Transcript
Page 1: O Globo 09.12.12 Parte 1

Domingo 9 .12 .2012 BARRA l O GLOBO l 2928 l O GLOBO l BARRA Domingo 9.12 .2012

Mestres do carismaOs três representantes da região em guia sobre comida de rua servem petiscos árabes

[email protected]

R olando, MarcoAntônio e Aritêm algumascoisas em co-mum. Além de

ganharem a vida matando afome de pessoas nas ruas eareias da região da Barra,são criativos reinventoresde quitutes da culináriaárabe que conquistaram fi-éis clientelas por aqui.

Mas as semelhanças nãoparam aí. Como reconheci-mento por seu talento, ostrês são personagens do se-gundo volume do “Guia ca-rioca de gastronomia derua” (Editora Arte Ensaio,145 páginas, R$ 60), quechegou às prateleiras na úl-tima quinta-feira.

— Assim como fizemosno primeiro guia, lançamosum chamado pela internet,em redes sociais, e até porboca a boca avisando queestávamos à procura de am-bulantes carismáticos e ori-ginais — relata o cineastaSérgio Bloch, responsávelpelo projeto ao lado de InesGarçoni e Marcos Pinto.

Com as sugestões emmãos, foi feita uma primei-ra garimpagem, com visitasaos “chefs ambulantes”, de-gustação de suas especiali-dades e produção das pri-meiras imagens.

Em seguida, foram reali-zadas mais duas etapas,que incluíram a apuraçãodas histórias de cada ven-dedor, “ingredientes funda-mentais no tempero dosquitutes”, segundo Bloch.

O resultado foi um guiacom 18 talentosos ambu-lantes de todo o Rio. Entreeles estão Chileno, Árabedo Pepê e Ary Kib, que mili-tam na região e são apre-sentados a seguir. l

Continua até a página 31

A maioria dos personagensdo guia foi descoberta porsugestões, mas, com Seu Ari,não foi bem assim. Quandoprocurava o Árabe do Pepê, aequipe do livro “esbarrou” notímido e simpático vendedorde quibes de soja recheados.Haja sorte.

Ari Gonçalves, de 77 anos,nasceu em Campos, ondeaprendeu o ofício de compo-sitor gráfico. Aos 18, “meteuo pé no mundo” e veio para oRio prestar o serviço militar.

Até se aposentar e começara vender seus quitutes naPraia do Pepê, em 87, Seu Arirodou por inúmeras gráficasda cidade (inclusive a destejornal), atuou na área sindi-cal (o que lhe rendeu nove di-

as preso na Ilha Grande) e fezlegendagem de filmes.

— Eu almoçava todo dianum restaurante árabe, e, ob-servando, consegui captar oquibe. Mas o que eu faço nãoé árabe, é a minha invenção— conta o ambulante, quebatizou sua empreitada de“Ary Kib”, com y, “para darmais personalidade”.

Com o tempo, a receita doquitute foi alterada.

— Comecei com carne ver-melha, mas a fritura tinhaque ser muito prolongadapara atingir o cozimento in-terno. O quibe ficava muitofeio. Para dar um aspectomelhor com uma ligeira fri-tura, optei pela soja — justifi-ca o chef de rua, que também

abusou da criatividade parapreparar as seis versões derecheio que oferece, e vão dePolenguinho a cebola frita.

Como trabalha só, Seu Aritem a produção limitada a 50quibes por dia. Para garantiros seus, os clientes ligam re-servando-os, e a fila das en-tregas vai andando conformeos chamados.

Apaixonado por literatura edetentor de um elaboradovocabulário, o vendedor, mo-rador de Santa Cruz, opta porparafrasear Olavo Bilac aodescrever o local que esco-lheu para trabalhar:

— Recebe a Barra que her-dastes dos teus antepassadose transmite-a mais poderosae bela às gerações futuras.

Poesia nas areias do Pepê

EDUARDO NADDAR

FOTOS DE DIVULGAÇÃO/MARCOS PINTO

Saudáveis.Vendidos a R$ 6,os quibes de Seu Ari vêm no pão árabe

Top Related