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TERMO DE APROVAÇÃO
PAULO CEZAR DE SIQUEIRA
O JOGO ANTES DO JOGO
Trabalho de conclusão de curso aprovado com nota 10,0 como requisito
parcial para a obtenção do grau de bacharel em Comunicação Social – Jornalismo
pelas Faculdades Integradas do Brasil – Unibrasil, mediante banca examinadora
composta por:
Professora: Maura Oliveira Martins
Professor: Bem-hur Demeneck
Professor: Rodolfo Stancki
Curitiba, 05 de dezembro de 2013.
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3
FACULDADES INTEGRADAS DO BRASIL
O JOGO ANTES DO JOGO
LIVRO-REPORTAGEM SOBRE AS EXPERIÊNCIAS DE VIDA DE SEIS
PARATLETAS DE CURITIBA E REGIÃO METROPOLITANA
CURITIBA
2013
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PAULO CEZAR DE SIQUEIRA
O JOGO ANTES DO JOGO
LIVRO-REPORTAGEM SOBRE AS EXPERIÊNCIAS DE VIDA DE SEIS
PARATLETAS DE CURITIBA E REGIÃO METROPOLITANA
Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção do título de Bacharel em Jornalismo junto à Escola de Comunicação Social das Faculdades Integradas do Brasil — UniBrasil. Orientadora: Professora Maura Oliveira Martins
CURITIBA
2013
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Agradecimentos
Em primeiro lugar, à minha esposa Cintia, que teve a paciência de estar ao
meu lado nesta longa caminhada. Ao criador por nos permitir existir e melhorar como
pessoas.
À mestra Maura Martins pela paciência, dedicação, comprometimento e
inspiração compartilhada durante as orientações finais deste trabalho de conclusão
de curso.
Paulo de Siqueira
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"Vamos! Vamos! Vamos! Com os olhos do coração!
Vamos sem pernas, vamos sem braço, vamos ser
campeão" — grito de guerra da delegação brasileira
que participou dos Jogos Parapan-Americanos do
Rio de Janeiro, em 2007.
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Resumo
Este trabalho de conclusão de curso tem por objetivo entender como o jornalismo pode, através de um livro-reportagem, construir uma narrativa jornalística da experiência de vida de seis atletas paralímpicos, através de seus próprios relatos e de forma não estereotipada. A fundamentação teórica deste trabalho é embasada na teoria das representações sociais, da psicologia social, da construção social da realidade e dos estigmas sociais. Na metodologia é apresentada uma análise do conteúdo on-line do jornal Gazeta do Povo, publicado durante as Paralimpíadas de Londres, em 2012. Por fim, debate também o recorte de notícias estereotipadas feito pela mídia convencional de forma “natural” através do lead.
Palavras-chave
Jornalismo, estereótipos, estigma, livro-reportagem, jornalismo literário.
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO......................................................................................................10
2. DELIMITAÇÃO DO TEMA E PROBLEMATIZAÇÃO............................................11
2.1 HISTÓRIA DAS OLIMPÍADAS.............................................................................11
2.2 O INÍCIO DAS PARALIMPÍADAS........................................................................12
2.2.1 O Brasil nas Paralimpíadas...............................................................................14
2.3 A DEFICIÊNCIA E O JORNALISMO....................................................................14
2.3.1 Os deficientes, a deficiência e a mídia..............................................................16
2.4 COBERTURA MIDIÁTICA DOS JOGOS PARALÍMPICOS.................................18
2.5 PARATLETAS PARANAENSES E CURITIBANOS NA MÍDIA............................19
2.6 UMA PERSPECTIVA PROFISSIONAL SOBRE OS ATLETAS EM RELAÇÃO ÀS
SUAS DEFICIÊNCIAS...............................................................................................28
2.7 PROBLEMA..........................................................................................................30
3. OBJETIVO GERAL................................................................................................31
3.1. OBJETIVOS ESPECÍFICOS...............................................................................31
4. JUSTIFICATIVA.....................................................................................................32
5. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.............................................................................36
5.1 CONCEITO DE ESTEREÓTIPOS, DE ACORDO COM A PSICOLOGIA
SOCIAL......................................................................................................................36
5.2 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS...........................................................................37
5.3 JORNALISMO LITERÁRIO..................................................................................41
5.4 CONCEITO DE REPORTAGEM..........................................................................43
5.5 LIVRO-REPORTAGEM........................................................................................44
5.6 A JORNADA DO HERÓI.....................................................................................47
6. METODOLOGIA DE PESQUISA...........................................................................49
6.1. A PESQUISA DA BIBLIOGRAFIA.......................................................................50
6.2. PESQUISAS DE CAMPO....................................................................................51
7. DELINEAMENTO DO PRODUTO.........................................................................53
7.1. FORMATO...........................................................................................................53
7.1.1 Formatação gráfica............................................................................................53
7.1.1.1 Capítulos........................................................................................................54
7.1.1.2 Capa...............................................................................................................54
7.1.1.3 Dimensões......................................................................................................55
9
7.2 PERSONAGENS..................................................................................................55
7.3 SELEÇÃO DE ENTREVISTADOS.......................................................................57
7.4 FOCO NARRATIVO.............................................................................................58
7.5 PÚBLICO-ALVO...................................................................................................58
8. RECURSOS MATERIAIS E ORÇAMENTO..........................................................59
9. CRONOGRAMA.....................................................................................................60
10. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................61
11. REFERÊNCIAS....................................................................................................62
12. ANEXOS..............................................................................................................67
10
1. INTRODUÇÃO
Estereótipos, representações sociais e preconceitos são os temas abordados
nesta pesquisa. Mas, e principalmente, discutir-se-á a postura do jornalismo e do
jornalista diante destas maneiras de perceber a realidade social. Porque o
profissional de imprensa, como indivíduo, está inserido na sociedade e não pode
ficar indiferente a questões tão relevantes.
Uma sociedade é feita de indivíduos. Indivíduos pensantes, capazes de
realizar reflexões sobre atitudes preconcebidas e, consequentemente, remodelá-las
em si. Uma pessoa, quando analisa suas atitudes, tem a capacidade de influenciar
outro, e esse outro a outros e assim por diante. Desta forma é que a sociedade
remodela-se a partir de sua célula principal, que é o indivíduo.
A sociedade parece ser um órgão regenerante que, todos os dias, reconstrói-
se, reinventa-se, remodela-se, assim como se verá no estudo da obra “A Construção
Social da Realidade” de Berger e Luckmann (2002), discutida neste trabalho. Essas
remodelagens sociais partem, em boa dose, de informações dadas pela grande
imprensa, e a grande imprensa é feita por indivíduos — os jornalistas.
Ora, se é, em boa parte, no diálogo com a imprensa que se criam as
representações sociais, como veremos neste trabalho de pesquisa, cabe aos
jornalistas discutir o tema dos estereótipos que estão profundamente relacionados
com os deficientes. Desta forma, a própria sociedade poderá conseguir um
entendimento mais profundo da questão, para que possa adaptar-se de tal maneira
a reformular a representação dos paratletas na mídia e, como consequência, em si
mesma. Essa é a proposta deste estudo.
Justifica-se então, este trabalho de conclusão de curso, porque é justamente
a tarefa da academia discutir, sondar, investigar questões sociais e propor novos
paradigmas a toda a sociedade.
11
2. DELIMITAÇÃO DO TEMA E PROBLEMATIZAÇÃO
2.1. HISTÓRIA DAS OLIMPÍADAS
A cada quatro anos, nações enviam atletas a um determinado país sede para
disputarem modalidades desportivas e celebrarem a união dos povos e raças. Esses
são os Jogos Olímpicos. De acordo com Colli (2004, p. 07), uma das versões aceitas
por historiadores diz que o início dos jogos foi em 884 a.C. Na ocasião, os reis
Cleóstenes de Pisa, Ífito de Elis e Licurgo de Esparta fizeram um pacto de paz entre
as três cidades, que estavam em guerra e desequilibraram a estabilidade do mundo
grego. O local do pacto foi Olímpia, a cidade sagrada, onde ninguém podia entrar
com armas. Após o acordo, celebraram-no com jogos em Olímpia, que quer dizer:
“um período de quatro anos”. Esses jogos se estenderam por toda a Grécia. Porém,
provas arqueológicas apontam para o início dos jogos em 776 a.C. (id, p. 07).
Segundo Colli (ibid, p. 09), em 393 d.C, tomado por uma grave doença, o
imperador romano Teodósio pediu ajuda ao bispo Dom Ambrósio de Milão para
recobrar a saúde. Quando curado, ele se converteu ao Cristianismo e, a pedido do
bispo, aboliu todas as festas pagãs, incluindo os Jogos Olímpicos. Foi nesse ano
que se extinguiram as Olimpíadas da Era Antiga (ibid, p. 09).
Porém, em 1892, o Barão de Coubertim, ao encerrar sua palestra na
Universidade de Sorbonne, expõe seu desejo de retomar os Jogos Olímpicos1. Os
primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna realizaram-se em 15 de abril de 1896,
em Atenas. Participaram 14 países. Da América do Sul, somente o Chile esteve
presente. Competiram 88 atletas estrangeiros e 123 gregos (ibid, p. 09).
Nos anos de 1940 e 1944, os Jogos Olímpicos foram cancelados por causa
da Segunda Guerra Mundial. Voltaram a ser realizados somente em 1948, em
Londres, na Inglaterra (ibid, p. 43). E foi justamente nessa ocasião que se iniciaram
os Jogos Paralímpicos2.
1 “Ao anunciar a reintegração dos Jogos Olímpicos, o Barão de Coubertim, inspirado no trabalho
desenvolvido pelo pastor anglicano Thomas Arnold na escola de Rúgbi da Inglaterra, tinha como objetivo implantar um sistema ideal de educação esportiva para todo o mundo” (COLLI, 2004, p. 10, 11). 2 Para as Paralimpíadas de Londres, em 2012, o Comitê Paralímpico Internacional exigiu ao Comitê
Paralímpico Brasileiro de que os termos Paraolímpicos e Paraolimpíadas deixassem de ser usados no Brasil e se inserissem no lugar os termos Paralímpico e Paralimpíadas, igualando-se à nomenclatura internacional usada. Neste trabalho, usar-se-ão os termos recomendados.
12
2.2 O INÍCIO DAS PARALIMPÍADAS
Em 1945, o neurocirurgião Ludwig Guttmann idealizou uma competição
esportiva entre lesionados medulares no Hospital de Stoke Mandeville, na Inglaterra.
Essas competições vislumbravam trabalhos de recuperação de veteranos da
Segunda Guerra Mundial. Guttmann esperava que o esporte trouxesse uma
melhoria ao quadro clínico das pessoas com deficiências. O sucesso dessa
competição foi tão grande que Guttmann e os idealizadores dos jogos resolveram
expandi-los. Durante os Jogos Olímpicos de Londres, em 28 de julho de 1948,
houve então a primeira competição nacional entre pessoas com deficiências.
Surgiam os Jogos Nacionais de Stoke Mandeville (CARVALHO apud CALVO, 1999,
p. 51).
De acordo com Carvalho (apud CALVO, 1999, p. 51), em 1960, durante os
Jogos Olímpicos de Verão, em Roma, na Itália, realizados entre os dias 25 de
agosto e 11 de setembro, ocorreram os primeiros Jogos Paralímpicos organizados
junto com os Jogos Olímpicos. Eles foram realizados entre os dias 18 e 25 de
setembro de 1960 e reuniram 400 atletas, de 23 países. A ideia veio de Antonio
Magli, diretor do Centro de Lesionados Medulares de Ostia, que propôs a Gutmann
a realização das competições exatamente como ocorria em Stoke Mandeville. Foi
nesse momento que os Jogos Paralímpicos começaram a tomar forma. Incluíram-se
nesse evento oito modalidades: atletismo, tiro olímpico, esgrima, natação, tênis de
mesa, tiro com arco e basquete masculino em cadeira de rodas (CARVALHO apud
CALVO, 1999, p. 52).
Segundo a Fundación ONCE3 (apud CALVO, 1999, p. 52), em 1984, os Jogos
Olímpicos foram realizados em Los Angeles e os Jogos Paralímpicos em Nova York
e também na cidade de Stoke Mandeville, na Inglaterra. Porém, foi em Nova York
que se acendeu pela primeira vez a tocha paralímpica, a partir da chama da XXIII
Olimpíada, realizada em Los Angeles. Foi nesse momento que começou a
prevalecer a ideia de igualdade de valor das Olimpíadas com as Paralimpíadas.
Nesses dois jogos, somaram-se 1800 atletas paralímpicos.
3 É uma organização não governamental espanhola de solidariedade social e sem fins lucrativos. O
objetivo desta organização é melhorar a qualidade de vida dos cegos e deficientes visuais da Espanha.
13
Em Barcelona, na Espanha, em 1992, a nona edição dos Jogos Paralímpicos
contou com 3.020 atletas de 82 países4. As delegações alojaram-se nas Vilas
Olímpica e Paralímpica. Na cerimônia de abertura, participou um público de 65 mil
pessoas e os jogos foram assistidos por dois milhões de espectadores. Nesses
jogos, iniciou-se o processo de controle de doping. Em Barcelona, também se
realizou pela primeira vez o agrupamento dos atletas segundo a igualdade de
condições, de acordo com suas capacidades físicas (CARVALHO apud CALVO,
1999). A mais recente Paralimpíada, em 2012, foi realizada em Londres, Inglaterra,
país onde as competições começaram. Os jogos reuniram 4.200 atletas, com 166
países participantes, competindo entre si em 20 modalidades diferentes. Percebe-
se, desde que se iniciaram os jogos, em 1948 uma profunda ascensão em volume
de atletas e na importância das competições, como se mostra no gráfico abaixo.
QUADRO ANALÍTICO DAS PARALIMPÍADAS DE LONDRES
Figura 1: Gráfico analítico sobre o crescimento das Paralimpíadas
5
4 Fonte: Conselho Paralímpico Brasileiro 2012 (CPB). 5 Gráfico elaborado pelo Comitê Paralímpico Internacional e traduzido ao português pelo Comitê
Paralímpico Brasileiro.
14
2.2.1. O Brasil nas Paralimpíadas
O Brasil, por sua vez, levou às Paralímpiadas de Londres, em 2012, 182
atletas, conquistando 43 medalhas: 21 de ouro, 14 de prata e oito de bronze. Apesar
de levar o sétimo lugar na classificação geral, esse foi o melhor posicionamento em
toda a história do país nas competições paralímpicas. Comparando com as
Paralimpíadas de Pequim, em 2008, o Brasil subiu duas posições.
2.3 A DEFICIÊNCIA E O JORNALISMO
De acordo com as análises realizadas nesta pesquisa6, o recorte noticioso
que o Jornal Gazeta do Povo deu aos paratletas de Curitiba e Região Metropolitana
durante os jogos Paralímpicos de Londres, em 2012, envolve o sentido de
admiração, piedade e de pouca importância dos jogos. Mas a vida de um deficiente
é mais abrangente do que somente essa imagem. Para compreender o deficiente se
faz necessário estudar a deficiência e, como apontam Pereira, Pereira e Monteiro
(2011, p. 201), buscar algumas informações na Idade Média. Nela percebe-se que
os deficientes eram vistos como pessoas de extrema maldade, “possuídas por
demônios” e por esse motivo, eram excluídos (CORREIA apud PEREIRA, PEREIRA
e MONTEIRO, 2011, p. 201). Eram retratados como resultado de uma causa
sobrenatural. Por essa maneira de pensar, a sociedade os excluía, os isolava e
perseguia. Eram vistos como pessoas vergonhosas. Muitos deles viviam em
completo isolamento, para justamente fugir da sociedade identificada como “normal”
(BARNES e MERCER apud PEREIRA, PEREIRA e MONTEIRO, 2011 p. 201).
Para buscar explicar esse fenômeno que envolve o ser-humano, buscou-se
explorar as investigações de Moscovici (2003, p. 61), que diz que as pessoas,
embasadas em suas memórias e em conclusões passadas, recorrem a um processo
de ancoragem de ideias, quando estas são estranhas a elas. Tentam, então,
familiarizar essas ideias estranhas, associando-as a imagens comuns de um
contexto familiar, buscam classificar e dar nome a essa “coisa estranha”. Esse é o
processo de ancoragem que “significa classificar e dar nomes a alguma coisa.
Coisas que não são classificadas e que não possuem nomes são estranhas, não
existem e são, ao mesmo tempo, ameaçadoras”.
6 A análise realizada se encontra no tópico 2.5 “Paratletas paranaense e curitibanos na mídia”.
15
Do mesmo modo, para Goffman (1988, p. 11) a sociedade classifica as
pessoas em grupos específicos de acordo com seus atributos, ou sua imagem. E
quando uma dessas pessoas de um grupo classificado se apresenta a quem o
classifica, o grupo classificador pode lhe atribuir características que a transformarão
em uma pessoa estigmatizada. Esse estigma pode ocorrer mesmo sem que se
tenha a consciência do seu significado.
Já na Idade Moderna e no Período Industrial, as pessoas com deficiência
eram vistas como indivíduos que não tinham utilidades comerciais, que não
contribuíam para a economia da sociedade onde estavam inseridos (HUNT apud
PEREIRA, PEREIRA e MONTEIRO, 2011, p. 201). Sob a ideia das pessoas com
deficiência serem um problema social, e com o avanço da medicina, surgem então,
as condições “apropriadas” para retratar a deficiência como uma patologia que
deveria ser “tratada”. Esse é o Modelo Médico, uma das maneiras de olhar a
deficiência, que busca curar, busca medicar a deficiência e que não a vê como um
problema social, mas sim individual e biológico (GABEL e PETERS apud PEREIRA,
PEREIRA e MONTEIRO, 2011, p. 201).
Não obstante, o pressuposto essencial deste modelo é de que o biológico determina o social e que o indivíduo terá de se adaptar ao meio. Apesar de reconhecer constrangimentos sociais, o modelo médico não reconhecia a associação da doença à opressão e à exclusão social sistemática, baseando-se nos diagnósticos e soluções médicas e focando a deficiência e o indivíduo (BARNES e MERCER, 2004 apud PEREIRA e MONTEIRO, 2011, p. 202).
Esse modelo tem por ponto de vista a pessoa com deficiência como o “outro”,
como um corpo estranho na sociedade. Suas bases estão no conceito de “corpo
perfeito”. Esse é o olhar negativo, olhar que se torna uma representação social do
deficiente, que acredita que ele tem que ser curado antes de ser inserido na
sociedade (GABEL e PETERS; BARNES, MERCER apud PEREIRA, PEREIRA e
MONTEIRO, 2011 p. 203).
De acordo ainda com Pereira, Pereira e Monteiro (2011), para ir de encontro
ao modelo médico de olhar a deficiência, que tem uma visão limitada e parcial da
inserção dessas pessoas na sociedade, surge o Modelo Social. Esse modelo propõe
que a própria sociedade é que deve oferecer as maneiras para que esse “outro” se
insira nela e para que se quebrem as barreiras dos preconceitos relacionados às
pessoas com deficiência. Ele propõe que o coletivo, as estruturas da sociedade e a
16
própria sociedade resolvam as necessidades de inserção social dessas pessoas,
porque ela, a sociedade, é a maior culpada do isolamento e da não inserção das
pessoas com deficiência. O modelo instiga, então, a quebrar-se o frio paradigma de
que a pessoa com deficiência é um “problema” médico (HUGHES apud PEREIRA,
PEREIRA e MONTEIRO, 2011, p. 203).
Os defensores deste modelo afirmam que a deficiência não é algo que existe somente a nível individual, mas também a nível social, sendo a sociedade a principal responsável na impotência das pessoas com deficiência em conseguirem ter uma vida idêntica a das pessoas sem deficiência (BARNES, MERCER apud PEREIRA, PEREIRA e MONTEIRO, 2011, p. 204). Neste contexto, o problema da deficiência está não só na própria deficiência e nos seus efeitos, como também na área da relação pessoal e social (HUNT, apud PEREIRA, PEREIRA e MONTEIRO, 2011, p. 204).
Pereira, Pereira e Monteiro (2011, p. 201) também analisam que é a
sociedade que classifica o “outro”7 como deficiente e o faz a partir de um prisma dos
não deficientes. Por este motivo, essa classificação tem raízes preconceituosas e
estereotipadas.8 Por fim, os autores finalizam apontando que tanto o modelo médico
quanto o social são importantes para as pessoas com deficiência, porque se um é
limitado na sua visão social, dá cuidados médicos, terapêuticos e psicológicos. O
outro, por sua vez, rompe com as barreiras que impedem a inserção das pessoas
com deficiência na sociedade e propõe que elas tenham uma vida igual à das
pessoas sem deficiência.
2.3.1. Os deficientes, a deficiência e a mídia.
Embasando-se nos estudos apontados pelo modelo médico e social de
perceber a pessoa com deficiência, ver-se-á agora como eles são apresentados à
sociedade. Essa apresentação se dá, em grande parte, através da mídia.
Segundo Pereira, Pereira e Monteiro (2011, p. 204), a mídia é importante na
sociedade porque, além de influenciar opiniões, consegue atingir grupos sociais e
7 “As pessoas com deficiência são vistas como diferentes, como deficientes, de acordo com os
padrões de normalidade estabelecidos pela própria medicalização. No fundo, as pessoas sem uma deficiência percebem e catalogam “o outro” como forma de se sentirem ou percepcionarem como
“normais” (PEREIRA, PEREIRA e MONTEIRO, 2011, p. 201). 8 Estereótipo: segundo Rodrigues, Assmar e Jablonski, (1999 p. 152), significa ver uma determinada
pessoa, ou grupo sempre de uma mesma maneira, com a mesma roupagem, que pode estar influenciadas por pré-conceitos.
17
discutir os problemas que tangem tais grupos, de forma aberta, com toda a
sociedade. Afirmam ainda que se a sociedade tem conhecimento dessa parcela de
pessoas com deficiência, é graças aos meios de comunicação, que os trazem à tona
e constroem até mesmo suas imagens. Porém, a questão é: como essa imagem é
construída? (FARNHALL e SMITH apud PEREIRA, PEREIRA e MONTEIRO, 2011,
p. 205).
Essa influência pode, por um lado, melhorar nosso conhecimento, alertando-nos para as questões da deficiência, mas, por outro, promulgar, através da falta de informação, o reforço de estereótipos (AUSLANDER e GOLD, 1999), que nos fazem olhar para essas pessoas com “compaixão”, como “sofredoras” ou mesmo heróis (PEREIRA, PEREIRA e MONTEIRO, 2011, p. 205).
Os autores consideram o papel da mídia como chave para a mudança de
paradigmas sociais em relação às pessoas com deficiência, porque que é ela, a
mídia, que vai promover a discussão do tema, visando uma mudança de atitude da
população, além de levar a informação capaz de criar e transformar as normas
comportamentais para que as pessoas com deficiência vivam uma vida plena, no
sentido de participação na sociedade (BYRD e ELLIOT apud PEREIRA, PEREIRA e
MONTEIRO, 2011, p. 205).
Porém, ao distorcer a experiência da deficiência, a mídia contribui significativamente para a discriminação das pessoas com deficiência (...), reforçando as formas e as atitudes negativas ao seu redor (PEREIRA, PEREIRA e MONTEIRO, 2011, p. 205).
De acordo com Pereira, Pereira e Monteiro, (2011, p. 205), a mídia, ao
distorcer a experiência da deficiência, cria modelos estereotipados de pessoas que
são retratadas como inferiores. Ao mesmo tempo, cai para o outro extremo,
mostrando-as, por vezes, como super-humanos que puderam vencer as mais
profundas limitações em competições, como, por exemplo, os Jogos Paralímpicos.
É importante ressaltar neste trabalho que a discussão para se evitar
estereótipos e preconceitos sobre as pessoas com deficiências é hoje tão intensa na
sociedade que, de acordo com o site do Senado do Governo Federal,9 na
Convenção Internacional para Proteção e Promoção dos Direitos e Dignidade das
9http://www.senado.gov.br/senado/portaldoservidor/jornal/jornal70/utilidade_publica_pessoas_deficien
cia.aspx
18
pessoas com deficiências, ocorrida em 30 de março de 2007, oficializou-se que o
termo correto para designar um deficiente é “pessoa com deficiência”. A ideia
difundida na convenção era de que essa terminologia fosse promulgada em todos os
países membros da ONU. No Brasil, em 25 de agosto de 2009, em decreto
presidencial, promulgou-se o que foi decidido na convenção.
Em 2010, o Ministro Paulo de Tarso assinou a portaria que define e adota o
uso da terminologia. Ficou oficializado no país o uso do termo “pessoa com
deficiência”. Outras terminologias como: portador de deficiência, pessoa portadora
de deficiência ou portador de necessidades especiais deixaram de ser usadas. Essa
discussão mundial sobre qual terminologia usar se dá pela necessidade de
promover uma igualdade entre “deficientes” e “não-deficientes”. Na verdade, busca-
se eliminar o processo de estereotipagens e os estereótipos que, mesmo no caso
positivo, como no exemplo dos super-heróis, reforçam a visão do modelo médico,
que considera a pessoa com deficiência como um problema clínico, tratável, e que,
ao ser superado, rende-lhe, então, o mito de herói (FARNHALL e SMITH apud
PEREIRA, PEREIRA e MONTEIRO, 2011, p. 205).
2.4 COBERTURA MIDIÁTICA DOS JOGOS PARALÍMPICOS
Apesar do visível crescimento e do aumento da importância das
Paralimpíadas nas últimas décadas e da perceptível luta para se evitar que o olhar
da inferioridade e do preconceito caia sobre as pessoas com deficiência, visto que
muitos outros assuntos poderiam ser abordados durante os jogos, percebe-se que a
imprensa convencional quase nada fala sobre os bastidores do paratleta, ou sobre a
repercussão da medalha e a experiência que ele teve para chegar ao pódio. Em
geral, nas notícias ainda se insiste em qualificar os deficientes como super-heróis
que tiveram que fazer um grande esforço para sobrepujar sua deficiência e subir ao
pódio, o que reforça a visão médica de perceber o deficiente, ou o atleta que possui
uma deficiência. Essa maneira de noticiar banaliza, então, os resultados atingidos
pelos paratletas, enquadrando-os de forma estereotipada (BRITTAIN apud
FIGUEIREDO, NOVAES, 2010, p. 02).
A seguir, ver-se-á uma amostra de como as notícias sobre os atletas
paralímpicos circulam na mídia de Curitiba. Usar-se-á para essa análise o jornal
19
Gazeta do Povo. O período apurado foi de 29 de agosto a 09 de setembro de 2012,
tempo que duraram as Paralimpíadas de Londres.
2.5 PARATLETAS DE CURITIBA E REGIÃO METROPOLITANA NA MÍDIA
PARANAENSE
Para se entender melhor o fenômeno social que envolve estereótipos,
preconceitos, paratletas de Curitiba e Região Metropolitana e a mídia, buscou-se
realizar uma análise das matérias publicadas pelo jornal Gazeta do Povo, edição
digital, durante as Paralimpíadas de Londres 2012. A escolha dessa empresa de
comunicação deu-se porque ela, a convite do Comitê Paralímpico Brasileiro, enviou
um jornalista para cobrir o evento. Como a proposta deste trabalho de conclusão de
curso tem como tema central paratletas de Curitiba e Região Metropolitana, julgou-
se importante escolher um jornal da região que produzisse as matérias dos jogos.
Dessa forma, buscou-se verificar as estratégias discursivas utilizadas pela imprensa
local ao noticiar o acontecimento — o que não poderia ser observado, por exemplo,
nos materiais enviados por correspondentes estrangeiros ou agências de notícia.
No processo de coleta de material, o jornal digital foi escolhido porque essa
mídia, hoje, supera o jornal impresso em número de acessos. São 3,4 milhões de
acessos mensais, contra 800 mil leitores mensais do jornal impresso. Além disso,
todas as matérias do jornal impresso são reproduzidas no jornal digital10.
Em um primeiro momento, utilizou-se um método de pesquisa quantitativo, no
intuito de aclarar a incidência de matérias publicadas e qual a visibilidade que o
jornal deu aos paratletas paranaenses em Londres.
De acordo com Moreira (apud MOTTA, 2002, p. 237), “o método de pesquisa
quantitativa envolve tipicamente mensurações precisas, controle rígido de variáveis
e a análise estatística tende a focar na análise das partes dos componentes de um
fenômeno”.
O período apurado foi entre os dias 29 de agosto de 2012 e 09 de setembro
do mesmo ano, tempo de duração das Paralimpíadas em Londres. O número de
matérias veiculadas no site do jornal foi de 72. Dessas, doze foram produzidas por
agências de notícias de outros estados, somando um percentual de 16,67%. Quatro
10
Informações recebidas do setor de relacionamento com o cliente do jornal Gazeta do Povo, no dia 10/09/2013.
20
não tinham assinatura de redator, com um percentual de 5,55%. As matérias
produzidas pelo jornalista da Gazeta do Povo em Londres foram cinquenta e seis,
somando 77,78%.
ANÁLISE DE TODAS AS MATÉRIAS
Figura 2: gráfico demonstrativo de todas as matérias publicadas no jornal Gazeta do Povo.
No primeiro momento da análise, percebeu-se que das cinquenta e seis
matérias produzidas pelo jornal, quarenta e cinco, somando um total de 80,36%,
tinham como foco atletas de outros estados e de outros países. Dos textos, dois
eram artigos11, somando um total de 3,57%. Oito reportagens e uma nota 12, com um
total de 16,07%, abordavam informações sobre os paranaenses que competiam em
Londres.
11
No artigo jornalístico, o autor analisa um fato de um determinado contexto da sociedade e expõe o resultado de sua análise em determinado espaço midiático de forma implícita ou explicita (...) (FRANCESCHIN, 2004, p.1) 12
“Uma nota jornalística é uma notícia que se caracteriza pela brevidade do texto, ou pequena notícia que se destina a informações rápidas” (ANDRADE E MEDEIROS apud FIGUEIREDO, 2003, p. 110).
16,67%
5,55%
77,78%
Agências (12)
Não assinadas (4)
Gazeta (56)
21
ANÁLISE DAS MATÉRIAS REDIGIDAS PELO JORNALISTA
Figura 3: gráfico demonstrativo das reportagens, artigos e notas sobre os paranaenses em
Londres publicadas no jornal Gazeta do Povo.
Os gráficos evidenciam que o jornal Gazeta do Povo deu maior destaque a
paratletas que não são da região de Curitiba, onde o veículo de comunicação está
inserido. Depois desta análise quantitativa, partiu-se para a análise qualitativa,
porque:
Os pesquisadores, ao empregarem métodos qualitativos, estão mais preocupados com o processo social do que com a estrutura social; buscam visualizar o contexto e, se possível, ter uma integração empática com o processo-objeto do estudo que implique melhor compreensão do fenômeno (NEVES,1996, p. 1).
Além do mais, ao se buscar informações através do método qualitativo,
pretende-se capturar os “significados que as pessoas dão às coisas e à sua vida”
(id).
Para esta análise qualitativa foram selecionados onze textos, somando
15,27% dos setenta e dois materiais publicados pelo jornal sobre as Paralimpíadas
de Londres. As outras sessenta e uma notícias, reportagens ou notas citadas na
pesquisa quantitativa falam de atletas de outros estados ou países, e por isso não
80,36%
3,57%
16,07%
Outros atletas (45)
Artigos (2)
Paranaenses (9)
22
foram selecionadas para a análise qualitativa, visto que o foco desta análise volta-se
aos paratletas paranaenses de Curitiba e Região Metropolitana.
Entre esses onze textos se incluem dois artigos, que foram enquadrados à
grade dos textos analisados por terem conteúdos não dirigidos especificamente a
atletas de outros estados ou países. Nos artigos, encontra-se a opinião e a maneira
de pensar do autor, que se tornaram importantes à análise. A estratégia adotada foi
a de buscar nos textos selecionados palavras ou frases que possam associar a
figura da pessoa com deficiência à admiração, ao sentido de piedade ou
inferioridade porque, segundo Moura (apud NOVAIS e FIGUEIREDO,1993, p.46),
esse olhar “parte de um único princípio: o preconceito”. Para a análise, as matérias
são colocadas em ordem numérica de acordo com a cronologia da publicação.
QUADRO DE ANÁLISE DOS CONTEÚDOS DAS MATÉRIAS
1- Vovó comanda legião paranaense do tênis de mesa.
Data da publicação: 29/08/2012 Autor: Adriano Ribeiro
O título: “Vovó comanda”... , denota um sentido de pouca importância e inferioridade ao esporte paralímpico.
2- Nota: Paranaenses. Data da publicação: 31/08/2012 Autor: Adriano Ribeiro
Nota foca os resultados, assim como qualquer cobertura esportiva. Não inferioriza e foca nos atletas.
3- Paranaense realiza em Londres sonho adiado.
Data da publicação: 01/09/2012 Autor: Adriano Ribeiro
Apresenta o atleta, sua deficiência e o contexto para chegar a uma Paralimpíada. Não inferioriza e foca nos atletas.
4- Eliseu dos Santos brigará por vaga na final da bocha.
Data da publicação: 02/09/2012 Autor: Adriano Ribeiro
Foca os resultados. Os jogos e as competições Paralímpicas. Não possui tom de admiração e piedade.
5- Jogos potencializam “passatempo”.
Data da publicação: 02/09/2012 Autor: Adriano Ribeiro
Título da matéria – “Jogos potencializam “passatempo” deprecia o paradesporto. Há preconceito nesse título, pois associa este esporte paralímpico a um passatempo. Foca os resultados.
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6- Paranaense dedica ouro na bocha ao filho recém-nascido.
Data da publicação: 04/09/2012 Autor: Adriano Ribeiro
Foca o resultado. Dá destaque à deficiência. Aborda o contexto da história do atleta e o esforço para chegar às Paralimpíadas. Não foram encontradas palavras que levassem a inferioridade.
7- Eliseu espera chegar à semifinal e melhorar marca em Pequim.
Data da publicação: 06/09/2012 Autor: Adriano Ribeiro
Matéria foca o resultado dos jogos. Não se encontraram palavras que levassem a uma inferiorização. Foca na conquista do atleta.
8- Paranaense Eliseu dos Santos ganha o bronze na bocha.
Data da publicação: 08/09/2012 Autor: Adriano Ribeiro
Foca os resultados e destaca o esforço – treinamento- para se chegar às Paralimpíadas.
9- Paranaense perde para o mesmo algoz e vê reprise de Pequim.
Data da publicação: 08/09/2012 Autor: Adriano Ribeiro
Foca o resultado. Não se encontraram palavras que levassem a inferioridade.
Tabela 1: Análise das matérias sobre os paranaenses na no jornal Gazeta do Povo
Ao se analisar as notícias do jornal Gazeta do Povo sobre as Paralimpíadas
de Londres 2012 e os paratletas de Curitiba, percebe-se que o repórter do jornal
retrata os esportistas usando as ferramentas do jornalismo convencional diário. Ou
seja, o recorte da notícia é feito através do lead13. Sete matérias são focadas nos
resultados, assim como faz a grande maioria dos jornais, televisões e rádios, que
concentram nos resultados sua atenção ao cobrirem jogos esportivos, sejam
olímpicos, paralímpicos, Copa do Mundo de Futebol, Campeonato Brasileiro de
Futebol, etc. Não se percebe nelas o sentido da admiração e piedade. O objetivo de
uma cobertura jornalística esportiva da mídia convencional é o resultado. São as
medalhas, as derrotas — com as quais o atleta representa o seu time, cidade,
estado ou país. Se os resultados são o foco da mídia esportiva convencional nas
coberturas jornalísticas, não seria diferente na cobertura dos Jogos Paralímpicos.
Porém, em duas reportagens o repórter (ou o editor da página de esportes) usa
13
Técnica de redação jornalística que propõem ao redator responder as seis clássicas perguntas, ao
redigir um texto: quem fez o quê, como, quando, onde e por que (LIMA,1998, p.21).
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palavras que associam o esporte Paralímpico a deias estereotipadas sobre as
pessoas com deficiência.
No título da primeira matéria analisada, “Vovó comanda legião paranaense do
tênis de mesa”, a palavra vovó conota um sentido de pouca importância aos jogos
paralímpicos e à atleta em questão. Além do mais, o título sugere um eufemismo a
uma pessoa idosa, que tende a “domesticá-la”, torná-la aprazível — no caso, a
tenista de mesa Maria Luíza Passos que, como todo paralímpico, é uma atleta de
alto rendimento. No título da quinta matéria analisada: “Jogos potencializam
passatempo”, imprime-se ao paradesporto uma situação de pouca importância e
inferioridade. Rebaixa-se o esporte paralímpico à categoria de jogos amadores de
final de semana. O vôlei não adaptado, o tênis de mesa ou mesmo o futebol são
jogados por milhares de pessoas nos finais de semana como lazer, assim como a
bocha adaptada e, nem por isso, vêm-se nas reportagens sobre as Olimpíadas com
associações desses esportes a passatempos. A bocha adaptada, nos Jogos
Paralímpicos, é um esporte de alto rendimento e profissional. Nessas duas matérias
analisadas, principalmente na quinta — “Jogos potencializam passatempo” —,
sugere-se que o paratleta compete para passar o tempo e nada mais,
diferentemente da perspectiva normalmente abordada na cobertura midiática de
outras competições, como por exemplo, nos Jogos Olímpicos.
Percebe-se, então, que nas matérias dois, três, quatro, seis, sete, oito e nove
analisadas, somando um total de 77,77%, o jornal apresenta o atleta como
personagem principal, expõe sua deficiência de forma não negativa, sem inferiorizar,
e aborda pequenos contextos da experiência de vida dos personagens. Porém, em
alguns momentos, como nas matérias um e cinco, somando um total de 22, 22%,
veicula uma ideia estereotipada que inferiorizada os paratletas.
Segue-se agora à análise dos dois artigos do jornal Gazeta do Povo sobre os
paratletas nas Paralimpíadas de Londres, em 2012.
QUADRO DE ANÁLISE DOS CONTEÚDOS DOS ARTIGOS
01- Artigo: Super-humanos
Data da publicação: 29/08/2012 Autor: Adriano Ribeiro
O artigo mantém o estereótipo de super-humanos dos paratletas, evidenciando, por um lado, o sentimento de admiração e, por outro, o sentido de piedade.
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02- Artigo: Diferente, mas igual.
Data da publicação: 02/09/2012 Autor: Adriano Ribeiro
O autor, apesar de realizar um esforço para se “familiarizar” com o mundo das pessoas com deficiência, no título do texto apresenta-as como “diferentes”. No final, expõe que é uma honra estar ao lado delas, reforçando ainda mais o sentido de diferença e admiração que remete à piedade.
Tabela 2: Análise das matérias sobre os paranaenses na no jornal Gazeta do Povo
É importante destacar aqui que o objetivo deste trabalho de conclusão de
curso não é esconder a deficiência e sim abordá-la de uma forma menos
distanciada, mais “familiar”, retirando dela o foco que, por um lado, apresenta o
paratleta como vítima e, por outro, como alguém que superou seu sofrimento,
transformando-se em um super-herói. Nestes casos, o deficiente representa não
apenas a conquista, mas o ideário preconceituoso e estereotipado de um atleta que,
“mesmo assim”, conseguiu subir ao pódio, como só um super-humano poderia fazê-
lo. Essa visão pincela as páginas dos jornais com a cor do preconceito e iguala o
paratleta à condição de “doente recuperado” que o modelo médico propõe.
No primeiro artigo analisado, escrito pelo jornalista da Gazeta do Povo em
Londres, que tem como título “Super-humanos”, o autor faz um convite para que
seus leitores não deixem de acompanhar os “heróis” que estarão competindo nas
Paralimpíadas de Londres, o que promove um estereótipo de superação e, ao
mesmo tempo, de piedade.
Título: Super-humanos No fim da mensagem: “...Esqueça tudo que você conhece sobre força; esqueça tudo que você conhece sobre os humanos; nos Jogos Paralímpicos, conheça os super-humanos”. O clima é esse. Eles farão tudo para protagonizar um evento único. Quem puder, não perca a chance de acompanhar estes super-humanos... (ADRIANO RIBEIRO/GAZETA DO POVO, 29/08/2012).
No segundo artigo, que tem como título “Diferente, mas igual”, o
correspondente da Gazeta do Povo afirma que é uma honra estar ao lado dos
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competidores paralímpicos, envolvendo novamente um sentido de admiração,
admiração e vitimização dos paratletas, como se eles estivem envolvidos por uma
espécie de redoma que os separa do “mundo dos normais” por sua “diferença”. Essa
separação entre normais e deficientes é o que Goffman (1988, p.11) aponta como
um indivíduo estigmatizado. No caso, expõem-se o seu atributo, que lhe é proposto
por ele não fazer parte de um determinado grupo social. É desse atributo, de acordo
com o autor, que surge o estereótipo. Desta forma, o indivíduo “que poderia ser
recebido na convivência social diária, tem uma marca, um traço que pode fazer com
que se afastem àqueles que os encontrem”(id).
Título: Diferente, mas igual No fim da mensagem: “...Enfim, como bem disse a nossa medalhista de prata Lúcia Teixeira (judô), “aqui você não está vendo essa ou aquela pessoa como deficiência, mas sim atletas desse ou daquele país”. E que honra poder esta ao redor deles (ADRIANO RIBEIRO/GAZETA DO POVO, 2012 – 02/09/2012).
Para a compreensão do tema, buscou-se entrevistar14 o paratleta paranaense
Claudiomiro Segatto, da equipe brasileira de tênis de mesa, para quem foi feita a
pergunta: “Você se sente diferente, um super-humano por conseguir chegar às
Paralimpíadas? O atleta respondeu: “Não. Sou uma pessoa como qualquer outra. E
há muitas pessoas não deficientes que têm dificuldades bem maiores do que as
minhas na vida”.
Estudos anteriores centrados em Jogos Paralímpicos revelaram que a mídia tradicional tende a descrever as performances dos atletas com deficiência de forma relativamente consistente com o modelo médico. Dito de outra forma, estes atletas tendem a ser retratados como “vítimas” ou, em alternativa, como pessoas “corajosas” que “superaram” o próprio “sofrimento” da deficiência para participar em um evento esportivo. Este último estereótipo – o do super-herói - deixa a impressão de que a pessoa com deficiência para se ajustar terá de fazer algo extraordinário ou realizar um esforço heroico para compensar a sua limitação (SCHELL e DUNCAN apud NOVAIS e FIGUEIREDO, 2011, p.03).
A mídia, então, faz com que a sociedade sinta compaixão pelos paratletas e
com que eles sejam “símbolo de superação” para ela. De acordo com Moura, (apud
FIGUEIREDO e NOVAIS 2011, p. 03) “tanto o olhar de piedade quanto o de
admiração partem de um único princípio: o preconceito”. Os paratletas que se
14
Entrevista realizada no dia 30 de agosto de 2013, às 10 horas na Associação dos Deficientes Físicos do Paraná, em Curitiba
27
destacam nas paralímpiadas são vistos pelo público como figuras não humanas, “um
pela sua história e seu modo precário de vida, como elemento sub-humano, o outro
pelo inverso da mesma moeda — a deficiência — como um super-humano”,
completa o autor.
Na análise aqui apresentada, percebe-se que o jornal Gazeta do Povo, por
um lado, faz o recorte das notícias sobre os paratletas paranaenses nas
Paralimpíadas de Londres com o foco nos resultados, assim como faria com
qualquer cobertura esportiva. Em alguns textos noticiosos aqui analisados, o veículo
expõem o esforço do personagem para chegar às Paralimpíadas e alguns detalhes
da vida do personagem.
Porém, por outro lado, em 36,36% dos textos analisados percebe-se que o
jornal Gazeta do Povo perpetua a ideia da admiração — do estereótipo do super-
homem —, de que a pessoa com deficiência é “diferente” — o que traz o sentido da
comiseração — e de que o esporte paralímpico é um passatempo. Nesse sentido,
em quatro textos dos onze analisados, o jornal reafirma o modelo médico de
perceber os deficientes. Quando faz o convite para que o público acompanhe os
“super-humanos” que irão competir nas Paralimpíadas, o sentido proposto na
mensagem é de que o deficiente venceu suas dificuldades físicas para subir ao
pódio como um “doente recuperado”. Além do mais, o jornal, por ser um periódico
local, deixa a desejar notícias sobre os atletas paranaenses que estiveram nas
Paralimpíadas. Quem são eles? Quais são as condições em que vivem?
Os jornais fazem muito mais do que transmitir notícias, eles determinam o que é notícia e apresentam-na de acordo com valores particulares. As notícias são uma espécie de (re)construção da realidade de acordo com as normas e valores da sociedade. Portanto, ao produzir uma mensagem, a mídia também produz sentido. Numa sociedade influenciada pelos meios de comunicação, estes podem ter um grande impacto em nosso conhecimento e atitude acerca das pessoas com deficiência (FIGUEIREDO e NOVAES, 2011, P. 02).
Desta forma, as análises aqui expostas constatam a necessidade de reflexão
sobre a realidade do atleta paralímpico paranaense, seu contexto social, sua
convivência com a sociedade e o relacionamento que ele possui com a mídia local,
porque o jornal Gazeta do Povo, edição digital, dá visibilidade ao sentido de piedade,
admiração e superação dos paratletas. O jornal, então, reafirma o modelo médico de
perceber as pessoas com deficiência, modelo que, de acordo com os teóricos aqui
28
mencionados, corrobora para a manutenção do preconceito sobre as pessoas com
deficiência, representadas, no contexto estudado, pelos paratletas.
2.6. UMA PERSPECTIVA SOBRE OS ATLETAS EM RELAÇÃO ÀS SUAS
DEFICIÊNCIAS
Durante as entrevistas para realizar este trabalho de conclusão de curso,
entrevistou-se o paranaense Eliseu dos Santos, paratleta desde as Paralímpiadas
de Pequim, em 2008, duas vezes campeão de bocha na modalidade BC4 –
categoria que envolve os atletas com lesões musculares graves, mas que não
precisam de assistência para competir. Santos nasceu em Telêmaco Borba, no
Paraná. Após o falecimento do pai, veio morar com a mãe na cidade de Pinhais,
região metropolitana de Curitiba. Aos 36 anos, é casado com Nádia Batista e é pai
de Nícolas Santos, que nasceu durante a abertura das Paralimpíadas de Londres,
em 2012.
Eliseu possui Distrofia Muscular Progressiva. A doença é genética e começou
a se manifestar a partir dos 10 anos de idade. Com 18 anos, não conseguia mais
andar. Em 2005, conheceu a Associação dos Deficientes Físicos do Paraná (ADFP)
e começou a fazer fisioterapia. No mesmo ano iniciou os treinamentos de bocha.
Ainda em 2005, ficou em terceiro lugar no Campeonato Brasileiro, realizado em
Alfenas, sudoeste de Minas Gerais. Em 2006, conquistou a sétima colocação no
Campeonato Mundial do Rio de Janeiro. Em 2007, foi para o Campeonato Mundial
no Canadá, conquistando a segunda colocação na modalidade. Em 2008, nas
Paralimpíadas de Pequim, conquistou a medalha de bronze no individual e a de ouro
em dupla. E por fim, em 2012, repetiu os resultados de 2008, trazendo para casa,
novamente, o bronze e o ouro em dupla.
Eliseu afirma que as pessoas com deficiência têm suas dificuldades e, como
quaisquer outras, todos os dias, lutam para vencê-las. Conta ainda que entre as
pessoas com deficiências não existe atitude de “coitadinho”, de “pena”, e sim uma
postura de deboche das próprias dificuldades, diminuindo assim, consideravelmente,
a importância da deficiência entre os deficientes, postura que considera contrária à
da mídia, que estampa no estandarte da opinião pública um olhar simplista dos
paratletas.
29
Da mesma forma, todos os outros entrevistados: Claudiomiro Segatto, Maria
Luíza Passos, Emerson Carvalho, Daniel Jorge da Silva e Anderson Ribas da Silva
confirmaram essa afirmação de Eliseu dos Santos.
Claudiomiro Segatto afirma que nenhum atleta paralímpico se sente como um
coitado, uma pessoa que é motivo de pena porque tem essa ou aquela deficiência.
Essa atitude, para ele, vem das pessoas que têm uma visão preconceituosa para
com os deficientes.
Maria Luíza Passos, uma das mais experientes mesatenistas brasileiras do
esporte adaptado, diz que chegar a uma Paralimpíada não é coisa fácil, é
necessário muito treino para alcançar o rendimento necessário para se conseguir o
índice de classificação. Diz ainda que ser um coitadinho não é motivo para estar em
uma Paralimpíada.
Daniel Jorge da Silva, que hoje tem sua vida totalmente dedicada ao
paradesporto, afirma que o sentir pena das pessoas com deficiência é próprio de
quem não conhece como vive um deficiente.
Anderson Ribas da Silva, que foi jogador profissional da liga masculina de
vôlei no Brasil e entrou no paradesporto em 2011, afirma que o paradesporto, no
caso o vôlei sentado, modalidade da qual participa e que lhe deu a quinta colocação
nas Paralimpíadas de Londres em 2012, é um esporte de alto rendimento e que não
dá lugar a “coitadinhos”.
Emerson Carvalho, atleta do futebol de cinco, que ganhou medalha de ouro
em Londres, em 2012, diz que para se chegar a uma Paralimpíada é necessário
muito treinamento. É como o esporte olímpico, ou qualquer outro esporte. Sem
treinamento, não se consegue chegar aos jogos. Se uma equipe não possui bom
rendimento, não treina o suficiente, não obtém os resultados dos seus esforços. No
paradesporto, para ele, não existe lugar para “coitados”.
Nos treinamentos15 que foram acompanhados em função deste trabalho, para
a compreensão da realidade dos paratletas — em especial o realizado no Colégio
Positivo pelos atletas do vôlei sentado de Curitiba, percebeu-se que os paratletas
brincam e debocham de suas deficiências16.
15
Treinamentos realizados na sede do colégio Positivo na Rua Ângelo Sampaio, 2300, no Bigorrilho todas as segundas, quartas e sextas, às 19h. Os treinamentos que o pesquisador assistiu foram nos dias 02 e 09 de setembro de 2013. 16
Os atletas com deficiências usam palavras como aleijado, perneta, entre outras, isso em tom de brincadeira
30
2.7. PROBLEMA
A partir das questões problematizadas neste trabalho e das observações
realizadas em reportagens feitas pelo jornal Gazeta do Povo em Curitiba, observa-se
que a maneira de abordar a questão da deficiência é feita de forma simplista,
usando uma descrição mecânica e repetitiva dos paratletas. O jornal veste nesses
personagens as seguintes características: o heroísmo, a admiração, o tom de
piedade, a diferença.
Essa maneira simplista de ver a questão indica estereotipagem: seja como
pessoas que precisam ser curadas ou como super-heróis. Ora, se a mídia é
importante para formar a imagem das pessoas com deficiência e também da própria
deficiência a diferentes grupos sociais, para que os deficientes possam ter uma vida
em sociedade igual, em qualidade, às pessoas sem deficiência, como fazer do livro-
reportagem um veículo que aborde o tema sob a ótica das pessoas com deficiência
e de uma maneira a evitar o estereótipo, que não foque a ideia de admiração, de
alguém que mereça piedade e que imprima ao texto um tom de comiseração para
retratar as pessoas com deficiência e obter assim um resultado mais abrangente e
efetivo para eles e para própria sociedade?
31
3. OBJETIVO GERAL
Retratar jornalisticamente em um livro-reportagem as histórias de vida dos
paratletas de Curitiba e região que participaram das Paralimpíadas de Londres, em
2012, a partir da construção de narrativas que busquem desconstruir estereótipos.
3.1. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
1. Contar a história dos paratletas sob a ótica dos próprios personagens, e não pelo
viés usualmente empregado pelo jornalismo, da idealização ou comiseração;
2. Ampliar o recorte jornalístico acerca das pessoas com deficiência, mostrando
assim uma perspectiva diferente da habitual usada na mídia paranaense;
3. Contribuir ao estudo das representações sociais dos deficientes na mídia, bem
como às técnicas utilizadas para a construção de narrativas em profundidade;
4. Promover um diálogo sobre a inserção do deficiente na sociedade de maneira
igualitária.
32
4. JUSTIFICATIVA
Ao se propor um registro do contexto histórico, familiar e cultural que evolve
os paratletas de Curitiba e Região Metropolitana, não seria possível retratar todos os
seus detalhes em uma mídia convencional, que tem foco no imediato, no recorte
noticioso que envolve o acontecimento do agora, do hoje, muitas vezes sem
contextualização. Ora, se o objetivo deste trabalho é contextualizar, e nesse
contexto familiarizar o leitor com o cotidiano dos personagens, familiarização que, de
acordo com Moscovici (2003, p.46) pode alterar representações dos próprios
personagens, derrubando, inclusive, modelos estereotipados de percebê-los, um
livro reportagem é a ferramenta ideal, porque nele o limite espaço-tempo, facilmente
percebido nos jornais diários, se expande dando ao autor a possibilidade de se
aprofundar mais na história. Desta forma, foi necessário averiguar mais sobre o tema
jornalismo literário.
Surgido nos anos 1960, o jornalismo literário ganhou força através de nomes
como Truman Capote, Gay Talese, Norman Mailer e Tom Wolfe. No Brasil, um de
seus principais expoentes é José Hamilton Ribeiro, com reportagens escritas para a
revista Realidade e, principalmente, através do livro “O Gosto da Guerra”, no qual
narra histórias dos horrores da Guerra do Vietnã e sua própria experiência ao perder
a perna esquerda em uma mina, enquanto acompanhava o fotógrafo japonês
Shimamoto numa das regiões mais perigosas do conflito (CHIAPETTI e SANTOS,
2009, p. 03).
As técnicas do jornalismo literário permitem apurar e passar a informação de
uma forma mais abrangente, contextualizada e profunda. Possibilita ainda o uso de
adjetivos para contar as histórias e, principalmente, além da notícia, desenvolver
personagens mais complexos — com traços psicológicos marcantes — do que o
jornal diário permite. Foi com as ferramentas do New Journalism que se abordaram
as histórias dos paratletas. Os relatos foram carregados de contextualizações e
traços psicológicos (LIMA, 1998, p 22).
2-Mude o ponto de vista quantas vezes quiser, sempre para lutar contra a monotonia do olho único do jornalista que guia a história. Vá para dentro das órbitas oculares das pessoas da história e, a partir daí, conte o que vê. 3- Para conseguir tudo isso, só existe um jeito. Entrevistar exaustivamente cada um desses guias e saber com profundidade o que ele viu. É o Jornalismo de Exaustão. Tudo interessa. [...] 5- Passar dias, às vezes semanas, com as pessoas sobre as quais vai escrever. O Novo Jornalismo
33
procura o mesmo material que o jornalista convencional, e quer ir além. Quanto mais cenas você vivenciar do seu personagem, melhor. 6- Tentar estar sempre nos locais quando ocorrerem as cenas dramáticas, para captar o diálogo, os gestos, as expressões faciais, os detalhes do ambiente (SANTOS, 2005, p.65).
A mídia adotada foi o livro-reportagem, que diferentemente de outras mídias,
possui a possibilidade de expandir a história dos paratletas, mostrando toda a
realidade deles, suas histórias de vida: tristes, alegres, engraçadas, trágicas e não
somente histórias com tons de admiração e piedade, que ressaltem o heroísmo ou
transformem o paratleta em uma pessoa que, através de seus esforços, “foi curada
de sua deficiência”.
Ao mesmo tempo, o livro chama os meios de comunicação e a sociedade a
discutir esse olhar simplista que leva os deficientes ao abandono e ao isolamento.
Por isso, neste trabalho, contaram-se histórias de vida de atletas que lutam para se
manter no esporte paralímpico. Histórias de pessoas esquecidas, histórias de
pessoas que trabalham, têm uma vida, uma família, esposa, filhos, irmãos, como
quaisquer outras, e que muitas vezes abdicam de tudo para poder treinar e ir para
os jogos. No livro, a proposta foi a de não se esconder a deficiência, mas mostrar o
ser humano por trás da deficiência, e não o estereótipo de admiração ou de piedade.
Uma referência para esta abordagem foi o livro “Rodrigo enxerga tudo”, de Markiano
Charan Filho. O livro aborda a história de um deficiente visual que não se abala com
as dificuldades causadas por seu problema. O garoto enfrenta todas elas. O texto é
bem-humorado e mostra as formas com que Rodrigo percebe o mundo. Em outra
referência, a obra “Meu Amigo Down”, de Cláudia Werneck, contam-se três histórias
narradas por um menino que não entende por que seu amigo com síndrome de
Down enfrenta situações delicadas no dia a dia. Este livro de 24 páginas tornou-se
tão importante que é recomendado pela UNICEF e pela UNESCO.17
Como base teórica para fundamentar esta pesquisa, encontraram-se
discussões em autores como Lima (2004), que aborda a necessidade de uma
abrangência maior do jornalismo convencional através do jornalismo literário, em
sua ferramenta que é o livro-reportagem, proposto neste trabalho.
Além de Lima, que também aborda conceitos de reportagem, Ferrari e Sodré
(1986) apontam que para uma boa reportagem é necessária a humanização do
17
Site para localizar os 100 livros mais importantes e fundamentais sobre deficiência: http://www.bengalalegal.com/100livros
34
relato e que o repórter seja testemunha do fato, em todos os seus detalhes. Foi
desta forma que pretendeu-se agir durante as entrevistas para consumar o livro-
reportagem.
Para que fosse possível a humanização do relato, fez-se necessário um
estudo sobre Representações Sociais, como forma de embasar a proposta da
necessidade de um diálogo novo entre imprensa convencional e sociedade. Como
abordam os autores Berger e Luckmann (2002), maneiras repetitivas de proceder,
maneiras que podem ser encontradas na imprensa convencional através do recorte
da notícia sob a ótica do lead, podem reforçar representações existentes na
sociedade. Porém, através do diálogo do indivíduo com a sociedade, podem-se
romper esses hábitos para que ela possa se recriar, se remodelar, influenciando o
indivíduo. O diálogo em que os autores teóricos das Representações Sociais e da
Psicologia Social — Rodrigues, Assmar e Jablonski (1999) e Goffman (1988)
mostram o conceito de estigma, estereótipo, hábitos mecânicos, diálogos entre
sociedade e indivíduos foi de extrema importância como fundamentação deste
trabalho.
Outros autores importantes para compreender o ponto essencial da discussão
foram Pereira, Pereira e Monteiro (2011). Esses teóricos apontam que a deficiência
pode ser representada, ou catalogada, em dois modelos: o modelo médico e o
modelo social. No modelo médico, o deficiente é visto como um “problema” a ser
curado por meio de técnicas médicas antes de ser inserido na sociedade. Já o
modelo social de perceber o deficiente aponta que a sociedade é que tem a
responsabilidade por esta inserção, criando os meios para que ela ocorra.
O argumento que se usa para justificar a confecção de um livro-reportagem
usando as técnicas do jornalismo literário, sob a ótica das pessoas com deficiência,
é que ele tem a capacidade de aprofundar a experiência de vida delas, o que não
seria viável em um jornal diário, visto que o conteúdo produzido nesse tipo de
periódico é limitado pela necessidade de cumprir prazos. Diariamente, o jornalista,
custe o que custar, tem que entregar um jornal para imprimir e distribuir no dia
seguinte. Essa mecânica impede uma investigação e a análise mais longa e
contextualizada do tema em questão.
Por ser o deficiente um tema de relevância social, o estudo para a confecção
do livro evidenciou a necessidade da quebra de paradigmas relacionados à maneira
de perceber as pessoas com deficiência, e isso pode ser feito através dos meios de
35
comunicação ou de livros-reportagem que abordem de forma mais abrangente e não
simplista a questão, afim de discutir o problema dos estereótipos e do preconceito
vivenciados pelas pessoas com deficiência. Como exemplo de situações vividas por
elas relatou-se o caso do paratleta Eliseu dos Santos, citado na problematização
deste trabalho. Ele conta que em certo dia, durante um passeio em um shopping da
capital paranaense, sua esposa Nádia estava sentada em seu colo, na cadeira de
rodas. Ele sentiu-se constrangido vendo o olhar das pessoas que passavam por ali,
como se fosse incompreensível o relacionamento de uma pessoa com deficiência
com uma sem deficiências físicas. “Elas tinham olhares que transmitiam certo ponto
de interrogação, um olhar de surpresa, que sugeria um acontecimento inédito. Era
um olhar de preconceito. Sentia-me ofendido”.
Enfim, todos os autores usados e as entrevistas realizadas deram a base
necessária para justificar a proposta de confeccionar um livro-reportagem sobre os
paratletas de Curitiba e Região Metropolitana.
36
5. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
5.1. CONCEITO DE ESTEREÓTIPOS, DE ACORDO COM A PSICOLOGIA SOCIAL
Ver o outro através do prisma do estereótipo parece, muitas vezes, ser uma
atitude “normal”, corriqueira. Às vezes, a estereotipagem se torna até engraçada,
como podemos encontrar em muitas piadas. Ou ela faz parte da sociedade, como
uma verdade embutida na mecânica social. Porém, qual é a mecânica da
estereotipagem? Como ela funciona? Para Rodrigues, Assmar e Jablonski (1999, p.
151), o ser humano busca repetitivamente maneiras simplistas, uma maneira rápida
ou que não lhe exija tantos esforços, para tentar compreender o mundo em que vive.
Procura encontrar, nessa atitude, uma maneira mais curta de ler a realidade,
buscando uma maior agilidade na compreensão da sociedade. Com isso, ao
perceber o mundo sob a ótica do estereótipo, quer economizar tempo e energia.
Essa visão simplista é um vício de raciocínio que despreza elementos importantes
ao se resolverem complexos problemas da sociedade. Esses atalhos para perceber
o mundo que nos rodeia potencializa uma boa dose de estereotipagem de grupos ou
pessoas.
Quando, por exemplo, ouvem-se piadas sobre baianos ou frases como: “É
coisa de baiano!” ou “mais uma baianada!”, há um alto grau de estereotipagem
nelas, sem contar o preconceito e o estigma atribuído aos baianos, já que se sugere
que eles sejam pessoas incompetentes. Essa visão de mundo estereotipada é a
base que sustenta as piadas (RODRIGUES e ASSMAR e JABLONSKI, 1999,
p.151).
De acordo ainda com os autores citados, a frase “o que é capacidade no
homem vira sorte na mulher”, da mesma maneira, revela um alto grau de
estereotipagem e preconceito sobre a capacidade da mulher. Lê-se nas entrelinhas
que a mesma sempre encontrará obstáculos maiores que os do homem. Ou que, se
é bem sucedida, não o foi por causa de sua competência, e sim por causa da sorte
(RODRIGUES, ASSMAR e JABLONSKI, 1999, p.151). Para os autores, estereotipar
alguém, ou um grupo, significa que “através de um comportamento funcional
encontra-se uma maneira de resumir o outro a “trajes típicos”, muitas vezes
equivocados” (p. 152).
37
Da mesma forma, quando os jornais mostram somente o sentido de
admiração e comiseração dos atletas paralímpicos18, quando usam o lead para fazer
o recorte simplificado da notícia, os estão rotulando, colocam neles os trajes típicos
da admiração e da piedade, e os resumem a um estereótipo de deficientes. Quando
apontam o atleta como um super-herói que conquistou medalhas superando sua
deficiência, novamente colocam nele o “uniforme da deficiência”.
Os estereótipos podem ser corretos ou incorretos, positivos, neutros ou negativos. O fato de, num primeiro momento, facilitarem as reações frente ao mundo, esconde a realidade de que, na maioria das vezes, estereotipar pode levar a generalizações incorretas e indevidas, principalmente quando você não consegue “ver” um individuo com suas idiossincrasias e traços pessoais, por trás do véu aglutinador do estereótipo. (RODRIGUES, ASSMAR e JABLONSKI, 1999, p. 153)
O tema paratleta e Paralimpíadas é mais complexo do que uma visão limitada
da deficiência, como propõe o jornalismo convencional. Um paratleta é um ser
humano que tem seus anseios, seus medos, uma história, uma família, possui uma
individualidade e uma maneira muito particular de ver, sentir e perceber o mundo.
Todos eles tiveram suas dificuldades para chegar às Paralimpíadas e, em regra
geral, quase não se veem na mídia reportagens que falem sobre o contexto
psicológico, emocional ou histórico em que vivem os paratletas. Além disso, o
“sumiço” desses atletas da mídia, do cenário público, depois que os jogos acabam, é
um fato que caracteriza abandono.
5.2 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
A teoria das representações sociais foi usada neste trabalho de conclusão de
curso para analisar quais as imagens das pessoas com deficiência veiculadas pelo
jornal Gazeta do Povo em sua edição online. Pessoas estas que participaram dos
Jogos Paralímpicos de 2012, em Londres.
As representações sociais se apresentam como uma maneira de interpretar e pensar a realidade cotidiana. É uma forma cognitiva da atividade mental desenvolvida por indivíduos, ou grupos, para fixar suas posições em relação a situações, eventos, objetos e comunicações que lhes concerne (SÊGA, 2000. P.01).
18 Tema visto em pesquisa feita com o jornal Gazeta do Povo, apresentada neste trabalho.
38
Serge Moscovici, em 1961, fez um resgate do conceito de “representações
sociais” de Émile Durkhein. Moscovici, com esse resgate, teve o propósito de
observar e designar fenômenos, em toda sua complexidade, seja ela individual ou
coletiva, psicológica ou social (SÊGA, 2000. P.01).
A representação iguala toda imagem a uma ideia e toda a ideia a uma imagem. Dessa maneira, em nossa sociedade, um “neurótico” é uma ideia associada com a psicanálise, com Freud, com o Complexo de Édipo e, ao mesmo tempo, nós vemos o neurótico como um indivíduo egocêntrico, patológico, cujos conflitos parentais não foram ainda resolvidos (MOSCOVICI, 2000, p. 46).
Foi com Moscovici (2000, p. 46) que se pretendeu entender quais as imagens
que os meios de comunicação de massa emitem comumente sobre as pessoas com
deficiência. E essas imagens — no caso deste estudo, as retratadas pelas
reportagens da Gazeta do Povo —, foram evidenciadas na análise do jornal on-line19
publicado diariamente pelo veículo em questão. Também entendeu-se que a mídia,
ao publicar notícias e informações da sociedade, acelera a mudança das crenças e
da maneira de ver o mundo do indivíduo social e, como consequência, pode
provocar alternações nas representações desta mesma sociedade. Essa mudança
se dá através do diálogo da imprensa com o indivíduo social e a própria sociedade.
Dentro dos estudos das teorias sobre a “Construção Social da Realidade”,
encontraram-se também explicações profundas sobre a construção de estereótipos.
Berger e Luckmann (2002, p. 77) apontam que ações frequentes moldam um
padrão. E que, se esse padrão pode ser repetido, com certa economia de esforço,
cria-se a partir daí um hábito. Os autores revelam que as atividades humanas estão
submetidas a padrões, a hábitos nascidos pela repetição de ações e “o hábito
implica, além disso, que a ação em questão pode ser novamente executada no
futuro da mesma maneira, com a mesma economia. Isto é verdade na atividade não
social assim como na atividade social” (id).
Ou seja, de acordo com Berger e Luckmann (ibid), atitudes repetidas criam
padrões, hábitos e, também identidades sociais. Os hábitos levam ao estreitamento
de opções para realizar determinadas ações, mesmo que para isso haja várias
maneiras de fazê-la. Repete-se então, a ação, da maneira mais cômoda e fácil. Sem
19
Análise se encontra no tópico 2.5 deste trabalho – Paratletas de Curitiba e Região Metropolitana na mídia paranaense.
39
perder muita energia. Essa maneira “cômoda” de se fazer a mesma coisa sempre,
acaba trazendo uma espécie de alívio ao indivíduo. Conforme afirmam os autores,
“ele retira de si a carga psicológica de tomar uma decisão” (ibid).
No caso dos estereótipos, como apontam Rodrigues, Assmar e Jablonski
(1999 p. 147), essas ações repetidas, esses padrões ou hábitos que estreitam as
opções do agir como forma de economizar energia — “o mais cômodo”, — são a
base da ação estereotipada.
Para Berger e Luckmann (2002, p 77), a identidade social de um indivíduo é
formada pelo diálogo entre ele, a consciência individual e a estrutura social. O
indivíduo assume para si os hábitos e processos mecânicos da sociedade, como
sendo parte dele mesmo. Por sua vez, a sociedade é remodelada a partir dessa
dialética entre ela e a consciência individual. Ou seja, o indivíduo, com sua
identidade social, influencia a estrutura social e a estrutura social molda o indivíduo.
Porém, a partir da dialética entre indivíduo e sociedade é que indivíduo e estrutura
social podem manter-se ou remodelar-se.
Os processos sociais implicados na formação e conservação da identidade são determinados pela estrutura social. Inversamente, as identidades produzidas pela interação do organismo, da consciência individual e da estrutura social reagem sobre a estrutura social dada, mantendo-a, modificando-a ou mesmo remodelando-a (BERGER e LUCKMANN, 2002, p. 77).
No caso dos atletas paralímpicos, a sociedade pode ter uma imagem limitada
e “fácil” das pessoas com deficiência, um hábito que lhes dá um atributo: a
deficiência, algo que é “falho”, “imperfeito”, “defeituoso” (termos usados pelo
Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa para definir a palavra “deficiência”). E desta
forma a sociedade classifica os atletas paralímpicos, enquadrando-os em um grupo
específico — o grupo das pessoas com deficiência. Estigmatiza-os20 como “os
deficientes”. E, como apontam Berger e Luckmann, (2002, p. 239) de acordo com
essa dialética é que se formará a identidade social do indivíduo deficiente. Ainda
mais: é a própria sociedade que determina como esse indivíduo viverá. Entretanto,
20 “Os gregos, que tinham bastante conhecimento de recursos visuais, criaram o termo estigma para
se referirem a sinais corporais com os quais se procurava evidenciar alguma coisa de extraordinário ou mau sobre o status moral de quem os apresentava. Os sinais eram feitos com cortes ou fogo no corpo e avisavam que o portador era um escravo, um criminoso ou traidor — uma pessoa marcada, ritualmente poluída” (Goffman, 1988, p. 11).
40
esse molde imposto pela sociedade, e muitas vezes aceito pela própria pessoa com
deficiência, pode ser remodelado a partir de um olhar não estereotipado que a mídia
lance ao paratleta e à pessoa com deficiência como um todo.
Para Goffman (1988, p. 11), a sociedade tem por base a classificação de
pessoas e seus atributos em grupos específicos. No agir dessas pessoas é que se
percebe a quais grupos sociais elas estariam vinculadas. Suas ações seriam
comuns aos grupos a que pertencem e suas categorias. De acordo ainda com o
autor, os ambientes sociais é que estabelecem os grupos e as pessoas que podem
ser neles inseridos. Quando uma pessoa de outros grupos se apresenta a nós,
mesmo inconscientemente, podemos cobrar e atribuir características a ela, ou ver
características nela que a transformarão em uma pessoa estigmatizada.
Enquanto o estranho está à nossa frente, podem surgir evidências de que ele tem um atributo que o torna diferente de outros que se encontram numa categoria em que pudesse ser incluído, sendo, até, de uma espécie menos desejável — num caso extremo, uma pessoa completamente má, perigosa, ou fraca. Assim, deixando de considerá-la criatura comum e total, reduzindo-a a uma pessoa estragada e diminuída. Tal característica é um estigma, especialmente quando o seu efeito de descrédito é muito grande (GOFFMAN, 1988, p. 11).
Para Goffman (1988), do atributo21 que é próprio de um indivíduo, ou que se
propõe a ele pelo fato de o mesmo não fazer parte de nosso grupo social, é que
surge o estereótipo. O indivíduo estigmatizado, “que poderia ser tranquilamente
recebido na convivência social diária, tem uma marca, um traço que pode fazer com
que se afastem àqueles que os encontrem” (p. 11). Esse é o caso dos atletas
deficientes. E com base nas análises de Goffman, é possível que os não deficientes
acreditem, mesmo que de forma inconsciente, que os deficientes sejam pessoas
indesejáveis, que sejam pessoas “estragadas” (definição do Dicionário Aurélio para
a palavra “deficiente”). Realizam-se, então, vários tipos de discriminações, muitas
vezes sem pensar. E essas discriminações e estereotipagens reduzem as chances
de o deficiente ter uma vida igual, ou até melhor que a das pessoas que não
possuem deficiências.
21
“Característica, qualitativa ou quantitativa, que identifica um membro de um conjunto observado. Aquilo que é próprio de um ser. Caráter afirmado ou negado de um sujeito”. (Dicionário Aurélio Buarque de Holanda. 2010).
41
Utilizamos termos específicos de estigmas como aleijado, bastardo e retardado em nosso discurso diário como fonte de metáfora e representação, de maneira característica, sem pensar no seu significado original. Tendemos a inferir uma série de imperfeições a partir da imperfeição original e, ao mesmo tempo, a imputar ao interessado alguns atributos desejáveis, mas não desejados (GOFFMAN, 1988, p. 11).
De acordo com Rodrigues, Assmar e Jablonski (1999), se esse estereótipo,
esse estigma, “é forte o suficiente, na introjeção, por parte do grupo alvo, o grupo
alvo, ou a pessoa, passa a agir, a se comportar de acordo com a rotulação, a
estigmatização estabelecida pelo estereótipo” (p. 156). No caso dos atletas
paralímpicos, insere-se a imagem estereotipada na mídia e o deficiente, aceitando-a
para si como modelo, priva-se de conquistar uma vida igual, em qualidade, à de uma
pessoa não deficiente (id, 1999 p. 156).
De acordo com Diniz (2006), “estereótipo é uma opinião pronta, uma ideia ou
expressão muito utilizada, desgastada, banalizada, um clichê”22 (p. 137) que se usa
no jornalismo convencional. E, ao se produzir um livro-reportagem sobre os atletas
paralímpicos, procurou-se evidenciar a individualidade de cada atleta para não se
cair em clichês, como aponta Diniz. Buscou-se retratar o indivíduo e concentrar a
narrativa na subjetividade de cada atleta. Desta forma, procuramos não ignorar a
deficiência dos atletas — porque isso, a grosso modo, também seria uma forma de
estereotipar —, mas sim mostrar o ser humano por trás da deficiência, evitando que
ela fosse retratada como algo mais importante do que a pessoa em si, com toda a
riqueza de sua psique e da história que protagoniza.
5.3 JORNALISMO LITERÁRIO
Ao retratar-se a subjetividade de cada um dos seis atletas paralímpicos,
personagens neste trabalho de conclusão de curso, viu-se a necessidade de discutir
aqui as nuances do jornalismo literário.
Lima (2004, p. 173) aponta que ao longo do tempo, a partir do momento em
que o texto jornalístico evoluiu da notícia para a reportagem, é que surgiu a
necessidade de se buscar outras técnicas para um melhor tratamento da
mensagem. E é justamente pela proximidade com a arte literária, através da escrita,
que os jornalistas encontraram nela caminhos para uma narrativa cuja extensão e
22 Clichê é um estereótipo.
42
procedimentos busquem justamente trazer um recorte mais amplo do real — seria
esse o jornalismo literário.
Com certeza, hoje é possível perceber três categorias de obras quanto ao emprego de recursos literários: as puramente de ficção, que tratam de produtos do imaginário elaborados pelo escritor; as jornalísticas, que se apropriam dos recursos literários apenas para reportar melhor a realidade; e as que mesclam a ficção e o factual. (LIMA, 2004, p. 173).
Porém, para o autor, o jornalismo literário é mais do que exercitar as técnicas
da literatura:
Significa potencializar os recursos do jornalismo, ultrapassar os limites dos acontecimentos cotidianos, proporcionar visões amplas da realidade, exercer plenamente a cidadania, romper as correntes burocráticas do lide, evitar os definidores primários e, principalmente, garantir perenidade e profundidade aos relatos. (PENA, 2006, p. 6).
O mesmo autor (2006, p. 14) expõe ainda que uma obra do jornalismo literário
tem o dever de não ser efêmera ou superficial, como o são as reportagens do
jornalismo convencional, que caem no esquecimento. Busca-se a permanência.
Busca-se influenciar “o imaginário individual e coletivo em diferentes contextos
históricos”. (Pena, 2006, p. 6)
Porém, foi na figura do new journalism que o jornalismo literário ganhou sua
maior expressão:
Ao começarem os anos sessenta, um novo e curioso conceito, vivo o bastante para inflamar os egos, havia começado a invadir os confins da esfera profissional da reportagem. Esse descobrimento, a princípio modesto e humilde, poderíamos dizer, consistia em tornar possível um jornalismo que [...] pudesse ser lido igual a um conto (WOLFE apud MARTINS, 2009, p. 1).
Foi quando Truman Capote lançou seu livro-reportagem A Sangue Frio e o
literato ficcionista Norman Mailer aderiu ao jornalismo que se começou a reverter
posições. Agora, são os literatos que buscam o jornalismo e é exatamente neste
momento histórico que o new journalism conquista o status de literatura (LIMA,
2004, p. 197).
Desta forma, então, e de acordo com Pena (2006, p. 6), contar uma história
através do jornalismo literário é também “exercitar a cidadania”, é propor histórias
que não sejam esquecidas no tempo, assim como ocorre no jornalismo
43
convencional. É buscar alternativas para se aprofundar nas mais variadas nuanças
do acontecimento que envolve os personagens. É propor uma narrativa próxima da
literatura, que também pode tocar os leitores e promover um diálogo sobre o tema
abordado.
Ao se escolher a forma de escrever e relatar os atletas paralímpicos de
Curitiba e Região Metropolitana optou-se por utilizar as técnicas do jornalismo
literário porque nele se encontram todas as ferramentas necessárias para contar as
histórias dessas pessoas, de forma que elas não sejam esquecidas no tempo, assim
como ocorre no jornalismo convencional.
5.4 CONCEITO DE REPORTAGEM
Uma das técnicas do jornalismo é a reportagem. Para o público obter uma
excelente compreensão da informação jornalística que se quer divulgar, é
necessária uma boa reportagem. É nessa parte do trabalho que se abordará o
conceito de reportagem, para um maior esclarecimento do tema proposto. De acordo
com Medina e Leandro (apud LIMA, 2004, p. 19), a imprensa americana descobriu
que estava muito presa às ocorrências do dia a dia, aos fatos. Por isso, era incapaz
de fazer uma relação dos fatos entre si, para fazer com que o leitor, ao receber a
notícia, percebesse o rumo dos acontecimentos. A partir dessa descoberta é que
surgiu a revista Time, “voltada para o relato dos bastidores, para a busca de
conexão entre os acontecimentos, de modo a oferecer uma compreensão
aprofundada da realidade contemporânea”. (id, p. 19).
É quando, segundo Lima (2004), surgem o jornalismo interpretativo e a
prática da grande reportagem, que ganha adeptos em várias partes do mundo.
Busca não deixar a audiência desprovida de meios para compreender o seu tempo, as causas e origens dos fenômenos que presencia, e suas consequências no futuro. Vai fundamentar sua leitura da realidade na elucidação dos aspectos que em princípio não estão muitos claros. Almeja a preencher os vazios informativos [...] (LIMA, 2004, p. 20).
De acordo ainda com Lima (2004, p. 20), o objetivo da reportagem é buscar
todos os detalhes da notícia e informá-la em todas as suas nuances ao leitor. Ela
busca esclarecer os pormenores que não estejam evidentes. É nela que o jornalista
encontra uma forma de se expressar e de realizar um trabalho com estilo próprio. A
44
reportagem, então, é “extensão da notícia e, por excelência, a forma-narrativa do
veículo impresso” (PESSA apud SODRÉ e FERRARI, 1986, P. 11).
Desta forma, como aponta Medina (apud LIMA, 2004, p. 23), é na
reportagem, que é um gênero do jornalismo, uma narrativa jornalística do real, que
se encontra o aprofundamento da informação jornalística.
Para Sodré e Ferrari (1986, p. 14), a reportagem possui determinadas
características: “predominância de forma narrativa, humanização do relato, texto de
natureza impressionista e objetividade dos fatos narrados”. Para a reportagem ser
construída, e para que expresse essas características, é necessário que a figura do
repórter seja testemunha do fato, participe do acontecimento. Essa vivência do
acontecimento proporciona uma proximidade entre repórter e leitor e, também, uma
maior veracidade à notícia, por que o repórter torna-se um sujeito que é capaz de
relatar a experiência do acontecimento.
O repórter é aquele “que está presente”, servindo de ponte (e, portanto, diminuindo a distância) entre o leitor e o acontecimento. Mesmo não sendo feita em 1ª pessoa, a narrativa deverá carregar em seu discurso um tom impressionista que favoreça essa aproximação (SODRÉ e FERRARI, 1986, p. 15).
Já Lage (apud LIMA 2004, p. 22) propõe que é difícil uma definição do que
seria a reportagem. Mas aponta que ela se espalha “desde a complementação da
notícia [...] até o ensaio capaz de revelar, a partir da prática histórica, conteúdos de
interesse permanente”. Para Faro (Apud, CÂNDIDO e LIMA, 2012, p. 74), o new
journalism é o que mais consegue compreender a extensão da reportagem e que ela
gerou-se a partir de uma necessidade do próprio jornalismo.
5.5 LIVRO-REPORTAGEM
Como o livro-reportagem é o veículo proposto neste trabalho de conclusão de
curso, fez-se necessário estudar as particularidades do tema.
De acordo com Pessa (apud SODRÉ e FERRARI, 1986, p.1), um livro-
reportagem é um veículo de comunicação impressa não periódico. Traz a
informação jornalística com maior amplitude e profundidade do que os veículos de
comunicação diária. Ele tem três características: conteúdo (seu conteúdo
45
corresponde ao real), tratamento (a sua linguagem textual é jornalística, mesmo que
se aproxime da literatura) e função (sua função é informar e orientar).
Para Vilas Boas (apud CANDIDO e LIMA, 2012, p. 73), o livro-reportagem
“cobre amplas faixas de tempo, interage com várias áreas do conhecimento e possui
mecanismos sofisticados de captação da realidade distante e imediata e de
reestruturação e redação de texto”.
O livro-reportagem serve às distintas finalidades que se desdobram dos objetivos básicos de informar, orientar e explicar, enveredando pelos diversos gêneros jornalísticos existentes: o jornalismo informativo arredondado (aprofundamento apenas extensivo, jornalismo interpretativo (aprofundamento extensivo e intensivo) jornalismo opinativo (postura unilateral para defender um conjunto de princípios) jornalismo investigativo (tom de denúncia) e jornalismo diversional (voltado para o lazer) (PESSA, apud CANDIDO e LIMA, 2012, p.75).
De acordo ainda com Pessa (apud SODRÉ e FERRARI, 1986, p.11), o livro-
reportagem existe por causa da reportagem. Ela “é uma extensão da notícia e, por
excelência, a forma narrativa do veículo impresso”.
Porém, de acordo com Lima (1998, p.21), ao se escolher uma fonte para
realizar uma reportagem, já se está realizando um determinado recorte da notícia.
Isto porque a informação que a fonte escolhida dará depende muito de sua posição
social, cultura e entendimento ideológico da questão. Ou seja, um recorte na
realidade noticiosa é feito de acordo com sua percepção. As condições de trabalho a
que o jornalista está submetido e a ideologia da empresa também proporcionam
outro recorte da notícia. Porém, é a técnica do lead que “realiza naturalmente um
recorte simplificado da mensagem noticiosa”.
O fato, para Lima (ibid), de o lead ocasionar esse recorte “natural” da notícia,
que é também chamado pelo autor de “engessamento”, adultera o contexto real do
acontecimento. “Ao se reduzir a realidade, ocorrem fenômenos depreciativos de
fatores importantes do ocorrido, que são os elementos psicológicos, históricos e a
ressonância emocional dos acontecimentos”. Para o autor, não há como descrever
uma realidade sem que haja, na informação, esses elementos. Neles, estaria
embutido o real do acontecimento.
Lima (1998, p.21) aponta ainda que, no jornalismo convencional, a tendência
é colocar sempre em primeiro plano os aspectos materiais da notícia, o concreto
(quem fez o quê, como, quando, onde e por quê). Ou seja, a notícia, no jornalismo
46
convencional, hoje se a lê, amanhã se esquece dela. Para o autor, essa realidade
materialista é mentirosa. E, ainda, o jornalista destrói a própria realidade noticiosa ao
usar a técnica do lead para transcrevê-la, ou melhor, “esquece os elementos
psicológicos, históricos e a ressonância emocional”(id), então, “a mídia convencional
tem vocação retalhadora da notícia” (ibid).
Ao se realizar um jornalismo embasado no recorte da realidade a partir do
lead, de acordo com Lima (1998, p. 22), perdem-se elementos importantes
necessários para transmitir a mensagem ao público. Não havendo os elementos
emocionais, contextuais e psicológicos que envolvem a notícia, a opinião pública,
formada a partir do modelo convencional de notícia, através do recorte do lead, será
parcial, rasa, e o público não terá o contexto noticioso do acontecimento.
[...] caindo na vulgaridade que reduz a realidade a elementos pueris, a imprensa prática, muitas vezes, leva uma leitura arrogante e estereotipada da sociedade e dos atores que movem as diferentes esferas da existência humana no bojo das civilizações. [...] A imprensa acaba colocando em evidência sua incapacidade de ler a essência das coisas, que permanecem inatingíveis porque todo o procedimento do jornalismo industrial moderno conduz a uma leitura das aparências apenas (LIMA, 1998, p 22).
Lima (1998) afirma ainda que a experiência do jornalismo literário, no papel
do livro-reportagem, é mais completa e amplia o trabalho da imprensa cotidiana. “Dá
uma sobrevida aos temas abordados pelos jornais e outros meios. Além disso, entra
em campos desprezados ou tratados de maneira superficial pelos veículos” (1998, p.
22).
No livro-reportagem, que é uma das mídias do jornalismo literário, a notícia, o
fato, está repleta de contextos emocionais, elementos psicológicos e históricos que,
ao serem explorados pelo jornalista, dão essa “sobrevida”, esse respiro à informação
convencional do jornalismo diário (LIMA, 1998, p 22). Por isso, ao se propor um
livro-reportagem sobre os paratletas de Curitiba e Região Metropolitana, foi
necessário mergulhar nos estudos da Psicologia Social e Representações Sociais,
para extrair dali a clareza de entendimento sobre estereótipos, estigmas e as
representações dos paratletas na sociedade, já que a função do livro-reportagem é
fazer uma exposição mais profunda dos fatos.
47
5.6 A JORNADA DO HERÓI
No intuito de escrever um livro-reportagem sobre a história de vida de seis
atletas paralímpicos, buscou-se entender a estrutura textual embasada na Jornada
do Herói, de Joseph Campbell, já que “ela propõe um padrão narrativo ao qual os
seres humanos estão habituados há milênios” (CULLER, apud MARTINEZ, 2008,
pág. 52).
De acordo com Martinez (2008, p. 52) A origem desta estrutura narrativa
provém de 1940, quando o mitólogo Campbell, ao analisar uma série de mitos,
contos de fadas e populares descobriu neles uma estrutura comum de narração que
poderia ser dividida em três partes: a partida, a iniciação e o retorno. Campbell
batizou essa estrutura como a Jornada do Herói.
De fato, a Jornada do Herói ilustra o caminho que leva a pessoa a empreender vivências que a fazem mudar padrões de comportamento conscientes e inconscientes. De forma sintética, o percurso da aventura mitológica do herói reproduz os rituais de passagem, comuns nas sociedades primitivas, nas quais ocorre o padrão separação-iniciação-retorno. (MARTINEZ, 2008. p. 53).
Ainda de acordo com Martinez, o mitólogo Joseph Campbell divide essa
jornada em dezessete passos:
A partida
1. O chamado à aventura;
2. Recusa do chamado;
3. O auxílio sobrenatural;
4. A passagem pelo primeiro limiar;
5. O ventre da baleia.
A iniciação
6. O caminho das provas;
7. O encontro com a deusa;
8. A mulher como tentação;
9. A sintonia com o pai;
10. A apoteose;
11. A bênção final.
48
O retorno
12. A recusa do retorno;
13. A fuga mágica;
14. O resgate com auxílio externo;
15. A passagem pelo limiar do retorno;
16. Senhor de dois mundos;
17. Liberdade para viver.
Mas quem é o herói? Como enfatiza Martinez (2008, p. 42) não é um
personagem mitológico como, por exemplo, Teseu, Perseu, Hércules ou tantos
outros que povoam os contos gregos. Esse herói é “uma pessoa que, por
determinado motivo — seus feitos, seus valores ou sua magnitude —, seja escolhida
para ser o protagonista de uma história de vida” (id). No caso deste trabalho de
conclusão de curso, os heróis seriam os seis atletas paralímpicos, que relatam suas
histórias e suas experiências. São eles os protagonistas do livro-reportagem
pretendido.
A jornada do herói permite não apenas traçar histórias de estrelas, políticos, socialites e outras figuras de projeção, porém dar voz (também) aos anônimos, às pessoas comuns, aos marginalizados pelo poder. Ou seja, aos indivíduos que até pouco tempo não eram considerados sujeitos nem pelos historiadores nem pelos jornalistas tradicionais, que na maioria dos casos se limitavam a extrair falas esparsas destes populares (MARTINEZ, 2008, p. 42).
Desta forma, conhecendo-se a estrutura proposta por Campbell, apresentada
por Martinez (2008, p. 43), é concedida a possibilidade de “ampliar a visão de
mundo dos entrevistados, [...] permite aumentar a consciência num nível histórico,
familiar, comunitário e até planetário”.
Porém, é necessário esclarecer que não se utilizou necessariamente, neste
trabalho, a Jornada do Herói ipsis litteris, seguindo todos os seus dezessete passos.
Antes, buscou-se entendê-los para a melhor compreensão dos personagens e de
suas histórias. Procurou-se conhecer a jornada para que o processo de criação do
livro fosse mais consciente no que concerne às estratégias narrativas da obra.
Embora a narrativa escolhida não contemple todos os dezessete passos da
jornada em questão, as histórias dos personagens são por eles permeadas em suas
etapas fundamentais, já que todos tiveram um chamado — uma doença, um
49
acidente, um incidente que mudasse sua vida — enfrentaram uma espécie de
resistência a esse convite à iniciação, viveram-na com suas várias provações e
chegaram à apoteose, conhecendo dois mundos: o das pessoas comuns e o das
pessoas com deficiência. Retornam, por fim, ao seu cotidiano, com algum
conhecimento que interessa a toda a sociedade (o elixir).
É importante esclarecer ainda que esta Jornada do Herói não é exclusiva da
pessoa com deficiência, e nem está ligada necessariamente a ela, já que existe na
psique de todo ser humano. A vida de todos é uma sucessão de chamados
atendidos e recusados, que nos levam a diversas jornadas. Desta forma, nada tem a
ver com a visão simplista e estereotipada de que o deficiente, em especial o atleta
paralímpico, seja um super-herói que supera dificuldades aparentemente
intransponíveis, visão esta que promove o sectarismo e a diferenciação, ainda que
pela exaltação de suas conquistas - os resultados.
Viver a Jornada do Herói não é, então, um fato inerente apenas aos super-
heróis, mas a todo o ser humano. Por isso pretendeu-se que os paratletas fossem
descritos no livro como seres humanos comuns que, vivendo a sua Jornada,
transformam-se a si mesmos e, justamente por não serem super-heróis e tampouco
“coitados”, mudaram sua própria visão sobre a deficiência e, quiçá, contribuam para
mudar a visão estigmatizada que o mundo tem sobre ela, em boa dose, por
influência da mídia.
6. METODOLOGIA DE PESQUISA
Durante a confecção deste relatório monográfico, com o objetivo de escrever
um livro-reportagem sobre seis atletas paralímpicos de Curitiba e Região
Metropolitana, realizaram-se entrevistas com Eliseu dos Santos, Claudiomiro
Segatto, Daniel da Silva, Maria Luíza Passos, Emerson Carvalho e Anderson Ribas
da Silva, que são os personagens da história narrada. Durante as entrevistas,
obteve-se a percepção da necessidade de se utilizarem técnicas apropriadas do
jornalismo a fim de evitar o olhar ingênuo, limitado e simplista sobre os
entrevistados. Deste modo, e após as primeiras entrevistas, procurou-se aprofundar
as bases teóricas sobre estereótipos, estigmas e representações sociais, visto que
50
são temas de grande importância por constituírem a sustentação deste relatório
monográfico. Procurar entender o mecanismo da construção dos estereótipos levou-
nos à base cognitiva para discuti-los — especialmente os que permeiam a vida dos
paratletas, e não só deles, mas das pessoas com deficiência em geral.
Este estudo fundamentou-se em dois formatos metodológicos: uma pesquisa
bibliográfica na qual foram selecionados autores teóricos que orientam, esclarecem
e direcionam as discussões aqui propostas, e uma pesquisa de campo, dividida
entre a análise das matérias realizadas pelo jornal Gazeta do Povo e as entrevistas
gravadas com os atletas paralímpicos.
6.1 A PESQUISA DA BIBLIOGRAFIA
Nesta parte do estudo, buscaram-se teóricos que contribuíssem para o
entendimento do significado de estereótipos, estigmas, e do que é ser uma pessoa
com deficiência, suas necessidades e o olhar que os não deficientes têm sobre ela.
Essa primeira pesquisa revelou autores necessários para desenvolver o trabalho,
como Moscovici, autor de “As Representações Sociais”, entre outros.
Era importante saber, a partir das bases teóricas, como a mídia representa os
paratletas e qual a base das ideias e conceitos que utiliza para retratá-los nos meios
de comunicação. Nesta fase do trabalho, autores como Rodrigues e Assmar e
Jablonski (1999), Goffman (1989), Berger e Luckmann (2002), Pereira e Monteiro
(2011), Hugues (2005), Hunt (1996), Barnes (2005), entre outros, foram
fundamentais para uma compreensão mais aguçada da problematização que o tema
propõe.
Também foram importantes as pesquisas realizadas no site do Comitê
Paralímpico Brasileiro e as entrevistas gravadas com os atletas que se propuseram
a participar deste trabalho, e com seus treinadores, feitas na Associação dos
Deficientes Físicos do Paraná.
Para uma maior compreensão sobre livro-reportagem, técnicas de entrevistas,
jornalismo literário e sobre o jornalismo e a maneira com que este estereotipa as
matérias diárias, foram importantes os conceitos discutidos nas obras de Pena
(2006), Lima (2004), Sodré e Ferrari (1986), Wolfe (2005), Lage (2003) e Faro
(2012), entre outros.
51
6.2. PESQUISAS DE CAMPO
Depois da fase de estudo da bibliografia, passou-se para a pesquisa de
campo, que se dividiu em:
1- Análise do conteúdo publicado no site do jornal Gazeta do Povo sobre as
Paralimpíadas de Londres de 2012, que ocorreram de 29 de agosto a 9 de setembro
do mesmo ano 24.
Como todas as matérias do jornal impresso são publicadas na versão on-line,
optou-se por realizar a pesquisa em meio eletrônico. A pesquisa foi feita através de
busca no site do jornal Gazeta do Povo por informações sobre os atletas
paralímpicos nas Paralimpíadas de Londres de 2012. Os textos foram selecionados
a partir das palavras-chave: “Paralimpíadas de Londres”. Optou-se pela Gazeta do
Povo pelo fato de o veículo ser o único do Paraná que enviou um repórter para
cobrir as Paralimpíadas em Londres — portanto, seria possível analisar os
elementos discursivos de reportagens originais produzidas durante o evento, e não
de materiais provindos de agências de notícia.
2- Entrevistas com os paratletas e treinadores após participarem das
Paralimpíadas de Londres.
Essa fase do trabalho foi importante porque nela se pode observar, na prática,
tudo aquilo que se estudou em teoria.
Essa modalidade de conhecimento consiste na observação dos fatos e fenômenos como ocorrem no real, na coleta de dados e, finalmente, na análise e interpretação desses dados, com base numa fundamentação teórica consistente, objetivando compreender e explicar o problema pesquisado ( FUZZI apud CANDIDO e LIMA, p. 65, 2010),
Além das informações coletadas na análise das matérias do jornal Gazeta do
Povo e nas pesquisas realizadas em bibliografias concernentes ao tema, viu-se a
necessidade de realizar uma aproximação com os atletas deficientes. Aproximação
no sentido de perceber como as representações emitidas pelos veículos de
comunicação agem no cotidiano dos paratletas. Essa parte foi importante porque o
pesquisador entrou em contato com a realidade vivida pelas pessoas com
24 Análise mostrada na página 17, tópico 2.5 deste relatório monográfico.
52
deficiência, realidade que pode ser narrada no livro-reportagem proposto por este
trabalho.
Para perceber como os paratletas se relacionam com as representações
sociais emitidas pela mídia, foram agendadas sete entrevistas. Duas delas foram
realizadas nos dias 22 e 29 de março de 2013, na sexta-feira à tarde, na UFPR,
Campus III - Jardim Botânico, no Departamento de Educação Física, local de
treinamentos de Eliseu dos Santos. Nessa parte, conversou-se com treinador e
atleta sobre temas que envolvem o preconceito, dificuldades de treinamento, sobre o
dia a dia dos deficientes, inserção social e mídia. Outras duas entrevistas foram
realizadas na casa do paratleta Eliseu dos Santos, nos dias 22 e 29 de março de
2013, na parte da manhã. Frequentar o ambiente de treinamento e a casa do
personagem permitiu a aproximação com o mesmo e, deste modo, surgiram
conversas mais aprofundadas. O objetivo destas entrevistas era entender como o
deficiente se relaciona com o preconceito e o estereótipo.
Além destas, uma entrevista foi realizada com os paratletas Claudiomiro
Segatto e Maria Luíza Passos no dia 25 de março de 2013, às onze horas, na sede
da Associação dos Deficientes Físicos do Paraná, na Rua XV de Novembro, 2765,
no bairro Alto da XV, em Curitiba.
Também foi gravada uma entrevista com os paratletas Daniel Jorge da Silva e
Anderson Ribas da Silva, no dia 27 de março de 2013, às dezenove horas, no
Colégio Positivo, na Rua Alferes Ângelo Sampaio, 2300, Bigorrilho, em Curitiba.
Além destas, uma sétima entrevista foi realizada no dia 20 de março, às dezenove
horas, na casa do paratleta Emerson Carvalho, na Avenida Santa Bernadete, 1361 -
Vila Lindóia, em Curitiba.
As conversações ocorreram sem um questionário específico. Durante os
encontros foram abordados temas como: mídia e a deficiência, preconceito, inclusão
social, abandono e descaso com os deficientes. Os entrevistados mostraram-se
abertos para dialogar sobre tais temas. E apontaram necessidades de se mudar a
ótica que se tem sobre os deficientes. Mais especificamente, nenhum dos
entrevistados simpatiza com a ideia de serem tratados como “coitados” ou “super-
heróis”. Pretendem ser vistos como cidadãos comuns, que conduzem suas vidas
como quaisquer outras pessoas.
53
7. DELINEAMENTO DO PRODUTO
Para se chegar à elaboração do produto livro-reportagem “O jogo antes do
jogo — a história de vida de seis atletas paralímpicos de Curitiba e Região
Metropolitana”, fez-se necessário optar por algumas escolhas que conferissem
viabilidade ao projeto, como especificado abaixo.
7.1 FORMATO
Conhecido o problema, era necessário o entendimento da melhor mídia para
veicular as informações que iriam ser colhidas a respeito dos personagens. A
escolha do livro-reportagem se deu porque ele, assim como afirma Vilas Boas (apud
CANDIDO e LIMA, 2010, pg. 70), "cobre amplas faixas de tempo, interage com
várias áreas do conhecimento e possui mecanismos sofisticados de captação da
realidade distante e imediata e de estruturação e redação de texto".
Percebeu-se, então, que a mídia livro-reportagem e as técnicas que envolvem
o jornalismo literário adequar-se-iam melhor à discussão do tema proposto porque,
assim como afirma Lima (2004, pg 75, 2010), não realizariam um recorte simplificado
através do lead, obtendo-se, então, a possibilidade de abordar questões
psicológicas, emocionais e o contexto histórico dos paratletas.
O nome “O jogo antes do jogo” foi escolhido por se entender que antes do
jogo, antes das Paralimpíadas, aconteceram histórias — no caso, as histórias de
vida dos atletas — que fizeram de cada um deles o que são hoje.
7.1.1 Formatação gráfica
O livro, realizado como concretização deste relatório monográfico, tem 190
páginas e foi escrito em fonte Tahoma, caixa 11. O texto está dividido em quatro
capítulos, mais um adendo com partes das entrevistas dos personagens e uma
entrevista com a especialista em inserção social Mirella Prosdócimo, para esclarecer
temas ligados a inserção social.
54
7.1.1.1. Capítulos
Para designar cada uma das quatro partes somente foi utilizado um número,
de um a quatro, aplicado sobre um sólido negro inserido sobre uma foto em preto e
branco. Cada capítulo recebeu uma foto diferente. As fotos carregam em si uma
referência — não escrita — do que acontece em cada parte do livro, dispensando
títulos. No capitulo um, a foto é um detalhe de bolas, já que nessa fase da história
todos os personagens praticam algum tipo de esporte com bola. No capítulo dois, a
foto traz um recorte de uma cadeira de rodas, relevando que, nesta parte, começa a
reviravolta que leva os personagens à deficiência. No capítulo três, um detalhe de
um agasalho da seleção brasileira sugere que os deficientes agora são atletas. E no
capítulo quatro, estão as medalhas paralímpicas. No adendo, há uma fotografia do
rosto de cada um dos respectivos entrevistados. O leitor, quando chegar ao final do
livro, poderá, desta forma, ver a aparência física dos protagonistas aos quais já foi
apresentado psicologicamente através da leitura e entrar na vida deles como se
fosse um velho conhecido — assim completando a aproximação leitor-personagem
que, pretende-se, pode quebrar estereótipos e romper preconceitos. Neste adendo
acrescentou-se também a foto da especialista em inserção social. A entrevista com
Mirela Prosdócimo ratifica as afirmações dos personagens do livro e da pesquisa
realizada neste relatório monográfico. Também foram aplicadas sobre as fotos uma
faixa preta onde se vê o nome de cada atleta, sua classe esportiva e o crédito do
fotógrafo. Todo o miolo do livro foi elaborado em preto e branco.
7.1.1.2 Capa
Para a capa do livro, foi estilizada uma imagem de domínio público extraída
de uma ânfora grega do século V a.C. O vaso era entregue aos ganhadores das
competições olímpicas da época. Na figura, veem-se atletas correndo. E em um dos
competidores, uma das pernas foi substituída por uma prótese. A ideia é dar um
sentido de igualdade entre pessoas com deficiência e pessoas sem deficiência, além
de chamar a atenção do leitor e instigá-lo em sua curiosidade, para que busque
descobrir o que aquela imagem representa, afinal.
55
7.1.1.3 Dimensões
As dimensões do livro seguem o padrão utilizado por editoras, que é o
formato A5, cujas dimensões são 14,8cm x 21 cm. Esse padrão é usado pela
conveniência que o formato proporciona. Conveniência de economia de papel, o que
possibilita redução de custos e também conforto de leitura. O papel usado foi o
tradicional sulfite — o mais utilizado em produção de livros, mais até do que o pólen
—, com gramatura de 90g/m². Essa gramatura foi escolhida em função da
valorização das fotos que ela proporciona. Para não produzir cansaço aos olhos no
momento da leitura — por causa do contraste intenso entre o branco da folha e o
preto das fontes — a cor (preta) da fonte foi reduzida a 70% do preenchimento
integral.
7.2 PERSONAGENS
Na apuração das informações para a confecção do livro-reportagem, viu-se a
necessidade de compreender o tema e seus correlatos e de buscar uma visão
crítica, a mais próxima possível da realidade social que abrange os atletas
paralímpicos e a sociedade, já que, como autor, não interessaria cair no erro de
interpretações fáceis (CÂNDIDO e LIMA, 2012, p. 74).
O trabalho iniciou-se em diálogos com os paratletas e seus treinadores, a
partir dos quais se percebeu uma necessidade de mudança nos paradigmas
relacionados às pessoas com deficiência. Foi o que apontou o paratleta Claudiomiro
Segatto, durante as entrevistas. Disse ele que, para uma vida mais digna das
pessoas com deficiência, seria necessário o rompimento com as imagens do
“coitadinho” e do “super-herói”. Imagens que são, muitas vezes, mantidas pela
sociedade em função de sua insipiência a respeito da existência das pessoas com
deficiência, e reforçadas através dos meios de comunicação, que buscam o viés
mais simplificado para representá-los. No caso, o estereótipo.
De acordo com a psicóloga Eveline Ribeiro (apud LIMA, 2007, p.22), “a
pessoa com deficiência deve ser vista cada vez mais como uma pessoa comum (...)
e a imprensa pode exercer a função de naturalizar o convívio com o deficiente”. É
justamente nessa naturalização que, segundo a psicóloga, os estereótipos passam a
desmoronar-se.
56
Verificou-se também que muitos paratletas e treinadores não possuem uma
sede de treinamentos que seja fixa. Eles são mandados de um lugar a outro, de
acordo com a necessidade das empresas, privadas ou públicas, que cedem o local
dos treinamentos. Os atletas sequer sabem por quanto tempo estarão ali, usufruindo
do local. Esses deslocamentos se dão à medida que acontecimentos “mais
importantes” ocorram no local onde eles estariam treinando.
Com relação aos meios de comunicação, existe o sentimento de abandono
pelo fato deles retratarem os atletas durante os jogos paralímpicos - e de forma
estereotipada, como vimos na análise apresentada nesse trabalho de conclusão de
curso, e depois os relegarem ao esquecimento, deixando de lado discussões
importantes como a da inserção social destas pessoas e até mesmo dos locais mais
apropriados para seus treinamentos esportivos.
Tendo o autor um conhecimento do contexto que envolve a vida dos
paratletas e decidida a mídia a ser usada para a confecção do produto referente a
esta pesquisa, passou-se à escolha dos personagens que comporiam o livro-
reportagem “O jogo antes do jogo”.
Em um primeiro momento, selecionaram-se os paratletas paranaenses que
estiveram nas Paralimpíadas de Londres em 2012. Do Paraná, os que conseguiram
índices individuais e se classificaram para os jogos foram:
Eliseu dos Santos Bocha categoria BC4 Pinhais
Claudiomiro Segatto Tênis de mesa Curitiba
Maria Luíza Passos Tênis de mesa Curitiba
Emerson Carvalho Futebol de cinco Curitiba
Daniel Jorge da Silva Vôlei sentado Curitiba
Anderson Ribas da Silva Vôlei sentado Curitiba
Welder Camargo Knaf Tênis de mesa Guarapuava
Ezequiel Babes Tênis de mesa Guarapuava
Carlos Garletti Tiro esportivo Ponta Grossa
Iliane Faust Tênis de mesa Francisco Beltrão
Márcia Meneses Halterofilismo Londrina
57
Utilizou-se como critério fundamental para a escolha dos personagens os
atletas que residissem em Curitiba e Região Metropolitana, já que a pesquisa
realizada para confeccionar o produto proposto neste trabalho de conclusão de
curso é sobre os paratletas da referida localidade. Desta forma, foram selecionados
seis paratletas — os que residem na capital paranaense e região metropolitana.
Seguindo estes critérios, os personagens selecionados para o livro foram:
Eliseu dos Santos Bocha categoria BC4 Pinhais
Claudiomiro Segatto Tênis de mesa Curitiba
Maria Luíza Passos Tênis de mesa Curitiba
Emerson Carvalho Futebol de cinco Curitiba
Daniel Jorge da Silva Vôlei sentado Curitiba
Anderson Ribas da Silva Vôlei sentado Curitiba
Eliseu dos Santos é residente em Pinhais, na Região Metropolitana de
Curitiba. Maria Luíza Passos reside no bairro Alto Boqueirão, em Curitiba.
Claudiomiro Segatto reside no bairro Capão da Imbuia, em Curitiba. Emerson
Carvalho reside na Vila Lindóia, em Curitiba. Anderson Ribas da Silva reside no
bairro Portão, em Curitiba e Daniel Jorge da Silva reside no bairro Portão, em
Curitiba.
Portanto, os paratletas Welder Camargo Knaf, de Guarapuava, Ezequiel
Babes, de Gaurapuava e Carlos Garletti, de Ponta Grossa, bem como Iliane Faust,
de Francisco Beltrão e Márcia Meneses, de Londrina, não se enquadraram nos
critérios concernentes a este trabalho aqui proposto.
7.3 SELEÇÃO DE ENTREVISTADOS
Conhecendo os personagens que participariam do livro, fez-se necessário
elaborar uma lista de entrevistados. Com essa lista, conseguiu-se uma maior
organização para as entrevistas.
Os entrevistados foram: Eliseu dos Santos, Nádia Batista, Paulo dos Santos,
Marcelo dos Santos, Milton dos Santos, Elias dos Santos, Luciano dos Santos,
Rafael Batista, Isalina dos Santos, Jeferson Rodrigues, Darlan França Júnior
(técnico de bocha), Daniel da Silva, Regina da Silva, Jorge da Silva, Aline Frates
58
Melek, Everton Carvalho, Emerson Carvalho, Célia Aparecida de Carvalho, José
Amauri Pinho, Viviane Queiroz, Mário Sérgio Fontes, Maria Luíza Passos, Mirella
Prosdócimo, Mauro Nardini, Benedito Rodrigues de Oliveira (técnico de tênis de
mesa), Carlos Eduardo Leitão (médico), Claudiomiro Segatto, Tatiane Segatto,
Anderson Silva, Marcelo Francisco de Oliveira, Ricardo Vendramel (comitê da
deputada federal Mara Gabrilli), Daniel Brito (Comitê Paralímpico Brasileiro).
Compuseram a lista os familiares dos personagens relacionados às histórias
relatadas, amigos, treinadores e especialistas na questão do deficiente, bem como
um médico que colaborou na ratificação de informações técnicas sobre cirurgias e
procedimentos clínicos vividos pelos personagens.
7.4 FOCO NARRATIVO
Ao narrar as histórias dos personagens do livro “O jogo antes do jogo”
buscou-se, dentro das técnicas do jornalismo literário, o formato perfil. A narrativa foi
costurada de forma entrecruzada. Ou seja, decidiu-se não contar as histórias de
forma linear, pretendendo-se dar ao leitor a sensação de que todas elas, embora os
personagens sejam diferentes, misturem-se numa só história, que tem seu clímax
quando todos se encontram nas Paralimpíadas de Londres. Na narrativa, usou-se o
tempo verbal na terceira pessoa.
Como linguagem, buscou-se o jornalismo literário e as técnicas do New
Journalism. Desta forma, pode-se descrever mais detalhadamente a complexidade
dos personagens, de suas falas, dos detalhes, do ambiente nas cenas, das
expressões, do comportamento psicológico e do fator emocional de cada um deles.
Procurou-se dar uma leveza ao texto, em contraposição ao peso das histórias,
incorporando-se à narrativa em terceira pessoa, situações cômicas e fatos simples
da vida cotidiana dos protagonistas, contando sua história de forma solta.
7.5 PÚBLICO-ALVO
Como se pretende promover uma discussão dos temas “deficientes”,
“paratletas” e “estereótipos”, o público-alvo do livro-reportagem “O jogo antes do
jogo” não é necessariamente o público em geral, mas sim todos aqueles que sejam
formadores de opinião. O livro é dirigido, então, a jornalistas, profissionais dos meios
59
de comunicação, professores e alunos das universidades e professores de escolas
do ensino fundamental e médio — que podem ser, através de seus alunos,
multiplicadores das ideias sobre inclusão, respeito, compreensão e integração dos
deficientes à sociedade. Além destes, o livro é dirigido também aos próprios
deficientes, bem como suas famílias e círculos sociais, que poderão se inspirar nas
histórias nele contadas para romper barreiras em seu próprio processo de
adaptação à deficiência e inserção na sociedade.
Após a confecção do livro, pretende-se inscrevê-lo em concursos de literatura,
eventos como o Prêmio Sangue Novo, realizado pelo Sindicato dos Jornalistas do
Paraná, e outros do gênero no país, já que a intenção é promovê-lo para fomentar a
discussão sobre o tema.
O produto será disponibilizado para a Associação dos Deficientes Físicos do
Paraná, ao Comitê Paralímpico Brasileiro e a órgãos governamentais afins em todo
o território nacional.
8. RECURSOS MATERIAIS E ORÇAMENTO
O material necessário para a captação das entrevistas, como gravador de
voz, pertence ao pesquisador. As despesas de transporte (R$ 300,00) e alimentação
(R$ 100,00) também foram custeadas pelo mesmo, assim como as demais
despesas, que englobam: material de impressão / papel (R$ 30,00), toner para
impressora a laser (R$ 30,00) e impressão da capa do livro (40,00). A diagramação,
design de capa, as fotos para a parte interna e as três primeiras cópias foram
confeccionados pelo pesquisador.
Com o livro pronto, a última etapa do projeto será buscar recursos através da
Lei Rouanet, assim como do Pronac, que estabelecem políticas para o incentivo à
produção cultural, visando ampliar a tiragem do livro. Da mesma forma, procurar-se-
a editoras e/ou empresas privadas que tenham interesse em publicar o livro “O Jogo
Antes do Jogo”.
60
9. CRONOGRAMA DE ATIVIDADES
Descrição da atividade
Mês (relativo ao último ano de curso)
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Revisão da bibliografia
x
x
Elaboração do relatório
monográfico
x
x
x
Banca de qualificação
x
Entrevistas
x
x
x
x
x
Edição e verificação de
informações
x
Elaboração do livro-
reportagem
x
x
Diagramação x
Revisão e impressão
x
x
Apresentação do
produto/banca
x
61
10. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As pesquisas realizadas neste trabalho acadêmico, incluindo sua parte de
campo, apontam para uma estereotipagem dos deficientes físicos. Cabe aos meios
de comunicação colocar esse assunto em pauta de forma mais abrangente, para
que os deficientes não caiam em esquecimento e não se sustente uma
representação social preconceituosa a seu respeito. Comumente, a mídia
convencional exige cada vez mais do seu profissional — o jornalista, que pela
demanda excessiva de trabalho, esquece que um dos papeis do jornalismo é
proporcionar ao público a discussão sobre temas relevantes à sociedade, e não
apenas noticiar fatos de influência imediata.
Com a iniciativa de realizar um livro-reportagem sobre os paratletas,
pretende-se levar o tema à discussão entre os jornalistas para que estes retomem o
tema e assim, gerem um diálogo com a sociedade, criando entendimentos mais
profundos sobre a questão.
Uma das maiores agressividades que um ser humano pode vivenciar é o
descaso, a discriminação. O ato de discriminar e estereotipar traz profundas
cicatrizes ao discriminado e à sociedade.
Cabe à mídia reformular-se para levar uma imagem não estigmatizada das
pessoas com deficiência e dos atletas paralímpicos à sociedade. Livre de
preconceitos. Ao jornalista, cumpre desenvolver apurações mais eficazes do que
apenas o recorte simplório da notícia através do lide. Fugir do processo mecânico e
viciado de construir uma notícia, para que discussões sociais sejam mais
abrangentes, porque afinal, o jornalismo é uma maneira de revitalizar a sociedade
através do diálogo.
Neste trabalho, apontou-se um descaso, um esquecimento em relação aos
deficientes, que mesmo chegando às paralimpíadas, não ganham a mesma
visibilidade na mídia dada aos atletas convencionais. Apontou-se também que a
mídia costuma informar somente a casca da notícia, a parte mais visível da questão,
deixando de lado os reais problemas que essas pessoas enfrentam.
A proposta de fazer um livro-reportagem sobre histórias de vida dos paratletas
é uma maneira de discutir a questão e viabilizar novos meios de levar esse tema à
sociedade.
62
11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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63
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GAZETA DO POVO. Conteúdo Gazeta do Povo — Paranaense dedica ouro na bocha ao filho recém nascido – Autor: Adriano Ribeiro. 04/09/2012 Disponível em: http://www.gazetadopovo.com.br/esportes/paralimpiada/conteudo.phtml?id=1295220 Acesso em: 24/05/2013 GAZETA DO POVO. Conteúdo Gazeta do Povo — Paranaense perde para mesmo algoz e vê reprise de Pequim – Autor: Adriano Ribeiro. 08/09/2012 Disponível em: http://www.gazetadopovo.com.br/esportes/paralimpiada/conteudo.phtml?id=1295220 Acesso em: 24/05/2013 GAZETA DO POVO. Conteúdo Gazeta do Povo — Paranaense realiza em Londres sonho adiado – Autor: Adriano Ribeiro. 01/09/2012 Disponível em: http://www.gazetadopovo.com.br/esportes/paralimpiada/conteudo.phtml?id=1295220 Acesso em: 24/05/2013 GOFFMAN, Erving. Estigma – Notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Tradução de Márcia Bandeira de Mello Leite Nunes. 4ª ed. LTC – Livros Técnicos e Científicos Editora S.A. 1988. LAGE, Nilson. A Reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística. 3ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2003. LAGE, Nilson. Teoria e técnica do texto jornalístico: Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. 7ª edição. LIMA, Edvaldo Pereira. Páginas Ampliadas: o livro-reportagem como extensão do jornalismo e da literatura. 3ª. ed. São Paulo: Manole, 2004. LIMA, Edvaldo Pereira. O que é livro-reportagem. São Paulo:. Brasiliense. 1998 LIMA, Marcos Henrique Carvalho. A mídia e o paradesporto: A percepção da deficiência visual pelos meios de comunicação - 2007. Disponível em: www.urece.org.br LUCKMANN, Thomas; BERGER, Peter. A Construção Social da Realidade. 2002
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‘Vovó’ comanda legião paranaense do tênis de mesa
Aos 61 anos, Maria Luiza Passos é a atleta mais experiente do Brasil em Londres e lidera o grupo de conterrâneos no esporte
29/08/2012 | 17:45 | ADRIANO RIBEIRO, DE LONDRES/GAZETA DO POVO
A mesa-tenista paranaense Maria Luiza Passos tem muita história para contar. Ela participa de competições internacionais desde 1990 e estreia nesta quinta-feira (30) em sua terceira Paralimpíada. Apesar da experiência, as disputas não se tornaram uma "banalidade" para ela. Bastou perguntar sobre a sensação de participar de mais uma edição dos Jogos para as lágrimas começarem a escorrer do rosto da “vovó” da delegação. Com 61 anos, ela é a atleta mais experiente do país em Londres. “É difícil explicar este momento. Não dá para descrever. Dá um arrepio gigante. É um momento tão único na vida da gente, porque batalhamos muito para chegar aqui”, diz Maria Luiza.
Em Londres, ela integra uma verdadeira legião de conterrâneos. Com cinco representantes, o Paraná é o estado com mais atletas na equipe do tênis de mesa. Além dela, nascida em Bandeirantes, vão competir Welder Knaf e Ezequiel Babes (os dois de Guarapuava), Claudiomiro Segatto (Coronel Vivida) e Iliane Faust (Francisco Beltrão).
Maria Luiza faz parte de uma geração que ajudou a expandir a prática da modalidade, principalmente em Curitiba. Ele tornou-se cadeirante aos 23 anos em decorrência de um tumor na coluna. Cinco anos depois, após passar a frequentar a Associação dos Deficientes Físicos do Paraná (ADFP), começou a praticar atletismo e, depois, tênis de mesa.
Ao lado de Luiz Algacir da Silva – paranaense falecido em 2010 e que participou de quatro Paralimpíadas – é apontada como referência em um dos esportes paralímpicos mais tradicionais (está no programa dos Jogos desde a primeira edição, em 1960).
“Eu fui convidado pela Malu [Maria Luiza] para jogar. Ela, o Algacir, ajudaram a alavancar o tênis de mesa no Paraná”, aponta Segatto. “Os competidores do estado começaram a ter bons resultados e isso incentivou a formação de outros atletas. É um pólo que se desenvolveu”, reforça Maria Luiza.
Assim como ela, todos os outros paranaenses estreiam hoje na Paralimpíada. A veterana, mãe de dois filhos e avó de três netos, é considerada uma zebra em sua chave, mas diz não se importar com isso.
“O meu grupo está muito complicado. Tem uma chinesa e uma coreana, então já viu... Mas vou à luta, com cara e coragem. Estou aqui para isso”, fecha.
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Paranaenses
31/08/2012 | 00:04 | ADRIANO RIBEIRO
Apenas um representante do Paraná conseguiu vencer na estreia do tênis de mesa. Welder Knaf, medalhista de prata nas duplas em Pequim-2008, não teve dificuldades para bater o austríaco Manfred Dollmann por 3 sets a 0, parciais de 13/11, 11/3 e 11/5. Os outros quatro atletas do estado – Claudiomiro Segatto, Ezequiel Babes, Iliane Faust e Maria Luiza Passos – perderam e não conseguiram vencer nenhum set. Todos voltam a jogar hoje na rodada que vai definir os classificados para as quartas de final.
Eliseu espera chegar à semifinal e melhorar marca de
Pequim 06/09/2012 | 00:03 | ADRIANO RIBEIRO
Depois de conquistar a medalha de ouro nas duplas, o paranaense Eliseu dos
Santos inicia hoje a participação na disputa individual da bocha. Durante a manhã,
nas oitavas de final, ele vai enfrentar o canadense Josh Vander Vies. Se vencer, o
atleta, que treina em Curitiba, disputa as quartas de final à tarde. Eliseu busca, em
Londres, melhorar o resultado de Pequim-2008, quando ficou com o bronze.
No tiro esportivo, Carlos Garletti, radicado em Ponta Grossa, se despediu dos
Jogos. Ele participou ontem da última de suas quatro competições: a prova da
carabina de 50 metros em três posições. Ele ficou em 15º lugar e não conseguiu
avançar às finais.
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Eliseu dos Santos brigará por vaga na final da bocha
Dupla brasileira, formada pelo paranaense e por Dirceu Pinto, venceu duas partidas neste domingo (2) e está classificada para a semifinal
02/09/2012 | 14:01 | ADRIANO RIBEIRO
Londres - O paranaense Eliseu dos Santos e o paulista Dirceu Pinto, da categoria BC4 da bocha, vão brigar por uma vaga na final da Paralimpíada de Londres. Neste domingo (2), a dupla brasileira venceu as duas partidas que disputou. Na manhã de segunda-feira (3), eles vão decidir o primeiro lugar do grupo A da competição. Durante a tarde será a hora de encarar a semifinal.
“Temos que continuar na mesma pegada. Sabemos do nosso potencial”, disse Santos. “Mesmo na fase de grupos, cada jogo funciona como uma final para a gente nesta busca por repetir o resultado de 2008”, emendou Dirceu Pinto, lembrando o ouro conquistado pela dupla nos Jogos de Pequim, há quatro anos.
Neste domingo, o primeiro jogo dos brasileiros foi contra os portugueses Domingos Vieira e Susana Barroso. Depois de quatro parciais, uma vitória tranquila por 10 a 0 na disputa em que o objetivo é aproximar as bolas recebidas pela equipe de uma bola alvo (bolim).
No segundo duelo do dia, Eliseu e Dirceu, abriram 7 a 0 de vantagem após as três primeiras parciais contra Wai Ian Lau e Yuk Wing Leung, de Hong Kong. Na última parte do jogo, eles permitiram quatro pontos dos asiáticos. Mesmo assim, ficaram com a vitória.
O primeiro lugar do grupo A será decidido contra os tchecos Radek Prochazka e Leos Lacina, que também venceram os dois jogos que disputaram. O duelo está marcado para as 5h (de Brasília) desta segunda.
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Jogos potencializam ‘passatempo’
Modalidade, tida em regra como não desportiva, ganha novo status pelo alto grau de inclusão. Paranaense, que defende a partir de hoje medalha de ouro obtida em Pequim, é um dos destaques
ADRIANO RIBEIRO DA GAZETA DO POVO
Londres - O paranaense Eliseu dos Santos se tornou pai há apenas quatro dias, mas ainda não conhece o pequeno Nicolas, nascido em Curitiba. O motivo é a Paralimpíada de Londres. Hoje, ao lado de Dirceu Pinto, ele estreia na disputa de duplas da bocha, classe BC4. Os dois iniciam a luta para repetir o ouro conquistado em Pequim, há quatro anos.
Santos, que também levou um bronze na competição individual na China, está em uma das modalidades mais procuradas no grupo dos esportes adaptados. O diferencial da bocha é o grau de inclusão, pois possibilita a prática esportiva a pessoas que possuem grandes deficiências, como aquelas que apresentam paralisa cerebral com disfunção motora que afeta todo o corpo.
Ela – tratada em regra como passatempo nos clubes do Brasil – ainda tem um significado histórico para o Brasil. Foi neste esporte, ainda disputado em grama na época, que o país conquistou as primeiras medalhas em Paralimpíadas: Luiz Carlos da Costa e Robson Almeida ficaram com a prata nos Jogos de Toronto, em 1976.
Ao lado do goalball, a modalidade é uma das únicas que não possui uma disputa equivalente no programa da Olimpíada. O objetivo no jogo é colocar o maior número de bolas perto de uma bola alvo (bolim), o que exige muita concentração e uma boa estratégia.
“O esporte tem história. Eu escolhi porque foi o esporte que vi que tinha condições de treinar e competir em alto nível. Como não tenho muita agilidade e força, a bocha caiu como uma luva para mim”, conta Santos.
O atleta, nascido em Telêmaco Borba, perdeu os movimentos dos membros inferiores em razão de uma distrofia muscular. Com 35 anos, ele pratica a atividade esportiva desde 2005. Atualmente, treina entre 5 e 6 horas todos os dias, com exceção de domingo, na Associação dos Deficientes Físicos do Paraná (ADFP), em Curitiba.
Na Paralimpíada de 2012, o objetivo é que, além do paranaense, outros atletas do país também subam ao pódio na bocha. “Fizemos a melhor preparação da história brasileira. Pela primeira vez, tivemos três etapas de treinamento, um intercâmbio internacional, uma aclimatação no país sede. Estamos reunidos desde o dia 13: são quase 20 dias só pensando direto em Londres”, relata o paranaense Darlan Ciesielski que, desde 2006, é um dos técnicos da seleção.
“Os atletas tem a nítida noção que qualquer adversário é perigoso, mas estou acreditando que a gente briga, com reais chances, por cinco medalhas. Nossa equipe [composta por sete competidores] é ótima”, complementa o treinador.
Ainda mais motivado depois do nascimento do primeiro filho, Santos espera que uma medalha seja o primeiro presente do herdeiro. “Por enquanto, só vi fotos dele. Mas já é um baita combustível para eu fazer o meu máximo aqui e conseguir um excelente resultado”, diz.
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Paranaense Eliseu dos Santos ganha o bronze na
bocha
Depois de ficar com o ouro na disputa em duplas, ele conseguiu o terceiro lugar no individual
08/09/2012 | 08:13 | ADRIANO RIBEIRO/GAZETA DO POVO
Londres - Eliseu dos Santos, paranaense de Telêmaco Borba, conquistou a segunda medalha dele na Paralimpíada de Londres. Após o ouro na duplas, na manhã deste sábado (8) ele ficou com o bronze na disputa individual da bocha(classe BC4). Na disputa pela medalha, ele bateu um atleta da casa, Stephen McGuire, por 5 a 3. O brasileiro, que treina em Curitiba, abriu vantagem de 5 a 0 na primeira metade da partida. Depois o britânico reagiu, mas não o suficiente para superar Eliseu.
“O que vimos hoje [sábado] é resultado de todo um trabalho que tenho feito com a equipe brasileira. Fiz meu melhor, queria o ouro, mas fico feliz com o bronze”, declarou o paranaense após a conquista.
Eliseu encerra a participação em Londres com o mesmo resultado de Pequim-2008. Na China, ele também ficou o bronze na disputa individual e com o ouro nas duplas.
Ouros
Companheiro de Eliseu nas duplas, o paulista Dirceu Pintoconquistou o bicampeonato paralímpico na disputa individual da bocha BC4. Ele, que eliminou o paranaense na semi, bateu o chinês Yuansen Zheng na decisão. A partida foi muito equilibrada e os dois jogadores empataram em 3 a 3 depois das quatro parciais previstas. Um tie-break teve de ser realizado e o brasileiro levou a melhor.
Na categoria BC2 da bocha, o Brasil conseguiu outra medalha de ouro. O cearense Maciel Santos, que tem paralisia cerebral, venceu na final o chinês Zhiqiang Yan por 8 a 0. O bronze na categoria ficou com a sul-coreana So-Yeong Jeong.
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Paranaense dedica ouro na bocha ao filho recém-nascido
Ao lado de Dirceu Pinto, Eliseu dos Santos, cujo filho, Nícolas, nasceu no dia da abertura da competição, conquistou o bicampeonato nos Jogos Paralímpicos
04/09/2012 | 13:35 | Adriano Ribeiro
Londres - O paranaense de Telêmaco Borba Eliseu dos Santos, da bocha, categoria BC4, conquistou o bicampeonato paralímpico, na tarde desta terça-feira (4), em Londres. Ao lado do paulista Dirceu Pinto, ele conquistou a medalha de ouro após vitória contra os tchecos Leos Lacina e Radek Prochazka. Esta é a primeira conquista dourada de um atleta do estado nesta edição dos Jogos. Ao todo, o Brasil contabiliza oito ouros até aqui. A final foi mais equilibrada que o esperado. Na fase de grupos, os brasileiros haviam vencido os europeus por 9 a 0. Desta vez, o resultado foi apertado: 5 a 3. “Viemos para cá pensando em um jogo de cada vez. O peso de ser favorito não atrapalhou e conseguimos mais um título. Essa medalha é para o meu filho que nasceu há menos de uma semana, no dia da abertura da Palímpiada”, dedicou Santos, que treina em Curitiba e ainda não conhece o filho Nicolas e só o viu pela internet. “São quatro anos de trabalho que dão resultado hoje”, reforçou Dirceu Pinto. Eliseu, que não tem os movimentos dos membros inferiores, começou a praticar a bocha paralímpica em 2005 e hoje está entre os melhores do mundo na categoria BC4. Ele e Dirceu ainda não encerraram as atividades em Londres. Os dois têm pela frente a competição individual. Em Pequim-2008, nesta disputa, Dirceu ganhou o ouro e Eliseu ficou com o bronze. Fora do pódio Outros dois paranaenses que competiram ontem na Paralimpíada não conseguiram chegar ao pódio. A londrinense Márcia Menezes ficou em sexto lugar na disputa do halterofilismo, na categoria até 82,5 kg. Ela conseguiu levantar 110 kg, abaixo de sua melhor marca pessoal, de 115 kg. Quem subiu ao lugar mais alto do pódio, com a marca de 145 kg, foi a nigeriana Loveline Obiji. Já no tiro esportivo, Carlos Garletti, radicado em Ponta Grossa, não chegou à final na prova de carabina (50 m), em posição deitada. Ele acabou em 19.º lugar, com 583 pontos. O ouro foi conquistado por Sultan Alaryani, dos Emirados Árabes Unidos.
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Paranaense perde para mesmo algoz e vê reprise de
Pequim 08/09/2012 | 00:05 | ADRIANO RIBEIRO
O paranaense Eliseu dos Santos não conseguiu a vaga na final da disputa
individual da bocha (classe BC4). Nesta sexta-feira (7), o algoz do atleta foi outro
brasileiro: Dirceu Pinto, com quem Eliseu conquistou o ouro nas duplas.
Em Pequim-2008, o competidor que treina em Curitiba também foi derrotado pelo
colega na semi. Na ocasião, o paulista seguiu e levou o ouro, enquanto Dirceu
ficou com o bronze. “Não saíram as jogadas que eu precisava. Agora tenho que
focar no bronze”, disse ele, que enfrentará hoje o britânico Stephen McGuire.
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Paranaense realiza em Londres sonho adiado Cortado nos Jogos de 2004 e 2008, zagueiro Emerson Carvalho do futebol de 5 chega à primeira Paralímpiada
01/09/2012 | 00:05 | ADRIANO RIBEIRO/GAZETA DO POVO
Se na Olimpíada a seleção coleciona fracassos, a equipe de futebol de 5 do Brasil – voltada para cegos – é especialista em garimpar ouros nos Jogos Paralímpicos. Nas duas vezes em que a mo-dalidade foi disputada (Atenas-2004 e Pequim-2008), dois títulos.
Em Londres, a busca pelo tri – que começou, ontem, com um empate por 0 a 0 com a França – se confunde com o sonho antigo de um paranaense. Aos 28 anos, o zagueiro Emerson Carvalho participa pela primeira vez de uma Paralimpíada.
Em 2004, ele foi pré-convocado, mas ficou fora da lista final. Quatro anos depois, uma lesão o tirou da competição na China. “A hora chegou. Na cerimônia de abertura, alguns meninos que já tinham participado [dos Jogos] optaram por descansar, mas eu quis ir lá sentir o clima”, conta.
Emerson perdeu a visão ao 6 anos, em um acidente automobilístico. O veículo colidiu com um cavalo e o garoto foi arremessado contra o painel do carro. “Gosto muito de futebol. Um tempo depois do acidente, voltei a jogar. Colocava a bola em um saco plástico para ela fazer barulho e brincava com meus irmãos e primos”, lembra o atleta que, apesar de contar com patrocínio, trabalha como auxiliar de radiologia.
Sem poder enxergar, a concentração com a audição é fundamental no esporte. Concentração que ele também tem para falar do time de coração, o Paraná. “Sempre acompanho. Infelizmente, depois que eu embarquei [para Londres, há cerca de três semanas] parece que a má fase chegou ao time. Na terça, fui dormir tarde porque fiquei ouvindo Guarani e Paraná [0x0]”, conta, esperando que os resultados com a seleção lhe tragam noites de sono mais tranquilas.