UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
ALICE ALVES GOMES DIERCKX
EGIPTOMANIA DO CAMPO DOS BRINQUEDOS
CURITIBA 2009
II
ALICE ALVES GOMES DIERCKX EGIPTOMANIA NO CAMPO DOS BRINQUEDOS
Monografia apresentada à disciplina Estágio Supervisionado em Pesquisa Histórica como requisito parcial à conclusão do Curso de Bacharelado em História, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná.
Orientador(a): Profª Drª Renata Senna Garraffoni
CURITIBA 2009
III
Dedico este trabalho à minha família pelo amor, pela compreensão e por tudo o que sou
Agradeço primeiramente à Professora Renata Senna Garraffoni por toda a paciência, dedicação e ajuda, sem as
quais essa monografia não seria possível. Agradeço ainda aos meus pais David e Sílvia e à minha irmã
Bárbara por todo o amor e apoio e por estarem sempre presentes de alguma forma. Ao Gustavo pela compreensão e
pelo carinho nas horas difíceis. Á Rosiléia pelo carinho, pela companhia e por me ouvir sempre que precisei.
Obrigada ao Professor Moacir Elias Santos cujas sugestões foram fundamentais para a pesquisa.
Gostaria de agradecer ainda às Professoras Margaret Bakos e Raquel Funari pelas reflexões que trouxeram
muitas contribuições a essa pesquisa
IV
RESUMO
O Egito Antigo exerce fascínio sobre a humanidade desde tempos muito remotos. Esse interesse cresce a partir das expedições napoleônicas no século XVIII, que levaram aos primeiros estudos sobre o Egito. A partir do século XIX, a Egiptologia se fundamentou e com ela a prática da Egiptomania, que consiste na apropriação de símbolos egípcios com novos significados. Esse fenômeno surge da relação entre imaginário e discursos acadêmicos sobre o tema, e pode ser notado em diversas situações cotidianas. Essa pesquisa tomou como fontes três bonecas e um brinquedo cuja temática remete ao Egito antigo e às suas representações.
Palavras-chave: Egiptomania, apropriação de símbolos, construção símbólica dos brinquedos
ABSTRACT
The Ancient Egypt fascinates humanity from very remote times. This interest grew up with the discoveries from Napoleon expedition to Egypt at the 18th century, which allowed the first studies on Egypt. Since the 19th century Egyptology became an important academic subject and helped to develop the practice of Egyptomania, which consists on the appropriation of Egyptian symbols in different social contexts. This phenomenon contains the relation between imaginary and academic discourses on the subject, and can be seen on various day-to-day situations. This search is based on tree dolls and a toy whose thematic refers to Egypt and its representations nowadays.
Key-words: Egyptomania symbols appropriation, symbolic construction on toys
V
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 06
CAPÍTULO 1- EGIPTOMANIA NA RELAÇÃO PRESENTE E PASSADO 09
1.1- A relação com o passado ao longo das transformações da produção historiográfica 09
1.2- Os usos do passado e a relação entre passado e presente 14
CAPÍTULO 2- O EGITO ANTIGO INCORPORADO E REINTERPRETADO PELOS DISCURSOS OCIDENTAIS 18
2.1- O Egito Antigo no Ocidente 19
2.2: Egiptomania e a cultura de massa 22
CAPÍTULO 3- OS BRINQUEDOS E AS BONECAS NA INDÚSTRIA CULTURAL 31
3.1- O brinquedo e seu papel na sociedade. 32
3.2- As Barbies “Cleópatra” e “Rainha do Nilo”: ícones de gerações refletindo a beleza egípcia 38
CONSIDERAÇÕES FINAIS 44
BIBLIOGRAFIA 48
ANEXOS 50
6
INTRODUÇÃO
A pesquisa que se apresenta partiu de um desejo pessoal de me dedicar
à fantástica sociedade do Nilo, porém, algumas dificuldades levaram a uma
adaptação contemporânea a partir da obra Egitptomania1 de Margaret Bakos.
O universo vastíssimo de possibilidades e o crescimento constante de estudos
a respeito da Egiptomania no Brasil permitiram a definição do tema. O
fenômeno da Egiptomania consiste na apropriação de ícones egípcios
empregados com novos significados, como é o caso de um obelisco alado
presente no aeroporto de Cusco como homenagem póstuma a um herói da
aviação venezuaelana2.
Compreender a apropriação contemporânea que se faz de símbolos e
elementos da cultura egípcia levou à necessidade de um diálogo com o
universo do imaginário3, pois a Egiptomania consiste na junção entre
imaginário e ciência. Nesse sentido, as contribuições da Nova História4,
vertente da Escola dos Annales, foram fundamentais, pois inseriram no campo
de análise do historiador diversos aspectos culturais, como imaginário e
mentalidades. Cabe aos Annales ainda a percepção de que a produção da
História é, antes de tudo, um discurso, carregado de subjetividades e
concepções pessoais do historiador, distante dos ideais de neutralidade e
verdade por tanto tempo defendidos. O historiador reflete sua intencionalidade 1 BAKOS, M. Egiptomania- o Egito no Brasil. São Paulo: Paris Editorial, 2009 2 Cf BAKOS, M.M.; COSTA, K.L.; JESUS, A.P. “Ibero-América egípcia” História: Questões & Debates, Curitiba, n. 48/49, p. 265-286, 2008. Editora UFPR 3 Cf PLATAGEAN, E. “A história do imaginário” in: LE GOFF, J. A história nova. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 4 Cf LE GOFF, J. A história nova. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
7
desde a escolha de suas fontes até a conclusão final de seu trabalho,
passando pela metodologia empregada. Nesse sentido, esse trabalho não
busca a produção de um discurso detentor da verdade, mas se baseia em uma
escolha consciente das fontes, das abordagens, dos autores e, principalmente,
de sua subjetividade.
A escolha de trabalhar com fontes materiais se deu a partir das
sugestões de Moacir Elias Santos, doutorando em Egiptologia e estudioso da
Egiptomania, dentre as quais, as bonecas Barbie - “Princesa do Nilo”(fig.5) e
“Cleópatra”(fig.2), por sua originalidade foram escolhidas. No decorrer da
pesquisa, outras fontes, no caso a boneca Susie “Rainha do Nilo”(fig.8) e o
brinquedo “Múmias do Egito”(fig.1), foram “descobertas” e incorporadas às
análises. A partir dessas novas fontes foi introduzida a questão de gênero que
podem ser pensada a partir do contexto simbólico dos brinquedos. Além
dessas questões, a análise de brinquedos possibilitou o estudo do papel social
desses importantes bens culturais, responsáveis pelo contato da criança com o
mundo. Nesse sentido, o papel cultural dos brinquedos está diretamente
relacionado à formação cultural das crianças, sofrendo variações históricas e
culturais. O brinquedo é produto de determinada sociedade, carregado de
valores e traços culturais dessa sociedade, devido a isso buscou-se
compreender as transformações dos brinquedos ao longo dos séculos5.
No decorrer das análises, a necessidade de compreender o imaginário
presente nos brinquedos e, principalmente nas bonecas Barbie, foi essencial,
5 Cf ARAÚJO, V.C. Reflexões sobre o brincar infantil. In: Revista Educação em Destaque- Colégio Militar de Juiz de Fora, edição 1, vol. 1, 2008.
VERSUTTI, A. Eu tenho, você não tem – O discurso publicitário infantil e a motivação ao consumo. Dissertação de mestrado apresentada ao IFCH da Unicamp, Campinas, 2000.
BANDET, J, SARAZANAS, R. A criança e os brinquedos. São Paulo: Martins Fontes, 1975
8
uma vez que são importantes ícones culturais da sociedade contemporânea.
Dessa forma, buscou-se relacionar o imaginário que cerca a Barbie e o ideal de
beleza egípcia ligado à imagem de Cleópatra.
Para que as diversas questões fossem analisas satisfatoriamente, a
monografia foi dividada em três capítulos a partir de grandes eixos temáticos,
nos quais o primeiro é dedicado a questões teórico-metodológicas, o segundo
a construção cultural que se produziu a respeito do Oriente e à temática da
Egiptomania, o terceiro e último trata da análise dos brinquedos, do papel
social dos brinquedos, em geral, e das bonecas em específico.
EGIPTOMANIA NA RELAÇÃO PRESENTE E PASSADO
9
A Egiptomania –reapropriação de símbolos egípcios- é um fenômeno
cultural em que imaginário e ciência dialogam de forma implícita. O imaginário
está diretamente ligado à produção dos discursos da academia, e aos usos que
a produção presente faz do passado. Nesse sentido, o capítulo pretende
estabelecer um diálogo entre o imaginário presente a respeito do Egito antigo e
os usos do passado que fundamentam esse imaginário.
O capítulo apresenta-se dividido em dois eixos temáticos, sendo que o
primeiro busca compreender como a compreensão do passado e a relação
possível entre historiador e objeto foram sendo modificadas com as
transformações epistemológicas no campo da História. Apesar de apresentar
esse panorama de forma resumida para evitar reducionismos, a escolha de
fazê-lo se fez necessária para a compreensão de como presente e passado se
relacionam.
Já o segundo item é dedicado a uma tendência constante nos estudos
desde a década de 1990, a compreensão dos usos do passado, através de
diversos exemplos de estudiosos que o fazem. Além da necessidade de
relacionar essa construção do passado ao imaginário acerca dos símbolos
egípcios, a escolha dessa abordagem remete à postura desse discurso de não
pretender produzir uma verdade universal.
1.1- A relação com o passado ao longo das transformações da
produção historiográfica
10
Os estudos acerca do passado, principalmente do mundo antigo,
durante muito tempo tratavam de determinados aspectos das sociedades,
privilegiando as temáticas política e econômica. Nesse sentido, os estudiosos
ansiavam compreender o passado como realmente aconteceu, partindo dos
temas acima mencionados, produziam modelos interpretativos que atribuíam
ao mundo antigo a característica de imutável por longos períodos. Dentro
dessa interpretação, os estudos a cerca da sociedade eram pautados em
divisões de grandes grupos sociais que constituíam uma sociedade dividida em
estamentos com pouca ou nenhuma mobilidade social. Esse tipo de modelo
produz uma homogeneização, pois desconsidera diferenças entre membros de
um mesmo grupo. De acordo com isso, os estudiosos passam a estudar
somente aspectos relacionados às elites, pois nos demais grupos, não ocorrem
mudanças.
Os estudos marxistas surgem como alternativa para interpretações
elitistas, baseando o “movimento” da História nos conflitos entre oprimidos e
opressores. Nesse sentido, grupos até então carentes de interpretações
assumem o papel de protagonistas de um processo pautado na dualidade.
Apesar de sua grande contribuição para o estudo dos excluídos, o marxismo
pouco incluiu em suas análises grupos e aspectos que fugiam à regra dualista.
Nesse contexto de mudanças paradigmáticas, a Escola do Annales no início do
século XX, introduz no campo da História novos temas, objetos e fontes.
Esse movimento historiográfico fundado por March Bloch e Lucien
Febvre em 1929 e que reuniu nomes como Georges Duby, Michael Foucault e
Jacques Le Goff, defende a interdisciplinaridade no campo de estudo da
História, principalmente com Arqueologia, Sociologia, Geografia entre outras.
11
Em sua 3ª geração, conhecida como a “Nova História”6, a Escola dos Annales
insere todos os aspectos da vida cotidiana como objeto de estudo do
historiador, como a cultura. Cabe aos Annales ainda, a percepção de que a
produção da História é, antes de tudo, um discurso, carregado de
subjetividades e concepções pessoais do historiador, distante dos ideais de
neutralidade e verdade por tanto tempo defendidos. O historiador reflete sua
intencionalidade desde a escolha de suas fontes até a conclusão final de seu
trabalho, passando pela metodologia empregada. Nesse sentido, conforme
afirmam Pedro Paulo Funari e Glaydson José da Silva7, o historiador constrói
seu objeto. Essa concepção de História rompe com as anteriores, como o
positivismo e o marxismo, fugindo da pretensão de se almejar a verdade
histórica.
De acordo com a percepção do passado como algo construído pelo
historiador, o filósofo Michel Foucault lança na década de 1970 a obra
“Arqueologia do Saber”, onde analisa o discurso e a relação de poder que
estabelece com seu objeto. Nesse sentido, no campo da História, o
pesquisador constrói o passado, pois produz discursos sobre dotados de suas
concepções pessoais e percepções de mundo do período em que se insere. As
reflexões de Foucault e sua repercussão foram essenciais para uma reflexão
mais aprofundada a respeito da produção do saber em diversas áreas das
ciências humanas. A percepção a respeito da intencionalidade do discurso e de
suas relações de poder está presente nas análises de Edward Said8.
6 LE GOFF, J. A história nova. São Paulo: Martins Fontes, 2001 7 FUNARI, P.P.; SILVA, G.J. Teoria da História. São Paulo: Brasiliense, 2008, p.67. 8 SAID, E.W. Orientalismo– O Oriente como criação do Ocidente. 3ª Ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
12
Ao longo de sua obra, o crítico literário analisa diversos autores, entre
eles políticos, para demonstrar como o oriente é construído pelo ocidente
através dos discursos. A relação que os discursos apresentam é de
superioridade do ocidente sobre o oriente, sempre pautada na visão do outro
oriental. Para Said, a visão de oriente é historicamente construída por
diferentes visões oriundas de diferentes períodos. Nesse sentido, Said
desnaturaliza essas visões de oriente, demonstrando que são construídas e
não naturais, assim, abre possibilidade para que se construa algo novo.
Nesse sentido, reflexões acerca de como o presente constrói o passado,
ou seja, que uso faz dele, inserem na História uma nova perspectiva de
abordagem. Estudos mais recentes demonstram essa preocupação por parte
dos pesquisadores. Os debates historiográficos desde a década de 1990 têm
buscado interpretações mais plurais e heterogêneas a cerca do passado,
fugindo de grandes modelos normativos de interpretação. Conforme afirma
Glaydson José da Silva9: “Parece haver uma espécie de vontade mais de
compreender do que de explicar (...)”. Nesse sentido, o autor defende que a
ausência de uma tradição clássica – relativa ao passado clássico, tema de
suas pesquisas - contribuiu para que a historiografia brasileira não fosse
carregada de valores nacionais e de identidade, como acontece com a
historiografia européia. Durante o processo de desenvolvimento da história
problema, o “presentismo” se tornou uma conseqüência incômoda, mas a qual
não se podia negar a existência. A História produz, portanto, um discurso sobre
o passado, que representa a visão de mundo contemporânea de quem o
9 SILVA, G.J. Antigüidade, Arqueologia e a França de Vichy: usos do passado, 2005. 285f. Dissertação ( Doutorado em História)- Instituto de Filosofia, e Ciências Humanas , Universidade Estadual de Campinas, 2005, p.27-28.
13
escreve, é essencial ao estudar o passado, pensar as tradições interpretativas
dessa História. A intencionalidade da produção historiográfica em cada período
está intimamente ligada a questões contemporâneas, como política, busca por
legitimidade social, entre outras.
Assim, os usos do passado pelo presente refletem problemáticas
próprias do período, como podemos perceber na relação estabelecida entre o
pensamento pós-moderno e o passado. Datado na década de 1930, o pós-
modernismo reflete o fracasso da modernidade, e nas ciências, o fracasso do
pensamento iluminista. Rompe, portanto com o estatuto de verdade
epistemológica das ciências proposto pelo iluminismo, dando espaço às
subjetividades dos discursos10.
Partindo dos pressupostos de Edward Said a respeito dos discursos, e
buscando aproximá-lo da temática egípcia, a pesquisadora Nathalia Monseff
Junqueira11 analisa as obras do escritor francês Gustave Flaubert. Seu objetivo
é compreender como é constituído o discurso dos romances de Flaubert a
respeito do Egito a partir das percepções do próprio autor ao visitar o Oriente
entre 1849 e 1850. Nesse sentido, a autora defende que a produção cultural do
Egito, e do oriente como um todo, foi mudando ao longo dos períodos,
passando a fazer parte das rotar de antiquários e interessados em objetos de
valor, até a ocupação de Alexandria por Napoleão Bonaparte em 1798 que
inseriu o oriente nas rotas de estudos e viagens. Com a expansão da
Arqueologia no século XIX, o interesse a respeito das sociedades antigas
cresce na Europa e novos estudos sobre essas civilizações propagam
10 Michel Foucault se insere nesse contexto 11 JUNQUEIRA, N.M. “Uma viagem ao Antigo Egito: A Relação entre presente e passado na narrativa de bordo de Gustave Flaubert” História: Questões & Debates, Curitiba, n. 48/49, p. 245-264, 2008. Editora UFPR
14
informações a respeito do passado. Junqueira insere Flaubert nesse contexto
para que sua análise do autor não desconsidere as especificidades da época
em que o próprio se insere.
Nesse sentido, a produção dos discursos acerca do passado egípcio
acompanha as transformações da historiografia, moldando esse passado de
acordo com as mudanças sociais e culturais que do ocidente, principalmente
da Europa.
1.2- Os usos do passado e a relação entre passado e presente
Diversos são os usos que o presente faz do passado, como demonstra
Glaydson José da Silva12 em sua análise a respeito das apropriações da
antiguidade sob o regime de Vichy (1940-1944) na França durante a segunda
guerra mundial. Para demonstrar como o regime nazista buscou legitimar a
ocupação da França retomando a antiguidade gaulesa, Silva apresenta ao
longo de sua obra diversos usos que a Europa fez do passado em períodos
distintos. Assim, fica clara a relação que se buscava estabelecer com o
passado e que aspectos desse passado eram ressaltados de acordo com os
interesses contemporâneos. Nesse sentido, o autor defende a necessidade de
se pensar as tradições interpretativas da História e ressalta o papel da História
da Antiguidade:
12 SILVA, G.J. Antigüidade, Arqueologia e a França de Vichy: usos do passado, 2005. 285f. Dissertação ( Doutorado em História)- Instituto de Filosofia, e Ciências Humanas , Universidade Estadual de Campinas, 2005.
15
“Talvez caiba à História da Antigüidade, de modo geral, hoje, uma percepção maior acerca de suas apropriações, acerca do papel que desempenhou e desempenha em relação às construções identitárias, às reivindicações políticas, enfim, aos mais distintos jogos discursivos – algo a evidenciar seus aspectos comumente elaborados e, não raro, utilizados. A ela cabe desdizer seus próprios ditos, desfazer seus mitos e melhor perceber, para além da capacidade e erudição, as interfaces entre passado e presente dos trabalhos de historiadores.” 13
Muitos estudiosos da Antiguidade no Brasil trabalham a partir dessa
perspectiva, como o próprio Silva citado acima, , Renata Senna Garraffoni14,
Pedro Paulo Funari15, Marina Cavicchioli16, Nathalia Junqueira17, entre outros.
A noção de que o passado é retomado, reinterpretado e reutilizado pelo
presente, como defende Stephan Bann18, possibilita que se compreenda a
intencionalidade dessa relação entre presente e passado. Nesse sentido, Bann
apresenta uma análise da participação do museu no processo do
conhecimento, defendendo que a organização de uma exposição constitui um
discurso, logo não há neutralidade. Nos museus há claramente o contato do
presente com o passado, e esse contato varia de acordo com a organização de
seu acervo. Assim, pode ser um importante meio de legitimação, pois é de
qualquer forma composto de apropriações muitas vezes descontextualizadas. 13 Idem, ibidem, p. 32. 14 GARRAFFONI, R.S. Cultura Material e Fontes Escritas: uma breve discussão sobre a utilização de diferentes categorias documentais em um estudo sobre as práticas cotidianas dos romanos de origem pobre”. LPH – Revista de História, ano 11, nº 11, p. 33-57, 2001. 15 FUNARI, P.P.A. A Vida Cotidiana na Roma Antiga. Campinas: AnnaBlume, 2003 16 CAVICCHIOLI, M. As representações da sexualidade na iconografia pompeiana. Campinas: Unicamp, 2004. Tese (mestrado)– Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. 17 JUNQUEIRA, N.M. “Uma viagem ao Antigo Egito: A Relação entre presente e passado na narrativa de bordo de Gustave Flaubert” História: Questões & Debates, Curitiba, n. 48/49, p. 245-264, 2008. Editora UFPR 18 BANN, S. As invenções da História: ensaios sobre a representação do passado. São Paulo: Editora Unesp, 1990.
16
Nesse sentido, Margaret Bakos19, Ana Lima de Jesus e Karina Lima da
Costa afirmam que muitos ícones egípcios foram retirados do Egito na
modernidade, passando a fazer parte de acervos de grandes museus da
Europa e do mundo. Retirar esses objetos de seus contextos possibilita que
sejam inseridos em qualquer outro contexto dentro do museu, esse uso do
passado leva a resignificações, como estudado pela Egiptomania.
Por ser o tema de presente estudo, iremos nos ater à questão da
Egiptomania, relacionando os usos do passado com o imaginário que está
implícito nessa reapropriação simbólica. Conforme afirma Raquel Funari20, o
fenômeno da Egiptomania envolve imaginário e ciência e, muitos gêneros
culturais não escaparam dessa influência, como cinema e literatura, entre
outros. A reutilização de símbolos egípcios com diferentes significados pode
ser entendida a partir da História Cultural, e está muito ligada à questão do
imaginário. A Egiptomania é uma junção de ciência e imaginação, dos
conhecimentos acadêmicos sobre o Egito antigo com a sabedoria popular dos
mitos e símbolos, ambos traços do Orientalismo, dessa forma, se faz
necessário um diálogo com o imaginário no campo da História. As
representações de uma sociedade são parte de um sistema que se articula
com todos os outros, como religião e modos de comunicação, como defende
Evelyne Platagean21. Cabe ao historiador estudar a importância do imaginário
19 BAKOS, M.M.; COSTA, K.L.; JESUS, A.P. “Ibero-América egípcia” História: Questões & Debates, Curitiba, n. 48/49, p. 265-286, 2008. Editora UFPR 20 FUNARI, R.S. FUNARI, R. dos Santos. “As imagens sobre o Egito à luz das discussões recentes” in: Revista dos estudos filosóficos e históricos da antiguidade. Nº 20/21. CPA-IFCH-UNICAMP-SP, p. 203-204
21 PLATAGEAN, E. “A história do imaginário” in: LE GOFF, J. A história nova. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 309.
17
nessa contínua relação entre os sistemas e, segundo Jacques Le Goff22, por
ser ofício a história, é preciso criar métodos e propor uma reflexão sobre estes
temas. Nesse sentido, buscamos acima relacionar o estudo do imaginário e
dos usos que o historiador faz do passado, para compreender como o presente
se relaciona com esse passado.
Assim, a Egiptomania é tratada ao longo dessa pesquisa como um
fenômeno cultural fruto dos usos e discursos acerca do Egito antigo produzidos
pela academia e perpetuado por diversos elementos culturais. Nesse sentido, é
um fenômeno em constante transformação, pois está relacionado ao
imaginário, que é fruto do presente e do uso que esse presente faz do
passado.
O EGITO ANTIGO INCORPORADO E REINTERPRETADO
PELOS DISCURSOS OCIDENTAIS.
22 LE GOFF, J. A história nova. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 05.
18
O interesse pelo Egito antigo se manifesta de diversas maneiras, como
no caso da Egiptofilia e da Egiptomania, fenômenos interligados, como se
procura demonstrar no decorrer do capítulo, a partir das reflexões de Margaret
Bakos23, estudiosa do fenômeno da Egiptomania no Brasil, e de Ian Shaw24,
estudioso inglês. Nesse sentido, para uma compreensão ampla desse
complexo fenômeno, o capítulo se fundamenta nos apontamentos de Edward
Said25 a respeito de como a imagem que se perpetua do Oriente está arraigada
de pré-conceitos e valores ocidentais. Partindo dessas questões, se faz
necessário inserir o Egito nesse fenômeno denominado de Orientalismo, na
tentativa de compreender como essa imagem do Egito antigo e dos egípcios é
formada e perpetuada através de diversos meios, dentre eles a academia e o
cinema.
Para que as questões acima mencionadas fossem analisadas e
abordadas satisfatoriamente, o capítulo foi dividido em duas partes, sendo que
a primeira pretende uma abordagem teórica a respeito do Orientalismo, para
então centralizar a discussão no Egito Antigo. Já a segunda parte é dedicada
ao fenômeno na Egiptomania e à análise de como o imaginário infantil a cerca
do Egito é construído e se manifesta em meninos e meninas, para tal as
reflexões de Raquel Funari26 sobre o tema serão discutidas.
2.1- O Egito Antigo no Ocidente 23 BAKOS, Margaret. Egiptomania – O Egito no Brasil. São Paulo: Paris Editorial, 2004. 24 SHAW, I. Ancient Egypt: A Very Short Introduction. New York: Oxford University Press, 2004. 25 SAID, E. Orientalismo: O Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.26 FUNARI, R. dos Santos. Imagens do Egito Antigo – um estudo de representações históricas. São Paulo: Annablume, 2006.
19
O Antigo Egito exerce fascínio sobre a humanidade desde tempos muito
remotos, como se percebe na obra de Heródoto, até os dias atuais. Além disso,
esteve presente durante a Idade Média e, posteriormente, no período
napoleônico. A esse interesse pelo Egito e suas interpretações, há vestígios de
um fenômeno atualmente denominado Orientalismo, no qual o Oriente como
percebemos é uma “criação” ocidental, como analisado por Edward Said ao
longo de sua obra.
Devido ao fato de ser de origem palestina e viver nos Estados Unidos da
América, Said percebeu, a partir da literatura que o Oriente era retratado
muitas vezes de maneira equivocada e carregada de valores culturais próprios
do Ocidente. Nesse sentido, a questão oriente-ocidente, ou seja, a construção
cultural que se faz do Oriente e do oriental, muitas vezes fundamentada na
produção acadêmica, é fundamental para o pensamento de Said. Para ele, a
separação oriente-ocidente é cultural e não geográfica e surge, principalmente,
na Europa com a busca por identidade quando da formação dos Estados
Nacionais e se reafirmando durante a expansão européia sobre Ásia e África
iniciada no século XIX. Nesse contexto essa separação é conveniente tendo
em vista que a Europa e, principalmente, França e Inglaterra dominavam os
territórios orientais, buscando uma posição de superioridade. Essa
superioridade uniu os europeus e segregou os orientais, mas esse processo
não é natural, é historicamente construído, como esclarece Edward Said27. Seu
texto compartilha de algumas idéias em comum com Foucault, como no caso
27 SAID, E. “O âmbito do orientalismo”. In: SAID, E. Orientalismo: O Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 2004, p. 41-119.
20
da relação entre discurso e poder, muito explícita em todos os âmbitos do
orientalismo.
Por ser crítico literário, Said tem uma abordagem diferente dos
historiadores, recebendo críticas por não considerar as especificidades
históricas, mas seu foco está na análise dos discursos e literatura em direção
às origens do orientalismo. Demonstra como, através desses discursos,
mesmo com suas continuidades e rupturas, a Europa construiu culturalmente o
Oriente. Nesse sentido, Said afirma – e é o primeiro a fazê-lo - que a visão que
temos do oriente é historicamente construída, fruto dessas diferentes visões
presentes nos discursos de diferentes tempos históricos. Por serem, então,
discursos construídos, têm um local de origem, um discurso fundador com
razões próprias do período em que foram criados. Analisar esse aspecto é uma
das preocupações que norteiam as análises apresentadas por Said.
Nesse sentido, a questão está relacionada à formação do outro, que é
fundamental para a busca da identidade européia no século XIX. Ao buscar sua
identidade comum a Europa se diferencia culturalmente do outro, do Oriente,
colocando-o como exótico e inferior. É possível notar esses aspectos, por
exemplo, nos discursos que buscam legitimar a ocupação britânica, como no
caso do discurso de Arthur James Balfour para a Câmara dos Comuns em 13
de Junho de 1910 analisado por Said28.
Segundo Said, Balfour busca legitimar, em seu discurso, a presença
inglesa no Egito defendendo que o oriental – designação moral, cultural e
geográfica – carece de civilidade, cabendo, então, aos ocidentais levar
civilização a ele. Há dois temas recorrentes no discurso de Balfour: saber e
28 Idem, ibidem, p. 41-119.
21
poder, afirmando que a legitimidade da ocupação se dá devido ao
conhecimento que os britânicos possuem do Egito, desde sua origem, sendo
capazes de evitar um novo declínio da civilização egípcia. Nesse sentido,
conhecer é ter poder sobre, negando a autonomia aos egípcios e aos orientais
como um todo.
Para Said existem dois orientalismos, a construção cultural e o tema de
estudo. A relação entre eles é clara, uma vez que a disciplina é fruto da
construção cultural ao mesmo tempo em que construção cultural é
constantemente guiada pelos discursos acadêmicos numa clara relação de
poder que ambos exercem sobre o Oriente. Nesse sentido a construção dos
conceitos e da visão que o Ocidente criou do Oriente não é natural, mas
construída, repleta de juízos de valores e extremamente homogenizadora.
A partir do momento em que se olha criticamente para conceitos como
superioridade e exotismo, buscando suas origens e sua construção histórica,
estes são desnaturalizados, abrindo caminho para a desconstrução, possibilita-
se um novo olhar mais crítico sobre o oriente, em nosso caso, sobre o Egito.
Perceber como os discursos constroem e perpetuam visões de Oriente é
fundamental para a compreensão do fenômeno das apropriações
contemporâneas que se faz do Egito Antigo e, consequentemente, de como se
perpetuam através de diversos elementos culturais, como o cinema e a
literatura. Nesse sentido, é necessário inserir a cultura de massa nesse
contexto de produção cultural de concepções a cerca do Egito que acabam
sendo incorporadas ao imaginário coletivo.
2.2- Egiptomania e a cultura de massa
22
O fascínio pelo Egito está intrinsecamente ligado às questões
mencionadas, pois faz parte da construção cultural e acadêmica do Egito. Esse
fascínio intensificou-se com as descobertas da expedição enviada por
Napoleão Bonaparte ao território egípcio no século XVIII. Dentre as mais
importantes destaca-se a Pedra da Roseta, pedra triangular contendo
inscrições de um mesmo texto em escrita grega, demótica e hieroglífica. Com
isso, em 1821, Jean-François Champollion fez a primeira leitura de hieróglifos,
a partir daí o interesse pelo Egito só aumentou29.
Segundo Bakos, há três classificações para esse interesse: a Egiptofilia,
caracterizada pelo gosto por objetos, pelo exotismo e pela arquitetura egípcia;
a Egiptologia, que consiste no estudo científico de tudo o que é relativo ao
Egito; e a Egiptomania, ou “Revivificação Egípcia”, “Estilo do Nilo” ou ainda
“Faraonismo”, que é a apropriação de traços da cultura egípcia com
interpretações atuais por diferentes culturas, por exemplo, a utilização de
símbolos como a pirâmide em logotipos30 de escritórios de arquitetura. A
prática da Egiptofilia é anterior à Egiptologia, e, como exemplo, podemos citar o
episódio comentado por Bakos31, em que, ainda na antiguidade, o imperador
romano Augusto teria ordenado o envio de obeliscos para Roma. De acordo
com Bakos, esse fato foi marcante para o desenvolvimento da Egiptomania,
que além de enraizada à Egiptofilia, dialoga com a Egiptologia. Enquanto a
Egiptofilia era comum desde a antiguidade, o desenvolvimento do estudo
científico do Egito antigo é muito posterior. Nos séculos XIX e XX, a Egiptologia
29BAKOS, Margaret. Egiptomania – O Egito no Brasil. São Paulo: Paris Editorial, 2004. pp: 09. 30 Idem, p. 10-11. 31 Idem, ibidem, p. 10.
23
ganhou forças com a leitura dos hieróglifos e as crescentes descobertas de
túmulos como o de Tutankhamon pelo arqueólogo Howard Carter em 1922.
Apesar de não ser tão evidente quando a Egiptologia, a Egiptomania
está muito presente em nossas vidas, nas cidades, nas ruas e até em nossas
residências. Vivemos cercados por símbolos referentes à civilização egípcia, da
arquitetura à publicidade. Como ressalta Margaret Bakos, é preciso recorrer à
Egiptologia para tratar da Egiptomania, uma vez que esta tem origem na junção
entre ciência, estudos acadêmicos, imaginação e misticismo32. Para Raquel
Funari33 a Egiptomania não se restringe a uma mania pelo Egito, pois não é
apenas uma cópia das formas egípcias, essas adquirem novos significados no
contexto da época em que são recriadas.
Nesse sentido, a Revivificação Egípcia foi introduzida no Brasil por D.
Pedro I, que reuniu um acervo considerável de peças egípcias e foi fortalecida
por D. Pedro II, que se tornou um estudioso da cultura egípcia chegando a
visitar o Egito em duas ocasiões. Segundo Raquel Funari34, o interesse por
assuntos relacionados ao Egito Antigo é um fato cotidiano, comprovado pela
existência no Brasil de Programas de Pós-Graduação com especializações no
Egito Antigo. Trabalhando com o fenômeno no Brasil existe na PUC-RS um
projeto organizado pela Prof.ª Dr.ª Margaret Marchiori Bakos e que conta com
pesquisadores como o Prof. Dr. Ciro Flamarion Cardoso, o Prof. Moacir Elias
Santos e a profa. Dra Raquel dos Santos Funari. O projeto chamado
Egiptomania conta também com alunos bolsistas, e alunos e profissionais
32 Idem, ibidem, p. 10. 33 FUNARI, R. dos Santos. “As imagens sobre o Egito à luz das discussões recentes”. Revista de estudos filosóficos e históricos da antiguidade. Nº 20/21. CPA-IFCH-Unicamp-SP. 34 FUNARI, R. dos Santos. Imagens do Egito Antigo – um estudo de representações históricas. São Paulo: Annablume; Unicamp, 2006.
24
colaboradores. Os objetivos do projeto são estudar as manifestações de
Egiptomania no Brasil na publicidade, nas revistas, na arquitetura, e assim por
diante, além dos desdobramentos da mesma desde o tempo de D. Pedro I. O
projeto conta com um site35 onde estão disponíveis artigos que são resultados
das pesquisas e resenhas do grupo.
Em seu livro36 Margaret Bakos ressalta as dificuldades encontradas ao
realizar essa pesquisa sobre Egiptomania no Brasil. Como não havia
publicações anteriores, foi necessária uma pesquisa arqueológica em âmbito
nacional para levantar dados, tendo como modelo pesquisas realizadas na
América do Norte e Europa. Embora a Egiptomania no Brasil seja mais recente
que na Europa, não é menos importante e deve ser estudada.
Nenhum gênero escapou da influência Egiptomania, nesse sentido, a
influência de ciência e imaginário é clara nos estudos de Margaret Bakos,
Márcia Raquel Brito, Marcelo Chechelski e Flávia M. Dexheimer37. Esses
estudiosos afirmam que:
“(...)publicitários, proprietários de estabelecimentos comerciais e fabricantes de produtos, quando decidem utilizar elementos egípcios na divulgação de seus negócios, o fazem, na maioria dos casos, baseados numa escolha refletida. Procuram encontrar nos símbolos egípcios um eficaz apelo de marketing, que supostamente representaria a garantia extra para o sucesso do empreendimento”38
Esses símbolos estão diretamente ligados às “idéias” associadas pelas
pessoas como grandeza e sabedoria. Para Bakos, a utilização da pirâmide na
35 www.pucrs.br/ffch/historia/egiptomania 36 BAKOS, Margaret. Egiptomania – o Egito no Brasil. São Paulo: Paris Editorial, 2004. 37 BAKOS, M.; BRITO, M. R.; CHECHELSKI, M. ; DEXHEIMER, F. M. “Marketing e Egito” In: BAKOS, Margaret. Egiptomania – o Egito no Brasil. São Paulo: Paris Editorial, 2004. 38 Idem, ibidem, p. 136.
25
arquitetura, por exemplo, busca atualizar seu sentido original sempre aliado à
idéia de solidez, mas também à beleza das formas, tornando-se elemento
muito presente em edificações contemporâneas. Essas associações estão
muito presentes no imaginário do brasileiro e tais fenômenos da Egiptomania
podem ser encontrados em todo o país. O mesmo acontece com os obeliscos,
que são os símbolos egípcios mais comuns, apesar de muitas vezes acabarem
despercebidos nas grandes cidades, são réplicas dos originais, mas com
diversos significados. Segundo levantamento de Bakos39 “existem centenas,
talvez milhares de obeliscos espalhados pelas cidades brasileiras”, mas muitas
pessoas não são capazes de identificá-los. Além da mudança de significados,
muitos obeliscos e pirâmides também perderam sua forma original e ganharam
formas arredondadas. Essas re-significações trazem as pirâmides, por
exemplo, como elemento místico que atrai boas energias, são frutos do
imaginário social ligado ao exotismo, ao misticismo, à grandeza da civilização
egípcia e, também, à morte, com a qual o Egito Antigo tinha uma relação muito
estreita. E de fato, os egípcios nunca “voltaram da morte”, mas são eternizados
e símbolo de força até os dias atuais. O fascínio por essa civilização mescla
esses elementos de adoração e exotismo, numa relação única e intrigante que
a Egiptomania se propõe a estudar.
Num contexto mais amplo, o olhar de Raquel Funari40 sobre o ensino da
História Antiga, e mais especificamente do Egito Antigo no Brasil, é capaz de
nos fornecer um panorama geral de como as novas gerações estão
percebendo e tendo contato com essa civilização. Em seu livro, Funari
39 BAKOS, Margaret. Egiptomania – o Egito no Brasil. São Paulo: Paris Editorial, 2004, p. 62.
40 FUNARI, R.S. Imagens do Egito Antigo – um estudo de representações históricas. São Paulo: Anna Blume, 2008.
26
apresenta o resultado de uma pesquisa realizada com centenas de meninos e
meninas do sexto ano a respeito do Egito Antigo.
A autora busca com essas informações como a disciplina da História
Antiga se complementa com as informações da mídia em geral - como o
cinema - e com o conhecimento social e familiar dessas crianças. Essa
interferência externa pode ser positiva ou negativa, mas é na maioria dos casos
uma imagem idealizada do Império Egípcio, muito ligada aos discursos
ocidentais sobre oriente.
Funari realizou dois questionários aos alunos, um antes de terem
contato com o conteúdo e outro posterior, para perceber o quanto a
aprendizagem interagiu com os conhecimentos prévios. Segundo a autora,
entramos em contato com a civilização egípcia de diversas maneiras como pelo
cinema e pelas revistas. Nesse sentido, sua obra busca discutir os
desdobramentos da Egiptomania e suas relações com a educação.
Buscando as representações dos alunos a respeito do Egito, Funari se
preocupou com a construção do masculino e do feminino, suas percepções,
sensibilidades e maneiras diferentes de conceber as relações sociais, nas
quais a escola assume papel fundamental. A respeito do cinema, a autora
constatou que a grande maioria dos meninos e meninas havia assistido a pelo
menos dois filmes a respeito do Egito. Em se tratando do interesse pelo Egito e
seus mitos, a questão de gênero ficou clara, pois meninos e meninas
demonstraram interesses distintos, no caso dos meninos as pirâmides
despertavam mais interesse, no caso das meninas, a figura de Cleópatra.
No questionário aplicado após o estudo do Egito, uma questão
interessante abordada é a localização geográfica do Egito, que mesmo após o
27
aprendizado, alguns alunos ainda dissociam da África. Outras questões como,
por exemplo, a cor da pele dos egípcios, identificada pela grande maioria dos
alunos como branca. A grande dificuldade é aproximar o conteúdo desses
alunos, para isso é preciso identificar, comparar e relacionar o conhecimento
externo, para levar aluno a problematizar o passado e sua própria realidade.
Muito do conhecimento externo que se tem a respeito do Egito Antigo
está relacionado aos jogos e aos filmes, sendo esses últimos alvos do
interesse de crianças e adultos. Nesse sentido, apesar do caráter romantizado
dos filmes a respeito do Egito Antigo, alguns aspectos refletem aquilo que de
real se conhece sobre essa civilização, como as múmias, os faraós, os mitos.
Nesse sentido, o egiptólogo Ian Shaw constrói uma análise a respeito de como
o Egito passou das pesquisas acadêmicas para o domínio público através das
artes, da arquitetura, da música, da literatura e do cinema, principalmente.
Segundo Shaw, esses variados “Egitos” apropriados por esses artistas,
escritores e cineastas são conseqüência de uma Egiptologia “alternativa” fruto
da produção de livros e documentários, muitas vezes produzindo abordagens
não-acadêmicas da arqueologia e de textos do Egito antigo.
Shaw trabalha ainda com as figuras de Nefertiti e Cleópatra, idealizadas
como ícones de beleza pelo Ocidente, trazendo à discussão também a questão
racial. O busto de Nefertiti encontrado pelo alemão Ludwig Borchardt, em 1912,
fascinou Hitler e foi alvo de discussões entre os alemães e autoridades
egípcias. Apesar de muitas controvérsias a respeito da origem egípcia de
Nefertiti, o busto se tornou e ainda o é, um símbolo de beleza fora dos padrões
africanos de traços e pele. Um mistério ainda maior ronda a figura talvez mais
conhecida do Egito antigo, a rainha Cleópatra. Nunca foi encontrado um busto
28
de Cleópatra ou seu corpo, mas muito se especula a respeito de sua
aparência. Nesse sentido, o cinema assume papel fundamental, pois construiu
uma Cleópatra extremamente bela, charmosa, sedutora e estrategista, apesar
de registros como moedas romanas expressarem o contrário. Seja no papel de
Claudette Colbert, Viven Leigh ou Elizabeth Taylor, a última rainha da dinastia
ptolomaica é branca e com traços físicos e culturais mais europeus que
egípcios.
Nesse sentido, muitos do que se entende a respeito dessas figuras e de
outros elementos da cultura egípcia estão muito ligados às noções das
produções não-acadêmicas, que são carregadas de valores implícitos, como os
valores raciais. É possível compreender a dificuldade apresentada pelas
crianças em definir o Egito como um país africano e os egípcios como negros.
Além disso, os apontamentos de Funari possibilitam a percepção de que as
diferentes abordagens a respeito do Egito antigo fomentam diferentes
interesses, como no caso de gênero apontado anteriormente.
O universo infantil está repleto de referências egípcias, seja nos jogos,
nos filmes, nos brinquedos e, como consequencia, produz visões a respeito do
Egito antigo. No campo dos brinquedos, objeto de pesquisa dessa monografia,
o apelo a diversos elementos de interesse a fim de gerar o desejo de consumir
determinado produto é muito presente, como aponta Andrea Versuti41. Apesar
de não abordar o tema dos brinquedos relacionados ao Egito Antigo, a autora
faz uma análise a respeito do universo dos brinquedos de forma geral e de
41 VERSUTTI, A. Eu tenho, você não tem – O discurso publicitário infantil e a motivação ao consumo. Dissertação de mestrado apresentada ao IFCH da Unicamp, Campinas, 2000.
29
como as diversas mídias, entre elas a publicidade, assumem um papel
fundamental para a fomentação do consumismo infantil.
Perceber como os brinquedos fazem parte do universo do consumo e da
publicidade, estabelecendo relações com o imaginário infantil, possibilita que
se reflita a respeito do diálogo entre a imagem de Egito que essas crianças
constroem com influências de discursos externos e os valores transmitidos por
esses brinquedos. A partir disso, repensar como essas visões são
historicamente construídas permite que se analise como esse tipo de discurso
vem sendo reafirmado constantemente a partir de filmes, jogos, literatura, e
nem nosso caso, a partir dos brinquedos- importantes elementos culturais.
Nesse sentido, por fazerem parte do universo infantil desde tempos
muito remotos, os brinquedos são comuns a qualquer criança, assumindo um
importante papel social. A atividade lúdica coloca a criança em contato com o
mundo e com as simbologias perpetuadas no meio em que essa criança se
insere, no caso específico dessa pesquisa, as simbologias acerca do Egito
antigo.
30
OS BRINQUEDOS E AS BONECAS NA INDÚSTRIA CULTURAL
Os brinquedos constituem um universo vastíssimo, que não se restringe
às crianças, nesse sentido, o imaginário adulto também se reflete na produção
desses brinquedos, tendo em vista que, na grande maioria dos casos, é
produzido por adultos visando o público infantil. Este capítulo pretende
compreender o desse universo lúdico a partir do papel social dos brinquedos,
que são as fontes dessa pesquisa. Para isso, será dividido em duas partes, a
primeira se dedica a definir como esses brinquedos se inserem nas sociedades
e que tipo de valores transmite, principalmente a respeito do Antigo Egito.
Partindo de reflexões a cerca do papel social e cultural do brinquedo abordadas
31
por Andrea Versutti42, Jeanne Bandet e Réjane Sarazanas43 pretende-se inserir
esses importantes objetos na produção cultural mundial do século XX44,
atentando para questões de gênero e imaginário egípcio infantil a partir da obra
de Raquel Funari45.
A segunda parte trata das bonecas e de seu papel social46, do
imaginário a respeito da boneca Barbie ligado à “realização de sonhos, a
projeção de papéis sociais e valores positivados”47. Além de buscar
compreender, a partir de reflexões de Ian Shaw48 e Raquel Funari49, como a
concepção de beleza egípcia é refletida nesses bens culturais.
3.1- O brinquedo e seu papel na sociedade
A relação das crianças com o mundo passa pelo universo da
brincadeira, que algumas vezes acaba reproduzindo situações reais e
cotidianas – como o caso das bonecas que são reproduções de bebês. É
durante a infância que imagens e representações são apropriadas pela criança,
seja através dos jogos, dos brinquedos, dos filmes, dos quadrinhos, dos 42 VERSUTTI, A. Eu tenho, você não tem – O discurso publicitário infantil e a motivação ao consumo. Dissertação de mestrado apresentada ao IFCH da Unicamp, Campinas, 2000. 43 BANDET, J, SARAZANAS, R. A criança e os brinquedos. São Paulo: Martins Fontes, 1975. 44 MORIN, E. Cultura de massas no século XX – o espírito do tempo. V.1. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1975. 45 FUNARI,R.S. Imagens do Egito Antigo – um estudo de representações históricas. São Paulo: Annablume, 2006. 46 BANDET, J, SARAZANAS , R. “O brinquedo por excelência: a boneca” In: BANDET, J, SARAZANAS, R. A criança e os brinquedos. São Paulo: Martins Fontes, 1975, P. 117-148. 47 VERSUTTI, A. “Campanha ‘Barbie: Tudo o que você quer ser” In: VERSUTTI, A. Eu tenho, você não tem – O discurso publicitário infantil e a motivação ao consumo. Dissertação de mestrado apresentada ao IFCH da Unicamp, Campinas, 2000, P. 147-161. 48 SHAW, I. Ancient Egypt: A Very Short Introduction.New York: Oxford University Press, 2004, p. 137-159. 49 FUNARI, R.S. Imagens do Egito Antigo – um estudo de representações históricas. São Paulo: Annablume, 2006
32
conhecimentos de sala de aula ou dos assuntos discutidos em casa. O papel
social dos brinquedos está diretamente ligado à formação cultural dessas
crianças, sofrendo variações históricas e culturais. Nesse sentido, o brinquedo
é um produto de uma determinada sociedade, logo é carregado de seus traços
culturais, fazendo parte do sistema dessa sociedade e assumindo um papel
importante dentro dela. Segundo Viviam Carvalho de Araújo50, “o brinquedo
está inserido em um sistema social e é portador de funções sociais e de
significados que remetem a elementos do real e do imaginário das crianças.”
Assim, a cultura lúdica está intimamente ligada ao universo cultural em que
essa criança está envolvida, em que a mídia muitas vezes tem papel
fundamental. Nesse sentido, elementos dos filmes, jogos e desenhos são
apropriados através das brincadeiras, enriquecendo-as e trazendo novas
relações entre a cultura infantil e os brinquedos. É essencial compreender
como se estabelece essa relação no ato do brincar e o desenvolvimento desse
importante elemento cultural.
O brinquedo está presente nas atividades lúdicas desde tempos muito
remotos, tendo em vista que o ato de brincar é natural da criança, porém esses
objetos passaram por grandes transformações ao longo dos tempos. Os
apontamentos de Jeanne Bandet e Réjane Sarazanas51 a respeito da “história
dos brinquedos” possibilitam uma compreensão desse processo de difícil
constituição. Algumas fontes, como pinturas, sepulturas e registros escritos,
tornam possível afirmar a existência de brinquedos em sociedades da
antiguidade remota.
50 ARAÚJO, V.C. Reflexões sobre o brincar infantil. In: Revista Educação em Destaque- Colédio Militar de Juiz de Fora, edição 1, vol. 1, 2008,p. 2 51 BANDET, J, SARAZANAS, R. “O brinquedo por excelência: a boneca” In: BANDET, J, SARAZANAS, R. A criança e os brinquedos. São Paulo: Martins Fontes, 1975.
33
“Cega-regas e pequenos potes cerâmicos subsistiram desde tempos pré-históricos... até hoje, bem como algumas figuras de animais. A madeira não resistiu aos maus tratos do tempo. Mas deve ter sido um importante material na confecção de brinquedos, uma vez que é leve e inquebrável. Conhecemos animaizinhos de pedra de origem persa, com mais de três mil anos; assentavam-se em rodas e eram puxados por um fio que passava por um orifício feito na base . Foram também encontrados, nos túmulos egípcios, figuras de animais que ofereciam já bastantes possibilidades mecânicas de movimento , como actualmente muitos brinquedos. É do Alto Egito que provêm as primeiras bonecas de trapo conhecidas. Do mundo grego e romano nos ficaram também carrinhos e bonecas de argila. Pequenos móveis de bronze da mesma proveniência fazem-nos concluir que nesses povos existam já casas de bonecas semelhantes às que estariam tão em voga séculos mais tarde. Soldados e cavalos em miniatura eram também já conhecidos(...).”(Ludwig Kraft)52
Nesse, sentido, os brinquedos variam de acordo com o período e a
sociedade, mas brinquedos como as bolinhas de gude e as bonecas fazem
parte do universo infantil a milhares de anos. Marionetes, fantoches, espadas e
barcos de madeira também são bastante antigos. A confecção dos brinquedos
foi, durante muito tempo, caseira e artesanal, com materiais muito distintos
daqueles utilizados atualmente, como cerâmica, madeira e tecidos.
Gradativamente essa produção foi se industrializando, acompanhando a
mundialização cultural, decorrente de uma “segunda industrialização” segundo
Edgar Morin53 iniciada no início do século XX.
A industrialização crescente que irradiava da Inglaterra, espalhando-se
pelo continente europeu necessitava de matéria-prima não disponível em
abundância na Europa, levando a um novo processo de colonização, não
apenas territorial, mas cultural. Além dos inquestionáveis avanços científicos e
tecnológicos, a industrialização introduziu a sociedade moderna novas
52 apud Bandet & Sarazanas, 1975, p. 33.53 MORIN, E. Cultura de massas no século XX – o espírito do tempo. V.1. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1975.
34
mudanças, como a busca por um lucro cada vez maior, sustentado por um
consumo crescente. Nesse sentido, Morin (1975) afirma que esta é a
industrialização do espírito, o desenvolvimento da indústria cultural, através do
cinema, da televisão, do rádio, dos jornais e revistas. A produção em larga
escala não foi exclusiva dos bens “materiais”, os bens “culturais” também
passaram pelo processo. Assim, a busca por uma lucratividade sempre maior e
a nova cultura do consumo, levaram a indústria cultural a um desenvolvimento
em grandes proporções.
Os filmes e outros elementos do lazer levaram à construção de padrões
culturais e de consumo comuns em praticamente todo o mundo, é a chamada
cultura de massa, que conforme Morin:
“(...) constitui um corpo de símbolos, mitos e imagens concernentes à vida prática e à vida imaginária, um sistema de projeções e de identificações específicas. Ela se acrescenta à cultura nacional, à cultura humanista, à cultura religiosa e entra em concorrência com essas culturas.(...) A cultura de massa integra e se integra ao mesmo tempo numa realidade policultural; faz-se conter, controlar, censurar (pelo Estado, pela Igreja) e, simultaneamente, tende a corroer e desagregar as outras culturas.”54
Vale ressaltar, porém, que para Morin (1975), o capitalismo e a indústria
cultural levaram a uma democratização da cultura e do acesso a ela, embora
massificada. Com a criação de grandes marcas e modelos de padrão de
consumo perpetuados pelas diversas mídias em todo o mundo, os brinquedos
passam a assumir um papel importantíssimo no universo do consumo,
inserindo o público infantil, até então pouco participativo.
54Idem,idibem,p.11.
35
Nessa perspectiva, alguns apontamentos da análise de Andrea Versuti55
sobre a publicidade infantil são muito pertinentes, uma vez que busca
compreender o imaginário presente nas campanhas analisadas, bem como os
elementos de interesse dos pequenos consumidores e “(...) o papel da
publicidade infantil na construção de uma pedagogia do consumo e sua
colaboração para legitimar a mundialização de símbolos culturais”56. Segundo
Versuti, as campanhas publicitárias são importantes discursos socializadores e
por meio destas as crianças entram em contato com um universo de marcas,
produtos e modelos de comportamento carregados de significações culturais.
Buscando traçar o perfil de criança-consumidora e suas mudanças,
Versuti percebe que a concepção de criança sofreu modificações ao longo da
história, chegando a ser, na Idade Média, retratada como um adulto em
miniatura. Somente durante a Renascença passam a ser consideradas
especificidades na condição de criança, mas essas só passam a assumir o
papel de agente econômico com perfil próprio no final do século XIX. As
crianças vão, gradativamente, assumindo um papel importante na economia e
se tornando cada vez mais exigentes. Para Versuti, a geração dos anos 1990
tem a disponibilidade de manipular uma grande variedade de informações,
vindas de diferentes meios de comunicação, como a internet e a televisão, e os
brinquedos e a publicidade envolvida devem constantemente se adequar a
esses consumidores. Para isso, não devem subestimar a importância da
brincadeira, pois esta é a principal forma pela qual a criança entra em contato
com normas da sociedade e complexas relações sociais. Versuti afirma que:
55VERSUTTI, A. Eu tenho, você não tem – O discurso publicitário infantil e a motivação ao consumo. Campinas: Unicamp, 2000.56 Idem, ibidem, p. 3.
36
“Este conjunto de referenciais do mundo infantil encontra-se inserido no processo de mundialização da cultura, no qual a publicidade desempenha papel decisivo para divulgar e dar legitimidade a símbolos culturais que não se restringem mais a um determinado país, mas podem ser encontrados em âmbito mundial”57
Nesse sentido, a publicidade deve tornar as crianças capazes de
reconhecer e manipular símbolos, imagens, códigos e referenciais associados
ao produto, em nosso caso, ao brinquedo. Desejando aproximar o mundo
egípcio e esse universo infantil, partamos para uma análise dos brinquedos e
seu papel social, a partir de questões de gênero. Os brinquedos, importantes
elementos culturais estão muito ligados a certos traços da sociedade atual.
Pode-se facilmente notar a questão de gênero implícita no universo dos
brinquedos, há brinquedos para meninas e brinquedos para meninos, e essa
diferenciação está enraizada naquilo que se espera de homens e mulheres. Os
brinquedos para meninos geralmente remetem à aventura, ao universo da
ciência, à força, à coragem. Enquanto isso, para as meninas, há uma
reprodução do universo materno, das atividades caseiras, da vaidade e da
feminilidade.
Nesse sentido, os apontamentos Raquel Funari58 serão muito
pertinentes, pois a autora apresenta a preocupação entre a forma como
meninos e meninas do sexto ano compreendem o Egito antigo. A partir de
questionários aplicados para esses alunos, se tornou possível notar que as
percepções femininas e masculinas, as sensibilidades e maneiras de conceber
as relações sociais são muito distintas, mas fruto de uma construção da própria
57 Idem, ibidem, p. 10-11. 58FUNARI, R.S. Imagens do Egito Antigo – um estudo de representações históricas. São Paulo: Annablume, 2006.
37
sociedade. Enquanto as meninas, segundo Funari, demonstraram interesse na
figura de Cleópatra, os meninos se interessaram pelas pirâmides e pelos
mistérios egípcios.
As fontes escolhidas exprimem essas questões, no caso do brinquedo
“Múmias do Egito”(fig.1), apesar de não estar especificado o público a que se
destina, a descrição diz: “Ideal para pequenos faraós”. O brinquedo da Faber-
Castell é composto por um esqueleto, uma pirâmide, um sarcófago, uma gaze
com gesso, quatro potes de tinta um pincel, areia, adesivos, navetes, luvas,
uma toalha e uma pá com esponja. A proposta é que a criança monte e decore
múmias e pirâmides, lembrando que o brinquedo faz parte de uma linha de
produtos denominados Kits Criativos. Assim, é educativo, pois coloca a criança
em contato com elementos egípcios como as pirâmides e as múmias, que são
grandes ícones aos quais nos remetemos a respeito do Egito antigo. Além
disso, aproxima a criança desse universo egípcio. Nesse sentido, é possível
perceber implícito o interesse que busca fomentar nos meninos, que conforme
apontado acima por Raquel Funari, fascinam-se pelos mistérios do Egito.
Enquanto isso, as bonecas Barbie e Susie, ao longo de suas longas
trajetórias, dedicadas ao público feminino, refletem ideais de beleza
construídos pela sociedade. Nesse sentido, é necessário compreender a
relação entre a figura de Cleópatra e a Barbie e todo o imaginário envolvido.
3.2- As Barbies “Cleópatra” e “Rainha do Nilo”: ícones de gerações
refletindo a beleza egípcia
38
Compreender o imaginário que se faz presente nas bonecas Barbies, é
fundamental para uma análise aprofundada da incorporação de símbolos
egípcios por esses importantes ícones da cultura contemporânea. As bonecas
Barbie, e sua semelhante Susie, segundo Andréa Versutti59 fazem parte de um
imaginário muito ligado à “realização dos sonhos, à projeção dos papéis sociais
e valores positivados”. Nesse sentido, a Barbie foi sendo modificada,
adquirindo novas roupas, penteados e profissões de acordo com as tendências
do universo feminino idealizado. A boneca, com seu comportamento
consumista, representa a possibilidade de realização de sonhos, sejam eles de
consumo, de posição social ou de profissão. Além disso, está imersa em uma
atmosfera de extrema feminilidade e beleza. Nesse sentido, Versuti60 afirma
que o apelo das bonecas Barbie não atinge somente as meninas, mas se
estende às mães, que buscam realizar os sonhos das filhas.
Desde seu surgimento, na década de 1950, a Barbie interpretava o
mundo adulto, fugindo do padrão boneca-bebê que vigorou até então. Versátil
e executando diversas atividades, como esportes, muitas de suas roupas eram
inspiradas em modelos de alta costura. No decorrer de sua longa trajetória, a
boneca recebeu diversas influências, chegando a ter quarenta e cinco
nacionalidades e diversas profissões, até astronauta. Atualizada, a Barbie
acompanha as transformações e tendências contemporâneas como, por
exemplo, nos anos 1960 quando adotou o estilo Flower Power. Sua produção
também se expandiu atingindo aproximadamente setenta países, chegando à
marca de mais de um bilhão de bonecas vendidas.
59VERSUTTI, A. Eu tenho, você não tem – O discurso publicitário infantil e a motivação ao consumo. Dissertação de mestrado apresentada ao IFCH da Unicamp, Campinas, 2000. 60 Idem, ibidem, p. 147-148.
39
Por esse enorme apelo entre as meninas, diversos produtos associados
à Barbie foram criados, desde acessórios como casa da Barbie e carro da
Barbie, àqueles de uso cotidiano, como material escolar com a figura da
Barbie, mochilas, roupas, sapatos, entre inúmeros outros. A boneca se mantém
como um sucesso justamente por se adaptar às tendências do mundo
feminino, passando a ser um objeto reconhecido mundialmente, com forte
conotação simbólica e cultural. Sempre retratada com hábitos saudáveis,
extremamente bela e feminina, a Barbie se tornou ideal de beleza feminina em
muitas sociedades. É possível, portanto, perceber a importância desses
brinquedos na socialização das crianças, em especial das meninas, e as
influências recíprocas entre a boneca e as tendências sociais.
Nesse sentido, as Barbies “Cleopatra”(fig.3) e “Princesa do Nilo”(fig.4)
são importantes elementos para a compreensão do imaginário acerca do Egito
Antigo, relacionado às construções culturais contemporâneas. Conforme
ressaltou Raquel Funari61, as meninas que participaram de sua pesquisa,
definiram como elemento que desperta maior interesse a figura de Cleópatra.
Como a autora pretende demonstrar, essa manifestação é decorrente da
construção cultural acerca da rainha egípcia, iniciada pelos grandes romances
históricos e reafirmada pelos veículos de comunicação atuais aos quais as
crianças têm acesso, como o cinema. À imagem de Cleópatra muitos
elementos são associados, conforme ressalta Ian Shaw62, como o poder, por
ter conquistado dois romanos muito poderosos e, principalmente, a beleza
embora contestada pelos vestígios arqueológicos. Além disso, há muito
61 FUNARI, R.S. Imagens do Egito Antigo – um estudo de representações históricas. São Paulo: Annablume, 2006. 62SHAW, I. “Egyptomania: the recycling and reinventing of Egyp’s icons and images” In: SHAW, I. Ancient Egypt: A Very Short Introduction.New York: Oxford University Press, 2004, p. 159.
40
mistério envolvido em sua morte, que talvez jamais venha a ser desvendada,
tendo em vista que sua tumba não foi encontrada.
Igualmente envolta em uma aura de mistério e beleza está a rainha
Nefertiti, que assim como Cleópatra, é um dos grandes ícones egípcios
femininos a que nos remetemos atualmente. Alguns bustos de Nefertiti foram
encontrados e ressaltam a beleza dessa poderosa rainha, esposa principal de
Akhenaton da décima oitava dinastia. Seu busto figura entre os grandes
símbolos egípcios que a sociedade contemporânea conhece, juntamente com
as pirâmides e a esfinge. Assim como Cleópatra, sua morte é misteriosa e
repleta de especulações, como a de que teria adotado um nome masculino
para assumir a co-regência do trono, chegando a governar o Egito após a
morte de Akhenaton.
Segundo Shaw há um outro elemento comum às duas figuras acima
mencionadas, pouco se tem conhecimento a respeito de suas origens. Nefertiti,
apesar de ser representada nas figuras como negra, possuía traços delicados,
que levantam a suspeita de que tivesse origens estrangeiras. Muitos defendem
que Cleópatra era de descendência ptolomaica, por isso encontramos diversas
representações da rainha branca e muito mais grega de que egípcia, como no
caso das grandes personagens da rainha no cinema, vividas por Claudette
Colbert em 1934, Viven Leigh em 1945 e Elizabeth Taylor em 1963.
Iremos nos ater à personagem de Elizabeth Taylor pelo fato de estar
representada em uma das Barbies(fig.4) nas quais nos baseamos. Nesse
ponto, é necessário estabelecer uma relação entre a imagem de Cleópatra e o
imaginário acerca da boneca Barbie já tratado anteriormente. É possível
perceber a representação de Cleópatra que se busca estabelecer no filme, e
41
consequentemente na boneca, uma vez que a atriz escolhida para o papel era
um dos grandes ícones de beleza de sua época. Nesse sentido, a escolha de
incorporar a figura de Cleópatra à Barbie está ligada a noção de ícone de
beleza que os discursos construíram a respeito da enigmática rainha do Egito.
As outras duas bonecas que o estudo tomou como fontes, são também
representações da beleza, do poder e do exotismo dos egípcios, embora com
traços particulares.
Enquanto a boneca de Elizabeth Taylor, lançada em 1999 reproduz
fielmente a personagem vivida pela atriz, trajando vestimentas e adereços que
remetem à deusa Ísis, considerada a mãe do povo egípcio, a Barbie “Princesa
do Nilo” é uma representação diferente. Lançada em 2002, a boneca faz parte
da coleção Princess Colection- Colector Edition, em que há representações de
Barbies de diversas origens étnicas, como grega, por exemplo. Nesse sentido,
sua representação é mais fiel à origem africana, apresentando a pele morena,
os olhos negros, com uma túnica branca tradicional egípcia.
A boneca Susie “Rainha do Nilo”(fig.9), lançada em 2005, apresenta
uma representação egípcia com vestimentas reais, adornos que remetem à
religiosidade egípcia, como o adorno de cabeça com duas penas, presente em
um dos vários tipos de representação do deus Amon. O cetro também era um
símbolo do poder “divino” da realeza egípcia.
Nesse sentido, as bonecas estudadas apresentam uma visão de Egito
muito pautada na beleza e no poder atribuídos à civilização egípcia a partir das
construções simbólicas de beleza e poder atribuídas ao Egito antigo. A mesma
associação com a noção de poder pode ser notada no brinquedo “Múmias do
42
Egito”, porém as semelhanças entre este e as bonecas não se estendem para
além disso..
O brinquedo apresenta um caráter educativo buscando aproximar o
público infantil do mistério das múmias e das pirâmides com os quais tem
contato por meio de desenhos, filmes, jogos e livros, entre outros meios. Assim,
busca colocar o universo infantil quase exclusivamente masculino, em contato
com os elementos que lhes fascinam na civilização egípcia. Já as bonecas
remetem a um universo simbólico muito diferente, associado principalmente à
beleza que se atribui aos grandes ícones egípcios femininos Nefertiti e
Cleópatra. Nesse sentido, ao propor incorporar a beleza egípcia à Barbie- o
grande ideal de beleza contemporânea- as bonecas reafirmam essas
construções culturais de extrema beleza e poder atribuídos às mulheres
egípcias.
Os valores expressos nesses brinquedos, como luxo, exotismo, beleza e
mistérios remetem aos discursos produzidos a cerca do Egito antigo, e do
oriente como um todo, como demonstra e critica Edward Said63. Assim, as
fontes remetem a construções do Egito, conforme o ocidente o compreende.
Nesse sentido, há expressos nesses brinquedos papeis sociais que se busca
inserir no imaginário dessas crianças a partir de elementos como beleza e
poder. O brinquedo “Múmias do Egito”(fig.1) coloca o público masculino em
contato com o universo da aventura e da descoberta através de elementos
presentes no imaginário desses meninos como múmias e pirâmides. Dessa
forma, reafirma os valores que se busca inserir na construção dos papéis
63 SAID, Edward W. Orientalismo – O Oriente como criação do Ocidente. 3ª Ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
43
masculinos na sociedade. Já no caso das bonecas Babie(fig.4, 7) e
Susie(fig.10), são apresentadas referências às noções de beleza e poder
atribuídas às mulheres egípcias, que inserem no imaginário dessas meninas a
vaidade e a feminilidade, características intrínsecas à condição da mulher na
sociedade. Tanto o brinquedo “Múmias do Egito” quanto as bonecas
apresentam representações de aspectos da elite egípcia, não há referências ao
elemento popular ou aos escravos. Esse tipo de produção é, portanto, parcial e
perpetua entre o público infantil visões a respeito do Egito que desconsideram
a variedade dessa civilização.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho monográfico teve inicio no desejo de trabalhar com o Egito
antigo e nas sugestões de Renata Senna Garraffoni para que apresentasse
uma abordagem contemporânea, partindo para um tema ainda pouco estudado
no Brasil, a Egiptomania. Esse fenômeno muito presente em diversos aspectos
de nosso cotidiano consiste na apropriação de símbolos egípcios que acabam
por receber novos significados. Um grande exemplo estudado por Margaret
Bakos64 e seu grupo de pesquisa sobre o fenômeno é a grande presença de
símbolos e referências egípcias presentes em logotipos de empresas dos mais
diversos ramos, como escritórios de contabilidade e arquitetura. Para
64 BAKOS, M.M. Egiptomania – O Egito no Brasil. São Paulo: Paris Editorial, 2004.
44
compreender como se fundamentava essa apropriação, Bakos realizou uma
pesquisa com donos dessas empresas e percebeu que a escolha pela
simbologia é consciente e pautada em conhecimentos, acadêmicos ou não,
sobre a civilização egípcia. Assim, há um diálogo entre imaginário e
conhecimento nesse tipo de manifestação.
Nesse sentido, para compreender essa relação, dialogou-se com o um
universo do imaginário tão presente no fenômeno e nas fontes materiais
escolhidas para a pesquisa. Reflexões acerca de como esse imaginário é
construído também nortearam o trabalho, uma vez que, depende diretamente
dos discursos produzidos na academia e perpetuados elementos culturais de
massa, principalmente cinema e literatura. As considerações de Edward Said65
a respeito da construção do oriente como um todo a partir dos discursos
europeus foram grandes norteadores da discussão que se buscou estabelecer.
A compreensão de que toda produção gera um discurso que tem sua
intencionalidade, nos leva a avaliar criticamente os grandes modelos
interpretativos acerca do passado. No caso do Egito antigo, é necessário
perceber que os grandes símbolos que se perpetuam até hoje no universo
contemporâneo e os modelos de organização da sociedade ensinados na
escola são escolhas e discursos produzidos, não são a verdade sobre a
sociedade egípcia.
A partir desse contexto, essa pesquisa é uma escolha consciente de sua
intencionalidade, desde o tema às fontes e à maneira com que as abordou. A
produção do trabalho fundamentou-se na compreensão do fenômeno através
65 SAID, E.W. SAID, Edward W. Orientalismo – O Oriente como criação do Ocidente. 3ª Ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
45
do diálogo entre imaginário contemporâneo e os usos que se faz do passado.
Essa tendência interpretativa a respeito da relação entre passado e presente
está sendo desenvolvida desde a década de 1990, com o intuito de
desnaturalizar os grandes modelos e conceitos, mostrando que têm uma
origem e um discurso fundador de acordo com a relação que se pretende
estabelecer com o passado em questão.
Nesse sentido, a construção do Egito, como entendemos hoje, é fruto de
discursos sobre o passado egípcio onde misticismo, exotismo, mistério, poder e
beleza são ressaltados. Esse tipo de construção é constantemente reafirmada
a partir de diversos elementos culturais, como o cinema, conforme apontado
por Raquel Funari66. A partir dessa cultura entramos em contato com apenas
alguns elementos da complexa civilização egípcia, aqueles escolhidos pelos
discursos. E nesses discursos se fundamenta o imaginário sobre o Egito que
buscamos compreender a partir das bonecas, nossas fontes.
Trabalhar com brinquedos foi uma sugestão de Moacir Elias Santos, que
pareceu muito interessante por envolver um universo de reflexões muito
distintas das tradicionais para o estudo da Egiptomania. Os brinquedos fazem
parte de um universo próprio, porém carregado de simbolismos e
intencionalidade. Nesse sentido, adotar como fontes três bonecas e um
brinquedo67 aparentemente voltado ao público masculino levou a pesquisa a
pensar questões de gênero e construção simbólica para o universo infantil
feminino e masculino. Dentre essas questões, exotismo, misticismo e poder
estão marcadamente presentes no brinquedo “Múmias do Egito”(fig.1),
66 FUNARI, R.S. Imagens do Egito Antigo – um estudo de representações históricas. São Paulo: Annablume; Unicamp, 2006. 67 Os brinquedos abordados aparentemente são voltados para o público infantil de classe média alta, pois possuem altos valore.
46
colocando o público infantil em contato com a civilização egípcia de uma forma
educativa bastante específica. Já no caso das bonecas há uma relação entre o
imaginário a respeito da própria boneca Barbie(fig.2,6) e sua semelhante
Susie(fig.11), e a construção simbólica de beleza feminina relacionadas a
grandes ícones egípcios como Cleópatra.
A partir das fontes é possível perceber o caráter elitista das
representações egípcias, não se percebe a diversidade da sociedade egípcia,
escravos e pessoas comuns não são abordados. Essa construção de um
imaginário egípcio parcial remete constantemente ao poder dos faraós, rainhas
e princesas. Nesse sentido, essas construções culturais são repletas de
intencionalidades que através dos brinquedos, reafirmam-se transmitindo
valores que se inserem no imaginário das crianças.
Assim, o simbolismo desses brinquedos reflete papéis sociais que se
esperam dessas crianças, dessa forma, o universo masculino remete
constantemente à descoberta e ao exotismo através de elementos educativos.
Já o universo feminino representa ideais como beleza e feminilidade próprios
da construção que se busca estabelecer a respeito da mulher.
A relação entre o imaginário lúdico e o simbolismo egípcio foi
fundamental para compreender o fenômeno da Egiptomania, até então não
estudado no campo dos brinquedos. Nesse sentido, a pesquisa acrescenta
fontes e perspectivas de abordagem diferenciadas aos estudos da Egiptomania
no Brasil.
47
Referências Bibliográficas:
ARAÚJO, V.C. Reflexões sobre o brincar infantil. In: Revista Educação em Destaque- Colégio Militar de Juiz de Fora, edição 1, vol. 1, 2008.
BAKOS, M.M. Egiptomania – O Egito no Brasil. São Paulo: Paris Editorial, 2004.
BAKOS, M.; BRITO, M. R.; CHECHELSKI, M. ; DEXHEIMER, F. M. “Marketing e Egito” In: BAKOS, Margaret. Egiptomania – o Egito no Brasil. São Paulo: Paris Editorial, 2004.
BAKOS, M.M.; COSTA, K.L.; JESUS, A.P. “Ibero-América egípcia” História: Questões & Debates, Curitiba, n. 48/49, p. 265-286, 2008. Editora UFPR
BANDET, J, SARAZANAS, R. A criança e os brinquedos. São Paulo: Martins Fontes, 1975.
BANN, S. As invenções da História: ensaios sobre a representação do passado. São Paulo: Editora Unesp, 1990
48
CAVICCHIOLI, M. As representações da sexualidade na iconografia pompeiana. Campinas: Unicamp, 2004. Tese (mestrado)– Instituto de Filosofia e Ciências Humanas.
FUNARI, P.P.A. A Vida Cotidiana na Roma Antiga. Campinas: AnnaBlume, 2003
FUNARI, P.P.; SILVA, G.J. Teoria da História. São Paulo: Brasiliense, 2008
FUNARI, R.S. “As imagens sobre o Egito à luz das discussões recentes”. Revista de estudos filosóficos e históricos da antiguidade. Nº 20/21. CPA-IFCH-Unicamp-SP.
FUNARI, R.S. Imagens do Egito Antigo – um estudo de representações históricas. São Paulo: Annablume; Unicamp, 2006.
GARRAFFONI, R.S. Cultura Material e Fontes Escritas: uma breve discussão sobre a utilização de diferentes categorias documentais em um estudo sobre as práticas cotidianas dos romanos de origem pobre”. LPH – Revista de História, ano 11, nº 11, p. 33-57, 2001.
JUNQUEIRA, N.M. “Uma viagem ao Antigo Egito: A Relação entre presente e passado na narrativa de bordo de Gustave Flaubert” História: Questões & Debates, Curitiba, n. 48/49, p. 245-264, 2008. Editora UFPR
LE GOFF, J. A história nova. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
MORIN, E. Cultura de massas no século XX – o espírito do tempo. V.1. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1975.
PLATAGEAN, E. “A história do imaginário” in: LE GOFF, J. A história nova. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 291-318.
SAID, Edward W. Orientalismo – O Oriente como criação do Ocidente. 3ª Ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
SHAW, I. Ancient Egypt: A Very Short Introduction. New York: Oxford University Press, 2004.
49
SILVA, G.J. Antigüidade, Arqueologia e a França de Vichy: usos do passado, 2005. 285f. Dissertação (Doutorado em História)- Instituto de Filosofia, e Ciências Humanas , Universidade Estadual de Campinas, 2005.
VERSUTTI, A. Eu tenho, você não tem – O discurso publicitário infantil e a motivação ao consumo. Campinas: Unicamp, 2000.
ANEXOS
Lista de figuras:
FIGURA 1: “Múmias do Egito”
FIGURA 2: Barbie “Cleópatra”
FIGURA 3: Barbie “Cleópatra”
FIGURA 4: Barbie “Cleópatra”
FIGURA 5: Barbie “Princesa do Nilo”
FIGURA 6: Barbie “Princesa do Nilo”
FIGURA 7: Barbie “Princesa do Nilo”
50
FIGURA 8: Susie “Rainha do Nilo”
FIGURA 9: Susie “Rainha do Nilo”
FIGURA 10: Susie “Rainha do Nilo”
FIGURA 11: Susie “Rainha do Nilo”
Figura 1
51
Figura 2 Figura 3
Figura 4 Figura 5
52
Figura 6 Figura 7
Figura 8 Figura 9
53
Figura 10 Figura 11