Construção de medidas quantitativas
Prof. Marcos Vinicius Pó
Métodos Quantitativos para Ciências Sociais
Agenda
• Tipos de variáveis
• Estatísticas como construções sociais
• Problemas com estatísticas
• Construção de variáveis
• Instrumentos de obtenção de informação e de mensuração
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• Atributos ou propriedades de um objeto de estudo.
• Característica de interesse dos elementos analisados
• Informações numéricas estatisticamente tratáveis.
Tipos básicos:
• Nominais ou categóricas: definem tipo, mas não intensidade ou grau. Ex.: profissão; gênero; preferência política...
• Ordinais: indicam grau, mas nem sempre intensidade. Ex.: colocação em uma prova; grau de escolaridade, rankings...
• Intervalares: indicam grau ou intensidade de forma discreta. Ex.: faixas de renda; distância entre 0 e 5km...
• Contínuas: caracterizam intensidade ou grau, mas não tipos. Podem ser infinitamente nuançadas. Ex.: altura, renda, peso, velocidade...
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Variáveis
Exemplos de variáveis
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Categóricas Contínuas Intervalares Ordinais
Discente de MQCS
Definição operacional a partir das referências teóricas: categorias claras e bem definidas, sem
ambiguidades ou superposições.
Na operacionalização em campo...
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Variáveis categóricas
Estatísticas como construtos e seus usos sociais
As estatísticas são construtos sociais. Os números são produzidos por pessoas, com critérios e finalidades específicos.
Isso não implica em malícia, negligência ou oportunismo, mas estatísticas afetam a nossa percepção sobre problemas sociais, sendo usadas em disputas e ações políticas.
‚Há três questões básicas que devemos nos perguntar toda vez que encontramos uma nova estatística: 1. Quem
criou essa estatística? 2. Por que essa estatística foi criada? 3. Como esta estatística foi criada?‛ (Best, 2001: 28)
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Os números não mentem, mas mentirosos também usam números.
Estatísticas como joias
‚No final das contas, pensamos, uma estatística é um número e números parecem sólidos, factuais, prova de que alguém realmente fez contas sobre algo. Mas esse é o ponto: pessoas fazem contas.
Para cada número que encontramos, alguém tem que ter feito as contas. Ao invés de imaginarmos
que as estatísticas são como rochas, é melhor pensarmos nelas como joias. Pedras preciosas são
encontradas na natureza, mas pessoas tem que criar joias. Joias tem que ser selecionadas,
cortadas, polidas e montadas para que possam ser apreciadas de determinados ângulos.‛
(Best, 2005: 211-2, grifos nossos)
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CONSTRUÇÃO DE VARIÁVEIS
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Possíveis problemas com as estatísticas que vemos por aí
• Dados parecem puramente objetivos (hard facts) e muitas vezes causam uma fé cega por parte da imprensa e do público, se espalhando em um processo de autorreferenciamento.
• Entre os problemas que podem ocorrer estão:
► Estimativas com pouca fundamentação: falta de registros confiáveis; subnotificações; busca de superdimensionar problemas para defender pontos de vistas...
► Definições imprecisas, tornando o fenômeno excessivamente abrangente (ex.: abuso, violência...).
► Medições imprecisas: dependência de como se fazem as contagens, confiabilidade dos dados e registros,...
► Amostragens problemáticas: tamanho, maneira de fazer, público desejado x público amostrado...
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Exemplo de dificuldades para fazer estimativas, mas que tem impactos políticos.
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Fonte: https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,venda-de-estatais-pode-atingir-valor-recorde-no-pais,70002921056
Classificações abrangentes
SINAN - Sistema de Informação de Agravos de Notificação: violência interpessoal e autoprovocada
Violência física (também denominada sevícia física, maus-tratos físicos ou abuso físico): são atos violentos, nos quais se fez uso da força física de forma intencional, não acidental, com o objetivo de ferir, lesar, provocar dor e sofrimento ou destruir a pessoa, deixando, ou não, marcas evidentes no seu corpo. Ela pode manifestar-se de várias formas, como tapas, beliscões, chutes, torções, empurrões, arremesso de objetos, estrangulamentos, queimaduras, perfurações, mutilações, entre outras. A violência física também ocorre no caso de ferimentos por arma de fogo (incluindo as situações de bala perdida) ou ferimentos por arma branca.
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Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/viva( )instrutivo( )violencia( )interpessoal( )autoprovocada( )2ed.pdf
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• Conceitos: instrumento linguístico, significado com que se utiliza certa expressão.
► Palavras tem implicações sociais. Para ser cientificamente significativa uma definição deve estar ligada a referenciais teóricos.
• Construção de definições e conceitos
► Separar características essenciais.
► Denotação: classe dos objetos a que se aplica o conceito.
► Conotação: conjunto de propriedades de um conceito.
• Critérios para boas definições
► Não devem ser nem muito amplas nem muito restritivas: não devem incluir observações inadequadas ou excluir as adequadas.
► Não serem vagas ou ambíguas.
► Declarar as propriedades essenciais do conceito.
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Conceituação de variáveis
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O que é uma família?
O que é um domicílio?
Prof. Marcos Vinicius Pó
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Definições do censo 2010
Família: o conjunto pessoas ligadas por laços de parentesco na unidade doméstica. Foram considerados como famílias conviventes os núcleos familiares em uma
mesma unidade doméstica. A família da pessoa responsável pela unidade doméstica (que é também a pessoa responsável pelo domicílio) foi definida como a família convivente principal. As demais conviventes foram constituídas por: casal (duas pessoas que viviam em união conjugal); casal com filho(s); ou mulher sem cônjuge e com filho(s), sendo denominadas famílias segundas, terceiras etc. Nos Censos Demográficos anteriores, o número de famílias conviventes principais e
segundas era equivalente, porque se considerava também como ‚família‛ o conjunto de pessoas sem laços de parentesco. Como, para este volume temático, se considerou como ‚família‛ somente o conjunto de pessoas em unidades domésticas com parentesco, os totais de famílias conviventes principais e segundas não são equivalentes.
Domicílio: o local estruturalmente separado e independente que, na data de referência, destinava-se a servir de habitação a uma ou mais pessoas, ou que estava sendo utilizado como tal. Os critérios essenciais para definir a existência de mais de um domicílio em uma mesma propriedade ou terreno são os de separação e independência, que devem ser atendidos simultaneamente. Entende-se por separação quando o local de habitação for limitado por paredes,
muros ou cercas e coberto por um teto, permitindo a uma ou mais pessoas, que nele habitam, isolar-se das demais, com a finalidade de dormir, preparar e/ou consumir seus alimentos e proteger-se do meio ambiente, arcando, total ou parcialmente, com suas despesas de alimentação ou moradia. Por independência, entende-se quando o local de habitação tem acesso direto, permitindo a seus moradores entrar e sair sem necessidade de passar por locais de moradia de outras pessoas.
OBTENÇÃO DE INFORMAÇÃO E MENSURAÇÃO
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Construção de dados
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Fonte: Merllié, D. A construção estatística. in Champagne et alli, Iniciação à prática Sociológica. Vozes, 1998. p166
Esquema da ‚cadeia‛ estatística
Obtenção de informação
• Formas: ► Observações: as informações precisam ser classificadas e codificadas.
Deve-se garantir que todos os apuradores usem os mesmos critérios.
► Questionários auto preenchíveis: baratos; bom alcance; evitam influência dos aplicadores; confidencialidade e anonimato. Difícil controlar a amostra.
► Entrevistas/aplicação de questionários: mais naturais; permitem diminuir problemas de compreensão; maior controle da amostra; permite mais insights.
• Meios: a forma de sondar pode influenciar os resultados. Todos os meios tem pontos positivos e problemas. ► Pessoalmente ou por telefone: a maior parte dos institutos de pesquisa
usa o meio pessoal, mas cada vez mais tem-se usado o contato telefônico.
► Interactive Voice Response (IRV): tem sido aplicado no Brasil por alguns institutos de pesquisa, é comum nos EUA.
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Confecção de questionários
Os questionários devem ser construídos com muito cuidado, pois as respostas podem ser afetadas por fatores tais como:
• Formulação das questões;
• A seqüência em que as alternativas são apresentadas;
• O contexto em que o respondente está inserido;
• Sinais corporais emitidos pelo entrevistador;
• A ordem das questões;
• O respondente buscar dar respostas socialmente desejáveis
• ....
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Você acha que o governo deveria
permitir manifestações que possam afetar a
saúde pública?
Você acha que o governo deveria
proibir manifestações que possam afetar a
saúde pública?
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Formulação das questões
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A formulação das perguntas pode induzir ou alterar as respostas
As salas de aula e estrutura?
A formação dos docentes?
O projeto pedagógico?
As oportunidades de pesquisa?
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A UFABC como um todo?
De 0 (zero) a 10 (dez), que nota você daria para:
A ordem das questões pode afetar as respostas, especialmente em perguntas de cunho geral
O transporte intercâmpi?
O sistema de matrículas?
A oferta de disciplinas?
A didática dos docentes?
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A UFABC como um todo?
De 0 (zero) a 10 (dez), que nota você daria para:
“atribuição de números para aspectos de objetos ou eventos de acordo com determinadas regras ou
convenções”
Uma grande parte das mensurações é indireta ou aproximada, ou seja, é inferida a partir de um indicador que julgamos estar relacionado com o fenômeno que a ser medido.
Podemos usar vários métodos para atribuir valores a variáveis, como medições mais ou menos diretas (renda, peso...) ou construir medidas artificialmente por meio de listas de verificação, escalas, etc.
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Mensuração
Listas de verificação (check lists)
• Procedimento observacional na maior parte dos casos.
• Permitem registrar a ocorrência e ou freqüência de ações, fatos ou eventos pré-determinados.
• Permite também classificar eventos em determinadas categorias.
• Os itens podem ser pontuados e ponderados, gerando uma nota final.
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Exemplo de check list
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2. Transparência de atos, procedimentos e processos decisórios
Item e subitens Critério Verificação Nota
2.1. Realização de
consultas públicas
2.1.1. Consulta como procedimento padrão para emissão de regulamentos
Verificar a realização de consultas no último ano. Houve emissão de regulamentos relevantes para o consumidor sem realização de consulta
pública? Indicador: emissão de regulamentos x consultas realizadas. parcial 0,5
2.1.2. Prazos e mecanismos de participação
Os prazos e procedimentos devem facilitar a participação e o envio de colaborações de forma simplificada.
parcial 0,5
2.1.3. Acesso às consultas e documentos relacionados
O acesso deve ser facilmente localizável e permitir acesso a partir da primeira página do site.
parcial 0,5
2.2. Informações disponíveis
nas audiências e
consultas públicas.
2.2.1 Proposta de regulamento Disponibilidade da proposta de regulamento. sim 1,0
2.2.2. Justificativa técnica para a proposta
Existência de justificativa que embase a necessidade da regulamentação proposta. Será verificada se há análise de dados e fatos que explicitem as motivações da proposta e de como ela pode mudar essa realidade.
parcial 0,5
2.2.3. Contribuições recebidas
Disponibilidade das contribuições enviadas pelos participantes na consulta pública. Devem permitir o acesso integral à manifestação,
possuir identificação do emitente, data de recebimento e serem disponibilizadas no site assim que recebidas.
parcial 0,5
2.2.4. Resposta às manifestações e justificativa das decisões
Organização das sugestões que foram encaminhadas e justificativa de acatar ou rejeitar as propostas.
não 0,0
2.2.5 Arquivo das audiências e das contribuições
Acesso ao histórico de consultas e de todos os documentos relativos sim 1,0
2.3. Reuniões de Conselhos abertas ao público As reuniões devem ser abertas ao público, com divulgação antecipada
da agenda parcial 0,5
2.4. Disponibilidade das atas da direção e/ou do embasamentos das decisões
Disponibilidade das atas de reuniões dos conselhos e/ou direção dos órgãos, assim como da exposição de motivos das decisões tomadas nas
reuniões. parcial 0,5
Total 5,5
Escalas e seu uso
• Construto para medir e quantificar a percepção dos respondentes sobre determinados aspectos de fenômenos ou objetos. As principais escalas usadas em pesquisas são a Likert e a Semântica, com variações e adaptações.
• Lógica:
► Busca posicionamento em relação a determinados critérios ou situações.
► Considera que as pessoas são capazes de estabelecer medidas com algum grau de precisão.
► Reflete um processo de percepção.
• Vantagens:
► Facilidade relativa de construção.
► Assemelha-se a instrumentos familiares, como termômetros, réguas....
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Escala Likert
O objeto é definido em frases e avaliado em termos de intensidade dentro de algumas categorias determinadas (normalmente 5 ou 7), sendo as mais comuns:
Possíveis variações:
• Categoria intermediária: deve ser usada de forma a ter um sentido prático e analítico, pois o respondente pode usá-la por não ter certeza da resposta, não ter entendido a questão, etc.
► Pode-se acrescentar uma opção ‚não sei‛/‚não tenho opinião formada‛.
• Escolha forçada: a categoria intermediária é suprimida, forçando o respondente a se posicionar positiva ou negativamente.
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Concorda fortemente
Concorda Neutro/
indiferente Discorda
Discorda fortemente
Exemplos de Escala Likert
27 Prof. Marcos Vinicius Pó
28 Prof. Marcos Vinicius Pó
Escala Likert adaptada
Diferencial semântico
Fundamentos:
• Conceitos diferem entre si em relação aos significados que eles evocam.
• O significado dos conceitos pode ser captado por um número relativamente pequeno de dimensões.
• É possível atribuir direção e intensidade aos conceitos.
Três dimensões primárias:
• Avaliativa: Mau-Bom; Justo-Injusto; Limpo-Sujo; Valioso-Sem Valor...
• Potência: Grande-Pequeno; Forte-Fraco; Pesado-Leve...
• Atividade: Ativo-Passivo; Rápido-Lento; Vivo-Morto...
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Excelente ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Péssimo
Veloz ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Lento
Feio ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Belo
Fácil de usar ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Difícil de usar
Grande ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Compacto
30 Prof. Marcos Vinicius Pó
Exemplo de escala semântica adaptada
O formato da escala pode afetar as respostas
Algumas formas de codificação são mais facilmente compreendidas e interpretadas por determinados públicos.
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Escala A
Escala B
Concorda fortemente +2 4
Concorda +1 3
Discorda -1 2
Discorda fortemente -2 1
Fonte: adaptado de Pedhazur; Schmelkin (1991): 120
Escalas e autoclassificação
Pesquisa do PEW Research Center mostrou que o uso de escalas de 7 pontos, mas variando de 0-6 ou de 1-7 trouxe resultados diferentes na autoclassificação da afinidade política, mas não em relação a outros aspectos como afinidade partidária ou opiniões sobre assuntos.
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Para saber mais
Best, J. (2005). Lies, calculations and constructions: beyond ‘How to Lie with Statistics’. Statistical Science, 20(3), 210–214.
Best, J. (2001). Damned lies and statistics: Untangling numbers from the media, politicians, and activists. Berkeley: University of California Press.
Pedhazur, E. J., & Schmelkin, L. P. (1991). Measurement, design, and analysis: An integrated approach. Hillsdale, NJ: Erlbaum.
Uso de IRV: www.poder360.com.br/opiniao/pesquisas/pesquisa-por-telefone-teve-maior-taxa-de-acerto-nos-eua-na-eleicao-de-trump/
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