ana arraes_o globo

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10 O PAÍS Terça-feira, 6 de setembro de 2011 O GLOBO Mídia: governo quer debate sobre regulação Paulo Bernardo diz que não há prazo para projeto ser enviado ao Congresso e que, antes, haverá consulta pública Evandro Éboli [email protected] Adriana Vasconcellos [email protected] BRASÍLIA. O ministro das Co- municações, Paulo Bernardo, defendeu ontem a decisão do PT de levar às ruas o debate so- bre a regulação da mídia. Disse, porém, que ainda não há prazo definido no governo para o en- vio desse projeto de lei ao Con- gresso. E afirmou que ainda es- tá analisando a proposta elabo- rada pelo ex-ministro Franklin Martins (Comunicação Social), da gestão Lula, e que o texto, antes de ser fechado, será sub- metido à consulta pública: — Deixa o pau quebrar no de- bate público, depois analisare- mos — disse. — O PT tem legi- timidade para tomar suas deci- sões e apontar os caminhos nes- sa questão. Assim como o PMDB, o PP, o PSDB. O governo tem um programa, que foi defen- dido pela nossa candidata na campanha eleitoral, que resultou num conjunto de ideias dos par- tidos e tem suas prioridades. O ministro defendeu o texto elaborado por Franklin: — O anteprojeto (de Franklin Martins) não estabelece nenhu- ma forma de controle prévio e nada que, nem de longe, possa se assemelhar à censura. Nenhu- ma lei conterá dispositivo que cause embaraço à plena liberda- de de informação. A Constitui- ção veda, estritamente, qualquer tipo de restrição nesse sentido — disse Paulo Bernardo. O ministro admitiu que a moção sobre o tema, aprova- da no Congresso do PT duran- te o fim de semana, é uma for- ma de pressão do partido so- bre o governo: — É bem possível que seja uma pressão no governo. Se for perguntar para o Rui Fal- cão (presidente do PT), ele vai dizer que não. OAB critica proposta de marco regulatório O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante, criticou a proposta do PT de instituir um marco regulatório da mídia. Pa- ra ele, isso pode representar uma forma de censura, o que seria um risco para a liberdade de imprensa e a democracia: — Essa postura do PT as- susta. Falar em democracia é falar em liberdade de impren- sa e liberdade de expressão. Não há democracia sem uma imprensa livre. Por isso, a par- tir do momento em que se co- locam alguns tipos de restri- ções, como quer o PT, à im- prensa e à sua concepção e ao poder de formulação e de questionamento de cada jor- nalista, é algo que representa uma restrição à determinação constitucional de que a im- prensa é livre neste país — avaliou o presidente da OAB. Paulo Bernardo rebateu as críticas de Ophir: — É um erro da OAB, que não deve ter lido o texto (da moção do PT) e deveria saber que a Constituição não permite fazer controle de conteúdo jor- nalístico. Com certeza a avalia- ção da OAB foi baseada no “ou- vi dizer” — disse o ministro. Jarbas: “adversário ferrenho” da regulação O senador Jarbas Vasconce- los (PMDB-PE) anunciou ontem, da tribuna, que será um “adver- sário ferrenho” de qualquer pro- posta do PT ou do governo Dil- ma de regular a imprensa: — Toda vez que algum mal- feito petista aparece nas pági- nas dos jornais e das revistas, a cúpula do PT se apressa em res- suscitar o chamado marco re- gulatório da mídia, nome pom- poso para um verdadeiro tribu- nal da inquisição da comunica- ção que os petistas querem im- plantar no Brasil — disse. O líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), também cri- ticou o PT: — Quando as denúncias ex- plodem nos principais veículos do Brasil, fala-se em regulação da mídia, como se desejásse- mos amordaçar a imprensa pa- ra que a corrupção pudesse campear fagueira na clandesti- nidade do submundo do gover- no — disse o tucano. O GLOBO NA INTERNET VÍDEO PT contaminou debate sobre mídia, analisa Gerson Camarotti oglobo.com.br/pais A favorita de petistas e tucanos Campanha de mãe de Campos para TCU ganha apoios Adriana Vasconcelos [email protected] BRASÍLIA. Graças ao governador de Pernambuco, Eduar- do Campos, a cam- panha da mãe dele, a deputada Ana Ar- raes (PSB-PE), para a vaga de ministro do Tribunal de Con- tas da União (TCU) vem ganhando ade- sões de peso no go- verno e na oposição, ainda que por moti- vos diferentes. Entre os cabos eleitorais de Ana estão o ex- presidente Lula, o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), e o senador Aé- cio Neves (PSDB-MG). Lula já teria assegurado a Campos apoio à candidatura de sua mãe, embora a presiden- te Dilma Rousseff tenha anunciado que não vai interferir na disputa. O deputado Deva- nir Ribeiro (PT-SP), um dos parlamentares mais próximos de Lula, disse que não rece- beu pedido do ex-presidente, mas admitiu sua simpatia pela candidatura de Ana: — Mas a bancada ainda não se posicionou — disse Devanir. Disposto a investir numa aproximação com o PSB, de olho na composição da aliança que po- derá apoiar sua eventual candidatura ao Planal- to, em 2014, o sena- dor tucano Aécio Ne- ves (MG) também es- taria disposto a aju- dar Campos. Na se- mana passada, os dois participaram de um café da manhã na casa de Ana, com o governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia (PSDB), e o prefeito de Belo Hori- zonte, Márcio Lacer- da (PSB). Na reunião, foi selado o apoio dos tucanos à reelei- ção de Lacerda. Sérgio Guerra também tem rela- ção próxima com Campos. O tucano estaria atuando a favor de Ana porque, quanto melhor for sua relação com o gover- nador, maiores serão suas chances de voltar ao Senado, em 2014. A expectativa hoje é que dois terços da bancada tucana na Câmara acompanhem a preferência de Guerra e Aécio por Ana. A de- putada teria garantido ainda o apoio do go- vernador de São Paulo, Geraldo Alckmin. A relação de Campos com o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que disputa a vaga com Ana, teria ficado estremecida. Já o deputado Átila Lins (PMDB-AM), que teve sua candidatu- ra registrada ontem por seu partido, pediu a isenção do ex-presidente Lula na disputa. Marco Aurélio Bellizze assume vaga no Superior Tribunal de Justiça Marco Aurélio Buzzi, de Santa Catarina, também toma posse no tribunal BRASÍLIA. Dois novos minis- tros tomaram posse ontem no Superior Tribunal de Justiça (STJ): os desembargadores Mar- co Aurélio Bellizze Oliveira, do Tribunal de Justiça do Rio de Ja- neiro, e Marco Aurélio Gastaldi Buzzi, do TJ de Santa Catarina. Eles haviam sido nomeados pe- la presidente Dilma Rousseff em 15 de agosto, após a aprovação de seus nomes pelo Senado. A solenidade lotou o auditó- rio onde são realizadas as ses- sões do pleno do STJ. Estavam presentes os ministros da Jus- tiça, José Eduardo Cardozo, e de Relações Institucionais, Ide- li Salvatti; o presidente do Se- nado, José Sarney (PMDB-AP); e o vice-presidente do Supre- mo Tribunal Federal (STF), mi- nistro Carlos Ayres Britto. A cerimônia não teve dis- cursos. Os novos ministros fi- zeram só um juramento proto- colar. Coube ao presidente do STJ, ministro Ari Pargendler, elogiar os novos colegas: — Ambos darão uma gran- de contribuição à Justiça bra- sileira — disse Pargendler. Aos 47 anos, Bellizze nasceu no Rio e assumiu a vaga de Luiz Fux, nomeado para o STF. Mar- co Buzzi, natural de Timbó (SC), substitui o ministro Paulo Medina, que se aposentou. Bellizze se tornou juiz de Di- reito no Rio em 1990, então o mais novo magistrado do esta- do. Essa situação se repetiria em 2004, quando foi promovido por merecimento ao cargo de de- sembargador, com 40 anos. No STJ, deverá atuar na 5 a - Turma, que trata de assuntos penais. Assumirá um gabinete com acú- mulo de oito mil processos. Ele adiantou que buscará saídas pa- ra acelerar o ritmo: — Nas questões repetitivas, devo adotar critérios para não deixar que questões menores atrapalhem os julgamentos. Buzzi, de 53 anos, é um en- tusiasta da conciliação, mas admite que os acordos não são a solução para todas as maze- las do Judiciário. Integra o Co- mitê Executivo do Movimento pela Conciliação, no Conselho Nacional de Justiça, e defende os juizados especiais: — Não se admite mais que uma questão cível de menor complexidade e de pequeno valor exija tempo, gastos de pessoas altamente preparadas, como é um advogado, um pro- motor de Justiça, um juiz. Ailton de Freitas ANA ARRAES: apoio também de Aécio e Alckmin Givaldo Barbosa BELLIZZE: compromisso de acelerar julgamento dos processos

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10 ● O PAÍS Terça-feira, 6 de setembro de 2011O GLOBO.

O GLOBO ● O PAÍS ● PÁGINA 10 - Edição: 6/09/2011 - Impresso: 5/09/2011 — 21: 32 h AZUL MAGENTA AMARELO PRETO

Mídia: governo quer debate sobre regulaçãoPaulo Bernardo diz que não há prazo para projeto ser enviado ao Congresso e que, antes, haverá consulta pública

Evandro É[email protected]

Adriana [email protected]

● BRASÍLIA. O ministro das Co-municações, Paulo Bernardo,defendeu ontem a decisão doPT de levar às ruas o debate so-bre a regulação da mídia. Disse,porém, que ainda não há prazodefinido no governo para o en-vio desse projeto de lei ao Con-gresso. E afirmou que ainda es-tá analisando a proposta elabo-rada pelo ex-ministro FranklinMartins (Comunicação Social),da gestão Lula, e que o texto,antes de ser fechado, será sub-metido à consulta pública:

— Deixa o pau quebrar no de-bate público, depois analisare-

mos — disse. — O PT tem legi-timidade para tomar suas deci-sões e apontar os caminhos nes-sa questão. Assim como oPMDB, o PP, o PSDB. O governotem um programa, que foi defen-dido pela nossa candidata nacampanha eleitoral, que resultounum conjunto de ideias dos par-tidos e tem suas prioridades.

O ministro defendeu o textoelaborado por Franklin:

— O anteprojeto (de FranklinMartins) não estabelece nenhu-ma forma de controle prévio enada que, nem de longe, possase assemelhar à censura. Nenhu-ma lei conterá dispositivo quecause embaraço à plena liberda-de de informação. A Constitui-ção veda, estritamente, qualquertipo de restrição nesse sentido

— disse Paulo Bernardo.O ministro admitiu que a

moção sobre o tema, aprova-da no Congresso do PT duran-te o fim de semana, é uma for-ma de pressão do partido so-bre o governo:

— É bem possível que sejauma pressão no governo. Sefor perguntar para o Rui Fal-cão (presidente do PT), ele vaidizer que não.

OAB critica proposta demarco regulatório

O presidente da Ordem dosAdvogados do Brasil (OAB),Ophir Cavalcante, criticou aproposta do PT de instituir ummarco regulatório da mídia. Pa-ra ele, isso pode representaruma forma de censura, o que

seria um risco para a liberdadede imprensa e a democracia:

— Essa postura do PT as-susta. Falar em democracia éfalar em liberdade de impren-sa e liberdade de expressão.Não há democracia sem umaimprensa livre. Por isso, a par-tir do momento em que se co-locam alguns tipos de restri-ções, como quer o PT, à im-prensa e à sua concepção e aopoder de formulação e dequestionamento de cada jor-nalista, é algo que representauma restrição à determinaçãoconstitucional de que a im-prensa é livre neste país —avaliou o presidente da OAB.

Paulo Bernardo rebateu ascríticas de Ophir:

— É um erro da OAB, que

não deve ter lido o texto (damoção do PT) e deveria saberque a Constituição não permitefazer controle de conteúdo jor-nalístico. Com certeza a avalia-ção da OAB foi baseada no “ou-vi dizer” — disse o ministro.

Jarbas: “adversárioferrenho” da regulação

O senador Jarbas Vasconce-los (PMDB-PE) anunciou ontem,da tribuna, que será um “adver-sário ferrenho” de qualquer pro-posta do PT ou do governo Dil-ma de regular a imprensa:

— Toda vez que algum mal-feito petista aparece nas pági-nas dos jornais e das revistas, acúpula do PT se apressa em res-suscitar o chamado marco re-gulatório da mídia, nome pom-

poso para um verdadeiro tribu-nal da inquisição da comunica-ção que os petistas querem im-plantar no Brasil — disse.

O líder do PSDB no Senado,Álvaro Dias (PR), também cri-ticou o PT:

— Quando as denúncias ex-plodem nos principais veículosdo Brasil, fala-se em regulaçãoda mídia, como se desejásse-mos amordaçar a imprensa pa-ra que a corrupção pudessecampear fagueira na clandesti-nidade do submundo do gover-no — disse o tucano. ■

O GLOBO NA INTERNETVÍDEO PT contaminou debate

sobre mídia, analisa GersonCamarottioglobo.com.br/pais

A favorita de petistas e tucanosCampanha de mãe de Campos para TCU ganha apoios

Adriana [email protected]

● BRASÍLIA. Graçasao governador dePernambuco, Eduar-do Campos, a cam-panha da mãe dele,a deputada Ana Ar-raes (PSB-PE), paraa vaga de ministrodo Tribunal de Con-tas da União (TCU)vem ganhando ade-sões de peso no go-verno e na oposição,ainda que por moti-vos diferentes. Entreos cabos eleitoraisde Ana estão o ex-presidente Lula, opresidente do PSDB,deputado Sérgio Guerra (PE), e o senador Aé-cio Neves (PSDB-MG).

Lula já teria assegurado a Campos apoio àcandidatura de sua mãe, embora a presiden-te Dilma Rousseff tenha anunciado que nãovai interferir na disputa. O deputado Deva-nir Ribeiro (PT-SP), um dos parlamentaresmais próximos de Lula, disse que não rece-beu pedido do ex-presidente, mas admitiusua simpatia pela candidatura de Ana:

— Mas a bancada ainda não se posicionou— disse Devanir.

Disposto a investir numa aproximação com oPSB, de olho na composição da aliança que po-derá apoiar sua eventual candidatura ao Planal-

to, em 2014, o sena-dor tucano Aécio Ne-ves (MG) também es-taria disposto a aju-dar Campos. Na se-mana passada, osdois participaram deum café da manhã nacasa de Ana, com ogovernador de MinasGera i s , Anton ioAnastasia (PSDB), e oprefeito de Belo Hori-zonte, Márcio Lacer-da (PSB). Na reunião,foi selado o apoiodos tucanos à reelei-ção de Lacerda.

Sé rg io Guer ratambém tem rela-ção próxima comCampos. O tucano

estaria atuando a favor de Ana porque,quanto melhor for sua relação com o gover-nador, maiores serão suas chances de voltarao Senado, em 2014.

A expectativa hoje é que dois terços dabancada tucana na Câmara acompanhem apreferência de Guerra e Aécio por Ana. A de-putada teria garantido ainda o apoio do go-vernador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

A relação de Campos com o deputado AldoRebelo (PCdoB-SP), que disputa a vaga comAna, teria ficado estremecida. Já o deputadoÁtila Lins (PMDB-AM), que teve sua candidatu-ra registrada ontem por seu partido, pediu aisenção do ex-presidente Lula na disputa.

Marco Aurélio Bellizze assume vagano Superior Tribunal de JustiçaMarco Aurélio Buzzi, de Santa Catarina, também toma posse no tribunal

● BRASÍLIA. Dois novos minis-tros tomaram posse ontem noSuperior Tribunal de Justiça(STJ): os desembargadores Mar-co Aurélio Bellizze Oliveira, doTribunal de Justiça do Rio de Ja-neiro, e Marco Aurélio GastaldiBuzzi, do TJ de Santa Catarina.Eles haviam sido nomeados pe-la presidente Dilma Rousseff em15 de agosto, após a aprovaçãode seus nomes pelo Senado.

A solenidade lotou o auditó-rio onde são realizadas as ses-sões do pleno do STJ. Estavampresentes os ministros da Jus-tiça, José Eduardo Cardozo, ede Relações Institucionais, Ide-li Salvatti; o presidente do Se-nado, José Sarney (PMDB-AP);e o vice-presidente do Supre-mo Tribunal Federal (STF), mi-nistro Carlos Ayres Britto.

A cerimônia não teve dis-cursos. Os novos ministros fi-zeram só um juramento proto-colar. Coube ao presidente doSTJ, ministro Ari Pargendler,elogiar os novos colegas:

— Ambos darão uma gran-de contribuição à Justiça bra-sileira — disse Pargendler.

Aos 47 anos, Bellizze nasceuno Rio e assumiu a vaga de LuizFux, nomeado para o STF. Mar-co Buzzi, natural de Timbó(SC), substitui o ministro Paulo

Medina, que se aposentou.Bellizze se tornou juiz de Di-

reito no Rio em 1990, então omais novo magistrado do esta-do. Essa situação se repetiria em2004, quando foi promovido pormerecimento ao cargo de de-sembargador, com 40 anos. NoSTJ, deverá atuar na 5a- Turma,que trata de assuntos penais.Assumirá um gabinete com acú-mulo de oito mil processos. Eleadiantou que buscará saídas pa-ra acelerar o ritmo:

— Nas questões repetitivas,devo adotar critérios para nãodeixar que questões menores

atrapalhem os julgamentos.Buzzi, de 53 anos, é um en-

tusiasta da conciliação, masadmite que os acordos não sãoa solução para todas as maze-las do Judiciário. Integra o Co-mitê Executivo do Movimentopela Conciliação, no ConselhoNacional de Justiça, e defendeos juizados especiais:

— Não se admite mais queuma questão cível de menorcomplexidade e de pequenovalor exija tempo, gastos depessoas altamente preparadas,como é um advogado, um pro-motor de Justiça, um juiz. ■

Ailton de Freitas

ANA ARRAES: apoio também de Aécio e Alckmin

Givaldo Barbosa

BELLIZZE: compromisso de acelerar julgamento dos processos