Imunossupresão inicial
no transplante renal
Curso Pré-Congresso da SPN
28 de Março de 2012
André L. Weigert
Unidade de Transplantação “Antonio Pina”
Serviço de Nefrologia do HSC/CHLO;
Departamento de Farmacologia e Neurociências,
Faculdade de Medicina de Lisboa
Tolerância:
o “cálice sagrado” do Transplante
Contudo, só chegmos próximo do
o “cálice sagrado” em Hollywood…
Objetivos do regime imunosupressor
1) Reduzir a função tardia do enxerto e a disfunção primária
2) Baixa incidência de rejeições agudas
3) Baixa incidência de infeções
4) Aumento da sobrevida e função do enxerto
5) Reduzir a incidência de eventos cardiovasculares
6) Reduzir alterações metabólicas (diabetes, dislipidémia) e
osteoporose
7) Reduzir a incidência de neoplasias
8) Mortalidade e morbilidade, incluindo extensão dos períodos
de internamento hospitalar
9) Minimizar o custo global
Mecanismos de rejeição de enxertos alogénicos
•Rejeição celular (mediada por linfócitos T)
•Rejeição Humoral (mediada por Anticorpos)
Padrões temporais de rejeição de enxertos alogénicos
•Rejeição Hiperaguda
•Rejeição Aguda
•Rejeição (ou disfunção) crónica do enxerto
Mecanismos de rejeição de enxertos alogénicos
Alvos da imunosupressão
A) Terapia de Indução
B) Terapia de Manutenção
A) Terapia de Indução
1) Doses aumentadas de imunossupressores
de manutenção
2) Modulação com agentes biológicos
1) Doses iniciais da terapia de
manutenção
a) Corticosteróides
Dose inicial-protocolo do HSC:
500-250-125-80 mg-0,6mg/Kg
Dose de manutenção:
2,5 a 5 mg/d
Pulsos:
500 mg X 3
b) Inibidores da IMPDH
micofenolato de mofetil ou sódico:
1.000 mg (720 mg) bid (2X/dia)
Mecanismo de acção do
ácido micofenólico (MPA)
c) Inibidores da calcineurina
(CsA e tacrolimus):
c) Inibidores da calcineurina
(CsA e tacrolimus):
Doses habituais:
• Ciclosporina A: 4 mg/kg 12/12h oral
• Tacrolimus: 0,05 a 0,075 mg/kg oral
c) Inibidores da calcineurina
(CsA e tacrolimus):
Doses habituais:
• Ciclosporina A: 4 mg/kg 12/12h oral*
• Tacrolimus: 0,05 a 0,075 mg/kg oral
* endovenoso: 1/2 a 1/3 da dose
c) Ciclosporina A:
O eluente da solução endovenosa, a base de óleo de
castor é por sí só nefrotóxico: logo que possível a
ciclosporina deve passar de endovenosa para oral!
De notar que a dose endovenosa é entre 2 a 3 X menor
do que a oral!
c) Ciclosporina A e Tacrolimus:
Nefrotoxicidade aguda:
atrasar o seu início no caso de oligúria/
função retardada do enxerto
d) Inibidores da mTOR:
sirolimus e everolimus
d) Inibidores da mTOR
(sirolimus/rapamicina e everolimus):
Desvantagens:
• Hipercolesterolémia frequente
• Toxicidade hematológica
• Nefrotoxicidade sinergistica com a CsA
• Incidência aumentada de certas infeções,
nomeadamente bacterianas
• Inibição da cicatrização (deiscências, linfocelos)
Em busca do nosso “Holly Grail”…
1) Anticorpos monoclonais anti CD25
(basiliximab)
2) Anticorpos policlonais
(ATG ou Timoglobulina)
3) Prevenção da rejeição humoral (plasmaferese, IVIG, rituximab, bortezomib)
4) Bloqueio da co-estimulação
(Belatacept)
2) Terapia de Indução com “biológicos”
Alvos da imunosupressão
1) Anticorpos monoclonais antiCD25
(basixilimab e daclizumab):
1) Anticorpos monoclonais antiCD25
(basixilimab e daclizumab):
Daclizumab:
retirado do mercado
1) Anticorpos monoclonais antiCD25
(ex: basixilimab):
• Actuam sobre o Sinal 3, não impedindo por sí só
uma rejeição, mas reduzindo as possibilidades de
uma iniciar
• São sinergísticos com os inibidores da calcineurina
e inibidores da mTOR
• Efeitos colaterais muito reduzidos
• São dispendiosos
(2 doses: 2.500 €)
1) Eficácia dos anticorpos monoclonais
antiCD25:
Atestada desde há muitos anos em metaanalises, como a de
Webster AC et al, do “Cochrane Renal Group”, que mostrou em
4.893 doentes envolvidos em 38 ensaios, um risco relativo de
0.84 de rejeições e uma sobrevida superior do enxerto em
doentes tratados com esses anticorpos
Transpl 2004; 77: 166
1) Eficácia dos anticorpos monoclonais
antiCD25:
Só existe algum consenso da “não necessidade” de qualquer
forma de indução, incluindo de antiCD25 ou rATG em
receptores caucasianos de dadores vivos haplo-idênticos
Para todos os outros grupos de receptores, de dadores vivos ou
falecidos, a adição de indução apresenta resultados superiores.
1) Anticorpos policlonais:
1) Linfoglobulina de origem equina
2) Imunoglobulina antitimocítica de coelho
3) Imunoglobulina humana inespecífica de alta dosagem
(IVIG)
3) Anticorpos policlonais (antilinfocitários e antitimocito):
1) Linfoglobulina de origem equina
versus
2) Imunoglobulina antitimocítica de
coelho (mais eficaz)
3) Anticorpos policlonais Imunoglobulina antitimocítica de coelho
(Genzyme):
Dosagem: aproximadamente 1,5 mg/Kg
Obtido de coelhos imunizados com timocitos humanos
Vantagem: um pouco menos dispendiosa que ATG
Desvantagem: Preferencialmente deve ser administrado por
catéter central (pode ser dado por via periférica com 1.000U de heparina
e 20 mg de hidrocortisona)
3) Anticorpos policlonais (antilinfocitários):
ATG-Fresenius
Dose: 3 a 5 mg/Kg; pode ser usado em via periférica
Obtidos de coelhos imunizados com a linha celular de
uma leucemia de células T (Jurkatt cell line)
3) Anticorpos policlonais (antilinfocitários e antitimocito):
Para simplificar denominarei em conjunto os
anticorpos antitimocíticos da Genzyme e da Fresenius,
como rATG (rabbit Anti-Thymocyte Globulin)
3) Anticorpos policlonais (rATG):
Utilizadas quer na terapêutica de indução
quer no tratamento de
rejeições cortico-resistentes
3) Anticorpos policlonais (rATG):
É muito importante que sejam iniciados antes da
implantação do enxerto, pois reduzem a incidência de
função retardada do enxerto, provavelmente por
bloqueio de moléculas de adesão
Indução por AC antiCD25 versus rATG:
• É incontroverso que doentes de elevado risco
imunológico beneficiam mais de indução com ATG
• É também incontornável que o risco infecioso e
neoplásico também é superior (embora nem sempre
patente em estudos de curta duração)
Indução por AC antiCD25 versus rATG:
A maioria esmagadora dos centros utiliza rATG em
doentes com função tardia do enxerto, para atrasar a
introdução dos inibidores da calcineurina, que têm o
potencial de prolongar a necessidade de diálise
Indução por AC antiCD25 versus rATG:
Aonde existe controvérsia é no uso de rATG
preferencialmente ao basiliximab em doentes de risco
imunológico baixo ou moderado.
Exemplos: doentes que recebem um transplante de dador vivo com
um haplotipo em comum ou doentes idosos com 0% de
sensibilização, receptores de um transplante de dador falecido
Indução por AC antiCD25 versus rATG:
Aonde existe controvérsia é no uso de ATG em doentes
de risco imunológico baixo ou moderado.
Existem defensores apaixonados de uma ou outra abordagem, sem
existir um consenso…
Indução por AC antiCD25 versus rATG:
Os custos relativos, para um receptor com 70 Kg,
realizando a dose habitual de basiliximab (20 mg x 2),
7 dias de rATG Genzyme (1,5 mg/Kg) ou de rATG
Fresenius (4 mg/kg), são, respectivamente:
2.500 €, 3740 € e 4.550 €
Indução por AC antiCD25 versus rATG:
Contudo, o regime “curto” de rATG Genzyme,
proposto por alguns autores, de 3 mg/kg préTR e 2
doses posteriores de 1,5 mg/Kg (preço: 2136 €), para
um receptor com 70 Kg, compara-se favoravelmente
com o preço da dose habitual de basiliximab (20 mg x
2= 2.500 €),
“Dica” de membro da Comissão de
Farmácia e Terapêutica:
Por favor, arredondem as doses para não abrir um
frasco de rATG por uns escassos miligramas: se o
doente pesa 70 Kg e querem fazer exatamente 1,5
mg/Kg (= 105 mg), terão de disperdiçar 20 mg dos
25mg do frasco de rATG Genzyme (=107 €) ou 95 mg
do frasco de 100 mg de rATG Fresenius (= 216 €) por
dia, isto é entre 750 e 1500 € por 7 dias!!!
Outros anticorpos monoclonais:
1) AntiCD3 murino ou muronomab (OKT3)
2) Rituximab (anti-CD 20)
3) CAMPATH-1 ou Alentuzumab (anti CD52)
Anticorpos monoclonais antiCD3
(Orthoclone OK T3):
Já não existe, tendo sido um pioneiro no
tratamento das rejeições cortico-resistentes e
na indução
Outros anticorpos monoclonais:
Alemtuzumab
• O Alemtuzumab ou Campath 1 é um AC humanizado
panlinfocítico anti CD52, usado no tratamento de
leucemias linfocíticas.
• Causa uma linfopénia prolongada de vários meses
• Foi bastante usado nos USA, com vários regimes de
minimização de imunossupressão
• Associado a rejeições celulares de predomínio
monocítico, muito tardias e doenças autoimunes
Outros anticorpos monoclonais:
Rituximab
• Este AC anti CD20, usado no tratamento de linfomas não
Hodgkin, tem sido usado na prevenção/dessensitização e
terapêutica das rejeições humorais.
• Geralmente em associação com IVIG
• Por vezes, tem sido usado com bortezomib, em casos
refratários
Imunoglobulina Humana Inespecífica
Obtida de um grande pool de dadores
saudáveis, passa por um processo de
purificação apertado
Tem como indicação terapêutica (RCM)
situações como a purpura trombocitopénica e a
doença de Kawasaki
Imunoglobulina Humana Inespecífica
Tem vários mecanismos de acção propostos,
incluindo interferir com as redes
antiidiotípicas e bloqueio de produção de AC
pela ligação do fragmento Fc aos clones
respectivos
Imunoglobulina Humana Inespecífica
Tem vários mecanismos de acção propostos,
incluindo interferir com as redes
antiidiotípicas e bloqueio de produção de AC
pela ligação do fragmento Fc aos clones
respectivos
Em transplantação tem sido usada como terapêutica de
desensibilização e como terapêutica da rejeição humoral
4) Beletacept
•É uma proteína de fusão e actua sobre o Sinal
2 (co-estimulação)
Anticorpos monoclonais proteínas de fusão:
Novos alvos
B-lymphocyte-specific therapeutic targets in SLE. B-lymphocyte depletion (1) rituximab, (2) epratuzumab; reduction of dsDNA titers, (3) LJP 394/abetimus; blockade of T-cell costimulation (4) CTLA4-Ig (abatacept and belatacept), (5) IDEC131 and BG9588; blockade of B-cell stimulation, (6) belimumab.
Aprender com outras doenças imunológicas!
CTLA-4 (cytotoxic lymphocyte antigen-4 ou CD152) e a sua modificação de 2 áminoácidos, o LEA29Y, ou Belatacept
Anticorpos monoclonais proteínas de fusão:
Novos alvos
B-lymphocyte-specific therapeutic targets in SLE. B-lymphocyte depletion (1) rituximab, (2) epratuzumab; reduction of dsDNA titers, (3) LJP 394/abetimus; blockade of T-cell costimulation (4) CTLA4-Ig (abatacept and belatacept), (5) IDEC131 and BG9588; blockade of B-cell stimulation, (6) belimumab.
Limitações encontradas nos estudos
com belatacept:
• Maior incidência de rejeição em comparação com
ciclosporina
• Melhor clearance sob belatacept, mas os níveis de
ciclosporina no grupo controle foram considerados
muito superiores à prática clinica atual…
• Elevada incidência de linfomas nos doentes sob
belatacept
• Logística complicada (injeções e.v. mensais)
Novidades em imunosupressão
• Bloqueio da ICAM-1
• Bloqueio da JAK-1
• Bortezomib (inibidor de proteosomas usado no
mieloma multiplo e agora na rej. Humoral)
• Leflunomida (inibidor da síntese de piridoxinas)
• Bloqueio do complemento (Eculizumab)
A “mesma farda” pode servir a todos estes militares,
Mas, não há esquemas que sirvam a
todos os doentes!
É necessário um certo grau de
individualização terapêutica…
Portanto, são necessárias tintas alternativas na “pallete”
de cores de quem tem que tratar os transplantados…
Adjuvantes essenciais da
imunosupressão contemporânea:
•Ganciclovir e valganciclovir
•Co-trimoxazol
•Nistatina
•Ranitidina ou Pantoprazol
•Antihipertensores (Bloq. cálcio, IECAs, ARA II)
•Estatinas
•Eritropoietina e G-CSF
Transplantação:
encontro de dois organismos?
Uma arte? Uma ciência?
Transplantação:
encontro de dois organismos?
Transplantação:
encontro de dois organismos?