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  • 8/20/2019 drogadição e psicologia.pdf

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    AAAAAno 6 nº 22 • Mno 6 • nº 22 • Mno 6 • nº 22 • Mno 6 • nº 22 • Mno 6 • nº 22 • Maio 2009aio 2009aio 2009aio 2009aio 2009

    D ro gadicção e Psico log ia:abo rdagens e intervenções po ssíveis

    O u so d e álcoo l e ou tras drogas afeta, em âmb ito m un dial, toda a so ciedade. A Psicologiatambém se insere nesse debate e aparece com o im po rtante personagem p ara a dim inuição dos

    estigm as sociais que rotu lam ess es usu ários. Para tentar entend er essa relação, o Jorn al doCRP-RJ conversou com profissio nais da área sobre sua prática – Págs. 3 a 13

    Obituário: Mar ia Beatriz Sá Leitão ( 1944-2009) - Pág. 1418 de m aio: Dia da Luta Antimanicomial - Pág. 15

    CRP-RJ par ticipa  do CON PSI - Pág. 192009: Ano da Psicoterapia - Pág. 20

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    Jornal do CRPJornal do CRPJornal do CRPJornal do CRPJornal do CRP-RJ-RJ-RJ-RJ-RJPág. 2

    Filiado à Un ião Latino Am ericana deEntidades de Psicologia (U LAPSI)

    CCCCCarara rarar tas partas partas partas partas para o Ja o Ja o Ja o Ja o Jooooorrrrr nal dnal dnal dnal dnal do CRPo CRPo CRPo CRPo CRP-RJ d-RJ d-RJ d-RJ d-RJ deeeeevvvvveeeeem sem sem sem sem serrrrreeeeennnnnvvvvviaiaiaiaia das pardas pardas pardas pardas para a sea a sea a sea a sea a seddddde de de de de do Co Co Co Co Cooooon sen sen sen sen selho oulho oulho oulho oulho ou

    p arparp arparp ar a o e-maila o e-maila o e-maila o e-maila o e-mail as c as c as c as c as c o o o o o m@cr m@cr m@cr m@cr m@cr  p  p  p  p  p r j r j r j r j r j .o .o .o .o .o r g r g r g r g r g .b .b .b .b .b r r r r r 

    CCCCCooooon sen sen sen sen selho Rlho Rlho Rlho Rlho Reeeeegggggioioioioio nal dnal dnal dnal dnal de Pe Pe Pe Pe Psicsicsicsicsi co loo loo loo loo logggggiaiaiaiaiaddddd o Ro Ro Ro Ro Rio dio dio dio dio de Je Je Je Je Jan ean ean ean ean eiririririr o – CRPo – CRPo – CRPo – CRPo – CRP-RJ-RJ-RJ-RJ-RJ

    Rua Delgado d e Carvalho, 53 – Tijuca - CEP: 20260-280

    Tel/Fax: (21) 2139 5400 - E-m ail: [email protected]: www.crprj.org.br

    Os conceitos emitidos nos art igos assinados são de

    responsabilidade dos autores, não refletindo necessariamente aopinião d o CRP-RJ.

    O Jornal do CRP-RJ é uma publicação doConselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro.

    DDDDD iririririr eeeeetttttooooo rrrrr ia Eia Eia Eia Eia Exxxxxeeeeecucucucucu ttttt iiiiivvvvva:a:a:a:a:José Novaes – presidente - CRP 05/980Eliana Olinda Alves - vice-presidente - CRP 05/24612Marilia Alvares Lessa – tesoureira - CRP 05/1773Maria da Conceição Nascimento - secretária - CRP 05/26929

    MMMMMeeeeem bm bm bm bm brrrrros Ef os Ef os Ef os Ef os Ef eeeeettttt iiiiivvvvvos :os :os :os :os :Ana Carla Souza Silveira da Silva - CRP 05/18427Francisca d e Assis Rocha Alves - CRP 05/ 18453José Henrique Lobato Vianna - CRP 05/18767Lindomar Expedito Silva Darós - CRP 05/20112

    Lygia Santa Maria Ayres - CRP 05/1832Márcia Ferreira Amêndola - CRP 05/24729Noeli de Almeida Godoy de Oliveira - CRP 05/24995Pedro Paulo Gastalho d e Bicalho – CRP 05/26077Samira Younes Ibrah im - CRP 05/7923Vivian de Almeida Fraga - CRP 05/30376Wilma Fernandes Mascarenhas - CRP 05/27822

    MMMMMeeeeem bm bm bm bm brrrrros Sos Sos Sos Sos Supleupleupleupleuplen tn tn tn tn tes:es:es:es:es:Ana Lúcia de Lemos Furtado - CRP 05/0465Ana Maria Marqu es Santos - CRP 05/18966Elizabeth Pereira Paiva - CRP 05/4116Érika Piedade da Silva Santos - CRP 05/20319Maria Márcia Badaró Bandeira - CRP 05/2027

    Rosilene Souza Gom es de Cerqueira - CRP 05/10564Vanda Vasconcelos Moreira - CRP 05/6065

    CCCCCooooomissão Editmissão Editmissão Editmissão Editmissão Editooooo rrrrr ial:ial:ial:ial:ial:José NovaesMarilia Alvares LessaNoeli GodoyRosilene Cerqueira

    JJJJJooooo rrrrrnalista Rnalista Rnalista Rnalista Rnalista Respespespespesp ooooonsávnsávnsávnsávnsáveeeeelllll

    Marcelo Cajueiro - MTb 15963/97/79

    PPPPPrrrrrooooo je je je je je ttttto Go Go Go Go Gráficráficráficráficráficooooo

    Octavio Rangel

    RRRRReeeeedaçãodaçãodaçãodaçãodaçãoBárbara Skaba (jorn alista)

    Felipe Simões (estagiário)

    PPPPPrrrrroooooddddd ução Editução Editução Editução Editução Editooooorrrrr ialialialialial

    Diagrama Comu nicações Ltda.

    (21) 2232-3866 / 3852-6820

    IIIIIm pm pm pm pm prrrrressãoessãoessãoessãoessão

    Editora EDIOURO

    TTTTTiririririr agagagagageeeeem / Pm / Pm / Pm / Pm / P eeeeerrrrr ioioioioio dicidadicidadicidadicidadicidaddddd eeeee

    30.000 exemplares / Bimestral

    O J O J O J O J O J o o o o o r r r r r nal d nal d nal d nal d nal d o CRP o CRP o CRP o CRP o CRP -RJ já está u -RJ já está u -RJ já está u -RJ já está u -RJ já está u t t t t t ilizand ilizand ilizand ilizand ilizand o as no o as no o as no o as no o as no v v v v v as r as r as r as r as r e e e e e g g g g g r r r r r as o as o as o as o as o r r r r r t t t t t o o o o o g g g g g ráficas da língu a p ráficas da língua p ráficas da língu a p ráficas da língua p ráficas da língua p o o o o o r r r r r t t t t t uguesa.uguesa.uguesa.uguesa.uguesa.

    A problematização da temática em voga diz

    respeito à postura p olítica do XII Plenário do

    CRP-RJ, o qual tem presenciado, principalm en-

    te no contexto fluminense, a proliferação da

    mo ralização, normat ização e patologização dos

    discursos e práticas em torno dos usuários de

    álcool e outras drogas. Portanto, afirmar u ma

    ética na prática pr ofissional da Psicologia qu e

    desconstrua os pré-julgamentos e que despo-

    tencialize o movim ento de crim inalização dosusuários é uma questão premente para a atual

    gestão d o Con selho.

    A presente pub licação vem n a esteira de afir-

    mação de tal ética, a qual está intimamente

    conectada à perspectiva dos Direitos Hum anos.

    Produ zir cond ições ao debate, desconstru ir dis-

    cursos serializantes e segregadores e afirmar a

    diferença enq uanto possibilidade de invençãode form as de vida são os d ispositivos teórico-

    metodológicos que orientam as práticas do

    CRP-RJ no debate em qu estão e que comp õem

    este jornal.

    O Sistema Conselhos d e Psicologia, através

    do Cent ro de Referência Técniccccca em Psicologia

    e Políticas Públicas (CREPOP), elegeu o tema

    ‘Álcool e ou tras Dr ogas’ como um dos ciclos de

    pesquisa em 2009. O CREPOP é um dispositivo

    técnico-político criado par a m apear e referenciar

    a prática d os(as) psicólogos(as) nas po líticas pú-

    blicas. Para tanto, são selecionado s anualm ente

    quat ro tem as de relevância no cenár io social, os

    quais comp orão os ciclos de pesquisa.O debate acerca das drogas lícitas e ilícitas

    tem sido uma tônica no cotidiano de nossas

    práticas, seja no cam po d a educação, da justi-

    ça, da saúde, do esporte, ou outr as áreas. Des-

    de o in ício de 2009, o CRP-RJ tem fomentad o

    a temática do uso e abuso de álcool e outras

    drogas, participando d as discussões em insti-

    tuições pú blicas e organizações não-governa-mentais e promovendo atividades com os(as)

    psicólogos(as), a exemp lo dos dois grupo s rea-

    lizados pelo CREPOP: um em Macaé e outro

    na cidade do Rio de Janeiro.

    Problem atização do tema “drogadicção”

    sobre o cronograma de eventos e atividades doCRP-RJ, de universidades e outras instit uições.

    Já na seção Concursos, são divulgados os con-cursos púb licos que ofereçam vagas a psicólogosdo estado do Rio , além d o acompanhemento deconcursos em andam ento.

    No link “newsletter”, é possível se cadastr ar p arareceber, por e-m ail, um in f in f in f in f in f ooooorrrrrm atm atm atm atm at iiiiivvvvvo seo seo seo seo semanalmanalmanalmanalma nal com

    as últimas n otícias do CRP-RJ. Mantenh a-se sem -pre atu alizado sobre sua profissão!

    Psicólogo(a), fique conectad o às novidades daPsicologia! Acompan han do nosso site , além de seman ter informado com not ícias constantement eatua lizadas sobre o q ue diz respeito à P sicologia eàs ações do CRP-RJ, é possível encontrar muitas

    outras inform ações.Na página, estão disponíveis os horários de

    expediente, endereços e telefones de contato dasede e das subsedes do CRP-RJ, bem como links

    para consulta e download da tabela de hono rári-os sugerida pelo CFP e do Có digo de Ética do psi-cólogo. Encont ram -se, no espaço Atendimento,dados de orientação sobre os procedimentos deregistro profissional no Conselho, assim com o ou -tros links   para recadastramento e obtenção do

    boleto online .Acessando a página Agenda , é p ossível saber

    Site  do CRP-RJ

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    Jornal do CRP-RJJornal do CRP-RJJornal do CRP-RJJornal do CRP-RJJornal do CRP-RJ Pág. 3

    em que esse psicólogo pode atuar inserido naspolíticas públicas. “O psicólogo é um profissionalreconh ecidam ente necessário nos diversos níveis

    de comp lexidade da atenção às pessoas que usam ,abusam ou m anifestam problemas de dependên-cia decorrentes do uso indevido de álcool e out rasdrogas. Sua atu ação, na área p ública, pode se de-senvolver tant o nos dispositivos de atenção diária(CAPS-ad) quan to nos am bulatórios, nos hospi-tais-dia, nos leitos de hospit al-geral, na rede bási-ca de saúde, assim como n os Programa s de Saúdeda Fam ília e Agentes Com un itário s de Saúd e”.

    Entre esses dispositivos, destaca-se o CAPS-ad(Cen tro d e Atenção P sicossocial – Álcool e Dro-

    gas), que t rabalha o conceito de “su- jeito” em sua com plexidade e de form anão isolada, integrando o saber d a co-munidade.

    A psicóloga Cristiane M azza (CRP05/18993), coordenadora técnica doCAPS-ad Raul Seixas, no en tan to, cha-

    ma a aten ção para o per igo de se jogarpara os C APS toda a responsabilida-de da atenção a usuários de drogas.“O desenvolvimento do m odelo de re-abilitação psicossocial, traduzido eminstituições do tipo CAPS, tem se cons-tituído como eixo central das açõesinovadoras no campo da saúde men-tal brasileira. Entretanto, o fato doCAPS ter se mostrado um dispositivo

    consequente para atenção ao usuáriode dro gas não significa que o psicólo-go e os dem ais profissionais de saúdeque atuam em ambulatórios, hospi-tais gerais, enfermar ias psiquiátricas e

    emergências psiquiátricas não tenham que assu-mir responsabilidades em relação a essa clientela”.

    Out ro risco, segund o M arise Ramôa, é fazerdo C APS um a espécie de “modelo fixo”, que não

    perm ita outr as form as de intervenção. “É o peri-go do especialismo, no qual passa a existir o mo -delo ‘capscênt rico’, conform e nos ap ont a PauloAmarante. Os psicólogos devem pensar e repen -sar sempre sua p rática, no sentid o de avaliar a ser-viço do que ou de quem ela está. Por isso, acho qu edevemos desenvolver um a clínica mais territorial,levando em con sideração a cultur a local e traba-lhando também com ações na própria comunida-

    de”, ressalta.

    fesa Civil do Rio de Janeiro , e ex-con selheiro doCRP-RJ, destaca a atu ação do p rofissional d e Psi-cologia na área de políticas públicas para drogas.

    “O psicólogo, além de suas práticas específicas,pode agregar esforços no fortalecimen to das polí-ticas que favoreçam o acesso universal dos usuári-os de drogas ao sistema público de saúde, de for-m a que essas pessoas possam se beneficiar de in-tervenções prevent ivas e assistenciais que estejamefetivamente comp rometidas com a p romoção dasua saúde e não com as exigências ou con tingênci-as ideológicas eman adas de líderes políticos,

    gestores ou gerentes pú blicos tran sitórios”.Mar ise de Leão Ramôa (CRP 05/14615), mes-

    tre e dout ora em Psicologia Clínica pela PUC-Rio,psicóloga da Rede de Proteção ao Educando(SME/RJ) e supervisora do CAPS-ad ManéGarrincha, por sua vez, afirma que a intervenção

    desse profissional deve ser focada n o sujeito e n ãoem um a sup osta “doença”. “Trata-se de trabalharno cam po de produção d e subjetividades, no des-mo nte d as identidades rígidas, pois a ênfase e ovalor, quand o definimos a depend ência como qu í-mica, encontram -se na substância. Penso que, paraatuar mo s em po líticas púb licas, precisamo s olharpara o sujeito e colocar a doença ent re parênt eses,com o no s indicou Fr anco Basaglia”.

    Nelio Zuccaro r essalta que h á vários espaços

    Segundo a Organização Mundial de Saúde(OM S), cerca de 10% das populações de centrosurbanos do m undo consomem abusivamente subs-

    tâncias psicoativas. Em todo o planeta, cresce cadavez mais o debate sobre como lidar com essa ques-tão. Nesse contexto, a Psicologia aparece com oum a importan te personagem, seja na promoçãoda qualidade de vida da popu lação, na redu çãodos estigmas sociais com que sofrem os u suáriosou no seu tratamento.

    O C onselho Regional de Psicologia do Rio deJaneiro se insere nessa discussão e acredita q ue é

    preciso descrimin alizar e despato logizar o uso dedrogas, trabalhando com os próprios usuáriosformas de acompanhamento e cui-dado. Para pensar a questão de ál-cool e outras drogas, o Jornal doCRP-RJ ouviu psicólogos e out rosprofissionais de áreas com o saúdem ental, assistência social, med icinae justiça para d ebater os atr avessa-

    men tos desse camp o.Ao falar sobre a Psicologia inse-r ida no âmbito d as substânciaspsicoativas, a primeira qu estão queaparece é de qu e formas os p sicólo-gos podem atu ar nessa área. Deacordo com Andrea Dom anico ,pós-doutora em Prevenção pelaUniversidade de Toronto e atualbolsista do Departam ento d e Esta-

    do d os EUA na área de po líticas pú-blicas para a Saúde, “há várias for-mas de se trabalhar com dependen-tes químicos, mas penso que o m aisimportan te é a que atende ao pedi-do do p aciente, que o ajuda a pensar e agir sobreo seu uso d e drogas”.

    A psicóloga Valeria Alves Pinh eiro ( CRP 05/ 18640), do Centro de Tratamento em Depend ên-

    cia Quím ica Roberto M edeiros (Secretaria Esta-dual de Adm inistração Penitenciária), concorda.“O trabalho do psicólogo deve estar atrelado àideia de coparticipação para o alcance de um a vidaprod utiva e socialmen te construtiva pelo usuário,propo ndo a assunção de responsabilidades e desua autorregulação”, afirma.

    Nelio Zuccaro (CRP 05/1638), psicólogo t éc-nico da Gerência de DST/Aids, Sangue e H emo-

    derivado s da Secretaria de Estado d e Saúd e e De-

    D ro gadicção e Psicolo gia: abo rdagens e intervençõ es po ssíveis

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    Jornal do CRPJornal do CRPJornal do CRPJornal do CRPJornal do CRP-RJ-RJ-RJ-RJ-RJPág. 4

    •Drogadicção e PsicologiaDrogadicção e PsicologiaDrogadicção e PsicologiaDrogadicção e PsicologiaDrogadicção e Psicologia Maio de 2009•

    “O psicólogo precisa estar voltado para umresgate da saúde e, para tanto , ter um a atuaçãointeracion al com outr os profissionais de distin-

    tas áreas do conhecimen to e também com diver-sas institu ições, organizações ou ou tros, de for-ma a contar com um núm ero variado de apoiospara esse trab alho jun to ao su jeito”, acrescentaValeria. Para a psicóloga, essa interação deve sedar “de maneira qu e as diferentes cont ribuições‘conversem ’, troqu em en tre si, sem que pa ra issodeixe de existir especificidades que, na trans-versalização, se submeterão a novos pontos de

    vista e viabilizarão int ervenções não con sidera-das anteriormente”.

    Redução de danosRedução de danosRedução de danosRedução de danosRedução de danos

    Para os entrevistados, a melhor form a de tra-balhar com usuários de álcool e outras drogas écom a cham ada redução de danos (RD) (veja boxsobre o histórico da RD n o Brasil na página 5). Deacordo com Andrea, “a redução de danos é u m

    conjunt o de estratégias que visa a min imizar osdano s causados pelo uso de drogas: danos sociais,dano s à saúde. Parte do prin cípio de que as drogascausam dan os, mas estes podem ser minim izados,e defende o direito d e opção das pessoas de usa-rem d rogas ou não, o que é baseado nos princípi-os dos Direitos Hum ano s”.

    Segundo Cristiane, o que orienta a redu ção dedan os é o respeito à liberd ade de escolha. “Os es-tudos e a experiência dos serviços demonstram quemu itos usuários, por vezes, não conseguem e/o unão qu erem d eixar de usar drogas e, mesmo esses,precisam t er o risco de in fecção pelo H IV, hepati-te, tuberculoses e outras doenças evitados ouminimizados”.

    Com esse propósito, a política de redução dedanos traz ações que dim inuam riscos associadosà droga, como o  compart ilhamento d e seringas eagulhas para o uso injetável ou d e canudos e ca-

    chimbos para consumo do crack, práticas sexuaisde risco para DST/Aids e hepatite, condução deveículos em estado d e intoxicação ou emb riaguez,exposição a situações de violência para o bter e/o uusar as dr ogas etc. Assim, algumas pr áticas da RDincluem, por exemplo, distribuição de seringasdescartáveis e de preservativos ou a substituiçãode dr ogas ma is “pesadas” por ou tras m ais “leves”.

    Mas a redução de danos vai muito além dessas

    ações. “A RD não se restr inge a esse tipo de p rática,

    Segundo os entrevistados, outro pont o essen-cial para o psicólogo que atu a com usuários dedrogas é trabalhar sempre junto a outras áreas,prom ovendo um a interdisciplinaridade. “A com-plexidade dos problemas relacionados ao uso pre-

     jud icial de álco ol e out ras dr ogas exige qu e os psi-cólogos e dem ais profissionais destes serviços este-

     jam capacitad os e disp on íveis para assistên cia des-ses pacient es, articulan do-se com ou tro s serviçosda saúd e e com outros setores”, afirm a Cr istianeMazza.

    Nesse sentido, o médico M arcelo Cunha, co-ordenador do Núcleo de Direitos Humanos daSecretaria Mun icipal de Assistência Social do Riode Janeiro, declara a importân cia de o seu trab a-lho se dar não só junt o a outr os profissionais desaúde, mas também com o restante da sociedade.

    “Hoje, tentamos fazer a sociedade entender q ue aquestão d e álcool e outr as drogas não diz respeitosomen te à saúde e à assistência social. É um fenô -m eno qu e atravessa a todo s nós”.

    “Há várias form as “Há várias form as “Há várias form as “Há várias form as “Há várias form as 

    de se trabalhar com de se trabalhar com de se trabalhar com de se trabalhar com de se trabalhar com dependentes  dependentes  dependentes  dependentes  dependentes  

    químicos, mas químicos, mas químicos, mas químicos, mas químicos, mas 

     pen so qu e o m ai s  pen so que o m ai s  pen so qu e o m ai s  pen so que o m ai s  pen so que o m ai s importante é a que importante é a que importante é a que importante é a que importante é a que 

    atende ao pedido do atende ao pedido do atende ao pedido do atende ao pedido do atende ao pedido do  pac ien te, qu e o  pac ien te, qu e o  pac ien te, qu e o  pac ien te, qu e o  pac ien te, qu e o 

    ajuda a pen sar e agir sobre o seu uso de ajuda a pen sar e agir sobre o seu uso de ajuda a pen sar e agir sobre o seu uso de ajuda a pen sar e agir sobre o seu uso de ajuda a pen sar e agir sobre o seu uso de 

    d r d r d r d r d r o o o o o g g g g g as as as as as ” ” ” ” ” .....

    Andrea DomanicoAndrea DomanicoAndrea DomanicoAndrea DomanicoAndrea Domanico

    “ “ “ “ “ A c A c A c A c A c o o o o o n st n st n st n st n st r r r r r ução da ução da ução da ução da ução da 

    cida cida cida cida cida dania d  dania d  dania d  dania d  dania d  o o o o o 

    u s u s u s u s u s u ár u ár u ár u ár u ár io d io d io d io d io d e d r e d r e d r e d r e d r o o o o o g g g g g as as as as as 

    fr fr fr fr fr e e e e e n t n t n t n t n t e à ile e à ile e à ile e à ile e à ile g g g g g alida alida alida alida alida d d d d d e e e e e d d d d d e s e s e s e s e s uas p uas p uas p uas p uas p r át r át r át r át r át icas icas icas icas icas 

    r r r r r e e e e e  p  p  p  p  p r r r r r ese ese ese ese ese n t a u m d  n t a u m d  n t a u m d  n t a u m d  n t a u m d  o s o s o s o s o s 

    maio  maio  maio  maio  maio  r r r r r es impasses es impasses es impasses es impasses es impasses  p ar  p ar  p ar  p ar  p ar a o a o a o a o a o 

     p lan e  p lan e  p lan e  p lan e  p lan e  j  j  j  j  j am e am e am e am e am e n t n t n t n t n t o e a e o e a e o e a e o e a e o e a e x x x x x e e e e e cução d cução d cução d cução d cução d e p e p e p e p e p olít olít olít olít olít icas d icas d icas d icas d icas d e e e e e 

    saúd saúd saúd saúd saúd e q e q e q e q e q u e v u e v u e v u e v u e v alo alo alo alo alo r r r r r iz iz iz iz iz e e e e e m os D m os D m os D m os D m os D ir ir ir ir ir e e e e e it it it it it o s H os H os H os H os H u m a n o s  u m a n o s  u m a n o s  u m a n o s  u m a n o s  

    e r e r e r e r e r esp esp esp esp esp e e e e e it it it it it e e e e e m a au  m a au  m a au  m a au  m a au  t t t t t o o o o o n o n o n o n o n o mia d  mia d  mia d  mia d  mia d  os s os s os s os s os s u je u je u je u je u je it it it it it o s o s o s o s o s ” ” ” ” ” .....

    NNNNNeeeeelio Zlio Zlio Zlio Zlio Zu cu cu cu cu cca rca rca rca rca rooooo

    ma s visa a subverter os conceitos am plam ente di-fundidos no senso com um de abordagem da ques-tão das drogas, cuja principal bandeira é a

    ‘demonização’ das mesmas”, afirma Cristiane. Se-gundo ela, entre as m uitas práticas da RD estãoainda atividades de informação, educação e co-mu nicação, aconselhament o e vacinação contrahepatite.

    De acordo com Marise, a noção de sujeito trazpara o camp o da Redução de Danos, da Preven-ção e Promoção da Saúde a ideia de ‘prota-gonism o’. “Não falam os de doen tes, nem do u so

    de dro ga como crim e. Existe, na pr ática da RD, aconstrução de um saber comum ; são os própriosusuários que vão dando inform ações para a cons-tru ção das ações. Eles deixam de ser p assivos (do-entes) ou m arginais, para se transform arem emcidadão s com am plos direitos”.

    Opinião parecida apresenta N elio: “No traba-lho de redução d e danos, a abstinência às drogaspode vir a ser um dos objetivos a serem alcança-

    dos, mas não pode ser o único pretendido n em oprim eiro a ser esperado. É inconcebível que um apessoa que não aceite ou n ão consiga a abstinên-cia, de form a imediat a, seja alijada de acolhim en-to e de tratament os em um estabelecimento de saú-de. É preciso considerar a d iversidade que estápresente nos múltiplos modos de se consum ir pro-dut os psicoativos”.

    Para Valeria, a RD é im portan te exatamenteporqu e, ao procurar ent ender os motivos dos usu-ários, apresenta-se como um a propo sta realista.“A redução de dan os se estrutu ra em d ados factuais,consideran do qu estões sociais e políticas para suaefetivação, entend endo ainda qu e as substânciaspsicoativas estão historicament e presentes na vidahum ana e o pr opósito de sua total eliminação se-ria inviável”.

    Com o afirma Andr ea, é essencial destacar quea redução de dano s pode ser inserida em qualquer

    área da Psicologia. “Nossa profissão é bastantediversa e permite que possamos atuar nas maisdiferentes especialidades dentro da ót ica da redu-ção de danos, um a vez que ela respeita a auto no-m ia e os Direitos Hu m ano s”. Ent re essas áreas, apsicóloga cita: a clínica (discussão com o pacientesobre os dano s que a d roga causa nas suas relaçõese construção com ele de estratégias para m inimizaresses danos); a hospitalar (garan tia de que o paci-

    ente identificado como u suário de drogas não seja

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    Jornal do CRP-RJJornal do CRP-RJJornal do CRP-RJJornal do CRP-RJJornal do CRP-RJ Pág. 5

    “ “ “ “ “ O t O t O t O t O t r r r r r abalho d abalho d abalho d abalho d abalho d o o o o o 

     p sicó lo  p sicó lo  p sicó lo  p sicó lo  p sicó lo g g g g g o c o c o c o c o c o o o o o m o m o m o m o m o 

    d d d d d e e e e e  p  p  p  p  p e e e e e n d n d n d n d n d e e e e e n t n t n t n t n t e q e q e q e q e q uímic uímic uímic uímic uímic o o o o o 

    d d d d d e e e e e v v v v v e estar at e estar at e estar at e estar at e estar at r r r r r e e e e e la la la la la d d d d d o à o à o à o à o à id id id id id e e e e e ia d ia d ia d ia d ia d e e e e e 

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    o alcanc o alcanc o alcanc o alcanc o alcanc e d e d e d e d e d e uma e u m a  e uma e u m a  e uma v v v v v ida p ida p ida p ida p ida p r r r r r o o o o o d d d d d u u u u u t t t t t i i i i i v v v v v a e a e a e a e a e 

    so so so so so cialme cialme cialme cialme cialme n t n t n t n t n t e c e c e c e c e c o o o o o n st n st n st n st n st r r r r r u u u u u t t t t t i i i i i v v v v v a p a p a p a p a p e e e e e lo us  lo us  lo us  lo us  lo us  u ár u ár u ár u ár u ár io io io io io ,,,,,

     p  p  p  p  p r r r r r o o o o o  p  p  p  p  p o o o o o n d n d n d n d n d o a ass o a ass o a ass o a ass o a ass unção d unção d unção d unção d unção d e r e r e r e r e r esp esp esp esp esp o o o o o nsab nsab nsab nsab nsab ilida ilida ilida ilida ilida d d d d d es es es es es 

    e d e d e d e d e d e s e s e s e s e s ua au ua au ua au ua au ua au t t t t t o o o o o r r r r r r r r r r e e e e e gulação gulação gulação gulação gulação ” ” ” ” ” .....

    VVVVVal eal eal eal eal errrrr ia Pinheia Pinheia Pinheia Pinheia Pinheiririririr ooooo

    Neste caso, a pessoa passa a ser conden ada social-men te. Então, além d e repensar sua questão emrelação ao con sumo de drogas, ela ainda vai terqu e refazer seus laço s sociais”.

    No q ue se refere aos usuários de álcool, o fatode essa ser um a droga aceita socialmen te pod e adi-

    ar ou im pedir a busca de ajuda. É o que acreditaCristiane: “O que p odemo s destacar como dife-rença entr e os alcoolistas e os usuários de out rasdrogas é que os prim eiros chegam aos serviços desaúde após um longo percurso de consumo com -pulsivo de álcool, sem nu nca ter procur ado aju-da. A consequência disso é que as perdas geradaspor esse problema atingem de form a devastadoravários aspectos de suas vidas. Além disso, é co-m um apresenta rem p roblem as clínicos graves”.

    Out ra substância que não recebe a mesma aten-ção é o medicam ento, cuja com ercialização é líci-ta e, m uita s vezes, banalizada. “Temo s que fazerum a discussão séria em relação à medicalização.

    discrimin ado no serviço de saúde); a social (atua-ção na “rua” e supervisão de equ ipes que fazem otrabalho d e acesso para im plemen tação das estra-

    tégias de redução de dan os); e a comun itária (tra-balho com a comunidade para a desconstruçãodo estigma do u suário).

    Muitos pro fissionais ressaltam aind a que a RDé um a forma eficaz de diminuir o preconceito quesofrem os usuários de drogas. “As estratégias deredução de danos constroem, gradativamente, umlugar social para m uitos sujeitos a partir de umparâm etro ético que enfrenta os mecanismos de

    exclusão, favorecendo a presença de con dições demaior respeito e de maior aceitabilidade socialpar a as escolhas pessoais”, afirma Nelio. Para ele,isso é imp ortan te porq ue o estigma social faz comque m uito s usuários de drogas (lícitas ou ilícitas)“busquem proteger-se evitando revelar sua con-dição de saúde peran te a sociedade, o sistema desaúde ou profissionais pouco respeitosos com seusháb itos e escolhas pessoa is”.

    O psicólogo acredita ainda que ideia de quetodo consumidor de substância psicoativa segui-rá um caminh o que o levará ao crime, à doençaou à mort e faz parte de um a estratégia repressiva,que precisa ser mudada. “Compreender e prio-rizar as intervenções sob a ót ica da redução d edanos significa adotar uma estratégia de saúdecomp rovadament e eficaz. A construção d a cida-dan ia do usuár io de drogas frente à ilegalidade desuas práticas representa um dos maiores imp assespara o p lanejamento e a execução de políticas desaúde que valorizem os Direitos Hum anos e res-peitem a auton omia dos sujeitos”.

    A questão d o lícito x ilícitoA questão d o lícito x ilícitoA questão d o lícito x ilícitoA questão d o lícito x ilícitoA questão d o lícito x ilícito

    Outra importante discussão que se trava noâm bito das dro gas é a relação entr e as substânciasilícitas e as lícitas, tais com o álcool, medicam en-tos e tabaco (veja matéria sobre a indústria do

    fumo na página 9). Apesar de todas serem consi-deradas substâncias psicoativas, há m uito m enospreconceito e estigmatização social com relaçãoàs segundas, que, além de p ermitidas, costumamser incentivadas socialment e.

    Segun do And rea, “a diferença se passa na acei-tação do u suário e dos que o cercam. Ser alcoolistaé ruim , mas ser usuário d e drogas é mu ito pior,porque a pessoa é vista como um bandido que in-

    centiva a violência e foment a o t ráfico de drogas.

    “ “ “ “ “ Os p sicólo Os p sicólo Os p sicólo Os p sicólo Os p sicólo g g g g g o s o s o s o s o s 

    d d d d d e e e e e v v v v v e e e e e m p m p m p m p m p e e e e e nsar e nsar e nsar e nsar e nsar e 

    r r r r r e e e e e  p  p  p  p  p e e e e e nsar se nsar se nsar se nsar se nsar se m p m p m p m p m p r r r r r e s e s e s e s e s u a u a u a u a u a 

     p  p  p  p  p r át r át r át r át r át ica,ica,ica,ica,ica, no se no se no se no se no se n t n t n t n t n t id id id id id o o o o o d d d d d e a e a e a e a e a v v v v v aliar a se aliar a se aliar a se aliar a se aliar a se r r r r r v v v v v iç o iç o iç o iç o iç o 

    d d d d d o q o q o q o q o q ue ou d  ue ou d  ue ou d  ue ou d  ue ou d  e q e q e q e q e q u e u e u e u e u e m m m m m 

    e e e e e la está.la está.la está.la está.la está. P P P P P o o o o o r isso r isso r isso r isso r isso ,,,,,

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    d d d d d ese ese ese ese ese n n n n n v v v v v o l o l o l o l o l v v v v v e e e e e r u m a c  r u m a c  r u m a c  r u m a c  r u m a c  línica mais t línica mais t línica mais t línica mais t línica mais t e e e e e r r r r r r r r r r it it it it it o o o o o r r r r r ial,ial,ial,ial,ial,

    le le le le le v v v v v an d an d an d an d an d o e o e o e o e o e m c m c m c m c m c o o o o o nsid nsid nsid nsid nsid e e e e e r r r r r ação a cult ação a cult ação a cult ação a cult ação a cult u r u r u r u r u r a lo a lo a lo a lo a lo cal e cal e cal e cal e cal e 

    t t t t t r r r r r abalhand abalhand abalhand abalhand abalhand o também c  o t ambém c  o t ambém c  o t ambém c  o t ambém c  o o o o o m ações na m ações na m ações na m ações na m ações na 

     p  p  p  p  p róp róp róp róp róp r r r r r ia c ia c ia c ia c ia c o o o o o m m m m m un ida  un ida  un ida  un ida  un ida  d d d d d e e e e e ” ” ” ” ” .....MMMMM ararararar ise Rise Rise Rise Rise Ra m ô aa m ô aa m ô aa m ô aa m ô a

    Redução de danos n o BrasilO prim eiro programa de redução de danos

    do Brasil ocorreu em Santos (SP), para preve-nir HIV/Aids entre a população de Usuáriosde Drogas Injetáveis (UDI). Essa iniciativa,apesar de não ter tido continuidade, rendeufrutos e, a partir de então, o Min istério da Saú-de começou d iscutir a RD.

    Em 1993, surgiram programas estaduais emu nicipais nas esferas governam entais, além deprojetos de ON Gs. No final da década d e 1990,

    havia mais de 200 projetos e program as no Bra-sil. Contudo, com o início do processo dedescentralização do Sistema Único de Saúde(SUS), a dimin uição dos UD Is e a chegada docrack, vários program as foram fechados e, atu-almente, há apen as cerca de 100 em tod o o país.

    “Mas nem t udo foi em vão e, ao longo des-ses 20 anos, o lugar social de usuários de dro-gas foi ocupado pelos seus representantes emvárias esferas de con trole social, fazendo valeros princípios norm ativos do SUS na garantiade políticas públicas mais assertivas, tanto noâmbito d a saúde integral como da saúde m en-tal”, declara a psicóloga And rea Dom anico.

    Hoje, a RD é um a política oficial do Minis-tério da Saúde. Em 2003, o órgão lançou ofi-cialment e suas diretrizes políticas para a as-sistência ao uso d e álcool e out ras drogas noBrasil e, em 2005, elas foram regulamentadas

    por uma Portaria, publicada em 1º de julho.Mesmo assim, ainda há m uito a ser feito n essaárea no país. “A implem entação das ações decampo ainda não possui cobertura ampla. E,para que esta política se consolide, é necessá-rio que as prefeituras assumam seu papel nofinanciamento, planejamento e execução des-sas ações”, afirm a a p sicóloga Cristian e Mazza.

    “Acredito existirem inten ções positivas dos

    profissionais que atuam com usuários de drogas,mas o empr ego da redução de danos adequado à

    Política Nacional será verdadeiramente instaura-

    do at ravés da qua lificação pro fissional. As ideias,

    ainda presentes nos dias atuais, de que a redu ção

    de dan os restringe-se à troca de seringas e que essa

    proposta pode incentivar o uso de d rogas têm ge-

    rado en ganos e a não aceitação de sua aplicação

    m ais efetiva”, alerta a psicóloga Valeria Pin heiro.

    •Drogadicção e PsicologiaDrogadicção e PsicologiaDrogadicção e PsicologiaDrogadicção e PsicologiaDrogadicção e Psicologia Maio de 2009•

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    Jornal do CRPJornal do CRPJornal do CRPJornal do CRPJornal do CRP-RJ-RJ-RJ-RJ-RJPág. 6

    “É mar “É mar “É mar “É mar “É mar cant  cant  cant  cant  cant  e a e a e a e a e a 

    ausência d ausência d ausência d ausência d ausência d e m e e m e e m e e m e e m e didas didas  didas  didas  didas  

    d d d d d e p e p e p e p e p r r r r r e e e e e v v v v v e e e e e nção nção nção nção nção 

    d ir d ir d ir d ir d ir e e e e e t ame t a m e  tame t a m e  t a m e  n t n t n t n t n t e lig e lig e lig e lig e lig a a a a a d as d as d as d as d as aos dir aos dir aos dir aos dir aos dir e e e e e it it it it it o s o s o s o s o s 

    fundame fundame fundame fundame fundame ntais,ntais,ntais,ntais,ntais, c c c c c o o o o o m o m o m o m o m o 

     p  p  p  p  p r r r r r o o o o o g g g g g r r r r r amas d  amas d  amas d  amas d  amas d  e e e e e 

    e e e e e f f f f f e e e e e t t t t t i i i i i v v v v v ooooo apapapapapooooo ioioioioio  às às às às às 

    famílias (e não m e famílias (e não m e famílias (e não m e famílias (e não m e famílias (e não m e r r r r r a t a t a t a t a t r r r r r ansf ansf ansf ansf ansf e e e e e rência d rência d rência d rência d rência d e e e e e 

    r r r r r e e e e e nda) ,nda) ,nda) ,nda) ,nda) , c c c c c o o o o o m v m v m v m v m v istas a p istas a p istas a p istas a p istas a p o t o t o t o t o t e e e e e ncializar o s ncializar o s ncializar o s ncializar o s ncializar o s 

    d d d d d e e e e e t t t t t e e e e e n t n t n t n t n t o o o o o r r r r r es d es d es d es d es d o p o p o p o p o p o o o o o d d d d d e e e e e r fam iliar r fam iliar r fam iliar r fam iliar r fam iliar ,,,,, t t t t t o o o o o r r r r r nar a  nar a  nar a  nar a  nar a  

    es c es c es c es c es c o la um amb o la um am b o la um amb o la um am b o la um amb ie ie ie ie ie n t n t n t n t n t e r e r e r e r e r ealme ealme ealme ealme ealme n t n t n t n t n t e int e int e int e int e int e e e e e r r r r r essant essant essant essant essant e e e e e e t e t e t e t e t r r r r r ansf ansf ansf ansf ansf o o o o o r r r r r m a m a m a m a m a d d d d d o o o o o r r r r r ,,,,, g g g g g ar ar ar ar ar an t an t an t an t an t ir a b ir a b ir a b ir a b ir a b o o o o o a a a a a c c c c c o o o o o n n n n n v v v v v i i i i i vência c vência c vência c vência c vência c o o o o o m m m m m unitár uni tár uni tár uni tár uni tár ia ia ia ia ia ” ” ” ” ” .....

    K K K K K ar a r a r a r a r ina Fle ina Fle ina Fle ina Fle ina Fle u r u r u r u r u r  y  y  y  y  y 

    direitos que ainda dependem de um guia. No quetoca às crianças (menores de 12 anos) a abstinên-cia não é um a escolha, mas um a impo sição da lei.

    Quan to aos adolescentes, entendo que a aborda-gem pela redução d e danos po ssa ser a estratégiainicial para trazê-los à rede de tratam ento e pr o-teção, já que somen te o acolhiment o integral per-mit e ao usuário enfrentar as questões que levam àdependên cia da droga e buscar alternativas con-cretas de auton omia e cidadania”.

    Tanto Marcelo quanto Karina destacam queesse trabalho de aproxim ação, dentro da perspec-

    tiva de RD, deve ser feito a par tir do entendim en-to de p or qu e essa criança usa a droga e trabalhar jun to com ela essa q uestão. “A lógica do aten di-mento impõe, num p rimeiro momento, a prote-ção imediata do d ireito à vida e à saúde, por m eiodos dispositivos públicos de atendimen to à saúde.Uma vez controlada a situação em ergencial, de-vem atu ar os órgãos de assistên cia social, educa-ção, esportes, dentre outros, garantindo-se umprocesso de tratamento o mais individualizadopossível”, declara a prom oto ra.

    Já Marcelo aponta como exemp lo seu traba-lho no C APS Man é Garrinch a. Ele explica que,para chegar nessas crianças, era realizado um tra-balho qu e ia além dos pro fissionais de saúde. “Tí-nhamos artistas, como atrizes, bailarinas epercussionistas, que nos ajudavam a desenvol-ver neles um desejo de ser cuidad o e de deixar adroga”.

    O m édico chama também a atenção para asconsequências do u so de drogas que atingem prin-cipalmente essa faixa-etária, com o a exploraçãosexual. “Entre essas crianças, os men inos costum amusar a violência para con seguir a dro ga, prat ican-do pequen os furtos. Mas a meninas acabam sendoexploradas sexualmente por aliciadores e explo-

    criminológicos (pareceres elaborados p or p sicó-logo, assistente social e psiquiatra, o bjetivandoorient ar a Vara de Execução Penal para a delibe-

    ração de benefícios como livramen to con dicio-nal e progressão de regime) e a participação emCTC (Comissão Técnica de Classificação, queavalia e penaliza adm inistrat ivament e aquele quecometeu algum delito ou atitud e em desacordocom a no rma institucional) como p ráticas pri-mo rdiais no sistema penal tem dificultado ou atéimp edido esse pro pósito”.

    A promotora d e Justiça titular da 7ª Prom oto-

    ria de Justiça da Infância e da Juventude da Capi-tal, Karina Valesca Fleury, acrescenta as po ssibili-dades de atuação de pr ofissionais da área jurídicatam bém fora do s presídios. “O Min istério Públicovem adotan do m edidas judiciais (ações civis pú-blicas propostas contra municípios) e extra-

     judiciai s. No âm bit o judicial, há decisõ es con de-nand o o Poder Público à implem entação de dis-positivos de tratamento aos usuários de dro-gas. No cam po extrajudicial, as Prom otorias deJustiça da Infância e Juventu de têm in centivado eprom ovido reuniões e recom endações aos gestorespúblicos com vistas à efetiva implementação d aspolíticas pú blicas previstas na legislação, inclusi-ve por meio d a integração entre Secretarias Muni-cipais de Assistência Social e d e Saúde”, afirma.

    O trabalho com infância e juventud eO trabalho com infância e juventud eO trabalho com infância e juventud eO trabalho com infância e juventud eO trabalho com infância e juventud e

    No cam po de álcool e outras drogas, uma áream uito específica de atuação dos psicólogos é a dainfância e juventude. Com o tratar crianças e ado-lescentes seguin do as diretrizes da redução d e da-nos? É o que qu estiona M arcelo Cu nha, que aten-de essa população diariamente.

    “Como tr atar redução de danos para uma cri-ança de 10, 12 anos? Com elas, a redução de d anostem qu e ser redimen sionada. Não dá para deixarque um m enino continue usando crack enquanto

    tentamos nos aproximar. As crianças não têmmat uridade suficiente par a decidir. Então, temosque orientá-los, assim como fazemos com nossosfilhos. Não vou deixar uma criança de 12 anosdecidir se quer se drogar. Ela tem qu e ser trazida ecuidad a”, diz o m édico.

    Karina Fleury concord a, mas r essalta que h ádiferenças entre crian ças e ado lescentes. “A von ta-de e a liberdade dos menores de 18 anos é

    relativizada pela lei, que os con sidera sujeitos de

    Hoje em dia, temos um a ansiedade em m edicar: sea criança não vai bem n a escola não pensam os quea escola ou o pr ofessor pode não ser bom, m edica-mo s a criança; se perdemos um ente querido e fi-

    camos tristes, não esperamos qu e o luto seja ela-borado, tomamos antidepressivo”, exemplificaAndrea.

    ÁlcÁlcÁlcÁlcÁlcooooo ol e ouol e ouol e ouol e ouol e ou ttttt rrrrr as dras dras dras dras drooooogggggas na Jas na Jas na Jas na Jas na Ju stu stu stu stu st iç aiç aiç aiç aiç a

    Historicament e, a política prisional no Brasiltem tido com o proposta prim ordial a custódia e,por essa razão, trabalhar no enfoque da saúd e temsido difícil. É o qu e afirma Valeria Pin heiro, quetrabalha com a questão do uso de álcool e outrasdrogas em um a instituição hospitalar do sistemaprisional. “A im plemen tação do tr abalho de acor-do com a política nacional sobre álcool e outrasdrogas do Ministério Público tem sido um desa-fio. O objetivo é viabilizar de alguma form a o en-trelace entre custódia e tratamen to, que conta comequipes mu ltiprofissionais. Pretende-se ainda qu eo hospital penal trabalhe, como um todo, em par-ceria e respeito m útu o p elas especificidades, im-

    plicando cada setor e profissional no tratam ento.O tr abalho é focado no sujeito, com sua inserçãoem grupos, atendimentos ind ividuais e atendimen-to s a fam iliares.”.

    No ent anto, ela destaca que há mu itas difi-culdades internas para a realização d o tr abalhode interação da articulação com a rede extra-mu ros e a assistência cotidiana aos intern os. “Es-pecialmente n as unidades prisionais não hospi-

    talares, a exigência da elaboração de exames

    “H “H “H “H “H o o o o o  je, je, je, je, je, t t t t t e e e e e ntam os faz ntam os faz ntam os faz ntam os faz ntam os faz e e e e e r r r r r 

    a so a so a so a so a so cie cie cie cie cie da da da da da d d d d d e e e e e e e e e e n t n t n t n t n t e e e e e n d n d n d n d n d e e e e e r r r r r q q q q q ue a q ue a q ue a q ue a q ue a q uestão d uestão d uestão d uestão d uestão d e e e e e 

    álc álc álc álc álc o o o o o ol e ou ol e ou ol e ou ol e ou ol e ou t t t t t r r r r r as as as as as 

    d r d r d r d r d r o o o o o g g g g g as não diz as não diz as não diz as não diz as não diz 

    r r r r r esp esp esp esp esp e e e e e it it it it it o so o so o so o so o so m e m e m e m e m e n t n t n t n t n t e à e à e à e à e à 

    saúd saúd saúd saúd saúd e e à assistência e e à assistência e e à assistência e e à assistência e e à assistência so so so so so cial.cial.cial.cial.cial. Esse é um Esse é um Esse é um Esse é um Esse é um 

    f f f f f e e e e e nôme nôme nôme nôme nôme no q no q no q no q no q ue at ue at ue at ue at ue at r r r r r a a a a a v v v v v essa a t essa a t essa a t essa a t essa a t o o o o o d d d d d os nós os nós os nós os nós os nós ” ” ” ” ” .....

    MMMMMarararararccccceeeeelo Clo Clo Clo Clo Cu n h au n h au n h au n h au n h a

    •Drogadicção e PsicologiaDrogadicção e PsicologiaDrogadicção e PsicologiaDrogadicção e PsicologiaDrogadicção e Psicologia Maio de 2009•

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    Jornal do CRP-RJJornal do CRP-RJJornal do CRP-RJJornal do CRP-RJJornal do CRP-RJ Pág. 7

    em a convicção de pertencim ento ao nú cleo fami-liar. Estas medidas são instrum entos fundam en-tais para que os mesmo s se sintam m erecedores de

    um a vida digna”.De acordo com Cristiane Mazza, algum as das

    diferenças importantes na relação com a drogaestabelecida por crianças, adolescentes e adu ltosdizem respeito exatamen te ao mod o de uso, à fun-ção da dr oga e às suas consequ ências. “Em geral,não podem os falar em dependência química outoxicomania quand o tratam os de crianças e ado-lescentes usuários de drogas. A relação familiar,

    nesses casos, está no cern e do pro blema, sendo esseuso m uito m ais ligado a u ma resposta aos confli-tos familiares, do que propriam ente a um a esco-lha por determin ada dro ga”.

    Nesse sentido, Valeria Pinh eiro destaca qu e opropósito d o usuário precisa ser respeitado, con-siderando que, antes de trazer sofriment o, o usoda d roga tr az prazer, e é esta a bu sca. “A vida deveser valorizada frente a suas po ssibilidades concre-tas, diante da existência da droga e d e realidadespolíticas em seu m eio social”.

    Assim send o, os psicólogos e outros pr ofissio-

    radores comerciais. Hoje, essa prática, já ligadaao tráfico de drogas e às milícias, disseminou-sede m odo assustador”.

    O m édico destaca, então, a necessidade de secriarem espaços diferenciados para o trabalhocom a infância e a juventude. “Para essa criança,o m odelo do abrigo não con segue acolhê-la, por-que ela vai poder sair para se drogar, e o modelode internação em hospital também não dá con-ta. Então, ela fica num hiato, num vazio, comnecessidade de um terceiro lugar, que possaacolhê-la com su as características de ser criança

    e ser de r ua”.Para Karina, o prin cipal é fazer com qu e essascrianças não se sintam pressionadas, m as cuida-das. “É marcante a ausência de medidas de pre-venção diretamente ligadas aos direitos fundam en-tais, como pro gramas de efetivo apoio  às famílias(e não m era transferência de renda), com vistas apoten cializar os detentores do po der familiar, tor-nar a escola um ambient e realmente interessante etran sform ador, garant ir a boa convivência comu-nitária, através de altern ativas que atraiam a aten-ção de crianças e adolescentes e que lhes propici-

    “ “ “ “ “ A c A c A c A c A c o o o o o mple  mple  mple  mple  mple  xida xida xida xida xida d d d d d e e e e e 

    d d d d d os p os p os p os p os p r r r r r o o o o o b b b b b le le le le le m as m as m as m as m as 

    r r r r r e e e e e la la la la la ci o ci o ci o ci o ci o n a n a n a n a n a d d d d d os ao uso os ao uso os ao uso os ao uso os ao uso 

     p  p  p  p  p r r r r r e e e e e  j  j  j  j  j udicial d udicial d udicial d udicial d udicial d e álc e álc e álc e álc e álc o o o o o o l o l o l o l o l e ou e ou e ou e ou e ou t t t t t r r r r r as dr as dr as dr as dr as dr o o o o o g g g g g as as as as as 

    e e e e e xi g xi g xi g xi g xi g e q e q e q e q e q ue os  ue os  ue os  ue os  ue os  

     p sicó lo  p sicó lo  p sicó lo  p sicó lo  p sicó lo g g g g g os e d os e d os e d os e d os e d e e e e e mais  mais  mais  mais  mais  

     p  p  p  p  p r r r r r o o o o o fissio fissio fissio fissio fissio nais d nais d nais d nais d nais d es t es t es t es t es t es es es es es 

    se se se se se r r r r r v v v v v iços est iços est iços est iços est iços est e e e e e  j  j  j  j  j am capa am capa am capa am capa am capa cita cita cita cita cita d d d d d os e disp os e disp os e disp os e disp os e disp o o o o o n ív n ív n ív n ív n ív e e e e e is is is is is 

     par  p ar  par  p ar  par a assistência d a assistência d a assistência d a assistência d a assistência d esses pa esses pa esses pa esses pa esses pa ci e ci e ci e ci e ci e n t n t n t n t n t es ,es ,es ,es ,es ,

    ar ar ar ar ar t t t t t iculand iculand iculand iculand iculand o-se c o-se c o-se c o-se c o-se c o o o o o m ou m ou m ou m ou m ou t t t t t r r r r r os se os se os se os se os se r r r r r v v v v v iços da iços da iços da iços da iços da 

    saúd saúd saúd saúd saúd e e c e e c e e c e e c e e c o o o o o m ou m ou m ou m ou m ou t t t t t r r r r r os se os se os se os se os se t t t t t o o o o o r r r r r es es es es es ” ” ” ” ” .....CCCCCrrrrr is tis tis tis tis t iane Miane Miane Miane Miane Mazzaazzaazzaazzaazza

    bal de drogas, até então livre, foram imp ostas al-gumas restrições.

    Após a II Guerra Mu ndial (1939-45), a recém-

    criada ON U tom ou para si a responsabilidade delidar com o problema, promovendo um a sériede convenções que culminar am n a ConvençãoÚnica de 1961, na qual ficou acordado que a ques-tão das d rogas precisava ser con trolada.

    Finalmente, na Convenção de 1988, pressio-nada p ela força dos cartéis colomb ianos de tráfi-co de cocaína, a ONU traçou a m eta de erradicaro consumo e a venda de drogas no mun do até

    2008, e, para isso, apostou n a repressão ao tr áfi-co internacional.

    Com a virada do m ilênio, o consumo de dro-gas de fato estagnou, mas continu ou bem longe dameta inicial de erradicação de consumo. Foi ent ãoque a política de redução de danos ecoou com m aisforça nos fórun s de debate, ganhan do adesão dediversos países, principalmente na Europa, umadas grandes patrocinad oras dessa política.

    ment e, EUA e Europa prot agonizaram um a que-da de braço sobre o m elhor caminh o a se seguir.Enquanto a Europa incentivava a redução de

    danos e um maior investimento em saúde públi-ca, prom oção de qualidad e de vida e reabilitaçãosocial, os EUA pressionavam pela continuidadenas ações de enfrentam ento ao tr áfico e ao con-sumo.

    UUUUUm século dm século dm século dm século dm século d e de de de de d eeeeebatbatbatbatbateseseseses

    Em 1909, há exatos 100 anos, ocorria a Com is-são do Ópio de Xangai (China), na qual a comu-

    nidade int ernacional reuniu-se, pela primeira vez,para discutir a situação relativa a drogas de maiorrepercussão até então: a epidemia de ópio n a Chi-na. Na época, cerca de 10 milhões de chin eses eramconsiderados dependentes, e aproximadamenteum quarto da p opulação m asculina adulta se di-zia usuária frequente da droga. Para reduzir o pro-blema, o governo britân ico se comprom eteu a re-duzir a venda de ópio n a China e, ao m ercado glo-

    Foi com desapontam ento que a comun idadeinternacional recebeu, em 12 de m arço de 2009,as novas diretrizes traçadas pela Comissão de

    Narcóticos das Nações Unidas, que orient arão apolítica internacional antidrogas até 2019. Pelodocumento, a ONU opt a por um a política con-servadora, qu e privilegia a crim inalização da pro-dução, da venda e do consum o e o uso da forçapolicial para contê-los, apesar de reconh ecer anecessidade de se enqu adrar a qu estão no âm bitoda saúde pú blica e do respeito aos Direitos Hu-manos.

    Essas políticas coercitivas e crimin alizadorasde combate ao narcotráfico e ao consum o de dro-gas têm r espaldo dos EUA, que investiram maisde U$S 40 bilhões nos últimos oito ano s com re-pressão a usu ários e traficant es. Apesar disso, osresultados têm se m ostrado po uco satisfatórios.

    O debate em torno da melhor política anti-drogas a ser adotada, no entant o, não é novo, etem dividido opiniões e oposto países. Recente-

    D rogas il ícitas na p auta mu ndial

    nais que atuam na área acreditam n a possibilida-de de atuar com usuários tratando-os como sujei-tos, e não como objetos. Não os considerandodoentes ou criminosos, mas sim com o atores prin-cipais de um p rocesso, é que se pode tr abalharpara construir num caminho jun to com eles, uma

    vez de impor o caminh o a ser trilhado.As entrevistas feitas para esta mat ériaAs entrevistas feitas para esta mat ériaAs entrevistas feitas para esta mat ériaAs entrevistas feitas para esta mat ériaAs entrevistas feitas para esta mat éria

    estão dispestão dispestão dispestão dispestão dispooooon ívn ívn ívn ívn íveeeeeis na íntis na íntis na íntis na íntis na ínteeeeegggggrrrrra ea ea ea ea em wwwm wwwm wwwm wwwm www.cr.cr.cr.cr.cr pppppr jr jr jr jr j.o.o.o.o.or grgr grgrg.b.b.b.b.brrrrr

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    Jornal do CRPJornal do CRPJornal do CRPJornal do CRPJornal do CRP-RJ-RJ-RJ-RJ-RJPág. 8

    – do u suário percebido como criminoso ao usuá-rio percebido como depen dente -, quando, na ver-dade, o cenário é m uito m aior. O uso de dro gas éalgo que vai além da saúde pública. Nas escolas, otema é d iscutido especificament e nas feiras de ci-ências, ou através do convite feito a um especia- lista – m édico, policial. As drogas que preocup am

    são sempre as de uso proibido e a mensagem é aabstinência. Quanto à preocupação com álcool,

    tabaco e remédios, não é um a constante.Não percebo n as escolas discussão sobreo “lícito versus  ilícito”, o que seria m uitoesclarecedor.

    Qu e mo tQu e mo tQu e mo tQu e mo tQu e mo tiiiiivvvvvos po s pos po s pos pooooo ddddd eeeeem lem lem lem lem levvvvvar esses jo-ar esses jo-ar esses jo-ar esses jo-ar esses jo-vvvvveeeeens a fazns a fazns a fazns a fazns a fazeeeeer uso dr uso dr uso dr uso dr uso d e d re d re d re d re d rooooo gggggas ?as?as ?as?as?

    Hoje em dia, há um incentivo a sebuscar na via química a solução paratodos os males. Muitas pessoas, semdúvida, usam drogas quand o têm pro-blemas, como form a de comp ensação.Mas, desde que o mundo é mundo, ouso de drogas existe e, antes de maisnada, as drogas foram e são usadascomo forma de sociabilidade, pelo pra-zer que proporcionam.

    PPPPPooooo ddddd eeeeemos d izmos d izmos d izmos d izmos d izeeeeer qr qr qr qr qu e eu e eu e eu e eu e existam pxistam pxistam pxistam pxistam polítolítolítolítolít icasicasicasicasicasp ú bp ú bp ú bp ú bp ú blicas elicas elicas elicas elicas ef f f f f eeeeettttt iiiiivvvvvas paras paras paras paras para ta ta ta ta t rrrrr abalhar cabalhar cabalhar cabalhar cabalhar cooooom u sm u sm u sm u sm u su áru áru áru áru ár io sio sio sio sio sddddd eeeeen tn tn tn tn trrrrro das esco das esco das esco das esco das escolas?olas?olas?olas?olas?

    O que existe é incipiente. Como o discursodominante é o antidrogas, os professores, aindaque inconscientemente, exercem a função do vi- giar e pun ir. O term o “prevenção” significa evitarque algum a coisa aconteça e, então, acredito que

    podemos fazer a prevenção da tuberculose, porexemplo. Mas o uso de drogas não é definitiva-mente uma doença infecto-contagiosa. E, comonão existe na história da hum anidade um únicomom ento em que n ão haja registro do uso de dro-gas, não p odem os prevenir o uso. Podemos, sim,prevenir a violência relacionada às d rogas.

    Quanto ao tratamento, tenho percebido emalgum as escolas a tendên cia a identificar o u so

    com a dependência, e o aluno é constrangido a

    essa questão. O qu e vem ocorrendo , de fato,essa questão. O qu e vem ocorrendo , de fato,essa questão. O qu e vem ocorrendo , de fato,essa questão. O qu e vem ocorrendo , de fato,essa questão. O qu e vem ocorrendo , de fato,

    nas escnas escnas escnas escnas escolas?olas?olas?olas?olas?No p rocesso de form ação de professores e edu-

    cadores, a questão das drogas não ap arece, com ose o problem a não existisse. Uma vez formad os,na p rática profissional, alguns con seguem ter al-guma capacitação, pelo meno s nas grandes capi-

    tais. Muitas vezes, essa capacitação é orien tadaapenas para aspectos biológicos da ação d as dro-

    gas no sistema n ervoso central, com o se os efei-tos fossem os m esmos em t odos. Algun s profes-sores, entretan to, estão constru indo, na prática,formas de resistência que não passam peloenfrentamento, pela violência, mas baseadasnuma pedagogia de orientar e acompanhar osalunos.

    CCCCCooooom o vm o vm o vm o vm o vooooocê vê a f cê vê a f cê vê a f cê vê a f cê vê a f ooooorrrrrm a cm a cm a cm a cm a cooooomo a discussão somo a discussão somo a discussão somo a discussão somo a discussão sobbbbbrrrrreeeeeo to to to to teeeeem a vm a vm a vm a vm a veeeeem sem sem sem sem sen dn dn dn dn do po po po po posta eosta eosta eosta eosta em p aum paum p aum paum pauta n as escta n as escta n as escta n as escta n as escolas?olas?olas?olas?olas?CCCCCooooomo se dão dmo se dão dmo se dão dmo se dão dmo se dão deeeeebatbatbatbatbat es soes soes soes soes sobbbbbrrrrre de de de de descrescrescrescrescriminalizaçãoiminalizaçãoiminalizaçãoiminalizaçãoiminalizaçãoou saúdou saúdou saúdou saúdou saúde púbe púbe púbe púbe pública,lica,lica,lica,lica, pppppooooor er er er er exxxxxeeeeemplo?mplo?mplo?mplo?mplo?

    Sem dúvida, a escola é um espaço privilegiadopara discutir o uso de drogas. Mas, de fato, essadiscussão não existe ou n ão tom a essa direção. Deman eira geral, quando se abandon a a visão repres-

    siva, tende-se a entrar n o camp o da saúde púb lica

    Carên cia de po líticas públicas efetivas, discus-são com foco deslocado e formação defasada dosprofissionais. De acordo com a m estra em Psico-logia da Educação e coordenador a do N úcleo deEstudos Drogas/AIDS e Direitos Humanos daUERJ, Gilbert a Acselrad, são esses os pr incipaisobstáculos que surgem quando se procura de-

    bater de forma ampla o consumo de álcool eoutr as drogas n as escolas.Uma pesquisa do Centro Brasileiro

    de Inform ações sobre Drogas Psicotró-picas (CEBRID), realizada com estudan-tes de escolas públicas de 27 capitais bra-sileiras em 2004, indica qu e os jovens vêmfazendo uso cada vez mais cedo de subs-tân cias psicoativas, lícitas ou nã o. E, namaioria d os casos, é por m eio da escolaque o p rimeiro contato se dá, seja den-tro do próprio espaço escolar ou emsuas im ediações.

    Para refletir sobre essa situ ação e re-pensar o papel dos profissionais queatuam nesse espaço, o Jornal do CRP-RJ conversou com Gilberta, profissio-nal que atua com questões ligadas adro gas nas escolas.

    CCCCCooooom o vm o vm o vm o vm o vooooocê acê acê acê acê avvvvvalia os daalia os daalia os daalia os daalia os daddddd os qos qos qos qos que di-ue di-ue di-ue di-ue di-zzzzzeeeeem qm qm qm qm que joue joue joue joue jovvvvveeeeens usam drns usam drns usam drns usam drns usam drooooogggggas caas caas caas caas cad a vd a vd a vd a vd a vez maisez maisez maisez maisez maisccccceeeeeddddd o ?o ?o ?o ?o ?

    Os dad os sobre o uso p recoce são essenciais edeveriam estar presentes na organização de pro-gramas educativos sobre drogas. Mas até quepon to eles são conhecidos e levados em conta?Programas sobre drogas confun dem d ados, con-

    fundem usuário com dependente, limitam-se avigiar e punir . A política de drogas oficial, quetem como objetivo a ab stinência, esclarece malou parcialmente a maioria d os jovens. Dessa for-m a, o uso de dro gas precoce fica mais fácil devi-do à falta de conhecimen to sobre a comp lexida-de da experiência.

    PPPPPrrrrr ooooo fissiofissiofissiofissiofissio nais qnais qnais qnais qnais que atue atue atue atue atuam no espaço escuam no espaço escuam no espaço escuam no espaço escuam no espaço escolaro laro laro laro lar

    ddddd escrescrescrescrescreeeeevvvvveeeeem várm várm várm várm vár ios oios oios oios oios obstáculos parbstáculos parbstáculos parbstáculos parbstáculos para lidar ca lidar ca lidar ca lidar ca lidar cooooommmmm

    Entrevista co m Gilberta Acselrad

    “O u so de drogas vai além da saúd e pú blica”

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    Tive a oportu nidade de viver um a experiên-cia bastante interessante há alguns anos numaescola municipal, a partir de um fato concreto:

    os professores estavam bastan te apreen sivos por-que um aluno de 16 anos insistia em falar sobredro gas para os dem ais e, segund o eles, essa pos-tura significava conhecimento de causa suspeitoe incentivo ao uso. Form amos, então, um grup ocom os professores para que pud essem colocarabertam ente suas dúvidas e se preparar para umdiálogo com os alunos. Ao mesmo tempo, for-mam os também dois grandes grupo s de discus-são com os alunos. O interesse era enorm e.

    Ao final de algumas discussões, percebemosque o problema não estava no aluno – de fatoum ex-usuário preocupado em alertar os demaissobre os problemas por que tinha passado. Oproblema estava em um professor que não ad-m itia sequer a d iscussão sobre o tem a “drogas”.

    se tratar como se fosse dependente. O tratament omédico-psicológico se torna um a norm a, o que éabsurdo, já que nenhum tratamento tem valia em

    situação de constrangiment o. Ou então, o trata-mento é a exclusão, expulsão com o  solução .

    CCCCCooooo m o pm o pm o pm o pm o pooooo ddddd eeeeerrrrr ia oia oia oia oia occcccooooo rrrrr rrrrreeeeer u m tr u m tr u m tr u m tr u m trrrrr abalho dabalho dabalho dabalho dabalho de esce esce esce esce escla -la -la -la -la -rrrrr eeeeecimecimecimecimecimen tn tn tn tn to qo qo qo qo qu an tu an tu an tu an tu an to ao uso abo ao uso abo ao uso abo ao uso abo ao uso abu siu siu siu siu sivvvvvo do do do do de d re d re d re d re d rooooo gggggasasasasasnas escnas escnas escnas escnas escolas?olas?olas?olas?olas?

    De acordo com a realidade apontad a nos le-vantamentos do CEBRID, experimentam os mu i-to, mas poucos de nós se tornam dependentes. Aeducação sobre drogas parece ser o p onto de par-tida. Uma edu cação esclarecida, com prom etidacom a constru ção, em cada jovem, de uma capa-cidade de reflexão e ação protetoras de si e desua comunidade, uma educação democrática,sem p erseguições, sem u sar a droga com o álibipara a exclusão.

    dependente de nicotina, e a maioria dos fum an-tes é dependente. Quan do há a dificuldade de seconseguir a droga, você tem mais chances de fa-zer um tratamento. O cigarro é como o álcoolou os m edicamentos que estão à disposição.

    CCCCCooooom o vm o vm o vm o vm o vooooocê vê a impcê vê a impcê vê a impcê vê a impcê vê a imp ooooo rrrrr tância da Mtância da Mtância da Mtância da Mtância da Meeeeedicina edicina edicina edicina edicina e

    d a Pd a Pd a Pd a Pd a Psicsicsicsicsico loo loo loo loo lo gggggia no atia no atia no atia no atia no ateeeeen d imen d imen d imen d imen d imen tn tn tn tn to à qo à qo à qo à qo à qu eu eu eu eu eles qles qles qles qles qu e du e du e du e du e d e-e-e-e-e-

    sesesesese j j j j jam p aram p aram p aram p aram p arar dar dar dar dar de fumar?e fumar?e fumar?e fumar?e fumar?Não existe outra maneira de deixar uma de-

    pendência sem ser com um acompanhamentom édico. A depend ência é física e, portan to, exis-te tratam ento. O cigarro acaba se torn ando tam -bém um vício comport ament al, por isso a ques-

    tão psicológica.

    Com o evitar a m edicalização e a patologizaçãoCom o evitar a m edicalização e a patologizaçãoCom o evitar a m edicalização e a patologizaçãoCom o evitar a m edicalização e a patologizaçãoCom o evitar a m edicalização e a patologizaçãoddddd os usos usos usos usos usu áru áru áru áru ár ios dios dios dios dios de d re d re d re d re d roooooggggga da da da da deeeeen tn tn tn tn trrrrro das esco das esco das esco das esco das escolas?olas?olas?olas?olas?

    Outra experiência que vivi, em 1987, foi a de

    organização do espaço onde ficava o armár io da farmácia da escola: havia medicamentos fora d evalidade e outros estavam ali porque alunos qu eusavam acabaram deixando. Alunos rebeldes, quedavam trabalho du rante as aulas, eram encam i-nhado s ao m édico neurologista, que p rescreviaGarden al. A discussão básica foi a de fort alecer arelação entre as pessoas e avaliar qu ando o pro -duto químico deveria ser usado, para que nãoocup asse todo espaço e fragilizasse ou n egasse aprópria relação interpessoal. A capacitação doseducadores esclarecida, no sentido da inclusãodos alunos, ajudou e, dessa forma, evitamos amedicalização excessiva naqu ele mom ento.

    A e A e A e A e A e n t n t n t n t n t r r r r r e e e e e v v v v v ista f ista f ista f ista f ista f e e e e e i ta par i ta par i ta par i ta par i ta par a esta matér a esta matér a esta matér a esta matér a esta matér ia está ia está ia está ia está ia está disp disp disp disp disp o o o o o n ív n ív n ív n ív n ív e e e e e l na ínt  l na ínt  l na ínt  l na ínt  l na ínt  e e e e e g g g g g r r r r r a e a e a e a e a e m www m www m www m www m www .c r .c r .c r .c r .c r  p  p  p  p  p r j r j r j r j r j .o .o .o .o .o r g r g r g r g r g .b .b .b .b .b r r r r r 

    A in dú stria tabagistaDescobri que existia um m und o mais complexodo que o m eu simples desejo de parar de fum ar.Meu pai e minha mãe fumavam. Tenho memó-rias de carinho associadas à fumaça e ao cigarro.Com ecei a fumar par a socializar, com u m m açopor semana; depois, fum ava uns três cigarros pordia e, assim, foi aum entand o.

    O filme fala bastantO filme fala bastantO filme fala bastantO filme fala bastantO filme fala bastante de de de de d o cigo cigo cigo cigo cigararararar rrrrro na pubo na pubo na pubo na pubo na publicida-licida-licida-licida-licida-ddddd e e no cinee e no cinee e no cinee e no cinee e no cinem a.m a.m a.m a.m a. CCCCCooooo m o vm o vm o vm o vm o vooooo cê vê essa qcê vê essa qcê vê essa qcê vê essa qcê vê essa questão?uestão?uestão?uestão?uestão?

    A publicidade mo stra que o jovem é o alvo daindústria tabagista. Ele é o consumidor que terámais tempo para consumir o produ to e a indús-tria sabe muito bem disso. No filme, eu mostroque o cigarro Cam el é reconh ecido pelas criançasamericanas tanto quanto a imagem do Mickey.Apesar de ser proibido mu ndialmente o m arketing

    referente ao cigarro, existem açõ es indiretas, comoa exposição junto a b alas e doces em lojas de con-veniência. A indústria oferece seu produto para

     jovens e cr ian ças de man eira m uit o su til.

    O fatO fatO fatO fatO fato do do do do d e see see see see se r lícitr lícitr lícitr lícitr lícito e do e do e do e do e de fácil ae fácil ae fácil ae fácil ae fácil acccccesso é um agesso é um agesso é um agesso é um agesso é um agrrrrr a-a-a-a-a-

    vvvvvan tan tan tan tan te pare pare pare pare para qa qa qa qa qu eu eu eu eu em dm dm dm dm des eesees eesees e j j j j ja larga larga larga larga largar o cigar o cigar o cigar o cigar o cigararararar rrrrro ?o ?o ?o ?o ?Claro. Com a disposição do cigarro em qu al-

    quer esquina, é m uito m ais difícil querer par ar,

    até porque o fumante não se assume como um

    Segundo a ONU, o consumo de tabaco afetaaproximadam ente 25% da po pulação adulta domu ndo. Apesar de lícita, essa substância tam bémé uma droga psicoativa. Por isso, a maioria dosfumantes tem grandes dificuldades em largar ocigarro. De acordo com o Ministério d a Saúde, porexemplo, a cada mil pessoas que tentam parar defumar pela prim eira vez, apenas 172 conseguem .

    O documentário Fumando espero , de Adrian aDut ra, aborda exatamen te esse aspecto. O filmetraz depoim entos de p rofissionais de saúde, pu-blicitários e até agricultores que plantam o fum o,mas também de fumantes e ex-fumantes falan-do sobre sua relação com o cigarro e as tentati-vas de parar de fum ar. O longa ganha pon tos portratar o assunto sem tabus ou preconceitos, mo s-trando vários lados do tema e opiniões as maisdiversas sobre o cigarro.

    Um elemen to interessante é que o filme é qua-se biográfico, já que a própria diretora mostraseu processo de ten tar largar o cigarro. Em en-trevista ao Jornal do CRP-RJ, ela falou sobre aexperiência.

    CCCCCooooo m o sm o sm o sm o sm o su rgu rgu rgu rgu rgiiiiiu a idéia du a idéia du a idéia du a idéia du a idéia de faze faze faze faze fazeeeeer o dr o dr o dr o dr o dooooo cu mecu mecu mecu mecu mentárn tárn tárn tárn tár ioioioioio

    a para para para para par ttttt ir da sir da sir da sir da sir da su a eu a eu a eu a eu a expxpxpxpxp eeeeerrrrr iência piência piência piência piência pessoessoessoessoessoal ?al ?al ?al ?al ?Surgiu da m inha vontade de parar de fum ar.

    •Drogadicção e PsicologiaDrogadicção e PsicologiaDrogadicção e PsicologiaDrogadicção e PsicologiaDrogadicção e Psicologia Maio de 2009•

  • 8/20/2019 drogadição e psicologia.pdf

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    Jornal do CRPJornal do CRPJornal do CRPJornal do CRPJornal do CRP-RJ-RJ-RJ-RJ-RJPág. 10

    fomentador de m obilização. É a ideia de expandir o

    acesso às discussões, ant es con centr adas na capital.

    É dar essa horizontalização às discussões políticas

    de inter esse da categoria”, afirm am .

    “Nós tem os trabalhado sob essa perspectiva de

    convocação ampla e o que percebemos - e que no s

    deixa muito contentes - é que, quando vamo s con-

    vocar esses psicólogos, eles já estão esperan do. Isso

    é muito p ositivo porqu e tem enriquecido a discus-

    são. Nós viemos para ou vir e para discutir com o

    psicólogo a sua pr ática, não para im por um a ‘ver-

    dade’”, acrescenta a equip e do C REPOP-RJ. No en-

    tanto, ela chama a atenção par a o fato de que, ao

    mesmo tempo em que isso é gratificante, é tam-

    bém preocup ante. “Nós nos perguntam os: por que

    esperar o CREPOP chegar para iniciar um a discus-

    são d e po líticas pú blicas?”.Em 2009, o pr imeiro ciclo do CREPOP d o Rio

    de Janeiro abordou o tema Álcool e out ras drogas .

    Foram organizados um encontro em Macaé e ou-

    tro na sede do CRP-RJ, na capital, que contaram

    com grande presença não só de psicólogos, mas

    tam bém de out ros profissionais, como assistentes

    sociais e enfermeiros, e estudantes.

    “O CREPOP-RJ prefere discutir o uso de drogas

    zados encontros presenciais com a categoria e é

    disponibilizado no site do CREPOP nacional um

    questionário online para ser respondido por psi-

    cólogos daquele campo. Esses dados são compila-

    dos junto aos resultados das pesquisas dos outros

    17 CRPs, visando ao referenciam ento d a prática em

    âmbito nacional. É impo rtan te ressaltar que, inde-

    pendentemente da posição do CREPOP-RJ sobre

    o tem a trabalhado, seu relatório sempre expressa a

    opinião do grupo presente nos encontros.

    “O int eressante nesses ciclos é ver que os psicó-

    logos estão pensando suas práticas, pensando po-

    líticas públicas e pontuando essas práticas como

    de Psicologia. Essa reflexão possibilita o trânsito

    entre o lugar daquele que assiste e o daquele que

    constrói, que intervém, e isso faz com q ue o profis-

    sional psi valorize a sua prática. Além d o grup o, hátambém o questionário, que é parte integrante e

    fundam ental da pesquisa do CREPOP. Por mais que

    tentem os, não tem os acesso a tod os os psicólogos

    da área, e o questionário tem como chegar a todos

    os psis”, destaca a equip e.

    Um d os fatores mais interessantes no t rabalho

    do CREPOP do Rio de Janeiro é a metodologia uti-

    lizada no s encontros: o sociodrama. É o qu e expli-

    ca a equipe: “O m étodo sociodram ático é potente

    para produzir essa troca entre os psicólogos.

    Estamos no lugar da escuta do fazer, queremos

    aprender com eles. Alguns CREPOPs chamam

    palestrant es para fazer esse mapeam ento e, depo is,

    outros especialistas para falarem sobre a

    Rede, enquanto nós fazemos um grupo

    que reúne desde o psicólogo da pon ta até

    o gestor. Ou seja, convidam os todos par aessa discussão e ap ostamos n isso com o

    política pub lica”

    Em 2009, o CREPOP-RJ ampliou a in-

    da mais suas discussões, levando os ci-

    clos para outr as cidades além da capital.

    “A ideia de interior izar as discussões po-

    líticas tem a ver com o XII Plenário, que

    aposta n isso como um instrumento

    O Cen tro d e Referências Técnicas em Psicologia e

    Políticas Públicas (CREPOP) é um impor tante ins-

    tru ment o para a atual gestão do CRP-RJ. Oficial-

    ment e, suas atribuições são m apear e produ zir refe-

    rências técnicas para a p rática psi em diversas áreas

    de atuação nas políticas públicas. Mas sua proposta

    vai mu ito além, camin hando n o sentido de pensar

     jun to ao psicólo go o seu fazer cot idian o e possibili -

    tando ao Con selho estar em contato com o dia-a-

    dia da categoria.

    No Rio de Janeiro, a equipe do C REPOP, que se

    insere na Com issão de Psicologia e Políticas Públicas

    (CRPP) do CRP-RJ, é formada pelo conselheiro

    Lindomar Darós (CRP 05/20112), pela psicóloga e

    funcionária Beatriz Adura (CRP 05/34879) e pelos

    colaborador es Alice Alves Franco (CRP 05/34260),

    Tiago Régis de Lima(C RP 05/37479) e Claudia PortoGon çalves (CRP 05/35791). “O CREPOP não fun cio-

    na somen te para criarmos capacitação para algumas

    áreas. Não trabalhamos a política pública como es-

    pecialidade e mu ito menos querem os criar norm as

    para a p rática. Temos semp re em vista a priorização

    da orientação em detrim ento da n ormatização. Por

    trabalharm os com a po lítica pública nessa perspecti-

    va pluralista, o CREPOP está presente em todas as

    comissões do Conselho e participa de m uitas discus-

    sões fora dele”, afirm am .

    O trabalho d o CREPOP se divide em qu atro ci-

    clos por an o, cada um abo rdando u ma área de atu-

    ação nas po líticas públicas. Em cada ciclo, são reali-

    CREPO P-RJ discu te álcoo l e o utras dro gDrogadicção e PsicologiaDrogadicção e PsicologiaDrogadicção e PsicologiaDrogadicção e PsicologiaDrogadicção e Psicologia

    Sociodrama sobre álc Sociodrama sobre álc Sociodrama sobre álc Sociodrama sobre álc Sociodrama sobre álc 

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    Jornal do CRP-RJJornal do CRP-RJJornal do CRP-RJJornal do CRP-RJJornal do CRP-RJ Pág. 11

    Em seguida, os profissiona is e estud ant es pre-

    sentes se reuniram em pequen os grupos para dis-

    cutir casos que tivessem vivido ou presenciado

    com relação a álcool e outras drogas. No fim, foi

    escolhida um a das histórias para ser revivida nosociodrama. Os part icipantes, porém , não preci-

    savam se ater ao caso real. Todos tinh am a opor-

    tunidade de entrar em qualquer personagem e

    mud ar os rumos da história.

    Após o sociodrama, o grup o teve a oportu-

    nidade de refletir sobre o caso apresentado e, a

    partir daí, repensar suas práticas nas políticas

    públicas.

    o psicólogo discute essa temát ica e que tratamen to

    vem sendo dado a esse usuário? Qual olhar este

    psicólogo dispensa sobre ele: moral, político, éti-

    co?”, questiona a equ ipe, que avalia que, em m uito s

    casos, os profissionais aind a estão presos a um olhar

    patologizante do usuário de d rogas.

    “Foi um ciclo bastante angustiante porq ue pu-

    demos notar que algumas tendências morais são

    utilizadas como referências teóricas. A Psicologia

    pode, sim, trabalhar ten tando perceber alguns usu-

    ários que necessitam, por exemplo, de um acom-

    panh amen to no s Alcoólicos Anônim os (AA), mas

    ela não p ode fazer somente  esse t rabalh o”, ressalta

    a equipe. “Trabalhar com valores morais é ruim

    porq ue se lida com conceitos d e ‘certo’ e ‘errad o’ e,

    dessa form a, natur alizam-se certas form as de exis-

    tir, norm atizando a existência hum ana. O p rofissi-onal precisa trabalhar para descobrir que lugar a

    droga ocupa n a vida do usuário. Ou seja, caminh ar

    com ele, m as não dizer a ele o qu e fazer”.

    No debate sobre álcool e outras drogas, o

    CREPOP-RJ afirma ter percebido que os p sicólo-

    gos estavam m uito restritos ao seu espaço: conhe-

    ciam muito bem aquilo que fazem, mas não pro-

    curavam ar ticular esse fazer. Um exemplo apont a-

    do foi o fato de, em alguns mo men tos, a discussão

    para além do seu viés patologizante”, declaram os

    mem bros a equipe. Segundo eles, um a das princi-

    pais questões a serem debatidas é o fato de algum as

    drogas serem lícitas e out ras ilícitas. “É preciso colo-

    car em análise a serviço de que e de quem está a

    criminalização das drogas. Quan do pau tam os esse

    tema, decidimos convocar os trabalhadores para

    falarem sobre o que p ensam sobre sua pr ática, so-

    bre álcool e outras dro gas, e como vem sendo essa

    atu ação”, explicam.

    De acordo com o CREPOP-RJ, os temas dos ci-

    clos são votados em uma reunião entre os conse-

    lheiros represen tan tes de cada region al. “A aprova-

    ção pelo referenciamento da prática de álcool e

    outr as drogas foi unânim e na reunião n acional, o

    que é um indicativo do quant o a Psicologia está se

    deparand o com essa problemática. O CREPOP-RJacredita que este ciclo deveria ser nom eado Dro- 

    gas Licitas e Ilícitas , mas a nom eação de nossos ci-

    clos é baseada em como a política oficial chama

    essas práticas, por isso Álcool e out ras drogas ”.

    Para além dessa questão do “lícito x ilícito”, o

    CREPOP-RJ se preocupou, ao longo do ciclo, em

    pensar com a categoria que tratamento o psicólo-

    go dá à questão das drogas e a esse pacient e. “Com o

    as com a catego ria

    Eventos do CREPOP discutem álcool e o utras drogasEm março , o pr imeiro ciclo de 2009 do

    CREPOP discutiu a inserção dos psicólogos nas

    políticas pú blicas para álcool e out ras drogas. Fo-

    ram realizados dois encontro s, um em Macaé, no

    dia 6 de m arço, e outro no Rio de Janeiro, no dia13 do mesmo m ês.

    Em am bos os eventos, o trabalho foi condu zi-

    do pela metodologia sociodram ática. Em um pri-

    meiro momento, os participantes foram dividi-

    dos em duplas para se conhecerem e apresenta-

    rem o compan heiro para o restante do grupo, mas

    falando em primeira pessoa, como se estivessem

    apresentando a si mesmos.

    ter sido polarizada ent re a redução de dan os e a abs-

    tinência tot al. Segundo a equipe, essas correntes não

    são antagôn icas e essa polarização desnecessária aca-

    ba deixando de fora outras questões mais impor-

    tantes, como a criminalização.

    “O XII Plenário tem u ma p osição claramente a

    favor da redução de danos. Mas a redução de d a-

    nos não ignora a abstinência. Essa polaridade se

    forma u m pouco por um a falta de informação ou

    mesmo por questões políticas. Na verdade, essa é

    um a falsa questão. Por mais que o Estado ten ha um a

    discussão bastante interessante sobre o tema, ele

    ainda man tém um a política que crimin aliza o usu-

    ário. O modo como a sociedade lida com a ques-

    tão, de forma moralista e conservadora, imprime

    ao u suário um peso excessivo”, ressalta.

    Dessa form a, o CREPOP, dentro d o XII Plenáriodo CRP-RJ, coloca-se na per spectiva de um a possível

    intervenção. “É impor tante, sempre que p ensamos em

    políticas públicas, pensar o pap el do CREPOP n elas.

    Quand o refletimos sobre o campo como um todo,

    também refletimos sobre nossa atuação, pois estamos

    inseridos nele. Essa é a função política do CREPOP e

    do Con selho. Assim, ent ram os nas discussões sem a

    falsa pretensão de neutralidade - entram os como su-

     jeito s e não com o objeto s”.

    Maio de 2009

    lcool e outras drogas lcool e outras drogas lcool e outras drogas lcool e outras drogas lcool e outras drogas 

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    Jornal do CRPJornal do CRPJornal do CRPJornal do CRPJornal do CRP-RJ-RJ-RJ-RJ-RJPág. 12

    •Drogadicção e PsicologiaDrogadicção e PsicologiaDrogadicção e PsicologiaDrogadicção e PsicologiaDrogadicção e Psicologia Maio de 2009•

    encaminhadasdevem ser ava-liadas e delasdeve ser extra í-da uma verda- de, o que auxi-liará o juiz a daruma sentençasobre o caso.

    Este profissional é, por vezes, colocado em umlugar de agente de controle. A pró pria história donascimento e legitimação da Psicologia mostra aserviço de que esteve ligada, que dem and as foi cha-mada a atender e tantas outras que criou. A união

    do Direito com a Psiquiatria, reatualizada na JTatravés do m odelo drogado-doente , esteve em fun -ção do controle da loucura, tida como periculosa,

    necessitada de tratam ento e con trole. Sua confi-guração como ciência especialista4 marca a pre-dominância de um discurso legitimado como oún ico habilitado a falar sobre um a especificidade.Até que ponto os psis não atuam como amola-dor es de facas? (BAPTISTA, 1999).

    Foucault (1979, 1996) já problematizara a

    emer gência das ciências hum anas, suas práticas eo lugar d e saber-poder ocupado pelos especialis-

    tas. O poder, destaca, distribui-se por to do tecidosocial – são os m icropoderes, agindo cot idiana-men te, produzind o processos e a emergência desubjetividades.

    O docu men to intitu lado “Projeto Justiça Tera-pêut ica para Adolescentes com Pr oblem as LegaisRelacionad os às Drogas” (JUIZADO..., 2001), as-sinado por um a prom otora e pelo juiz à época daVIJ de Niteró i, destaca que, no plano p sicoló gico ,

    deverá agir o psicólogo com o agente de prom o-ção de uma “oportu nidade” de reconstrução in- terna ; como agente tam bém d e execução e con-trole da “oportunidade obrigatória”. Vejamos osobjetivos deste program a de JT

    4.3 – Objetivo. Através da conjugação de in-tervenções terapêuticas e medidas sóciopeda-gógicas, o objetivo do Projeto é oferecer condi-

    ções para o adolescente:

    lha dos indivíduos no qu e diz respeito ao uso desubstâncias. Apesar de ser veiculado como um aescolha a aceitação de subm eter-se a tratament o(em o posição à prisão), percebe-se, nos discursosdefensivistas desta política, contradições acercadesta “escolha”. A JT tem com o balizado r o p res-suposto médico-criminal - tratar o doente e pun iro delinqüent e. Através de uma pena- tr atam en to se opera essa junção, tratando e corrigindo ao

    mesmo tem po aquele que irá se enquadrar tam-bém nessas duas categorias de uma só vez. Estapolítica penal/social configura-se como tecnologiapós-m oderna do biopoder (FOUCAULT, 1979,1988,1999); frent e à desregularização dos em pre-

    gos e a um Estado social praticamente nu lo, a po-lítica penal desenha-se com o política social, prin -cipalmente p ara o s não “consum idores legítimos”,

    “cidadãos à par te”.É atribu ição das equipes técnicas acom panh aros sujeitos e prod uzir relatório s, enviados ao juiz,objetivando informar sobre o andam ento do tra-tamento – a confirmação de que a pena d ada esta-ria funcionando ou n ão. O que pod eria acontecercom u m indivíduo que tivesse se