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XII Seminário Nacional TCMSP
Educação Ambiental
Mudança de Cultura
Período: 26 a 28 de novembro de 2007
Dia: 28/11/2007
Palestrante: Fabio Alberti Cascino
Doutor em Educação pela PUC-SP, Pedagogo,
Coordenador Pedagógico e Educacional, Formador de
Professores, autor de trabalhos sobre Educação
Ambiental, interdisciplinaridade e Ecoturismo
Tema: A Importância da Educação Ambiental na
Formação das Gerações
O Sr. Presidente Antonio Carlos Caruso – Bem pessoal, uma
boa tarde a todos. O tema desta tarde é a importância da educação
ambiental na formação das gerações. O palestrante é Fabio Alberti
Cascino, Doutor em Educação pela PUC-SP, Pedagogo, Coordenador
Pedagógico e Educacional, Formador de Professores, autor de
trabalhos sobre educação ambiental, interdisciplinaridade e
ecoturismo.
Doutor Fabio, é uma alegria recebê-lo, é uma satisfação
muito grande que o senhor esteja entre nós. Nós temos discutido,
nesses dias aqui, esse tema, de certa forma até contundente, e que
todos nós estamos aprendendo, vamos dizer assim, no sentido geral.
Aprendendo no sentido não só... Conhecimento, de certa forma, nós
temos, eu diria que até um conhecimento relativo, mas essa troca de
informações se torna muito importante a fim de que nós possamos,
também, vamos dizer assim, transmitir os conhecimentos aqui
adquiridos a outras pessoas, aos jovens em geral, e tentarmos
formatar algo que possa vir a auxiliar nas transformações que nós
necessitamos, pelo menos no nosso Município.
Eu passo a palavra ao senhor. Fique à vontade porque o
senhor está em casa.
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O Sr. Fábio Alberti Cascino – Muito obrigado. Bom dia a
todos. Obrigado Doutor Caruso pela apresentação.
Eu fico muito honrado de poder participar deste encontro,
de poder conversar com todos a respeito destas questões
fundamentais, sem dúvida. Fundamentais na constituição das
sociedades, dos grupos, do ser humano. Fundamental nesse momento da
história pelo qual toda a humanidade passa, um momento dramático no
meu modo de ver.
Deixa eu antecipar, porque, muitas vezes, as pessoas me
colocam no campo de uma pessoa um tanto pessimista, mas, um dia
desses eu li uma frase do colega Paulo Arantes, da USP, um
filósofo, que diz que, em certo momento da história, nós precisamos
ir além das boas afirmações, das afirmações tranqüilas, porque a
situação exige, às vezes, um olhar um pouco menos generoso, ou
complacente. Eu penso que esse momento exige um olhar, senão menos
complacente, um pouco mais crítico e cuidadoso. E, portanto, eu
agradeço muito a oportunidade de vir conversar com esta Casa, aliás
uma segunda vez que eu venho conversar com os colegas desta Casa,
porque eu participei aqui, há uns cinco anos, de um encontro com os
funcionários do Tribunal de Contas, e, fiquei muito impressionado
com a conversa que nós tivemos. Realmente, quando eu recebi o
convite fiquei muito feliz de poder retornar e poder, justamente,
fazer essa observação com lideranças importantes do Município.
Penso que uma fala, aqui nesse momento, tem uma importância
significativa e eu fico muito honrado de poder ocupar este lugar,
esta mesa no encerramento do encontro. E, por isso, que tomo muito
cuidado nessa avaliação crítica deste momento que nós vivemos, mas,
ao mesmo tempo, digo que tratamos, sim, se apontar algumas questões
porque o nosso mundo, o nosso país, a nossa cidade, nós todos
estamos precisando refletir e atuar de uma maneira contundente
frente ao que aí se coloca.
Deixa eu resgatar um palitinho do que foi aquela
conversa, Doutor Caruso, acerca de cinco anos aqui no Tribunal. Na
época, eu fiz a leitura de um texto do Italo Calvino, contido no
livro “Cidades Invisíveis”, publicado pela Companhia das Letras, e,
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eu trouxe esse texto porque, naquela semana eu havia trabalhado com
os alunos na faculdade que eu ministrava aulas, naquela época,
justamente esse texto e, o convite do Tribunal de Contas me colocou
de frente com a brincadeira que eu fiz à época: “olha aqui, o Ítalo
Calvino está falando deste prédio”. Foi a brincadeira que eu fiz à
época com os colegas funcionários. Então, eu vou me permitir
começar por aí, porque este edifício tem uma arquitetura
interessante que eu acho que é a idéia original: eu estava
circulando onde estão as fotos da construção do Tribunal, aliás eu
queria saber se tinha algum texto do arquiteto que tratasse dessa
questão, mas eu não vi. Mas, eu vou ousar fazer a interpretação
deste edifício mais uma vez: ele possui pernas altas, ele é uma
espécie de nave um pouco descolada do terreno, me parece que ele
olha o Município, ele está um pouco descolado, ele está olhando de
cima. É um pouco a idéia que o Tribunal tem...
O Sr. Presidente Antonio Carlos Caruso – Eu devo
interromper Vossa Excelência para dizer o seguinte: o autor,
realmente, do projeto um dele ainda é vivo, graças a Deus, e ele
está bastante idoso. Ele esteve aqui à questão de uns 11 meses
atrás, e, realmente, ele falou na concepção. Depois, eu pedi para
que ele nos escrevesse toda a concepção do projeto para nos mandar,
e ele não nos mandou ainda, e isso vai passando, não é? Mas, a
concepção era justamente essa.
O Sr. Fábio Alberti Cascino – Então, acertei.
O Sr. Presidente Antonio Carlos Caruso – Porque, como era
um prédio, em que teria que se decidir questões que estariam, vamos
dizer assim, não necessariamente dentro do conhecimento, de uma
casta do conhecimento, ele tinha que se sobrepor, ele tinha que
está acima de tudo e de todos. Mas, o senhor realmente matou a
charada.
O Sr. Fábio Alberti Cascino – Matei. Então, estou bom.
Estou acertando.
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Pois, então, faz muito sentido trazer de novo esse texto
do Italo Calvino, porque o que ele diz... Italo Calvino, ao longo
desses contos mágicos das Cidades Invisíveis relata passeios,
travessias, andanças, viagens do Marco Pólo, e conta a entrada, a
saída e a passagem por muitas cidades imaginárias que o Marco pólo
teria atravessado nas suas andanças pela Ásia, pela Europa. O conto
que trouxe à época, e, agora, de memória, vou comentar com vocês,
ele diz assim: o Marco Pólo chega em uma cidade que chama Bauci, e,
ele entra e é uma cidade belíssima de grandes edifícios, de casas
maravilhosas, aparentemente de muita riqueza, e, ele percebe aqui e
ali umas varas, umas pernas, uns troncos, umas colunas finas, as
“finas andas” ele relata assim. Ele olha para cima para ver aonde
vai dar essas “finas andas”, e, ele encontra as nuvens. Ele fica um
pouco impressionado, vê essas nuvens, tudo tão cheio de nuvens, e
ele presta um pouco de atenção e percebe que a cidade está vazia.
Ele olha a cidade com esses prédios e essas estruturas vazias, e,
de repente, ele olha e o povo está lá em cima olhando a cidade. Ele
fica estupefato, ele diz: “Ué, as pessoas estão lá em cima e a
cidade está vazia aqui embaixo?”. Aí ele se coloca a pensar que
algo estranho acontece nessa cidade e ele formula a seguinte idéia:
as pessoas estão ausentes da sua própria existência, estão
descoladas da sua própria existência.
E, eu fiquei pensando nisso à época, quando eu vim aqui,
e hoje novamente, que, de certa maneira, e isso é um paradoxo
interessante, porque ninguém, na verdade, que queira viver
integralmente a vida se ausenta, a vida se realiza na presença, na
presentificação da nossa condição. As nossas relações de
enfrentamento, de ruptura, de acolhimento, as nossas relações de
diálogo se fazem na nossa presença, nós nos presentificamos e
vivemos. E, evidente que este paradoxo entre ausência e presença,
de uma cidade que se vê de longe e lamenta a sua ausência, mas,
perplexa se pergunta: “Porque nós estamos ausentes?”, carrega este
paradoxo de se entender distante de si próprio, mas perguntando-se
porque nós estamos distantes. E, portanto, vivendo o exercício da
consciência, de se questionar: “porque eu não estou lá? Em que
lugar eu estou?”. De certa maneira, eu me levo a me perguntar se
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não seria essa a nossa condição, metaforicamente falando, do nosso
cotidiano. Qual é o nosso lugar hoje? Como nós nos posicionamos?
Que Tribunal é este? Agora, partindo para a metáfora que a
arquitetura nos oferece, e, evidente que eu não me refiro aqui ao
Tribunal de Contas, mas que Tribunal é este que nós nos colocamos
neste momento? Aqui descolados olhando um pouco o nosso mundo, o
nosso tempo.
De certa maneira, me vem um quê de angústia porque aquilo
que nós estamos vendo e nós nos colocamos a ver nesse momento é
algo muito ruim, o mundo vive uma situação muito ruim. Nós não
podemos, da nossa posição, hoje, aqui, agora, confortável,
acolhidos por este ambiente, dizer que as coisas vão bem.
Infelizmente as coisas não vão bem. E, aí, me levo a perguntar, me
coloco no lugar do perguntador, do inquiridor, que o Tribunal me
confere, este Tribunal metafórico, o que nós estamos fazendo para
que essas coisas se modifiquem, ou se mantenham?
Eu me arrogo o direito de me colocar na condição de um
cidadão que olha esta cidade-mundo e me pergunto estupefato: “o que
nós estamos fazendo com a nossa ausência-presença neste mundo?
Eu trouxe um vídeo que foi produzido na ECO-92, de um
discurso de uma menina de treze anos, à época, um discurso
pronunciado no fórum global que teve lugar no Rio de Janeiro, em
1992. Eu estava no Rio de Janeiro, sabia desse discurso, mas, por
alguma razão, nós não tínhamos acesso. E, recentemente, ele
circulou no youtube, e ele está ganhando popularidade. Talvez,
algumas pessoas já tenham visto esse vídeo, ele é excepcional.
Infelizmente a qualidade deste registro não é boa, mas é suficiente
para nós vermos e ouvirmos o que essa menina faz e o que ela fala.
E o que ela fala é algo extremamente contundente: ela se dirige aos
políticos, aos representantes dos países ali reunidos na ECO-92 e
conclama esses dirigentes a não repetir o que vinha sendo feito até
aquele momento, e que, obviamente, eles pensassem que o que eles
decidissem naquele momento não se referia exatamente à vida deles
porque eles eram ali todos adultos, mas se referia diretamente à
ela, porque era o futuro dela, da geração dela, representante das
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crianças do mundo. O mundo estaria sofrendo as transformações que
estariam sendo discutidas ali.
Bem, isso aconteceu em 92. Eu gostaria de apresentar o
vídeo e, depois, discutir o que nós fizemos de lá para cá.
[VÍDEO]
Tradução
“Olá, eu sou Severn Suzuki.
Represento, aqui na ECO, a Organização das Crianças em
Defesa do Meio Ambiente. Somos um grupo de crianças canadenses, de
12 e 13 anos, tentando fazer a nossa parte, contribuir.
Vanessa Sultie, Morgan Geisler, Michelle Quigg e eu. Foi
através de muito empenho e dedicação que conseguimos o dinheiro
necessário para virmos de tão longe, para dizer a vocês adultos
que, têm que mudar o seu modo de agir.
Ao vir aqui hoje, não preciso disfarçar meu objetivo,
estou lutando pelo meu futuro. Não ter garantia quanto ao meu
futuro não é o mesmo que perder uma eleição ou alguns pontos na
bolsa de valores.
Estou aqui para falar em nome das gerações que estão pôr
vir.
Eu estou aqui para defender as crianças que passam fome
pelo mundo e cujos apelos não são ouvidos.
Estou aqui para falar em nome das incontáveis espécies de
animais que estão morrendo em todo o Planeta, porque já não têm
mais aonde ir.
Não podemos mais permanecer ignorados.
Eu tenho medo de tomar sol, pôr causa dos buracos na
camada de ozônio.
Eu tenho medo de respirar este ar, porque não sei que
substâncias químicas o estão contaminando.
Eu costumava pescar em Vancouver, com meu pai, até que
recentemente pescamos um peixe com câncer... e agora temos o
conhecimento que animais e plantas estão sendo destruídos e
extintos dia após dia.
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Eu sempre sonhei em ver grandes manadas de animais
selvagens, selvas e florestas tropicais repletas de pássaros e
borboletas e hoje eu me pergunto se meus filhos vão poder ver tudo
isso.
Vocês se preocupavam com essas coisas quando tinham a
minha idade?
Tudo isso acontece bem diante dos nossos olhos e mesmo
assim continuamos agindo como se tivéssemos todo o tempo do mundo e
todas as soluções.
Sou apenas uma criança e não tenho todas as soluções, mas
quero que saibam que vocês também não tem.
Vocês não sabem como reparar os buracos na camada de
ozônio. Vocês não sabem como salvar os peixes das águas poluídas.
Vocês não podem ressuscitar os animais extintos. E, vocês não podem
recuperar as florestas que um dia existiram e onde hoje é um
deserto. Se vocês não podem recuperar nada disso, por favor, parem
de destruir.
Aqui vocês são os representantes de seus governos, homens
de negócios, administradores, jornalistas ou políticos, mas na
verdade vocês são mães e pais, irmãos e irmãs, tias e tios e todos
também são filhos.
Sou apenas uma criança, mas sei que todos nós pertencemos
a uma sólida família de 5 bilhões de pessoas (1.992) e ao todo
somos 30 milhões de espécies compartilhando o mesmo ar, a mesma
água e o mesmo solo. Nenhum governo, nenhuma fronteira poderá mudar
esta realidade.
Sou apenas uma criança, mas sei que esses problemas
atingem a todos nós e deveríamos agir como se fôssemos um único
mundo rumo a um único objetivo. Eu estou com raiva, eu não estou
cega, e eu não tenho medo de dizer ao mundo como me sinto.
No meu país geramos tanto desperdício, compramos e
jogamos fora, compramos e jogamos fora, compramos e jogamos fora e
nós, países do norte, não compartilhamos com os que precisam, mesmo
quando temos mais que o suficiente temos medo de perder nossas
riquezas, medo de compartilhá-las.
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No Canadá temos uma vida privilegiada, com fartura de
alimentos, água e moradia. Temos relógios, bicicletas, computadores
e aparelhos de TV.
Há dois dias, aqui no Brasil, ficamos chocados quando
estivemos com crianças que moram nas ruas. Ouçam o que uma delas
nos contou: "Eu gostaria de ser rica, e se fosse, daria a todas as
crianças de rua alimentos, roupas, remédios, moradia, amor e
carinho.".
Se uma criança de rua que não tem nada, ainda deseja
compartilhar, pôr que nós, que temos tudo, somos ainda tão
mesquinhos?
Não posso deixar de pensar que essas crianças têm a minha
idade e que o lugar onde nascemos faz uma grande diferença. Eu
poderia ser uma daquelas crianças que vivem nas favelas do Rio, eu
poderia ser uma criança faminta da Somália ou uma vítima da guerra
no Oriente Médio ou ainda uma mendiga na Índia.
Sou apenas uma criança, mas ainda assim sei que se todo o
dinheiro gasto nas guerras fosse utilizado para acabar com a
pobreza, para achar soluções para os problemas ambientais, que
lugar maravilhoso que a Terra seria.
Na escola, desde o jardim da infância, vocês nos
ensinaram a sermos bem comportados. Vocês nos ensinaram a não
brigar com as outras crianças, resolver as coisas da melhor
maneira, respeitar os outros, arrumar nossas bagunças, não
maltratar outras criaturas, dividir e não sermos mesquinhos...
Então, por que vocês fazem justamente o que nos ensinaram
a não fazer?
Não esqueçam o motivo de estarem assistindo a estas
conferências e para quem vocês estão fazendo isso.
Nos vejam como seus próprios filhos, vocês estão
decidindo em que tipo de mundo nós iremos crescer.
Os pais devem ser capazes de confortar seus filhos
dizendo-lhes "Tudo vai ficar bem, estamos fazendo o melhor que
podemos, não é o fim do mundo...", mas não acredito que possam nos
dizer isso. Nós estamos em suas listas de prioridades?
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Meu pai sempre diz : "Você é aquilo que faz, não o que
você diz".
Bem, o que vocês fazem, nos faz chorar à noite.
Vocês adultos dizem que nos amam.
Eu desafio vocês, por favor, façam com que suas ações
reflitam as suas palavras.
Obrigada”
O Sr. Fábio Alberti Cascino – É para aplaudir de novo,
não é?
Bem, uma coincidência interessante, Freud nos ensinou que
coincidências não existem, quando eu redescobri esse vídeo, foi em
uma quarta-feira e na sexta-feira, no dia 02 de novembro de 2007,
Washington Novaes publicou o seguinte artigo, que fala por si – eu
não vou ler o artigo inteiro, mas eu vou citar o que Washington
Novaes escreveu, está quase em diálogo com o que está dito neste
vídeo. Vale lembrar que a ECO-92 aconteceu 20 anos depois da
reunião de Estocolmo, que foi a primeira reunião planetária,
global, a respeito de desenvolvimento, meio ambiente e
sustentabilidade. E, foi na ECO-92 que se oficializou o conceito de
desenvolvimento sustentável, por quê? Havia sido produzido um
texto, um texto gerador da Conferência Rio-92 com o título “nosso
Futuro Comum”, na verdade, era um relatório organizado pela
Primeira-Ministra da Noruega, à época, Gro Harlem Brundtland, e,
esse documento, “nosso futuro comum”, publicado pelas Nações
Unidas, pelo PNUMA, foi editado em 1987. Então, de 87 a 92 se
organizou a Conferência, com base no conceito de desenvolvimento
sustentável. Vão se lá quinze anos.
Vejam, então, o que Washington Novaes nos escreve, agora
dia 02 de novembro de 2007, está publicado no Estado de São Paulo:
“Embora não sejam novos, são inquietantes os diagnósticos e
prognósticos do Global Environment Outlook (Geo 4) divulgados no
final de outubro pelo Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (Pnuma). Porque, diz o relatório: ‘não há nenhuma grande
questão levantada no documento Nosso Futuro Comum, em 1987, cujas
tendências previstas sejam agora favoráveis’.”.
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Acho que fica claro que o mesmo órgão que organizou essa
Conferência, afirma agora, quinze anos depois, vinte anos depois,
que nós não evoluímos em nada. E, que, portanto, o discurso dessa
menina, esse puxão de orelha, infelizmente nós não entendemos, nós
não respeitamos. E, essa menina, que hoje deve ter 20 e tantos
anos, quase 30, está vivendo o nosso desrespeito, o desrespeito que
nós produzimos. Isto não é assunto nem do senhor George Bush, nem
do senhor Lula, nem dos políticos exclusivamente, esse é um assunto
relativo a todos nós.
Quando fui convidado para falar sobre a importância da
educação ambiental na formação das gerações, me ocorreu, então,
fazer esse vínculo. A futura geração naquele momento, a futura
geração hoje olha para nós estupefatos, na história do edifício,
perguntando: “o que vocês estão fazendo?”. E, eu decidi, portanto,
fazer essa pergunta aqui, o que nós estamos fazendo? Essa é a
pergunta que eu quero deixar para vocês, para nós nos fazermos
agora.
Washington Novaes, por exemplo, afirma que apesar do
Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, o IPCC,
considerar necessário um corte radical nas emissões de gases, para
evitar que o aumento da temperatura global, essas emissões
continuam aumentando. Na ponta do lápis: nós não estamos deixando
de andar de carro, nós estamos comemorando a descoberta de um poço
de petróleo. Não é interessante? Eu vou em frente, depois nós
comentamos.
Outro dado do relatório que ele comenta que “o buraco na
camada de ozônio continua ‘maior do que nunca’.”, ele aumentou em
relação ao que já era grande em 92. A chuva ácida, que consumiu a
vegetação na Europa, continua aumentando no mundo inteiro. O
consumo humano já supera a capacidade de reposição, o estoque
planetário, em mais de 30%. Nós consumimos mais do que a terra
produz, na ordem de 30%, e continua aumentando. “Os estoques
pesqueiros continuam a reduzir-se, degradam-se terras férteis,
diminui a água de boa qualidade disponível, avança a
desertificação. A extinção de espécies e a perda da biodiversidade
ocorrem em progressão inédita.”, em progressão nunca vista.
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Em particular, ele trata da questão do Brasil e afirma:
“Neste momento, a tendência é de continuar avançando na ocupação de
áreas novas, a julgar por um relatório recente do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)...”, o relatório diz que: “a
área plantada com cana-de-açúcar no Estado de Goiás cresceu 52%,
nos últimos anos e está prevista a instalação de mais 74 usinas no
Estado, onde as licenças para desmatamento em ‘áreas de mata
nativa’ atingiram 555,4 mil hectares em seis anos.”. Não só nos
comemoramos a descoberta de um novo poço de petróleo como nós
estamos comemorando, também, os biocombustíveis. É isso que nós
estamos fazendo. “De acordo com o mesmo relatório, do Inpe, a
expansão da área plantada com cana em Minas Gerais foi de 62,4%; no
Paraná, de 43%; no Mato Grosso do Sul, de 42%; em São Paulo, de
25,5%; e em Mato Grosso, de 16,2%.”. Na Amazônia o desmatamento
voltou a crescer, todos receberam um suplemento sobre a Amazônia,
do Estado de São Paulo, que é excelente e eu parabenizo pela
iniciativa de terem divulgado. Aí, nós encontramos coisas
dramáticas, para chorar mesmo.
O documento da Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico afirma que, provavelmente, haverá a
continuidade do desmatamento, e a projeção é que o Brasil passará
de 23% para 28% do mercado mundial de carnes, e, essa carne vem da
Amazônia.
Evidentemente que a questão é exclusivamente ambiental, e
esse, talvez, seja um ponto de virada importante. O problema é que
o que essa menina falou nessa Conferência, nós não entendemos
direito. Ela, na verdade, ela pautou a fala dela sobre um dado que
nós insistimos em não discutir, e eu não sei até quando o mundo
deixará de discutir esse tema, é verdade que muitos intelectuais já
têm feito este trabalho, e, nesse momento me arrisco a colocar este
tema que é muito polêmico em discussão, mas, de fato, o que nós
queremos dizer com desenvolvimento sustentável? O que nós queremos?
Essa é uma pergunta que parece ser coletiva, mas ela é respondida,
em primeiro lugar, no âmbito pessoal. O que cada um de nós quer,
pretende para o mundo, para o futuro do planeta? E, daí, podemos
fazer várias outras perguntas: o que este Tribunal quer? O que a
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Prefeitura quer? O que as escolas querem? O que as famílias querem?
O que os bancos querem? O que as empresas de carro, as montadoras
querem? De tal forma que, talvez, a gente comece a ir de encontro
com as contradições que, até agora, nós evitamos. É compatível
pretender anunciar defesa do meio ambiente e, ao mesmo tempo,
anunciar um plantio de cana, de biocombustíveis, criando no
imaginário coletivo, na consciência das populações uma autorização
tácita para um maior consumo de carros? Vocês entendem? Eu faço
essa pergunta no lugar de um educador, é como se eu fosse fazer uma
palestra sobre tabagismo, sobre fumo, sobre câncer do pulmão e
estivesse fumando. Tem cabimento nós produzirmos todo um discurso
sobre desenvolvimento sustentável e, ao mesmo tempo, afirmar, de
maneira absolutamente contraditória, maneiras de exploração e
destruição da natureza sem precedente? É o que nós estamos
produzindo hoje neste nosso país.
O que nós esquecemos? No meu modo de entender, nós
esquecemos de produzir no âmbito da educação ambiental uma lógica
de confrontação do modelo de desenvolvimento. É disto que eu estou
falando. Nós produzimos educação ambiental e ambientalismo quase
que de uma maneira ideal, como se não fosse necessário ir ao
encontro do modo de desenvolvimento que nós estamos vivendo. O
modelo de organização da nossa vida. É dramática esta questão
porque nós não temos uma resposta posta no mundo, hoje. Nós não
temos. A discussão entre capitalismo e comunismo se foi, não é
aquela discussão. As múltiplas frentes de organização da sociedade
já aconteceram. Homens e mulheres se organizam de muitas maneiras,
nós não temos mais apenas os partidos políticos. A escola não é o
único lugar que educa. As ONGs... Há várias formas de organização.
As pessoas podem dialogar e se apresentar de maneira diferente em
várias frentes. Portanto, quais são os modos de discussão, de
crítica, de crivo do sistema que aí está? É muito sério esse
problema. E, nós tendemos a colocar o tema da educação ambiental e
do ambientalismo apenas e tão somente na questão da exploração da
natureza, esquecendo da necessária política, da questão política e
econômica. Muitas pessoas falam hoje da tal da economia verde, mas
a economia verde, na verdade, são produtos esverdeados que vão
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sendo criados. Estão, aí, os bancos vendendo agora planos e planos
com tarjetinhas verdes e tal. Efetivamente, colocar em discussão o
sistema capitalista, qual de nós está fazendo de frente? É
possível, hoje, se contrapor ao modo de desenvolvimento do
consumismo, da propaganda? Teremos nós coragem de afirmar que nós
não necessitamos de tantas bugigangas novas, como as fábricas nos
impõe? Cada um de nós aqui quererá romper com esta cadeia infernal
e acelerada, compulsiva de ter mais? Ter, comprar, adquirir mais.
Nós estamos preparados, então, para enfrentar o modelo de
desenvolvimento que nós vivemos e colocar em xeque toda a nossa
organização? É uma utopia isso, não é? Mas nós estamos aqui em cima
olhando para baixo e dizendo: “o que nós vamos fazer com isso?”. Ou
nós vamos assumir o risco de construirmos usinas nucleares e...
Bom, o Mad Max, afinal de contas, pode se realizar, não é? Vocês
lembram do filme? Tudo bem, desde que nós possamos andar de carro,
vamos em frente. Carros elétricos, Ferraris elétricas. Como seria o
anúncio de uma Ferrari elétrica? Será que uma Ferrari elétrica
atingiria 350 km/h? Será que o som do motor de uma Ferrari elétrica
é aquele som que seduz homens maravilhosos e mulheres
escandalosamente belas?
Na verdade, se me permite, Doutor Caruso, meus colegas, o
que nós estamos escapando, por um desvio metodológico perverso, é
de nos confrontar com a nossa própria existência. O enfrentamento é
o modo de produção como está aí, que é o que devora a nossa própria
vida e não é confrontada porque ele nos seduz, ele abastece a nossa
subjetividade de um sem número de coisinhas que cria essa imagem de
que, afinal de contas, a nossa vida é melhor. É verdade que a
tecnologia descobriu muita coisa, mas é verdade que a nossa vida
vive problemas dramáticos cujo a solução nenhum de nós tem. Nós não
temos solução, hoje, para o número de pessoas que vivem o drama da
obesidade e todos os problemas decorrentes de saúde pública. 60% da
população mexicana é obesa hoje, 40% da população européia, que era
uma população tendencialmente magra, ou enfim, está engordando de
maneira perversa. É tão grave que o Governo inglês já decretou que,
pela questão da obesidade e dos problemas de saúde social, e, eu
estou me referindo a países ricos de propósito, porque eles têm
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tecnologia e recurso de saúde pública para solucionar grande parte
dos problemas de saúde que aqui nós não solucionamos, mas o Governo
inglês já reduziu a expectativa de vida porque a população está
engordando. E, é muito interessante estudar a metáfora da
obesidade, porque ela carrega muito claramente o que significa uma
sociedade que não tem limites no ter coisas, no devorar. É
interessantíssimo, porque é o exatamente o contraditório absoluto
do que a Semana de Arte Moderna dizia, a antropofagia, “devorar o
outro para devolver como si mesmo, enriquecido”. Aqui é um devorar
a imagem do sucesso. Nós somos seduzidos pelas imagens que dizem
que com isto, ou aquilo, nós seremos bem sucedidos. A imagem de um
aparelho que, isto sim, fará com que você se comunique sem limites
com tudo. Os celulares. A imagem dos carros que são a extensão, a
potência peniana. É disso que nós estamos falando. De um imaginário
que está absolutamente escavacado, manipulado, controlado por algo
que, obviamente, não diz respeito ao efetivo exercício da vida. Ao
mesmo tempo em que nós assistimos esse avanço irrefreável para
essas doenças sociais. Nunca nós vivemos doenças tão graves na
intimidade como hoje. Questão anunciada por Freud, por Nietzsche.
Não é a toa que o Viagra é, sem dúvida, um dos medicamentos que
mais vende no mundo inteiro. A incapacidade do diálogo é uma
condição sistêmica de suporte do modelo de desenvolvimento
capitalista como nós temos hoje. Eu repito: a incapacidade do
diálogo é uma condição sistêmica. O sistema capitalista depende da
incapacidade do diálogo. Se nós nos aquietarmos e frearmos a nossa
busca por coisas, e olharmos para os lados, o que nós
encontraremos? Gente. Gente querendo conversar. E a conversa é tão
potente, o diálogo é tão potente que é suficiente para suplantar
toda a neurose que a propaganda impõe como busca, desejo de consumo
e de coisas.
Por isso que é fundamental que a grande busca hoje para o
sistema, é que nós, ao invés de nos preocuparmos com as questões da
saúde humana, intelectual, espiritual, sentimental, ou como
quiserem, da subjetividade, nós nos preocupamos com as novas telas
planas digitais que o Governo, agora, colocou a nossa disposição
por dez mil reais. É muito mais importante; hoje, os meninos fazem
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isso e eu vejo que as crianças lidam com essa questão, não é
brincadeira, vocês têm filhos, filhas, sobrinhos, amigos jovens,
netos; as meninas, os meninos, as crianças querem este equipamento.
Eles são levados a querer esse equipamento. Mas, o que significa
uma televisão digital? O que vai melhorar a vida de cada um nessa
coisa de televisão digital? Porque que é absolutamente
imprescindível que nós tenhamos televisão digital? O que aconteceu?
Eu não entendi até agora. A rede neural vai trabalhar melhor e nós
vamos ser mais... Eu não estou entendendo. É uma bobagem. Mas, eu
estou me permitindo sair, descolar dessa realidade e dizer assim:
“Mas, escuta, para onde nós estamos indo?”. Porque eu tenho que
ficar conectado o tempo todo, por quê? Porque eu não posso mais
ficar em silêncio? Porque eu não posso ficar sozinho?
O mundo que a menina estava criticando e que é o mundo em
que nós estamos vivendo hoje é um mundo em que nós não fazemos as
perguntas simples, é um mundo que nós queremos que as crianças não
sejam crianças, nós queremos que as crianças sejam adultas. E, o
que é um adulto? O adulto é um chato que não faz mais perguntas. É
só isso. Adulto é exatamente aquele sujeito que passou por uma
série de situações e acha que agora já conhece o suficiente para
poder dizer para o outro: “faz assim ou faz assado”. E, essa
ruptura com as perguntas essenciais da vida fazem com que nós
percamos de vista o que, afinal de contas, é fundamental para a
existência. Esse modelo de desenvolvimento, por que nós não
criticamos mais? Por que ficou tão fácil de achar que “bom, afinal
de contas, o capitalismo venceu, então, é assim”.
A menina falou dos armamentos. Tem um dado muito pior, eu
acho, hoje: é verdade que, se nós estancássemos as guerras, nós
resolveríamos todo o problema de alimentação. Aliás, é mais fácil
ainda, dando curso para especialistas em comércio exterior, eu
descobri que o problema do alimento não tem nada a ver com
produção, é distribuição e incentivo, impostos, comércio. Alimento
existe para todos. Por que não há distribuição? Porque não há
interesse.
Bom, nós não fazemos mais essas perguntas fundamentais,
nós deixamos que esse processo avassalador invada a nossa vida.
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Nós, então educadores, nos preocupamos menos em realizar as tarefas
mais simples, e as mais importantes, e vamos ao encontro das
grandes tecnologias e das grandes didáticas. E, penso que fazer
educação, essencialmente significa fazer essas perguntas. E, retomo
essa metáfora de impressionado, assim como Marco Pólo, ver uma
população que está estupefata, incontrolável, angustiada,
deprimida, vendo a sua própria destruição e, ao mesmo tempo, se
locupletando com esse mecanismo avassalador que leva a própria
destruição. Nós estamos locupletando esse sistema. Nós não o
freamos, não. Nós fomos responsáveis por tudo isso, nós não freamos
o nosso desejo de consumo. E, nós não criamos uma massa crítica tal
que não coloque apenas o Governo do PT, ou do PSDB em discussão,
mas nós não colocamos a lógica que rege a nossa vida em discussão.
Conseqüentemente a minha pergunta, que vai se complexificando a
cada instante por essa reflexão, nos leva a perguntar: “estamos nós
dispostos a nos mudar, a mudar o nosso modo de agir? Nós aqui
queremos mudar esse modo de agir? Nós que estamos, nesse momento,
metaforicamente olhando a nós mesmo lá embaixo queremos voltar, mas
voltar diferentes? Nós queremos substituir os jogos tolos dos
controles e das políticas de contenção do outro, da circunscrição,
das oposições? Nós que queremos a tempo expulsar a diferença e a
oposição, aquele que discorda da gente, buscando só quem concorda,
nessa crise infinita, egóica. Nós só queremos alguém que nos elogie
o tempo todo. Será que algum dia nós vamos realmente amadurecer e
não nos preocupar com a crítica, ou com o elogio, mas,
simplesmente, fazer aquilo que nós achamos correto, e, aí, sim
assumir a vida adulta de verdade? Eu me lembro que, só para citar
um exemplo bem bacana disso aqui, afinal de contas é a criança, e o
que é fazer educação, o Picasso evoluiu da fase do retrato, da fase
mais acadêmica para maior abstração possível, criando rostos
grotescos, imagens distorcidas, e uma senhora importante na
Espanha, com muito dinheiro, enfim, patrocinou uma exposição do
Picasso, e, ele ousa colocar seus quadros mais recentes, os mais
abstratos, os mais agressivos, os mais contundentes, os mais
críticos, irônicos. E, essa senhora, na abertura da exposição, vai
com o seu neto e ela não se sente bem, porque afinal de contas ela
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patrocinou tudo aquilo, então, ela fala: “Seu Picasso, eu não estou
entendendo. O senhor tinha uma produção tão interessante, tão
bonita. Essas obras, essas obras o meu neto faz.”. Então, ele
disse: “Pois é. O seu neto sim, a senhora não.”. O que mostra uma
coisa muito interessante, que o artista percorreu toda uma vida,
para poder viver depois aquela simplicidade de fazer as perguntas
simples, o desenho simples, a simplicidade de pensar o mundo. O que
é, afinal de contas, importante? Para que nós possamos responder,
no retorno a nossa vida, o que continuamente nós podemos fazer.
Porque, guardar o silêncio, interiorizar e, depois, se abrir para
uma conversa, é sair do mundo, se colocar um pouco por cima. É
viver um certo Tribunal de si próprio, consigo mesmo, e retornar.
Retornar para o diálogo com o mundo, para a troca com o mundo. Esse
é o caminho para mudar o modo de agir, de reconsiderar as relações,
de não mediocrizar a oposição, de não mediocrizar as decisões, de
decidir fortemente pela mudança.
Me anima muito vir falar nesse fórum porque sei que
lideranças importantes que pensam o nosso Município estão aqui, e
eu acho que nós temos que fazer um apelo de ordem política. Sejamos
mais ousados, dando respostas mais ousadas e mais contundentes ao
que aí está. Não haverá partido a se beneficiar disso, não. Seremos
nós, não nós aqui sentados nessas cadeiras, mas as crianças que
hoje têm 13, 10, 5, 2, 1 ano, e as crianças que virão. Isso
significa que uma importante tem que acontecer. Uma mudança de
caráter humano e não técnico e nem tecnológico. Não me peça,
evidentemente, para dizer como tem que ser feito isso nas escolas,
ou aqui no Tribunal, ou nas ações, enfim, dos vários momentos da
organização da nossa vida. Interessa saber que, talvez, nós
possamos afirmar juntos, é uma mudança no jeito de pensar a relação
conosco e com o outro. E, modifiquemos essa forma de nos doar para
o mundo. Eu peço com muita calma e com muita tranqüilidade, sejamos
um pouco mais silenciosos, um pouco mais lentos e escutemos um
pouco mais. Com calma. Para nós combatermos o que, penso, define no
fundo, no fundo, o mundo em que nós estamos vivendo: veloz,
fragmentado e superficial. Não nos contentemos com essa velocidade,
com essa superficialidade, com essa fragmentação contínua. Não nos
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contentemos, aliás, com nada. Nos realizemos, no silêncio, na calma
e na profundidade.
Obrigado.
O Sr. Presidente Antonio Carlos Caruso – Podemos notar
aqui que o querido Fabio Alberti Cascino tocou no coração de todos.
Espero que tenha tocado, também, na nossa consciência, e, que nós
saíamos daqui realmente conscientizados de todas as afirmações que
ele aqui o fez, e são afirmações deveras contundentes, que nós
sentimos aí no dia-a-dia e estamos atravessando por ela.
Fabio, em nome do Tribunal de Contas, do Município, da
nossa comissão de meio ambiente, e de todos aqui presentes, nós o
agradecemos de todo o coração por esta sua estada aqui conosco.
Eu quero passar as suas mãos um pequeno mimo do Tribunal
de Contas do Município: o XII Seminário Nacional do Município.
Educação Ambiental, mudanças de cultura. Esta Casa certifica e
agradece a participação do Ilustre Palestrante Fabio Alberti
Cascino, nesse curso que ficou enriquecido sobremaneira com o
brilho de sua contribuição ao estudo do tema a importância da
educação ambiental na formação das gerações. E, enriquecido mesmo.
Muito obrigado.
O Sr. Fábio Alberti Cascino – [FORA DO MICROFONE]
O Sr. Presidente Antonio Carlos Caruso – Olha, o Fabio
está se colocando a disposição para eventuais perguntas. Eu queria
solicitar, já para vir fazer parte da mesa, o nosso querido
palestrante o Cássio Roberto da Silva, que é o Presidente do Centro
de Educação, Preservação e Pesquisa Ambiental Reservas do Brasil;
ele é o Gestor Ambiental da Fazenda Multiambiental Reserva
Particular do Patrimônio Natural de Tapiari. Cássio, é uma alegria
recebê-lo.
E, nós vamos abrir a oportunidade, então, para os
senhores e as senhoras, para aquele que desejar, que quiser fazer
alguma pergunta ao Fabio, porque ele estará pronto para respondê-
la. Cavalheiro lá, por favor.
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O Sr. Nelson – Fabio, na verdade, eu não quero perguntar,
eu quero te agradecer por você nos fazer pensar, por você nos fazer
refletir, por você nos fazer compartilhar esperança, por você fazer
brotar, eu acho que dentro de mim e provavelmente de todos, pelo
menos dos que estão aqui do meu lado, a indignação para poder
reagir a uma situação dessa, ousar, como você bem falou, não
atribuir essas tarefas apenas às crianças. A tarefa é nossa, não
são as crianças que estão aí que vão fazer algo que, nós quando
crianças criticávamos e, de repente, nós fazemos nesse momento.
Mas, eu quero agradecer também, porque você tocou em um ponto que
não foi tocado aqui anteriormente, e que, no meu entender, também é
fundamental, a questão política, a questão ambiental está
fundamentalmente associada a uma alteração política, a uma
alteração econômica, e é muito simples de nós entendermos isso, é
necessário apontar para uma direção. Nós temos que fazer uma opção
política. Eu lembro o que o professor Toshio Mukai falou aqui no
primeiro momento, no primeiro dia, desculpe. “Nós temos que tratar
a questão ambiental como uma questão de dignidade humana, porque
está ali no artigo 1º, da nossa Constituição.”. As colegas do Rio
de Janeiro, agora pela manhã, citaram o texto constitucional. E, eu
gostaria de citar dois artigos dele, respondendo, então, a minha
indagação, e, no meu modo de ver, apontando para o norte no qual
nós deveríamos nos direcionar. São os artigos 1º, que complementa,
então, o que o professor Toshio Mukai falou, tratando dos
fundamentos do nosso Brasil, além da dignidade humana, ela está
associada a cidadania e aos valores do trabalho e da livre
iniciativa. Muitas vezes nós esquecemos esses dois pontos. Mas,
muito mais do que isso, nós buscamos, e eu até confesso para as
colegas do Estado do Rio que não havia reparado a imposição que se
faz no artigo 225, no sentido de tratar o meio ambiente. E, eu
entendo que, se nós tratarmos do artigo 3º, da Constituição, seria
uma imposição também, para o Estado e para todos nós, do que se
busca na nossa República Federativa: a construção de uma sociedade
livre, justa e solidária; a garantia do desenvolvimento nacional,
dentro desta orientação que você está colocando; a erradicação da
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pobreza e da marginalidade, de modo a reduzir a desigualdade, que
um outro colega colocou aí também; e a promoção do bem de todos. Eu
acho que, se nós tratarmos todos esses parâmetros associados, nós
teremos o nosso norte, nós teremos a direção que você muito bem nos
apresenta e nos faz, então, buscar esse novo caminho.
O Sr. Presidente Antonio Carlos Caruso – Mais alguma
questão? Muito obrigado ao Nelson pela extraordinária colocação.
Mais alguma questão, alguma pergunta? Nada mais?
O Sr. Fábio Alberti Cascino – Se me permitem, eu farei
apenas uma observação em relação a sua fala. Agradeço imensamente o
seu elogio, fiquei emocionado pela reação de vocês. Eu fiquei
emocionado e comovido, e espero que tenha ocorrido o mesmo.
Na verdade, é uma situação tão grave a que nós estamos
vivendo que nós precisamos nos mobilizar. Então, a intensidade da
minha fala é relativa à intensidade da minha crença na nossa
capacidade de mudarmos as coisas. Por isso que eu não aceito o
rótulo de nem catastrofista, nem pessimista, como eu disse quando
comecei a minha fala. Porque é da indignação ousadamente
pessimista, radical que surge a capacidade da transformação ousada
e radical. E, nós precisamos é dessa.
Com relação a essas questões políticas, sim, é muito
grave esse tema. Eu sinto ter que dizer, mas, muito dos nossos
colegas, dos meus colegas, dos meus amigos, não neste encontro, mas
em muito encontro, têm produzido essa lógica que é perversa, e eu
tenho insistido muito nessas questões. Infelizmente até para muito
desconforto pessoal de ter que lidar com isso, mas há muito
interesse de sobrevivência, de poder estar no mundo ocupando
lugares, a partir de um jogo de interesses, de um certo respeito às
condições atuais para a obtenção de fundos, de bolsas, de recursos
governamentais, ou privados, para acessar os patrocínios. Isso
significa dizer que, não raro, muitos pensadores da educação
ambiental e do ambientalismo sabem, perfeitamente, que a questão da
preservação deste planeta está ligada diretamente com a
substituição urgente do modelo de produção e desenvolvimento, e,
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isso significa afrontar radicalmente as lógicas imperialistas e
toda a lógica da guerra, de todas as formas de guerra, e, aí,
também as guerras de consumo, as guerras das relações
interpessoais, além daquelas do Estado, do Estado terrorista, do
Estado patrocinador de conflitos. Então, eu me refiro desde as
questões territoriais entre Irã/Iraque, Israel, enfim, da Al-Qaeda,
enfim, culminando, chegando, desdobrando nas questões nossas, mais
locais, dos conflitos entre a pobreza e a riqueza, a marginalidade,
e, daí, toda a violência simbólica que as imposições dos
comerciais, do sexismo, das drogas, da sexualidade desenfreada em
relação a pai e mãe, e tal, estão postas.
Então, é enfrentar essa questão imperial, do ponto de
vista da guerra, ao lado de uma reforma radical do que significa
Democracia hoje.
Na verdade, nos primórdios do ambientalismo, e aí me
refiro a fundadores, a pensadores do pensamento ambientalista,
dentre eles Hebert Marcuse, e, aí, sem referência a momentos da
história em que esses autores produziram, eu vou fazer uma certa
mistura de datas, mas aqui, na verdade, são referências
conceituais. Herbert Marcuse, Henry David Thoreau, o próprio
Gandhi, o Félix Guattari, Milton Santos, Paulo Freire, Edgar Morin
são todos pensadores que nos colocam de frente dessa condição
radical do ser humano, ao lado de uma realização política do
humano.
Então, vejam, realizando, portanto, e eu vou até pedir
desculpa para o meu colega, porque eu estou me alongando um
pouquinho na resposta, mas é só para completar alguns dados que me
parecem importantes, perdão, perdão Doutor Caruso.
Realizando, portanto, uma conexão fundamental, já
encontrada nos pré-socráticos e elaborada por Epicuro, na
realização ética do ser humano. Na relação entre o jardim e a rua,
entre o íntimo, a casa, o canto, o nosso canto, o nosso lugar de
descanso, portanto, o jardim, em relação a rua, o lugar das
relações, do encontro, da troca, e, portanto, o lugar da política.
A melhor política é a que pensa o encontro desses dois mundos.
Então, neste momento, eu me refiro aos últimos 30 anos, muitos
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pensadores sabem do que nós estamos falando, sabem que repensar as
relações significa repensar este universo, da política e de todos
os impérios que nos controlam. Ocorre que há muitos interesses,
interesses imediatos, de sobrevivência imediata, que se sobrepõe a
um projeto de transformação, na verdade, me refiro a uma utopia.
O que nós estamos vivendo, na verdade, meus colegas,
amigos e todos vocês, nós estamos vivendo os estertores do que foi
o projeto da Revolução Francesa, nós estamos vivendo os momentos
finais de um modelo de organização da sociedade. Para muitos
autores nós estamos vivendo a pós-modernidade, a super-modernidade,
enfim, algo que tem início no final da Idade Média, com a passagem
pelo renascimento, e que mostra, então, seus limites. Porque nós
chegamos, de fato, em limites materiais, em limites concretos que
estão aí. Mais dez, vinte, trinta anos, em termos de população
planetária é nada, é nada, absolutamente nada. Mas, sem dúvida que
nós precisamos colocar os temas desta maneira. Ocorre que há muita
hipocrisia, muita falsidade, porque se coloca na frente, o projeto
pessoal. Na verdade, com Stefan Zweig, o minuto decisivo. Stefan
Zweig que tem um famoso texto que chama O Minuto Decisivo. Muitas
decisões acontecem em momentos em que a subjetividade atua. Aliás,
todas as decisões acontecem assim, na subjetividade. Eu até
comentava com um colega, o Marcos, como o nosso sistema jurídico,
hoje, carece de formação filosófica. Essas faculdades formando
rapidamente advogados, e que passam por cursos em que não há essa
reflexão. E, eu sempre fico pensando: “como uma menina de 28 anos,
um menino de 28, 29 anos, que assume lá um cargo de juiz, qual é a
subjetividade desse rapaz, dessa moça quando olha um caso de um
casal que está se destruindo em uma separação? Ou em uma venda de
imóvel? Ou em um assassinato? O que acontece na cabeça desse povo
que sofre exatamente todas essas influências?”. Então, são
perguntas graves que nós não fazemos, por quê? Porque nós nos
colocamos antes com esses projetos imediatos.
O tema da política, portanto, nessa dimensão a que eu me
refiro, ética, maior, ele está posto desde o início para o
movimento ambientalista. Mas, quis, o movimento ambientalista,
principalmente este mais ligado aos corredores do Congresso, as