Transcript
Page 1: Domingo, 19 de Outubro de 2014 Nº 176 SÉRIE III Recreioimgs.sapo.pt/jornaldeangola/img/file544378b4dfed5Binder1.pdfque afundou o barco em que viaja - vam. O náufrago falava uma

SEKE IA BINDO |

O mar nunca aceita estranhos emcasa. Cedo ou tarde atira os intrusospara as praias. Foi assim que che-gou a Pinda um homem e um cão,feitos destroços de uma tempestadeque afundou o barco em que viaja-vam. O náufrago falava uma línguaestranha e não sabia revelar o seunome. Por isso foi nomeado de Mun-tu. O cão tinha pelo abundante e co-breado, era corpulento e tinha olhosmeigos. Chamaram-lhe Mbizi.Quando os pescadores encontra-

ram o homem expulso pelo mar, o cãolambia-lhe o rosto para aquecê-lo e elerespirava tão levemente que se perce-bia a extinção a qualquer momento.Foi agasalhado, como eram todos osviajantes que aportavam a Pinda. Co-meu e bebeu, aprendeu a falar e a di-zer. Um dia fez a sua casa e ali ficoucom o cão. Muntu era da grande famí-lia de Pinda, que se estendia até aomar do Nzeto. O seu espírito de via-jante levou-o ao Mbridge e até maislonge, ao mar aberto do Ambriz.Muntu era um viajante perpétuo e

mal descansava os pés partia logopara outra viagem. Nos intervalossabia descrever às crianças tudo o

que via, todos os trilhos que abria,todas as ideias que punha a voar nocéu livre do reino da paz e da abun-dância. Ele descobriu que os jacarésdo Mbridge mergulham nas águasprofundas do rio, para não apanha-rem os pingos de chuva.O chefe da aldeia então pergun-

tou-lhe: - Como resististe ao mar?E ele respondeu:- Porque tinha de salvar o meu

cão. Jamais partiria, nem para omundo dos mortos, sem o Mbizi.- Mas foi ele que te acalentou

quando sucumbias na praia… - Por isso resisti até ao limite. Sa-

bia que um dia ele me ia ensinar oque é a amizade de braços abertose a lealdade até ao último alento.Muntu não constituiu família

nem aceitou um palmo de terrapara fazer a sua lavra. Mas traba-lhava nas lavras dos vizinhos eajudava nas colheitas. Por issotodos o alimentavam de bom gra-do, até ao dia em que voltava apartir com o seu fiel Mbizi, percor-rendo caminhos escondidos nasmatas fechadas do Norte.As crianças rondavam a sua ca-

sa, descentrada da aldeia. Esprei-tavam de longe e viam-no a medi-

tar, sentado num banco à porta decasa. O cão ficava enroscado aseus pés, indiferente ao tempoque escorria vagarosamente, des-de a luz crua do amanhecer aopoente irradiando ondas de umvermelho fogueado. Um dia as crianças chegavam

de mansinho para espreitar Muntue ele já tinha partido para outra via-gem. Era mais triste do que ver

partir a bela borboleta prestes aser apanhada. Quando Muntu re-gressava havia alegria na aldeia,porque nessa noite ele contavatudo o que tinha vivido lá longe,onde as montanhas são mais al-tas do que o firmamento. Não secansava de falar e contar. Quasesempre as crianças adormeciama meio de uma das suas históriasfantásticas. Um dia Muntu regres-sou de viagem e Pinda estavatriste. As lavras foram arrasadaspor pragas e o mar dava poucopeixe. O chefe da aldeia chamou-o e perguntou-lhe:- O que havemos de fazer para o

povo ter abundância? Muntu jun-tou os pescadores e ensinou-os afazer redes para pescar no altomar. Depois fizeram canoas maissólidas, que corriam na água em-purradas pelo vento batendo navela feita de fibras de lianas. Equando estavam longe da terra, en-sinou-os a navegar pelas estrelas doCruzeiro do Sul. Em breve voltou aabundância e o chefe da aldeia per-guntou-lhe o que queria em troca. E ele disse que só desejava

que ninguém mais esquecesseesta verdade:

- Muntu wa sala kafwe nzala.Muntu wa wuta kassâdi kaka. Mun-tu wa sopa kazingi kaka. Os que tra-balham não podem passar fome.Quem casa não pode viver na soli-dão. Quem tem filhos não pode serabandonado à sua sorte quandoenvelhece.O povo de Pinda deu as mãos, ca-

da um acalentou os mais desespera-dos, todos se uniram para arrancarda terra o sustento, caçar a imponen-te mpakassa, ir ao alto mar pescar opeixe que não abundava nas praias.Todas as casas tinham comida, to-dos recuperaram a alegria. Muntusó voltou a viajar quando a últimacriança da aldeia dormia repleta eos bebés soltavam pelo canto daboca um fio do leite materno e arro-tavam de satisfação.O chefe da aldeia, quando viu

Muntu e o seu fiel Mbizi a caminhode nova viagem, disse:- Desta vez partes tarde, não qui-

seste deixar os teus irmãos com fo-me… - E Muntu respondeu com umsorriso enigmático:- Mbote wasukinina kansi ku

kondi ko!É mesmo verdade: mais vale tar-

de do que nunca!

CONSELHOS

CONTOS POPULARES ANGOLANOS

PROVÉRBIO

ADIVINHAS

Soluções:1.A boca, a língua e os dentes; 2. Língua; 3. Língua; 4. Galo; 5. Língua.

Nós gostamos de estudarNo próximo ano lectivo a minha província, o Bié, vai ter mais 200novas salas e 20 mil carteiras para que mais crianças possam ir àescola, porque ainda há muitos meninos e meninas que queremaprender, mas não têm lugar na escola ou não têm professores.Com as novas salas, a província do Bié fica mais bem servida.Mas melhor do que saber que vamos ter mais escolas é a certezade que no próximo ano lectivo está garantida a merenda escolare todos vamos ter direito a manuais.Muitas crianças gostavam de ir à escola mas sem merenda esco-lar acabam por ficar em casa, porque saem cedo de casa e de-pois não aguentam ficar muito tempo nas aulas sem comer. E atétenho amigos que gostam de ir às aulas porque na escola temosdireito à merenda.Nas escolas da nossa província vamos ter, este ano lectivo quevai entrar, mais crianças e melhores condições. Vai chegar um diaem que todas as crianças em idade escolar vão frequentar as au-las, porque têm salas e professores em número suficiente, e tam-bém não vai faltar a merenda escolar.

ALCIDES DOS SANTOS |12 ANOS | BIÉ

1.Uma capelinha muito pequenina, com o sacristão vestido devermelho e os santinhos todos de branco2. Uma senhorita, muito assenhorada, nunca sai à rua, andasempre molhada. O que é?3.Qual é a coisa, qual é ela, que varre o céu todos os dias?4.Passeia na praça, não é estudante, canta, sabe das horas,mas da morte não sabe.5. Tem à porta gente armada, mas se ela sai pela porta, elesnão defendem nada.

«Se a tua língua se transformaem faca vai cortar a tua boca.

Domingo, 19 de Outubro de 2014Nº 176 SÉRIE III

|11

Como escrever para o “Recreio”O nosso endereço é:Recreio - Página Infantil do Jornalde Angola - Rua Rainha Ginga,18/26 - Luanda, ou para o e-mail:[email protected].

RRecreioecreioSuplemento infantil do Jornal de angola

RecreioSuplemento infantil do Jornal de angola

BRINCAR E APRENDERCARTAS DOS AMIGUINHOS

AO mundo é cheio de pequenos mistérios. Muito poucagente já viu ovo de pombo ou assistiu a enterro de anão. Hácoisas que ninguém sabe realmente como funcionam. O pe-queno bolso das calças jeans também entra nesse leque degrandes mistérios da humanidade.AOs bolsos pequenos serviam para guardar os relógios. Mas,mais tarde os relógios de bolso caíram em desuso e encon-traram novas funcionalidades para o pequeno bolso. Hoje, hápessoas que o usam para guardar moedas, pendurar óculosou guardar o isqueiro.AHá quem até o use apenas para descansar os braços. Tudo de-pende da imaginação de cada um.

SSAABBIIAASS QQUUEE......

O asseio dos pésTodos os meninos já ouviramfalar do chulé, aquele maucheiro que sai dos pésquando se tiram os sapatosdos pés. Ele é provocado pormicróbios que agem junta-mente com o suor do corpo.Uma forma de evitar o chulé énunca calçar os sapatos comos pés molhados ou sujos.Lave sempre os pés e limpe-os, deixando-os bem secos ecalce-os só depois. Lave tam-bém os pés sempre que des-calçar os sapatos.

CASIMIRO PEDRO

O viajante prodigioso que veio do mar

VAMOS COLORIR

Top Related