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O POLICIAMENTO A PÉ EM ÁREAS COMERCIAIS COMO ESTRATÉGIA DA POLÍCIA COMUNITÁRIA NA CIDADE DE BELO HORIZONTE. Molise Zimmermann Fonseca* 1 RESUMO: 1. Demonstra a necessidade de reestruturação das Forças Policiais. 2. Conceitua a Polícia Comunitária e elenca diversas experiências sobre esta filosofia no Brasil. 3. Evidencia os fatores importantes para a implementação da Filosofia de Polícia Comunitária. 4. Contextualiza a Polícia Comunitária como alternativa estratégica para a resolução de problemas na área da Segurança Pública. 5. Define a Criminologia como ciência e a questão do crime como fenômeno social e comunitário. 6. Mostra a correlação entre a Polícia Comunitária e a Criminologia. 7. Cita mecanismos de controle social sobre a criminalidade, indicados pela Criminologia. 8. Enuncia a setorização do policiamento. 9. Descreve o emprego operacional do efetivo policial, a implantação do policiamento, os delitos monitorados e a coordenação e o controle do policiamento em áreas comerciais. 10. Faz referência ao geoprocessamento. Palavras-chave: polícias militares, polícia comunitária, estratégia, Criminologia, controle social, setorização, policiamento a pé, áreas comerciais, geoprocessamento. 1 (*) Pós-graduada em Criminologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais(PUC-MG). Adjunta da Seção de Operações e Chefe do Núcleo de Prevenção Ativa (NPA) da 8ª Região da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG). Bacharel em Ciências Militares com ênfase em Defesa Social. Tenente da PMMG. Coordenadora e professora da disciplina Sociologia do Crime e professora da disciplina Polícia Comunitária para os Cursos de Formação de Sargentos da PMMG.

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O POLICIAMENTO A PÉ EM ÁREAS COMERCIAIS COMO ESTRATÉGIA DA

POLÍCIA COMUNITÁRIA NA CIDADE DE BELO HORIZONTE.

Molise Zimmermann Fonseca*1

RESUMO: 1. Demonstra a necessidade de reestruturação das Forças Policiais. 2. Conceitua a Polícia Comunitária e elenca diversas experiências sobre esta filosofia no Brasil. 3. Evidencia os fatores importantes para a implementação da Filosofia de Polícia Comunitária. 4. Contextualiza a Polícia Comunitária como alternativa estratégica para a resolução de problemas na área da Segurança Pública. 5. Define a Criminologia como ciência e a questão do crime como fenômeno social e comunitário. 6. Mostra a correlação entre a Polícia Comunitária e a Criminologia. 7. Cita mecanismos de controle social sobre a criminalidade, indicados pela Criminologia. 8. Enuncia a setorização do policiamento. 9. Descreve o emprego operacional do efetivo policial, a implantação do policiamento, os delitos monitorados e a coordenação e o controle do policiamento em áreas comerciais. 10. Faz referência ao geoprocessamento.

Palavras-chave: polícias militares, polícia comunitária, estratégia, Criminologia, controle social, setorização, policiamento a pé, áreas comerciais, geoprocessamento.

1 INTRODUÇÃO

No Brasil dos anos 80 era possível se observar logradouros públicos com

freqüência de famílias inteiras a passear com tranqüilidade e segurança. A sensação de bem

estar refletia-se no cotidiano das capitais até o final da década de 70. A partir dessa época, a

criminalidade passa a surgir no Brasil e a crescer em índices alarmantes. A expansão do

tráfico de drogas foi um dos fatores que contribuiu para esse incremento, e infelizmente não

foi o único. Estudos realizados por sociólogos e criminólogos no país, como o apresentado

pelo livro “Cabeça de Porco” de Luiz Eduardo Soares e também pela reportagem “Falcão,

meninos do Tráfico” no Programa Fantástico, da Rede Globo, tentam estabelecer relações

entre as características sociais dos criminosos e seus atos delinqüentes.

1 (*) Pós-graduada em Criminologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais(PUC-MG). Adjunta da Seção de Operações e Chefe do Núcleo de Prevenção Ativa (NPA) da 8ª Região da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG). Bacharel em Ciências Militares com ênfase em Defesa Social. Tenente da PMMG. Coordenadora e professora da disciplina Sociologia do Crime e professora da disciplina Polícia Comunitária para os Cursos de Formação de Sargentos da PMMG.

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No centro da discussão, firma-se a idéia de que o criminoso e seus atos

ofendem o consenso moral e normativo da sociedade, e sendo assim, a esta deve ser

restabelecido, por meio de punição, seus valores centrais de normalidade.

Todavia, o Brasil, como vários outros países da América Latina, tem em seus

indicadores sociais um enorme déficit social, em que pese o grande avanço ocorrido nos

últimos anos. Apesar disso, os índices de criminalidade violenta, não acompanham esta

melhoria sócio-econômica do país e esse descompasso mostra-se de forma preocupante.

Entre o final dos anos 70 e início dos 80, capitais como o Rio de Janeiro, São Paulo e Porto

Alegre, tiveram seu índice de homicídios, os dois primeiros, triplicado e o último

quadruplicado. Observa-se então um paradoxo, pois mesmo com a melhoria dos índices

sociais, vê-se a criminalidade aumentar nos grandes centros urbanos.

Tradicionalmente, na sociologia do crime e na criminologia brasileira,

acreditava-se que, resolvidos os problemas sociais, saneados estariam os problemas da

violência. A crença de que fatores sócio-estruturais, especialmente de natureza

socioeconômica, são as causas da criminalidade e violência, tende à levar a formulação de

políticas, com a intenção de desencadear uma reforma social e individual.

Não se nega a influência dos fatores socioeconômicos no aumento da

criminalidade e da violência, porém não somente estes são determinantes para uma

avaliação crítica sobre o tema. Eles são elementos que compõem um sistema de análise, o

qual deve levar em consideração outros aspectos na definição do contexto da atividade

criminosa. Essas outras variantes têm relação com a disponibilidade de alvos para a ação

criminosa e/ou, com a ausência de mecanismos de controle e vigilância.

Por fim, o ambiente da ação refere-se a um contexto macroestrutural

socioeconômico, no qual ocorre a possibilidade da disponibilidade de alvos e do

enfraquecimento dos mecanismos de vigilância, o que gera uma possibilidade de aumento

considerável de delinqüência em um segmento específico da população.

Os mitos da pobreza ligada ao crime e da explicação deste pela ausência do

Estado e pelo desemprego, fazem com que o próprio Estado contribua para se reforçar a

cultura das populações criminosas, pois ele intensifica o indiciamento das pessoas nas áreas

de maior concentração de classes marginalizadas. É dessa forma que uma espécie de crime

passa a ser de interesse público.

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Associar à criminalidade, pobreza, falta de emprego, ausência do Estado, origem

migratória, raça, entre outros, é pratica há décadas, todavia, estudos mais recentes mostram

que essa relação não pode explicar a criminalidade. Esses fatores não são suficientes para

explicar o fenômeno. Infelizmente esses mitos influenciam, ainda sobremaneira, a

instalação de políticas públicas.

Essa crença mitológica na associação entre marginalidade e crime termina, de

forma paradoxal, numa criminalização da marginalidade, confirmada pela cultura

organizacional das instituições policiais e pelo sistema penitenciário. Trata-se de dogma: à

crença no potencial criminoso das populações marginalizadas corresponderá uma maior

vigilância sobre elas, que se refletirá numa taxa maior de indiciamento e criminalidade, e

assim sucessivamente.

Sonhar com um modelo de sociedade igualitária, onde a lei e a ordem sejam

verdadeiramente a expressão da vontade e necessidade do universo da população é preciso;

ousar conceber uma nova forma de fazer polícia, de acordo com o modelo igualitário de

sociedade, numa sociedade estruturada hierarquicamente, é desencadear uma difícil

batalha; implementar um novo modelo para o organismo policial brasileiro, que seja

conforme os princípios democráticos expressos na Constituição, e que, conseqüentemente,

atenda ao padrão dos direitos humanos, é vencer.

A melhor alternativa é a policia comunitária, filosofia de ações e procedimentos,

uma evolução do princípio da comunitarização da polícia, que tem como registro de seus

primórdios no mundo, o modelo inglês.

Em Minas Gerais, a Filosofia de Polícia Comunitária foi estabelecida pela

Polícia Militar, no ano de 1993, quando o Comando–Geral publicou a Diretriz de

Planejamento de Operações n°3008, normatizando o assunto.

Uma das estratégias dessa nova filosofia de trabalho policial militar, que será

tratada mais profundamente neste artigo científico, é o emprego do policiamento a pé em

áreas comerciais, criado com o intuito de aumentar a sensação de segurança da população

belorizontina nas áreas caracterizadas pelo grande fluxo de população e de alta incidência

de criminalidade, conforme aferição procedida nos últimos trinta meses (2002, 2003 e 1°

semestre de 2004).

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A adoção de medidas como a filosofia da Polícia Comunitária, a utilização do

geoprocessamento e recentemente a criação de estratégias de prevenção e redução criminal,

como a implementação de policiamento a pé em áreas comerciais, são esforços

empreendidos no sentido dar um atendimento mais eficaz à questão da segurança pública e

manter a sintonia com um modelo de administração pública gerencial.

A avaliação da incidência criminal através do geoprocessamento em conjunto

com o lançamento de policiais militares a pé nos centros comerciais da cidade de Belo

Horizonte torna-se um assunto oportuno para este artigo científico que procurará verificar

os benefícios desta relação.

Este artigo constitui uma adaptação da monografia realizada pela autora, com o

mesmo título, para a conclusão do Curso de Pós-Graduação em Criminologia pela

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC/MG).

2 REESTRUTURAÇÂO DAS FORÇAS POLICIAIS

A reestruturação das forças policiais, na atualidade, é uma demanda necessária

frente às crescentes taxas de criminalidade. A realidade brasileira no início deste século

acrescenta características comprobatórias desta necessidade. Assim sendo, a criação de

novas estratégias para o emprego do efetivo policial militar torna-se imprescindível para a

redução dos índices de criminalidade na cidade de Belo Horizonte.

Em primeiro lugar, pode-se referir à premente cobrança que recai sobre as

instituições brasileiras detentoras da exclusividade do uso da força, como as instituições

policiais, em face de uma sociedade ainda ressentida por um regime ditatorial, da história

recente que durou duas décadas. Uma cobrança que as obriga a reformular seus valores

maiores e a repensar os procedimentos adotados na aplicação da força física. Em segundo,

uma intensa pressão vem sendo depositada sobre as referidas organizações, diante do

aumento dos índices de criminalidade e da sensação do medo do crime, que caracterizou a

década 1994-2004 no Brasil. A adoção da filosofia de Polícia Comunitária, pela PMMG e

demais órgãos integrantes do Sistema de Defesa Social, representa um importante passo na

construção da cidadania.

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Estabelecidos esses parâmetros, é notório que esta estratégia organizacional, na

atualidade, seja necessária para a instituição de um modelo avançado e eficiente na gestão

de forças policiais. A filosofia de Polícia Comunitária inaugura uma nova fase no

gerenciamento social, com um novo estilo de prestação do serviço de segurança pública.

Solidariedade e respeito aos direitos humanos é um compromisso essencial na Polícia

Comunitária, o que induz inferências no sentido de que o empreendimento está no caminho

posto pela “Carta Magna”, para a inauguração de novos tempos.

A filosofia de Polícia Comunitária é um planejamento para iniciar a passagem

do modelo de policiamento “estritamente tradicional”2 ao policiamento comunitário,

voltado para a resolução de problemas. É uma tarefa inovadora, se for considerada a

extensão territorial de Minas Gerais, o contínuo desafio de prover recursos logísticos e

materiais equitativamente para toda a estrutura operacional da PMMG e, principalmente a

distribuição desigual da população e de suas demandas por segurança pública.

A Instituição tem procurado inicialmente, dar continuidade à capacitação de

seus profissionais e integrantes dos Conselhos Comunitários de Segurança Pública –

CONSEP -, como forma de fortalecer a maneira de “fazer uma polícia eficiente”, que busca

estabilizar e até mesmo reduzir índices de criminalidade.

Nesse sentido, a PMMG vem procurando alternativas que garantam a melhoria

da prestação dos seus serviços, a estagnação e a possível redução desses índices criminais.

Uma destas iniciativas foi o emprego de policiais a pé em áreas comerciais, baseado na

nova filosofia de se fazer polícia, que é a Comunitária.

O presente artigo se justifica, tendo em vista, que o emprego do policiamento a

pé nos centros comerciais da cidade de Belo Horizonte, regido pela Instrução nº 02/2005-

CPC/ PMMG, completou seis meses de implementação em dezembro de 2005, e visa

mostrar uma avaliação de verificação do grau de aproveitamento da informação

georreferenciada, bem como da estratégia implementada, para a redução dos índices de

criminalidade.

2 O policiamento tradicional difere do comunitário principalmente no tocante à participação da comunidade na definição de problemas que estejam requerendo atenção da Polícia Militar. Pode-se inferir, do quadro comparativo entre o modelo de administração pública tradicional e o de “administração pública gerencial”, construído por Souza (2004, p. 45) que predominou no Brasil, até meados dos anos 1980, um tipo de Polícia focado no interesse do Estado, em detrimento do interesse dos cidadãos.

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3 HISTÓRIA DA POLÍCIA COMUNITÁRIA NO BRASIL

3.1 Conceituação

A partir da década de 1980, tem-se ouvido falar muito em policiamento

comunitário. Admitindo-se como premissa a predominância de regimes democráticos e a

primazia do controle externo das organizações policiais dos países onde a democracia se

fez regra, pode-se afirmar que em diversos países, muitas instituições policiais, pequenas

ou grandes, rurais ou urbanas, já estão praticando ou pensando em adotar algum tipo de

policiamento comunitário.

Neste contexto, TROJANOWICZ e BUCQUERUX (1999, p. 4.), definem tal

policiamento como:

(...) uma filosofia e uma estratégia organizacional que proporciona uma nova parceria entre a população e a polícia. Baseia - se na premissa de que tanto a polícia quanto a comunidade devem trabalhar juntas para identificar, priorizar e resolver problemas contemporâneos tais como crime, drogas, medo do crime, desordens físicas e morais e em geral a decadência do bairro, com o objetivo de melhorar a qualidade geral de vida na área.

As raízes contemporâneas do policiamento comunitário situam-se na década de

1970 com as modalidades de patrulheiros a pé nas cidades de Flint, Michingan, Newark e

New Jersey, nos Estados Unidos da América, com o objetivo de engajar a comunidade na

resolução criativa de conflitos sociais e criminalidade.

Segundo os mesmos autores:

As primeiras iniciativas de policiamento comunitário objetivaram: reduzir a tensão a social, criar uma relação de diálogo e interação entre polícia e sociedade com atenção ao pessoal jovem e aos conflitos de raça, etnia e religião; envolvimento da comunidade para iniciativa de prevenção as drogas e os problemas de desordens física e social de modo á promover a melhoria da qualidade de vida da comunidade.

Definir policiamento comunitário não é simples. Isto se deve ao fato de que a

estrutura, os objetivos e as técnicas variam segundo os fundamentos e a comunidade onde

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está sendo implementada a experiência. O policiamento comunitário, na sua forma mais

pura, será o que a instituição policial específica do lugar e a comunidade estabelecerem de

comum acordo. Embora seja difícil dar uma definição abrangente, é possível criar alguns

fatores comuns: o envolvimento de todos os níveis do sistema de policiamento; a inclusão

das lideranças comunitárias formais e informais; as organizações comunitárias e o cidadão;

o envolvimento de todos os setores e administradores públicos da cidade; a inclusão dos

estabelecimentos comerciais e das instituições sem fins lucrativos e a mídia.

TROJANOWICZ e BUCQUERUX (p.3-4.), esclarecem que o policiamento

comunitário não é uma tática nem uma técnica de relações públicas, nem anti-tecnologia,

nem concedente com o crime, nem paternalista num enfoque descendente e impositivo,

nem um nome a mais para o trabalho de serviço social, nem elitista, nem uma formula

mágica e rápida.

Como lembra MARIANO e FREITAS (2002, p.9), no Brasil as experiências de

polícia comunitária apareceram no contexto do regime democrático quando toda a

sociedade reclamava uma nova forma de fazer policiamento e segurança pública. A

transição da Democracia no Brasil legou um novo modelo de Polícia no país, evidenciando

a relação entre o fato de o Brasil ser um dos poucos países em que as organizações policiais

não realizam o ciclo completo de polícia, e a ineficiência para coibir e inibir o crime, as

disparidades salariais, a má formação, a violência e a corrupção policial.

Ao resgatar as experiências de polícia comunitária no Brasil, CERQUEIRA ( )

descreve o conjunto de ações implementada ao longo da década de noventa do século XX,

no bojo das administrações públicas inovadoras. Aponta como exemplos as experiências de

Guaçuí, no Espírito Santo (1994); o projeto Povo no Pará, o projeto de Policiamento

Ostensivo Volante-Povo e Policiamento Solidário no Paraná; a Polícia Interativa em

Sergipe; o Pelotão Comunitário na cidade satélite no Rio Grande do Norte (1994); a Polícia

Comunitária em Porto Alegre (1995); a Polícia Comunitária e Brasília (1995); a Polícia

Comunitária no Ceará (1986); os Núcleos Comunitários de Segurança Pública e os cursos

de polícia comunitária em Recife (1997); os cursos de gestão em policiamento comunitário

na Paraíba (1997); a Segurança Interativa em Florianópolis (1998); a Polícia Cidadã na

Bahia (1998); a Polícia Comunitária em São Paulo (1997) e experiência de Polícia

Interativa do Amapá (1997).

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Para que haja uma boa implantação dessa filosofia, alguns aspectos importantes não

podem deixar de ser observados, pois tem que haver um planejamento sério entre as

comunidades envolvidas e a Polícia Militar, para que, juntos, possam alcançar objetivos

comuns. Os fatores comuns ao policiamento comunitário são: trabalhar como verdadeiros

parceiros; a comunidade e suas formas de cooperação; a participação dos atores - cidadãos,

policiais e poderes públicos; a participação dos policiais e do poder público; a participação

da comunidade como mecanismo de prevenção e redução da violência e da criminalidade; a

resolução de problemas; o poder e a liderança; a polícia como prestadora de serviços à

comunidade; capacidade de adaptação e a relação “polícia e comunidade”.

O policiamento comunitário enfatiza a necessidade da Polícia estar mais consciente

em relação ao seu papel de prestadora de serviços. Os cidadãos da comunidade e as

empresas desta são os que, através do pagamento de impostos, estão financiando ou

custeando os serviços da polícia. É justamente por isto que cada um dos policiais deve ter

bem presente na sua mente que o seu emprego existe apenas porque se supõe que ele esteja

prestando um serviço público, um serviço que faz parte de todo um contexto de segurança e

de bem-estar social para toda a coletividade. Todos os programas da instituição policial

devem ser avaliados para medir o grau de satisfação do público com os serviços que a

polícia está prestando.

O fato de que a qualidade dos serviços seja muito enfatizada na polícia comunitária,

não significa que se queira transformar os policiais em agentes comunitários, a exemplo de

outros profissionais, como os assistentes sociais. O policial é um agente profissional da

segurança pública. A legitimidade social da comunidade em relação ao policial será

avaliada pela competência profissional do policial para lidar com as demandas sociais de

segurança e da sua capacidade de conviver com as demais profissões e serviços no sentido

de melhorar a segurança do bairro.

Conforme citação de AGUIAR (2002, p.35):

Na polícia comunitária o policial atua de modo dirigente no programa, este (o policial) poderá e deverá ser um agente público de integração, que relacione outros profissionais e serviços naquelas demandas que a ação exige deste. Sem a integração dos serviços públicos a polícia comunitária e a comunidade não podem caminhar. Só um trabalho sistemático, interinstitucional e multidisciplinar, terá condições de desenvolver um

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sistema de segurança que atinja a violência incrustada no âmago da sociedade.

Isso não significa que a tarefa de fazer cumprir a lei tenha sido relegada a um

segundo plano. A diferença fundamental neste aspecto é que o policiamento comunitário é,

basicamente, preventivo, sem, no entanto se furtar a ser firme sempre que necessário e a

circunstância assim exigir do profissional policial.

3.2 Contextualização da Polícia Comunitária como alternativa estratégica para a

resolução de problemas na área da Segurança Pública.

A tendência de todas as atividades governamentais, com destaque para a atuação

na área da Segurança Pública, versa sobre a aproximação do poder estatal com o cidadão e,

em conseqüência, com a comunidade a que se destina o serviço público. Essa tendência de

constante interação, integração, co-participação e de gestão compartilhada da coisa pública

vem sendo afirmada e reafirmada por diversos autores, constituindo-se na base da filosofia

de Polícia Comunitária.

De acordo com MUNIZ (1999, p. 8):

Essas iniciativas resultaram de uma constatação, que hoje é trivial, mas que na época significou um salto inovador: refiro-me à evidência de que Segurança Pública ultrapassa a esfera de competência exclusiva das agências policiais, dependendo, portanto, de outros atores que são os cidadãos e os organismos públicos e civis provedores de serviços essenciais para a população. (...) Os problemas de segurança são mais amplos do que as questões de competência propriamente policial. Ou seja, nem todos os problemas que afetam a Segurança Pública estão contidos no espaço legal e legítimo de ação das polícias. Daí a pertinência de incorporar outros atores no processo de produção democrática da Segurança Pública. A filosofia comunitária surge, em parte, como uma resposta e uma identificação dessa responsabilidade. Evidentemente que sem perder de vista o papel diretivo e executivo das organizações policiais. O processo de comunitarização faz aparecer perfis próprios e singulares das comunidades atendidas. Como as demandas por ordem e Segurança Pública são locais e diferenciadas, a adaptação desse programa ocorre em função das realidades locais.

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Em outros dois estudos específicos, MUNIZ (2000, p. 2) eminente antropóloga

e Diretora de Pesquisa da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro,

enfatiza:

Não é demais salientar que as intervenções policiais preventivas, dissuasivas e repressivas implementadas de forma exclusiva e, por conseguinte, dissociadas das políticas urbanas desenhadas pelos municípios, tem ajudado a produzir toda sorte de desperdícios no emprego diuturno dos escassos recursos policiais. Afinal, por mais e melhor que as polícias estaduais possam fazer, elas sozinhas são, por definição, incapazes de responder às demandas por segurança, experimentadas nos centros urbanos. (...) Mas, que se não forem devidamente trabalhados por outras agências além das polícias, podem estimular a ocorrência de práticas delituosas futuras e o recurso individual à violência como uma forma de resolução de problemas. Refiro-me, sobretudo, aos conflitos, desordens, incivilidades e litígios experimentados nos espaços públicos que desembocam, quase que exclusivamente, nos balcões das delegacias e no atendimento emergencial realizado pelas PMs. Os policiais civis e militares de várias polícias brasileiras, orientados pelos seus conhecimentos práticos, sabem disso.

Experiências recentes demonstram que respostas tradicionais de endurecimento

ou ampliação dos meios de intervenção policial não produzem os resultados esperados.

Iniciativas de incremento de recursos e propostas de ‘políticas de segurança’ alheias à

literatura internacional e à realidade da preservação da ordem pública local têm-se revelado

ineficazes e onerosas. Por outro lado, é fato notório que o endurecimento das penas ou a de

uma ‘declaração de guerra’ aos criminosos também não conduz a resultados aceitáveis,

chegando a por em risco a credibilidade da Justiça e das forças policiais perante a

população.

Trabalhar em prol da ordem pública não é uma tarefa fácil. No caso brasileiro,

há muito o que fazer. É preciso, entre outras iniciativas, considerar os constrangimentos e

as demandas sócio-culturais que conformam as condições de possibilidade para a

preservação da ordem pública; buscar formas conseqüentes de cooperação entre as

comunidades e as agências envolvidas na produção de ordem pública além das forças

policiais e desenvolver ferramentas de avaliação, planejamento, controle e auto-

aperfeiçoamento das agências, cuja influência sobre a ordem pública é direta e executiva -

as policiais e, em alguns papéis específicos, as forças armadas.

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A adesão responsável a esta perspectiva exige o enfrentamento de dois distintos

desafios: o primeiro é o da mudança de mentalidade. Persistem entendimentos e práticas

orientados por uma visão de segurança obsoleta, que privilegia a razão de Estado e

considera a ordem pública um ‘assunto de responsabilidade exclusiva da polícia’. Esta

mentalidade impede a visão democrática de uma ordem pública - prestação de um serviço

às comunidades - e tem contaminado não apenas os executivos e administradores

responsáveis, mas também os atores da sociedade civil organizada. Obstaculariza, ainda,

uma percepção clara da natureza dos problemas e das dinâmicas relacionadas à ordem

pública contemporânea. É imprescindível desarmar e atualizar mentalidades para que se

possa viabilizar uma ordem pública adequada às necessidades atuais e obedientes aos

limites de uma sociedade democrática e plural.

O segundo desafio é o de prover ferramentas e insumos. Inexistem critérios de

mensuração de resultados, instrumentos de avaliação, sistemas de monitoramento. Não há

estruturas para a incorporação das demandas de ordem de uma sociedade em mudança

contínua. Ignoram-se as diferentes expectativas das comunidades e, por conseguinte, a

especificidade das demandas locais e seus efeitos na ordem pública. As distintas atividades

profissionais, a multiplicidade de estilos de vida metropolitanos, a proliferação de práticas

informais e os enraizamentos identitários locais e difusos, questionam a lógica e mesmo a

validade de intervenções orientadas pelos interesses de um inexistente “cidadão médio,

ordeiro e cordial”. Nesse sentido, é impossível querer trabalhar ou mesmo entender a ordem

pública sem a consideração generosa das dinâmicas urbanas contemporâneas em cada

grande cidade.

As intervenções de MUNIZ (2000) indicam, de modo bastante consistente e

coerente, que o provimento da ordem pública exige muito mais do que a ação exclusiva da

Polícia. Requer a participação de outras agências públicas e civis e, principalmente, da

comunidade. Denominando essa tendência de comunitarização, a autora demonstra que a

questão da violência e da criminalidade supera, em muito, o entendimento de que, através

de esforços policiais concentrados, o poder público cumprirá o seu mister de preservação da

ordem pública. Essa constatação, bem antes da consolidação da filosofia de Polícia

Comunitária, enquanto programa, na década de 90, já constituía uma premissa básica da

ciência da Criminologia, como adiante será verificado.

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A experiência nacional e, principalmente, a internacional, registrada através de

diversos estudos sobre as polícias norte-americana e japonesa, demonstra, de modo

indubitável, que não existe estratégia policial eficiente e eficaz, se a atuação da Polícia

restringir-se exclusivamente aos problemas de ordem delitual e não contar com a

participação da comunidade em que o serviço de Segurança Pública se concretiza.

É lançar-se ao insucesso declarar guerra contra o crime, sem considerar a

realidade comunitária e a sua necessária participação, na complexidade do espaço físico e

das relações humanas das grandes cidades, em um contexto de crescente conflito gerado

pela dívida social existente. Isso porque esse conflito concorre com inúmeros fatores

sociais geradores de insegurança, como o crescimento populacional acelerado e

desordenado, a má distribuição demográfica, a falta de planejamento familiar, a existência

de aglomerados urbanos, nos quais os moradores são expostos à ausência do Estado em

vários sentidos; a falta de referências familiares, religiosas, morais e de educação, dentre

outros importantes fatores.

Desta forma, fica caracterizada a necessidade de mudança de paradigmas, em

que a gestão da ordem pública seja efetivamente democratizada, com vistas a minimizar os

problemas de segurança que em geral afligem cidadãos residentes em centros urbanos mais

populosos. Essa mudança de paradigmas da atuação policial encontra-se na Polícia

Comunitária.

3.3 Definição da Criminologia como ciência e a questão do crime como fenômeno

social e comunitário. Interesse para a filosofia de Polícia Comunitária.

Toda a proposta deste trabalho encontra-se vinculada a duas grandes referências de

interesse para a área da Segurança Pública: a Polícia Comunitária e a Criminologia.

Diferentemente do que ocorria em tempos passados, a Criminologia moderna possui,

atualmente, uma área de abrangência que não se restringe mais e exclusivamente à pessoa

do criminoso, ampliando seus estudos para áreas de interesse da atuação de Polícia,

principalmente em face do caráter prevencionista da disciplina, conforme indica a sua

definição feita por GARCIA e GOMES (2000, p. 37):

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Cabe definir a Criminologia como ciência empírica e interdisciplinar, que se ocupa do estudo do crime, da pessoa do infrator, da vítima e do controle social do comportamento delitivo, e que trata de subministrar uma informação válida, contrastada, sobre a gênese, dinâmica e variáveis principais do crime – contemplado este como problema individual e como problema social – , assim como sobre os programas de prevenção eficaz do mesmo e técnicas de intervenção positiva do homem delinqüente e nos diversos modelos ou sistemas de resposta ao delito. [sem grifo no original].

Através dessa definição, verifica-se que a Criminologia moderna tem como

objeto de estudo a análise do delito, do delinqüente, da vítima e do controle social, com

vistas a explicar e prevenir o crime, intervir na pessoa do infrator e avaliar os diferentes

modelos de resposta ao crime. Os avanços dos estudos criminológicos, ao ampliarem o

âmbito da tradicional Criminologia (que se restringia ao estudo do delinqüente), permitiram

incorporar em seu objeto as investigações sobre o meio social em que o delito ocorre, assim

como o estudo sobre o denominado “controle social”, acentuando, assim, uma orientação

prevencionista do saber criminológico, chegando a ponto de intervir, de modo positivo, ao

analisar e avaliar os modelos de reação ao delito.

Também, com base nessa definição e nas considerações acima apresentadas,

verifica-se que não há como os órgãos policiais, em especial as polícias militares,

desprezarem a Criminologia moderna, ao tencionarem estabelecer um programa ou uma

filosofia de policiamento que não se restrinja ao tratamento penal da ocorrência policial.

Sob este enfoque da Criminologia, verifica-se a sua maior amplitude em relação

ao Direito Penal. Conforme GARCIA e GOMES (2000, p. 63):

prova disso é que a primeira [Criminologia] se ocupa de fatos irrelevantes para o Direito Penal (v. g., o chamado ‘campo prévio’ do crime, a ‘esfera social’ do infrator, a ‘cifra negra’, condutas atípicas, porém de singular interesse criminológico como a prostituição ou o alcoolismo...).

A relação da Criminologia com a Polícia Comunitária, para estes autores (2000,

p. 64), é dada da seguinte forma:

Toda essa área de preocupação da Criminologia é a área de preocupação da Polícia Comunitária, a quem interessa uma imagem global do fato delitivo e do seu autor: “a etiologia do fato real, sua estrutura interna e dinâmica,

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formas de manifestação, técnicas de prevenção do mesmo e programas de intervenção no infrator...

A Polícia Comunitária e a ciência da Criminologia moderna possuem uma área

de estudo comum: o delito como problema social e comunitário, a efetividade dos

mecanismos de controle social, a distribuição da criminalidade entre os distintos estratos

sociais, e a sua dinâmica de ocorrência, dentre outros importantes aspectos que devem

orientar as ações da polícia e da comunidade. Com efeito, o delito caracteriza-se como

problema social e comunitário, pois possui incidência massiva e dolorosa na população,

persistência espaço-temporal, falta de um inequívoco consenso a respeito de sua etiologia e

eficazes técnicas de intervenção sobre o delito e consciência social generalizada a respeito

de sua negatividade.

Essas importantes características, que contemplam o delito não só como

comportamento individual, mas, sobretudo, como problema social e comunitário, são assim

explicitadas por GARCIA e GOMES (2000, p. 66-67):

Todas estas notas próprias de um ‘problema social’ podem ser observadas efetivamente no delito. Afeta toda sociedade (não só os órgãos e instâncias oficiais do sistema legal), isto é, interessa e afeta a todos nós. E causa dor a todos: ao infrator, que receberá seu castigo, à vítima, à comunidade. Somos conscientes, sem embargo, de que temos que aceitar a realidade do crime como inseparável da convivência. Que não existem soluções milagrosas nem definitivas. Que sua explicação tem muito mistério e seu controle, razoável ou satisfatório, bastante de utopia, de irrealidade. Estamos retornando ao ponto zero do saber criminológico – dizia um autor faz poucos anos – e o delito continua sendo um enigma. Por tudo isso ele é um problema social e comunitário. É um problema ‘da’ comunidade, nasce ‘na’ comunidade e nela deve encontrar fórmulas de solução positivas. É um problema da comunidade, portanto, de todos: não só do ‘sistema legal’, exatamente porque delinqüente e vítima são membros ativos daquela. Nada mais errôneo que supor que o crime representa um mero enfrentamento simbólico entre o infrator e a lei. E que o delito – a obra do delinqüente – preocupa e interessa só ao sistema, isto é, Polícia, Juízes, Administração Penitenciária...

Esta citação evidencia o crime como fenômeno comunitário, que nasce,

manifesta-se e deve encontrar soluções na comunidade e que não deve se restringir às

preocupações exclusivas dos órgãos integrantes do sistema oficial de polícia e de

persecução criminal. Há a necessidade de profundo envolvimento da comunidade – essa é a

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proposta da Criminologia moderna e essa é a proposta da Polícia Comunitária: como

desprezar a correlação entre essas duas disciplinas?

3.4 Mecanismos de controle social sobre a criminalidade, indicados pela Criminologia

Para GARCIA e GOMES (2000, p. 133):

A Criminologia moderna estuda com grande profundidade a questão do controle social do delito, ministrando informações imprescindíveis na elaboração, análise e avaliação dos programas de prevenção, assim como nos modelos de resposta aos delitos. Caracteriza-se, assim, uma das funções básicas da Criminologia, “em informar a sociedade e os poderes públicos sobre o delito, o delinqüente, a vítima e o controle social, reunindo um núcleo de conhecimentos – o mais seguro e contrastado – que permita compreender cientificamente o problema criminal, preveni-lo e intervir com eficácia e de modo positivo no homem delinqüente.

Esses conhecimentos, pela sua natureza, também são imprescindíveis para o

desenvolvimento de uma atividade policial que busque, na sua essência e de forma

prioritária, a prevenção e integração comunitária.

Inicialmente, a Criminologia faz uma diferenciação entre os denominados

“agentes informais e agentes formais de controle social”: Toda sociedade ou grupo social

necessita de uma disciplina que assegure a coerência interna de seus membros, razão pela

qual se vê obrigada a criar uma rica gama de mecanismos que assegurem a conformidade

daqueles com suas normas e pautas de condutas. O controle social é entendido, assim,

como o conjunto de instituições, estratégias e sanções sociais que pretendem promover e

garantir referido submetimento do indivíduo aos modelos e normas comunitários.

Para alcançar a conformidade ou a adaptação do indivíduo aos seus postulados

normativos (disciplina social), serve-se a comunidade de duas classes de instâncias ou

portadores de controle social: instâncias formais e instâncias informais. Agentes informais

do controle social são: a família, a escola, a profissão, a opinião pública e outros; agentes

formais são: a polícia, a justiça, a administração penitenciária , dentre outros.

A Criminologia moderna vai muito além da identificação dos agentes formais e

informais de controle social. Estabelecendo como prioridade a sua preocupação com a

prevenção do delito, em especial no denominado “Estado Democrático de Direito”, indica

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uma tendência à “comunitarização” (entender o crime como fenômeno comunitário) e

estabelece uma diferenciação a respeito do que seja o conceito criminológico de prevenção:

Em sentido estrito, via de regra, prevenir o delito é algo mais – e também algo distinto –

que dificultar seu cometimento ou dissuadir o infrator potencial com a ameaça do castigo.

Na verdade, verifica-se a necessidade de se imprimir um programa de governo

voltado para as causas sociais, e de se criar uma sistemática preventiva capaz de extirpar os

focos criminógenos e não de se ficar limitado a simples repressão policial, judiciária

criminal ou executiva penal.

A tendência prevencionista da Criminologia moderna, de grande interesse para a

policiologia e que possui abrangência pluridimensional, incide sobre outros elementos do

cenário criminal, não somente sobre o delinqüente. Assim, a prevenção preocupa-se com o

espaço físico, as condições ambientais, o clima social, os grupos de pessoas que podem ser

vítimas de delitos, a própria população punida, dentre outros componentes externos

relacionados ao crime.

GARCIA e GOMES (2000, p. 146) apresentam alguns exemplos dessa

intervenção da Criminologia:

Por exemplo: neutralizando as variáveis espaciais e ambientais mais significativas daquele (programas de base ecológica, arquitetônico-urbanística, territorial); melhorando as condições de vida dos estratos sociais mais oprimidos com as correspondentes prestações (v. g. programas de luta contra a pobreza); informando, conscientizando e apoiando os grupos de pessoas com maior risco de vitimização (programas de prevenção de vítimas potenciais); procurando a reinserção social efetiva dos ex-reclusos, uma vez que cumpram suas condenações, a fim de evitar a reincidência; suprimindo, na medida do possível, o magistério criminógeno de certos valores sociais (oficiais ou subterrâneos), cuja leitura ou percepção pelo cidadão médio gera atitudes delitivas etc.

É nesse esteio que são reforçados os argumentos da importância da

Criminologia, ao ser estabelecido um programa de Polícia Comunitária. Também na

filosofia de Polícia Comunitária, o conceito de prevenção é exigente e pluridimensional,

superando em muito a concepção policial de prevenção. Pode-se afirmar, com segurança,

que o entendimento teórico-doutrinário da Criminologia é uma ferramenta poderosa na

compreensão da extensão do conceito de Polícia Comunitária – a Criminologia é essencial

para a Polícia Comunitária.

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4 SETORIZAÇÃO DO POLICIAMENTO

A setorização do policiamento já é realizada no interior do estado de Minas

Gerais com bons resultados. Uma área territorial se subdivide em áreas menores,

denominadas companhias e cada companhia se subdivide em frações menores ainda. Assim

sendo, a setorização, também conhecida por divisão em setores, torna o policiamento mais

particular e individualiza a sua área de responsabilidade.

Para cada setor será designado um comandante, que terá as responsabilidades

totais deste território, devendo treinar seus policiais, promover reuniões com a comunidade

local, traçar metas e empreender estratégias para a redução criminal da localidade, através

da Filosofia de Polícia Comunitária, conforme prevê a DPSSP nº04/2002-CG e a Instrução

nº02/2005-CPC.

De acordo com Souza (2005), estratégia iminente do Comando de Policiamento

da Capital de Minas Gerais é a de setorizar a cidade de Belo Horizonte, dividindo toda sua

área de 335,5 km², em áreas menores, dando condições a essas “mini-áreas” de serem

cuidadas com maior particularidade por cada comandante de setor.

Espera-se, com a setorização, que haja um aumento da sensação de segurança na

população belorizontina, nas áreas caracterizadas pelo grande fluxo de população e de

incidência de criminalidade violenta, conforme aferição procedida nos últimos trinta e nove

meses (2002 a 2004 e 1o trimestre de 2005); que seja possível mensurar a viabilidade de

implantação, em toda a RPM, do conceito de Policiamento Setorizado; que seja inserido, na

cultura organizacional, o conceito operacional de Bases Comunitárias Móveis; que seja

positiva a Intervenção, quanto aos crimes contra a pessoa e o patrimônio, no processo de

tendência de queda do Índice de Criminalidade Violenta em Belo Horizonte, observado ao

final de 2004; que haja uma melhoria da coordenação e do controle sobre todo o efetivo

empenhado, especialmente nas Patrulhas de Prevenção Ativa, Guarnições Tático Móveis e

policiamento velado.

4.1 Emprego Operacional do Efetivo em Áreas Comerciais.

O 8º Comando Regional de Polícia Militar possui, dentre suas diversas

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Unidades Operacionais, seis (06) Batalhões de Área que se constituem em suas Unidades

de Execução Operacional, sendo eles: 1º, 5º, 13º, 16º, 22º e 34° BPM.

Essas Unidades são responsáveis por uma área territorial estimada em trezentos

e trinta (330) Km², totalizando cerca de quatrocentos e trinta (430) bairros, contendo uma

população de aproximadamente dois milhões, duzentos e trinta mil (2.230.000) habitantes.

Para que houvesse um critério na escolha das áreas comerciais que receberiam

policiamento, foram elencadas as de maior expansão física da cidade de Belo Horizonte

acompanhada das maiores taxas de crescimento dos índices de criminalidade violenta, de

01Jan02 a 31Mar2005, tendo-se chegado às seguintes identificações, regiões: Central (5a e

6a Cias/1o BPM), Venda Nova (14a Cia/13o BPM), Barreiro (11a e 12a Cias/5o BPM),

subáreas das 20a e 22a Cias/16o BPM, das 124a e 125a Cias/22o BPM e as 9a e 17a Cias/34o

BPM.

Buscou-se ainda, o levantamento do efetivo mínimo necessário para a

constituição das seis Bases Comunitárias Móveis (BCM), uma em cada Companhia Tático

Móvel, dentro do conceito operacional contido no Projeto Segurança Integrada – 8a RPM -

PBH, cuja logística a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte estará adquirindo para a

Polícia Militar, chegando-se ao total de 08 (oito) policiais militares por BCM.

4.2 Principais delitos monitorados nas Áreas Comerciais

Dentre uma gama de informações de delitos que são monitorados pela

Geoprocessamento, os que têm maior visibilidade em áreas comerciais são principalmente

delitos contra o patrimônio, em que se destacam o furto simples (grupo C2000), o roubo

Grupo C5000) e o assalto (grupo C9000) e suas subdivisões, monitorados sob as seguintes

codificações:

Furto a transeunte em via pública - C2002; Furto consumado a estabelecimento comercial - C2003; Furto consumado a estabelecimento bancário - C2004; Roubo consumado a transeunte em via pública - C5002; Roubo consumado a estabelecimento comercial - C5003; Roubo consumado a estabelecimento bancário - C5004; Roubo consumado a casa lotérica - C5005; Roubo consumado a drogaria/farmácia - C5007; Roubo consumado a padaria - C5008;

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Roubo consumado a casa lotérica - C5010; Roubo consumado a depósito em geral - C5016; Roubo consumado a transeunte - C5027; Roubo consumado a posto de combustíveis - C5031; Assalto a transeunte em via pública - C9002; Assalto consumado a estabelecimento comercial - C9003; Assalto consumado a casa lotérica - C9005; Assalto consumado a drogaria/farmácia - C9007; Assalto consumado a padaria - C9008; Assalto consumado a supermercado/mercearia - C9009; Assalto consumado a casa lotérica - C9010; Assalto consumado a depósito em geral - C9016; Assalto consumado a transeunte - C9027; Assalto consumado a posto de combustíveis - C9031.

4.3 A implantação do policiamento em Áreas Comerciais.

O processo de policiamento implementado se deu predominantemente a pé, com

a finalidade de aprimorar pela prática os conhecimentos de Polícia Comunitária

apreendidos pelos novos soldados, concludentes em maio de 2005, do Curso Técnico em

Segurança Pública (CTSP).

Além disso, a jornada de trabalho está sendo de seis horas/dia, com folgas

regulamentares, observando-se o ciclo de “6x1, 5x1, 6x2” (coincidido as duas folgas no

sábado e domingo, devendo-se garantir o lançamento mínimo necessário ao fim de

semana), como meio de privilegiar o contato com a população e permitir o estreitamento de

vínculos entre os policiais militares e a comunidade, bem como respeitar os limites físico-

fisiológicos laborativos.

4.4 A Coordenação e o Controle do Policiamento em Áreas Comerciais

A coordenação e controle estão sendo realizados, de acordo com a Instrução n°

02/2005 – 8ª RPM, por meio do seguinte:

a) Cada região comercial é dividida pelo Comandante de Cia respectivo, em

setores com esquema de ocupação, inicialmente a seu critério, cabendo aos respectivos

comandantes de setores as atribuições já descritas anteriormente;

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b) aos setores são destinados grupos de policiais militares, comandados por

tenentes ou sub-tenentes/sargentos, organizando-se na Companhia de Polícia Militar (Cia

PM), com quadro discriminativo dos nomes dos respectivos integrantes dos setores;

c) mediante aplicação da avaliação da capacidade técnica são considerados os

policiais militares mais capacitados para cada setor;

d) os comandantes de setores organizam a atuação de sua equipe, em cartões-

programas, que são construídos dentro da metodologia utilizada para as Patrulhas de

Prevenção Ativa (Instrução nº 01/2004-8ª RPM),ou seja..., bem como formularam quadro

contendo nomes de moradores comerciantes e lideranças residentes/atuantes no seu setor,

disponibilizando o nome próprio e de seus substitutos a cada contato;

e) a Assessoria de Comunicação Social da Unidade de Execução Operacional

(UEOp) respectiva organiza, nos respectivos setores, uma reunião de apresentação oficial

desses policiais militares à comunidade residente nos setores;

f) quinzenalmente, os Comandantes de setores reúnem-se em evento único,

interno à Cia PM, com o comandante da subunidade, apontando dificuldades encontradas;

g) os dados apontados nas reuniões mencionadas na alínea “e” são enviados à

Seção de Planejamento e Operações da respectiva da UEOp, até o final de cada mês

anterior a setembro e dezembro, bem como a maio e junho do ano seguinte; e consolidados

em relatório único que agregue informações semelhantes em um mesmo campo, tendo em

vista facilitar a explanação a seguir;

h) nos meses discriminados anteriormente, os responsáveis pela Seção de

Planejamento e Operações (P3) se reúnem, em evento único, sempre coordenado pelo P3 e

pelo Chefe da Seção de Comunicação Organizacional (P5) da 8a Região de Policiamento

Militar (8ª RPM), na sede das UEOp abrangidas pelo projeto, seqüencialmente, tendo em

vista estreitar laços da comunidade operacional e para discutir dificuldades comuns

enfrentadas;

i) os dados levantados nessas reuniões são sintetizados e repassados ao

Comando da 8a RPM, devidamente instruídos do parecer dos respectivos chefes de seções

do CPC e do Núcleo de Estratégias e Pesquisas, que elaborará a proposta final até o final

dos meses considerados.

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5 O Geoprocessamento

A Polícia Militar de Minas Gerais, com a intenção de tornar científica a lida das

informações conectadas aos fatores de interferência na criminalidade, escolheu o

Geoprocessamento como ferramenta primordial para este diagnóstico. Isso, pelo fato de

esta ferramenta possibilitar uma análise de delitos mais apurada, a partir dos gráficos aí

gerados. De uma maneira mais ampla, o Geoprocessamento admitiu que se criasse, em um

mesmo plano, uma síntese da informação a partir do mapeamento territorial de vários

aspectos, como a existência de crimes violentos, geração de ocorrências sem atendimento,

dentre outras.

Anteriormente o uso do Geoprocessamento, a PMMG convivia com uma

dualidade: esperava sua ativação via 190, configurando assim uma atitude de reação, ou

colocava seus recursos para tentar seguir o que a mídia veiculava, sendo esta última, uma

atitude sem foco que, via de regra, agia sobre o “incêndio”, a emergência apontada pela

mídia, entretanto não atingia o nascedouro do fenômeno criminal.

A Diretriz para a Produção de Serviços de Segurança Pública 01/CG avalia

Geoprocessamento como sendo:

“as atividades de aquisição, tratamento e análise de dados. Envolve desde um conjunto de tecnologias para a coleta de imagens da superfície do planeta, conhecido como sensoriamento remoto, até o processamento e análise desses dados, em forma de mapas digitais, usando-se os Sistemas de Informações Geográficas, um ambiente computacional orientado à análise e interpretação de diversos fatos e fenômenos relacionados à Terra.”

A finalidade do geoprocessamento é assistir ao responsável pelo planejamento

Operacional, de forma a avalizar que os empenhos lançados possam anteceder

acontecimentos.

Um dos primeiros efeitos práticos de que se tem conhecimento em relação à

análise de mapas para a resolução de problemas vem da área de saúde. Narra a história que

em 1854, ainda não se tinha conhecimento da forma de contágio do cólera. A cidade de

Londres estava padecendo sob uma forte epidemia dessa moléstia, aproximadamente 500

mortes já haviam acontecido. Foi quando o médico Dr. John Snow teve uma percepção:

poderia pegar um mapa da cidade onde faria a marcação de todos os doentes de cólera;

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marcou também no mapa todos os poços de água da cidade. Naquela época, os poços eram

essencial fonte de água para os moradores. A visualização do mapa permitiu ao Dr. Snow

entender que havia uma imensa concentração de doentes próximo ao poço da “Broad

Street”. A epidemia de cólera foi dominada, assim que o poço foi fechado. Esta experiência

forneceu informações para que se provasse mais tarde que o cólera é transmitido pela

ingestão de água contaminada. (INPE, 2002, p.5)

A fábula descrita nos mostra o embasamento fundamental que pode advir da

análise de mapas cartográficos e que persiste nos modernos aplicativos de

geoprocessamento: Através de dois (ou mais) fenômenos aparentemente independentes

quanto à sua natureza, encontrar uma correlação espacial que os possa inter-relacionar.

O Geoprocessamento, ao ser inserido na PMMG foi um fator importante para o

desígnio aspirado de aproximação comunitária. A competente ferramenta tornou-se um

componente de comunicação de conceitos técnicos policiais ao permitir a sua tradução para

a linguagem visual tornando-os melhores percebidos pela comunidade.

O atributo multidisciplinar do tema trouxe para a Corporação a precisão básica

de gerar o inter-relacionamento entre distintos campos da sociedade, especialmente aos

responsáveis pelo planejamento urbano e também aos estudiosos e pesquisadores das

faculdades.

O método de Gestão da Informação foi aperfeiçoado a partir do momento em

que técnicos passaram a criar mecanismos para que a ampla gama de dados que a PMMG

tinha guardada pudessem ser canalizados através de técnicas computacionais para alcançar

desígnios práticos.

A etapa de implementação do geoprocessamento colaborou para um melhor

conhecimento das características sócio-econômicas das áreas pertencentes às sub-unidades,

uma vez que policiais militares tiveram que compartilhar grupos de trabalhos para a

arrecadação de dados que iriam participar das bases com o perfil sociográfico dessas áreas.

A DPSSP 01 – CG/ PMMG mostra os principais dados possíveis de serem

acompanhados por meio da criação de mapas georreferenciados:

a) tendências e padrões do fenômeno;

b) a relação entre percepções sociais do medo (sensação de insegurança) e taxas reais de criminalidade;

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c) a incidência em diferentes grupos sociais;

d) o perfil de vítimas e de agressores;

e) a diversidade oculta dos dados estatísticos.

O remoto método de utilização de mapas cartográficos de papel que demarcados

por tachinhas espetadas, exercício comum ainda nas frações do interior, originaram a

fabricação informatizada de mapas. A DPSSP 01-CG/ PMMG cita características que

tornam positivo o emprego de mapas na análise criminal:

a) são desenhos sobre áreas e lugares;

b) auxiliam a visualizar os dados, mostrando algo concreto sobre a criminalidade;

c) são figuras proverbiais, pois “valem mais do que mil palavras”;

d) facilitam a interpretação das informações;

e) permitem uma liberdade de experimentação;

f) servem como ferramenta de persuasão para a alocação lógica dos recursos

durante a elaboração do planejamento participativo junto à comunidade.

6 Policiamento a pé em Áreas Comerciais

O emprego operacional do policiamento a pé já vem sendo desenvolvido pela

PMMG desde que ela foi fundada, há 230 anos atrás. Neste tempo, nossa sociedade sofreu

uma grande evolução e, a polícia por sua vez, teve também que se modificar e se moldar às

novas necessidades da população. Assim sendo, existiu uma evolução no modo de se fazer

polícia, e o policiamento a pé, modalidade que nasceu com a polícia, também teve de

mudar seus princípios.

Com o advento da Polícia Comunitária, a filosofia do emprego a pé do

policiamento mudou, conforme relatado anteriormente neste trabalho, sendo que, em

meados do ano de 2004, a forma de ele se apresentar à sociedade, transformou os conceitos

até então existentes. Atualmente ele visa o contato comunitário, agindo de forma

principalmente preventiva em relação aos delitos que, porventura, aflijam nossa sociedade,

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e o desenvolvimento de operações policiais, da mesma forma, trabalhadas com ênfase na

prevenção.

Como este tipo de policiamento foi implementado recentemente, estudaram-se

os dados desde a sua implantação, ocorrida em junho de 2005, até dezembro de 2005, de

forma que se pôde avaliar seus primeiros seis meses de existência, em relação aos mesmos

meses só que dos dois últimos anos vividos, 2003 e 2004. Tal período foi suficiente para a

verificação dos resultados do novo emprego do policiamento a pé em áreas comerciais.

Vale ressaltar também, que foram selecionados, os Centros Comerciais da Cidade de Belo

Horizonte que possuem uma maior expressividade no contexto municipal, sendo eles, os

principais da capital mineira: Hipercentro de BH, Barreiro e Venda Nova.

7 CONCLUSÃO

Nos anos de 1994 a 2004, evidenciou-se um clamor público de todo um país em

torno da questão de segurança pública. Os órgãos que mais estão envolvidos neste contexto

se desdobram para discutir maneiras eficazes de dar respostas e trazer resultados à altura do

que o povo espera e exige. Nas polícias estaduais, observa-se a busca por idéias inovadoras

para atender aos anseios dos destinatários de seus serviços..

Nessa ótica, a Filosofia da Polícia Comunitária se destaca no cenário nacional,

em busca das soluções sonhadas pela população. Uma mentalidade diferente, humana,

passa a existir na vida das pessoas que lidam com a Segurança Pública. Experiências por

todo país indicam que está mais estreito o relacionamento com a comunidade pelas

organizações policiais.

Em Belo Horizonte, destacou-se uma das estratégias utilizadas por esta nova

maneira de se “fazer polícia”, que ensejou o estudo monográfico: o policiamento a pé

implementado diretamente em Centros Comerciais. Buscou-se com este ensaio verificar se

realmente esta nova modalidade de emprego do efetivo de Policiais Militares estaria

trazendo resultados esperados tanto para a população, quanto para as pessoas que

planejaram essa filosofia.

No decorrer do estudo referenciado, após análise dos fundamentos em que se

baseou esta nova estratégia efetivada pelo Comando do Policiamento da Capital, pôde-se

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avaliar se o emprego do policiamento a pé nas áreas comerciais da cidade de Belo

Horizonte, apontadas como locais de prioridade pelo geoprocessamento, vem trazendo

resultados positivos na redução dos índices de criminalidade.

Após meados de 2004, com o lançamento de novos policiais, recém-formados,

no policiamento a pé em áreas comerciais, vislumbrou-se um patamar de índices criminais

alcançados em 2002 e 2001. Além desta estratégia de policiamento, vale sempre ressaltar a

presença das inovadoras patrulhas de Prevenção Ativa (PPA), outra estratégia lançada no

ano 2004, que auxiliou na redução criminal ora alcançada.

Para o alcance dos objetivos propostos, analisaram-se três dos Centros

Comerciais mais expressivos da 8ª Região da Polícia Militar (8ª RPM), sendo eles:

Hipercentro de BH, Venda Nova e Barreiro. Os índices apresentados foram buscados na

Seção de Estatística e Geoprocessamento da 8ª RPM.

Foi possível então, comparar os índices de criminalidade antes e após a

implantação do policiamento a pé em áreas comerciais da cidade de Belo Horizonte, sendo

verificado que essa nova estratégia é eficaz e eficiente, trazendo resultados esperados, no

tocante à redução criminal dos centros comerciais e da cidade como um todo.

Correlacionou-se também a Polícia Comunitária com a Ciência denominada

Criminologia, alvo de estudos desta pesquisadora que, em síntese, acredita que os avanços

dos estudos criminológicos, ao ampliarem o âmbito da tradicional Criminologia (que se

restringia ao estudo do delinqüente), permitiram incorporar em seu objeto as investigações

sobre o meio social em que o delito ocorre, assim como o estudo sobre o denominado

controle social, acentuando, assim, uma orientação prevencionista do saber criminológico,

chegando a ponto de intervir, de modo positivo, ao analisar e avaliar os modelos de reação

ao delito. Assim sendo, o crime como fenômeno comunitário, que nasce, manifesta-se e

deve encontrar soluções na comunidade, não deve se restringir às preocupações exclusivas

dos órgãos integrantes do sistema oficial de polícia e de persecução criminal. Existe a

necessidade de profundo envolvimento da comunidade – essa é a proposta da Criminologia

moderna e essa é a proposta da Polícia Comunitária, não se podendo olvidar a correlação

entre essas duas disciplinas.

Verificou-se também que a Polícia Comunitária mudou os conceitos

anteriormente estabelecidos no emprego do policiamento a pé, que acima de tudo é

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primordial para segurança pública e interação comunitária, sendo que atualmente ele é

desempenhado, através um planejamento específico em seu lançamento, com uma área

previamente delimitada e, principalmente, na grande maioria dos casos, existem recursos

humanos e materiais suficientes para atenderem à demanda. Desta forma, o policiamento a

pé atingiu e está cumprindo a missão a qual lhe está afeta, sendo capaz de propiciar com

que a Polícia Militar tenha uma interação com a comunidade e a comunidade com a Polícia

Militar.

Como sugestões para um melhor desenvolver da Instituição Policial Militar,

bem como desta estratégia que vem sendo muito bem aceita pela organização como um

todo, deve-se ter em mente alguns detalhes:

1) que esse projeto de lançamento do efetivo a pé em áreas comerciais baseado

na Filosofia de Polícia Comunitária permaneça, onde já implementado e se expanda para

todo o Estado de Minas Gerais, desde que desenvolvido nos mesmos moldes do projeto da

Capital, pelo fato de ser uma estratégia efetiva na redução dos índices criminais, conforme

comprovação realizada através deste estudo;

2) que o efetivo policial empregado na modalidade a pé deva ser

constantemente qualificado para essa função, fazendo cursos de aprimoramento

profissional, como por exemplo, o curso de “Multiplicadores e Promotores de Polícia

Comunitária”, visando se doutrinar na filosofia de Polícia Comunitária. Desta forma, este

policial realizará um melhor contato com a comunidade, cliente dos serviços prestados pela

Polícia Militar;

3) que os Comandantes das Unidades de Execução da Polícia Militar avaliem

tecnicamente a necessidade do emprego operacional do efetivo a pé em suas áreas de

responsabilidade territorial, bem como os seus centros comerciais e efetivo adequado para

lançamento;

4) que sejam periodicamente realizadas reuniões dos Oficiais comandantes de

setores com seus policiais que são empenhados no policiamento a pé, havendo uma troca

contínua de informações a respeito da segurança pública realizada no setor, de forma a

verificar o andamento do serviço, bem como maneiras de melhorar seu desenvolvimento;

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5) que os policiais militares que estejam desempenhando esta nobre função, do

policiamento a pé, tenham pleno conhecimento de sua missão e sintam a responsabilidade

de estarem levando, no momento em que atuam, o nome de toda uma Instituição para a

comunidade, e recebendo dela o “feedback” de suas ações;

6) que estes policiais militares sejam lembrados pela Instituição da maneira que

lhe compete, pela prestação de serviços que desempenham, oferecendo-lhes, sempre,

condições de trabalho dignas, e principalmente, reconhecendo seus méritos e premiando-os

por eles;

7) que seja realizada periodicamente uma avaliação desta modalidade de

policiamento, tanto por quem o desempenha, quanto por quem o gerencia, dando “feed-

back” aos interessados sobre seu serviço.

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