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Page 1: Para historiador, condomínios do programa federal são ‘uma ... · Cientista Social contratado pela Caixa para elaborar estudo sobre o projeto PABLO JACOB / 04.12.2010 A Cidade

8 ⟩ POLÍCIA extra.globo.com Segunda-feira, 30 de março de 2015

ENTREVISTA

B Como você avalia o projeto?Quando o governo transferepara as empreiteiras a escolhado local onde vai ser erguidoo condomínio, ele fragiliza oprograma. A maioria dasunidades está sendo construí-da nas periferias mais distan-tes, quando precisaria estarnas regiões centrais.

Que experiências poderiamservir de inspiração?Em Paris, após os protestos demeados dos anos 2000, surgi-dos justamente nas periferias,começou-se a dar estímulos àiniciativa privada para a cons-trução de conjuntos popula-res em áreas nobres. Essa éuma tendência mundial.

‘A maioria dasunidades estánas periferias’

PEDRO DA LUZ MOREIRAPresidente do Instituto deArquitetos do Brasil no Rio

ENTREVISTA

B O que sua pesquisa apontou?A satisfação dos moradores aoreceber os imóveis é enorme.Eles veem uma segurança, umganho patrimonial. Mas nãoconseguem manter. E, como opoder público também nãoentra, abre-se um vácuo.

Qual seria a solução?A gente propõe uma incuba-ção, um período inicial comassessoria técnica e gestãocompartilhada entre estado emunicípio. Além disso, diantedo consenso técnico e acadê-mico de que o diagnóstico énegativo, é preciso iniciar umapolítica de revisitação.

‘O poder públiconão entra. Aí,abre um vácuo’

PAULO MAGALHÃES Pesquisador contratado pelaCaixa para estudar o projeto

RADIOGRAFIA DOS CONJUNTOS

Fontes: Caixa Econômica Federal, Disque-Denúncia, Ministério das Cidades,Ministério Público do Rio, Polícia Civil e Secretaria municipal de Habitação

Legenda

Disque-DenúnciaDenúncias à SecretariaMunicipal de Habitação

Inquéritos concluídosou em andamento

Processos de reintegração deposse que correm na Justiça

Relatos de moradoresouvidos pelo EXTRA

Campo Grande

210

R$ 10.710.000

Agosto de 2011

1

Vivendas das Patativas

BAIRRO

PROBLEMAS

APARTAMENTOS

FAMÍLIAS

CUSTO DA OBRA

INAUGURAÇÃO

CONDOMÍNIOS

183

Santa Cruz

R$ 138.611.550

Julho de 2012

6

Residenciais Évora, Almada, Aveiro,

Cascais, Coimbra e Estoril

BAIRRO

PROBLEMAS

APARTAMENTOS

FAMÍLIAS

CUSTO DA OBRA

INAUGURAÇÃO

CONDOMÍNIOS

2.7182.716

MMMMMMMMiiiiiiiilllllllííííííííccccccccciiiiiiiiiiaaaaaaaaaa

MMMMMMMMMMiiiiiillllllíííííííííííííícccccccccccccciiiiiiiaaaaaaaa

R$ 30.906.000

Novembro de 2012

2

Park Royal e Park Imperial

BAIRRO

PROBLEMAS

APARTAMENTOS

FAMÍLIAS

CUSTO DA OBRA

INAUGURAÇÃO

CONDOMÍNIOS

606604

Santa Cruz MMMMMMMMMMMiiiiilllllllllíííííííííccccccccccccccciiiiiiiiiiaaaaaaaaaaaa

entregar imóveis naVila Kennedy, em

1964, o então governador daGuanabara, Carlos Lacerda,foi enfático no discurso: “Nãobasta somente mudar-se fria-mente a população desfavo-recida de um lugar para ou-tro”. A realidade, porém, foimais dura do que as palavrasdo político. Hoje, 51 anos de-pois, os condomínios e seuentorno — situados em Ban-

gu, na Zona Oeste do Rio —transformaram-se numa re-gião sob forte domínio do trá-fico, que resiste até mesmo àUPP inaugurada há dez me-ses. No nono e último capítu-lo da série “Minha casa, mi-nha sina”, especialistas ouvi-dos pelo EXTRA apontam quea repetição de erros do passa-do, como a omissão do poderpúblico, ameaça o programa“Minha casa, minha vida”.

de bandidos sobre os atuais be-neficiários do programa federal.

— Uma ação que só entregacasas próprias não é um progra-ma de habitação — afirma o de-putado Marcelo Freixo (PSOL).

Dos 64 conjuntos do “Minhacasa, minha vida” no Rio — to-dos sob influência de crimino-sos, como o EXTRA mostrou aolongo da série — 42 ficam a pelomenos 25 quilômetros do Cen-tro. Os restantes estão, sem ex-

ceção, muito próximos ou den-tro de favelas.

—Na década de 50, o primei-ro erro foi a política de habita-ção andar mais rápido do que aurbana, de infraestrutura. E es-tá se repetindo. As pessoas sãolevadas para locais mal abaste-cidos de escola, hospital, trans-porte, segurança. É uma bom-ba-relógio — diz o historiador eprofessor Mario Brum, autor deum livro sobre a Cidade Alta. s

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Para historiador, condomínios do programa federal são ‘uma bomba-relógio’

ao Além da Vila Kennedy, váriasfavelas cariocas cresceram emvolta de prédios e casas ergui-dos para atender famílias po-bres: a Cidade Alta, em Cordo-vil; a Cidade de Deus, em Jaca-repaguá; a Vila Aliança, tam-bém em Bangu; e o Amarelinho,em Irajá, entre outros. Tal qualnos exemplos de décadas ante-riores, a falta de serviços e deações do Estado é destacada co-mo fator crucial para o domínio

Operação na Vila Kennedy em 2011, ainda antes da UPP; no detalhe, o ano é 1968

ROBERTO MOREYRA / 17.06.2011

“É possível contratar mais três milhões de moradias. Aquilo que está dando certo deve ter continuidade”Presidente Dilma RousseffAo anunciar a terceira etapa do "Minha casa, minha vida"

“Esses e outros elementos fazem com que o futuro do programa seja sombrio”Paulo MagalhãesCientista Social contratado pela Caixa para elaborar estudo sobre o projeto

PABLO JACOB / 04.12.2010

A Cidade de Deus atualmente, onde também há UPP; e os primeiros moradores, em julho de 69

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