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1 Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicao e Imagem - ENCOI 24 e 25 de novembro de 2014 Londrina, PR Decifrando imagens: reflexes sobre percepo e visualidade luz da fenomenologia1 Thais P. P. Jernimo Duarte2 Resumo: A parcela de escolha individual, e cultural, na criao de imagens, demonstra aperspectivausadaparaconstru-lase,decertaforma,modulaamaneiracomosero interpretadas.Pormeiodaimaginao,imagensmarcadasporescolhashistricase culturaisdosindivduos soproduzidasedecifradas.Aatividadedoobservadordiante da imagem consiste em utilizar toda a capacidade do sistema visual e confront-la com os dados icnicos armazenados na memria. Dessa forma, a possibilidade de diferentes leiturasdeumamesmaimagempodeserencaradacomoumfenmenodelegitimao mltipla.Opresentetrabalhobuscadiscutirquestesrelacionadaspercepoe visualidade, pautadas pelas teorias da fenomenologia. Tal vis de anlise evidencia que, emfunodapercepo,todonossosersensvelmobilizado,moldandonossa compreenso de mundo. Palavras-chave: Fenomenologia; Imagem; Percepo; Visualidade. Abstract: The share of individual and cultural choice, the creation of images, shows the perspectiveusedtobuildthem,andsomehowmodulatesthewaybeinterpreted. Throughimagination,markedbyhistoricalandculturalchoicesofindividualsimages are produced and deciphered. The activity of the observer before the image is to use the full capacity of the visual system and compare it with the data stored in iconic memory. Therefore, the possibility of different readings of the same image can be considered as a phenomenonofmultiplelegitimacy.Thispaperseekstodiscussrelatedtoperception and visual issues, guided by the theories of phenomenology. Such a bias in the analysis showsthat,dependingonperception,alloursentientbeingismobilized,shapingour understanding of the world. Keywords: Phenomenology; Image; Perception; Visuality. Introduo Aimagempodesercompreendidacomoumarepresentaogrfica, plsticaoufotogrficadeumseroudeumobjeto.Suadefinionoestlimitadaa uma imitao, a uma semelhana. o que parece, mas, tambm, constitui uma tela, uma 1 Trabalho apresentado no GT 4- Abordagens Analticas em Comunicao Visual, do Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicao e Imagem - ENCOI. 2Relaes Pblicas.MestreeDoutoraem Estudos daLinguagem-PPGEL/UEL/Universidadedo Porto (CAPES) | [email protected] 2 Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicao e Imagem - ENCOI 24 e 25 de novembro de 2014 Londrina, PR iluso que sugere a existncia de uma realidade.Um reflexo da imperfeio e, por que no, da prpria realidade.Uma imagem muito mais do que um simples objeto. Apesar de no ser portadoradenenhumaverdade,umavezqueaverdaderevela-sesobainflunciados fatoresativadosdurantesualeitura,umanicaimagempodeserrecebidademaneiras diferentes,suscitando,consequentemente,sensaeseinterpretaesdiversas.A possibilidade de diferentes leituras de uma mesma imagem pode ser encarada como um fenmeno de legitimao mltipla. So diferentes formas, ou chances, de decodificar o cdigo imagtico, com leituras abertas e contnuas.Imagenssoinstveis,logo,entendersualabilidade,easconsequncias dessacaracterstica,essencial.Todaimagemfortementemarcadaporescolhas histricaseculturaisdoindivduo.irrealpensaremimagenssemsubjetividade.A parcela de escolha individual, e cultural, na criao de imagens, demonstra a perspectiva usadaparaconstru-lase,decertaforma,moldaamaneiracomoserointerpretadas. Nesse sentido, o presente trabalho busca discutir questes relacionadas percepo e visualidade, pautadas pelas teorias da fenomenologia. Tal vis de anlise evidencia que, emfunodapercepo,todonossosersensvelmobilizado,moldandonossa compreensodemundo.Aoanalisaraproduoearecepodeimagenspelovis fenomenolgico,evidenciamos, entre outros conceitos, os relacionadosconscincia e intencionalidade. Princpios da Fenomenologia Afenomenologia,discutidapelovisdofilsofoalemoEdmund Husserl(1986),apresenta-secomoummtododeinvestigaodosfenmenos.O fenmeno,descritoporHusserl(1986,p.36),consideradooaparecerdoobjeto,ou ainda, a prpria vivncia intencional em que o objeto aparece. Ao descrever que toda conscincia conscincia de algo, Husserl (1986, p.130) vincula tais conceitos noo deintencionalidade.Porsuavez,aintencionalidademarcaaconscincia,sendo 3 Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicao e Imagem - ENCOI 24 e 25 de novembro de 2014 Londrina, PR caracterizada pelas noes de inteno, intuio e evidncia apodtica. Pela perspectiva husserliana, entendemos a inteno como o contedo significativo de alguma coisa.Aintuiopodeserentendidanocomoexperinciadeuma singularidadeprvia,mascomopreenchimentodeumaintenosignificativa,queir fundamentaravalidadeobjetivadoconhecimento.Aodiscutir-seintuio fundamental atrelar conceitos relacionados intencionalidade e inteno significativa, jquetodaintuiopressupeumaintenosignificativaprvia,caracterizandoum preenchimento.Paisana (1992, p.82) esclarece que o preenchimento intuitivo de uma intenosignificativaquefundaoconhecimento.Aintuionofundamenta,mas pressupe uma inteno significativa. Husserl(1986)noconcebearelaodaimagemcomoobjetocomo umasimplesrepresentao,masanalisaamultiplicidadedeformaspelasquaisum mesmoobjetopodeservisado.Nessecontexto,aimagemvemaserummodo intencionalespecficodevisualizarumobjeto,constituindo-secomoumaconscincia intencional particular.Anlisessobovisdafenomenologiaspodemserrealizadasanvel reflexivo, uma vez que a conscincia fenomenolgica a conscincia reflexiva. Paisana (1992, 44) descreve que apenas pela reflexo que a vivncia intencional, o fenmeno nosentidohusserliano,podeserelemesmotematizado.Nessesentido,ocarter intencionaldaconscincia,edoprprioatoperceptivo,spodemseridentificadosde forma reflexiva. Percepes do olhar: representaes da imagem Refletidanadificuldadedefixaodeseuprprioconceito,muitorico parasercongelado,todaimagemconduzidaporumadinmicainstvel.Todoo fenmeno da visualidade marcado pela capacidade das imagens de agirem distncia, deflagrandodiferentesleituras,deacordocomosmodosdepercepo.Ummesmo objetotantopodeserpercepcionadodemodoimediato,sendovisualizadoemsua 4 Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicao e Imagem - ENCOI 24 e 25 de novembro de 2014 Londrina, PR corporeidade, como pode ser recordado ou imaginado. Desta forma, pode corresponder afenmenosdevisualidadedistintos:presentes,passadose/oufuturos.Oolhar condicionado,cadaexperinciadeolharpossuiumlimitee,tantoavisoquantoa imaginao, so conduzidas pela experincia.Enquantoavisoumafunofisiolgica,apercepoumprocesso mentalqueorganizaosestmulosvisuais,interpretando-os.Percebemosformae contedoenquantovivenciamosnossasinterpretaes.Emfunodapercepo,todo nossosersensvelmobilizado,permitindo,pormeiodeassociaesedaprpria imaginao,nossacompreensodemundo.Merleau-Ponty(1999,p.280)afirmaque todosaberseinstalanoshorizontesabertospelapercepo.Aoolharmosparaum objetoobservamossuasfacesvisveis,mastambmcointencionamosasausentes.So sntesespassivasepreenchimentosquecaracterizamconstantementenossa intencionalidade.Determinadoobjetossedeterminacomoumseridentificvel atravs de uma srieaberta deexperincias possveis. (MERLEAU-PONTY, 1999, p. 286). Todoodomniodovisvelestdiretamenterelacionadoaomovimento doolhar.Odeslumbramentodovisvelnascedosimplesfatodesever,desesentiro mundopormeiodaviso.Umsistemadetrocasentrecorpoemundoestabelecido, uma vez que ambos so constitudos da mesma matria, a visibilidade desperta ecos em nosso corpo. A viso acontece em parte por meio dos olhos, mas no s atravs deles. Outros sentidos esto inevitavelmente envolvidos, a viso alterada pelos sentimentos e aligaoentreaimagemeossentimentosinegvel.Somoscriaturasemocionais, logo, todas as nossas percepes, sensaes ou experincias socarregadas deemoo e, por sua vez, a emoo est ligada imagem.Oatodever,deolhar,noestrelacionadosomenteaovisvel,masao invisvel,definidopelaimaginao,tornandoouniversovisualilimitado.Merleau-Ponty (2013, p.25) afirma que assim como no se pode fazer um inventrio limitativo das utilizaes possveis de uma lngua, ou simplesmente do seu vocabulrio e das suas variantes, tampouco se pode faz-lo em relao ao visvel. 5 Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicao e Imagem - ENCOI 24 e 25 de novembro de 2014 Londrina, PR O que uma pessoa v constantemente alterado por seus conhecimentos e pelo contexto que a envolve. Quando j tivemos a experincia visual de alguma coisa, mesmoqueelanoestejaali,possvelenxerg-la,pormeiodaimaginao,pelos olhosdamente.Tudoquevemosmediadopornossosconceitosevalores,almda perspectiva de observao.Aprpriaorigemdasimagensdeve-se,emparte,capacidadede abstraoespecficaquepodemoschamardeimaginao.pormeiodaimaginao queproduzimosedeciframosasimagens.Tratam-sedecdigosquetraduzemeventos em cenas, so uma espcie de mediao entre o homem e o mundo, a partir do momento em que o representa. Ohomemsemprebuscouasimagenseelas,porsuavez,ficaram,por muito tempo, restritas s paredes das cavernas, igrejas e museus. Pensar nos domnios dovisvelcompreenderatrajetriapercorridapeloolhar,passandodabuscafobia pelasimagens.BaitelloJunior(2005,p.30)afirmaqueaeradavisibilidadenos transformaatodosemimagens,invertendoovetordainteraohumana,criandoa viso que se satisfaz apenas com a viso.No documentrio Janela da alma3, Win Wenders afirma que vivemos em ummundodeexcessos,emtodasasesferas.Paraocineasta,anicacoisaquenos falta tempo. Vivemos num mundo de imagens, e no s as consumimos como tambm comeamosanoscomunicaratravsdosmecanismosqueasfabricam.Dianteda avalancheprecipitadadeimagens,primeiropelareprodutibilidadetcnica,depoispela revoluo digital, ntido o acmulo de representaes visuais a que estamos expostos. Talvolumeparecedebilitarnossacapacidadeperceptivadiantedasimagens, dificultando sua leitura.Aimagemreafirmanossasrelaescomomundovisual, desempenhandoumpapeldedescobertadovisvel,masoexcessodeimagensnos entorpece, impedindo que prestemos ateno a elas. No olhamos as imagens de modo global, mas por fixaes sucessivas. A leitura das imagens no ocorre como a da escrita, deformalinear.Aumont(1993,p.59)descrevequenohvarreduraregularda 3JANELA da Alma. Direo de Joo Jardim e Walter Carvalho; Produo de Flvio R. Tambellini. Rio de Janeiro: Copacabana Filmes, 2002, 1 DVD (73min). 6 Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicao e Imagem - ENCOI 24 e 25 de novembro de 2014 Londrina, PR imagem, no h um esquema visual de conjunto, ao contrrio, h vrias fixaes muito prximasemcadaregiodensamenteinformativae,entreessasregies,umpercurso complexo.A atividade do espectador diante da imagem consiste em utilizar todas as capacidadesdosistemavisualeconfront-lascomosdadosicnicosarmazenadosna memria.Quandoexploramosumaimagem,almdomovimentodosolhos,huma variaodeleituradecorrentedenossaprpriaintencionalidade.Umolharinformado, ouexperimentado,desloca-sedemaneirasdiferentesquandoexpostoadeterminada imagem.Aoobservarumaimagemhumaexploraoqueraramenteinocente. Busca-seaintegraodeumamultiplicidadedefixaesparticularessucessivasque acabam por definir a forma da visualidade. De acordo com o contexto, enquadramos os diversosestmulosrecebidosempadres,afimdequefaamsentidoepossamser ordenadoseintegradosemumasntese.Aformacomopercebemosomundouma constante sucesso de snteses. Conformediscutimosanteriormente,avisualidade,porsuavez, constantementemodificadaecondicionadapelomeio.Asoberaniadarepresentao comprometida uma vez que a percepo de um objeto no nica, e sim composta por um horizonte de potencialidades interpretativas,de acordo com o modocomo o objeto vem presena, visado ou imaginado. Decifrando imagens: reflexes sobre a visualidade Oconhecimentodamentehumanasserealizaplenamentepela comunicao. S por meio da comunicao a mente permite o acesso a seus contedos. Nesse sentido, toda pesquisa sobre a conscincia , em primeiro lugar, uma tentativa de entrar em contato com os contedos de uma mente. Em outras palavras, cada indivduo, antesdesecomunicarcomooutro,comunica-seconsigomesmo.Oprprioexerccio dopensamentoumarelaocomunicativanaqualtraduzimosoquetemosemnossa conscincia, sejam imagens, sentimentos ou ideias. 7 Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicao e Imagem - ENCOI 24 e 25 de novembro de 2014 Londrina, PR Seguindo esta linha, a relao com o mundo exterior a raiz da dinmica daconscincia.Osobjetosexterioresdopensamentosoretrabalhadoscomos contedos prprios da conscincia interior. A conscincia no tem contedos, mas , em si,umaestruturacapazdedesenvolveroscontedosdoexterioremoutros, combinando-os,definindo-osalmdequalquerpossibilidadejamaisdeixada transparecer pelos sentidos em si. Todo processo de comunicao implica na relao entre uma produo e uma recepo. Essa relao dialtica entre a potica (produo) e a esttica (percepo) seresolvenadinmicadotempo,naqualuma,necessariamente,setransformaem outra.Assim,acomunicaoaestruturamvelresultantedessatransformao dialtica dos objetos do pensamento transmitido/recebido.Talpensamento,porsuavez,enquantosigno,devesertraduzidoem expressesconcretasquepermitamainteraocomunicativa.Aconversoe reconverso contnua da potica em esttica, e vice-versa, d-se em um tempo definido pelaprpriaconscincia,masnuncadeixadeagir.Mesmoosilncioumaresposta, mesmo a expresso guarda em si algo de incompleto. Oobjetodoatocomunicativonascedanecessidadedeexpressaralgo paraalmdesimesmo,contudo,noseprendeapenasaodomniodarazo,mas, tambm,comunicaodeafetos,sentimentos,sensaes.Humaesttica,portanto, em todo atocomunicativo. Umacomunicao um ato esttico na medida em que a reconstruo potica de uma sensao que se pretende externar, expressar para alm de si mesmo. O sentimento o ponto de partida para uma nova poiesis. Mensagens circulam o tempo todo no espao social e o indivduo, por sua vez,sedefineapartirdesuasrelaesdecomunicao,emsuasensibilidadepara organizar e reorganizar os fluxos contnuos de mensagens e se definir em relao a eles, bemcomoaosoutrosindivduos,emumaseleodeeventoscomunicativos.Para Martino(2007,p.09),aspessoasestomergulhadasemumoceanodesignose mensagens, mas quase no se do conta disso.No entanto, vale ressaltar que, em todo processo de comunicao, no se pode esperar que o receptor absorva, de imediato, o que o emissor lhe comunica, pois a coerncia construda de forma individual, de acordo com os conhecimentos adquiridos 8 Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicao e Imagem - ENCOI 24 e 25 de novembro de 2014 Londrina, PR emrelaoinformaorecebida.Flusser(1985,p.08)afirmaqueasimagens oferecemaseusreceptoresumespaointerpretativo.Apartirdomomentoemquea leituradeumaimageminiciada,osignificadodecodificadoasnteseentreduas intencionalidades: a do emissor e a do receptor.Asimagensseoferecemaosolhos,contendosentidosquedevemser lidos a fim de que seja possvel decodific-los. Olhar um quadro, por exemplo, significa traareco-traarcaminhos,umavezqueopintorabre,imperiosamente,caminhosa seremseguidospelosolhos.Ocentrodomovimentodaarteestnoolhar,postoque nele reside o centro do movimento, da vontade, da ideia.Oolhoprojetadodetalformaquetransmiteoquevemfragmentos paraofundodacavidadeocular.Paraqueumnovofragmentosejavisto,necessrio abandonar o anterior. Em seguida, para e continua, assim como o artista. Se v que vale a pena, volta, como o artista. A obra nasce do movimento do olhar e o espectador busca refazer esse caminho (PIERROT, 2010).Nesse vai e vem, por vezes, a mente humana tem dificuldades de realizar certas distines. No somos educados para reconhecer diferentes tipos de experincia, midiatizadas ou no. por isso que, para uma imagem ser capaz de retratar a paisagem ondevivemos,deveincorporaressacomplexatensoentreomaterialeoimagtico. Quando nos confrontamos com uma obra de arte, talvez nossa nica reao possvel seja o equivalente a uma prece de gratido por nos permitir, com nossos sentidos limitados, umnmeroinfinitodeleituras,que,paraonossomaiorproveitoealegria,trazema possibilidade de esclarecimento. (MANGUEL, 2001, p.55). O ser humano tem uma tendncia para ler e buscar significados em todas ascriaesartsticas,entretanto,somoscapazesdelersomenteaquiloquejulgamos identificvel.Paraumaleituracompletadasimagensquenoscercamnecessrio questionarseuprocessodeconstruo,bemcomoosmateriaisutilizados,paradepois identificar a imagem e, finalmente, buscar seu(s) significado(s).Paraentenderossignificadospropostospordeterminadaimagem necessriocompreenderopapelporeladesempenhado.Arnheim(1988)propeuma tricotomiadasrelaesdaimagemcomoreal,descrevendoospossveisvaloresda imagem:a)valorderepresentao,ondeaimagemrepresentacoisasconcretas;b) 9 Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicao e Imagem - ENCOI 24 e 25 de novembro de 2014 Londrina, PR valordesmbolo,traduzindoarepresentaodecoisasabstratas;c)valordesigno, quando representa um contedo cujos elementos no so visualmente refletidos por ela. Imagensmultiestveis,cominterpretaesambguas,tmsido produzidasdesdeaantiguidadeemuitodofascnioquenutrimosporessas representaesvemdofatodequenosrevelamnosomentenossaslimitaes cognitivasemrelaoaimpulsosvisuais,mas,tambm,opoderinterpretativoque exercemos sobre esses mesmos estmulos.Umavezquepercebemosessafragmentao,apossibilidadeea importnciadeumagramatologiavisual(leituradeimagens,educaodoolhar)se tornaminstintivamentepresente.Emumprimeiromomento,aleituradeumaimagem pode se apresentar como um abismo de incompreenso, no qual interpretaes mltiplas sopossveis.Diantedagramatologiavisualempreendidanaobra,quetenciona significados, explicitando tanto os limites visuais quanto as capacidades interpretativas, inevitvel resgatar o conceito de realidade.Nossa ateno no nos permite atribuir, por vez, mais de um significado aumaimagem.Aodiferenciaraleituradesmboloslingusticosdesmbolos representacionais, Goodman (2006, p.244) afirma que uma descrio pode ser redutvel apalavras,ouletras,aopassoqueumaimagemumtodoindivisvel.Adiferena fundamenta-se na relao de um smbolo com outros, num sistema denotativo. Arelaodeconscinciacomomundonoseesgotaemreceberas impresses dos sentidos, mas em transformar essas impresses em formas de expresso demaneiraacompartilharcomosoutrosindivduossensaeseconhecimentos.Nem tudooquecompeomundoexisteparaoindivduo.Omundodecadaumo microcosmoconstitudopeloselementosaosquaisatribuiumsignificadointencional, quepassamafigurarnapaisagemdaconscinciaesodestacadoscomoumafigura isolada qual se d importncia destacada de um fundo de objetos sem significado, com os quais se mantm uma relao indiferente de conscincia. (MARTINO, 2007). Devemosressaltarqueohomemparticipadoprocessodecomunicao munido de valores morais e estticos preexistentes, logo, a abertura de seu microcosmo pode ser parcial. A arte busca a ampliao das percepes do outro, e, comofenmeno 10 Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicao e Imagem - ENCOI 24 e 25 de novembro de 2014 Londrina, PR social,possuirelaescomasociedade.Essasnosoestticaseimutveis,ao contrrio, so dinmicas, modificando-se historicamente. Omundocompletamenteindiferenteaosujeitoatquelheseja atribudo um significado, que pode ser de natureza cognitiva, prtica ou esttica, logo, a tomada de significado de um objeto est vinculada sua presena na conscincia e isso acontece por meio da interao. Sendo assim, toda interao uma forma de ampliar os limitesdomicrocosmodapercepo.Igualmente,acomunicaoaaberturadesse microcosmopossibilidadedeserparcialmentemoldadopelosnovosobjetosde conscincia introduzidos nesse contato comunicativo.Por meio da percepo esttica, cria-se tambm uma atitude esttica que obriga o espectador a colocar-se no lugar de outro, forando o olhar a ver de um ponto de vista diferente, ao mesmo tempo que no abandona sua perspectiva anterior.Lyotar (1979,p.58)afirmaqueomovimentomedianteoqualosensvelseapresenta sempreumagesticulao,umbaile.Designarnoapontarfixamente,contudo,nem todaamobilidadeatuadentrodaordemdasignificao,recorrendoaossubconjuntos semnticos para deduzir os conceitos que necessita, a fim de articul-lo em um discurso inteligvel. Consideraes Finais Criao,recepoeinterpretaonodevemserseparadas,pelo contrrio,sooperaesinterdependentes.Arecepoumaestticarica,uma representaobidimensionalquepodecaracterizarumaimagememumexerccioda vontade. Esttica e recepo definem a imagem, que pode no ser a mesma para pessoas diferentes.Ocontextodeproduodaimagemagediretamenteafimdefacilitar,ou dificultar, sua leitura. Isso porque, caso a imagem tenha sido produzida em um contexto afastado do observador, a exigncia para sua interpretao ser maior.Nessesentido,valesalientaraimportnciaoutorgadapercepo,no sentidoque,definindopropriamentesignificaoedesignao,nota-seumespao fenomenolgicorelacionadoviso,cujaspropriedadessomuitodistintasdasda 11 Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicao e Imagem - ENCOI 24 e 25 de novembro de 2014 Londrina, PR significaolingustica,remetendo-asfenomenologiadovisvel,estabelecidapor Merleau-Ponty.Aoabordarquestesrelacionadaspercepoevisualidadeporum vis fenomenolgico, consideramos a intencionalidade presente tanto na ao do autor, quanto na do observador. A recepo deixa de ter um carter passivo para assumir uma atitudeativadiantedaimagem.Pormeiodereconhecimentosepreenchimentos, caracterizadosporintenessignificativas,fundamenta-senosanoode interpretao, mas o prprio conhecimento. 12 Encontro Nacional de Pesquisa em Comunicao e Imagem - ENCOI 24 e 25 de novembro de 2014 Londrina, PR Referncias ARNHEIM,Rudolf.Arteepercepovisual:umapsicologiadavisocriadora. Traduo de Ivonne Terezinha de Faria. 4.ed. So Paulo: Nova Verso, 1988. AUMONT, Jacques. A imagem. So Paulo: Papirus, 1993. BAITELLOJUNIOR,Norval. Aeradaiconofagia:ensaiosdecomunicaoe cultura. So Paulo: Hacker Editores, 2005. FLUSSER, Vilm. Filosofia da caixa preta. So Paulo: Hucitec, 1985. GOODMAN, Nelson. Linguagens da arte: uma abordagem a uma teoria dos smbolos. Traduo de Vtor Moura e Desidrio Murcho. Lisboa: Gradiva, 2006. HUSSERL, Edmund. A idia da fenomenologia. Lisboa: Edies 70, 1986. LYOTARD,Jean-Franois.Discurso,figura.Barcelona:EditorialGustavoGili,S.A, 1979. 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