cidades contemporaneas

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CIDADES CONTEMPORÂNEAS E POLÍTICAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÕES Sociedade da informação.pmd 14/8/2007, 10:24 1

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Cidades contemporaneas

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  • CIDADES CONTEMPORNEAS E POLTICASDE INFORMAO E COMUNICAES

    Sociedade da informao.pmd 14/8/2007, 10:241

  • Universidade Federal da Bahia

    ReitorNaomar Monteiro de Almeida Filho

    Vice-ReitorFrancisco Mesquita

    Editora da Universidade Federal da Bahia

    DiretoraFlvia Goullart Mota Garcia Rosa

    Conselho Editorial

    Titularesngelo Szaniecki Perret Serpa

    Carmen Fontes TeixeiraDante Eustachio Lucchesi Ramacciotti

    Fernando da Rocha PeresMaria Vidal de Negreiros Camargo

    Srgio Coelho Borges Farias

    SuplentesBouzid Izerrougene

    Cleise Furtado MendesJos Fernandes Silva Andrade

    Nancy Elizabeth OdonneOlival Freire JniorSlvia Lcia Ferreira

    Com o apoio de:CNPq (bolsas e auxlio para a realizao das pesquisas)

    Fapesb (bolsa e auxlio para publicao)Capes (auxlio para a realizao das pesquisas)

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  • Othon Jambeiro, Helena Pereira da Silva e Jussara Borges

    Organizadores

    CIDADES CONTEMPORNEAS E POLTICASDE INFORMAO E COMUNICAES

    Salvador, 2007

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  • 2007 by autores

    Direitos para esta edio cedidos Edufba. Feito o depsito legal.

    Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida, sejam quais forem os meios empregados,a no ser com a permisso escrita do autor e das editoras, conforme a Lei n 9610,

    de 19 de fevereiro de 1998.

    CapaGabriela Nascimento

    Projeto Grfico e Arte FinalGabriela Nascimento

    RevisoFlavia Rosa

    Editora da UFBARua Baro de Jeremoabo,s/n Campus de Ondina

    40170-290 Salvador BATel: +55 71 3263-6164Fax: +55 71 3263-6160www.edufba.ufba.br

    [email protected]

    C568 Cidades contemporneas e polticas de informao e comunicaes /Othon Jambeiro, Helena Pereira da Silva e Jussara Borges, organizadores ;[autores: Ana Paula Ribeiro, Cassiano Simes, Cinthia Gabrielli Gil ... [et al.]. -Salvador : Edufba, 2007.398 p.

    ISBN 978-85-232-0467-9

    1. Tecnologia da informao - Polticas pblicas. 2. Incluso digital.3. Comunicaes digitais. 4. Sociedade da informao. I. Jambeiro, Othon.II. Silva, Helena Pereira da. III. Borges, Jussara.

    CDD - 303.4833CDU - 303.064

    Biblioteca Central Reitor Macdo Costa - UFBA

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  • SUMRIO

    APRESENTAO

    POLTICAS E ESTRATGIAS DO PODER PBLICO

    Cidades e Tecnologias de Informao e Comunicaes:Comparando as Polticas de Salvador e So PauloOthon Jambeiro

    Dilemas Urbanos: Municipalidades ePolticas de Informao e ComunicaesAna Paula Ribeiro, Cinthia Gil, Rosivane Sena,Marcelo Reis da Paixo, Susane Barros, Othon Jambeiro

    Acessibilidade, Navegabilidade e Contedos em Portais eWebsites de e-Gov: Comparando Salvador e outras capitais brasileirasRicardo Sodr Andrade, Jussara Borges, Othon Jambeiro

    Polticas e Gesto da Informao Pblica:o Caso da Prefeitura de SalvadorRosane Sobreira, Jussara Borges, Othon Jambeiro

    Salvador e Austin como Cidades Criativas: PlanosEstratgicos e os Fatores Tecnologia, Talento e Tolerncia.Fbio Ferreira

    Cidade, Tecnologia e Deliberao Civil: a Arquitetura daInformao Poltica e o Design do Estado ContemporneoLeandro Souza

    INCLUSO DIGITAL

    Informao de Governo Eletrnico em Prticas de Incluso DigitalHelena Pereira da Silva, Jussara Borges, Ana Paula Ribeiro, Elaine Sampaio

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  • Digitalizando a Incluso Social:o Caso do Liceu de Artes e Ofcios da BahiaSusane Barros, Ricardo Sodr Andrade, Flvia Ferreira, LucyanaNascimento, Fbio Ferreira, Cassiano Simes, Helena Pereira daSilva, Othon Jambeiro

    Acesso s Informaes Polticas e Servios Pblicos On-Line:uma Anlise de Programas de Incluso Digital da Cidade de SalvadorLeandro Souza, Jussara Borges

    Comparando Iniciativas Governamentais e no-Governamentaisde Incluso Digital nos Estados Unidos e no BrasilFbio Ferreira, Jeremiah Spence, Joseph Straubhaar

    INFORMAO, CULTURA E COMUNICAES EM SALVADOR:ESTUDOS SETORIAIS

    Produo e Comercializao do Livro naSociedade da Informao: o Caso de SalvadorSusane Barros, Jussara Borges, Othon Jambeiro

    Servios de Informao e Comunicao Via Telefone Celular:Qualificao da Oferta e Indicaes de Consumo por Adolescentes,em SalvadorSara Torres, Jussara Borges, Othon Jambeiro

    A Configurao da Indstria Fonogrfica de Salvadore sua Insero no Mercado NacionalFlvia Ferreira, Jussara Borges, Othon Jambeiro

    A Indstria de Software em Salvador/BaJoo Tiago Santos, Jussara Borges, Othon Jambeiro

    Digitalizando Nossa Memria:O Presente e o Passado Tm Futuro?Ricardo Sodr Andrade, Jussara Borges, Othon Jambeiro

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  • O Digital e o Virtual nas Emissoras de Rdio de SalvadorEduardo Ross, Stella Dourado, Susane Barros, Othon Jambeiro

    SOBRE OS AUTORES

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    . 395

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  • Cidades contemporneas e polticas de informao e comunicaes .9

    APRESENTAO

    Nos anos de 1980, a expanso internacional da economia de mercado eda democracia representativa terminou por extinguir o chamado socialismoreal, que havia se estabelecido principalmente no Centro e no Leste da Europa.Em conseqncia, os grupos econmicos que vinham pressionando os governosnacionais para a desregulamentao e privatizao da indstria da informao edas comunicaes se fortaleceram e passaram a atuar mais agressivamente.Privatizao, conglomerao e transnacionalizao do negcio no setortornaram-se tendncias incontrolveis, levando a economia poltica dos serviosde informao e comunicaes a sofrer dramticas mudanas, particularmentecom relao composio do capital e controle das empresas.

    O Estado mximo, representado pelo Welfare State, guardio docrescimento econmico e redistribuidor de renda, por meio de polticas sociaisamplas, deu lugar a um ente mais prximo do Estado mnimo, voltado deforma precpua para a regulao das atividades econmicas, numa lgica decontrole mnimo da dinmica do mercado. Com isso, as polticas de informaoe comunicaes passaram a ampliar e expandir a lgica mercantil no setor e aexcluir normas e controles estatais e sociais que pareciam historicamenteconsolidados. Isso passou a ser fator fundamental para a compreenso dastransformaes institucionais, estruturais e tecnolgicas que passaram a ocorrernessa esfera. Entre elas destacam-se a quebra dos monoplios estatais e aconvergncia, crescente, das comunicaes e da informtica com a micro-eletrnica, unificadas sob o conceito de novas tecnologias da informao ecomunicaes. Em seguida, como conseqncia lgica da expanso internacionalda economia de mercado global, o setor foi envolvido no processo geral deconglomerao e internacionalizao empresarial.

    Em sntese, portanto, o campo da informao e das comunicaes evoluiupara a contemporaneidade por via de trs grandes fenmenos: a globalizaodos mercados, tanto de produtos materiais quanto de simblicos; a expanso

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  • 10. Cidades contemporneas e polticas de informao e comunicaes

    internacional do liberalismo, tanto poltico quanto econmico; e a convergnciatecnolgica e de capitais na rea das comunicaes, da informtica e da micro-eletrnica. Para muitos pases essa evoluo tornou-se um doloroso e tumultuadoprocesso de mudana em suas polticas, do qual tem resultado, quase sempre,crescentes limitaes dos poderes nacionais. Na verdade, na nova ordemeconmica mundial, na qual infra-estruturas e servios so cada vez maisintegrados, as fronteiras fsicas, econmicas e culturais esto em permanentetenso.

    A decorrente exploso mundial das comunicaes via cabo, microondas esatlites, redes de computadores e de equipamentos multimeios vem, por outrolado, ampliando possibilidades de determinadas camadas de cidados escolhereme acessarem mais informaes e servios, de melhor qualidade, com maisconforto e economia de tempo. Uma das maiores conseqncias disso aobservvel tendncia de integrao de diversos itens das polticas voltadas paraa informtica e as comunicaes, com muitos aspectos das polticas deinformao, comunicaes e cultura. A imprensa, a indstria grfica, as emissorasde rdio e TV, as bibliotecas, a Internet, a indstria eletro-eletrnica, astelecomunicaes e a informtica ficam crescentemente mais interconectadas einterdependentes, de tal forma que uma poltica de governo para uma delaspode ter significativas implicaes para as outras.

    Essas consideraes indicam a necessidade da formulao de proposiesanalticas objetivas sobre a chamada Sociedade da Informao, consistentescom o cenrio real das relaes econmicas, polticas e sociais que se estabelecem,nos contextos local, nacional e internacional. Investigaes mais aprofundadas,que integrem vises de vrios campos do conhecimento sobre as transformaesque ocorrem no mundo contemporneo, so essenciais para que se possacompreender a realidade objetiva em que as relaes entre os cidados, governose grupos de interesses locais, nacionais e internacionais, se do, nos dias dehoje. Nesta dinmica de questionamento e investigao os propsitos deampliao de conhecimento sobre processos de elaborao e implementaode polticas de informao e comunicaes devem se entrelaar com os anseiosdas sociedades pelo aprofundamento da democracia.

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  • Cidades contemporneas e polticas de informao e comunicaes .11

    Esses propsitos guardam consistncia com a constatao de que aconglomerao de empresas que atuam na infra-estrutura e nos servios deinformao e comunicaes, nos nveis nacional e internacional, vemdificultando a oferta significativa de servios diversificados, no nvel local, porempresas locais. Isto , o controle total da infra-estrutura e de parcela significativados servios, por parte daqueles conglomerados, deixa pouca margem para acriao e desenvolvimento de servios e produtos de informao, fora do eixoempresas nacionais/empresas multinacionais. Esta situao agravada pelainexistncia, nos regulamentos que expressam as polticas pblicas nacionaispara a rea, de mecanismos de estmulo e proteo da produo local e regionalde informao e comunicao, em qualquer de suas formas.

    A conseqncia mais visvel deste fenmeno o fato de que, pressionadaspela concorrncia dos conglomerados de informao e comunicaes, pequenase mdias empresas sentem-se desamparadas. Isto , falta-lhes apoio para quebusquem um alto padro operacional e de gerao e comercializao de seusprodutos, tornando-se, assim, competitivas no mercado. O mais comum, noentanto, que se mantenham num nvel de qualidade inferior, no se expandam,sirvam como meras repassadares dos produtos de seus grandes competidores,ou simplesmente morram. Livrarias, provedores de acesso e de contedo Internet, pequenos jornais so exemplos comuns deste fenmeno.

    Este livro produto de um programa de pesquisas, iniciadas em 2002,com o objetivo de investigar a organizao e o funcionamento das infra-estruturas, servios e aes de informao e comunicaes, em Salvador.Posteriormente, por fora de acordo, via Capes, com a Universidade do Texas,foram acrescentados objetivos relacionados tambm cidade de Austin, cidadeonde se situa aquela instituio. Dois dos textos so estudos comparativos dasduas cidades1.

    1 A Editora da Universidade do Texas publicar no mercado americano, este ano, como resultado final doprojeto financiado pela Capes, uma coletnea de textos sobre Salvador e Austin, de autoria depesquisadores daquela Universidade e da UFBA. Um livro com os primeiros resultados das pesquisasdeste mesmo projeto foi publicado, em 2004, pela Edufba, com o ttulo Informao e Comunicao: olocal e o global em Austin e Salvador. Est em segunda edio.

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  • 12. Cidades contemporneas e polticas de informao e comunicaes

    Os estudos aqui apresentados expressam o objetivo de construir um marcode compreenso sobre polticas de informao, cultura e comunicaes, nombito das cidades, tendo sempre no horizonte averiguar a eficcia dessaspolticas na expanso e aprofundamento da democracia e da cidadania. Asinvestigaes se inserem, portanto, no campo de estudo das polticas pblicas,que, por natureza, compreende aspectos polticos, sociais, econmicos,tecnolgicos e legais, suas intersees e influncias mtuas.

    A expectativa dos autores de que esses estudos se mostrem teis para acompreenso dos papis desempenhados por instituies governamentais e pordistintos grupos de interesse que com elas se relacionam buscando influenciarou direcionar polticas pblicas. O poder regulatrio dos governos, em todosos nveis, tem sofrido crescentes constrangimentos oriundos do aumento dopoder de presso desses grupos.

    A escolha do plano local como universo de pesquisa deve-se ao fato dehaver, hoje, marcada influncia das polticas de informao e comunicaes nagesto pblica das cidades e municpios, nos negcios e na vida cotidiana deseus cidados. O prprio exerccio da cidadania vem tendo muitos de seusaspectos transferidos para o mundo digital e virtual, vale dizer, para o domniodas tecnologias de informao e comunicaes.

    No seu todo, o livro analisa polticas e aes de informao e comunicaesem Salvador, no quadro conceitual e contextual da chamada Sociedade daInformao. Visou-se, principalmente, conhecer os limites e as possibilidadesde atuao de atores locais, em termos da organizao e funcionamento deinfra-estruturas e servios. Vrios dos estudos procuraram tambm verificar oque falta ou o que excede nas polticas, para tornar mais aberto e maisgarantido o desenvolvimento de pequenos e mdios negcios que exploramservios de informao.

    Boa leitura!

    Othon Jambeiro

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  • Polticas e estratgiasdo Poder Pblico

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  • Polticas e estratgias do Poder Pblico .15

    INTRODUOA cidade contempornea , por natureza, objeto de

    estudo complexo, e, em conseqncia, multidisciplinar. Aela tm se dedicado, tradicionalmente, sobretudo urbanistas,economistas, socilogos e gegrafos. Mais recentemente,contudo, ela passou a ser analisada tambm por outrosgrupos de estudiosos, entre os quais os que esto na esferacomunicacional e informacional. Geradora e receptorahistrica de fluxos de informao e comunicao, a cidade, igualmente, o espao fsico onde se concentram asempresas que exploram a infra-estrutura e os servios que,graas ao intenso desenvolvimento cientfico e tecnolgicodas comunicaes, da informtica e da indstria eletro-eletrnica, permitem e estimulam a virtualizao de vriosaspectos da vida humana, inclusive da vida urbana.

    CIDADE E TECNOLOGIA DE INFORMAOE COMUNICAO: comparando as polticas

    de Salvador e So Paulo1

    1 Trabalho apresentado originalmente no I Congresso Brasileiro de Pesquisadoresem Comunicao e Poltica, Salvador, Facom/UFBA, 2006.

    Othon Jambeiro

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  • 16. Cidades contemporneas e polticas de informao e comunicaes

    Este fenmeno, o da emergente virtualizao de vrias de suas atividades,como o trabalho on-line, o comrcio eletrnico, a educao a distncia, jogosem rede, fortaleceram certas cidades fsicas, particularmente as chamadas cidadesglobais, como Nova Iorque, Londres e Tquio, por exemplo. Castells define acidade global como o local onde se sobrepem, em camadas sucessivas e, porvezes, indissociveis, de to interdependentes o espao dos lugares e o espaodos fluxos de informao. Estruturadas como plos de desenvolvimentoeconmico, social e cultural, nelas esto os ns das diversas redes que transmiteminformao ou propiciam comunicaes.

    Na verdade, a partir da dcada de 1980, e mais marcadamente na dcadade 1990, vertiginosas inovaes cientficas e tecnolgicas e grandes volumes derecursos financeiros convergiram para a criao de redes interativas decomputadores, que canalizam novos padres de sociabilidade, expresso cultural,participao poltica e operaes econmicas e financeiras.

    Este trabalho expressa os resultados de uma pesquisa que investigou aspolticas relativas infra-estrutura e servios de informao e comunicaes, emduas das capitais dos estados brasileiros Salvador e So Paulo seus conflitos econvergncias com os regulamentos nacionais do setor e suas aes para, pelo usodas novas tecnologias, afirmarem-se como espaos de exerccio de cidadania.

    O problema de pesquisa evoluiu da constatao de que h pelo menosno Brasil pouco conhecimento acumulado a respeito da relao do nvellocal, a cidade, com os nveis nacional e internacional de regulao e controlede infra-estrutura e servios do setor. Disto resultam questes/problemas decrucial importncia na contemporaneidade, das quais este trabalho utiliza uma:o que expressam a legislao, os programas de governo, os estudos tcnicos, osplanos de desenvolvimento das cidades sobre as cruciais questes relativas infra-estrutura e aos servios de informao e comunicaes?

    O universo da pesquisa definido como constitudo de municpios, comcidades que se caracterizam como produtoras e consumidoras de servios deinformao e comunicaes, centros de poder poltico, econmico e cultural,com aspiraes de reconhecimento como centros urbanos, de porte nacional ouregional, com alto grau de autonomia. A pesquisa como um todo estabeleceu,

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  • Polticas e estratgias do Poder Pblico .17

    como seu universo, as capitais dos estados brasileiros. Na etapa inicial a que serefere este texto foram selecionadas duas delas, Salvador e So Paulo.

    As razes que levaram escolha destas cidades foram: Salvador, porque a sede do Grupo de Estudos de Polticas de Informao, Cultura eComunicaes (Gepicc), da Universidade Federal da Bahia, que vem realizandodiversos estudos sobre aquela cidade2. So Paulo porque, alm de ser a maiorcidade brasileira e a terceira maior do mundo, iniciou em 2006 a execuo deseu Plano Plurianual 2006-2009, aprovado pela Cmara de Vereadores emdezembro de 2005.

    Para atingir o objetivo da pesquisa foram analisados os seguintesdocumentos: a Constituio Federal, o Estatuto da Cidade (Lei Federaln. 10.257, de 10.07.2001), as constituies do Estado da Bahia e do Estadode So Paulo, as leis orgnicas de Salvador e So Paulo, e os respectivos planosde desenvolvimento municipais.

    Em termos conceituais, a investigao opera na perspectiva terica darelao entre cidades, cidadania, informao e comunicaes. As instituiespolticas e sociais do municpio so focadas como loci primrios de prticademocrtica e, como tais, formadoras de cidados. Informao e comunicaesso consideradas fatores-chave para o exerccio da cidadania e, conseqentemente,ampliao e aprofundamento da democracia.

    O trabalho argi que a anlise do desenvolvimento da chamada Sociedadeda Informao, num determinado estado-nao3, torna necessrio examinar os

    2 Ver, entre outros: Jambeiro, Othon; Borges, J.; Barros, S. Polticas Pblicas para o Livro e a Leiturae Sua Influncia na Indstria Editorial de Salvador. LIINC em Revista, v. 2, p. 178-191, 2006; Jambeiro,Othon; Borges, J.; Torres, S. Servios de Informao e Comunicaes Via Telefone Celular: Qualificaoda Oferta e Indicaes de Consumo por Adolescentes, em Salvador. Eptic On Line, v. VIII, n. 3, p. 7-26, 2006. Jambeiro, Othon; Borges, J.; Santos, J.T.J. Infra-estrutura da Sociedade da Informao: aIndstria de Software em Salvador-BA. Datagramazero, Rio de Janeiro, v. 7, n. 1, 2006. Jambeiro,Othon; Borges, J.; Andrade, R.S. Digitalizando a Memria de Salvador: Nossos Passado e Presente TmFuturo? Perspectivas em Cincia da Informao, v. 11, p. 243-254, 2006. Jambeiro, Othon e Serra,Sonia. Infra-Estrutura e Servios de Informao e Comunicaes: uma Abordagem dos Provedores deAcesso e Contedo em Salvador, Bahia. Othon Jambeiro e Joseph Straubhaar (Org.) Informao eComunicao O Local e o Global em Austin e Salvador. Salvador, Edufba, 2004.

    3 Adota-se aqui o conceito de Keane (1991:142) para quem o Estado-nao, centralizado e soberano, uma comunidade nacional de sentimentos, garantida por uma fora militar e interesses econmicosprprios, independente de qualquer autoridade externa e capaz de governar o territrio e a populaosob seu domnio.

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  • 18. Cidades contemporneas e polticas de informao e comunicaes

    recortes locais do fenmeno. Isto , necessita-se compreender se e como oscomplexos urbanos proagem ou reagem a ele, em termos poltico-ideolgicos,munindo-se ou no de polticas que preservem sua soberania e sua capacidadede beneficiar-se, com suficiente autonomia, do desenvolvimento da sociedademundial, no caso particular, do desenvolvimento cientfico e tecnolgico narea de informao e comunicaes. necessrio, igualmente, saber se tmproposies objetivas nesta rea, consistentes com o cenrio real de suas relaeseconmicas, polticas e culturais com o mundo, no novo contexto internacional.

    No que se refere aos objetivos, o estudo buscou identificar: (1) os poderesatribudos aos municpios e as limitaes ao exerccio desses poderes - no quese refere regulao, concesso, controle, fiscalizao e execuo de infra-estruturas e servios de informaes digitais e comunicaes (Iesics); (2) aexistncia e a consistncia de aes, atitudes e proposies que possam sercaracterizadas como tentativas de, pelo uso dessas infra-estruturas e servios,afirmarem-se como espaos de exerccio da cidadania e da democracia.

    O trabalho analisa o contexto das cidades, sobretudo os impactos sobreelas do desenvolvimento cientfico e tecnolgico na rea em estudo e, emseguida, o material emprico coletado. As disposies que atribuem, retiram,condicionam ou limitam os poderes da cidade para lidar com infra-estrutura eservios de comunicaes so identificadas em cada um dos documentos legais.Os planos de desenvolvimento dos municpios, relacionadas s Iesics, soanalisados sob o prisma de seis aspectos: (1) papis atribudos infra-estruturae aos servios vinculados s Tecnologias de Informao e Comunicaes (TICs)no desenvolvimento do municpio; (2) papis destinados ao poder pblico eao mercado, no que se refere ao provimento desses servios; (3) postura frentes condies econmicas que dificultam ou impedem a adoo dessas tecnologiaspelas camadas mais pobres da populao; (4) aes voltadas para a eficincia etransparncia de gesto; (5) capacitao de cidados; e (6) ampliao de poderesfrente aos Estados e Unio.

    As concluses desta primeira etapa Salvador e So Paulo sugerem queas leis orgnicas das capitais brasileiras estudadas so generalistas e inobjetivasno que se refere ao tema. No poderiam, contudo, ser diferentes, j que foramelaboradas no final dos anos 80 e incio dos 90, quando no se previa o tremendo

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  • Polticas e estratgias do Poder Pblico .19

    desenvolvimento cientfico e tecnolgico que viria a ocorrer na rea das TICs eseu impacto na vida das cidades. No entanto, no que se refere aos planos dedesenvolvimento, as duas cidades atribuem infra-estrutura e aos servios deinformao e comunicaes papis relevantes, inclusive nos seus processos dedesenvolvimento econmico, poltico, institucional e social. Em So Paulo,alm disso, h pelo menos um registro de ao contestatria ao poder da Unio,a quem atribuda a competncia exclusiva de regular os servios detelecomunicaes: o municpio aprovou lei que regula, no seu territrio, aradiodifuso comunitria.

    As bases contextuais e conceituais a seguir postas, sobre as quais se propedesenvolver a pesquisa, buscam estabelecer balizas que delimitem o trabalho,no intuito de assegurar a objetividade da investigao e a acuidade de seusresultados.

    URBES CONTEMPORNEASFormadas a partir da concentrao espacial das atividades de governo (as

    cortes, a nobreza, as foras armadas) de religio (os sacerdotes e curandeirosetc.), as cidades consolidaram-se e expandiram-se concomitantemente com oaparecimento e crescimento da chamada burguesia urbana, responsvel pelocomrcio intra e interaglomerados urbanos e zonas rurais. Quando, sculosmais tarde, surge a industrializao, os ncleos urbanos j haviam proliferadoem todo o mundo, sempre fundados nas atividades de governo, da religio edo comrcio. Como afirma Graziano:

    A velha ordem fisiocrata, dominada pela nobreza sobre o campesinato, comeou a sedesmantelar com o florescimento das antigas cidades medievais. O nascente comrciooriginou a burguesia urbana. No sculo 18, a vitria da urbe sobre o campo seconsagrou com a industrializao capitalista (2006).

    Mitchell esclarece que os engenheiros romanos criaram lugares adequados habitao ao inventarem sofisticados suprimentos de gua e rede de esgotos.Muito mais tarde, a revoluo industrial trouxe as redes de gs e de eletricidadetransformando as cidades em espaos iluminados, com isso liberando as pessoas

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  • 20. Cidades contemporneas e polticas de informao e comunicaes

    do ciclo natural do dia e da noite. A tecnologia de aquecimento de gua e deambientes melhorou a qualidade de vida nos perodos de inverno. Mais tardeainda, condicionadores de ar refrigeraram os espaos urbanos e contiveram ocalor dentro dos veculos de transporte. Mas o mundo de lugares conectadoss veio surgir quando Graham Bell inventou o telefone (2000, p. 67).

    Sola Pool j havia apontado para alteraes substanciais na vida das cidades,com a chegada do telgrafo e do telephone:

    corporate offices moved away from the factory, which could be adequately controlledby a phone call to the hired manager; the president moved downtown, where hecould have face-to-face meetings with bankers, suppliers, and customers (1990, p.68-69). 4

    A conseqncia foi a transformao dos centros das cidades em locais parainstalao de escritrios de negcios.

    As cidades so hoje caracterizadas por enorme disparidade de dimenso,nmero de habitantes e desenvolvimento scio-econmico, entre outros fatores.So dspares em tal magnitude que o termo cidade deixou de ter unidadeconceitual. Pelo contrrio, adquire significado muito particular quando aplicadoa cada aglomerado urbano que a ele faz jus. H cidades com milhes de habitantese com menos de uma dezena de milhares; h cidades to vastas que englobaramoutras cidades, formando metrpoles ou regies metropolitanas; h cidadespobres, ricas, situadas em zonas de atividade econmica predominantementerural e outras marcadamente industriais.

    No Brasil que por muitos anos permaneceu considerado um pas depopulao predominantemente rural entre 1950 e 1970 os habitantes rurais,majoritrios em 63,8%, decaram para 44,1% (Graziano, 2006). Nos anosde 1990 a populao urbana chegou a 75,5%, sendo hoje calculada em 84%(Idem). O mesmo autor afirma, contudo, que tais dados so irreais, uma vezque as reas urbanas dos municpios so fixadas por suas respectivas cmaras devereadores, sem critrios cientificamente aceitveis. O mesmo pensa Veiga:

    4 Escritrios de corporaes mudaram-se das fbricas, que poderiam ser adequadamente controladaspor ligaes telefnicas para um gerente; o presidente mudou-se para o centro da cidade onde poderiareunir-se face-a-face com banqueiros, fornecedores e clientes

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  • Polticas e estratgias do Poder Pblico .21

    Em princpio, todo municpio brasileiro deve ter um permetro urbano e uma zonarural. Quem decide os limites do primeiro so os vereadores. As Cmaras municipaisforam encarregadas de traar os limites da sede municipal (sempre considerada umacidade) e de eventuais sedes distritais (consideradas vilas). claro que isso causamonumentais distores, bastando dizer que a maior populao rural est nomunicpio de So Paulo, enquanto at populaes indgenas de municpiosamaznicos passam a ser to urbanas quanto os habitantes de cidades metropolitanas.Pelo simples fato de terem domiclio dentro de algum dos permetros urbanosdelimitados pelas respectivas Cmaras (2006, p. 21).

    Ele ironiza a divulgada urbanizao do Brasil, dizendo que:

    como sempre muito melhor morar na sede de qualquer municpio do que em suaperiferia, desde j se pode prever que o Brasil ser o primeiro pas do mundo comgrande territrio a declarar urbana toda a sua populao. Pois, desse modo, no hcomo diferenciar os residentes do municpio de Laranjal do Jar (no Amap, com94% da populao oficialmente urbana) dos residentes de qualquer dos 200municpios metropolitanos[...](Idem, p. 22)5.

    O certo que o Brasil tem 5.6616 aglomerados considerados urbanos echamados cidades. A maior parte, por fora do crescimento econmico,ampliao dos negcios, projetos de governo e ampliao do sistema educacional,aliados ao desenvolvimento cientfico e tecnolgico, ingressaram no chamadomundo digital: segundo a Anatel, 82% das cidades brasileiras tinham telefoniafixa, em junho de 2006, e 50% j tinham acesso local Internet, em 20057.Dados da revista Tele.Sntese, contudo, advertem que em setembro de 2005,apenas 1.606 municpios do Pas geralmente os mais economicamentefavorecidos dispunham de acesso via banda larga. Uma situao que, segundoa revista, se repete tambm nas grandes metrpoles brasileiras, onde as chances

    5 Quem quiser aprofundar conhecimento nesta questo, pode consultar textos e livros de Jos Eli daVeiga, considerado um dos maiores estudiosos do assunto, no Brasil. No texto utilizado neste trabalho elecita elogiosamente uma srie de seis volumes intitulada Caracterizao e tendncias da rede urbana doBrasil (Ipea/IBGE/Nesur-IE/Unicamp, 6 volumes, Braslia, 2002), que identifica como urbanas apenas49 aglomeraes (das quais 12 metropolitanas) e mais 77 centros urbanos, que totalizavam 455 municpiosnos quais residiam 57% da populao de 2000.

    6 www.municipion-line.com.br. Acesso em: 16 out. 2006.

    7 Dados anunciados verbalmente pelo Superintendente de Universalizao da Anatel, Moiss Gonalves,em Seminrio promovido pela Tele.Sntese, em Braslia, em 07 de junho de 2006.

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  • 22. Cidades contemporneas e polticas de informao e comunicaes

    de um morador de favela ter acesso banda larga so oito vezes menores que ados cidados de mesma renda e classe social que vivem em outras regies dacidade (Cf. Tele.Sntese, 26.07.2006).

    Mesmo sem banda larga, pode-se afirmar que os habitantes de numerososmunicpios passaram a poder interagir, via acesso discado, instantnea evirtualmente, com reas deles distantes, em atividades de natureza tantoeconmica quanto cultural, poltica e social. Qualificaram-se, desta maneira,para serem parte da

    [...] estrutura de fluxos mais ou menos estveis, mantidos por agentes pblicos eprivados, que refletem no apenas as caractersticas do passado, mas tambm as novasformas de insero no mercado mundial. Esses fluxos so proporcionais rede deinfluncia que as cidades exercem sobre o seu espao imediato e pelo que deles recebem,que passa a ser um elemento de posicionamento da cidade na estrutura urbana (Egler,2006, p. 25).

    Apesar dessa importncia para praticamente todas as suas atividades, osmunicpios brasileiros interferem praticamente em quase nada que se refira aosprocessos decisrios ou regulatrios da infra-estrutura e dos servios de informaodigital e de comunicaes estabelecidos em seu territrio. Isto se deve, sobretudo, aofato de a tradio federativa do Brasil lhes reservar pouco ou nenhum poder decisrioneste campo. Excludas desses processos, as cidades no se prepararam para nelesatuar ou mesmo para negociar com os provedores de tais infra-estrutura e servios.

    verdade que os governos municipais sempre desempenharam o papelde prover a infra-estrutura e os servios pblicos para seus cidados, fosse diretaou indiretamente. Isto , infra-estrutura e servios de coleta de lixo e estradasvicinais, por exemplo, so tradicionalmente executados direta e exclusivamentepelas prefeituras. Em servios de sade e educao, elas atuam parcialmente,geralmente em servios mdicos primrios e na educao bsica; e so agentesindiretos de servios como gua, esgoto e eletricidade, embora seja de sua totalresponsabilidade a iluminao dos logradouros pblicos.

    Contudo, no que se refere infra-estrutura e servios de informao ecomunicaes, o municpio atua exclusivamente no licenciamento de obras, deposteamento (neste caso apenas quando se trata de fixao de novos postes, porque

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  • Polticas e estratgias do Poder Pblico .23

    quando j existem, geralmente para eletricidade, a empresa que os fixouoriginalmente e no a prefeitura que autoriza seu uso para outros fins) ouenterramento de cabos. Quem delineia toda a infra-estrutura e o padro de serviosde comunicaes a serem prestados no municpio so as operadoras, em conjuntocom o governo federal, diretamente ou por intermdio da Agncia Nacional deTelecomunicaes (Anatel). Normalmente, a demanda do mercado configura ainfra-estrutura e os servios de comunicaes, cabendo aos operadores estabelecerestratgias de atendimento quela demanda. No incomum tambm que asoperadoras sejam proativas e introduzam inovaes para criar novos mercados.Schmandt acredita que isto possivelmente contribui para a indiferena dos governosmunicipais quanto ao planejamento de comunicaes. Eles assumem que asoperadoras cuidaro disso e, de fato, o que normalmente acontece (1990, p.106).

    Esta apatia dos municpios, contudo, no se d exclusivamente no campodas comunicaes. Kerbauy observa que usualmente os municpios criamconselhos municipais para os quais h obrigatoriedade legal, como os de sade,educao, servio social, proteo ao menor e trabalho. Em outras reas depolticas pblicas, contudo, as iniciativas espontneas dos governos locais somais difceis de acontecer (2001).

    certo que as comunicaes passaram a ser um importante fator para aseconomias urbanas. Um municpio que dispe de um eficiente sistema decomunicaes, para uso tanto da gesto pblica quanto da iniciativa privadapode ter vantagem na competio por investimentos, na identificao e buscade recursos pblicos e mesmo no fomento de atividades econmicas, culturaise sociais entre os seus muncipes. Isto tem sido demonstrado em vriasinvestigaes sobre a vida econmica das cidades (Cf. Moss, 2000). H, contudo,quem considere os estudos realizados at aqui insuficientes para afirmativasdesta natureza. Schmandt afirma que o tipo de desenvolvimento urbano e dosnegcios influencia o aperfeioamento das comunicaes no municpio, masque no h evidncias claras de ligaes causais entre este fator e desenvolvimentoeconmico e urbano. H evidncias do contrrio, diz ele: existem indicadoresde desenvolvimento das comunicaes como resultado de tticas empregadaspara resolver problemas urbanos, como congesto de trfego. E adverte que relativamente fcil apresentar exemplos da importncia das comunicaes para

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  • 24. Cidades contemporneas e polticas de informao e comunicaes

    economias locais, mas que no h evidncias suficientes para se atribuir a elas acausa desse fenmeno (1990, p. 3-5).

    De qualquer forma, persiste a necessidade de saber se os prefeitos e seusexecutivos j perceberam que no tm nenhum controle sobre este potencial fatorde desenvolvimento, isto , no tm voz nas decises que conformam a infra-estrutura e os servios de comunicaes nos municpios que governam. o mesmoSchmandt quem pergunta: Que papel o governo municipal procura ter na discussoe planejamento do desenvolvimento local das comunicaes? Pelo menos tentaintermediar ou liderar as partes interessadas, situadas no seu territrio (organizaesde cidados, operadoras, homens de negcio, empresas cujas atividades dependemfortemente de comunicaes, como bancos), no planejamento de infra-estruturase servios de informao e comunicaes? (Schmandt, 1990).

    Outras questes que podem ser levantadas so: em que contexto os lderesmunicipais vem as infra-estruturas e servios de informao e comunicaes?No contexto econmico, social, cultural? Eles os vem como parte de estratgiasde desenvolvimento? Mas que tipo de desenvolvimento? Tm eles acompreenso de que essas infra-estruturas e servios emergiram como o maiseficiente meio de transportar, processar e gerar informao? Como o poderpblico municipal equaciona seus projetos de desenvolvimento?

    Na verdade, a maioria esmagadora deles, quando muito, tm se mantidonos mtodos tradicionais de buscar o desenvolvimento econmico e social de seusmuncipes: fortalecer os sistemas educacional e de sade, aperfeioar os servios detransporte, moradia, gua, esgoto, coleta de lixo, entre outros. Mais recentemente,muitos tm tambm se mostrado interessados na revitalizao das culturas locais,inclusive na criao de bibliotecas pblicas municipais, na modernizao da gestoadministrativa e mesmo no incremento do fluxo de informaes para os cidados.

    Ocorre que tudo isto depende, hoje e cada dia mais de tecnologias deinformao e comunicaes. No s os processos de gesto das prpriasprefeituras, mas tambm os que decorrem de compromissos, convnios eacordos com a Unio e os Estados, todos necessitam crescentemente de basear-se naquelas tecnologias. A pergunta central e recorrente, pois, como podem eo que esto fazendo os municpios para desempenhar seus papis, num novocontexto que inclui, no apenas inovaes tecnolgicas, avanados fluxos e

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  • Polticas e estratgias do Poder Pblico .25

    redes de informao e comunicaes, mas, sobretudo, forte competio porrecursos pblicos e investimentos privados.

    OS PODERES ATRIBUDOS AOS MUNICPIOSNesta seo so analisadas as constituies federal e estaduais da Bahia e

    de So Paulo, o Estatuto da Cidade (Lei Federal n. 10.257, de 10.07.2001), asleis orgnicas dos dois municpios em estudo. Busca-se nelas os fundamentos elimites da afirmao ou negao do poder dos municpios na elaborao daspolticas e nos processos de regulao, execuo e fiscalizao da infra-estruturae os servios de informao e telecomunicaes (Iesics).

    Constituio FederalA Constituio Federal define o Municpio como parte da Repblica, tal

    como o so a Unio, os Estados e o Distrito Federal, todos autnomos entresi. Esta autonomia, contudo, condicionada pela prpria Carta Magna, no seuart. 188. O problema est justamente em compatibilizar esta autonomia comdisposies constitucionais que, em muitos casos, parecem inviabiliz-la,particularmente no contexto da chamada Sociedade da Informao.

    Ainda que posteriormente modificada em alguns aspectos, a Constituiofoi concluda em 1988, num momento histrico em que o Brasil estava ausenteda revoluo informao e das comunicaes, que j comeara nos EstadosUnidos e em alguns pases da Europa, e que estabeleceu novos paradigmaseconmicos, sociais, culturais e tecnolgicos. Neste ltimo aspecto, porexemplo, a convergncia passou a ser dominante, tornando certas disposiesconstitucionais bastante distanciadas da realidade. Por exemplo, ela trata detelecomunicaes e informtica separadamente, ignorando a chamada telemticae nada diz sobre a rede mundial de computadores, nem sobre a nova configuraoda indstria de informao.

    8 Art. 18 A organizao poltico-administrativa da Repblica Federativa do Brasil compreende aUnio, os Estados, o Distrito Federal e os Municpio, todos autnomos, nos termos desta Constituio(destaque do autor).

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    O art. 21 afirma que compete Unio explorar, diretamente ou medianteautorizao, concesso ou permisso, os servios de telecomunicaes, aincludos os servios de rdio e TV. Da mesma forma, estabelece que competeprivativamente Unio legislar sobre informtica, telecomunicaes eradiodifuso (art. 22).

    Logo em seguida, no art. 23, afirma que competncia comum da Unio,dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios proporcionar os meios deacesso cultura, educao e cincia, o que remete, nos dias de hoje, Web.E estabelece, num pargrafo, que uma lei complementar nunca feita fixaras normas para esta cooperao. No art. 30, dispe que competncia dosmunicpios legislar sobre assuntos de interesse local, assim como suplementara legislao federal e a estadual no que couber e organizar e prestar, diretamenteou sob regime de concesso ou permisso, os servios pblicos de interesselocal. Mas a interpretao corrente nos tribunais de que da est excludotudo o que for competncia exclusiva da Unio, como o caso das comunicaes.

    Corroborando a disposio constitucional de autonomia entre osparticipantes da federao brasileira sendo o municpio uma delas o art.241 diz que eles devem disciplinar,

    por meio de lei, os consrcios pblicos e os convnios de cooperao entre os entesfederados, autorizando a gesto associada de servios pblicos, bem como atransferncia total ou parcial de encargos, servios, pessoal e bens essenciais continuidade dos servios transferidos.

    Tambm, neste caso, interpreta-se como excludas competncias exclusivasda Unio e dos Estados.

    O art. 156, que autoriza o municpio a instituir impostos sobre servios,em seu territrio, exclui, explicitamente, dessa autorizao, os servios detelecomunicaes, atribuidos, pelo art. 155, aos Estados e ao Distrito Federal.Estes dois entes federados que podem instituir e cobrar impostos sobre essetipo de servio, repassando ao municpio onde prestado apenas 25% doarrecadado (art. 158).

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  • Polticas e estratgias do Poder Pblico .27

    Estatuto da CidadeCriado pela Lei Federal n. 10.257, de 10.07.2001, o Estatuto da Cidade

    regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituio Federal, que constituem oCaptulo II Da Poltica Urbana. Ele d cidade plenos poderes para elaborare executar seu plano diretor de desenvolvimento, tendo como diretrizes garantiraos cidados, entre outras coisas, participao na formulao, execuo eacompanhamento de planos, programas e projetos, e a oferta de serviospblicos adequados aos interesses e necessidades da populao e s caractersticaslocais. O plano tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funessociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes (art. 182).

    O art. 36 estabelece que:

    Lei municipal definir os empreendimentos e atividades privados ou pblicos emrea urbana, que dependero de elaborao de estudo prvio de impacto devizinhana (EIV) para obter as licenas ou autorizaes de construo, ampliao oufuncionamento, a cargo do Poder Pblico municipal.

    E o art. 37 afirma que o EIV ser executado de forma a contemplar osefeitos positivos e negativos do empreendimento ou atividade quanto qualidade de vida da populao residente na rea e suas proximidades.

    Constituies Estaduais

    CONSTITUIO DO ESTADO DA BAHIA

    A Constituio do Estado da Bahia, por seu turno, aprovada em 1989,define o municpio como unidade integrante da federao, dotado de autonomiapoltica, administrativa e financeira e regido por sua lei orgnica e demais leisque adotar, observado o disposto na Constituio Federal e nesta Constituio(art. 55). Aos condicionamentos da Constituio Federal ela acrescenta umoutro, disposto no art. 59, onde se estabelece, entre as competncias domunicpio, a de organizar e prestar os servios pblicos de interesse local,assim considerados aqueles cuja execuo tenha incio e concluso no seulimite territorial (destaque do autor). Trata-se de um conceito temporal e

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  • 28. Cidades contemporneas e polticas de informao e comunicaes

    espacial que se tornou problemtico, em funo das tecnologias de informaoe comunicaes implementadas no Brasil nos anos 90.

    No que se refere a impostos, o art. 151 diz que cabe ao Estado e no aoMunicpio instituir impostos sobre: I [...]; II [...] prestao de servios [...] decomunicao, ainda que [...] as prestaes se iniciem no exterior. Destes impostos,institudos e, conseqentemente, recolhidos pelo Estado, so repassados aoMunicpio onde o servio foi prestado 25% apenas do que for l recolhido.

    O Captulo referente Comunicao tem um artigo, o 277, quedetermina ao Estado e ao Municpio garantirem o pleno direito comunicaoe informao [...]. E seu pargrafo primeiro estabelece que ambosdesenvolvero canais institucionais e democrticos de comunicao, visando arelao permanente com a sociedade.

    CONSTITUIO DO ESTADO DE SO PAULO

    Aprovada em 1990, a Constituio do Estado de So Paulo no diferedas dos outros Estados, no que tange ao tratamento que d aos municpios.No inova neste tratamento nem vai alm do que j estabelece a ConstituioFederal. No artigo 144 afirma que o municpio tem autonomia poltica,legislativa, administrativa e financeira, atendidos os princpios estabelecidosna Constituio Federal e nesta Constituio. Isto , mantm-se o princpiogeral do pacto federativo, pelo qual as autonomias dos que o constituem seestabelecem a partir do poder maior, no caso a Unio. O Poder LegislativoFederal pode alterar a Constituio Federal e reduzir a autonomia dos Estadose Municpios, se assim julgar conveniente. Os Estados e Municpios no podemampliar seus poderes, por livre determinao.

    Quanto aos impostos, repete-se o que est na Constituio baiana: o art.165 determina que compete ao Estado instituir impostos sobre, entre outrascoisas, prestaes de servios de comunicao, ainda que [...] as prestaes seiniciem no exterior. Destes impostos o Estado se obriga a destinar ao municpio25% do que for nele arrecadado. Outro ditame relativo ao municpio e queinteressa a este projeto, est no Captulo II do Desenvolvimento Urbano.Nele o art. 180 afirma que o Municpio assegurar, entre outros tpicos, o

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  • Polticas e estratgias do Poder Pblico .29

    pleno desenvolvimento das funes sociais da cidade e a garantia do bem-estarde seus habitantes; a participao das respectivas entidades comunitrias noestudo, encaminhamento e soluo dos problemas, planos, programas eprojetos que lhes sejam concernentes; e a preservao, proteo e recuperaodo meio ambiente urbano e cultural.

    So, portanto, incertos e pouco claros os possveis poderes de que omunicpio dispe, no que se refere infra-estrutura e aos servios de informaoe comunicaes, mesmo quando a prestao dos servios se inicie e se concluano seu territrio, como, por exemplo, o servio de rdios comunitrias, aprestao de servio telefnico local, ou de acesso Internet. Avanar alm doestudo de impacto de vizinhana poder levar o municpio a ser qualificadolegalmente como usurpador de poderes do governo federal. Cabe perguntar:diante de tal contexto, como se colocam os municpios de Salvador e SoPaulo, respectivamente a terceira e a primeira maiores cidades brasileiras, oDistrito Federal e a cidade de Austin, Texas, nos Estados Unidos? o que sever a seguir, por meio da anlise de seus planos de desenvolvimento, que, pordefinio, devem expressar suas aspiraes, concepes e diretrizes dedesenvolvimento.

    Leis Orgnicas

    LEI ORGNICA DO MUNICPIO DE SALVADOR

    A Lei Orgnica de Salvador prev, no art. 7, como de sua competncia,o ordenamento das atividades urbanas, fixando condies e horrios parafuncionamento de estabelecimentos industriais, comerciais e de prestao deservios, cabendo-lhe, inclusive, conceder, renovar ou revogar alvar de licenapara localizao e funcionamento. Estas so competncias aparentementeexclusivas, mas que em alguns casos entram em choque com atribuies dogoverno federal, como o caso, por exemplo, do horrio de funcionamentodas agncias bancrias, no reconhecido pelo Tribunal Superior de Justia comosendo da alada do municpio e sim do Banco Central.

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  • 30. Cidades contemporneas e polticas de informao e comunicaes

    Vinculando sua poltica de desenvolvimento urbano ao atendimentodas funes sociais da cidade e da propriedade e ao bem-estar de seus habitantes,a Lei determina ao municpio a prestao de servio pblico, seja diretamenteou sob regime de concesso. No define, contudo, quais servios pblicosseriam estes e se, entre eles, poderia estar algum vinculado aos servios deinformao e comunicaes.

    LEI ORGNICA DO MUNICPIO DE SO PAULO

    Aprovada em 4 de abril de 1990, a Lei Orgnica do Municpio de SoPaulo, tal qual as das demais capitais brasileiras, tambm aprovadas no final dadcada de 1980 e incio da de 1990, mantm-se distante das questes relativas stecnologias de informao e comunicaes. Tambm como as outras, estabeleceprincpios e diretrizes gerais que podem se prestar absoro de tecnologiasavanadas, para a consecuo de seus desgnios. Seu artigo 2, por exemplo, citaentre os princpios e diretrizes de So Paulo: a prtica democrtica; a soberania ea participao popular; a transparncia e o controle popular na ao do governo;o exerccio pleno da autonomia municipal; e a garantia de acesso, a todos, demodo justo e igual, sem distino de origem, raa, sexo, orientao sexual, cor,idade, condio econmica, religio, ou qualquer outra discriminao, aos bens,servios, e condies de vida indispensveis a uma existncia digna.

    A Cmara de Vereadores reserva-se, entre outras, as competncias de: legislarsobre assuntos de interesse local, inclusive de suplementar a legislao federal eestadual, no que couber; autorizar a concesso de servios pblicos; aprovar asdiretrizes gerais de desenvolvimento urbano, o Plano Diretor, a legislao decontrole de uso, de parcelamento e de ocupao do solo urbano; aprovar oCdigo de Obras e Edificaes.

    A lei estabelece tambm, como obrigao do municpio, promover amodernizao da administrao pblica, buscando assimilar as inovaestecnolgicas, com adequado recrutamento e desenvolvimento dos recursoshumanos necessrios.

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  • Polticas e estratgias do Poder Pblico .31

    Anlise e DiscussoParece claro que as constituies federal e estaduais aqui estudadas atribuem

    ao Municpio pouca representao nos processos decisrios do Brasil. Entesubordinado, situado no ltimo nvel de poder da federao em que se constituio pas, ele depende assim como de alguma forma tambm o Estado, mas emmuito maior grau do Congresso Nacional, no que toca delimitao dosseus poderes.

    Do ponto inicial que a Constituio de 1988, as constituies estaduaisapenas repetem os dispositivos daquela, acrescentando s vezes algumas frasessomente para aperfeioar ou mesmo restringir o poder municipal. o caso,por exemplo, da Constituio da Bahia, que definiu a competncia doMunicpio, no que se refere organizao e prestao de servios pblicos deinteresse local, restringindo esses servios queles cuja execuo tenha incio econcluso no seu limite territorial. Restrio que altera, notoriamente, o espritodo dispositivo, tal qual foi elaborado pelos constituintes federais. No basta,nos municpios baianos, que o servio pblico em questo seja de interesselocal. necessrio que ele se esgote, do incio ao fim, no territrio municipal.

    Na verdade, as constituies, tanto a federal quanto as estaduais aqui emestudo, fortaleceram o poder da Unio e dos Estados. possvel inclusiveafirmar-se que a enorme desproporo de poder e recursos de toda naturezaentre estes ltimos e os municpios tende a eternizar a histrica distoroconstitucional brasileira, no tocante ao equilbrio de poderes no pacto federativo.

    fato pblico que se formou no pas um preconceito institucional contraos municpios, o que tem levado no existncia generalizada de um enfoquemunicipal nos planos, estratgias e projetos de desenvolvimento, tanto no nvelfederal quanto nos estaduais. Fala-se muito mais em planos regionais, abrangentes,muitas vezes retirando poderes dos municpios e concentrando-os ainda maisnos Estados, que chamam para si as atribuies de gesto desses planos.

    Mesmo no campo moral, no qual nem a Unio nem os Estados transitamcom tranqilidade, desenvolveu-se um certo preconceito contra os municpios.A rigor, o estigma da corrupo, embora parea estar entranhado naadministrao pblica brasileira como um todo, muito mais atirado contraas municipalidades. O fato de serem mais de 5.500, contra apenas 27 estados

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  • 32. Cidades contemporneas e polticas de informao e comunicaes

    e 01 governo federal, certamente contribui para que apaream mais os casos decorrupo entre eles do que nos outros nveis de governo.

    Afirme-se tambm que no s desproporcional o equilbrio de poderentre os trs entes que formam a federao brasileira, na qual notoriamente oMunicpio o mais prejudicado, como na prtica mesmo esta poucaproporcionalidade no se efetiva. De maneira geral, as prefeituras municipaisbrasileiras, devido crnica falta de receita, atm-se a servios rotineiros eburocrticos, pouco atuando em obras infra-estruturais e aes de maior monta,que tenham repercusso transformadora na vida dos seus cidados. O statusconstitucional do governo local definido muito mais pelas competncias queso comuns a eles, aos estados e Unio, do que por aquelas que lhes soprivativas. Estas ltimas sobrevivem, ou se efetivam, apenas enquanto noameaam os poderes dos demais nveis de governo.

    ASPIRAES E PROPOSIES DE AO DOS MUNICPIOSNesta seco busca-se conhecer como os municpios em estudo procuram

    ocupar espaos de poder, no que se refere infra-estrutura e servios deinformao e comunicaes, no seu mbito territorial. Esta busca significa, naprtica, analisar seus planos de desenvolvimento e verificar o que propemneste setor, se mencionam a relao desses planos com os outros nveis degoverno, como vem esta relao, e que atitudes se dispem a tomar na direode um relacionamento eficaz com as empresas operadoras desses servios.

    Os dados so analisados sob o ponto de vista de seis aspectos relativos infra-estrutura e servios de informao e comunicaes (Iesics): (1) papisatribudos s Iesics no desenvolvimento do municpio; (2) papis destinadosao poder pblico e ao mercado, no que se refere oferta desses servios; (3)postura frente ao acesso dos pobres s Iesics; (4) aes para eficinciaadministrativa e transparncia de gesto; (5) capacitao de cidados; e (6)ampliao de poderes frente aos Estados e Unio.

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  • Polticas e estratgias do Poder Pblico .33

    Planos Diretores de Desenvolvimento

    O PLANO DIRETOR DE DESENVOLVIMENTO URBANO (PDDU) DE SALVADOR

    O PDDU de Salvador explcito no tocante compreenso dos papisque o municpio de Salvador atribui ao fator Iesics e como o vincula ao seudesenvolvimento e ao bem-estar de seus habitantes. Ele admite, inclusive,prenunciando algum tipo de usurpao de poder federal, que, confrontadocotidianamente pelos efeitos resultantes da falta de resposta da economia nacionals suas demandas, a cidade no tem como excluir de sua atuao setores nonecessariamente de sua alada.

    Reconhece, igualmente, que h bloqueios ao desenvolvimento do campodas telecomunicaes, particularizando (juntamente com o campo da energia)descompassos entre a indexao das tarifas e a capacidade de pagamento dapopulao. E considera como fator negativo a mudana de centros de decisodeste setor para outras regies do pas.

    Prev para as telecomunicaes uma taxa de crescimento, at 2010, de6,48, acreditando que os concessionrios realizaro os investimentos vultososde que o municpio necessita para a superao do atraso tecnolgico em que seencontra. Entre as propostas do Plano esto as de dotar os centros de serviosempresariais com redes de infra-estrutura (transportes e telecomunicaes) egarantir, aos empreendedores e s empresas locais, o fcil acesso aos mercadosglobais.

    No item Comunicao e Entretenimento a idia investir numa infra-estrutura de capacitao e treinamento local, voltada para a aplicao detecnologias da informao nos processos de criao, produo e distribuio,formando diretores e artistas capacitados nas reas digitais; e incentivar aorganizao das empresas de sonorizao, de FM e produo de eventos,especialmente dos segmentos de arte cnica e produo de espetculos, eventose mega-eventos, como o Carnaval.

    J no item Infra-Estrutura de Telecomunicaes, o PDDU estabelececomo primeira Diretriz, elevar os padres quantitativos de oferta e prosseguirnas implementaes dos programas de expanso e modernizao dos sistemas.

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  • 34. Cidades contemporneas e polticas de informao e comunicaes

    Para tanto, equaciona diversas aes, entre as quais: instalao de boxes de multi-servios, compostos de terminais telefnicos, terminal de computador comacesso Internet, terminal de acesso TV a cabo etc.; implantao de estaesprprias, com torres e antenas para as conexes de terminais de acesso dosusurios e de entroncamento entre as redes existentes; implementao do Planode Expanso que visa o incremento de 10.235 mil acessos, passando de 1.350mil, em 1999, para 11.585 mil, em 2015 ; estabelecimento de planos deoferta de acessos de comunicao de dados de mdia e alta capacidade detransmisso; expanso das redes de acessos aos terminais dos usurios;distribuio geogrfica da expanso dos acessos de telecomunicaes pelosdiversos bairros da cidade; e expanso da rede de TV a cabo, aproveitando acapilaridade da rede tica existente, permitindo a implementao de novosservios de acesso rede Internet.

    A segunda Diretriz prope o estabelecimento de condicionantes tcnicos,com o objetivo de disciplinar a implantao de redes, estaes, antenas, dentreoutros equipamentos, referentes aos diversos sistemas de telecomunicaes,mediante instrumentos legais e normas internacionais/nacionais, com aparticipao da Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT), Anatel,empresas do sistema, universidades, Governo do Estado, Municpio, e outrosagentes interessados. As aes que o municpio pretende desenvolver nestesentido abrangem: a definio de instrumentos legais disciplinadores daimplantao dos diferentes sistemas de telecomunicaes e o estabelecimentode normas e parmetros de fiscalizao dos processos de implantao eoperacionalizao dos sistemas de telecomunicaes.

    O Art. 152 do PDDU estabelece que, na articulao com a Unio e oEstado, visando implantao de suas diretrizes e proposies, Salvadorprocurar contribuir para a descentralizao do exerccio das competncias pelostrs nveis de governo, na perspectiva de um equilbrio orgnico na proviso deencargos e recursos, poder decisrio e de execuo, com nfase na colaboraoe na contribuio subsidiria e governamental. Alm disso, estimular acooperao recproca com outros municpios, na prestao de servios e nodesenvolvimento regional e local, mediante a utilizao de consrcios e aconstituio de associaes.

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    Numa proposio que leva necessariamente evoluo do chamado e-governo j exercitado pela Prefeitura e Cmara de Vereadores o art. 155 dizque o Municpio estabelecer sistemas descentralizados de atendimento aoscidados no provimento de informaes de interesse destes, no recebimentodos pagamentos referentes a tributos e taxas, na expedio de certides, norecebimento e encaminhamento de denncias e reclamaes quanto aos serviospblicos e de utilidade pblica. Um dos tens do mesmo artigo, inclusive,indica que um dos meios a serem utilizados para tanto ser a Internet.

    O PLANO DIRETOR ESTRATGICO E O PLANO PLURIANUAL DO MUNICPIODE SO PAULO

    PLANO DIRETOR

    Aprovado em setembro de 2002, por meio da Lei n. 13.430, e atualizadoem 2005, o Plano Diretor Estratgico da cidade de So Paulo destaca, nocaptulo que trata da Poltica Urbana, como uma de suas funes sociais, proverinfra-estrutura bsica e de comunicao (Art. 9. Pargrafo nico, V). Novameno questo tecnolgica aparece no Art. 15, que apresenta as diretrizes doDesenvolvimento Econmico e Social. O item VII estabelece como uma delasa atrao de investimentos produtivos nos setores de alto valor agregado,gerando condies para a criao de um parque tecnolgico avanado.

    O Plano prev, no seu Art. 32, entre as aes estratgicas no campo daEducao, para todos os nveis de ensino, a incorporao de novas tecnologiasde informao e comunicao ao processo educativo. No que se refere s aesestratgicas no campo de Esportes, Lazer e Recreao, previstas no Art. 44,projeta-se informatizar as unidades esportivas municipais (item VI).

    Onde o Plano aborda com mais objetividade as questes tecnolgicas na parte que se refere infra-estrutura e servios de utilidade pblica. Entreseus objetivos nesta rea (Art. 94), esto os de coordenar e monitorar a utilizaodo subsolo pelas concessionrias de servios pblicos; incentivar a pesquisa e odesenvolvimento de novas tecnologias, buscando otimizar o uso dos recursosdos sistemas de infra-estrutura urbana e dos servios de utilidade pblica,garantindo um ambiente equilibrado e sustentvel; promover a gesto integrada

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  • 36. Cidades contemporneas e polticas de informao e comunicaes

    da infra-estrutura e o uso racional do subsolo e do espao areo urbano,garantindo o compartilhamento das redes no emissoras de radiao,coordenando aes com concessionrios e prestadores de servios, e assegurandoa preservao das condies ambientais urbanas; estabelecer mecanismos degesto entre Municpio, Estado e Unio para servios de interesse comum, taiscomo abastecimento de gua, tratamento de esgotos, destinao final de lixo,energia e telefonia; coordenar o cadastramento das redes de gua, esgoto,telefone, energia eltrica, cabos e demais redes que utilizam o subsolo, mantendobanco de dados atualizado sobre as mesmas.

    O artigo seguinte (Art. 95) traa as diretrizes relativas aos objetivos fixadosno Art. 94, destacando-se entre elas: a garantia da universalizao do acesso infra-estrutura urbana e aos servios de utilidade pblica; a implantao pormeio de galerias tcnicas de equipamentos de infra-estrutura de servios pblicosou privados nas vias pblicas, includos seus subsolo e espao areo, priorizandoas vias de maior concentrao de redes de infra-estrutura; a racionalizao daocupao e da utilizao da infra-estrutura instalada e por instalar, garantindo ocompartilhamento e evitando a duplicao de equipamentos; o estabelecimentoe a obedincia s normas de sade pblica e ambiental, com base no princpioda precauo, exigindo laudos tcnicos, quanto aos seus efeitos na sade humanae no meio ambiente, para a implantao e manuteno da infra-estrutura dosservios de telecomunicaes emissores de radiao eletromagntica.

    Por fim, h um captulo inteiro dedicado ao Sistema Municipal DeInformaes (Captulo II). Dentro dele, o Art. 264 estabelece que:

    o Executivo manter atualizado, permanentemente, o sistema municipal deinformaes sociais, culturais, econmicas, financeiras, patrimoniais, administrativas,fsico-territoriais, inclusive cartogrficas e geolgicas, ambientais, imobilirias e outrasde relevante interesse para o Municpio, progressivamente georreferenciadas emmeio digital.

    Prev tambm a divulgao de dados, por todos os meios possveis,inclusive pela Internet e no Website da Prefeitura ( 1). parte integrantedeste sistema a rede municipal de telecentros, de acesso livre e pblico ( 5).

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  • Polticas e estratgias do Poder Pblico .37

    PLANO PLURIANUAL

    Aprovado pela Lei 14123, de 28.12.2005, o Plano Plurianual 2006-2009, bem mais especfico com relao infra-estrutura e servios de informao ecomunicaes e seu significado para a cidade. O Plano trabalho com os conceitosde Cidades Globais e Cidades Mundiais, e considera que as primeiras so

    centros nervosos da parte globalizada da economia mundial. Fazem parte da lgicada globalizao, que dispersa e fragmenta o processo produtivo ao redor do globo,ao mesmo tempo em que exige a concentrao das funes de comando e articulaoem alguns pontos estratgicos do planeta.

    Nesta categoria esto cidades como Londres, Nova York e Tquio. AsCidades Mundiais, por seu turno, concentram atividades ligadas indstriaintensiva em tecnologia, e a servios como telemtica, pesquisa edesenvolvimento (P&D), consultoria de negcios, gesto empresarial efinanceira e servios de transportes internacionais. nesta categoria de cidadeque o Plano coloca So Paulo.

    Argumentando que esta ltima categoria necessita de grandes projetosurbanos e no de aes de melhoramentos urbanos, o Plano defende,preliminarmente, a constituio de uma eficiente infra-estrutura detelecomunicaes. A competitividade que caracteriza a economia mundial, hoje, dada como razo maior para a atualizao tecnolgica. Neste quadro,

    a cidade de So Paulo se firmou como o centro de coordenao das multinacionaispara a Amrica Latina, em geral, e para a Amrica do Sul, em especial, suplantandoa concorrncia de Rio de Janeiro e Buenos Aires. So Paulo transformou-se numcentro urbano de importncia internacional, com estruturas produtivas densas ediversificadas, um parque manufatureiro parcialmente inovador, com grandes escalasde produo e grande dinamismo em suas relaes internacionais. O resultado dissofoi que a cidade ganhou um importante nvel de competitividade e, ao mesmotempo, expressiva capacidade de atrair novos investimentos. (So Paulo, 2005)

    Abordando So Paulo no contexto da economia mundial, o Plano observaque a nova lgica produtiva dispensa proximidades e continuidades territoriais.Ao contrrio, um atributo essencial do novo modelo produtivo a sua

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  • 38. Cidades contemporneas e polticas de informao e comunicaes

    capacidade de operar distncia. O que, combinado com a intensaconcentrao dos agentes econmicos e financeiros que conduzem o processo,d economia globalizada a capacidade de operar como uma unidade emtempo real em escala planetria. Esta caracterstica se baseia num padrotecnolgico constitudo notadamente pela informao, o processamento e acomunicao, numa lgica de redes cuja flexibilidade a garantia de umapermanente adaptao de todo o conjunto (Cf. Anexo V Detalhamento deDiretrizes e Aes, p. 8).

    Bastante atualizado, o Plano reconhece que

    a crescente internacionalizao da economia e da cultura exige um aparato urbanoconstitudo por novos elementos, tais como: possuir servios avanados que garantama possibilidade de gerar e receber informao em tempo real; possuir centros depesquisa de ponta capazes de gerar e inovar conhecimento; oferecer um amplo rolde atividades culturais de cunho local e cosmopolita (p. 9).

    Dentro disso, a capacidade de oferecer uma eficiente infra-estrutura detelecomunicaes e demonstrar capacidade de administrar com competnciapara enfrentar o conflito scio-espacial , dessa forma, decisiva (p. 10). Isto ,a consolidao e permanncia de So Paulo como Cidade Mundial dependeda existncia de uma infra-estrutura de comunicao, transportes etelecomunicaes de padro internacional (p.33).

    Cientes do alto custo de construo e manuteno de infra-estruturasbsicas, os elaboradores do plano advertem que imperioso estabelecer parceriascom o Estado, o Governo Federal e o setor privado. E reivindicam para istoque a Unio assegure a existncia de uma regulao forte e confivel, atribuioprecpua do poder central (p. 33).

    O plano aborda tambm o relacionamento da municipalidade com oscidados e o setor privado, reconhecendo que as mudanas ocorridas nos ltimostempos redesenharam essas relaes. E admitem que neste terreno os avanosdas tecnologias da informao e comunicao abriram enormes possibilidadespara a Administrao. Prope, ento que haja Sistemas de InformaesEstratgicas, capazes de: ampliar a capacidade de deciso dos gerentes municipais;assegurar a coordenao das aes governamentais; disponibilizar indicadores

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    que permitam avaliar a qualidade da gesto pblica municipal; permitir oconhecimento e o controle pblico das aes de governo. E sugere que ochamado Governo Eletrnico (e-Gov) seja um dos instrumentos para alcanartais resultados (p. 45).

    Entre outros, o trnsito indicado como um setor em que devem seraplicados recursos da informtica e telemtica para monitorar o trfego emvias de fluxo continuo, como a Marginal Tiet, com controle de acesso nasentradas, bem como o desenvolvimento de sistemas de informao e apoio aosdeslocamentos dos usurios das vias. E anuncia que j est em curso a adooda identificao automtica de veculos, que permite o controle de acesso areas saturadas, fiscalizao de infraes, localizao de veculos e orientao derotas (p. 95).

    Anlise e Discusso1. Papis atribudos s Iesics no desenvolvimento do municpio O

    PDDU de Salvador atribui s tecnologias de informao e comunicaes vriospapis: no crescimento econmico, quando se refere captao de novosempreendimentos; na revitalizao social, como forma de proporcionar bem-estar populao; no e-governo, quando estabelece, no artigo 155, que oMunicpio ter sistemas descentralizados de atendimento aos cidados, noprovimento de informaes de interesse destes, disponibilizando-as na Internet;e na qualidade de vida, quando se refere educao, lazer e recreao.

    Embora o Plano enfatize que a poltica educacional envolve no s aeducao formal, mas tambm a no-formal, s h breve meno ao estmuloa projetos da chamada Educomunicao, elegendo prioridades nos canais decomunicao pblicos, como o rdio e a televiso do sistema Irdeb Institutode Radiodifuso do Estado da Bahia (Irdeb)9. Nas proposies para as polticasculturais praticamente no so considerados esses meios, havendo referncias

    9 O Irdeb uma fundao pertencente ao Estado da Bahia, que controla uma emissora de rdio, a RdioEducadora, e uma de TV, a TV Educativa, ambas legalmente estabelecidas como radiodifuso educativae, portanto, programao no comercial.

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    apenas a salas de cinema e vdeo. Nas orientaes especficas por campos esetores para o processo de implantao do PDDU h referncia criao delinhas especficas de financiamento, beneficiando, entre os segmentos culturais,a produo cinematogrfica, videogrfica, discogrfica e rdio e televisoeducativas e culturais de carter no-comercial (Anexo a89).

    No caso de So Paulo, o Plano Plurianual d importncia vital s TICs,inclusive porque atribui quela cidade o conceito de Cidade Mundial. Isto ,uma concentrao urbana que se caracteriza por sediar e articular atividades quedependem fortemente de infra-estrutura e servios de informao ecomunicaes avanados para dar suporte ao sofisticado mundo dos negcios,gesto empresarial e financeira e transporte, com freqente carter internacional.O Plano expressa tambm uma opo do municpio por grandes projetos, aoinvs de aes de melhoramentos urbanos, atribuindo infra-estrutura detelecomunicaes papel relevante nesta opo.

    O enquadramento de So Paulo como cidade mundial, levou o PlanoPlurianual a tambm trabalhar com o conceito de competitividade, j que seatribui a posio de centro de coordenao das multinacionais para a AmricaLatina, no que concorre com Rio de Janeiro e Buenos Aires. A infra-estruturae os servios de informao e comunicaes de padro internacional passarama ser, portanto, cruciais, para que a cidade mantenha alto nvel de competitividadee expressiva capacidade de atrair novos investimentos. (So Paulo, 2005)

    Destaque-se que tanto o PDDU de Salvador quanto os planos de SoPaulo vinculam claramente as Iesics s suas estratgias de desenvolvimento:Desenvolvimento Econmico, j que prevem investimentos emtelecomunicaes, setor considerado de importncia estratgica no suporte satividades econmicas de ambas as cidades; Desenvolvimento Social, para oqual prevem integrao entre as polticas voltadas para o crescimentoeconmico e as polticas sociais, e a criao de programas e aes visando oenfrentamento de condies crticas presentes na ocupao da mo-de-obra, narenda popular e na excluso soaial; Organizao Espacial, presente na previsode expanso no atendimento das reas menos aparelhadas e com elevados ndicesde excluso e segregao; e Desenvolvimento Poltico e Institucional, constantenos programas de promoo da educao para a cidadania.

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    2. Papis atribudos ao poder pblico e ao mercado O PDDU deSalvador reconhece a necessidade de um alinhamento com as iniciativas domercado, para que mudanas ocorram e polticas sejam implementadas. Noque se refere ao estmulo diversidade no provimento de informao, o artigo70, que trata dos objetivos especficos do PDDU, afirma que Salvador manter,em condies seguras e diversificadas, ofertas de espaos para instalao deatividades econmicas que estejam de acordo com o novo ciclo na economianacional e de sua regio metropolitana, o que, embora no especifique as TICs,caracteriza uma abertura ecltica e competitiva s demandas emergentes.

    No artigo 75, que traz os contedos gerais da Poltica de Desenvolvimento, citada a continuidade dos investimentos em telecomunicaes, setor consideradode importncia estratgica no suporte s atividades econmicas localizadas emSalvador. E no artigo 77, que trata das diretrizes e proposies do Plano Diretor,aparece a expanso e modernizao da base local de servios empresariais, entre osquais citado P&D. A isto associada a diretriz de implementar redes de infra-estrutura de telecomunicaes nos centros de servios empresariais. A expectativapassa a ser a de que seja assegurada maior interao social, acesso cultura globale vantagens competitivas.

    Em um item intitulado Requisitos para insero da economia de Salvadorno sistema de produo flexvel e de valores intangveis aparece uma diretriz quecita o incremento do uso da informao e do conhecimento, incentivando epossibilitando inovao tecnolgica, alm da ampliao da atuao do governolocal na atrao de empreendimentos e captao de novos investimentos,cooperando, desta forma, na difuso de novas tecnologias.

    No que se refere atuao poltica do municpio, o PDDU se dispe afixar condicionantes tcnicos, por meio de instrumentos legais, inclusive quantoa processos de implantao e operacionalizao de telecomunicaes. Emboramencione parcerias neste sentido com a Anatel, entre outros rgos federais eestaduais, o Plano parece se colocar num espao institucional autnomo peranteos outros poderes. Esta autonomia adiante posta em relevo, quando se indicacomo meio de realizar as diretrizes do Plano a luta pela descentralizao dascompetncias dos trs nveis de governo, no s com referncia a encargos erecursos, mas tambm a poder decisrio e de execuo.

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    O Plano Diretor Estratgico de So Paulo, por sua vez, fixa como umade suas diretrizes, a atrao de investimentos produtivos nos setores de altovalor agregado, gerando condies para a criao de um parque tecnolgicoavanado. J o Plano Plurianual, admitindo as restries oramentrias domunicpio, prev parcerias com o Estado de So Paulo, o governo federal e osetor privado, para fazer face ao alto custo de construo e manuteno deinfra-estruturas bsicas.

    3. Postura frente questo do acesso dos pobres s Iesics - O PDDUde Salvador cita em vrios de seus artigos formas para ampliar a participao dasociedade nos servios, e certa nfase perceptvel quando se trata decomunicaes e informao. Enfatiza a necessidade de extinguir as diferenasexistentes entre as maiorias e as minorias da sociedade. Isso fica evidente noartigo 68, que trata dos Objetivos Gerais de Desenvolvimento, que apontapara uma maior igualdade e reduo da excluso social existente em amplascamadas da populao local, atravs da ampliao do acesso s oportunidadesde trabalho e renda, universalidade, igualdade e confiabilidade dos servios quepromovam sua qualificao. No artigo 70, que trata dos Objetivos Especficos, citada a elevao dos nveis de acessibilidade aos bens e servios em oferta noMunicpio, para a maior parte da populao, com destaque para os meios detransporte coletivo e comunicao.

    Em So Paulo a questo tratada com certa nfase na parte do PlanoDiretor Estratgico que trata das aes estratgicas no campo da educao,prevendo-se a incorporao de novas tecnologias de informao e comunicaesem todos os nveis de ensino. H outra meno, embora no especfica, no art.95 do mesmo Plano, onde se estabelece como diretriz a garantia dauniversalizao do acesso infra-estrutura urbana e aos servios de utilidadepblica. No fica claro, contudo, se os servios de informao e comunicaesesto considerados a, ou se os conceitos de infra-estrutura urbana e servios deutilidade pblica abrangem apenas o fornecimento de gua, luz, coleta de lixo,limpeza urbana e outros tradicionalmente da competncia do poder municipal.

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  • Polticas e estratgias do Poder Pblico .43

    4. Aes para eficincia administrativa e transparncia de gesto Salvador menciona pouco esta questo, destacando-se o art. 155 de seu PDDU,onde se determina que sero estabelecidos sistemas descentralizados deatendimento aos cidados no provimento de informaes de interesses destes,no recebimento de pagamentos referentes a tributos e taxas, na expedio decertides, no recebimento e encaminhamento de denncias e reclamaesquanto aos servios pblicos e de utilidade pblica. Alm de pontos fsicosvoltados para esta finalidade, o Plano menciona para isto tambm o uso daInternet.

    No caso de So Paulo h um captulo inteiro do Plano Diretor Estratgicovoltado para o Sistema Municipal de Informaes (Captulo II), no qual, entreoutras determinaes, est a de que esse sistema dever estar sempre atualizado.Ele compreende informaes sobre praticamente todas as atividades damunicipalidade, inclusive culturais, econmicas, ambientais, patrimoniais etc.Prev-se, inclusive, progressiva georeferenciao das informaes em meio digital.Alm disso, estabelece-se a obrigatoriedade de divulgao de informaes, portodos os meios possveis, inclusive pela Internet e no Website da Prefeitura.

    O Plano Plurianual retoma esta questo e define para os propostosSistemas de Informaes Estratgicas a misso de ampliar a capacidade dedeciso dos gerentes municipais; assegurar a coordenao das aesgovernamentais; disponibilizar indicadores que permitam avaliar a qualidadeda gesto pblica municipal; e permitir o conhecimento e o controle pblicodas aes de governo. As trs primeiras misses dizem respeito, notoriamente, eficincia de gesto. A ltima est voltada para a transparncia das aesgovernamentais. O Plano vincula os resultados dessas misses ao uso doGoverno Eletrnico, cuja eficcia depende da universalizao dos servios deinformao e comunicaes.

    5. Capacitao de cidados Nesta questo, o Plano de Salvador previnvestimento em infra-estrutura de capacitao e treinamento de recursoshumanos em tecnologias de informao, voltada para a formao de

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  • 44. Cidades contemporneas e polticas de informao e comunicaes

    profissionais da rea de comunicao e entretenimento. No h referncia aatividades de incluso digital.

    O plano de So Paulo no contempla esta questo.

    6. Ampliao de poderes O artigo 10, anexo 3, do PDDU, que tratados Desafios e Perspectivas do Desenvolvimento de Salvador, relata que a ofertade telecomunicaes, presente e prevista, atende s demandas estimadas eapresenta como um possvel problema tarifas altas em relao ao poder aquisitivoda populao. Um outro problema o possvel retardamento de investimentosno setor, devido mudana do centro das decises de Salvador para outrasregies10. No , a rigor, uma proposio, nem sequer uma proposio deampliao de poderes, mas denota conscincia de limitao de poder para asoluo de problemas locais.

    Mais afirmativa a diretriz que prope a criao de condicionantestcnicos visando disciplinar a implantao de redes, estaes, antenas etc. deservios de comunicaes. O fato de haver meno colaborao de outrosrgos, inclusive a Anatel, no retira o significado poltico desta determinao.Ressalte-se, inclusive, que esta uma questo sobre a qual ainda se aguardapronunciamento dos tribunais superiores, vez que os operadores de servios decomunicaes advogam ser ela da alada exclusiva do governo federal. O Planoestabelece muito claramente que o municpio pretende definir instrumentoslegais disciplinadores da implantao dos diferentes sistemas de comunicaese estabelecer normas e parmetros de fiscalizao dos processos de implantaoe operacionalizao desses sistemas.

    Onde o PDDU mais explcito, contudo, no seu art. 52, onde seafirma que Salvador procurar contribuir para a descentralizao do exercciodas competncias pelos trs nveis de governo. Sua expectativa, ressalta-se, deque se estabelea equilbrio orgnico na proviso de encargos e recursos, poder

    10 Exemplo recente que ilustra claramente o exposto o ocorrido com as operadoras Telebahia Celular(atual Vivo) e Tim Maxitel (atual Tim) que foram fundidas a grupos maiores. As decises destasempresas so tomadas fora do Estado, ou seja, em So Paulo, onde suas holdings esto hospedadas.

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    decisrio e de execuo, com nfase na colaborao e na contribuio subsidiriae governamental.

    O Plano Diretor de So Paulo, por sua vez, tambm reivindica para acidade a coordenao e monitoramento da utilizao do subsolo pelasconcessionrias de servios pblicos; a gesto integrada da infra-estrutura e ouso racional do subsolo e do espao areo urbano, coordenando aes comconcessionrios e prestadores de servios e assegurando a preservao dascondies ambientais urbanas; e o estabelecimento de mecanismos de gestoentre o municpio, o Estado e a Unio, para servios de interesse comum, entreos quais telefonia.

    O art. 95 do Plano prev tambm a exigncia de laudos tcnicos, quantoaos efeitos na sade humana e no meio ambiente, para a implantao emanuteno da infra-estrutura dos servios de comunicaes emissores deradiao eletromagntica.

    O Plano Plurianual, contudo, ao tratar da construo e manuteno deinfra-estruturas bsicas, reconhece que atribuio precpua do poder central aregulao das atividades deste setor.

    Ressalte-se que, no tocante ampliao de poderes frente ao Estado e Unio, o municpio de So Paulo confrontou oficialmente o poder federal aoaprovar lei que regulamenta a concesso de servios de radiodifuso comunitria,constitucionalmente atribuda ao governo central.

    curioso observar que, no caso de Salvador, no foram levantadas questesrelacionadas infra-estrutura e aos servios de informao e comunicaes nosdebates realizados em 17 Regies Administrativas, com a participao dosrepresentantes da prefeitura e lideranas comunitrias. A nica exceo foi areunio do bairro de Pau da Lima, onde se colocou a necessidade de implantaode um infocentro (Prefeitura Municipal de Salvador, 2005). Isto pode sugerirque a populao no associa os planos de desenvolvimento municipais a polticasdesta natureza. O que pode ocorrer devido ao fato de os coordenadores dessesplanos, geralmente arquitetos, enfatizarem outros aspectos, como moradia,transportes, coleta de lixo, gua, energia e meio ambiente, Ressalte-se,entretanto, que o Instituto dos Arquitetos da Bahia (IAB), em documento

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  • 46. Cidades contemporneas e polticas de informao e comunicaes

    intitulado Contribuio do IAB ao debate do PDDU, faz uma crtica clara aofato do plano no apresentar proposies mais avanadas na aplicao das TICs.O documento aponta que o PDDU no explora as potencialidades das novastecnologias, os novos significantes da sociedade em rede ou smart city, como,por exemplo, a adoo da Internet de banda larga sem fio, compartilhada coma comunidade (IAB, 2004, p. 41).

    CONCLUSOOs elementos conceituais e contextuais aqui expostos e a anlise dos

    dados colhidos sugerem que Salvador e So Paulo, reconhecendo o valor dodesenvolvimento cientfico e tecnolgico na rea de informao e comunicaes,propem-se a agir e a entrar no debate sobre os processos decisrios deste setor.Elas comearam a despertar para o fato de que a conglomerao, nos nveisnacional e internacional, dessas empresas, impede que haja oferta significativade servios diversificados, no nvel local. Isto , que o controle total da infra-estrutura e de parcela significativa dos servios, por parte daquelesconglomerados, deixa pouca margem para a criao e desenvolvimento deservios e produtos, fora do eixo formado por empresas nacionais emultinacionais.

    fato conhecido que os regulamentos que expressam as polticas pblicasnacionais para o setor no estabelecem mecanismos de proteo nem de estmulo produo local e regional de informao por meios eletrnicos, em qualquerde suas formas11. Alm do mais, a globalizao do controle da infra-estrutura edos servios do setor impe padres de produo e gesto baseados na economiade mercado global, que demandam o uso de tecnologia de ponta e grandevolume de recursos financeiros. Assim, servios e produtos de informao,criados no nvel local, so obrigados a seguir um alto padro operacional e degerao e comercializao de seus produtos, sob pena de serem levados extino.

    11 Mesmo a disposio constitucional, de regionalizao da produo dos programas de rdio e TV nofoi ainda regulamentada, quase 20 anos depois de promulgada a Constituio Federal, cujo art. 221determina expressamente a regionalizao da produo cultural, artstica e jornalstica, conformepercentuais estabelecidos em lei.

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  • Polticas e estratgias do Poder Pblico .47

    A questo de natureza poltica e tem relao direta com a cultura, a identidade,a autonomia e o desenvolvimento econmico, cientfico e tecnolgico, comocoloca Schiller:

    [] how much power do we wish to cede to private corporations in thedetermination of our economic, political, and overall cultural life? Information is, aswe know, a generic term covering everything from bank checking data to televisionshows and from government data bases to education, to plant and animal genes.Over what stretch of this giant range do we want the corporate economy to reign?Over what span should private judgments about resource allocation and use bepermitted to become dominant? (1993, p. 205).12

    Essas consideraes indicam a necessidade da formulao de proposiesanalticas objetivas sobre a chamada Sociedade da Informao, consistentescom o cenrio real das relaes econmicas, polticas e sociais que se estabelecem,nos contextos local, nacional e internacional. Investigaes mais aprofundadas,que integrem vises de vrios campos do conhecimento sobre as transformaesque ocorrem no mundo contemporneo, so essenciais para que se possacompreender a realidade objetiva em que as relaes entre os cidados, governose grupos de interesse locais, nacionais e internacionais, se do, sob as novascondies impostas pelas tecnologias avanadas de informao e comunicaes.

    No que se refere especificamente aos limites do poder da cidade no Brasil,os exemplos de Salvador e So Paulo revelam, em primeiro lugar, que, porterem sido promulgadas em momento anterior emergncia das NovasTecnologias de Informao e Comunicao (NTICs) na vida cotidianabrasileira, as constituies federal e estaduais, o Estatuto da Cidade e as leisorgnicas dos municpios no dispem objetivamente sobre o assunto. Osplanos de desenvolvimento das duas cidades, contudo, concludos,respectivamente, em 2004 e 2005, relacionam claramente o papel da infra-

    12 Quanto poder ns queremos ceder para coorporaes privadas na determinao de nossa vidaeconmica, poltica e cultural? Informao , como sabemos, um termo genrico que cobre tudo, dedados bancrios a shows de televiso, de dados governamentais educao, a plantas e genes animais.Sobre o que deste largo espectro queremos que a economia empresarial reine? Sobre o que os julgamentosprivados a respeito do uso e alocao de recursos devem ser dominantes? (Traduo livre, deresponsabilidade do autor).

    Sociedade da informao.pmd 14/8/2007, 10:2547

  • 48. Cidades contemporneas e polticas de informao e comunicaes

    estrutura e dos servios de informao e comunicaes no desenvolvimentoeconmico e social, enfatizando esse papel.

    Indiretamente, entretanto, e por tratarem de questes amplas efundamentais para a vida em sociedade, as constituies federal e estaduaisestabelecem vias de entrada para as NTICs ao assegurarem direitos fundamentaiscomo a educao e o exerccio da cidadania, que cada vez mais ocorrem a partirdo domnio, pelos cidados, dessas tecnologias e das informaes que por elascirculam. O acesso a elas, portanto, elementar para a efetivao daquelesdireitos, sendo dever do Estado garanti-lo.

    Quanto ao alinhamento entre as polticas pblicas e as iniciativas demercado, possvel perceber que na Constituio Federal h a preocupao emincentivar a iniciativa privada, mas tambm em atuar como agentecomplementar onde aquela no esteja, ou seja, insuficiente. Nas constituiesestaduais aparece um Estado mais presente no estmulo s empresas do queatuante diretamente no desenvolvimento tecnolgico. E os planos dedesenvolvimento, tanto de Salvador quanto de So Paulo, apostam naresponsabilidade partilhada entr