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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO 11ª VSJE DO CONSUMIDOR –
FEDERAÇÃO – MATUTINO – DA COMARCA DE SALVADOR / BAHIA.
Autos nº 0080409-23.2015.8.05.0001
QUALICORP ADMINISTRADORA DE BENEFÍCIOS S/A, pessoa jurídica de
direito privado devidamente inscrita no CNPJ/MF sob o nº 07.658.098/0001-18, com sede na
Alameda Santos, nº 415, 10º, 11º, 12º (parte) e 13º andares, Cerqueira César, Capital do
Estado de São Paulo, CEP 01419-913, por sua advogada que esta subscreve, nos autos da
ação em epígrafe, movida por FRANCU DIAS, vem, perante Vossa Excelência, com
fundamento no artigo 30 e seguintes, da Lei Federal n° 9.099/95, apresentar
CONTESTAÇÃO
consubstanciada nas razões de fato e direito a seguir aduzidas.
I – SÍNTESE DA LIDE
Por meio da presente ação, a parte Autora se insurge contra o reajuste
anual aplicado a mensalidade de sua Apólice de Seguro Saúde.
Afirma que mantém contrato com as demandadas, estando em dias com o
pagamento de suas mensalidades e que, segundo o Autor, vem sendo surpreendido com a
aplicação de reajustes desde 2011, que considera ser abusivo.
Alega o Autor que o reajuste se deu em valor superior ao admitido pela
ANS, tornando o adimplemento de sua mensalidade onerosa.
Aduz que os referidos reajustes são ilegais e abusivos.
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Isto posto, requer seja deferida liminar, para que sejam emitidos novos
boletos de cobrança referentes às mensalidades vincendas a partir do mês com vencimento
em setembro de 2015, aplicando apenas os reajustes indicados pela ANS, no valor de R$
1.326,72 (hum mil trezentos e vinte seis reais e setenta e dois centavos).
No mérito, requer a confirmação da medida liminar, declarando a
ilegalidade da cobrança, o ressarcimento de todos os valores cobrados a maior, bem como
indenização pelo suposto dano moral.
Em que pesem as alegações autorais, conforme será demonstrado adiante,
tais não merecem guarida, devendo, pois, ser julgada improcedente a presente demanda.
III – PRÉVIO ESCLARECIMENTO SOBRE A RELAÇÃO JURÍDICA EXISTENTE ENTRE AS PARTES
Necessário, desde já, esclarecer o vínculo jurídico existente entre as partes,
a fim de tornar possível a atribuição das responsabilidades de cada uma delas e,
consequentemente, poder-se decidir a causa de forma escorreita.
O Autor subscreveu proposta de adesão ao Contrato de Plano de Saúde,
Coletivo por Adesão, firmado pela QUALICORP ADMINISTRADORA DE BENEFICIOS S/A
(Administradora de Benefícios) com a SULAMÉRICA (Operadora de Saúde), destinado aos
membros vinculados a Entidade de Classe.
Referida avença está amoldada à Resolução Normativa nº 195/2009 da
Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Além disso, as disposições da Lei n° 9.656/98
são inaplicáveis ao caso concreto, porquanto regra apenas os planos e seguro-saúde
INDIVIDUAIS. Para os contratos de plano e seguro-saúde coletivos por adesão, como o
presente, vigoram as Resoluções Normativas nº 195 e 196 da Agência Nacional de Saúde
Suplementar – a ANS.
Nesse mesmo ínterim, o CNJ firmou entendimento conforme demonstra o
Enunciado 22, aprovado pela Plenária da I Jornada de Direito da Saúde, disposto a seguir:
ENUNCIADO Nº 22
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Nos planos coletivos deve ser respeitada a aplicação dos índices e/ou fórmulas
de reajuste pactuados, não incidindo, nestes casos, o índice da Agência Nacional
de Saúde Suplementar editados para os planos individuas/familiares.
(ENUNCIADOS APROVADOS PELA PLENÁRIA DA I JORNADA DE DIREITO DA
SAÚDE DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA EM 15 DE MAIO DE 2014 – SÃO
PAULO-SP)
Desse modo, resta evidenciada a total improcedência da pretensão autoral,
já que não há respaldo doutrinário e jurisprudencial que compactue com as alegações
autorais, que conforme será informado, aderiu ao PLANO DE SAÚDE COLETIVO POR ADESÃO
e não a plano individual.
IV – DA VERDADE DOS FATOS
Inicialmente, necessário se faz informar o reajuste aplicado ao plano de
saúde do Autor.
Nos meses de julho de 2011 a julho de 2015, foi aplicado reajuste anual no
percentual de 70,92%, 19,80%, 14,13%, 17,36% e 16,30% respectivamente.
Ressalte-se que todos os reajustes foram aplicados mediante comunicado
prévio, e em conformidade com as condições legais e contratuais.
Mister evidenciar que tais explicações se corroboram na ficha financeira
que segue em anexo.
V – A LEGALIDADE DO REAJUSTE ANUAL: PREVISÃO LEGAL E CONTRATUAL E CAUSA ECONÔMICA
Ainda que seja superada a preliminar que aqui se suscitou, no mérito é sem razão a presente
demanda.
V.1 - A natureza do plano em debate: o plano coletivo por adesão e seus reajustes
Importa, desde já, ressaltar que não se pode analisar o contrato da parte Autora
como sendo avença individual, eis que, vinculada a entidade de classe, é beneficiária de Apólice de
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Seguro Saúde Coletiva, estando, portanto, submetida às regras aplicadas à coletividade vinculada à
avença.
Importa, também, reiterar que a Resolução nº 195 da ANS, de 14 de julho de
2009, a qual, juntamente com a resolução nº 196, regula os contratos de planos e seguros-saúde
coletivos por adesão, distingue de forma clara as três modalidades de planos privados de assistência
à saúde, como já se registrou nesta defesa e como, de resto, a própria Lei n. 9.656/98 define, ao
dispor que o Plano Privado de Assistência à Saúde pode ser (a) individual ou familiar, (b) coletivo
empresarial, ou (c) coletivo por adesão (art. 16, VII).
As definições das três modalidades estão na Resolução nº 195, da ANS:
PLANO DEFINIÇÃO
Individual ou Familiar “é aquele que oferece cobertura da atenção prestada para a
livre adesão de beneficiários, pessoas naturais, com ou sem
grupo familiar” (art. 3º)
Coletivo Empresarial “é aquele que oferece cobertura da atenção prestada à
população delimitada e vinculada à pessoa jurídica por relação
empregatícia ou estatutária” (art. 5º)
Coletivo por Adesão “é aquele que oferece cobertura da atenção prestada à
população que mantenha vínculo com as seguintes pessoas
jurídicas de caráter profissional, classista ou setorial” (art. 9º)
O sistema de assistência privada à saúde se desenvolve em torno dessas três
modalidades de contratos ou planos, estando certo que o primeiro é de livre adesão a qualquer
consumidor, o segundo se reserva reservado aos empregados, sócios ou administradores de
determinada pessoa jurídica, e os últimos – coletivos por adesão – ao grupo de associados de
cooperativas, entidades profissionais representativas de classe ou sindicatos.
Diferenciam-se em muitos pontos os planos individuais dos planos coletivos, entre
os quais figuram os coletivos por adesão. Confira-se:
PLANOS INDIVIDUAIS PLANOS COLETIVOS
(empresarial ou por adesão)
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(4)
REAJUSTES
- Reajuste anual pela variação de custos médico-hospitalares (“vcmh”), em percentual determinado pela ANS; e reajuste por mudança de faixa etária.
- Reajuste anual para reequilíbrio econômico-financeiro do contrato – art. 19, § 1º, Res. 195; e faixa etária. Não se sujeitam a aprovação da ANS.
CONCLUSÕES
- mais caro para o consumidor em razão das exigências legais de cobertura e do grupo segurado indeterminado e da inexistência de um estipulante. - não tão vantajoso para o consumidor - possibilidade de resolução pela operadora. - propenso ao desequilíbrio, haja vista que reajustes são limitados pela ANS, invariavelmente. - relação direta entre Operadora-consumidor.
- mais barato para o beneficiário - reajuste periódico em razão da sinistralidade específica garante equilíbrio do contrato. - relação entre Operadora-Estipulante e Estipulante-Beneficiário. - Aparece a figura do GESTOR, que gere o contrato em favor do Estipulante, atuando como seu intermediário.
Como antes mencionado, a parte Autora, vinculada à entidade de classe,
contratou plano e seguro-saúde coletivo por adesão, estando, portanto, submetida às regras
atinentes à espécie.
Pagou valor inferior àquele projetado para eventual plano individual e teve em
seu benefício à assistência destinada ao grupo.
Assumiu, também, que aderia a um contrato coletivo, cujos reajustes anuais,
previstos – como se verá – de forma expressa no art. 19 da Resolução nº 195, da ANS, nos
instrumentos contratuais e nos atos de comunicação da Agência Reguladora, devem ser feitos sem
vinculação aos critérios de reajuste dos planos individuais, e em consideração à variação de custos
e de sinistralidade, sempre com vistas à necessidade de conservar o contrato coletivo em equilíbrio
econômico-atuarial, e também de preservar a exequibilidade do atendimento aos usuários.
V.2 - Os reajustes anuais nos planos coletivos por adesão têm base contratual e regulamentar
expressa
Esclarecido o ponto, esclareça-se ainda que é a própria Agência Nacional de Saúde
que esclarece, na Resolução nº 195, o cabimento e a necessidade de reajustes em periodicidade de
doze meses, considerando como fundamento para tanto “qualquer variação positiva na
contraprestação pecuniária, inclusive aquela decorrente de revisão ou reequilíbrio econômico-
atuarial do contrato” (art. 19 e § 1º).
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Em observância à norma geral, o contrato em questão especifica:
E a aplicação do reajuste anual é imprescindível à preservação do equilíbrio
econômico-financeiro do contrato coletivo, assim como à garantia da continuidade do atendimento
do plano, mantendo-a a longo prazo, como a própria Acionada trata de informar ao público
consumidor, em seu sítio eletrônico1:
V.3 - O reajuste anual não se confunde com os reajustes por índice de sinistralidade e por mudança
de faixa etária.
Além disso, o reajuste anual em análise não se confunde com as demais espécies
de reajuste existentes, quais sejam o reajuste por índice de sinistralidade, e o reajuste por mudança
de faixa etária.
Enquanto o reajuste anual caracteriza-se, como já dito, como “qualquer variação
positiva na contraprestação pecuniária, inclusive aquela decorrente de revisão ou reequilíbrio
econômico-atuarial do contrato” (RN nº 195, art. 19 e § 1º), justificando-se pela necessidade de
manutenção do equilíbrio econômico-financeiro do contrato coletivo, os outros reajustes não se
enquadram na definição estabelecida.
O reajuste por índice de sinistralidade é apurado levando-se em consideração a
relação entre as despesas e as receitas do benefício. As despesas são apuradas através do cálculo da
1http://www.qualicorp.com.br/qualicorp/ecp/comunidade.do?app=portalqualicorp&view=interna&idConteudo=25269#
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soma do valor pago pelo atendimento médico-hospitalar, prestado aos beneficiários e coberto pela
apólice coletiva, independentemente de ter sido realizado pela rede de prestadores referenciados
ou, por prestadores não referenciados (livremente escolhidos pelo beneficiário, pagos através de
reembolso). O índice de sinistralidade tem relação direta, portanto, com a utilização do seguro-
saúde.
Nesse contexto, a própria Resolução Normativa nº 195 da ANS, em seu Art. 19,
estabelece que “nenhum contrato poderá receber reajuste em periodicidade inferior a doze meses,
ressalvado o disposto no caput do artigo 22 desta RN”, excetuando-se desta regra, por exemplo, o
reajuste por mudança de faixa etária.
Importa esclarecer ainda que o valor mensal do benefício é estabelecido levando
em consideração a faixa etária tanto do titular, quanto dos seus dependentes. Sendo assim, sempre
que houver a mudança de faixa etária de qualquer dos beneficiários do plano de saúde, o valor do
benefício será reajustado automaticamente, conforme percentuais previamente comunicados ao
beneficiário.
A ANS explica a aplicação do reajuste por mudança de faixa etária na sua home
Page nos seguintes termos:
Aumento de preço por mudança de faixa etária
Isso acontece porque, em geral, por questões naturais, quanto mais idosa a pessoa, mais necessários e mais frequentes se tornam os cuidados com a saúde. As faixas etárias variam conforme a data de contratação do plano e os percentuais de variação precisam estar expressos no contrato.
As faixas etárias para correção variam conforme a data de contratação do plano, sendo que os percentuais de variação têm que estar expressos no contrato.2
Pelo exposto, depreende-se claramente que o reajuste anual aplicado à apólice
de seguro coletiva da parte Autora, em nada se confunde com as demais espécies de reajustes
existentes, tendo, portanto, justificativa e aplicabilidade próprias.
V.4 - A disciplina dos reajustes, no caso, não é a disciplina legal dos planos individuais. A ANS não
tem competência para fixar reajuste em planos coletivos por adesão. Não se trata de falso plano
coletivo.
2 http://www.ans.gov.br/planos-de-saude-e-operadoras/espaco-do-consumidor/reajustes-de-precos-de-planos-de-saude
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De outro lado, ao contrário do que sucede com os planos de saúde individuais, os
reajustes anuais dos planos coletivos por adesão não são fixados pela ANS nem se sujeitam aos
critérios postos por aquela Agência.
Nos planos coletivos por adesão, como o presente, a partir dos critérios
normativos pertinentes à variação de custos, à variação financeira e à variação atuarial de
sinistralidade, os reajustes anuais são fixados pela Operadora e a entidade de classe e apenas
monitorados, de forma contínua, pela Agência Nacional de Saúde Suplementar, conforme corrobora
a nota de esclarecimentos acerca dos planos coletivos, publicada no site da ANS:
... o reajuste dos planos coletivos não é definido pela Agência, uma vez que o índice é determinado a partir da negociação entre a pessoa jurídica contratante e a operadora de plano de saúde.
2. O reajuste anual de planos coletivos é aplicado conforme as normas contratuais definidas entre a operadora de planos de saúde e a pessoa jurídica contratante (empresa, sindicato, associação) e deve ser comunicado à ANS em no máximo até 30 dias após o aumento do preço. Não é permitida a aplicação de reajustes diferenciados dentro de um mesmo contrato.3
A mesma nota trata também de esclarecer eventuais questionamentos acerca das
alegações de que as relações contratuais ora em análise seriam apenas falsos coletivos, e de que não
mais existe a figura dos planos de saúde individuais:
6. São considerados “falsos” coletivos os contratos coletivos por adesão compostos por indivíduos sem nenhum vínculo representativo com a entidade contratante do plano de saúde. Por não terem representatividade, esses grupos ficavam mais vulneráveis. Para dar fim a essa situação, a ANS publicou a Resolução Normativa nº 195/2009, que regulamentou a necessidade de vínculo associativo, de classe ou empregatício para adesão a um contrato coletivo. Essa resolução trouxe uma série de benefícios para os consumidores, como a definição do conceito de quem pode ser contratante; a proibição de mais de um reajuste por ano (com exceção do reajuste por faixa etária, que pode coincidir com o anual); e novas regras para carência e cobertura parcial temporária.
7. O plano coletivo por adesão em que a pessoa jurídica contratante é uma associação, um órgão de classe ou sindicato não é considerado um falso coletivo. Da mesma forma, não há qualquer ilegalidade no fato de pequenas empresas contratarem planos coletivos empresariais.
8. Na hora de contratar um plano de saúde, seja ele individual, coletivo por adesão ou coletivo empresarial, é fundamental que o contratante tenha conhecimento sobre o produto contratado. No caso de um plano coletivo por adesão, ele deve estar atento ao estatuto da associação ou sindicato ou entidade de classe do qual faz parte. Deve procurar saber quais são as regras do contrato de plano de saúde que foi assinado e o que vai afetá-lo. Se, por exemplo, a associação estiver negociando por intermédio de uma administradora de benefícios, esse associado deve cobrar da sua entidade explicações sobre cada etapa de negociação.
3 http://www.ans.gov.br/a-ans/sala-de-noticias-ans/consumidor/2151-nota-de-esclarecimento-sobre-planos-coletivos
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9. É importante ressaltar que caso o cidadão faça a opção por um plano coletivo por adesão, ele deverá, necessariamente, estar vinculado a uma associação ou sindicado ou entidade de classe e conheça seu funcionamento e estatuto. No caso do plano coletivo empresarial, a recomendação é que o empresário pesquise, busque informações sobre o atendimento prestado pelas operadoras que o interessam para outras empresas. A segurança será maior quanto mais informação o contratante tiver, seja ele um indivíduo, uma entidade de classe ou uma empresa. O acesso à informação e a redução da assimetria de informação são prioridades para a ANS.
10. Todo e qualquer incentivo à prática de conduta inadequada, como, por exemplo, ao ingresso em um plano coletivo por adesão sem que o contratante seja membro da associação, sindicato ou entidade de classe, é passível de punição à operadora. Nesse caso, o vínculo será considerado individual e a operadora responsável será multada de acordo com o disposto no Artigo 20-D da Resolução Normativa nº 124/2006:
Ingresso de beneficiário em plano coletivo Art. 20–D Admitir o ingresso de beneficiário em contrato coletivo que não detenha o vínculo exigido pela legislação. (Incluído pela RN nº 195, de 2009) Sanção - multa de R$ 50.000,00.
11. Com relação às afirmações sobre o desinteresse por parte das operadoras pela comercialização de planos individuais, é importante ressaltar que há quase 10 milhões de pessoas no Brasil com planos individuais e os dados da ANS indicam que cada vez há mais beneficiários nesse tipo de plano - o número de planos individuais registrou crescimento de 9,3% nos últimos cinco anos, percentual acima do aumento da população brasileira no mesmo período (que foi de 5,4%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística/IBGE). Atenta ao assunto, a ANS monitora o tema por meio de estudos e análises de cenário. Estes estudos demonstram que não há como afirmar que planos individuais desaparecerão do mercado.
Entre os planos coletivos empresariais e coletivos por adesão há 5.088.010 beneficiários em planos coletivos com até 30 beneficiários.
A principal recomendação da ANS é que a contratação de um plano de saúde seja pensada de acordo com as necessidades do consumidor e de seus familiares e que não seja uma decisão por impulso. A Agência, por meio de seus canais de relacionamento, disponibiliza informações sobre as operadoras que estão em atividade e a situação em que se encontram perante o órgão regulador. Há ainda uma ferramenta chamada Guia de Produtos, também disponível no portal da Agência, que possibilita a consulta e comparação dos planos disponíveis no mercado.4
V.5 - Estrito cumprimento do dever de informar
Além de estar previsto contratualmente, como se expôs, o cabimento de reajuste
nos planos de saúde coletivos por adesão é objeto de informação ao consumidor, tanto por parte da
Agência Nacional de Saúde, quanto por parte da operadora e da administradora de benefícios. É
4 http://www.ans.gov.br/a-ans/sala-de-noticias-ans/consumidor/2151-nota-de-esclarecimento-sobre-planos-coletivos
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como expressa o Guia de Leitura Contratual, fornecido aos beneficiários no momento da
contratação:
É clara, dessa forma, a lisura da relação contratual estabelecida entre as partes, e
isso só já ratifica a legitimidade da regra de que os reajustes anuais são fixados pela Operadora e a
entidade de classe, com base na variação financeira e na sinistralidade do período, sendo
monitorados, de forma contínua, pela ANS.
Nesse sentido, também o Manual de Orientação para Contratação de Planos de
Saúde – MPS – disponibilizado aos beneficiários por exigência da RN 195/2009 da ANS, explicita a
diferença das regras de aplicação do reajuste anual aos planos individuais e aos coletivos:
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Sobre mais de tudo, o Guia Prático, elaborado pela própria Agência Nacional de
Saúde Suplementar, que traz informações para quem tem ou deseja ter um plano de saúde, também
traz dados acerca da aplicação de reajustes nas mensalidades:
Depreende-se, assim, que os planos coletivos por adesão não estão submetidos
aos reajustes fixados pela ANS para os planos individuais. Desse modo, não se configura a alegada
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ilegalidade nem a suposta abusividade do reajuste aplicado, submetendo-se os planos coletivos por
adesão a regime contratual específico que, além de autorizar tal reajuste, para que se preserve o
equilíbrio e se garanta perpetuidade à assistência dos usuários, também impõe tal providência.
F - Simetria de tratamento entre os usuários e manutenção da assistência em
equilíbrio no reajuste anual
De resto, deve-se notar que o reajuste anual é aplicado quando do aniversário do
contrato, e este, como visto anteriormente, é firmado entre a operadora de saúde e a entidade de
classe, sob a administração da administradora de benefícios. Ou seja, o aniversário do contrato não
se confunde com a data de adesão.
Todos os beneficiários vinculados à mesma entidade, ou seja, ao mesmo contrato,
sofrerão reajuste anual na mesma época, assim ocorrendo não somente em consideração à natureza
coletiva do plano por adesão mas, também, em observância à regra do art. 20 da Resolução nº 195,
da ANS, que autoriza a aplicação de percentuais de reajustes com base em variação de custos e
variação atuarial, desde que não haja “aplicação de percentuais de reajuste diferenciados dentro de
um mesmo plano de um determinado contrato.”
Visando exatamente o reequilíbrio do contrato, não apenas em relação à
contratante, mas também – e sobretudo – no diz respeito à coletividade da carteira, o reajuste
questionado na presente tem fundamento e causa legítimas.
Nesse sentido, é imperioso destacar ainda que, aceitar a hipótese de redução do
percentual de reajuste anual como pretende a parte Autora, reduzindo-o assim para alguns e não
para todos os vinculados à mesma entidade, gerará a deslealdade de aplicação de reajustes
diferenciados para um grupo, o que fomentará o desequilíbrio contratual entre os beneficiários.
Alias, ao aderir à Apólice de Seguro Saúde Coletiva, a parte Autora tinha plena
ciência de que os reajustes ocorreriam, estando devidamente previstos – como também referido –
no contrato que firmou.
Verifica-se ainda, no website da ANS, de forma clara e destacada, a seguinte
observação:
Atenção Tenha em mente que, ao aderir a um contrato de plano de saúde coletivo, é como se você dissesse: “Estou de acordo com as regras desse contrato e essa empresa/sindicato/associação tem legitimidade para representar
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meus interesses, definir o que é melhor para mim e está autorizada a falar em meu nome sobre esse assunto.”
Assim, o que for negociado entre a empresa contratante do plano e a operadora do plano valerá como regra a ser seguida por você.5
Não cabe, então, que, ciente desde sempre da natureza de sua avença, agora a
parte autora queira desfigurar o contrato coletivo e, em prejuízo ao equilíbrio de prestações e com
riscos à própria continuidade da prestação à massa dos beneficiários, pretenda ceifar os reajustes,
que além de pactuados têm fundamento concreto, como adiante virá demonstrado.
V.7 - A natureza de adesão do contrato não obsta a aplicação do reajuste. Equilíbrio e causa
econômica do reajuste. A jurisprudência firmada sobre o assunto
A circunstância de se tratar de contrato por adesão não desfigura a legitimidade
dos reajustes, tendo os reajustes causa econômica também objetiva, quando sabido que se fixam em
consideração à variação financeira dos custos e aos índices de sinistralidade da carteira.
Em demanda semelhante à discutida neste processo, assim manifestou-se a
Segunda Turma Recursal dos Juizados Especiais do Estado da Bahia, processo n° 0063845-
17.2012.8.05.0001. Note-se a ementa do julgamento:
PROCESSO ELETRÔNICO Nº 0063845-71. 2012.8.05.0001
ÓRGÃO: 2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS
JUIZADO ESPECIAL. DIREITO DO CONSUMIDOR. PLANO DE SAÚDE COLETIVO. AUMENTO DO PRÊMIO COM BASE NAS RESOLUÇOES 195 E 196 DA ANS. LEGALIDADE. ADESÃO RECENTE A UMA APÓLICE COLETIVA VIGENTE DESDE 2004. VINCULAÇÃO DO ADERENTE ÁS CONDIÇÕES CONTRATUAIS QUE REGEM A COLETIVIDADE E INTERESSES PROTEGIDOS. AUMENTO NO PERCENTUAL DE 19.80% INCIDENTE NO ANIVERSÁRIO DO PLANO QUE, POR SI SÓ, NÃO SE MOSTRA ABUSIVO. 1) Constatou-se, com o exame da apólice, firmada em 20 de julho de 2004 (evento 17), que o aumento aplicado se deu no aniversário do contrato, e este, como visto anteriormente, é firmado entre a operadora de saúde e a entidade de classe, sob a administração da administradora de benefícios, vindo bem posteriormente a aderir a ele o autor, ou seja aderiu a um contrato já que vigorava desde 2004, assim, não pode pretender de forma aleatória a revisão de tantas coberturas na seara de individualização deste processo. 2) Não merece amparo judicial a revisão contratual com base em índice atuarial de custos anuais de uma categoria à qual não pertence, a dos planos individuais e familiares contratados após 1999.3) A vedação do Estatuto do Idoso (Lei 10.741, de 1º/10/2003) não envolve, portanto, os demais reajustes permitidos em lei, os quais ficam garantidos às empresas prestadoras de planos de saúde, sempre ressalvada a abusividade.
5http://www.ans.gov.br/index.php/a-ans/sala-de-noticias-ans/a-ans/1472-dia-mundial-do-trabalho
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IMPROVIMENTO DO RECURSO DO AUTOR. RECURSOS DAS RÉS CONHECIDOS E PROVIDOS.
(...)A PRETENSÃO DO AUTOR NÃO ENCONTRA AMPARO LEGAL TENDO EM VISTA QUE O AUMENTO DE 19.80% FOI ACOMPANHADO PELA ANS E, ALÉM DO MAIS NÃO PODE PRETENDER UM REAJUSTE ALEATÓRIO EM PERCENTUAIS QUE NÃO FORAM ESTABELECIDOS PARA OS PLANOS COLETIVOS CELEBRADOS COM ASSOCIAÇÕES E SIMILARES. (...) COMO SE FIRMOU ALHURES, OS REAJUSTES ANUAIS, AO CONTRÁRIO DO QUEOCORRE COM OS PLANOS DE SAÚDE INDIVIDUAL, NÃO SÃO DETERMINADOS PELA ANS, APENASACOMPANHADOS. ASSIM, NOS PLANOS COLETIVOS POR ADESÃO, COMO O PRESENTE, OS REAJUSTES ANUAIS SÃO FIXADOS PELA OPERADORA E A ENTIDADE DE CLASSE E APENAS MONITORADOS, DEFORMA CONTÍNUA, PELA AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR.
Em igual sentido a própria ANS, agência reguladora do setor de saúde
suplementar, que em parecer como amicus curiae em feito judicial, através do Despacho n.
128/2011/GGEFP/DIPRO/ANS, de 11-4-2011, reconhecendo a legitimidade e a fundamentação concreta da disciplina
específica dos reajustes anuais dos planos coletivos de adesão:
2. Com relação ao reajuste anual por variação de custos, tratando-se não só de plano coletivo empresarial, mas de todos os planos de contratação coletiva, nos termos da atual regulamentação6 não se exige a autorização da ANS para aplicar-lhes os índices de reajuste da contraprestação pecuniária.
3. Os parâmetros para o reajuste, nos planos coletivos, são estipulados nas cláusulas contratuais, decorrentes de livre negociação entre as partes celebrantes. O critério de cálculo, bem como o percentual apurado pela operadora, podem ser negociados entes esta e a pessoa jurídica contratante.
...
6. A ANS realiza seu mister regulatório, nos planos coletivos, através do monitoramento da evolução de seus preços (inciso XXI, do art. 4º da Lei 9961/2000). Neste contexto, as operadoras devem comunicar-lhe os reajustes aplicados, tanto os positivos e os negativos, quanto a ausência de reajuste, de acordo com as regras dispostas nos normativos.
E também assim, como já exposto mais acima, o Egrégio Tribunal de Justiça da
Bahia, que em valioso e recentíssimo precedente, relatado pelo Desembargador José Augusto Bispo
e acolhido, unanimemente, por seus pares, no julgamento do Agravo de Instrumento de nº 0319692-
77.2012.8.05.0000, que tem como processo principal a Ação Civil Pública de nº 0388219-
78.2012.8.05.0001, proposta pelo Ministério Público do Estado da Bahia contra os reajustes
específicos dos planos de saúde coletivos por adesão, decidiu:
Classe: Agravo de Instrumento nº 0319692-77.2012.8.05.0000
6 RDC Nº 29/00; RDC Nº 66/01; RN nº 08-02; RN nº 36/03; RN nº 74/04; RN nº 99/05;
RN nº 118/05; RN nº 128/06; RN nº 156/07; RN nº 171/08; RN nº 172/08 e IN-DIPRO nº 13/06
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A discussão cinge-se aos reajustes anuais, decorrentes da variação dos custos/sinistralidade. Devem ser mantidos os reajustes pretendidos pela agravante, a fim de manter o equilíbrio do contrato.
Não se mostra abusivo o reajuste anual dos planos de saúde coletivo em percentual superior ao fixado pela ANS para os planos de saúde individual ou familiar, pois a agência reguladora não define teto para os planos coletivos.
Tendo em vista as ponderações acima deduzidas, constata-se, assim, que o
reajuste anual aplicado mostra-se perfeitamente legítimo, de modo que o pedido de seu
cancelamento, bem como a declaração de nulidade das cláusulas que o prevê, devem ser rechaçados
por esse Juízo.
VI - ALÉM DE LEGÍTIMO, O REAJUSTE É ADEQUADO
Resta, por fim, examinar a alegação da parte autora em torno de uma suposta – e
não provada – abusividade do reajuste.
Além de abstratamente fundado nas normas legais e contratuais invocadas,
porém, o reajuste – decorrente de exaustiva negociação entre a operadora e a administradora de
benefícios, na defesa da massa dos usuários e do equilíbrio do contrato, condição essencial para a
manutenção da assistência à carteira – tem fundamento concreto e nem de longe se pode qualificar
como abusivo.
Em função do desequilíbrio apurado pela operadora no período, de maneira a
impedir que a carteira fosse deteriorada, a dano da execução do próprio contrato, a operadora
encaminhou à Acionada, como dito, indicação de reajuste anual em percentual superior ao discutido
nesta demanda. Cumprindo a função de negociação de reajustes, como lhe impõe o art. 2º, IV, “a”,
da Resolução nº 196, da ANS, a Ré não concordou com o índice e, em defesa do consumidor,
negociou com a operadora novo índice.
Esse índice é inferior ao mínimo previsto no estudo atuarial que deu origem ao
reajuste, o que evidencia tanto a boa-fé da administradora e da operadora na negociação, quanto a
proporcionalidade, sob o ângulo da necessidade e da adequação, do reajuste ao final aplicado, de
forma transparente, no contrato coletivo por adesão posto em debate.
Sem que se possa, assim, falar em onerosidade excessiva ou em abuso na fixação
de um reajuste que, além de legal e previsto em contrato, se demonstra, segundo o anexo estudo
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atuarial, como estritamente necessário à manutenção do equilíbrio contratual e à própria
preservação, sem danos ao consumidor, dos serviços da operadora, não há como prevalecer a
pretensão deduzida na inicial.
VII - DO AFASTAMENTO DA DEVOLUÇÃO EM DOBRO DOS VALORES PAGOS SUPOSTAMENTE A
MAIOR
Por considerar abusivo o reajuste aplicado em sua mensalidade referente aos
meses de julho/2011 até julho/2015, a parte autora postula pela condenação da empresa Ré a
devolver, em dobro, o valor que porventura possa ter sido pago supostamente a maior.
A pretensão de repetição de indébito não pode prosperar, eis que, consoante
visto acima, a aplicação dos índices de reajuste anual foi legítima.
É notório que para estar configurado o dever de devolver em dobro quantia
indevidamente cobrada deve estar presente, notadamente, a má-fé do suposto credor. Não foi o que
ocorreu in casu.
O entendimento jurisprudencial ampara a postura da Ré, vejamos:
...somente é cabível a imposição da duplicação da verba restituída prevista nos arts. 42 do Código de Defesa do Consumidor e 1.531 do Código Civil quando demonstrada inequivocamente a deslealdade ou a abusividade da cobrança (TJSC – 6ª Câmara Cível – Apelação Cível nº 96.008090-6, Relator Desembargador Francisco de Oliveira Filho. 19/06/2001)
Repita-se, no caso em comento, o reajuste aplicado na apólice da parte Autora
não decorreu de má-fé da Demandada e, menos ainda, teria sido sem respaldo. Ao contrário, os
índices aplicados guardam total obediência à legislação aplicável, de modo que não há que se falar
em restituição em dobro dos valores pagos, condenação que se requer o afastamento.
IX – CONCLUSÕES E PEDIDOS
Por todo o exposto, requer seja a presente demanda julgada improcedente, uma
vez que a conduta da Ré se mostra íntegra, obedecendo a todos os ditames legais que norteiam o
objeto da presente ação, condenando-se o Autor ao pagamento das verbas sucumbenciais, acaso a
discussão persista no Colégio Recursal.
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Protesta provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em Direito.
Requer, ao final, que todas as intimações sejam veiculadas em nome da advogada
RENATA SOUSA DE CASTRO VITA, inscrita na OAB/BA sob o nº 24.308, conforme instrumento de
mandato que segue em anexo, que a qualifica e indica endereço profissional, sob pena de nulidade,
conforme preceitua o art. 236, §1º, do Código de Processo Civil.
Nestes termos,
Pede deferimento.
Salvador, 28 de setembro de 2015
RENATA SOUSA DE CASTRO VITA
OAB/BA 24.308
(Documento Assinado Digitalmente)