O POLICIAMENTO A PÉ EM ÁREAS COMERCIAIS COMO ESTRATÉGIA DA
POLÍCIA COMUNITÁRIA NA CIDADE DE BELO HORIZONTE.
Molise Zimmermann Fonseca*1
RESUMO: 1. Demonstra a necessidade de reestruturação das Forças Policiais. 2. Conceitua a Polícia Comunitária e elenca diversas experiências sobre esta filosofia no Brasil. 3. Evidencia os fatores importantes para a implementação da Filosofia de Polícia Comunitária. 4. Contextualiza a Polícia Comunitária como alternativa estratégica para a resolução de problemas na área da Segurança Pública. 5. Define a Criminologia como ciência e a questão do crime como fenômeno social e comunitário. 6. Mostra a correlação entre a Polícia Comunitária e a Criminologia. 7. Cita mecanismos de controle social sobre a criminalidade, indicados pela Criminologia. 8. Enuncia a setorização do policiamento. 9. Descreve o emprego operacional do efetivo policial, a implantação do policiamento, os delitos monitorados e a coordenação e o controle do policiamento em áreas comerciais. 10. Faz referência ao geoprocessamento.
Palavras-chave: polícias militares, polícia comunitária, estratégia, Criminologia, controle social, setorização, policiamento a pé, áreas comerciais, geoprocessamento.
1 INTRODUÇÃO
No Brasil dos anos 80 era possível se observar logradouros públicos com
freqüência de famílias inteiras a passear com tranqüilidade e segurança. A sensação de bem
estar refletia-se no cotidiano das capitais até o final da década de 70. A partir dessa época, a
criminalidade passa a surgir no Brasil e a crescer em índices alarmantes. A expansão do
tráfico de drogas foi um dos fatores que contribuiu para esse incremento, e infelizmente não
foi o único. Estudos realizados por sociólogos e criminólogos no país, como o apresentado
pelo livro “Cabeça de Porco” de Luiz Eduardo Soares e também pela reportagem “Falcão,
meninos do Tráfico” no Programa Fantástico, da Rede Globo, tentam estabelecer relações
entre as características sociais dos criminosos e seus atos delinqüentes.
1 (*) Pós-graduada em Criminologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais(PUC-MG). Adjunta da Seção de Operações e Chefe do Núcleo de Prevenção Ativa (NPA) da 8ª Região da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG). Bacharel em Ciências Militares com ênfase em Defesa Social. Tenente da PMMG. Coordenadora e professora da disciplina Sociologia do Crime e professora da disciplina Polícia Comunitária para os Cursos de Formação de Sargentos da PMMG.
No centro da discussão, firma-se a idéia de que o criminoso e seus atos
ofendem o consenso moral e normativo da sociedade, e sendo assim, a esta deve ser
restabelecido, por meio de punição, seus valores centrais de normalidade.
Todavia, o Brasil, como vários outros países da América Latina, tem em seus
indicadores sociais um enorme déficit social, em que pese o grande avanço ocorrido nos
últimos anos. Apesar disso, os índices de criminalidade violenta, não acompanham esta
melhoria sócio-econômica do país e esse descompasso mostra-se de forma preocupante.
Entre o final dos anos 70 e início dos 80, capitais como o Rio de Janeiro, São Paulo e Porto
Alegre, tiveram seu índice de homicídios, os dois primeiros, triplicado e o último
quadruplicado. Observa-se então um paradoxo, pois mesmo com a melhoria dos índices
sociais, vê-se a criminalidade aumentar nos grandes centros urbanos.
Tradicionalmente, na sociologia do crime e na criminologia brasileira,
acreditava-se que, resolvidos os problemas sociais, saneados estariam os problemas da
violência. A crença de que fatores sócio-estruturais, especialmente de natureza
socioeconômica, são as causas da criminalidade e violência, tende à levar a formulação de
políticas, com a intenção de desencadear uma reforma social e individual.
Não se nega a influência dos fatores socioeconômicos no aumento da
criminalidade e da violência, porém não somente estes são determinantes para uma
avaliação crítica sobre o tema. Eles são elementos que compõem um sistema de análise, o
qual deve levar em consideração outros aspectos na definição do contexto da atividade
criminosa. Essas outras variantes têm relação com a disponibilidade de alvos para a ação
criminosa e/ou, com a ausência de mecanismos de controle e vigilância.
Por fim, o ambiente da ação refere-se a um contexto macroestrutural
socioeconômico, no qual ocorre a possibilidade da disponibilidade de alvos e do
enfraquecimento dos mecanismos de vigilância, o que gera uma possibilidade de aumento
considerável de delinqüência em um segmento específico da população.
Os mitos da pobreza ligada ao crime e da explicação deste pela ausência do
Estado e pelo desemprego, fazem com que o próprio Estado contribua para se reforçar a
cultura das populações criminosas, pois ele intensifica o indiciamento das pessoas nas áreas
de maior concentração de classes marginalizadas. É dessa forma que uma espécie de crime
passa a ser de interesse público.
Associar à criminalidade, pobreza, falta de emprego, ausência do Estado, origem
migratória, raça, entre outros, é pratica há décadas, todavia, estudos mais recentes mostram
que essa relação não pode explicar a criminalidade. Esses fatores não são suficientes para
explicar o fenômeno. Infelizmente esses mitos influenciam, ainda sobremaneira, a
instalação de políticas públicas.
Essa crença mitológica na associação entre marginalidade e crime termina, de
forma paradoxal, numa criminalização da marginalidade, confirmada pela cultura
organizacional das instituições policiais e pelo sistema penitenciário. Trata-se de dogma: à
crença no potencial criminoso das populações marginalizadas corresponderá uma maior
vigilância sobre elas, que se refletirá numa taxa maior de indiciamento e criminalidade, e
assim sucessivamente.
Sonhar com um modelo de sociedade igualitária, onde a lei e a ordem sejam
verdadeiramente a expressão da vontade e necessidade do universo da população é preciso;
ousar conceber uma nova forma de fazer polícia, de acordo com o modelo igualitário de
sociedade, numa sociedade estruturada hierarquicamente, é desencadear uma difícil
batalha; implementar um novo modelo para o organismo policial brasileiro, que seja
conforme os princípios democráticos expressos na Constituição, e que, conseqüentemente,
atenda ao padrão dos direitos humanos, é vencer.
A melhor alternativa é a policia comunitária, filosofia de ações e procedimentos,
uma evolução do princípio da comunitarização da polícia, que tem como registro de seus
primórdios no mundo, o modelo inglês.
Em Minas Gerais, a Filosofia de Polícia Comunitária foi estabelecida pela
Polícia Militar, no ano de 1993, quando o Comando–Geral publicou a Diretriz de
Planejamento de Operações n°3008, normatizando o assunto.
Uma das estratégias dessa nova filosofia de trabalho policial militar, que será
tratada mais profundamente neste artigo científico, é o emprego do policiamento a pé em
áreas comerciais, criado com o intuito de aumentar a sensação de segurança da população
belorizontina nas áreas caracterizadas pelo grande fluxo de população e de alta incidência
de criminalidade, conforme aferição procedida nos últimos trinta meses (2002, 2003 e 1°
semestre de 2004).
A adoção de medidas como a filosofia da Polícia Comunitária, a utilização do
geoprocessamento e recentemente a criação de estratégias de prevenção e redução criminal,
como a implementação de policiamento a pé em áreas comerciais, são esforços
empreendidos no sentido dar um atendimento mais eficaz à questão da segurança pública e
manter a sintonia com um modelo de administração pública gerencial.
A avaliação da incidência criminal através do geoprocessamento em conjunto
com o lançamento de policiais militares a pé nos centros comerciais da cidade de Belo
Horizonte torna-se um assunto oportuno para este artigo científico que procurará verificar
os benefícios desta relação.
Este artigo constitui uma adaptação da monografia realizada pela autora, com o
mesmo título, para a conclusão do Curso de Pós-Graduação em Criminologia pela
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC/MG).
2 REESTRUTURAÇÂO DAS FORÇAS POLICIAIS
A reestruturação das forças policiais, na atualidade, é uma demanda necessária
frente às crescentes taxas de criminalidade. A realidade brasileira no início deste século
acrescenta características comprobatórias desta necessidade. Assim sendo, a criação de
novas estratégias para o emprego do efetivo policial militar torna-se imprescindível para a
redução dos índices de criminalidade na cidade de Belo Horizonte.
Em primeiro lugar, pode-se referir à premente cobrança que recai sobre as
instituições brasileiras detentoras da exclusividade do uso da força, como as instituições
policiais, em face de uma sociedade ainda ressentida por um regime ditatorial, da história
recente que durou duas décadas. Uma cobrança que as obriga a reformular seus valores
maiores e a repensar os procedimentos adotados na aplicação da força física. Em segundo,
uma intensa pressão vem sendo depositada sobre as referidas organizações, diante do
aumento dos índices de criminalidade e da sensação do medo do crime, que caracterizou a
década 1994-2004 no Brasil. A adoção da filosofia de Polícia Comunitária, pela PMMG e
demais órgãos integrantes do Sistema de Defesa Social, representa um importante passo na
construção da cidadania.
Estabelecidos esses parâmetros, é notório que esta estratégia organizacional, na
atualidade, seja necessária para a instituição de um modelo avançado e eficiente na gestão
de forças policiais. A filosofia de Polícia Comunitária inaugura uma nova fase no
gerenciamento social, com um novo estilo de prestação do serviço de segurança pública.
Solidariedade e respeito aos direitos humanos é um compromisso essencial na Polícia
Comunitária, o que induz inferências no sentido de que o empreendimento está no caminho
posto pela “Carta Magna”, para a inauguração de novos tempos.
A filosofia de Polícia Comunitária é um planejamento para iniciar a passagem
do modelo de policiamento “estritamente tradicional”2 ao policiamento comunitário,
voltado para a resolução de problemas. É uma tarefa inovadora, se for considerada a
extensão territorial de Minas Gerais, o contínuo desafio de prover recursos logísticos e
materiais equitativamente para toda a estrutura operacional da PMMG e, principalmente a
distribuição desigual da população e de suas demandas por segurança pública.
A Instituição tem procurado inicialmente, dar continuidade à capacitação de
seus profissionais e integrantes dos Conselhos Comunitários de Segurança Pública –
CONSEP -, como forma de fortalecer a maneira de “fazer uma polícia eficiente”, que busca
estabilizar e até mesmo reduzir índices de criminalidade.
Nesse sentido, a PMMG vem procurando alternativas que garantam a melhoria
da prestação dos seus serviços, a estagnação e a possível redução desses índices criminais.
Uma destas iniciativas foi o emprego de policiais a pé em áreas comerciais, baseado na
nova filosofia de se fazer polícia, que é a Comunitária.
O presente artigo se justifica, tendo em vista, que o emprego do policiamento a
pé nos centros comerciais da cidade de Belo Horizonte, regido pela Instrução nº 02/2005-
CPC/ PMMG, completou seis meses de implementação em dezembro de 2005, e visa
mostrar uma avaliação de verificação do grau de aproveitamento da informação
georreferenciada, bem como da estratégia implementada, para a redução dos índices de
criminalidade.
2 O policiamento tradicional difere do comunitário principalmente no tocante à participação da comunidade na definição de problemas que estejam requerendo atenção da Polícia Militar. Pode-se inferir, do quadro comparativo entre o modelo de administração pública tradicional e o de “administração pública gerencial”, construído por Souza (2004, p. 45) que predominou no Brasil, até meados dos anos 1980, um tipo de Polícia focado no interesse do Estado, em detrimento do interesse dos cidadãos.
3 HISTÓRIA DA POLÍCIA COMUNITÁRIA NO BRASIL
3.1 Conceituação
A partir da década de 1980, tem-se ouvido falar muito em policiamento
comunitário. Admitindo-se como premissa a predominância de regimes democráticos e a
primazia do controle externo das organizações policiais dos países onde a democracia se
fez regra, pode-se afirmar que em diversos países, muitas instituições policiais, pequenas
ou grandes, rurais ou urbanas, já estão praticando ou pensando em adotar algum tipo de
policiamento comunitário.
Neste contexto, TROJANOWICZ e BUCQUERUX (1999, p. 4.), definem tal
policiamento como:
(...) uma filosofia e uma estratégia organizacional que proporciona uma nova parceria entre a população e a polícia. Baseia - se na premissa de que tanto a polícia quanto a comunidade devem trabalhar juntas para identificar, priorizar e resolver problemas contemporâneos tais como crime, drogas, medo do crime, desordens físicas e morais e em geral a decadência do bairro, com o objetivo de melhorar a qualidade geral de vida na área.
As raízes contemporâneas do policiamento comunitário situam-se na década de
1970 com as modalidades de patrulheiros a pé nas cidades de Flint, Michingan, Newark e
New Jersey, nos Estados Unidos da América, com o objetivo de engajar a comunidade na
resolução criativa de conflitos sociais e criminalidade.
Segundo os mesmos autores:
As primeiras iniciativas de policiamento comunitário objetivaram: reduzir a tensão a social, criar uma relação de diálogo e interação entre polícia e sociedade com atenção ao pessoal jovem e aos conflitos de raça, etnia e religião; envolvimento da comunidade para iniciativa de prevenção as drogas e os problemas de desordens física e social de modo á promover a melhoria da qualidade de vida da comunidade.
Definir policiamento comunitário não é simples. Isto se deve ao fato de que a
estrutura, os objetivos e as técnicas variam segundo os fundamentos e a comunidade onde
está sendo implementada a experiência. O policiamento comunitário, na sua forma mais
pura, será o que a instituição policial específica do lugar e a comunidade estabelecerem de
comum acordo. Embora seja difícil dar uma definição abrangente, é possível criar alguns
fatores comuns: o envolvimento de todos os níveis do sistema de policiamento; a inclusão
das lideranças comunitárias formais e informais; as organizações comunitárias e o cidadão;
o envolvimento de todos os setores e administradores públicos da cidade; a inclusão dos
estabelecimentos comerciais e das instituições sem fins lucrativos e a mídia.
TROJANOWICZ e BUCQUERUX (p.3-4.), esclarecem que o policiamento
comunitário não é uma tática nem uma técnica de relações públicas, nem anti-tecnologia,
nem concedente com o crime, nem paternalista num enfoque descendente e impositivo,
nem um nome a mais para o trabalho de serviço social, nem elitista, nem uma formula
mágica e rápida.
Como lembra MARIANO e FREITAS (2002, p.9), no Brasil as experiências de
polícia comunitária apareceram no contexto do regime democrático quando toda a
sociedade reclamava uma nova forma de fazer policiamento e segurança pública. A
transição da Democracia no Brasil legou um novo modelo de Polícia no país, evidenciando
a relação entre o fato de o Brasil ser um dos poucos países em que as organizações policiais
não realizam o ciclo completo de polícia, e a ineficiência para coibir e inibir o crime, as
disparidades salariais, a má formação, a violência e a corrupção policial.
Ao resgatar as experiências de polícia comunitária no Brasil, CERQUEIRA ( )
descreve o conjunto de ações implementada ao longo da década de noventa do século XX,
no bojo das administrações públicas inovadoras. Aponta como exemplos as experiências de
Guaçuí, no Espírito Santo (1994); o projeto Povo no Pará, o projeto de Policiamento
Ostensivo Volante-Povo e Policiamento Solidário no Paraná; a Polícia Interativa em
Sergipe; o Pelotão Comunitário na cidade satélite no Rio Grande do Norte (1994); a Polícia
Comunitária em Porto Alegre (1995); a Polícia Comunitária e Brasília (1995); a Polícia
Comunitária no Ceará (1986); os Núcleos Comunitários de Segurança Pública e os cursos
de polícia comunitária em Recife (1997); os cursos de gestão em policiamento comunitário
na Paraíba (1997); a Segurança Interativa em Florianópolis (1998); a Polícia Cidadã na
Bahia (1998); a Polícia Comunitária em São Paulo (1997) e experiência de Polícia
Interativa do Amapá (1997).
Para que haja uma boa implantação dessa filosofia, alguns aspectos importantes não
podem deixar de ser observados, pois tem que haver um planejamento sério entre as
comunidades envolvidas e a Polícia Militar, para que, juntos, possam alcançar objetivos
comuns. Os fatores comuns ao policiamento comunitário são: trabalhar como verdadeiros
parceiros; a comunidade e suas formas de cooperação; a participação dos atores - cidadãos,
policiais e poderes públicos; a participação dos policiais e do poder público; a participação
da comunidade como mecanismo de prevenção e redução da violência e da criminalidade; a
resolução de problemas; o poder e a liderança; a polícia como prestadora de serviços à
comunidade; capacidade de adaptação e a relação “polícia e comunidade”.
O policiamento comunitário enfatiza a necessidade da Polícia estar mais consciente
em relação ao seu papel de prestadora de serviços. Os cidadãos da comunidade e as
empresas desta são os que, através do pagamento de impostos, estão financiando ou
custeando os serviços da polícia. É justamente por isto que cada um dos policiais deve ter
bem presente na sua mente que o seu emprego existe apenas porque se supõe que ele esteja
prestando um serviço público, um serviço que faz parte de todo um contexto de segurança e
de bem-estar social para toda a coletividade. Todos os programas da instituição policial
devem ser avaliados para medir o grau de satisfação do público com os serviços que a
polícia está prestando.
O fato de que a qualidade dos serviços seja muito enfatizada na polícia comunitária,
não significa que se queira transformar os policiais em agentes comunitários, a exemplo de
outros profissionais, como os assistentes sociais. O policial é um agente profissional da
segurança pública. A legitimidade social da comunidade em relação ao policial será
avaliada pela competência profissional do policial para lidar com as demandas sociais de
segurança e da sua capacidade de conviver com as demais profissões e serviços no sentido
de melhorar a segurança do bairro.
Conforme citação de AGUIAR (2002, p.35):
Na polícia comunitária o policial atua de modo dirigente no programa, este (o policial) poderá e deverá ser um agente público de integração, que relacione outros profissionais e serviços naquelas demandas que a ação exige deste. Sem a integração dos serviços públicos a polícia comunitária e a comunidade não podem caminhar. Só um trabalho sistemático, interinstitucional e multidisciplinar, terá condições de desenvolver um
sistema de segurança que atinja a violência incrustada no âmago da sociedade.
Isso não significa que a tarefa de fazer cumprir a lei tenha sido relegada a um
segundo plano. A diferença fundamental neste aspecto é que o policiamento comunitário é,
basicamente, preventivo, sem, no entanto se furtar a ser firme sempre que necessário e a
circunstância assim exigir do profissional policial.
3.2 Contextualização da Polícia Comunitária como alternativa estratégica para a
resolução de problemas na área da Segurança Pública.
A tendência de todas as atividades governamentais, com destaque para a atuação
na área da Segurança Pública, versa sobre a aproximação do poder estatal com o cidadão e,
em conseqüência, com a comunidade a que se destina o serviço público. Essa tendência de
constante interação, integração, co-participação e de gestão compartilhada da coisa pública
vem sendo afirmada e reafirmada por diversos autores, constituindo-se na base da filosofia
de Polícia Comunitária.
De acordo com MUNIZ (1999, p. 8):
Essas iniciativas resultaram de uma constatação, que hoje é trivial, mas que na época significou um salto inovador: refiro-me à evidência de que Segurança Pública ultrapassa a esfera de competência exclusiva das agências policiais, dependendo, portanto, de outros atores que são os cidadãos e os organismos públicos e civis provedores de serviços essenciais para a população. (...) Os problemas de segurança são mais amplos do que as questões de competência propriamente policial. Ou seja, nem todos os problemas que afetam a Segurança Pública estão contidos no espaço legal e legítimo de ação das polícias. Daí a pertinência de incorporar outros atores no processo de produção democrática da Segurança Pública. A filosofia comunitária surge, em parte, como uma resposta e uma identificação dessa responsabilidade. Evidentemente que sem perder de vista o papel diretivo e executivo das organizações policiais. O processo de comunitarização faz aparecer perfis próprios e singulares das comunidades atendidas. Como as demandas por ordem e Segurança Pública são locais e diferenciadas, a adaptação desse programa ocorre em função das realidades locais.
Em outros dois estudos específicos, MUNIZ (2000, p. 2) eminente antropóloga
e Diretora de Pesquisa da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro,
enfatiza:
Não é demais salientar que as intervenções policiais preventivas, dissuasivas e repressivas implementadas de forma exclusiva e, por conseguinte, dissociadas das políticas urbanas desenhadas pelos municípios, tem ajudado a produzir toda sorte de desperdícios no emprego diuturno dos escassos recursos policiais. Afinal, por mais e melhor que as polícias estaduais possam fazer, elas sozinhas são, por definição, incapazes de responder às demandas por segurança, experimentadas nos centros urbanos. (...) Mas, que se não forem devidamente trabalhados por outras agências além das polícias, podem estimular a ocorrência de práticas delituosas futuras e o recurso individual à violência como uma forma de resolução de problemas. Refiro-me, sobretudo, aos conflitos, desordens, incivilidades e litígios experimentados nos espaços públicos que desembocam, quase que exclusivamente, nos balcões das delegacias e no atendimento emergencial realizado pelas PMs. Os policiais civis e militares de várias polícias brasileiras, orientados pelos seus conhecimentos práticos, sabem disso.
Experiências recentes demonstram que respostas tradicionais de endurecimento
ou ampliação dos meios de intervenção policial não produzem os resultados esperados.
Iniciativas de incremento de recursos e propostas de ‘políticas de segurança’ alheias à
literatura internacional e à realidade da preservação da ordem pública local têm-se revelado
ineficazes e onerosas. Por outro lado, é fato notório que o endurecimento das penas ou a de
uma ‘declaração de guerra’ aos criminosos também não conduz a resultados aceitáveis,
chegando a por em risco a credibilidade da Justiça e das forças policiais perante a
população.
Trabalhar em prol da ordem pública não é uma tarefa fácil. No caso brasileiro,
há muito o que fazer. É preciso, entre outras iniciativas, considerar os constrangimentos e
as demandas sócio-culturais que conformam as condições de possibilidade para a
preservação da ordem pública; buscar formas conseqüentes de cooperação entre as
comunidades e as agências envolvidas na produção de ordem pública além das forças
policiais e desenvolver ferramentas de avaliação, planejamento, controle e auto-
aperfeiçoamento das agências, cuja influência sobre a ordem pública é direta e executiva -
as policiais e, em alguns papéis específicos, as forças armadas.
A adesão responsável a esta perspectiva exige o enfrentamento de dois distintos
desafios: o primeiro é o da mudança de mentalidade. Persistem entendimentos e práticas
orientados por uma visão de segurança obsoleta, que privilegia a razão de Estado e
considera a ordem pública um ‘assunto de responsabilidade exclusiva da polícia’. Esta
mentalidade impede a visão democrática de uma ordem pública - prestação de um serviço
às comunidades - e tem contaminado não apenas os executivos e administradores
responsáveis, mas também os atores da sociedade civil organizada. Obstaculariza, ainda,
uma percepção clara da natureza dos problemas e das dinâmicas relacionadas à ordem
pública contemporânea. É imprescindível desarmar e atualizar mentalidades para que se
possa viabilizar uma ordem pública adequada às necessidades atuais e obedientes aos
limites de uma sociedade democrática e plural.
O segundo desafio é o de prover ferramentas e insumos. Inexistem critérios de
mensuração de resultados, instrumentos de avaliação, sistemas de monitoramento. Não há
estruturas para a incorporação das demandas de ordem de uma sociedade em mudança
contínua. Ignoram-se as diferentes expectativas das comunidades e, por conseguinte, a
especificidade das demandas locais e seus efeitos na ordem pública. As distintas atividades
profissionais, a multiplicidade de estilos de vida metropolitanos, a proliferação de práticas
informais e os enraizamentos identitários locais e difusos, questionam a lógica e mesmo a
validade de intervenções orientadas pelos interesses de um inexistente “cidadão médio,
ordeiro e cordial”. Nesse sentido, é impossível querer trabalhar ou mesmo entender a ordem
pública sem a consideração generosa das dinâmicas urbanas contemporâneas em cada
grande cidade.
As intervenções de MUNIZ (2000) indicam, de modo bastante consistente e
coerente, que o provimento da ordem pública exige muito mais do que a ação exclusiva da
Polícia. Requer a participação de outras agências públicas e civis e, principalmente, da
comunidade. Denominando essa tendência de comunitarização, a autora demonstra que a
questão da violência e da criminalidade supera, em muito, o entendimento de que, através
de esforços policiais concentrados, o poder público cumprirá o seu mister de preservação da
ordem pública. Essa constatação, bem antes da consolidação da filosofia de Polícia
Comunitária, enquanto programa, na década de 90, já constituía uma premissa básica da
ciência da Criminologia, como adiante será verificado.
A experiência nacional e, principalmente, a internacional, registrada através de
diversos estudos sobre as polícias norte-americana e japonesa, demonstra, de modo
indubitável, que não existe estratégia policial eficiente e eficaz, se a atuação da Polícia
restringir-se exclusivamente aos problemas de ordem delitual e não contar com a
participação da comunidade em que o serviço de Segurança Pública se concretiza.
É lançar-se ao insucesso declarar guerra contra o crime, sem considerar a
realidade comunitária e a sua necessária participação, na complexidade do espaço físico e
das relações humanas das grandes cidades, em um contexto de crescente conflito gerado
pela dívida social existente. Isso porque esse conflito concorre com inúmeros fatores
sociais geradores de insegurança, como o crescimento populacional acelerado e
desordenado, a má distribuição demográfica, a falta de planejamento familiar, a existência
de aglomerados urbanos, nos quais os moradores são expostos à ausência do Estado em
vários sentidos; a falta de referências familiares, religiosas, morais e de educação, dentre
outros importantes fatores.
Desta forma, fica caracterizada a necessidade de mudança de paradigmas, em
que a gestão da ordem pública seja efetivamente democratizada, com vistas a minimizar os
problemas de segurança que em geral afligem cidadãos residentes em centros urbanos mais
populosos. Essa mudança de paradigmas da atuação policial encontra-se na Polícia
Comunitária.
3.3 Definição da Criminologia como ciência e a questão do crime como fenômeno
social e comunitário. Interesse para a filosofia de Polícia Comunitária.
Toda a proposta deste trabalho encontra-se vinculada a duas grandes referências de
interesse para a área da Segurança Pública: a Polícia Comunitária e a Criminologia.
Diferentemente do que ocorria em tempos passados, a Criminologia moderna possui,
atualmente, uma área de abrangência que não se restringe mais e exclusivamente à pessoa
do criminoso, ampliando seus estudos para áreas de interesse da atuação de Polícia,
principalmente em face do caráter prevencionista da disciplina, conforme indica a sua
definição feita por GARCIA e GOMES (2000, p. 37):
Cabe definir a Criminologia como ciência empírica e interdisciplinar, que se ocupa do estudo do crime, da pessoa do infrator, da vítima e do controle social do comportamento delitivo, e que trata de subministrar uma informação válida, contrastada, sobre a gênese, dinâmica e variáveis principais do crime – contemplado este como problema individual e como problema social – , assim como sobre os programas de prevenção eficaz do mesmo e técnicas de intervenção positiva do homem delinqüente e nos diversos modelos ou sistemas de resposta ao delito. [sem grifo no original].
Através dessa definição, verifica-se que a Criminologia moderna tem como
objeto de estudo a análise do delito, do delinqüente, da vítima e do controle social, com
vistas a explicar e prevenir o crime, intervir na pessoa do infrator e avaliar os diferentes
modelos de resposta ao crime. Os avanços dos estudos criminológicos, ao ampliarem o
âmbito da tradicional Criminologia (que se restringia ao estudo do delinqüente), permitiram
incorporar em seu objeto as investigações sobre o meio social em que o delito ocorre, assim
como o estudo sobre o denominado “controle social”, acentuando, assim, uma orientação
prevencionista do saber criminológico, chegando a ponto de intervir, de modo positivo, ao
analisar e avaliar os modelos de reação ao delito.
Também, com base nessa definição e nas considerações acima apresentadas,
verifica-se que não há como os órgãos policiais, em especial as polícias militares,
desprezarem a Criminologia moderna, ao tencionarem estabelecer um programa ou uma
filosofia de policiamento que não se restrinja ao tratamento penal da ocorrência policial.
Sob este enfoque da Criminologia, verifica-se a sua maior amplitude em relação
ao Direito Penal. Conforme GARCIA e GOMES (2000, p. 63):
prova disso é que a primeira [Criminologia] se ocupa de fatos irrelevantes para o Direito Penal (v. g., o chamado ‘campo prévio’ do crime, a ‘esfera social’ do infrator, a ‘cifra negra’, condutas atípicas, porém de singular interesse criminológico como a prostituição ou o alcoolismo...).
A relação da Criminologia com a Polícia Comunitária, para estes autores (2000,
p. 64), é dada da seguinte forma:
Toda essa área de preocupação da Criminologia é a área de preocupação da Polícia Comunitária, a quem interessa uma imagem global do fato delitivo e do seu autor: “a etiologia do fato real, sua estrutura interna e dinâmica,
formas de manifestação, técnicas de prevenção do mesmo e programas de intervenção no infrator...
A Polícia Comunitária e a ciência da Criminologia moderna possuem uma área
de estudo comum: o delito como problema social e comunitário, a efetividade dos
mecanismos de controle social, a distribuição da criminalidade entre os distintos estratos
sociais, e a sua dinâmica de ocorrência, dentre outros importantes aspectos que devem
orientar as ações da polícia e da comunidade. Com efeito, o delito caracteriza-se como
problema social e comunitário, pois possui incidência massiva e dolorosa na população,
persistência espaço-temporal, falta de um inequívoco consenso a respeito de sua etiologia e
eficazes técnicas de intervenção sobre o delito e consciência social generalizada a respeito
de sua negatividade.
Essas importantes características, que contemplam o delito não só como
comportamento individual, mas, sobretudo, como problema social e comunitário, são assim
explicitadas por GARCIA e GOMES (2000, p. 66-67):
Todas estas notas próprias de um ‘problema social’ podem ser observadas efetivamente no delito. Afeta toda sociedade (não só os órgãos e instâncias oficiais do sistema legal), isto é, interessa e afeta a todos nós. E causa dor a todos: ao infrator, que receberá seu castigo, à vítima, à comunidade. Somos conscientes, sem embargo, de que temos que aceitar a realidade do crime como inseparável da convivência. Que não existem soluções milagrosas nem definitivas. Que sua explicação tem muito mistério e seu controle, razoável ou satisfatório, bastante de utopia, de irrealidade. Estamos retornando ao ponto zero do saber criminológico – dizia um autor faz poucos anos – e o delito continua sendo um enigma. Por tudo isso ele é um problema social e comunitário. É um problema ‘da’ comunidade, nasce ‘na’ comunidade e nela deve encontrar fórmulas de solução positivas. É um problema da comunidade, portanto, de todos: não só do ‘sistema legal’, exatamente porque delinqüente e vítima são membros ativos daquela. Nada mais errôneo que supor que o crime representa um mero enfrentamento simbólico entre o infrator e a lei. E que o delito – a obra do delinqüente – preocupa e interessa só ao sistema, isto é, Polícia, Juízes, Administração Penitenciária...
Esta citação evidencia o crime como fenômeno comunitário, que nasce,
manifesta-se e deve encontrar soluções na comunidade e que não deve se restringir às
preocupações exclusivas dos órgãos integrantes do sistema oficial de polícia e de
persecução criminal. Há a necessidade de profundo envolvimento da comunidade – essa é a
proposta da Criminologia moderna e essa é a proposta da Polícia Comunitária: como
desprezar a correlação entre essas duas disciplinas?
3.4 Mecanismos de controle social sobre a criminalidade, indicados pela Criminologia
Para GARCIA e GOMES (2000, p. 133):
A Criminologia moderna estuda com grande profundidade a questão do controle social do delito, ministrando informações imprescindíveis na elaboração, análise e avaliação dos programas de prevenção, assim como nos modelos de resposta aos delitos. Caracteriza-se, assim, uma das funções básicas da Criminologia, “em informar a sociedade e os poderes públicos sobre o delito, o delinqüente, a vítima e o controle social, reunindo um núcleo de conhecimentos – o mais seguro e contrastado – que permita compreender cientificamente o problema criminal, preveni-lo e intervir com eficácia e de modo positivo no homem delinqüente.
Esses conhecimentos, pela sua natureza, também são imprescindíveis para o
desenvolvimento de uma atividade policial que busque, na sua essência e de forma
prioritária, a prevenção e integração comunitária.
Inicialmente, a Criminologia faz uma diferenciação entre os denominados
“agentes informais e agentes formais de controle social”: Toda sociedade ou grupo social
necessita de uma disciplina que assegure a coerência interna de seus membros, razão pela
qual se vê obrigada a criar uma rica gama de mecanismos que assegurem a conformidade
daqueles com suas normas e pautas de condutas. O controle social é entendido, assim,
como o conjunto de instituições, estratégias e sanções sociais que pretendem promover e
garantir referido submetimento do indivíduo aos modelos e normas comunitários.
Para alcançar a conformidade ou a adaptação do indivíduo aos seus postulados
normativos (disciplina social), serve-se a comunidade de duas classes de instâncias ou
portadores de controle social: instâncias formais e instâncias informais. Agentes informais
do controle social são: a família, a escola, a profissão, a opinião pública e outros; agentes
formais são: a polícia, a justiça, a administração penitenciária , dentre outros.
A Criminologia moderna vai muito além da identificação dos agentes formais e
informais de controle social. Estabelecendo como prioridade a sua preocupação com a
prevenção do delito, em especial no denominado “Estado Democrático de Direito”, indica
uma tendência à “comunitarização” (entender o crime como fenômeno comunitário) e
estabelece uma diferenciação a respeito do que seja o conceito criminológico de prevenção:
Em sentido estrito, via de regra, prevenir o delito é algo mais – e também algo distinto –
que dificultar seu cometimento ou dissuadir o infrator potencial com a ameaça do castigo.
Na verdade, verifica-se a necessidade de se imprimir um programa de governo
voltado para as causas sociais, e de se criar uma sistemática preventiva capaz de extirpar os
focos criminógenos e não de se ficar limitado a simples repressão policial, judiciária
criminal ou executiva penal.
A tendência prevencionista da Criminologia moderna, de grande interesse para a
policiologia e que possui abrangência pluridimensional, incide sobre outros elementos do
cenário criminal, não somente sobre o delinqüente. Assim, a prevenção preocupa-se com o
espaço físico, as condições ambientais, o clima social, os grupos de pessoas que podem ser
vítimas de delitos, a própria população punida, dentre outros componentes externos
relacionados ao crime.
GARCIA e GOMES (2000, p. 146) apresentam alguns exemplos dessa
intervenção da Criminologia:
Por exemplo: neutralizando as variáveis espaciais e ambientais mais significativas daquele (programas de base ecológica, arquitetônico-urbanística, territorial); melhorando as condições de vida dos estratos sociais mais oprimidos com as correspondentes prestações (v. g. programas de luta contra a pobreza); informando, conscientizando e apoiando os grupos de pessoas com maior risco de vitimização (programas de prevenção de vítimas potenciais); procurando a reinserção social efetiva dos ex-reclusos, uma vez que cumpram suas condenações, a fim de evitar a reincidência; suprimindo, na medida do possível, o magistério criminógeno de certos valores sociais (oficiais ou subterrâneos), cuja leitura ou percepção pelo cidadão médio gera atitudes delitivas etc.
É nesse esteio que são reforçados os argumentos da importância da
Criminologia, ao ser estabelecido um programa de Polícia Comunitária. Também na
filosofia de Polícia Comunitária, o conceito de prevenção é exigente e pluridimensional,
superando em muito a concepção policial de prevenção. Pode-se afirmar, com segurança,
que o entendimento teórico-doutrinário da Criminologia é uma ferramenta poderosa na
compreensão da extensão do conceito de Polícia Comunitária – a Criminologia é essencial
para a Polícia Comunitária.
4 SETORIZAÇÃO DO POLICIAMENTO
A setorização do policiamento já é realizada no interior do estado de Minas
Gerais com bons resultados. Uma área territorial se subdivide em áreas menores,
denominadas companhias e cada companhia se subdivide em frações menores ainda. Assim
sendo, a setorização, também conhecida por divisão em setores, torna o policiamento mais
particular e individualiza a sua área de responsabilidade.
Para cada setor será designado um comandante, que terá as responsabilidades
totais deste território, devendo treinar seus policiais, promover reuniões com a comunidade
local, traçar metas e empreender estratégias para a redução criminal da localidade, através
da Filosofia de Polícia Comunitária, conforme prevê a DPSSP nº04/2002-CG e a Instrução
nº02/2005-CPC.
De acordo com Souza (2005), estratégia iminente do Comando de Policiamento
da Capital de Minas Gerais é a de setorizar a cidade de Belo Horizonte, dividindo toda sua
área de 335,5 km², em áreas menores, dando condições a essas “mini-áreas” de serem
cuidadas com maior particularidade por cada comandante de setor.
Espera-se, com a setorização, que haja um aumento da sensação de segurança na
população belorizontina, nas áreas caracterizadas pelo grande fluxo de população e de
incidência de criminalidade violenta, conforme aferição procedida nos últimos trinta e nove
meses (2002 a 2004 e 1o trimestre de 2005); que seja possível mensurar a viabilidade de
implantação, em toda a RPM, do conceito de Policiamento Setorizado; que seja inserido, na
cultura organizacional, o conceito operacional de Bases Comunitárias Móveis; que seja
positiva a Intervenção, quanto aos crimes contra a pessoa e o patrimônio, no processo de
tendência de queda do Índice de Criminalidade Violenta em Belo Horizonte, observado ao
final de 2004; que haja uma melhoria da coordenação e do controle sobre todo o efetivo
empenhado, especialmente nas Patrulhas de Prevenção Ativa, Guarnições Tático Móveis e
policiamento velado.
4.1 Emprego Operacional do Efetivo em Áreas Comerciais.
O 8º Comando Regional de Polícia Militar possui, dentre suas diversas
Unidades Operacionais, seis (06) Batalhões de Área que se constituem em suas Unidades
de Execução Operacional, sendo eles: 1º, 5º, 13º, 16º, 22º e 34° BPM.
Essas Unidades são responsáveis por uma área territorial estimada em trezentos
e trinta (330) Km², totalizando cerca de quatrocentos e trinta (430) bairros, contendo uma
população de aproximadamente dois milhões, duzentos e trinta mil (2.230.000) habitantes.
Para que houvesse um critério na escolha das áreas comerciais que receberiam
policiamento, foram elencadas as de maior expansão física da cidade de Belo Horizonte
acompanhada das maiores taxas de crescimento dos índices de criminalidade violenta, de
01Jan02 a 31Mar2005, tendo-se chegado às seguintes identificações, regiões: Central (5a e
6a Cias/1o BPM), Venda Nova (14a Cia/13o BPM), Barreiro (11a e 12a Cias/5o BPM),
subáreas das 20a e 22a Cias/16o BPM, das 124a e 125a Cias/22o BPM e as 9a e 17a Cias/34o
BPM.
Buscou-se ainda, o levantamento do efetivo mínimo necessário para a
constituição das seis Bases Comunitárias Móveis (BCM), uma em cada Companhia Tático
Móvel, dentro do conceito operacional contido no Projeto Segurança Integrada – 8a RPM -
PBH, cuja logística a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte estará adquirindo para a
Polícia Militar, chegando-se ao total de 08 (oito) policiais militares por BCM.
4.2 Principais delitos monitorados nas Áreas Comerciais
Dentre uma gama de informações de delitos que são monitorados pela
Geoprocessamento, os que têm maior visibilidade em áreas comerciais são principalmente
delitos contra o patrimônio, em que se destacam o furto simples (grupo C2000), o roubo
Grupo C5000) e o assalto (grupo C9000) e suas subdivisões, monitorados sob as seguintes
codificações:
Furto a transeunte em via pública - C2002; Furto consumado a estabelecimento comercial - C2003; Furto consumado a estabelecimento bancário - C2004; Roubo consumado a transeunte em via pública - C5002; Roubo consumado a estabelecimento comercial - C5003; Roubo consumado a estabelecimento bancário - C5004; Roubo consumado a casa lotérica - C5005; Roubo consumado a drogaria/farmácia - C5007; Roubo consumado a padaria - C5008;
Roubo consumado a casa lotérica - C5010; Roubo consumado a depósito em geral - C5016; Roubo consumado a transeunte - C5027; Roubo consumado a posto de combustíveis - C5031; Assalto a transeunte em via pública - C9002; Assalto consumado a estabelecimento comercial - C9003; Assalto consumado a casa lotérica - C9005; Assalto consumado a drogaria/farmácia - C9007; Assalto consumado a padaria - C9008; Assalto consumado a supermercado/mercearia - C9009; Assalto consumado a casa lotérica - C9010; Assalto consumado a depósito em geral - C9016; Assalto consumado a transeunte - C9027; Assalto consumado a posto de combustíveis - C9031.
4.3 A implantação do policiamento em Áreas Comerciais.
O processo de policiamento implementado se deu predominantemente a pé, com
a finalidade de aprimorar pela prática os conhecimentos de Polícia Comunitária
apreendidos pelos novos soldados, concludentes em maio de 2005, do Curso Técnico em
Segurança Pública (CTSP).
Além disso, a jornada de trabalho está sendo de seis horas/dia, com folgas
regulamentares, observando-se o ciclo de “6x1, 5x1, 6x2” (coincidido as duas folgas no
sábado e domingo, devendo-se garantir o lançamento mínimo necessário ao fim de
semana), como meio de privilegiar o contato com a população e permitir o estreitamento de
vínculos entre os policiais militares e a comunidade, bem como respeitar os limites físico-
fisiológicos laborativos.
4.4 A Coordenação e o Controle do Policiamento em Áreas Comerciais
A coordenação e controle estão sendo realizados, de acordo com a Instrução n°
02/2005 – 8ª RPM, por meio do seguinte:
a) Cada região comercial é dividida pelo Comandante de Cia respectivo, em
setores com esquema de ocupação, inicialmente a seu critério, cabendo aos respectivos
comandantes de setores as atribuições já descritas anteriormente;
b) aos setores são destinados grupos de policiais militares, comandados por
tenentes ou sub-tenentes/sargentos, organizando-se na Companhia de Polícia Militar (Cia
PM), com quadro discriminativo dos nomes dos respectivos integrantes dos setores;
c) mediante aplicação da avaliação da capacidade técnica são considerados os
policiais militares mais capacitados para cada setor;
d) os comandantes de setores organizam a atuação de sua equipe, em cartões-
programas, que são construídos dentro da metodologia utilizada para as Patrulhas de
Prevenção Ativa (Instrução nº 01/2004-8ª RPM),ou seja..., bem como formularam quadro
contendo nomes de moradores comerciantes e lideranças residentes/atuantes no seu setor,
disponibilizando o nome próprio e de seus substitutos a cada contato;
e) a Assessoria de Comunicação Social da Unidade de Execução Operacional
(UEOp) respectiva organiza, nos respectivos setores, uma reunião de apresentação oficial
desses policiais militares à comunidade residente nos setores;
f) quinzenalmente, os Comandantes de setores reúnem-se em evento único,
interno à Cia PM, com o comandante da subunidade, apontando dificuldades encontradas;
g) os dados apontados nas reuniões mencionadas na alínea “e” são enviados à
Seção de Planejamento e Operações da respectiva da UEOp, até o final de cada mês
anterior a setembro e dezembro, bem como a maio e junho do ano seguinte; e consolidados
em relatório único que agregue informações semelhantes em um mesmo campo, tendo em
vista facilitar a explanação a seguir;
h) nos meses discriminados anteriormente, os responsáveis pela Seção de
Planejamento e Operações (P3) se reúnem, em evento único, sempre coordenado pelo P3 e
pelo Chefe da Seção de Comunicação Organizacional (P5) da 8a Região de Policiamento
Militar (8ª RPM), na sede das UEOp abrangidas pelo projeto, seqüencialmente, tendo em
vista estreitar laços da comunidade operacional e para discutir dificuldades comuns
enfrentadas;
i) os dados levantados nessas reuniões são sintetizados e repassados ao
Comando da 8a RPM, devidamente instruídos do parecer dos respectivos chefes de seções
do CPC e do Núcleo de Estratégias e Pesquisas, que elaborará a proposta final até o final
dos meses considerados.
5 O Geoprocessamento
A Polícia Militar de Minas Gerais, com a intenção de tornar científica a lida das
informações conectadas aos fatores de interferência na criminalidade, escolheu o
Geoprocessamento como ferramenta primordial para este diagnóstico. Isso, pelo fato de
esta ferramenta possibilitar uma análise de delitos mais apurada, a partir dos gráficos aí
gerados. De uma maneira mais ampla, o Geoprocessamento admitiu que se criasse, em um
mesmo plano, uma síntese da informação a partir do mapeamento territorial de vários
aspectos, como a existência de crimes violentos, geração de ocorrências sem atendimento,
dentre outras.
Anteriormente o uso do Geoprocessamento, a PMMG convivia com uma
dualidade: esperava sua ativação via 190, configurando assim uma atitude de reação, ou
colocava seus recursos para tentar seguir o que a mídia veiculava, sendo esta última, uma
atitude sem foco que, via de regra, agia sobre o “incêndio”, a emergência apontada pela
mídia, entretanto não atingia o nascedouro do fenômeno criminal.
A Diretriz para a Produção de Serviços de Segurança Pública 01/CG avalia
Geoprocessamento como sendo:
“as atividades de aquisição, tratamento e análise de dados. Envolve desde um conjunto de tecnologias para a coleta de imagens da superfície do planeta, conhecido como sensoriamento remoto, até o processamento e análise desses dados, em forma de mapas digitais, usando-se os Sistemas de Informações Geográficas, um ambiente computacional orientado à análise e interpretação de diversos fatos e fenômenos relacionados à Terra.”
A finalidade do geoprocessamento é assistir ao responsável pelo planejamento
Operacional, de forma a avalizar que os empenhos lançados possam anteceder
acontecimentos.
Um dos primeiros efeitos práticos de que se tem conhecimento em relação à
análise de mapas para a resolução de problemas vem da área de saúde. Narra a história que
em 1854, ainda não se tinha conhecimento da forma de contágio do cólera. A cidade de
Londres estava padecendo sob uma forte epidemia dessa moléstia, aproximadamente 500
mortes já haviam acontecido. Foi quando o médico Dr. John Snow teve uma percepção:
poderia pegar um mapa da cidade onde faria a marcação de todos os doentes de cólera;
marcou também no mapa todos os poços de água da cidade. Naquela época, os poços eram
essencial fonte de água para os moradores. A visualização do mapa permitiu ao Dr. Snow
entender que havia uma imensa concentração de doentes próximo ao poço da “Broad
Street”. A epidemia de cólera foi dominada, assim que o poço foi fechado. Esta experiência
forneceu informações para que se provasse mais tarde que o cólera é transmitido pela
ingestão de água contaminada. (INPE, 2002, p.5)
A fábula descrita nos mostra o embasamento fundamental que pode advir da
análise de mapas cartográficos e que persiste nos modernos aplicativos de
geoprocessamento: Através de dois (ou mais) fenômenos aparentemente independentes
quanto à sua natureza, encontrar uma correlação espacial que os possa inter-relacionar.
O Geoprocessamento, ao ser inserido na PMMG foi um fator importante para o
desígnio aspirado de aproximação comunitária. A competente ferramenta tornou-se um
componente de comunicação de conceitos técnicos policiais ao permitir a sua tradução para
a linguagem visual tornando-os melhores percebidos pela comunidade.
O atributo multidisciplinar do tema trouxe para a Corporação a precisão básica
de gerar o inter-relacionamento entre distintos campos da sociedade, especialmente aos
responsáveis pelo planejamento urbano e também aos estudiosos e pesquisadores das
faculdades.
O método de Gestão da Informação foi aperfeiçoado a partir do momento em
que técnicos passaram a criar mecanismos para que a ampla gama de dados que a PMMG
tinha guardada pudessem ser canalizados através de técnicas computacionais para alcançar
desígnios práticos.
A etapa de implementação do geoprocessamento colaborou para um melhor
conhecimento das características sócio-econômicas das áreas pertencentes às sub-unidades,
uma vez que policiais militares tiveram que compartilhar grupos de trabalhos para a
arrecadação de dados que iriam participar das bases com o perfil sociográfico dessas áreas.
A DPSSP 01 – CG/ PMMG mostra os principais dados possíveis de serem
acompanhados por meio da criação de mapas georreferenciados:
a) tendências e padrões do fenômeno;
b) a relação entre percepções sociais do medo (sensação de insegurança) e taxas reais de criminalidade;
c) a incidência em diferentes grupos sociais;
d) o perfil de vítimas e de agressores;
e) a diversidade oculta dos dados estatísticos.
O remoto método de utilização de mapas cartográficos de papel que demarcados
por tachinhas espetadas, exercício comum ainda nas frações do interior, originaram a
fabricação informatizada de mapas. A DPSSP 01-CG/ PMMG cita características que
tornam positivo o emprego de mapas na análise criminal:
a) são desenhos sobre áreas e lugares;
b) auxiliam a visualizar os dados, mostrando algo concreto sobre a criminalidade;
c) são figuras proverbiais, pois “valem mais do que mil palavras”;
d) facilitam a interpretação das informações;
e) permitem uma liberdade de experimentação;
f) servem como ferramenta de persuasão para a alocação lógica dos recursos
durante a elaboração do planejamento participativo junto à comunidade.
6 Policiamento a pé em Áreas Comerciais
O emprego operacional do policiamento a pé já vem sendo desenvolvido pela
PMMG desde que ela foi fundada, há 230 anos atrás. Neste tempo, nossa sociedade sofreu
uma grande evolução e, a polícia por sua vez, teve também que se modificar e se moldar às
novas necessidades da população. Assim sendo, existiu uma evolução no modo de se fazer
polícia, e o policiamento a pé, modalidade que nasceu com a polícia, também teve de
mudar seus princípios.
Com o advento da Polícia Comunitária, a filosofia do emprego a pé do
policiamento mudou, conforme relatado anteriormente neste trabalho, sendo que, em
meados do ano de 2004, a forma de ele se apresentar à sociedade, transformou os conceitos
até então existentes. Atualmente ele visa o contato comunitário, agindo de forma
principalmente preventiva em relação aos delitos que, porventura, aflijam nossa sociedade,
e o desenvolvimento de operações policiais, da mesma forma, trabalhadas com ênfase na
prevenção.
Como este tipo de policiamento foi implementado recentemente, estudaram-se
os dados desde a sua implantação, ocorrida em junho de 2005, até dezembro de 2005, de
forma que se pôde avaliar seus primeiros seis meses de existência, em relação aos mesmos
meses só que dos dois últimos anos vividos, 2003 e 2004. Tal período foi suficiente para a
verificação dos resultados do novo emprego do policiamento a pé em áreas comerciais.
Vale ressaltar também, que foram selecionados, os Centros Comerciais da Cidade de Belo
Horizonte que possuem uma maior expressividade no contexto municipal, sendo eles, os
principais da capital mineira: Hipercentro de BH, Barreiro e Venda Nova.
7 CONCLUSÃO
Nos anos de 1994 a 2004, evidenciou-se um clamor público de todo um país em
torno da questão de segurança pública. Os órgãos que mais estão envolvidos neste contexto
se desdobram para discutir maneiras eficazes de dar respostas e trazer resultados à altura do
que o povo espera e exige. Nas polícias estaduais, observa-se a busca por idéias inovadoras
para atender aos anseios dos destinatários de seus serviços..
Nessa ótica, a Filosofia da Polícia Comunitária se destaca no cenário nacional,
em busca das soluções sonhadas pela população. Uma mentalidade diferente, humana,
passa a existir na vida das pessoas que lidam com a Segurança Pública. Experiências por
todo país indicam que está mais estreito o relacionamento com a comunidade pelas
organizações policiais.
Em Belo Horizonte, destacou-se uma das estratégias utilizadas por esta nova
maneira de se “fazer polícia”, que ensejou o estudo monográfico: o policiamento a pé
implementado diretamente em Centros Comerciais. Buscou-se com este ensaio verificar se
realmente esta nova modalidade de emprego do efetivo de Policiais Militares estaria
trazendo resultados esperados tanto para a população, quanto para as pessoas que
planejaram essa filosofia.
No decorrer do estudo referenciado, após análise dos fundamentos em que se
baseou esta nova estratégia efetivada pelo Comando do Policiamento da Capital, pôde-se
avaliar se o emprego do policiamento a pé nas áreas comerciais da cidade de Belo
Horizonte, apontadas como locais de prioridade pelo geoprocessamento, vem trazendo
resultados positivos na redução dos índices de criminalidade.
Após meados de 2004, com o lançamento de novos policiais, recém-formados,
no policiamento a pé em áreas comerciais, vislumbrou-se um patamar de índices criminais
alcançados em 2002 e 2001. Além desta estratégia de policiamento, vale sempre ressaltar a
presença das inovadoras patrulhas de Prevenção Ativa (PPA), outra estratégia lançada no
ano 2004, que auxiliou na redução criminal ora alcançada.
Para o alcance dos objetivos propostos, analisaram-se três dos Centros
Comerciais mais expressivos da 8ª Região da Polícia Militar (8ª RPM), sendo eles:
Hipercentro de BH, Venda Nova e Barreiro. Os índices apresentados foram buscados na
Seção de Estatística e Geoprocessamento da 8ª RPM.
Foi possível então, comparar os índices de criminalidade antes e após a
implantação do policiamento a pé em áreas comerciais da cidade de Belo Horizonte, sendo
verificado que essa nova estratégia é eficaz e eficiente, trazendo resultados esperados, no
tocante à redução criminal dos centros comerciais e da cidade como um todo.
Correlacionou-se também a Polícia Comunitária com a Ciência denominada
Criminologia, alvo de estudos desta pesquisadora que, em síntese, acredita que os avanços
dos estudos criminológicos, ao ampliarem o âmbito da tradicional Criminologia (que se
restringia ao estudo do delinqüente), permitiram incorporar em seu objeto as investigações
sobre o meio social em que o delito ocorre, assim como o estudo sobre o denominado
controle social, acentuando, assim, uma orientação prevencionista do saber criminológico,
chegando a ponto de intervir, de modo positivo, ao analisar e avaliar os modelos de reação
ao delito. Assim sendo, o crime como fenômeno comunitário, que nasce, manifesta-se e
deve encontrar soluções na comunidade, não deve se restringir às preocupações exclusivas
dos órgãos integrantes do sistema oficial de polícia e de persecução criminal. Existe a
necessidade de profundo envolvimento da comunidade – essa é a proposta da Criminologia
moderna e essa é a proposta da Polícia Comunitária, não se podendo olvidar a correlação
entre essas duas disciplinas.
Verificou-se também que a Polícia Comunitária mudou os conceitos
anteriormente estabelecidos no emprego do policiamento a pé, que acima de tudo é
primordial para segurança pública e interação comunitária, sendo que atualmente ele é
desempenhado, através um planejamento específico em seu lançamento, com uma área
previamente delimitada e, principalmente, na grande maioria dos casos, existem recursos
humanos e materiais suficientes para atenderem à demanda. Desta forma, o policiamento a
pé atingiu e está cumprindo a missão a qual lhe está afeta, sendo capaz de propiciar com
que a Polícia Militar tenha uma interação com a comunidade e a comunidade com a Polícia
Militar.
Como sugestões para um melhor desenvolver da Instituição Policial Militar,
bem como desta estratégia que vem sendo muito bem aceita pela organização como um
todo, deve-se ter em mente alguns detalhes:
1) que esse projeto de lançamento do efetivo a pé em áreas comerciais baseado
na Filosofia de Polícia Comunitária permaneça, onde já implementado e se expanda para
todo o Estado de Minas Gerais, desde que desenvolvido nos mesmos moldes do projeto da
Capital, pelo fato de ser uma estratégia efetiva na redução dos índices criminais, conforme
comprovação realizada através deste estudo;
2) que o efetivo policial empregado na modalidade a pé deva ser
constantemente qualificado para essa função, fazendo cursos de aprimoramento
profissional, como por exemplo, o curso de “Multiplicadores e Promotores de Polícia
Comunitária”, visando se doutrinar na filosofia de Polícia Comunitária. Desta forma, este
policial realizará um melhor contato com a comunidade, cliente dos serviços prestados pela
Polícia Militar;
3) que os Comandantes das Unidades de Execução da Polícia Militar avaliem
tecnicamente a necessidade do emprego operacional do efetivo a pé em suas áreas de
responsabilidade territorial, bem como os seus centros comerciais e efetivo adequado para
lançamento;
4) que sejam periodicamente realizadas reuniões dos Oficiais comandantes de
setores com seus policiais que são empenhados no policiamento a pé, havendo uma troca
contínua de informações a respeito da segurança pública realizada no setor, de forma a
verificar o andamento do serviço, bem como maneiras de melhorar seu desenvolvimento;
5) que os policiais militares que estejam desempenhando esta nobre função, do
policiamento a pé, tenham pleno conhecimento de sua missão e sintam a responsabilidade
de estarem levando, no momento em que atuam, o nome de toda uma Instituição para a
comunidade, e recebendo dela o “feedback” de suas ações;
6) que estes policiais militares sejam lembrados pela Instituição da maneira que
lhe compete, pela prestação de serviços que desempenham, oferecendo-lhes, sempre,
condições de trabalho dignas, e principalmente, reconhecendo seus méritos e premiando-os
por eles;
7) que seja realizada periodicamente uma avaliação desta modalidade de
policiamento, tanto por quem o desempenha, quanto por quem o gerencia, dando “feed-
back” aos interessados sobre seu serviço.
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