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Magia dos animais

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São Paulo 2015

Sandra Roncalli

Magia dos animais

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Copyright © 2015 by Editora Baraúna SE Ltda

Criação de Capa Jacilene Moraes

Ilustração da Capa Adne Horizonte

Diagramação Jacilene Moraes

Revisão Marcela Roncalli

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________R678m

Roncalli, Sandra Magia dos animais / Sandra Roncalli. - 1. ed. - São Paulo: Baraúna, 2015.

ISBN 978-85-437-0420-3

1. Ficção infantojuvenil brasileira. I. Título.

15-23725 CDD: 028.5 CDU: 087.5________________________________________________________________16/06/2015 18/06/2015

Impresso no BrasilPrinted in Brazil

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTAEDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br

Rua da Quitanda, 139 – 3º andarCEP 01012-010 – Centro – São Paulo - SPTel.: 11 3167.4261www.EditoraBarauna.com.br

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Nota da autoraO trabalho como educadora e a proximidade com

a realidade de meus alunos me despertaram para a ne-cessidade de levar às crianças e aos jovens, não só uma nova literatura, mas elementos que promovam uma mudança em sua visão de mundo, em seus valores mo-rais e na formação de um pensamento crítico sólido e bem definido. Valores estes que nós, professores, vemos tão estreitos e limitados em nossos alunos.

Pretendo nesta, como em outras obras, despertar nos jovens leitores a liberdade de pensar, de criar e re-criar, de imaginar e ousar. Dessa maneira, o conheci-mento é enriquecido e os jovens passam a aprender com seus próprios erros, sem temer seus fracassos. Por fim, a intenção é de encorajá-los cada vez mais a usar a fer-ramenta da criatividade e da imaginação em benefício próprio, fazendo suas próprias descobertas e tornando sua vida uma verdadeira aventura.

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Sumário

A montanha sagrada .................................... 9

O beija-flor .................................................. 21

A força das águas ........................................ 31

O coiote ....................................................... 43

O peru .......................................................... 59

Laura ............................................................ 73

O corvo ........................................................ 83

A vitória ....................................................... 93

Final ........................................................... 107

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Capítulo 1A MONTANHA SAGRADA

Do alto da Montanha Sagrada, Águia Dourada observava o voo do falcão que bailava majestosamente por entre as nuvens, soltando longos silvos e girando em forma de espiral.

Nas tribos xamânicas da América do Norte, o falcão é considerado o grande mensageiro, e todo filho da ter-ra sabe que quando o falcão voa em círculos, emitindo longos silvos, a mensagem trazida por ele é a de grandes mudanças e transformações iminentes.

Águia Dourada era um jovem indigena da Monta-nha Sagrada, de onde podia avistar uma imensidão de terras verdes que pertenciam a sua tribo e circundavam a própria montanha, seu lar. Da posição em que estava era possível ouvir a voz do vento, ver o movimento dos ani-mais e preparar-se para a caça. Podia saber se havia perigo para sua tribo, pois havia aprendido a ouvir a natureza e a entender seus sinais. Porém, naquele momento sabia que a mensagem do falcão era importante e que dizia

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respeito a ele, já que a ave dava voos rasantes em torno de sua cabeça. Águia Dourada era apenas um rapaz, mas co-nhecia muito bem o poder dos animais, sabia honrá-los e respeitá-los como criação do Grande Espírito e havia aprendido desde cedo a viver em comunhão com eles.

O falcão anunciava um grande momento na vida do rapaz e a partir daquele dia, seu décimo quinto aniversário, se tornava um homem e deveria provar sua masculinidade a toda tribo. Dentro de algumas horas deveria sentar-se diante de seu pai e dos Anciões (sábios da tribo) para re-latar sua decisão. A maioria dos jovens de sua tribo pre-feria ser guerreiro e caçador, demonstrando sua bravura por meio da força. Porém, Águia Dourada era o filho do grande xamã Andarilho do Céu, e pretendia impressionar seu pai, assim como a todos de sua tribo com uma grande tarefa, uma missão muito difícil, para que sua bravura e sua honra fossem lembradas pelas gerações futuras. Águia Dourada não pretendia provar sua masculinidade apenas com demonstrações de força e de coragem como os outros jovens da tribo, ele queria muito mais. Queria ser diferente de todos. Precisava pensar em algo inédito e que surpreen-desse a todos.

Enquanto o falcão sobrevoava o alto de sua cabeça o jovem rapaz olhava fixamente o horizonte e buscava dentro de si a resposta para seu destino. Estava imóvel, quase hipnotizado pelo som do silvo do falcão quando uma forte rajada de vento soprou sob sua fronte fazendo esvoaçar seus cabelos e trazendo a visão de seu destino, nítida e claramente. Águia Dourada podia ver em sua mente todo o esplendor de sua missão, toda a trajetória,

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as lições, os obstáculos, e o melhor de tudo, sua vitória, sua recompensa pela missão cumprida com louvor. Se-ria realmente uma grande e difícil missão, mas agora ele estava em paz e satisfeito com a revelação de sua tarefa e, então, soltou um suspiro de alívio.

Agora poderia entrar na Grande Roda de cabeça erguida, e dizer a todos com muita alegria qual seria sua nobre missão. Talvez seu pai tentasse impedi-lo, mas não poderia fazê-lo, pois tinha que respeitar as leis da tribo, respeitando assim, sua decisão. Lentamente, o pássaro mensageiro se afastou e o vento cessou. O rapaz esperou ansioso a chegada da noite, quando na gran-de reunião do conselho teria a bênção de todos para o cumprimento de sua tarefa e também para o início de uma nova jornada em sua vida.

O sol se escondia atrás das montanhas, espalhando raios luminosos vermelho-dourados por toda a flores-ta, enquanto, do outro lado do hemisfério, as primeiras estrelas anunciavam a chegada da noite. Águia Doura-da havia se preparado primorosamente para a ocasião e agora ajudava as mulheres da tribo nos preparativos fi-nais para a reunião. Uma grande fogueira estava prestes a ser acesa e a Grande Roda estava demarcada com doze grandes pedras. Os anciões se preparavam para sentar em seus lugares e o xamã, Andarilho do Céu, que também se preparava para a ocasião, estava pensativo, preocupado com a decisão de seu filho. Durante toda a tarde também havia escutado o silvo do falcão e sabia mais do que nin-guém o que isso significava. Porém, Andarilho do Céu tinha que ser forte e corajoso, mesmo que seu coração

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sofresse um grande golpe, era o destino de seu filho que estava em jogo e de qualquer forma seu dever era apoiá-lo e abençoá-lo, como pai e como xamã.

Todos já estavam em seus lugares, a fogueira estava acesa e algumas labaredas começavam a crepitar no céu es-curo. As mulheres entoavam cânticos de gratidão à mãe Terra pela fartura de alimentos e pelas curas recebidas. Águia Dourada estava em pé, do lado de fora do grande círculo esperando o momento de ser chamado. Enquanto aguardava, olhava para seu pai e relembrava seus momen-tos de infância, quando nadaram juntos no rio pela pri-meira vez, quando lhe ensinara a caçar, quando lhe ensina-ra a não temer os animais, nem o som do trovão, quando lhe ensinou a respeitar os homens, os animais e a natureza. “Tudo faz parte do Grande Mistério que é a vida, e se há vida, por menor que seja, devemos respeitá-la”, dizia ele. Estas lembranças de seu pai seriam levadas com ele para sempre, durante toda a grande jornada de sua vida.

A fogueira já estava alta, e o céu repleto de estre-las faiscantes. O jovem rapaz continuava em pé, imóvel numa postura firme de quem estava seguro de sua decisão. A música cessou ao sinal do xamã que erguera o braço dando a ordem às mulheres. O silêncio era total quando o xamã ordenou a seu filho que entrasse no grande cír-culo. Águia Dourada obedeceu caminhando alguns pas-sos à frente e parou diante de seu pai. Andarilho do Céu levantou-se e falou com a autoridade que lhe era devida:

— Jovem Águia Dourada, hoje é o dia mais impor-tante de sua vida. É o dia em que as linhas de seu destino serão traçadas, e isso será feito com as bênçãos da Mãe Ter-

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ra e do Grande Espírito. Que o destino que escolhestes não seja apenas teu, pois tuas decisões influenciarão outras vi-das assim como a escolha de outros também influenciaram a tua. Não se vive uma vida só para si mesmo, vivemos em união, em comunhão, e temos o dever de compartilhar os benefícios com os que nos cercam. Que tua missão traga benefícios para você e para todos os envolvidos nela, que tuas conquistas não sejam apenas tuas, mas de todo um povo. Que tenhas responsabilidade com tudo o que lhe foi dado de graça e que saibas honrar tua família e os ensina-mentos de teu povo. Agora senta-te diante dos anciões e diga-lhes qual é o destino que escolheste para demonstrar tua honra, tua bravura e tua maioridade.

Mais uma vez o jovem rapaz obedeceu de maneira respeitosa seu pai e sentou-se diante dos anciões. Todos olhavam-no atenta e demoradamente, quando então o segundo ancião sentado no meio círculo, falou:

— Diga-nos, meu rapaz, qual a tarefa que escolhes-tes? Mas nós não queremos ouvir apenas a tua voz, quere-mos ouvir teu coração, portanto fale através dele.

— Sim, bondoso ancião, eu direi o que minha men-te viu e o que meu coração sentiu — respondeu Água Dourada. — Direi a vocês qual tarefa que me fará um ho-mem de grande bravura, honra e coragem, para ser lem-brado pelas gerações futuras: quero viver com os homens brancos! Quero viver no mundo deles!

Os anciões que o ouviam atentamente ficaram per-plexos e de olhos arregalados. Seu pai se levantou e disse de maneira áspera:

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— Esta não é uma tarefa de maioridade, você está fugindo como um aventureiro em busca de novidades, pois eu lhe digo: tuas aventuras podem ser bem amargas!

— Não, meu pai, não estou fugindo, tampouco es-tou em busca de uma aventura. Meu desejo é conhecer meus irmãos brancos, já que somos todos filhos do Gran-de Espírito e vivemos todos sob as bênçãos da Mãe Terra.

— Seu lugar é aqui junto de seu povo, onde você cresceu e aprendeu a honrar a Mãe Terra. Todos sabem que o homem branco não respeita a natureza, que ele a destrói só para aumentar suas riquezas e seu poder, todos sabem que eles agridem uns aos outros e não têm respeito nenhum pela vida. Porque você escolheu uma tarefa como esta?

— É justamente por isso, meu pai, quero ensiná-los a respeitar a vida, a usar o que a Mãe Terra nos oferece generosamente sem destruí-la, quero ensinar-lhes tudo o que aprendi aqui; talvez nem todos os homens sejam as-sim, talvez estejamos enganados sobre eles.

O xamã calou-se diante das palavras de sabedoria de seu filho, sabia que não podia detê-lo e viu que ele tinha o que todo grande homem deve ter: ideais. Sentou-se e esperou que um dos anciões continuasse a cerimônia.

Novamente o segundo ancião disse:— Estamos surpresos com a sua escolha e as pala-

vras que ouvimos realmente vieram de seu coração, agora diga-nos, o que sua mente viu?

— Eu me vi reunido a um grupo de jovens brancos.— Foi só isso o que viu?

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— Na verdade eu vi outras cenas, mas não consigo entendê-las muito bem, parecem não fazer sentido.

— Acredito que no momento certo elas farão senti-do — respondeu-lhe o ancião.

Após dizer estas palavras, o ancião levantou-se, er-gueu o braço direito colocando sua mão sobre a cabeça do rapaz em sinal de benção enquanto orava e pedia a seus ancestrais que o protegessem e iluminassem seu ca-minho. O mesmo se repetiu com os outros anciões até que todos o haviam abençoado. As mulheres entoaram uma nova canção e em seguida a cerimônia estava encer-rada. Agora todos podiam entrar no grande círculo para cantar e dançar durante toda a noite.

Andarilho do Céu sentia seu coração partido, pois sabia que a jornada de seu filho seria longa e que talvez nunca mais voltasse para casa, porém confiava na pro-teção dos céus e dos animais, sabia que seu filho havia aprendido a usar a magia do poder dos animais, e que estes não lhe faltariam nunca. Assim, o grande xamã foi ao encontro de seu filho e o abraçou, abençoando sua escolha e sua jornada.

— Meu filho! Para mim você não precisa provar nada, eu sempre soube que você se tornaria um homem de muita coragem, mas confesso que mesmo com o meu coração partido, hoje sinto muito orgulho de ser seu pai. Em sinal do meu amor, vou enviar quatro animais que te ajudarão na sua jornada, e mais um que será teu instrutor.

— Obrigado, meu pai, eu sabia que você me com-preenderia e me apoiaria, mas quais são esses animais?


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