UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES – AVM CURSO DE PÓS
GRADUAÇÃO EM PROCESSO CIVIL
JOÃO LUIZ EVARISTO DA SILVA
RESPONSABILIDADE CIVIL DO INVENTARIANTE EM
RELAÇÃO AOS HERDEIROS NO PROCESSO DE INVENTÁRIO
RIO DE JANEIRO
2014
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JOÃO LUIZ EVARISTO DA SILVA
RESPONSABILIDADE CIVIL DO INVENTARIANTE EM
RELAÇÃO AOS HERDEIROS NO PROCESSO DE
INVENTÁRIO
Trabalho monográfico de conclusão de curso de Pós Graduação (TCC) apresentado á Universidade Cândido Mendes – AVM Faculdade Integrada, como requisito parcial a obtenção do título de Pós Graduação em Processo Civil, sob a orientação do Prof. José Roberto
RIO DE JANEIRO - RJ
2014
Dedicatória
Dedico este trabalho monográfico aos
meus pais, em especial ao meu pai (in
memória), sabedor de que ainda não
assimilei todas as suas virtudes, todos os
seus ensinamentos, mas, os princípios
que consegui entender, já são suficientes
para ter em minha vida, os atributos da
personalidade, da humildade, da
dignidade, perseverança nos meus
objetivos, ainda mais, senso de justiça em
relação ao meu próximo.
Agradecimento
Ao meu orientador Prof. José Roberto, os
meus sinceros agradecimentos por ter
sido o direcionador da elaboração deste
trabalho.
RESUMO
SILVA, João Luiz Evaristo da
Responsabilidade Civil do Inventariante em Relação aos Herdeiros no Processo de
Inventário.
Monografia de natureza bibliográfica, aborda a questão da responsabilidade civil no
Direito Brasileiro. Especialmente a responsabilidade civil do ocupante do cargo de
inventariante no processo de inventário; em que disciplina em quais situações o
inventariante pode ser responsabilizado civilmente pelos atos praticados no
exercício do cargo; quais as hipóteses em que os atos, sejam estes, na ação ou
omissão, podem gerar para o inventariante a obrigação de reparar os danos
causados aos herdeiros. O desenvolvimento deste trabalho trata dos tópicos em
comento, por meio de revisão literária, adotando como parâmetro basilar de consulta
principalmente alguns dos mais notáveis doutrinadores civilistas brasileiros tais
como: Cavalieri Filho, Barros Monteiro, Maria Helena Diniz, Arnold Wald, Pontes de
Miranda e outro. Apresenta ainda o entendimento que a jurisprudência dos tribunais
brasileiros vem se posicionando a respeito de tal assunto, em especial, o ocupante
do cargo de inventariante no processo de inventário. No capítulo das conclusões são
respondidas as questões de estudo formuladas no capítulo um. A conclusão final
demonstra a visão dos autores brasileiros, bem como, o caminho que vem sendo
trilhado pelos nossos tribunais em relação ao instituto da responsabilidade civil, mais
especificadamente, da figura do inventariante no desempenho de suas atribuições
no processo de inventário.
SUMÁRIO
CAPÍTULO I – RESPONSABILIDADE CIVIL DO INVENTARIANTE EM RELAÇÃO
AOS HERDEIROS NO PROCESSO DE INVENTÁRIO
1.0. Apresentação do problema..............................................................................01
1.1. Objetivos de estudo......................................................................................08
1.2. Questões de estudo / Formulação do problema........................................08
1.3. Organização remanescente do problema / Metodologia...........................09
1.4. Definição de termos......................................................................................09
CAPÍTULO II – REVISÃO DE LITERATURA
2.0. Breve histórico..................................................................................................11
2.1. O instituto da responsabilidade civil no direito brasileiro............................11
2.2. Responsabilidade civil e penal........................................................................13
2.3. Da culpa e do dolo.............................................................................................14
2.4. Da obrigação de indenizar................................................................................16
2.5. Do inventário......................................................................................................16
2.6. Da partilha..........................................................................................................18
2.7. Da nomeação do Inventariante........................................................................19
2.8. O termo de compromisso.................................................................................21
2.9. Os direitos e as obrigações do inventariante.................................................22
3.0 Da responsabilidade civil do inventariante.....................................................24
3.1 Bens sonegados.................................................................................................27
3.2 Da remoção do inventariante............................................................................28
4.0 Descrição de casos............................................................................................28
CAPÍTULO III – CONCLUSÕES
5.0. Conclusões........................................................................................................35
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................37
CAPÍTULO I
RESPONSABILIDADE CIVIL DO INVENTARIANTE EM RELAÇÃO AOS
HERDEIROS NO PROCESSO DE INVENTÁRIO
1.0. Apresentação do problema
A responsabilidade civil vem conquistando gradativamente ao longo dos
anos um importante espaço no Direito Brasileiro. Não se trata tão somente de
identificá-la nas relações privadas, mas também, nas relações entre a administração
pública e seus administrados, através dos atos praticados por seus agentes. Seus
domínios são ampliados na mesma proporção que as relações humanas , isto é,
surgem novas formas de responsabilidade a cada novo formato de relação
obrigacional pactuada entre os homens; assim assegura o Professor Cavalieri (1997,
pag. 24).
“O dano causado pelo ato ilícito rompe o equilíbrio jurídico-econômico anteriormente existente entre o agente e a vítima”.
A responsabilidade civil visa restabelecer esse equilíbrio através de uma
indenização fixada em proporção ao dano. Sendo assim, justifica-se como essencial
o estudo da responsabilidade civil do inventariante no processo de inventário, tendo
em vista que, entre outras obrigações, a este está incumbida a obrigação de
administrar o patrimônio que se pretende partilhar.
Neste sentido, a presente monografia delimita-se a estudar o instituto da
responsabilidade civil aplicada a figura do inventariante em relação aos demais
herdeiros no processo de inventário.
Dessa forma, a importância deste trabalho, para o mundo jurídico, decorre
da necessidade de identificar como vem sendo tratada a questão da
responsabilização civil dos que administram o patrimônio alheio.
1.1. Objetivos do estudo
Esta monografia tem como objetivo geral identificar a responsabilidade
civil pertinente ao exercício o cargo de inventariante. Sua indagação primordial se
concentra no seguinte aspecto: Em que medida o inventariante pode ser
responsabilizado civilmente em relação a sua gestão na administração do espólio a
ser compartilhado entre os demais interessados?
O trabalho tem objetivos específicos: apresentar alguns aspectos sobre a
responsabilidade civil no direito brasileiro; pesquisar as atribuições inerentes ao
cargo de inventariante no processo de inventário; apresentar algumas hipóteses em
que o inventariante pode ser responsabilizado civilmente em relação aos herdeiros
pelos atos praticados que comprometam a probidade de sua administração, e, que
consequentemente venham acarretar prejuízos aos demais legatários.
Por fim, realizar uma breve averiguação de como os Tribunais de Justiça
Brasileiros vem pautando suas decisões acerca da matéria em comento.
1.2. Questões de estudo/Formulação de problemas
A fim de desenvolver os objetivos propostos para a solução do problema,
este trabalho monográfico pretende expor, inquirir e debater as seguintes questões:
- Em que consiste a responsabilidade civil no Direito Brasileiro?
- Quais são as atribuições do inventariante no processo de
inventário?
- Em que situações o inventariante pode ser responsabilizado
civilmente em relação aos demais herdeiros por seus atos
praticados no exercício do cargo?
- Qual o entendimento da jurisprudência dos Tribunais de
Justiça Brasileiros sobre a responsabilidade civil do
inventariante?
1.3. Organização do restante do estudo/Metodologia
As quatro questões propostas serão analisadas no capítulo II, com base
na doutrina e na jurisprudência pertinentes ao caso. Após a explanação das idéias,
da apresentação e análise das decisões dos tribunais brasileiros sobre o assunto, as
propostas serão apresentadas no capítulo III.
No capítulo II será abordado: o significado do instituto da
responsabilidade civil no direito brasileiro; os atos praticados pelo inventariante no
processo de inventário; a aplicação do instituto da responsabilidade civil a figura do
inventariante em relação aos herdeiros, e, por fim, o entendimento do judiciário
sobre o tema proposto.
O Estudo constitui-se numa pesquisa bibliográfica e jurisprudencial.
Buscou-se na investigação a visão de alguns dos mais consagrados civilistas
brasileiros sobre o tema, bem como, o posicionamento dos órgãos jurisdicionados
superiores. As principais etapas da pesquisa foram: a) seleção de fontes
bibliográficas primárias, como obras do Prof. Cavalieri, Maria Hlena Diniz, Silvio
Rodrigues, Pontes de Miranda e outros; b) seleção de fontes secundárias como
doutrinas especializadas no ramo do Direito das Sucessões; artigos publicados em
periódicos especializados e internet; c) fichamentos/anotações; d) redação
provisória; e) releitura das anotações/correições; f) redação definitiva.
1.4. Definição de termos
Objetivando manter a uniformização de termos, esta monografia
entende por:
Responsabilidade Civil – É a sanção econômica imposta ao infrator
por ato ilícito praticado contra terceiros, sendo uma forma de
ressarcimento pelos prejuízos suportados.
Inventário – Descrição de bens que deve ser dividido entre os
interessados
Inventariante – É a quem cabe a administração do espólio ou da
herança, devendo descrever os bens, arrecadando-os, e, se em poder
de terceiros zelar por sua conservação ; gerindo, impulsionando o
processo, requerendo o que for necessário ao fiel cumprimento de seu
dever.
CAPÍTULO II
REVISÃO LITERÁRIA
2.0. Breve histórico
Desde que o homem entendeu que não nasceu para viver sozinho,
passou a criar regras e procedimentos de convívio social, visando tornar a
convivência entre os homens e grupos mais harmoniosa, determinando com isso,
que a extensão dos direitos de cada um e a dimensão dos deveres deveriam ser
cumpridos por todos; desta forma nasceram as sociedades.
Entretanto, antes que o homem percebesse a necessidade do
estabelecimento de regras, imperava o domínio do mais forte. A reparação do dano
causado pela violação de um direito, ocorria com a prática do mesmo dano.
Pagava-se o mal com o mal; era pena de talião, “Olho por olho, dente por
dente, posto que, consistia na aplicação da pena de TALIÃO, Cabendo assim ao
Poder Público, somente intervir para declarar quando e como a vítima teria seu
direito retardado.
Na vingança não havia reparação alguma, porém, duplo dano, ou seja, na
realidade havia um redobramento das lesões, a da vítima e a de seu agressor.
2.1. O Instituto da Responsabilidade Civil no Direito Brasileiro
No direito brasileiro a responsabilidade tem seu embasamento no artigo
186 do Código Civil, que abraça a teoria da culpa ou subjetiva, em que se pressupõe
a prática de ato ilícito, sem que a prova da existência da culpa, descaracteriza o
dano, exigindo da vítima que sofreu o dano a prova da culpa do ofensor.
O código civil de 1916 dedicou poucos artigos a respeito da matéria, o
que foi motivado pela falta de sistematização e pelo pouco desenvolvimento do
assunto quando da elaboração do diploma pela doutrina nacional.
Com o advento do novo código civil brasileiro (Lei 10.406/2002), que já
não é mais tão novo assim, o legislador dedicou-lhe atenção em capítulos especiais,
e não mais esparsa como o Código Civil de 1916, o que por certo, é resultado da
evolução das próprias relações humanas através do surgimento de novas
obrigações derivadas das novidades na ciência e na tecnologia, dois setores que
evoluem a passos largos.
O instituto da responsabilidade civil é parte integrante do direito das
obrigações, pois a principal conseqüência do ato ilícito é a obrigação que acarreta
para seu autor, de reparar o dano.
As obrigações provenientes de atos ilícitos são as que se constituem por
meios de ações ou omissões culposas ou dolosas do agente, praticadas com
infração a um dever de conduta das quais resulta em lesão a outrem. A obrigação
que surge como conseqüência é a de ressarcir a lesão.
Cita o autor Sérgio Cavalieri Filho:
“A violação de um dever jurídico configura ilícito, que, quase sempre acarreta dano para outrem, gerando um novo dever jurídico, qual seja, o de reparar o dano. Há , assim, um dever jurídico originário, chamado por alguns de primário, cuja violação gera um dever jurídico sucessivo, também chamado secundário, que o de indenizar o prejuízo.”1
O desenvolvimento industrial ao longo dos anos tem sido a mola
propulsora que tem conduzido ao crescimento da importância da responsabilidade
civil; nos últimos anos vem ganhando corpo a teoria do risco, a qual sem substituir a
teoria da culpa, cobre hipóteses em que esta é insuficiente nas palavras de Álvaro
Lima:
“As necessidades prementes da vida, o surgir dos casos concretos, cuja solução não era prevista em lei, ou não era satisfatoriamente amparada,
1. Programa de Responsabilidade Civil. São Paulo: Malheiros, 1996. P. 19
levaram a jurisprudência a ampliar o conceito de culpa a acolher, embora excepcionalmente, as conclusões das novas tendências doutrinárias” 2
Neste diapasão, a responsabilidade deve ser encarada sob aspectos
objetivos, vale dizer, que não se questiona a intenção ou não de causar a lesão.
Somente a produção do dano e o nexo de causalidade já se impõem o dever de
ressarcimento do prejuízo causado.
2.2. Responsabilidade Civil e Penal.
O homem por ser dotado de liberdade de escolha e de discernimento
deve responder por seus atos. A liberdade e a racionalidade que compõem a sua
essência trazem-lhe em contraponto, a responsabilidade por suas ações ou
omissões no âmbito do direito.
A palavra responsabilidade por si só significa a obrigação que alguém tem
de responder pelos seus próprios atos, ou ainda, responder por atos de terceiros em
virtude de força de lei.
De modo que, a violação pode estar relacionada a um interesse de ordem
pública ou privada, ou até mesmo, inserido em um contexto de o agente ser
responsabilizado em todas as esferas de responsabilidade; ou seja, não impede, por
exemplo, que um mesmo ato aluda às consequências de todas.
Quanto a responsabilização na esfera penal, o que se tutela é um direito
indisponível, como a integridade física ou a vida do ser humano; sendo seu caráter
de ordem pública, e, que uma vez sendo comprovado a autoria torna-se
intransferível, face a sua natureza pessoal.
Como consequência a tal violação, o que se impõe ao agressor é
privação de sua liberdade ou pagamento de multa pecuniária.
2. Culpa e Risco. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1963. P.42/43
Já no aspecto civil podem as partes compor os danos por meio da
transação, por tratar-se de um direito disponível, em que se tutela no caso, o direito
privado.
No sentido de se estabelecer a esfera que irá tratar da reparação do
dano, torna-se necessário definir a norma jurídica violada. Como preleciona Maria
Helena Diniz (2002, p. 19):
“...enquanto a responsabilidade penal pressupõe uma turbação social, ou seja, uma lesão aos deveres de cidadão para com a ordem da sociedade, acarretando um dano social determinado pela violação da norma penal, exigindo para estabelecer o equilíbrio social, investigação da culpabilidade do agente, ou o estabelecimento da antijuridicidade do seu procedimento acarretando a submissão pessoal do agente a pena que lhe for imposta pelo órgão judicante, tendendo, portanto, à punição, isto é, ao cumprimento da pena estabelecida na leia penal. A responsabilidade civil requer prejuízo a terceiros, particular ou ao estado. A responsabilidade civil por ter repercussão do dano privado, tem por causa geradora o interesse em restabelecer o equilíbrio jurídico alterado ou desfeito pela lesão, de modo que a vítima poderá pedir reparação do prejuízo causado, traduzida na recomposição do statu quo ante ou numa importância em dinheiro...”.
Igualmente esclarecedor é o resumo do Prof. Cavalieri (2000, p. 24):
“...Em outra palavras, aquelas condutas humanas mais graves, que atingem bens sociais de maior relevância, são sancionadas pela lei penal. Ficando para lei civil a repreensão das condutas menos graves. “Tanto é assim que numa mesma conduta pode incidir ao mesmo tempo em violação a lei civil e a lei penal, caracterizando em dupla ilicitude, dependendo de sua gravidade...”
2.3. Da culpa e do dolo
O fato gerador da responsabilidade civil é sem dúvida a conduta, que na
concepção de Diniz, é o ato humano comissivo ou omissivo, ilícito ou lícito,
voluntário e objetivamente imputável, do próprio agente ou de terceiros, ou fato de
animal ou coisa inanimada, que cause dano a outrem, gerando o dever de satisfazer
os direitos do lesado.
Sobre as duas formas de condutas, supramencionadas, nos esclarece o
Prof. Cavalieri (2000, p. 33):
“... Consiste, pois, a ação em um movimento corpóreo comissivo, um comportamento positivo, como a destruição de uma coisa alheia, a morte ou a lesão corporal causada em alguém, e assim por diante. Já, a omissão forma menos comum de comportamento, caracteriza-se pela inatividade, abstenção de alguma coisa devida. Vieira dizia com absoluta propriedade, que omissão é aquilo que se faz não fazendo. Tem-se entendido que a omissão adquiri relevância jurídica e torna o omitente responsável, quando este tem o dever jurídico de agir, de praticar um ato para impedir um resultado, dever este que pode advir da lei, do negócio jurídico ou de uma conduta anterior do próprio omitente, criando o risco da ocorrência do resultado, devendo, por isso, agir para impedi-lo...”
A conduta lesiva do agente gera o dever de indenizar, podendo ser lícita
ou ilícita. Para Maria Helena Diniz, a regra geral é o dever de ressarcimento pela
prática de atos ilícitos decorrente da culpa, ou seja, da reprovabilidade ou
censurabilidade da conduta do agente. Conclui a autora que não havendo culpa, não
haverá, em regra, qualquer responsabilidade.
Comunga do mesmo posicionamento o Prof. Cavalieri, ao afirma que a
conduta culposa do agente é pressuposto principal da obrigação de indenizar,
assegurando que a vítima de um dano somente poderá pleitear ressarcimento de
alguém, se conseguir provar que esse alguém agiu com culpa, caso contrário, terá
que conformar-se com sua má sorte e suportar seu prejuízo.
Analisando, ainda, as características do conceito indenizatório,
observamos que, para se gerar a obrigação de indenizar, deverá ser voluntária.
Neste contexto, faz-se mister transcrever os conceitos de dolo e culpa, na
concepção do Prof. Cavalieri:
(...) pode-se definir o dolo como sendo a vontade consciente dirigida à produção de um resultado ilícito. (...) pode-se conceituar a culpa como conduta voluntária contrária ao dever de cuidado imposto pelo direito, com a produção de um evento danoso involuntário, porém previsto ou imprevisível.
Conclui o ilustre professor, esclarecendo que tanto no dolo como na culpa
há conduta voluntária do agente, porém no dolo a conduta já nasce ilícita, enquanto
que na culpa ela nasce lícita, tornando-se ilícita na medida em que desvia dos
padrões socialmente adequados.
2.4. Da obrigação de indenizar
Como já é sabido, somente haverá a obrigação de indenizar se a ação
praticada pelo agente resultou em dano, isto é, não havendo prejuízo, não há que se
falar em ressarcimento ou indenização. Da mesma forma, há que se estabelecer
uma relação de causa e efeito entre a ação praticada e o dano causado, ou seja,
devendo haver um nexo causal entre ambos.
Neste sentido ensina Pereira (1999, p. 75):
“...Não basta que o agente haja procedido contra direito, isto é, não se define a responsabilidade pelo fato de cometer um erro de conduta; não basta que a vítima sofra um dano, que é o elemento objetivo do dever de indenizar, pois se não houver um prejuízo a conduta antijurídica não gera obrigação ressarcitória. Para que se concretize a responsabilidade é indispensável que se estabeleça uma interligação entre a ofensa à norma e o prejuízo sofrido, de tal modo que se possa afirmar ter havido o dano porque o agente agiu contra direito...”
Idêntica opinião encontrou nos ensinamentos de Diniz:
“...O vínculo entre o prejuízo e a ação designa-se ‘nexo causal’ de modo que o fato lesivo deverá ser oriundo da ação, diretamente ou como sua consequência previsível. Tal nexo representa, portanto, uma relação necessária entre o evento danoso e a ação que produziu. De tal sorte que esta será considerada sua causa...” 8
É possível, porém, que o agente se envolva em determinado evento sem
que lhe tenha dado causa, ocorrendo desta forma, ausência do nexo causal, que
nas palavras do Prof. Cavalieri, se dará por fato exclusivo da vítima, por fato de
terceiros, caso fortuito ou força maior, não havendo, portanto, o dever de reparar o
dano.
2.5. Do inventário
A matéria está disciplinada no Código Civil de 2002, no livro V, também
em quatro títulos, a saber: Titulo I – “Da sucessão em geral (art. 1784 a 1828)”;
Titulo II – “Da sucessão legítima (art. 1829 a 1856)”; Titulo III – “Da sucessão
testamentária (art. 1857 a 1990)”; Titulo IV – “Do inventário e da partilha (art. 1991 a
2027)”.
A existência de pessoa natural extingue-se com a morte, operando-se a
sucessão hereditária com o falecimento do titular dos bens. Quanto aos ausentes, a
morte é presumida para fins sucessórios.
Neste contexto, com o óbito do titular da herança, opera-se a transmissão
de bens ou direitos patrimoniais do falecido aos seus herdeiros. A ideia de sucessão
gira em torno da permanência de uma relação jurídica, que subsiste apesar da
mudança dos respectivos titulares.
Assim, a partir da abertura da sucessão nasce entre os herdeiros um
vínculo relativo aos bens do acervo hereditário, que se dissipará com a
homologação da partilha realizada após o procedimento que apura os bens
patrimoniais do de cujos.
Nas palavras do Professor e Desembargador Sebastião Luiz Amorim,
traduz o termo sucessão da seguinte forma:
“...Sucessão é o ato ou efeito de suceder. Tem o sentido de substituição de pessoas ou cousas, transmissão de direitos, encargos ou bens, numa relação jurídica de continuidade...” 3
Na concepção de Miranda (1997, p. 3/4):
“...O inventário é um processo judicial tendente à relação, descrição, avaliação e liquidação de todos os bens pertencentes ao de cujos ao tempo de sua morte, para distribuí-los aos seus sucessores...”
3. Inventário e Partilha. Edição Universitária de Direito. São Paulo: 2008. P.1
Tem, portanto, o inventário, o objetivo de arrecadar, descrever, avaliar os
bens do de cujos, e, ainda, liquidar as dívidas que porventura e subsistam em seu
nome. O processo de inventário deverá ser aberto no prazo de sessenta (60) dias a
contar da data da ocorrência da sucessão, devendo ser concluído nos doze (12)
meses subsequentes (art. 983 do CPC). Uma vez passado o prazo legal, se não
requerido a abertura do inventário, caberá o juiz, nos termos do art. 989 do CPC, de
ofício, proceder sua instauração.
De acordo, nos artigos 987 e 988 do Código de Processo Civil,
encontram-se elencados os autores que poderão requerer a abertura do processo
de inventário, cabendo aqui, uns poucos comentários sobre alguns deles, por
apresentarem, a princípio, personagens estranhos aos interesses ali discutidos, são
eles: O credor do herdeiro, do legatário ou do autor da herança, com o escopo de
receber o crédito a que tem direito através da sua habilitação; o ministério Público no
caso de defesa dos interesses dos herdeiros incapazes; a fazenda Pública no caso
de cobrança de impostos e taxas e o próprio juiz, de oficio, caso não seja
providenciado a sua abertura pelos interessados.
Cabe ressaltar, que os legitimados enumerados nos artigos supra citados,
não esgotam o rol de pessoas que poderão requerer a abertura do inventário; não
representando, assim, um rol taxativo, mas apenas exemplificativo, uma vez que,
desde que alguém demonstre que tem legítimo interesse na instauração no
processo, poderá, sem quebra do princípio legal, tomar a iniciativa.
2.6. Da partilha
Depois de terminada a fase do inventario da massa patrimonial do autor
da herança, compreendidos na descrição, avaliação e liquidação dos bens, inicia-se
a fase da partilha, consistindo na distribuição desses bens aos herdeiros.
A regulamentação acerca da matéria se encontra nos artigos 1.022 1030
do Código de Processo Civil, que trata especificamente das várias fases da partilha:
pedido de quinhões, deliberação do juiz, esboço de partilha, prazo para deliberação,
auto de partilha, julgamento, extração do formal de partilha, emenda, anulação e
rescisão da partilha. Havendo partilha amigável, o procedimento será mais
simplificado, devendo ser homologado pelo juiz, desde que, as partes sejam
capazes e transijam.
A partilha poderá ser amigável ou judicial. Sendo amigável, será
resultante de acordo firmado entre as partes, sendo estes maiores e capazes,
poderá ser feita por atos inter vivos ou post mortem. A partilha por atos inter vivos,
ou partilha em vida, é aquela feita pelo autor da herança, como declaração de sua
vontade, por escritura pública ou testamentária, em que disporá sobre a divisão dos
seus bens, respeitando, no entanto, a parte legítima dos herdeiros necessários,
Quanto a partilha judicial, será aquela realizada no processo de
inventário, por deliberação do juiz, sempre que haja herdeiros menores, incapazes
ou por não haver acordo entre os herdeiros. Na realidade é aquela em que não se
chegando a um acordo entre as partes, deve sobrevir decisão judicial estabelecendo
a divisão dos bens e as quotas pertencentes a cada um de forma mais justa
possível.
Conforme preleciona Washington de Barros Monteiro:
“(...) partilha é a repartição dos bens da herança ou distribuição do acervo hereditário entre os herdeiros. No direito Romano, ela era translativa de propriedade; o herdeiro tornava-se proprietário do quinhão respectivo no momento da partilha, como se neste instante o tivesse adquirido aos demais coerdeiros. Perante a nossa lei, porém, ela é simplesmente declarativa e não atributiva de direitos. O herdeiro adquire a propriedade, não em virtude da partilha, mas por força da abertura da sucessão. O proprietário de cujus, por ficção, investe em seu sucessor no domínio e posse da herança (...)”.4
Não significa, no entanto, que os herdeiros devam ficar com uma parte
ideal em todos os bens. Partilha judicial, na realidade. É aquela em que, não se
podendo chegar a um acordo, sobrevém decisão do juiz, estabelecendo a divisão
dos bens e as partes que caibam a cada herdeiro da forma que lhe pareça justa e
cômoda.
4. Curso de Direito Civil, op. Cit, 34ª Ed. P. 263
2.7. Da nomeação do Inventariante
Inventariante é a pessoa que tem por função gerir a massa patrimonial do
espólio, sendo seu representante legal (art. 12, inc. V; art. 991, inc. I CPC; art. 1.991
NCC). Somente poderão exercer tal responsabilidade pessoas capazes, e que não
tenham de algum modo, interesses contrários aos do espólio.
Deverão ser nomeadas para o cargo, na ordem de preferência, as
pessoas enumeradas no artigo 990 do Código de Processo Civil. O juiz deverá
nomear inventariante observando a preferência das pessoas mencionadas no artigo
supra mencionado, somente nomeando herdeiro, por exemplo, se não houver
cônjuge sobrevivente ou se este não aceitar a nomeação,ou ainda, se houver
qualquer outro motivo que impeça a sua nomeação, e, assim por diante.
Na falta de cônjuge, permite a lei que o companheiro sobrevivente possa
ser nomeado inventariante, desde que, vivesse ao tempo da morte do autor da
herança em sua companhia. Como regra a união estável equipara-se ao regime de
comunhão parcial de bens. (Nota de rodapé) 12 – Herdeiro menor não pode ser
inventariante (RT 490/102). Mas, nada obsta que, a falta de outros interessados na
herança, possa ser investido no cargo o representante legal do incapaz. Será, até
mesmo, a ex-concubina de de cujos, mas nesse caso, é preciso verificar se não tem
interesses colidentes com o representado, ou seja, se não está pleiteando direito a
meação. Afora essa hipótese, admite-se inventariança por ex-companheiro ou
convivente, até por aplicação do inciso VI do artigo 990 do Código de Processo Civil
(JTJ 151/105), e pelos direitos sucessórios que lhe asseguram as leis da união
estável e o novo Código Civil (v. cap. III)
Nas palavras do Professor Salomão de Araujo Cateb:
“a Lei 8.971, de 29 de dezembro de 1994, a companheira passou a ocupar posição ímpar. Com o advento da Lei 12. 195, de 14 de janeiro de 2010, os juízes não mais poderão deixar de nomear companheiros ao cargo de inventariante, preferindo os descendentes. As desatualizações do CPC, exclusivamente por culpa do legislador pátrio, não justifica a negativa de
aplicação da lei nova, quando a união estável é fato notório, provada comumente, por escritura pública, testamento, confissão do falecido” 5.
A falta de pessoas interessadas ao cargo de inventariante relacionadas
nos incisos I ao V do artigo 990, prevê o inciso VI a nomeação de estranho idôneo.
Trata-se do inventariante dativo nomeado pelo juiz. Assume este, os direitos e
deveres da inventariança; devendo sua nomeação ser realizada em última instância.
Nos termos do § 1º do artigo 12 do Código de Processo Civil, o
inventariante dativo por exercer apenas a qualidade de gestor, apto para as ações
normais de administrador, na sua essência, não pode representar o espólio em juízo
ou fora dele, sendo seus poderes restritos.
A nomeação do inventariante por ser matéria complexa por envolver, por
muitas vezes, decisões de ordem subjetivas como idoneidade, capacidade e
suspeição, dentre outras; contra o despacho do juiz que nomeia o inventariante cabe
recurso, neste caso, denomina-se Agravo de Instrumento.
2.8. O termo de compromisso
Nomeado o inventariante pelo juiz, deverá ser chamado para assinar o
termo de inventariança no prazo de 5 (cinco) dias, nos termos do parágrafo único do
art. 990 do Código de Processo Civil, e, no prazo de 20 (vinte) dias, conforme dispõe
o art. 993 do mesmo diploma, prestar as primeiras declarações, das quais se lavrará
a termo circunstanciado.
Sobre o instituto do compromisso nas palavras de Lima (1986, p.
145/146):
“...Ato, em regra formal, por escrito pelo qual alguém assume a obrigação de exercer uma atividade ou múnus público, com lisura, eficiência e zelo, ou então, de manifestar-se com lealdade e boa fé. Na primeira hipótese, estão o administrador, depositário, perito, inventariante, agrimensor, arbitrador; (...) o compromisso é prestado no ato da nomeação ou da investidura da função...”
5.Salomão de Araújo Cateb, Direito das Sucessões. Ed. Atlas: São Paulo. 2011
Comentando sobre o compromisso prestado pelo inventariante, explica
Miranda que o inventariante intimado da nomeação, qualquer que seja a razão para
exercê-lo terá que prestar compromisso de bem e fiel desempenhar o cargo dentro
do prazo dos 5 (cinco) dias.
O cargo é pessoal e de investidura isolada, pois gera responsabilidade
própria daquele que a exerce, não podendo ser exercida conjuntamente com duas
ou mais pessoas.
2.9. Os direitos e as obrigações do inventariante
Sendo o inventariante a pessoa encarregada de administrar os bens do
espólio, devendo representá-lo ativa e passivamente em juízo ou fora dele. Quando,
entretanto, o inventariante for dativo, não lhe caberá representação do espólio
judicialmente. Uma vez que o § 1º do artigo 12 do CPC determina que, neste caso,
todos herdeiros e sucessores do falecido serão autores ou réus nas ações que
versarem sobre o espólio.
As primeiras obrigações do inventariante nomeado consistem na
prestação de compromisso, efetivando com isso a aceitação do cargo para qual foi
nomeado, sem o qual, não há que se falar em direitos e obrigações decorrentes
deste.
Além de praticar os atos que visam impulsionar o processo, cabe-lhe
prestar também as primeiras declarações, e, encerrando a fase do inventário, as
declarações finais, chamadas também de “últimas declarações”, podendo nesta,
aditar ou complementar as primeiras declarações.
Na função de administrador, o inventariante deverá cuidar do espólio com
toda diligência como se seus fossem (art.991, inc.II. do CPC). Além das tarefas
básicas da administração e de representar o espólio, enumera o citado artigo, nos
incisos III a VIII, outras atribuições tais como: prestar as primeiras e últimas
declarações pessoalmente ou por procuradores com poderes especiais; exibir em
cartório a qualquer tempo, para exame das partes, documentos relativo ao espólio;
trazer a colação os bens recebidos pelo herdeiro ausente, renunciante ou excluído;
prestar contas de sua gestão ao deixar o cargo; requerer declaração de insolvência
e outros que se fizer necessário a boa administração.
Destacamos ainda as contidas nos comentários de Diniz (2000, p. 102):
“...deverá administrar todos os bens da massa partível, arrolá-los e descrevê-los; separar coisas alheias e em poder do inventariado; receber crédito; pagar dívidas; embora não possa quitar dívidas hipotecárias sem licença do juiz do inventário; requerer medidas conservatórias dos direitos, concordar com sublocações e cessão de locação; alugar prédios do espólio, desde que não seja a longo prazo; alienar onerosa e excepcionalmente, com autorização judicial as coisas do acervo hereditário, para fazer frente, se necessário, aos encargos do monte (pagamento de débitos e impostos), ou para evitar deterioração ou perecimento; comparecer as assembleias de acionistas; representar ativa e passivamente a herança em juízo ou fora dele...”.
Os poderes de administrador, que tem o inventariante, sofrem limitações,
devendo ele pautar sua conduta dentro das determinações da lei. Pode-se dizer, na
realidade, que o inventariante tem mais ônus do que direitos, não tendo inclusive
remuneração pelos encargos da inventariança; sendo cabível somente o reembolso
das despesas que realizou no exercício do cargo.
Segundo Miranda para praticar os atos de alienar bens, transigir em juízo
e fora dele, e efetuar o pagamento de dívidas do espólio, o inventariante deve ouvir
os interessados e obter autorização judicial, uma vez que a alegação da
necessidade de verba para despesas e encargos pode ser feita por quaisquer dos
interessados; restando ao juiz estabelecer o que se há de admitir ou rejeitar.
Quanto as despesas necessárias à conservação e melhorias dos bens do
espólio, o autor é de opinião que se há necessidade e urgência, o inventariante pode
praticar os atos que forem preciso, submetendo-os aos interessados e ao juiz do
processo. Entre os atos, destacamos a contratação, inclusive, de advogados para
atuarem na defesa dos interesses dos herdeiros, que por gerar despesas para o
mesmo, deverá ser precedido de autorização dos interessados; caso não o faça,
arcará com o ônus.
Como causa que pode desencadear punibilidade por sua má gestão, tem-
se a remoção da inventariança, tendo como causa a desídia do inventariante em
dar andamento ao processo sucessório, deve ser ele removido6. Tal remoção, no
entanto, não pode ser implementada pela simples demora. É preciso que a demora
tenha por causa a culpa do inventariante16, demora injustificada na conclusão do
processo, aliada a falta de prestação de contas, justifica a remoção7, ou pessoa que
se encontra fora do país, por longo período de tempo, também justifica sua
remoção8.
Outras causas que também acarretam a remoção, tem-se a falta de
prestação de contas no prazo legal, dilapidação e dano aos bens do espólio, falta de
defesa do espólio nas ações em que for citado, deixar de cobrar as dívidas ativas ou
não promover as medidas cabíveis para evitar o perecimento de direitos, sonegar,
ocultar ou desviar bens do espólio, em cada uma destas hipóteses, previstas no
artigo 995 do Código de Processo Civil, poderá o inventariante ser removido.
Qualquer interessado, com base no art. 996 e seus incisos, pode requerer
a remoção do inventariante, quando será o mesmo intimado para, no prazo de 5
(cinco) dias, defender-se e produzir provas; o incidente será discutido em apenso9.
É um direito de o inventariante defender-se, apresentando suas provas,
após o que o juiz decidirá, removendo o inventariante e nomeando outro em seu
lugar observando a ordem estabelecida no art. 990, ou julgará o incidente a favor do
inventariante, mantendo-o no cargo (art. 997 do CPC). Omissa a lei, jurisprudência
entende que a decisão desafia o recurso de agravo de instrumento, mas não existe
erro grosseiro na hipótese de interposição de apelação e aplicando, por isso, o
principio da fungibilidade10.
6 . RT, 479/97 7 RT, 688/138 8 RT, 716/160 9 CPC, art. 996 10 Theodoro Negrão. Op. Cit. P. 666
Se removido, entregará imediatamente ao substituto os bens do espólio;
deixando de fazê-lo, será compelido mediante mandado de busca e apreensão, ou
de emissão de posse, conforme se tratar o bem, se móvel ou imóvel11.
3.0. Da responsabilidade civil do inventariante
Ao assumir o compromisso do cargo, tem o inventariante direito a exercer
e obrigação de cumprir. A obrigação de gerir o patrimônio do espólio como se seu
fosse, independentemente de figurar também no processo como herdeiro desse
mesmo patrimônio.
Diniz afirma que se porventura o inventariante não cumpriu suas
obrigações poderá sofrer dupla sanção (2002, p. 298):
1º) Responsabilidade na forma do direito comum, com o dever de indenizar os prejuízos que causou dolosamente ou culposamente, de pagar os juros pela importância que usou em benefício próprio, podendo ainda sofrer as cominações impostas a quem tem o encargo de gerir bem alheio, ainda que parcialmente interessado. 2º) Remoção por decisão judicial ex ofício ou a requerimento de herdeiro: a)se não prestar, no prazo legal, as primeiras declarações; b)se não deu no inventário andamento regular, suscitando dúvidas infundadas ou praticando atos meramente protelatórios; c)se por sua culpa, se deteriorarem, forem dilapidados ou sofrerem dano os bens do espólio; d)se não defender o espólio nas ações em que for citado, deixar de cobrar dívidas ativas, ou não promover as medidas necessárias para evitar o perecimento de direitos; e)se não prestar contas ou as que prestar não forem julgadas boas; f) se sonegar, ocultar ou desviar bens do espólio.
Da mesma forma, em seu comentário ao inciso III do artigo 995 do CPC
nos ensina Miranda (1977, p. 91)
“...Deteriorização, danificação e dilapidação de bens – a regra jurídica do inciso III, coincide com a da responsabilidade do art. 986, que o integra em vez de só ser simples regra jurídica sobposta. Se há prejuízo considerável a herança, por culpa do inventariante (lucrum cessas, damnum emergens), cabe a remoção. Estão excluídos os acidentais, e os de pouca monta. Se o inventariante constituir procurador e este causou prejuízo, responde à herança o inventariante, e não procurador. O inventariante não pode deixar atrasados os pagamentos de impostos ou taxas, ou outros tributos, de que
11 CPC, art. 998
possa resultar multa ou fluência de juros, ou perda de abatimento. Se não os pagar em tempo, o prejuízo corre por sua conta. “Se havia numerário com que os podia pagar...”
As dívidas e as ações pertinentes aos interesses do espólio, figurando
este, no polo ativo ou passivo, são de inteira responsabilidade do inventariante.
Neste contexto afirma Miranda (1977, p. 92):
“...Quanto as dívidas ativas, são descritas no termo de inventário (art. 993, inc. IV, f); bem assim as ações a serem propostas. Se essas, concernentes à dívidas, ou as que depois nasceram, não forem intentadas, incorre em responsabilidade o inventariante. Os pressupostos são: a) tratar-se de pretensões consistentes em exigência de valor patrimonial; b) de que tenha conhecimento o inventariante, e, c) tenha havido prejuízo em não sendo propostas as ações. O inventariante deve estar atento aos prazos que extinguem pretensões ou ações, quaisquer que sejam; e, pode ser responsabilizado e removido pela não interrupção da prescrição ou pela simples perda de certa forma do processo...”.
O ilustre autor esclarece que ao inventariante é atribuída a mesma
responsabilidade que ao administrador provisório. Este atua antes da nomeação do
inventariante e responde pelo dano a que por dolo ou culpa, der causa.
Em meio a várias obrigações do cargo de inventariança, a que mais traz
responsabilidade ao seu titular, consiste na obrigação de prestação de contas de
sua gestão, não só ao deixar o cargo, mas, sempre que o juiz do inventário lhe
determinar (art. 991, inc. VII, do CPC).
O seu descumprimento, ou a rejeição das contas prestadas, sujeita o
inventariante à remoção do cargo, conforme o art. 995, inc. V, além, da possibilidade
de responsabilidade indenizatória.
Encerrado o inventário, a principio, cessam as funções do inventariante,
de modo que não mais estaria obrigado a prestação de contas dado que neste
momento estará deixando o cargo; porém, mesmo fora do inventário, estará sujeito
à verificação judicial de seus atos12.
12 RT, vol. 212/308; RF, vol. 151/298; RJTJSP, vol. 84/121
Assim declara o Prof. Orlando de Souza:
“...têm os interessados ação contra o ex-inventariante, em defesa de seus direitos, no caso de ter ele ocultado ou escondido bens do inventário ou frutos percebidos depois da abertura da sucessão, os quais devam ser objeto de partilha...”13.
Todos os bens do espólio que estavam no domínio e posse do autor da
herança ao tempo de sua morte devem ser parte integrante das primeiras
declarações prestadas pelo inventariante, bem como, os bens alheios que forem
encontrados, além, da identificação dos herdeiros.
3.1. Bens sonegados
Sonegar, vem do latim sub-negare, consiste em ocultar dolosamente a
existência de bens do espólio. A adjetivação dolosamente chega a ser redundante,
já que o dolo está implícito no termo sonegar que é sempre uma ocultação
sorrateira, de má fé, pois só se pode sonegar aquilo que se saiba existir.
Deve o inventariante descrever no inventário todos os bens que o de
cujos possuía ao tempo de sua morte; os que estejam em sua posse ou na de
terceiros, de que tenha ciência; os bens sujeitos a colação, dotes e doações. A
sonegação também poderá ser praticada pelo herdeiro não inventariante, quando
sonega bens cuja existência conhece e silencia, ou quando estejam em seu poder e
se recuse a restituí-los.
A ocultação de bem, seja por parte do inventariante ou de quaisquer um
dos herdeiros, constitui sonegação, ficando o sonegador sujeito às penas impostas
pelos artigos 1.992 1.993 do Código Civil Brasileiro, estando o sonegador sujeito a
perda do direito que lhe cabia, e, se além de herdeiro, for também o inventariante,
será removido.
13 Orlando de Souza. Inventários e Partilhas Forense, 10ª Ed. P. 94
Sua arguição poderá ser feita depois que o inventariante declarar a
inexistência de outros bens a inventariar, ou seja, após as últimas declarações.
Neste momento os herdeiros prejudicados, o cônjuge meeiro, se não for ele o
inventariante, e os credores poderão arguí-la mediante apresentação de pedido de
remoção do inventariante.
Cabe ressaltar, que o pedido de remoção poderá ser aplicada
incidentalmente ao processo de inventário, mas não, a pena de sonegados, posto
que, neste caso demanda de providências por via de processo ordinário.
A questão de os sonegados vir após ao término do inventário, não enseja
o sobrestamento do processo de inventário, nem tão pouco, anula a partilha.
Permanecendo os sonegados a sobrepartilha posteriori.
3.2. Dos procedimentos para remoção do inventariante
Como dito outrora, em suma, o inventariante poderá dar ensejo a sua
própria remoção. Consiste em uma pena civil que lhe é imposta por faltar com os
deveres inerentes ao seu múnus ou não desempenhá-lo de forma satisfatória.
Assim de forma sucinta, incorrerá na pena de remoção o inventariante
que: que não prestar no prazo legal as primeiras e as últimas declarações; que não
der ao inventário andamento regular, suscitando dúvidas infundadas ou praticando
atos meramente protelatórios; que por sua culpa permitir a deterioração, dilapidação
ou danos aos bens do espólio nas ações em for citado; deixar de cobrar dívidas
ativas ou não promover as medidas necessárias para evitar o perecimento de
direitos; não prestar contas ou não forem julgadas boas as prestadas; que sonegar,
ocultar ou desviar bens do espólio.
Requerida a remoção do inventariante o juiz mandará ouvi-lo no prazo de
cinco dias, decidindo em seguida. Determinada a remoção o juiz nomeará o
substituto, de acordo com a ordem de precedência. O pedido de remoção será
autuado em apenso aos autos de inventário, e da decisão cabe o recurso de agravo
por se tratar de uma decisão interlocutória.
4.0. Descrição de casos
Trata-se de pesquisa nos sites dos Tribunais de Justiça de alguns
estados brasileiros, onde foram selecionadas algumas jurisprudências que abaixo se
relacionam:
AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS fundada no artigo 991, VII, do
CPC. Herdeiro destituído do cargo de inventariante. Laudo pericial contábil que
demonstra uma diferença de R$83.563,38 entre as receitas e as despesas
apresentadas. Dever de restituir tal valor ao espólio. Recurso não provido.
“....observa-se que aquele que assume um encargo dessa natureza o faz consciente
dos riscos da administração ou gestão de bens alheios e deve assumir a
responsabilidade pelo desencontro das contas, ainda que não se tenha demonstrado
a má-fé. Aqui a obrigação é de resultado, baseada em uma obrigação objetiva de
créditos e débitos de modo que o não fechamento das contas obriga o inventariante
ao ressarcimento...” (Apelação 0064816-33.2006.8.26.0114 - Órgão julgador: 4ª
Câmara de Direito Privado - Data do julgamento: 22/08/2013 - Relator(a): Enio
Zuliani)
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E
MATERIAIS. MOVIMENTAÇÃO DE DINHEIRO DE CONTA CORRENTE E
APLICAÇÕES FINANCEIROS COM USO DE PROCURAÇÃO FALSA. Fraude
descoberta por inventariante e testamenteiro do correntista, quando pretendia
levantar quantia correspondente à sua vintena. A falta de comunicação do óbito à
instituição financeira não afasta sua responsabilidade civil objetiva.Assinatura aposta
na escritura incontroversa e visivelmente diversa da firma do falecido, caracterizando
inobservância no dever de cuidado.Prejuízos materiais comprovados e que devem
ser ressarcidos com correção monetária pelo índice da Corregedoria Geral da
Justiça a partir da data do Alvará. Pretensão de aplicação dos índices de atualização
da caderneta de poupança que representa, in casu, dano hipotético.Prejuízos
imateriais inexistentes na espécie, como já decidido por este Tribunal de Justiça em
hipótese similar. NEGADO SEGUIMENTO AO RECURSO AUTORAL E PARCIAL
PROVIMENTO AO APELO DO RÉU. (DES. LEILA ALBUQUERQUE - Julgamento:
03/11/2011 - DECIMA OITAVA CAMARA CIVEL - 0149424-65.2010.8.19.0001 –
APELACAO).
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE.
CONTRATO DE COMPRA E VENDA FIRMADO APENAS PELA INVENTARIANTE.
IMÓVEL PERTENCENTE AO ESPÓLIO. AUSÊNCIA DE CONSENTIMENTO.
SENTENÇA REFORMADA. Tratando-se de ação possessória, é necessária a
comprovação do exercício anterior da posse e da prática do esbulho, nos termos do
art. 927, I, do Código de Processo Civil. Diante do óbito dos genitores e aberta a
sucessão, ocorre a transmissão da propriedade e da posse da herança aos
herdeiros, diante do princípio da saisine. Tendo a inventariante alienado bem
pertencente ao espólio, sem prévia autorização judicial e sem a anuência dos
demais herdeiros, deve ser reconhecido ineficaz o negócio entabulado, mostrando-
se cabível o pedido de reintegração de posse em favor do espólio. Sentença
reformada. Sucumbência invertida e de total responsabilidade do requerido. DERAM
PROVIMENTO AO APELO. (Apelação Cível Nº 70054705975, Décima Nona
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Eduardo João Lima Costa,
Julgado em 18/06/2013).
AÇÃO SONEGADOS – OCULTAÇÃO VALORES – PERDA DIREITO
BENS SONEGADOS – BEM NÃO INTEGRANTE DO PATRIMÔNIO –
IMPOSSIBILIDADE – A sonegação é a ocultação dolosa de bens da herança com o
objetivo de fraudar a partilha, só podendo ser reconhecida por meio de ação
autônoma e cuja consequência para o sonegador é a perda do direito que teria
sobre os bens sonegados, podendo ainda, se for inventariante, ser removido da
função. Todavia, tratando-se de bem que não integra o patrimônio do de cujos,
impossível a procedência do pedido para que o mesmo seja trazido a colação
(TJMG – AC 1.0024.08.233608-2/001 – 5ª C.Civ. – Rel. Maria Elza – Dje 28-4-2010).
AÇÃO DE SONEGADOS – SITUAÇÃO FÁTICA – PROCEDÊNCIA –
Perda de direito sobre a herança sonegada. É procedente ação de sonegados,
quando provado que herdeiro sonegou bem da herança, não os descrevendo no
inventário quando estavam em seu poder, perdendo ele o direito que sobre tais bens
lhe cabia (TJRO – Ap. 01020070043343 – 2ª C. Civ. – Rel. Des. Marcos Alaor D.
Grangeia – J. 17-6-2009).
CIVIL – DIREITO DAS SUCESSÕES – DOAÇÃO DE ASCENDENTE
PARA DESCENDENTE – NÃO APRESENTAÇÃO DO IMÓVEL À COLAÇÃO –
DISPOSIÇÃO EXPRESSA A RESPEITO – SOBREPARTILHA - SONEGADOS –
AUSÊNCIA DA COMPROVAÇÃO DO REQUISITO SUBJETIVO PARA
APLICAÇÃO DA PENA - AUSÊNCIA DE DANO DE ORDEM MORAL OU
MATERIAL A REPARAR – 1. Tendo os doadores expressamente consignados no
ato de liberalidade a necessidade de apresentação do bem a colação, inconteste
que a doação foi realizada com adiantamento da legitima, e não como mera
disposição da metade de seu patrimônio, assim sendo, independentemente do
pedido expresso da autora a respeito, imprescindível a determinação da sobre
partilha do bem sonegado, em cumprimento ao disposto no art. 1.779 do Código
Civil de 1916. Quem pede o mais, pode ser deferido o menos. 2. Admitido o desvio
de bens, mas negado o dolo, não é aplicável a pena de sonegados, mas os bens
devem ser sobrepartilhados. Ação parcialmente procedente (REsp nº 163195, Min.
Ruy Rosado de Aguiar) (TJSC – AC 2005.0172090 – Rel. Des. Luiz Cesar Medeiros
– Dje 8-10-2009 – p. 338).
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE INVENTÁRIO. REMOÇÃO DE
INVENTARIANTE. ARGUIÇÃO DE BENS SONEGADOS. 1) Não merece prosperar
a alegação da agravante no sentido da impropriedade da via eleita pelos
agravados(Incidente de Remoção de Inventariante) para formular requerimento de
inclusão de bens no acervo partilhável, porque somente se impõe como exigência o
ajuizamento de ação própria de sonegados para efeito de aplicação da pena
prevista no art. 1.992 do Novo Código Civil, a teor do que dispõe o art. 1.994 do
mesmo diploma legal. 2) Cabe ao Juízo do inventário diligenciar no sentido de
garantir que todos os bens deixados pelo autor da herança venham a integrar o seu
espólio, à luz dos princípios da efetividade, da economia processual e da
adaptabilidade do procedimento, bem como do direito fundamental a um processo
sem dilações indevidas. 3) Deste modo, não há óbice em se proceder a inclusão de
bens omitidos nas primeiras declarações em sede de Incidente de Remoção de
Inventariante, o qual foi instaurado com fundamento justamente em suposta
sonegação de bens, nos termos do art. 995, inc. VI, do CPC, quanto mais que foram
respeitados na espécie o contraditório e a ampla defesa, consoante se infere da
farta documentação carreada para os autos. 4) Não há que se cogitar de preclusão
na espécie, na medida em que não consta no acervo probatório carreado para os
autos do presente agravo prova de que a questão envolvendo omissão de bens pela
inventariante na apresentação das primeiras declarações já teria sido decidida pelo
juiz do inventário. 5) Ademais, é admissível que os interessados venham a interpelar
o inventariante para que este declare os bens que porventura não tenham sido
relacionados nas primeiras declarações, tal como ocorreu na hipótese, evitando-se,
assim, que se instaure o litígio sobre a matéria através do ajuizamento da ação
específica de sonegados, esta, sim, somente possível depois da declaração feita
pelo inventariante de não existirem outros a inventariar, conforme previsto no art.
994 do CPC. 6) Os direitos decorrentes do regime da comunhão parcial de bens que
vigia entre a recorrente e o de cujus devem ser examinados à luz do Código Civil de
1916, sob cuja égide se realizou o casamento de ambos. 7) E neste particular,
dispunha o art. 271, inc.VI, do vetusto Código Civil que entram na comunhão os
frutos civis do trabalho, ou indústria de cada cônjuge, ou de ambos. 8) Segundo
entendimento jurisprudencial dominante, os valores oriundos do Fundo de Garantia
do Tempo de Serviço configuram frutos civis do trabalho, integrando, nos
casamentos realizados sob o regime da comunhão parcial sob a égide do Código
Civil de 1916. 9) A jurisprudência do E. Tribunal de Justiça consagrou o
entendimento de que o imóvel adquirido por um dos cônjuges antes do casamento
realizado sob o regime da comunhão parcial de bens se comunica ao outro na
proporção dos valores correspondentes às parcelas do financiamento ou prestações
pagas na constância da sociedade conjugal, presumindo-se, nesta hipótese, a
contribuição direta ou indireta de ambos os cônjuges para a sua quitação. 10)
Considerando que 80% do saldo devedor relativo ao preço do imóvel adquirido pela
agravante antes do seu casamento com o autor da herança foi quitado já na
constância da vida conjugal do ex-casal, deve-se limitar a 40% a fração partilhável
do aludido bem. 11) Recurso ao qual se dá parcial provimento, na forma do art. 557,
§1º, do CPC. (DES. HELENO RIBEIRO P NUNES - Julgamento: 14/02/2013 -
QUINTA CAMARA CIVEL - 0005934-80.2013.8.19.0000 – Ag. Inst).
AGRAVO DE INSTRUMENTO. REMOÇÃO DE INVENTARIANTE.
ALEGAÇÃO DEVIOLAÇÃO AOS INCISOS II E VI DO ARTIGO 995 DO CPC.1.
Insurge-se o Agravante contra a decisão que indeferiu o pedido formulado no
incidente de Remoção de Inventariante.2. O Inventário ficou paralisado sem que
quaisquer dos interessados se opusessem, somente vindo o Agravante a intervir no
feito, coincidentemente, após a discórdia com o Inventariante que culminou com a
perda da administração dos bens, o que demonstra que a paralisação do Inventário
também era conveniente para ele, conforme muito bem apontado pela Juíza a quo
na decisão recorrida.3. Quanto a alegada violação ao inciso VI do artigo 995 do
CPC, não há nos autos prova inequívoca de que tenha o Inventariante
sonegado, ocultado ou desviado bens do espólio. Conforme ficou demonstrado nos
autos o Agravante tinha conhecimento de todos os negócios e bens do espólio, já
que os administrou.4. No momento em que vieram aos autos as primeiras
declarações, o herdeiro/Agravante com ela concordou e como administrador dos
bens que foi tinha conhecimento da renda e do lucro dos bens inventariados.5.
Tendo o Inventario retomado o seu curso normal e estando já em fase de avaliação
de bens, agiu com costumeiro acerto a MM. Juíza a quo, ao indeferir, ao menos por
ora, a remoção do Inventariante, alertando-o, entretanto, para o cumprimento dos
prazos processuais.6. Desprovimento do recurso. (DES. JACQUELINE
MONTENEGRO - Julgamento: 28/09/2010 - DECIMA QUINTA CAMARA CIVE -
0008695-89.2010.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO).
INVENTÁRIO. OBSERVÂNCIA DE PRESSUPOSTO RECURSAL.
TEMPESTIVIDADE. SUSPENSÃO DO PROCESSO. CABIMENTO. 1. Como o
agravo de instrumento foi interposto dentro do transcurso do prazo legal de dez dias,
o recurso merece ser conhecido, pois atende pressuposto recursal objetivo, que é a
tempestividade. 2. Mostra-se prudente a suspensão do processo de inventário, pois
está em trâmite recurso contra acórdão que confirmou sentença estabelecendo
obrigação com valor significativo, cuja satisfação poderá comprometer parte
expressiva da herança, ficando prejudicada a realização da partilha. Inteligência do
art. 265, inc. IV, letras a e b, do CPC. 3. Somente poderá ter curso o processo de
inventário quando ficar apurado o montante das obrigações pendentes, de forma a
permitir a reserva de bens suficientes para saldar o passivo. Recurso desprovido.
(Agravo de Instrumento Nº 70055610455, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça
do RS, Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em 18/09/2013).
CAPÍTULO III
5.0. Conclusões
Nas análises e demonstrações, e, considerando as questões de estudo
formuladas no capítulo um, pode-se concluir que:
O instituto da Responsabilidade Civil no Direito Brasileiro consiste na
obrigação de reparação do dano causado através do pagamento de indenização
arbitrada na ação competente. Neste contexto, há que se caracterizar a
responsabilidade do agente causador do dano através da culpa ou do dolo,
verificando ainda, os pressupostos da ocorrência do prejuízo e a existência do nexo
causal, sem os quais não há que se falar em reparação do dano.
O inventariante tem a função de administrar os bens que compõe o
espólio, prestando as contas dessa administração ao final do processo ou sempre
que o juiz determinar, além de ser o responsável por impulsionar o processo de
inventário. Todas essas obrigações são assumidas quando o inventariante firma o
Termo de Compromisso em juízo. Desta forma, verifica-se que a partir da assinatura
do termo, tem o inventariante a obrigação de instruir o processo de inventário com
os documentos pertinentes, além de responsabilizar-se pela administração dos bens
a serem partilhados, respondendo com o próprio patrimônio, pelos prejuízos
causados aos herdeiros pela má gestão dos bens.
Verificou-se, ainda, existirem alguns atos que não podem ser
praticados sem a devida autorização do juízo, como por exemplo, a alienação de
imóveis; tornando-se dessa forma uma ação vinculada à anuência da justiça.
Identificou-se, ainda, que poderá ocorrer a remoção do inventariante a pedido de um
dos herdeiros através da ação dos sonegados que poderá ser arguida somente após
as últimas declarações prestadas no processo, uma vez que, este poderá a qualquer
tempo, retificar as declarações.
Tendo em vista que a atividade de administrador implica em gerenciar
os bens sob sua guarda, o inventariante poderá ser responsabilizado civilmente em
relação aos herdeiros por ações ou omissões praticadas no curso de sua gestão,
quando estas, acarretar prejuízos e forem praticadas com dolo ou culpa. Assim,
quando não adota as providências cabíveis à conservação de um imóvel, deixado
que haja sua deterioração, não aplicando os recursos necessários a sua
conservação; quando não promove ação de cobrança e/ou despejo contra inquilino
inadimplente, estará sendo omisso em suas obrigações, causando com isso,
prejuízo aos herdeiros. A ação de responsabilidade civil deverá ser promovida por
rito próprio, a parte do processo de inventário.
Os casos descritos reproduzem algumas situações onde as decisões
de alguns tribunais brasileiros tem se manifestado sobre pedidos de remoção de
inventariantes, ações de responsabilização civil, por danos causados durante
gestões administrativas de inventariantes; em suma, as decisões judiciais vêm ao
encontro, corroborando com as questões abordadas no presente trabalho.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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