UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA
CAMPUS I – CAMPINA GRANDE
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS
CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO
LAÍS DE QUEIROZ NOVAIS
ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS CONTEMPORANEAS:
aspectos conceituais e tipologia penal
CAMPINA GRANDE – PB
2012
LAÍS DE QUEIROZ NOVAIS
ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS CONTEMPORANEAS:
aspectos conceituais e tipologia penal
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Curso de Bacharelado em
Direito da Universidade Estadual da
Paraíba, em cumprimento à exigência
para obtenção do grau de Bacharel em
Direito.
Orientadora: Professora Ms. Ana Alice
Tejo Salgado
CAMPINA GRANDE – PB
2012
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL – UEPB
N935o Novais, Lais de Queiroz.
Organizações criminosas contemporâneas [manuscrito]:
aspectos conceituais e tipologia penal / Lais de Queiroz
Novais. 2012. 28 f.
Digitado.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em
Direito) – Universidade Estadual da Paraíba, Centro de
Ciências Jurídicas, 2012.
“Orientação: Profa. Ma. Ana Alice Tejo Salgado,
Departamento de Direito Público.”
1. Direito penal. 2. Crime Organizado. 3. Organização
criminosa. I. Título.
21. ed. CDD 345
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 4
2 HISTÓRICO E ASPECTOS CONTEMPORÂNEOS RELEVANTES DAS ORGANIZAÇÕES
CRIMINOSAS ............................................................................................................................. 6
2.1 Aspectos Históricos das organizações criminosas no mundo e no Brasil .......................... 6
2.2 Aspectos relevantes das organizações criminosas contemporâneas ................................ 8
3 EM BUSCA DE UM CONCEITO NO ÂMBITO DOUTRINÁRIO........................................... 13
4 A COMPLEXA DEFINIÇÃO E TIPIFICAÇÃO PENAL .......................................................... 15
4.1 A ausência de uma definição legal e o advento da lei 12.694/12 ..................................... 16
4.2. A organização criminosa como delito autônomo à luz de institutos correlatos ............... 21
5 DISPOSIÇÕES FINAIS ......................................................................................................... 24
BIBLIOGRAFIA GERAL ........................................................................................................... 25
4
ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS CONTEMPORANEAS:
aspectos conceituais e tipologia penal
NOVAIS, Laís de Queiroz1
RESUMO
O modelo globalizador marcado pela inserção de novas tecnologias e pela
relativização de fronteiras territoriais propicia a expansão do poderio das
organizações criminosas contemporâneas, verdadeiro fenômeno social que abala as
estruturas dos estados nacionais. Nesse cenário, o direito penal mostra-se como
relevante eixo de enfrentamento. No Brasil, o crime organizado é uma realidade
extremamente lesiva ao seio social que se aproveitando das lacunas do estado,
assume uma posição paternalista. Destarte a presente produção acadêmica analisa
aspectos relevantes das organizações criminosas hodiernas e o seu tratamento
jurídico penal, sob o viés da complexa conceituação, definição legal e tipificação
penal. Eis que surge a seguinte indagação: é possível alcançar um conceito unívoco
e satisfatório? E outra, tipificar a conduta de organização criminosa é uma reposta
penal adequada e necessária? Analisou-se o histórico e a face atual do crime
organizado, investigou-se conceitos doutrinários e definições legais, bem como se
analisou institutos correlatos e projetos de lei, visando, precipuamente uma
tipificação adequada para este fenômeno. A metodologia utilizada foi a teórico-
descritiva, norteada por uma análise de acervo bibliográfico, normativo e
jurisprudencial. Conclui-se: Não obstante a expansão das organizações criminosas
ser uma realidade inconteste, no Brasil não existe o crime de organização
criminosa,ou seja, não há culminação de pena, no qual se verifica a necessidade
premente de torná-lo delito autônomo.
PALAVRAS CHAVE: Crime organizado. Organização criminosa. Fenômeno social.
Definição legal. Tipificação.
1 INTRODUÇÃO
Sob os influxos do modelo globalizador, notadamente com a inserção das
novas tecnologias e a flexibilização das fronteiras, as organizações criminosas
1 Bacharelanda em Direito, pela Universidade Estadual da Paraíba. laí[email protected].
5
contemporâneas, com lucros estimados em 870 bilhões de dólares ao ano2 podem
desestabilizar países e regiões inteiras, minando a assistência ao desenvolvimento
em determinadas áreas e aumentando a corrupção interna, a extorsão, a associação
ilícita e a violência. Na realidade pátria, os efeitos dessas nocivas formas de
associação humana para o crime são peculiares, porém, incontestes.
Nesse contexto, é notória a expansão do crime organizado no Brasil que
somado aos apelos midiáticos, incute na população uma sensação exacerbada de
insegurança social. Nesse passo, fomenta-se o debate acerca da necessidade
premente de se conceituar e tipificar a conduta de organização criminosa, dando azo
a entendimentos jurisprudenciais e doutrinários dos mais variados, bem como
produções de leis imediatistas e inoperantes.
De outro lado, a escassez de estudos aprofundados e de dados confiáveis, no
qual não se consegue compreender as peculiaridades e as reais consequências das
organizações criminosas atuantes no Brasil, é verdadeiro entrave à tarefa de
conceituar, tipificar, prevenir, combater e conhecer as consequências das
organizações criminosas atuantes no Brasil. O que nos leva a seguinte indagação, é
possível alcançar um conceito unívoco e satisfatório? Ademais, no que se refere à
tipologia penal, tipificar a conduta de organização criminosa é uma reposta penal
adequada e necessária?
Desta feita, a presente produção acadêmica tem como escopo analisar as
organizações criminosas hodiernas e o seu tratamento jurídico penal,
especificamente a complexidade de sua conceituação e tipificação legal. Para tanto,
o capítulo I aborda aspectos históricos e contemporâneos relevantes das
organizações criminosas, já o capítulo II elucida a complexidade conceitual no
âmbito doutrinário.
Por derradeiro, o capítulo III apresenta aspectos concernentes à tipificação
legal da conduta da organização criminosa, em um primeiro momento se elucida a
ausência de uma definição legal, bem como o seu advento, pela Lei 12.694/12, a
2 ONU. Crime organizado transnacional gera 870 bilhões de dólares por ano, alerta campanha
do UNODC. Disponível em: <http://www.onu.org.br/crime-organizado-transnacional-gera-870-bilhoes-
de-dolares-por-ano-alerta-campanha-do-unodc/> Acesso em: 19 de outubro de 2012.
6
posteriori, apresenta institutos correlatos à figura da organização criminosa e
enaltece a premente necessidade de sua tipificação legal.
2 HISTÓRICO E ASPECTOS CONTEMPORANEOS DAS ORGANIZAÇÕES
CRIMINOSAS
O estudo coerente e aprofundado das organizações criminosas hodiernas não
pode prescindir de um mínimo de substrato histórico. Nessa senda, o presente
capítulo fará preliminarmente uma breve abordagem histórica das organizações
criminosas no Brasil e no mundo, para, em sequencia, elucidar aspectos
contemporâneos de relevo. Ademais, serão destacadas algumas particularidades
das organizações criminosas brasileiras, com fito de direcionar a discussão à
realidade e o ordenamento jurídico pátrio.
2.1. Aspectos históricos das organizações criminosas no mundo e no Brasil
Compreender os aspectos contemporâneos das organizações criminosas
requer uma breve digressão ao período histórico em que provavelmente originaram-
se as primeiras associações humanas criminosas. Destarte, questiona-se acerca de
ser o crime organizado resultado da evolução dos delitos existentes desde a origem
da humanidade ou, revés, um fenômeno recente, oriundo da sociedade moderna.
Com efeito, assevera Herrero Herrero (op. Cit. BECK, 2004, p. 56) que a
delinquência organizada existiu sempre, da mesma forma que sempre existiu a
atividade lícita organizada. Ambas em função da tendência do homem em planejar
suas tarefas, sobretudo quando trabalha em grupo. Assim, da análise histórica, há
notáveis indícios de organização nas quadrilhas atuantes na França durante o antigo
regime, bem como a estrutura organizada ilícita e a lucratividade dos piratas do
século XVI e XVII (MINGARDI, 1998, p. 47).
De outro lado, SILVA explicita a dificuldade de identificar um momento exato,
que remeta à origem das organizações criminosas no mundo, veja-se:
7
A origem da criminalidade organizada não é de fácil identificação, em razão das variações de comportamentos em diversos países, as quais persistem até os dias atuais. Não obstante esta dificuldade, a raiz histórica é traço comum de algumas organizações, em especial as máfias italianas, a yakuza japonesa e as tríades chinesas. Essas associações tiveram início no século XVI como movimentos de proteção contra arbitrariedades praticadas pelos poderosos e pelo estado, em relação a pessoas que geralmente residiam em localidades rurais, menos desenvolvidas e desamparadas de
assistência dos serviços públicos. (SILVA , 2003, p. 19-20):
Assim, a origem do crime organizado no mundo é remetida por muitos aos
séculos XVI, com o aparecimento dos primeiros grupos mafiosos, que de movimento
protecionistas contra as arbitrariedades estatais, evoluem, passando a agir mediante
hierarquia, organização, violência, fidelidade e corrupção.
De outra banda, SILVA (2003, p. 24) explicita que a criminalidade organizada
nos EUA originou-se no final da década de 20 do século XX, mediante o
contrabando de bebidas alcoólicas em razão da “Lei Seca”, tendo aos poucos
incorporado outras atividades ilícitas como o jogo e a prostituição. Após a segunda
guerra mundial e o consequente desenvolvimento da economia americana, surge
uma parceria entre as organizações americanas e a Máfias italianas, sob a
denominação “Máfia Ítalo-Americana”. A partir da década de 60 do século passado,
verifica-se a tendência destes grupos passarem a se dedicar aos grandes tráficos,
notadamente de pessoas, de drogas e de armas, atividades que hoje correspondem
a principal fonte de lucratividade das organizações criminosas mundiais.
No Brasil, Gomes assevera que há muitos pontos obscuros no cenário
nacional sobre o surgimento e crescimento do crime organizado, com poucos
estudos de casos e quase nenhuma sistematização das etapas de desenvolvimento
desse fenômeno mundial (GOMES, 2009, p. 17). Frise-se que as organizações
criminosas brasileiras não possuem gigantesca amplitude, como ocorre nos Estados
Unidos, na Itália e na Ásia. Aqui, ainda predominam as associações de âmbito
regional, com diversos núcleos ou focos distintos e por vezes não correlacionados
entre si. Em que pese tal constatação, a expansão do crime organizado no Brasil é
uma realidade extremamente nociva à sociedade brasileira, o que denota a
relevância da presente problemática.
Cosoante o doutrinador Oliviere, o “Cangaço” é um antecedente das
organizações criminosas brasileiras. Movimento originado no final do século XIX e
início do século XX, tendo como líder a figura emblemática de Virgulino Ferreira da
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Silva, conhecido como “Lampião”, e sendo caracterizado pela formação de grupos
organizados em hierarquia, para prática de atividades ilícitas no nordeste do país.
(OLIVIERI op. cit. SILVA, 2003, p. 25).
De outra banda, há o entendimento de que “jogo do bicho” foi a primeira
forma delituosa organizada do Brasil. O que, entretanto, não é corroborado por
Gomes e Cervini (1995, p. 63), para estes, o controvertido ‘jogo do bicho”, enquanto
tal, considerado isoladamente, não pode ser concebido como ‘crime organizado’,
porque é, na verdade, uma contravenção (art. 59 da Lei das Contravenções Penais).
Outrossim, parte da doutrina informa que as organizações criminosas do
Brasil são oriundas do interior das penitenciárias cariocas, durante as décadas de 70
e 80, a exemplo do Comando Vermelho oriundo da penitenciária de Bangu I, o
Terceiro Comando e a Falange Vermelha, oriunda da penitenciária de Ilha Grande.
Salienta-se que nos anos 90, surge o emblemático Primeiro Comando da Capital –
PCC, em São Paulo, no presídio de segurança máxima anexo à Casa de Custódia e
Tratamento de Taubaté.
Inobstante a inexistência de um momento específico que remeta à raiz
histórica do crime organizado no Brasil, é fato, que a sua expansão se imbrica com a
ausência de ações do Estado em diversos âmbitos da assistência social. Daí por
que, pode-se afirmar que criminalidade organizada no Brasil assume historicamente
uma posição paternalista ante as lacunas estatais, contando, inclusive, com o apoio
de parcela marginalizada da população para o alastramento das atividades ilícitas.
Em face da presente digressão histórica, este trabalho considera que o crime
organizado é um fenômeno também social, sendo certo que acompanha o homem
desde os seus primórdios. Em verdade, corresponde a uma forma antiga que o ser
humano vem aprimorando para a prática de delitos. Todavia, com o advento da
globalização e sob os influxos das novas tecnologias, assume a sua complexa
roupagem hodierna. O que será objeto de discussão nas próximas linhas.
2.2 Aspectos relevantes das organizações criminosas contemporâneas
Cumpre ressaltar que as atuais organizações criminosas mundiais possuem
características variáveis, entretanto, assemelham-se pelo alto grau de lucratividade e
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especialização, através de parcerias temporárias entre os integrantes do mundo
criminoso. Há certa estabilidade, pluralidade de agentes, cadeia de comando,
sofisticação na empreitada criminosa e o uso de recursos tecnológicos avançados,
assim como a prática de delitos graves, dotados de máxima lesividade social.
Como já alertado, o presente trabalho considera mais coerente abordar a
temática da criminalidade organizada como um fenômeno também social,
influenciado pelo modelo globalizador e que se dissemina onde a atuação estatal é
insuficiente. Nesse cotejo, torna-se oportuno trazer à baila os dizeres de Robinson:
A atuação do crime organizado no período pós Guerra Fria demonstra que a Revolução tecnológica ocorrida neste período e que gerou mudanças radicais nos meios de transportes e nas comunicações, não serviram apenas para a globalização da economia. Isso porque, tais mudanças ocorreram a tal velocidade que os governos se viram incapazes de controlar a movimentação de bens, serviços, pessoas e ideias em seus países (ROBINSON, 2001, P. 14/16).
Destarte, pode-se afirmar que as organizações criminosas com o advento da
globalização e da inserção das novas tecnologias, adquiriram uma natureza
empresarial, extremamente especializada, adaptável e transnacional, ao passo que
se ajustaram perfeitamente ao modelo globalizador, tornando-se verdadeiras
empresas do crime que não possuem um locus delicti, adaptando-se às
peculiaridades do âmbito territorial em que atuam.
Nesse espectro, o doutrinador Alberto Silva Franco ao tratar do crime organizado
hodierno, assevera:
o crime organizado tem caráter transnacional na medida em que não respeita as fronteiras de cada país e apresenta características assemelhadas em várias nações; detém um imenso poder com base numa estratégia global e numa estrutura organizativa que lhe permite aproveitar as fraquezas estruturais do sistema penal; provoca danosidade social de alto vulto; tem grande força de expansão, compreendendo uma gama de condutas infracionais sem vítimas ou com vítimas difusas; dispõe de meios instrumentais de moderna tecnologia; apresenta um intrincado esquema de conexões com outros grupos delinquenciais e uma rede subterrânea de ligações com os quadros oficiais da vida social, econômica e política da comunidade; origina atos de extrema violência; exibe um poder de corrupção de difícil visibilidade; urde mil disfarces e simulações e, em resumo, é capaz de inerciar ou fragilizar os poderes do próprio
Estado. (op. Cit. GOMES, 1997, p. 75).
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Em que pese a possibilidade de o crime organizado ser concentrado na estrutura
de um só pais, há uma tendência de que se torne progressivamente transnacional,
na medida em que as fronteiras entre os países hoje são mais permeáveis e os
fluxos internacionais de pessoas, mercadorias, serviços e recursos é cada vez mais
ágil. Este cenário fomentou o fortalecimento e expansão das organizações
criminosas transnacionais – expressão estabelecida na Convenção de Palermo - que
não possuem um locus delicti e se adaptam às peculiaridades do âmbito territorial
em que atuam. Ademais, campanha liderada pelo Escritório das Nações Unidas
sobre Drogas e Crime (UNODC)3 alerta que, apesar de ser uma ameaça global, os
efeitos do crime organizado a nível mundial são percebidos em nível local. Os
grupos criminosos podem desestabilizar países e regiões inteiras, minando a
assistência ao desenvolvimento em determinadas áreas e aumentando a corrupção
interna, a extorsão, a associação ilícita e a violência.
Na realidade pátria, em face da carência de estudos e dados confiáveis, não
se pode afirmar que já existam organizações criminosas brasileiras com atuação
transnacional. Aqui, predominam empreitadas criminosas de menor amplitude e nível
organizacional, com atuação regional, a exemplo das facções criminosas
intraprisionais, no Estado de São Paulo o PCC (Primeiro Comando da Capital) e no
Estado do Rio de Janeiro, o Comando Vermelho. Ocorre que, com o advento da
globalização, é inconteste a conexão do crime organizado brasileiro com as
organizações criminosas de outros países, bem como a presença de grupos
alienígenas atuando no território pátrio.
Cumpre destacar que o atual cenário brasileiro, caracterizado por certa
estabilidade econômica e crescente mercado consumidor, atrelado à ausência de
uma política migratória eficaz, torna o Brasil polo atrativo para a atuação das
organizações criminosas transnacionais, notadamente as que atuam no tráfico de
entorpecentes. Assim, a inserção do nosso país na rota dessas organizações
criminosas, acarreta efeitos maléficos à sociedade brasileira, ainda que
desconhecidos as proporções dos danos.
3 http://www.unodc.org/southerncone/pt/frontpage/2012/07/16-unodc-lanca-campanha-global-sobre-crime-organizado-transnacional.html
11
Outro aspecto de relevância, é o alto poder de corrupção das organizações
criminosas, como bem elucida Hassemer (1993, p. 85) a criminalidade organizada
não é apenas uma organização bem feita, não é somente uma organização
internacional, mas é, em última análise, a corrupção da legislatura, da Magistratura,
do Ministério Público, da polícia, ou seja, a paralisação estatal no combate à
criminalidade. Nesse passo, Dotti (2002, p. 169) elucida que Paul Castellano, líder
da Máfia de Nova Iorque, teria afirmado certa vez que: “não preciso mais de
pistoleiros. Agora quero deputados e senadores”.
Nesse cotejo, pode-se afirmar que na medida em que as organizações
criminosas alcançam um certo status de grandeza, as suas práticas delitivas não
mais poderão ser ignoradas pelo poder público, razão pela qual far-se-á necessária
uma promíscua relação com agentes públicos, que contribuem decisivamente para o
sucesso da empreitada criminosa, ao se omitirem em suas funções repressivas, isso
quando não participam ativamente no grupo.
Outro ponto que merece destaque é o emprego constante da lavagem de
dinheiro, que em linhas gerais, é o ato de ocultar bens, valores e direitos
provenientes de infrações penais, para sua posterior reinserção na economia formal
com aparência lícita. Assim, a lavagem de dinheiro torna-se um mecanismo
umbilicalmente ligado ao crime organizado, que ao buscar incessantemente o lucro,
depende cada vez mais do “branqueamento de capitais ilícitos” para auferir o ganho
da empreitada criminosa, bem como reinseri-lo na economia formal, permitindo o
fortalecimento e expansão do poderio da organização criminosa.
No que tange ao uso de violência e o cometimento de delitos com graves
consequências sociais, Gomes (2009, p. 16) elucida que a criminalidade organizada
verifica-se em dois níveis distintos. Em um nível há o recurso à violência,
intimidação, tem-se uma vítima específica, e por isso refere-se a uma criminalidade
de sangue (visível). Nesse espectro, estão insertos os grupos que se organizam
para roubos de cargas, extorsão, sequestros, tráfico de drogas, etc. Em outro nível,
tem-se a criminalidade de colarinho branco (White collar crime), caracterizada pela
ausência de vítimas “de sangue”, ou seja, tratando-se de crime organizado, as
vítimas são pessoas indeterminadas, atingindo a coletividade em geral (vítimas
difusas), ameaçando, consequentemente, a paz pública. Igualmente, vislumbra-se a
12
reduzida visibilidade dos danos – o prejuízo financeiro, ou seja, os danos causados
por estas organizações criminosas são altíssimos, e a inexistência de vítimas
diretas, que sentiriam e acusariam o prejuízo, contribuem para que os danos
permaneçam invisíveis por considerável lapso de tempo.
Para Luis Flávio Gomes4 quanto mais bem organizado é o crime, menos
violência estará associada ao mesmo. Por organizado entende-se que tudo está
funcionando em perfeita ordem, grupos criminosos pagam policiais (oficiais),
resolvem tensões entre grupos e intimidam a população em geral, de tal forma que
pouca violência adicional se faz necessária. O crime bastante organizado atua mais
com “prata” (dinheiro para a corrupção) do que com “chumbo” (violência).
De fato, hodiernamente, constata-se que a tendência de redução ao uso de
meios violentos é diretamente proporcional ao desenvolvimento empresarial e
tecnológico da organização. Como aduz Beck (2004, p. 88), quanto mais o crime
organizado visar precipuamente o lucro e puder garantir a sua atuação e impunidade
mediante a utilização dos meios e recursos fornecidos pela tecnologia e pela
estrutura do sistema capitalista, associado à conexão com o poder público, menos
precisará do uso da violência ou da intimidação.
Em que pese os referidos aspectos das organizações criminosas, frise-se que
na realidade pátria estas possuem nível organizacional menos complexo, que muitas
vezes não chegam a ser de fato organizações criminosas, constituindo verdadeiras
associações para o tráfico de drogas ou quadrilhas especializadas. Ocorre que, com
advento da globalização e a consequente flexibilização das fronteiras, o Brasil não
se mostra imune à atuação das organizações criminosas. O que impulsiona a
produção do presente artigo, em face da necessidade de se obter um conceito, uma
tipologia penal adequada e uma resposta penal proporcional para este fenômeno
que assola a sociedade brasileira.
4UNDOC. Nova campanha do UNODC aponta que Crime Organizado Transnacional movimenta
870 bilhões de dólares ao ano. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2011-dez-22/coluna-lgf-
crime-organizado-violento-america-sul> Acesso em: 10 de novembro de 2012.
13
3 EM BUSCA DE UM CONCEITO NO ÂMBITO DOUTRINÁRIO
. Como ressaltado no capítulo anterior, a existência de organizações
criminosas no Brasil é uma realidade, da qual o Direito Penal não pode se esquivar.
Em face de tal premissa, é imprescindível a busca por um conceito e uma tipificação
legal para a conduta de organização criminosa com o fito de possibilitar a prevenção
e o combate a esse fenômeno social. O que nos leva a seguinte indagação, é
possível alcançar um conceito unívoco e satisfatório?
Observa-se que, imposta à criminologia a árdua tarefa de conceituar o crime
organizado, não se consegue chegar a um consenso acerca do que vem a ser essa
manifestação delituosa. Inobstante a dificuldade conceitual, o tema desperta uma
curiosidade cada vez maior por parte da população, o que abre espaço para
recorrentes impropriedades e sensacionalismos midiáticos. Nesse espectro, são
elucidativos os dizeres de Beck:
A descarga de informação é tão densa que muitas pessoas, por maior que seja a laicidade, se sentem autorizadas a discorrer sobre o fenômeno. A enunciação atingiu o domínio popular. Passou a significar todo aquele delito que é realizado por um grupo de pessoas dotado de um mínimo de organização. (BECK, 2004, P. 64).
Desta feita, a insegurança da população atrelada ao apelo midiático faz com
que qualquer ato seja praticado por pequenos grupos ocasionais (criminalidade de
massa) ou que enseje temor referencial à sociedade, tornem-se precipitadamente
caracterizados como ações praticadas por organizações criminosas, quando de fato
não passam de delitos ocasionais, sem qualquer característica de permanência ou
um mínimo de organização, bem como os demais requisitos exigidos pelas doutrinas
e pelas leis, sejam elas pátrias e/ou alienígenas, tratados e convenções
concernentes com a matéria. Vê-se, portanto, que não é plausível enquadrar
qualquer delito praticado em grupo como crime organizado. De fato, o que demanda
maior atenção da presente produção acadêmica são os delitos praticados pelos
grupos delitivos mais complexos, dotados de maior nível organizacional.
Ultrapassados os esclarecimentos supracitados e direcionando o debate para
a dificuldade conceitual no âmbito doutrinário, verifica-se que existem dois discursos
sobre o crime organizado, estruturados nos polos americano e europeu do sistema
14
capitalista globalizado: o discurso americano sobre o organized crime – definido
como conspiração nacional de etnias estrangeiras -, que parece ter sido absorvido
por organizações secretas nacionais, centralizadas e hierarquizadas, de grupos
étnicos estrangeiros – e o discurso italiano sobre crimine organizzato, cujo objeto
original não é o chamado crime organizado, mas a atividade da máfia, uma realidade
sociológica, política e cultural secular da Itália meridional. (SANTOS, 2008, p. 2).
No que tange ao discurso americano, vislumbra-se um conceito desprovido de
qualquer substrato científico, bem como a sua inutilidade no âmbito jurídico penal. Já
em relação ao discurso italiano, verifica-se que por está centrado na realidade das
máfias italianas, não pode ser de forma simplória, transferido para o contexto de
outros países sem que haja grave distorção conceitual ou modificação do objeto de
estudo.
Na realidade jurídica pátria, Luís Flavio Gomes (1997, p. 92) assevera que o
crime organizado (numa primeira aproximação) é o praticado por organização
criminosa. Sendo imprescindível a busca pelo substrato conceitual desta, não
daquele, que é fruto da atividade organizada.
Para o Federal Bureau of Investigations5 (FBI) define organização criminosa
como qualquer grupo que tenha uma estrutura formalizada cujo objetivo seja a
busca de lucros através de atividades ilegais. Esses grupos usam da violência e da
corrupção de agentes públicos.
Ainda no percurso da problemática conceitual, cumpre trazer à colação o
entendimento de Eugênio Raúl Zaffaroni:
A expressão “crime organizado” é uma categoria frustrada, ou seja, um rótulo sem utilidade científica, carente de conteúdo jurídico-penal ou criminológico é vazia e tem origem política e clientelista, responde ao mito da máfia e de organizações secretas, hierarquizadas, responsáveis por todos os males da sociedade, servindo esta teoria conspiratória para incentivar a curiosidade e para baixar os níveis de angústia ante males de origem desconhecida, que englobam um grande espectro de crimes, que vão desde o superfaturamento de obras públicas, até sequestro e terrorismo. (ZAFFARONI, 1996, p.54)
5 Termo utilizado por Mingardi (1996: p. 27 e 28). Disponível em: MINGARDI, Guaracy. O Estado e o
crime organizado. 1996. Tese (Doutorado) .Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. São Paulo, 1996.
15
De fato, verifica-se que as definições hodiernas são por demais abrangentes
e vagas, sugerindo uma direção ao invés de definir um objeto. Assim, verifica-se que
parte da doutrina entende ser impossível, até o momento, estabelecer um conceito
definitivo e coerente para o crime organizado, preferindo, portanto, uma aproximação
de seu conteúdo através das características elementares dessa modalidade
delituosa contemporânea.
Outrossim, por mais que existam inúmeras classificações, não se pode
conceber apenas uma como correta, cada conceito preenche as necessidades do
tempo e das circunstâncias de cada sociedade. Nesse contexto, o doutrinador Jorge
Godinho (2001, p. 34) explica que o crime organizado é uma realidade mutável, não
suscetível de identificação precisa, pois abrange grupos muito distintos, que se
dedicarão a uma ou a várias atividades ilícitas (tráfico de drogas e/ou de armas,
exploração do jogo ilícito, extorsão, criminalidade informatizada, furto de automóveis,
contrabando, imigração ilegal etc.) e terão diferente expansão geográfica ou nível de
organização.
Pelo exposto, este trabalho considera impossível chegar-se a um conceito
unívoco e satisfatório, em face da escassez de estudos e conclusões uniformes no
âmbito doutrinário, atreladas, ainda, a complexidade deste fenômeno social. Em que
pese tal constatação, ante a necessidade de conter o poderio das organizações
criminosas hodiernas, faz-se mister a existência de uma definição e tipificação legal,
ao menos plausível e coerente, o que será abordado no próximo capítulo.
4 A COMPLEXA DEFINIÇÃO E TIPIFICAÇÃO PENAL
Ultrapassados os aspectos históricos e conceituais, este capítulo abordará a
complexa definição e tipificação das organizações criminosas. Em verdade, o
presente debate direcionar-se-á à indagação central do artigo, no qual será
investigado se tipificação da conduta de organização criminosa é uma reposta penal
adequada e necessária. Desta feita, o primeiro tópico examinará a complexa
definição, ao passo que no segundo, serão tecidos comentários acerca de institutos
16
correlatos às organizações criminosas e elucidar-se-á a necessidade premente de
sua tipificação.
4.1 A ausência de uma definição legal e o advento da lei 12.694/12
No cenário hodierno é latente a forte preocupação internacional e pátria no
que tange ao alto grau de periculosidade dos delitos praticados pelas organizações
criminosas. Nesse contexto, torna-se imprescindível a existência de uma definição
legal precisa com o fito de possibilitar a efetiva repressão ao crime organizado, bem
como garantir a aplicabilidade de normas penais e processuais, em consonância
com os princípios da legalidade e da reserva legal, o seu corolário.
No âmbito legislativo pátrio, a definição de organização criminosa é questão
que por muito tempo revirou e ainda revira o mundo jurídico penal. Salienta-se que,
as duas leis pertinentes ao tema: a Lei nº 9.034/1995 – que dispõe sobre a utilização
de meios operacionais para a prevenção e repressão de ações praticadas por
organizações criminosas – e a Lei nº 10.217/2001 – que alterou os arts. 1° e 2° da
Lei n° 9.034, de 3 de maio de 1995, não estabeleceram uma definição legal para
organização criminosa.
Assim, inobstante a existência de leis de combate ao crime organizado, a
referida lacuna tornava ineficazes diversos dispositivos legais, dificultando o uso dos
meios operacionais para a prevenção e repressão de ações de grupos estruturados.
Em face dessa ausência legal, a doutrina e os tribunais superiores passaram a
acatar o ingresso ao direito penal interno, da definição estabelecida pela
"Convenção de Palermo". Principal instrumento global de combate ao crime
organizado transnacional, realizada no dia 15 de dezembro de 2000. Tal definição
adentrou em nosso ordenamento jurídico depois que a "Convenção de Palermo" foi
promulgada pelo Decreto nº 5.015, de 12 de março de 2004.
O referido texto internacional, nos termos de seu art. 2º, “a”, estabeleceu a
seguinte definição para grupo criminoso organizado:
17
a) Grupo criminoso organizado – grupo estruturado de três ou mais pessoas, existentes há algum tempo e atuando concertadamente com o propósito de cometer uma ou mais infrações graves ou enunciadas na presente Convenção, com a intenção de obter, direta ou indiretamente, um benefício econômico ou outro benefício material;
Daí verifica-se, que a inserção do conceito aludido, ao direito penal interno se
deu por meio de Decreto Legislativo, o que não escapou das críticas de importantes
setores da doutrina. Nesse passo, Luiz Flávio Gomes aduz que: 1º) a definição de
crime organizado contida na Convenção de Palermo é muito ampla, genérica, e viola
a garantia da taxatividade (ou de certeza), que é uma das garantias emanadas do
princípio da legalidade; 2º) a definição dada vale para nossas relações com o direito
internacional, não com o direito interno; 3º) definições dadas pelas convenções ou
tratados internacionais jamais valem para reger nossas relações com o Direito penal
interno em razão da exigência do princípio da democracia (ou garantia da lex
populi ), permanecendo atípica a conduta6.
Ocorre que, no dia 12.06.12, algumas das supracitadas críticas foram
acolhidas pelo Supremo Tribunal Federal7, para encerrar definitivamente a ação
penal promovida pelo Ministério Público contra os fundadores da Igreja Renascer em
Cristo pela suposta prática do crime de lavagem de dinheiro, que seria decorrente de
uma “organização criminosa”, consistente em arrecadar bens e valores dos seus
fieis de forma fraudulenta. Oportunidade em que o Min. Marco Aurélio definiu como
atípica a conduta atribuída a quem comete crime de lavagem de dinheiro, tendo
como único fundamento, a hipótese prevista no artigo 1º, inciso VII (organização
criminosa), da Lei 9.613/98.
Assim, o emblemático caso “Renascer” consolida a Evolução Jurisprudencial
da Corte Suprema, ao constatar que a referida atipicidade decorria da inexistência
no ordenamento jurídico da definição de organização criminosa, que vem apenas
definido na Convenção de Palermo de 2000, introduzida no Brasil por meio de
Decreto no ano de 2004.
6 GOMES, Luiz Flávio. Definição de crime organizado e a Convenção de Palermo. Disponível em:
<http://www.lfg.com.br/public_html/article.php?story=20090504104529281>. Acesso em: 19 de novembro de 2012. 7 STF. 1ª Turma concede HC para encerrar ação penal contra líderes da Igreja Renascer. Disponível em: < http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=209617> Acesso em: 19 de novembro de 2012.
18
Por fim, em 24 de julho de 2012, foi promulgada a lei 12.694, ocasionando
alterações no processo de crime praticado por organização criminosa, alterando e
trazendo novos dispositivos ao Código Penal e Processo Penal. E o mais relevante,
finalmente, o legislador definiu organização criminosa, no âmbito do Direito Penal
interno, anunciando no seu art. 2º:
Para os efeitos desta Lei, considera-se organização criminosa a associação, de 3 (três) ou mais pessoas, estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de crimes cuja pena máxima seja igual
ou superior a 4 (quatro) anos ou que sejam de caráter transnacional.
Ao analisar o novel dispositivo legal, vislumbram-se pontos em comum com a
definição de organização criminosa inserta na Convenção de Palermo. Nesses
termos, cumpre trazer à colação um quadro comparativo apresentado pelo
doutrinador Rogério Sanches Cunha8, em sua recente publicação, “Lei 12.694/12:
Breves Comentários” veja-se:
CONVENÇÃO DE PALERMO LEI 12.694/12
grupo estruturado de três ou mais
pessoas
associação, de 3 (três) ou mais pessoas
existente há algum tempo e atuando
concertadamente
estruturalmente ordenada e caracterizada
pela divisão de tarefas, ainda que
informalmente
com a intenção de obter, direta ou
indiretamente, um benefício econômico ou
outro benefício material
com objetivo de obter, direta ou
indiretamente, vantagem de qualquer
natureza
com o propósito de cometer uma ou mais
infrações graves ou enunciadas na
Convenção
mediante a prática de crimes cuja pena
máxima seja igual ou superior a 4 (quatro)
anos ou que sejam de caráter transnacional
Da análise do presente quadro, extrai-se que a definição pátria assemelha-se
à Convenção quanto ao elemento Estrutural (número mínimo 3 de integrantes). No
que tange ao elemento finalístico, há diferenças, na medida em que a convenção
não fixou um quantum da pena em abstrato dos delitos praticados por uma
8CUNHA. Rogério Sanches. LEI 12.694/12: breves comentários. Disponível em:http://atualidadesdodireito.com.br/rogeriosanches/2012/07/28/lei-12-69412-breves-comentarios-2/ . Acesso em: 19 de novembro de 2012.
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organização criminosa, para aí sim, incidir nos diplomas normativos, já o legislador
pátrio determina a pena máxima igual ou superior a 4 anos. Nesse ponto, escapou
aos olhos da lei a famosa contravenção penal do “jogo do bicho”, tradicional prática
de lavagem de dinheiro pelas organizações e facções criminosas brasileiras. No que
se refere ao elemento subjetivo (dolo), não há similitude. De fato, a definição pátria
não o restringiu como o fez a Convenção à intenção de obter de vantagem
econômica. Nesse aspecto, andou bem o legislador brasileiro, pois a vantagem a ser
conquistada não há de ser necessariamente financeira, podendo ser um benefício
de ordem sexual ou até mesmo moral.
Registre-se que a presente produção acadêmica considera de grande relevo
a recente definição legal, na medida em segue as recomendações da Convenção de
Palermo. O que denota um esforço do legislador pátrio em tornar a lei brasileira
favorável à prevenção e ao desmantelamento das organizações criminosas
transnacionais atuantes no Brasil, na medida que facilita o uso de medidas de
Cooperação Internacional para prevenção e o combate do crime organizado a nível
mundial.
De outra banda, há um aspecto da nova lei que fomenta o seguinte ponto de
reflexão: se um tipo penal é formado por preceito primário — definição de conduta —
e secundário — estipulação da pena —, qual a pena para a organização criminosa?
O que remete à seguinte conclusão: a nova lei não criou o crime de organização
criminosa, por que não definiu nenhuma pena. Temos, portanto, mais uma falha
legislativa, o que denota a pressa do legislador em corresponder aos anseios
midiáticos, semeando na sociedade uma ilusória sensação de segurança e de
combate eficaz ao crime organizado.
Corroborando o entendimento ora defendido, Luiz Flávio Gomes9 preceitua
que a definição da organização criminosa da Lei 12.694 conta com “efeito
deslizante” para todo ordenamento jurídico brasileiro, salvo para a admissão do tipo
penal respectivo (tipo criminoso autônomo), visto que o legislador na oportunidade
não quis fazer isso, tanto que não cominou nenhuma pena para a figura criminosa
definida (e crime sem pena não possui nenhuma eficácia prática, do ponto de vista
9 GOMES. Luiz Flávio. Organização criminosa. Conceito. Inexistência desse crime no Brasil.
Disponível em: <http://atualidadesdodireito.com.br/lfg/2012/11/16/organizacao-criminosa-conceito-inexistencia-desse-crime-no-brasil/ Acesso em 19 de novembro de 2012.
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da tipificação penal autônoma do crime). Não existe crime (no sentido de fato
punível) sem punibilidade (sem ameaça de pena).
Desta feita, partindo da percepção de que a organização criminosa como
delito autônomo não existe em nosso ordenamento jurídico, surge a seguinte
indagação: tipificar a conduta de organização criminosa é uma reposta penal
adequada e necessária? Com o fito de solucionar esta celeuma, no próximo tópico
serão elucidados alguns aspectos de institutos correlatos às organizações
criminosas, que por serem delitos autônomos, fomentam a reflexão acerca da
necessidade e adequação de tipificar-se a conduta de organização criminosa.
4.2 A organização criminosa como delito autônomo à luz de institutos
correlatos
Dentre os institutos correlatos, destaca-se o delito autônomo de associação
para fins de tráfico, prevista no art. 35 da Lei nº 11.343/06, in verbis:
Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, “caput” e § 1º, e 34 desta Lei:
Pena – reclusão de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.200 (mil e duzentos) dias-multa.
Pela dicção do aludido texto legal, verifica-se que a associação para fins de
tráfico se caracteriza pelo fato de dois ou mais indivíduos estarem associados, por
tempo indefinido, com o fito de praticar, em comum, delitos específicos previstos na
legislação extravagante em comento. Ademais, é delito autônomo, ou seja, por mais
que esteja intimamente relacionado com os delitos previstos nos naquela lei, possui
elementares próprias, descrevendo, assim, um crime independente, pois reunião,
demonstrada por atos notórios no mundo exterior, com um ajuste prévio e duradouro
de vontades com tal finalidade já caracteriza o delito tipificado no art. 35.
Com essa breve análise, verifica-se que a associação para fins de tráfico não
se confunde com a figura da organização criminosa, tendo em vista que não é
21
elemento deste tipo penal extravagante, a estrutura ordenada e caracterizada pela
divisão de tarefas, ainda que informalmente, fato que é exigido para configuração da
organização criminosa. Inobstante a maior lesividade social, ocasionada pela
existência de um grupo delituoso com estrutura organizada, o ordenamento jurídico
pátrio não lhe culmina penalidade. De outro lado, verificada a conduta de associação
criminosa para fins de tráfico, a legislação extravagante culmina-lhe a pena –
reclusão de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.200 (mil e
duzentos) dias-multa.
De outra banda, cumpre elucidar que o instituto penal correspondente ao
delito autônomo de formação de Quadrilha ou Bando, também não se iguala as
organizações criminosas. Para efeitos didáticos, traze-se a lume outro quadro
comparativo de Rogério Sanches Cunha10, veja-se:
QUADRILHA OU BANDO ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA
Crime (art. 288 do CP) Forma de praticar crime (art. 2º da Lei 12.694/12)
Associação de mais de três pessoas (mínimo 4)
Associação de três ou mais pessoas
Dispensa organização, sendo indiferente a posição ocupada por cada associado
Estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas
Tem como finalidade a prática de crimes (dolosos, não importando o tipo ou quantidade da pena em abstrato), sendo dispensável o objetivo de lucro
Tem como finalidade obter vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de crimes.
A partir de uma breve análise do quadro em tela, é notório que o crime de
quadrilha ou bando e a figura das organizações criminosas são institutos que não se
confundem. Quanto ao elemento quantitativo, o delito de quadrilha ou bando requer
a participação de mais de três agentes, ao passo que com três participantes, a
organização criminosa resta caracterizada. Ademais, o delito de quadrilha ou bando
tem como finalidade a prática de quaisquer crimes, não importando o tipo ou
quantidade da pena em abstrato, fato que não ocorre com as organizações
criminosas.
Outrossim, nos termos da nova lei, a existência de um grupo estruturado é
caracterizado pela divisão de tarefas, requisito estrutural, que difere a organização 10CUNHA. Rogério Sanches. LEI 12.694/12: breves comentários. Disponível em:http://atualidadesdodireito.com.br/rogeriosanches/2012/07/28/lei-12-69412-breves-comentarios-2/ . Acesso em: 19 de novembro de 2012.
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criminosa do crime de quadrilha ou bando, o qual não tem o mesmo nível de
organização. Nesse diapasão, o doutrinador Luisi (2002, p. 168) conclui que as
organizações criminosas não se enquadram nesta tipificação, sendo o conceito de
crime organizado muito mais complexo e abrangente, notadamente pela
repercussão internacional que possui e pelos danos irreversíveis causados no
âmbito econômico, político e social. Nesse passo, elucida que o uso da velha
fórmula do bando ou quadrilha para tipificá-lo não é capaz de subsumir as
sofisticadas organizações criminosas atuantes hoje em todo o mundo.
Inobstante a constatação de que as organizações criminosas possuem maior
periculosidade do que os delitos de quadrilha ou bando, o novo texto legal, não
determinou pena para essa conduta delituosa. O que se torna até paradoxal e
desproporcional, tendo em vista que, nos termos do art. 288 do Código Penal, a
associação de pessoas (mínimo de 4) para o cometimento de crimes sem estrutura
ordenada – crime de quadrilha ou bando -, por si só, terá a culminação de pena de
reclusão de um a três anos.
Pela análise dos referidos institutos, é inconteste que por serem delitos
autônomos, recebem uma resposta penal independente da pena culminada aos
delitos praticados. De outro lado, para conduta de organização criminosa,
notadamente mais lesiva ao seio social, o legislador pátrio não atribui penalidade
alguma, havendo, portanto, um tratamento jurídico disforme e desproporcional, tendo
em vista a sua máxima lesividade social, requer uma reposta penal proporcional ao
dano causado. Partindo desta premissa, pugna este trabalho pela tipificação da
conduta de organização criminosa, por ser medida necessária e adequada.
Reforçando o entendimento ora defendido, cumpre elucidar que tramita o
Projeto de Lei 6578/2009 que se utiliza da definição de organização criminosa
trazida pela Lei 12.694/12, para em sequência cominar-lhe pena. Veja-se a redação
dada ao substitutivo do PL 6.578/0911, PLS 150/06 de 30.10.12, in verbis:
Art. 1°, § 1°: Considera-se organização criminosa a associação, de 3
(três) ou mais pessoas, estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de
11 BRASIL. Projeto de lei 6.578, de 8 de dezembro de 2009. Disponível
em:<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=2B4339A2619AF0CDFD4D4E84CCAB6283.node1?codteor=723727&filename=PL+6578/2009> Acesso em: 18 de novembro de 2012.
23
obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam iguais ou superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional. (...)
Art. 2º Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas correspondentes às demais infrações penais praticadas.
Mediante uma breve análise do Projeto de lei em menção, vislumbra-se que o
legislador pátrio inclina-se a tipificar o delito de organização criminosa, o que,
entretanto, já poderia ter sido sanado no momento em que foi editada a Lei
12.694/12. Com efeito, tornar a conduta de organização criminosa crime autônomo é
medida imperiosa posto que, a responsabilização criminal representa relevante eixo
de enfrentamento e contenção do poderio das organizações criminosas hodiernas.
Em verdade, o presente trabalho considera de relevo o projeto de Lei em comento,
mas estende ser prematuro emitir opinião acerca de sua adequação.
5 DISPOSIÇÕES FINAIS
O crime organizado não é apenas uma modalidade delituosa, é de fato um
fenômeno social que acompanha o ser humano desde os seus primórdios e que por
influência do modelo globalizador com a inserção das novas tecnologias e a
flexibilização das fronteiras nacionais, tornou-se extremamente nocivo à segurança
dos estados soberanos.
Cumpre ressaltar que no Brasil a existência de organizações criminosas é
uma realidade inconteste, com consequências que ultrapassam a segurança pública,
desestruturando, inclusive, o próprio regime político. Em que pese tal constatação,
vê-se, que a ínfima quantidade de estudos e dados confiáveis, sem a sistematização
das etapas de expansão deste fenômeno, é um verdadeiro entrave à compreensão,
à conceituação e à tipificação adequada das organizações criminosas atuantes no
Brasil. De fato, no atual estágio da ciência jurídica, é impossível chegar-se a um
conceito unívoco e satisfatório para o fenômeno, o que, entretanto, não pode ser
24
argumento para o abandono prematuro estudos nesta complexa seara do Direito
Penal.
De outro lado, verifica-se que a Lei 12.694/12 insere no ordenamento pátrio a
tão aclamada definição de organização criminosa, cuja ausência dava margem para
entendimentos jurisprudenciais e doutrinários conflitantes. Em verdade, a recente
definição é útil apenas para efeitos processuais e investigativos, posto que, não
definiu nenhuma conduta (preceito primário) e nem estipulou nenhuma pena
(preceito secundário). O que enseja a conclusão de que organização criminosa,
como delito autônomo, não existe no Brasil. Em face desta premissa e mediante a
análise dos crimes de quadrilha ou bando e a associação para fins de tráfico,
notadamente delitos autônomos, concluí-se que a conduta da organização criminosa
possui maior lesividade social do que os institutos em alusão, o que denota a
existência de um tratamento legislativo desproporcional e disforme, sendo imperioso
sanar tal disparidade. Nesse contexto, a presente produção acadêmica sugere a
tipificação da conduta de organização criminosa, ou seja, torná-lo um delito
autônomo.
Frise-se que para tipificação da organização criminosa não se pode olvidar
que o tema desperta cada vez mais atenção da sociedade, dando margem aos
apelos midiáticos que agravam o sentimento de insegurança no seio social e
fomentam a produção de leis penais de emergência. Nesse passo, para o alcance
de uma tipologia penal adequada e uma resposta penal proporcional, requer o
máximo de cautela, análise, investimento em estudos aprofundados e a aplicação de
boa técnica legislativa, sob pena de incorrer-se em mais uma impropriedade
legislativa, o que indubitavelmente, não é o objetivo deste debate que prima pela
compreensão aprofundada e consistente deste fenômeno social.
CRIMINAL ORGANIZATIONS CONTEMPORANY:
conceptual issues and criminal typology
25
ABSTRACT
The globalizing model marked by the insertion of new technologies and by the relativization of territorial borders promotes the expansion of the power of contemporary criminal organizations, a real social phenomenon that affects the structures of national states. In this scenario, the criminal law shows up as relevant pivot of confrontation. In Brazil, organized crime is an extremely detrimental reality to the social bosom that taking advantages of the state hiatus, assumes a paternalistic position. Therefore the present academic research analyzes the relevant aspects of criminal organizations nowadays and its criminal justice treatment under the bias of the complex conceptualization, legal definition and criminal typification. Here comes the next question: is possible to reach a satisfactory and unambiguous concept? And another, typify the conduct of criminal organization is an appropriate and necessary response criminal?Thus, it was analyzed the historical and the current face of organized crime, investigated doctrinal concepts and legal definitions, as well as related institutes and law projects, aiming primarily, an appropriate classification for this phenomenon. The methodology used was theoretical-descriptive, guided by an analysis of bibliographic, legislative and judicial heap. It’s conclude: Despite the expansion of criminal organizations be an uncontested reality, in Brazil does not exists the crime of criminal organization, i.e., no culmination of penalty, in which there is a pressing need to make it an autonomous delict.
KEYWORDS: Organized crime. Criminal organization. Social phenomenon. Legal definition. Typification.
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