duraÇÃo razoÁvel do processo e … à justiça, eis que, em decorrência da morosidade peculiar...

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1 DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO E JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS: INFORMALIDADE E INSTRUMENTALIDADE COMO PARADIGMAS DE UMA JUSTIÇA MAIS CÉLERE Tauã Lima Verdan Rangel 1 Resumo: O Juizado Especial Cível reclama uma interpretação à luz emanada pelos valores de maciça relevância para a Constituição Federal de 1988. Isto é, cabe ao Arquiteto do Direito observar, de forma imperiosa, a tábua principiológica, considerada como essencial e exaltada como fundamental dentro da Carta Magna do Estado Brasileiro, ao aplicar a legislação abstrata ao caso concreto. A exemplo de tal afirmativa, pode-se citar tábua principiológica que orienta a interpretação das normas atinentes ao microssistema do Juizado Especial. Nesta senda, não se pode olvidar que os critérios que informam a atuação do Juizado Especial Cível são desdobramentos emanados dos princípios inspiradores do processo civil tradicional, aos quais se subordinam, estando em nível inferior, pois seria inconcebível que por força da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, fossem desprezados os preceitos fundamentais como o do contraditório e da ampla defesa, do devido processo legal (dwe process of law) e da fundamentação dos atos decisórios, compreendendo- se decisões e sentença. Com o alicerce no pontuado, salta aos olhos a necessidade de desnudar tal assunto, com o intento de afasta qualquer possível desmistificação, com o fito primordial de substancializar um entendimento mais robusto acerca do tema. Palavras-chave: Duração Razoável do Processo. Instrumentalidade das Formas. Princípios Orientadores. Sumário: 1 Comentários Introdutórios; 2 A Mens Legis da Lei dos Juizados Especiais; 3 A Valoração dos Princípios na Lei 9.099/1995: A Influência do Pós-Positivismo no Ordenamento Brasileiro; 4 O Critério ou Princípio da Oralidade; 5 O Critério ou Princípio da Simplicidade; 6 O Critério ou Princípio da Informalidade; 7 O Critério ou Princípio da 1 Bolsista CAPES. Mestrando vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito da Universidade Federal Fluminense (UFF), linha de Pesquisa Conflitos Urbanos, Rurais e Socioambientais. Especializando em Práticas Processuais Processo Civil, Processo Penal e Processo do Trabalho pelo Centro Universitário São Camilo-ES. Bacharel em Direito pelo Centro Universitário São Camilo-ES. Produziu diversos artigos, voltados principalmente para o Direito Penal, Direito Constitucional, Direito Civil, Direito do Consumidor, Direito Administrativo e Direito Ambiental. E-mail: [email protected] WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR

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1

DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO E JUIZADOS ESPECIAIS

CÍVEIS: INFORMALIDADE E INSTRUMENTALIDADE COMO

PARADIGMAS DE UMA JUSTIÇA MAIS CÉLERE

Tauã Lima Verdan Rangel1

Resumo: O Juizado Especial Cível reclama uma interpretação à luz emanada pelos valores de

maciça relevância para a Constituição Federal de 1988. Isto é, cabe ao Arquiteto do Direito

observar, de forma imperiosa, a tábua principiológica, considerada como essencial e exaltada

como fundamental dentro da Carta Magna do Estado Brasileiro, ao aplicar a legislação

abstrata ao caso concreto. A exemplo de tal afirmativa, pode-se citar tábua principiológica que

orienta a interpretação das normas atinentes ao microssistema do Juizado Especial. Nesta

senda, não se pode olvidar que os critérios que informam a atuação do Juizado Especial Cível

são desdobramentos emanados dos princípios inspiradores do processo civil tradicional, aos

quais se subordinam, estando em nível inferior, pois seria inconcebível que por força da

oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, fossem

desprezados os preceitos fundamentais como o do contraditório e da ampla defesa, do devido

processo legal (dwe process of law) e da fundamentação dos atos decisórios, compreendendo-

se decisões e sentença. Com o alicerce no pontuado, salta aos olhos a necessidade de desnudar

tal assunto, com o intento de afasta qualquer possível desmistificação, com o fito primordial

de substancializar um entendimento mais robusto acerca do tema.

Palavras-chave: Duração Razoável do Processo. Instrumentalidade das Formas. Princípios

Orientadores.

Sumário: 1 Comentários Introdutórios; 2 A Mens Legis da Lei dos Juizados Especiais; 3 A

Valoração dos Princípios na Lei 9.099/1995: A Influência do Pós-Positivismo no

Ordenamento Brasileiro; 4 O Critério ou Princípio da Oralidade; 5 O Critério ou Princípio da

Simplicidade; 6 O Critério ou Princípio da Informalidade; 7 O Critério ou Princípio da

1 Bolsista CAPES. Mestrando vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito da

Universidade Federal Fluminense (UFF), linha de Pesquisa Conflitos Urbanos, Rurais e Socioambientais.

Especializando em Práticas Processuais – Processo Civil, Processo Penal e Processo do Trabalho pelo Centro

Universitário São Camilo-ES. Bacharel em Direito pelo Centro Universitário São Camilo-ES. Produziu diversos

artigos, voltados principalmente para o Direito Penal, Direito Constitucional, Direito Civil, Direito do

Consumidor, Direito Administrativo e Direito Ambiental. E-mail: [email protected]

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Economia Processual; 8 O Critério ou Princípio da Celeridade; 9 A Incidência do Princípio da

Instrumentalidade das Formas no Microssistema do Juizado Especial; 10 Duração Razoável

do Processo e Juizados Especiais Cíveis: Informalidade e Instrumentalidade como Paradigmas

de uma Justiça mais célere; 11 Comentários Finais.

1 COMENTÁRIOS INTRODUTÓRIOS

Em uma primeira plana, ao se analisar sobre o tema colocado em debate, cuida

salientar que a Ciência Jurídica, enquanto um conjunto multifacetado de arcabouço

doutrinário e técnico, tal como as diversas ramificações que a constituem, vindica uma

interpretação estruturada nos plurais aspectos modificadores que passaram a influir em sua

formação. Nesta toada, explicitando, de maneira robusta, os aspectos característicos de

mutabilidade que passaram a orientar o Direito, tornou-se imperioso frisar, com grossos

tracejos, que não mais prospera a ótica que os preceitos são limitados e estanques, indiferentes

às carências e mazelas sociais que passaram a emoldurar os arcabouços normativos. Desta

feita, em decorrência das ponderações expendidas, denota-se que não mais subsiste a visão

que, em período pretérito, sustentava e orientava a aplicação das leis, sendo, devido às

necessidades da sociedade, suprimidos em uma nova sistemática.

Com arrimo em tais valores, quadra desfraldar como pavilhão de interpretação o

“brocardo jurídico 'Ubi societas, ibi jus', ou seja, 'Onde está a sociedade, está o Direito',

tornando explícita e cristalina a relação de interdependência que esse binômio mantém”

(VERDAN, 2009, s.p.). Observa-se, desta maneira, que há uma interação edificada na mútua

dependência, eis que o primeiro tem seus princípios sedimentados no constante processo de

evolução da sociedade, com o objetivo de que seus Diplomas Legislativos e institutos não

fiquem maculados de inaptidão e arcaísmo, em total descompasso com a realidade vigente. A

segunda, por sua vez, apresenta singular dependência das regras acinzeladas pelo

Ordenamento Pátrio, cujo escopo principal é assegurar que não haja uma vingança privada,

afastando, por extensão, qualquer ranço que rememore o longínquo passado em que o homem

valorizava a Lei de Talião (“Olho por olho, dente por dente”), bem como para evitar que se

robusteça um cenário caótico da coletividade.

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Ademais, com a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil de

1988, imprescindível se fez adotá-la como maciço pilar de sustentação do Ordenamento

Brasileiro, principalmente quando se objetiva a adequação do texto legal, genérico e abstrato,

aos complexos anseios e múltiplas necessidades que influenciam a realidade contemporânea.

Nesta esteira de exposição, imperiosamente, há que se citar o voto magistral voto proferido

pelo Ministro Eros Grau, ao apreciar a Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental Nº.

46/DF, “o direito é um organismo vivo, peculiar porém porque não envelhece, nem

permanece jovem, pois é contemporâneo à realidade. O direito é um dinamismo. Essa, a sua

força, o seu fascínio, a sua beleza” (BRASIL, 2014d). Como bem pontuado, o fascínio da

Ciência Jurídica descansa, justamente, na constante e imprescindível mutabilidade que

apresenta, decorrente do dinamismo que reverbera na sociedade e orienta a aplicação dos

Diplomas Legais, garantindo-lhes contemporaneidade aos eventos produzidos.

Ainda neste substrato, pode-se evidenciar que a concepção pós-positivista que passou

a permear o Direito, ofertou, por via de consequência, uma rotunda independência dos

estudiosos e profissionais da Ciência Jurídica. Aliás, há que se citar o entendimento de

Verdan (2009, s.p.), “esta doutrina é o ponto culminante de uma progressiva evolução acerca

do valor atribuído aos princípios em face da legislação”. Destarte, a partir de uma análise

profunda de sustentáculos, infere-se que o ponto central da corrente pós-positivista cinge-se à

valoração da robusta tábua principiológica que Direito e, por conseguinte, o arcabouço

normativo passando a figurar, nesta tela, como normas de cunho vinculante, flâmulas

hasteadas a serem adotadas na aplicação e interpretação do conteúdo das leis.

2 A MENS LEGIS DA LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Em um primeiro momento, a fim de se compreender a essência orientadora dos

Juizados Especiais, imprescindível faz-se abordar os Juizados Especiais de Pequenas Causas,

instituído pela Lei Nº. 7.244, de 07 de Novembro de 1984, que dispõe sobre a criação e o

funcionamento do Juizado Especial de Pequenas Causas, o qual, quando de sua instituição,

personificou um marco legislativo dotado de caráter inovador e ambicioso, conforme bem

observou Dinamarco (1986, p. 01). Tratava-se, assim, da primeira manifestação legislativa

que buscava estruturar um Juizado cujas características estavam assentadas em um menor

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formalismo e voltadas, efetivamente, para a prestação jurisdicional mais célere. Neste sentido,

ainda, cuida colacionar:

O Juizado de Pequenas Causas trouxe, no corpo de sua legislação criadora, uma

série de novos princípios e paradigmas, os quais pretendiam romper a antiga

estrutura processual fundada no formalismo da jurisdição civil comum, buscando,

assim, alcançar o objetivo de facilitar o acesso à justiça por parte dos menos

favorecidos na sociedade, tornando-o mais célere e eficaz, bem como funcionando

como mecanismo de pacificação social. (SILVA, s.d., p. 02).

Cuida reconhecer que, até aquele momento legislativo, a sociedade contemporânea

não usufruía de qualquer instrumento que permitisse a concretização de suas pretensões, de

maneira mais rápida e com resultados esperados, o que, por vezes, fomentava à descrença e a

insatisfação com a tutela jurisdicional ofertada pelo Estado-juiz, bem como com a violação ao

acesso à justiça, eis que, em decorrência da morosidade peculiar da justiça civil, o cidadão

deixava de ajuizar demandas ou mesmo restava frustrada a pretensão já deduzida em juízo.

Diante do cenário ora pintado, o legislador ordinário ambicionou instituir um mecanismo que

compreendesse em seu bojo a pacificação social, como mecanismo capaz de abrandar as

expectativas da população jurisdicionada, na proporção que assegurava um modelo de

jurisdição especial mais célere, eficaz e acessível. Ainda nesta linha, é permitido diccionar

que o Juizado de Pequenas Causas permitia que serviço jurisdicional apresentasse resultados

úteis ao solucionar prontamente os conflitos, antes que eles se expandam e cheguem a

incomodar mais do que o aceitável. (DINAMARCO, 1986, p. 02).

Prima sublinhar, também, que, conquanto tenha sido anteriormente à promulgação da

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, que, em seu artigo 5º, inciso XXXV,

hasteia como flâmula orientadora o acesso à Justiça, o Juizado Especial de Pequenas Causas

já abarcava, em seu bojo, o escopo de garantir o acesso ao Poder Judiciário, contemplando,

para tanto, mais simplicidade no procedimento adotado e maior celeridade no

desenvolvimento da marcha processual. Em concatenação com o exposto, também se

configura de suma importância frisar as palavras de Ronaldo Frigini, quando ele diz que “A

Lei de Pequenas Causas não resolveu de todo o problema, mas inegavelmente aproximou da

justiça o cidadão de baixa renda, fazendo-o vir aos umbrais do judiciário na certeza da

composição rápida de seu litígio” (FRIGINI, 1995, p. 27). Neste sentido, é pertinente

enfatizar a doutrina de Cândido Rangel Dinamarco, quando assinala que:

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O mesmo art. 1º, que autoriza a criação desse órgão judiciário, di-lo competente para

processo e julgamento, por opção do autor, das causas de reduzido valor econômico.

Concebido para ampliar o acesso ao Poder Judiciário e facilitar o litígio para as

pessoas que sejam portadoras de pequenas postulações (especialmente para as

menos dotadas economicamente), a lei erigiu o próprio interessado em juiz da

conveniência da propositura de sua demanda perante o Juizado Especial das

Pequenas Causas ou no juízo comum – e, com isso, deu mais uma demonstração de

que não se trata de discriminar pobres e ricos, uma vez que continuam aqueles,

querendo, com a possibilidade de optar por este e pelo procedimento mais formal e

demorado que ele oferece (DINAMARCO, 1986, p. 04).

Impregnado por um cenário que cambaleava, em seus primeiros passos, em prol da

facilitação do cidadão ao acesso ao Poder Judiciário, o legislador constituinte de 1988,

entalhou, com profundos sulcos, no artigo 98, inciso I, da Constituição da República

Federativa do Brasil inseriu a previsão dos Juizados Especiais Cíveis, como mecanismo de

ratificação da experiência implantada pela Lei Nº. 7.244, de 07 de Novembro de 1984, que

dispõe sobre a criação e o funcionamento do Juizado Especial de Pequenas Causas, a fim de

aprimorar a experiência obtida com a legislação supramencionada. Constata-se, assim, que a

Lei Nº. 9.099, de 26 de setembro de 1995, que dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e

Criminais e dá outras providências, ambicionou aprimorar o sistema, alargando a competência

do Juizado, tanto em relação à matéria, quanto em relação ao valor. Dessa maneira, é possível

pontuar que o cidadão comum encontrou o foro no qual procurava resolver suas pendências

cotidianas, aquelas que antes ficavam afastadas da apreciação do Poder Judiciário,

alimentando, assim, um sentimento de injustiça. “O caráter didático da atuação do Juizado

hoje pode ser medido na atitude da pessoa comum que, diante de uma injustiça, não deixa de

procurar seus direitos”. (BONADIA NETO, 2006, p. 03).

Salta aos olhos que o legislador infraconstitucional, ao insculpir a Lei Nº. 9.099, de 26

de setembro de 1995, que dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras

providências, pretendeu ofertar concretude ao comando constitucional que determinou a

criação do microssistema dos Juizados Especiais, permitindo, via de consequência, o acesso a

uma justiça essencialmente informal, célere e econômica, tanto em relação ao sistema

jurisdicional, quanto para os jurisdicionados que dele dependem, tal como mais acessível

àqueles que, até então, não ingressavam na morosa e excessivamente burocrática justiça

comum. “Os juizados especiais cíveis, dotados da incumbência de conciliar, julgar e executar

as causas de menor complexidade, têm sede na Constituição Federal em seu artigo 98, I, e,

seguindo os princípios da oralidade, informalidade, economia processual, celeridade e

simplicidade”, (BONADIA NETO, 2006, p. 03), cumprindo, assim, a missão de abrir as

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portas do Poder Judiciário às pessoas mais carentes, atendendo a uma demanda reprimida,

mediante a oferta de um processo rápido, econômico e simples.

Nesse passo, carecido faz-se compreender de que a criação do microssistema dos

Juizados Especiais deveu-se aos destinatários que possuíssem causas de solução dotadas de

maior simplicidade e de diminuta expressão econômica, os Juizados Especiais Cíveis,

instituídos em 1995, devem primar pela concretização dos objetivos de efetivação da tutela

jurisdicional de forma rápida, ou seja, que se preste a satisfazer o interesse do cidadão em

tempo razoável à utilidade daquela tutela. “A criação, então, dos Juizados Especiais de

Pequenas Causas, hoje denominados Juizados Especiais Cíveis, pretendeu, em última análise,

dotar o Poder Judiciário de meios que permitissem a composição célere, adequada e efetiva

dos litígios de pequena expressão econômica”. (SODRÉ, 2005, p.xxvii). Arrimado no

entendimento ora explicitado, é possível afirmar que o processo ajuizado perante o

microssistema dos Juizados Especiais, além de ser célere, simples e informal, deve,

igualmente, trilhar pela via mais econômica, buscando sempre o aproveitamento dos atos

processuais, reduzindo os custos do processo e encontrando alternativas que representem um

menor ônus tanto para o Poder Judiciário quanto para o cidadão que pretende ver seu interesse

tutelado de forma mais econômica.

3 A VALORAÇÃO DOS PRINCÍPIOS NA LEI 9.099/1995: A

INFLUÊNCIA DO PÓS-POSITIVISMO NO ORDENAMENTO

BRASILEIRO

Inicialmente, adotando-se as lições apresentadas por Marquesi (2004, s.p.) que, com

bastante pertinência, assinala que os postulados e dogmas se apresentam como a gênese, o

ponto de partida ou mesmo o primeiro momento da existência de algo. Neste alamiré, há que

se evidenciar, com bastante ênfase, que os princípios se apresentam como verdades

fundamentais, que suportam ou asseguram a certeza de uma gama de juízos e valores que

norteiam as aplicações das normas diante da situação concreta, adequando o texto frio,

abstrato e genérico às nuances e particularidades apresentadas pela interação do ser humano.

Objetiva, por conseguinte, com a valoração dos princípios vedarem a exacerbação errônea do

texto da lei, conferindo-lhe dinamicidade ao apreciar as questões colocadas em análise.

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Com espeque em tais ideários, salientar se faz pungente que os dogmas, valorados

pelas linhas do pós-positivismo, são responsáveis por fundar o Ordenamento Jurídico e atuar

como normas vinculantes, verdadeiras flâmulas desfraldadas na interpretação do

Ordenamento Jurídico. Destarte, insta frisar que “conhecê-los é penetrar o âmago da realidade

jurídica. Toda sociedade politicamente organizada baseia-se numa tábua principiológica, que

varia segundo se altera e evolui a cultura e modo de pensar” (MARQUESI, 2004, s.p.). Ao

lado disso, em razão do aspecto essencial que apresentam, os preceitos podem variar, de

maneira robusta, adequando-se a realidade vigorante em cada Estado, ou seja, os corolários

são resultantes dos anseios sagrados em cada população. Entretanto, o que assegura a

característica fundante dos axiomas é o fato de ser hasteado à condição de cânone escrito

pelos representantes da nação ou, ainda, advir de regra costumeira à qual democraticamente

aderiu o povo (MARQUESI, 2009, s.p.).

Nesta senda, os dogmas que são salvaguardados pela Ciência Jurídica passam a ser

erigidos à condição de elementos que compreendem em seu bojo oferta de uma abrangência

mais versátil, contemplando, de maneira singular, as múltiplas espécies normativas que

integram o ordenamento pátrio. Ao lado do acinzelado, há que se evidenciar que tais

mandamentos passam a figurar como supernormas, isto é, “preceitos que exprimem valor e,

por tal fato, são como pontos de referências para as demais, que desdobram de seu conteúdo”

(VERDAN, 2009, s.p.). Os princípios passam a figurar como verdadeiros pilares sobre os

quais o arcabouço teórico que compõe o Direito se estrutura, segundo a brilhante exposição de

Tovar (2005, s.p.).

Em decorrência de tais lições, destacar é crucial que o Juizado Especial Cível deve ser

interpretado a partir de uma luz emanada pelos valores de maciça relevância para a

Constituição Federal de 1988. Isto é, cabe ao Arquiteto do Direito observar, de forma

imperiosa, a tábua principiológica, considerada como essencial e exaltada como fundamental

dentro da Carta Magna do Estado Brasileiro, ao aplicar a legislação abstrata ao caso concreto.

A exemplo de tal afirmativa, pode-se citar tábua principiológica que orienta a interpretação

das normas atinentes ao microssistema do Juizado Especial. Nesta senda, não se pode olvidar

que os critérios que informam a atuação do Juizado Especial Cível são desdobramentos

emanados dos princípios inspiradores do processo civil tradicional, “aos quais se subordinam,

estando em nível inferior, pois seria inconcebível que por força da oralidade, simplicidade,

informalidade, economia processual e celeridade” (SILVA JÚNIOR, 2010, p. 06), fossem

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desprezados os preceitos fundamentais como o do contraditório e da ampla defesa, do devido

processo legal (dwe process of law) e da fundamentação dos atos decisórios, compreendendo-

se decisões e sentença. Com o alicerce no pontuado, salta aos olhos a necessidade de desnudar

tal assunto, com o intento de afasta qualquer possível desmistificação, com o fito primordial

de substancializar um entendimento mais robusto acerca do tema.

4 O CRITÉRIO OU PRINCÍPIO DA ORALIDADE

Ao se esmiuçar o microssistema inaugurado pelo Juizado Especial Cível, salta aos

olhos que os processos são predominantemente orais, valorando-se, de maneira robusta, o

integral diálogo direto entre as partes, as testemunhas e o juiz, restringindo-se tão somente ao

necessário a forma escrita. “Há prevalência da palavra oral como meio de comunicação das

partes, visando à simplificação e à celeridade dos trâmites processuais, sendo aplicado desde a

apresentação do pedido inicial até a fase final dos julgados” (BOCHENEK, s.d., p. 49). Tal

critério se revela como pedra fundamental para que se alcance o preconizado nos demais

critérios e o principal escopo agasalhado na conciliação ou transação, como instrumento de

pacificação social, promovendo a participação efetiva das partes envolvidas na solução do

conflito. Anote-se que o pedido poderá ser oral e formulado perante Serventia do Juizado

Especial e reduzido, na essência, a escrito e de forma sucinta, nos termos contidos no artigo

14 da Lei Nº. 9.099, de 26 de setembro de 19952, que dispõe sobre os Juizados Especiais

Cíveis e Criminais e dá outras providências, podendo, inclusive, a contestação ser ditada em

audiência, como estabelece o artigo 30 do sobredito diploma legal3.

O procedimento nos juizados especiais é, eminentemente, oral. Aqui, efetivamente,

ao contrário do que se observa em relação ao processo comum – em que se prega a

oralidade como princípio, mas a prática demonstra exatamente o inverso, ou seja,

que o processo é estritamente escrito -, o procedimento é todo desenhado para

desenvolver-se oralmente, reduzindo-se ao máximo as peças escritas e, mesmo, a

escrituração das declarações orais. (MARINONI; ARENHART, 2004. p.742)

2 BRASIL. Lei Nº. 9.099, de 26 de Setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e

dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 12 mai. 2014: “Art. 14. O

processo instaurar-se-á com a apresentação do pedido, escrito ou oral, à Secretaria do Juizado”. 3 BRASIL. Lei Nº. 9.099, de 26 de Setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e

dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 12 mai. 2014: “Art. 30. A

contestação, que será oral ou escrita, conterá toda matéria de defesa, exceto argüição de suspeição ou

impedimento do Juiz, que se processará na forma da legislação em vigor.”.

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Há que se assinalar que apenas os atos considerados como essenciais serão reduzidos a

termo, de maneira resumida, de forma manuscrita, datilografada, taquigrafada ou

estenotipadas. Poderão os demais atos ser gravados, filmados ou mesmo fixados por qualquer

outro meio tecnológico existente, em razão da redação contida no §3º do artigo 13 da Lei Nº.

9.099, de 26 de setembro de 1995, que dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais.

Nesta trilha, ainda, cuida evidenciar que conexo ao princípio da oralidade está o da imediação

“pelo qual o juiz ou colegiado deve participar da produção dos elementos de convicção,

conciliando as partes e tomando seus depoimentos, bem como de testemunhas e peritos,

examinando os lugares e objetos disputados” (SILVA JÚNIOR, 2010, p. 07); o da identidade

física do juiz, cabendo aquele que produziu a prova proferir o ato decisório; e o da

concentração, buscando valorar a reunião de todas as atividades destinadas à instrução e à

marcha processual em um ato solene ou, ainda, em poucas audiências contíguas.

O que a Lei Nº. 9.099, de 26 de setembro de 1995, que dispõe sobre os Juizados

Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências, hasteia como flâmula orientadora é a

predominância da forma oral, em razão de toda a sistemática principiológica que permeia o

processo nesta justiça especializada, ou seja, coadunando os demais postulados da celeridade,

economia processual e simplicidade das formas. Nesta linha de raciocínio, cuida assinalar que

o procedimento especial contido no microssistema dos Juizados Especiais reclama a valoração

da oralidade, na condição de pilar axiológico estruturante, permitindo, assim, uma dinâmica

na qual todos os atos instrutórios são praticados concentradamente ou, ainda, em um lapso

temporal exíguo. Acerca do tema em debate, Reinaldo Filho já evidenciou que:

O procedimento do Juizado Especial constitui a verdadeira essência do processo

oral sustentado por Chiovenda, assinalado naquelas outras facetas que lhe

completam realmente a nota de utilidade: a concentração dos atos processuais, a

imediatidade do julgador no contato com os fatos e as provas e a irrecorribilidade

das decisões interlocutórias. A oralidade do procedimento, no seu aspecto da

concentração dos atos processuais, traduz-se numa dinâmica em que todos os atos

de instrução praticam-se de uma só vez, ou em lapso de tempo o mais breve

possível. (REINALDO FILHO, 1996, p.36).

Com efeito, para que o critério de oralidade encontre consonância com os demais,

algumas atenuações se impõem, maiormente nas questões repetitivas, notadamente as

meramente de direito, em que, em razão da experiência do magistrado, decorrente de

sucedâneos processuais, é improvável o aperfeiçoamento do acordo, pode-se dispensar as

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audiências de conciliação e de instrução e julgamento. O pensamento explicitado encontrou

amparo no Tribunal de Justiça de São Paulo (2014) que, ao editar o Enunciado 15 do Juizado

Especial Cível, acinzelou que “não é obrigatória a designação de audiência de conciliação e

de instrução no Juizado Especial Cível em se tratando de matéria exclusivamente de direito”.

Marinoni e Arenhart, ao discorrer sobre o tema, esclarecem que:

A oralidade, sem dúvida, contribui não apenas para acelerar o ritmo do processo,

como ainda para obter-se uma resposta muito mais fiel à realidade. O contato direto

com os sujeitos do conflito, com aprova e com as nuances do caso permitem ao

magistrado apreender de forma muito mais completa a realidade vivida,

possibilitando-lhe adotar visão mais ampla da controvérsia e decidir de maneira

mais adequada. Essa característica, especialmente quando observada do ponto de

vista dos temas que são levados aos juizados especiais (geralmente caracterizados

por conflitos de vizinhança, litígios de pequenas proporções e, especialmente,

questões de pessoas mais carentes), mostra-se de sensível importância.

(MARINONI, ARENHART, 2004, p.742).

Por imperioso, a aplicação do critério da oralidade reclama o comparecimento pessoal

das partes ou do preposto, caso seja pessoa jurídica, ou do titular de firma individual4,

conforme prescreve o artigo 9º da Lei Nº. 9.099, de 26 de setembro de 1995, que dispõe sobre

os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências, à sessão conciliatória e

audiência de instrução e julgamento. Gize-se, ainda, que a ausência do autor acarreta a

extinção do processo, sem resolução do mérito, na forma que entabula o artigo 51, inciso I, da

Lei Nº. 9.099, de 26 de setembro de 19955, que dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e

Criminais, com consequente condenação ao pagamento das custas processuais, em

consonância com o que preconiza o Enunciado nº. 28 do FONAJE6. Neste sentido, colhe-se o

entendimento jurisprudencial que sedimentam as ponderações expendidas:

Ementa: Ausência de comparecimento do Autor. Extinção. Custas. 1.- Ausência do

autor na audiência de conciliação ocasiona a extinção do processo. 2.- A reativação

do processo depende do pagamento de custas. As custas de reativação possuem

caráter punitivo e não podem ser afastadas pelo eventual direito ao benefício da

4 Neste sentido: BRASIL. Fórum Nacional do Juizado Especial. Disponível em: <www.fonaje.org.br>. Acesso

em 12 mai. 2014: “Enunciado 20 - O comparecimento pessoal da parte às audiências é obrigatório. A pessoa

jurídica poderá ser representada por preposto”. 5 BRASIL. Lei Nº. 9.099, de 26 de Setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e

dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 12 mai. 2014: “Art. 51.

Extingue-se o processo, além dos casos previstos em lei: I - quando o autor deixar de comparecer a qualquer das

audiências do processo”. 6 BRASIL. Fórum Nacional do Juizado Especial. Disponível em: <www.fonaje.org.br>. Acesso em 12 mai.

2014: “Enunciado 28 - Havendo extinção do processo com base no inciso I, do art. 51, da Lei 9.099/1995, é

necessária a condenação em custas”.

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gratuidade. 3.- Nestas condições inexiste direito líquido e certo ao benefício da

gratuidade. Ordem denegada. (Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul –

Terceira Turma Recursal Cível/ Mandado de Segurança Cível Nº. 71002745024/

Relator: Eduardo Kraemer/ Julgado em 17.12.2010) (grifo nosso).

Ementa: Embargos de Terceiro. Não comparecimento do Autor à audiência de

instrução e julgamento, pela segunda vez. Extinção do processo sem o julgamento do

mérito, na forma do art. 51, I, da Lei 9.099/95. Reativação do feito condicionada ao

pagamento das custas processuais pelo autor, pois não evidenciada a ocorrência de

motivo de força maior para a ausência. Recurso Desprovido. (Tribunal de Justiça do

Estado do Rio Grande do Sul – Terceira Turma Recursal Cível/ Recurso Cível Nº

71002097467/ Relator: Eugênio Facchini Neto/ Julgado em 24.09.2009) (destaque

nosso).

Ainda no que tange à necessidade de comparecimento pessoal, verifica-se que a

exigência, a fim de subsidiar a pacificação social, não está adstrita tão somente a presença do

reclamante, estendendo-se, também, à parte reclamada. Cuida salientar que no que concerne

ao reclamado, incidirá o regramento contido no artigo 20 da Lei Nº. 9.099, de 26 de setembro

de 19957, que dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências,

sendo-lhe decretada a revelia e aplicando-se a pena de confissão. O citado artigo exige, com

dicção expressa e de clareza ofuscante, o comparecimento pessoal do demandado, a rigor da

exigência do comparecimento pessoal das partes deve-se ao principio maior dos Juizados

Especiais, que é a tentativa de conciliação entre os litigantes.

Para a Lei Nº. 9.099, de 26 de setembro de 1995, que dispõe sobre os Juizados

Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências, os efeitos da revelia, ou seja, a

presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor, decorrem da ausência do réu à sessão

de Conciliação ou à audiência de instrução e julgamento, salvo se o contrário resultar da

convicção do Juiz. Nesta senda, não se pode olvidar que os efeitos provenientes da decretação

da revelia implica em se considerar como verdadeiros os fatos alegados na inicial aplicação

dos efeitos da revelia, sendo considerados verdadeiros os fatos alegados na inicial. Ao lado

disso, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (2014), ao julgar o Recurso

Inominado Nº. 71003392073, de relatoria do Magistrado Ricardo Hermann Torres, assentou

entendimento que “diante da ausência do réu na audiência de conciliação, restou decretada

sua revelia, na forma do art. 20 da Lei n.º 9.099/95”.

7 BRASIL. Lei Nº. 9.099, de 26 de Setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e

dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 12 mai. 2014: “Art. 51.

Extingue-se o processo, além dos casos previstos em lei: I - quando o autor deixar de comparecer a qualquer das

audiências do processo”.

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12

5 O CRITÉRIO OU PRINCÍPIO DA SIMPLICIDADE

É cediço, ainda, que a Lei Nº. 9.099, de 26 de setembro de 1995, que dispõe sobre os

Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências, inaugurou um microssistema

destinado à solução dos conflitos cotidianos, logo, a valoração do critério da simplicidade se

revela de suma importância para a materialização do fito contido naquele diploma. O critério,

também denominado de princípio, da simplicidade passou a ser bastião sustentador para o

desenvolvimento do rito especial contido na legislação que inaugurou o microssistema dos

Juizados Especiais, despindo-se, via de consequência, do formalismo exacerbado e que

apenas engessa e retarda a prestação da tutela jurisdicional. “O pedido será formulado de

forma simples e em linguagem acessível, constando apenas o nome, a qualificação e o

endereço das partes; os fatos e os fundamentos de forma sucinta, e o objeto e seu valor”

(SILVA JÚNIOR, 2010, p. 08). O magistrado, após a oitiva de reclamante e reclamado,

deverá empreender investigação no que se refere ao interesse de agir e à legitimidade, tal

como da presença dos pressupostos processuais.

A simplicidade procedimental, elevada à categoria de princípio informativo do

processo especial, está ligada à noção da rapidez na solução dos conflitos, depende

de que o processo seja simples no seu tramitar, despido de exigências nos seus atos e

termos, com a supressão de quaisquer fórmulas obsoletas, complicadas ou inúteis. A

simplificação dos atos e termos é, realmente, uma constante em todo o processo

especial. (REINALDO FILHO, 1996, p.37)

Ademais, não se pode exigir, sob pena de indeferimento, que a parte reclamante

promova a apresentação, acompanhando o pedido inicial, dos documentos indispensáveis ao

aforamento da demanda, quando é possível a requisição junto a órgãos públicos ou que estão

em poder da parte ex adversa. A situação em comento é facilmente verificável em relação a

Bancos, Planos de Saúde, Seguradora e, de maneira geral, prestadora de serviços,

notadamente no que se relaciona a contratos, comprovantes de pagamento e extratos, os quais

deverão ser apresentados juntamente com a peça de defesa. Ora, admitir situação distinta seria

atentar contra os ideários consagrados no Juizado Especial Cível, eis que de pouca valia seria

a formulação do pedido diretamente no Cartório. No mais, Bochenek, ao discorrer acerca do

tema, pontua que:

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O modo de comunicação processual pode ocorrer por qualquer meio (eletrônico,

postal) o que agiliza a ciência dos atos processuais. Não se admitem a reconvenção,

a ação declaratória incidental e a intervenção de terceiros, evitando trâmites formais,

privilegiando-se a rapidez e a simplicidade do procedimento (BOCHENEK, s.d., p.

52).

Nesta toada, o magistrado deve apresentar maior flexibilidade e tolerância, quando da

análise dos requisitos da petição inicial, maiormente quando a reclamação for confeccionada

pela Serventia e for designada a audiência e realizada a citação independentemente do

despacho do juiz. As simples formalidades processuais devem ser desconsideradas, com o

escopo de privilegiar a solução do conflito, evitando, via de consequência, a propositura de

nova demanda, salvo se as formalidades acarretarem cerceamento de defesa. Ao lado disso,

quando verificado que o pedido foi feito em balcão, deve-se prestigiar o princípio da

simplicidade que rege os Juizados Especiais. Com o fito de ilustrar o acimado, cuida trazer à

colação o entendimento “que, se tratando de pedido de balcão formulado pelo próprio

consumidor, não se exige rigor técnico, conclusão que deflui dos princípios norteadores do

sistema dos Juizados Especiais Cíveis”, conforme entendimento assentado pelo Tribunal de

Justiça Gaúcho (2014), ao apreciar o Recurso Inominado Nº. 71003368313, de relatoria do

Magistrado Alexandre de Souza Costa Pacheco.

6 O CRITÉRIO OU PRINCÍPIO DA INFORMALIDADE

Ao se apreciar o critério da informalidade, é observável, com clareza solar, que o

aludido paradigma tem plena aplicação no sistema dos Juizados Especiais, todavia a liberdade

das formas processuais por parte do julgador encontra limites nos direitos processuais

constitucionalmente garantidos às partes no que tange ao acesso à justiça e ao devido processo

legal, do qual sobrelevam anotar o contraditório, a ampla defesa, a igualdade processual, a

legalidade e a motivação das decisões, minando os excessos judiciais. “O juiz deverá

valorizar, ao máximo, as soluções envolvendo a ideia de efetivação do direito material, com a

entrega da solução ao litígio” (BOCHENEK, 2010, p. 52).

A legislação sustentadora do microssistema dos Juizados Especiais é repleta de

disposições visando a materialização da informalidade do processo e estabelecendo que os

atos processuais são válidos, desde que preencham as finalidades para as quais foram

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realizadas, como bem dicciona o artigo 13 da referida legislação. Igualmente, a possibilidade

de solicitação da prática de atos processuais em outras comarcas por qualquer meio de

comunicação se revela como mecanismo estruturado pela Lei Nº. 9.099, de 26 de setembro de

1995, que dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências,

objetivando assegurar maior informalidade aos apostilados que tramitam sob a égide do

sobredito diploma.

Pode-se citar, ainda, que a possibilidade de que o pedido oral seja reduzido a escrito

pelo Cartório do juizado, sendo possível a utilização de fichas ou formulários impressos

também se revela como manifestação do critério da informalidade. “Em se tratando de pedido

de balcão, cabível a aplicabilidade do Princípio da Informalidade, de modo a propiciar, de

forma célere efetiva prestação jurisdicional”, conforme entendimento consagrado pelo

Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (2014), ao julgar o Recurso Inominado

Nº. 7100391968. Ao lado disso, pode-se, ainda, citar, como manifestação do critério da

informalidade, que “o julgamento em segunda instância constará apenas da ata, com a

indicação suficiente do processo, fundamentação sucinta e parte dispositiva e, se a sentença

for confirmada pelos próprios fundamentos, a súmula do julgamento servirá de acórdão”,

conforme bem delineia Silva Júnior (2010, p. 09), nos termos preconizados no artigo 46 da

Lei dos Juizados Especiais8.

7 O CRITÉRIO OU PRINCÍPIO DA ECONOMIA PROCESSUAL

À luz das ponderações apresentadas até o momento, pode-se observar que um dos

pilares que justificam a existência dos Juizados Especiais é a obtenção de uma solução rápida

aos conflitos que lhes são apresentados. Ao lado disso, frise-se que tal premissa deve ser

perscrutada por meio do menor número possível de atos a serem praticados pelo magistrado e

pelas partes processuais. Como aponta Silva Júnior (2010, p. 09), “a concentração dos atos

neste processo é manifesta, uma vez que, não obtida a conciliação e não instituído o juízo

arbitral, proceder-se-á imediatamente à audiência de instrução e julgamento, desde que não

8 BRASIL. Lei Nº. 9.099, de 26 de Setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e

dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 12 mai. 2014: “Art. 46. O

julgamento em segunda instância constará apenas da ata, com a indicação suficiente do processo, fundamentação

sucinta e parte dispositiva. Se a sentença for confirmada pelos próprios fundamentos, a súmula do julgamento

servirá de acórdão.”.

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resulte prejuízo para a defesa”. Com efeito, em sede de microssistema dos Juizados Especiais,

as provas serão produzidas naquele ato, oportunidade em que o juiz ouvirá as partes e

decidirá, de plano, todos os incidentes que possam obstar o desenvolvimento regular e válido

da marcha processual, cabendo as partes se manifestarem acerca do acervo documental

apresentado pela parte adversa, proferindo, ao depois, a sentença. Cumpre citar a definição de

Américo Canabarro que diz:

O princípio da economia dos atos processuais consiste na preterição de atos ou

formalidades que se tornaram desnecessárias, no curso do processo, em proveito da

celeridade da marcha processual. Ocorre, por exemplo, quando o juiz, suprindo

alguma nulidade ou corrigindo certa irregularidade, aproveita os atos anteriormente

praticados, aos quais o vício não contaminou. (CANABARRO, 1997, p.116).

Resta devidamente configurada a economia processual, quando se admite a

formulação de pedido contraposto em que o reclamado formula, em sua peça de defesa,

pedido em seu favor, bem como quando se veda qualquer forma de intervenção de terceiro ou

assistência. Outrossim, a economia processual está manifestada quando a Lei dos Juizados

Especiais apregoa o aproveitamento dos atos processuais, não declarando a nulidade dos atos,

sem que tenha havido prejuízo demonstrado no caderno, consoante reza a redação do artigo

13 do mencionado diploma legal9. Denota-se, assim, que o princípio da economia processual

está intimamente ligado à conciliação entre a manutenção dos atos processuais já praticados,

desde que não se encontrem inquinados de vícios e irregularidades, o que substancializa um

benefício à economia judiciária e a celeridade do trâmite do processo, que é de fundamental

interesse para a população jurisdicionada.

Cumpre ressaltar, ainda, que a própria sistemática caracterizados dos Juizados

Especiais Cíveis, cujo objetivo ambiciona a transposição dos obstáculos de formalismos

exacerbados e exigências burocráticas comuns à justiça não especializada, é que o princípio

da economia processual busca dinamizar as marchas processuais que têm seu curso pela via

especial. Inúmeros são os exemplos a serem citados que consubstanciam os critérios da

economia processual, podendo-se fazer menção à impossibilidade da realização de perícias; a

concentração de provas na audiência de instrução e julgamento; os embargos de declaração

terão o condão de apenas suspender os prazos e não interrompê-lo; a ausência do autor em

9 BRASIL. Lei Nº. 9.099, de 26 de Setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e

dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 12 mai. 2014: “Art. 13. Os

atos processuais serão válidos sempre que preencherem as finalidades para as quais forem realizados, atendidos

os critérios indicados no art. 2º desta Lei.”.

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audiência acarretar a extinção do processo; a ausência do reclamado resultar na pena de

confissão e decretação de revelia. Neste sentido, ainda, pode-se colher o seguinte

entendimento jurisprudencial:

Ementa: Embargos Declaratórios. Pretensão à rediscussão do mérito. Inviabilidade.

Descabe falar em ausência de fundamentação, quando a decisão colegiada confirma

- ainda que parcialmente - a sentença de primeiro grau pelos próprios fundamentos.

Decorrência da aplicação dos princípios norteadores dos Juizados Especiais, a saber,

a simplicidade, informalidade e celeridade, em atenção aos anseios sociais de

rapidez nos julgamentos. Inviável é o acolhimento dos embargos declaratórios que

não pretendem sanar omissão, obscuridade, contradição ou dúvida, mas apenas

rediscutir o exame probatório. Embargos desacolhidos. (Tribunal de Justiça do

Estado do Rio Grande do Sul – Primeira Turma Recursal Cível/ Embargos de

Declaração Nº 71003721248/ Relatora: Fernanda Carravetta Vilande/ Julgado em

26.04.2012) (grifo nosso).

O princípio da economia processual tem, no rito especialíssimo dos Juizados Especiais

Cíveis, uma conotação mais acentuada, relacionada com a gratuidade do acesso ao primeiro

grau de jurisdição, no qual há a isenção do demandante no pagamento das custas e com a

facultatividade de assistência das partes por advogado, em demandas que alcancem o patamar

máximo de vinte salários mínimos. Salta aos olhos que tal possibilidade provoca o

barateamento de custos aos litigantes, assentado na economia de despesas que, com a de

tempo e a de atos (economia no processo), configura uma das mais robustas preocupações e

conquistas do Direito Processual na contemporaneidade. Em suma, princípio da economia

processual induz a adoção de instrumentos previstos na própria lei que possibilitem a

compatibilidade entre a solução rápida dos litígios com a menor onerosidade possível.

8 O CRITÉRIO OU PRINCÍPIO DA CELERIDADE

Em um primeiro contato, dita o corolário da celeridade que o processo deve ter uma

solução rápida, de maneira que logre êxito em atender o seu escopo primordial, devendo, pois,

satisfazer o interesse do cidadão que apresentou sua demanda à tutela jurisdicional, quando

necessitava de uma solução eficaz em relação ao tempo em que ela seja útil. Assim, deve

subsistir um critério de decisão que possa assegurar o interesse que recebe a tutela

jurisdicional, no momento em que ele é suscitado. Dessa maneira, os Juizados Especiais

Cíveis florescem como mecanismo de concretização de sobredito objetivo, devendo o juízo

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primar pela solução célere dos litígios sob sua competência. Com destaque, cuida colocar em

evidência que essa é a pedra angular que distingue o processo a ser albergado pelo

procedimento caracterizador da Justiça Comum daquele que correrá pelas vias especializadas

do procedimento do Juizado Especial Cível.

A celeridade, no sentido de se realizar a prestação jurisdicional com rapidez e

presteza, sem prejuízo da segurança da decisão. A preocupação do legislador com a

celeridade processual é bastante compreensível, pois está intimamente ligada à

própria razão da instituição dos órgãos especiais, criados como alternativa à

problemática realidade dos órgãos da Justiça comum, entrevada por toda sorte de

deficiências e imperfeições, que obstaculizam a boa fluência da jurisdição. A

essência do processo especial reside na dinamização da prestação jurisdicional, daí

por que todos os outros princípios informativos guardam estreita relação com a

celeridade processual, que, em última análise, é objetivada como meta principal do

processo especial, por representar o elemento que mais o diferencia do processo

tradicional, aos olhos do jurisdicionado. A redução e simplificação dos atos e

termos, a irrecorribilidade das decisões interlocutórias, a concentração dos atos,

tudo, enfim, foi disciplinado com a intenção de imprimir maior celeridade ao

processo. (BONADIA NETO, 2006, p. 06).

Com destaque, quadra salientar que justamente na função de ser célere que está

domiciliado o diferencial dos Juizados Especiais Cíveis, na condição de um microssistema

processual singular e dotado de rito especial, das demais demandas que tramitam perante a

Justiça Comum. Nessa linha de exposição, salta aos olhos que o princípio da celeridade

recebe especial proeminência em sede de Juizados Especiais Cíveis, só se materializando caso

os demais postulados que permeiam o instituto forem contemplados em sua integralidade,

permitindo que a essência que emoldura a Lei Nº. 9.099, de 26 de setembro de 1995, que

dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências. Assim, a

celeridade configura a prestação jurisdicional com rapidez e presteza, sem que haja com isso

prejuízo à segurança dos pronunciamentos emanados pelo Estado-juiz.

9 A INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO DA INSTRUMENTALIDADE DAS

FORMAS NO MICROSSISTEMA DO JUIZADO ESPECIAL

Em decorrência da mens legis encerrada no microssistema do Juizado Especial,

quadra reconhecer que o princípio da instrumentalidade das formas se apresenta como

corolário robusto para a persecução da duração razoável do processo, assinalando que os atos

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e termos processuais não dependerão de forma determinada, exceto quando a lei, de maneira

expressa, a exigir, reputando-se, via de consequência, válidos os que, realizados de outro

modo, lhe preencham o escopo essencial.

Constitui seguramente a viga mestra do sistema das nulidades e decorre da ideia

geral de que as formas processuais representam tão-somente um instrumento para

correta aplicação do direito; sendo assim, a desobediência às formalidades

estabelecidas pelo legislador só deve conduzir ao reconhecimento da invalidade do

ato quanto a própria finalidade pela qual a forma foi instituída estiver comprometida

pelo vício. (GRINOVER, 2001, p. 28)

Ao lado disso, mesmo quando a lei prescrever forma específica para o ato, sem

cominação de nulidade, o juiz considerará válido o ato se, realizado de maneira diversa, tenha

alcançado o fim colimado. No mais, é de se anotar que a forma, em sede de atos processuais,

afigura-se como meio e não como um fim, logo, o formalismo exacerbado que apenas

contribui para o engessamento desnecessário da tramitação processual não encontra amparo

no contemporâneo cenário processual. Infere-se, nesse primeiro contato, que o princípio da

instrumentalidade das formas apresenta como pano de incidência a aferição de prejuízo ou

não para as partes. Nesta linha de exposição, cuida salientar que, conforme entendimento

apresentado em Habeas Corpus Nº. 278.210, de relatoria do Ministro Jorge Mussi, o Superior

Tribunal de Justiça já assentou visão jurisprudencial que:

No âmbito das nulidades processuais vige o princípio da instrumentalidade das

formas, segundo o qual se protege o ato praticado em desacordo com o modelo legal

caso tenha atingido a sua finalidade, cuja invalidação é condicionada à

demonstração do prejuízo causado à parte, ficando a cargo do magistrado o exercício

do juízo de conveniência acerca da retirada da sua eficácia, de acordo com as

peculiaridades verificadas no caso concreto.

No mais, não é possível assinalar que o apego desmedido à formalidade e à

literalidade do texto positivado atende à essência do processo, que busca fornecer uma tutela

jurisdicional caracterizada pela tempestividade e pela imparcialidade. Ao lado disso, a

repetição imoderada e imprudente da lei é capaz e gerar situações estranhas, em que se

confere menor importância ao escopo a ser alcançado do que ao instrumento processual

empregado para a sua concreção. Quadra, ainda, salientar que o apego desmedido a modelos

pré-estabelecidos traduz a negação da justiça, passando o processo a figurar como um fim em

si mesmo e não como um meio para a materialização dos direitos vindicados pelas partes

envolvidas no litígio. Desta sorte, o princípio da informalidade das formas floresce como um

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axioma para privilegiar a finalidade do ato, não sem a inobservância do procedimento legal,

mas fazendo deste apenas e tão só um expediente para se alcançar o objetivo. Em sede de Lei

Nº. 9.099, de 26 de setembro de 1995, que dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e

Criminais e dá outras providências, o corolário em comento restou salvaguardado,

implicitamente, na redação dos artigos 13 e 14, reafirmando, por mais uma vez, a essência

caracterizadora do microssistema inaugurado. Acerca do tema, Cândido Rangel Dinamarco

edificou magistério no sentido que:

Sem transformar as regras formais do processo num sistema orgânico de armadilhas

ardilosamente preparadas pela parte mais astuciosa e estrategicamente dissimuladas

do caminho incauto, mas também sem renegar o valor que têm, o que se postula é,

portanto, a colocação do processo em seu devido lugar de instrumento que não

pretenda ir além de suas funções; instrumento cheio de dignidade e autonomia

cientifica, mas nada mais do que instrumento. (DINAMARCO, 2005, p. 329).

Oportunamente, cuida reconhecer que o princípio da informalidade das formas

dicciona que, na contemporânea sistemática, na qual se dispensa especial valoração para a

concreção dos direitos pleiteados em Juízo, em consonância, em sede de microssistema dos

Juizados Especiais, com a observância da tábua orientadora, salta aos olhos que sobredito

cânone ganha especial relevo. Tal fato decorre, de maneira robusta, em razão de apregoar que

o apego desnecessário ao formalismo exacerbado apenas contribui para desencadear maior

morosidade e influenciar para o engessamento da marcha processual, perpetuando, de maneira

desnecessária e descabida, o litígio. Nesta senda, o corolário da informalidade desabrocha

como cânone contemporâneo que ambiciona a realização plena dos direitos vindicados no

processo, ambicionando a promoção do processo como mero mecanismo para

substancialização de tais direitos e não como um ser autônomo, cujos direitos nele debatidos

sejam renegados a segundo plano.

10 DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO E JUIZADOS ESPECIAIS

CÍVEIS: INFORMALIDADE E INSTRUMENTALIDADE COMO

PARADIGMAS DE UMA JUSTIÇA MAIS CÉLERE

Em um primeiro momento, cuida salientar que a primeira grande conquista do

Estado Democrático é justamente a de oferecer a todos uma justiça confiável, independente,

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imparcial e dotada de meios que a faça respeitada e acatada pela sociedade. Historicamente, é

possível salientar que o princípio da duração razoável do processo encontra sedimento

estruturante na Convenção Européia de Direitos Homens, ao prescrever que toda pessoa tenha

sua causa julgada em um prazo razoável, assim como na Convenção Americana sobre

Direitos Humanos, também denominada de Pacto São José da Costa Rica, que, de maneira

expressa e cristalina, faz, igualmente, alusão a essa garantia judicial. No mais, cuida anotar

que esse último diploma foi introduzido, na ordem jurídica pátria, por meio do Decreto Nº.

678, de 09 de novembro de 1992, que promulga a Convenção Americana sobre Direitos

Humanos (Pacto São José da Costa), de 22 de novembro de 1969.

Nesta linha de dicção, cuida colocar em destaque que a Emenda Constitucional Nº.

45, de 30 de dezembro de 2004, que altera os dispositivos dos arts. 5º, 36, 52, 92, 93, 95, 98,

99, 102, 103, 104, 105, 107, 109, 111, 112, 114, 115, 125, 126, 127, 128, 129, 134 e 168 da

Constituição Federal, e acrescenta os arts. 103-A, 103-B, 111-A e 130-A, e dá outras

providências, foi responsável por introduzir, no Texto Constitucional, substancial reforma no

Poder Judiciário, notadamente no que compete à expressa consagração do inciso LXXVIII do

artigo 5º da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, assegurando a todos, no

âmbito judicial e administrativo, a razoável duração do processo e os meios que garantam a

celeridade de sua tramitação. Verifica-se, ofuscantemente, que a inserção de tal inciso

materializou reflexo direto da adoção dos ideários provenientes da Convenção Americana

sobre Direitos Humanos, de 22 de novembro de 1969, passando, portanto, a influenciar todo o

ordenamento jurídico.

Trata-se, pois, de importante guinada, no que concerne ao sistema processual

existente, que buscou fomentar a prestação jurisdicional de maneira satisfatória, de maneira a

assegurar que as demandas apresentadas, sobretudo ao Poder Judiciário, não se arrastassem de

modo indefinido, cominando em um sentimento de impunidade para os litigantes. Nesta linha

de exposição, cuida rememorar que a demora na resolução dos conflitos apresentados,

substancializada na emissão do pronunciamento do Estado-juiz, tem o condão de acarretar a

massificação do sentimento de impunidade e de deficiência do Poder Judiciário. Ao lado

disso, cuida trazer à colação que, segundo Cândido Rangel Dinamarco (2004, p. 55), arrazoa

que o tempo substancializa em fator de corrosão de direito, sendo, portanto, um dos

malefícios responsável pelo retardamento do reconhecimento e da satisfação dos direitos

vindicados. Em mesma linha, Bedaque assenta magistério que:

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[...] o tempo constitui um dos grandes óbices à efetividade da tutela jurisdicional, em

especial no processo de conhecimento, pois para o desenvolvimento da atividade

cognitiva do julgador é necessária a prática de vários atos, de natureza ordinatória e

instrutória. Isso impede a imediata concessão do provimento requerido, o que pode

gerar risco de inutilidade ou ineficácia, visto que muitas vezes a satisfação necessita

ser imediata sob pena de perecimento mesmo do direito reclamado. (BEDAQUE,

2009, p. 15).

Nesta linha, infere-se que o comando constitucional tem como destinatário

principal o Estado como um todo, ou seja, deve ser respeitado e efetivado por todos os

poderes e em todas as esferas de governo. Ora, incumbe aos entes federativos e seus órgãos

diligenciar para assegurar que o corolário em comento alcance substancialização e produza os

efeitos almejados. Mais que isso, cuida, ainda, tecer crítica à locução “razoável duração do

processo”, porquanto a acepção de demora é relativa, oscilando, de maneira robusta, de

pessoa para pessoa. Consiste, portanto, em um conceito essencialmente individual, sendo que

para uns processos com duração de seis meses pode ser céleres, ao passo que para outros pode

ser moroso. “A duração razoável do processo, por ser um conceito jurídico indeterminado,

tem a sua efetivação muito dificultada, isso porque, o direito positivo simplesmente

estabeleceu uma regra geral, sem conferir parâmetros ou meios de verificação no caso

concreto” (LACHTER, 2009, p. 11-12).

Ademais, como já sustentou o Ministro Carlos Ayres Britto, ao relatoriar o Habeas

Corpus Nº. 106.518, “o tamanho do direito à razoável duração do processo é ainda maior.

Mais forte a sua compleição. Ele é prioridade das prioridades ou o primus inter pares

procedimental. A plenificar, por consequência, o correlato dever estatal da não negação da

justiça” (BRASIL, 2014). Prima sublinhar que a locução duração razoável do processo

reclama interpretação consoante as circunstâncias particulares da espécie em julgamento,

adotando-se, para tanto, três critérios primordiais, a saber: (i) a complexidade das questões de

fato e de direito discutidas no processo; (ii) o comportamento da parte e de seus procuradores;

e (iii) as atuações dos órgãos jurisdicionados no caso concreto. (DIAS, 2004, p. 200).

Verifica-se, assim, que plurais são os aspectos a serem considerados para que se possa atribuir

a razoabilidade esperada na tramitação de determinado processo, não sendo, assim, um

conceito restrito e milimetricamente

Em se tratando, primacialmente, dos Juizados Especiais Cíveis, para que haja a

concretização do preceito constitucional da razoável duração do processo, é necessário que se

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efetivem reais mudanças no sistema processual que o socorre, estabelecendo-se normas

infraconstitucionais que permitam soluções mais próximas de sua realidade. Nessa linha de

exposição, ao direcionar o princípio constitucional da duração razoável do processo, em sede

de microssistema dos Juizados Especiais, em decorrência da tábua axiológica de celeridade,

quadra reconhecer a assunção de proeminente saliência, notadamente em razão da mens legis

contida no diploma orientador. Neste passo, mister faz-se anotar que para a concreção de tal

ideário, os corolários de informalidade e de instrumentalidade afiguram como especial

substrato, eis que contribuem para tal fito.

11 COMENTÁRIOS FINAIS

De plano, carecido faz-se compreender de que a criação do microssistema dos

Juizados Especiais deveu-se aos destinatários que possuíssem causas de solução dotadas de

maior simplicidade e de diminuta expressão econômica, os Juizados Especiais Cíveis,

instituídos em 1995, devendo primar pela concretização dos objetivos de efetivação da tutela

jurisdicional de forma rápida, ou seja, que se preste a satisfazer o interesse do cidadão em

tempo razoável à utilidade daquela tutela. Assim, é possível afirmar que o processo ajuizado

perante o microssistema dos Juizados Especiais, além de ser célere, simples e informal, deve,

igualmente, trilhar pela via mais econômica, buscando sempre o aproveitamento dos atos

processuais, reduzindo os custos do processo e encontrando alternativas que representem um

menor ônus tanto para o Poder Judiciário quanto para o cidadão que pretende ver seu interesse

tutelado de forma mais econômica.

Salta aos olhos que a edificação de tais ideários caminhou pela adoção de critérios e

princípios que buscassem assegurar uma maior celeridade ao microssistema inaugurado, o que

se tornou, ainda mais, substancial com a introdução do inciso LXXVIII no artigo 5º da

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, estabelecendo que os processos,

tanto em âmbito administrativo, quanto na seara jurídica, deveriam apresentar uma duração

razoável. Objetivou-se, assim, dinamizar o tradicional sistema processual que vigorava,

assegurando o desenvolvimento da marcha processual de maneira mais célere. Para tanto, é

imperioso reconhecer que os princípios da informalidade das formas e da instrumentalidade

atuam como verdadeiro ponto nevrálgico para a persecução de tal ideário.

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