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  • H cada vez mais crianas e adolescentes que no comemcarne nem peixe. Preferem soja,tofu,seitan e outrosalimentos tpicos da cozinha vegetariana. Por motivosde sade, ecolgicos, religiosos ou simplesmente poramor aos animais,dispensam carne morta no prato. Fomos conhecer algumas famlias vegetarianas e aopinio do pediatra Paulo Oom sobre os benefcios eeventuais riscos da alimentao vegetariana.

    TEXTO Gabriela Oliveira

    de palmo emeioVegetarianos

    ALIMENTAO

    RICARDO MEIRELES

  • mo

    RICARDO MEIRELES

  • 68noticiasmagazine 28.OUT.2007

    Para muita gente, difcilentender os motivos quelevam vrias famlias aadoptar o vegetarianis-mo. Para a pequena Joana, seis anos, a expli-cao simples: No justo comer os ani-mais, eles sofrem como ns! Tenho pena,no quero que os matem. A conscincia deque possvel minorar o sofrimento dos ani-mais, bem como as vantagens de sade as-sociadas reduo ou eliminao do consu-mo de carne, tem despertado um interessecrescente pela alimentao vegetariana.Muitas famlias comeam a experimentaralimentos tpicos da cozinha vegetariana,numa tentativa de diversificar e adoptar h-bitos mais saudveis. Mas so cada vez maisos pais que decidem, logo desde o nascimen-to ou ainda durante a gravidez, que os filhosvo crescer vegetarianos, por consideraremque o melhor para eles. Deciso difcil delevar por diante, que implica remar contraa mar e ultrapassar preconceitos e medosinfundados.

    Quando se trata de crianas ou adoles-centes, aumentam os receios e os equvo-cos, refere o pediatra Paulo Oom. H a ideiageneralizada de que a carne e o peixe soobrigatrios para assegurar um crescimen-to saudvel, mas nos ltimos anos temos as-sistido multiplicao de alternativas vege-tarianas que fornecem os nutrientes essen-ciais. A falta de informao e a resistncia mudana fazem que muitos tcnicos de sa-de no apoiem esta opo alimentar duran-te a infncia. Contudo, do ponto de vista m-dico e cientfico, no h razo para se colo-car obstculos. conhecida a posiofavorvel da Associao Diettica America-na, que assegura que as dietas vegetarianas

    correctamente planeadas so saudveis, nu-tricionalmente equilibradas e trazem bene-fcios para a sade na preveno e tratamen-to de algumas doenas, sendo adequadaspara todas as etapas do ciclo da vida, mesmodurante a gravidez, lactao, infncia e ado-lescncia (Journal of American Dietetic Asso-ciation, 2003).

    A Organizao Mundial de Sade (OMS)tem alertado para o consumo excessivo deprotenas animais, recomendando o consu-mo de alimentos alternativos, como a soja eos seus derivados, por conterem menos co-lesterol e gorduras saturadas. Em Portugal,as estatsticas mostram que cada portugusconsome em mdia 282 g de carne por dia,ou seja, mais de 100 kg de carne por ano! Te-mos uma das maiores taxas de consumo degorduras e de protenas animais, que est di-rectamente relacionada com o desenvolvi-mento de doenas cardiovasculares e vrios

    tipos de cancro. O ciclo de morte pode noterminar nos matadouros.

    Vegetariano por fora deleRafael tem um ano e uma determinao in-domvel. Por mais tentativas que fizsse-mos, por mais voltas que dssemos, ele re-jeitava sempre a carne, explicam os pais.Fizemos at a experincia de lhe dar duassopas com os mesmos legumes, uma feitacom a gua de cozer a carne e a outra no, eele recusou sempre a sopa que sabia a carnee devorava a outra! H dez anos que ris eDaniel so vegetarianos. Por isso, no seatrapalharam com a reaco do filho: Cla-ro que ns queramos que ele fosse vegeta-riano, mas como a pediatra deu indicaespara ele seguir uma alimentao normal,ns tentmos cumprir, at que desistimosporque j no fazia sentido. Comprarampropositadamente carne e peixe para o fi-

    Rafael, um ano , rejeita qualquer prato com carne, apesar da insistncia dos pais.

    Joana, seis anos, no come bichos

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    lho, mas acabaram por preparar sopas enri-quecidas com tofu, seitan, lentilhas e algas.Ele muito purinho, rejeita as toxinas dacarne, no quer nada com as vacas loucas,dizem os amigos em jeito de provocao.

    Ainda no contmos pediatra... Comoele tem sido muito saudvel e est a cresceracima da mdia, ficmos espera que elavisse primeiro os bons resultados! A fam-lia j se rendeu s evidncias: S elogiam,no interferem na nossa escolha em relaoao Rafael. S s vezes que se metem con-nosco, quando vamos a um restaurante e ou-vimos aqueles comentrios: Olha tanta er-va l fora, como se nos convidassem a pas-tar. Vivem na Pvoa de Varzim, um meioainda pouco habituado a aceitar a diferen-a: S temos pena que por c no haja maisoferta e maior variedade de produtos vege-tarianos a bons preos. Somos obrigados a irao Porto para comprar o que nos faz falta.

    uma opo vlida, no umcaprichoA alimentao vegetariana adequada na infncia?A dieta vegetariana pode ser iniciadalogo nos primeiros meses de vida. Noh qualquer inconveniente para ocrescimento e desenvolvimento dascrianas, desde que sejam assegura-dos alguns cuidados.Que vantagens encontra neste tipo dealimentao?Tem vantagens e desvantagens comoem qualquer regime alimentar.Habitualmente est associada a ummaior consumo de fibras, frutas elegumes e a um menor consumo degorduras e colesterol, o que reduz o

    risco de as crianas desenvolveremdoenas relacionadas com a alimenta-o, desde reaces alrgicas, intoxi-caes alimentares, obesidade, doen-as cardacas, aterosclerose,hipertenso... Vrios estudos tmmostrado que h tambm uma menorincidncia de certos tipos de cancroentre os vegetarianos. Como grandeparte dos pais que optam pela alimen-tao vegetariana tm preocupaesambientais e de sade, os filhosacabam por adoptar hbitos maissaudveis, bebem menos bebidasgaseificadas, comem menosacares, aditivos e conservantes.Mas a alimentao vegetariana, s porsi, no uma garantia de ser saudvel

    Paulo Oom pediatra

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    Superglutona de tofuLuna, trs anos, mora no Porto, j era vege-tariana ainda no tinha nascido. Ela vicia-da em tofu, brinca a me, as outras crian-as pedem doces, a Luna pede tofu a qual-quer hora do dia como se fosse a coisa maisdeliciosa do mundo! Todos os dias SandraPais prepara tofu com molho de soja paraa filha levar para o jardim de infncia: Co-mo na escola no sabem preparar comidavegetariana, comprometi-me a levar o re-foro proteico e eles fornecem a sopa, ocomplemento e a sobremesa. uma solu-o vivel, que permite a Luna partilhar asrefeies com os colegas sem deixar de servegetariana: Para mim era imperioso que aescola aceitasse a alimentao da Luna, ela maluca pelos animais, no os quer comer.Quando olha para a carne no prato do av,faz caretas e apressa-se a dizer: Ui, bicho,no quero!

    H quem ache que eu devia esperar atela ter idade para decidir. Mas cabe aos paisdecidir aquilo que consideram ser o me-lhor para os filhos! Quando crescer, ficarao critrio dela manter ou no a alimenta-o vegetariana, comenta Sandra Pais.Durante a gravidez e nos primeiros mesesde vida de Luna, teve de vencer a estra-nheza e a resistncia das enfermeiras, dapediatra e do nutricionista que a acompa-nharam: Foi um problema, no conhe-ciam os alimentos vegetarianos nem sa-

    ou mais saudvel do que aalimentao convencional. precisoque a alimentao seja variada e equili-brada e que os bons hbitos sejammantidos. No vale ser vegetariano ecomer s doces e batatas fritas!

    Valor proteico no exacta-mente igualA carne e peixe podem deixar de serencarados como alimentos obrigat-rios no prato das crianas?Sim, desde que se substituam poralimentos alternativos. A soja, o tofu eo seitan, bem como os ovos e o queijo,podem fornecer as protenas queprecisam. evidente que as protenasde origem animal tm maior valor biol-gico porque contm os aminocidosnas propores adequadas s nossasnecessidades. Digamos que o nossocorpo tem mais facilidade em produzirprotenas a partir das protenas dacarne, uma vez que so maissemelhantes s nossas. Isso explica--se por partilharmos a mesma origemanimal. Mas a carne tambm temaspectos menos desejados como agordura, o colesterol, os aditivos, osconservantes, os antibiticos e outros

    medicamentos usados na indstriaagropecuria... No podemos dizer quepara a criana seja exactamente omesmo comer protenas animais ouvegetais, mas possvel chegar aomesmo resultado dando soja oufazendo combinaes com alimentosvegetais que se completam entre si. SSee aa aalliimmeennttaaoo vveeggeettaarriiaannaa ffoorrvvaarriiaaddaa,, nnoo hh mmoottiivvoo ppaarraa rreecceeaarrccaarrnncciiaass.. iissssoo??Se a criana tiver uma alimentaovegetariana que inclua ovos, leite oulacticnios no h motivo para preocu-pao! Ter certamente todos osnutrientes que necessita. Contudo, emsituaes em que a criana mantmum regime vegetariano puro, que excluitodos os produtos de origem animal,podem ocorrer carncias, no tanto deprotenas, mas de outros nutrientesque sejam mais difceis de obter emquantidade suficiente a partir dosalimentos vegetais, como o caso dasvitaminas D e B12, do ferro, clcio ezinco. Numa dieta vegetariana pura necessria mais ateno por partedos pais, que devem escolher alimen-tos enriquecidos com estas vitaminase minerais para compensar. Se assim

    DecisoH quem ache queeu devia esperar at

    ela ter idade paradecidir.Mas cabeaos pais decidir o

    que acham melhorpara os filhos,diz a

    me de Luna.

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    biam dar indicaes, chegaram a sugerirque desse ovos beb quando ela no tinhaidade para os comer! Na altura, moravamem Santarm. Com o regresso ao Porto, fi-caram mais descansados: A Luna est a seracompanhada por uma nutricionista es-pectacular que no mudou em nada o quesempre lhe dei, apenas acrescentou. tobom sentir que temos apoio e saber que oque fazemos est certo! Os olhos casta-nhos de Luna enchem-se de vida: Mam,posso ter mais tofu?

    Comida de griloA associao quase inevitvel. Se disser-mos que somos vegetarianos, as pessoaspensam que s comemos alface, verduras epouco mais, comenta Maria, vegetarianah quase vinte anos: Mesmo que saibamque no bem assim, gostam de fazer co-mentrios jocosos, parece que tm necessi-dade de nos fazer sentir marginais. Optarpor uma alimentao diferente no fcil,seja em que idade for, confirmam os filhos,Eunice e Joo. Procuro que os meus filhossejam tolerantes, no quero que eles cres-am a pensar que so melhores do que osoutros s porque so vegetarianos. Em ca-sa todos so ovo-lacto-vegetarianos, isto ,consomem leite de vaca, queijo e ovos, pa-

    ra alm dos tpicos alimentos da cozinha ve-getariana: Em ocasies especiais, nos jan-tares de famlia, s vezes provam carne oupeixe mas invariavelmente dizem que nogostam ou que preferem outra coisa.

    Joo o mais novo, tem cinco anos, fre-quenta o Jardim de Infncia Velaverde, emAlfragide, uma das poucas escolas do pasque tem alimentao exclusivamente vege-tariana. Eunice tambm frequentou o Col-gio Velaverde, do qual guarda muitas sau-dades e grandes amigas que a tm acom-panhado no ensino pblico. Sempre quepode vai buscar o irmo e traz um petiscoda cozinheira Isabel: Adoro a comida daIsabel, especialmente pastis de aveia, souma delcia! Sopa de algas, empado de so-ja, gratinado de seitan, hambrgueres detofu, iogurte caseiro biolgico, ou po demistura preparado pelas prprias crianasfazem parte do menu desta escola. A mi-nha comida preferida empado de arrozcom soja, diz o Joo: E gelatina, porqueeu sou muito guloso! Grande parte dascrianas que frequentam a Cooperativa deEnsino Velaverde no so vegetarianas masadaptam-se com facilidade a novos saborese texturas. H at quem reclame que a co-mida de casa no to boa como a da esco-la, conta a educadora do Joo.

    Luna, trs anos, j era vegetariana antesde nascer, conta a me, Sandra Pais.

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    Um bocado de cadverO Ministrio da Educao (ME) prev quepor motivos religiosos ou por prescriomdica os alunos possam ter ementas al-

  • for, pode at nem se justificar dar criana um suplemento polivitamnico.H alguns anos o risco de carnciasera muito maior, no havia tanta infor-mao nem tanta variedade de alimen-tos. Hoje existem imensos cereais enri-quecidos e vrios tipos de leite de sojaadaptados, prprios para bebs ecrianas vegetarianas, que ajudam acolmatar essas carncias.Que recomendaes deixa aos pais?A primeira regra variar, e isso vlidopara qualquer tipo de alimentao. Sevariarmos os alimentos, reduzimos aomnimo a hiptese de ocorreremdeficincias. tambm essencial que aalimentao seja equilibrada e ajustada idade da criana. Os pais que optampela dieta ovo-lacto-vegetarianapodem estar descansados, mas osque seguem um regime vegetarianopuro devem ter conscincia de que nopodem descuidar-se: ou do alimentosenriquecidos ou a criana tem detomar um suplemento! As carnciaspodem surgir em qualquer tipo de dieta,mesmo que a criana tenha uma

    alimentao convencional. O maisimportante so os bons hbitos que ospais transmitem aos filhos logo desdemuito pequenos, o exemplo dado nodia-a-dia.

    Gravidezes vegetarianasH crianas que comeam a ser vege-tarianas ainda in utero.A alimentao vegetariana pode sermantida durante a gravidez,devidamente planeada e reforada emnutrientes essenciais. Algumas mesperguntam-me se podem amamentar ese o leite adequado para o beb tendoem conta que so vegetarianas. Claroque o leite materno a melhor opo.De resto, a alimentao dos bebsvegetarianos idntica das outrascrianas, com a diferena de se iniciaro tofu e a soja na sopa, entre os quatroe os seis meses, em vez da carne. O seitan, por ser feito base de glten,deve ser introduzido sempre depoisdos seis meses, para evitar qualquerintolerncia, aplicando-se em tudo asnormas gerais da alimentao infantil.

    A famlia deIsaura,

    terapeuta,mudou-se para

    Alhandra por ser prximo de

    um colgio vegetariano.

    possvel, mediante declara-o mdica ou justificaoreligiosa, solicitar refeiesvegetarianas nos refeitriosescolares. Essa situaoest contemplada pelo Minis-trio da Educao (Circularn. 14/DGIDC/2007, Anexo B,Ponto 6, alnea E). Os paispodem solicitar ementasvegetarianas, cabendo escola ou empresa conces-sionada dar resposta a estespedidos que, dentro do poss-vel, devem manter os alimen-tos da ementa do dia, escla-rece Rui Lima, nutricionistado Ncleo de Educao para aSade e Aco Social Escolardo ME: H escolas que sedebatem com escassez demeios e funcionrios, nessescasos a soluo pode passarpor disponibilizarem queijo eovos no refeitrio ou permiti-rem que esses alimentossejam levados do buffet hora da refeio. Existem normas rgidasquanto conservao dos

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    Refeies vegetarianas nas escolas pblicas

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    alimentos e lista dos alimen-tos autorizados nos refeit-rios escolares, da no servivel que os alunos levem oalmoo de casa. Contudo,no colocamos obstculos aque o aluno leve o reforoproteico para o refeitrio,desde que este nonecessite de ser conservadono frigorfico, j que poderiaconstituir um eventual focode contaminao para osrestantes alimentos.Compete s escolas dar amelhor resposta a cadasituao, de acordo com assuas possibilidades: O pratode dieta pode muito bem serum prato vegetariano. oque acontece, por exemplo,em alguns refeitrios doensino bsico a cargo daempresa Uniself, no concelhode Oeiras.De resto, o Ministrio, atravsdo Referencial para UmaOferta Alimentar Saudvel,do qual Rui Lima co-autor, jsugeriu que os buffets esco-

    lares tenham leite eiogurtes meio-gordos oumagros, queijo, ovos, pode mistura, sumosnaturais, fruta da poca evrios tipos de saladas emdoses individuais. A soja, sendo umaleguminosa, j umalimento autorizado,embora seja muito poucoutilizado nas ementasescolares. Estamos apreparar um conjunto dereceitas para enviar paraas escolas que poderoincluir receitas vegetaria-nas, reconhece Rui Lima:Procuramos fomentaropes mais saudveis ereduzir ou eliminar alimen-tos com elevado teor deacar, sal e gorduras,mas tambm necessriauma maior intervenodos pais. So eles, emltima instncia, osresponsveis peloshbitos alimentares dosfilhos.

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    s escolas pblicas

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    ternativas, nomeadamente vegetarianas.Os pais podem apresentar uma declara-o mdica a solicitar refeies vegetaria-nas, cabendo escola ou empresa que ge-re o refeitrio dar resposta a estes pedi-dos, esclarece Rui Lima, do Ncleo deEducao para a Sade do ME [ver caixaRefeies vegetarianas nas escolas pblicas].Por uma questo de coerncia deve serdada criana a possibilidade de conti-nuar o regime vegetariano na escola, evi-tando um factor de stress hora da refei-o, defende o pediatra Paulo Oom. Porenquanto, excepo das cantinas univer-sitrias, so poucos os estabelecimentosde ensino pblico que fornecem refeiesvegetarianas.

    Eunice j engendrou um plano simplescapaz de agradar a todos, sem marginalizarningum: Em vez de pratos feitos, propo-nho o sistema de buffet a partir do segundociclo, onde cada aluno pudesse escolheraquilo que mais gostasse, desde que esco-lhesse um alimento de cada: protenas, le-gumes, cereais, fruta, etc. As protenas po-diam incluir queijo, ovos, soja, tofu... paraalm da carne e do peixe. Assim, todos po-diam provar e variar, sem ser preciso pediruma comida especial. Eunice sonha po-der ser biloga marinha, tal o seu entu-siasmo pelos animais: E, claro, vou conti-nuar vegetariana, seno seria um contra-senso!

    Marcianos verdes e tudoOsvaldo tem dez anos, Joana tem seis, soirmos e frequentam o colgio Jardim doMonte, em Alhandra, a cerca de 30 km deLisboa. Os pais decidiram deixar a zona daserra da Estrela para estarem mais prxi-mos da nova escola dos filhos. At pens-mos em ir para a Sua mas achmos que,para j, esta seria uma boa soluo, o ensi-no no Jardim do Monte segue a pedagogiade Rudolf Steiner e tem uma alimentaobiolgica e vegetariana, explica JoaquimSilva. At ao terceiro ano de escolaridade, ofilho frequentou uma escola pblica na Co-vilh. L ia almoar a casa quase todos osdias, na escola no tinham comida vegeta-riana nem me deixavam levar o almoo, erachato... , conta Osvaldo. A famlia segueum regime vegetariano sem ovos, leite devaca e queijo, mas fora de casa abrem-se amais opes: Os meus pais acham que omelhor para ns, diz Osvaldo. Mas eu te-nho pena dos animais, apressa-se a dizera irm: Acho que as pessoas que os matamno tm piedade!

    A tentativa de causar o mnimo sofrimen-to possvel norteia esta famlia. A sensibi-lidade dor no reino vegetal muito inferior dos animais, principalmente quando se tra-ta de animais de sangue quente, refere Joa-quim Silva. Contudo, foram motivos de sa-de que o conduziram ao vegetarianismo. Os

    Cabe aos pais, numa primeira fase,decidir a opo alimentar dos filhos.Mas medida que crescem essadeciso deve ser tomada emconjunto? Habitualmente essa questo coloca--se quando os filhos chegam adoles-cncia. H crianas que sempre foramvegetarianas e nessa altura decidemmudar, mas tambm acontece ocontrrio, crianas e adolescentesque dizem aos pais que no queremcomer mais carne nem peixe e tornam--se vegetarianas. Em qualquer dassituaes, o assunto tem de ser discu-tido em conjunto e deve ser aceitepelos pais. sempre possvel chegar aum consenso e encontrar soluesque permitam aos pais e aos filhosalguma tranquilidade hora das refei-es. Podem combinar, por exemplo,que o acompanhamento igual paratodos e muda-se s o alimentoproteico, ou que em certos dias todoscomem o mesmo prato.Muitos pais lamentam a falta de apoiopor parte dos tcnicos de sade e deeducao. H razo para tantosobstculos?Do ponto de vista mdico, no hmotivo para se impedir que as crianassejam vegetarianas. A resistncia dealguns tcnicos de sade ter a vercom ideias erradas ou com a falta deinformao. Compreendo melhor areaco das escolas, j que pode impli-car alteraes em termos de logstica.Mas se a escola, ou a empresa que

    fornece as refeies escola, no temcapacidade para confeccionar pratosvegetarianos, ento tem de permitirque o aluno leve a comida de casa ou,no mnimo, o substituto proteico. Nofaz sentido que a criana chegue escola e deixe de poder darcontinuidade alimentao que os paisconsideram ser a melhor para ela. A coerncia um valor essencial queest constantemente a ser minado!

    Obrigar a criana factor destressObrigar a criana a comer carne podeser um factor de stress...Sem dvida, e isso que no nadasaudvel. O que se passa que muitasvezes as pessoas olham para a opovegetariana como se fosse umcapricho e no compreendem que setrata de uma opo de vida, que deveser respeitada. Dizer o meu filho vegetariano no a mesma coisa quedizer ele no gosta de sopa, masconfundem-se as situaes. Umadeclarao mdica poder ajudar aclarificar estes casos e a partir da ascoisas tornam-se mais fceis. As escolas podiam beneficiar seinclussem refeies vegetarianasnas suas ementas?Seria uma boa arma de marketing! Erauma mais-valia para a escola, e para ascrianas, que se habituavam a novosalimentos e a no ter tanta resistnciae intolerncia face ao que novo ediferente.

    PORTOOs Gambozinos, ensinopr-escolar e 1. ciclo. RuaFrancos, 554, Porto, tel. 228302245.Casa do Cuco, jardim deinfncia. Estrada Interiorda Circunvalao, 10477,Porto, tel. 228314153.O Tocas, jardim de infncia.Rua Miguel Sousa Guedes,25, Porto, tel. 226170029.

    LisboaCasa Verdes Anos,ensino pr-escolar e 1. ciclo. Monsanto, Lisboa,tel. 217743242.Velaverde, jardim deinfncia. Rua da Imprensa,20, Alfragide, tel. 214713228.

    So Jorge, jardim deinfncia. Estrada de Alfra-gide 53-D, Alfragide, tel. 214711920 Jardim do Monte, ensinopr-escolar e 1. ciclo.Quinta S. Joo dosMontes, Alhandra, tel. 219512092.

    ALENTEJOQuinta das Artosas,jardim de infncia. Montemor-o-Novo, vora,tel. 266877313.

    ALGARVEInfncia Viva, jardim deinfncia. Monte Judeu,Baro de So Joo, Faro,tel: 282761786.

    EEssccoollaass ccoomm aalliimmeennttaaoo vveeggeettaarriiaannaa LUCIANA CRISTVAM

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    filhos do meu primeiro casamento estavamsempre doentes, todos os meses iam pedia-tra, sempre com febres altas e a tomar anti-biticos, especialmente um que chegou a seroperado s adenides e aos ouvidos e conti-nuava com os mesmos sintomas. Na altura,foi aconselhado a seguir um plano alternati-vo de alimentao macrobitica: Ficmosassustados com tantas restries mas comovamos a sade dos midos a melhorar co-memos a ganhar confiana e toda a fam-lia aderiu!, j l vo vinte anos. Viajou paraa Sua, Japo, ndia e Brasil, assistiu a confe-rncias e cursos de formao em terapias ho-lsticas, montou uma fbrica de produo detofu, entre outras experincias: A minha vi-so sobre alimentao e sade mudou radi-calmente.

    Osvaldo e Joana acompanham os paisnas suas deslocaes frequentes. A me terapeuta e cozinha comida vegetarianapara grandes grupos. Eles esto habitua-dos a participar, se os deixar na cozinha socapazes de fazer coisas fantsticas, dizIsaura Zegarra, com a sua pronncia en-graada. natural do Peru, j viveu no Bra-sil, onde trocou o curso de Antropologiapelo de Nutrio, e na Sua, mas em Por-tugal que encontra mais razes para ficar:Para mim a culinria a arte fundamentalda vida, atravs dela podemos aprender e

    transmitir valores essenciais! Cruza sabo-res da Amrica Latina com os orientais emediterrnicos, primando pela simplici-dade: H pequenas coisas que as crianasadoram, como rama de cenoura ou dente--de-leo... Mas sendo vegetarianos, e ainda

    por cima eu sou estrangeira, s vezesolham para ns como se fssemos marcia-nos, habitantes de outro planeta longn-quo. Talvez, num futuro prximo, osmarcianos sejam aqueles que insistemem pr animais no garfo. Ser?

    FONTES VEGETAIS DE PROTENA E FERRO

    Alimentos Protena Ferro(POR 100G) (G) (MG)

    Farinha de soja 44,0 6,0Feijo de soja 32,8 8,0Favas secas 25,8 5,0Lentilhas 25,2 6,8Ervilhas secas 22,7 3,7Feijo-frade 22,6 5,2Feijo branco 21,0 6,1Gro-de-bico 19,0 6,3Po de mistura de trigo e centeio 9,0 1,6Tofu 8,5 1,6Pinho 33,2 4,7Amndoa 21,6 4,0Avel 14,0 3,0

    FONTES DE CLCIO

    Alimentos Clcio(POR 100G) (MG)

    Queijo flamengo 850Farinha de alfarroba 349Couve galega 286Amndoa 266Farinha de soja 255Figo seco 235Avel 249Agrio 198Feijo branco 177Grelos de couve 147Gro-de-bico 136Grelos de nabo 131Tofu 128Leite de soja (enriquecido com clcio) 120Leite de vaca 120

    Fontes vegetais de nutrientes essenciais

    Quadro retirado do livro Alimentao Vegetariana para Bebs e Crianas, Arteplural Edies (2006)


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