade está dividida entre antes e

depois de CRISTO, e que as Leis Cristãs estão inseridas em todos os

seguimentos da sociedade como já foi exposto (ver texto no anexo nº

6). Invoca-se então uma nova maneira de ver o direito, que seja efetivamente, direito, atendendo o necessitado na exata medida da

sua desigualdade. Embora seja devido o processo legal, não pode- se

ficar detido no direito posto, mas avançar na direção do justo, ou

seja, buscar na fonte moral, natural, Divina o necessário para completar esta tão almejada JUSTIÇA. Reza as palavras de Jesus em

Marcos 10, verso 27:

124 Provérbios 22:13. 125

Provérbios 29:15,17. 126

Eclesiastes 4:13. 127 II a Timóteo 2:9.

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57

“Jesus, porém, olhando para eles, disse: Para os homens é

impossível, mas não para Deus, porque para Deus todas as

coisas são possíveis.”

Deve-se observar também uma questão muito complexa e de

embasamento teológico enfocado no filme “A Jornada”,128 onde o

autor, com muita pertinência enfoca que as Leis Morais foram ao longo dos anos dissociadas do seu autor. A fonte, a autoria da

idéia de que não se dever matar ou roubar ou mentir, etc, é Jesus

Cristo. Quando se ensina sobre estes fatos isoladamente, sem colocar

a origem dessas palavras, sem dizer de quem foi esta ordem, as pessoas terão a oportunidade de escolher a moral que quiser, ou

seja, roubar, mentir ou não. Porém, como se sabe, as pessoas são

absolutamente desiguais. Como ficaria então esta questão? Fala o

autor que a autoridade da autoria foi tirada, e aí se estabelece o caos. As pessoas perderam o temor da Divindade e constroem um

pensamento que é contrário às Leis Sagradas, onde cada um pode

herdar o Reino Divino com as suas boas obras invalidando totalmente

o sacrifício vicário de Cristo.

Registre-se aqui também o que enfoca Augusto Cury129 nos 5

volumes da série: “Análise da Inteligência de Cristo”130, onde o autor

fala que as pessoas sabem que a humanidade está dividida entre

antes e depois de Cristo, porém, não são todos que se interessam em saber quem é Ele. Fala o autor que é uma perda irreparável o fato de

nas escolas, nas faculdades não haver nos seus currículos a biografia

de Jesus, como há o de tantos. Seria natural e normal que Este,

sendo o homem mais importante que já houve na terra, já que divide a humanidade no meio, como é feito com os outros personagens da

história, estivesse no rol das biografias a que o os alunos têm acesso.

A vida de Jesus, os seus métodos, segundo o autor, coloca as nossas

pretensões psicológicas, psiquiátricas ainda na “idade da pedra”. Este autor pesquisa e ensina sobre a inteligência humana, educação e

muitas outras coisas (livros em mais de 60 países). Era ateu quando

observou esta lacuna e saiu em busca desta explicação. Encontrou

nos Evangelhos o único registro da história sobre a Sua vida, Sua

biografia. Estudou durante muitos anos e chegou à conclusão que é uma grande perda e uma grande incoerência a humanidade não se

informar mais sobre este homem, que não era só homem, mas

também Deus entre os homens. A humanidade de Jesus é registrada

de maneira ímpar por este autor. Importa muitíssimo que se saiba

128 Ano de produção: 2002/ País de origem: EUA / Gênero: Aventura /

Tempo de duração: 100’/ Censura: livre./ Comev. 129 Psiquiatra, pesquisador da psicologia e escritor.Professor do pós graduação, conferencista

em congressos nacionais e internacionais. 130 CURY, AUGUSTO. Análise da Inteligência de Cristo. RJ. Ed. Sextante 2006. 5 vol.

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58

que enquanto encarnado Jesus não se valeu, em momento algum dos

Seus atributos divinos. Venceu como homem e quis deixar o exemplo

de que qualquer que fizer como Ele fez conseguirá o que Ele

conseguiu. Augusto Cury era ateu, mas não fechou a porta para o subjetivo, descobrindo então coisas maravilhosas, essenciais para a

sua existência e para o de tantos. É o que este trabalho espera

atingir: que as pessoas entendam que o subjetivo não anula o

objetivo, mas os dois convivem em harmonia, guardada a devida coerência, querendo os homens ou não.

É preciso então, como não é encoberto a ninguém, ressuscitar a

credibilidade da JUSTIÇA, tanto na religião como no judiciário. Invoca-se a posição dos “enviados”, dos pioneiros, destes que na

história tentaram, tentaram e muitas vezes não conseguiram, mas

mesmo assim deixaram uma marca esplendida de honestidade, uma

contribuição inestimável de hombridade e sensatez (“... dos quais o

mundo não era digno...” Hebreus 11:38). Eles não foram vencidos,

fizeram a sua parte. Muitos desses foram escarnecidos pela sua

aparente derrota, mas mesmo estes escarnecedores não puderam

deixar de admirá-los e invejá-los. No Livro primeiro de Samuel, a

Bíblia narra um episódio interessantíssimo, em que os anciãos, perplexos, questionando o porquê da derrota, ordenaram que fosse

trazida de Siló, a Arca da Aliança do Senhor (um símbolo da presença

de Deus), para que assim fossem libertos. Na batalha seguinte, os

filisteus se prepararam e o povo de Deus foi confiante, certos da vitória e grande foi a derrota (e nesta hora, quem não culpa Deus?):

“A estultícia do próprio homem arruína a sua vida, contudo o

seu coração se ira contra o Senhor”.131

Os filhos do sacerdote foram então mortos e ainda foi tomada a arca

de Deus. O texto anuncia que se o povo de Deus se faz execrável, a

sua única saída será o arrependimento, e através da cruz de Cristo será lavado do pecado e ficará livre, porém, o que a religião ensina é

exatamente o que esses sacerdotes fizeram, ou seja, que se

cumprirem o ritual (buscarem a arca), não precisarão deixar de ser

execráveis. A aparência é o que interessa, porém, de Deus não se zomba: cumprir todo o ritual, sem o arrependimento, é uma absoluta

perda de tempo. “Os filhos de Deus se fizeram execráveis

(exatamente como acontece hoje) e perderam a batalha diante dos

filisteus (exatamente como acontece hoje)”.132 Em Isaías, capítulo 1 está registrado o que sente Deus a respeito deste “corre-corre” na

igreja, deste ativismo, um engano maldito que prende o homem no

abominável:

131

Provérbios 19:3. 132 I Samuel 4.

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59

“1 A visão de Isaías, filho de Amoz, que ele teve a respeito de

Judá e Jerusalém, nos dias de Uzias, Jotão, Acaz, e Ezequias,

reis de Judá. 2 Ouvi, ó céus, e dá ouvidos, ó terra, porque falou o Senhor: Criei filhos, e os engrandeci, mas eles se

rebelaram contra mim. 3 O boi conhece o seu possuidor, e o

jumento a manjedoura do seu dono; mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende. 4 Ah, nação

pecadora, povo carregado de iniqüidade, descendência de

malfeitores, filhos que praticam a corrupção! Deixaram o

Senhor, desprezaram o Santo de Israel, voltaram para trás. 5 Por que seríeis ainda castigados, que persistis na rebeldia?

Toda a cabeça está enferma e todo o coração fraco. 6 Desde a

planta do pé até a cabeça não há nele coisa sã; há só feridas, contusões e chagas vivas; não foram espremidas, nem atadas,

nem amolecidas com óleo. 7 O vosso país está assolado; as

vossas cidades abrasadas pelo fogo; a vossa terra os estranhos a devoram em vossa presença, e está devastada,

como por uma pilhagem de estrangeiros. 8 E a filha de Sião é

deixada como a cabana na vinha, como a choupana no pepinal,

como cidade sitiada. 9 Se o Senhor dos exércitos não nos deixara alguns sobreviventes, já como Sodoma seríamos,

e semelhantes a Gomorra. 10 Ouvi a palavra do Senhor,

governadores de Sodoma; dai ouvidos à lei do nosso Deus, ó

povo de Gomorra. 11 De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios? diz o Senhor. Estou farto dos

holocaustos de carneiros, e da gordura de animais

cevados; e não me agrado do sangue de novilhos, nem de

cordeiros, nem de bodes. 12 Quando vindes para comparecerdes perante mim, quem requereu de vós isto,

que viésseis pisar os meus átrios? 13 Não continueis a

trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação. As

luas novas, os sábados, e a convocação de assembléias ... não posso suportar a iniqüidade e o ajuntamento

solene! 14 As vossas luas novas, e as vossas festas fixas,

a minha alma as aborrece; já me são pesadas; estou

cansado de as sofrer. 15 Quando estenderdes as vossas

mãos, esconderei de vós os meus olhos; e ainda que

multipliqueis as vossas orações, não as ouvirei; porque as

vossas mãos estão cheias de sangue. 16 Lavai-vos, purificai-

vos; tirai de diante dos meus olhos a maldade dos vossos atos;

cessai de fazer o mal; 17 aprendei a fazer o bem; buscai a

justiça, acabai com a opressão, fazei justiça ao órfão,

defendei a causa da viúva. 18 Vinde, pois, e arrazoemos, diz

o Senhor: ainda que os vossos pecados são como a escarlata,

eles se tornarão brancos como a neve; ainda que são

vermelhos como o carmesim, tornar-se-ão como a lã. 19 Se

quiserdes, e me ouvirdes, comereis o bem desta terra; 20

mas se recusardes, e fordes rebeldes, sereis devorados à espada; pois a boca do Senhor o disse. 21 Como se fez

prostituta a cidade fiel! ela que estava cheia de retidão! A

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justiça habitava nela, mas agora homicidas. 22 A tua prata

tornou-se em escória, o teu vinho se misturou com água. 23

Os teus príncipes são rebeldes, e companheiros de ladrões; cada um deles ama as peitas, e anda atrás de presentes; não

fazem justiça ao órfão, e não chega perante eles a causa da

viúva. 24 portanto diz o Senhor Deus dos exércitos, o Poderoso de Israel: Ah! livrar-me-ei dos meus adversários, e

vingar-me-ei dos meus inimigos. 25 Voltarei contra ti a minha

mão, e purificarei como com potassa a tua escória; e

tirar-te-ei toda impureza; 26 e te restituirei os teus juízes, como eram dantes, e os teus conselheiros, como

no princípio, então serás chamada cidade de justiça,

cidade fiel. 27 Sião será resgatada pela justiça, e os seus

convertidos, pela retidão. 28 Mas os transgressores e os pecadores serão juntamente destruídos; e os que deixarem o

Senhor serão consumidos. 29 Porque vos envergonhareis por

causa dos terebintos de que vos agradastes, e sereis

confundidos por causa dos jardins que escolhestes. 30 Pois sereis como um carvalho cujas folhas são murchas, e como um

jardim que não tem água. 31 E o forte se tornará em estopa, e

a sua obra em faísca; e ambos arderão juntamente, e não haverá quem os apague”.133

Aquele que sabe o bem que deve fazer e não o faz,134 colherá os

frutos amargos depois:

“Então Mordecai mandou que respondessem a Ester: Não

imagines que, por estares no palácio do rei, terás mais

sorte para escapar do que todos os outros judeus. Pois, se de todo te calares agora, de outra parte se

levantarão socorro e livramento para os judeus,

mas tu e a casa de teu pai perecereis; e quem sabe

se não foi para tal tempo como este que chegaste ao reino?”.135

133

Isaías 1. 134

Tiago 4:17. 135 Ester 4:13,14.

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61

4. Minha culpa

Seguindo o propósito desta meditação, que é meditar na Lei e na

Graça, usando entre outros argumentos e exemplos a minha própria vida, Vamos enfatizar aqui as marcas da dureza incrustada na

personalidade e como é necessário este quesito na vida de um

soldado de Cristo, onde está o joio e o trigo neste ingrediente.

Aprendamos um pouquinho mais sobre esta matéria antes de colocar como me vi na pele de um fariseu.

Nesta intenção colocamos dois títulos:

1. “Um açoite de Deus”

2. “Um Grande Mico”.

Que o Senhor que se chama Verdade venha nos curar e libertar, nos

dá o equilíbrio, que não é, nem antes e nem depois, mas na justa

medida. Quem pode nos falar deste divisor de águas? SÓ ELE.

“12 Quem pode discernir os próprios erros? Purifica-me tu

dos que me são ocultos”.136

Ele nos sonda e nos conhece...

“1 Senhor, tu me sondas, e me conheces. 2 Tu conheces o meu

sentar e o meu levantar; de longe entendes o meu pensamento. 3 Esquadrinhas o meu andar, e o meu deitar, e

conheces todos os meus caminhos. 4 Sem que haja uma

palavra na minha língua, eis que, ó Senhor, tudo conheces. 5

Tu me cercaste em volta, e puseste sobre mim a tua mão. 6 Tal conhecimento é maravilhoso demais para mim; elevado é,

não o posso atingir. 7 Para onde me irei do teu Espírito, ou

para onde fugirei da tua presença? 8 Se subir ao céu, tu aí estás; se fizer no Seol a minha cama, eis que tu ali estás

136 Salmo 19:12.

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também. 9 Se tomar as asas da alva, se habitar nas

extremidades do mar, 10 ainda ali a tua mão me guiará e a tua

destra me susterá. 11 Se eu disser: Ocultem-me as trevas; torne-se em noite a luz que me circunda; 12 nem ainda as

trevas são escuras para ti, mas a noite resplandece como o

dia; as trevas e a luz são para ti a mesma coisa. 23 Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e

conhece os meus pensamentos; 24 vê se há em mim

algum caminho perverso, e guia-me pelo caminho

eterno”.137

Quando peço tal coisa para Deus sei que vou precisar da

misericórdia...

“1 Compadece-te de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a

multidão das tuas misericórdias. 2 Lava-me completamente

da minha iniqüidade, e purifica-me do meu pecado. 3 Pois (...)

e o meu pecado está sempre diante de mim. 4 Contra ti, contra ti somente, pequei, e fiz o que é mau diante dos teus olhos; de

sorte que és justificado em falares, e inculpável em julgares. 5

Eis que eu nasci em iniqüidade, e em pecado me concedeu

minha mãe. 6 Eis que desejas que a verdade esteja no

íntimo; faze-me, pois, conhecer a sabedoria no secreto da

minha alma. 7 Purifica-me com hissopo, e ficarei limpo;

lava-me, e ficarei mais alvo do que a neve. 8 Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que se regozijem os ossos que

esmagaste. 9 Esconde o teu rosto dos meus pecados, e apaga

todas as minhas iniqüidades. 10 Cria em mim, ó Deus, um

coração puro, e renova em mim um espírito estável. 11 Não

me lances fora da tua presença, e não retire de mim o teu

santo Espírito. 12 Restitui-me a alegria da tua salvação, e

sustém-me com um espírito voluntário. 13 Então ensinarei aos transgressores os teus caminhos, e pecadores se converterão

a ti. 14 Livra-me dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da minha

salvação, e a minha língua cantará alegremente a tua justiça.

15 Abre, Senhor, os meus lábios, e a minha boca proclamará o teu louvor”.138

Ele ouve e perdoa o arrependido...

“1 Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada,

e cujo pecado é coberto. 2 Bem-aventurado o homem a

quem o Senhor não atribui a iniqüidade, e em cujo espírito não

há dolo. 8 Instruir-te-ei, e ensinar-te-ei o caminho que deves seguir; aconselhar-te-ei, tendo-te sob a minha vista. 9 Não

sejais como o cavalo, nem como a mula, que não têm

137

Salmo 139:1/12,23,24. 138 Salmo 51:1/13.

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entendimento, cuja boca precisa de cabresto e freio; de outra

forma não se sujeitarão”.139

E este arrependido sabe que vai ser purificado, corrigido...

“9 Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para

nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça”.140 “3 Considerai, pois aquele que suportou tal contradição dos

pecadores contra si mesmo, para que não vos canseis, desfalecendo em vossas almas. 4 Ainda não resististes até o

sangue, combatendo contra o pecado; 5 e já vos esquecestes

da exortação que vos admoesta como a filhos: Filho meu, não

desprezes a correção do Senhor, nem te desanimes quando por ele és repreendido; 6 pois o Senhor corrige

ao que ama, e açoita a todo o que recebe por filho. 7 É

para disciplina que sofreis; Deus vos trata como a filhos;

pois qual é o filho a quem o pai não corrija? 8 Mas, se estais sem disciplina, da qual todos se têm tornado participantes,

sois então bastardos, e não filhos. 9 Além disto, tivemos

nossos pais segundo a carne, para nos corrigirem, e os

olhávamos com respeito; não nos sujeitaremos muito mais ao Pai dos espíritos, e viveremos? 10 Pois aqueles por pouco

tempo nos corrigiam como bem lhes parecia, mas este, para

nosso proveito, para sermos participantes da sua santidade.

11 Na verdade, nenhuma correção parece no momento ser motivo de gozo, porém de tristeza; mas depois

produz um fruto pacífico de justiça nos que por ele têm

sido exercitados. 12 Portanto levantai as mãos cansadas, e

os joelhos vacilantes, 13 e fazei veredas direitas para os vossos pés, (...)”.141

139

Salmo 32:1,2,8,9. 140

I João 1. 141 Hebresus 12:3/13.

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4.a Um Açoite de Deus

Fala o Todo Poderoso, como já vimos que Ele açoita o filho que ama.

Mas será que Deus faz isso?

“5 Saberás, pois, no teu coração que, como um homem corrige

a seu filho, assim te corrige o Senhor teu Deus”. 142

Quem pode suportar tal coisa?

“17 Eis que bem-aventurado é o homem a quem Deus corrige; não desprezes, pois, a correção do Todo-Poderoso”.143

Fiquei deveras espantada com a maldade de alguém que amassou a

porta do meu carro. Porque assim sucedeu? Prossegui com os meus afazeres e no dia seguinte de madrugada quando fui orar por muitos

motivos, percebi o Espírito de Deus me levar a lembrar de um fato

que aconteceu há pouco tempo atrás. Um amigo da minha filha ao

dar a ré na sua Blaser, derrubou duas motos em frente do nosso prédio. Ficou apavorado e fugiu, deixando minha filha de boca aberta

no portão, sem saber o que fazer. Fiquei sabendo do acontecido um

tempo depois, pois ela também, apreensiva com a situação, não me

falou nada. Orientei-a para falar com ele para reparar a situação, ao

que Ele se negou a fazê-lo; sugeri então para ela ir sozinha falar com a síndica (uma das proprietárias das motos). Ela assim fez; pediu

perdão relatando o fato, muito constrangida, ao que a boa mulher

respondeu que o seu dano foi mínimo e não tinha problema algum. A

outra moto, porém, segundo ela, sofreu um dano maior e os proprietários ficaram deveras, furiosos: amaldiçoaram e ameaçaram

muito, e por esta razão a gentil senhora aconselhou minha filha a

não falar mais nada para não criar mais confusão, pois eles eram

pessoas diferentes dela. Veio minha filha relatando o fato e eu fiquei um tanto perturbada, mas os muitos afazeres do cotidiano ...

“41 Respondeu-lhe o Senhor: Marta, Marta, estás ansiosa e

perturbada com muitas coisas; 42 entretanto poucas são necessárias, ou mesmo uma só; e Maria escolheu a boa parte,

a qual não lhe será tirada”.144

... e também a fadiga emocional diante de muitas situações adversas, me fizeram acolher aquelas palavras que soaram aos meus ouvidos

como um escape. Não meditei profundamente em nada, mas agarrei

aquele “sábio” conselho e descansei.

142

Deuteronômio 8:5. 143

Jó 15:17. 144 Lucas 10: 41,42.

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65

No entanto, o meu Pai, que me ama, e que não descansa e nem me

deixa descansar até que me venha colocar como objeto de louvor na

terra145, veio falar comigo de maneira direta, bem alto e em bom

tom, pois entendi tudo muito claro. Ora, se a porta do meu carro não estivesse amassada, se eu não tivesse sofrido o dano, como eu

poderia perceber a injustiça de eu ter deletado o caso da moto para

não ter problemas? Não percebi, mas coloquei a sujeira debaixo do

tapete, coloquei uma pedra em cima do assunto, e continuei a pregar, a falar, a ensinar e a esperar por justiça, como se tivesse,

naquele momento, autoridade para isso, com esta brecha aberta

dando então legalidade ao maligno para me oprimir. Se eu cedi este

lugar146, ele não perderia a chance, sim, pois se houver causa, a maldição encontrará pouso147. Deus seria justo se a Palavra d’Ele não

valesse? Como poderíamos confiar n’Ele se assim fosse? Eu sei que

errei e que deixei de aplicar a justiça para um dos lados. Os donos da

moto ficaram com o prejuízo. Que tipo de julgamento é este? Não importa se fossem até irmãos de Hitler ou coisa parecida, pois não é

minha e nem de ninguém a vingança, mas de Deus:

”19 Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira de Deus, porque está escrito: Minha é a vingança, eu

retribuirei, diz o Senhor”.148

Haveria alguém mais indicada para atestar a vingança de Deus neste caso se não eu que sofri o prejuízo? Fui eu quem derrubei a moto?

Não, mas sou uma autoridade e conheço as Leis de Deus, portando

Ele açoita mais. Falei então com os pais deste que ainda não se

comporta com maturidade, pois estava disposta a lutar de todas as formas para que a justiça fosse feita (Deus sabe como convencer a

pessoa do pecado, da justiça e do juízo),149 e com a graça de Deus a

mãe escutou e aceitou pagar.

145 Isaías 62:7. 146 Efésios 4:27. 147

Prov 26:2. 148

Romanos 12:19. 149 João 16:8.

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Fiquei perplexa em todos os sentidos, e doída pelo dano em um carro

OK, mas o que prevalece na minha alma é a alegria de saber que

essas pessoas que ainda não conheço vão receber pelo prejuízo. Mas

como posso estar alegre, se a minha porta vai continuar torta por enquanto? Porque o que é mais relevante, é saber que Deus é

justo. Como é maravilhoso, mais uma vez entender isso, mesmo que

o açoite tenha sido dado em mim, pois isso quer dizer que eu tenho a

garantia de que se eu fosse uma das pessoas injustiçadas Deus iria agir comigo da mesma maneira. Isto é um descanso e uma alegria

sem fim.

Certa vez Deus me mostrou o sofrimento da mulher do meu pai (sou fruto de um adultério; minha mãe soube que ele era casado quando

estava grávida) e dos seus filhos, meus irmãos no caso. Conheci meu

pai com mais de trinta anos (minha mãe saiu da cidade, fugindo, sem

dizer para onde ia), pois haviam me informado que ele havia morrido em uma emboscada. Soube, porém, que estava vivo e Deus me deu

a graça de conhecê-lo e assim ser curada pela ausência dele na

minha vida e na minha certidão de nascimento. Recebi a cura total,

pois aquele homem foi o pai que qualquer pessoa desejaria ter,

durante os quinze dias que estive em sua companhia. Quando soube da sua morte tempos depois (Deus me preparou muito para isso), as

pessoas ficaram surpresas com a minha reação, (levaram uma

semana para ter coragem de me dar a notícia). Como se fosse um

relâmpago, veio ao meu espírito com muita clareza, que Deus amava mais ao meu pai do que eu, e, certamente fez tudo o que pode por

ele. Não questionei até hoje sobre nada. Eu tenho um pai, ou tive um

pai, e o amo ou amei, respeitei e honrei muito (Não conseguia vestir

uma blusa sem mangas perto dele). Sou grata a ele por tudo o que fez por mim. Se eu começasse a pensar talvez chegasse à conclusão

que ele não me fez nada ou só me fez mal, porém, esta possibilidade

de questionamento não existe, pois este assunto foi definitivamente

arquivado na minha alma. Eu apenas o vi uma única vez, mas foi o

suficiente para me sentir protegida e amada até hoje. Como já disse, Deus sabe como curar, como tratar dos seus filhos.

Tempos depois (no momento adequado) vivi uma situação terrível e

pude entender e sofrer o sofrimento daquela mulher e daquelas crianças tão humilhadas, traídas e vilipendiadas. Pensei que nunca

mais iria parar de chorar e de sofrer por vislumbrar aquele sofrimento

causado pelos meus pais (e por mim, mesmo sem o saber) àquelas

pessoas que me trataram com tanto amor. Naquele momento em que fui ver o meu pai, embora tivesse mais de trinta anos, eu,

emocionalmente, ainda era a criança abandonada (eu parei ali no

passado), e Deus, naquele momento tinha um único objetivo: a cura

do meu interior pela ausência do meu pai durante toda a minha vida. Eu não suportaria, não entenderia, não administraria e certamente

tudo se perderia se eu soubesse tudo de uma só vez, ou se alguém

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me acusasse ou cobrasse alguma coisa naquele momento. Para tudo

tem o seu tempo certo. Aquele era o tempo de eu ser curada e

honrada e não o momento daquelas pessoas receberem o meu pedido

de perdão, embora merecessem tanto.

Tempos depois Ele trataria do resto, porque Ele é justo e fiel. Nem

neste momento em que estive no lugar daquela mulher e daquelas

crianças de uma maneira tão intensa, questionei sobre a vida dos meus pais; não há o que questionar, reclamar, pois não há feridas,

nem dor. Um passado terrível foi enterrado e desfeito pelo, poder e o

amor de Deus agindo em mim. Sim, é possível que, naqueles quinze

maravilhosos dias, Deus estivesse no corpo daquele homem para que eu o enxergasse de maneira tão espetacular; é possível que Deus

tenha tido um grande interesse em me dizer que meu pai era “10”,

pois a figura do pai fala do que é Deus para um filho. Não é

perfeitamente possível? Como dizia, eu sofri de uma maneira terrível, na minha própria pele, a vingança de Deus para aquela mulher, e

posso garantir que ela foi plenamente justiçada (embora já não

estivesse viva). Como posso saber? Ora, pois se foi na minha pele

que Deus a vingou:

“(...) porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que

visito a iniqüidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta

geração daqueles que me odeiam. 6 e uso de misericórdia com milhares dos que me amam e guardam os meus

mandamentos”.150

Agora, mais uma vez, no caso das motos, tenho a oportunidade de observar a Justiça de Deus, e novamente fiquei prostrada,

maravilhada, e O adorei, diante de tão grande perfeição e zelo.

Entendi perfeitamente e sou testemunha do que diz o Salmo:

“Justiça e juízo são a base do trono de Deus”.151

Que grande prejuízo então foi aquele efêmero e enganoso

“descanso”!

150

Êxodo 20:5,6. 151 Salmo 89:14.

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Deus tem me açoitado muitas vezes e tenho escrito alguns textos

para relatar estes fatos, pois acho importante passar também as

experiências negativas. É necessário desmistificar o fato de uma

autoridade ser tida como alguém que nunca erra e que não pode errar. Os que já leram a Bíblia ficam perplexos com o que Deus relata

sobre os Seus amados, os Seus fiéis. Nada fica escondido, mas os

seus erros e acertos estão escritos para nossa edificação e para

atestar, se é que seria preciso, o caráter de Deus. Toda autoridade foi instituída por Deus e está sujeita às mesmas paixões infames de

qualquer homem, infelizmente, pois não sobrou ninguém para Deus

poder usar que não estivesse nestas condições. É impressionante,

mas fácil de entender, que todos pecaram e foram destituídos da glória de Deus152 e, portanto, Ele usa os que têm um coração

quebrantado, os que conhecem as suas grandes limitações, mas

estão a serviço do seu Senhor. Ele capacita os fracos, pequenos e

considerados desprezíveis como eu. O nome de Deus é Verdade e vemos impresso nos sessenta e seis Livros Sagrados todos os erros,

que não foram poucos, dos que serviram a Ele. E como esses erros

foram úteis ao aprendizado daquele que crê!

Para quem não tem fome e sede de justiça e está sujo, Ele fala:

“11 Quem é injusto, faça injustiça ainda e quem está sujo,

suje-se ainda;

... e para quem já aprendeu um pouco de justiça e santidade: ...

...e quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo,

santifique-se ainda”.153

Não há como parar de aprender, pois a defasagem do homem e a

perfeição de Deus são imensuráveis. Se alguém aprendeu um pouco,

aprenda mais ainda. E por isso fala Sócrates: “Só sei que nada sei”. Fala também Paulo a mando de Deus que existem pessoas assim:

“7 sempre aprendendo, mas nunca podendo chegar ao pleno

conhecimento da verdade”.154

Qual a medida de Deus para os açoites?

“48 mas o que não a soube, e fez coisas que mereciam castigo, com poucos açoites será castigado.

152

Romanos 3:23. 153

Apocalipse 22:11. 154 II a Timóteo 3:7.

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69

(Muitas vezes se fala que Deus não conta o tempo da ignorância, o

que é verdade, mas não neste contexto e nem neste nível, pois disse

Ele também que o homem sofre porque lhe faltou o conhecimento)

Daquele a quem muito é dado, muito se lhe requererá; e a

quem muito é confiado, mais ainda se lhe pedirá”.155

Liberdade implica em responsabilidade. Se soube mais, vai ser

provado e tentado neste mesmo nível. Ora, seria melhor então não

aprender mais?! E como poderia alguém não aprender mais a cada

dia para saber conquistar a Terra Prometida? Deus nos dará

revelações, treinamento e a promessa de que não seremos tentados além das nossas forças.156 Disse também que o poder d’Ele se

aperfeiçoa na fraqueza157 e que é para o fraco dizer que é forte.158

Percebemos então que não dá para escapar de Deus e de nós mesmos. Lancemos então mão da Biblioteca Divina para nos valer:

“16 Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para

ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça”.159

Deus nos exorta a ter zelo para ensinar, para corrigir:

“25 corrigindo com mansidão os que resistem, na

esperança de que Deus lhes conceda o arrependimento

para conhecerem plenamente a verdade, 26 e que se

desprendam dos laços do Diabo (por quem haviam sido

presos), para cumprirem a vontade de Deus”.160

Fala também ao que pratica impiedade para não tomar o Seu

Conserto na sua boca, pois isto é para santos, ou seja, para os separados para uso exclusivo de Deus, os quebrantados de coração,

os arrependidos. Aos que não querem ser corrigidos, e não sentem

falta de nada161, Ele fala:

“16 Mas ao ímpio diz Deus: Que fazes tu em recitares os meus

estatutos, e em tomares o meu pacto na tua boca, 17 visto

que aborreces a correção, e lanças as minhas palavras

para trás de ti”.

155 Lucas 12:48. 156 I aos Cor 10:13. 157 II aos Cor 12:9. 158 Joel 3:10. 159

II a Timóteo 3:16. 160

II a Timóteo 2:25,26. 161 Apocalipse 3:17.

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Observemos o engano de tantos que entendem que Deus “deixou

para lá” o caso porque não viu “a casa não cair” na sua cabeça:

“21 Estas coisas tens feito, e eu me calei; pensavas que na verdade eu era como tu;

... ou seja, Deus viu tudo, escreveu tudo no seu Livro e só ficou

calado por algum tempo...

... mas eu te argüirei, e tudo te porei à vista. 22

Considerai, pois isto ...

... e não é para considerar?

...vós que vos esqueceis de Deus, para que eu não vos

despedace, sem que haja quem vos livre”.162

Observemos como age o insensato:

“5 O insensato despreza a correção do seu pai; mas o que

atende à admoestação prudentemente se haverá”.163

Quem será castigado?

“21 Decerto o homem mau não ficará sem castigo; porém

a descendência dos justos será livre”.164

O homem mau será castigado, porém, e o filho que o Pai ama, ficará

impune?

“11 Filho meu, não rejeites a disciplina do Senhor, nem te

enojes da sua repreensão; 12 porque o Senhor repreende

aquele a quem ama, assim como o pai ao filho a quem quer

bem”.165

Porque?

“19 Homem de grande ira tem de sofrer o castigo; porque

se o livrares, terás de o fazer de novo. 20 Ouve o conselho,

e recebe a correção, para que sejas sábio nos teus últimos

dias”.166

Muitos, porém, não podem sequer ser corrigidos:

162 Salmo 50:17,21,22. 163 Prov 15:5. 164

Prov 11:21. 165

Prov 3:11,12. 166 Prov 19:19,20.

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“30 Em vão castiguei os vossos filhos; eles não aceitaram

a correção; a vossa espada devorou os vossos profetas como

um leão destruidor”.167

“5 Por que seríeis ainda castigados, que persistis na

rebeldia? Toda a cabeça está enferma e todo o coração fraco”.168

Como já vimos, o Livro de Hebreus registra que o que não se sujeita

a este chicote santo é bastardo e não filho, e que o momento da correção parece impossível para a pessoa suportar, mas depois este

açoite trás para este, frutos excelentes. Quantas vezes por ano

deveremos repreender, exortar os nossos próximos?

Continua falando o Livro de Hebreus:

“12 Vede, irmãos, que nunca se ache em qualquer de vós um perverso coração de incredulidade, para se apartar do Deus

vivo; 13 antes exortai-vos uns aos outros TODOS OS

DIAS, durante o tempo que se chama Hoje, para que

nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado”.169

Quem não ama a Deus não vai obedecer a esta regra, pois isto dá

muito trabalho. Fala também para este que vai exortar, para antes,

vigiar, para que não entre em tentação e passe do ponto de

equilíbrio:

167

Jeremias 2:30. 168

Isaías 1:5. 169 Hebreus 3:12,13.

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“1 Irmãos, se um homem chegar a ser surpreendido em algum

delito, vós que sois espirituais corrigi o tal com espírito de

mansidão; e olha por ti mesmo, para que também tu não sejas tentado”.170

E aqui está a pena para o que não exorta conforme o mandamento:

“13 Porque já lhe fiz saber que hei de julgar a sua casa para

sempre, por causa da iniqüidade de que ele bem sabia, pois

os seus filhos blasfemavam a Deus, se tornaram

execráveis e ele não os repreendeu”.171

Deus aconselha aos que resistem à repreensão:

“9 Não sejais como o cavalo, nem como a mula, que não têm

entendimento, cuja boca precisa de cabresto e freio; de outra

forma não se sujeitarão”.172

4.a.1 Augusto Cury173 fala sobre educação, disciplina,

correção:

“Os jovens sempre foram contestadores, sempre discordaram dos

erros dos adultos, sempre lutaram positivamente pelo que pensam. No entanto, nos dias de hoje isso é raro! Muitos deles amam o

sistema social criado pelos adultos, sistema que os transforma em

consumidores, que sufoca sua identidade e seus projetos. É a

geração que quer tudo rápido, pronto, sem elaborar, sem batalhas

para conquistar. É a geração que não sabe unir disciplina com

sonhos, que procura usar processos “mágicos” para lidar com suas

frustrações, que tem dificuldades em pensar antes de reagir. Muitos

jovens não têm proteção emocional. Alguns são derrotados por uma área do corpo que rejeitam, outros pelas roupas que não caem bem e

ainda outros pelas rejeições, ciúmes, medo de perda, timidez, provas

escolares, decepções. Você vai se surpreender ao perceber que os filhos brilhantes e os alunos fascinantes não são aqueles que são

sempre bem comportados, os que não falham, não choram ou não

tropeçam. Mas, aqueles que aprendem a desenvolver a consciência crítica, decidir seus caminhos, trabalhar seus erros, construir

tolerância. São os que constroem projetos de vida e lutam pela

concretização deles. E, acima de tudo, são os que dão uma nova

chance para si mesmo e para os outros quando fracassam.

170 Gálatas 6:1. 171

I a Samuel 3:13. 172

Salmo 32:9. 173 Planeta; “Filhos Brilhantes & Alunos Fascinantes”./ Academia de Inteligência/Sp/2007/Contracapa.

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4.a.2 Uma pausa para oração

Que a graça de Deus possa abundar no coração de cada um que

estiver lendo este texto e que estes que sofreram o prejuízo e foram injustiçados, possam beber da alegria imensurável que é saber que

há um Deus Justo que olhou para eles e bateu o martelo de ouro.

Que a luz de Jejus penetre em seus corações e permaneça para

sempre, convencendo-os do pecado, da justiça e do juízo, para que assim possam se tornar filhos, terem o seus nomes escritos no Livro

da Vida e assim morarem eternamente com Deus. Que cada mãe e

cada pai encontre o ponto de equilíbrio para educar os seus filhos.

Que Deus abençoe esta boa senhora que soube encontrar neste momento ingredientes raros como o carinho e a gentileza. Que a

graça de Deus possa adentrar no coração deste que ainda não atingiu

a sua maturidade, para que seus pais possam ser honrados por isso.

Que todos os que cometeram erros possam receber a boa notícia de salvação, recuperação, e de perdão neste momento. Que Deus possa

me capacitar a cada dia a aprender a julgar com justiça, pois:

“3 Fazer justiça e julgar com retidão é mais aceitável ao Senhor do que oferecer-lhe sacrifício”.174

E de Deus será sempre toda a honra e toda a glória, no maravilhoso

nome de Jesus, amém.

174 Prov 21:3.

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74

4.b Um Grande Mico

Assim como tantas outras, eu sou uma autoridade que Deus

estabeleceu na terra, pois sou mãe, professora, e fui separada para uso exclusivo de Deus:

“1 Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores; porque

não há autoridade que não venha de Deus; e as que

existem foram ordenadas por Deus”.175

O que é a real autoridade? Certa vez uma mãe pediu para Jesus que

desse aos seus filhos uma posição de autoridade no reino de Deus, ao que o Mestre respondeu perplexo, entre outras coisas que eles não

sabiam do que estavam falando:

“25 Jesus, pois, chamou-os para junto de si e lhes disse:

Sabeis que os governadores dos gentios os dominam, e

os seus grandes exercem autoridades sobre eles.

É assim que funciona no presente sistema mundial, porém...

... 26 Não será assim entre vós;

No reino de Deus é tudo ao contrário; ou será que o que temos aqui é

bom, justo e Deus é quem está errado?

...antes, qualquer que entre vós quiser tornar-se grande,

será esse o que vos sirva; 27 e qualquer que entre vós

quiser ser o primeiro, será vosso servo; 28 assim como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para

servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos”.176

Ou seja, quem quiser ter autoridade seja o que mais serve, pois a

justiça do homem sem ser filtrada e lavada no sangue de Jesus é

175

Romanos 13:1. 176 Mateus 20:20/28.

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75

trapo de imundícia. Se não há um entendimento do que significa ter

autoridade será uma lástima para aquele que exerce e para o que se

submete a ela ...

“6 Pois todos nós somos como o imundo, e todas as nossas

justiças como trapo da imundícia; e todos nós murchamos

como a folha, e as nossas iniqüidades, como o vento, nos arrebatam”.

... sim, pois a autoridade representa Deus, os Seus princípios e não

ela mesma, e por isso não pode ser desonrada.

“18 Vós, servos, sujeitai-vos com todo o temor aos vossos

senhores, não somente aos bons e moderados, mas também

aos maus. 19 Porque isto é agradável, que alguém, por causa

da consciência para com Deus, suporte tristezas, padecendo

injustamente. 20 Pois, que glória é essa, se, quando cometeis

pecado e sois por isso esbofeteados, sofreis com paciência? Mas se, quando fazeis o bem e sois afligidos, o sofreis com

paciência, isso é agradável a Deus. 21 Porque para isso fostes

chamados, porquanto também Cristo padeceu por vós,

deixando-vos exemplo, para que sigais as suas pisadas”.177

E até onde os cristãos devem se submeter a esta autoridade terrena?

“Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as

autoridades que existem foram por ele instituídas. De modo

que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação.

Porque os magistrados não são para temor, quando se faz o

bem, e sim quando se faz o mal. Queres tu não temer a

autoridade? Faze o bem e terás louvor dela, visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem. Entretanto, se

fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a

espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal. É necessário que lhe estejais sujeitos, não

somente por causa do temor da punição, mas também por

dever de consciência. Por esse motivo, também pagais

tributos, porque são ministros de Deus, atendendo, constantemente, a este serviço. Pagai a todos o que lhes é

devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a

quem respeito, respeito; a quem honra, honra”.178

Ora, este Texto Sagrado não nos deixa alternativa senão OBEDECER,

mesmo a autoridade do governo, tão questionável, pois esta

hierarquia foi criada por Deus para estabelecer a ordem punir a

177

II Pedro 2. 178 Romanos 13:1-7.

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transgressão e aplicar a justiça. Devemos então dar a “César” os

impostos e o respeito devidos,179 pois se assim não o fizemos

estaremos desrespeitando o próprio Deus, pois foi Ele quem colocou

ou estabeleceu o governo sobre nós. Nero era um homem maligno e era o governo de Roma, e mesmo assim, Paulo, a mando de Deus,

nos deixa escrito este mandamento.

Nesta revisão rápida sobre este tema, do qual temos um pouco mais no texto específico sobre o assunto, com o título “Autoridade”,

colocamos também o limite para esta obediência, que é, claro, a

soberania de Deus, o primeiro mandamento que nos exorta a dar a

Ele a primazia sobre todas as coisas.180 Negá-Lo: JAMAIS, nem que seja preciso se opor ao mundo inteiro ou cortar um membro do seu

corpo. É melhor entrar coxo do que não entrar.181 Esta é a única

possibilidade para desobedecer a uma autoridade: quando as leis

humanas se chocam com Leis divinas e Estas as fazem recuar por não estarem respaldadas, por não serem oriundas ou contradigam

das Leis de Deus. Fala-nos Deus:

“Trouxeram-nos, apresentando-os ao Sinédrio. E o sumo

sacerdote interrogou-os, dizendo: Expressamente vos ordenamos que não ensinásseis nesse nome; contudo,

enchestes Jerusalém de vossa doutrina; e quereis lançar sobre

nós o sangue desse homem. Então, Pedro e os demais

apóstolos afirmaram: Antes, importa obedecer a Deus do

que aos homens”.182

Observemos que os fiéis não se rebelaram por terem sido chicotados, mas antes se regozijaram por ter a oportunidade de violar uma lei

humana que não se firmou por não estar legitimada pelas Leis

divinas.

“40 Concordaram, pois, com ele, e tendo chamado os

apóstolos, açoitaram-nos e mandaram que não falassem em

nome de Jesus, e os soltaram. 41 Retiraram-se, pois da

presença do sinédrio, regozijando-se de terem sido julgados dignos de sofrer afronta pelo nome de Jesus. 42

E todos os dias, no templo e de casa em casa, não cessavam

de ensinar, e de anunciar a Jesus, o Cristo”.183

Já temos um tempo considerável em que meditamos sobre as Leis

Perfeitas. Fiz o curso de Direito e estudei durante cinco anos as leis

humanas e, depois disso a evidência desta perfeição ficou ainda

179 Mateus 22:21. 180 Mateus 22:37. 181

Mateus 18:8. 182

Atos 5:27-29. 183 Atos 5:40-42.

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muito maior. É extraordinário perceber que os sessenta e seis livros

que compõem a Bíblia, escritos por quarenta autores diferentes, que

nasceram em épocas e países completamente diferentes, se ajustam

perfeitamente a tudo e a todos em todas as épocas, e que todos os artigos desta Constituição Sagrada, foram resumidas por Jesus em

apenas dois artigos. Isto porque Ele veio aprimorar a Lei, não mudar,

não facilitar, não modernizar, mas... aprimorar, melhorar, já que hoje

temos o Espírito Santo de Deus para ajudar o homem que Crê a cumprir esses justos mandamentos, o que antes não havia:

1. Colocar Deus acima de tudo e de todos

2. Não fazer com ninguém o que você não quer que faça com você.

Entendemos que a Lei divina e a lei humana concordam neste ponto:

quanto mais leis, menos moral tem o povo (a lei nasce dos conflitos existentes: mais conflitos é sintoma de menos moral) e quanto

menos leis, mais moral, mais então o povo será guiado pelos

princípios184. Hoje as leis se proliferam para atender a demanda de

conflitos inesgotáveis. O judiciário se entulha, e os códigos já saem

da gráfica, defasados. A moral e os bons costumes se esvaem nos últimos dias da terra. Jesus alerta:

“12 e, por se multiplicar a iniquidade, o amor de quase todos

esfriará. 13 Mas quem perseverar até o fim, esse será salvo”.

Nos fala Rui Barbosa: “De tanto ver crescer as injustiças, de tanto ver triunfar as nulidades,

de tento ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o

homem chega a cansar-se das virtudes, a rir-se da honra e a ter

vergonha de ser honesto”.

184

Há países cuja Constituição é bastante resumida e são guiados mais pelos princípios e pelos costumes. Este é o Direito Consuetudinário.

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Os dias são maus, pois são os últimos, o amor de quase todos não

existe mais ou então está bem apagado,185 e o princípio satânico da

rebeldia se instala assolando a ordem e a decência. Portanto não é

nada fácil nesta hora perseverar até o fim. Isso é só para valentes. Não basta alguém querer muito, mas terá este que continuamente

estar meditando sobre as Justas Leis que nos alerta sobre o

comportamento que devemos ter a cada passo, cada idéia cada

pensamento, e mesmo assim, quantas vezes temos que descer, temos que nos arrepender, temos que voltar atrás e clamar pela

misericórdia de Deus. É o que estou fazendo agora. Sofrendo muito,

relato o grande mico que paguei, apesar de ser uma autoridade,

saber o que isto significa, ser um instrumento para Deus usar como Lhe aprouver, conhecer e estar continuamente apaixonada por estas

Leis Eternas, cujo nome é Verbo, O que se fez carne e habitou entre

nós (este Livro Sagrado é uma pessoa que é 100% Deus e 100%

homem, e o seu nome é acima de todo nome que se nomeia nos céus e na terra, pelos séculos e séculos: JESUS, a Palavra de Deus).

Quanto se toca neste nome, as pessoas normalmente já associam a

qualquer religião que usam este nome, porém existe o joio que é

aparentemente igual ao trigo, mas completamente diferente na essência, ou seja, este Cristo que é pregado nas religiões já não é

mais o Cristo Bíblico, a exemplo do que aconteceu na época de

Martinho Lutero:

“5 Porque muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o

Cristo; a muitos enganarão". 186

“21 nem dirão: Ei-lo aqui! ou: Ei-lo ali! pois o reino de Deus

está dentro de vós”.187

“14 E não é de admirar, porquanto o próprio Satanás se disfarça em anjo de luz.188

Ou seja, é sempre bom lembrar que temos um texto escrito com o

título “Os protestos de hoje” onde tratamos e fundamentamos este assunto deveras vital. A apostasia da igreja é uma verdadeira

calamidade, mas nesta meditação, onde fundamentamos passo a

passo a questão, percebemos que, apesar dos pesares, a boa notícia

é que temos um Pastor que é Jesus e não outros,189 que Ele nos dá o escape, que Deus não habita em templos feitos por mãos de

homens190 os quais foram transformados em covil de ladrões,191 que

185 Mateus 24:12. 186 Mateus 24:5. 187 Lucas 17:21. 188

II aos Cor 11:14. 189

João 10:16. 190 Atos 17:24; Isaías 66:1,2; etc.

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o Reino de Deus está dentro do que crê,192 que não existe um lugar

específico para se adorar193 e que poderia conter o Deus que fez os

céus e a terra,194 que Ele está onde dois ou três estiverem reunidos

em Seu nome,195 que desses templos fixos não sobrará pedra sobre pedra que não seja derrubada,196 como aconteceu com os outros

templos outrora construídos não pela vontade de Deus,197 que é hora

de depor os “Sauls” e entronizar a Raiz de Davi,198 e que Deus nos

enviará os juízes como eram antes.199 Como vemos, toda esta questão não é nada SIMPLÓRIA OU BANAL, mas como todas as

revelações de Deus clara e simples para se entender, tirando as

tradições humanas que são verdadeiras fortalezas formadas desde à

infância na mente das pessoas.200

Portanto quero que o leitor se desarme, pois não estou aqui a mando

de qualquer religião que seja, mas como alguém que tem como fonte

primeira, a Lei divina, que por sua vez está inserida em todos os seguimentos da sociedade,201 fora dos dogmas, das cercas da

Babilônia, lugar onde as pessoas querem o céu, mas não querem se

prostrar diante do Dono de todas as coisas, da qual Deus nos exorta

a sair, peremptoriamente, na Revelação do Apocalipse.202

191

Mateus 21:13. 192

Lucas 17:20,21. 193

João 4:19/24. 194

I de Crônicas 17; II de Samuel 7. 195

Mateus 18:20. 196 Mateus 24; II Crônicas 7. 197 II Samuel 7; II Crônicas 7, etc. 198 I Samuel 8, e SS. 199 Isaías 1:26. 200

II aos Cor 10. 201

Vice texto “O Mestre Invisível” no vol IV. 202 Cap 18.

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Tenho sido treinada por Deus para denunciar a hipocrisia e todos os

crimes que acontecem dentro das igrejas do status quo, como

aconteceu no passado e continua acontecendo no presente. Venho

com a unção João Batista, a qual está derramada sobre os enviados de Deus neste momento em que a guerra se intensifica, pois Satanás

sabe que pouco tempo lhe resta.

“...irá adiante dele no espírito e poder de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos

justos, a fim de preparar para o Senhor um povo apercebido”.

Augusto Cury, psiquiatra, psicólogo, com livros publicados em mais

de 40 países, conferencista, diretor da Academia da Inteligência,

antes ateu, nos fala deste Jesus homem, sem nenhum ranço

teológico ou chavão religioso, graças a Deus. Depois de muitos anos

estudar a inteligência de Cristo e seus métodos, constata que nós estamos ainda na idade da pedra diante das propostas educadoras do

Mestre Invisível. É muito interessante, além de espetacular, ler o que

ele escreve exatamente por não ser um teólogo, mas um psicólogo,

que também observou que a humanidade está dividida entre antes e depois de Cristo, e, mesmo assim, pouco se sabe sobre a sua

biografia, personalidade e Seus métodos. Escreveu, entre tantos

livros interessantíssimos, cinco volumes sobre a análise da

inteligência de Cristo. Dirige um grande trabalho chamado “Inteligência Espiritual”, que ajuda as pessoas a procurarem Deus

fora da religião, que é um paralelo com o que eu faço. Gosto de fazer

parceria com ele e com outros nesta visão, pessoas que não estão

comprometidos com nenhuma religião, como eu, e que sabem observar o Mestre Inesquecível, admirá-lo e amá-lo como pessoa,

como homem extraordinário que foi (ou é), e não só como Deus. É de

se esperar o melhor vindo de Deus, mas de um homem é totalmente

inesperado. Ele foi inculpável, indizível, perfeito e foi por isso que

pode nos substituir e morrer a nossa morte, pois sendo Deus, ou usando os seus atributos de Deus, não poderia atuar na terra que Ele

mesmo deu aos filhos dos homens para administrar.203 Quando

terminar o tempo de arrendamento da terra, Ele vai voltar a tomar o

comando, e os que creram irão reinar com Ele eternamente.

Como dizia, meu coração tem estado pesaroso, bastante triste e

decepcionada comigo mesma, pois embora não seja uma ignorante

da justiça de Deus e da sua instrução quanto aos seus bons costumes me deixei levar pelas tentações, pelas tribulações pelas angústias do

furor da batalha e resvalei o meu pé, escorreguei feio. Fiquei

espantada com o desgaste, a fadiga emocional que se revelou na

minha alma. O deserto tem sido avassalador e muitas têm sido as

astutas ciladas para me fazerem escorregar. Percebi que estou

203 Salmo 115:16.

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precisando urgente de “acampar os cavalos” e fazer uma revisão em

todos os detalhes, principalmente no grande desgaste que percebi em

mim, antes que as reservas acabem.

Estava eu procurando trocar um aparelho que veio com defeito e sem

querer entrei na loja errada. Eu já estava meio que precavida, pois

achei algo estranho no atendimento da loja onde eu havia comprado

o aparelho que era um presente para minha filha. Ela estava comigo (coitada) e então perguntei a um rapaz do balcão sobre a situação do

dito aparelho. Já estava meio que prevenida por conta do mau

atendimento e pela divergência entre o escrito na NF e na caixa do

aparelho. Junto a isso ele olha para mim e fala que o tal aparelho não foi comprado lá. Isto foi a gota d’água para mim e que transbordou

na alma deste rapaz. Eu não queria saber de mais nada, mas só

queria que ele desfalasse o que ele tinha dito, pois antes de qualquer

coisa, tínhamos que resolver este absurdo. Falei que se ele não retirasse imediatamente o que havia dito iria chamar a polícia

imediatamente ao que ele, dando risadas dizia: “A senhora só vai

passar vergonha e mais nada”. Já estava eu pensando que eu seria

mais uma vítima das falcatruas humanas que se proliferam a olhos

vistos de maneira vertiginosa. A risada dele me deixou mais furiosa ainda, e as pessoas observavam a louca cena. Ele chamou outro

rapaz e quando eu falei com este o que havia ocorrido ele

imediatamente repetiu o a mesma loucura: “Mas a senhora não

comprou mesmo aqui este aparelho! ... foi na loja aqui ao lado”.

Foi quando eu olhei e reconheci (horrorizada!!!) que era exatamente

como ele estava falando. Fiquei sucumbida naquele momento, pois já

estava farta de desprezo e agora mais essa: ele estava certo! Saí imediatamente sem atinar no que estava acontecendo, totalmente

fora do padrão da normalidade e de tudo o que já vivi ao lado deste

Deus que é meu Amigo, meu Pai e meu Tudo, e é Deus. Neguei a fé,

perdi o domínio próprio, o bom senso, a dignidade, a honra, a

decência, a inteligência, o amor, ou seja, fiquei numa situação igual ou pior a estas tantas pessoas que eu denuncio e que tenho ânsia de

vômitos como tinha Jesus quando as chamava de raça de víboras,

cobras venenosas, hipócritas, serpentes. Igual no sentido de que fui

uma péssima testemunha de Jesus naquele momento. Quem me via naquele instante de trevas certamente pensaria que eu era uma

desvairada e jamais um instrumento de Deus na terra. Perdi o

controle e me senti como o Rei Davi:

“11 Não detenhas para comigo, Senhor, a tua compaixão; a

tua benignidade e a tua fidelidade sempre me guardem. “12

Pois males sem número me têm rodeado; as minhas

iniqüidades me têm alcançado, de modo que não posso ver; são mais numerosas do que os cabelos da minha

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cabeça, pelo que desfalece o meu coração. 13 Digna-te,

Senhor, livra-me; Senhor, apressa-te em meu auxílio”.204

Como é insuportável sentir o que sentiu Pedro e tantos outros que

negaram Jesus e depois perceberam o engano do seu coração

corrupto. O coração sangra de vergonha... é uma angústia e um

sabor de morte na alma. Eu não falei pouco para aquele coitado, a

cena não foi pequena, mas não foi só isso: eu saí dali como uma covarde, uma louca, pois não disse nada sobre o fato de eu ter

errado tanto, ter feito este rapaz escutar tanto. Dá para suportar? O

que eu poderia fazer agora? E não é só isso: eu estava ao lado da

minha filha, portanto perdendo toda a autoridade sobre ela neste momento, e destruindo a alegria dela sobre o presente que

compramos com muito sacrifício. Que desgraça e que grande mico!!!

Voltei lá e disse ainda fumegando: “Você estava certo, mas se não

fosse tão mal educado, nada disso teria acontecido!”.

Tudo errado outra vez... Fiz como Adão, que quando argüido por

Deus, depois de tentar se esconder com uma ridícula folha de

parreira, jogou a culpa em Eva, e por tabela, em Deus. E Eva também, por sua vez, jogou a culpa na serpente. É assim que

acontece, é assim que ensinei incontáveis vezes, e foi exatamente

assim que aconteceu comigo, infelizmente. Voltei lá oura vez, e a

porta estava fechada. O coitado deve ter ido se recompor um pouco,

em plena hora de comércio. A ficha foi caindo e tudo foi ficando pior e pior. Depois de um tempo comprei uma barrinha e voltei lá; estava

aberto agora. Ele estava atendendo outra pessoa e eu entrei no meio

sem pedir licença. Ele me pediu para esperar um pouco até que ele

terminasse de atender; mais uma vez perdi minha autoridade e tudo o mais que uma pessoa adulta e equilibrada deve ter. Olhei à volta e

fiquei observando se porventura estava ali alguém que tivera

assistido a terrível cena. Como gostaria que tudo isso estivesse

escrito em uma lousa para que eu pudesse apagar tudo com o apagador e depois passar um pano úmido; porém nada disse seria

possível. Tudo era real e eu teria que encarar.

Fiquei imaginando como seria a vida deste rapaz, quais seriam os

seus problemas... e como eu poderia agora falar com ele que há um Deus que tudo pode, e, com um treinamento diário, ele poderia

aprender a guerrear para conquistar a paz com Ele, as batalhas

terrenas, e ainda, depois, viver eternamente no Paraíso Divino, onde

não há pranto e nem dor. É para ele esta promessa, se ele crer, confessar isto com a sua boca205, jogar fora todos os outros deuses

em quem confiava, confessar os seus pecados206, pedir perdão e

204

Salmo 40:11/13. 205

Romanos 10:8/13. 206 I a João 1:9.

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convidar Jesus entrar no seu coração e fazer morada207. Aí então, seu

nome seria escrito no Livro da Vida do Cordeiro e ele teria

conquistado tudo o que uma pessoa na terra necessita, ou seja, se

tornar filho de Deus, herdeiro de Deus e co-herdeiro com Cristo208.

O Que fazer agora? Ele acabou o atendimento e eu pude segurar no

seu braço. Dei a barrinha e pedi perdão, dizendo que infelizmente eu

tinha feito tudo errado, ao que ele respondeu: “Isto acontece... já aconteceu comigo. A senhora estava em um dia ruim. Eu perdôo”.

Ora, pensei eu, um cristão não tem este dia ruim, pois está escrito:

“Este é o dia que o Senhor fez, nos alegremos e nos regozijemo-nos n’Ele”.209

Me sentia como se tivesse negado tudo de Cristo. E não foi assim? Eu

tenho horror até de repetir isso, mas foi. Quando se ensina a um filho tudo o que é reto e depois ele segue o caminho do erro, ou se faz

execrável, porventura ele não está negando tudo o que aprendeu e

desonrando, portanto, os seus pais? É pouco tudo isso? Não, pois no

decálogo, nestas leis que foram escritas pelo dedo de Deus e passado a Moisés para dá-las ao povo, de todas as dez, só uma tem uma

ressalva de morte que é exatamente:

“Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os

teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá”.210

Eis o que está escrito para aqueles que negam a fé:

“33 Mas qualquer que me negar diante dos homens, também

eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus”.211

Deus por acaso está blefando? Claro que não, pois é justo. Fala Deus que o que crê, não deverá ter medo de ninguém, nem do diabo, mas

só d’Ele, o único que tem poder para assinar a sentença. Porém, o

que me fez conseguir dar um passo depois disso e estar aqui

escrevendo, foi lembrar de Pedro que o negou terrivelmente e foi perdoado. E porque? Porque se arrependeu. E por que se

arrependeu? Por causa da ternura, da brandura, da misericórdia, do

indizível amor que o discípulo viu no olhar que recebeu do Mestre.

Mais adiante colocaremos um texto de W Nee (“E a Pedro”)em que

ele coloca este momento de Pedro de maneira ímpar.

207 Apocalipse 3:20. 208 João 1. 209

Salmo 118:24. 210

Êxodo 20:12. 211 Mateus 10:33.

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Augusto Cury analisa Pedro de maneira espetacular212. Fala que

Pedro atropelava Jesus com freqüência, colocava-0 em situações

difíceis, mas suas reações eram carregadas de ingenuidade, e não de

maldade; o pescador aprendeu a amar, aprendeu a admitir a sua pequenez. Depois de ter negado Jesus para pessoas simples, mais

tarde falou sobre o seu erro e seu amor pelo seu Mestre para

multidões. Se ele não tivesse passado por este momento tão

difícil não teria tido a oportunidade de perceber e reeditar áreas doentias da sua personalidade. Jesus não apenas o

acolheu, mas acolheu a todas as pessoas que são controladas pelo

medo, que não conhecem seus limites, que nos momentos de tensão

reagem sem pensar. Quem não tem atitudes como a de Pedro? Quem é plenamente fiel à sua consciência em todos os momentos da sua

própria história? Quem não é escravo do medo quando está doente

ou correndo risco de morte? Quem não é tomado pela ansiedade

quando ofendido, ameaçado, pressionado? Quem não nega as próprias convicções diante das tempestades da vida? O autor grifa

que deve-se desconfiar das pessoas que não reconhecem as

suas fraquezas.

Judas e Pedro negaram Jesus e os dois erros foram grandes e graves, mas geraram dois destinos totalmente diferentes:

Ambos choraram intensamente, porém Pedro se perdoou, e Judas se

puniu. A dor de Pedro arejou a sua emoção, fê-lo compreender a sua fragilidade. A dor de Judas sufocou a sua emoção e tornou-o uma

pessoa indigna. Judas cortou relação com todos. Pedro não se isolou

diante da dor, mas teve a coragem de contar aos seus amigos o seu

erro.

Após o fato, Pedro foi preso várias vezes, mas nunca mais negou

Jesus. Ele aprendeu a ser grande por enxergar e admitir a sua

pequenez. As suas cartas atestam o seu aprendizado, pois revelam

um homem sensível, arguto e afável. Falou que Jesus vivia no secreto do seu ser. Assimilando as palavras do Mestre, afirmou que a

liderança, os que têm autoridade não devem controlar as pessoas,

nem ser gananciosos ou ansiosos, mesmo diante das turbulências da

existência. Era um pescador e como tal era rude, pois um pescador está acostumado a falar alto, pois vive em meio ao barulhos das

ondas e tempestades. O alto mar não admite boas maneiras como o

comer de garfo sentado em uma mesa, pois nada ficaria em ordem

diante do balanço do barco agitado pelas ondas. Eles são rudes nas atitudes, porém Pedro se tornou um homem poético. Nunca se soube

de alguém que tenha aprendido tanto com tão pouco.

212 Vol 5 do livro citado anteriormente; p.127 e SS.

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Lembrei também que Jesus é o meu advogado e que também não

haveria nenhuma glória para Ele se eu me perdesse depois de tanto

trabalho que Ele teve para me ensinar todos esses anos. Mas mesmo

assim estava muito espantada, assustada, cheia de acusações e de condenações, pois o inimigo que eu denuncio a cada instante não

perde a oportunidade. A dor não passava e eu fiquei muito

angustiada, achando mesmo que estava desqualificada como

representante de Deus na terra, depois de tantos anos de batalha.

Alguns dias depois fui a uma concessionária e fiquei esperando o

atendimento que estava muito demorado. Não gosto de perder

tempo, mas tive que sentar um pouco e esperar mais e mais. Ao lado do banco estavam algumas revistas e eu não queria ler nada, mas só

queria ir embora o quanto antes, pois tinha muitas coisas ainda para

fazer. Quase sem pensar, eu já estava com a revista na mão e na

primeira folheada eu vi uma reportagem de Lya Luft213 com o título: “Ainda se caçam bruxas”. Li. Fiquei atônita e pedi para minha filha

tirar uma cópia desta página para mim. No minuto que eu acabei de

fazer isso eu fui imediatamente atendida. Este Deus é assim: Prático

e Objetivo, entre outras infinitas coisas mais. Neste texto que Deus

queria que eu lesse, a autora fala com outras palavras deste amor que esfriou em quase todos nestes últimos dias da terra; fala

também da inquisição, desta igreja apóstata a qual citamos, que está

sempre no status quo, assim como a igreja trigo está sempre na

periferia, nos estábulos, que abrigam pessoas sem formosura como Ele, o Mestre, que era também o mais desprezado e o mais caçado

homem da história.

Fala a autora, que, a exemplo do passado, temos hoje também os

caçadores que vociferam caçando bruxas, e na figura literária que ela

faz, no meio dessas bruxas más existem as bruxas boas. Estes que estavam (ou estão) caçando as “bruxas”, tinham, (ou têm) um

instinto animal e destrutivo, remanescente de Hitler, que atuava (ou

213 Escritora; reportagem da Revista Veja;Junho/08./ Ponto de Vista.

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atua) naquela época verdadeiramente vergonhosa da Inquisição e

que opera hoje também levados pela paixão, levando muitos

inocentes nesta malha de ódio, onde deveria haver, na civilizada

democracia em que supostamente vivemos, a ordem, a decência, o temor, a civilidade, a dignidade entre pessoas dignas. Fala ela:

“Cair na armadilha do rancor primitivo e da atitude destrutiva, torna

a vida uma selva onde pessoas honradas... (como aquele moço que tanto agredi)... são impedidas de executar projetos positivos,

e as vezes tem sua vida injustamente aniquilada”.

Observemos o texto na íntegra para uma melhor reflexão:

4.b.1 Ainda se caçam bruxas214

"Cair na armadilha do rancor primitivo e da atitude destrutiva torna a vida uma selva onde pessoas honradas são impedidas de executar

projetos positivos, e às vezes têm sua vida injustamente aniquilada".

O motorista de táxi de um aeroporto deste Brasil xingava um político, acusado no rádio por ter-se encontrado ali mesmo, dias atrás, com

um suspeito de corrupção. "Viu só?", ele vociferava, "viu só?".

Cansada de aeroporto e do assunto – e porque logo antes alguém tinha me dito: "Olha aí o fulano, fotografado ao lado do sicrano, que

é suspeito de corrupção! Certamente ele também é..." –, fui curta e

direta: "Meu filho, se sua namorada conversar com uma moça

desonesta e disserem que por isso ela também é desonesta, você vai gostar?". Ele olhou sobre o ombro, meio espantado: "Sabe que a

senhora tem razão?". Comentei: "Chama-se a isso caça às bruxas".

Chegando ao meu destino, não tive tempo de explicar mais.

Na Idade Média, uma tropa de psicopatas autorizados caçava gente

com o entusiasmo com que se caçariam animais selvagens. O maior divertimento era julgar, esfolar vivo e queimar na fogueira, depois de

outros inimagináveis sofrimentos. Quem eram as vítimas da Igreja

daqueles tempos? Em geral mulheres simples, que lidavam com o

que hoje chamaríamos medicina alternativa – a sabedoria popular de suas antepassadas. Havia também os bruxos, os que diferiam da

doutrina religiosa ou da política dominante, contrariavam alguma

autoridade, ou, ainda, aqueles cujo vizinho não ia com sua cara. Relatos e atas oficiais desses processos públicos enchem milhares de

páginas da época, e nos dão vergonha de ser humanos. Eu, que em

dois livros infantis criei a simpática e marota Bruxa Boa Lilibeth, achava que neste mundo dito moderno nossa falta de limite estava só

na má-criação em casa e na escola, na inversão de público e privado,

no interesse pelas calcinhas de certas moças (ou na falta delas) e na

postura geral de desleixo que se espalha. Engano meu. Melhoramos, nos civilizamos, cortamos alguns preconceitos. A servidão, ao menos

concreta e legal, acabou. Servidões morais temos muitas. Uma delas

é esse impulso primitivo, das cavernas, de destruir, essa ferocidade

214 Lya Luft.

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no julgar e sentenciar, essa vontade de que o outro se dê mal.

Parecemos doentes de ansiedade por ver alguém enxovalhado, por

baixo, sem remissão. Muito além da lei e da Justiça, queremos sangue – ainda que seja o sangue moral, o sangue da alma.

Sou quase fanática contra os crimes, incluindo a corrupção. Valorizo muitíssimo a lei. Quero o infrator julgado e severamente punido.

Apóio todas as justas ações da polícia para proteger a sociedade, isto

é, cada um de nós. Mas desgostam-me procedimentos que agridem

levianamente, interrogatórios em vez de diálogos, ataques de qualquer ângulo, a execução moral de inocentes na fogueira da

opinião pública, mais disposta a ver o mal em tudo. Por toda parte no

país, ao lado da Justiça e da lei que funcionam, esta parece ser a hora dos cantos escuros da psique humana e da democracia, lá onde

lei e Justiça não funcionam direito. Ainda bem que a maioria de nós

não é assim. Naquela mesma viagem, numa palestra, um grupo de jovens questionava a agressividade com que se tratam pessoas em

situações como as das mais variadas CPIs, desde o tempo do falecido

mensalão. Há interrogatórios violentos, alusões cruéis, ofensas

diretas; quebram-se todos os limites da decência em que deviam ocorrer dignamente perguntas e esclarecimentos entre homens

dignos. Os jovens tinham razão na sua perplexidade. Respondi que

bastava ler um pouco de história dos povos para ver que não há nada de novo entre nós. Às vezes, como grupos ou como sociedade,

adoecemos.

Não é generalizado, não é permanente: por isso podemos acreditar

em respeito no convívio público. Cair na armadilha do rancor

primitivo e da atitude destrutiva torna a vida uma selva onde pessoas

honradas são impedidas de executar projetos positivos, e às vezes têm sua vida injustamente aniquilada. É quando as bruxas boas

fogem nas suas vassouras, deixando-nos um mundo mais sombrio.

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Ou seja, muitos, sem perceber são engolidos por este espírito, caem

nesta armadilha e vociferam como os caçadores do passado; “caçam

bruxas”. Muitos estão estressados e fartos da hipocrisia reinante e

não atentam, levados pelo impulso, que no meio dessas bruxas existem pessoas que fazem errado porque ignoram o Contexto e o

Texto Sagrado. Perdem então, estes guerreiros cansados, a

civilidade, a sensibilidade para a dignidade da pessoa humana, que a

nossa Constituição garante a cada homem. Se esses caçadores, embora guerreiros, nem um pouco omissos, preocupados com a

causa social, se estes não estivessem já infectados (“a seara é muito

grande e poucos os obreiros”),215 atentariam para o que fala as Leis

Sagradas e Imutáveis:

“1 Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e

não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o

címbalo que retine. 2 E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que

tivesse toda fé, de maneira tal que transportasse os montes, e

não tivesse amor, nada seria. 3 E ainda que distribuísse todos os meus bens para sustento dos pobres, e ainda que

entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse

amor, nada disso me aproveitaria. 4 O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria, não

se ensoberbece, 5 não se porta inconvenientemente, não

busca os seus próprios interesses, não se irrita, não

suspeita mal; 6 não se regozija com a injustiça, mas se

regozija com a verdade;7 tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. 8 O amor jamais acaba;”.216

Estes então resvalam os seus pés e acabam como Moisés, batendo

duas vezes na pedra e representando bem mal, O que o havia contratado, recebendo então uma correção, inesperada e terrível do

Grande e Soberano General.217

Há o fato também destes obreiros serem chamados e rotulados de bruxos, pelos verdadeiros bruxos, pois estes não agem no espírito da

“baciada”, não seguem tradições, mas Cristo. Recebem então as

perseguições, as acusações, o desprezo, o escárnio, a rejeição, assim

como o foi com o seu Mestre.218 Esses bruxos do status quo estão sempre atentos para colocar em descrédito as afirmações desses

enviados, buscando sempre uma maneira para acusá-los, e o diabo

com eles, evidentemente, como faziam insistentemente com Jesus,

durante todo o seu ministério. Quando se fala na apostasia desta

igreja legalmente estabelecida e já tão desacreditada por todos,

215 Mateus 9:37. 216

Iª aos Coríntios 13:1/8. 217

Números 20. 218 Mateus 10:25.

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algumas pessoas infectadas (eunucos dos mercenários), falam não

ser isso possível, se valendo da aparência desses que se transformam

em anjos de luz,219 dos cultos, da Palavra pregada, dos milagres que

lá são feitos, etc., para afirmar que há um exagero, apesar da mídia, cotidianamente apontar os crimes hediondos que se cometem nesses

“Covis de Ladrões”,220 nome colocado por Jesus a estas que deveriam

ser chamadas de Casas de Orações para Todos os Povos”.

As bênçãos que acontecem no nome de Jesus são à parte, para

pessoas sinceras, as quais Jesus quer salvar, e sabemos também que

nem todos que falam: “Senhor, Senhor”, ou fazem milagres,

herdarão o Reino de Deus.221 Sobre as pregações, sabemos que o diabo conhece muito bem as Escrituras Sagradas, infelizmente, muito

mais que muitos que se dizem cristãos, pois estes preferem escutar

de “Reis” (o homem trocou no passado o Rei Invisível pelos reis

visíveis),222 ao invés de buscarem do Rei dos Reis; além disso, o diabo nunca fala uma mentira inteira, mas usa da sutileza que lhe é

peculiar, falando então grandes verdades, com apenas uma leve

“torcidinha”, para anular por completo estas verdades faladas.

Portanto, diante das suas acusações, silenciamos ou bradamos,

conforme a necessidade.223 A Bíblia se chama Verdade. Este é o nome do Senhor dos Senhores. Vemos na Bíblia, exposto, toda a

verdade sobre os filhos de Deus, sejam elas boas, más, ou

execráveis.

Não podemos esquecer também que há poucos obreiros para falar e

não se calar,224 não se deter, para caçar as bruxas apesar dos

espinhos que os cercam,225 mas, há de se atentar para o equilíbrio,

para o trigo que está no meio do joio. Há um texto escrito a mando de Deus, com o título “O Ponto de Equilíbrio” onde tratamos deste

assunto que não se esgota, pois ser uma pessoa equilibrada é chegar

no topo. Não existe uma fórmula pronta para se saber onde está este

ponto, mas o Espírito Santo de Deus nos dará, no momento propício,

e para aquele desigual, a Justiça esperada.

Eu tenho estudado com afinco esta matéria e sempre me espanto

com desequilíbrios da vida. Deus nos dá uma ordem:

219 II aos Cor 11:14/ Mat 24:24 220 Mateus 21:13. 221 Mateus 7:4, 22. 222 I a Samuel 8 e SS. 223

Prov 26:4,5. 224

Isaías 58. 225 Ezequiel 2,3.

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“16 Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos;

portanto, sede prudentes como as serpentes e simples como

as pombas”.226

Discorremos sobre esta matéria no texto citado e nos reportamos ao

assunto cotidianamente, como agora. Sabe-se que na época de

Aristóteles, falava-se muito em equilíbrio, que se pode traduzir em harmonia. Esse equilíbrio e esta harmonia eram derivativos diretos,

conseqüência direta do próprio equilíbrio da natureza. Os gregos

tinham uma noção muito grande de equilíbrio. Tudo o que eles

pensavam tinham uma marca registrada: a balança. Não a balança do Direito, mas a balança em si, o equilíbrio. O Direito natural do

grego, portanto, necessariamente advém do equilíbrio e será um

derivativo de harmonia. Ora, o que está em harmonia está em

equilíbrio, aquilo que está em harmonia, necessariamente é

equilibrado. No caso aqui, eu passei do ponto de equilíbrio. Errar, como já disse anteriormente, tantas vezes, para tantas pessoas, não

é um atestado de incapacidade, mas faz parte do estágio de

aprendizado. Se não fora esta constatação, como poderíamos ter

força para prosseguir? É horrível perceber que se passou do ponto. Falamos ou escondemos o assunto? Quando percebemos, porém, a

verdade, ou então nos conscientizamos que o pecado da omissão é

igual ao da ação, nos levantamos e falamos. Via de regra, temos que

ir e voltar muitas vezes, até que o ponto exato seja manifesto.

Com Deus é assim: temos a verdade posicional que é a que

recebemos no ato e instantaneamente d’Ele, e a experimental, que é

a concretização da posicional, onde se consegue através do “levantar e cair”, nas experiências do aprendizado. Percebi o perigo dentro de

mim, ou seja, quando se entra na terra prometida (quando alguém se

torna filho de Deus, ou quando se conquista algo pelo mover de

Deus), se tem a ilusão de pensar que tudo é paraíso e que toda dor

terminou, porém, isto é uma ilusão. A religião é quem prega isso, pois quando se entra na terra da promessa, que vem com a paz com

Deus, depois do espírito recriado, e com isso ter o seu nome escrito

no Livro da Vida,227 tem-se então que travar uma batalha com o

inferno que vem se opor.

Deus nos introduz em uma terra fértil, a pessoa passa então do reino

das trevas para o reino da luz:

“20 Porque o introduzirei na terra que, com juramento,

prometi a seus pais, terra que mana leite e mel; comerá,

fartar-se-á, e engordará; (...)”.228

226

Mateus 10:16. 227

Apoc 21:5. 228 Deuteronômio 31:20.

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91

O que for esperto, ou no caso, obediente: adubará, tratará, regará,

semeará, cuidará desta terra para dela colher o leite e o mel

prometido. Esta terra não será habitada por gafanhotos, tímidos ou

covardes, pois estes não conquistam terras. A primeira coisa que se depara quando se transpõe esses portões são as “muralhas altas e

mal cheirosas de Jericó”. O que está dentro da terra que somos nós,

cheira mal e é uma alta muralha, muitas vezes formada desde a

infância229, ou seja, as nossas mazelas internas, o nosso profundo, as coisas escondidas dentro de nós que na maioria das vezes nem nós

mesmos sabemos, mas só Deus. Trava-se aí então uma tremenda

guerra que não é para qualquer um vencer: derrubar as muralhas

altas e mal cheirosas de Jericó (restaurar a nossa personalidade):

“13(...) uns quarenta mil homens em pé de guerra passaram

diante do Senhor para a batalha, às planícies de Jericó”.230

O chamado de Deus para a reconstrução do templo (o reino, o

templo, está dentro do que crê)231, é contínua. Deus dá esta

oportunidade ao homem, confiando nele. É muito triste quando

alguém perde esta chance e larga a mão do arado.232 O passado é para ser reescrito e reciclado com pensamentos embasados na mente

de Cristo para que as atitudes sejam mudadas pouco a pouco, ou as

vezes até muito rápido, dependendo da entrega de cada um. O

Senhor faz a proposta ao candidato a ser um vitorioso, ao que está sendo provado:

“4 E Elias lhe disse: Eliseu, fica-te aqui, porque o Senhor me

envia a Jericó. Ele, porém, disse: Vive o Senhor, e vive a tua

alma, que não te deixarei. E assim vieram a Jericó”.233

Elizeu não estava brincando, mas ele queria herdar o reino de Deus,

e por isso não ficou na facilidade, mas enfrentou tudo o que precisava enfrentar de maneira pronta como um soldado. Isto é espetacular,

pois não é só o sobrenatural que vai agir, como muitos pensam, mas

é uma proposta humana de coragem para enfrentar, se curvar, se

humilhar, se esvaziar de si e de tudo o que estiver ao seu alcance, e quando a força acabar, depois que a pessoa tirar a pedra, aí então

Deus fará o sobrenatural sem limites. Elizeu deixou tudo para trás e,

passo a passo foi subindo os degraus propostos e seguindo aquele

que lhe apresentou as maravilhas de Deus, este que Deus colocou à

sua frente para levá-lo à terra prometida234. Elias não obrigava Elizeu à segui-lo, como qualquer autoridade de Deus deveria fazer, mas ele

229 II aos Cor 10. 230 Josué 4:13. 231 Lucas 17:121. 232

Lucas 9:61. 233

II a Reis 2:4. 234 Êxodo 23:20.

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decidiu chegar no topo, perseverar até o fim. Observa-se depois, que

ele fez mais milagres que Elias (ele pediu a Deus a porção dobrada de

Elias):

“10 Respondeu Elias: Coisa difícil pediste. (...)“.

Sim, pois, perseverar, suportar, tirar a pedra não depende do

sobrenatural de Deus, mas do que crê. Para Lázaro ser ressuscitado, alguém teve que remover uma pedra muito grande. Sem esta atitude

humana não poderia haver o milagre:

“39 Disse Jesus: Tirai a pedra.

Assim é até agora. Temos uma pedra para tirar que Deus não vai

tirar. Para haver uma personalidade restaurada terá que haver uma

batalha sangrenta no interior desta pessoa.

... Marta, irmã do defunto, disse-lhe: Senhor, já cheira mal,

porque está morto há quase quatro dias”.235

Porém, os argumentos são muitos para que a pessoa não faça a sua

parte que lhe parece impossível. Realmente será preciso crer, e muito

mais que isso, ser um adorador, para acreditar, que depois da

obediência, depois de remover esta pedra, depois do homem fazer a sua parte, o morto de quatro dias vai levantar da sepultura, ou seja,

o sobrenatural de Deus vai se manifestar: alguém vai sair das

drogas, do adultério, da mentira, do ódio, da falta de caráter, do

câncer, da AIDS: o impossível vai acontecer. Muitos param antes da perseverança alcançar a sua obra, antes de derrubar as muralhas

internas e mal cheirosas da personalidade.236 Temos um texto escrito

com o título “Tirai a pedra”, onde calcamos mais neste assunto.

“7 E foram cinqüenta homens dentre os filhos dos profetas, e

pararam defronte deles, de longe; e eles dois pararam

junto ao Jordão”.237

Ou seja, não prosseguiram como Elizeu, não entenderam, não

tiveram coragem, hombridade, caráter, raça, e não alcançaram o

tudo de Deus que só os valentes conseguem238, estes que se

humilham tantas vezes quanto for preciso no estágio de aprendizado:

“2 Meus irmãos, tende por motivo de grande gozo o passardes

por várias provações, 3 sabendo que a aprovação da vossa fé

produz a perseverança; 4 e a perseverança tenha a sua

235 João 11:39. 236

Muralhas altas e mal cheirosas é a tradução da palavra Jericó. 237

II Reis 2:7. 238 Lucas 16:16.

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obra perfeita, para que sejais perfeitos e completos, não

faltando em coisa alguma”.239

Nós, os seguidores do Cristo Bíblico (não o da igreja), seguimos uma

trilha de sangue neste mundo tenebroso, temos consciência deste

fato terrível, não nos enganamos com ilusões terrenas, com

passatempos pueris, pois nos sentimos impedidos moralmente de

andar curtindo, a exemplo dos povos antigos, que não escutaram Noé que incansavelmente falou àquele povo que gostava de curtir a vida,

sem se preocupar com a vida futura, nem com o que acontece à sua

volta, durante cento e vinte anos. Todos naquela época perderam a

oportunidade, sendo naufragados pelo dilúvio. Seria muito bom se todos, hoje, atentassem para isso e não seguissem o mesmo

exemplo, para que não escorreguem para o mesmo lugar que eles.

Diante dos fatos avassaladores, que têm colocado a raça humana em

total descrédito, atrás mesmo, muitas vezes, dos animais irracionais (vemos muitas pessoas preferirem, sem sombra de dúvidas a

companhia destes), diante deste quadro horrível descrita em

Timóteo, ficamos perplexos:

“1 Sabe, porém, isto, que nos últimos dias sobrevirão tempos

penosos; 2 pois os homens serão amantes de si mesmos,

gananciosos, presunçosos, soberbos, blasfemos,

desobedientes a seus pais, ingratos, ímpios, 3 sem afeição natural, implacáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis,

inimigos do bem, 4 traidores, atrevidos, orgulhosos, mais

amigos dos deleites do que amigos de Deus, 5 tendo aparência de piedade, mas negando-lhe o poder. Afasta-te também

desses. (...) 7 sempre aprendendo, mas nunca podendo chegar

ao pleno conhecimento da verdade. 8 E assim como Janes e

Jambres resistiram a Moisés, assim também estes resistem à verdade, sendo homens corruptos de entendimento e réprobos

quanto à fé. 9 Não irão, porém, avante; porque a todos será

manifesta a sua insensatez, como também o foi a daqueles”.240

Em quem confiar? As pessoas que não têm as mentes passivas e que

não vivem na superfície da vida, precisam ter muito cuidado para não

se desequilibrarem. Quando olhamos os políticos, se não vigiarmos vamos cair neste quadro que fala o artigo, pois quase não

conseguimos crer que possa haver no meio deles alguém que não

seja corrupto. O Senador Magno Malta, um homem de Deus na

política, com frutos visíveis de honestidade, caráter e dignidade, certa vez falou que no meio político, há mais honestos que desonestos, e ai

de nós se assim não fosse, pois não sobraria nada. Queremos crer

que isso seja a realidade, embora a aparência nos fale ao contrário.

239

Tiago 1:2/4. 240 II a Timóteo 3:1/9.

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Fazendo um paralelo, quando vemos as corrupções dentro do altar

sagrado de Deus se multiplicando, e quando se tem a incumbência de

Deus para denunciar este fato, socorrer os fiéis dos ardis dos

mercenários, constantemente se tem que lembrar que há dentro deste caos, sete mil que não se dobraram a Baal.241 Se não se tomar

cuidado, e se não houvesse um Pai com o nome de Zeloso, aonde

isso iria parar? Certamente na auto-tutela, na justiça própria, pois,

cansados de ver a injustiça, tendo fome e sede dela (e isto sem perceber, na maioria das vezes), muitas vezes queremos comer o pão

da mão do diabo, perdendo assim a oportunidade de ser servido

pelos anjos.242

O povo do nordeste, como é o meu caso, quando tem o seu espírito

recriado por Jesus, tem que travar uma batalha contra os espíritos de

justiceiros, de cangaceiros, de Lampiões, que pairam sobre este povo

sofrido e injustiçado. Fala o Senhor que não nos dará tentação além das nossas forças243 e que abrevia os dias maus, senão não sobraria

ninguém.244 Não correm este risco os que não estão famintos de

justiça. Estes não “esquentam”, portanto estão quase isentos de

sofrer este dano, mas os que estão inflamados, acesos, terão que

vigiar continuamente, para que não se endureçam no engano do pecado de fazer justiça com as próprias mãos. Jesus passou por tudo

isso e não se endureceu. Ele era extraordinário, é e será

eternamente.

Entendemos um pouco mais com este incidente horrível, uma

passagem que nos parece muito difícil de entender, que é o fato de

Moisés, sendo o homem mais manso que já houve na terra, tendo

sido um exemplo de intercessor, o mesmo que disse para que Deus salvasse o povo duro de coração, rebelde e obstinado, ou então

riscasse o seu nome junto com o dele do Livro da Vida, (É

pouco?!),245 este, símbolo da intercessão, em dado momento não

suportou e se irritou com aquele povo, representando então mal a

Deus, e com isso, sendo repreendido severamente pelo Senhor.

Jonas também não suportou a idéia de Deus dar chance àquele povo

que não sabia a diferença entre a mão esquerda e a direita e se

desviou da rota, desobedeceu a Deus, descendo então, para Társis, para o navio, para o porão, para o oceano e depois para o último

lugar que alguém poderia imaginar descer: para o ventre de um

peixe. Jonas foi reconhecido como o que servia ao Deus do céu, que

fez o mar e a terra. Como vemos ele não era qualquer um, mas

241 I a Reis 19:18. 242 Lucas 4. 243

I aos Cor 10:13. 244

Marcos 13:20. 245 Êxodo 32:32.

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estava “doente” naquele momento. Mesmo doente ele sabia que era

a causa da tempestade que lhes sobrevinha, exortando os tripulantes

do navio a lançá-lo no mar para que cessasse a fúria deste. Depois de

muito relutar, foram obrigados a fazer isso. Jonas sofreu muito e foi ao fundo do poço, até que fosse então fazer o que Deus lhe tinha

ordenado: pregar àquele povo terrível. Observemos que não é nem

um pouco fácil o juízo de Deus para os desertores, para os que O

representam mal. Invocamos a Deus para que sejamos salvos!246

Deus me deu olhos e ouvidos para ver e escutar religiosos baratos,

mercenários que se sentam no lugar de Deus, agem em nome d’Ele,

destruindo a fé de uma multidão que passa por essas igrejas procurando o seu Criador. Chegaram no seu limite, porque têm fome

e sede de Justiça, e o que lá encontram é pior do que viram fora,

como fala Paulo na sua primeira carta aos Coríntios, e em outras

partes do Livro Sagrado. A obra, É FORA DA PORTA,247 como fazia o Mestre e fazem os Seus seguidores até hoje. É misturado com o povo

que um cristão vai fazer a diferença, amando cada um, sem estar

mais na sua condição, pois se estão fortalecidos pelo poder de Deus,

estão encapsulados, vacinados e poderão então resistir ao pecado

que os rodeia. Jesus ama o perdido, morreu por eles, e então se sentava com eles, comia e bebia com eles,248 SENDO PURO E

IMACULADO, e assim ordena a que seja feito pelos seus seguidores.

Nada de templo fixo. Alguém já teve notícias de que Ele ou Seus

discípulos fundaram alguma igreja. Não, a igreja que existia era MÓVEL e não fixa. Poderia estar sim, na casa de fulano ou beltrano,

mas era essencialmente móvel, e o que passar disso é tradição, é

religião.

Não é nada fácil falar sobre este assunto, por conta das barbaridades,

dos escândalos contínuos na mídia desta igreja apóstata ao longo da

história. É a constantinização249 moderna. Lembramos do filósofo

Kierkgaard, que falava, no mesmo espírito, coisas espetaculares.

Infelizmente a religião não apresenta homens como este, que entre tantos que a filosofia agasalha, foram instrumentos que Deus usou de

maneira espetacular. Esses homens ficam guardados em baús, e o

povo, comumente, não sabe nada sobre eles. Esta liderança corrupta

foi o problema do ministério de Jesus e não os ladrões, assassinos ou prostitutas, mas eles. Temos então que estar alertas para o

equilíbrio, para não levar na mesma rede de bruxos, junto com estes

joios, trigos de Deus (Valha-me Senhor!!). Meditamos sobre este

terrível incidente para entender como tudo isso concorreu para o meu

246 Romanos 10:13. 247 Hebreus 13:12. 248

Mateus 11:19. 249 Constantino era um político disfarçado de homem de Deus; se tornou cristão de fachada, deu a mão para a hipocrisia.

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96

bem, o bem do Reino de Deus e do meu próximo, como afirma a

Bíblia Sagrada:

“28 E sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados

segundo o seu propósito”.

A paz que excede o entendimento nos nossos corações, reflete o retrato de Jesus para aquele que nos olha. Gostaria muito de

encontrar este rapaz outra vez para que ele possa enxergar em mim

o amor de Deus por ele. Dentro da caçada que é a minha função,

extrapolei e trouxe dentro deste embrolho este rapaz e quantos outros que talvez não tenha percebido, por alguma sutileza, ou

porque foi em menor proporção. Não posso deixar de falar daquilo

que tenho visto e ouvido. Tenho que denunciar, sob pena de Deus

requerer de mim o sangue das pessoas que eu não falei:

“1 Clama em alta voz, não te detenhas, levanta a tua voz como

a trombeta e anuncia ao meu povo a sua transgressão, e à

casa de Jacó os seus pecados”.250 E mais: “3 E disse-me ele: Filho do homem, eu te envio aos filhos de Israel, às nações

rebeldes que se rebelaram contra mim; eles e seus pais têm

transgredido contra mim até o dia de hoje. 4 E os filhos são de semblante duro e obstinados de coração. Eu te envio a

eles, e lhes dirás: Assim diz o Senhor Deus. 5 E eles, quer

ouçam quer deixem de ouvir (porque eles são casa rebelde),

hão de saber que esteve no meio deles um profeta. 6 E tu, ó filho do homem, não os temas, nem temas as suas palavras;

ainda que estejam contigo sarças e espinhos, e tu habites

entre escorpiões; não temas as suas palavras, nem te assustes com os seus semblantes, ainda que são casa rebelde. 7 Mas tu

lhes dirás as minhas palavras, quer ouçam quer deixem de

ouvir, pois são rebeldes. 8 Mas tu, ó filho do homem, ouve o

que te digo; não sejas rebelde como a casa rebelde; abre a tua boca, e come o que eu te dou”.251

E mais:

“7 Mas a casa de Israel não te quererá ouvir; pois eles não

me querem escutar a mim; porque toda a casa de Israel é de

fronte obstinada e dura de coração. 8 Eis que fiz duro o teu rosto contra os seus rostos, e dura a tua fronte contra a sua

fronte. 9 Fiz como esmeril a tua fronte, mais dura do que

a pederneira.

É por este motivo que acabo falando.

250

Isaías 58:1. 251 Ezequiel 2:3/8.

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97

“Não os temas, pois, nem te assustes com os seus semblantes,

ainda que são casa rebelde””.252

E mais:

“17 Filho do homem, eu te dei por atalaia sobre a casa de

Israel; quando ouvires uma palavra da minha boca, avisá-los-ás da minha parte. 18 Quando eu disser ao ímpio: Certamente

morrerás; se não o avisares, nem falares para avisar o ímpio

acerca do seu mau caminho, a fim de salvares a sua vida, aquele ímpio morrerá na sua iniqüidade; mas o seu sangue, da

tua mão o requererei”.253

Ou seja, embora não seja nada fácil, estou buscando o ponto de equilíbrio na minha função de anunciar em alta voz, sem deixar de

amar e respeitar quem quer que seja. Já fui exortada por falar

demais e por falar de menos:

“17 Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz, comete

pecado”.254

Não tenho como pagar o sangue de ninguém e por isso falo, mesmo sabendo das conseqüências, pois a morte por um homem é efêmera

e a por Deus é eterna.

252

Ezequiel 3:7/9. 253

Ezequiel 3:17,18. 254 Tiago 4:17.

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98

5. Fala Soren Aabye Kierkegaard (1813-1855)255

Observemos os pensamentos deste homem e nos perguntemos por

que o tal não é sequer conhecido no meio que se diz cristão.

Filósofo existencialista, que nos trouxe o famoso princípio: nós somos

uma invenção totalmente nossa. Kierk veio fazendo uma dura crítica

ao convencionalismo, ao superficialismo, ao conformismo, ao tradicionalismo religioso, já que o relacionamento com Deus se

expressa de maneira totalmente singular para cada um. Além disso,

essa experiência é tão pessoal, que é inevitavelmente profunda,

intensa e coerente, o que era o oposto da vida dos cristãos mornos e ricos. Esses, chamados de cristãos burgueses, viviam uma pseudo-

santidade diante da sociedade, se isolando como pessoas “espirituais

e santas”, sem se integrarem ao mundo como fazia Jesus que vivia

no meio dos perdidos. Eram na verdade hipócritas, vivendo segundo seus próprios interesses (eram a espuma). Kierk dizia que a fé cristã

é participativa, preocupada com aspectos sociais. Jesus contestou

tudo, foi tão radical que foi crucificado. Esse era o sentido do

cristianismo – remar contra maré, quando a maré for suja e

corrompida, desprezando e afogando em suas ondas os fracos e oprimidos.

Como filósofo existencialista que era, Kierk valorizava a construção

do ser, de maneira peculiar, pessoal. Ele questionava e criticava a tendência filosófica que antecede à sua, o racionalismo, considerando

que esta teorizava muito sobre as coisas, mas esquecia daquilo que

realmente tinha relevância para cada um. A pergunta de Kierk era:

será que não estamos teorizando muito sobre as coisas e nos esquecendo do real valor que elas têm, ou seja, o valor

subjetivo? Ele era o filósofo da subjetividade, que valorizava o

pessoal, a significação pessoal e a construção do ser a partir disso.

Uma pétala de rosa perdida dentro de um livro não tem seu valor na

química que a constitui ou na sua composição orgânica, seu valor está naquilo que ela representa, que envolve sentimentos, sensações,

momentos marcantes, lembranças. É o princípio da primazia da

realidade, é o que é relevante, ou seja, a subjetividade é o que

realmente importa. Fala o filósofo que o homem é um ser concreto e tudo o que vivencia e dá importância é concreto também. Ao invés de

falar sobre as verdades universais e ficar filosofando sobre elas, cada

indivíduo deve buscar a sua maneira de compreendê-la e vivenciá-la.

O enfoque é retirado da razão, o que importará de fato serão

as explicações das coisas que são relevantes para nossa

255

Idéias com origem em pesquisas no curso de Direito/ Unisantos/ Prof Ricardo Galvanese – Filosofia.

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99

existência. O que importa realmente é o indivíduo na sua

condição existencial e não o sistema”.

O que importa realmente é o indivíduo na sua condição existencial e não o sistema.

5.a Pensamento de Kierkgaard256

Vale a pena filosofar um pouco mais através desta parceria e vamos

perceber um pouco mais a diferença entre a teoria e a prática, o

objetivo e o subjetivo, a espuma e o sabão, a essência e a aparência,

Cristo e religião ...

Até os dias de Kierkgaard, o pensamento filosófico se enfocava no

estudo da razão. De uma maneira ou de outra, a sistematização

global, o racionalismo moderno atingiam o seu ápice. Devido ao exagero e supervalorização da razão humana (e isso dado por Hegel,

Jant, etc.), surge uma reação ao pensamento e essa reação (tudo

isso não cheira bem) fica muita clara em Kierk e Nietchz. Enquanto o idealismo hegleliano e o racionalismo iluminista buscavam suas idéias

globais, Kierk chega propondo uma filosofia onde o que realmente

importa é o indivíduo, sua essência, sua singularidade e

não o sistema como representação é o indivíduo, sua

essência, sua singularidade e não o sistema como representação

esquemática da totalidade da realidade. Ao invés de buscar verdades

universais, e ficar filosofando sobre ela, cada indivíduo deveria buscar

a sua maneira de compreendê-la e vivenciá-la. Começa, então, um intenso movimento de auto-conscientização e auto-manifestação do

absoluto.

(...) O enfoque é retirado da razão humana, e para Kierk, o que

importará, de fato, será as explicações de coisas que sejam revelantes para nossa existência. O individual é que é real.

256 Texto extraído das aulas de filosofia/ Curso de Direito/ Unisantos/Sp/Prof Ricardo Galvanese.

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100

(...) Esse é o pensador da subjetividade (o contrário de objetivo,

absoluto). Não importa o que seja de fato aquilo ou aquele, mas

somente a interpretação que se dá. É uma questão individual, pessoal e intransferível, irracionalista. Ex. da rosa no livro. O significado da

rosa é maior que a sua constituição orgânica.

(...) Nós somos uma invenção totalmente nossa.

(...) Somos um homem feito à semelhança de Deus. Somos seres o

tempo todo projetados para o futuro. Estamos o tempo todo escolhendo, sendo desafiados a escolher, e ao mesmo tempo não

tendo domínio sobre este futuro. Tudo o que eu faço (falar, fazer uma

faculdade), tudo me projeta para um futuro. Para viver projetado para este futuro, o elemento essencial será a fé. Jamais conseguirei

concluir nada se não puder crer no que não vejo. Nós não temos

futuro, mas escolhemos para o nosso futuro constantemente. A fé é o que nos move nessa direção. Caminhamos também para a

eternidade, por fé. É nesse sentido que a fé é o elemento

fundamental na relação que nós temos com a natureza, com os

outros e também com o absoluto, o Deus Emmanuel que significa Deus conosco, ou seja, aquilo que nós acreditamos ser fundamental

para nossas vidas. Kierk vem assim fazer uma dura crítica

ao convencionalismo, ao superficialismo, ao conformismo, ao tradicionalismo religioso, já que Deus e

relacionamento com Ele se expressa de maneira

totalmente singular para cada um, independente de

teologia. Além disso, essa experiência é tão pessoal, que

é inevitavelmente profunda, intensa e coerente, o que era o oposto da vi da dos cristãos mornos e ricos. Outra

crítica em relação ao burguês cristão (que eram os que

tinham viviam na teoria, mas não na prática) era o fato

de estes não serem integrados ao mundo. Se omitiam nem sua religiosidade e se isolavam da sociedade.

Leibnitz, dia que devemos escrever a nossa história, a

partir dos talentos que Deus nos deu, com o livre arbítrio

que temos, sem sair dos princípios do Criador. Kierk dizia que cristianismo da fé era participante. Jesus contestou

tudo, e foi tão radical que foi crucificado. Toda

importância e relevância da existência de Deus, mas não

de uma maneira abstrata, mas existencial, ligada às

opções pratica do dia a dia, uma experiência pessoal. Se o homem não dilacera interiormente, e não optar pelo

radical, não é o Deus de Kierkgaard.

A existência de Deus é abordada longe do enfoque racional. A superioridade da fé para que eu creia é incontestável. Fé é um ato de

vontade. Religião e razão são inconciliáveis. Fé é questão de

ousadia, crer do absurdo. A razão só obedece aquilo que já existe, não ousa. A busca da verdade emancipada da

concepção de Deus, pela filosofia especulativa (os racionais) é uma

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tentativa do homem de ter uma independência de Deus, de pagar

suas contas pelos seus méritos, isolando e tornando vã, a cruz de

Cristo; (o mesmo princípio que fez Lúcifer cair), buscando o homem, portanto, a sua própria condenação. Somos simplesmente uma poeira

cósmica? Não é possível ser um poço cristão, ou cristão até certo

ponto (“crítica à igreja de domingo”). Só uma pessoa descompromissada com esquemas convencionais, faz

uma ruptura radical. A fé nos leva à árvore da vida e a

razão à árvore do conhecimento do bem e do mal

(vestígios de Roma). Kierk traz também a teoria dos 3 estágios,

que são possibilidades de organização da existência humana, para que possamos nos localizar, nos avaliar (em que estágio estamos) e

fazer a opção de passar de um para o outro, para uma realização

plena. Esta mudança não é automática, mas gradual, depende de uma opção de vida, de uma decisão, calçada na fé. Essa passagem

depende estritamente de nós. São eles:

1) O estético: O sujeito vive buscando o belo, o que dá

prazer, o momento. Nesse estágio sentimos medo e

vazios momentâneos, pois vivemos para satisfazer

desejos que são momentâneos e volúveis, além de passageiros, que não nos oferecem nada de concreto

para o futuro. Nesse estágio, o sujeito não é autônomo

plenamente, pois seu estado de ânimo depende das circunstâncias.

Somos aqui apenas um animal sofisticado? Será que eu sou só isso, só um cachorro que pensa? Vivem o Epicurismo, a busca do prazo e a

fuga da dor. Quem busca o prazer vive ansioso e a ansiedade reduz a

nossa liberdade e o auto-domínio. Seria a imagem de um sultão no meio de um bordel. O homem aqui não é dono mais do seu próprio

corpo; tenta desesperadamente ser, mas não o é nem da sua própria

vida nem da sua própria existência.

2) O ético: Agora o sujeito já se percebe como ser social, não

pensando somente em si, mas no sistema que o rodeia, é mais

racional, busca do que é bom para si e justo. Postura séria e estóica (estoicismo – aceita a dor e evita o prazer) da realidade. Nesse

estágio, o sujeito assume a responsabilidade por sua própria

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existência, é autônomo e procura discernir o que é certo ou errado,

para praticar com zelo o que é seu dever. Ele de certa forma, cai

na ilusão de que é o criador de si mesmo, que é o dono do seu próprio destino, e aí este estágio se caracteriza,

pelo peso, de carregar nas costas, a ilusão de si mesmo.

Pela avidez do indivíduo avançar para a compreensão da

verdade, assume-se como responsável pela sua própria

existência. Ele não consegue vislumbrar um horizonte maior. É como você carregar um enorme baú ao longo de

um interminável deserto; está o tempo todo respondendo

pela sua própria vida, a partir das suas próprias forças.

Nasce aí a angústia, percebe os limites desta perspectiva, e abre então a oportunidade para uma

reestruturação; vai buscar a sua origem, percebe-se

insuficiente, buscando no criador a solução para sua

existência. Entrega-se então ao estágio religioso. Para passar,

superar esse estágio, percebemos que é ilusória a busca de

autonomia, experimentamos tédio, angústia e descobrimos que a

única saída é o próximo estágio).

3) O religioso: É o ápice, o predomínio da fé, do amor e da

compreensão de Deus. Postura de confiança em Deus e no seu amor

e poder. O sujeito reencontra a razão da sua existência (nascemos para a glória de Deus, o que atende sua ânsia mais profunda,

encontrado a raiz do seu eu, a sua essência verdadeira). Não é um

automatismo, um esquema ético religioso, eu tenho sempre

a opção da escolha: perder-se totalmente no estágio estético e parcialmente no estágio ético. No estágio ético eu não tenho ainda,

ou seja, eu não estou em sintonia com meu eu e sim com uma

imagem de absoluta autonomia que eu construo do meu próprio eu. Eu penso que sou Deus de mim mesmo. Isto não é real. O ser

humano não é Deus, é limitado.

(...) Kierkgaard, se revolta e fala: - Nós estamos acreditando

demais no poder da razão humana, que não está com

este cartaz todo, e além de tudo, ao adianta explicar

tudo, o que é fundamental é explicar algo que seja

relevante para a nossa existência.

(...) Kierkgaard desenvolve uma filosofia da existência, onde o

fundamental é a condição pessoa do sujeito existente => ex-sistência (voltado para fora), que está na origem de substância, que compõe o

elemento fundamental, o subjetivo, (...) ou seja, o homem é um ser

que está o tempo todo escolhendo, que está construindo o seu

futuro; é um ser projetado sobre o futuro, mas ao mesmo tempo não tem domínio sobre esse futuro, então está o tempo todo sendo

desafiado a escolher.

(...) A fé é o elemento fundamental, sem fé ele atrofia. A fé é o que

me move e a vocês a estarem aqui, crendo que daqui a cinco anos

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103

estarão se formando em Direito. Só vou trabalhar, porque estou

acreditando que no começo do mês, vou receber o meu salário.

(...) Somos projetados ao futuro, pelo elemento fundamental da fé,

que dilata a compreensão do homem na perspectiva mais do futuro,

exatamente em função dessa necessidade humana. O homem vive. É neste sentido que a fé é o elemento fundamental na relação que nós

temos com a natureza; com os outros, nós também com a relação

que temos com o absoluto, ou seja, com aquilo que nós entendemos

que seja o fundamental para as nossas vidas. A fonte dos sentidos, por definição é Deus. É neste sentido que Kierkgaard coloca Deus

como elemento fundamental na construção de identidade da pessoa

humana. Só que não é o Deus abstrato do Kant, do Hegel, mas um Deus que é descoberto a partir desta condição

pessoal, condição de escolha, o Deus conosco, não o

resultado de uma abstração.

Kierkgaard vai fundamentar que esta relação com Deus é

fundamental e é uma condição pessoal que se dá quando

eu entendo ser um sentido absoluto para a minha vida.

Este é o papel determinante para a existência humana, e é exatamente por isso que não pode ser encarado como

mera religião. Se não dilacerar o homem.

Antes de colocar a minha experiência de quando estive na pele de um

fariseu ou de como fui transformada em um deles, mesmo abominando-os, coloco no capítulo seguinte algumas reflexões para

que possamos entender melhor o trâmite por que passa a mente

humana para chegar a tal. Queremos enfatizar um pouco mais o

aspecto dureza, esta que havia em João Batista, em Paulo, em Pedro, em tantos outros e no próprio Mestre, que é ingrediente necessário

para um soldado de Cristo e quando este quesito ultrapassa a medida

do equilíbrio e se torna joio. Queremos ou precisamos meditar um

pouco mais, para que possamos entender melhor o que significa Lei, Graça e o divisor de águas que separa o caráter do Deus Consumidor

do Deus de Amor, entranhado nos corações dos homens.

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6. E a Pedro1

Enfatizamos neste tópico, conforme anunciamos anteriormente, o drama, a dor que inunda o coração daquele que nega a Cristo com as

suas atitudes. Sim, porque, verbalmente e conscientemente já é mais

difícil, mas, Deus nos fala que se conhece a árvore pelos frutos, e

isso, observamos, evidentemente, não só pelas palavras, mas

principalmente pelas ações, pela prática do cotidiano, que vem revelar o que está dentro do coração, do íntimo do homem. O que

creu abriga ainda dentro de si a pessoa velha, que vai lutar contra a

pessoa nova que nasceu dentro dele com unha e dentes,257 junto com

o diabo e o presente sistema mundial que jaz todo no maligno,258 para que este não faça a sua vontade que é a vontade do seu Pai.

Porém, junto com a tentação teremos sempre O ESCAPE,259 Deus nos

representa, Ele não nos deixa órfãos, nada nos separa do Seu grande

amor, e esta é a causa de não sermos consumidos apesar de tanto.260

“16 Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura,

uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos”.261

“34 Raça de víboras! como podeis vós falar coisas boas, sendo

maus? pois do que há em abundância no coração, disso fala a

boca”.262

“12 Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante

do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a divisão de alma e espírito, e de juntas e medulas, e é apta para

discernir os pensamentos e intenções do coração”.263

“15 Mas o que é espiritual discerne bem tudo, enquanto ele por ninguém é discernido”.264

Ficamos deveras constrangidos depois de ler este texto de W Nee, assim tantos outros escritos por ele, pois aqui percebemos um pouco

mais da grandeza de Deus e da nossa pequenez.

Pedro, um dos discípulos de Jesus, cometera um grande pecado: o de negar o seu Senhor na noite em que Ele foi traído. Ele que afirmara

veementemente que não O negaria, não confessou o Senhor nem

1 Texto de Watchman Nee/ Editora Árvore da Vida; São Paulo. 257

Gàlatas 5. 258 I João 5:19. 259 I aos Cor 10:13. 260 Lamentações 3:22,23. 261 Mateus 7. 262

Mateus 12. 263

Hebreus 4. 264 I aos Cor 2.

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105

mesmo diante de uma humilde criada. “certamente o Senhor não me

quer mais, falhei de maneira tão desastrosa, que não mereço voltar-

me para Ele”- deve ter pensado Pedro. Mas na manhã em que ressuscitou, o Senhor quis que alguns fossem dizer a seus discípulos

e a Pedro sobre a Sua ressurreição. “E a Pedro” – quão profundo é o

significado dessas palavras! Verifique você também se esta não é a

sua experiência: “Mas ide, dizei a seus discípulos, e a Pedro,

que ele vai adiante de vós para a Galiléia; ali o vereis, como

ele vos disse”.265

O Evangelho de Marcos registra que, após a ressurreição do Senhor,

um anjo disse a algumas mulheres para contarem aos discípulos do

Senhor e a Pedro o que acontecera. Oh! “E a Pedro”. Isso enche os olhos de lágrimas. Porque Ele não disse: “Dizei a Seus discípulos e a

João”. (João era o amado do Senhor), Porque não disse: ”Dizei a

Seus discípulos e a Tomé?” (Tomé duvidou da ressurreição do

Senhor). O anjo não mencionou os melhores discípulos, ou os mais necessitados, mas especificamente a Pedro. Porque isso? Havia algo

em Pedro que era tão diferente dos demais? Pedro cometera um

grande pecado três dias antes deste evento – tão grande pecado que impede o Senhor de confessá-lo diante dos anjos de Deus266. Pedro

não confessou o Senhor diante dos homens, nem mesmo diante de

uma humilde criada. Mas o Senhor queria que alguns fossem dizer a Seus discípulos e a Pedro sobre a sua ressurreição. “E a Pedro” –

quão grande é o significado dessas palavras!

Se alguns irmãos e irmãs tivessem tais experiências como as de Pedro, pensariam: “Oh! eu sou Pedro. Eu já caí. O que cometi não é

um pecado comum. Receio que nunca mais poderei me aproximar do

Senhor. Temo que o Senhor já me abandonou e, de agora em diante, toda vez que Ele tiver alguma tarefa importante nunca mais

encarregará a mim de fazê-la. Nunca mais serei capaz de ter

experiências especiais como aquela que tive com o Senhor no Monte da Transfiguração. Não mais poderei ser o companheiro do Senhor no

Jardim do Getsêmani. Quando confessei o meu desejo de morrer pelo

Senhor, Ele disse: “Antes que duas vezes cante o galo, tu me

negarás três vezes”. Naquele instante pensei que o Senhor tivesse me entendido mal. Quando Ele foi preso, cortei a orelha de um

homem com a espada, e pensei que podia amar o Senhor

corajosamente. Quem teria imaginado que até mesmo eu pudesse tropeçar! Não tropecei perante um grande sumo sacerdote, alguém

com grande autoridade; nem mesmo caí perante Pilatos que tinha

muito poder. Mas caí justamente diante de uma pergunta feita por uma criada! Neguei o Senhor uma vez, em seguida, mais uma vez e

finalmente até comecei a praguejar e a jurar para negar o Senhor”.

“Uma vez confessei que Ele era o Cristo e que Ele era o Filho de Deus. Eu Lhe disse: “Tu tens a vida eterna. A quem mais iremos

nós?”. Entretanto, justamente quando vi o Senhor prestes a ser

265 Marcos 16:7. 266 Lucas 12:9.

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crucificado, caí. Cometi o maior pecado: negá-Lo. Embora eu tenho

chorado e me arrependido, não sei como o Senhor se sentiu a meu

respeito. naquele dia, quando eu O neguei, teria sido melhor se Ele não o soubesse. No entanto, exatamente quando eu O neguei, Ele se

virou e olhou para mim; isto indicava que Ele já o sabia! Que farei

agora? Nunca mais me atreverei a ir até Ele. Embora Ele me ame, não ouso me aproximar Dele, pois há um pecado que nos separa.

Provavelmente, nunca mais poderei me aproximar Dele”.

“Mas o Senhor ressuscitou. Algumas mulheres trouxeram a

mensagem e Ele clara e especificamente mencionou que dissessem-

na para mim. Oh, mesmo tendo negado o Senhor três vezes, Ele não

me abandonou! Ele não me odiou nem ficou furioso comigo. O que Seu coração deseja é a minha pessoa. Ele não mencionou ninguém

mais em particular. Somente a mim em especial, como se eu fosse o

único em Sua lembrança. ‘E a Pedro! E a Pedro!’ – esta é na verdade a música mais aprazível no mundo, a mais maravilhosa e

boa nova! Se o Senhor tivesse pedido para as mulheres que

dissessem apenas aos discípulos, teria pensado que alguém como eu não era digno de ser Seu discípulo, e teria deixado de sê-lo. Não teria

ousadia de ir vê-Lo. Mas o Senhor disse: “E a Pedro!” Isso mostrou-

me que Ele ainda me queria. Apesar de não ter forças pra ir vê-Lo, “E

a Pedro” encorajou-me a ir. A mensagem trazida pelas mulheres era verdadeira. O Senhor fez o anjo mencionar especificamente o meu

nome. Ele não me havia abandonado. Ainda posso achegar-me a Ele.

Levantar-me-ei e irei vê-Lo!”.

Oh!, este era um Pedro que caíra, um Pedro que pecara e um Pedro

que negara o Senhor; no entanto, o Senhor ainda o mencionou especificamente. Este é o evangelho! Irmão, você sabia que uma vez

que o Senhor o salvou, Ele o salvará ater o fim? Ainda que você

esteja desencorajado, o Senhor jamais está desencorajado. Apesar

de você pecar e se sentir desconcertado de voltar a Ele, do lado Dele, no entanto, não há qualquer razão para não voltar. Por que você

insiste em lembrar da sua falha, sendo que o Senhor já não se

importa com ela? O Senhor tirará o véu da sua face hoje, então não terá mais medo Dele, nem hesitará em se aproximar Dele.

É provável que Pedro ainda se lembrasse de que certa vez disse ao

Senhor: “Ainda que venhas a ser um tropeço para todos, nunca o serás para mim” (Mt 26:33). Pode ser que também se lembrasse que,

junto ao lago de Genesaré, quando vira a glória do Senhor, dissera:

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107

“retira-te de mim, porque sou pecador” (Lc 5:8). Agora, porém,

conheceu a sua condição e como ousaria ver o Senhor? Era possível

que continuasse a se lembrar do pedido do Senhor: “Então, nem uma hora pudestes vós vigiar comigo?”. Em seus ouvidos

possivelmente ainda permanecia o mandamento do Senhor: “Vigiai e

orai, para que não entreis em tentação” (Mt 26:40-41). De qualquer modo, a sua condição estava longe da exigência do Senhor.

Como ele ousaria ver o Senhor hoje? Todavia, ele foi ver o Senhor.

Por causa da palavra “e a Pedro” ele teve ousadia de ir vê-Lo. Irmão,

se você conhecesse a intenção da palavra “e a Pedro”, poderia ainda permanecer longe Dele e não se voltar a Ele? Se você conhecesse o

significado profundo da palavra “e a Pedro”, não haveria outra coisa

a fazer, senão aproximar-se do Senhor.

Qual livro entre os quatro Evangelhos registrou o evento dessa

forma? Somente o Evangelho de Marcos. Marcos era um jovem; ele seguiu a Pedro e aprendeu muito dele. Podemos dizer que o

Evangelho de Marcos foi ditado por Pedro e escrito pode Marcos. A

sentença “dizei a Seus discípulos e a Pedro”, foi especialmente

registrada por Pedro. Esta palavra pode não ser tão importante para outros, mas era extremamente importante no coração de Pedro.

Quando o Espírito Santo escreveu a Bíblia, Ele especialmente

mostrou-nos que as poucas palavras que precisam ser insignificantes para Mateus, Lucas e João, eram inesquecíveis e importantes para

Pedro, quem narrou o Evangelho de Marcos. “E a Pedro” tinha um

significado especial para ele. Em todo tempo, a recordação dessas palavras era doce. A palavra da graça é especialmente memorável

para aquele que a recebeu.

Irmãos e irmãs, quando nos lembramos do Senhor no partir do pão, há alguém cujo coração ainda está com medo de Deus? Ou há algum

pecado que separa você de Deus? Já choramos amargamente,

arrependemo-nos e confessamos aquilo que fizemos que não era digno do Senhor. Agora, hoje, ousamos dizer ao Senhor: “Senhor, eu

me achego a Ti?”. Apenas considere: Por amar você, Ele

voluntariamente foi à cruz; agora Ele deixaria de amá-lo apenas

porque você falhou, tropeçou e caiu? Teria o Seu amor, com que Ele amou você na cruz, então diminuído? Hoje é fácil para você não amá-

Lo, não se aproximar Dele nem voltar a Ele, mas é impossível para

Ele não amar você, esquecê-lo ou abandoná-lo. Três dias após a morte do Senhor, Pedro estava calado porque tropeçara, mas o

Senhor não o esqueceu. Assim, se você não tiver forças para ir diante

do Senhor, tenha apenas desejo de crer em Sua palavra. Ele poderá dar-lhe forças para ir até Ele. Se você tropeçou, Ele poderá levantá-

lo. Embora pareça que nunca mais poderá se aproximar do Senhor

novamente, se você puder, na fé, se lembrar da palavra “e a Pedro”,

você será capaz de se aproximar Dele. Quando queremos nos aproximar do Senhor, ainda que pareça haver uma grande distancia,

e sintamos que não temos forças para ir até Ele, devemos nos

lembrar da palavra “e a Pedro”. Era de Pedro, que tropeçara, que o Senhor se lembrou mais. Apesar de Pedro não ousar vir até o Senhor,

o coração do Senhor o atraiu, levando-o a não ousar esconder-se do

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Senhor. Não entendamos mal o coração do Senhor hoje. Você ouviu a

voz dizendo: “e a Pedro”. Deve saber que o Senhor não o

abandonou. O Senhor tampouco abandonou você: “e a Pedro” também significa “e a você” – você que falhou como Pedro! Que

todos nós vejamos que tipo de coração o Senhor tem para que tipo

de coração o Senhor tem para conosco. Se vir o coração do Senhor, você nada fará senão correr para Ele!

Não poderemos deixar de amá-Lo. Se de um lado estão os religiosos

que se acham justos, de outro estão os “Pedros” que satanás acusa e que não suportam olhar para cima, pois sabem que não são dignos

de nada. Pedro falhou porque não conhecia os seus pecados ocultos,

mas ousou expressar o seu amor, ousou se atrever, foi provado e

depois aprovado.

E mais um pouco deste olhar bendito para todos nós...

6.a Olha pra mim267

Eu me humilharei/ Teu nome gritarei/ Como criança eu serei/ Mas,

olha pra mim/ Tuas vestes tocarei/ Na figueira subirei/ Aos teus pés

eu chorarei/ Mas, olha pra mim/ Olha pra mim/ Olha pra mim/ Olha pra mim/ Pois eu preciso do teu olhar/ Eu farei o que for preciso/

Para te ver/ Pois não posso deixar que sigas/Sem me perceber/ Não

importa a multidão/ Só eu sei do que eu preciso/ E eu preciso do teu olhar/ Do teu olhar, do teu olhar

Oração: Nosso coração sangra, se esvai de amor por Ti, Senhor e

Rei, Justo Juiz, bendito seja o teu nome de eternidade à eternidade, amém e amém...

267 Toque no altar.

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7. Resumo da análise de Augusto Cury sobre a personalidade

do Apóstolo Paulo.268

Augusto Cury é um instrumento de Deus que não tem templo fixo como Jesus, não tem religião como seu Mestre. É psiquiatra,

psicólogo, com livros publicados em mais de 60 países, conferencista,

diretor da Academia da Inteligência, antes ateu, fala, depois de

muitos anos estudar a inteligência de Cristo e seus métodos, que nós estamos ainda na idade da pedra diante das propostas educadoras do

Mestre Invisível. É muito interessante, além de espetacular, ler o que

ele escreve sobre o Jesus Homem, pois não é um teólogo, mas um

psicólogo, que observou que a humanidade está dividida entre antes e depois de Cristo, sendo Este então a pessoa mais importante que

houve, e, mesmo assim, pouco se sabe ou se estuda nas escolas e

faculdades sobre Ele. Escreveu, entre tantos livros

interessantíssimos, cinco volumes sobre a Inteligência de Cristo. Hoje propaga seus dons pelo mundo e através dos seus escritos uma

multidão tem sido curada na sua alma. Ele é um estudioso da

inteligência do homem e fala dos métodos de Jesus Homem, ou seja,

dO Jesus Deus todos já sabem o que esperar, mas do Emmanuel, o

Deus conosco, dO que se tornou Homem e habitou entre nós, não conheço ninguém que fale d’Ele conta tanta paixão, sabedoria,

inteligência e que nos traga tanto material de cura e libertação

através do Mestre da Vida, Inesquecível, da Sensibilidade, do amor,

da Vida, e que a ciência tem se omitido em estudar, em pesquisar.

Dificilmente os leitores irão encontrar os seus livros em qualquer

livraria evangélica, que praticamente desconhecem o seu trabalho,

mas sim nas livrarias seculares ou em qualquer banca de jornal. Dificilmente também iremos ver este autor em entrevistas ou na

mídia, pois isso fere os seus princípios, ou o tira dos seus objetivos.

Ou seja, ele não apóia publicidade, assim como seu Mestre nunca

apoiou. É interessante saber que ele já recebeu dos seus amigos,

como presente, livros seus, pois não o conheciam como escritor, e tão consagrado pelo mundo. É uma pessoa realmente especial.

(...) Eu analisei a inteligência de Cristo criticando, duvidando e

investigando as quatro biografias de Jesus, os evangelhos, em várias versões. Estudei as intenções conscientes e inconscientes dos autores

das suas quatro biografias. (...) O primeiro resultado é que descobri

que o homem que dividiu a história não poderia ser fruto de uma ficção humana. Ele não cabe no imaginário humano. Ele andou e

respirou nesta terra. (...)269

268 O Mestre Inesquecível; Ed Sextante; SP; 2003; ps. 152 a 163. 269 O Mestre Inesquecível. 31ª ed. São Paulo: Academia da Inteligência, 2003, págs. 249 e

250.

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110

Colocamos aqui algumas frases pinçadas do seu livro quando ele fala

da personalidade do Apóstolo Paulo. Não copiei ipsis litteris, ou nas

mesmas letras, mas, fiz um resumo de franses grifadas e pinçadas do

texto.

Fala o autor que Paulo foi o maior perseguidor dos cristãos, mas

também foi o que mais sofreu. Para defender a causa de Jesus, ele fez perante o Rei Ágripa o mais eloqüente descrição das

características doentias da sua própria personalidade, antes de Cristo.

Nunca houve alguém com tanta coragem para mostrar sua loucura

passada para revelar sua sanidade atual. Ele não se poupou. Falava que, embora em menor proporção, ele promovia uma limpeza

cultural, semelhante ao que o nazismo fez com os judeus.

Já houve um momento em que vivi este horror. Quando Deus me

mostrou o que estava dentro de mim, senti o gelo da morte eterna,

pois pensei que não poderia haver mais salvação para alguém que

estava mais preocupada com o “Estado” (no caso o Reino de Deus) do que com as pessoas, a exemplo de Stalin. Deus me chamou para

defender os perdidos como fez Moisés, e não Ele, o Indefensável. O

amor por Deus que era grande no meu coração foi desviado por uma

astuta cilada do diabo para o amor pela Lei, a exemplo dos Fariseus que eram no início, zelosos da lei, e depois transformaram-se em

carrascos religiosos para cobrar o cumprimento da lei e não para

amar os que não tinham forças. Foi muito difícil eu entender esta

complexidade, e me recuperar. Continuemos...

Violentou a consciência dessas pessoas produzindo transtornos

emocionais irreparáveis. Aprendeu com Jesus a não ter medo do seu

passado, aprendeu a arte da honestidade. O Novo Testamento descreve a vida desses homens que mudaram a face do mundo, cujos

feitos atravessaram gerações e influenciaram bilhões de pessoas,

mostrando seus grandes sucessos e seus mais eloqüentes erros e

fracassos. A desumanidade de Paulo supera a de Judas e a de Pedro e dos demais discípulos. Paulo foi o mais culto, o mais destruidor e o

que mais sofreu. Isto indica que a inteligência lógica, caracterizada

pelo acúmulo de informações não é suficiente para produzir as funções mais importantes da personalidade, como a capacidade de se

colocar no lugar dos outros, a tolerância, a afetividade, o

gerenciamento dos pensamento. Em muitas cartas ele deixa claro que nunca esqueceu as lágrimas dos cristãos que ele torturou. O amor

por Jesus apagou a sua culpa, mas não o seu passado. Fala o autor

que nunca é demais repetir que o passado não se deleta, mas se

reescreve. O homem tem que conviver com o seu passado mesmo que este tenha sido um deserto. O desafio é irrigar este deserto270,

tratar da sua acidez e aridez e transformá-lo num jardim, como Paulo

270

Israel que era um deserto, hoje tem um sistema de irrigação com alta tecnologia que o torna um excelente exportador de muitas flores e frutas, como a melancia sem caroço, por exemplo. Note-se que o maior importador de flores de Israel é a Alemanha (Deus zomba dos soberbos).

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111

fez. O que jamais se deve fazer é isolar-se e ruminar a culpa como

Judas fez. Paulo antes considerava Jesus o maior dos hereges o qual

deveria ser abolido.

Lendo tudo isso creio que o homem deveria frear e repensar bastante

tantas teorias vazias, sem consistência e desprovida de inteligência.

Paulo freou e depois de pensar muito e ler as Escrituras se viu diante

de um dramático problema: O que fazer com as pessoas que

torturara? Como reparar o erro cometido contra os

inofensivos cristãos que espancara publicamente? Como

aliviar sua consciência dos gritos das mães e pais separados dos seus

filhos? O mundo de Paulo foi virado de cabeça para baixo.

Como elogiar para a liderança judaica aquele que ele sempre odiara? Como explicar uma mudança tão grande? Paulo teria que enfrentar o

que parecia impossível. Como Paulo tratou das matizes doentias da

sua memória? Como reeditou sua insensibilidade e agressividade?

Como trabalhou sua incapacidade de ouvir e de reagir sem pensar? Como reciclou o seu caráter preconceituoso e autoritário? Paulo

enfrentou centenas de situações dramáticas que fizeram vir à tona as

mais ocultas fragilidades. Paulo fala em suas cartas que o homem lidera o mundo exterior, mas não é um grande líder de si mesmo.

Quem consegue gerenciar a ansiedade? Quem consegue controlar

todos os pensamentos negativos? Em águas tranqüilas nos

mostramos excelentes timoneiros, mas em águas turbulentas perdemos o leme. Quantas vezes fomos coerentes em determinadas

situações e insensatos em outras? Todos temos limites, mais cedo ou

mais tarde nos surpreendemos com a nossa fragilidade. O que é renovar a mente? É reeditar o filme do consciente e do inconsciente,

reescrever os arquivos da colcha de retalhos da nossa memória.

Quando li este texto tive a impressão de que o havia escrito, tal a

semelhança com o dilema que vai na minha alma neste momento.

Ele desejava dizimar os seguidores do Nazareno porque queria purificar a sua religião, ou seja, era sincero e fiel com a causa que

acreditava piamente.

Exatamente, e creio que estas são as seqüelas do joio que veio junto com o trigo que Deus plantou em mim quando me enviou a estudar

com os comunistas, sobre caráter e honestidade. Eram pessoas

extraordinárias, pois davam as suas vidas pela causa social; tinham

seus corpos marcados por maçaricos (medalhas conquistadas, segundo eles, na luta pelo salário Mínimo, etc.); unhas arrancadas a

sangue frio, paradas cardíacas nas prisões por onde passaram depois

de serem torturados para delatar seus companheiros. Muitos foram

mortos e engrossam a lista vergonhosa dos desaparecidos políticos da época negra da ditadura. Eram excelentes pais de família,

honestos na vida particular e na vida pública, simples, sem nenhuma

ostentação ou ambição, fora a causa comunista. Exemplos de serem

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humanos e escolhidos por Deus para me ensinar sobre esta matéria

que é imprescindível, para um seguidor de Cristo (note-se que Deus

não escolheu uma igreja para fazer em mim o alicerce de um

cristão). Porém, apesar de todo este trigo, o joio da incredulidade, a dureza vinda de Stalin veio junto, e só poderia ser retirado na

maturidade do trigo. Isto Deus tem feito. O joio vem sendo retirado

pouco a pouco, e neste momento ainda percebo estes vestígios

inconfundíveis de dureza que vem se opor frontalmente ao que Cristo Jesus tem me ensinado ao longo desses anos:

“Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração”.271

“Valente não é o que conquista uma cidade, mas o que contém

o seu espírito”.272

“Seja mansa como a pomba e astuta como a cobra”.273

Sentia-se fraco muitas vezes, mas tomou consciência a partir dos

ensinamentos de Jesus que o poder de Deus se aperfeiçoa na fraqueza. Desta forma tornou-se um sábio e dizia que a sabedoria do

mundo é loucura para Deus. Não a usava (Paulo era um dos homens

mais cultos da época). O poder de Deus se aperfeiçoa na fragilidade humana: esta era a bandeira com que Paulo enfrentava as tormentas

da vida. Deus não era então uma teoria distante, a milhares de anos

luz, mas o grande artesão da sua personalidade. Assim, o diamante bruto assumia formas de rara beleza. Por buscar a presença de Deus

em momentos quase insuportáveis, ele escrevia uma nova história.

Estamos longe talvez da sua agressividade, mas, mais longe ainda da

sua capacidade de amar. Paulo enfrentou perigo de todos os tipos, e em alguns momentos não tinha mais energia para continuar, era

melhor abandonar tudo, mas não desistia dos sonhos de Jesus. Paulo

fez a mais bela apologia do amor274.

Neste texto ele superou a sensibilidade dos poetas, a profundidade

dos filósofos e a serenidade dos pensadores. Fala o autor que

gostaria de escrever um livro só sobre os temas que Paulo descreveu, pois é um assunto inesgotável.

Deus me trouxe esta peça literária tão especial para enriquecer o tema que tento explicar a todos. Certamente não vou precisar

explicar muito mais o que vai dentro de mim, os conflitos, a

responsabilidade e também, acima de tudo, a obrigação de ter que

continuar, apesar dos pesares serem muito pesados. Que Deus me capacite a aceitar os desafios a seguir, a colocar nestas linhas o

testemunho do arrependimento, a importância de saber descer e

271 Mateus 11:29. 272

Prov 16:32. 273

Mateus 10:16. 274 1ª aos Coríntios 13.

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perseverar, a consciência dos erros para reeditar os arquivos, a

gerenciar as mazelas que nos vem a tona, a entender que o poder de

Deus se aperfeiçoa na fraqueza e acima de tudo que possa aprender

a amar como Paulo. Ele disse:

“Sede meus imitadores, como também eu o sou de Cristo”.275

Paulo, a mando de Deus, também ensina sobre a ira:

”26 Irai-vos, e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa

ira”.276

Eu me irei e pequei. Ensina também que uma autoridade não pode

fazer o que ensina para o outro não fazer, em Romanos 2:

“1 Portanto, és inescusável, ó homem, qualquer que sejas, quando julgas, porque te condenas a ti mesmo naquilo em que

julgas a outro; pois tu que julgas, praticas o mesmo...

... quantas vezes fazemos isso!

“2 E bem sabemos que o juízo de Deus é segundo a verdade,

contra os que tais coisas praticam. 3 E tu, ó homem, que julgas os que praticam tais coisas, cuidas que, fazendo-as tu,

escaparás ao juízo de Deus? “

... quantas vezes a autoridade de Deus se confunde, se ilude com a

sua condição e esquece que com Deus não há acepção de pessoas ...

“4 Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade, ignorando que a benignidade de

Deus te conduz ao arrependimento? “

...ou seja, ignorando que a misericórdia de Deus é absolutamente necessária a todos, começando pela autoridade delegada ...

“5 Mas, segundo a tua dureza e teu coração impenitente,

entesouras ira para ti no dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus”

... a pessoa que julga sem misericórdia também será julgada sem

ela. “6 que retribuirá a cada um segundo as suas obras; 7 a saber:

a vida eterna aos que, com perseverança em favor o bem,

procuram glória, e honra e incorrupção; 8 mas ira e indignação aos que são contenciosos, e desobedientes à iniqüidade; 9

275

I aos Cor 11:1. 276 Efésios 4:26.

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tribulação e angústia sobre a alma de todo homem que pratica

o mal, primeiramente do judeu, e também do grego “

... a todos: aos que crêem e aos que não crêem ...

“10 glória, porém, e honra e paz a todo aquele que pratica o

bem, primeiramente ao judeu, e também ao grego “

... todos que praticam o bem serão recompensados de alguma

maneira. Não estamos falando de salvação...

“11 pois para com Deus não há acepção de pessoas. 12 Porque

todos os que sem lei pecaram, sem lei também perecerão; e

todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados

... o julgamento do que conhece a verdade é diferente do que não

conhece.

“13 Pois não são justos diante de Deus os que só ouvem a lei; mas serão justificados os que praticam a lei 14 (porque,

quando os gentios, que não têm lei, fazem por natureza as

coisas da lei, eles, embora não tendo lei, para si mesmos são lei. 15 pois mostram a obra da lei escrita em seus corações,

testificando juntamente a sua consciência e os seus

pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os), 16 no dia em que Deus há de julgar os segredos dos homens, por

Cristo Jesus, segundo o meu evangelho. 17 Mas se tu és

chamado judeu, e repousas na lei, e te glorias em Deus;

18 e conheces a sua vontade e aprovas as coisas excelentes, sendo instruído na lei; 19 e confias que és

guia dos cegos, luz dos que estão em trevas, 20

instruidor dos néscios, mestre de crianças, que tens na

lei a forma da ciência e da verdade; 21 tu, pois, que

ensinas a outrem, não te ensinas a ti mesmo? Tu, que

pregas que não se deve furtar, furtas? 22 Tu, que dizes que

não se deve cometer adultério, adulteras? Tu, que abominas

os ídolos, roubas os templos? 23 Tu, que te glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da lei? 24 Assim pois,

por vossa causa, o nome de Deus é blasfemado entre os

gentios, como está escrito”.

... quantas pessoas estão afastadas de Deus pelo péssimo testemunho dos que foram circuncidados no espírito, dos que

creram... e que não honraram este privilégio, e hoje são piores do

que antes pela legalidade que deram a satanás...

“25 Porque a circuncisão é, na verdade, proveitosa, se

guardares a lei; mas se tu és transgressor da lei, a tua

circuncisão tem-se tornado em incircuncisão”.

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Não adiantará nada falar que é...mas esta pessoa terá que ser

mesmo...

“26 Se, pois, a incircuncisão guardar os preceitos da lei,

porventura a incircuncisão não será reputada como

circuncisão? 27 E a incircuncisão que por natureza o é, se cumpre a lei, julgará a ti, que com a letra e a circuncisão és

transgressor da lei. 28 Porque não é judeu o que o é

exteriormente, nem é circuncisão a que o é

exteriormente na carne. 29 Mas é judeu aquele que o é interiormente, e circuncisão é a do coração, no espírito, e

não na letra; cujo louvor não provém dos homens, mas

de Deus”.277

Exatamente!!! Porque na mesma medida que julgamos, assim

seremos julgados:

“1 Não julgueis, para que não sejais julgados. 2 Porque com o juízo com que julgais, sereis julgados; e com a medida

com que medis vos medirão a vós. 3 E por que vês o

argueiro no olho do teu irmão, e não reparas na trave que está

no teu olho? 4 Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? 5 Hipócrita!

tira primeiro a trave do teu olho; e então verás bem para tirar

o argueiro do olho do teu irmão”.278

Fala também para estar atento à tentação:

“1 Irmãos, se um homem chegar a ser surpreendido em algum

delito, vós que sois espirituais corrigi o tal com espírito de mansidão; e olha por ti mesmo, para que também tu não sejas

tentado”.279

Não vigiei e não olhei por mim mesmo e pelo nome do Senhor que

está sob meus ombros, e fui tentada. Quando alguém se afasta do

alvo, perdendo assim o “fio da meada”, volta para traz, perdendo

autoridade. Paulo alerta para ter cuidado com a velha natureza, pois quando a vida velha toma forma, surge o homem endurecido, que

não tem o Espírito Santo guiando libertando, salvando:

“14 Porque bem sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou

carnal, vendido sob o pecado. 15 Pois o que faço, não o

entendo; porque o que quero, isso não pratico; mas o que

aborreço, isso faço. 18 Porque eu sei que em mim, isto é, na

277

Romanos 2. 278

Matesus 7?1/5. 279 Gálatas 6:1.

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minha carne, não habita bem algum; com efeito o querer o

bem está em mim, mas o efetuá-lo não está. 19 Pois não faço

o bem que quero, mas o mal que não quero, esse pratico. 24

Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo

desta morte?

Só há um que pode livrar:

25 Graças a Deus, por Jesus Cristo nosso Senhor!(...)”. 280

Eis o homem depois de Cristo, depois do arrependimento e do conserto:

”1 Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão

em Cristo Jesus. 2 Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo

Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte”.281

Fala Paulo quem é o capacitado a seguir o Cristo de Deus:

“26 Ora, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os

sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos. nem

muitos os nobres que são chamados. 27 Pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para confundir os sábios;

e Deus escolheu as coisas fracas do mundo para

confundir as fortes; 28 e Deus escolheu as coisas ignóbeis

do mundo, e as desprezadas, e as que não são, para reduzir a

nada as que são; 29 para que nenhum mortal se glorie na

presença de Deus. 30 Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o

qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e

santificação, e redenção; 31 para que, como está escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor”.282

No Senhor, e não em si mesmo! E mais:

9 e ele me disse: A minha graça te basta, porque o meu poder

se aperfeiçoa na fraqueza. Por isso, de boa vontade antes me

gloriarei nas minhas fraquezas, a fim de que repouse sobre

mim o poder de Cristo”.283

E continua Paulo nos ensinando:

“4 Porque, ainda que foi crucificado por fraqueza, vive contudo pelo poder de Deus. Pois nós também somos fracos nele, mas

viveremos com ele pelo poder de Deus para convosco”.284

280 Romanos 7:14,15,19,24. 281 Romanos 8:1,2. 282

I aos Cor 1:26/31. 283

II aos Cor 12:9. 284 II aos Cor 13:4.

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Paulo fala também da receita para não se perder autoridade:

“31 Eu vos declaro, irmãos, pela glória que de vós tenho em

Cristo Jesus nosso Senhor, que morro todos os dias”.285 “27

Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à submissão, para

que, depois de pregar a outros, eu mesmo não venha a ficar reprovado”.286

Ensina que a autoridade é para construir e não para destruir:

“8 Pois, ainda que eu me glorie um tanto mais da nossa

autoridade, a qual o Senhor nos deu para edificação, e não

para vossa destruição, não me envergonharei”.287 “10

Portanto, escrevo estas coisas estando ausente, para que, quando estiver presente, não use de rigor, segundo a

autoridade que o Senhor me deu para edificação, e não para

destruição”.288

Fala o Apóstolo do seu Mestre:

“4 não olhe cada um somente para o que é seu, mas cada qual também para o que é dos outros. 5 Tende em vós aquele

sentimento que houve também em Cristo Jesus, 6 o qual,

subsistindo em forma de Deus, não considerou o ser igual a

Deus coisa a que se devia aferrar, 7 mas esvaziou-se a si

mesmo, tomando a forma de servo, tornando-se

semelhante aos homens; 8 e, achado na forma de homem,

humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a

morte, e morte de cruz. 9 Pelo que também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu o nome que é sobre todo nome; 10

para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão

nos céus, e na terra, e debaixo da terra, 11 e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus

Pai”.289

285 I aos Cor 15:31. 286 I aos Cor 9:27. 287

II aos Cor 10:8. 288

II aos Cor 13:10. 289 Filipenses 2:4/11.

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7.a Jesus se irava?

Isto é notório, embora muito pouco entendido ou crido. É importante

meditar nesta ira santa para encontrar o ponto de equilíbrio nesta

matéria, para que se possa ter uma idéia geral sobre o assunto e mais oportunidade de meditar sobre o tema:

“Então Jesus entrou no templo, expulsou todos os que ali

vendiam e compravam, e derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas; e disse-lhes: Está

escrito: A minha casa será chamada casa de oração; vós,

porém, a fazeis covil de salteadores, de ladrões”.290

E continua o Príncipe da Paz interpelando o maior problema do seu

ministério, a exemplo de hoje:

“Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque fechais

aos homens o reino dos céus; pois nem vós entrais, nem aos

que entrariam permitis entrar. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque percorreis o mar e a terra para fazer um

prosélito; e, depois de o terdes feito, o tornais duas vezes

mais filho do inferno do que vós. Ai de vós, escribas e

fariseus, hipócritas! porque sois semelhantes aos sepulcros

caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas por

dentro estão cheios de ossos e de toda imundícia. Assim

também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas

por dentro estais cheios de hipocrisia e de iniqüidade.

Serpentes, raça de víboras! como escapareis da

condenação do inferno? Portanto, eis que eu vos envio

profetas, sábios e escribas: e a uns deles matareis e

crucificareis; e a outros os perseguireis de cidade em cidade”291

Ele advertiu, preveniu:

“Não penseis que eu vim trazer paz à terra. Não vim trazer

paz, mas a espada. Pois eu trazer dissensão.”292

290

Mat 21:12,13. 291

Versículos: 13,15,27,28,33,34. 292 Mateus 10:34,35.

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A resposta de Jesus era repleta de amor por Pedro, o qual tinha

acabado de nomear líder da igreja, mas naquele momento Ele estava

amando Pedro de maneira diferente do que estamos acostumados a

entender:

“23 Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro: Para trás de

mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não

estás pensando nas coisas que são de Deus, mas sim nas que são dos homens”.293

Aproveitando então o incidente Ele aproveita para ensinar mais:

“24 Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quer

vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e

siga-me; 25 pois, quem quiser salvar a sua vida por amor

de mim perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á. 26 Pois que aproveita ao homem se

ganhar o mundo inteiro e perder a sua vida? ou que dará

o homem em troca da sua vida?”294

Ou seja, se alguém quer ser um soldado de Cristo vai ter que se comportar como tal e jamais vai pensar em facilidades ou em ficar

durante a vida só “tomando refresco debaixo da árvore, balançando

em uma rede”. Economizar-se e acumular tesouros só para esta vida

é uma atitude muito longe da realidade cristã:

“4 Nenhum soldado em serviço se embaraça com negócios

desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a

guerra”.295

Não é assim que esperavam os religiosos que fosse o Messias, mas

tinham em mente um homem que viesse em grande pompa, e que

jamais nascesse em uma estrebaria ou entrasse em Jerusalém montado em um pequeno jumento, bastante desengonçado, porém...

“28 Ao concluir Jesus este discurso, as multidões se

maravilhavam da sua doutrina; 29 porque as ensinava como tendo autoridade, e não como os escribas”296

... o Mestre falava com simplicidade e verdade e é isso que dá autoridade a um homem.

“Autoridade não é mandar, mas servir humildemente”.297

293 Mateus 16. 294

Mateus 16. 295

II a Timóteo 2:4. 296 Mateus 7:28,29.

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7.b Quem é fraco e quem é forte?

O que fala Salomão sobre autoridade e ira? Ele chegou a mesma

conclusão que Paulo, pois tinham a mesma fonte de aprendizado:

“32 Melhor é o longânimo do que o valente; e o que domina o

seu espírito do que o que toma uma cidade”.298

Qual o perfil dos heróis da fé? O Livro de Hebreus fala destes:

“34 apagaram a força do fogo, escaparam ao fio da espada, da fraqueza tiraram forças, tornaram-se poderosos na

guerra, puseram em fuga exércitos estrangeiros.299

Eles confirmam a tese. O forte terá que se tornar fraco para ser forte:

“9 Proclamai isto entre as nações: Preparai a guerra, suscitai

os valentes. Cheguem-se todos os homens de guerra, subam

eles todos. 10 Forjai espadas das relhas dos vossos arados, e

lanças das vossas podadeiras; diga o fraco: Eu sou forte”.300

297

Livro: Autoridade Espiritual/ W.Nee/ p.220. 298

Prov 16:32. 299

Hebreus 11:34. 300 Joel 2:9,10.

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7.c Irai-vos, mas não pequeis

Vamos continuar a meditar neste tema, com muita parcimônia e

responsabilidade, para que Deus nos indique o ponto de equilíbrio, já

que esta não é uma matéria fácil, mas dificílima. Como já falamos,

não existe fórmula para se saber a medida exata do equilíbrio, mas o Autor da Vida, o Espírito Santo de Deus dará ao que crê e que O

buscar, a receita para ser uma pessoa equilibrada, no exato momento

do fato e com a pessoa em questão. Observamos também que a

Bíblia, que é o Verbo, a Palavra de Deus, ou seja, a pessoa de JESUS, o próprio Deus, chama-se também VERDADE, e portanto jamais vai

colocar nada debaixo do tapete, mas sim tudo em cima do telhado301.

O nome de Deus também é Luz e não terá comunhão alguma com trevas, coisa escusa ou oculta, e esta é a razão d’Ele não esconder

nada de nenhum dos seus seguidores, mas de maneira absoluta Deus

nos mostra as fragilidades de cada um:

“17 Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós, e

orou com fervor para que não chovesse, e por três anos e seis

meses não choveu sobre a terra”.302

Deus está falando que a autoridade que Ele instituiu é falha como

qualquer uma, mas mesmo assim deve ser respeitada para que a

ordem e a decência303 seja mantida, sob pena deste incorrer em

pecado de rebeldia que é igual ao pecado de feitiçaria.304 Mais uma

vez vamos ler Romanos 13:

“2 Por isso quem resiste à autoridade resiste à ordenação de

Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação. 3 Porque os magistrados não são motivo de temor para os que

fazem o bem, mas para os que fazem o mal. Queres tu, pois,

301 Marcos 4:22. 302

Tiago 5:17. 303

I aos Cor 14:40. 304 I a Samuel 15:22,23.

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não temer a autoridade? Faze o bem, e terás louvor

dela”.305

A lei não constitui terror para a boa conduta, mas para a má.

“4 porquanto ela é ministro de Deus para teu bem. Mas, se

fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a espada; porque é ministro de Deus, e vingador em ira contra aquele que pratica

o mal. 5 Pelo que é necessário que lhe estejais sujeitos, não

somente por causa da ira, mas também por causa da

consciência. 6 Por esta razão também pagais tributo; porque

são ministros de Deus, para atenderem a isso mesmo. 7 Dai a

cada um o que lhe é devido: a quem tributo, tributo; a quem

imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra”.306

Deve-se respeito aos bons, é claro, mas também aos maus:

“18 Vós, servos, sujeitai-vos com todo o temor aos vossos

senhores, não somente aos bons e moderados, mas também

aos maus. 19 Porque isto é agradável, que alguém, por

causa da consciência para com Deus, suporte tristezas, padecendo injustamente. 20 Pois, que glória é essa, se,

quando cometeis pecado e sois por isso esbofeteados, sofreis

com paciência? Mas se, quando fazeis o bem e sois afligidos, o

sofreis com paciência, isso é agradável a Deus. 21 Porque para isso fostes chamados, porquanto também Cristo padeceu por

vós, deixando-vos exemplo, para que sigais as suas pisadas.22

Ele não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano; 23 sendo injuriado, não injuriava, e quando padecia não

ameaçava, mas entregava-se àquele que julga justamente”.307

305

Romanos 13. 306

Romanos 13: 2/7. 307 I a Pedro 2:18/23.

Page 123: DUREZA DA LEI NOS DEIXA SEM GRAÇA - VÓL II

123

7.d Fala W. Nee

“É absolutamente impossível rejeitar a autoridade delegada e

continuar sujeito diretamente a Deus; rejeitar o primeiro é o mesmo que rejeitar o segundo. Só um louco tem prazer em

falar diante da autoridade delegada. “O sintoma daqueles que

desprezam a autoridade é a resposta pronta, isto é, a anunciação das

palavras rebeldes”. 308

Portanto, não se pode abrir mão do temor, reverência, respeito, e,

sobretudo, do amor. Como vimos, Deus nos fala que Ele se agrada

que se sofra a injustiça antes de desonrar uma autoridade que Ele

mesmo estabeleceu. Deve-se entregar a causa na mão d’Ele para que venha a harmonia. Assim como nas leis humanas é crime fazer

justiça com as próprias mãos, mesmo estando certo, nas Leis

Perfeitas também é assim.

“É d’Ele a vingança, Ele retribuirá”.309

Portanto, autoridade é um assunto muitíssimo sério sempre. Mais um

pouco de W Nee:

“Quanto mais rápido alguém se prostra, mas depressa o Senhor o

vinga”.310

“A autoridade e a auto defesa são incompatíveis. Aquele contra o qual

você se defende, torna-se seu juiz. Ele se coloca em posição mais alta quando você responde às suas críticas. Aquele que fala de si

mesmo está sob julgamento; portanto não tem autoridade. Sempre

que uma pessoa tenta se justificar, perde a sua

autoridade”.311

Vamos colocar adiante, um capítulo focalizando só este tema, que

percebemos está intimamente ligado ao tema central desta

meditação.

308 Livro: Autoridade Espiritual; W.Nee; os. 73,88. 309

Romanos 12:19. 310

Autoridade Espiritual/ W.Nee, p.212. 311 Idem, p. 161.

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7.e Situações especiais

1. Elias se irou:

“23 Então subiu dali a Betel; e, subindo ele pelo caminho, uns

meninos saíram da cidade, e zombavam dele, dizendo: Sobe,

calvo; sobe, calvo! 24 E, virando-se ele para trás, os viu, e os amaldiçoou em nome do Senhor. Então duas ursas saíram do

bosque, e despedaçaram quarenta e dois daqueles meninos.

25 E dali foi para o monte Carmelo, de onde voltou para Samária”.312

2. Neemias também:

“25 Contendi com eles, e os amaldiçoei; espanquei alguns

deles e, arrancando-lhes os cabelos, os fiz jurar por Deus, e

lhes disse: Não darei vossas filhas a seus filhos, e não

tomareis suas filhas para vossos filhos, nem para vós mesmos. 26 Não pecou nisso Salomão, rei de Israel? Entre muitas

nações não havia rei semelhante a ele, e ele era amado de seu

Deus, e Deus o constituiu rei sobre todo o Israel. Contudo mesmo a ele as mulheres estrangeiras o fizeram pecar. 27 E

dar-vos-íamos nós ouvidos, para fazermos todo este grande

mal, esta infidelidade contra o nosso Deus, casando com

mulheres estrangeiras”.313

3. Aqui o Apóstolo Pedro:

“18 Quando Simão viu que pela imposição das mãos dos apóstolos se dava o Espírito Santo, ofereceu-lhes dinheiro, 19

dizendo: Dai-me também a mim esse poder, para que aquele

sobre quem eu impuser as mãos, receba o Espírito Santo. 20

Mas disse-lhe Pedro: Vá tua prata contigo à perdição, pois

cuidaste adquirir com dinheiro o dom de Deus. 21 Tu não tens

parte nem sorte neste ministério, porque o teu coração não é

reto diante de Deus. 22 Arrepende-te, pois, dessa tua maldade, e roga ao Senhor para que porventura te seja

perdoado o pensamento do teu coração; 23 pois vejo que

estás em fel de amargura, e em laços de iniqüidade. 24 Respondendo, porém, Simão, disse: Rogai vós por mim ao

Senhor, para que nada do que haveis dito venha sobre mim”.314

4. E o Apóstolo Paulo, cheio do Espírito Santo:

“6 Havendo atravessado a ilha toda até Pafos, acharam um

certo mago, falso profeta, judeu, chamado Bar-Jesus, 7 que estava com o procônsul Sérgio Paulo, homem sensato. Este

312

II a Reis 2:23/25. 313

Neemias 13:25/27. 314 Atos 8:18:24.

Page 125: DUREZA DA LEI NOS DEIXA SEM GRAÇA - VÓL II

125

chamou a Barnabé e Saulo e mostrou desejo de ouvir a

palavra de Deus. 8 Mas resistia-lhes Elimas, o encantador

(porque assim se interpreta o seu nome), procurando desviar a fé do procônsul. 9 Todavia Saulo, também chamado Paulo,

cheio do Espírito Santo, fitando os olhos nele, 10 disse: ó

filho do diabo, cheio de todo o engano e de toda a malícia, inimigo de toda a justiça, não cessarás de perverter os

caminhos retos do Senhor? 11 Agora eis a mão do Senhor

sobre ti, e ficarás cego, sem ver o sol por algum tempo.

Imediatamente caiu sobre ele uma névoa e trevas e, andando à roda, procurava quem o guiasse pela mão. 12 Então o

procônsul, vendo o que havia acontecido, creu, maravilhando-

se da doutrina do Senhor”. 315

5. Paulo, em outra situação:

“1 Geralmente se ouve que há entre vós imoralidade, imoralidade que nem mesmo entre os gentios se vê, a ponto

de haver quem vive com a mulher de seu pai. 2 E vós estais

inchados? e nem ao menos pranteastes para que fosse tirado

do vosso meio quem praticou esse mal? 3 Eu, na verdade, ainda que ausente no corpo, mas presente no espírito, já

julguei, como se estivesse presente, aquele que cometeu este

ultraje. 4 Em nome de nosso Senhor Jesus, congregados vós e o meu espírito, pelo poder de nosso Senhor Jesus, 5 seja

entregue a Satanás para destruição da carne, para que o

espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus. 6 Não é boa a vossa jactância. Não sabeis que um pouco de fermento leveda a

massa toda? 7 Expurgai o fermento velho, para que sejais

massa nova, assim como sois sem fermento. Porque Cristo,

nossa páscoa, já foi sacrificado”.316

Há um júbilo no coração ao perceber que a atitude de Paulo deu certo

pois o tal foi salvo realmente:

“Ora, se alguém tem causado tristeza, não me tem contristado

a mim, mas em parte (para não ser por demais severo) a

todos vós. Basta a esse tal esta repreensão feita pela maioria. De maneira que, pelo contrário, deveis antes perdoar-lhe e

consolá-lo, para que ele não seja devorado por excessiva

tristeza. Pelo que vos rogo que confirmeis para com ele o

vosso amor”.317

Não podemos, é claro, sair por aí entregando ninguém a satanás sem

sofrer o dano depois. O equilíbrio aqui é ainda mais estreito e

especial. Observamos, por exemplo, que quando Deus entrega a

315

Atos 13:6/12. 316

I aos Cor 5:1/7. 317 II aos Cor 2:5/8.

Page 126: DUREZA DA LEI NOS DEIXA SEM GRAÇA - VÓL II

126

pessoa às suas paixões infames318, ou um pai deixa que o filho

“quebre a cara” talvez estejam fazendo isso com propriedade.

Cremos que no caso a intenção de Paulo foi afastar o tal da

comunhão com o corpo de Cristo para que ele sentisse na pele a diferença entre um reino e outro e poder então tomar uma atitude de

escolha: ou quente ou frio, morno, jamais.319

Só nestes exemplos teremos material suficiente para nos intrigar, meditar, pensar...

“Tendo o Senhor passado perante Moisés, proclamou: Jeová,

Jeová, Deus misericordioso e compassivo, tardio em irar-se e grande em beneficência e verdade;”.320

A ira de Deus, embora seja avassaladora é bem tardia. Talvez por

isso as pessoas abusam tanto. Deus então, se ira?

“Ergue-te, Senhor, na tua ira;”.321

“Deus é um juiz justo, um Deus que sente indignação todos os dias”.322

Convenhamos que Deus tem motivo de sobra para se indignar:

“E Jesus, respondendo, disse: ó geração incrédula e perversa!

até quando estarei convosco? até quando vos sofrerei?...”.323

“Ó néscios, e tardios de coração para crer em tudo os que os profetas disseram!”.324 Fala Deus através de Salomão: “Até

quando, ó estúpidos, amareis a estupidez?325 Eis a sabedoria:

“Eu ouvi, Senhor, a tua fama, e temi; aviva, ó Senhor, a tua

obra no meio dos anos; faze que ela seja conhecida no meio

dos anos; na ira lembra-te da misericórdia”.326

Como se pode ver, a ira, a indignação de Deus é algo terrível. De

muitas maneiras, diversas vezes e em vários textos, pode-se meditar nas Escrituras Sagradas sobre o tema. Não de pode esquecer que:

“Deus é amor e fogo consumidor”.327

318

Romanos 1. 319

Apoc 3. 320

Êxodo 34:6. 321 Salmo 7:6. 322 Salmo 7:11. 323 Mateus 17:17. 324 Lucas 24:25. 325

Prov 1:22. 326

Habacuque 3:2. 327 Hebreus 12:29.

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7.f Até onde obedecer?

Eis aqui uma situação em que uma esposa foi fiel à autoridade do

marido, porém colocando-o acima de Deus. Os dois foram condenados. Safira passou do ponto de equilíbrio:

“1 Mas um certo homem chamado Ananias, com Safira, sua

mulher, vendeu uma propriedade, 2 e reteve parte do preço, sabendo-o também sua mulher; e levando a outra parte, a

depositou aos pés dos apóstolos. 3 Disse então Pedro:

Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo e retivesses parte do preço do

terreno?4 Enquanto o possuías, não era teu? e vendido, não

estava o preço em teu poder? Como, pois, formaste este

desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a

Deus. 5 E Ananias, ouvindo estas palavras, caiu e expirou. E

grande temor veio sobre todos os que souberam disto. 6

Levantando-se os moços, cobriram-no e, transportando-o para fora, o sepultaram. 7 Depois de um intervalo de cerca de três

horas, entrou também sua mulher, não sabendo o que

havia acontecido. 8 E perguntou-lhe Pedro: Dize-me:

Vendestes por tanto aquele terreno? E ela respondeu: Sim, por

tanto. 9 Então Pedro lhe disse: Por que é que combinastes

entre vós provar o Espírito do Senhor? Eis aí à porta os pés

dos que sepultaram o teu marido, e te levarão também a ti. 10

Imediatamente ela caiu aos pés dele e expirou. E entrando os moços, acharam-na morta e, levando-a para fora, sepultaram-

na ao lado do marido. 11 Sobreveio grande temor a toda a

igreja e a todos os que ouviram estas coisas”.328

Quem é a autoridade máxima?

“Amar a Deus sobre todas as coisas...”.329

Fala Jesus a Pilatos:

“10 Disse-lhe, então, Pilatos: Não me respondes? não sabes que tenho autoridade para te soltar, e autoridade para te

crucificar”. 11 Respondeu-lhe Jesus: Nenhuma autoridade

terias sobre mim, se de cima não te fora dado; por isso

aquele que me entregou a ti, maior pecado tem”.330

Pedro ensina que sujeitar-se às autoridades é primordial:

328

Atos 5:1/11. 329

Mateus 22:37/40. 330 João 19:10.11.

Page 128: DUREZA DA LEI NOS DEIXA SEM GRAÇA - VÓL II

128

“13 Sujeitai-vos a toda autoridade humana por amor do

Senhor, quer ao rei, como soberano”.331

E mais:

“10 especialmente aqueles que, seguindo a carne, andam em

imundas concupiscências, e desprezam toda autoridade.

Atrevidos, arrogantes, não receiam blasfemar das dignidade”.

332

Êxodo também registra esta matéria:

“20 Eis que eu envio um anjo (uma autoridade de Deus)

adiante de ti, para guardar-te pelo caminho, e conduzir-te ao

lugar que te tenho preparado. 21 Anda apercebido diante dele, e ouve a sua voz; não sejas rebelde contra ele, porque não

perdoará a tua rebeldia; pois nele está o meu nome”.333

7.g Quando se perde autoridade

Eli perde autoridade por causa dos filhos.334 Observemos o juízo

terrível para um pai que não tem autoridade. Evidentemente temos que evidenciar que nesta época ainda não havia o sacrifício de Cristo

e junto com isto o resgate de quem crer e se arrepender, a

intercessão valiosa do Salvador que faz sempre uma grande

diferença, em relação ampla defesa que vem d’Este que é o

Advogado Invicto. Até a Sua volta, Ele ainda não atua como o Juiz, mas como DEFENSOR, SALVADOR, QUE VEM DEFENDER O QUE ESTÁ

PERDIDO. Depois da Sua volta, descreve o Apocalipse que virá como

Juiz, e ai daquele que negligenciou a tão grande oportunidade de tê-

Lo como Advogado:

“47 E, se alguém ouvir as minhas palavras, e não as guardar,

eu não o julgo; pois eu vim, não para julgar o mundo, mas

para salvar o mundo. 48 Quem me rejeita, e não recebe as

minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho

pregado, essa o julgará no último dia”.335

Não vamos cair na tentação de achar que o Deus do Velho Testamente era sanguinário e o Deus do Novo é “bonzinho”, como

muitos por ignorância falam, pois escrito:

331 I a Pedro 2:13. 332 II a Pedro 2:10. 333

Êxodo 23:20/21; 334

Trecho do texto “O Ponto de Equilíbrio”. 335 João 12:46,47.

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“Eu, o Senhor, não mudo”.336 “E disse o Senhor a Samuel: Eis

que vou fazer uma coisa em Israel, a qual todo o que ouvir lhe

tinirão ambos os ouvidos. Naquele mesmo dia suscitarei contra Eli tudo quanto tenho falado contra a sua casa,

começarei e acabarei. Porque eu já lhe fiz saber que julgarei a

sua casa para sempre, pela iniqüidade que ele bem conhecia, porque, fazendo-se os seus filhos execráveis, não os

repreendeu. Portanto, jurei à casa de Eli que nunca jamais

será expiada a sua iniqüidade, nem com sacrifício, nem com

oferta de alimentos.337

Será que é coisa fácil e banal, uma pessoa ensinar os filhos que são a

“herança do Senhor”338, ou levar esta responsabilidade

negligentemente? Vemos no texto abaixo, que Eli foi juiz de Israel por 40 anos e percebemos que ele “falava”, mas não tomava uma

atitude, não tinha frutos de querer resolver:

“12 Ora, os filhos de Eli eram homens ímpios; não conheciam ao Senhor”.339

“17 Era, pois, muito grande o pecado destes mancebos

perante o Senhor, porquanto os homens vieram a

desprezar a oferta do Senhor”.340

“22 Eli era já muito velho; e ouvia tudo quanto seus filhos faziam a todo o Israel, e como se deitavam com as mulheres

que ministravam à porta da tenda da revelação. 23 E disse-

lhes: Por que fazeis tais coisas? pois ouço de todo este povo

os vossos malefícios. 24 Não, filhos meus, não é boa fama esta que ouço. Fazeis transgredir o povo do Senhor. 25 Se um

homem pecar contra outro, Deus o julgará; mas se um homem

pecar contra o Senhor, quem intercederá por ele? Todavia eles não ouviram a voz de seu pai, (...).”341

“28 E eu o escolhi dentre todas as tribos de Israel para ser o

meu sacerdote, para subir ao meu altar, para queimar o incenso, e para trazer o éfode perante mim; e dei à casa de

teu pai todas as ofertas queimadas dos filhos de Israel. 29 Por

que desprezais o meu sacrifício e a minha oferta, que

ordenei se fizessem na minha morada, e por que honras a teus filhos mais de que a mim, de modo a vos

engordardes do principal de todas as ofertas do meu

povo Israel? 30 Portanto, diz o Senhor Deus de Israel: Na

verdade eu tinha dito que a tua casa e a casa de teu pai

336 Malaquias 3:6. 337 I a Samuel 3:11/14. 338 Salmo 127:3. 339

I a Samuel 2:12. 340

I a Samuel 2:17. 341 I a Samuel 2:22/25.

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130

andariam diante de mim perpetuamente. Mas agora o Senhor

diz: Longe de mim tal coisa, porque honrarei aos que me

honram, mas os que me desprezam serão desprezados. 31 Eis que vêm dias em que cortarei o teu braço e o braço da casa de

teu pai, para que não haja mais ancião algum em tua casa. 32

E tu, na angústia, olharás com inveja toda a prosperidade que hei de trazer sobre Israel; e não haverá por todos os dias

ancião algum em tua casa”.342

“13 Porque já lhe fiz saber que hei de julgar a sua casa para sempre, por causa da iniqüidade de que ele bem sabia, pois os

seus filhos blasfemavam a Deus, se tornaram execráveis, e

ele não os repreendeu. 14 Portanto, jurei à casa de Eli que

nunca jamais será expiada a sua iniqüidade, nem com

sacrifícios, nem com ofertas”.343

Isto é muito grande e terrível. Falei sobre estas passagens vezes sem conta para muitas pessoas, escrevi sobre o tema várias vezes, mas

nunca percebi que Deus estava falando antes comigo, depois para o

que me escutava. Um pai age como o Pai dos Pais, ou seja, corrige o

filho que ama, e suporta este momento de correção, sem “arregar”, sem afrouxar, sem dar lugar a sentimentos humanos que não levam

ninguém a sair do lugar, a subir degraus, mas muito ao contrário.

Quantos líderes passam por este conflito: ensinam para os filhos de

outros, mas no “seu momento” fica cego e não percebe que está

fazendo, o que ensina que não é para fazer. Por causa deste crime, Eli perdeu tudo, ou seja, não estamos falando de coisas ”baratas”. Ai

de nós se não fora a intercessão de Jesus!!!

É interessante e intrigante notar, que Deus falou que Eli foi condenado junto com seus filhos, porque eles se tornaram execráveis

e ele não os repreendeu; no entanto, no capítulo anterior344,

observamos que ele falava sim, aos filhos, embora eles não o

escutassem. O que entendemos então, depois do nos espantar e nos encher de temor, é que, falar não significa quase nada se as palavras

não vierem acompanhadas de uma atitude. Eu sempre fui uma

pessoa de muitas atitudes, mas, Deus me mostrou que muitas vezes

incorri neste erro de Eli, e não percebi de maneira alguma, no

momento. Quantas vezes coloquei minhas filhas na frente de Deus, sem jamais perceber a tragédia? Quantas vezes as socorri e ajudei

quando deveria deixar que elas resolvessem sozinhas o embrolho que

tinham feito, perdendo totalmente o ponto de equilíbrio na justiça a

ser aplicada? Quantas vezes ensinei sobre esta matéria, e, mesmo com o coração muito sincero, não percebi que estava fazendo

exatamente o mesmo que dizia que não era para fazer.

342

I a Samuel 2:28/32. 343

I a Samuel 3:13/14. 344 Cap 2:23.

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131

Sem perceber, falava exatamente como Eli, dizendo a elas do

péssimo testemunho e do quanto estavam deixando “barato” diante

dos outros o evangelho que tanto aprenderam. Na verdade, na minha atitude permissiva, sem perceber, eu também estava transformando

a Casa de Deus que está em minha casa, em esconderijo de

malfeitores. Ah! Que coisa impressionante este fato, pois prego esta

matéria há muitos anos, e na verdade estava como o Rei Davi diante do profeta, quando exclamava com todos os seus pulmões o seu

repúdio por aquele homem que tinha cometido tal crime, sem se dar

conta de que era ele mesmo o criminoso. Cometeu um pecado

terrível, pelo qual pagou um preço alto, e no momento que foi argüido, não tendo ainda percebido que aquele homem execrável era

ele mesmo, deu ele mesmo a sua própria sentença:

“5 Então a ira de Davi se acendeu em grande maneira contra aquele homem; e disse a Natã: Vive o Senhor, que digno de

morte é o homem que fez isso. 6 Pela cordeira restituirá o

quádruplo, porque fez tal coisa, e não teve compaixão. 7 Então

disse Natã a Davi: Esse homem és tu (...)”.345

No momento de agir, como falei, eu não agia e nem pensava como

Jesus, o Mestre, quando sua mãe e seus irmãos, depois de saírem

para buscar as autoridades para prendê-lo dizendo que Ele estava louco, retornaram tempos depois e mandaram chamar o Mestre:

”46 Enquanto ele ainda falava às multidões, estavam do lado

de fora sua mãe e seus irmãos, procurando falar-lhe. 47 Disse-lhe alguém: Eis que estão ali fora tua mãe e teus irmãos, e

procuram falar contigo. 48 Ele, porém, respondeu ao que lhe

falava: Quem é minha mãe? e quem são meus irmãos? 49 E,

estendendo a mão para os seus discípulos disse: Eis aqui

minha mãe e meus irmãos. 50 Pois qualquer que fizer a

vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão,

irmã e mãe”.346

Há momentos então que os irmãos, os filhos, a mãe, o pai, ou seja, a

nossa família, não é mais a nossa família, pois não estão fazendo a

vontade de Deus. Não é isso o que o texto fala? Não nos enganemos,

pois de Deus não se zomba347:

“21 Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino

dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. 22 Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não

profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não

345

II a Samuel 12:5/7. 346

Mateus 12:46/50. 347 Salmo 2:4.

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expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitos

milagres”. ”11 Depois vieram também as outras virgens (as

pessoas que não levam as coisas de Deus a sério), e disseram:

Senhor, Senhor, abre-nos a porta”. “46 E por que me chamais:

Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu vos digo?”.348

Sim, há momentos em que em que dentro da família estão os piores inimigos:

“32 Portanto, todo aquele que me confessar diante dos

homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está

nos céus. 33 Mas qualquer que me negar diante dos homens,

também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus. 34

Não penseis que vim trazer paz à terra (Jesus é o Príncipe da

Paz); não vim trazer paz, mas espada. 35 Porque eu vim pôr em dissensão o homem contra seu pai, a filha contra sua mãe,

e a nora contra sua sogra; 36 e assim os inimigos do

homem serão os da sua própria casa. 37 Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem

ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de

mim. 38 E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim,

não é digno de mim. 39 Quem achar a sua vida perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim achá-la-á”.349

Isto não é perfeito? Pode não ser para o homem que não está

acostumado com a retidão de Deus, mas, com certeza, isto é perfeito

e justo. Deus tem me mostrado o quanto é difícil lidar com esta situação. Davi perdeu o reinado por obra desumana e maldita do seu

filho. Quantas vezes isto acontece com as pessoas de Deus, pessoas

honradas. Perdem a sua função por causa do péssimo testemunho

dos seus filhos. O próprio Samuel tinha filhos pervertidos e isto fez com que os homens pedissem um rei e desprezassem o juiz Samuel

(o último juiz). Deus avisou que seria isto uma lástima e explicou

como seria a opressão dessa liderança humana, mas mesmo assim, o

homem cometeu o pecado de trocar o Rei dos Reis por um rei da terra. Pagamos o preço até hoje, 350mas temos a boa notícia que no

final dos tempos o Senhor irá estabelecer os juízes como eram

dantes. Consultar um juiz elimina toda a burocracia, vem abolir

também todos os títulos que hoje se vê cada vez mais profusos, e também, como se sabe, um juiz não é partidário, e, portanto, muito

mais fácil de se lidar, e muito menos subornável. Fala também que

haverá um só Pastor e um só rebanho, ou seja, está na hora de

depor Saul (que representa os reis mercenários, a desobediência) e

348 Mateus 7:21,22. 349 Mateus 10:32/39. 350 Vide o texto: “Os Protestos de Hoje”.

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ungir Davi (entronizar novamente Jesus), como fala a música de

Fernandinho351:

Eu faço parte de um novo tempo/ Que está nascendo em minha nação/ Eu sou o fruto de uma semente/ Que foi plantada há muito

tempo atrás/ Por meus irmãos/ A geração de Samuel está se

levantando/ Em todo o lugar/ Geração que depõe Saul/ Geração que unge Davi/ Para um tempo de louvor/ A geração segundo o coração

de Deus, que está enchendo, invadindo a terra de profetas, profetas,

profetas... que cumprem os propósitos de Deus nesta terra.

Está na hora de tirar o Saul, não só do púlpito dos templos da

Babilônia, mas também este que mora dentro de nós E

também entronizar Jesus, a Raiz de Davi, nas nossas atitudes. Como dizia, o reinado de Israel, que representa o reinado de Deus na

terra tinha sofrido estupenda afronta, e o rei Davi, quando soube da

notícia que os seus guerreiros valorosos tinham resgatado a honra do

rei, pois Absalão, seu filho, estava fora do caminho, ele não se dava

conta de nada disso. Estava cego, como veremos nos textos a seguir. Assim ficam muitos pais, pois não é nem um pouco fácil discernir,

suportar esta situação, equilibradamente. As pessoas são

independentes na terra, pessoas únicas, e todas com o total livre

arbítrio para decidirem escolher o que quiserem para suas vidas, seja a morte ou a vida, o céu ou o inferno, Deus ou o diabo, quanto mais

se um dia vão decidir amar ou odiar, cuidar ou matar a paulada

enquanto dormem, os seus pais. Como já mencionamos, o único

artigo dos Dez Mandamentos que coloca a condição da pessoa morrer mais cedo se não o cumprir, é o de honrar pai e mãe. Porque isso?

Porque Deus é justo.

Se as pessoas são como são: independentes, e muitas vezes

terríveis, porque haveria então alguém, sabendo que no futuro poderia ser desrespeitada ou agredida, concordaria, consentiria, ou

“emprestaria” o seu corpo para gestar alguém, passaria a sua vida

cuidando deste alguém, limpando seu bumbum, ficando muitas vezes

sem dormir, pagando sua formação profissional? Para que tudo isso? Para nada? Muitos pais, depois de tanto, são internados em asilos,

depois de roubados, quando não são mortos. Porque alguém se

arriscaria a tanto? Porque ainda se ouve dizer que pai e mãe cria o

filho para o mundo e não para esperar nada dele? Deus não espera nada de nós? Quem já não ouviu falar da frase tão comum e tão

injusta: “Eu não pedi para nascer, vocês que se virem!”. Chegamos à

conclusão que o sentimento no coração de uma mãe e de um pai é

sobrenatural, ou seja, Deus coloca no coração de alguém este sentimento: o de gestar, cuidar, renunciar, para que outra pessoa

possa ter a vida. E é muito difícil, ou mesmo quase impossível

351 Ministério Avivamento.

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suportar não se ter a retribuição do respeito, do zelo, do cuidado, do

carinho, da consideração, do amor, e muitas vezes do suprimento

material, pois o coração dos pais não são programados neste sentido.

O normal e natural é esperar pela retribuição dos filhos. Ou não? Ou vamos esperar e achar natural que um dia percebamos que os filhos

são cobras que criamos para nos morder? Claro que não! Vamos

deixar de tratá-los e de dar-lhes toda a honra, por não ter ainda visto

qual vai ser o futuro? Enquanto estamos cuidando deles, amando-os, vamos ficar fazendo a barganha? Todos sabem que isso nem sequer

passa pelo coração de um pai ou uma mãe (não estamos falando aqui

dos pais “doentes”), mas todos sabem também que os pais esperam,

evidentemente, serem reconhecidos. Por tudo isso, Deus, com justiça tem um juízo muito duro para os que desonram seus pais.

Como dizia, Davi estava cego, pois era um pai, e neste momento

deixou o Reino de Deus em segundo plano, como eu já fiz sem

perceber, mesmo ensinando a tantos que colocar o carro na frente

dos bois, vai impedir que este ande. Vem o mensageiro dar a boa

notícia para Davi:

“27 Disse mais a sentinela: O correr do primeiro parece ser o

correr de Aimaaz, filho de Zadoque. Então disse o rei: Este é homem de bem, e virá com boas novas”.352

Quais seriam as boas novas que o rei estava esperando? Certamente

que o seu reinado havia sido recuperado, conforme a vontade de Deus!)

“28 Gritou, pois, Aimaaz, e disse ao rei: Paz! E inclinou-se ao

rei com o rosto em terra, e disse: Bendito seja o Senhor teu

Deus, que entregou os homens que levantaram a mão

contra o rei meu senhor”. 353

352

II Samuel 18. 353 II Samuel 18.

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135

E quem eram esses homens?

“29 Então perguntou o rei ... “354

(Ele perguntaria então sobre o Reino de Deus? Infelizmente não, mas

pelo filho, que era o mesmo impostor que o havia desonrado tanto, e

tramado por tanto tempo, com muita astúcia, roubar o seu reinado e

afrontar o Reino de Deus na terra!)

“... Vai bem o mancebo Absalão? Respondeu Aimaaz:

Quando Joabe me mandou a mim, o servo do rei, vi um grande

alvoroço; porem não sei o que era. 30 Disse-lhe o rei: Põe-te aqui ao lado. E ele se pôs ao lado, e esperou de pé. 31 Nisso

chegou o cuchita, e disse: Boas Novas para o rei meu

senhor. Pois que hoje o Senhor te vingou da mão de todos os que se levantaram contra ti”.

Quem tinha se levantado contra o rei? O seu filho, mas ele não queria

saber de nada disso...

“32 Então perguntou o rei ao cuchita”

Eis aqui a sua única preocupação no momento, ou seja, o Rei Davi, saiu fora das suas atribuições de Rei, e também da justiça, do juízo,

do equilíbrio...

“Vai bem o mancebo Absalão? Respondeu o cuchita: Sejam como aquele mancebo os inimigos do rei meu senhor, e

todos os que se levantam contra ti para te fazerem mal.

33 Pelo que o rei ficou muito comovido ...

... não porque o Reino de Deus tinha sido recuperado...

... e, subindo à sala que estava por cima da porta, pôs-se a

chorar; e andando, dizia assim: Meu filho Absalão, meu

filho, meu filho Absalão! quem me dera que eu morrera por ti, Absalão, meu filho, meu filho”.355

É isso! Que coisa impressionante é o amor de um pai e uma mãe!

Porém, o Mandamento reza, como é óbvio, que Deus e o Seu Reino, estejam em primeiro lugar, e não foi assim que o “homem segundo o

coração de Deus” agiu, não porque quisesse deliberadamente

afrontar a Deus, ou que desconhecesse os Seus atributos, mas

porque já estava fragilizado pelo pecado anterior e pelas conseqüências advindos deste, e então, a cegueira espiritual

prevaleceu. Não podemos deixar de frisar que esta é uma matéria 354

II Samuel 18. 355 II a Samuel 18.

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136

que não é para qualquer um aprender, mas só os adoradores poderão

se aprimorar aqui, e não sem sofrer, assim como foi com Jesus.356

No capítulo seguinte podemos ver Davi, ininterruptamente pranteando seu filho, e sem enxergar mais nada. O povo se

entristeceu muito vendo o seu rei chorar e gritar em alta voz a

decepção, a dor por ver o seu filho morto. O capitão da guarda então

vem ao rei:

“5 Então entrou Joabe na casa onde estava o rei, e disse: Hoje

envergonhaste todos os teus servos, que livraram neste dia a

tua vida, a vida de teus filhos e filhas, e a vida de tuas mulheres e concubinas, 6 amando aos que te odeiam, e

odiando aos que te amam. Porque hoje dás a entender que

nada valem para ti nem chefes nem servos; pois agora entendo que se Absalão vivesse, e todos nós hoje fôssemos

mortos, ficarias bem contente. 7 Levanta-te, pois, agora; sai e

fala ao coração de teus servos. Porque pelo Senhor te juro que, se não saíres, nem um só homem ficará contigo esta

noite; e isso te será pior do que todo o mal que tem vindo

sobre ti desde a tua mocidade até agora. 8 Pelo que o rei

se levantou, e se sentou à porta ...357

Como vemos aqui, muitas vezes o que está em posição de autoridade

precisará ser exortado por alguém; isto é uma situação

especialíssima.

... e avisaram a todo o povo, dizendo: Eis que o rei está

sentado à porta. Então todo o povo veio apresentar-se diante

do rei. Ora, Israel havia fugido, cada um para a sua tenda. 9 Entrementes todo o povo, em todas as tribos de Israel, andava

altercando entre si, dizendo: O rei nos tirou das mãos de

nossos inimigos, e nos livrou das mãos dos filisteus; e agora

fugiu da terra por causa de Absalão.”.358

Vemos que o alerta serviu para despertar Davi do sono maligno e o

chamar à realidade.

Temos que registrar também o outro lado da moeda:

“21 Vós, pais, não irriteis a vossos filhos, para que não fiquem

desanimados”.359

Muitas vezes feri minhas filhas com as seqüelas do comunismo dentro

de mim, e passei da medida, pois, ensinava a Lei de Deus, porém, 356 Hebreus 5:8. 357

II Samuel 19. 358

II a Samuel 19:5/9. 359 Colossenses 3:21.

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137

defendendo a Lei, a indefensável, e deixando “as perdidas” para

segundo plano. Teremos que tratar também deste assunto que é o

lado dos filhos que são também tantas vezes adulterados pelo

tratamento que receberam dos pais ou responsáveis. Esta foi outra situação que me deixou mais uma vez no chão. Como poderia eu me

levantar? Onde estaria agora toda a minha autoridade diante desta

imagem horrível que via no Espelho naquele momento? O Espelho é a

Palavra que vem nos mostrar a sujeira para que possamos nos lavar com esta Água Poderosa que é esta mesma Palavra. Acreditava

naquele momento também que não haveria mais solução para mim,

assim como foi com Eli. Gemia diante do meu Criador. Dizia a Ele que

eu era um violão totalmente danificado e que Ele teria que consertar. O que é um violão? É um instrumento como outro qualquer, nem

melhor e nem pior, mas um instrumento adequado para um

determinado momento e para determinadas pessoas. E agora? Ele é

quem prometeu e quem acreditou nisso e não eu. Eu falei realmente mais da conta, estava no chão e sem perspectivas, em um deserto,

não conseguia levantar os olhos, me sentia absolutamente ridícula,

uma fraude. No entanto, conjecturava eu, meu coração só queria

acertar, eu só queria agradar a este Pai que eu tanto amava e temia.

Neste momento não conseguia lembrar que Jesus é o Intercessor e

que Eli não teve esta mesma sorte. Esta é a grande diferença entre

aqueles que são defendidos pelo Mestre e aqueles que não têm esta

oportunidade de ter Jesus como Advogado de Defesa. Quando li este texto a seguir e tantos outros em que Augusto Cury360 analisa a

personalidade dos discípulos de Jesus, totalmente falhos, dando a

impressão que eram os mais inadequados do mundo, assim como eu,

vi uma luz no final do túnel. Eis aqui um retalho, um resumo, ora parafraseando, ora transcrevendo pequenas frases salteadas dentro

do texto de um capítulo, desta obra importantíssima, deste autor

importantíssimo para todos nós:

O verdadeiro discípulo não é o que erra menos, o mais

ético ou mais puro, mas aquele que ama. Jesus não

demonstrou qualquer preferência, mas amava as diferenças. O amor

nos faz iguais, apesar de todas as diferenças. A unanimidade é estúpida, pois a beleza reside em amar as diferenças, em não exigir

que os outros sejam iguais a nós para que possamos amá-los. Ele

amava tanto as pessoas que jamais as pressionava em segui-lo. Não impunha suas idéias, mas convidava a que pensassem nelas. O amor

respeita o livre arbítrio, a livre decisão. O amor torna um

homem livre, mesmo quando está encarcerado. As

sociedades precisam de pessoas que amem. Exigimos muito porque amamos pouco. Jesus não impediu que Pedro o negasse e que Judas

o traísse: os fracos controlam, os fortes libertam. Jesus se

apaixonou de tal forma pela humanidade que quis ser como nós,

360 Resumo: Volume 5 “O Mestre Inesquecível”; Ed Sextante;2006;RJ; ps.164 SS.

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138

igual a mim e a você. A grandeza da sua personalidade

expôs as falhas da personalidade dos seus seguidores;

estes, depois de o conhecerem, passavam então a sonhar os seus mais belos sonhos, e as suas vidas se tornavam um jardim de

sonhos, mesmo diante dos pesadelos. A guerra hoje acontece dentro

do homem, que é escravo dos seus próprios pensamentos. Jesus

tinha tempo para jantar na casa dos amigos, contemplava as flores, as caminhadas, e para espanto de todos, ele parava uma multidão

inteira para dar atenção a um cego, a um mendigo ou às crianças. Os

que viviam à sombra da sociedade sentiram-se como príncipes ao conhecê-lo. Jamais a vida teve tanto valor.

Comecei de novo... valeu a pena ter amanhecido... como é

maravilhoso descobrir que há uma chance:

“5 Porque a sua ira dura só um momento; no seu favor está a

vida. O choro pode durar uma noite; pela manhã, porém, vem o cântico de júbilo”.361

Quantas pessoas estão desesperançadas e por isso mesmo

transgridem cada vez mais, porque não descobriram ainda a Porta para a liberdade. Como é divino receber um copo de água fresca no

deserto:

“5 Os que semeiam em lágrimas, com cânticos de júbilo segarão. 6 Aquele que sai chorando, levando a semente para

semear, voltará com cânticos de júbilo, trazendo consigo os

seus molhos”.362

Moisés, como já citamos, também perdeu autoridade de maneira

terrível, embora afirme a Palavra que foi o homem mais manso sobre

a terra. Não suportou a tentação de um povo rebelde e

contradizente:

“7 E o Senhor disse a Moisés: Toma a vara, e ajunta a

congregação, tu e Arão, teu irmão, e falai à rocha perante os

seus olhos, que ela dê as suas águas. Assim lhes tirarás água da rocha, e darás a beber à congregação e aos seus animais. 9

Moisés, pois, tomou a vara de diante do senhor, como este lhe

ordenou. 10 Moisés e Arão reuniram a assembléia diante da

rocha, e Moisés disse-lhes: Ouvi agora, rebeldes!

Porventura tiraremos água desta rocha para vós? 11

Então Moisés levantou a mão, e feriu a rocha duas vezes

com a sua vara, e saiu água copiosamente, e a congregação bebeu, e os seus animais. 12 Pelo que o

Senhor disse a Moisés e a Arão: Porquanto não me

crestes a mim, para me santificardes diante dos filhos de

361

Salmo 30:5. 362 Salmo 127:5,6.

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139

Israel, por isso não introduzireis esta congregação na

terra que lhes dei”.363

Ele não representou a Deus como deveria, pois pensava com o ânimo de Jonas, contaminado pelas atitudes daquele povo. Eles eram mais

fracos na fé, e por isso mesmo Deus o colocou como intercessor

deles, para que no momento da Sua Ira Santa, ele pudesse estar

clamando por eles, para então Ele os poder livrar364, exatamente como aconteceu várias vezes antes. Moisés foi o mesmo que falou o

que seria impossível que alguém falasse, ou seja, ele deu a sua vida

eterna por estas pessoas duras de coração, rebeldes e de fronte

obstinada, dizendo para Deus que se Ele não os libertasse, e, antes, os condenasse, riscasse então o seu nome do Livro da Vida, junto

com o deles. Dizia para Deus que se eles não pudessem entrar, ele

também não entraria, antes ficaria com eles. Isto é o intercessor: ele

se coloca no lugar da pessoa, como se fosse a própria pessoa, quando esta pessoa não tem noção da sua precariedade. Fala Moisés,

o homem mais manso que houve sobre a terra, segundo Deus:

“32 Agora, pois, perdoa o seu pecado; ou se não, risca-me do teu livro, que tens escrito”.365

Moisés perdeu o ponto de equilíbrio quando bateu duas vezes na

rocha, e isto foi fatal para o seu final de ministério, pois ele não estava considerando os princípios de Deus como deveria. Perdeu a

autoridade então:

“28 Como a cidade derribada, que não tem muros, assim é o homem que não pode conter o seu espírito”.366 “23 a mansidão,

o domínio próprio; contra estas coisas não há lei”.367 “2 que a

ninguém infamem, nem sejam contenciosos, mas moderados,

mostrando toda a mansidão para com todos os homens”.368 “12 Revestí-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de

coração compassivo, de benignidade, humildade, mansidão,

longanimidade”.369 “1 Ora nós, que somos fortes, devemos suportar as fraquezas dos fracos, e não agradar a nós

mesmos”.370

Meu Deus, nos socorra e nos capacite a vivenciar a Tua justiça!

363

Números 20:7/12. 364 Isaías 59:16. 365 Êxodo 32:32. 366 Prov 25:28. 367 Gálatas 5:23. 368

Tito 3:2. 369

Colosensses 3:12. 370 Romanos 15:1.

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7.h O arrependimento

Maravilhosa oportunidade temos então através do sangue inocente

vertido no Calvário:

“... e rasgou-se ao meio o véu do santuário...”371

Ou seja, não precisaremos mais de intermediários para entrar com

ousadia no santuário de Deus. Após ser lavados com o sangue de

Jesus teremos acesso ao Pai, pois o véu do templo se rasgou de alto

a baixo. Todos têm acesso, basta crer e estar arrependido. De que?

De qualquer coisa e do tamanho que for. Foi consumado a salvação de toda a humanidade na cruz do Cristo Redentor, o que nos

substituiu e morreu no nosso lugar (Barrabás, o assaltante ficou

livre). Foi então rasgado o escrito da dívida e através dos seus

méritos incontestáveis e indizíveis, podemos nos tornar inculpáveis como Ele. Quando alguém está na presença d’Ele e das suas

promessas, ou seja, quando o reino de Deus está em primeiro lugar

na vida de uma pessoa, esta percebe então o empenho de Deus em

lhe ensinar a tomar posse daquilo que Ele deu, sob pena de perder o seu quinhão: por timidez, covardia, ignorância, hipocrisia. E aí este

não tem escolha: terá que tirar forças da sua fraqueza e declarar que

é forte372, que pode todas as coisas n’Ele que lhe fortalece373, ou

seja, esmagar o “gafanhoto”, o “escravo” que precisa ser liberto e que está dentro do homem que ainda não entendeu a liberdade em

Cristo, tudo isso, se quiser ser considerado filho. Não se entende

Deus com a mente, mas com o coração. Confia-se n’Ele e faz-se o

que Ele manda, entendendo ou não no momento, porque Ele é Deus,

é o Pai, Mãe, Amigo, Conselheiro, Médico, Advogado, Tudo, e a única pessoa em quem se pode confiar.

7.i Precisamos aprender a ousar

Aqui está um momento de revolta, momento em que a hipocrisia não

tem mais lugar; é o momento do tudo ou nada, em que as gentilezas

e a religião ficaram muito longe. Se Deus é Deus, então, terá que se

apresentar:

“11 Qual é a minha força, para que eu espere? Ou qual é o

meu fim, para que me porte com paciência? 12 É a minha força

a força da pedra? Ou é de bronze a minha carne”.374

“Tem compaixão de mim, Senhor, porque sou fraco..375.

371 Lucas 23:45. 372 Joel 3:10. 373

Filipenses 4:13. 374

Jó 6:11,12. 375 Salmo 6:2.

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“... sara-me, Senhor, porque os meus ossos estão

perturbados. Também a minha alma está muito perturbada;

mas tu, Senhor, até quando? Volta-te, Senhor, livra a minha

alma; salva-me por tua misericórdia. Pois na morte não há

lembrança de ti; no Seol quem te louvará? Estou cansado

do meu gemido; toda noite faço nadar em lágrimas a minha cama, inundo com elas o meu leito”.376

Davi chegou aqui, como ordena a Palavra em Isaías:

“Apresentai a vossa demanda, diz o Senhor; trazei as vossas

firmes razões, diz o Rei de Jacó”.377

... sem hipocrisias, mas da maneira como se apresenta um filho

diante do Pai: temeroso, mas confiante na justiça. E também como

ordena Hebreus:

“Tendo pois, irmãos, ousadia para entrarmos no santíssimo

lugar, pelo sangue de Jesus, pelo caminho que ele nos

inaugurou, caminho novo e vivo, através do véu, isto é, da sua

carne, e tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus, cheguemos-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de

fé; tendo o coração purificado da má consciência, e o corpo

lavado com água limpa, retenhamos inabalável a confissão da

nossa esperança, porque fiel é aquele que fez a promessa;”.378

Eis aqui Gideão, ousando, porque a gota transbordou. Observe-se

aqui como responde um homem valoroso, e como o anjo falou a

respeito da força de Gideão. Ele disse que era nesta força, ou seja, na força da sinceridade, da revolta, da confiança e não da hipocrisia,

que ele seria liberto e junto com ele o seu povo:

“12 Apareceu-lhe então o anjo do Senhor e lhe disse: O Senhor

é contigo, ó homem valoroso. 13 Gideão lhe respondeu: Ai,

senhor meu, se o Senhor é conosco, por que tudo nos

sobreveio? e onde estão todas as suas maravilhas que nossos pais nos contaram, dizendo: Não nos fez o Senhor subir do

Egito? Agora, porém, o Senhor nos desamparou, e nos

entregou na mão de Midiã. 14 Virou-se o Senhor para ele e lhe

disse: Vai nesta tua força, e livra a Israel da mão de Midiã; porventura não te envio eu”.379

376 Salmo 6:2/6. 377

Isaías 41:21. 378

Hebreus 10:19,23. 379 Juízes 6:12/14.

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7.j Precisamos aprender a amar

Paulo aos Filipenses:

“Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que

é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que

é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e

se há algum louvor, nisso pensai”.380

Paulo aos Coríntios:

“1 Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o

címbalo que retine. 2 E ainda que tivesse o dom de profecia,

e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que

tivesse toda fé, de maneira tal que transportasse os montes, e

não tivesse amor, nada seria. 3 E ainda que distribuísse todos

os meus bens para sustento dos pobres, e ainda que

entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse

amor, nada disso me aproveitaria. 4 O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria, não

se ensoberbece, 5 não se porta inconvenientemente, não

busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal; 6 não se regozija com a injustiça, mas se regozija com a

verdade; 7 tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. 8 O

amor jamais acaba381 ...”

Teremos então que aprender a repetir o que disse Sócrates: “Só sei

que nada sei”.

7.k Precisamos aprender a clamar e a esperar

“1 Esperei com paciência pelo Senhor, e ele se inclinou para mim e ouviu o meu clamor. 2 Também me tirou duma cova de

destruição, dum charco de lodo; pôs os meus pés sobre uma

rocha, firmou os meus passos. 3 Pôs na minha boca um cântico novo, um hino ao nosso Deus; muitos verão isso e

temerão, e confiarão no Senhor. 4 Bem-aventurado o homem

que faz do Senhor a sua confiança, e que não atenta para os soberbos nem para os apóstatas mentirosos. 5 Muitas são,

Senhor, Deus meu, as maravilhas que tens operado e os teus

pensamentos para conosco; ninguém há que se possa

comparar a ti; eu quisera anunciá-los, e manifestá-los, mas são mais do que se podem contar. 6 Sacrifício e oferta não

desejas; abriste-me os ouvidos; holocausto e oferta de

expiação pelo pecado não reclamaste. 7 Então disse eu: Eis aqui venho; no rolo do livro está escrito a meu respeito: 8

380

Filipenses 4:8. 381 I aos Cor 13:1/8.

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143

Deleito-me em fazer a tua vontade, ó Deus meu; sim, a tua lei

está dentro do meu coração. 9 Tenho proclamado boas-novas

de justiça na grande congregação; eis que não retive os meus lábios; 10 Não ocultei dentro do meu coração a tua justiça;

apregoei a tua fidelidade e a tua salvação; não escondi da

grande congregação a tua benignidade e a tua verdade. 11 Não detenhas para comigo, Senhor a tua compaixão; a tua

benignidade e a tua fidelidade sempre me guardem. 12 Pois

males sem número me têm rodeado; as minhas iniqüidades

me têm alcançado, de modo que não posso ver; são mais numerosas do que os cabelos da minha cabeça, pelo que

desfalece o meu coração. 13 Digna-te, Senhor, livra-me;

Senhor, apressa-te em meu auxílio. 14 Sejam à uma envergonhados e confundidos os que buscam a minha vida

para destruí-la; tornem atrás e confundam-se os que me

desejam o mal. 15 Desolados sejam em razão da sua afronta os que me dizem: Ah! Ah! 16 Regozijem-se e alegrem-se em ti

todos os que te buscam. Digam continuamente os que amam a

tua salvação: Engrandecido seja o Senhor. 17 Eu, na verdade,

sou pobre e necessitado, mas o Senhor cuida de mim. Tu és o meu auxílio e o meu libertador; não te detenhas, ó Deus

meu”.382

7.l Precisamos aprender a obedecer

... a exemplo do Mestre dos Mestres:

“7 O qual nos dias da sua carne, tendo oferecido, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas ao que podia livrar da

morte, e tendo sido ouvido por causa da sua reverência, 8

ainda que era Filho, aprendeu a obediência por meio daquilo

que sofreu; 9 e, tendo sido aperfeiçoado, veio a ser autor de eterna salvação para todos os que lhe obedecem”.383

382

Salmo 40. 383 Hebreus 5:7/9.

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144

7.m Por que as pessoas parecem gostar de apanhar...384

Como já citamos, as nossas afirmações sobre a apostasia da igreja

são fortes, mas bíblicas. É um recado que vou colocar em um microfone maior no tempo certo, segundo o preparo de Deus. O texto

específico (Os protestos de hoje) trata mais apinhadamente do

assunto, mas vamos colocar aqui as palavras de Caio Fábio, um

homem de Deus, inteligente, que ainda está publicamente com algumas contas a acertar, mas que, sem sombra de dúvidas nos trás

um material excelente, como este que colocamos a seguir, que casa

com as nossas afirmações, faltando apenas a declaração de

extermínio do status quo, sem deixar pedra sobre pedra, para surgir uma nova visão da igreja de Cristo, conforme fundamentamos nos

nossos escritos.385

Como vale a pena a fé. Observe o leitor como o autor fala sobre as mesmas coisas sem que nunca tivéssemos nos encontrado. Desta

mesma forma a Bíblia foi escrita: ditada por Deus, e, digitada pelos

seus secretários na terra. Fonseca,

... querido amigo e amado irmão, a quem eu desejo muita paz, graça

e todo o bem. Muito obrigado pelo seu carinho e amor, e saiba que a recíproca é verdadeira! Aperta-me o coração de ver a crueldade que

se faz às pessoas, em nome de Jesus! Tal sentimento desemboca em

indignação, como uma força motriz, assim como Jesus arrasou com a feira dentro do templo. Até Jesus ficava com raiva desse povo!

Por que isso, Fonseca? Por que muitos fazem essas crueldades,

destroem vidas, enchem de sentimento de culpa, aprisionam,

amedrontam, fazem o outro se sentir um lixo, tudo em nome de Deus, como se Ele quisesse isso. E o pior: por que os que sofrem tais

coisas se deixam levar por elas, aceitam, aplaudem, defendem, para,

depois, serem “mortos” pelas mesmas. Ah, meu Deus! Dê visão aos que estão cegos e só apalpam onde a víbora pode morder e o urso

despedaçar! Abraços,

Alysson _______________________________________________________

Resposta do Fonseca:

Meu querido amigo Alysson.

Eu poderia tentar responder essa pergunta, que é a mesma pergunta

que eu faço para mim mesmo, sempre. Porém eu acho que o Caio Fábio saberia responder com mais propriedade do que eu, já que a

384

To: [email protected]/ Subject: Sobre a submissão das pessoas à tirania.../

Date: Fri, 28 Apr 2006 13:04:25/Caio Fábio/ Brasília.

385 Mateus 24:2.

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145

quilometragem dele é maior do que a minha; e que nele eu descobri

alguém que ama ao próximo mais ainda do que eu julgava eu mesmo

amar; e que eu descobri nele alguém que ama mais a Jesus Cristo do que eu julgava eu mesmo amar. Darei, pois, a ele, ao Caio, a bênção

para nós dois de responder essa sua pergunta tão pertinente, que é a

mesma pergunta do meu coração. Seu amigo e amado irmão em Cristo.

Fonseca.

_______________________________________________________

Amadíssimos Alysson e Fonseca: irmãos, amigos e confiantes companheiros de jornada: toda Graça e toda Paz!

Poderíamos fazer uma longa, longa viagem, a fim de responder essa

questão; indo da psicologia à história dos povos; indo da construção pagã que se instalou na alma humana, pela queda e pelo pecado, até

aos surtos de magalomania que acomente aos tão inseguros, que

seguram tudo e todos; aos que de tão inseguros, se entregam a tudo e a todo aquele que os poupar de assumirem responsabilidades

próprias. Entretanto, como o tempo não dá, e nem é esta a ocasião –

sendo algo melhor para um papo com a moçada do “Caminho

Jovem”, como um todo; ou ainda, quem sabe, algo que fosse uma conversa de nós três, aqui em casa, comendo uma carninha -, me

limitarei a trazer as seguintes ilustrações retiradas da História Bíblica:

a escolha de um rei (Saul) e a construção de um Templo Fixo. Ambas as coisas ilustram bem esse espírito, já que a questão não é

universal, mas se volta para o que se faz em nome do Deus de Jesus;

ou em nome de Jesus mesmo.

1. A Escolha de Saul: Vocês lembram que Israel era um pouco

nômade e que deveria ser “hebreu” (caminhante), a fim de ser uma

luz para os povos. A dádiva da terra sobre a qual Abraão peregrinou nunca teria sido um problema se o coração deles não tivesse se

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146

fixado naquela geografia como “santa”, o que neles gerou muito mais

arrogância do que louvor a Deus. No entanto, numa terra santa, a

para um povo santo, Deus não propunha um rei, mas apenas juízes generacionais. Ou seja: cada um servindo a sua própria geração.

Samuel foi o último daquela estação da jornada histórica deles.

Entretanto, mesmo tendo a Samuel que falava e julgava da parte de Deus com justiça, eles, olhando os outros povos, desejaram ter

também um rei. A resposta de Deus através de Samuel foi que, tendo

um rei, eles se tornariam escravos do próprio rei, sendo obrigados a

pagar impostos a ele; e, além disso, concedendo-lhe o melhor de tudo, incluindo as suas mulheres e virgens mais formosas. Também,

com tal escolha, eles fixaram uma dinastia real em Israel. Assim, a

palavra de Deus pelo profeta era que aquilo não era o ideal de Deus para eles. Como porém insistiram, Deus disse a Samuel: “Não é a ti

que eles estão rejeitando, mas a mim”; para que Deus não reinasse

sobre eles. Eles, todavia, optaram pela fixidez e não pela liberdade de serem conduzidos geração após geração por quem Deus mesmo

levantasse.

2. O Templo de Salomão e o de Herodes, o Grande: A segunda manifestação de troca do espírito hebreu (andarilho e leve) pela

fixidez de um projeto, aconteceu quando, além do rei, eles também

desejaram um Templo fixo. Aliás, foi Davi quem veio com tal proposta, sendo, todavia, “vetado” por Deus; ficando o projeto para

ser executado por Salomão, como uma espécie de “concessão”. Ora,

a própria história de Davi como rei é a história de uma tragédia humana. Tudo o que de ruim poderia ter acontecido a Davi não

aconteceu enquanto ele era um foragido do rei, mas sim quando ele

se fixou em Jerusalém como rei, chamando também o lugar de cidade

de Davi. Foi nesse período que tudo de mal lhe aconteceu. E o processo de sua sucessão foi marcado por mortes fratricidas e

muita disputa de poder. Sim, trata-se de algo feio. Entretanto,

a construção do Templo estabeleceu um centro fixo de poder para um povo que antes adorava a Deus numa tenda móvel e

sem nenhum papel estatal ou real. O Templo, todavia, virou

um Palácio Religioso, um lugar de Poder Político, e também de

arrecadação oficial de tudo o que dizia respeito a Deus. Era também a tal “casa de tesouro”, uma espécie de Receita

Federal. Alguns séculos depois Deus mesmo trouxe

Nabucodonozor a fim de destruir o lugar, não deixando dele praticamente nada em pé. Depois do exílio eles construíram outro

templo, mas já havia uma outra instituição exercendo também poder

de natureza política e religiosa: a sinagoga, nascida no exílio em Babilônia. Após o exílio, por mais de três séculos aquele povo esteve

sob o domínio de outras nações (Persas e Medos; Gregos; e depois os

Romanos). Então apareceu Herodes, o Grande, cerca de 60 anos

antes de Cristo, e construiu o Templo que existia nos dias de Jesus, o qual era uma das maravilhas do mundo antigo. Jesus, entretanto,

não apenas se insurgiu contra a fixidez perversa do lugar e de seus

líderes, mas também anunciou que o “lugar” que se deveria adorar não-era-um-lugar, mas uma dimensão no interior; pois os que o Pai

procura são adoradores que carregam o templo no coração. Além

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147

disso, Jesus olhou para o Templo e disse que ali não ficaria pedra

sobre pedra que não fosse derrubada. O que veio a acontecer no ano

70 de nossa Era.

Assim, olhando apenas para esses dois acontecimentos de fixidez

religiosa, vemos que Deus se insurgiu contra tais iniciativas o tempo todo; sendo que por fim Ele anunciou que Seu Rei seria da

descendência de Davi, mas que seria Esperança dos gentios; ou seja:

para todos os povos; o que, em si, já implicava na não-fixação do

messiado de Jesus em qualquer que fosse a “geografia”. Já os Templos, a ambos Deus mesmo derrubou; e tudo com fortes

profecias, tanto as antigas, dos profetas (que viviam em permanente

estado de luta contra a fixidez real, bem como contra a fixação de “Deus” no templo), como também de vaticínios feitos por Jesus;

todos predições feitas com enorme veemência. Paulo, escrevendo aos

Gálatas, no capítulo 4, diz que a Jerusalém terrestre somente gerava para a escravidão; e, alegoricamente, diz que o espírito da fixidez

religiosa que ali se instalara era filho da alma da Escrava Hagar. Daí,

espiritualmente, gerar para a escravidão e para a amargura. Os

profetas especialmente Isaías, Jeremias e Ezequiel todos anunciavam a chegada do dia no qual o povo de Deus já não o serviria em

geografias e nem tampouco mediante as exterioridades da religião,

mas sim em razão de que a palavra de Deus se existencializaria neles, sendo gravada nos seus corações.

Ora, em II Coríntios 3 Paulo faz a comparação entre os espíritos da fixidez escravizante, e a liberdade que em Cristo se pode e deve ter a

fim de que a Graça de Deus não seja vã em nossas vidas. Nada foi

mais ofensivo à Paulo do que ver o povo chamado para a liberdade se

colocar outra vez sobre jugo de fixação escravizante, sob o “aio” da Lei; a qual, em Cristo, já havia sido morta e sepultada; não tendo

ressuscitado com Jesus ao terceiro dia. Daí ele mesmo, Paulo, dizer

em Romanos 7, que em razão de “Tal Feito” (Está Consumado), agora todos nós ficamos viúvos da Lei a fim de podermos contrair

“novas núpcias” na aliança eterna da Graça; e isto conforme as

profecias antigas, todas encarnadas em Jesus. Ora, o que se tem, a

fim de que não se prolongue muito essa reposta, é que há uma necessidade intrínseca e de natureza pagã em toda alma que não

se ponha sob a Graça de Deus. Paulo garante que somente com

consciência da Graça não se retrocede à Lei, como também, somente mediante ela, a Graça, não se descamba para a liberdade que

escraviza: a libertinagem. Assim, estamos diante de uma Síndrome

de duas faces: aquela que possui os que, pela insegurança que se casa com a perversidade, querem mandar, dirigir, governar, e

representar “Deus” na terra; ao mesmo tempo em que se tem o

povo; sim, o povo! – o qual, na maioria das vezes, diz desejar e amar

a liberdade, embora, de fato, a tema muito mais do que a escravidão. No primeiro caso o surto é uma Síndrome de Lúcifer. Afinal, foi na

Assembléia Celestial que o querubim da guarda surtou de

narcisismo. Foi a luz que não foi vista como tal na Luz de Deus, aquilo que inebriou e cegou até o arcanjo.

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148

Assim, o lugar onde as maiores perversidades acontecem é

aquele onde se diz que Deus está. Sim, porque a fusão da idéia

de um Deus-de-lugar + a exaltação narcisística de Seus supostos “representantes”, produz o que de pior pode surgir na alma, que é

uma perversa síndrome de onipotência. E o pior é que ninguém que

se exponha a tal realidade jamais consegue escapar dela. Já aqueles que seguem e se submetem, seja pela ignorância ou seja pela

insegurança, preferem um “rei” tirano do que apenas serem

conduzidos pelo juízo de Deus em suas consciências e corações; por

mais que isto lhes seja a pior coisa desta vida. Isto porque o povo não quer liberdade mesmo. Não! Ninguém se engane! O povo

gosta de “rei”, de “senhores”, de “paipóstolos”, e de toda

sorte de figura de Page ou xamã que tire dele a responsabilidade de viver Deus em suas próprias consciências;

mas antes preferindo entregar a condução de suas existências

aos que se arvoram a representantes de Deus na terra. Daí, apesar da Palavra da Graça ser um chamado à liberdade em Cristo,

com o surgimento de uma consciência que cresça conforme o

Evangelho; e ainda com a liberdade de ver tudo como lícito, cabendo

agora ao homem usar a consciência a fim de ver o que convém ou não, e o que edifica ou não -, a maioria não quer isto; seja pelo vício

pagão da condução do pagé, do xamã ou da figura totêmica; ou seja

pela falta de vontade de andar com as próprias pernas; posto que liberdade é algo que não é fixo; mas que demanda sua

apropriação todos os dias; e sempre conforme a chamada

“renovação da mente”, de acordo com Paulo.

Desse modo, o Caminho Largo é justamente esse no qual vai tudo...

No contexto do Evangelho, segundo Jesus, os poucos que estavam

“acertando” o caminho estreito e que conduz a vida, não eram os da religiosidade fixa, dos quais os fariseus e outros daquela época,

serviam de perfeita e desgraça ilustração. Para Jesus o Caminho

Largo era feito de líderes religiosos que tiranizavam o povo; bem como era feito de todo aquele que não cria na “coisa única” que

importa, que é apenas seguir a Jesus no caminho da existência, à

semelhança de Abraão, que seguia sem saber para onde ia... Na

realidade o espírito pagão é prevalente dentro do cristianismo desde quase sempre. As lutas apostólicas do primeiro século todas se

concentravam na angustia em relação a essa atração pagã-existencial

que habita a todo coração que não encontrou a Deus como amor, e que não se deixou ser uma carta viva de mandamentos de amor,

inscritos no coração. Isto porque à semelhança de um rei-tótem e

também à semelhança de um lugar de adoração fixa e fetichizada, o coração humano em geral, e, sem escapatória a alma “cristã”

também -, troca qualquer risco de liberdade pelas cebolas do

Egito. A alma pagã prefere uma opressão conhecida do que a

liberdade aberta à vida e à surpresa do Novo em Deus”.

Desse modo, o que sempre se tem é um grupo de inseguros-surtados

sofrendo da fascinação da síndrome de Lúcifer; ou então, tem-se a multidão dos que trocam a própria-consciência-própria, pela tutela de

alguém que seja o responsável por conduzi-la a “Deus” por meio de

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mecânicas rituais, morais, legais ou mágicas. Além disso, tal espírito

é carregado de justiça-própria, visto que procede da oferta de Caim,

e não chama do sangue simples trazido por Abel, apenas com fé. Por esta razão, quanto mais se oferecer mecânicas, campanhas,

sacrifícios, e grandes rigores e controles exercidos em nome de Deus,

mais gente haverá de se deixar levar por algo que não chama as vísceras da consciência para a luz do dia, mas que carrega em si a

promessa trará resultados se os ritos e despachos forem realizados.

Assim, os que lideram se tornam sádicos; e os que são liberados se

tornam masoquistas! Sim, sado-masoquismo é o espírito prevalente na religião, seja ela qual for; mas será tão mais desse modo quanto

mais a lei e o moralismo foram o caminho de auto-justificação. Afinal,

desse modo, os que lideram, orgasmam em si mesmos pela realidade do poder de controlar as almas humanas; e os controladores se

sentem seguros mediante a transferência de responsabilidades que

fazem, jogando sobre a religião e seus senhores a responsabilidade pela condução de sua vidas. Portanto, como não poderia de ser,

volta-se aos mesmos paradigmas do início: o rei reinará e o povo

pagará a conta de sua insegurança chamando-a de segurança e

fixidez. E mais que isto: também quanto mais pompa de horário marcado para a visita de Deus, mais gente ali se achegará; pois,

sendo a alma pagã, o que ela mais ambiciona é ter um “Deus” que

venha em horas marcadas; o que é idolatria de natureza invisível; porém igualmente feita de gesso e pau psicológicos.

Assim, meus amigos, podemos dizer que quanto mais dura a coisa for, e quanto mais exploração houver, mais gente haverá interessada

em fazer a transferência de responsabilidade para os líderes ou para

a “igreja”. Foi uma situação deste gênero que fez Paulo, escrevendo

aos Gálatas, no capítulo 5, dizer que gostaria que os legista-sado-masoquistas (e que tinham a fixação no rito da circuncisão), no ato

compulsivo de cortar o prepúcio dos outros, numa fimose religiosa –

acabassem por castrar a si mesmos! Portanto, podemos dizer que tudo aquilo que, em nome de “Deus”, oferece muitas e muitas

dificuldades, produz sempre interesse muito maior do que a oferta da

salvação gratuita e simples. Sim, à semelhança do general Naamã,

quase todos desejam uma boa mandinga, um movimento de mãos, um passe, uma oferenda, uma performance feita de gestos mágicos;

mas não desejam a simplicidade de uma palavra simples que salva e

cura. Assim, infelizmente, há os loucos que se orgasmam na tirania; e há os milhares de fracos e tolos, os quais preferem uma existência

sob controle dos outros (em nome de “Deus”), do que a simplicidade

da Palavra da Graça. Afinal, quanto mais difícil, mais a alma pagã pensa que agradará ao “Deus das dificuldades”. Vou parar por aqui

por ter que sair para dar conta de alguns deveres de casa, como

pegar a filha no trabalho, e coisas do gênero... Espero ter sido de

alguma utilidade, ainda que reconheça, conforme disse no início, que a complexidade do fenômeno não poderia ser esgotada com

simplismo destas minhas palavras. Um beijão pra vocês dois; e para

todos os amigos “do Caminho”.

Nele, e em nada mais... Caio .

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8. A decisão da águia

Ou seja, a decisão não é para todos, mas ao que crê, ao que tem paciência, humildade, perseverança, firmeza de propósitos, não recua

em meio às adversidades, e não se conforma em viver no lugar

comum, mas quer voar alto, fazer violência contra a injustiça, contra

o mal que está dentro de si mesmo, completar a sua trajetória de

vida e terminar a sua eternidade no colo de Deus.

“12 E desde os dias de João, o Batista, até agora, o reino dos

céus é tomado a força, e os violentos o tomam de assalto”.386

“32 Melhor é o longânimo do que o valente; e o que domina o

seu espírito do que o que toma uma cidade”.387

386

Mateus 11. 387 Prov 16.

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9. Pedimos desculpas

Pedimos também desculpas pelo tempo não ter sido suficiente para

uma correção mais apurada do texto, como normalmente se faz com

qualquer escrito, antes de torná-lo público. Decidimos colocar nossos

textos à disposição de todos antes disto acontecer, pois julgamos que o mais importante aqui é a essência, e esta não pode esperar. Somos

gratos por qualquer ajuda neste sentido, e, se houver tempo, antes

do julgamento final, teremos prazer em nos apurar na correção, seja

de digitação ou mesmo ortográfica.

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10. Fala Augusto Cury:388

O Amor é o fenômeno mais procurado da história e o menos

compreendido. Ele é procurado no poder, nos aplausos, na fortuna,

nos versos, na ciência, mas nada disso compra o sentido da vida,

muitos morrem sem poesia, solitários, pois o procuram de forma errada e nos lugares errados; acham que ele se esconde em grandes

coisas, sem se darem conta que ele está presente nas coisas mais

simples, diminutas, quase imperceptíveis, como no sorriso de uma criança, no beijo das mães, no consolo dos amigos, nas dádivas do

Criador. O Mestre da Vida queria formar pensadores que

conhecessem o alfabeto do amor. Acreditou no ser humano.

Acreditou no ser de todas as nossas falhas. Honrou pessoas sem honra e disse ‘Você pode’ aos paralíticos de corpo e inteligência.

Amou os que não o amaram. E doou-se a quem não merecia.

Se você sente que erra com freqüência, tem muitos conflitos e acha que não tem qualificação para brilhar afetiva e profissionalmente, não

desanime. Se estivesse morando próximo ao mar da Galiléia,

provavelmente seria um dos escolhidos para segui-lo. Jesus tinha um especial apreço pelas pessoas problemáticas. Quanto mais elas

tropeçam e davam trabalho, mais ele as apreciava e investia nelas. E,

por tudo isso, Jesus se tornou um Mestre Inesquecível”.

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. 17

Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por

ele”.

388 Augusto Cury, psiquiatra, psicólogo, com livros publicados em mais de 60 países,

conferencista, diretor da Academia da Inteligência, antes ateu, fala, depois de

muitos anos estudar a inteligência de Cristo e seus métodos, que nós estamos ainda na idade da pedra diante das propostas educadoras do Mestre Invisível. É muito interessante, além de espetacular, ler o que ele escreve sobre o Jesus Homem, pois não é um teólogo, mas um psicólogo que observou que a humanidade está dividida entre antes e depois de Cristo, portanto é a pessoa mais importante que houve, e, mesmo assim, pouco se sabe ou se estuda nas escolas e faculdades sobre Ele. Escreveu, entre tantos livros interessantíssimos, cinco volumes sobre a Inteligência de Cristo.

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Índice do primeiro volume

1. Prefácio............................................................................... 4

2. Oração..................................................................................6 3. Quem poderá ser salvo?..........................................................7

4. A grande resposta................................................................15

5. Legalismo............................................................................30

5.a Gálatas 3: O Propósito da Lei...............................................30 5.b O legalismo – Escravismo Religioso.......................................31

6. Os amigos de Jó na cena do crime..........................................33

6.a Fugindo de Jezabel?............................................................39

6.b Foi Deus Quem Fez Você.....................................................47 7. A raiz do farisaísmo..............................................................57

7.a Fariseus............................................................................70

7.b Zelo..................................................................................72

8. Quebrando o joio de incredulidade..........................................78 8.a Amigo (oh Gloria)/ Lázaro....................................................85

8.b Terafins e correlatos..........................................................100

8.b.1 Cuidado com os "Terafins"..............................................100

8.b.2 Amuletos......................................................................102

9. O meu diploma...................................................................105 9.a Para quem está desanimado e desistiu de perseverar............112

9.a.1 Vencedores...................................................................112

9.a.2 Que mundo é este em que vivemos?................................116

9.a.3 A oração do Pai-Nosso, uma parada estratégica.................117 9.b.1 A maior homenagem (o meu diploma)..............................125

10. A decisão da águia............................................................129

11. Pedimos desculpas............................................................130

12. Fala Augusto Cury ............................................................131

Índice do segundo volume

1. Prefácio................................................................................4

2. Oração.................................................................................6 3. Monografia............................................................................7

3.a Título da Monografia.............................................................7

3.b Resumo..............................................................................8

3.c Sumário..............................................................................9 3.d Introdução.........................................................................11

3.d.1 O Julgamento De Jesus e de Paulo.....................................23

3.d.2 O Entrelaçamento Das Leis...............................................32

3.e Conclusão..........................................................................37 3.e.1 O Novo Código Civil e as igrejas........................................49

3.e.2 Propostas de mudanças para a legislação vigente...............50

3.e.3 Julgamento Prévio...........................................................51

3.e.4 Arbitragem.....................................................................52 3.e.5 Invoca-se justiça.............................................................53

4. Minha culpa.........................................................................61

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4.a Um Açoite de Deus.............................................................64

4.a.1 Augusto Cury fala sobre educação, disciplina, correção........72

4.a.2 Uma pausa para oração....................................................73

4.b Um Grande Mico.................................................................74 4.b.1 Ainda se caçam bruxas.....................................................86

5. Fala Soren Aabye Kierkegaard (1813-1855).............................98

5.a Pensamento de Kierkgaard..................................................99

6. E a Pedro...........................................................................104 6.a Olha pra mim...................................................................108

7. Resumo da análise de Augusto Cury sobre a personalidade do

Apóstolo Paulo.......................................................................109

7.a Jesus, se irava?................................................................118 7.b Quem é fraco e quem é forte?............................................120

7.c Irai-vos e não pequeis.......................................................121

7.d Fala W. Nee.....................................................................123

7.e Situações especiais...........................................................124 7.f Até onde obedecer?...........................................................127

7.g Quando se perde autoridade...............................................128

7.h O arrependimento.............................................................140

7.i Precisamos aprender a ousar...............................................140

7.j Precisamos aprender a amar...............................................142 7.k Precisamos aprender a clamar e a esperar...........................142

7.l Precisamos aprender a obedecer..........................................143

7.m Por que as pessoas parecem gostar de apanhar...................144

8. A decisão da Águia..............................................................150 9. Pedimos desculpas..............................................................151

10. Fala Augusto Cury.............................................................152

Índice do terceiro volume

1. Prefácio4

2. Oração6

3. O amor, segundo augusto Cury................................................7

4. Se o sal se tornar insípido para nada mais serve.......................10 4. a Doze regras para tornar seu filho um delinqüente..................11

4.b Fala José Carlos Fragomeni..................................................15

4.c Fala Anilton SCar................................................................15

4.d Fala Gary Fisher.................................................................16 5. A unção de João Batista........................................................18

5.a Fala Augusto Cury sobre João Batista....................................24

6. Autoridade..........................................................................26

6.a Pegar no pé.......................................................................28 6.a.1 Até quando?...................................................................33

6.b Quem estará com autoridade para repreender?......................39

6.c O outro lado da moeda........................................................42

6.d Trechos do livro “Feridos em nome de Deus”..........................45 6.e Despertando a consciência...................................................51

6.f A medida da autoridade ......................................................53

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6.g Explicando W. Nee..............................................................55

6.g 1Conhecendo um pouco de W. Nee.......................................55

6.g.2 Trechos do livro...............................................................55

6.g.2.a Os que servem.............................................................55 6.g.2.b Como é perigoso ignorar a autoridade!............................57

6.g.2.c Raciocínio, argumento, egolatria.....................................58

6.h A Macro e a Micro observação..............................................61

6.i Alguns exemplos onde a obediência à autoridade não será possível..................................................................................68

6.i.1 Sacudir o Jugo do Pescoço.................................................77

6.i.1.a Pensamentos sobre a justiça...........................................87

6.i.2 O abominável silêncio dos bons..........................................88 6.i.2.a O mau triunfa quando os bons não fazem nada..................89

7. Enfrentando os fariseus.........................................................92

8. Quando dirigi uma igreja e me tornei um fariseu.....................107

8.a Fui um fariseu..................................................................113 9. Os valentes de Deus...........................................................134

9.a A luta e a vitória de Jacó...................................................144

9.b Fala Augusto Cury um pouco mais sobre o Mestre Valente....144

10. A decisão da águia............................................................146

11. Pedimos desculpas............................................................147 12. Fala Augusto Cury.............................................................148

Com amor, Neli.